o movimento estudantil no brasil

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O MOVIMENTO ESTUDANTIL NO BRASIL: ontem e hoje Américo Ribeiro RESUMO Este artigo tem como objetivo traçar um breve histórico do Movimento Estudantil no Brasil, destacando sua luta e participação política no passado e suas novas perspectivas nos dias atuais, e em particular, destacar sua relação com o Serviço Social. Palavras-chave: Movimentos Sociais. Movimento Estudantil. Participação Política. INTRODUÇÃO O Movimento Estudantil é visto até hoje como símbolo de luta e rebeldia dos jovens: o contexto da ditadura militar acabaria por impor essa imagem às gerações posteriores. Canções como Alegria, Alegria de Caetano Veloso e Para Não Dizer Que Não Falei das Flores de Geraldo Vandré tornaram-se hinos da geração estudantil das décadas de 1960 e 1970. Com o fim da ditadura em meados da década de 1980, o movimento sofre um esfriamento até a década de 1990, quando ressurge com o movimento dos caras- pintadas e a campanha pró-impeachment contra o presidente Collor. Apesar dessa rápida, mas entusiasmada manifestação, alguns autores apontam novamente seu declínio, enquanto participação Graduado em História pela Universidade Estadual do Maranhão – Centro de Estudos Superiores de Caxias (CESC-UEMA) e Pós-Graduado em História do Brasil pelo Instituto de Ensino Superior Franciscano (IESF).

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Artigo do curso de Serviço Social

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O MOVIMENTO ESTUDANTIL NO BRASIL: ontem e hoje

Amrico Ribeiro[footnoteRef:2] [2: Graduado em Histria pela Universidade Estadual do Maranho Centro de Estudos Superiores de Caxias (CESC-UEMA) e Ps-Graduado em Histria do Brasil pelo Instituto de Ensino Superior Franciscano (IESF).]

RESUMO

Este artigo tem como objetivo traar um breve histrico do Movimento Estudantil no Brasil, destacando sua luta e participao poltica no passado e suas novas perspectivas nos dias atuais, e em particular, destacar sua relao com o Servio Social. Palavras-chave: Movimentos Sociais. Movimento Estudantil. Participao Poltica.

INTRODUO

O Movimento Estudantil visto at hoje como smbolo de luta e rebeldia dos jovens: o contexto da ditadura militar acabaria por impor essa imagem s geraes posteriores. Canes como Alegria, Alegria de Caetano Veloso e Para No Dizer Que No Falei das Flores de Geraldo Vandr tornaram-se hinos da gerao estudantil das dcadas de 1960 e 1970. Com o fim da ditadura em meados da dcada de 1980, o movimento sofre um esfriamento at a dcada de 1990, quando ressurge com o movimento dos caras-pintadas e a campanha pr-impeachment contra o presidente Collor. Apesar dessa rpida, mas entusiasmada manifestao, alguns autores apontam novamente seu declnio, enquanto participao poltica enquanto outros vem apenas uma mudana de foco, de novas perspectivas adaptadas ao novo contexto poltico e social do Brasil. Analisar detalhadamente quem estaria certo ou errado nesta questo fugiria ao propsito deste artigo, entretanto, a partir destas diferentes concepes, que evidenciaremos sua atuao e importncia para a sociedade e para o Brasil. Em ltimo lugar, mas no menos importante, apresentaremos brevemente sua relao com nossa rea de interesse maior: O Servio Social, que, acreditamos, ainda tem muitas contribuies para a melhoria do nosso quadro social, objetivo principal do nosso Projeto tico-politico no s como estudantes mas enquanto futuros profissionais da assistncia social.

