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O MODELO CONCEITUAL DE PRODUÇÃO DE ALIMENTOS NO BRASIL SOB A ÓTICA DA HEURÍSTICA CRÍTICA DO PLANEJAMENTO SOCIAL (CSH) Marcelo Marcos Franco João Luiz Passador Universidade de São Paulo Universidade de São Paulo [email protected] [email protected] Resumo O presente trabalho é complementar e recursivo a outros estudos no que tange à visão sistêmica da cadeia produtora de alimentos. Para um maior aprofundamento, foi utilizada neste trabalho, a ótica da Heurística Crítica do Planejamento Social (CSH - Critical Heuristic of Social Planning) , proposta por Ulrich (1983). Tal esforço de pesquisa buscou o entendimento do processo de controle de qualidade na produção, para servir de base para a melhoria da gestão estratégica, nas esferas privada e pública, e da atividade produtiva em tela, na forma conceitual proposta. Palavras-Chave: Critical Heuristic of Social Planning (CSH), enfoque sistêmico, Controle de Qualidade de alimentos Abstract This work is complementary to other studies and recursive regarding the systemic vision of producing food chain. For further development, was used in this work, the perspective of Critical Heuristics of Social Planning (CSH -Critical Heuristic of Social Planning), proposed by Ulrich (1983). This research effort sought the understanding of quality control in the production process, to serve as a basis for improvement of strategic management in the private and public spheres, and productive activity on screen, in conceptual form. Keywords: Critical Heuristic of Social Planning (CSH), systemic view, Quality Control of food

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O MODELO CONCEITUAL DE PRODUÇÃO DE ALIMENTOS NO BRASIL SOB A ÓTICA DA HEURÍSTICA

CRÍTICA DO PLANEJAMENTO SOCIAL (CSH)

Marcelo Marcos Franco João Luiz Passador Universidade de São Paulo Universidade de São Paulo

[email protected] [email protected]

Resumo

O presente trabalho é complementar e recursivo a outros estudos no que tange à visão sistêmica da cadeia produtora de alimentos. Para um maior aprofundamento, foi utilizada neste trabalho, a ótica da Heurística Crítica do Planejamento Social (CSH - Critical Heuristic of Social Planning) , proposta por Ulrich (1983). Tal esforço de pesquisa buscou o entendimento do processo de controle de qualidade na produção, para servir de base para a melhoria da gestão estratégica, nas esferas privada e pública, e da atividade produtiva em tela, na forma conceitual proposta. Palavras-Chave: Critical Heuristic of Social Planning (CSH), enfoque sistêmico, Controle de Qualidade de alimentos

Abstract

This work is complementary to other studies and recursive regarding the systemic vision of producing food chain. For further development, was used in this work, the perspective of Critical Heuristics of Social Planning (CSH -Critical Heuristic of Social Planning), proposed by Ulrich (1983). This research effort sought the understanding of quality control in the production process, to serve as a basis for improvement of strategic management in the private and public spheres, and productive activity on screen, in conceptual form. Keywords: Critical Heuristic of Social Planning (CSH), systemic view, Quality Control of food

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10º  Congresso  Brasileiro  de  Sistemas   2

1 – Introdução

O Brasil, considerado o ‘celeiro do mundo’, deve focar seus esforços na importância

da eficiência das organizações produtoras de alimentos, tornando-se sempre um diferencial

competitivo e de sustentabilidade de sua economia. São utilizados, no Brasil, essencialmente,

três programas de qualidade: as Boas Práticas de Fabricação [BPF] e a Análise de Pontos

Críticos de Controle [APCC], ambas mais específicas e obrigatórias neste tipo de indústria, e

as Normas International Organization for Standardization [ISO]. Além destas, há de se

observar, para cada tipo de produto há um regulamento técnico de produção específico.

A melhoria contínua, essência dos programas de qualidade são fontes de estudos

permanentes e apontam para um cenário competitivo no mercado alimentício. Os

consumidores estão cada vez mais exigentes, quanto aos padrões de qualidade. Este

diferencial tende a elevar o patamar de competitividade. (Chaves, 1993; Mendonça, José &

Costa, 2004)

Estudos da Organização Mundial da Saúde relatam a questão da qualidade e

segurança alimentar como fator essencial para erradicação da pobreza e da miséria.

(Organização Mundial da Saúde [OMS], 2011). Como consequência, temos não só os

aspectos de sustentabilidade financeira das empresas, mas ainda um foco macroeconômico

também de sustentabilidade social. Por este prisma, as organizações devem aderir a

constantes programas de melhoria da qualidade, suposto que, além de ter maior probabilidade

de sucesso, comprovado pela sustentabilidade financeira estará auxiliando a sustentabilidade

social.

Não aleatoriamente, segundo Ackoff (1946), após a Segunda Guerra Mundial,

iniciou-se uma nova era, a era dos sistemas. Esta evolução no pensamento, de acordo com

Martinelli (2002), alterou o sistema social, levando a “uma mudança radical para o múltiplo,

o temporal e o complexo.” Neste diapasão, observa-se que a produção de alimentos é um

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10º  Congresso  Brasileiro  de  Sistemas   3

sistema complexo e recorrente, que deverá ser analisado sob a ótica do enfoque sistêmico.

Este sistema de produção deve, portanto, tornar-se eficiente e eficaz, ou seja, efetivo, para

cumprir seu papel essencial de auxiliar na alimentação dos 6 bilhões de habitantes atuais e

dos 10 bilhões previstos para 2100. (Organização das Nações Unidas [ONU], 2011).

Além disso, segundo Maluf, Menezes e Valente (1996), a segurança alimentar deve

fazer parte dos objetivos do planejamento estratégico do Estado, incluindo a ampliação do

conceito de segurança alimentar incorporando a garantia de acesso ao alimento seguro.

