o mundo degradado e a resistÊncia na narrativa: o feminino e os (anti)valores em sÃo bernardo

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Prof. Bruno Prof. Bruno Curcino Curcino Éricka Fernanda Éricka Fernanda Simone Daniela Simone Daniela Larissa Cristina Viana Lopes Larissa Cristina Viana Lopes Maria Edileuza da Costa Maria Edileuza da Costa Universidade Federal do Triângulo Mineiro

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Universidade Federal do Triângulo Mineiro. O MUNDO DEGRADADO E A RESISTÊNCIA NA NARRATIVA: O FEMININO E OS (ANTI)VALORES EM SÃO BERNARDO. Prof. Bruno Curcino Éricka Fernanda Simone Daniela. Larissa Cristina Viana Lopes Maria Edileuza da Costa. ROMANCE DE 30. Neo-realista - PowerPoint PPT Presentation

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Page 1: O MUNDO DEGRADADO E A RESISTÊNCIA NA NARRATIVA: O FEMININO E OS (ANTI)VALORES EM  SÃO BERNARDO

Prof. Bruno CurcinoProf. Bruno Curcino

Éricka Fernanda Éricka Fernanda Simone DanielaSimone Daniela

Larissa Cristina Viana LopesLarissa Cristina Viana LopesMaria Edileuza da CostaMaria Edileuza da Costa

Universidade Federal do Triângulo Mineiro

Page 2: O MUNDO DEGRADADO E A RESISTÊNCIA NA NARRATIVA: O FEMININO E OS (ANTI)VALORES EM  SÃO BERNARDO

  Neo-realista Verossimilhança Tipificação social → análise crítica da realidade Linguagem coloquial/regionalista  Temáticas:

Choque entre o Brasil rural X Brasil urbano→ Ascensão e queda dos coronéis→ Drama dos trabalhadores rurais

Camadas populares, trabalhadores, marginais, setores médios e urbanos

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São Bernardo é um exemplo da literatura, apontada por Bosi, como uma escrita resistente, porque discute o cotidiano do patriarcado com ares de burguesia que silenciou o comportamento feminino por muitos anos, além de cometer outras violências.

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DR. MAGALHÃES E NOGUEIRA

“O povoado transformou-se em vila, a vila transformou-se em cidade, com chefe político, juiz de direito, promotor e delegado de polícia.” (p.36)

“Como a justiça era cara, não foram à justiça. E eu, o caminho aplainado, invadi a terra do Fidélis, paralítico de um braço, e a dos Gama, que pandegavam no Recife, estudando direito. Respeitei o engenho do Dr. Magalhães, juiz.” (p. 39-40)

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PADRE SILVESTRE

Se envolve em política

“Padre Silvestre recebeu-me friamente. Depois da Revolução de Outubro, tornou-se uma fera, exige devassas rigorosas e castigos para os que não usaram lenços vermelhos. Torceu-me a cara. E éramos amigos. Patriota. Está direito: cada qual tem as suas manias.” (p.5-6)

“Afastei-o da combinação e concentrei as minhas esperanças em Lúcio Gomes de Azevedo Gondim, periodista de boa índole e que escreve o que lhe mandam.” (p.6)

“Tudo isso é fácil quando está terminado e embira-se em duas linhas, mas para o sujeito que vai começar, olha os quatro cantos e não tem em que se pegue, as dificuldades são horríveis. Há também a capela, que fiz por insinuações de Padre Silvestre” (p. 9)

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COSTA BRITO E AZEVEDO GONDIM

A imprensa era à favor da classe dominante

“Depois do meu telegrama (lembram-se: o telegrama em que recusei duzentos mil-réis àquele pirata), a Gazeta entrou a difamar-me. A princípio foram mofinas cheias de rodeios, com muito vinagre, em seguida o ataque tornou-se claro e saíram dois artigos furiosos em que o nome mais doce que o Brito me chamava era assassino. Quando li essa infâmia, armei-me de um rebenque e desci à cidade.” (p.70-71)

