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  • Universidade Federal do Rio Grande do Norte

    Centro de Tecnologia Departamento de Arquitetura e Urbanismo

    Programa de Ps-graduao em Arquitetura e Urbanismo

    Ana Laura de Freitas Rosas Brito

    O metal na arquitetura contempornea paraibana 1990-2002

    Natal RN 2005

  • Ana Laura de Freitas Rosas Brito

    O metal na arquitetura contempornea paraibana. 1990-2002

    Dissertao apresentada ao Programa de Ps-Graduao em Arquitetura e Urbanismo da Universidade Federal do Rio Grande do Norte como parte dos requisitos para a obteno do ttulo de Mestre em Arquitetura e Urbanismo.

    rea de concentrao Forma Urbana e Habitao

    Linha de Pesquisa Cidade, Habitao e Contemporaneidade

    OrientadoraDra. Nelci Tinem

  • Diviso de Servios Tcnicos

    Catalogao da Publicao na Fonte / Biblioteca Central Zila Mamede

    Brito, Ana Laura de Freitas Rosas.

    O metal na arquitetura contempornea paraibana: 1990-2002 / Ana

    Laura de Freitas Rosas Brito. Natal, 2005.

    Orientadora: Nelci Tinem.

    Dissertao (Mestrado) Universidade Federal do Rio Grande do

    Norte. Programa de Ps-Graduao em Arquitetura e Urbanismo.

    1. Metal na arquitetura Dissertao. 2. Arquitetura Joo Pessoa

    (PB) Dissertao. 3. Contemporaneidade Dissertao. I. Tinem, Nelci.

    II. Universidade Federal do Rio Grande do Norte. III. Ttulo.

    RN/UF/BCZM CDU 72.023:624.014

  • Ana Laura de Freitas Rosas Brito

    O metal na arquitetura contempornea paraibana. 1990-2002

    BANCA EXAMINADORA

    Prof. Dr. Hlio Costa Lima

    Profa. Dra. Gleice A. Elali

    Profa. Dra. Nelci Tinem

    Dissertao defendida em 25 / 11 / 2005.

  • La arquitectura ayuda a entender mejor una civilizacin, ya que los edificios revelan los centros de

    inters de la sociedad, las dotes organizadoras, la riqueza y la indigencia, el clima y la posicin ante

    la tcnica y las artes. La estructura general que la sociedad presenta en pueblos y ciudades se

    comprende a travs del espejo ms escudriador de la presencia humana: la arquitectura

    Geoffrey H. Baker, 1991.

  • Aos meus pais, Hlio e Lda, e ao meu marido, Alisson, pelo incentivo e amor.

  • Agradecimentos

    No se chega a lugar nenhum sozinho. Esse estudo chega at aqui carregando a orientao, a

    colaborao, o incentivo, a amizade de muitos, ao longo de mais de dois anos. Agradeo:

    Ao Programa de Ps-Graduao em Arquitetura e Urbanismo - PPGAU da UFRN, por ter acolhido

    minha pesquisa nesse digno programa. E ao CNPq pelo auxlio financeiro, sem o qual seriam inviveis meus

    estudos.

    s professoras Snia Marques e a Nelci Tinem, pela orientao em dois tempos, pela elucidao de

    minhas idias, pelo acompanhamento paciente e pelo exemplo no estudo da arquitetura.

    Ao professor Engenheiro Argemiro Brito pelas orientaes e disponibilidade de sua biblioteca aos

    meus estudos em torno das estruturas metlicas.

    A todos aqueles que colaboraram dando informaes sobre o acervo dessa pesquisa, proprietrios e

    funcionrios dos estabelecimentos pblicos e privados, que forneceram os registros grficos oficiais e permitiram

    minha deambulao pelos ambientes internos e aos telhados, para a obteno de imagens fotogrficas e

    montagem dos esquemas a mo livre.

    Aos meus familiares e amigos que, por serem tantos, no me atrevo a list-los, pelo apoio e

    compreenso por minha ausncia em tantos momentos.

    amiga Kaline, pela amizade, pelas contas rachadas e estudos compartilhados. E aos novos amigos

    Larissa, Jairson, Izabel e Nilberto, Alexandra e Andr.

    Ao meu marido, Alisson, pelo seu amor, pelo incentivo e calma nos momentos mais difceis. Aos meus

    sogros, Graa e Sergio, pelo amor e carinho e por toda a nova famlia que ganhei.

    Ao meu pai, Hlio, pelo apoio e incentivo constantes. Aos meus irmos, Rodolfo e Wilson e amiga

    Cleide, pelo apoio, companheirismo e momentos felizes.

    mame, Lda, que tanto carinho, amor e fora no conseguirei retribuir nessa vida.

    A Deus fora maior; A Jesus exemplo maior e Maria Santssima auxlio maior.

  • Resumo

    Esta uma pesquisa sobre a arquitetura contempornea da cidade de Joo Pessoa, capital

    da Paraba, e que analisa a utilizao do metal, especificamente o ao e o alumnio, na composio

    da produo edilcia entre os anos de 1990 e 2002, perodo de significativo crescimento dessa

    utilizao. Tomou-se como referencia a anlise de arquitetura enquanto objeto construdo e as

    classificaes estruturais de Engel para analisar 40 obras selecionadas com o objetivo de agregar

    subsdios para a compreenso dessa produo contempornea que se utiliza do metal como

    elemento estrutural e esttico-formal.

    Abstract

    This essay studies about contemporary architecture in Joo Pessoa, capital city of Paraiba

    State, which analyzes the utilization of steel and aluminum materials from 1990 to 2002, period when

    significant increase of this utilization is seen. As references, the architectural analysis and Engel

    structures definitions were used to analyze 40 built buildings, universe researched, to bring together

    subsidies to comprehend the contemporary production, especially which use the metal as structural

    and esthetic-formal element.

  • Sumrio

    Introduo Construo do objeto.............................................................................................................. As Construes em ao e alumnio em Joo Pessoa (Contextualizao do Objeto)................... Justificativa.............................................................................................................................. Objetivos................................................................................................................................. Etapas e Procedimentos.........................................................................................................Estrutura do trabalho...............................................................................................................

    Captulo 1 Procedimentos Metodolgicos............................................................................. 1.1. Definio do universo da pesquisa...................................................................................

    1.1. 1. Recorte temtico.................................................................................................... 1.1.2. Amplitude e Escolha dos casos para anlise..........................................................1.1.3. Recorte temporal.....................................................................................................

    1.2. Fundamentao da estratgia de anlise........................................................................1.3. Estratgia de anlise adotada..........................................................................................

    Captulo 2 Anlise do Grupo Corpo......................................................................................2.1. Anlise Geral - Grupo 1....................................................................................................2.2. Anlise Especfica - Grupo 1............................................................................................. 2.3. Anlise Geral - Grupo 2....................................................................................................2.4. Anlise Especfica - Grupo 2............................................................................................ 2.5. Outras utilizaes no estruturais em Joo Pessoa........................................................

    Captulo 3 Anlise do Grupo Cabea....................................................................................3.1. Anlise Geral - Grupo 3....................................................................................................3.2. Anlise Especfica - Grupo 3............................................................................................. 3.3. Anlise Geral - Grupo 4....................................................................................................3.4. Anlise Especfica - Grupo 4............................................................................................. 3.5. Anlise Geral - Grupo 5....................................................................................................3.6. Anlise Especfica - Grupo 5............................................................................................. 3.7. Anlise Geral - Grupo 6....................................................................................................3.8. Anlise Especfica - Grupo 6.............................................................................................

    Captulo 4 Anlise do Grupo Esqueleto................................................................................4.1. Anlise Geral - Grupo 7....................................................................................................4.2. Anlise Especfica - Grupo 7............................................................................................

    Consideraes Finais..................................................................................................................

    Referncias Bibliogrficas..........................................................................................................

    Apndice Os Sistemas Estruturais e as Estruturas Metlicas

    ndice de Imagens e Quadros

    010812121313

    15151516172229

    363646546068

    7272839095103110119126

    135135143

    150

    159

  • Introduo __________________________________________________________________

    1

    O metal na arquitetura contempornea paraibana. 1990-2002

    Introduo

    Construo do Objeto

    A utilizao do metal, sobretudo o ao e o alumnio, nas edificaes

    contemporneas da cidade de Joo Pessoa, capital da Paraba, vem ganhando fora no

    panorama arquitetnico da cidade. Esse processo foi iniciado com a obra do Espao

    Cultural Jos Lins do Rego no incio dos anos de 1980 e retomado no incio dos anos de

    1990 atravs de edificaes, geralmente de destinao comercial, de servios e

    institucional.

    O emprego desse material na arquitetura de Joo Pessoa no um fato isolado, a

    sua difuso uma realidade corrente tanto na arquitetura nacional quanto internacional, o

    que proporciona diferenas, peculiaridades e sintonias na utilizao desses materiais,

    conforme o lugar, a cultura, a economia e o desenvolvimento tecnolgico. Para essa

    difuso concorrem fatores relacionados ao potencial construtivo do material, sobretudo

    aqueles que dizem respeito leveza da edificao, ao alvio de cargas nas fundaes, a

    amplitude dos vos e a maiores alturas, geralmente embasados por tecnologias de ponta.

    Outro fator que incentiva o uso desse material a propaganda divulgada por entidades

    privadas e estatais1 ligadas a produo do ao e do alumnio que, fazendo um paralelo com

    outras tecnologias construtivas existentes, defendem outras vantagens: aumento do

    desempenho na construo, planejamento mais preciso das etapas de trabalho, facilidade

    de estocagem, rapidez de montagem, facilidade na organizao do canteiro de obras e

    maior quantidade de solues para reformas e ampliaes. Alm dessas questes, pesam

    tambm valores subjetivos tais como o carter de contemporaneidade, que est vinculado

    ao material.

    No Brasil, essa utilizao foi impulsionada pelos primeiros investimentos nos anos

    de 1930 quando da criao das primeiras siderrgicas, dando incio ao processo de

    industrializao em larga escala voltada para a construo civil. Em decorrncia da

    herana corbusierana e da farta utilizao do concreto pela arquitetura moderna brasileira2,

    as primeiras edificaes realizadas com o novo material no pas so do incio da dcada

    de 1950 como afirma DIAS (2002). Apesar da tecnologia, mo de obra e instrumentos

    1 Um exemplo disso a ABCEM-Associao dos Construtores em Estruturas Metlicas, que publica e envia ao pblico interessado, um jornal eletrnico mensal a respeito de cursos, vantagens e incentiva a utilizao do material construtivo.2 SEGAWA (1998), TINEM (2002), DIAS (2000), REIS FILHO (2002), BRUNA (2002), FICHER & ACAYABA (1982), e NASLAVSKY (1998).

