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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE BELO HORIZONTE – UNIBH Graduação em Relações Internacionais O MEIO AMBIENTE NAS DISCUSSÕES DE SEGURANÇA: O DESMATAMENTO NA FLORESTA AMAZÔNICA LEGAL Sílvia Guiomar Santos Vieira Belo Horizonte 2006

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CENTRO UNIVERSITÁRIO DE BELO HORIZONTE – UNIBHGraduação em Relações Internacionais

O MEIO AMBIENTE NAS DISCUSSÕES DE SEGURANÇA:O DESMATAMENTO NA FLORESTA AMAZÔNICA LEGAL

Sílvia Guiomar Santos Vieira

Belo Horizonte2006

O MEIO AMBIENTE NAS DISCUSSÕES DE SEGURANÇA: O DESMATAMENTO NA FLORESTA AMAZÔNICA LEGAL

Silvia Guiomar Santos VieiraMonografia apresentada ao Curso de Relações Internacionais, do Departamento de Ciências Políticas e Jurídicas e Gerenciais do Centro Universitário de Belo Horizonte – UNI-BH, como requisito parcial para obtenção do título de bacharel em Relações Internacionais.Orientadora: Prof.ª Sylvia Ferreira Marques

Belo Horizonte2006

Centro Universitário de Belo Horizonte – UNIBHGraduação em Relações Internacionais

Monografia intitulada “O meio ambiente nas discussões de segurança: o desmatamento na Floresta Amazônica Legal’”, de autoria da graduanda Sílvia Guiomar Santos Vieira, aprovada pela banca examinadora constituída pelos seguintes professores:

__________________________________________________Profª. Sylvia Ferreira Marques – Orientadora

__________________________________________________Prof. Dawisson Belém Lopes

__________________________________________________Prof. Rafael Oliveira Ávila

__________________________________________________Prof. DANNY ZAHREDDINE

Coordenador do Curso de Relações InternacionaisUNIBH

Belo Horizonte, 06 de Dezembro de 2006.

O ato de agradecer é o reconhecimento da boa vontade com que alguém nos

ajudou de alguma forma em um momento oportuno; por isso quero dizer o meu sincero

muito obrigada a essas pessoas que muito acrescentaram para que este trabalho se

concretizasse:

- aos meus pais e irmãos pela paciência e doação;

- ao Armando pelo carinho e compreensão;

- à Professora Sylvia Marques pela atenção;

- à Maria Alice pela amizade;

- ao meu primo Matheus;

- à Professora Patrícia;

- ao Professor Leonardo Estrela;

- ao Professor Rafael Ávila.

SUMÁRIO

Introdução...................................................................................................................04

Capítulo 1 – O Meio Ambiente nos Estudos de Segurança.......................................09

1.1 - Perspectivas teóricas realistas nos Estudos de Segurança......................12

1.1.1 - A visão tradicional..............................................................................12

1.1.2 - A visão moderna................................................................................16

Capítulo 2 – Meio Ambiente como questão de Segurança........................................26

2.1 - As unidades envolvidas no processo de securitização ambiental.............32

2.2 - Securitização e os Complexos de segurança no setor ambiental.............36

Capítulo 3 – Amazônia: Análise do processo de securitização e da teoria de

complexo de segurança.............................................................................................42

3.1 - Causas e Efeitos do Desmatamento na Floresta Amazônica Legal: a teoria

de complexo de segurança e o processo de securitização................................45

3.1.1 - Causas...............................................................................................45

3.1.2 - Efeitos................................................................................................55

Conclusão...................................................................................................................70

Referências Bibliográficas..........................................................................................74

INTRODUÇÃO

SEGURANÇA AMBIENTAL

O despertar para os problemas ambientais ocorreu nos anos 1970 quando os

homens, principalmente cientistas, perceberam que as atividades humanas causavam

impactos na natureza, impactos que em grande maioria prejudicavam o meio ambiente

trazendo implicações para a vida do homem. Porém, os alertas dos cientistas para as

conseqüências da exploração descomedida não foram suficientes para romper o dilema do

desenvolvimento, o qual países em ascensão lutavam para conseguir crescimento, mesmo

que isso significasse a depredação ambiental muitas vezes insustentável.

Além da questão do desenvolvimento, o mundo estava assolado pela Guerra

Fria, que trazia consigo a ameaça de uma guerra nuclear, por isso todos os países, embora

não na mesma intensidade, se preocupavam com cada passo que as grandes potências,

Estados Unidos (EUA) e União Soviética, avançavam nesse conflito virtual.1 Somente com o

fim da neurose nuclear com o término da Guerra Fria que outras questões, como a

ambiental, ganharam espaço nas agendas de segurança, quando essa deixou de ser uma

preocupação acerca da sobrevivência do Estado e passou a ser sobre a sobrevivência da

coletividade humana.2

Essa idéia encontra opositores, como o teórico realista ofensivo John J.

Mearsheimer e o realista estruturalista Kenneth N. Waltz que defendem a sobrevivência

como o maior interesse do Estado e, portanto, essa deve ser a única preocupação dos

estudos de segurança.3 Isso implica que o setor militar e político são preponderantes

quando o assunto é segurança. Teóricos que seguem essa linha são classificados como

1 Combate virtual ocorre quando o oponente antecipa, em sua mente, o combate e opta por não travá-lo (Clausewitz, 1996).2 Buzan apud. Ostrauskaite , 2001.3 Mearsheimer defende que as potências estão sempre em busca de poder e, portanto adotam uma postura ofensiva no intuito de mudarem de posição na hierarquia mundial, ao contrário de Waltz que acredita que as potências tendem a manter o status quo (Cf. Baylis & Smith, 2004).

4

tradicionalistas. Esse trabalho pressupõe a idéia de uma agenda de segurança que vai além

da questão político – militar, portanto, faz um estudo acerca da segurança tendo como

suporte teórico autores considerados modernos que entendem que o termo segurança deve

ser expandido para abarcar ameaças não militares.

Os autores modernos não atingiram um consenso acerca dos setores que

devem fazer parte dos estudos de segurança. Existe, inclusive, uma longa discussão a

respeito da inclusão do setor ambiental aos estudos de segurança.4 Esse debate se volta à

idéia de que tratar de segurança ambiental pode gerar entraves para solucionar as diversas

problemáticas relativas a esse setor. Porém as conseqüências da degradação ambiental

estão sendo sentidas no mundo todo, gerando inclusive controvérsias nas políticas

nacionais e internacionais, uma vez que as atividades e até mesmo a vida humana ficam

vulneráveis, por exemplo, diante do aquecimento global gerando mudanças climáticas como

os furacões Katrina e Rita que assolaram os EUA5 e devastou o sul estadunidense,

respectivamente em agosto e setembro de 2005. Acidentes ambientais como esses

demandam medidas emergenciais de urgência. Então por que não tratar o meio ambiente

como questão de segurança no intuito de evitar seus efeitos devassadores e de tomar

medidas imediatas para aqueles efeitos que já estão sendo sentidos?

O trabalho tem como embasamento teórico autores que incluem o setor

ambiental nos estudos de segurança. Dentre esses autores, Barry Buzan, Ole Wæver &

Jaap de Wilde (1998) propõem um método de análise o qual permite entender quando e

como o meio ambiente é tratado no âmbito da segurança. No capítulo 1 são expostos os

principais aspectos da teoria de Buzan et. al. (1998), no qual a perspectiva tradicional

também é apresentada para efeito comparativo, no intuito de permitir uma melhor

compreensão da abordagem moderna. E, o estudo de segurança empregando o meio

ambiente e da Floresta Amazônica caracteriza os capítulos subseqüentes.

4 Cf. Buzan et. al., 1998; Porter, 1995; Laurie, et. al, 1996; Levy, 1995; Homer-Dixon, 1991; Mathews, 1989; Græger, 1996; Ostrauskaite, 20015 O furacão Katrina atingiu os EUA no dia 29 de agosto de 2005 e o furacão Rita em 24 de setembro de 2005 (Folha Online, notícias dos dias 29 de agosto e 28 de setembro de 2005).

5

Vale ressaltar que, dois aspectos se destacam na proposta de Buzan et. al.,

(1998), para o desenvolvimento deste trabalho: a teoria de complexo de segurança e o

processo de securitização. De fato, esse trabalho faz uso da teoria de complexo de

segurança se concentrando em um único setor, o ambiental. Para uma melhor construção

da agenda internacional de segurança no que diz respeito ao setor ambiental, o capítulo 2

busca responder às seguintes questões: quais são os atores predominantes desse setor?,

qual a lógica operacional das vulnerabilidades e ameaças dentro do setor? e como a

dinâmica do setor é dividia entre as escalas local, regional e global?6

A busca para a resposta a essas perguntas se dá a partir do isolamento do

setor ambiental, o que provê um direcionamento da análise de segurança bastante

específico. Assim, é possível a perceber como o meio ambiente é tratado dentro do estudo

de segurança a partir do método proposto por Buzan et. al. (1998), visualizando alguns dos

objetos de referência, atores securitizadores7 e como se desenvolve um complexo de

segurança a partir das preocupações de segurança em comum às unidades que integram o

complexo nesse setor.

Por ser um setor muito abrangente que permite a percepção de vários

possíveis objetos de referência em todo o mundo, o trabalho foca o estudo de segurança

ambiental se voltando, no capítulo 3, para a questão ambiental da maior floresta tropical do

mundo: A Floresta Amazônica.

Nesse capítulo, o estudo de caso acerca da Floresta Amazônica Legal8

inserida no contexto da teoria de complexo de segurança e do processo de securitização

definidos por Buzan et. al. (1998), terá como foco as ações brasileiras para o

desmatamento, uma vez que esse é o maior responsável pelos problemas que causam

ameaças à vida humana, animal e vegetal nos níveis local e regional e contribui em grande

6 Perguntas propostas por Buzan et. a.l (1998, p. 19), para a construção de uma agenda de segurança internacional mais abrangente.7 Unidades que Buzan et. al., (1998) destacam no processo de securitzação.8 A Amazônia Legal “(...) inclui além dos seis estados da região norte, a faixa do estado de Mato Grosso ao norte do paralelo 16ºS, o atual estado de Tocantins (...) e a região a oeste do meridiano 44ºO do Maranhão. Atualmente, com o novo estado de Tocantins, e considerando-se o estado de Mato Grosso, são 5,1 milhões de km2 e representa 59,78% do território nacional” (Meirelles Filho, 2004:27).

6

escala em alterações ambientais em nível global.9 O desmatamento é estudado a partir de 3

atividades humanas que são consideradas por Meirelles Filho, (2004) como as principais

causadoras do desmatamento, a saber: pecuária bovina extensiva, exploração madeireira

predatória e colonizações públicas e privadas. São estudados também os efeitos que o

desmatamento causado por essas atividades geram no âmbito local, regional e global. Essa

análise é fundamental para verificar a existência de complexos de segurança, a

configuração que adotam (se comprovada a existência dos mesmos), e a possibilidade de

securitização.

É importante ressaltar, que mesmo dando ênfase ao aspecto brasileiro em

relação ao desmatamento da Floresta, o relacionamento com outros países é importante, já

que as medidas tomadas para a questão podem influenciar fortemente os vizinhos que

possuem a Floresta em seu território, outros países e atores que são influenciados pelas

causas e efeitos do desmatamento.