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“A Gazeta, que sempre louvara furiosamente o governo, fugira para a oposição, por causa de um emprego de deputado estadual, e achava a administração pública desorganizada, entregue a homens incompetentes. A nós que votávamos com o partido dominante, mas não éramos peixe nem carne queixumes, nariz torcido, modos de enjôo. Da minha última viagem à capital, em troca de uma notícia besta de quatro linhas, o diretor da Gazeta ainda me lambera cinqüenta mil réis, no café, bebendo cerveja com indignação:

- Querem jornal de graça. Para o inferno! A vida inteira escrevendo como um condenado, mentindo,para esses moços subirem! Só a despesa que se tem! Só o preço do papel! E na eleição, coice. Nem uma porcaria, uma desgraça que qualquer prefeito analfabeto consegue com facilidade. Querem elogios. Está aqui para eles.

Eu não precisava do Brito, mas passei o dinheiro, em atenção a serviços prestados anteriormente e porque não gosto de questões com gente de imprensa. Depois aludi à crise e dei a entender que não continuava a sangrar.” (p.61)

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Fora rico proprietário rural

Patriarca amado e respeitado por todos

Fora atropelado pelo progresso

Contraste patriarca senhorial do passado X pragmatismo do capitalista do presente.

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“Não havia soldados no lugar, nem havia juiz. E como o vigário residia longe, a mulher de Seu Ribeiro rezava o terço e contava histórias de santos às crianças. [...] E os pretos não sabiam que eram pretos, e os brancos não sabiam que eram brancos. Na verdade Seu Ribeiro infundia respeito. [...] todo o mundo seguia o Major porque todo o mundo era do Major.” (p.35)

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“ O povoado transformou-se em vila, a vila transformou-se em cidade, com chefe político, juiz de direito, promotor e delegado de polícia.

Trouxeram máquinas e a bolandeira parou. Veio o vigário, que fechou uma igreja bonita. As histórias na memória das crianças.

Chegou o médico. Não acreditava nos santos. A mulher de seu Ribeiro entristeceu, emagreceu e finou-se.

O advogado abriu consultório, a sabedoria do Major encolheu-se e surgiram no foro numerosas questões.” (p. 36)

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Antigo proprietário da fazenda São Bernardo, que herdara do pai, porém acabou perdendo para Paulo Honório devido à dividas.

Intelectual sem futuro – fracassado

“ Meu antigo patrão, Salustiano Padilha, que tinha levado uma vida de economias indecentes para fazer o filho doutor, acabara morrendo do estômago e de fome sem ver na família o título que ambicionava. Como quem não quer nada, procurei avistar-me com Padilha moço (Luís). Encontrei-o no bilhar, jogando bacará, completamente bêbado.” (p.14)

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Capanga fiel

Traço humano: é o único que dá atenção ao filho de Paulo Honório.

“Casimiro Lopes era a única pessoa que lhe tinha amizade. Levava-o para o alpendre e lá se punha a papaguear com ele, dizendo histórias de onças, cantando para o embalar as cantigas do sertão.(p. 138)”

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Paulo Honório é um homem de origem humilde, muito ambicioso que decide ascender na vida, mesmo que para isso use meios ilícitos.

Ambicioso e dominador, que veio do nada e alcançou estabilidade e respeito social.

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Com este personagem, Graciliano Ramos traça o perfil da vida e do caráter de um homem rude e egoísta, do jogo de poder e do vazio da solidão, em que não há espaço nem para a amizade, nem para o amor. A trajetória desse homem rude e de “alma agreste” é desvendada ao leitor por meio do relato que o próprio personagem faz de sua vida fracassada.

Nesta narrativa, Graciliano Ramos mostra “[...] o nível de consciência de um homem que, tendo conquistado a duras penas um lugar ao sol, absorveu na sua longa jornada toda a agressividade latente em um sistema de competição.” (BOSI: 1994, 403).

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A presença da mulher na sua vida sempre se prendeu a necessidades práticas.

A primeira cujo envolvimento registra, Germana, rendeu-lhe três anos, nove meses e quinze dias de cadeia.