2 MOVIMENTO ESTUDANTIL: da fundao da UNE luta armada nas dcadas de 1960 e 1970

Os ltimos anos da dcada de 1930 assistiram a um imenso avano do movimento estudantil com a criao da UNE (Unio Nacional dos Estudantes), uma das primeiras organizaes de representaes de grupos de dimenso nacional. Uma analise dessa trajetria revela os pormenores dos jovens com os movimentos sociais. Em primeiro lugar, revela a dimenso de organizao para o movimento social. Se a criao das instituies de ensino de maior porte como as universidades foi importante ao criar uma base institucional para o encontro de jovens em todo o pas, com a UNE cria-se um canal de contato permanente entre os estudantes das vrias instituies de ensino existentes no pas, fortalecendo o movimento. Em segundo lugar, chama a ateno para a importncia da relao entre o movimento juvenil e estudantil com os acontecimentos mais importantes do pas. A prpria criao da UNE est relacionada com uma mudana da estrutura social, econmica e poltica do Brasil, em que o pas deixava de ser um feixe de regies separadas para torna-se cada vez mais integrado. A histria posterior do movimento estudantil mostrar uma profunda dinmica com a prpria histria brasileira e mesmo mundial. E por fim, o estudo da histria da UNE mostra a relao ambgua dos movimentos sociais, e particularmente do movimento estudantil, com o poder. No s porque muitos de seus membros formaram mais tarde parte do quadro dirigente da Nao, representado correntes polticas e ideolgicas diversas mas porque essa aproximao do movimento com o governo variou ao longo do tempo. At a metade da dcada de 1930 os estudantes mais engajados j lutavam contra a falta de um movimento estudantil nacional e permanente. Todavia, as primeiras aes estavam ligadas esquerda e encontraram forte represso policial. J o Conselho Nacional de Estudantes, que seria o ponto de partida para a UNE, teve como impulso de inicio, a Casa do Estudante do Brasil, simptica ao poder pblico, o que facilitou a organizao do movimento at que este adquirisse maior autonomia.A UNE ganha fora e fama atuando de maneira decisiva contra o Eixo nazifascista na Segunda Guerra Mundial e contra a ditadura do Estado Novo de Getlio Vargas. No entanto, o movimento estudantil mantinha canais de comunicao com o governo, tendo espao de negociao. Para ilustrar isso, no final do Estado Novo, enquanto a maioria da UNE aproximou da UDN (Unio Democrtica Nacional) em apoio deposio de Vargas, outra parte de orientao esquerdista, seguia o Partido Comunista aderindo ideia de uma Constituinte com Getlio.A partir de ento, a UNE passaria a ser presena importante na vida poltica e social do pas. Mas importante ressaltar que o seu grau de envolvimento se relacionar tanto com a existncia de movimentos sociais mais abrangentes quanto de questes que realmente movam a sociedade em geral e os estudantes em particular, como no exemplo da defesa do patrimnio territorial e econmico do pas na campanha O Petrleo Nosso. De acordo com Montao (2010) a dcada de 1960 uma poca de aes especificas do movimento estudantil. A defesa da universidade pblica, gratuita e de qualidade se constituiu numa das principais bandeiras de luta do movimento, com cada poca assumindo sua especificidade histrica. Ou seja, nos tempos da denominada autocracia burguesa, as aes polticas voltaram-se para denunciar interferncias estrangeiras na educao como os acordos MEC-Usaid, uma agncia norte-americana criada em 1961 que desenvolvia programas de assistncia econmica e humanitria, que visava privatizar o ensino superior. Nos tempos atuais, o movimento estudantil denunciou e se ops as contrarreformas educacionais dos governos neoliberais ps-dcada de 1990. Com a queda do regime democrtico, em 1964, os estudantes passaram a atuar de maneira firme contra a ditadura. Alm do carter geral da luta poltica, os estudantes reagem contra medidas do novo regime que visam atingir diretamente a educao. Acima de tudo, os estudantes agora lutam na defesa de suas entidades de representao, sendo decretada a ilegalidade da UNE, das Unies Estudantis estaduais e Diretrios Acadmicos. A partir de ento, aes repressivas da autocracia burguesa, em particular o Ato Institucional nmero 5, o famoso AI-5, que suspendia todos os direitos civis, de 1968, abortaram o processo de mobilizao estudantil. Em Ibina, no Estado de So Paulo, o 30 Congresso da UNE, terminou praticamente, com a priso de todos os congressistas e lderes do movimento estudantil. No ano seguinte, em 1969, foi decretada a Lei n. 477 que atingia diretamente docentes, discentes e funcionrios das instituies de ensino no pas, ao estabelecer as greves e mobilizaes estudantis como atos infracionais. Diante dessa situao, uma parte considervel dos membros mais decididos do movimento estudantil acaba por aderir luta armada. Entre os membros da esquerda armada que chegaram a ser processados, nada menos que 30% eram estudantes; e metade tinha at 25 anos (apenas 15% tinham mais de 35 anos). Mais uma vez, portanto, a juventude mostrou sua disposio para lutar por ideais que ultrapassam seus interesses imediatos. O ano de 1975 marcaria o ressurgimento do movimento estudantil, conforme Montao (2010) crescendo fortemente em vrias partes do pas. O centro das aes eram a ocupao de reitorias, greves e passeatas por lutas mais abrangentes (em conjunto com outros movimentos socais desse perodo) exigindo o retorno democracia, defendendo a anistia ampla e irrestrita aos exilados. Em aes mais prprias do segmento estudantil, o movimento estudantil lutou por melhorias e pela gratuidade do ensino, liberdade de organizao, verbas para a educao e ops ao ensino privado e o aumento abusivo de suas mensalidades. O resultado disso foi a reorganizao da UNE em 1979.

