o meu mundo é igual ao teu

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“O MEU MUNDO É IGUAL AO TEU”

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Page 1: O meu mundo é igual ao teu

“O MEU MUNDO É IGUAL AO

TEU”

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LIVRO DE EXPERIÊNCIAS

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INTRODUÇÃO

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Instituto António Feliciano de

Castilho

CAMPO DE OURIQUE

(1973-1979)

Page 7: O meu mundo é igual ao teu

A VIDA NEM SEMPRE COMEÇA

BEM, MAS PODE ACABAR

MELHOR!

Page 8: O meu mundo é igual ao teu

EU E OS MEUS AVÓS

PATERNOS

CAROLINA E MANUEL

Page 9: O meu mundo é igual ao teu

Nasci em Alcântara Terra e fui criado em Alcântara Mar.

Abandonado pela minha mãe, entregue á Santa Casa e depois

acabei por ir parar a casa dos meus avós paternos. Estes já na

casa dos 50 anos, com os filhos já criados e netos, já nascidos,

tiveram aqui, uma oportunidade de regressarem ao tempo de

serem pais. Cuidaram de mim, deram-me o mesmo amor e

dedicação, que deram aos 5 filhos.

Os meus avós paternos, Carolina e Manuel, eram pessoas

muito humildes trabalhadoras. Ele, engraxador no Largo de

Alcântara e ela, vendedora de fruta na Ribeira e também no

Largo de Alcântara. Eu, lá acompanhava a minha avó para a

Ribeira ou quando não me levava, ia ter com ela a pé.

Muito se disse sobre a minha educação em casa dos meus

avós, mentiu-se mais ainda e a cobra peçonhenta da mulher que

me teve, acabou por ela mesma provar do seu próprio veneno.

Odiada por todos, pela família e filhos e que vive como cadela

rafeira em casa.

Não me vou deter em falar da família, que não merece uma

linha sequer, mas sim do trajecto entre o colégio e a vida para a

sociedade, que me esperava 5 anos depois de sair.

Entretanto, os meus avós, teriam de me dar um nome.

Escolheram José Carlos e foram até á Igreja de S. Francisco de

Paula, na Calçada da Pampulha. O meu pai estava na tropa em

Elvas e as testemunhas foram o sacristão e uma tal de Maria

Helena, que se encontrava na igreja, depois de ter sido

madrinha de baptismo de uma criança, antes de mim. Fez-se o

que tinha de ser feito, até que, os avós maternos e a destravada

da filha, resolveram provocar algo, que tão bem sabiam fazer.

Serem varinas. Foram á igreja, obrigaram o Padre Vicente em

alterar o registo de baptismo por que sim, não havendo razão

para tal, mas eles é que decidiam e pronto. Mas, como odiavam

o meu pai, e por consequência iriam fazê-lo comigo, não

queriam que eu levasse o nome dele. Foram pessoas de muito

Page 10: O meu mundo é igual ao teu

mau gosto, e sem pensarem, resolveram colocarem-me o pior

nome, o do avô materno. Ora, tinham 2 nomes á escolha,

António, por ter nascido no dia a seguir a Santo António e/ou

Francisco, por ser o nome da igreja. Padrinhos o mesmo sistema

e pessoas, que deram nome ao primeiro baptismo.

Passando a fase traumática causada pela indiferença e

odio dos avós maternos, que morreram bem cedo, passo ao que

me merece destaque pelo amor e coragem em criarem um neto

com tantas dificuldades e sujeitos ao veneno da ex-nora, uma

desequilibrada, mal amada e leviana.

Depois das atribulações e das guerras entre famílias,

fiquei com os meus avòs paternos.

Depois de ter ido para a creche Vitor Manuel no Calvário,

onde também a minha irmã mais velha andava, e de muitas

vezes ter ficado á porta com a educadora, enquanto a avó

materna levava a neta, passei para o Centro Infantil Helen

Keller. Entre os 4 e os 9, tornei-me aluno esterno. A carrinha ia-

me buscar ao fundo da rua. Lá estava eu e a minha avó, na ida e

no regresso.