Segurança é sobre relacionamento. Falar sobre a segurança de um ator

isolado não acrescenta muito conhecimento aos estudos de segurança10. Portanto, esse

trabalho tem embasamento teórico do campo das relações internacionais. A Floresta

Amazônica é um complexo bioma11 que envolve nove países e em todos eles a floresta sofre

com as atividades humanas realizadas de forma insustentável levando à sua depredação e

conseqüentemente afetando todos os organismos que dela dependem. Envolve também

uma série de entidades de pesquisa, Organizações Não Governamentais (ONG’s) e

Organizações Internacionais.12 Esses atores demandam esforços para investigar as

questões ambientais no intuito de desenvolver soluções que viabilizem as atividades

9 Emissão de gases que causam o aquecimento global; grande perda da biodiversidade muitas vezes única; depredação da camada de ozônio pela liberação de aerossol; entre outros (Meirelles Filho, 2004).10 Buzan et. al. 1998.11 Conjunto de seres vivos de uma área (Ferreira, 1986).12 World Wildlife Fund - WWF; GreenPeace; Instituto do Homem Meio Ambiente da Amazônia – IMAZON; Instituto de Permacultura da Amazônia; Fundação AVINA; Instituto Peabiru; Ecoamazon; Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola - IMAFLORA; The Nature Conservancy do Brasil; SOS Amazônia; Instituto Brasileiro de Educação em Negócios Sustentavéis – IBENS; Coordinadora de las Organizaciones Indigenas de la Cuenca Amazônica – COICA, ONU, entre outras.

7

humanas, mesmo que elas causem impacto no meio ambiente, porém de forma que esse

não perca sua capacidade de renovação.

Portanto, o objetivo desse trabalho é averiguar, através do estudo de caso, se

existe um complexo de segurança no que concerne às ameaças decorrentes do

desmatamento e se existente, verificar se ele se encontra no nível local, regional ou global.

Outro objetivo é perceber se algum aspecto (causa ou efeito) do desmatamento na floresta

foi securitizado e por quais atores partiu essa iniciativa, e principalmente, examinar se a

securitização é produtiva, no sentido de trazer resultados que minimizam as agressões à

Floresta provindas do desmatamento.

Tentar entender o Meio Ambiente como parte das discussões de

segurança se torna interessante do ponto de vista brasileiro, uma vez que o Brasil é

possuidor da maior floresta tropical remanescente do mundo, dona de uma riqueza

em biodiversidade que desperta o interesse em vários atores internacionais.13 Um

estudo nessa direção aponta para um caminho no qual o país pode aprimorar e

perceber o potencial Amazônico para ganhos políticos para sua população e para

elaboração de políticas internacionais.

13 Meirelles Filho, 2004.

8

1 – O MEIO AMBIENTE NOS ESTUDOS DE SEGURANÇA

O movimento ambiental (Environmental Movement) surgiu na segunda

metade do século XX como uma movimentação científica, social e política. Seu intuito era

gerar uma preocupação coletiva no que concerne à conservação ambiental pelo

desenvolvimento sustentável14.

Esse não foi um movimento com um marco específico de início, nem mesmo

do local no qual foi estabelecido, é um movimento que decorreu a partir das grandes

destruições que chocaram o mundo inteiro causadas pela Segunda Guerra Mundial, o

movimento surgiu em diferentes lugares em diferentes épocas por diferentes razões 15. Foi a

partir desse movimento que vários estudos e organizações ambientais foram desenvolvidos,

tais como o World Wildlife Fund – WWF (1961), o Greenpeace (1971), o Programa das

Nações Unidas para o Meio Ambiente – PNUMA (1972), entre outros.

Até a década de setenta, o movimento ambiental tinha um aspecto emotivo e

amador, com fortes ligações com o movimento hippie e a propagação do Flower Power,

movimento embebido na ideologia da construção de um mundo igualitário e pacífico, sempre

voltado para a interação harmônica homem e meio ambiente16. Foi na Conferência de

Estocolmo em 1972, com a criação de um programa das Nações Unidas para o meio

ambiente (PNUMA), que o movimento adquiriu uma perspectiva mais global, política e

racional 17.

Ainda que tenha gerado certa mobilização dos governos que convocaram a

conferência de 1972 e que fez surgir uma instituição pertencente à família da Organização

das Nações Unidas criada para lidar com questões ambientais, toda a pressão por parte da

sociedade civil não foi suficiente para alcançar os resultados esperados, ou seja, maior

14 Mais detalhes a este respeito podem ser encontrados em McCormick, 1995.15 Ibid.16 Miles, 2004.17 McCormick, 1995.

9

projeção e preocupação por parte dos Estados na luta e na construção de um mundo

galgado no desenvolvimento sustentável.18

Após a Segunda Guerra Mundial, os países envolvidos no conflito buscavam

a reestruturação dos parques industriais. Houve um grande aumento da poluição, derivados

do crescimento industrial mundial (crescimento anual de 6.2% nos anos sessenta; 3.7% nos

anos setenta; 3% em 2003)19, ocorrência de graves desastres ambientais (Chernobyl,

URSS, 1986; Bhopal, Índia, em 1984), degradação de florestas (aproximadamente 10% da

floresta natural mundial foi perdida entre 1970 e 1995; a perda de Floresta Amazônica foi de

1.98 milhões de hectares ano de 1978 a 1989) 20 e aumento da exploração dos recursos

naturais (30% de ecossistemas naturais foram destruídos entre 1970-1995)21.

Com o advento da Guerra Fria (1945-1989), as questões ambientais ficaram a

cargo, principalmente, de organizações nacionais e internacionais que, na maioria das

vezes, não possuíam ligações com os governos (especialmente ONG’s). Isso porque o

mundo vivia à sombra de uma iminente guerra nuclear. Atentos aos movimentos dos

gigantes empenhados na corrida armamentista, a grande maioria dos países se preocupava,

principalmente, com aspectos militares e políticos, já que qualquer ação vinda das grandes

potências significava, de alguma forma, implicações nas políticas desses países. Inclusive, a

União Soviética e os países do leste boicotaram a Conferência de Estocolmo (1972) em

protesto ao não credenciamento da Alemanha Oriental para essa reunião. Por sua vez, os

EUA tiveram uma presença pouco marcante por temer uma condenação em função do uso

de produtos químicos na guerra do Vietnã que devastavam a flora local (agente laranja).22

Ainda, as recessões econômicas derivadas das crises do petróleo na década

de 1970 (primeira em 1973-74 e segunda em 1979-80), e as diferenças norte-sul referentes

18 Le Prestre, 2000.19 UNIDO Secretariat, 1995.20 WWF - Living Planet Report, 1999; Laurance et. al., 2002.21 WWF - Living Planet Report, 1999.22 Le Prestre, 2000.

10

a desenvolvimento industrial, desviaram as atenções dos governantes para o setor

econômico23.

Preocupada com as questões econômicas internacionais, com as tensões Leste-Oeste e com o controle dos armamentos, decepcionada pela ausência aparente de impacto das conferências mundiais, nas condições de falta de uma direção firme de certos Estados – em particular dos EUA -, a comunidade internacional parecia afastar-se das preocupações ambientalistas da década anterior [1960] (Le Prestre, 2000:182).

Até o fim da Guerra Fria, meio ambiente não era tratado como questão de

segurança, ele não se enquadrava nas pautas da agenda internacional no que diz a esse

respeito. Foi a partir da década de noventa que discussões que propunham uma abertura da

agenda dos estudos de segurança para outros setores, começaram a ganhar força24, fato

explicado pela drástica redução da neurose nuclear com o fim da Guerra Fria.

Antes de prosseguir para a proposta moderna sobre os estudo de segurança,

uma análise anterior do próprio conceito de segurança torna-se necessária. O conceito

segurança é tradicionalmente considerado a principal preocupação de um Estado. Para a

corrente tradicional, “[os Estados] são o ‘padrão universal de legitimidade política’ não

havendo nenhuma autoridade superior para regular suas relações. Isso significa que

segurança tem sido a obrigação primária dos governos dos Estados”. (Baylis; & Smith.

2004:302, tradução livre)25.

A maximização de poder relativo em relação aos outros e o conseqüente

ganho de força dentro da balança de poder pode assegurar um Estado contra ameaças a

sua sobrevivência. A segurança é obtida através de medidas de proteção, contra aquilo que

representa uma ameaça26. A partir dessa definição surgem questionamentos quando

voltamos esse conceito para as Relações Internacionais. O que se configura como ameaça

para os Estados?

23 Os países em desenvolvimento participantes da Conferência [de Estocolmo] exigiram que princípios estabelecidos na reunião asseverassem que o desenvolvimento econômico é uma precondição para a melhoria da qualidade de vida e um remédio para a degradação do meio ambiente (Le Prestre, 2000).24 Buzan et al., 1998.25 Exposição de Baylis; & Smith, (2004) sobre a corrente Neorealista.26 Cf. Mearsheimer, 2001; Buzan et. al, 1998; Cepik, 2001.

11

Existem dois seguimentos teóricos que respondem essa pergunta. O primeiro,

primariamente tratado acima, segue uma abordagem tradicional na qual segurança gira em

torno do Estado. Ou seja, da segurança nacional que leva o governo a adotar medidas

contra aquilo que agride a soberania estatal ou que se apresenta como uma ameaça militar.

Essa linha de pensamento teve durante a Guerra Fria grande respaldo para

seus argumentos, afinal, parte significante do mundo vivia sob os tentáculos das grandes

potências, na iminência de uma guerra nuclear, em um ambiente repleto de conflitos que

envolviam questões relativas à maximização de poder das grandes potências, por exemplo,

a guerra nas Coréias (1950-1953) e no Vietnã (1964-1975).

Walt explica bem o pensamento dos tradicionalistas ao afirmar que “os

estudos sobre segurança giram em torno do fenômeno guerra, e pode ser definido como, o

estudo das ameaças, uso e controle de forças militares” (Walt apud. Buzan et al., 1998:3,

tradução livre).

As novas questões advindas da dilatação da agenda de segurança deram

base para o segundo seguimento teórico, o da segurança humana. Esse viés teórico se

afasta da idéia estatocêntrica, e defende que tudo aquilo que é posto como uma ameaça a

vida humana pode se tornar uma questão de segurança27.

1.1 PERSPECTIVAS TEÓRICAS REALISTAS NOS ESTUDOS DE SEGURANÇA

A visão tradicional

A primeira linha de pensamento, exposta acima, está voltada para as

questões de poder, portanto, defende uma abordagem mais restrita dos estudos de

segurança. Essa tendência tem como importante autor John J. Mearsheimer, que em sua

obra The Tragedy of Great Power Politics (2001), expõem sua inclinação tradicionalista ao

27 Cf. Buzan et. al., 1998; Brown(1977); Mathews (1989); Porter (1995); Laurie, et. al (1996); Ullman (1983); Westing ( 1986); Baylis (2004).

12

desenvolver a teoria do realismo ofensivo, descrevendo o poder como o motor propulsor das

ações dos Estados. 28

O autor desenvolve sua teoria a partir do entendimento que o sistema

internacional é anárquico e, dessa forma, os Estados atuam em buscam da própria

proteção. Por isso o sistema internacional se configura a partir da auto-ajuda (self help),

onde cada Estado age em prol de interesses próprios, e sua segurança depende da

capacidade que cada um tem de proteger-se e garantir a própria sobrevivência.29 É a

coexistência entre os Estados racionais, que pode levar a modificações na estrutura e

organização desse sistema, tendo como conseqüência novos arranjos na escala de poder.

O Poder é explicado por Mearsheimer, (2001), a partir de uma analogia com o

mundo econômico, considerando-o a moeda das grandes nações. “O que o dinheiro é para

a economia, o poder é para as relações internacionais” (Mearsheimer, 2001:12, tradução

livre). A posição que os Estados ocupam vis-à-vis outros na estrutura do sistema

internacional é determinada pelo poder que cada um controla. Portanto, os Estados estão

constantemente em busca da maximização de poder.

Como conseqüência dessa incessante busca inserida nos contexto de auto-

ajuda, as grandes potências temem umas as outras30, esse temor só faz aumentar o zelo

que as potencias têm por sua sobrevivência, o que pode levá-las a tomar ações ofensivas.