3 O MOVIMENTO ESTUDANTIL: Redemocratizao, a juventude cara-pintada e Governo Lula

A dcada de 1980 um perodo reconstruo das instituies como avalia Bringel (2009) destacando-se movimentos como Movimento pela Anistia e as Diretas-J. Apesar da atividade da sociedade civil, o cenrio emergente estava mais baseado na negociao do que no conflito, em razo da sada formal dos militares do governo. As campanhas pela participao popular na Assemblia Constituinte alm do grande impacto serviriam tambm como prenncio das futuras dinmicas das lutas estudantis no pas. Para Bringel, das cinco emendas apresentadas pelos estudantes, apenas uma teve mais de cem mil assinaturas, o que significaria duas coisas: um retraimento poltico da luta estudantil e uma fragmentao da ao coletiva entre Unio Nacional dos Estudantes (UNE), as Unies Estaduais de Estudantes (UEEs) e os Diretrios Centrais de Estudantes (DCEs).Alguns autores como Andreza Barbosa (2002) acusam o movimento de uma desarticulao ps-redemocratizao, indo do cenrio emergente do governo civil de Sarney at o impeachment de Collor de Mello. Para isso, elaborou algumas hipteses como a de um movimento estudantil sem memria que bem pouco se preocupou com registros, ou a uma juventude que j no via motivos pelos quais lutar, ou a uma poca em que o individualismo comeava a imperar na sociedade, ou ainda, a uma gerao impedida de atuar no mbito da poltica devido s marcas do medo que recebeu durante a violncia do regime militar. (BARBOSA, 2002, p. 8). Vrios jornais e revistas desse perodo, parecem corroborar a tese de uma certa apatia ou mudana de comportamento dos jovens no Brasil como na reportagem A Voz da Maioria da revista Veja. Na reportagem o jovem brasileiro dos anos 1980 descrito como

muito mais tmido do que se imaginaria em suas convices sobre o comportamento sexual. Ele condena a infidelidade conjugal. Condena o homossexualismo. Tem dvidas sobre se o aborto deve ou no ser liberado. E, quanto educao que vem recebendo, embora ache que s vezes os pais se metem demais na vida dos filhos, afirma que no tem outro modelo a oferecer: dar a seus filhos exatamente a mesma educao que vem conhecendo em casa. (1984, p.52).