  • Introduo __________________________________________________________________

    2

    O metal na arquitetura contempornea paraibana. 1990-2002

    ainda incipientes conseguiu-se certo arrojo estrutural, alcanando grandes alturas e vos. A

    proposta esttico-formal, porm, estava ainda muito ligada a linguagem do racionalismo

    moderno3: geralmente se restringia a edificaes prismticas com estrutura modulada em

    ao recoberta por placas de concreto, que perduraram at meados da dcada de 1970.

    Imagem 1. As primeiras obras com estrutura em ao realizadas por arquitetos brasileiros.

    a) Pavilho da CSN, So Paulo, 1954, Srgio Bernardes (DIAS, 2002); b) Pavilho Brasileiro na Expo de Bruxelas, 1958, Srgio Bernardes (www.vitruvius.com.br/arquitextos/arq000/esp034.asp); c) Edifcio Garagem Amrica, SP, 1957. Arquiteto Rino Levi (DIAS, 2002); d) Edifcio-Sede do IPERJ, Rio de Janeiro, 1965. Affonso

    E. Reidy (DIAS, 2002).

    Nas dcadas de 1960 e 1970, as realizaes mais exemplares, observadas em

    DIAS (2002), do continuidade a vertente corbusierana do movimento moderno.

    recorrente a utilizao de volumes prismticos sobre pilotis, de brises-soleil nas fachadas,

    vedaes independentes e de estruturas metlicas recobertas com alvenaria e placas de

    concreto.

    A partir da dcada de 1980 possvel perceber mudanas na linguagem da

    arquitetura produzida com estruturas metlicas, possivelmente reflexo4, por um lado, das

    tendncias contemporneas internacionais5 e, por outro, por fatores internos tais como: o

    aprimoramento do material, gerando maior flexibilidade para moldagem de novos perfis, o

    aumento da vida til e resistncia do metal, novos softwares e solues para o clculo das

    estruturas e o aperfeioamento dos processos de soldagem e das solues de combate a

    incndio.

    A variedade de linguagens fomenta a exposio dos componentes metlicos como

    um todo e produz desde experimentaes em torno da exposio da estrutura at

    elementos exclusivamente ornamentais. tambm nesse perodo que as trelias e

    estruturas espaciais expostas, experimentadas no mbito internacional, do um carter

    inovador s propostas arquitetnicas, muito embora estas obras no desfrutem de toda a

    3 Apesar de no dirigido para esse fim, Dias (2002) consegue apresentar as mudanas de linguagem da arquitetura feita em ao no Brasil entre as dcadas de 1950 e 1990. 4 Um consenso a partir de meados da dcada de 1980 foi a existncia de um pluralismo de expresses arquitetnicas, fruto de diversos caminhos de pesquisa e indagao... (BASTOS, 2003:122). 5 MONTANER expe justamente sobre a importncia que adquiriu a produo metlica a partir da dcada de oitenta e que, de certa forma, aconteceu no Brasil: Ao longo dos anos oitenta, apesar das crticas que uma parte do pensamento contemporneo de raiz ecolgica, alternativo ou ps-moderno lanou contra o poder totalitrio e destrutivo da tecnologia, voltou a aflorar esta confiana na racionalidade e capacidade de sntese que o mundo da tecnologia pretende possuir intrinsecamente (MONTANER, 1993:147).

  • Introduo __________________________________________________________________

    3

    O metal na arquitetura contempornea paraibana. 1990-2002

    tecnologia mundialmente disponvel em torno de tais sistemas6, o que diretamente

    influenciado pelo nvel de desenvolvimento econmico e de pesquisa cientifica do pas.

    Obras de maior relevncia so observadas, sobretudo, nos estados de So Paulo e Minas

    Gerais7, as quais destacam arquitetos como Aflalo e Gasperini, Siegbert Zanettini, Joo

    Walter Toscano, Gustavo Penna, Joo Diniz, olo Maia e Silvio Podest.

    Imagem 2. Produo brasileira contempornea em ao. a) Escritrio de Arquitetura. Zigbert Zanetinni, So Paulo, 1988; b) Edifcio Capri. Joo Diniz, Belo Horizonte,

    1992; c) Instituto Cultural Ita. Mange, Saturni & Belpiede, So Paulo, 1992. (DIAS, 2002)

    Especificamente na regio nordeste, as obras de relevncia so em menor

    nmero, mas desde a dcada de 1970 so observadas algumas obras de grandes

    dimenses como o Palcio de Congressos (1979) e o Edifcio Casa do Comrcio (1987) na

    Bahia, o Novo Mercado Central de Fortaleza (1994) e as recentes reformas nos aeroportos

    de Fortaleza-CE, Natal-RN e Recife-PE, alm do Espao Cultural Jos Lins do Rego em

    Joo Pessoa - PB, (1982), comentado mais adiante. Na maioria dessas construes o

    metal utilizado como um chamariz de novidade, de alta tecnologia edilcia (mesmo que

    essa no seja a realidade de grande parte dos edifcios citados), a estrutura metlica

    exposta torna-se elemento de destaque visual no novo projeto ou nos anexos realizados

    nas reformas.

    Sobre essa produo arquitetnica metlica no pas alguns autores e arquitetos

    comentam o impacto causado pelas novas tecnologias e pela importncia que a expresso

    do metal adquiriu na arquitetura brasileira:

    Parte da produo nacional manteve a preocupao de refletir, por meio da expresso formal, as possibilidades tecnolgicas da construo civil. No mais o arrojo estrutural, permitido pelo clculo do concreto armado, mas as novas possibilidades fornecidas pelo desenvolvimento da indstria siderrgica, que tornou vivel a construo em ao no Brasil (BASTOS, 2003:211).

    A esse respeito, o arquiteto Joo Walter Toscano comenta:

    Este fenmeno no se reveste exatamente de um carter de revival em relao a tantas obras espalhadas pelo Brasil construdas em ferro - nos fins do sculo XIX (...) mas, surge em funo do prprio desenvolvimento da indstria siderrgica no Brasil, que abre um caminho no seu mercado interno (capacidade de produo), incentivando possibilidades de novos usos para o ao na

    6Tal retardo tecnolgico pode ser observado no Apndice dessa pesquisa, no sub-captulo sobre as Estruturas Espaciais. 7 Estados-sede de algumas das principais siderrgicas do Pas, tanto no que se refere ao ao quanto ao alumnio.

  • Introduo __________________________________________________________________

    4

    O metal na arquitetura contempornea paraibana. 1990-2002

    construo. Novamente o papel da arquitetura aqui da maior importncia, uma vez que como no caso do concreto armado, se renova e cria uma tecnologia. Na construo civil em ao, as novas conquistas tero tambm como chefe a arquitetura (Toscano apud BASTOS, 2003:213).

    Percebemos que existe uma troca: se o desenvolvimento da indstria siderrgica

    foi a base que sustentou as novas formas de utilizao do ao, a produo arquitetnica foi

    responsvel pela conquista de novas solues tecnolgicas e de linguagem.

    O crescimento do consumo do ao pela construo civil brasileira ratificado pelos

    dados do Instituto Brasileiro de Siderurgia IBS que confirmam o setor como o maior

    consumidor do ao produzido no pas, ficando a frente inclusive da produo de mquinas

    e equipamentos (ver tabela abaixo). Esses dados so reforados pelos do II Congresso

    Internacional de Construo Metlica CICOM de 2002, que afirmam que, por um lado, o

    consumo do ao nas edificaes subiu 68% nos ltimos seis anos e, por outro, a

    participao das estruturas metlicas no conjunto das obras do setor da construo civil

    de 18% (http://www.IIcicom.com.br).

    Imagem 3. A utilizao do ao na Construo Civil. Setores Consumidores do ao (IBS, 2004) e Consumo Regional por produo (IBS, 2004).

    No panorama internacional, o uso do metal na arquitetura no recente, pois

    mesmo sem considerar as primeiras utilizaes em larga escala em fins do sculo XIX,

    pode-se citar o Movimento Moderno na Europa e nos Estados Unidos, no incio do sculo

    XX, com nomes importantes como Mies van der Rohe e Buckminster Fuller, como uma fase

    que impulsionou a utilizao do ao na arquitetura. Entre os anos de 1950 e 1960 foram

    alcanadas conquistas importantes para esse emprego, pois foram aperfeioadas tcnicas

    construtivas relacionadas com as tenso-estruturas e as estruturas espaciais8, bem como as

    propostas de impacto urbano com o emprego do metal nas Mega-estruturas do grupo

    ingls Archigram e do hngaro Yona Friedman.

    8 Ligadas aos trabalhos de pesquisa de vrios arquitetos e engenheiros, tais como o alemo Frei Otto, no campo das tenso-estruturas e o francs Le Ricolais e Richard Buckminster Fuller no campo das estruturas espaciais. Ver Anexo 01 Os Sistemas Estruturais e as Estruturas Metlicas.

  • Introduo __________________________________________________________________

    5

    O metal na arquitetura contempornea paraibana. 1990-2002

    Essas idias influenciaram e orientaram uma linha de arquitetura baseada na alta

    tecnologia e na expresso estrutural de vrias realizaes na dcada de 1970. Segundo

    Frampton (2000), o Centro Cultural Georges Pompidou, na Frana, em 1977, de Rogers &

    Piano a obra paradigmtica desse perodo, na qual possvel perceber a expresso

    intrnseca da estrutura' metlica.

    Imagem 4. Centro Georges Pompidou de Rogers & Piano. (www.bc.edu/bc_org/avp/cas/fnart/arch/pompidou.html)

    ENGEL fazendo um paralelo entre a arquitetura produzida inicialmente com o

    emprego do metal no sculo XIX e a tendncia da dcada de 1970, afirma:

    En el pasado, el sistema estructural de un edificio desempeaba slo una parte menor

    e indirecta en la experiencia esttica de la Arquitectura. Una estructura sin ornamentar

    era raramente empleada como forma esttica pre se o experimentada como tal.

    En la actualidad, el hombre deriva cada vez ms l sensacin esttica de la pura

    comprensin intelectual de un sistema lgico, y de ah que experimente la lgica de la

    forma estructural como fuente de sensacin esttica. (ENGEL, 1977:12,13)

    Assim, o metal acompanha essa tendncia de exposio da estrutura como meio

    de alcanar a expresso arquitetnica, tornando-se um material usual.

    Atualmente, so diversas as vertentes arquitetnicas que caracterizam o

    panorama da arquitetura9 e dentre esse pluralismo de tendncias so utilizados na

    construo, tanto esquemas construtivos tradicionais quanto mais avanados, ligados

    tecnologia de novos materiais. Em relao linguagem encontramos as vertentes que

    resgatam as premissas modernas, as que buscam a metfora e o simbolismo e as que

    procuram o mimetismo e o ecletismo do repertrio da arquitetura. Nesse quadro, o gosto

    pelo ornamento voltou a ser discutido pela chamada cultura ps-moderna e influenciou a

    maneira de utilizar o metal na construo.