Considerando a complexidade do sistema, este estudo analisará todas as etapas da

produção, entretanto a análise principal será limitada ao fim do processo de produção, ou

seja, o produto nomeado pelo INCOTERM Ex-Work (EXW), preparado para o transporte ao

representante ou revendedor. Finalmente será analisado o modelo, observando-se a política

metrológica brasileira e suas relações com o setor público e privado, conforme descrito por

Passador (2000).

2 – Referencial teórico

O Pensamento Sistêmico, historicamente teve como marco a Teoria Geral dos

Sistemas de Bertalanffy (2008) no ano de 1975, que a identificou com uma ciência geral da

totalidade, uma disciplina lógico-matemática em si puramente, cria forma, sendo aplicável a

várias ciências empíricas. Entretanto, segundo Jackson (1991) o pensamento cibernético teve

a concepção histórica por Wiener (1965) no ano de 1948, cuja definição inicial de cibernética

foi a ‘ciência do controle e comunicação no animal e na máquina’. Ashby (1972) observou

que a cibernética deve revelar inúmeros paralelos interessantes e sugestivos entre máquina,

cérebro e sociedade e estabeleceu a “Lei da Variedade Requerida”. Beer (1959, 1973)

definiu cibernética como a ciência da organização eficaz e criou o método Viable System

Model [VSM] para análise de sistemas hard, com foco na sua operacionalização.Portanto a

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10º  Congresso  Brasileiro  de  Sistemas   4

condição sine qua non para aplicação do método VSM está relacionada à caracterização da

abordagem hard do sistema.

2.1 – VSM como instrumento de análise

Desta feita, o estudo de Franco, Carvalho e Passador (2012), observou que há

ingerência direta do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento [MAPA], conforme

Figura 1, e a conclusão do trabalho foi essencialmente no que tange à rede do MAPA, que a

adoção de manuais, normas e procedimentos formais e a consequente incorporação paulatina

da cultura da qualidade apontam que o Controle Total da Qualidade [TQC] oferece a

capacidade de rastrear todas as variáveis do processo administrativo e, ao mesmo tempo,

proporciona às organizações públicas uma integração orgânica entre estas variáveis. Por

consequência o modelo de gestão da qualidade acaba por tornar-se uma plataforma

administrativa ampla no seu alcance, exaustiva na sua capilaridade, integradora na sua

operação e eficaz nos seus resultados.

Figura 1 – VSM em Indústria Produtora de Alimentos vinculada ao MAPA

Nota. Fonte: Franco, Carvalho e Passador (2012), adaptado de Beer (1959); Jackson (1991) Franco, M. M., Carvalho, J.P. & Passador, J.L. (2012) O Controle de Qualidade integrado sob a ótica do modelo de sistemas viáveis (VSM): uma análise da produção de alimentos no Brasil. Anais do Congresso

AMBIENTE

FUTURO

5

homeostasia

Controle Coordenação

AMBIENTE

CORRELACIONAD

AMBIENTE LOCAL

Auditoria

3

4 Inteligência

Anti oscilatório

Regulação Total

3*

1

Implementação

2 MAPA

Política

SIF

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10º  Congresso  Brasileiro  de  Sistemas   5

Brasileiro de Sistemas, 8. Poços de Caldas, MG; adaptado de Beer, S. (1959). Cybernetics & Management. Science Editionds Inc, 1959 & Jackson, M. (1991). Systems Methodology for the Management Sciences. Plenum Press, New York.

Entretanto, embora o sistema seja regulado por rígidas regras de controle de

qualidade, uma vez que o produto principal é destinado a consumo humano e qualquer

interferência no processo poderá causar as duas hipóteses prováveis:

H0 Produção e disponibilização para consumo dentro dos padrões de qualidade

exigidos;

H1 Produção e disponibilização de produtos inadequados para o consumo;

Dentro desta hipótese, há ainda duas possíveis variantes:

a) Prejuízos pela perda total do lote produzido;

(neste caso o prejuízo é somente material, restringindo-se ao ambiente

controlado do sistema)

b) Entrega à comercialização de produtos inadequados ou impróprios para o

consumo;

(neste caso, uma vez que o produto não se encontra mais no ambiente

organizacional, dependerá do prejuízo causado ao consumidor ou ainda ao

revendedor, observando que no Brasil a legislação e a aplicação de

penalidades relativas à proteção do consumidor tem tido grande expansão).

Cumpre ressaltar, que por meio de uma visão sistêmica pode-se observar os riscos que

estarão incluídos caso a segunda alternativa seja concretizada. Neste caso, pela ótica da

empresa, poderá haver intervenção do Ministério Público, dos Órgãos de Proteção ao

Consumidor e da imprensa. Além disso, poderão responder por eventual crime contra a

economia popular, caso haja dolo, e em havendo somente culpa, no mínimo terão que arcar

com os prejuízos do consumidor. Além disso, pela ótica do sistema de saúde, havendo

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10º  Congresso  Brasileiro  de  Sistemas   6

qualquer intoxicação alimentar, poderá gerar uma demanda de serviços públicos vinculados

ao Sistema Único de Saúde [SUS], causando indiretamente prejuízo aos contribuintes da

Federação.

Todavia, embora a abordagem hard do sistema, demonstrasse com propriedade a

peculiaridade da relação entre os órgãos reguladores e a empresa produtora, há ainda outra

situação-problema que o modelo VSM não pode responder. Considerando que são comuns os

problemas relacionados com alimentos expostos na mídia mundial, que ocasionam prejuízos

irreparáveis, como garantir que todo o produto alimentício chegue ao consumidor com os

padrões mínimos de qualidade? Tratando-se de um problema de administração e que estes

estão pouco estruturados ou mesmo obscuros, a Soft System Metodology [SSM] foi utilizada

no estudo de Franco, Carvalho e Passador (2013).