Não foi criado pela mãe

Ele procura uma mulher para casar , para obter um herdeiro, continuando assim seu sonho, São Bernardo.

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“ E recomecei a elaborar mentalmente a mulher a que me referi no princípio deste capítulo. Revistei a Mendonça, a Gama, a irmã do Gondim (eu nem sabia como se chamava a Gondim) e dona Marcela do doutor Magalhães. Dona Marcela era um pancadão. Cada olho! O que tinha de ruim era usar muita tinta no rosto e muitos ss na conversa. Paciência. Perfeito só Deus."(p. 60).

“[...]Levado ainda por uma finalidade egoísta, típica de um proprietário, Paulo Honório pretende se casar: é preciso ter um filho que seja o herdeiro das riquezas que ele acumulou. Não é o amor que o move, pois os egoístas não conhecem o amor, ele busca a mulher como quem busca um objeto, uma propriedade.” (Coutinho, 1967:87, grifo nosso).

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O proprietário queria que Madalena fosse uma mulher de acordo com os moldes da sociedade patriarcal, ou seja, voltada para o lar, para a família, com educação direcionada ao casamento, comportamento típico das jovens senhoras do século XVIII e XIX.

Para a época , era inadmissível que mulheres manifestassem opiniões próprias ou quisessem participar de decisões que eram somente para os homens.

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D.Glória representa a condição social da mulher, sem

acesso a formação profissional Fica a mercê de pequenos afazeres e ajuda

de terceiros.

“Eu saía para a escola e ela punha o xale, ia cavar a vida. Tinha muitas profissões. Conhecia padres e fazia flores, punha em ordem alfabética os assentamentos de batizados, enfeitava altares. Conhecia desembargadores e copiava os acórdãos do tribunal. A noite vendia bilhetes no Floriano. E como o padeiro nosso vizinho era analfabeto, escriturava as contas dele num caderno de balcão. Está claro que, dedicando-se a tantas ocupações miúdas, era mal paga.” (p. 116)

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Rosa

mulher do empregado da fazendamantinha uma relação às escondidas

com Paulo Honório“Rosa do Marciano atravessava o riacho. Erguia as saias até a cintura. Depois que passava o lugar mais fundo ia baixando as saias. Alcançava a margem, ficava um instante de pernas abertas, escorrendo água, e saía torcendo-se, com um remelexo de bunda que era mesmo uma tentação.” (p. 158)

“Marciano conheceria as minhas relações com a Rosa? Não conhecia. Tive sempre o cuidado de mandá-lo à cidade, a compras, oportunamente.” (p.137)

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Bonita, culta, educada, direita, de bons costumes e boa...

Fundamental para os rumos e o desfecho do Romance.

Mulher à frente de seu tempo

“– Mulher superior. Só os artigos que publica no Cruzeiro!– Ah! Faz artigos!– Sim, muito instruída. Que negócio tem o senhor com ela!– Eu sei lá! Tinha um projeto, mas a colaboração no Cruzeiro me

esfriou. Julguei que fosse uma criatura sensata.” (p. 84).

O sofrimento de Madalena é resultado do tradicionalismo de Paulo Honório, que cala a voz da esposa como forma de conter a inovação que representava esta figura feminina: a expressão, a voz, a educação, os ideais, a formação.

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Madalena mostrou que não seria uma mulher que se restringiria a atender as ordens do esposo, pois se expressava, exigia, opinava e não aceitava as condições de vida e trabalho na fazenda.

“- É exato confessou seu Ribeiro. Não me falta nada, o que recebo chega.

- Se o senhor tivesse dez filhos, não chegava, disse Madalena” (p.99)

“ Falta nada! Tem tudo, a sinhá manda tudo. Um despotismo de luxo: lençóis, sapatos, tanta roupa! [...] (p.119)

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“ –É horrível! Bradou Madalena.-Como?-Horrível! Insistiu.- Que é?- O seu procedimento. Que barbaridade!