    9 Ver NESBITT (1996), DE FUSCO (1992), PORTHOGUESI (1985), RAGON (1996) e FRAMPTON (2000).

  • Introduo __________________________________________________________________

    6

    O metal na arquitetura contempornea paraibana. 1990-2002

    Esse retorno e a defesa do ornamento na arquitetura10, movido pelo debate ps-

    moderno, possuem influncias do Pop Art e sua proposta a maquiagem e a cenografia

    das edificaes, atravs de citaes. Apesar de seu poder de seduo comercial e de seu

    charme em uma sociedade consumista, esse um movimento que tende a gerar crticas.

    Framptom (2000: 370) hesita em chamar essa produo de corrente porque no se pode

    defini-la em termos de um conjunto especfico de caractersticas ideolgicas e estilsticas e pelo fato de

    que ela tende a proclamar sua legitimidade em termos exclusivamente formais para no dizer superficiais e

    no em termos de consideraes construtivas, organizacionais ou socioculturais. E acrescenta que nesse

    caso, os edifcios so construdos mediante imperativos econmicos, em que o

    empreendedor determina os princpios essenciais da obra e reduz o arquiteto a desenhista

    de uma mscara convenientemente sedutora.

    Outra corrente que tende a utilizar o metal com maior freqncia ou concedendo-

    lhe mais status a que valoriza a utilizao da estrutura metlica de alta tecnologia e

    prope a flexibilizao mxima do edifcio, a exposio da estrutura e a informatizao dos

    sistemas que servem ao edifcio. As razes conceituais dessa vertente esto fortemente

    ligadas ao movimento moderno, especialmente no que se refere questo da estrutura e

    da flexibilizao dos espaos.

    O Desconstrutivismo, outra dessas tendncias em que o metal o material usual,

    busca a libertao das restries formais impostas pelo iderio moderno e a forma livre das

    linhas ortogonais, exaltando as inclinaes dos planos. Como obras importantes para a

    compreenso das estratgias desconstrutivistas da dcada de 1980, so lembrados

    arquitetos como Tschumi, Frank Gehry, Peter Eisenman, Daniel Libeskind, Rem Koolhass e

    a arquiteta Zaha Hadid.

    Imagem 5. Estratgias deconstrutivistas. a) Parc de la Villete, Bernard Tschumi. Paris, 1993. (http://www.galinsky.com/buildings/villette/); b) Museu

    Guggenheim, Frank Gehry. Bilbao, 1997. (http://www.greatbuildings.com/buildings/Guggenheim_Bilbao.html);c) Biblioteca Publica de Seattle, Rem Kolhaas. EUA, 2001. (http://slate.msn.com/id/2098574/)

    Na onda das inquietaes ambientais surgem movimentos preocupados com o

    impacto do progresso sobre o meio ambiente, com o consumo exagerado de energia do

    10 A esse respeito ver os dois livros do arquiteto e escritor Robert Venturi: Aprendendo com Las Vegas e Complexidade e contradio em arquitetura.

  • Introduo __________________________________________________________________

    7

    O metal na arquitetura contempornea paraibana. 1990-2002

    mundo moderno e com a preservao de recursos no-renovveis, ou seja, com o perigo

    de provvel esgotamento dos recursos naturais do planeta. Para a Revista AU (2004),

    Norman Foster se encaixaria em um desses grupos, propondo espaos construdos em

    harmonia com o meio ambiente, enquanto Santiago Calatrava e Nicholas Grimshaw, nessa

    mesma direo, estariam realizando estruturas inspiradas em organismos vivos. O

    interessante a ser observado nessas correntes citadas acima, e preocupadas com os

    impactos em relao ao entorno e ao meio ambiente natural, que utilizam frequentemente

    para a conformao estrutural de seus projetos, os metais, que so matrias esgotveis na

    natureza.

    Imagem 6. Outras tendncias Contemporneas. Edifcio St. Mary Axe, Londres, 2004. Norman Foster (A&U, 2004: 57); b) Museu da Cincia Prncipe Felipe,

    Espanha, 1996. Calatrava (www.calatrava.info/); c) Estao Waterloo, Inglaterra. 1993. Nicholas Grimshaw. O projeto e estrutura ssea da mo humana (fonte: www.uni-koblenz

    .de/anglistik/subjects/as/papers/kfischer-hs/architecture)

    No que se refere utilizao do metal importante salientar que o termo high

    tech, no se refere apenas s estruturas metlicas expostas ou recursos visuais que

    sugerem uma aparncia de alta tecnologia ao edifcio, mas aponta tambm mudanas

    profundas no seu funcionamento, provendo-o de um crebro (sistema informatizado), que

    controla desde a pele (fachadas) at seu esqueleto (estrutura). Nesse contexto,

    MACINNES (1994:108) comenta a importncia tanto dos recursos estruturais e

    informatizados como da tendncia cosmtica: ... queremos que alm de inteligentes, os edifcios

    paream inteligentes.

    A questo comentada acima aparece, ainda que com certa distoro, nessa

    pesquisa: impulsionados pela onda da alta tecnologia, pelo desejo de que os edifcios

    paream inteligentes, alguns arquitetos so seduzidos a utilizar o metal de maneira

    falaciosa e tal utilizao observada com maior freqncia em locais onde no

    disponvel a alta tecnologia para a informatizao dos servios (o crebro), nem mesmo

    aquela necessria realizao de uma estrutura (esqueleto) em metal. Tal tendncia

    observada na cidade de Joo Pessoa, comentada a seguir.

  • Introduo __________________________________________________________________

    8

    O metal na arquitetura contempornea paraibana. 1990-2002

    As construes em ao e alumnio em Joo Pessoa.

    Contextualizao do objeto

    Na cidade de Joo Pessoa, no incio da dcada de 1980 foram inauguradas trs

    obras modernas expressivas, que marcaram o panorama da arquitetura na cidade. Duas

    delas utilizaram em abundncia o ao e o alumnio: o Espao Cultural Jos Lins do Rego,

    construdo entre 1980 e 1982 e o aeroporto Castro Pinto, concludo em 1982, ambos

    projetados pelo arquiteto carioca Srgio Bernardes11. A terceira obra a rodoviria da

    cidade, realizada em concreto aparente pelo arquiteto paraibano Glauco Campelo, formado

    no Rio de Janeiro. Esse fato, de alguma maneira, j sinalizava uma mudana na forma de

    construir onde a estrutura em concreto armado j no era a soluo hegemnica.

    O aeroporto possui uma estrutura simples, racional e modulada, que permite fcil

    manuteno, e possveis ampliaes. Isso justifica suas pequenas dimenses, em relao

    s similares das capitais vizinhas, que eram coerentes com o tamanho da cidade no

    momento em que foi realizado. Trata-se de uma ampla coberta em estrutura espacial

    elevada do solo por pilares tubulares em ao, que protege uma estrutura em concreto

    armado de dois pavimentos, tambm suportada por pilares tubulares em ao, cuja estrutura

    abriga as funes aerovirias.

    Imagem 7. Aeroporto Castro Pinto. a) Vista Geral do Aeroporto (Web site do Governo da Paraba: 2005); b) Vista da coberta e da rampa de acesso ao pavimento superior, percebem-se a trama da estrutura espacial metlica da coberta na cor azul, os tubos de queda das guas pluviais na cor amarela e as luminrias de lmpadas fluorescentes; os pilares metlicos e os

    tubos para as instalaes eltricas aparentes; c) Vista do setor trreo do check-in12.

    Atualmente o aeroporto est em fase de ampliao dos ambientes para

    passageiros, funcionrios e para acomodao dos servios aerovirios. A peculiaridade

    dessa reforma que ela destoa da tendncia observada nas reformas de outros aeroportos

    nordestinos, como os de Fortaleza, Recife e Natal que utilizaram estruturas metlicas. A

    11 Sergio Bernardes foi um dos pioneiros na utilizao do metal na arquitetura brasileira. O Pavilho do Brasil para a Exposio de Bruxelas, de 1958 e o Pavilho da CSN de 1954 em So Paulo esto entre suas obras de metal que mais se destacam. (DIAS, 2002) 12 Todas as imagens, cuja fonte no estiver citada, foram obtidas pela pesquisadora dessa dissertao.

  • Introduo __________________________________________________________________

    9

    O metal na arquitetura contempornea paraibana. 1990-2002

    ampliao do Castro Pinto despreza a possibilidade de expanso com estrutura metlica

    espacial, prevista pelo projeto original e utiliza uma estrutura em concreto armado,

    revestida em alguns trechos com placas de alumnio e exibe uma marquise em ao.

    Imagem 8. Reforma Aeroporto Castro Pinto. a) Vista Geral do edifcio da ampliao, observam-se as placas de revestimento em alumnio na lateral do

    edifcio; b) Vista Posterior do novo edifcio; c) Fachada do novo edifcio com marquise metlica, ainda em fase de concluso. (data da imagem: Outubro, 2005).

    O Espao Cultural possui amplas dimenses e um grande fluxo de usurios, pois

    alm de estar plenamente inserido na malha urbana da cidade, prximo a Avenida Epitcio

    Pessoa, possui um forte carter simblico, de reunir e apoiar a cultura da cidade, em

    contraponto a pequenas e dispersas manifestaes da cultura local. (ver Imagens 9, 10 e 11)

    Imagem 9. Foto area do Edifcio e Mapa de localizao do Espao Cultural prximo Av. Epitcio Pessoa (Mapa digital da PMJP modificado).

    Foi pensado como um grande equipamento pblico para abrigar grandes e

    pequenos espetculos musicais, peas teatrais e feiras, em ambientes como: a Praa do

    Povo, uma praa central com 6.480 m2 e capacidade para 10.000 pessoas, o teatro Paulo

    Pontes de 810 lugares e o teatro de Arena para 1.500 pessoas. Conferncias e cursos de

    lnguas e de musica (como corais e ensaios da orquestra infanto-juvenil de Joo Pessoa)

    utilizam as instalaes de trs auditrios para cerca de 150 pessoas cada um e cinco salas

    de apoio.