2.2 – SSM com instrumento de interpretação e aprendizagem

Tendo em vista a lacuna apresentada entre o modelo normativo, burocrático e

estruturado e a situação-problema, o estudo foi levado adiante com base nas distinções entre

as abordagens hard e soft, conforme sumário apresentado por Kehher (1995), pode-se optar

pelo modelo de acordo com as características das diferentes linguagens, conforme descrito na

Figura 2.

Hard Soft

Bem definido/estruturado

Problema

Objetivo

Maximização/Otimização

Projeto de gerenciamento

Engenharia de um sistema

Mal definido/não estruturado

Situação-problema

Problemático

Aprendizagem/dar sentido

Projeto de investigação

Sistema como dispositivo epistemológico

Figura 2. Diferentes linguagens como reflexo de diferenças epistemológicas entre as abordagens hard e soft

Nota. Fonte: Krehher, H. (1995) Self-Organization and Soft Systems Methodology: And Inquiry in to Their Mutual Relationship and Relevance.(p.131) Tesis Doctor of Philosophy. University of Lancaster

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10º  Congresso  Brasileiro  de  Sistemas   7 Corroborando com tal assertiva, segundo Martinelli e Ventura (2006) o modelo SSM

demonstra-se apropriado para o cumprimento do objetivo do artigo tendo em vista ser uma

ferramenta de apoio à decisão, desenho e diagnóstico da situação-problema. Ademais a opção

de utilização dos métodos VSM e SSM também foi abordada no estudo de Donaires (2006).

2.3 – Caracterizações do sistema analisado – método TASCOI

A organização foi inicialmente caracterizada pelo método TASCOI (Transformation,

Actors, Suppliers, Customers, Owners and Interveners), que se trata de uma ferramenta

auxiliar da administração na gestão da complexidade, conforme Figura 3. Transformações Identificar os insumos que serão transformados e em qual a produto final

Atores Identificar quem cumpre as atividades necessárias a essas transformações

Fornecedores Identificar quem fornece os insumos

Clientes Identificar quem recebe os produtos das transformações

Proprietários Identificar quem tem a capacidade de ter a perspectiva geral destas transformações

Interventores Identificar quem define quais transformações devem ser desenvolvidas por quem

Figura 3. Método TASCOI

Nota. Fonte: Adaptado de Espejo, R., Schuhmann,W., Shwabibger, M. & Bilello, U. (1996) Organizational transformation and learning: a cybernetic approach to management. (p.49) Chichester: John Wiley & Sons.

A caracterização da indústria de produtos alimentícios é apresentada na forma descrita na

Figura 4. Transformações Produtos Alimentícios

Atores Funcionários da Indústria

Fornecedores Empresas agropecuárias e produtores rurais

Clientes Sociedade Brasileira e consumidores externos

Proprietários Entidades privadas, com regime jurídico individualizado

Interventores O Estado, por meio do sistema jurídico e dos princípios constitucionais dirigidos às

normas específicas do Setor, especificamente o SIF. Os estados das nações

importadoras de produtos brasileiros. A Administração da Indústria de Alimentos

Figura 4. Método TASCOI aplicado à Indústria de Alimentos

Observa-se que temos grande intervenção do Estado, em todos os níveis: Municipal,

Estadual e principalmente Federal e como regulador do sistema. Esta intervenção abrange

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10º  Congresso  Brasileiro  de  Sistemas   8

não só a produção, mas também a comercialização e publicidade, conforme estudo de Veiga,

Pannunzio, Cunha e Garrafa (2011).

2.4 – Da aplicação da SSM no sistema de produção de alimento – foco empresa

produtora de alimentos

Segundo Checkland (1981), a principal característica do potencial de utilização da

SSM é a possibilidade de introduzir melhorias, com base em uma situação-problema

utilizando-se de diversas Weltanshauungen (visões de mundo) dos diversos stakeholders

envolvidos no sistema. A referida metodologia parte do princípio de que há um problema e

que este tem um objetivo em comum, com base na ideia que o todo é maior que as soma das

partes e que a organização é um sistema aberto que interage com todo o ambiente. A Figura 5

demonstra a (SSM- - Soft System Methodology).

MUNDO REAL

MUNDO SISTÊMICO

FIGURA 5. Metodologia de Sistemas Flexíveis (SSM- - Soft System Methodology).

Nota. Fonte: Adaptado de Checkland, P.B. (1981) Systems Thinking, systems practice. Chichester: Jons Wiley & Sons.

Sendo assim, foram percorridos os estágios propostos na metodologia, da forma a

seguir.

E1 – Averiguação -Situação problemática desestruturada

E2 – Definição da Situação Problema

E3 – Formulação das Definições Essenciais Presentes no Sistema

E4 – Modelos Conceituais

E4a – Modelo Sistêmico Formal

E4a – Outras conceituações sistêmicas

E7 – Ação para melhorar a ‘situação-problema’

E5 – Comparação de E4 com E2

E6 – Mudanças sistematicamente desejáveis e culturalmente viáveis

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10º  Congresso  Brasileiro  de  Sistemas   9

Estágio 1 (E1) – Averiguação

No E1 procura-se observar a situação-problema mal definida e coletar o máximo de

informações acerca das atividades essenciais relacionadas diretamente com o objeto social da

organização que interagem no clima organizacional, na comunicação, no poder, nas decisões

formais e informais, com o objetivo de compor a figura do sistema. Neste estágio há

necessidade de atentar-se às diferentes Weltanshauungen.