Depois, e porque crescendo a responsabilidade dos avós

sobre mim, aumenta, a vizinhança acoselhou-os a meterem-me

na Xasa Pia, pois eles já náo tinham idade nem tempo para

cuidarem de mim. O meu avô Manuel, engraxava os sapatos de

manha e á tarde, tinha outra actividade. Era alcoólico e vinha

quase sempre bêbado para casa. A minha avó, porque saía

sempre de casa pelas 6h da manha, para ir para a Ribeira,

buscar as caixas de fruta para vender ora na Ribeira, ora no

Largo de Alcântara. Por isso, é que não havia condições para

que uma criança ali ficasse ao Deus dará. Não só não era

verdade, como ia com ela ou ter com ela á Ribeira e de tarde

estava em casa acompanhado.

Page 11: O meu mundo é igual ao teu

Fui então com a minha avó e tia á Casa Pia. Trtatava-se do

colégio Nuno Alvares em Belém. As saudades apertaram e fui-

me embora de novo para casa da avó.

As férias de verão, eram passadas entre a praia com os

meus tios e primas. Até que, o meu avô materno se lembrou de

me levar para a Colónia Balnear Infantil de “O Século”. Um ano

depois da minha irmã mais velha lá ter estado. Sendo misto, já

naquele tempo, mas os meus avós maternos teimavam em não

nos quererem perto um do outro. Sempre que a velha sabia que

eu estava em casa da minha prima e que a minha irmã, também

lá se encontrava, vinha feita loba em busca da sua presa e a

tentar sempre desviar-me do mesmo caminho que ela. Teria eu

uns 7 anos.

Fui sempre o patinho feio da família. Tenho quase a

certeza, que se deve ao facto de seu ser deficiente visual ou

quem sabe se haver algum grave segredo familia, que me

tenham envolvido com o meu nascimento.

Era no colégio que eu me sentia bem. Seguro e protegido

dos olhares familiares.

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TEATRO-COMO TUDO COMEÇOU

Estava no ano de 1977. No colégio era normal haver

manifestações artisticas. Seja com alunos, ou com gente de

fora. Na minha sala, a prof. Maria José, propos-nos uma peça

para ser representada no palco, que se situava no ginásio.

Aquele ginário era mais ou menos multicultural. Nele, além de

educação fisica, que tinhamos com o prof. João Latino, também

se realizava a missa de Domingo e uma sala de espectaculos.

Na sala, a prof. Mostrava e falava da peça. Eu não tinha

grande entusiasmo, porque não era aquele o meu sonho. A peça

chamava-se ”Auto dos 3 Reis Magos” de Gil Vicente. A mim

coube-me o papel de ”Gaspar”. Na estreia da peça, não correu

lá muito bem e no final, pior ainda. Na plateia, muitos familiares

de alunos e colegas da peça, e ningém da minha para me verem.

No ano seguinte, uma monitora brasileira, vinha

preparando uma pequena peça de teatro. Esta peça de teatro,

Page 13: O meu mundo é igual ao teu

era baseada na novela que curiosamnete estava a dar na RTP. A

peça e a novela, chamavam-se “O Astro” e tinha como

protagonista Francisco Cuoco. Na peça, seria eu o”Astro”. Esta

peça fora representada no refeitorio, já o ginásio estaria em

obras. A spessoas até que gostaram. Sendo que, os ensaios era

uma catástrofe. Ninguém estava muito interessado em fazer

teatro nenhum. Não deixou de ser um risco, e um desafio.

Depois, comecei por apreciar as novelas que estavam a dar.

“Gabriela”, ”O Astro”, ”O Casarão”, ”Ciranda de Pedra”, ”Olhai os

Lírios do Campo”, “D. Xepa”. Desperou em mim algo estranho.