A garantia da sobrevivência dos Estados está no alcance da hegemonia, ou

seja, se tornar a única grande potência do sistema. Para alcançar tal objetivo os Estados

devem variar a balança de poder em seu favor, valendo-se de diversas ações, deixando um

clima de desconfiança, o que pode gerar atitudes hostis. “Os Estados empregam uma

variedade de meios – econômicos, diplomáticos e militares - para mudar a balança de poder

28 Os autores da corrente neorealista baseiam seus estudos na estrutura do Sistema Internacional. Eles defendem que a anarquia existente nesse sistema gera aspectos que leva a uma perspectiva pessimista acerca dos estudos das Relações Internacionais. A insegurança a respeito das ações dos Estados, a certeza de que todos possuem poderio militar, são alguns desses aspectos. A corrente neorealista se divide em dois segmentos, o realismo ofensivo, defendido por Mearsheimer, que acredita que todos os Estados agem ofensivamente no intuito de desbalancear a distribuição de poder em seu favor; e o realismo defensivo, que tem Waltz como representante, defendendo que os Estados primam pela manutenção do status quo. (Baylis; & Smith, 2004).29 Baylis, 2004.30 Mearsheimer, (2001) restringe-se às grandes potências por considerá-las responsáveis pelas modificações significativas na estrutura do sistema internacional.

13

em seu favor, mesmo que isso cause desconfiança ou ações hostis por parte de outros

Estados” (Mearsheimer, 2001:34, tradução livre).

A hegemonia é garantia de sobrevivência porque os Estados agem

racionalmente, ou seja, analisam os custos e os benefícios de cada ação pretendida,

portanto, se os custos de uma mudança na balança de poder for muito alto, os Estados

esperarão por uma situação mais favorável para agir. “Às vezes, os custos e riscos na

tentativa de variar a balança de poder são muito altos, forçando as grandes potências

aguardar por circunstâncias mais favoráveis” (Mearsheimer, 2001:2, tradução livre).

Um Estado tomará ações para desbalancear a estrutura de poder quando

possuir capacidade para produzir constrangimentos dentro do sistema internacional

modificando-o em detrimento próprio. Essa capacidade é determinada pelo poder latente e

poder militar que um Estado controla, ambas as formas de poder estão baseadas em

“capacidades” (capabilities) materiais específicas que ele domina. Os conceitos dessas

formas de poder estão diretamente relacionados, porém derivam de bases diferentes.31

Mearsheimer, (2001) argumenta que, o poder latente é referente aos

aspectos sociais e econômicos que tornam possível a formação do poder militar. Embora

exista uma série de fatores que se encaixam nesses aspectos, é basicamente a riqueza e o

tamanho da população que constroem a força militar.

As grandes potências sempre prestam atenção no poder latente dos outros

Estados, isso porque riqueza e grande população podem significar, no futuro, uma força

militar extraordinária. Um exemplo é a China que, apesar de não possuir um exército bem

estruturado e equipado32, possui um enorme potencial de construir o maior exército do

planeta33, o que lhe permitiria desafiar as grandes potências estabelecidas e modificar a

balança de poder de forma a favorecê-la.

31 Mearsheimer, 2001.32 De acordo com a CIA (2005), a China contava no ano de 2005 com um efetivo de 550.265.789 homens, no mesmo ano, seus gastos militares compreendiam a soma de US$81.48 bilhões; e os EUA contavam em 2005 com um efetivo de 109.305.756 homens, no mesmo ano seus gastos militares compreendiam a soma de US$518.1 bilhões (dados estimados).33 De acordo com a CIA (2006) a população chinesa é de 1.313.973.713.

14

A hierarquia dentro da balança de poder, não é definida somente pelo nível

de riqueza de determinado Estado, deve ser considerada a conversibilidade dessa riqueza

para a força militar, assim como a eficiência dessa conversão.

‘Riqueza mobilizável’ (mobilizable wealth) se refere aos recursos econômicos que um Estado tem a disposição para construir a força militar. É mais importante do que a riqueza total do país, porque o que importa não é a quantidade de riqueza que um Estado possa ter, mas qual a parte dela está disponível para gastos com defesa (Mearsheimer, 2001:62, tradução livre).

É importante ressaltar que existem ainda fatores intangíveis que compõem o

poder latente, condições climáticas, estratégia, inteligência, decisões, doença, entre outros

fatores, fazem parte dos recursos não materiais que podem favorecer significativamente um

Estado em disputas por poder34.

Para Mearsheimer, (2001) ,

o poder militar é baseado, basicamente, no tamanho e na força do exército de um país e das suas forças de suporte, aérea e naval. Mesmo em um mundo nuclear, o exército é o principal ingrediente para o poder militar. (...) Os Estados mais poderosos são aqueles que possuem as mais formidáveis forças de terra (Mearsheimer, 2001:62, tradução livre).

Para Mearsheimer (2001), a determinação da posição que um Estado ocupa

na balança de poder é tida a partir da análise dos diferentes tipos de força militar (exército,

marinha e aeronáutica) que ele constrói, sendo o exército a força dominante entre as

esferas militares, são os melhores exércitos que vencem as guerras, já que são esses que

tomam e conquistam o território adversário.

As forças naval e aérea independentes não conquistam território, e nem são muito boas, sozinhas, em coagir outros Estados a fazerem concessões territoriais. Eles com certeza podem contribuir para uma campanha militar vitoriosa, mas as guerras entre grandes potências são vencidas no solo (Mearsheimer, 2001:62, tradução livre).

O poder militar também possui uma dimensão intangível, que é o poder

parador das águas. Esse poder traz importantes conseqüências para a discussão de

hegemonia, porque grandes extensões de água tornam impossível a predominância de uma

34 Mearsheimer, 2001, p.58.

15

única potência global35. “Nem mesmo o Estado mais poderoso do mundo pode conquistar

regiões distantes que somente podem ser alcançadas por navios” (Mearsheimer, 2001:84,

tradução livre).

Por ser um teórico realista com uma visão tradicionalista, as formas de poder

apresentadas na teoria ofensiva de Mearsheimer (2001) são estatocentricas e estão

diretamente relacionadas às questões militares. Seu trabalho desconsidera a existência de

outros atores e setores importantes para os estudos de segurança, como o meio ambiente.

A segunda linhagem de pensamento no campo dos estudos de segurança difere do

pensamento tradicionalista justamente por apresentar uma proposta na qual a agenda de

segurança abrange um leque maior de questões incluindo em sua analise problemáticas

ambientais.

A visão moderna

Barry Buzan, Ole Wæver & Jaap de Wilde (1998), propõem uma estrutura

para análise dos estudos de segurança para ser empregado no entendimento do conceito

amplo. Ou seja, são autores que adotam a visão moderna nos estudos de segurança.36

Essa perspectiva tem sua origem a partir dos anos 1970, devido a

insatisfação da limitação dos estudos de segurança impostos pela situação histórica daquele

momento: a Guerra Fria e a conseqüente iminência de uma guerra nuclear. As questões

econômicas e ambientais foram as primeiras a ganharem espaço na agenda internacional,

muito devido as crises do petróleo nos anos 1970 e aos grandes acidentes nucleares, já

mencionados. Com o fim da Guerra Fria, esse método ganhou mais força, inclusive críticos

dessa perspectiva começaram a esboçar uma certa concordância com a idéia de se atentar

para outras questões que não a militar nos conflitos internacionais. 37

Aumentar a abrangência da agenda de segurança pode criar efeitos

improdutivos nas medidas a serem adotadas contra aquilo que representa uma ameaça 35 Mearsheimer, 2001.36 Baylis; & Smith, (2004), sugerem as seguintes perspectivas de segurança internacional: realistas tradicionais/clássicos e neo-realistas contemporâneos.37 Buzan et. al., 1998.

16

(contramedidas), porque agora, o leque de ameaças também se expande. Quando uma

questão está na pauta de segurança, ela se torna um problema para os Estados, assim, os

governos teriam grandes responsabilidades para lidar, podendo adotar medidas preventivas

além das realmente necessárias, já que questões existenciais demandam ações

emergenciais. 38

Buzan et. al. (1998), apresenta seu estudo de redefinição de segurança a

partir da divisão de setores (político, militar, econômico, ambiental e societal), esse trabalho

é feito sem desconsiderar os setores tradicionais. A forma usada pelos autores para

compreender os setores é separando-os para, depois de analisados individualmente, serem

reintegrados para que se possa entender a interação existente entre eles. É importante

ressaltar que eles somente são analisados separadamente para facilitar a analise da teoria

de complexo de segurança e os processos de securitização.

A idéia dos autores para que a estrutura de análise incorporasse os dois

seguimentos teóricos, o tradicionalista e o moderno, foi manter a agenda de segurança

aberta para os diferentes tipos de ameaças. Esse método é adotado mesmo atentando-se

para a idéia de que essa abertura pode gerar incoerência nas políticas de segurança, isso

ocorre porque os autores acreditam que não é limitando a análise de segurança somente

aos setores econômico e político que essa incoerência será sanada.

Levamos a sério a queixa feita pelos tradicionalistas sobre a incoerência intelectual, mas discordamos que recuar a análise ao núcleo militar é o único ou o melhor caminho para lidar com tal incoerência. Nós procuramos encontrar coerência não pelo confinamento da segurança ao setor militar, mas explorando a lógica da segurança em si para encontrar o que diferencia segurança e os processos de securitização daqueles que são meramente políticos (Buzan et. al., 1998:4-5).

A construção do método de análise apresentado por Buzan et. al. (1998), é

feita através do processo de securitização e da teoria do complexo de segurança, ou seja,

são as bases pelas quais se faz possível analisar uma problemática específica e constatar

se ela se enquadra na agenda de segurança.

i. Processo de Securitização

38 Buzan et. al., 1998.

17

Para compreender os processos de segurança, é imprescindível uma

definição de segurança internacional para os autores modernos. Buzan et. al.(1998:21)

buscam essa definição no entendimento tradicional político-militar: “Segurança é sobre

sobrevivência. É quando um problema é apresentado por um objeto de referencia (referent

object) sofrer ameaça existencial”. Wæver (1998) deixa claro que segurança não é a

ausência de ameaças, na verdade “segurança significa uma situação marcada pela

presença de um problema de segurança o qual medidas já estão sendo tomadas em

resposta” (Wæver apud Lipschutz 1998:54, tradução livre). Quando um objeto de referência

se encontra sob uma ameaça existencial, o uso de medidas excepcionais (ou medidas de

emergência) para lidar com elas se torna justificável.

Ao trasladar esse conceito de segurança internacional para a perspectiva

moderna, o qual adota uma agenda mais distintiva, a cautela se faz necessária para o

entendimento daquilo que se encontra no contexto de ameaça existencial para aquilo que é

próprio do campo político, ou seja, que segue uma série limitações em seu manejo.

Em teoria, qualquer questão pública, nessa visão, pode ser posicionada em

um espectro que se divide em três esferas: (1) questões não políticas, o governo não

interfere por não considerar uma questão que demande debates ou decisões públicas; (2)

questões políticas, fazem parte da política pública e requerem decisões governamentais

para serem solucionadas; e (3) a esfera da securitização, aqui a questão é apresentada

como uma ameaça existencial, o que requer medidas emergenciais, significando a

possibilidade de haver suspensão de regras habituais.39

O estudo de segurança a partir de setores, como o proposto por Buzan et. al.

(1998), pressupõem o entendimento de que a qualidade daquilo que seja “existencial” varia

de setor para setor, diversificando entre sobrevivência de um Estado e de sua soberania, da

identidade cultural de um povo, e até mesmo de uma espécie em extinção, entre outros, isso

dependerá do objeto de referência de cada setor.