    Exposies de artistas plsticos, artesos e feiras cientficas se utilizam de um

    Mezanino para exposies de 2.400 m2, da galeria de Arte Archidy Picado, de um Museu

    com acervo permanente sobre a histria da cidade. Uma biblioteca pblica, especialmente

  • Introduo __________________________________________________________________

    10

    O metal na arquitetura contempornea paraibana. 1990-2002

    utilizada por estudantes secundaristas, um cinema de 648 lugares cujas exibies de filmes

    nacionais e estrangeiros so oferecidas a preos reduzidos e um planetrio com 135

    lugares. Como suporte desses servios, existem banheiros nos pavimentos superior, trreo

    e subsolo, reas de comercializao particular permanentes, com lanchonetes e lojas de

    antiqurios, artesanato e cursos de pintura e fotografia, e estacionamento para 400

    automveis. (Folheto da FUNESC)

    Imagem 10. Espao Cultural. a) Vista externa da torre isolada ainda sem uso e do estacionamento (Parahyba, 1991); b) Vista posterior,

    voltada para o local do estacionamento; c) Acesso principal, destaque para um dos pilares de suporte da coberta;

    Imagem 11. Espao Cultural. a) Vista da praa do povo. Em destaque pilares de sustentao da cobertura, tubos de descida de guas pluviais e canais em concreto para conduo das guas; b) Vista do teatro de Arena, onde se podem observar as placas acsticas na cor vermelha fixadas cobertura metlica, a arquibancada em concreto aparente e a entrada (no nvel do palco) para os camarins e sanitrios; c) Vista da Praa do Povo, onde pose-se observar a estrutura

    espacial com faixas de iluminao zenital e o vo liberado de pilares, proporcionado pela estrutura espacial. Ao fundo, o palco e duas rampas laterais, esquerda e a direita. (Folheto da FUNESC)

    notvel a forma como o arquiteto utiliza ao mximo o potencial tecnolgico

    disponvel para criar amplos espaos necessrios ao edifcio. Sua grande cobertura

    metlica protege no s o edifcio, mas os beirais gerados por balano avanam at a

    calada, alm dos limites do lote. Essa conformao ressalta sua monumentalidade, sua

    condio de grande equipamento pblico e transmite a impresso de que o edifcio no

    cabe no terreno a ele destinado, o que no deixa de ser verdade.

    Destaca-se por valorizar a expresso plstica e capacidade estrutural dos

    elementos metlicos, materializadas na vasta cobertura espacial de alumnio e nos

    robustos pilares em ao que partem do piso trreo em um s ponto de apoio e alcanam a

    estrutura da cobertura em quatro pontos distintos. Reforando o carter moderno e racional

    do espao, observa-se a disposio modular da estrutura, com os pilares na periferia do

    edifcio, liberando o espao interno central (ver Imagem 11). Destaca-se tambm a

  • Introduo __________________________________________________________________

    11

    O metal na arquitetura contempornea paraibana. 1990-2002

    delimitao dos espaos reservados a administrao e aos cursos, atravs de divisrias

    em madeira e a exposio dos dutos das instalaes eltricas, hidrulicas e coletores das

    guas pluviais, alm das passarelas metlicas do piso tcnico que esto acima da trelia

    espacial da coberta.

    Muito embora seja procurado pela populao, que utiliza seus servios, o Espao

    Cultural no possui um programa de manuteno adequado nem para a sua idade, nem

    para suas dimenses. So facilmente encontrados exemplos de descaso com a estrutura e

    com as instalaes eltricas, hidrulicas e sanitrias, nesse ltimo caso com vlvulas,

    aparelhos, pias e portas quebradas. Alm da torre de servios e do restaurante (destacada

    no primeiro quadro da Imagem 10) que se encontra desprovida de qualquer uso e

    manuteno.

    Aps a construo do Espao Cultural, foi observado um perodo de estagnao

    desse tipo de produo arquitetnica na cidade de Joo Pessoa, aparentando ser um caso

    isolado, se desconsiderarmos as usuais coberturas de postos revendedores de

    combustveis, de ginsios esportivos e de galpes industriais, exemplares que no so

    objeto dessa pesquisa.

    Apenas no incio da dcada de 1990, surgiram obras de destaque tanto devido ao

    tamanho, expressividade e representatividade no panorama da cidade, bem como por

    apresentar maior diversidade de solues estruturais e propostas estticas. A observao

    aponta que essa quantidade vem se intensificando e demonstra que existem

    especificidades na utilizao do metal na arquitetura pessoense, que tanto apontam para

    sintonias quanto dissonncias frente aos panoramas nacional e internacional.

    As sintonias percebidas pela observao so, mais que no campo da linguagem

    arquitetnica, no mimetismo visual direcionado ou influenciado pelas imagens de visual

    high tech" das revistas de arquitetura e dos sites da internet, que tm no uso do metal, de

    maneira explcita, aparente e no exterior da edificao, uma de suas formas mais usuais de

    manifestao. As dissonncias se apresentam essas sim, no terreno da linguagem

    resultante dessa produo que no possui nem os meios, nem a tecnologia que a suporte.

    Assim, existem indcios de que os arranjos construtivos observados expem, dentre outros

    fatores, principalmente a deficincia da mo de obra local e a falta de domnio da tcnica,

    por parte dos projetistas, dos que detm o desgnio sobre a obra, e ficam a merc dos

    profissionais que, apesar do seu conhecimento a respeito dos materiais e tcnicas, orbitam

    em esfera distinta do projetar arquitetnico.

  • Introduo __________________________________________________________________

    12

    O metal na arquitetura contempornea paraibana. 1990-2002

    Justificativa

    A escolha desse tema foi fortemente marcada por estudos realizados desde a

    graduao no curso de Arquitetura da UFPB. Pelo trabalho de iniciao cientfica

    desenvolvido junto ao Departamento de Mecnica, que estudava as divisrias metlicas

    utilizadas para instalao de controle ativo de rudo atravs de sensores eletrnicos. Este

    projeto era direcionado para plataformas off-shore de petrleo da Petrobrs, construdas

    em ao e forneceu informaes importantes a respeito da instalao de equipamentos para

    o controle das vibraes e rudos existentes em um equipamento de grande porte

    construdo em metal. Essa experincia teve continuidade com o trabalho final de

    graduao, cujo projeto previa uma estrutura em ao, que determinou uma pesquisa ampla,

    tanto bibliogrfica, quanto das solues estruturais utilizadas pelo seleto grupo de

    profissionais que trabalham nessa rea na cidade de Joo Pessoa. A utilizao desse

    material em algumas oportunidades, na experincia profissional posterior, aliada a

    observao do crescimento da utilizao do material na arquitetura da cidade, aguou

    nossa curiosidade em relao a esse tema e incentivou a pesquisa sobre essa produo

    em termos de proposta e execuo.

    Acreditamos ser pertinente uma pesquisa das caractersticas da produo

    arquitetnica em ao e alumnio na cidade de Joo Pessoa. Constatar como este material

    est sendo consumido nessa regio, verificar que solues, estruturais ou no, esto

    sendo propostas, analisar a adequao das decises de projeto as possibilidades do

    material e examinar se esto sendo exploradas s caractersticas do material que

    proporcionam qualidades arquitetnicas e construtivas (como leveza, altura, grandes vos,

    visibilidade e limpeza estrutural); so os questionamentos que norteiam este estudo, cujo

    produto um panorama da produo na cidade de Joo Pessoa.

    Objetivos

    Nesses termos, o objetivo principal dessa dissertao traar o perfil da utilizao

    do metal, mais especificamente o ao e o alumnio, na arquitetura da cidade, no que diz

    respeito aos aspectos esttico-formais, funcionais e s solues tcnicas adotadas, ou

    seja, quais as formas de uso mais comuns, como elementos ornamentais, funcionais,

    estruturais ou mistos. Como objetivos decorrentes, enumeramos dois: a) identificar os tipos

    estruturais e as formas de utilizao mais freqentes do metal e b) avaliar as contribuies

    qualitativas para a obra arquitetnica obtida atravs dos empregos mais recorrentes do

    metal.

  • Introduo __________________________________________________________________

    13

    O metal na arquitetura contempornea paraibana. 1990-2002

    Etapas e Procedimentos

    Para alcanar os objetivos propostos foram percorridas as seguintes etapas:

    1) Reviso Bibliogrfica:

    Coletar informaes tcnicas sobre o funcionamento das estruturas metlicas para

    reunir subsdios para a compreenso dos projetos a serem analisados e sobre a atualidade

    das principais utilizaes encontradas na pesquisa;

    Reunir informaes sobre o estado da arte em relao ao tema;

    Agregar informaes sobre as correntes arquitetnicas contemporneas que tm

    no metal recursos de linguagem.

    2) Observao e coleta de dados dos possveis exemplares a serem analisados:

    Definir os exemplares escolhidos para compor o universo (mostra) da pesquisa;

    Classificar esses exemplares em grupos e caracteriz-los a partir dos estudos

    tcnicos sobre as estruturas e os sistemas estruturais (Anexo 1) e da fundamentao

    terica das estratgias de anlise

    Coletar as informaes pertinentes ao estudo: registro grfico e fotogrfico, data

    de construo e/ou de reforma relativa instalao de componentes metlicos, autoria do

    projeto e uso da edificao. As fontes de pesquisa foram: jornais e revistas, arquitetos e

    engenheiros autores das obras, a Prefeitura Municipal de Joo Pessoa e outros rgos

    como o Frum Civil da Capital e o CREA- PB;

    Realizar esboos e esquemas de organizao espacial, solues estruturais e

    arranjos metlicos com outras destinaes, quando da ausncia de registros oficiais.

    3) Fundamentao das estratgias de anlise das obras baseada em estudos

    especficos e diretrizes gerais;

    Verificar as funes (estrutural, ornamental, funcional ou mista) dos elementos

    metlicos;

    Verificar a influncia qualitativa dos elementos metlicos nas obras analisadas;

    4) Anlise da mostra escolhida.

    5) Sistematizao dos resultados obtidos e elaborao das concluses.

    Estrutura do Trabalho

    A exposio do material pesquisado bem como as consideraes a que chegamos

    sobre a produo arquitetnica metlica na cidade de Joo Pessoa, est estruturada da

    seguinte maneira:

  • Introduo __________________________________________________________________

    14

    O metal na arquitetura contempornea paraibana. 1990-2002

    Na Introduo esto expostos a definio do tema, a construo do objeto, a

    justificativa, os objetivos, um resumo dos procedimentos adotados e a estrutura do

    trabalho;

    No captulo 01 esto detalhados os procedimentos metodolgicos: a amplitude do

    universo da pesquisa, os recortes temtico e temporal, a fundamentao sobre o tema, os

    procedimentos de anlise e um mapa parcial da cidade de Joo Pessoa com a localizao

    das obras arquitetnicas pesquisadas;

    No captulo 02 esto expostas as anlises referentes aos exemplares classificados

    na categoria denominada de Corpo, constando de anlises gerais e anlise especfica;

    No captulo 03 esto expostas as anlises referentes aos exemplares classificados

    na categoria denominada de Cabea, constando de anlises gerais e anlise especfica;

    No captulo 04 esto expostas as anlises referentes aos exemplares classificados

    na categoria denominada de Esqueleto, constando de anlises gerais e anlise especfica;

    Ao termino do captulo 04, sero expostas as consideraes finais e, em seguida,

    as referencias bibliogrficas e documentais. Por fim, tem-se o Apndice 1 Texto de

    referncia sobre os sistemas estruturais e as estruturas metlicas, elaborado com base na

    pesquisa bibliogrfica e nas experincias observadas, que foi utilizado para subsidiar as

    anlises dos projetos escolhidos; e o ndice de imagens e quadros vistos no trabalho.

