o mundo é redondo

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N o início desta semana, em Brasília, em audiência no Ministério da Educação, encaminhando uma reivindicação da comunidade de Bagé, percebi que, realmente, o mundo é redondo. Estávamos com o deputado federal Paulo Pimenta, com a reitora da Urcamp, Lia Quintana, com o Mariozinho Mansur, com a secretária da Saúde de Bagé, vereadora Téia Pereira e com o prefeito Luís Eduardo Colombo, no gabinete do secretário Executivo do Ministério da Educação, Henrique Paim. Fomos formalizar o pedido para que Bagé fosse incluído no novo programa do Governo Federal, que prevê a ampliação das faculdades de Medicina, visando suprir a carência de médicos que o País enfrenta. Nós, que já havíamos conquistado a Unipampa, estávamos ali, mais uma vez, envolvido num movimento ligado a educação que, atingindo os seus objetivos, pode resultar em conquistas para a nossa comunidade. Eu e Pimenta, que estivemos à frente daquele movimento, para o qual foi fundamental a mobilização da Urcamp, oito anos depois, voltávamos ao Ministério da Educação para conversar com o Henrique Paim. O mundo deu uma volta. Relembrei, naquele momento, a importância da direção da Urcamp, dos seus professores, funcionários e alunos para a conquista da Unipampa. Por isso, para mim, a Urcamp pode ser tida como a mãe da Unipampa. Passados todos estes anos, a reitora Lia confirma o que já esperávamos: a Unipampa não sombreou a Urcamp, que continua praticamente com o mesmo número de alunos daquela época. A instalação da universidade federal fortaleceu a ideia do polo educacional, gerando simetrias que auto-sutentam todo o sistema. Inevitavelmente, voltam à memória episódios da criação da Unipampa. Como a pretensão inicial, minha e do Pimenta, de que ela deveria se instalar nos mesmos oito municípios que tinham campus da Urcamp. Depois, em conversa com o ainda ministro da Educação, Tarso Genro, nos convencemos da importância da inclusão de Jaguarão e Uruguaiana entre os municípios a serem contemplados com a nova universidade. Conquistada a Unipampa, nos sentíamos devedores para com a comunidade da Urcamp, afinal, no início do movimento, lutávamos para federalizar a nossa universidade comunitária. O nosso atual governador Tarso Genro, que já tinha deixado o Ministério da Educação, passado pela presidência nacional do PT e voltado ao governo para comandar o Ministério da Justiça, nos cobrava, de mim especialmente, uma forma de ajudar a Urcamp e resgatar aquela “dívida”. Primeira ideia A primeira ideia que surgiu foi a de firmarmos com o Ministério da Integração um convênio prevendo a contratação da Urcamp para elaborar estudos sobre o desenvolvimento da Metade Sul. Logo tivemos que abandoná-la por dois motivos básicos: poucos recursos sobrariam para a Urcamp enfrentar a sua difícil situação financeira, já que precisaria contratar consultorias externas para levar a cabo esta missão e, de outra parte, a instituição não dispunha de negativas para conveniar com o Governo Federal. A Prefeitura, que eu governava, também não poderia contratar este serviço, recebendo os recursos federais, sem licitar. Um dia, percebi que os municípios da área de abrangência da Urcamp, a exemplo de centenas de outros do País, enfrentavam dificuldades para reequipar seu parque de máquinas. Consultei o então assessor do Ministério da Agricultura, Luiz Carlos Folador, hoje realizando um belo governo no município de Candiota, sobre a possibilidade de existência de uma rubrica naquele ministério que pudesse ser utilizada pelos municípios para investir em máquinas. Recebendo sinal positivo do Folador, voltei ao Ministério da Educação, já sob o comando do ministro Fernando Haddad, que mantinha praticamente a mesma equipe do tempo do Tarso. Conversei com o Henrique Paim e com outros assessores. Apresentei uma proposta que previa uma grande triangulação entre prefeituras, governo federal, Urcamp e comunidade regional. O Mundo é Redondo *Esse texto faz parte de Memórias de Um Tempo, uma série publicada no Jornal Minuano de Bagé, em que procurei resgatar fatos de nossa gestão de oito anos na Prefeitura Municipal. Página 1