Despropósito.[...]-Não entendo. Explique-se.Indignada, a voz trêmula:-Como tem coragem de espancar uma

criatura daquela forma-Ah! Sim! Por causa do Marciano. Pensei que

fosse coisa séria. Assustou-me.” (p.109)

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A forma como Paulo Honório se refere a Madalena abranda-se desde as primeiras menções, fato que se pode destacar pelo uso do diminutivo e de adjetivos e pela atenção que lhe dirige, no tocante ao gestual. João Luiz Lafetá, no seu ensaio "O Mundo à Revelia", aponta para esse aspecto:

“A diferença de linguagem quando se refere a Madalena e quando a dona Marcela é significativa. O mais importante, entretanto, é que Madalena passa a ocupar, a partir deste instante, o lugar central dos acontecimentos: ‘como o silêncio se prolongasse, repliquei ao Nogueira quase me dirigindo a lourinha (...)’ E depois: ‘Percorri a cidade, bestando, impressionado com os olhos da mocinha loura e esperando um acaso que me fizesse saber o nome dela!” (Lafetá, 2002:203).

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“De repente conheci que estava querendo bem à pequena. Precisamente o contrário da mulher que eu andava imaginando – mas agradava-me, com os diabos. Miudinha, fraquinha. Dona Marcela era bichão. Uma peitaria, um pé de rabo, um toitiço!” (p. 67).

O contraste flagrante entre as duas moças faz avultar a impressão que Madalena causou em Paulo Honório. Ele ficou impressionado com os seus olhos e decidiu levantar as informações adequadas ao "negócio" que pretendia realizar. Foi rápido na definição dos seus propósitos com Madalena: "dar uma cabeçada séria".

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“Nove horas no relógio da sacristia.” (p.161) “Faz dois anos que Madalena morreu [...]”

(p.183)

“Emoções indefiníveis me agitam – inquietação terrível, desejo doido de voltar, tagarelar novamente com Madalena, como fazíamos todos os dias, a esta hora. Saudade? Não, não é isto: é desespero, raiva, um peso enorme no coração.” (p.101)

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Madalena casou-se por interesse?

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Paulo Honório queria se casar, como havia consolidado a posse e expansão de São Bernardo era necessário providenciar um herdeiro.

O tipo de mulher que Paulo desejava era:“[...]criatura alta, sadia, com trinta anos,

cabelos pretos[...] (p.57)

Porém conhece Madalena, “moça loura e bonita”, o oposto do que havia imaginado, ele na verdade estava apaixonado:

“De repente conheci que estava querendo bem à pequena. Precisamente o contrário das moças que eu andava imaginando – mas agradava-me, com os diabos. (p.67).

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Desde os primeiros dias de casados Madalena começa a participar dos negócios da fazenda, dá opiniões e intercede pelos colonos e isso não agrada Paulo, com isso ele começa a conhecer sua esposa.

“Conheci que Madalena era boa em demasia, mas não conheci tudo de uma vez. Ela se revelou pouco a pouco, e nunca se revelou inteiramente. (p.100)

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Paulo Honório tinha TUDO em suas mãos; controle total da S. Bernardo e tudo que cercava, menos MADALENA.

“Está absolutamente explícito que, na visão de Paulo, o casamento nada mais era do que um negócio [...]” (LOPES e COSTA, p. 228)

“– Não fale assim, menina. E a instrução, a sua pessoa, isso não vale nada? Quer que lhe diga? Se chegarmos a um acordo, quem faz negócio supimpa sou eu. (p.89)

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Madalena era mulher bastante sociável, mantinha boa comunicação com todos. Sua instrução unida à socialização com as pessoas da fazenda e demais amigos de Paulo Honório faz emergir o ciúme. O fazendeiro começa a suspeitar da fidelidade de Madalena.

 

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O desconhecimento da interioridade anímica de sua esposa, faz com que o fazendeiro suspeite, imagine. Uma mulher ‘sombria’ é o único fundamento que ele pode encontrar para dar indícios de que ela, carregada de mistérios, pode disfarçar, mentir, trair.

O ciúme exagerado era uma extensão do desejo de posse de Paulo Honório.