Não estava a ser a representação, nem a huistória, mas como é

que aquilo era feito. Lia as entrevistas aos actores, e foi a partir

disso, que comecei a ter o gosto e a querer saber mais sobre

aquilo. Como faziam, como gravavam, se comiam a sério, etc.

Começava a fase do querer ser. No entanto, o facto de sver mal,

poderia ser um impedimento para tv. Mas fiquei mais tranquilo

quando li uma entrevista a Lucélia Santos, a eterna ”Escrava

Isaura”, que segundo ela, era uma moça miope que que sem

lentes não via quase nada e muito menos ao longe.

Em 1982, estava eu a trabalhar na Carris como telefonista,

alguém me disse que havia teatro ou melhor, um grupo de teatro

dos trabalhadores. Tentei logo arranjar forma de saber. Fui

assistir a um espectaculo deles. Os ensaios ficavam ali para a

Calçada do Combro, ao Bairro Alto. O encenador era um senhor

já de idade chamado Vitor Mokes. O grupo era pequeno.

Formado por umas 5 pessoas. Foram eles, Jorge, Carlos e

Helena Espada, a Lurdes e o Domingos Pulgas, que era cantor e

se fazia acompanhar da sua viola para onde o grupo fosse. Fui

ver a estreia em Miraflores e adorei a peça. A peça daqual não

me lembra o nome, mas era de uma carga emocional, de uma

grande e triste história de vuida de uma familia, que me

impressionou muito. Sento, que era ali que ia ser o meu lugar.

Em 1983, entro no grupo e a peça que estava destinada

era de António Manuel Couto Viana. Chamada “A Loja do Mestre

André”. No elenco faziam parte, para além de mim, o Carlos

Page 14: O meu mundo é igual ao teu

Espada e o Jorge Estrela. Eu, era o “Anão Presunção”, o Crlos

Espaa, “Gigante Galante” e o Jorge o “Alfaiate André”. Foi uma

belíssima peça. Sala cheia, e foi a concurso para o festival de

teatro amador. Ficando em 4º lugar. Eram vários grupos de

teatro, creio que uns 12.

O tempo foi passando e as peças foram se seguindo e em

1984, consegui concorrer sozinho com um monólogo, escrito por

mim chamado”Marco, Um Produto de Esgoto da Cidade”. Esta

peça era baseada em factos reais e que se tinha passado

comigo, que um ano antes, passei por sem-abrigo, dormindo na

rua, etc. Consegui depois e já em 1983, no fim, regressar á

Carris por mais um ano.

Esta peça, escrita pelo António Manuel Couto Viana,

retrata uma divergência entre o “Anão Presunção” e o “Gigante

Galante”. Ambos queriam ir ao um baile bem vestidos e acima

de tudo, tinham de ir um melhor que o outro. O alfaiate era o

mesmo e as indicações de cada um, era que tinham de brilhar

mais,mas sem que um soube do outro. A mim custou-me ter de

andar com sapatos nos joelhos um a tunica, para que parecesse

mesmo um anão. Teve uma boa aceitação do público e

concorreu ao festival de teatro amador, arrancando um 4º lugar.

Em 1984, já fora da Carris e do grupo de teatro, concorri

para um concurso de histórias que a Radio Comercial tinha. Um

programa apresentado por Maria João Aguiar, Manuela Moura

Guedes e Dora Maria. Ganhei um prémio que por pouco que

fiosse tinha muito significado para mim e fui aos estúdios

receber das mãos de Dora Maria e Manuela Moura Guedes.

Fiquei contente porque alguém que não me conhecia de lado

nenhum, me davam alguma inportância.