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Page 1: O mundo é redondo

No início desta semana, em Brasília,

em audiência no Ministério da

Educação, encaminhando uma

reivindicação da comunidade de Bagé, percebi que,

realmente, o mundo é redondo. Estávamos com o

deputado federal Paulo Pimenta, com a reitora da

Urcamp, Lia Quintana, com o Mariozinho Mansur, com

a secretária da Saúde de Bagé, vereadora Téia Pereira

e com o prefeito Luís Eduardo Colombo, no gabinete

do secretário Executivo do Ministério da Educação,

Henrique Paim. Fomos formalizar o pedido para que

Bagé fosse incluído no novo programa do Governo

Federal, que prevê a

ampliação das faculdades

de Medicina, visando

supr i r a carênc ia de

méd i c o s que o Pa í s

enfrenta.

N ó s , q u e j á

havíamos conquistado a

Unipampa, estávamos ali,

mais uma vez, envolvido

num movimento ligado a

educação que, atingindo os seus objetivos, pode

resultar em conquistas para a nossa comunidade. Eu e

Pimenta, que estivemos à frente daquele movimento,

para o qual foi fundamental a mobilização da Urcamp,

oito anos depois, voltávamos ao Ministério da

Educação para conversar com o Henrique Paim. O

mundo deu uma volta.

Relembrei, naquele momento, a importância

da direção da Urcamp, dos seus professores,

funcionários e alunos para a conquista da Unipampa.

Por isso, para mim, a Urcamp pode ser tida como a

mãe da Unipampa. Passados todos estes anos, a

reitora Lia confirma o que já esperávamos: a

Unipampa não sombreou a Urcamp, que continua

praticamente com o mesmo número de alunos

daquela época. A instalação da universidade federal

fortaleceu a ideia do polo educacional, gerando

simetrias que auto-sutentam todo o sistema.

Inevitavelmente, voltam à memória episódios

da criação da Unipampa. Como a pretensão inicial,

minha e do Pimenta, de que ela deveria se instalar nos

mesmos oito municípios que tinham campus da

Urcamp. Depois, em conversa com o ainda ministro da

Educação, Tarso Genro, nos convencemos da

importância da inclusão de Jaguarão e Uruguaiana

entre os municípios a serem contemplados com a nova

universidade.

Conquistada a Unipampa, nos sentíamos

devedores para com a comunidade da Urcamp, afinal,

no início do movimento, lutávamos para federalizar a

nossa universidade comunitária. O nosso atual

governador Tarso Genro, que já tinha deixado o

Ministério da Educação, passado pela presidência

nacional do PT e voltado ao governo para comandar o

Ministério da Justiça, nos cobrava, de mim

especialmente, uma forma de ajudar a Urcamp e

resgatar aquela “dívida”.

Primeira ideia

A primeira ideia

que surg iu fo i a de

fi r m a r m o s c o m o

Ministério da Integração

um convênio prevendo a

contratação da Urcamp

para elaborar estudos

sobre o desenvolvimento

da Metade Sul. Logo

tivemos que abandoná-la

por dois motivos básicos:

poucos recursos sobrariam para a Urcamp enfrentar a

sua difícil situação financeira, já que precisaria

contratar consultorias externas para levar a cabo esta

missão e, de outra parte, a instituição não dispunha de

negativas para conveniar com o Governo Federal. A

Prefeitura, que eu governava, também não poderia

contratar este serviço, recebendo os recursos

federais, sem licitar.

Um dia, percebi que os municípios da área de

abrangência da Urcamp, a exemplo de centenas de

outros do País, enfrentavam dificuldades para

reequipar seu parque de máquinas. Consultei o então

assessor do Ministério da Agricultura, Luiz Carlos

Folador, hoje realizando um belo governo no município

de Candiota, sobre a possibilidade de existência de

uma rubrica naquele ministério que pudesse ser

utilizada pelos municípios para investir em máquinas.