 

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CAPÍTULO 23 

E Madalena escutando o Padilha. O Padilha, que tinha uma alma baixa, na opinião dela. [...] Entretidos, animados. Conspiração. Talvez não fosse nada. Mas, para quem, como eu, andava com a pulga atrás da orelha! (p.121)

CAPÍTULO 24 

Madalena falava com seu Ribeiro [...] procurava convencê-lo, mas não percebi o que dizia. De repente invadiu-me uma espécie de desconfiança. Já havia experimentado um sentimento assim desagradável. Quando? (p. 131)

[...]Procurei Madalena e avistei-a derretendo-se e sorrindo para o Nogueira, num vão da janela.Confio em mim. Mas exagerei os olhos bonitos do Nogueira, a roupa bem feita, a voz insinuante [...] Misturei tudo ao materialismo e ao comunismo de Madalena – e comecei a sentir ciúmes. (p. 133)

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CAPÍTULO 25

Requebrando-se para o Nogueira, ao pé da janela, sorrindo! [...] Aquela conversa teria sido a primeira? [...] Talvez namorassem. [...] E, com dois anos de casada, num vão de janela, desmanchava-se toda para ele.Erguia-me, insultava-a mentalmente:– Perua!Até com o Padilha! [...]Depois a colaboração no jornal do Gondim. Continuava a colaborar. Pouco, mas continuava. O Gondim e ela tinham sido unha e carne. [...] E discutiam pernas e peitos dela!Eu tinha razão para confiar em semelhante mulher? Mulher intelectual. (p. 136)

 CAPÍTULO 26

Aguentar! Ora aguentar! Eu ia lá continuar a aguentar semelhante desgraça? O que me faltava era uma prova: entrar no quarto de supetão e vê-la com outro. [...] Comecei a mexer nas malas, nos livros, e a abrir-lhe a correspondência. (p. 139)

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“Afastava-me, lento, ia ver o pequeno, que engatinhava pelos quartos, às quedas, abandonado. Acocorava-me e examinava-o. Era magro. Tinha os cabelos louros, como os da mãe. Olhos agateados. Os meus são escuros. Nariz chato. De ordinário as crianças têm o nariz chato.”

“E o pequeno continuava a arrastar-se, caindo, chorando, feio como os pecados. As perninhas e osbracinhos eram finos que faziam dó. Gritava dia e noite, gritava” (p. 137).

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“Ninguém se interessava por ele. Dona Glória lia. Madalena andava pelos cantos, com as pálperas vermelhas e suspirando. Eu dizia comigo: Se ela não quer bem ao filho!” (p. 137-138)

Quem dava atenção ao menino era somente Casimiro.

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O suicídio de Madalena é por fraqueza, ou porque chegou ao seu limite?

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Os valores de Madalena, que se opõem ao mundo adormecido e costumeiro do esposo, representam o que Bosi chama de resgate resistente, pela narrativa, não apenas do que foi dito, mas do que fora calado. Isso se comprova com a atitude derradeira de Madalena: o ato suicida, simplesmente por não querer vendar os olhos diante das mazelas e defender seus próprios ideais (o novo), além de não se submeter aos ideais do esposo (a tradição).

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Madalena, insatisfeita com a vida que levava ao lado de Paulo Honório, deu a si um fim. A professora talvez tenha sido o maior desafio do proprietário patriarcalista. Havia uma “hierarquia” social contraditória entre ambos: o homem superior/inferior. Madalena não se deixou dominar, impunha suas vontades e atividades; a negativa ao domínio atinge seu ponto máximo com o suicídio, a maior das negativas.

“com o suicídio a personagem revela a impossibilidade de luta frente as injustiças sociais. Sua morte revela ainda a aporia que se cria quando alguém se destina a contrariar interesses sistêmicos.” (LOPES, p. 233)

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“- A quem?- Você verá. Está em cima da banca. Não é

caso para barulho. Você verá.”- Você me perdoa os desgostos que lhe dei,

Paulo?- Julgo que tive as minhas razões. - Não se

trata disso. Perdoa? Rosnei um monossílabo. Seja amigo de minha tia, Paulo. Quando desaparecer essa quizília, você reconhecerá que ela é boa pessoa.