    Faz-se importante ressaltar que o metal, sobretudo o ao e o alumnio, torna-se

    cada vez mais, um material construtivo importante no contexto da construo civil

    brasileira, apesar de necessitar ainda de uma srie de fatores especiais como, por

    exemplo, a mo de obra especializada ou os conhecimentos especficos demandados pela

    nova tecnologia para que a sua utilizao seja bem sucedida.

    Este trabalho cria uma fonte de dados a respeito das atuais prticas projetuais

    com o material especfico, sinalizando a situao da obra arquitetnica realizada na cidade.

    Espera-se que estes dados possibilitem o surgimento de ensaios crticos que induzam a

    uma prtica reflexiva, favoream possveis investidas para a melhoria dessa produo e

    possibilitem, em outra esfera, aes no sentido de incentivar a melhoria na formao de

    pessoal qualificado nos setores acadmico e de servios.

  • Captulo 1 ___________________________________________________________________ Procedimentos metodolgicos

    O metal na arquitetura contempornea paraibana. 1990-2002 15

    Captulo 1 - Procedimentos metodolgicos

    1.1. Definio do universo da pesquisa

    1.1.1. Recorte temtico

    Interesses despertados por estudos anteriores1 ligados a estruturas metlicas e a

    arquitetura contempornea, especialmente em relao participao do metal2 nas obras

    de arquitetura, geraram o interesse em pesquisar o tema na cidade de Joo Pessoa.

    Atualmente essa produo pode ser encontrada em diversos pontos da cidade,

    porm observa-se uma concentrao de edifcios deste tipo em reas comerciais e de

    poder aquisitivo mais elevado, como os principais corredores virios e as reas prximas

    faixa litornea: por exemplo, a Avenida Presidente Epitcio Pessoa, o trecho da BR-230

    que corta a cidade, a Avenida Governador Renato Ribeiro Coutinho e a Avenida Edson

    Ramalho. Em bairros perifricos e locais prximos ao centro da cidade tambm podem ser

    encontrados, ainda que em menor nmero, alguns exemplares que foram trazidos para o

    universo estudado. (ver MAPA 01: Mapa de localizao das obras que compem o

    universo de anlise)

    A observao emprica sinalizou que a utilizao do metal nas obras objeto da

    pesquisa vo desde pequenos elementos restritos as fachadas, dissociados da proposta

    arquitetnica e de carter mais decorativo at componentes mais abundantes e de maior

    porte como as coberturas e elementos estruturais, de sustentao dos corpos das

    edificaes. A destinao destes edifcios so em geral instituies pblicas e privadas, de

    comrcio e servio.

    Os postos revendedores de combustveis, apesar de sua utilidade e presena

    obrigatria na cidade devido a sua funo, no integraram a pesquisa, porque no

    apresentam um interesse contundente e diferenciado na cidade. Esse tipo de utilizao em

    geral estrutural, com pilares e vigas de ao treliadas e associado a uma cobertura de

    telhas de alumnio, que protege uma edcula em alvenaria solta da coberta e que abriga

    servios administrativos, loja de convenincias, local para lavagem de automveis e outros

    servios mecnicos. Eventualmente surgem platibandas em metal, com logotipos das

    empresas distribuidoras, que encobrem a cobertura de alumnio.

    1 Estudos j comentados na Introduo. 2 O termo metal utilizado nesta pesquisa refere-se s ligas metlicas de ao e alumnio, as mais freqentes nos exemplares arquitetnicos pesquisados.

  • Captulo 1 ___________________________________________________________________ Procedimentos metodolgicos

    O metal na arquitetura contempornea paraibana. 1990-2002 16

    O recorte temtico foi, portanto, resultado das buscas acima relatadas e da

    exceo estabelecida. A amostra resultou significativa das destinaes mais freqentes do

    metal na arquitetura contempornea de Joo Pessoa.

    1.1.2. Amplitude e Escolha dos casos para anlise

    A identificao das obras que pudessem compor o universo da pesquisa deu-se

    atravs da observao, onde contaram decises como a forma de utilizao do metal, se

    estrutural e/ou como recurso formal, as dimenses da obra, as suas peculiaridades como

    objeto arquitetnico e o seu significado para a cidade. Inicialmente registrou-se um nmero

    amplo de exemplares que atendiam aos pontos fixados para iniciar a pesquisa.

    A observao atenta desses exemplares mostrou a incidncia de certos

    elementos, estruturais, funcionais ou ornamentais, recorrentes de utilizao do material

    estudado. Decidimos assim classific-los eliminando as repeties, respeitando certas

    nuances especficas. Assim de um grupo de 97 exemplares chegamos a uma quantidade

    de 40 obras que traduzem, de certa forma, o uso do metal em Joo Pessoa.

    A coleta de informaes sobre essas obras contemplou: a) o registro fotogrfico

    cujo objetivo era obter para cada obra, as imagens necessrias para identificar onde, como

    e em que quantidade o metal se fazia presente; b) as informaes sobre a sua destinao

    para identificar as atividades as quais a edificao atenderia; c) o registro grfico

    plantas, cortes e perspectivas que alm dos dados de projeto, fornecem data de

    construo, autoria do projeto e execuo dos elementos metlicos.

    No caso das instituies pblicas escolhidas para anlise, os projetos foram

    conseguidos nas prprias instituies ou rgos competentes, como no caso do Complexo

    Judicirio Desembargador Marcos Antnio Souto Maior, cujo registro grfico foi conseguido

    no Frum Civil de Joo Pessoa.

    Tambm foram coletadas informaes atravs de artigos e reportagens obtidas em

    jornais e revistas especializadas, como o caso do MAG Shopping, do Pronto Socorro de

    Fraturas de Mangabeira e da Vitrine de Manara.

    Algumas situaes dificultaram, e no raro, limitaram a coleta de informaes. Por

    exemplo, os edifcios que estavam fechados por estar venda ou para alugar ou ento as

    obras cujos donos no eram os construtores, mas ocupantes posteriores que

    desconheciam a histria do imvel.

    Para casos como estes, os caminhos percorridos para a obteno dessas

    informaes foram: o setor de arquivo de projetos da Prefeitura Municipal de Joo Pessoa

    e o CREA-PB. No primeiro caso, para obter esses dados era necessrio: ou o nome do

  • Captulo 1 ___________________________________________________________________ Procedimentos metodolgicos

    O metal na arquitetura contempornea paraibana. 1990-2002 17

    autor da obra, ou o ano de construo ou o nmero do processo, o que, em alguns casos,

    impossibilitou a pesquisa. No segundo caso, tornou-se mais facilitada a pesquisa porque

    era apenas necessrio o endereo do imvel, entretanto algumas obras no constavam no

    cadastro do CREA-PB.

    Nem todas as obras possuam registros grficos oficiais (plantas, cortes, fachadas,

    perspectivas, detalhes e especificaes). Nesses casos, foram realizados croquis e

    esquemas de volumes, plantas, cortes e principalmente dos detalhes construtivos em

    metal.

    1.1.3. Recorte temporal

    A delimitao do perodo a ser estudado foi feito inicialmente atravs de

    observaes empricas, posteriormente confirmadas pelas informaes, principalmente

    datas, coletadas sobre as obras. Constatamos que o incio da utilizao do metal na

    arquitetura da cidade deu-se no incio da dcada de 1980, de forma pontual e materializada

    nas construes do aeroporto Presidente Castro Pinto e do Espao Cultural Jos Lins do

    Rego, ambos projetadas entre 1979 e 1980 e inauguradas em 1982, cuja significao para

    a cidade j foi comentada na introduo dessa pesquisa.

    A retomada dessa produo ocorreu no incio da dcada de 1990, com o edifcio

    da concessionria Promac, representante Volkswagen, cujo projeto arquitetnico de

    1976, mas que foi includa por ser uma ampla estrutura de trelia metlica espacial

    inaugurada em 1990. A partir da surgem outras obras de porte mdio e grande,

    significativas no contexto da cidade, como a Fundao de Assistncia ao Portador de

    Deficincia (FUNAD) e o Banco do Nordeste, construdos em 1993. A intensificao dessa

    produo observada a partir do ano 2000, com predominncia de edificaes destinadas

    ao comrcio e ao servio.

    As buscas iniciais demonstraram que as obras realizadas entre meados da dcada

    de 1990 at aproximadamente 1996, apresentam uma utilizao mais abundante e mais

    estrutural dos elementos arquitetnicos executados em metal - pilares, vigas, trelias

    espaciais, pisos e marquises. A partir da, h uma profuso de elementos no estruturais:

    revestimento de fachadas, marquises vazadas que no fornecem proteo solar nem

    pluvial, entablamentos para a composio esttica de fachadas, falsos pilares adossados

    ao corpo das edificaes ou envolvendo e encorpando pilares em concreto, entre outros.

    De forma que at aproximadamente meados da dcada de 1990, a produo era mais

    escassa e direcionada para uma utilizao mais estrutural, a partir do momento que essa

    produo intensificada, de certa forma banaliza-se o emprego do metal na arquitetura,

  • Captulo 1 ___________________________________________________________________ Procedimentos metodolgicos

    O metal na arquitetura contempornea paraibana. 1990-2002 18

    surgindo uma srie de aplicaes mais superficiais e menos expressivas. Entretanto a

    produo de carter mais estrutural ou que prope um emprego do metal mais associado

    proposta esttica no cessa, proporcionando inclusive o aparecimento de novas

    disposies estruturais.

    O recorte temporal definido para esta pesquisa abarca o perodo que se inicia com

    a intensificao dessa produo em 1990 e estende-se at o ano de 2002, incio dessa

    dissertao.

    O Quadro 1, na pgina seguinte, apresenta o total de obras escolhidas, divididas

    por ano de construo, destinaes e quantidades. De acordo com esse quadro,

    percebemos que o universo pesquisado composto de quatro Instituies Privadas, quatro

    Instituies Pblicas e 32 estabelecimentos de Comrcio e Servios, dos quais doze so

    destinadas exclusivamente ao comrcio. Na seqncia, apresentado no Mapa 01 com as

    localizaes das obras arquitetnicas que compem o acervo da pesquisa. (pg. 20 e 21)

    Resumindo, nosso objetivo o estudo da arquitetura que se utiliza do metal,

    especialmente o ao e o alumnio, para a realizao de suas obras e nosso objeto de

    pesquisa a produo arquitetnica em ao realizada na cidade de Joo Pessoa, entre os

    anos de 1990-2002, destinadas a abrigar Instituies Pblicas e Privadas e atividades

    comerciais e de servio. Definido o tema, construdo o objeto com suas delimitaes,

    especificidades e amplitude e estabelecido o perodo a ser estudado, determinamos o

    universo da pesquisa.