Por falar em rádio não posso esquecer um amigo que era

locutor da Radio Antina 1, que na altura ficava na Rua do

Quelhas, onde conheci a Mara Abrantes, distinta artista e do

Marques Vidal. Passei por lá várias vezes e um dia pedi-lhe para

me deixar assistir a um dos seus programas, do qual era ouvinte

Page 15: O meu mundo é igual ao teu

e ele, não só deixou, como me ensinou como se lidava com

aqueles aparelhos. Falei algumas vezes na radio, e acima de

tudo, fascinava-me todo aquele ambiente de rádio. Mais tarde,

vim a ter a mesma experiência na Rado Renascença com o

António Macedo num programa que ele tinha chamado “Serões

da Radio”, onde para além de assistir ao programa da noite,

acabei por poder falar com a Olga Cardoso, que fazia também a

partir do Porto o mesmo programa. Foi um previlégio, falar com

aquela que eu ouvia anos no seu eterno programa da manha

“Despertar” ao lado de António Sala. A Ogra Cardoso, perante o

meu já e, depois, o sonho de me tornar actor profissional, disse,

que “um sonho deve ser realizado, lutando, sendo humilde e

nunca desistir. Acrescentou ainda, que me queria ver na tv,ou

teatro”. Aquelas palavras dela, fora até hoje, o eco e a

realidade.

Por falar no programa “Despertar”, sempre achei que o

António Sala não iria receber ninguém tão facilmente e muito

menos a mim. Habituado que estava a ouvi-lo, gostava de um

dia de poder falar com ele. Estavamos na época dourada dos

Festivais da Canção, o tambem aparecimento do António

Variações, que iria dar um concerto no Coliseu dos Recreios,

seria o mote. Fui aos estúdios da Renascença e sem grande

esperança de ser recebido por ele, entrei perguntei na recepção

se me recebia e ao que me responderam, que ele recebe toda a

gente. Sentei-me mais ou menos o tempo, que terminaria o

programa e, se preparava para sair. Quando dei conta, lá vinha

ele ao meu encontro. Sentámo-nos, falámos e disse-lhe que

tinha muito receio de não ser atendido por ele ao que ele

respondeu, que era uma pessoa como qualquer outra e que

atende sempre, quem queira falar com ele. Ajudou-me a falar

com o António Variações ao telefone e de ir ao concerto dele.

Gosrtava de ter concorrido ao Festival da Canção com uma letra

dele, mas isso seria muito abuso da minha parte e não lhe

manifestei tal pedido. Foi uma pessoa estremamente sociável,

simples e humilde.

Page 16: O meu mundo é igual ao teu

“FESTIVAL DA MALTA-84”

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ESTAMOS EM 1984, EM MARÇO. LEU NO DIÁRIO DE NOTÍCIAS, QUE ABRIU

CONCURSO DE NOVOS TALENTOS QUE SE CHAMA “FESTIVAL DA MALTA-84”. CONCURSO QUE SE

IRIA DIVIR POR 3 PARTES EM 3 MESES. O PRIMEIRO MÊS SERIA A 1 DE ABRIL, A 3 DE MAIO E 6 DE

JUNHO. TODOS SÃO APRESENTADOS NA ACADEMIA DE SANTO AMARO. A APRESENTAÇÃO PARA A

RTP, ESTAVA A CARDO DE ARISTIDES TEIXEIRA. NOS JURADOS, TINHAM NOMES COMO FÁTIMA

MEDINA, JORNALISTA CARLOS CASTRO, MARIA DOS ANJOS, ALICE CRUZ E FERNANDO PESSA.

TODOS ELES, SE IRIAM DIVIDIR EM 3 SESSÕES. ANTES DISSO, E A UMA SEMANA DE FINAL DE

ENTREGA DE CANDIDATURAS, DESLOQUEI-ME Á ORGANIZAÇÃO INICIATIVA, QUE FICAVA POR CIMA

DA PASTELARIA SUIÇA NO ROSSIO, CONSEGUI CHEGAR Á FALA COM O ARISTIDES TEIXEIRA. PARA

QUE EU PUDESSE CONCORRER, TERIA DE FAZER CHAGR UMA PEÇA ESCRITA POR MIM OU POR OUTRO

QUALQUER, QUE FOSSE INTERPRTETADA POR MIM E JÁ QUE NÃO ESTARIA INTEGRADO EM GRUPO

NENHUM, TERIA DE ME DESENRASCAR. NEM SEQUER SABIA ESCREVER UMA PEÇA. MAS ACABEI POR

ESVCREVER UM MONÓLOGO BASEADO NA MINHA EXPERIÊNCIA COMO SE-ABRIGO. ENTREGUEI A

TEMPO A CANDIDATURA E PASSEI.