Nessa pesquisa, cinco perfis de jovens foram analisados, a saber, o jovem integrado, o jovem contestador, o jovem conservador, o jovem moderno e o jovem independente, destacando que os contestadores representam apenas 5% dos jovens pesquisados, sendo que o jovem conservador correspondia a 23% dos entrevistados, demonstrando pelas estatsticas, que ligar o jovem a rebeldia representava um desconhecimento acerca da juventude. Mas como dito no inicio deste artigo, aprofundar essa questo foge ao mbito deste trabalho, uma vez que envolve noes complexas como representao. Polmicas parte, a dcada seguinte enfrentaria uma mudana na ao coletiva dos movimentos sociais brasileiros com aplicao de polticas neoliberais e o inicio de uma globalizao que passa a considerar a educao uma palavra-chave de governos, entidades privadas e instituies multilaterais como o Banco Mundial, que recomenda entra outras coisas a flexibilizao e reduo de gastos nas ditas reformas educativas. A universidade passaria tambm por transformaes, com a disseminao de universidades vendedoras de diplomas, valorizao da quantidade em nome da qualidade, um retorno ao tecnicismo e consequente diminuio e mesmo perda da capacidade crtica. A dcada de 1990 seria para alguns como j dito anteriormente, marcada pela apatia e pela limitao a questes especificas e internas de Diretrios Centrais Estudantis (DCE). (BRINGEL, 2009, p.110-111) Ann Mische (1997, p.135-136) considera o movimento dos caras-pintadas durante o processo de impeachment do presidente Fernando Collor como a nica manifestao juvenil a romper com essa aparente apatia e individualismo da chamada gerao shopping center. Devido percepo predominante de apatia e individualismo juvenil, o inesperado entusiasmo poltico dos jovens em 1992 gerou amplo comentrio e debate. Nos dias e meses depois das manifestaes, diversos atores a mdia, educadores, representantes do governo, partidos polticos, movimentos sociais e organizaes estudantis batalharam para dar interpretaes pblicas dos eventos imprevistos [...] os caras pintadas foram atores privilegiados em uma ampla mobilizao da sociedade civil e poltica contra o governo Collor. Depois da revelao de uma extensa rede de patrocnio coordenada pelo assessor Paulo Csar Farias, o governo ficou mais e mais isolado, enquanto as bandeiras da moralidade pblica e da tica na poltica ganharam fora na imprensa, nas organizaes civis e nos partidos de oposio. Isso tocou numa grande reserva de frustrao pblica com o clientelismo e a corrupo crnica do sistema poltico. Nesse clima, a participao entusiasmada dos jovens nas passeatas pelo impeachment organizados pelas entidades estudantis, apoiados pelos partidos e entidades civis, e divulgados pela grande imprensa no pode ser chamada de independente ou espontnea, pois eles receberam amplas formas de apoio oficial e no oficial [...].

Embora tenha recebido crticas de ter sido um movimento manipulado por setores poderosos da sociedade, o fato , que para muitos, a juventude cara-pintada foi um ltimo momento de autenticidade e autonomia do movimento estudantil, ao apontar tambm para sua ligao cada vez maior aos partidos polticos, o que ser discutido a seguir.

3 MOVIMENTO ESTUDANTIL: Politizao e as novas lutas dos dias atuais

De acordo com Montao (2010) o movimento estudantil no pode ser concebido como um bloco monoltico. Ele comporta vrios grupos polticos com diferentes conceitos de projeto social, de projetos universitrios e papis no campo da luta de classes, que acabam por refletir-se nas disputas ideolgicas e polticas da vida social. Neste sentido, os anos da atual dcada em que vivemos so reveladores dessas divergncias e disputas. A partidarizao, embora alvo de crticas pela prpria UNE, divide opinies entre os estudiosos, como Mesquita (2006, p.126-127) onde afirma que Pensando na temtica do apartidarismo temos que pontuar que o discurso se torna ambguo e difuso, na medida em que, mediada por uma tendncia que se serve do partido para se manter enquanto grupo poltico na direo da entidade e que em vrios momentos tem defendido a importncia do partido enquanto grupo que organiza os estudantes dentro do movimento. Coloca-se como neutra ao falar da unidade e do apartidarismo. Fala destes dois elementos de um lugar que no neutro. Mas se este discurso ambguo, a sua existncia mostra, por outro lado, que a influncia dos partidos, de certa forma, desgastou as entidades estudantis e acaba por se tornar signo de uma reao excessiva partidarizao existente no movimento; a lgica do apartidarismo, desta forma, acaba tendo uma aceitao muito forte no meio estudantil, principalmente entre os menos institucionalizados.