39 Buzan et. al., 1998 p.23.

18

Invocar a securitização legitima o uso da força e o uso de qualquer forma de

poder, o que provavelmente não seria possível se a questão se encontrasse em alguma

outra esfera do espectro. Quando um objeto entra na esfera da securitização, o governo

pode fazer uso de qualquer medida para apartar a ameaça, ele pode inclusive ir contra

regras estabelecidas, porque, se a questão não for resolvida imediatamente, pode ser que

ninguém sobreviva para deter a ameaça, ou tarde de mais para reaver aquilo que foi

perdido. 40

Para uma melhor compreensão do processo de securitização, os autores

distinguem três tipos de unidades nele envolvidas, o primeiro são os objetos que estão

sendo apontados como ameaçados existencialmente (objeto de referência); o outro é o ator

que securitiza determinado objeto; e por último está o ator funcional, que influencia na

dinâmica do setor, por exemplo, uma empresa poluidora.

A determinação de um objeto de referência varia, como dito anteriormente, de

setor para setor e também de acordo com o contexto histórico e político, por exemplo, um

grupo social pode simplesmente deixar de existir por questões de evolução da ideologia do

mesmo, uma espécie antes em extinção pode ter saído de perigo e uma outra foi

classificada como tal, e assim por diante.

A securitização é algo construído, porque o que define que uma questão deve

ser tratada dentro dessa esfera é a aceitação de um discurso que a acusa de padecer de

uma ameaça que custará sua existência. Isso pode significar a não existência de uma

ameaça existencial de fato, mas simplesmente que um grupo, como a elite de um Estado41,

queira fazer uso de medidas não convencionais para lidar com tal situação.42

Ao definir certo desenvolvimento como um problema de segurança, o Estado pode evocar um direito especial, que, em última instância, será sempre definido pelo Estado e suas elites. Tentar impor mudanças políticas indesejáveis a uma elite governante é similar a jogar um jogo no qual seu oponente pode mudar as regras a qualquer momento que lhe convir.Os detentores de poder podem sempre tentar fazer uso da securitização de um problema para ganhar controle sobre ele. Por definição, algo é um problema

40 Buzan et. al., 1998.41 Wæver, (1998) apresenta uma visão estatocêntrica, e acredita que a elite detentora de poder de um Estado seja a responsável pela determinação daquilo que será securitizado.42 Buzan et. al., 1998.

19

de segurança quando assim a elite o declara (Wæver apud Lipschutz 1998:54, tradução livre).

Feita a exposição do conceito de segurança adotado pelos autores e das

unidades envolvidas no processo de securitização, cabe agora mostrar como o processo se

concretiza. O discurso, que aponta um objeto de referência como vítima de uma ameaça

existencial se configura com um movimento ou ato de securitização, para que se torne

efetivo deve haver a aceitação desse discurso por uma audiência, mesmo que essa

aceitação seja forçada de alguma maneira. Somente é possível a legitimação de medidas

emergenciais se o gesto de securitização for aceito. 43

Os autores identificam a combinação de dois fatores que tornam um discurso

vigoroso, ou seja, as condições que facilitam a securitização, são eles: a linguagem e a

sociedade. O primeiro está relacionado ao uso de jargões específicos de cada setor,

explicitar a ameaça existencial e apontar uma possível solução. O segundo se refere ao ator

securitizador e a necessidade do mesmo estar em posição de autoridade (não

necessariamente oficial), que lhe dará visibilidade e credibilidade ao falar de ameaça

existencial a determinado público.44

Um ato de securitização bem sucedido possui três componentes: ameaças

existenciais, ações emergenciais e efeitos nas relações entre as unidades pelo rompimento

de regras.45 Securitização é uma escolha política, alguns Estados securitizarão a religião,

outro a cultura, algum Estado pode inclusive securitizar objetos referentes a fenômenos

naturais, por exemplo, uma área que será atingida por um furacão, e assim por diante.

Sendo o discurso parte da securitização, os Estados podem determinar o que se caracteriza

como ameaça existencial.46

Existe, nos estudos de segurança, uma longa discussão a respeito da

securitização do meio ambiente e as implicações ambientais para o estudo de segurança,

43 Buzan et. al., 1998. p. 25.44 Buzan et. al., 1998. p. 33.45 Buzan et. al., 1998. p. 26.46 Buzan et. al., 1998.

20

como, esse sendo ou não a causa de conflitos.47 Buzan et. al.(1998) e Ostrauskaite (2001),

mostram como a securitização nesse setor pode inclusive gerar entraves para solucionar as

diversas problemáticas relativas ao meio ambiente, esse ponto será tratado no próximo

capítulo.

Assim sendo, a securitização pode trazer conseqüências na forma como os

governos e instituições agirão em relação uns aos outros, com a possibilidade de ocorrer de

forma diferente caso não houvesse a securitização, gerando, inclusive, ações negativas,

porque o que é questão existencial para um, pode ser uma ofensa para um outro, a forma

como a identidade coletiva e a religião forem securitizadas é um exemplo. Nesse sentido, a

securitização se torna arriscada, podendo ser considerada uma falha dos métodos e normas

já estabelecidos para lidar com certas situações.

A securitização se configura como um processo percorrido para lidar com

aquilo que não foi possível ser tratado com as normas e políticas usuais. Para Buzan et.

al.(1998), esse processo é negativo, portanto, o ideal seria a desecuritização, ou seja, o

restabelecimento das questões para dentro da esfera pública, não mais significando a

adoção de medidas emergenciais em uma seqüência de ameaça e defesa, enquadrando-se

dentro das decisões da esfera pública habitual.48

“As diferentes instâncias do processo de securitização formam nódulos entre

os quais linhas podem ser traçadas e o complexo de segurança mapeado” (Buzan et. al.,

1998:43 tradução livre). Os objetos de referência se configuram como os “pontos”, definindo

assim, os complexos, isso porque eles são aspectos mais básicos, mais duradouros e

proeminentes na securitização do que os atores securitizadores. As linhas são as conexões

entre os dilemas de segurança das unidades partes do complexo de segurança.49

A figura 1 representada um complexo de segurança em função da Floresta

Amazônica, criado a partir da hipótese do desmatamento da Floresta50 ser o objeto de 47 Cf. Buzan et. al., 1998; Porter, 1995; Laurie, et. al, 1996; Levy, 1995; Homer-Dixon, 1991; Mathews, 1989; Græger, 1996; Ostrauskaite, 200148 Buzan et. al., 1998. p. 29.49 Buzan et. al., 1998. p. 43.50 O capítulo 3 é dedicado à análise das causas e efeitos do desmatamento na Floresta Amazônica, uma vez que esse o maior responsável pelos problemas que causam ameaças à vida humana e à Amazônia, em nível local e

21

referência securitizado, pelos governos do Brasil, da Venezuela, da Guiana Francesa e da

Guiana em conjunto com o Green Peace e uma empresa de produtos farmacêuticos. Todos

os atores securitizadores tomam e criam medidas extraordinárias para tratar do assunto. A

Floresta é um bioma que transpõem fronteiras, e nela, saber onde começa e termina um

Estado é algo difícil devido sua densidade, por isso muitas ações serão tomadas em

conjunto no intuito de reduzir o desmatamento à proporções sustentáveis.

ii. Teoria de Complexo de Segurança

Os complexos de segurança são produtos da anarquia internacional, inclusive

os autores os consideram como subsistemas, pequenas anarquias, que possuem estrutura

própria. Essa estrutura, e a dinâmica do complexo de segurança é gerada pela percepção

de segurança e pela interação entre as unidades pertencentes ao mesmo. 51

Esses complexos surgem da idéia da tendência à regionalização e da

interdependência no que diz respeito à segurança. Tendência essa que se manifestou no

fim da Guerra Fria, já que os países que antes se viam divididos entre a influência de duas

grandes potências, inclinaram-se para questões regionais. Como não havia mais lideranças

contribui em grande escala em alterações ambientais, em nível global51 Buzan et. al., 1998. p. 12.

22

Figura 1. – Complexo de Segurança em função do desmatamento da Floresta Amazônica

que geravam grandes distúrbios num nível global, as grandes potências que restaram

começaram a desenvolver-se e maximizar seu poder, agora elas teriam que tomar conta de

suas próprias questões de segurança, e para isso, se reuniram em grupos regionais, como a

União Européia e o NAFTA - North American Free Trade Agreement.

Para os autores, a “segurança regional expressa a soma de seguranças

nacionais, ou preferencialmente, uma constelação particular de interdependência entre um

grupo de unidades (Estados, nações, etc) em relação à segurança” (Buzan et. al., 1998:45,

tradução livre).

Essa idéia se encaixa perfeitamente em complexos de segurança voltados

para as áreas de segurança da visão tradicional, que como Buzan et. al. (1998) colocam, as

ameaças militares e políticas viajam mais rápido em menores distâncias. Porém a abertura

da agenda gera complexos de segurança em nível local, regional e global. Um exemplo são

as preocupações de vários países em torno das ameaças apresentadas pelos efeitos do

desmatamento das florestas tropicais sobre o clima e a certeza de que uma solução que

minimize esses efeitos está na atuação em conjunto dos mesmos, geram um complexo de

segurança de nível global.

Portanto, complexo de segurança está relacionado com a interação de

unidades diante de uma ameaça, quando os atores estão envoltos em uma rede de

segurança gerando interdependência entre essas unidades em relação à ameaça. Buzan et.

al. (1998) colocam que:

Complexo de segurança é uma constelação de preocupações de segurança (...) (Buzan et. al., 1998:43, tradução livre);O critério mais importante [do complexo de segurança] é quais atores estão realmente ligados pelas suas preocupações mútuas de segurança. (Buzan et. al., 1998:17-18. Tradução livre)

Por causa de sua formação a partir da interação de grupos de Estados e

outros atores - como ONG’s, entidades de sociedade civil, organizações internacionais, etc.

- o complexo de segurança possui um papel central nas relações entre seus membros e

23

também nas relações entre aqueles que não fazem parte do complexo. Portanto, são de

grande valia para avaliar e identificar mudanças nos padrões da segurança regional. 52

Buzan et. al. (1998), apresentam três componentes principais dos complexos

de segurança: (1) o arranjo das unidades pertencentes ao complexo e a diferenciação entre

eles; (2) a percepção de segurança dos membros; (3) e a distribuição de poder entre as

principais unidades. Mudanças nos complexos de segurança são comuns e constantes, uma

alteração em um desses componentes demanda uma redefinição do complexo.

Existem duas formas de trabalhar com complexo de segurança, em análises

de segurança, a partir de uma perspectiva mais abrangente: complexo homogêneo e

complexo heterogêneo. Não cabendo aqui diferenciar qual é a melhor forma a ser adotada,

cada uma tem seu mérito, dependendo da forma que se deseja conduzir os estudos de

segurança.53 A abordagem do complexo homogêneo

mantém a suposição ‘clássica’ de que os complexos de segurança são concentrados em setores específicos e, portanto, são compostos por formas específicas de interação entre tipos de unidades similares (rivalidade de poder entre Estados). Essa lógica leva a diferentes tipos de complexos que ocorrem em diferentes setores (Buzan et. al., 1998:16. Tradução livre).

Por sua vez, a abordagem do complexo heterogêneo

abandona a suposição de que complexos de segurança estão trancados em setores específicos. Assume que a lógica regional pode integrar diferentes tipos de atores interagindo entre dois ou mais setores (Ibidem.).

Esse trabalho, foca em um único setor, o ambiental, e para um entendimento

específico da segurança ambiental e o que ela representa para o Brasil - uma vez que no

capítulo 3 será feita uma análise da Floresta Amazônica Legal -, esse estudo é feito

adotando o complexo de segurança homogêneo. Portanto para o estudo do desmatamento

na Floresta Amazônica, esse trabalho considera somente os setor ambiental.

52 Buzan et. al., 1998. p. 12-13.53 O complexo homogêneo possibilita o isolamento de cada setor facilitando a análise da dinâmica e interação entre as unidades de cada um. O complexo heterogêneo possibilita uma análise holística, já que conecta diversos atores entre os setores (Buzan et. al., 1998).