NO DIA 1 DE ABRIL, DE MANHA LÁ FUI EU PARA A ACADEMIA DE SANTO AMARO. PELAS

10H. ESTAVAM JÁ BASTANTES CONCORRENTES E MUSICOS, ALÉM DE ARTISTAS DE VÁRIOS

GÉNEROS. CONHECI NOÉMIA COSTA E O SEU MARIDO DE ENTÃO LICÍNIO FRANÇA. AMBOS IAM

CANTAR. TAMBÉM A ISA, CONCORRENTE DO FESTIVAL DA CANÇÃO DO ANO ANTESRIO QUE FICARA

EM 2º LUGAR, TAMBÉM LÁ ESTAVA. EU CONFESSO, QUE ESTAVA ALI UM POUCO Á NORA. ALGUÉM

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DA ORGANIZAÇÃO TEVE UMA IDEIA BRILHANTE. A MINHA PRESTAÇÃO IA TER 3 FIGURANTES. A

ERMELINDA DUARTE, QUE FICARA FAMOSA COM O SEU HINO “A GAIVOTA”, EMPRESTOU-ME O

MICRO DE LAPELA, A ISA E MAIS UM CASAL, FIZERAM DE MEUS FIGURANTES E ESTAVA TUDO

PRONTO. ENSAIOS NÃO HOUVE NEHUNS, A NÃO SER A EXPLICAÇÃO AOS FIGURANTES, COMO

ENTRARIAM E SAIRIAM DA PEÇA. HOUVE NESSE DIA BASTANTES CANDIDATOS. NO FINAL, E JÁ EM

PALCO, OUVIMOS A SENTENÇA DO PÚBLICO, QUE ME DEU O 2º LUGAR DE 10 CANDIDATOS A

MONOLOGOS E GRUPOS DE TEATRO.

MAIS UMA PEQUENA SUBIDA. MAIS UMA PARAGEM TAMBÉM. MAIS TARDE EM 1994,

ESTREIU-ME NA MUSICA. NUM GRUPO DE TEATRO NA ASSOCIAÇÃO DE CEGOS LUIS BRAILLE, ONDE

ANOS ANTES ANTÓNIO RAMA, TINHA LÁ ENCENADO UMA PEÇA, QUE ACABOU POR ABANDONAR,

POIS RECEBERA CONVITE PARA INTEGRAR A NOVELA”CHUVA NA AREIA” DE LUIS STAU MONTEIRO.

NESSE MESMO RECINTO, QUE EU TAMBÉM FAZIA PARTE COMO ASSOCIADO, POIS NÃO SENDO CEGO,

SOU AMBLIOPE.

A MINHA DEFICIÊMCIA VISUAL NÃO ME TEM IMPEDIDO DE FAZER SEJA O QUE FOR. A

MINHA LIMITAÇÃO VISUAL, QUER SEJA EM TEATRO, CINEMA E TELEVISÃO, SÃO PERFEITAMENTE

CONTROLADAS. BASTA QUE PARA ISSO NÃO LEIA Á FRENTE DOS ACTORES. NÃO FAÇO DISSO, UM

BICHO DE 7 CABEÇAS, MAS CONTORNO EM SABER FAZER, SABER SER E SABER ESTAR. É NESTE

CONTEXTO, QUE TENHO FEITO A PULSO A MINHA CARREIRA, SEM CONTUDO TER AJUDA OU APOIO

FAMILIAR, QUE DESDE CEDO, SOUBERAM SER INDIFERENTES.