J para Maria Cavalcante (2009, p. 40) necessrio ressaltar que que nem todos (as) militantes das tendncias so filiados (as) a partidos polticos; uma tendncia pode atuar sem, contudo, apresentar vnculo com partidos polticos, sejam [...] de esquerda ou direita que militam no movimento estudantil, independentemente de participarem de tendncias. Polmicas parte, os anos 2000 foram marcados por lutas contra reformas como o Reuni (Programa de Apoio a Planos de Reestruturao e Expanso das Universidades Federais), contra a corrupo nas universidades, contra o setor privado de educao, pelo passe livre e contra a restrio a meia-entrada. O Governo Lula provocou fortes reaes, inclusive com ocupaes de reitorias pelos estudantes ao implantar uma reforma no ensino superior. So marcantes tambm dessa poca aes em oposio s (contra) reformas educacionais, dividindo fortemente os estudantes j que a UNE foi acusada de se mostrar favorvel ao governo entre os que defendiam a ruptura e a construo de uma alternativa de luta estudantil, independente da UNE e os que defendiam sua permanncia e o fortalecimento da oposio interna. O primeiro grupo criou no ano de 2004 a Conlute (Coordenao Nacional de Luta dos Estudantes). Seguindo essa linha, criada em 2009, por ocasio do Congresso Nacional dos Estudantes a Assembleia Nacional dos Estudantes Livre (Anel). (MONTAO, 2010, p. 289-290). Por fim, para alm de divergncias e disputas ideolgicas existentes no Movimento Estudantil, o mais importante que a participao e a militncia neste so destacadas por seus membros como fundamentais para sua formao poltica e ideolgica.

importante ressaltar que a emergncia destas temticas no interior do movimento estudantil, no se faz sem antagonismos e conflitos. Porm, mais que antagnicas essas novas prticas so complementares e oferecem a uma boa parcela de jovens estudantes, um importante espao de socializao poltica. O surgimento de novas formas de ao, e expresso, no significa que as prticas anteriores tenham sido totalmente superadas. As novas linguagens ainda esto em formao precisando, portanto, fortalecer seus coletivos e prticas, bem como resistir s presses das foras hegemnicas, as quais at por suas caractersticas podem tentar forar uma unidade, sufocando-as. (MESQUITA, 2003, p. 147).