24

Abrir o complexo de segurança para outros setores abarca uma série de

questões. Ameaças podem gerar preocupações num nível global, como a questão do super

aquecimento, ao mesmo tempo que a poluição de um rio pode significar ameaças somente

num nível local, isso é determinado pelo nível o qual a questão é posta.54

A percepção daquilo que se configura uma ameaça é um passo crucial para a

definição dos pontos de interseção entre os atores pertencentes ao complexo de segurança,

que como dito anteriormente, são esses pontos que permitem uma conexão entre as

unidades que levarão ao mapeamento do complexo. A abordagem moderna tem uma

posição construtivista porque defende que a definição de ameaça existencial é algo

construído por um discurso aceito por determinada audiência.

Fazendo uso da teoria do complexo de segurança, e concentrando-se apenas

no setor ambiental, esse trabalho se volta agora para a construção da agenda internacional

de segurança. A construção de uma agenda de segurança internacional mais abrangente, a

partir do método proposto por Buzan et. al. (1998), passa pela identificação dos atores do

setor, da lógica operacional das vulnerabilidades e ameaças, bem como de sua dinâmica

(se é local, regional ou global).

54 Buzan et. al., 1998.

25

2 – MEIO AMBIENTE COMO QUESTÃO DE SEGURANÇA

Para se discutir meio ambiente como questão de segurança faz-se primeiro

necessário definir meio ambiente. De acordo com a Lei Federal Brasileira meio ambiente: é

o conjunto de condições, leis, influências, alterações e interações de ordem física, química e

biológica, que permite, abriga e rege a vida em todas as suas formas (art. 3º, I, da Lei 6.938,

de 31.8.81). Com base na Constituição Federal de 1988, passou-se a entender também que

o meio ambiente divide-se em físico ou natural, cultural, artificial e do trabalho55.

Ainda é possível encontrar no campo acadêmico várias definições para meio

ambiente, sendo algumas limitadas a componentes naturais enquanto outras, mais recentes,

englobam a integração de fatores de ordem física, biológica e sócio econômica56, como o

conceito fornecido pelo dicionário Webster, 1976:

As condições, influências ou forças que envolvem e influem ou modificam: o complexo de fatores climáticos, edáficos e bióticos que atuam sobre um organismo vivo ou uma comunidade ecológica e acaba por determinar sua forma e sua sobrevivência; a agregação das condições sociais e culturais (costumes leis, idioma, religião e organização política e econômica) que influenciam a vida de um indivíduo ou de uma comunidade.(Dicionário Webster, 1976 apud Portal do Meio Ambiente)

O conceito de meio ambiente no âmbito legal quanto no acadêmico é

bastante amplo, permitindo que cada indivíduo abstraia uma interpretação, por isso, é

importante apresentar uma definição mais útil aos estudos de segurança57. Levy, (1995:39),

propõe o seguinte conceito: “questões que envolvem sistemas biológicos ou físicos

55 Meio ambiente natural: Formado pelo solo, a água, o ar, flora , fauna e todos os demais elementos naturais responsáveis pelo equilíbrio dinâmico entre os seres vivos e o meio em que vivem (art.225, caput e §1º da CF ) Meio ambiente cultural: Aquele composto pelo patrimônio histórico, artístico, arqueológico, paisagístico, turístico, científico e pelas sínteses culturais que integram o universo das práticas sociais das relações de intercâmbio entre homem e natureza (art.215 e 216 da CF). Meio ambiente artificial: É o constituído pelo conjunto e edificações, equipamentos, rodovias e demais elementos que formam o espaço urbano construído (art. 21, XX, 182 e segs., art. 225 CF).Meio ambiente do trabalho: É o integrado pelo conjunto de bens, instrumentos e meios, de natureza material e imaterial, em face dos quais o ser humano exerce as atividades laborais (art.200, VIII CF). 56 Cf. Dicionário do Meio ambiente em Portal do Meio Ambiente.57 Para o autor a utilidade está em não tratar o assunto com tanta amplitude, inclusive critica a classificação de Westing’s, no qual, possivelmente toda guerra seria ambiental, e em incluir os sistemas necessários para o suporte da vida humana (Levy, 1995 p. 37-38).

26

caracterizados por gerar respostas ecológicas significantes e por sua importância para a

sustentabilidade da vida humana” (Tradução livre).

O amplo conceito de meio ambiente leva alguns analistas irem contra a idéia

de que esse setor deva ser considerado na construção da agenda de segurança (Deudney,

1990; Levy, 1995) enquanto outros consideram o tema de relevante importância inclusive

podendo influenciar no surgimento de conflitos armados (Homer-Dixon, 1991; Mathews,

1989; Ullman, 1983).

O interesse pelo meio ambiente cresceu no início da década de 1970,

principalmente entre os cientistas. Esse interesse é devido à percepção de alguns fatores,

entre eles o fato de que todas atividades humanas afetam o meio ambiente de um modo ou

de outro, e geralmente para pior.58 Como exposto no capítulo anterior, a tendência de incluir

meio ambiente nas discussões de segurança emergiu após a Guerra Fria, quando as

preocupações em relação a uma guerra nuclear se esvaíram. A partir de então o público em

geral e os políticos passaram a dedicar mais atenção ao meio ambiente.59

O setor ambiental apresenta algumas particularidades em relação aos outros

setores que Buzan et.al (1998), consideram em sua proposta de ampliar a agenda de

segurança, a saber, militar, político, econômico, e relativo à sociedade - societal.

Primeiramente é que, de modo comparativo, a tentativa de securitizar valores dos outros

setores é mais antiga e justamente por isso, já se solidificaram em organizações definidas,

como Estado e nação. Porém as instituições que se estabelecerão a partir das

preocupações ambientais são bastante incertas.60

“(...)Comunidades epistêmicas (epistemic communities), movimentos sociais, departamentos governamentais e organizações internacionais vêm emergindo do discurso ambiental, mas devido às grandes flutuações nesse setor, há a dúvida se essas instituições são apenas o início das ações relacionadas às preocupações ambientais (Buzan et. al., 1998:71, tradução livre).

58 Park, 1997, p. 4.59 Ibid.60 Buzan et. al, 1998.

27

Outro aspecto importante do setor ambiental é a distinção de duas agendas: a

científica e a política, as quais cada uma contribui na formação da outra. Embora ambas

sejam construções sociais elas se encontram em campos de interesse diferentes. A primeira

é sobre avaliação de ameaças que determinam os movimentos de securitização e

desecuritização, já a segunda forma na esfera pública preocupações acerca desses

movimentos. 61

A agenda científica é construída fora do núcleo político principalmente por

cientistas e institutos de pesquisa e se fundamenta basicamente nas ciências naturais. Por

ser construída a partir de questões apontadas por especialistas, a agenda científica dá

suporte à agenda política e aos movimentos de securitização. Esse fato se deve à

dificuldade de avaliar os efeitos cumulativos ambientais e a geração de ameaças no futuro,

sendo os cientistas os mais aptos a fazerem prognósticos nesse setor.62

Buzan et. al., (1998), atribui grande responsabilidade às “comunidades

espistêmicas” pela busca de legitimação da agenda política a partir da agenda científica.

Essas são comunidades que buscam a verdade, buscam informações no intuito de reduzir

as incertezas dos cidadãos e Estados diante da complexidade do sistema internacional. Em

sua maioria são transnacionais e por isso são capazes de adquirir conhecimentos que não

são adquiridos facilmente por departamentos governamentais.

A agenda política é para Buzan et. al,(1998:72). “(...) essencialmente

governamental e intergovernamental. Consiste no processo de decisões de políticas

públicas que indica ou decida como lidar com as preocupações ambientais. Essa agenda

reflete os graus de politização e securitização” (tradução livre).

Ainda:

(...) a agenda política é sobre três áreas: (i) a consciência pública e governamental de questões que se encontram na agenda científica; (ii) a aceitação da responsabilidade política de lidar com essas questões; (iii) as questões de gerenciamento político que surgem: problemas de cooperação internacional e institucionalização. (Buzan et.al., 1998:72, tradução livre)

61 Buzan et. al, 1998 p.71-72.62 Buzan et. al, 1998 p. 72.

28

Os autores deixam claro que a agenda política além de apresentar

manifestações relacionadas a problemas ambientais, se tornou, também, parte de políticas

normais: governos, empresas e partidos devem apresentar propostas para o meio ambiente

como parte de suas atividades regulares.

Os desacordos entre as prioridades de cada agenda são comuns, implicando

em dificuldades na determinação do que deve ser politizado daquilo que pede medidas

imediatas e extraordinárias. As condições sociais e geográficas de determinadas regiões

ajudam a determinar a classificação das prioridades das agendas, por exemplo, países

pobres tendem a priorizar políticas industriais em função de políticas ambientais, uma vez

que essas tendem para direções contrárias.63

O setor ambiental apresenta uma grande propensão à dramatização,

principalmente pelas predições de desastres, o que seria oportuno para os atos de

securitização, porém a concretização desses atos apresenta pouco sucesso. Isso se deve

ao fato de que governos e empresas consideram os problemas ambientais, em sua grande

maioria, como casos de politização.64

Devido a essa enorme abrangência do conceito de meio ambiente, tratar do

setor ambiental nas discussões de segurança é algo delicado, portanto geralmente são

ressaltados temas chaves para serem analisados. Park (1997), sugere os seguintes

problemas para a agenda científica: efeito estufa e o aquecimento global; depredação da

camada de ozônio; chuva acida; destruição das florestas tropicais e a destruição da

biodiversidade; e pressão populacional.

Buzan et. al.(1998:74-75), por sua vez, sugere para a formulação de uma

agenda ambiental um leque amplo de pontos, incluindo alguns característicos de outros

setores que exercem influencia nesse setor: depredação de ecossistemas; problemas

energéticos; dilatação da população mundial; problemas econômicos (modos de produção

insustentáveis, assimetrias e iniqüidades estruturais); rivalidades civis (danos ambientais

causados por guerras, e o próprio meio ambiente como causa de violência); problemas de 63 Buzan et. al., 1998.64 Ibid..

29

alimentação (pobreza em contra partida a altos índices de consumo, perda de solos férteis e

de recursos hídricos, entre outros). As questões citadas acima não estão necessariamente

presentes nos estudos de meio ambiente e segurança, portanto, nem todos estão sujeitos a

securitização.65

Quando algum desses temas chaves é definido como ameaça existencial a

algum objeto de referência, ele se enquadra em três categorias de relacionamentos de

ameaças, que segundo Buzan et. al. (1998) em principio definem o possível universo da

segurança ambiental. A saber,

(1) Ameaças a civilização humana provindas do meio ambiente que não são causadas pela ação humana. Terremotos e erupções de vulcões (embora, haja debates sobre a influencia ação humana nesses eventos) (...).(2) Ameaças causadas pela atividade humana ao sistema natural ou a estruturas do planeta quando mudanças ocorridas aparentam representar ameaça existencial à (parte da) civilização. Alguns exemplos óbvios no nível global são, efeitos do clorofluorcarbonetos (CFCs) e emissão de gases que geram o efeito estufa e por outros gases industriais emitidos na camada de ozônio (...).(3) Ameaças causadas pela atividade humana ao sistema natural ou a estruturas do planeta quando mudanças ocorridas não aparentam representar ameaça existencial à civilização. Um exemplo é a depredação de vários recursos minerais, que podem ser inconvenientes, mas que quase certamente podem ser lidados com tecnologia avançada (...) (Buzan et. al. 1998:80, tradução livre)66.

A primeira categoria de ameaças, geralmente apresenta maiores chances de

securitização. Sociedades que vivem em áreas de risco de catástrofes naturais, tendem a

fazer uso da securitização para lidar com os estragos dessas catástrofes. Inclusive em

alguns casos há uma institucionalização do processo, na Holanda, as medidas de proteção

contra enchentes são institucionalizadas.67

O tsunami que assolou alguns países da Ásia em dezembro de 2004 e o

furacão Katrina em agosto de 2005 nos EUA, são exemplos de catástrofes securitizadas.

