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MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESPÍRITO SANTO
Promotoria de Justiça Cumulativa de Nova Venécia
Rua Salvador Cardoso, nº 106, Centro – 29.830-000 – Nova Venécia - ES - Tel: 27.3752.4400 — www.mpes.gov.br
1ª Promotoria de Justiça Cumulativa de Nova Venécia/ES
EXCELENTÍSSIMO SENHOR DOUTOR JUIZ DE DIREITO DA
SEGUNDA VARA CRIMINAL DA COMARCA DE NOVA VENÉCIA-
ES:
Processo de nº 0000908-90.2013.8.08.0038
O MINISTÉRIO PÚBLICO DO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO,
através de seu órgão de execução abaixo assinado, no uso de suas atribuições
legais e constitucionais perante esta comarca, vem, perante V. Exa., oferecer
alegações finais nos autos deste processo, na forma abaixo.
Conforme se vê na peça acusatória de fls. 02/15, WILSON LUIZ
VENTURIM, foi acusado como incurso nas sanções do artigo 1º, inciso II e
III do Decreto-Lei de nº 201/67, na forma do art. 70 do Código Penal.
Considerando o teor do Acordão constante de fls. 224/225, foi
determinada a notificação prevista no art. 2º, I do Decreto-Lei de nº 201/67,
nas fls. 235.
Defesa nas fls. 331/350.
Denúncia recebida, às fls. 511/511v.
Instrução processual efetuada às fls. 634/643.
Era o importante a relatar.
Excelência, o processo transcorreu de acordo como os parâmetros
legais dispostos no Código de Processo Penal, não havendo nulidades ou
quaisquer máculas que impeçam o prosseguimento do feito.
No mérito, toda razão assiste a acusação, sendo certo que o
manancial probatório acostado aos autos está a demonstrar os fatos narrados
na peça acusatória.
Da instrução probatória, extrai-se que o acusado, efetivamente,
praticou a conduta descrita na denúncia.
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A testemunha Denilson Mioto, ouvida na Promotoria de Justiça nas
fls. 33, relatou claramente que o calçamento nas ruas do loteamento Fausto
Cremasco – em frente à casa do então prefeito municipal, ora réu, e de outros
moradores, foi feito pelo Município de Nova Venécia/ES, não se recordando
se foram funcionário do município que executaram a obra. Infelizmente, esta
testemunha não pode ser ouvida em juízo, pois veio a óbito.
A testemunha Odete Soares dos Reis – ouvida na Promotoria de
Justiça nas fls. 34 e em juízo nas fls. 637 – disse que exercia o cargo de
Auxiliar de Obras no Município de Nova Venécia/ES. No depoimento da fase
investigativa, a testemunha disse que viu servidores do Município trabalhando
nas ruas do loteamento em questão, mas não sabe informar se era fazendo
calçamento ou esgoto. Já em juízo, a testemunha acrescentou que trabalhou
nas execução das obras de calçamento da frente da casa do Sr. Fausto
Cremasco até a antiga residência do Réu. No entanto disse que a rua em frente
da porta da antiga residência do réu não foi nem a testemunha e nem sua
equipe que executaram a obra.
A testemunha Pedro Tartaglia Neto – ouvida na Promotoria de
Justiça nas fls. 35 e em juízo nas fls. 635 – deixa claro que em frente às
residências de “Nerim”, Ormindo Boldrini (por sinal, únicas casas do local) e
a antiga residência do réu há calçamento com drenagem pluvial, esgotamento
sanitário e água da Cesan e que ele chegou a acompanhar as obras e medições
das calçadas. Disse também que não se recorda de participação da iniciativa
privada no pagamento da obra.
A testemunha Ormindo Boldrini – ouvida em juízo nas fls. 636 –
disse que quando foi morar no local em 2010 não havia calçamento e esta
obra foi feita quando o réu era prefeito municipal. Não soube informar se o
loteador efetuou algum pagamento para a realização das obras. Esta mesma
testemunha, quando ouvida no processo de nº 038.12.000103-7 (documento
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em anexo), foi coerente com seu depoimento nos presentes autos. Tanto no
depoimento do processo de nº 038.12.000103-7 como na informação de fls.
37, esta testemunha deixa claro que não contribuiu com nenhum recurso
financeiro para a construção do calçamento.
A testemunha Fausto Afonso Cremasco – ouvida em juízo nas fls.