Eu era tão bruto com a pobre da velha!” (p.163)

“- Conseqüência desse mal-entendido. Ela também tem culpa. Um bocado ranzinza.” (p.164)

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“O relógio da sacristia tocou meia noite,- Meu Deus! Já tão tarde! Aqui, tagarelando...Voltou-se da porta:- Esqueça as raivas Paulo.

Porque não acompanhei a pobrezinha? Nem sei. Porque guardava um resto de dignidade besta. Porque ela não me convidou. Porque me invadiu uma grande preguiça.” (p.166)

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O suicídio de Madalena é um golpe para Paulo Honório, uma vez que sua esposa passa a existir, agora, apenas em sua consciência. A professora é um exemplo da autonomia da mulher em uma sociedade opressora e machista. Madalena é um grito em qualquer “São Bernardo” de épocas quaisquer. Além da falta da esposa, Paulo Honório sente os efeitos da Revolução de 30 que causa grandes prejuízos a seus negócios. (LOPES E COSTA, 2002:234)

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São Bernardo: mostra os conflitos e contrastes entre Paulo Honório e Madalena. A obra associa-se à Dom Casmurro → homem perde a mulher e rejeita o filho. Os dois homens são devorados pelo ciúme e não admitiam as mulheres que pensavam.

Romances psicológicos, ligados aos conflitos internos da personagem principal.

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Juntos Paulo Honório e Madalena encenam o duo dramático que mostra homem e mulher submetidos a princípios culturais rígidos.

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PAULO HONÓRIO MADALENA

Inculto Mecanizar a

fazenda Exterior Capitalista

Culta Humanizar a

fazenda Interior Socialista

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Metalinguagem – São Bernardo (livro) fala de São Bernardo (fazenda).

Toda a vida de Paulo Honório girava em torno da fazenda e por causa da fazenda e de toda a sua alma “agreste” ele leva uma vida rude e egoísta.

Ao escrever o livro acontece um processo de tomada de consciência por parte de Paulo Honório.

Escrever o livro para Paulo Honório é como um acerto de contas existencial .

É o máximo de seu processo de humanização (mesmo que tardio).

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Fazenda

Quando nos referimos a obra São Bernardo em relação a fazenda encontramos a violência do protagonista contra homens e coisas porque a fazenda se incorpora ao seu próprio ser, como atributo penosamente elaborado.

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Disponível em: http://www.ucm.es/info/especulo/numero15/g_ramos.html Acesso: Fevereiro de 2012.

Disponível em: http://w3.ufsm.br/grpesqla/revista/dossie02/art_01.php Acesso: Março de 2012.

Disponível em: http://www.dubitoergosum.xpg.com.br/a453.htm Acesso: Fevereiro de 2012.Disponível em: http://www.dubitoergosum.xpg.com.br/a453.htm Acesso: Março de 2012.

Disponível em: http://seer.ufrgs.br/NauLiteraria/article/view/6045/4535 Acesso: Março de 2012.Disponível em: http://www.assis.unesp.br/cilbelc/jornal/maio08/content17.html Acesso: Março 2012.VIANNA, Lúcia Helena. Roteiro de Leitura de São Bernardo de Graciliano Ramos. São Paulo: ática, 1997.RAMOS, Graciliano. São Bernardo. 74. ed. Rio de Janeiro: São Paulo: Record 2002LÁFETÁ, João Luiz. Pósfácio: O mundo à revelia. In: RAMOS, Graciliano. São Bernardo. 74. ed. Rio de Janeiro: São Paulo: Record, 2002. p. 192-217MOURÃO, R. A Estratégia Narrativa de “São Bernardo”. In: Minas Gerais, Belo Horizonte, 2 nov. 1968. Supl. Lit.REIS, D. O. As fraturas de São Bernardo. Madalena e a dominação masculina. In: São Bernardo: Uma verossimilhança desviante. Universidade Federal de Pernambuco. Recife, março de 2011.