Nos EUA, esforços não foram poupados para reverter o caos que o furacão deixou. Houve a

mobilização de exército, a Câmara dos Representantes aprovou rapidamente projetos de lei

65 Buzan et. al., 1998.66 A terceira categoria representa pouca importância para a discussão de segurança ambiental. Isso ocorre por que a depredação que as atividades humanas estão causando, não apresentam grandes riscos aos homens ou até mesmo à sustentabilidade da natureza (Buzan et.al., 1998 ). 67 Buzan et. al. 1998.

30

que ofereciam algumas prerrogativas às vítimas do desastre, como alívio tributário para os

milhares de desabrigados por causa do furacão Katrina. Esse evento resultou, também na

mobilização internacional, já que alguns países, como Canadá e França e Organizações

Internacionais como OTAN – “Organização do Tratado do Atlântico Norte”, e OEA –

“Organização dos Estados Americanos”, ofereceram ajuda para lidar com o problema68. No

manejo das conseqüências do desastre ONG’s também desempenharam papel

fundamental, como a Cruz Vermelha que mobilizou mais de 250 mil membros que se

encontravam espalhados por todo país.69

Mesmo com toda a mobilização de recursos para solucionar a situação

causada pelo Katrina, os EUA foram amplamente criticados pela demora na tomada de

decisões. Justamente pelo fato de as ameaças ambientais serem relativamente novas,

muitas vezes, dúvidas são levantam em relação a sua urgência e pela falta de instituições

consolidadas para lidar com essas situações, esse setor apresenta dificuldades no processo

de securitização.70

Os desastres naturais levantam dúvidas acerca da responsabilidade ou

influência da ação do homem como fatores que levaram a sua eclosão. As rápidas

mudanças climáticas que causam furacões, que estão modificando alguns ecossistemas,

que causam enchentes e secas em diferentes partes do globo, são em grande parte

atribuídas ao aquecimento global, que por sua vez é causado pela emissão de gases

poluidores na atmosfera.71 Casos em que essa relação é evidente, como o próprio efeito

estufa, se classificam na segunda categoria de ameaças, e apresentam grande relevância

para os debates de segurança ambiental.

Neste caso, o relacionamento envolve a civilização humana e o meio

ambiente, e é caracterizado pelo predomínio do processo de civilização sobre a

manipulação da natureza. Essa relação atingiu, em vários aspectos, proporções

insustentáveis, ou seja, a capacidade de renovação da Terra está se perdendo com a 68 Folha Online, 01 de setembro de 2005.69 Cruz Vermelha Portuguesa.70 Buzan et. al. 1998.71 Com Ciência – Revista Eletrônica de Jornalismo Científico.

31

exploração desenfreada causada pelas atividades humanas.72 Buzan et. al. (1998), a partir

de uma perspectiva global, atribui esse relacionamento ao resultado do desenvolvimento da

população mundial e do crescimento exponencial das atividades econômicas na segunda

metade do século XX.73

A reversão dessa situação está diretamente relacionada à vontade do

homem, porém a grande maioria das sociedades está embebida em culturas que têm como

meta o desenvolvimento econômico mais do que o desenvolvimento ambiental. Segundo

cientistas (Park, 1997; Buzan et. al. 1998; Meadows, et. al, 1992; entre outros), a terra

ultrapassou a sua capacidade de sustentar a vida humana (carrying capacity)74, pelo menos

na forma em que ela se encontra, se apoiando nos padrões de vida atuais -

superpovoamento, aumento das atividades econômicas. Essas constatações implicam no

“pensar” em novas formas de adaptação em relação ao meio ambiente e as atividades

humanas.

1.1 - AS UNIDADES ENVOLVIDAS NO PROCESSO DE SECURITIZAÇÃO AMBIENTAL

Como argumentado no capítulo anterior, o processo de securitização envolve

algumas unidades - ator securitizador, objeto de referência e atores funcionais. Para definir

essas unidades no setor ambiental é necessária a observância das agendas científica e

política. É a partir dessas agendas que as causas e efeitos da degradação são identificados,

permitindo o vislumbre daqueles que se sentem ameaçados pela degradação e se sentem

impelidos a agir em relação a ameaça. A partir dessa observância será possível, também,

definir se esse setor é propenso à securitização no nível global (por exemplo, proteção dos

72 Buzan et. al. 1998.73 Em apenas 11 anos a população mundial aumentou em 1 bilhão de pessoas (de 5 para 6 bilhões) nos anos noventa. A produção industrial cresceu mais de cem vezes durante o século vinte (Park, 1997).74 Buzan et. al. (1998:81), define carrying capacity “(...)como sendo o total dos padrões de consumo que os sistemas naturais da Terra podem suportar sem degradações irrecuperáveis. Nos quais, padrões de consumo são definidos por uma série de variáveis, como população total, modo de produção e nível per capta de consumo bruto”.

32

mares em geral), regional (como, a proteção dos rios da Amazônia Continental75) ou local

(proteção dos rios da Amazônia Legal).

É importante ressaltar o que se entende por segurança ambiental. Buzan at.

al (1998), a definem como: “[Segurança ambiental] é a manutenção da biosfera local e

planetária, como suporte essencial as quais todas as atividades humanas dependem”

(Buzan apud Buzan et. al, 1998:76, tradução livre). Para Buzan et. al.(1998:76), “o meio

ambiente em si e o nexo existente entre civilização e meio ambiente”, são os objetos de

referências na segurança ambiental, ameaçados pelos problemas citados anteriormente -

aquecimento global, depredação da camada de ozônio, destruição das florestas tropicais

entre outros. A existência desses diferentes tipos de objetos de referência gera uma

coexistência não harmônica, apesar de ser sabido que as atividades humanas são

determinadas pelas condições ambientais e, também acabam por condicioná-las. 76

Ao invés de um relacionamento causal linear entre condições estruturais ambientais e as prováveis opções políticas, um relacionamento dinâmico, interdependente existe entre meio ambiente e a política: civilização é tida como responsável por parte da própria condição estrutural ambiental, o que limita ou alarga sua opções de desenvolvimento e influencia os incentivos para cooperação e conflito (Buzan et.al., 1998:77, tradução livre).

A coexistência não harmônica entre os objetos de referência, faz surgir outros

tipos de atores, que não os objetos de referência, que desempenham importante função na

determinação de temas para as esferas políticas e de segurança. São os atores condutores

e os “atores veto” (veto actors).77

Como o próprio nome pressupõe, os atores condutores são aqueles que

conduzem questões ambientais para o âmbito das ações internacionais específicas,

geralmente são responsáveis pela criação de regimes nesse setor. E por aterem a esses

objetivos, normalmente esses atores são encontrados próximos a áreas que apresentam

problemas ambientais. De modo geral os atores condutores são Estados, ONG’s,

75 Amazônia Continental envolve 8 países além do Brasil - Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Guiana Francesa, Peru, Suriname e Venezuela. Sua superfície é de 7 milhões de km2, o que representa 5% da superfície de terra firme do globo. A Amazônia Continental ocupa 50% da superfície da América do Sul, em termo populacionais, são aproximadamente, 29 milhões de habitantes (Meirelles Filho, 2004).76 Buzan et. al., 1998.77 Porter & Brown apud. Buzan et. al., 1998.

33

comunidade epistêmica ambiental global. Esses atores são responsáveis pela securitização

no setor ambiental. Geralmente são apoiados por atores de suporte, esses são vítimas de

problemas ambientais que não possuem recursos para liderarem e conduzirem ações no

sistema internacional.78

Embora a maioria de suas ações ser dirigida para a esfera da politização,

esses atores são responsáveis pelos atos de securitização no setor ambiental.79 Porter e

Brown, citados por Buzan et. al. (1998), explicitam algumas ações que os atores condutores

lançam mão para alcançar seus objetivos, seja de politização ou de securitização:

Eles [os atores condutores], levantam conhecimento sobre determinada questão financiando pesquisas e informando a opinião pública em Estados alvo (mobilizando a agenda científica). Para esse propósito, eles podem fazer uso de comunidades epistêmicas ambientalistas para apoiar sua posição no exterior. Esses atores podem tomar ações unilaterais (de condução, por exemplo), ou eles podem usar diplomacia para adicionar a questão à agenda de organizações internacionais, ou para isolar atores veto (Porte & Brown apud Buzan et al., 1998:77, tradução livre).

Os atores veto podem ser Estados, firmas, lobistas que tentam desviar

questões ambientais das agendas políticas e de segurança. Esses atores precisam prestar

atenção na agenda científica e fazer uso de seu potencial tecnológico (nesse caso as firmas

e Estados). É através dessas ações que os atores veto terão desenvoltura na construção do

discurso que possam levá-los a lograr êxito, porque como a securitização, a despolitização e

a desecuritização são concretizados a partir do discurso. Esses atores são determinados

geograficamente, onde há empresas emissoras de gases que danificam a camada de

ozônio; ou funcionalmente, grandes transportadoras de petróleo suscetíveis a infortúnios

como acidentes que acarretam em derramamento da carga nos oceanos.80

Ambos atores são determinados por fatores estratégicos, ou seja, agem de

forma a evitar prejuízos em relação aos seus interesses no setor. A Suécia e Noruega

podem ser considerados atores condutores no que diz respeito a ações relativas a chuvas

ácidas, uma vez que são extremamente prejudicados por elas81; ou grandes firmas 78 Buzan et. al., 199879Ibid.80Ibid.81 Na Noruega e Suécia a chuva ácida vem causando a acidez dos rios e lagos, o que leva à depredação ou a perda completa de muitos peixes. Afetando também grande quantidade de plantas aquáticas. Na Suécia, cerca de

34

agropecuárias brasileiras que agem contra a inserção do problema do desmatamento da

Floresta Amazônica nas agendas política e de segurança do país.82

Por fim, Buzan et. al. (1998), determina os atores funcionais, que vêm

ocupando as pautas nos debates sobre o setor ambiental devido sua grande influência na

dinâmica do setor. Esses são atores os quais suas ações afetam o ecossistema

diretamente, porém não estão interessados na politização ou securitização do setor.

Os atores funcionais são, geralmente, atores econômicos, que exploram o

meio ambiente no exercício de suas atividades; ou governos e suas agências, que

desenvolvem atividades agressoras ao meio ambiente com suas empresas estatais

(mineradores e petroleiras) e com suas atividades militares (produção de armas químicas,

biológicas e nucleares, entre outros). Nesse último caso, o ator funcional desempenha um

papel ambíguo, já que os governos também são responsáveis por estabelecer regras

ambientais para os demais setores, inclusive o econômico e por institucionalizar a

segurança ambiental, através da criação de órgãos e instituir regimes que visam o meio

ambiente. 83 Pode ser também aquele ator que influencia a dinâmica do sistema de forma

positiva, um exemplo é bancos que somente ofereceram empréstimos se as empresas

apresentarem planos de produção sustentável.84

Uma vez definidos os atores de segurança e as categorias de relacionamento

em que as ameaças ocorrem, propostos por Buzan et. al. (1998) para o setor ambiental, é

possível expor como esses processos se dão. O que se observa no próximo subitem é que

ambos a securitização e os complexos de segurança ocorrem a partir da percepção daquilo

que se considera ameaça ambiental, se são as causas ou os efeitos da degradação. Porque

é a partir das causas e efeitos que é possível determinar quais atores se agruparão em

função das ameaças. Ou seja, aqueles que se vêem constrangidos de alguma maneira pela

14.000 lagos são afetados pela acidez (State of the Environment Norway & Acidrain.org).82 Meirelles Filho, 2004.83 Ibid.84 Bancos que aderiram aos Princípios do Equador que são “diretrizes socioambientais que precisam ser utilizadas pelas instituições financeiras que vão fornecer financiamentos acima de US$50 milhões às empresas” Alguns bancos são: ABN Amro, Citigroup, HSBC e Unibanco (Instituto Uniemp - Fórum Permanente das Relações Universidade-Empresa, 2004)

35

ameaça, de forma que se sentem compelidos a tomar alguma atitude para reverter a

situação.