5 SERVIO SOCIAL E MOVIMENTO ESTUDANTIL: o compromisso tico poltico

De acordo com o estudo de Cavalcante (2009) o MESS (Movimento Estudantil do Servio Social) organizou-se e intensificou-se, em nvel nacional, no contexto das lutas polticas pela redemocratizao do pas, no final da dcada de 1970, ressaltando que a dcada seguinte foi importante para seu fortalecimento por reivindicar espaos junto a categoria, encontrando no Movimento Estudantil, um grande aliado. A partir desse encontro, o MESS procurou construir alianas com outras entidades estudantis, movimentos sociais e entidades representativas do Servio Social como a Associao Brasileira de Ensino e Pesquisa em Servio Social (ABEPSS) e o Conselho Federal de Servio Social (CFESS). Aps dez anos de debates, em 1988, prossegue a autora, criada a SESSUNE (Subsecretaria de Estudantes do Servio Social na UNE) com o objetivo de contribuir para a organizao dos estudantes, atravs de um maior embasamento terico em situar e analisar questes relativas a profisso em um contexto scio histrico das determinaes estruturais e conjunturais ou como nos explica Larissa Rodrigues a ao poltica do MESS no possui um carter imutvel ou de um nico perfil, pois sua ao poltica definida considerando as determinaes objetivas e forma de expresso dos sujeitos que o constroem. (2008, p.15).A mudana em 1993 de SESSUNE para ENESSO (Executiva Nacional dos Estudantes de Servio Social) representou acima de tudo, a perspectiva de uma maior autonomia em relao a UNE, em decorrncia da forte tendncia, a partir da dcada de 1990, das executivas demonstrarem uma maior dinmica de organizao estudantil, desenvolvendo lutas mais abrangentes e atividades mais especificas da profisso. Os fruns organizados pela ENESSO so o Conselho Nacional de Entidades Estudantis (CONESS), formado pelos Centros Acadmicos (CAs) e Diretrios Acadmicos (DAs), cujo objetivo a definio da pauta para o encontro nacional dos estudantes de Servio Social (ENESS); o Conselho Regional de Entidades Estudantis em Servio Social (Coress), que apresenta a mesma funcionalidade, mas em mbito regional; o Encontro Regional de Estudantes do Servio Social (ERESS), consiste no maior frum de discusso de cada regio que compe a ENESSO. Nesse encontro acontece a eleio para as coordenaes regionais da ENESSO; e o ENESS que se refere mxima instncia de deliberao do MESS e no qual se elege a diretoria nacional da entidade (CAVALCANTE, 2009, p. 46-47).Rodrigues (2008, p. 72) reafirma a relevncia da ao poltica do MESS ao expressar que participar de sua vivncia traz ao estudante a oportunidade de participar da organizao da categoria, para o fortalecimento das lutas em defesa da formao profissional em consonncia com o projeto tico-poltico e para uma maior articulao das lutas em defesa da classe trabalhadora. Contribuindo para que o estudante tenha uma percepo crtica a respeito da realidade social da qual est inserido, e desenvolvendo o papel de sujeito poltico nesta. Em sua formao profissional essa participao lhe propicia um aprofundamento terico e poltico a respeito das questes relativas a profisso, bem como lhe imprime o compromisso de defesa classe trabalhadora, em vista que este uma das lutas do MESS.

Portanto, afirmar o movimento estudantil em uma perspectiva de emancipao humana, comprometendo-se com as classes menos favorecidas e com uma formao crtica, tendo como referencia o Projeto tico-Poltico Profissional, constitui num dos desafios para o MESS hoje e sempre e sua marca maior.

6 CONCLUSO

Falar da importncia do Movimento Estudantil para o Brasil alm de ser uma tarefa rdua e difcil que dificilmente poderia se concluir em um nico artigo de extremo cuidado, pois os trabalhos sobre o assunto primam, sobretudo por um rigor e qualidade intelectual que nos desafiam a estar cada vez mais atualizados e atentos. Sua histria, seu passado de lutas e derrotas, seus sonhos e utopias nos provocam um sentimento misto de admirao e espanto diante de tantos jovens que sacrificaram seus desejos pessoais em nome de um ideal que mesmo no se concretizando deixou suas marcas at hoje. Os estudantes de hoje, vivendo em um contexto marcado pela competio, individualismo e consumo, sofrem criticas dos mais variados meios intelectuais e polticos. Se a gerao revolucionria das dcadas de 1960 e 1970 ainda tinha como bandeira as lutas pelas conquistas dos direitos, pegando mesmo em armas, a atual gerao luta para manter tais direitos, mas com outras armas, ameaados por polticas privatistas, sobretudo a partir do avano de medidas que se iniciariam com os governos passados e que infelizmente foram adotadas pelo atual. Apesar dessa aparente apatia, a juventude apenas entendeu que antes de mudar o mundo, preciso tambm entend-lo. Os jovens tambm tem objetivos diferentes entre si, tem sonhos diferentes e mesmo ideologias diferentes, mas superadas as divergncias, o movimento estudantil deve se organizar da melhor maneira possvel, alguns, mesmo em diferentes grupos polticos, mesmo defendendo diferentes ideais, buscar a nica luta verdadeiramente da vontade de todos: a transformao da sociedade em um lugar melhor para todos, sem distino. O Servio Social, dentro desse compromisso, tem uma responsabilidade maior nessa tarefa: sua clientela o retrato mais visvel de que essa transformao urgente e que no pode ser transferida para as futuras geraes.

REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

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