  • Captulo 1 ___________________________________________________________________ Procedimentos metodolgicos

    O metal na arquitetura contempornea paraibana. 1990-2002 19

    Quadro 1 - Ano de construo, destinaes e quantidades.

    Destinao Ano de construo Instituies

    Privadas InstituiesPblicas

    Edifcios Comerciais e de Servios

    N de Obras por ano

    1990 1- Promac Automveis. 01 1991 1- FUNAD 01 1992 -

    1993 1- Banco do Nordeste. 01

    1994 1- Braz Motors.

    2- Nissan. 3- Cavalcanti Primo

    03

    1995 1- Revenda de Veculos Via Norte

    2- FIORI Fiat (antiga Autovesa). 3 antiga KIA automveis.

    03

    1996 1- Honda Motos. 01 1997 -

    1998 1- Telemar. 2- Padaria Vitria 02

    1999 -

    2000

    1- Parque Aqutico Pio X 2-Condomnio Unimed

    1- 3D Som. 2- Stiluz. 3- Loja Verona 4- Cartrio C. Ulisses. 5- Lav. Bela Vista. 6- Bella Casa Recepes

    08

    2001 1- Hospital de Traumas 1- Moroni Bertoline 2- antiga academia Moby Dick. 03

    2002

    1- Complexo Judicirio.

    1- O Amarelinho. 2- House & Design. 3- Zodaco. 4- Loja J. Carlos. 5- Sacolo Casa Tudo. 6- Vasp. 7- Honda Automveis. 8- Novo Mercado Tamba. 9- Pronto Socorro de Mangabeira. 10- Prodem.

    11

    2003 1- Anexo do Sistema Correio

    1- CINEP. 1- Vitrine de Manara. 2- MAG Shopping. 3- Cleumy Design. 4- Ornato.

    06

    Totais 04 04 32 40 Obras

  • Captulo 1 ___________________________________________________________________ Procedimentos metodolgicos

    O metal na arquitetura contempornea paraibana. 1990-2002 20

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  • Captulo 1 ___________________________________________________________________ Procedimentos metodolgicos

    O metal na arquitetura contempornea paraibana. 1990-2002 22

    1.2. Fundamentao da Estratgia de Anlise

    Tendo em vista nosso objetivo geral de analisar a arquitetura pessoense para

    traar o perfil da produo que utiliza o metal como material construtivo, percebidas quando

    da observao da obra realizada, no que tange aos elementos esttico-formais, estruturais

    e funcionais, surgiu a necessidade de definir no que consiste o nosso objeto de trabalho.

    Lemos (1980), seguindo a Costa (1980), define a arquitetura como uma

    construo erguida com inteno plstica e fruto de realizao erudita, ou seja, feita por

    arquitetos. No nosso caso, a definio de Lemos fica prejudicada pela questo da autoria.

    O nosso universo de pesquisa, a produo arquitetnica que utiliza as ligas metlicas como

    material construtivo em Joo Pessoa, por sua especificidade, no realizada

    exclusivamente por arquitetos, mas tambm por engenheiros e tcnicos especializados,

    que geralmente detm o conhecimento e a experincia com esse tipo de material. Desse

    modo, a restrio de autoria projetiva para a escolha das obras, eliminaria uma quantidade

    considervel de obras importantes, prejudicando a anlise.

    Em relao inteno plstica, partimos do princpio de que toda obra busca, de

    algum modo, a beleza, a harmonia e a qualidade da forma, mas tambm sabemos que

    estes fatores no so mensurveis e o julgamento do gosto geralmente acaba em

    apreciaes arbitrrias e subjetivas. Para Zevi:

    Dizer, como hbito, que a arquitetura a edificao bela e a no arquitetura, a edificao feia no tem qualquer sentido esclarecedor, porque o belo e o feio so relativos e porque de qualquer maneira, seria necessrio dar antes uma definio analtica da edificao... (ZEVI, 1978: p. 24).

    BOUDON (2000), da mesma maneira, entende que no o conceito de beleza

    que diferencia a arquitetura da no arquitetura. Para ele, todo espao arquitetnico um

    espao construdo, mas nem todo espao construdo arquitetnico. Entende que para

    definir uma edificao como arquitetura, deve-se considerar uma variedade de fatores

    como os materiais construtivos, o conforto ambiental, a solidez, funcionalidade, alm de

    daqueles ligados ao significado e as relaes scio-culturais. Ou seja, acredita que devem

    ser observados no apenas os fatores relacionados ao material construtivo em uma viso

    tecnolgica da obra, mas tambm as questes relacionadas ao espao arquitetnico e o

    uso do material, procurando perceber como essa relao rebate sobre a qualidade do

    espao.

    No nosso caso no se pretende um estudo extensivo que demandaria tempo e

    outros direcionamentos de pesquisa (tais como medies de nveis de conforto trmico,

    lumnico, de rudos, anlises APO), dessa maneira esse tipo de estudo, nesta pesquisa,

    ser limitado a algumas consideraes mais facilmente percebidas e despertadas atravs

  • Captulo 1 ___________________________________________________________________ Procedimentos metodolgicos

    O metal na arquitetura contempornea paraibana. 1990-2002 23

    das nossas anlises embasadas na fundamentao direcionada para compreenso da obra

    construda, exposta na sequncia.

    Uma outra linha de definio tende a considerar arquitetura o projeto, a idia

    geradora e o prprio processo de concepo3. A arquitetura potencial de Chupin (2003) e

    a arquitetura de papel de Perez-Gomez (NESBITT, 1996) caminham nessa direo. No

    obstante, a importncia da anlise do projeto e do processo criativo para o entendimento

    de caractersticas arquitetnicas da obra, no nosso caso, as informaes desse tipo (sobre

    o projeto e o processo criativo) so apenas coadjuvantes4, o nosso estudo est centrado

    nas obras construdas, tendo como objetivo a avaliao do produto final.

    Para fundamentar uma estratgia de anlise adequada ao nosso objeto de

    pesquisa, estudamos alguns autores que se dedicam ao tema. Em uma anlise

    arquitetnica existem os elementos mensurveis e estritamente tcnicos, como os

    dimensionamentos e as solues estruturais, mas existem tambm aqueles de carter

    subjetivo como os referentes linguagem e ao processo de criao e composio da obra

    arquitetnica. A respeito desse carter subjetivo da anlise em arquitetura, Baker comenta

    a "liberdade que cada pesquisador tem de direcionar seu estudo, desde que haja

    coerncia de idias e argumentos pertinentes na base da interpretao:

    Creio que a arquitetura tem um papel cultural exclusivo, que seu contedo prtico e simblico e sua relao com o contexto exigem muito do arquiteto e do analista. No obstante, a situao complicada por causa do carter intuitivo do processo de projetao, que nega o enfoque cientfico que se d na anlise do projeto. () Como uma modalidade da interpretao, preciso que a anlise seja subjetiva e, em certa medida, especulativa. O componente subjetivo to intuitivo como o prprio ato de projetar, ao qual pode ser comparado () A anlise arquitetnica compreende muitos gneros: cada analista dar uma nuance a sua interpretao (BAKER, 1991: XI-XII).

    A pesquisa bibliogrfica5 a respeito de anlise arquitetnica sinalizou duas formas

    de abordar esse universo, uma relacionada metodologia de projeto e outra em relao

    teoria do projeto6, essa ltima subdividindo-se em estudos que abordam o processo de

    criao e estudos que abordam o resultado desse processo.

    3 Mies entendia que a essncia da arquitetura estava na idia, no pensamento, muito antes de transformar-se em desenho. Alberti defendia o processo de concepo como a fase mais importante da arquitetura. 4 Os registros relativos ao projeto serviro como fontes de informao a respeito da disposio dos ambientes, dos detalhes estruturais, das solues tcnicas e outros elementos que possam contribuir para o entendimento da obra. 5 MARTINEZ (2000); BOUDON (2000); MAHFUZ (1995); QUARONI (1987); BAKER (1991) e CHING (2002) compem a bibliografia do referencial terico dessa dissertao. 6 As questes relacionadas Teoria do projeto so bem menos exploradas pela bibliografia, especialmente no ambiente de pesquisa brasileiro. AMARAL (2005) constata que dos treze artigos que compem o livro Projetar: Desafios e Conquistas da Pesquisa e do Ensino de Projeto (LARA & MARQUES, 2003), nove dedicam-se ao estudo da metodologia de ensino do projeto de arquitetura, um versa sobre o mtodo de projetao e somente dois so sobre teoria do projeto.

  • Captulo 1 ___________________________________________________________________ Procedimentos metodolgicos

    O metal na arquitetura contempornea paraibana. 1990-2002 24

    Os estudos que fundamentam esta parte do trabalho referem-se metodologia no

    processo de projetao e forneceram instrumentos importantes para a apreenso das

    etapas, operaes e recursos utilizados pelo autor, que proporcionaram o entendimento de

    que elementos esto sob o desgnio do autor.

    MARTINEZ (2000) trata da concepo, do programa e do partido. Destaca a

    diferena entre os elementos da arquitetura7 e os elementos da composio8 e analisa

    como eles so articulados para formar a proposta arquitetnica. Em seus comentrios

    sobre a composio na histria atenta para o fato de que o movimento moderno trouxe

    para a arquitetura, enquanto disciplina, novas tcnicas e elementos (vigas e colunas de

    ao, curtain-walls e maquinrios para circulao vertical e horizontal, ventilao, exausto e

    iluminao), que acarretaram mudanas na composio arquitetnica atravs de

    expressionismos tcnicos e construtivos. As questes apontadas por MARTINEZ, afetam

    diretamente nosso objeto de anlise, no momento em que tais expressionismos e

    elementos de composio so identificados ou como instrumentos que contribuem para a

    melhoria da qualidade da edificao ou como solues cenogrficas.

    Atravs das questes apontadas por MARTINEZ foram identificadas questes

    pertinentes, tais como elementos de arquitetura e de composio da arquitetura, freqentes

    e repetidos entre as obras do acervo, e que compem algumas das especificidades da

    produo arquitetnica com o metal em Joo Pessoa. Essas questes so expostas na

    etapa das anlises.

    BOUDON (2000) tambm aborda questes relativas criao e concepo

    arquitetnica e refora que todo espao arquitetnico analisvel, apesar de interessar-se

    pelo Objeto Virtual como define o edifcio no projeto, antes da edificao realizar-se.