638 – é o dono do loteamento ilegal e já foi condenado por isso no processo
criminal de nº 038.12.000103-7 (sentença em anexo) disse que na gestão do
réu na frente do Executivo Municipal, o calçamento entre sua residência e o
final da rua do lado oposto a sua residência foram calçados. Declarou que
esses pontos foram calçados por servidores da prefeitura, no entanto os
calçamentos da Avenida Itueta e da rua que cerca a residência da também
testemunha Ormindo Boldrini foram custeados por ele, Fausto Cremasco, e
pelo possuidor do respectivo imóvel. Em relação a residência da testemunha
Ormindo Boldrini, a testemunha reafirmou que ajudou a pagar os valores
gastos com o calçamento não sabendo detalhes sobre a contratação de pessoal.
Quem ficou responsável pela contratação das pessoas para executar a obra
nestas áreas teria sido o réu, pois a testemunha cuidava de seus afazeres e não
tinha tempo para isso.
Já aqui, percebe-se as incongruências nas informações, já que a
testemunha Ormindo é firme em declarar que não pagou nada pelo
calçamento, sendo que o dono do loteamento asseverou que teria ele
contribuído sim.
As testemunhas Silvani Alves dos Santos (fls. 630), Claudioney
Jacinto da Mota (fls. 640) e Roseli da Silva (fls. 641) todas falam dos
problemas que haviam antes de ser calçada a rua São Geraldo e nada falaram
das ruas adjacentes. Afirmaram que a obra foi executada por servidores do
Município na época da gestão do réu à frente do Executivo Municipal.
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Como dito pela testemunha Silvani (fls. 639), antes da última
administração do réu, só havia calçamento até a residência do Sr. Tadeu
Colombi. Foi o réu quem, por intermédio de servidores do Município, na
época que era chefe do Executivo Municipal que executou a obra de
calçamento entre a casa do Sr. Tadeu Colombi e a casa da testemunha Fausto
Cremasco.
Importante salientar onde as testemunhas Silvani Alves dos Santos,
Claudioney Jacinto da Mota e Roseli da Silva moram, já que a rua São
Geraldo é de grande extensão e tem sua maior parte dentro do loteamento
cujo proprietário é a testemunha Fausto Cremasco.
Silvani Alves dos Santos e Claudioney Jacinto da Mota, que são
policiais militares, moram sim na rua São Geraldo. No entanto, conforme foto
abaixo, suas casas estão situadas no início da rua São Geraldo, no extremo
oposto da residência da testemunha Fausto Cremasco.
Nada mais plausível que estas pessoas quisessem o calçamento para
sua rua. Contudo, de acordo com foto abaixo, foi executada a obra com um
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padrão de calçamento para parte da rua onde estão situadas as residências de
tais pessoas e outro padrão - inclusive superior – para o restante da rua.
Fonte: Google Earth, Fev. 2012
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Já a testemunha Roseli Moraes da Silva reside, em verdade, na Rua
Irani, nº 464, conforme as fotos abaixo:
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Os fundos da casa da testemunha Roseli é que estão na rua São
Geraldo, em frente da residência da testemunha Fausto Afonso Cremasco.
Nessa parte, a rua já era calçada. Assim, a obra executada, objeto do presente
processo, não trouxe nenhum benefício para esta testemunha.
Mapa de localização do referido local:
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Na verdade, a obra só trouxe benefício para o imóvel onde morava
o réu, os vizinhos da referida residência (Ormindo Boldrini e Nereu Guzzo
Filho) e, principalmente, para o loteador, a testemunha Fausto Afonso
Cremasco, visto que não havia moradores no trecho já mencionado, conforme
as fotos abaixo:
Fonte: Google Earth, Fev. 2012
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Fonte: Google Earth, Fev. 2012
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Fonte: Google Earth, Fev. 2012
Pelo que se percebe da instrução, a tese da defesa tenta basear seus
argumentos em algumas vertentes. A primeira é a de que a rua São Geraldo
não faz parte do loteamento. A segunda é que o calçamento foi um pedido dos
moradores e que, por isso, só por isso, o réu, no exercício do mandato de
Prefeito de Nova Venécia/ES, atendeu aos anseios dos moradores e executou
a obra do calçamento. A terceira é que o calçamento das ruas adjacentes à rua
São Geraldo foram pagos pelos moradores, ou seja, o réu, Wilson Luiz
Venturim, a testemunha Ormindo Boldrine Filho e Nereu Guzzo Filho, com
ajuda do loteador, a testemunha Fausto Afonso Cremasco.