1.2 - SECURITIZAÇÃO E OS COMPLEXOS DE SEGURANÇA NO SETOR AMBIENTAL

Ao lidar com os problemas ambientais é preciso atentar para aquilo que está

em pauta, tanto na agenda de politização quanto na de securitização, ou seja, se são as

causas ou os efeitos que estão sendo considerados. Para Buzan et. al. (1998:82)

“a essência do lobby em meio ambiente, é lidar com causas – tentativa de mudar a sociedade por esforços coordenados antes que a natureza os transforme através de desastres. Embora esta política envolva a maioria dos atos de securitização, eles majoritariamente resultam em politização” (tradução livre).

A maior parte das medidas instituídas para lidar com as causas que

ambientalistas clamam como de extrema urgência - se apegando no argumento de que se

medidas forem tomadas somente no futuro, pode ser tarde de mais para reparos - ainda é

desenvolvida no campo da política comum. A elaboração de leis que determinam certos

padrões de produção, ou tratados que aconselham e algumas vezes determinam formas de

conduta, a institucionalização de organizações e departamentos para gerência de ações

relacionadas ao meio ambiente, são as medidas mais comuns no setor ambiental. Porém

elas não são consideradas securitização.85

Ao considerar os efeitos, as chances de securitização aumentam, isso ocorre

pelo fato de os efeitos serem mais visíveis para as sociedades do que as causas86. No

entanto deve-se atentar sobre quais efeitos estão sendo tratados, se são efeitos relativos a

acidentes naturais ou se são efeitos de uma situação que já ocorre há mais tempo, porém

somente agora suas conseqüências estão sendo sentidas. No primeiro caso, é a ação para

lidar com as conseqüências do desastre que são securitizadas. Já no segundo, a

securitização tende a mover para outro setor. 87 A perda da diversidade da Amazônia pela

exploração insustentável da floresta não representa um perigo iminente que demande

85 Buzan et. al. 1998.86 Ostrauskaite, 2001.87 Buzan et. al. 1998.

36

medidas extremas, porém os efeitos desse abuso podem gerar perdas econômicas

extraordinárias para determinada região. Esse efeito provavelmente seria tratado no âmbito

econômico. “A partir do momento que os efeitos passam a ser a maior preocupação, o foco

da securitização, tende a mover para outro setor” (Buzan et. al. 1998:83, tradução livre).

A análise das causas e efeitos determina aqueles que se envolvem nos

complexos de segurança, porque dependendo do objeto de referência, a dinâmica de

segurança ocorrerá em níveis diferentes compreendendo unidades diferentes. Muitas vezes,

as causas e os efeitos envolvem atores diferentes, aqueles que causam danos ambientais

podem ser diferentes daqueles que sofrem as conseqüências.88

Para Buzan et. al., (1998) a melhor forma de identificar um complexo de

segurança no setor ambiental é através dos cenários de desastre. Porque a maioria dos

problemas ambientais não atinge a todos envolvidos na mesma intensidade. Analisando

cenários de desastre é possível identificar os principais afetados pelo problema, quais são

as conseqüências políticas regionais e globais (se existir), em qual nível se localiza as

causas do desastre, se é possível atribuir responsabilidade pelos danos a algum ator e se

os danos são reversíveis, incluindo aqui as medidas e os custos para tal. É a partir dessas

questões que um conjunto de preocupações mútuas de segurança é formado.89

A atribuição de responsabilidade pelo dano e aqueles que estão sofrendo as

conseqüências é essencialmente uma questão de causa e efeito, porque as causas e os

efeitos não estão necessariamente localizados em um mesmo nível, pode não envolver os

mesmo atores e ainda as causas podem estar localizadas em tempo e espaço diferentes90.

Muitos dos problemas ambientais sentidos hoje são conseqüências de ações que vêm se

acumulando desde muitos anos atrás (por exemplo, efeito estufa e depredação da camada

de ozônio).

“Aquecimento global tem causas provindas de todo o mundo, mas seus prováveis efeitos negativos não são globais. Ao contrário, problemas estritamente local ou regional, como em muitos casos a proteção de

88 Ibid.89Ibid.90 Ostrauskaite, 2001.

37

espécies em extinção, são securitizados em debates globais sobre biodiversidade” (Buzan et. al., 1998:92, tradução livre).

Apesar das análises de causa e efeito, determinarem a interação entre alguns

atores, eles não determinam a securitização porque essa ainda é uma questão política.

Buzan et. al., (1998) exemplificam essa passagem com o caso do aquecimento global, que

mesmo sendo um problema que demande medidas globais, é importante perceber as

diferenças regionais. Os efeitos do aquecimento global são aterradores para algumas áreas

costeiras, que podem inclusive vir a desaparecer, porém pode trazer benefícios para a

Rússia por causa do degelo de áreas permanentemente congeladas. Essas diferenças são

dispendiosas para a construção de regimes, já que o consenso se torna algo difícil de ser

alcançado.

Há certos problemas ambientais de efeitos globais os quais a solução se

encontra em um contexto regional. O desmatamento da Floresta Amazônica contribui

significativamente para o aquecimento global91, mas promover campanhas e criar arranjos

num âmbito local contra o desmatamento provavelmente será mais produtivo do que a

mobilização internacional, uma vez que abordagens regionais vêm se mostrando mais

efetivas.92

Questões locais apresentam dinâmica quando grupos de interesses

específicos são forçados a abandonar suas atividades pelo “bem comum”, podendo ocorrer

oposição a essa decisão.93 É o que ocorre com as madeireiras que desenvolvem suas

atividades ilegalmente em áreas indígenas na Floresta Amazônica. Buzan et. al. (1998)

colocam que a grande questão é se as medidas para o bem comum podem ser

implementadas independente da oposição a elas. A dinâmica local pode agravar ou gerar

conflitos em outras esferas, por exemplo, conflitos sociais entre madeireiros e indígenas.

91 Estima-se que as queimadas na Floresta Amazônica são responsáveis por 5% das emissões de carbono na atmosfera (Meirelles Filho, 2004). O carbono absorve radiação solar aquecendo a atmosfera e esfriando a superfície, contribuindo para o aquecimento global (Com Ciência – Revista Eletrônica de Jornalismo Científico, 10 ago. 2002). 92 Buzan et. al., 1998.93 Ibid.

38

Esses conflitos são resultados de preocupações de um contexto mais amplo, o bem

comum.94

As tentativas de securitização no setor ambiental ocorrem

predominantemente no nível global, a maioria dos atos de securitização parte desse nível

devido à existência de comunidades epistêmicas ambientais internacionais. Porém a força

política dessa comunidade é limitada e muitas das tentativas acabam se enquadrando na

esfera política se configurando como politização. As securitizações efetivas ocorreram

principalmente no âmbito local, onde os desastres ocorrem e questões de sustentabilidade

são consideradas.95 As dinâmicas regionais são “a expressão mais ampla das

interdependências locais de segurança” (Buzan et. al. 1998:91)

Alguns autores como Wæver, (1998) e Ostrauskaite, (2001) e Møller, (2000)

expressam alguma preocupação pelo ímpeto de relacionar segurança e meio ambiente.

Uma série de pontos é levantada para demonstrar que a desecuritização do setor ambiental

é melhor do que a tentativa de incluí-lo nas questões de prioridade das políticas, sejam

governamentais ou institucionais. Como exposto, o setor ambiental é relativamente novo, o

que traz como conseqüência a existência de poucas, e até mesmo a não existência, de

instituições consolidadas para administrar as questões do setor como ameaças.

Ostrauskaite (2001) acredita que manter os problemas ambientais fora da agenda de

segurança é mais produtivo, porque assim a solução será buscada a partir de debates mais

abertos que propiciam o alcance de ações baseadas na cooperação. Isso significa a criação

de tratados os quais Estados se comprometem a limitar certas atividades dentro de suas

própria jurisdição, como é o caso do Protocolo de Kyoto96, o que seria mais difícil de ser

alcançado caso fosse tratado como pertencente à pauta dos assuntos de segurança.

Para essa autora,

A única razão para sentir-se tentado a manter o meio ambiente como questão de segurança, entretanto, seria a possibilidade de se ter mais

94 Buzan et. al., 1998.95. Ibid.96 O Protocolo de Kyoto compromete a uma série de nações industrializadas (descritas no anexo B do Protocolo) a reduzir suas emissões em 5,2%- em relação aos níveis de 1990 - para o período de 2008-2012 (GreenPeace, 2000?).

39

recursos alocados do orçamento do Estado, que ao menos que a securitização do meio ambiente ocorra, pode se provar uma tarefa complicada. Ainda permanece a dúvida se os benefícios trazidos pelo aumento da atenção em questões ambientais obtidos através da associação com segurança valem a pena pelo risco causado pela conotação e efeitos negativos do termo. (Ostrauskaite, 2001, tradução livre)

Outro ponto que favorece a desecuritização é que quando se fala de

segurança97 pressupõe-se a existência de um inimigo, que a ameaça vem de fora para

dentro, porém, no setor ambiental na maioria das vezes se trata de ameaças sem inimigo98.

Wæver (1998), coloca que essa tendência de pensar segurança como “nós vs. eles”, causa

improdutividade ao elaborar soluções para os problemas causados internamente, uma vez

que em se tratando do setor ambiental, muitas vezes o responsável pela degradação é a

própria vítima e em outras, sendo algo nebuloso de se determinar.

Mais uma questão colocada por Ostrauskaite, (2001) é que as ameaças

ambientais transpõem fronteiras e como sugere Møller, (2000), na maioria dos casos o

conceito de segurança ambiental pressupõe admitir indivíduos ou a coletividade como

objetos de referência mais do que os Estados, porém esses ainda são os principais

provedores de segurança e, portanto gera o questionamento se segurança ambiental deve

ser vista a partir da ótica de segurança nacional ou pode ir além, sendo tratada como

segurança global. Buzan et. al. (1998), coloca que em um nível global é complicado alcançar

legitimidade na securitização, como por exemplo estabelecer a raça humana como objeto de

referência. Para esses autores isso ocorre porque no nível sistêmico, não há a identidade de

massa, por exemplo, aquela que as nações e Estados possuem. Porém eles não excluem a

idéia de um dia isso ocorrer, como a securitização do meio ambiente como um todo, sendo

feita por ativistas, ONG’s ou até mesmo grupos radicais ecoterroristas. Entretanto, como

Ostrauskaite, (2001) pontua, a sociedade internacional ainda não está pronta para deixar de

lado o princípio fundamental em que ‘as relações internacionais são construídas, o princípio

da soberania.

97 Como exposto no capítulo 1 esse trabalho adota a idéia de segurança proposta por Wæver: “segurança significa uma situação marcada pela presença de um problema de segurança o qual medidas já estão sendo tomadas em resposta”.98 Buzan et. al., 1998.

40

O próximo capítulo intenta perceber o processo de securitização e a teoria de

complexo de segurança propostos por Buzan et. al. (1998), a partir do estudo de caso da

Floresta Amazônica e as causas e efeitos que seu desmatamento vem incitando nos

âmbitos local, regional e global. Isso será possível a partir da percepção da existência ou

não de uma dinâmica em função da Floresta entre os países onde ela se encontra, e entre

países e diversos atores que são afetados pelos problemas que essa depredação causa.

Intenta também observar se a partir dessa dinâmica existe um complexo de segurança ou

se é possível a emergência de um, tendo em vista quais questões foram securitizadas e

quais são mais prováveis de virem a ser.