Foram utilizadas entrevistas, discussões com partes relacionadas e coleta de dados

secundários, nomeadamente informações de stakeholdes presentes. Para auxiliar a análise,

primeiramente foi utilizada, de forma restrita ao objeto, a estrutura de análise baseada no

acrónimo PEST para visão geral do macroambiente, com base nos fatores: Político-Legais,

Econômico-Naturais, Socioculturais e Tecnológicos, conforme Figura 6.

Político-Legais: Há legislação aplicável à produção

de alimentos e estrutura de fiscalização adequada.

O Código do Consumidor deu força à mudança.

Socioculturais:Considerando nossa miscigenação

cultural, as formas de alimentação seguiram a mesma

tendência, ainda existindo a culturas de procedimentos

higiênico-sanitários inadequados.

Econômico-Naturais:O Brasil é um país tropical

cujas temperaturas são propícias para a proliferação

de microrganismos, com variações térmicas

favoráveis em várias regiões.

Tecnológicos:Há tecnologia para produção, entretanto

ainda é considerada de alto custo para os médios e

pequenos produtores.

Figura 6. Analise PEST – Produção e Consumo de Alimentos no Brasil

Nota Fonte: Franco et al.(2013)

Estágio 2 (E2) – Definição da Situação Problema

Para auxiliar a definição da situação-problema foi utilizada a elaboração da figura rica

(rich picture), conforme Figura 7.

A figura rica tem como função essencial, abordar os anseios e expectativas de cada

um dos agentes de forma a demonstrar a realidade das situações. Não existem regras

definidas para sua representação e o objetivo desta etapa é ‘captar a essência da situação,

expressando o clima e a cultura organizacional, os diferentes stakeholders relevantes e suas

Weltanchauungen.’(Gonçalves, 2006)

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10º  Congresso  Brasileiro  de  Sistemas   10

Consumidor Hospitais Promotor Público

A comunidade Administrador Funcionários

Revendedor EMPRESA Fiscal Federal Agropecuário

Transportador Outras Empresas

Figura 7. Figura Rica – Produção e Consumo de Alimentos de Origem Animal

Fonte: Franco et al.(2013), adaptado de Pathing, D. (1990) Pratical soft systems analysis. London: Pitman Publishing.

Estágio 3 (E3) – Formulação das definições essenciais

A essência deste estágio é focar na busca de uma missão, ou seja, definir a ação a ser

implementada, diferentemente da área da empresa. Checkland (1981) propõe a utilização do

mnemônico, em inglês, CATWOE como guia deste cheklist para formular as definições

essenciais.

C – Clientes (internos e externos) – quem são os beneficiários ou vítimas da ação

proposta? Quando uma empresa não faz o controle que deveria, por quaisquer motivos os

Desejo Necessidade Vontade

Investigação/Punição somente por Denuncia

Cumprir norma com menor custo = Lucro Às vezes o risco compensa

Estou ganhando o suficiente? Se eu não cumprir a norma será que dará problema?

Muitos diagnósticos de virose são de origem alimentar

Facilidade de adquirir alimentos Preço alto; Desperdício. Sistema de Saúde precário Provável Corrupção

Entrega Rápida Observar Tempo e Temperatura

Somos poucos. Faço o possível por amostragem.

Precisamos vencer a concorrência; Qualidade se o comprador exigir

Se há o registro do MAPA /SIF estou satisfeito e legalmente garantido.

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10º  Congresso  Brasileiro  de  Sistemas   11

beneficiários são os proprietários e eventualmente ou supostamente quem recebe de qualquer

forma qualquer benefício pela omissão. Os beneficiários dos produtos são os consumidores e

simultaneamente as vítimas, quando o produto consumido não estiver dentro dos padrões

higiênico-sanitários satisfatórios.

A - Atores – quem é responsável por conduzir ou desempenhar as principais

atividades do sistema? Os atores são: a indústria produtora de alimentos, os Fiscais Federais

Agropecuários, os revendedores, os consumidores e os Promotores Públicos.

T - Processo de Transformação – qual a transformação feita pelo sistema?

(input>transformação>output) Neste caso são inseridos no sistema produtos de origem

animal in natura e transformados em alimentos processados.

Importante adentrar neste item, um componente de análise de qualidade no processo,

o mnemônico cinco Es: ( Eficácia: o processo justifica o resultado ao passo que é a única

forma atual de alimentar os humanos. Eficiência: o processo em si não é totalmente

eficiente no que tange à segurança alimentar em amplo sentido, entretanto ainda há muito

desperdício, sendo sua redução uma das metas para o Desenvolvimento Sustentável.

(Organização das Nações Unidas [ONU], 2012). Efetividade: no aspecto da ótica da

empresa provavelmente cumpre a os objetivos do sistema, ressaltando a necessidade de

ampliar o controle para ser realmente efetivo, não somente em nível ex-work. Ética:o

processo somente pode ser considerado ético quando cumpre todas as exigências legais e

entrega ao consumidor um produto de qualidade ao preço que corresponda à qualidade

prometida. Estética: a estética do processo é agradável no sentido de suprir uma das

necessidades primárias dos seres humanos.)

W- Weltanschauungen – Conforme descrito na Figura 2.3, as visões são

diferentes.

Page 12: O MODELO CONCEITUAL DE PRODUÇÃO DE ALIMENTOS NO …

10º  Congresso  Brasileiro  de  Sistemas   12 O - Owers (Proprietários) – Podemos considerar que os atores que tem autoridade

para decidir são o proprietário e seus prepostos, o Fiscal Federal Agropecuário [FFA] e o

Promotor Público Federal.