A primeira tese não tem razão de ser. A rua São Geraldo faz parte
do loteamento sim. Isso pode ser facilmente comprovado pela planta do
loteamento (Anexo I). Além disso, os moradores que foram arrolados como
testemunhas pela defesa, Silvani Alves dos Santos e Claudioney Jacinto da
Mota, são moradores do início da rua (fotos das casas acima), tendo seus
imóveis situados no extremo oposto da residência da testemunha Fausto
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Afonso Cremasco e outra testemunha, Roseli Moraes da Silva, nem na rua
São Geraldo mora, conforme dados cadastrais extraídos do Sistema de
Informações Eleitorais – SIEL (Anexo II). Entre esses dois extremos, os
moradores seriam somente o réu, a testemunha Ormindo Boldrini e Nereu
Guzzo Filho que, na verdade não despenderam qualquer contribuição
monetária para a execução da obra de calçamento das ruas do loteamento.
Esta obra ficou toda as expensas do erário, a mando do réu.
Além disso, confirmando ainda mais que a rua faz parte do
loteamento, os imóveis beneficiados são parte integrante do referido
empreendimento que, apesar de ilegal, foi iniciado ao arrepio da lei, com
venda de alguns lotes.
A ilegalidade do loteamento era de conhecimento do réu, pois ele
mesmo junta do documento de fls. 404, oriundo do setor de tributação do
município de Nova Venécia/ES, onde consta que o loteamento Jardim Ângela
não estava legalizado. Tanto é que o loteador foi condenado pela prática de
crime.
A segunda tese não tem razão de ser também. O réu juntou a
documentação de fls. 412/413v onde consta um abaixo assinado com nomes
de pessoas e apenas com alguma delas tem identificação. E, na tentativa de
induzir esse MM Juízo a erro, quer deixar entender que todas as pessoas que
assinaram moram na Rua São Geraldo.
Tal fato não é verdade.
Os documentos agora acostados (Anexo III) confirmam que poucas
pessoas residiam e ainda residem naquela rua. Ademais, de todas as
assinaturas com a identificação do número do Cadastro de Pessoas Físicas,
apenas quatro são residentes na Rua São Geraldo.
Inclusive, o próprio réu, no processo de nº 038.12.000103-7,
quando era testemunha na ação penal sobre o loteamento clandestino, afirmou
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que não conhecia a totalidade das obras do loteamento e só conhecia na rua a
sua então residência, a de Nereo Guzzo e a de Ormindo.
Além disso, em Nova Venécia/ES, há outras ruas em que não há
saneamento básico, nem calçamento. De acordo com a lei da necessidade,
poder-se-ia enumerar outros bairros que são extremamente mais populosos e,
no entanto, durante todas as gestões do réu, na qualidade de prefeito, desde a
primeira delas, nunca houve obra de calçamento. Por amostragem, podemos
exemplificar o bairro Aeroporto, que não possui calçamento e muito menos
sistema de esgotamento sanitário.
Neste bairro a população é astronomicamente maior do que a
residente na região da rua São Geraldo. Com certeza a população do bairro
Aeroporto também exigiu perante a Municipalidade o calçamento de suas ruas
e nem por isso teve seus pleitos atendidos. O bairro Aeroporto, usado como
exemplo, tem população de 2.043 (dois mil e quarenta e dois) habitantes, de
acordo com informações da Secretaria Municipal de Saúde (Anexo IV).
Conforme as fotografias abaixo, o bairro Aeroporto não tem sequer
UMA, rua calçada. Todas as vias desse bairro, inclusive a principal, que
recebe até mesmo o fluxo de ônibus escolares, é constituída de estrada de
chão.
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Fonte: Google Earth, Fev. 2012
O programa do site Google Mapas nem consegue adentrar na rua,
razão pela qual, por este programa só foi conseguido a foto do início da
Avenida principal do bairro Aeroporto, Avenida Virgílio Altoé, sendo que as
outras foram tiradas no local no dia 16 de junho de 2016.
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A terceira tese, de que o calçamento das ruas adjacentes à rua São
Geraldo foram pagos pelos moradores, auxiliados por Fausto Cremasco,
também não tem sustentação nem pela prova dos autos e nem pela máxima da
experiência.