EM 1996, CONCORRI AO 1º FESTIVAL DA CANÇÃO DA ASSOCIAÇÃO DE CEGOS –ACAPO. A

CANÇÃO QUE FUI DEFENDER CHAMAVA-SE “PECADOS DE ESTUDANMTE”, DEPOIS DE TER ACTUADO

AO VIVO NO CINEMA MUNDIAL, PARA O PROGRAMA”LUGAR AOS NOVOS”, APRESENTADO PELO

FERNANDO DE ALMEIDA POR 2 VEZES, FOI A VEZ DO FESTIVAL. FIQUEI EM 5º LUGAR. ACABÁMOS

POR IR CANTAR Á AULA MAGNA. AQUI, A APRESENTAÇÃO FOI DO LOCUTOR DA ANTENA 1, JAIME

FERREIRA DE CARVALHO.

NO ANO SEGUINTE, PARTICIPEI NO TEATRO DE REVISTA”HISTÓRIAS DE CANÇÕES 1” . A

HISTÓRIA EM VÁRIOS SKETCHS, MUSICAS. EU, AQUI ERA SO MESMO CANTOR. FOMOS DEPOIS

ACTUAR AO CENTRO CULTURAL DO BAIRRO PADRE CRUZ E Á VOZ DO OPERÁRIO.

A MÚSICO FOI FLUÍNDO, NÃO QUE EU TIVESSE BOA VOZ, MAS PORQUE ERA OUTRO

PROJECTO, ONDE TERIA DE ME COLOCAR Á PROVA TAMBÉM. TINHA O LUIS ESTEVES, UM EXCELENTE

ORGANISTA QUE FAZIA O ACOMPANHAMENTO E A SUA ESPOSA, MARIA LUZIA ESTEVES, QUE

ESCREVIA AS LETRAS, ALÉM DOS TEXTOS DE E PARA TEATRO DE REVISTAS.

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MARCHAS POPULARES

MARCHA DE S. VICENTE DE FORA

(1998/2000)

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Estava em Fevereiro de 1998. Depois do ano anterior ter

visto os ensaios da Marcha de S. Vicente, cuja ensaiadora era a

Luisa Rafael e seu marido José Luis Almeida. Mas por um fatal

destino, veio a Luisa, a morrer nesse mesmo ano em Agosto.

Inscrevi-me na Academia Leais Amigos e ainda que eu

tivesse limitação visual, queria experimentar. Chegados a Abril,

apresentei-me nas instalações da Voz do Operário para nos

conhecermos a todos e tambem perceber como tudo ia

funcionar. Começámos pelas letras da música, que teriamos de

saber de cor para levarmos ao Pavil~hao Carlos Lopes e depois,

á Av. da Liberdade. Eu, que na academ,ia cheguei a fazer parte

de 1º Secretário da Mesa de Assembleia Geral, tomei desta vez,

outra actividade. Ensaiou-se as letras e teriamos então de as

decorar para cantarmos em coro.

Page 21: O meu mundo é igual ao teu

Mais tarde, acabamos por ensaiar as marcações e aqui,

começa a dificuldade. Os ensaios são á noite. São cerca de 12

arcos com 48 elementos, 4 por cada arco. Sendo 2 a pegar o

arco e 2 um de cada lado dos que estão ao arco. As marcações,

são efectuadas de noite, entre as 21h30 e as 23h30, num grande

recinto da Voz do Operário. Eu, que não via um boi á frente,

estava cada vez mais receoso se aquillo me iria ou não

dificultar, quer no pavilhão, quer na Avenida. Não quis revelar

na altura e deixei ir até onde fosse preciso.

Quando estavamos com as roupas de marcghantes e

quase a ir para o pavilhão, algo era por de mais evidente. Errei

as marcações!