E - Environment (Ambiente) – Considerando a quantidade de FFA´s em relação à

quantidade de empresas produtoras de alimentos de origem animal, a quantidade de lotes de

alimentos produzidos e a quantidade de análises de controle de qualidade exigidas,

certamente há déficit no controle ao passo que o limite aceitável deveria ser próximo a zero,

uma vez que estamos tratando diretamente com a alimentação e consequentemente a saúde

humana. Atualmente há pequena parcela de pessoas que são vegetarianos, e ainda que o

período de utilização por seres humanos de alimentos de origem animal, a exemplo leite,

carne, ovos e derivados, ocorre na infância e em períodos de convalescência, acentuando a

necessidade do controle eficaz, e comprovando a relevância deste no sistema de produção.

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10º  Congresso  Brasileiro  de  Sistemas   13

Estágio 4 (E4) – Elaboração de Modelos Conceituais

FIGURA 8. Modelo Conceitual de Produção de Alimentos de Origem Animal

Nota. Fonte: Franco et al.(2013)

Observando os itens abordados no estágio anterior pelo método CATWOE, o modelo

conceitual deveria ser efetivo no sentido amplo da segurança alimentar: alimentos saudáveis

em quantidade adequada, sem desperdício. Sendo assim, o estudo de Franco et al (2013)

propôs um modelo conceitual que abrangesse os principais pontos críticos de controle,

conforme Figura 8.

Estágio 5 (E5) – Comparação do estágio 4 com o 2

O Modelo conceitual proposto tenta eliminar os possíveis e prováveis problemas de

rastreabilidade de responsabilidades. Este fato é um dos maiores problemas jurídicos que

levam muitas vezes à facilitação de liberação de lotes que não foram efetivamente

controlados.

Matéria Prima

Controle de Qualidade

Emissão de Certificado de Análises para

Controle de Qualidade

Solicita por amostragem

Laudo Oficial de Análise de Laboratório

Credenciado

FFA – Exige de TODOS os lotes fabricados e

libera somente os aprovados

Disponibiliza a informação no

site da empresa e no site do MAPA

INDUSTRIALIZAÇÃO

Receita Federal – Exige que na Nota

Fiscal seja inserido o Número do Laudo de Análise e o Nome do

FFA que liberou o Lote

Revendedor

Controle de Qualidade

Emissão de Certificado de Análises para

Controle de Qualidade

LOTE APROVADO

Promotor Público Federal – Monitora o trabalho do FFA por amostragem

Criar política de destino: descarte

ou tratamento para consumo

animal

LOTE REPROVADO

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10º  Congresso  Brasileiro  de  Sistemas   14

Estágio 6 (E6) – Seleção de Mudanças a Serem Implementadas

Desta feita, o estudo apontara que o sistema poderia ser melhorado no sentido de que:

a) Houvesse quantidade de FFA´s suficientes;

b) O controle de qualidade nas empresas fosse efetivo e devidamente

comprovado por instrumentos rastreáveis.

c) Os Promotores Públicos Federais controlassem compulsoriamente o trabalho

efetuado pelos FFA´s;

d) Os revendedores exigissem que o fabricante juntasse aos documentos fiscais

de compra um laudo de controle de qualidade;

e) A Receita Federal obrigasse a inserção de dados relevantes à

responsabilização dos atores, como o número da nota fiscal de serviços do

laboratório que fez a análise e respectivos dados, além do nome do Fiscal

Federal Agropecuário que liberou o lote produzido.

Estágio 7 (E7) – Ação para Melhorar o Problema

Considerando as sugestões de mudanças apresentadas, há necessidade, primeiramente

de analisar efetivamente e com dados mais elaborados a veracidade das informações dos

atores quando a elaboração da figura 2.3, de forma a projetar o modelo conceitual, cujo

objetivo é estruturar o debate com o mundo real, de forma a definir quais mudanças são

sistemicamente desejáveis e culturalmente viáveis. Isto porque implicaria em alterações

funcionais em todo o arcabouço do sistema administrativo do Estado. Há necessidade de

conhecer a rede de produção mais profundamente, entretanto, considerando as informações

como verdadeiras poder-se-ia apresentar as seguintes propostas:

a) Aumento do número de FFA, que implicaria em uma análise de capacidade do

orçamento público federal; (encontra-se em fase de elaboração, no momento

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10º  Congresso  Brasileiro  de  Sistemas   15

da elaboração deste estudo, um edital para contratação de 172 FFA´s; contudo,

restará dimensionar o impacto no sistema a partir deste quantitativo);

b) Integração de informações entre os dados obtidos na empresa pelo FFA e

disponibilizado ao outros setores de regulamentação do próprio MAPA;

c) Integração entre as informações contidas nas Notas Fiscais de venda ao

revendedor, mas não ao consumidor final, como o nome do FFA e o número

da NF de prestação de serviços do laboratório que analisou o lote produzido;

d) Controle direto dos Promotores de Justiça Federais nos processos da

fiscalização sanitária.

Sendo assim, a conclusão desta aplicação foi que essencialmente haveria maior

necessidade de rastreabilidade dos processos e maior integração entre os agentes envolvidos.

Entretanto, observou-se traços de convergência entre atores sociais de entidades diversas, e

que muitas das premissas nem sempre são explícitas, de forma a contrapor um conjunto de

premissas que melhor atendar os interesse de todos, principalmente dos coagidos,

corroborando com o aprofundamento do estudo com técnicas de abordagem crítica.