O primeiro fato que mostra a inverdade dessa versão é que um dos
beneficiários do calçamento, Ormindo Boldrini – o único que não responde e
nem respondeu processo criminal por ilegalidades no loteamento – deixou
claro que não contribuiu com quaisquer despesas para o calçamento das ruas,
nem a principal nem tampouco as ruas adjacentes. Foi firme e coerente por
diversas vezes e em processos diferentes, a fazer esta declaração, seja por
escrito ou em audiência.
No documento de fls. 38, o réu afirma que custeou 50% (cinquenta
por cento) da rua lateral de sua residência, sendo a outra metade custeada pelo
loteador, Fausto Cremasco.
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Já Fausto Cremasco, tanto no documento de fls. 39/40, quando em
seu depoimento em juízo, declara que pagou uma parte do calçamento sendo a
outra parte paga pelos moradores, no caso, o réu e Ormindo Boldrini. Esta
testemunha ainda afirma em seu depoimento em juízo (fls. 638) que o réu,
Wilson Luiz Venturim, teria ficado responsável pela contratação das pessoas
na referida área. No entanto, teria sido ele, Fausto Cremasco, que, por ter uma
parceria com a empresa Prebom, e por isso ajudou no calçamento.
As inconsistências dessa versão são notórias.
Não há razão para a testemunha Ormindo Boldrini esquecer que
havia pagado pelo calçamento da rua onde reside, visto que em nenhum
momento falou sobre isso. E, além disso, esta testemunha afirmou em duas
oportunidades, tanto por escrito, como na audiência (processo de nº
038.12.000103-7) que não pagou nada pelas obras de calçamento. Se ele não
declarou a sua contribuição nas obras é por um único motivo, ele não pagou
nada! Tudo foi feito com dinheiro público, máquinas e com servidores do
município de Nova Venécia/ES.
Outra inconsistência que se encontra patente incide no modo em
que teria havido o suposto pagamento do material para o já referido
calçamento.
A testemunha Fausto Afonso Cremasco declarou em audiência
deste processo que ele, na época, teria uma parceria com a empresa chamada
Prebon e que, por isso, foi fornecido o material para execução da obra nas
áreas adjacentes às residências do Sr. Ormindo Boldrini e do réu. Ocorre que
de acordo com a informação e a nota fiscal (Anexo V), a empresa Prebon
declarou que o calçamento teria sido pago pelo réu, Wilson Luiz Venturim, e
não pela testemunha Fausto Afonso Cremasco. Isso ocorreu porque quem
efetuou toda a obra foi o Município, na época em que o réu era o chefe do
Executivo.
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Além do mais, nada mais natural que, se houve a contratação
particular pelo réu e pela testemunha Ormindo Boldrini para executar o
calçamento das áreas mencionadas, a defesa, durante a instrução, teria trazido
como testemunhas esses trabalhadores contratados para fazer a referida obra
ou, ao menos, o empreiteiro contratado.
Saliente-se também que, de acordo com os depoimentos prestados
no processo de nº 038.12.000103-7 (Anexo VI), tanto a testemunha Ormindo
Boldrini como a testemunha, esta ouvida apenas no referido processo, Nereo
Guzzo Filho afirmam que não contribuíram em nada e quem fez todo o
calçamento foi o réu.
Isso não foi feito porque quem efetuou a obra foram os servidores
do Município de Nova Venécia/ES por ordem do réu, no exercício do cargo
de prefeito.
Outro fato que corrobora a tese do Ministério Público de que o réu
usou recursos, máquinas e servidores públicos para executar a obra em
benefício próprio e do loteador, o Sr. Fausto Afonso Cremasco, é o padrão de
qualidade do calçamento. Através da foto na inicial e das fotos que constam
nesta peça, pode se perceber que há até canteiro central, sendo que, no local
onde há o referido canteiro, não moram as testemunhas arroladas pela defesa.
Inclusive, a única rua transversal à rua São Geraldo que possui canteiro
central é justamente a rua da antiga residência do réu, onde somente ele
residia.