    Esclarece a diferena entre estudos feitos a partir de casos concretos (para em seguida se

    elaborar um conhecimento) e estudos feitos a partir de projetos ainda no construdos, e

    que apesar de preferir o segundo mtodo, acredita em uma relao dialtica entre essas

    duas correntes de pesquisa.

    QUARONI (1987) aborda questes relativas metodologia do processo de

    projetao em oito lies, inclusive em relao ao projeto que utiliza o ao em sua

    construo. Consideramos pertinentes ao nosso estudo, suas consideraes acerca do

    espao arquitetnico:

    7... So coisas concretas, tm natureza definida, so encontrados nos livros dos tratadistas. Transladados para o campo da

    arquitetura moderna so coisas verdadeiras: janelas que se compram, portas standard, artefatos. (MARTINEZ, 2000: 129)8 Elementos de composio so mais como conceitos: ambientes de certas propores, de dimenses relativamente definidas, porm sempre, por princpio, longe do grau de definio que tm naturalmente os Elementos de Arquitetura. (MARTINEZ, 2000: 129)

  • Captulo 1 ___________________________________________________________________ Procedimentos metodolgicos

    O metal na arquitetura contempornea paraibana. 1990-2002 25

    Volmenes, superficies, lneas y sus articulaciones plsticas y cromticas concurren juntas a crear, tanto en el interior como en el exterior del edificio, espacios cuja calidad depender tambin de la relacin dimensional con el hombre () Las superficies externas de un edificio constituyen un sistema de formas de envoltura que dividen los espacios interiores de los exteriores. Dividen e no separan, porque los espacios internos siempre intentaron establecer una comunicacin con los espacios exteriores y las posibilidades que ofrecen las tecnologas modernas son tales que permiten al mximo esta relacin y esta continuidad, a menos que particulares exigencias no obliguen a lo contrario, que por otra parte sigue siendo, en cualquier caso, el modo de establecer una relacin (QUARONI, 1987: 67)

    QUARONI, de maneira similar a BOUDON (2002), alerta para a constatao dos

    aspectos relacionados entre a integrao e comunicao entre os dois espaos, interior e

    exterior, e a tecnologia. Como dito anteriormente, torna-se pertinente expor a questo das

    perdas e ganhos de qualidade no espao arquitetnico, bem como tentar relaciona-los ao

    uso do metal.

    No que tange ao uso do ao, comenta a importncia da dimenso tcnica, ou

    seja, afirma que somente com o pleno domnio da tcnica e dos materiais construtivos, por

    parte dos autores, possvel dar qualidade ao espao arquitetnico ou alcanar a

    essncia da arquitetura:

    As pues la tcnica puede y debe dar, explotando ciertas propiedades de los materiales de construccin (propiedad de resistencia a las fuerzas de compresin, traccin, y de cortadura para durar en el tempo), una estructura resistente y de proteccin que tenga en si, constructiva y estticamente hablando, aquella claridad y aquella coherencia interna de que habla Alberti9;claridad e coherencia que, para que se trate de una estructura de naturaleza arquitectnica, debe responder: a) a la lgica del trabajo de cada un de los materiales; b) a la lgica del diseo de cada una de las piezas, visto en relacin al punto 1 e en relacin con la funcin resistente que deben desempear; c) a lgica de los espacios proyectados y en consecuencia a la lgica de las funciones; d) a la lgica de la idea e de la imagen que el proyectista desea para el edificio. (QUARONI, 1987: 67)

    Complementa seu pensamento alegando que a obteno de uma obra

    arquitetonicamente coerente se d atravs do conhecimento aprofundado dos sistemas

    construtivos e de como empreg-los na obra, tomando-se o cuidado para no se restringir

    unicamente a lgica tcnica ou adaptar-se servilmente a lgica dos custos.

    No que se refere s ligas metlicas, especialmente ao ao, QUARONI frisa a

    necessidade de dominar a tcnica para que sua utilizao resulte completa, ou seja, para

    que as decises tcnicas sejam coerentes com as decises funcionais e estticas, alm de

    9 QUARONI faz meno as observaes feitas por Alberti em sua obra De re aedeficatoria, que entre outros pontos fala da importncia da associao coerente do material e da estrutura, podendo-se observar tais preceitos no trecho que cita da obra de Alberti: El modo de realizar una construccin consiste en obtener de diversos materiales dispuestos en un cierto orden y conjugados con arte una estructura compacta y en los limites de lo posible- ntegra y unitaria. Se dir integro y unitario aquel conjunto que no contenga partes escindidas o separadas de las otras o fuera de su sitio, sino que em toda la extensin de sus lneas demuestre coherencia y necesidad. Por tanto es preciso averiguar, en la estructura, cuales son sus partes fundamentales, cul su ordenamiento y cuales las lneas de que se componen.

  • Captulo 1 ___________________________________________________________________ Procedimentos metodolgicos

    O metal na arquitetura contempornea paraibana. 1990-2002 26

    vencer os desafios impostos pelo risco de incndio e desgaste climtico. Tais cuidados

    deveriam ser redobrados quando se tratasse de estruturas aparentes, que quando so

    mais visveis essas caractersticas e exigncias de coerncia e leveza, tipicamente

    associadas ao material.

    Em relao qualidade da arquitetura, QUARONI aponta a necessidade de se

    integrar as trs componentes vitruvianas, do uso, da tecnologia e do equilbrio esttico,

    para se obter um projeto coerente. Mais adiante iremos perceber que muitas das

    questes levantadas em relao produo na cidade de Joo Pessoa, so provenientes

    do domnio da tcnica (emprego do metal) e das dissociaes feitas entre as trs

    componentes vitruvianas, ou seja, existem tanto problemas de concepo e criao, quanto

    deficincias na utilizao do material construtivo.

    Aps essa exposio acerca das anlises dos processos de projetao, sero

    feitas algumas consideraes acerca de anlise de obra construda, objeto dessa pesquisa.

    BAKER (1991) e CHING (2002) so as referncias em relao aos recursos e ferramentas

    desse tipo de anlise:

    BAKER (1991) trata da forma arquitetnica de forma abrangente, abordando

    desde a disposio volumtrica at questes como os sistemas estruturais, os materiais

    construtivos e a organizao de uma obra arquitetnica, passando pelos modelos de

    circulao, pelos eixos ordenadores e funcionais, e pela imagem simblica do edifcio,

    onde pesam os fatores culturais, tcnicos e econmicos.

    Entretanto o alvo de anlise do autor so as obras primas da arquitetura moderna

    que por sua excepcionalidade permitem amplas e profcuas especulaes analticas.

    Trazendo seus apontamentos para nosso objeto, percebemos que muitos pontos no se

    aplicam aos nossos exemplares. Mesmo assim as questes e os instrumentos por ele

    propostos foram importantes na elaborao da estratgia de pesquisa adotada que ser

    exposta mais adiante.

    CHING (2002), por sua vez, tambm apresenta uma srie de questes, quase um

    roteiro de pontos a serem observados em relao ao projeto. A trade vitruviana - solidez,

    utilidade e beleza aparece aqui subdividida em vrios temas que percorrem caminhos

    relativos forma, ao espao e a ordem. As abordagens relativas ao volume, proporo,

    escala, circulao, e interdependncia entre forma e espao foram incorporadas a nossa

    estratgia de anlise complementando os instrumentos tomados de BAKER (1991).

  • Captulo 1 ___________________________________________________________________ Procedimentos metodolgicos

    O metal na arquitetura contempornea paraibana. 1990-2002 27

    A trade vitruviana, em sua essncia, permanece um instrumento importante de

    anlise da arquitetura e sua importncia e abrangncia sublinhada por praticamente

    todos os autores estudados10:

    Lhistorie des doctrines ou des theories d architecture est faite de valorisations, devalorisations et revalorisations sucessives de lune des trois composantes de la trinit vitruvienne qui a pour nom soliditas et figure ct de la voluptas et e la commoditas. Il en resulte des dfinitions changeantes de larquitecture (BOUDON, 2000: 08).

    Assim os trs pontos bsicos dessa trade (Firmitas, Venustas e Utilitas ou solidez,

    beleza e comodidade; ou estrutura, beleza e utilidade; ou ainda, tcnica, forma e funo)

    conformaro a base das anlises propostas neste trabalho.

    Para a identificao dos tipos estruturais, observados para os casos de uma

    utilizao mais substancial do metal, foi utilizada a definio de ENGEL (1977) para os

    diferentes tipos de sistemas estruturais. Atravs de estudo prvio de suas categorias, foram

    identificadas dentro do acervo da pesquisa, duas categorias observadas abaixo:

    1. Sistemas Estruturais de Forma-Ativa - So identificados pelo uso do cabo de

    suspenso vertical, que transmite a carga diretamente a esse ponto, pelo tracionamento e

    pela coluna vertical ou pela sua transformao em arco, que em direo reversa, transfere

    a carga diretamente ao ponto da base, mediante compresso. Ambos transmitem cargas

    somente atravs de esforos normais simples: trao e compresso.

    So estruturas flexveis, suportadas por extremidades fixas que sustentam o seu

    peso prprio e so capazes de cobrir um vo. Esses sistemas no podem submeter-se a

    uma forma arquitetnica arbitrria, ela resultado do mecanismo sustentador. ENGEL

    afirma ainda que so sistemas econmicos e convenientes para alcanar grandes vos e

    configurar amplos espaos.

    So considerados tambm Sistemas Estruturais de Forma-Ativa as redes de cabos

    e as membranas ou cpulas, nas quais as cargas dispersas em mais de um eixo so

    transmitidas de forma linear por no possurem mecanismo de esforo cortante. Outros

    exemplos, alm dos cabos e das membranas so as tendas e os arcos.

    2. Sistemas Estruturais de Vetor-Ativo - So identificados por peas lineares de

    seo reduzida em relao ao seu comprimento (barras) e que transmitem somente

    esforos no sentido do comprimento: tenses normais de trao e compresso. Esses

    sistemas so compostos por peas curtas, slidas e retas que so dispostas

    triangularmente formando uma composio estvel e completa em si mesma que, se

    apropriadamente apoiada, capaz de receber cargas assimtricas e variveis transferindo-

    10 JENCKS (1975), MAHFUZ (1995), MARTINEZ (2000), BOUDON (2000).

  • Captulo 1 ___________________________________________________________________ Procedimentos metodolgicos

    O metal na arquitetura contempornea paraibana. 1990-2002 28

    as aos extremos. So compostos por ns articulados que podem dirigir as foras e

    transmitir as cargas por grandes distncias sem suportes intermedirios. So assim

    denominados, pois as foras externas so divididas em vrias direes por duas ou mais

    peas e mantidas em equilbrio por contra-foras apropriadas: os vetores. um sistema

    que por seu alto desempenho estrutural, por sua expressividade plstica e pela

    possibilidade de expanso nas trs dimenses bastante utilizado para a cobertura de

    grandes vos. Fazem parte deste tipo, os sistemas: de planos triangulares, de rguas

    planas, curvos triangulados, de rguas curvas e reticulados espaciais.