3 – MÉTODOS DE PESQUISA

Com base na situação problema, ou seja, ‘o que poderia ser melhorado para que não

fossem vendidos alimentos sem efetiva rastreabilidade dos níveis mínimos de qualidade

fitossanitária’, e no modelo conceitual anteriormente apresentado por Franco et al (2013), foi

utilizada a abordagem Heurística Crítica do Planejamento Social [CSH].

Além disso, foi utilizada a revisão da literatura acerca do tema, e entrevistas

semiestruturadas, de forma indireta e sem registros, com representantes dos agentes atuantes.

A necessidade de utilização dos diversos métodos foi revista durante a realização do trabalho,

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10º  Congresso  Brasileiro  de  Sistemas   16

o que pode ser considerado como um estudo descritivo e exploratório, conforme definidos

por Churchill (1995), Mattar (1996) e Malhotra (2001).

Inicialmente o modelo conceitual proposto é reanalizado dialeticamente por meio da

Heurística Crítica do Planejamento Social, de forma a evidenciar eventuais discrepâncias esta

nova abordagem. Cumpre ressaltar que este trabalho tem como pressuposto a complexidade,

e segundo Morin (2005), como tal, diferentemente da completude, comporta incerteza,

portanto um desafio ao pensar.

4- Abordagem heurística crítica do planejamento social aplicada

A Heurística Crítica do Planejamento Social, segundo Donaires (2013), pode ser vista

como uma contribuição de Ulrich para precaver-se contra a ilusão de objetividade. Sua

utilidade é evidenciada quando são utilizados modelos abstratos para exploração da realidade,

ou intervenção na realidade. A CSH oferece uma ferramenta heurística para orientar a crítica

de fronteira como prática para reflexão acerca dos modelos que se utiliza nos projetos

(designs) de sistemas e nas intervenções na realidade. A crítica não tem como objetivo

primordial apenas expor a realidade na sua forma presente, mas deve se preocupar também

em demonstrar de forma eloquente o que é que se espera essencialmente. Desta feita, o

estudo de fronteira propõe-se a não se restringir ao que “é”, mas deve sempre incluir o

sistema “deveria ser”.

Para suportar a abordagem, o método é delineado pela introdução de doze categorias

listadas na Figura 9.

Page 17: O MODELO CONCEITUAL DE PRODUÇÃO DE ALIMENTOS NO …

10º  Congresso  Brasileiro  de  Sistemas   17

Figura 9. Categorias Heurísticas de mapeamento pragmático

Nota Fonte: Ulrich, W. (2002) Critical Systems Heuristics. In: H. DAELLENBACH & R.L. FLOOD. The Informed Student

Guide to Management Science.(p.258) London: Thomson Learning.

Essas categorias são analisadas através de doze perguntas críticas de fronteira no

modo “é” e no modo “deveria”, conforme a Figura 10.

Figura 10. As doze perguntas críticas de fronteira

1 Cliente2 Propóstio Fontes de motivação (de S)3 Medida de melhoramento4 Tomador de decisão5 Componentes Fontes de controle (de S) Os envolvidos6 Ambiente de decisão7 Planejador8 Especialização9 Garantidor

10 Testemunha11 Emancipação Fontes de legitimação (de S) Os afetados12 Visão de mundo

O sistema social S

a ser delimitado

Questões centrais cobertasCategorias

Fontes de especialização e implementação (de S)

1 Quem é o verdadeiro cliente do projeto de S?

1 Quem deveria ser o cliente do sistema S aser projetado ou melhorado?

2 Qual o verdadeiro propósito do projeto de S?

2 Qual deveria ser o propósito de S?

3 Qual é a medida interna de sucesso de S? 3 Qual deveria ser a medida de sucesso de S?

4 Quem é o tomador de decisão que pode mudar a medida de sucesso?

4 Quem deveria ser o tomador de decisão como poder de mudar a medida de sucesso de S?

5 Que condições são verdadeiramentecontroladas pelo tomador de decisão?

5 Que componentes de S deveriam ser controladas pelo tomador de decisão?

6 Que condições não são controladas pelo tomador de decisão?

6 Que recursos e condições deveriam ser parte do ambiente (não deveriam ser controladas)?

7 Quem está verdadeiramente envolvidocomo planejador?

7 Quem deveria estar envolvido como projetista de S?

8 Quem está envolvido como "especialista",de que tipo é sua especialidade?

8 Que tipo de especialidade deveria fluir no projeto de S?

9Onde os envolvidos vêem a garantia de que seu planejamento será bem sucedido? 9

Onde o projetista deveria procurar a garantia de que seuplanejamento será bem sucedido?

10 Quem dentre as testemunhas envolvidas representa as preocupações dos afetados?

10 Quem deveria estar representando as preocupações dos afetados pelo projeto de S?

11 É dada aos afetados uma oportunidade de se emanciparem dos especialistas?

11 Em que grau e de que maneira deveria ser dada aos afetados a chance de emancipação?

12Que visão de mundo é verdadeiramente subjacente ao projeto de S? 12

Sobre que visões de mundo dos envolvidos ou afetados o projeto de S deveria se basear?

"É" "Deveria ser"

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10º  Congresso  Brasileiro  de  Sistemas   18

Nota. Fonte: Ulrich, W. (1983). Critical Heuristics of Social Planning: A New Approach to Practical Philosophy. Bern:

Haupt.

Sendo assim, podemos observar a caraterização, algumas identificadas anteriormente

pelos métodos TASCOI e CATWAE, das seguintes categorias:

I. Quanto às fontes de motivação ou quanto ao cliente:

1. Quem é e quem deveria ser o cliente? Quais interessem deveriam ser

atendidos?

Neste contexto há duas vertentes já abordadas, o cliente deveria ser o consumidor de

alimentos saudáveis, independentemente de interesses como a redução de custos de produção

ou de rastreabilidade da produção em detrimento da segurança alimentar. Há casos

evidenciados em que os interesses financeiros subestimam os dos clientes putativos.