Assim, restou claro na instrução que o quanto narrado na denúncia
foi o que ocorreu, a saber:
1. A rua São Geraldo faz parte sim do loteamento irregular;
2. O local onde foi efetuada a melhor parte do calçamento
beneficiou diretamente o réu e a residência da testemunha
Ormindo Boldrini e, indiretamente, o proprietário do
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loteamento irregular, a também testemunha Fausto Afonso
Cremasco, visto que valorizou o loteamento;
3. Há poucas pessoas residindo na rua São Geraldo, tanto é que
duas das testemunhas arroladas pela defesa residem nas
extremidades da rua e a outra, nem na rua São Geraldo
reside;
4. Não houve pagamento pela execução das obras, nem pelo
réu, nem pelo loteador e nem por qualquer outra pessoa,
sendo tudo pago com dinheiro público e executado por
servidores públicos municipais.
Diante do exposto, restou claro que o réu, WILSON LUIZ
VENTURIM, teve a vontade livre e consciente de se utilizar, indevidamente,
em proveito próprio e alheio – beneficiando o loteador irregular Fausto
Cremasco e os moradores deste loteamento, Ormindo Boldrini e Nereu Guzzo
Filho – de bens (máquinas e materiais para executar a obra de calçamento) e
serviços públicos (uso de servidores públicos na execução da obra).
Ademais, o réu também teve a vontade livre e consciente de se
utilizar, aplicar, indevidamente, verbas públicas. Isso ocorreu porque, apesar
de haver poucos moradores no loteamento irregular e as normas pertinentes
determinarem que a execução de obras de calçamento fique a cargo do
loteador1, o réu, exercendo o cargo de prefeito municipal, determinou a
1 Art. 18, V da Lei de nº 6.766/79:
Art. 18.
(…)
V - cópia do ato de aprovação do loteamento e comprovante do termo de verificação pela Prefeitura
Municipal ou pelo Distrito Federal, da execução das obras exigidas por legislação municipal, que incluirão,
no mínimo, a execução das vias de circulação do loteamento, demarcação dos lotes, quadras e logradouros e
das obras de escoamento das águas pluviais ou da aprovação de um cronograma, com a duração máxima de
quatro anos, acompanhado de competente instrumento de garantia para a execução das obras;
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aplicação de verbas para a referida obra em frontal desobediência das normas
legais.
DO DANO EXTRAPATRIMONIAL
O réu, na época dos fatos, era Prefeito de Nova Venécia. Exercendo
tal cargo, representando o povo, a transparência em suas ações e a lealdade
para com o cargo devem ser um norte.
O Estado, para exercer as funções que a Constituição Federal
determina, precisa ter credibilidade. É unanime entre os doutrinadores que
casos de corrupção minam essa credibilidade do Estado e, a longo prazo,
fazem com que o povo não mais confie em seus representantes. Essa
desconfiança gera falta de legitimidade das decisões públicas, retirando a
qualidade da democracia.2
Ademais, o réu exercia na época dos fatos o cargo de Prefeito
Municipal de Nova Venécia/ES. Ele era na época dos fatos um representante
do povo veneciano. A pessoa em quem a população depositou sua confiança
para conduzir seus destinos por quatro anos. Como todo poder emana do povo
que o exerce por meio de seus representantes3, neste caso o réu, a conduta por
este perpetrada nada mais é que uma TRAIÇÃO, é um crime de lesa a pátria.
Por estarmos acostumados a ver o mundo com os olhos, a
percepção dos casos de corrupção não é fácil. Um homicídio, um roubo, um
estupro é muito mais sensível à percepção pública que casos de corrupção ou
2 ROTHSTEIN, Bo. The quality of government: Corruption, social trust, and inequality in international
perspective. University of Chicago Press, 2011. 3 Art. 1º A República Federativa do Brasil, formada pela união indissolúvel dos Estados e Municípios e do Distrito Federal, constitui-se
em Estado Democrático de Direito e tem como fundamentos: (...)
Parágrafo único. Todo o poder emana do povo, que o exerce por meio de representantes eleitos ou diretamente, nos termos desta
Constituição.
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de colarinho branco, já que a corrupção é o colarinho branco
institucionalizado. Mas isso tem uma explicação na psicologia evolutiva.
Importante trecho sobre a percepção pública do ato corrupto e do
crime de colarinho branco:
"Os crimes de colarinho branco são o produto de um
ambiente tecnológico que não têm um análogo em nosso
passado evolutivo e, portanto, a percepção desses crimes não
apresenta um estímulo social que seria facilmente obtido no
nosso aparelho psicológico cognitivo".4 (Tradução livre)
Esses valores sociais e constitucionais que são violados com os atos
ímprobos e criminosos praticados por políticos, por não terem fácil percepção,
por violarem direitos difusos, passam muitas vezes despercebidos pelos
operadores do direito. No entanto, não se pode lavar as mãos na bacia de
Pilatos e ser omisso com tais fatos.