    A partir da classificao de ENGEL foi possvel observar as preferncias

    estruturais utilizadas na arquitetura paraibana, o grau de complexidade de suas estruturas

    e de inovao dos seus arranjos estruturais e as partes da edificao que mais empregam

    esses recursos. Os pargrafos acima expressos configuram-se em rpido resumo, pois se

    pretendeu evitar uma demorada leitura em torno de um material estritamente tcnico e

    desviando o foco das atenes das idias centrais dessa pesquisa. O estudo mais

    aprofundado, detalhado e ilustrado sobre as categorias de ENGEL (1977) dos sistemas

    estruturais est no Apndice.

    Como comentado no item anterior, a trade vitruviana, em sua generalidade,

    organiza os elementos e instrumentos de anlise tambm desta pesquisa, que pode

    classificar o uso das ligas metlicas nas edificaes em trs grupos:

    1. O uso do metal na estrutura que envolve a tanto a tcnica quanto os materiais

    construtivos e diz respeito solidez e a estabilidade da edificao. No nosso caso, esse

    uso pode ter trs alternativas, o metal pode ser usado:

    Na estrutura de suporte da edificao

    Na estrutura de suporte da cobertura

    Em partes independentes da edificao

    2. O uso do metal em elementos construtivos que atendem a aspectos funcionais

    do edifcio que envolve destinao, programa, circulao e a organizao espacial, que

    pode atender a funes de ordem prtica ou culturais e ideolgicas. No caso, esse uso

    pode atender casos de:

    Circulao

    Elementos de proteo climtica

    Lajes e mezaninos

    3. O uso do metal para atender a aspectos esttico-formais que visam alcanar

    aspiraes individuais ou de um grupo que deseja demonstrar certa qualidade ou divulgar

    determinado produto, um terreno movedio, onde a habilidade do designer pode fazer

    flutuar ou naufragar um projeto. No caso, esse uso pode ter como objetivo atender a:

  • Captulo 1 ___________________________________________________________________ Procedimentos metodolgicos

    O metal na arquitetura contempornea paraibana. 1990-2002 29

    Demonstraes de contemporaneidade

    Apelos comerciais

    Experincias a respeito das possibilidades da linguagem do material

    Para que essas questes acima apontadas sejam expostas de maneira mais clara,

    tomamos por modelo a forma de expor de CHING (2002) e BAKER (1991), que utilizam

    desenhos como texto, como aliados para esclarecer observaes especficas, uma vez que

    tal forma de exposio proporciona uma compreenso dinmica do elemento analisado.

    BAKER declara que esse recurso de pensamento diagramtico uma ferramenta bsica

    tanto para analistas quanto para projetistas:

    Os diagramas: so seletivos, buscam a clareza e a comunicao, revelam a essncia, costumam ser elementares, isolam os temas para captar a complexidade, explicitam a articulao geomtrica, podem medir a energia do lugar e do conceito, concedem uma margem de liberta de artstica, podem possuir vitalidade prpria, podem explicar melhor a forma e o espao que as palavras e as fotografias. (BAKER, 1991:66).

    1.3. Estratgia de Anlise Adotada

    Feitas as consideraes necessrias para fundamentar a estratgia de anlise,

    retomamos as 40 obras escolhidas para anlise e resolvemos classific-las em grupos,

    levando em considerao as caractersticas dos elementos recorrentes e mais evidentes

    nas obras observados. Foram utilizados no agrupamento os seguintes trs pontos

    classificatrios:

    1) Cobertura (no que denominamos Cabea).

    2) Corpo da edificao (no que denominamos Corpo).

    3) Estrutura de suporte da edificao (no que denominamos Esqueleto).

    A partir dessa diviso inicial, que a princpio geraria trs grandes grupos, outros

    pontos de semelhana derivados dos primeiros foram observados, gerando mais divises.

    - Classificao - Cabea: Forma de disposio dos elementos metlicos que

    participam da conformao da coberta.

    Exemplo: Estruturas ocultas, e usando a classificao de ENGEL (1977):

    Estruturas de Vetor Ativo, sendo Planas ou Espaciais e/ou Estruturas de Forma Ativa.

    - Classificao - Corpo: Forma de disposio dos elementos metlicos no corpo.

    Exemplo: Metal usado como revestimento, ou volumes arquitetnicos criados com

    o material etc.

    - Classificao - Esqueleto: Elementos metlicos que participam no suporte da

    edificao como um todo ou em grande parcela desta.

  • Captulo 1 ___________________________________________________________________ Procedimentos metodolgicos

    O metal na arquitetura contempornea paraibana. 1990-2002 30

    Exemplo: pilares, vigas e lajes em ao.

    Depois de vrios estudos, anlises e tentativas de classificao das quarenta

    obras escolhidas, baseando-se nos trs pontos acima listados, chegamos aos sete grupos

    listados abaixo:

    Grupo 01 (Classificao Corpo) elementos metlicos no estruturais e

    decorativos no corpo da edificao apostos a fachada: Cinep, Condomnio Unimed,

    Amarelinho, Academia de Ginstica Moby Dick, 3D Som, House & Design, Complexo

    Judicirio Desembargador Marcos Souto.

    Grupo 02 - (Classificao Corpo) elementos metlicos no estruturais no corpo

    da edificao de funo mista (revestimento e decorao): Vasp, Cartrio Carlos Ulisses,

    Consultoria Prodem e Dancing Bar Zodaco.

    Grupo 03 (Classificao Cabea) elementos metlicos na cobertura (cabea) de

    arranjos estruturais planos11, que geram formas de cobertas movimentadas, curvas ou

    retilneas: Mveis J. Carlos, Pronto Socorro de Fraturas de Mangabeira, Anexo do Sistema

    Correio, Lavanderia Bela Vista, Parque Aqutico Irmo Jlio no Colgio Pio X, Loja Stiluz,

    Loja Moroni-Bertolini e Telemar.

    Grupo 04 - (Classificao Cabea) elementos metlicos estruturais ocultos na

    cobertura (cabea): Loja de Automveis Braz Motors, Fiori (antiga Autovesa), Kia

    Automveis, Sacolo Casa Tudo, Vitrine de Manara.

    Grupo 05 - (Classificao Cabea) elementos metlicos estruturais aparentes na

    cobertura (cabea): Loja de Automveis Honda, Loja de Automveis Cavalcante Primo,

    Casa de Recepes Bella Casa, Revendedora de Veculos Via Norte, Mercado Hort/Frut de

    Tamba e Loja de Tecidos Verona.

    Grupo 06 - (Classificao Cabea) elementos metlicos em arranjos estruturais

    espaciais na cobertura (cabea): Banco do Nordeste, Hospital de Traumas Senador

    Humberto Lucena, Fundao FUNAD, Padaria Vitria, Loja de Motos Honda e Loja de

    Automveis Promac.

    Grupo 07 - (Classificao Esqueleto) elementos metlicos na soluo estrutural da

    edificao como um todo (esqueleto): MAG Shopping, Loja Cleumy Desing, Loja de

    Automveis NISSAN e Loja de Mveis Ornato.

    Definidos os sete grupos que renem casos similares decidimos realizar a anlise

    em duas etapas: a) em uma primeira etapa trataremos das caractersticas de cada grupo

    11 Havia um grupo similar a este que foi eliminado porque no acrescentava muita informao no computo total

  • Captulo 1 ___________________________________________________________________ Procedimentos metodolgicos

    O metal na arquitetura contempornea paraibana. 1990-2002 31

    em uma exposio mais geral; b) em uma segunda etapa procederemos a uma anlise

    mais aprofundada da obra considerada a mais representativa de cada grupo que ser

    apreciada e ilustrada em seus detalhes e especificidades.

    As obras escolhidas para esta segunda etapa foram: 1. Complexo Judicirio

    Marcos Antnio Souto Maior; 2. Cartrio Carlos Ulisses; 3. Pronto Socorro de Fraturas de

    Mangabeira; 4. Braz Motors Automveis; 5. Automveis Honda; 6. FUNAD; 7. Loja de

    Automveis NISSAN.

    A classificao baseou-se nos tipos construtivos12 existentes na cidade, nos

    elementos arquitetnicos13 e nos elementos de composio14. O quadro 2, na pgina

    seguinte, apresenta as 40 obras agrupadas nos 07 grupos e os respectivos autores e anos

    de construo:

    12 Apesar de complexo e polmico, o conceito de tipo adotado o de ARGAN (apud STRETER, 2001) que expe de forma pragmtica que agrupamentos podem ser feitos por tipos funcionais, estruturais, esquemas formais, formas ornamentais, entre outros, no tendo juzo de valor nem de definio histrica: O tipo se configura assim, como um esquema deduzido mediante um processo de reduo de um conjunto de variantes a uma forma-base ou esquema comum. O tipo uma organizao do espao e de pr figurao da forma e em conseqncia de refere sempre a uma concepo histrica do espao e da forma, ainda que se admita que tais concepes mudem com o desenvolvimento histrico da cultura.13 ... So coisas concretas, tm natureza definida, so encontrados nos livros dos tratadistas. Transladados para o campo da arquitetura moderna so coisas verdadeiras: janelas que se compram, portas standard, artefatos. (MARTINEZ, 2000: 129) 14

    Elementos de composio so mais como conceitos: ambientes de certas propores, de dimenses

    relativamente definidas, porm sempre, por princpio, longe do grau de definio que tm naturalmente os Elementos de Arquitetura. (MARTINEZ, 2000: 129)

  • Captulo 1 ___________________________________________________________________ Procedimentos metodolgicos

    O metal na arquitetura contempornea paraibana. 1990-2002 32

    Quadro 2 Classificao das 40 obras em 7 grupos

    1.1. CINEP (2003) Projeto Geral: arquiteta Jussara Maria Cavalcanti de Arajo (PB). Projeto dos componentes metlicos: arquiteta Sandra Moura (PB). 1.2. UNIMED Condomnio Unimed Norte/ Nordeste (2000) Projeto: arquiteta Katharina Ayres de Moura Macedo. 1.3. Loja o Amerelinho (2002) Projeto: arquiteta Gorete Chaves (PE). 1.4. Antiga academia de Ginstica Moby Dick (2001) Projeto: (?) 1.5. Loja e Equipadora 3D Som (2000) Projeto: arquiteta ris Amorim. 1.6. Loja House & Design (2002) Projeto: arquiteta Betnia Tejo.

    Grupo 0