Recebendo sinal positivo do Folador, voltei ao

Ministério da Educação, já sob o comando do ministro

Fernando Haddad, que mantinha praticamente a

mesma equipe do tempo do Tarso.

Conversei com o Henrique Paim e com outros

assessores. Apresentei uma proposta que previa uma

grande triangulação entre prefeituras, governo

federal, Urcamp e comunidade regional.

O Mundo é Redondo

*Esse texto faz parte de Memórias de Um Tempo, uma série publicada no Jornal Minuano de Bagé, em que procurei resgatar fatos de nossa gestão de oito anos na Prefeitura Municipal.

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Page 2: O mundo é redondo

Propus repasse de recursos federais para os

municípios adquirirem patrolas, caminhões, retro-

escavadeiras e outros equipamentos para

manutenção e melhoria das estradas vicinais, visando

facilitar o escoamento da produção. Os municípios,

por sua vez, comprariam bolsas de estudos na Urcamp

para estudantes de baixa renda, no limite mínimo de

80% das verbas que receberiam.

A seleção dos alunos que se encaixassem no

perfil do programa seria feito pela Urcamp que se

comprometia em usar todo o valor arrecadado para

pagar sua dívida com o FGTS. Além disso, os

beneficiados pagariam aos municípios através de

estágios em programas mantidos pelas prefeituras.

Um círculo em que o dinheiro saia da União, passava

pelos municípios, gerava oportunidade de estudos

para pessoas que dificilmente chegariam a um banco

universitário, entrava nos cofres da Urcamp e

retornava ao Governo Federal com o pagamento das

dívidas da instituição. O nosso atual governador

classifica, até hoje, esta operação como “uma grande

engenharia institucional” que possibilitou o

pagamento daquela “conta”. O dinheiro deu voltas e

voltou para a sua origem.

Chamamos o programa de Programa de Ensino

Superior Comunitário (Proesc) que, enquanto

governei Bagé, foi efetivado em mais duas

oportunidades, só que em parceria direta com o MEC e

que previa a aquisição de veículos para o transporte

escolar. Na primeira edição, que contou com R$ 15

milhões do Ministério da Agricultura, Bagé recebeu R$

5,7 milhões e beneficiou pouco mais de 350

estudantes, compramos 22 equipamentos .

Mas, seguindo as voltas que o mundo dá,

voltemos ao começo deste artigo. Lá falava do início

do movimento que quer trazer para Bagé e região uma

Faculdade de Medicina. No Ministério da Educação, eu

e Pimenta recebendo as orientações do Henrique

Paim. Mas, também importante nesta “costura” é o

Ministério da Saúde, hoje liderado pelo Alexandre

Padilha que, à época da conquista do Proesc era o

ministro das Relações Institucionais e que intercedeu

junto ao Ministério da Agricultura para que liberasse

os recursos.

Outra volta

Dali mesmo, da sala do Paim, liguei para o

Padilha. Antes de qualquer coisa, me perguntou sobre

a Unipampa, e sobre os cordeiros que criava na minha

chácara em Hulha Negra e dos quais era um

inveterado apreciador. Se colocou à nossa disposição

e, no outro dia, recebeu a Teia e o Pimenta para tratar

do tema. O mundo dá voltas.

E por fim, apesar de considerarmos que aquela

“ d í v i d a da f ede ra l i z a ç ão ” f o i p aga , eu ,

particularmente, afirmo que meu compromisso com a

Urcamp é perene, pois fundado em laços que se

construíram desde os meus tempos de estudante na

antiga FUnBa. Afinal, foi por causa da instituição que

vim parar em Bagé, cidade que escolhi para viver,

onde conheci a Marcia e onde geramos a Fernanda.

Onde passei os melhores momentos de minha vida, a

minha querência para onde sempre volto depois de

dar voltas por outros pagos.

O Mundo é Redondo

*Esse texto faz parte de Memórias de Um Tempo, uma série publicada no Jornal Minuano de Bagé, em que procurei resgatar fatos de nossa gestão de oito anos na Prefeitura Municipal.

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