Havia 2 filas, que se tinham de alinhar. Elas estavam numa

distância uma da outra de 100 metros. Eu teria de me guiar pelo

meu colega de lado, que se encontrava a 100 mestros. Ora se

nem a um, como teria de fazer? Contava e saía ou deixaria que

eles, os ensaiadores me expulçassem? Bem, acabei por optar

em dizer. Ser frontal e logo se via o que poderia acontecer.

Contei então, que omiti a deficiência visual desde o inicio,

pois se o dissesse não me deixariam entrar com a desculpa, que

seria dificil para quem vê bastante mal. Compadeceram-se e

deixaram-me continuar.

Fomos todos então em romaria para a porta do Pavilhão

Carlos Lopes, que também só ficaria a funcionar nesse ano.

Várias marchas estavam a aproximar-se para começarem o seu

desfile. Muito povo já se encontrava dentro do recinto. De

lembrar que os meus padrinhos desse ano, eram a Anita

Guerreiro e o Vasco Rafael, que já estaa doente e que viria a

falecer ainda no decorrer das marchas. Muito barulho, muita

vida e gritaria. As várias manifestações, pelas marchas dos

seus bairro. Uma verdadeira loucura!

A nossa vez de entrar, nãio poderia ser diferente. Gritaria e

os bairristas de S. Vicente a puchar por nós. Foi um momento

Page 22: O meu mundo é igual ao teu

único na minha vida! Depois, foi a vez de irmos para a Avenida

da Liberdade. Onde estava a tv, e os respectivos juris. Eu, que

via mal, mas tinha de fazer o possível, melhor e sem que se

apercebessem de nada. Fui até ao fim. Mais tarde, todas a

marchas tiveram o convite de de sfilar na Expo`98. Fomos todos

para o grande desfile no Parque das Nações, como se tornou

mais tarde conhecido. Algo interessante se passou. Estavam

quase todas a marchas dentro do recinto, incluindo as rivais de

S. Vicente, Alfama e Graça. A mossa e a de Marvila e Bica,

estavam de fora e não queria deixar entrar pois já tinham

chegado depois da hora. A marcha de Alfama, anunciou que se

as marchas que estavam fora do recinto não entrassem,

ninguem marchava. Ora, sendo transmitido em directo pela

televisão, e sob ameaça de outras marchas, a não desfilarem,

não tiveram outro remédio que não fosse deixarem-nas entrar.

Assim se viu o esperito solidário!

Foi bom experimentar e fiquei contente e claro, a

organização ficou tão espantada com a minha prestação, que

me quis lá para mais 2 anos.

Apresentei em 1990, uma rubrica para a RTP-2, num

programa já existente chamado ”Novos Horizontes”. Este

programa era apresentado pelo Luis Mendonça. Este programa

era de autoria do Engº Jaime Filipe, que trabalhava na RTP há

muito tempo. Tornei-me seu amigo, visitava-o algumas vezes na

RTP, onde tambem me cruzava com outros grandes

profissionais, Fernando Balsinha, Alice Cruz, Julio Isidro,

Fernando Pessa, entre outros. A rubrica chamava-se”A Melhor

Voz de Todos Nós”.

Depois veio a televisão. A música ficou entretanto para

trás, mas em 2000, e na despedida da minha colaboração da

Marcha de S. Vicente de Fora, fui actuar com a famosa

banda”Furia do Açúcar” do João Melo, que também era o nosso

padrinho com a Sónia Brazão, actriz e apresentadora.

Page 23: O meu mundo é igual ao teu

Cantei a solo depois, numa velha canção que há muito

tinha cantrado em público. Foi giro ter voltado acantar em

público ao pé de artistas convidados como a Ana, João Melo,

Anita Guerreiro, Dany Silva, Lenita Gentil e Alexandra. Terminou

o espectaculo com a exebição de novo da marcha de S. Vicente.

Em 2001, a estreia em televisão.