Pelo só fato da perda da confiança e da credibilidade das
instituições, o dano moral exsurge. Vejamos o que diz a jurisprudência em
relação ao dano moral coletivo:
PROCESSUAL CIVIL E AMBIENTAL. AÇÃO CIVIL PÚBLICA
PARA COIBIR A PRÁTICA RECORRENTE DE POLUIÇÃO
SONORA. MINISTÉRIO PÚBLICO. LEGITIMIDADE
RECONHECIDA. DANO MORAL COLETIVA. POLUIÇÃO
SONORA. OCORRÊNCIA. PRECEDENTES. REDUÇÃO DA
INDENIZAÇÃO. REEXAME DE FATOS E PROVAS.
INCIDÊNCIA DA SÚMULA Nº 7/STJ. 1. Recurso Especial
decorrente de ação civil pública em que se discute danos morais
coletivos decorrentes de poluição sonora e irregularidade
4 Van Winden, F., and A. Ash. 2009. “On the Behavioral Economics of Crime.” Paper prepared for the workshop “Beyond the
Economics of Crime,” Heidelberg, March 19–21, 2009.
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urbanística provocadas por funcionamento dos condensadores e
geradores colocados no fundo do estabelecimento das condenadas.
2. Tratando-se de poluição sonora, e não de simples incômodo
restrito aos lindeiros de parede, a atuação do Ministério Público
não se dirige à tutela de direitos individuais de vizinhança, na
acepção civilística tradicional, e, sim, à defesa do meio ambiente,
da saúde e da tranqüilidade pública, bens de natureza difusa. O
ministério público possui legitimidade para propor ação civil
pública com o fito de prevenir ou cessar qualquer tipo de poluição,
inclusive sonora, bem como buscar a reparação pelos danos dela
decorrentes. Nesse sentido: RESP 1.051.306/MG, Rel. Ministro
Castro Meira, Rel. P/ acórdão ministro Herman Benjamin,
segunda turma, julgado em 16/10/2008, dje 10/09/2010. 3.
"tratando-se de poluição sonora, e não de simples incômodo
restrito aos lindeiros de parede, a atuação do ministério público
não se dirige à tutela de direitos individuais de vizinhança, na
acepção civilística tradicional, e, sim, à defesa do meio ambiente,
da saúde e da tranqüilidade pública, bens de natureza difusa"
(REsp 1.051.306/MG, Rel. Ministro castro meira, Rel. P/ acórdão
Ministro Herman Benjamin, segunda turma, julgado em
16/10/2008, dje 10/09/2010.). 4. "o dano moral coletivo, assim
entendido o que é transindividual e atinge uma classe específica
ou não de pessoas, é passível de comprovação pela presença de
prejuízo à imagem e à moral coletiva dos indivíduos enquanto
síntese das individualidades percebidas como segmento,
derivado de uma mesma relação jurídica-base. (...)
o dano extrapatrimonial coletivo prescinde da comprovação de
dor, de sofrimento e de abalo psicológico, suscetíveis de
apreciação na esfera do indivíduo, mas inaplicável aos interesses
difusos e coletivos ". Nesse sentido: RESP 1.410.698/MG, Rel.
Ministro Humberto Martins, segunda turma, julgado em
23/06/2015, dje 30/06/2015; RESP 1.057.274/RS, Rel. Ministra
Eliana Calmon, segunda turma, julgado em 01/12/2009, dje
26/02/2010. 5. A corte local, ao fixar o valor indenizatório em R$
50.000,00 (cinquenta mil reais), o fez com base na análise
aprofundada da prova constante dos autos. A pretensão da ora
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agravante não se limita à revaloração da prova apreciada do aresto
estadual, mas, sim, ao seu revolvimento por este tribunal superior,
o que é inviável. Incidência da Súmula nº 7 do Superior Tribunal
de justiça. Nesse sentido: AgRg no AREsp 430.850/SP, Rel.
Ministro herman benjamin, segunda turma, dje 07/03/2014.
Agravo regimental improvido. (STJ; AgRg-AREsp 737.887; Proc.