2. Qual é/deve ser a finalidade?

A finalidade do sistema é um pouco controversa, de um lado alguns responderam que

é a produção de alimentos, outros, a obtenção de lucro por meio da venda de produtos

alimentares de aceitação abrangente. Entretanto há ampla concordância de que estes devem

ou deveriam corresponder à entrega ao consumidor de alimentos saudáveis, produzidos

dentro das BPF´s, com princípios de sustentabilidade sócio-ambiental, com rastreabilidade de

qualidade assegurada.

3. Qual é/deveria ser a medida de melhoramento (emancipação)?

Dentro do quadro analisado, com as devidas ressalvas, o modelo conceitual proposto

na figura 2.4 atenderia a medida de melhoramento, entretanto surge uma questão essencial,

que não havia sido abordada no estudo anterior: será que os laboratórios de controle de

qualidade, que são a essência da confirmação fática, que evidencia a efetividade dos

programas, dos quais eram caóticos quando do estudo de Rodrigues Filho e Santos (1996),

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10º  Congresso  Brasileiro  de  Sistemas   19

tem critérios homogêneos estabelecidos por programas eficazes de forma a garantir a

confiabilidade deste sistema?

II. Quanto às fontes de poder e controle:

1. Quem é/deveria ser o decisor?

Dentro do ordenamento jurídico brasileiro e da composição orgânica do Estado, o

Ministério da Agricultura é o decisor. No modelo conceitual proposto, deveria ser também o

Ministério Público, entretanto sabe-se que há muito conflito de interesses quando se

designam funções múltiplas para o poder executivo e judiciário. Isto porque o próprio poder

executivo, no caso o MAPA também age como legislador, por meio de normas com poder

coercitivo. Quanto ao item da emancipação e a questão subjacente apresentada, o MAPA,

vem alterando as regras que regem o credenciamento de laboratórios da sua rede,

evidenciando o enfraquecimento nos passos de emancipação do sistema. A Instrução

Normativa nº 01/2007 (2007) de 16/01/2007, do Ministério da Agricultura, Pecuária e

Abastecimento – MAPA, teve como finalidade estabelecer os critérios para credenciamento,

reconhecimento, extensão de escopo e monitoramento de laboratórios no MAPA, de forma a

integrarem a Rede Nacional de Laboratórios Agropecuários do Sistema Unificado de Atenção

à Sanidade Agropecuária.

Em 14/07/2011 a referida Instrução Normativa MAPA 01/2007 (2007), foi alterada

pela IN MAPA 34/2011 (2011), essencialmente pela inclusão de regras para o

credenciamento, que em seus artigos 33 a 35 determinou que “os laboratórios que se

encontravam credenciados teriam prazo de até trinta e seis meses para apresentar

comprovante de acreditação junto ao INMETRO na norma ABNT NBR IEC 17.025, válido e

atualizado para todas as determinações analíticas ou ensaios já credenciados no MAPA.” Em

11/12/2013 a Instrução Normativa 57/2013 (2013) do MAPA, revogou as Instruções

Normativas 01/2007 (2007) e 34/2011 (2011), e prorrogou o prazo para os laboratórios

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10º  Congresso  Brasileiro  de  Sistemas   20

apresentarem o certificado de acreditação e do escopo de acreditação na ABNT NBR

ISO/IEC 17025 – Requisitos Gerais para a Competência de Laboratórios de Ensaio e

Calibração, emitidos pela Coordenação-Geral de Acreditação do Instituto Nacional de

Metrologia, Normalização e Qualidade Industrial – CGCRE/Inmetro, válidos e atualizados,

contemplando os ensaios constantes na solicitação de credenciamento. Este prazo passou para

30/07/2014. Em 25 de junho de 2014, o MAPA alterou a Instrução Normativa 57/2013

(2013), através da Instrução Normativa 19/2014 (2014), prorrogando a comprovação da

acreditação para até vinte e quatro meses, ou seja, até 25 de junho de 2016. O fato relevante

é que os laboratórios que cumpriram a determinação foram e estão sendo prejudicados, pois,

os custos de manter-se a qualidade exigida são superiores aos dos que não atendem aos

rígidos padrões. Entretanto até o momento não foram encontrados motivos para tal.

2. Que condições são/deveriam ser controladas pelo decisor?

O decisor, entendido como o MAPA, deveria assegurar homogeneidade no controle

de qualidade, na fiscalização e nas suas decisões, o que aparentemente, pelas evidencias

demonstradas no item anterior, ainda deixa a desejar.

3. Que condições não são controladas pelo tomador de decisão?

No modelo conceitual proposto, o tomador de decisão também é fiscalizado e

portanto, com um quadro de laboratórios confiáveis, poderia cumprir o papel proposto.

Dentro do quadro atual ainda não são controladas as variáveis importantes do sistema que

podem interferir no controle e na rastreabilidade do eventual erro. O fato é que um dos

princípios fundamentais do Direito é a ampla defesa do acusado, com base no contraditório.

Pois bem, aliado a isto, outro fato jurídico importante, paira na área do direito penal, uma vez

que outro princípio o in dubio pro reo, do qual se não houver provas o réu é inocente. Sendo

assim, um sistema de controle de qualidade sem rastreabilidade efetiva é deveras inócuo.

III. Quanto às fontes de conhecimento (especialização e implementação)

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10º  Congresso  Brasileiro  de  Sistemas   21

1. Quem é/deveria ser o expert?

Igualmente ao observado, o conhecimento é detidos pelos Responsáveis Técnicos

(RT´s) dos estabelecimentos e dos Laboratórios Credenciados (LC´s) e pelos Fiscais Federais

Agropecurários (FFA´s).

2. Que expertise é/deveria usada?

As técnicas estão disponíveis, quer nos manuais quer nos regulamentos, entretanto a

prática, quando se aborda a questão dos laboratórios ainda é adquirida com muito

investimento.

3. Quem é/deveria ser o garantidor?

Como exposto anteriormente, na figura 2.3 há falhas no exercício das garantias da

qualidade, que deveriam ser sanadas no modelo conceitual proposto na figura 2.4.

IV. Quanto às fontes de legitimação

1. Quem é/ deveria ser testemunha dos afetados?

Considerando que, segundo Ultich (1983, p.294), as testemunhas são pessoas que

desafiam a suposta expertise dos planejadores e através de argumentação e do criticismo,

questionam a validade dos seus planos, tem o papel de impedir que as pressuposições dos

planejadores se tornem uma fonte de ilução objetivista, conforme descrito por Donaires

(2013). No sistema de produção, as testemunhas poderiam ser os serviços de defesa do

consumidor, numa etapa posterior ao abordado no modelo apresentado.

2. Em que medida os afetados são/deveriam ser emancipados, efetivamente com

relação às premissas e promessas básicas dos envolvidos?

Somente através de divulgação e instrução. Ressalta-se que o alimento é a energia do

ser humano, sendo assim, deveria ser matéria de disciplina obrigatória ainda nos ciclos

básicos de aprendizagem.

3. Que visão de mundo deveria ser determinante?

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10º  Congresso  Brasileiro  de  Sistemas   22 Certamente a visão de que todos tivessem acesso a alimentos saudáveis, na medida

adequada, com redução de desperdício, produzidos de forma correta no âmbito sócio-

ambiental.

Considerações Finais

O estudo abordou a importância para o setor público em incorporar modelagem de

gestão renovada, além de alertar para eventuais necessidades de aprimoramento de controle.

É a grande demanda hoje para os aparatos administrativos dos governos de todos os níveis,

de não só recuperar a capacidade de planejamento, mas principalmente de incorporar,

dominar e utilizar de maneira continuada, os instrumentos mais eficientes de gestão, com

ênfases na ação e no controle. E que estes produzam, ao final, maior eficácia nos resultados,

traduzidos em qualidade de serviços prestados e produtos consumidos, disponibilizados à

sociedade.

Para tanto, o estudo visou o estabelecimento de um paralelo entre as metodologias de

visão sistêmica e a modelagem proposta, onde observamos que há demanda da sociedade no

sentido de que haja um olhar mais atento à necessidade de alcançarmos a segurança alimentar

em sentido amplo.

Com base na proposta inicial, conclui-se que o controle de qualidade é a chave para a

sustentabilidade da empresa. Esta é a maior variedade a ser controlada.

Não haverá qualquer planejamento a curto ou longo prazo para empresas deste setor

que possa desprezar o investimento em Controle Total da Qualidade (TQC- Total Quality

Control), bem como na comprovação de sua qualidade por meio de Certificados de Análise

emitidos por Laboratórios Credenciados (LC), que poderão as proteger de eventuais

problemas advindos do processo de comercialização, uma vez que na maioria das vezes é

Page 23: O MODELO CONCEITUAL DE PRODUÇÃO DE ALIMENTOS NO …

10º  Congresso  Brasileiro  de  Sistemas   23

feito por terceiros, que assumirão sua corresponsabilidade. Nem tampouco há como negar a

necessidade de maior rastreabilidade dos atores envolvidos no processo.

Desta feita, a adoção de manuais, normas e procedimentos formais e a consequente

incorporação paulatina da cultura da qualidade apontam que o TQC oferece a capacidade de

rastrear todas as variáveis do processo administrativo e, ao mesmo tempo, proporciona às

organizações públicas uma integração orgânica entre estas variáveis. Por consequência o

modelo de gestão da qualidade acaba por tornar-se uma plataforma administrativa ampla no

seu alcance, exaustiva na sua capilaridade, integradora na sua operação e eficaz nos seus

resultados. E o caso estudado aponta isto na rede do MAPA, observando-se as visões

sistêmicas abordadas. Entretanto, observou fragilidade no que tange à normatização dos

laboratórios de controle de qualidade, onde os próximos estudos irão aprofundar-se.

Cumpre ressaltar, novamente, que segundo Jackson (1991) fez algumas criticas

relevantes ao modelo utilizado e ao proposto, entre elas que o argumento de visão do mundo

(Weltanshauungen) pode ser alterado por qualquer conflito de interesse, dissolvido a um

nível superior de conveniência. Além disso, a visão conceitual, com base em um idealismo,

pode conter falhas quando se trata de uma realidade social como conflito e poder, como

demonstrado nas respostas às doze perguntas críticas de fronteira, sob a ótica da Heurística

Crítica do Planejamento Social (CSH -Critical Heuristic of Social Planning) , proposta por

Ulrich (1983).

O foco deste trabalho foi em uma empresa vinculada ao MAPA, produtora de

alimentos de origem animal, bem como os laboratórios credenciados para realizar as análises

de controle, entretanto existem normas estatais e municipais para produção de alimentos, que

poderão servir de objeto para estudos futuros, além de estudos mais aprofundados em toda a

rede produtora. Ressalta-se ainda a necessidade de outras visões sistêmicas, de forma a

efetivamente vislumbrar-se a forma mais eficaz de emancipação ética do arcaico modo de

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10º  Congresso  Brasileiro  de  Sistemas   24

sistema de produção de alimentos, a exemplo do Pensamento Sistêmico pelo Método Multi-

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