2015/0161381-8; SE; Segunda Turma; Rel. Min. Humberto Martins;
DJE 14/09/2015)
O dano transindividual, no caso em tela, atingiu uma classe
específica, qual seja, os cidadãos de Nova Venécia/ES. A comprovação do
prejuízo à imagem e à moral coletiva está inerente à conduta, visto que frustra
e lesiona a credibilidade da Administração Pública perante os administrados,
prejudicando a imagem da desta e a qualidade da democracia. Mudando o que
se deve mudar, os fatos descritos nos autos, é um crime de lesa a pátria e pode
ser considerado de alta traição dos que legitimaram o réu para exercer o cargo
que ocupava e ocupa até hoje.
Deve-se levar em conta a localização do bairro onde foi feito o
calçamento. Conforme pode ser visto nas fotos da inicial, o local pode ser
visto por quase toda cidade, uma vez que Nova Venécia/ES é situada no vale
do Rio Cricaré e o calçamento é bem no alto. Com isso, o crime praticado
pelo réu está em todo momento na mente e na visão da população. Assim
como há no Rio de Janeiro/RJ, o Pão de Açucar, monumento natural e o a
estátua do Cristo Redentor, monumento produzido pelo homem; em Nova
Venécia/ES, temos a Pedra do Elefante, monumento natural, e o calçamento
objeto desse processo, monumento produzido pelo homem. A diferença é que
nesta cidade, o monumento pode se tornar um símbolo, positivo ou negativo.
Será um símbolo negativo, caso haja uma absolvição, malgrado a
quantidade de prova produzida neste processo, visto que se tornará um
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monumento a impunidade e mandará a comunicação para todo o povo de que
a corrupção vale a pena.
Entretanto, será um símbolo positivo com a condenação. Será um
símbolo da Justiça, será um símbolo de um novo tempo, será a confirmação
de que o crime não compensa e de que a população pode confiar nas
instituições de persecução criminal para combater esse tipo de conduta que
tanto mal traz.
A doutrina pátria tem se esforçado para definir adequadamente o
dano moral coletivo. Neste aspecto o jurista Carlos Alberto Bittar Filho
procurou defini-lo afirmando ser:
"... a injusta lesão da esfera moral de uma dada comunidade, ou
seja, é a violação antijurídica de um determinado círculo de valores
coletivos". (in Do dano moral coletivo no atual contexto jurídico
brasileiro, Revista de Direito do Consumidor, v.. 12, p. 55.)
Após, continuando a definição:
"Quando se fala em dano moral coletivo, está-se fazendo menção
ao fato de que o patrimônio valorativo de uma certa comunidade
(maior ou menor), idealmente considerado, foi agredido de maneira
absolutamente injustificável do ponto de vista jurídico: quer isso
dizer, em última instância, que se feriu a própria cultura, em seu
aspecto imaterial". (in Do dano moral coletivo no atual contexto
jurídico brasileiro, Revista de Direito do Consumidor, v.. 12, p.
55.)
Ressalte-se mais uma vez que a residência onde residia o réu na
época em que a obra executada fica em local de destaque, de forma que pode
ser vista de vários pontos da cidade. Assim, fazer uma obra de calçamento em
local de destaque, com recursos e servidores público, acabou sendo uma
exaltação à corrupção e, caso não seja tomada uma medida dura por parte das
instituições de persecução criminal, uma ODE À IMPUNIDADE!
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O princípio da razoabilidade e da proporcionalidade são vetores
para a fixação do quantum que deve ser condenado o réu em dano moral
coletivo.
O valor a ser arbitrado deve ser necessário e suficiente para coibir o
abuso e incentivar o réu a cumprir os seus deveres anexos, quais sejam, dever
de lealdade, de informação, de boa-fé objetiva, de confiança e respeito com os
cidadãos venecianos.
Enfim, o quantum indenizatório deve ter o caráter punitivo, mas
também pedagógico para que o impacto social da decisão sirva de exemplo.
DA DOSIMETRIA DA PENA
A dosimetria da pena deve ser feita de forma que haja a necessária e
suficiente reprovação do crime. Não nos esqueçamos que a comarca possui
vários processos por prática de crimes contra administração pública e de
improbidade administrativa, ou seja, atos de corrupção, o que deve ser levado
em conta pelo Juízo na apreciação do art. 59 do CP.
No caso dos autos, para a primeira fase do sistema trifásico, deve
ser registrado que a culpabilidade do réu se mostra de alta reprovabilidade, já
que, exercendo o cargo de Prefeito Municipal, mesmo sabendo que o
loteamento era irregular e que havia poucos moradores, determinou a
execução da obra com recursos e servidores do Município de Nova
Venécia/ES.
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O réu tem maus antecedentes, visto o que consta nas fls. 53/74, em
que há notícias de várias ações a que responde, inclusive com condenação.
A conduta social do réu é reprovável e há provas disso nos autos,
visto que, mesmo sabendo que havia a restrição de seu imóvel, vendeu o
mesmo para terceiro. Tanto é que este fato ensejou o sequestro do referido
imóvel, conforme autos em apenso. Além de ser uma tentativa de fugir à
aplicação da lei, casou prejuízo a terceiros.
A personalidade do agente é voltada para a prática de atos
ímprobos, visto que, de acordo com documentos já acostados nos autos, há
uma tendência inerente a sua personalidade para a prática de tais atos.
As circunstâncias do crime são negativas, em razão do desdém pela
coisa pública e da forte inclinação em beneficiar a si em detrimento do povo
que mais precisava, uma vez que preferiu executar a obra no local em que não
havia tantos moradores, mesmo havendo bairros mais carentes.
As consequências do crime também são negativas, pois, como o réu
era Prefeito Municipal, fez com que a credibilidade da Administração fosse
lesionada frontalmente, já que o cargo mais alto do Poder Executivo
municipal, ao invés de zelar pelo patrimônio público a favor do povo, praticou
atos passando bem longe do interesse público.
Em razão da valoração negativa de seis circunstâncias judiciais, a
pena deve ser de 9 (ano) ano e 6 (seis) meses de reclusão.
Assim, para o crime previsto no art. 1º, II do Decreto Lei de nº
201/67, a pena necessária e suficiente para a reprovação do crime deve ser de
9 (ano) anos e 6 (seis) meses de reclusão.
À mingua de circunstâncias atenuantes e agravantes e de causas de
diminuição e de aumento, deve a mesma permanecer neste patamar.
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Em relação ao crime previsto no art. 1º, II do Decreto Lei de nº
201/67, em razão de ser possível aplicar a mesma regra da dosimetria,
valoração negativa de seis circunstâncias judiciais, a pena deve ser de 02
(dois) anos e 07 (sete) meses de detenção.
À mingua de circunstâncias atenuantes e agravantes e de causas de
diminuição e de aumento, deve a mesma permanecer neste patamar.
Em sendo aplicável a regra do art. 70 do Código Penal, a pena deve
ser aumentada de um quinto, totalizando 10 (dez) anos e 06 (seis) meses de
reclusão.
De acordo com o art., 33, §3° do Código Penal, o réu deverá iniciar
o cumprimento da pena em REGIME FECHADO, pois há valoração
negativa de SEIS circunstâncias judiciais.
Diante do exposto, este Órgão de Execução do Ministério Público
do Estado do Espírito Santo, PUGNA pela CONDENAÇÃO, do acusado
WILSON LUIZ VENTURIM, como incurso nas sanções do artigo 1º, 1º,
inciso II e III do Decreto-Lei de nº 201/67, na forma do art. 70 do Código
Penal, com pena de 10 (dez) anos e 06 (seis) meses de reclusão, em
regime fechado.
Requer que seja o réu condenado na restituição do valor gasto no
montante de R$ 282.191,86 (duzentos e oitenta e dois mil reais e oitenta e seis
centavos), corrigidos com juros e correção monetárias, nos termos da lei.
Outrossim, requer o Ministério Público, de acordo com o art. 387,
IV do Código de Processo Penal, a fixação de valor mínimo de dano moral
coletivo no montante de R$ 500.000,00 (quinhentos mil reais).
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Por fim, pugna pelo perdimento do imóvel objeto da restrição
judicial deste processo, em favor do Município de Nova Venécia/ES, com
forma de ressarcimento dos danos causados ao patrimônio público.
Junta-se os seguintes documentos:
Anexo I – Planta do loteamento;
Anexo II – Residência de Roseli Moraes da Silva;
Anexo III – Comprovante de residências das pessoas identificadas no abaixo
assinado;
Anexo IV – número de habitantes do bairro Aeroporto;
Anexo V – Nota fiscal da Prebon;
Anexo VI – Depoimentos e sentença condenatória do processo
038.12.000103-7.
Nova Venécia/ES, 07 de julho de 2016.