41

3 – AMAZÔNIA: ANÁLISE DO PROCESSO DE SECURITIZAÇÃO E DA TEORIA DE

COMPLEXO DE SEGURANÇA

Uma vez que a teoria de complexo de segurança e o processo de

securitização propostos por Buzan et. al. (1998), e a aplicabilidade de cada um para o setor

ambiental forão expostos, é chegado o momento para aplicá-los no estudo de caso da

Floresta Amazônica. O autor João Meireles Filho (2004:22), grande estudioso e dedicado à

Floresta Amazônica diz que “a Amazônia é mais falada do que conhecida, mais discutida do

que vivida, mais mito do que realidade”. Para tanto é preciso definir o que é a Floresta

Amazônica e o que ela representa em termos regional e global.

A Amazônia é o maior conjunto contínuo de florestas tropicais99 do planeta,

representando 5% de terra firme da superfície mundial, 50% da superfície da América do Sul

e 60% da superfície do Brasil, sendo esse o país com maior área de florestas tropicais.100

99 “As florestas tropicais representam o conjunto de ecorregiões, principalmente de cobertura florestal, entre os trópicos de Câncer (Hemisfério Sul) e Capricórnio (Hemisfério Norte). Estão presentes na América do Sul, na África, na Ásia e na Oceania”. Hoje a as florestas tropicais cobrem 9% da superfície da terra (Meirelles Filho, 2004:24).100 Meirelles Filho, 2004.

42

Figura 2 - Distribuição de Florestas Tropicais no Mundo

Fonte: Mongabay.com

Para fins comparativos, a Amazônia Continental se encontra em nove países101, sendo que

mais de um terço do total de sua extensão se encontra no Brasil.102 Meirelles Filho (2004),

expõe que a Amazônia Brasileira é conhecida de três maneiras, a saber: Amazônia

Biológica; Região Norte103 e Amazônia Legal.

Esse trabalho trata basicamente da Amazônia Legal, que além de abranger

os seis estados da região norte, passou a incluir o Tocantins após seu desmembramento de

Goiás e do Centro-Oeste em 1988 e também o estado do Mato Grosso em sua totalidade. A

Amazônia Legal representa 5,1 milhões de km2, significando 59,78% do território nacional.104

A Amazônia Continental é dona de vários recordes mundiais, a começar pelo

fato de ser a maior floresta tropical do mundo, ela é também possuidora da maior bacia

hidrográfica, a do Amazonas (cerca de 6,86 milhões de km2); é a região de maior 101 Brasil, Bolívia, Colômbia, Equador, Guiana, Guiana Francesa, Peru, Suriname e Venezuela.102 Meirelles Filho, 2004.103 Amazônia Biológica – possui 3,68 milhões de km2. Mais de 20% dessa área foi depredada pelo homem. “Este compreende florestas de diferentes características, bem como cerrados, campos ecossistemas de transição”;Região Norte – “segundo o conceito da divisão política do Brasil, esta abrange seis estados: Rondônia, Amazonas, Roraima, Pará, Amapá, Acre e Tocantins. A área é de 3,8 milhões de km2, ou seja, 44% do Brasil” (Meirelles Filho, 2004:27).104 Meirelles Filho, 2004; Plano Amazônia Sustentável – PAS, 2004.

43

Figura 3 - Floresta Amazônica

Fonte: Mongabay.com

diversidade biológica do planeta (em 5% da superfície terrestre acredita-se que esteja mais

de 1/4 de todas as espécies vivas). O Brasil também apresenta um recorde em relação à

Floresta, porém, um recorde infeliz, sendo o campeão mundial de desmatamentos,

responsáveis pela depredação de uma área superior a 650 mil km2, cerca de 20% de sua

Amazônia.105

O desmatamento exacerbado acarreta em uma série de conseqüências,

sendo o maior responsável pelos problemas que causam ameaças à vida humana e à

Amazônia, em nível local e regional, e contribui em grande escala em alterações ambientais,

em nível global. Por essa razão, o estudo de caso tem como base o desmatamento na

Floresta Amazônica Legal, ele é tratado como um fator gerador de preocupações que

demanda ações, sejam elas coletivas, públicas ou internacionais, para controlar suas

causas e minimizar seus efeitos. Dois fatores são analisados aqui, a saber: (1) se as

preocupações acerca do desmatamento são geradoras de complexos de segurança, sendo

a resposta positiva, perceber em qual nível eles são formados (local, regional ou global); (2)

e, se as ações demandadas pelo desmatamento se encontram no campo da política ou da

segurança, ou seja, se esse fator levou à securitização. Como visto anteriormente, esses

processos se configuram a partir de causas e efeitos, portanto o estudo de caso é pautado

por aquilo que Meirelles Filho (2004), configura como as principais causas e efeitos do

desmatamento na Floresta Amazônica Legal.

3.1 - CAUSAS E EFEITOS DO DESMATAMENTO NA FLORESTA AMAZÔNICA LEGAL: A TEORIA DE

COMPLEXO DE SEGURANÇA E OPROCESSOS DE SECURITIZAÇÃO

3.1.1– Causas105 Meirelles Filho, 2004:25.

44

Para Meirelles Filho (2004), dentre as muitas ameaças a Amazônia106, três

são de maior relevância: a agropecuária, principalmente a criação de gado e o cultivo da

soja; a exploração madeireira predatória; e as colonizações públicas e privadas107. Esses

fatores são os maiores responsáveis, ou seja, são as principais causas do desmatamento.108

A atividade econômica que ocupa maior área territorial da região é a pecuária

bovina109, essa atividade é desenvolvida nessa região há 40 anos. “Na prática, 7,6% do

território brasileiro é utilizado para criar o boi amazônico” (Meirelles Filho, 2004:152), o que

representa 3/4 das áreas desmatadas, o chamado “arco do desmatamento” 110. O Instituto

de Pesquisa Ambiental da Amazônia111 informa que essa atividade tende a avançar na

região, aponta ainda que a pecuária é responsável por um aumento anual de 1,4% do

desmatamento da Amazônia. A pecuária amazônica segundo o IMAZON representa 0,02%

do PIB do Brasil112, gera poucos empregos diante de suas proporções (118 mil) e apresenta

pouca rentabilidade para os fazendeiros e para a região.113 Meirelles Filho (2004:154)

defende que a única razão par que a essa atividade se sustentar é cultural: “muitos dizem

que só sabem cuidar de boi, outros alegam que esta é sua vocação, sua querência. Para

outros, boi é segurança, estabilidade!”.

O cultivo da soja, embora tenha ganhando impulso a partir dos anos 90 por

conta da valorização desse grão, utilizada uma área significativa da Amazônia Legal (800

106 Em sua obra de 2004, “O Livro de Ouro da Amazônia” João Meireles Filho apresenta as “dez bestas do Apocalipse”, ou seja, os fatores que ameaçam a Floresta. São eles: A pecuária bovina extensiva; cultivo de soja; exploração madeireira predatória; modelo fundiário adotado; o narcotráfico e a guerrilha; tráfico de animais e plantas; caça predatória; grandes obras como hidroelétricas e estradas; garimpo; e pesca predatória.107 A colonização pública é o assento rural promovido pelo governo em suas políticas fundiárias de reforma agrária. A colonização privada é o assentamento rural de iniciativa privada, ou seja, aquele pequeno agricultor que adquire um lote por conta própria e passa a viver de sua terra (Meirelles Filho, 2004).108 O autor Meirelles Filho (2004) deixa claro que o caos que se encontra na Amazônia não ocorre por uma razão isolada, como o cultivo da soja, mas sim por um conjunto de razões envolvendo mais de uma força que atuam simultaneamente. Ele também ressalta que a situação varia muito de região para região.109 A pecuária é responsável por cerca de 80% de toda área desmatada na Amazônia Legal (Plano de Ação para a Prevenção E Controle do Desmatamento na Amazônia Legal, 2004).110 A área de influência do arco do desmatamento, que se estende do Maranhão até Rondônia, é de 2 milhões de km2 (Meirelles Filho, 2004).111 Informações obtidas em Meirelles Filho, 2004.112 Considerando um PIB de US$ 700 bilhões, correspondente à média do PIB dos anos 2002 (US$ 604 bilhões) e 2003 (US$ 796 bilhões) (Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior).113 Informações obtidas em Meirelles Filho, 2004.

45

mil hectares). Essa é uma atividade que tende a crescer, uma vez que a soja é o carro-chefe

das exportações brasileiras agrícolas.114

Ambas atividades demandam o desmatamento da floresta, porque é preciso

espaço para pasto e terreno para plantação. O solo amazônico é extremamente frágil115 e

como Meirelles Filho (2004:159), coloca,

O pecuarista brasileiro não trata a pastagem como agricultura. A agricultura exige preparação do solo, correção com calcário, curvas de nível, adubação, escolha de sementes selecionadas, controle de cupins, pragas e ervas daninhas e uma permanente atenção para a compactação e formação da camada de matéria orgânica. O pecuarista imagina que, uma vez plantado o capim, este tem a obrigação de suportar o pastoreio por 20, 30 anos sem que demande atenção e investimentos.“

E mesmo no setor agropecuário, o solo é prejudicado o que torna muito difícil

um futuro reflorestamento116. Isso ocorre devido ao uso de máquinas agrícolas que remexem

o solo, e devido às chuvas constantes e ao impacto direto do sol no solo, que contribuem

para a perda de humos, já que a vegetação é baixa e pouco densa, incapaz reter os raios

solares e a água da chuva. 117

Para Nepstad et.al. (1999:104-105),

A conversão da floresta tropical em pastagem é uma das mais radicais alterações de uma biota nativa118 que se tem registro na história da humanidade. Quando um hectare de floresta tropical é desmatado, queimado e convertido em pastagem, populações de centenas de espécies de plantas nativas e milhares de espécies de animais são substituídas. A vegetação torna-se dominada por gramíneas (por exemplo, Brachiaria brizantha), as quais sustentam uma espécie de gado importado e facilitam o aumento e a invasão de espécies animais típicas de áreas alteradas. (...) A redução da biomassa vegetal é extrema durante a conversão. A floresta nativa, com 300 toneladas de biomassa por hectare, dá lugar a um campo de gramíneas com apenas 10 toneladas. A pastagem ainda reflete 50% mais radiação solar para o espaço e libera 10%-20% menos água para a atmosfera através da evapotranspiração, se comparado a uma floresta primária.

114 Meirelles Filho, 2004.115 “A baixa fertilidade geral do solo da Amazônia deve-se à sua avançada idade geológica. A maior parte de suas terras está localizada em um dos dois grandes escudos, o das Guianas ao norte e o brasileiro ao sul. A maior parte do solo é considerada pobre quimicamente, solos ‘lavados’. A explicação está nos milhões de anos expostos à água quente da chuva, dissolvendo a maior parte dos minerais” (Meirelles Filho, 2004:36)116 Estimativas apontam que as florestas secundárias crescendo sobre campos agrícolas de corte e queima abandonados, necessitam de quase dois séculos para restabelecer a quantidade de biomassa contida em uma floresta primária (Saldarriaga et al. apud Nepstad et.al., 1999).117 Para efeito comparativo, as grandes árvores da Amazônia podem chegar a 55 m de altura e pesar algumas centenas de toneladas. Essas árvores são capazes de reter de 95% a 99% dos raios solares que chegam a superfície e aproximadamente 25% da água da chuva que cai é retida pelas folhas (Meirelles Filho, 2004:30;49).118 O conjunto dos seres animais e vegetais naturais de uma região (Ferreira, 1986).

46

A fragilidade do solo Amazônico é um fator que contribui para o aumento

anual da taxa de desmatamento. Uma vez que o aproveitamento da maioria dos pastos é

bastante baixo, os empresários ao invés de investirem na renovação do pasto, abandonam

os antigos e se deslocam para outras áreas. O pasto usado pode ser aproveitado para o

plantio da soja, porque depois de sucessivas queimadas provocadas pelos pecuaristas, as

raízes e as madeiras são removidas do solo e esses restos geralmente representam a maior

dificuldade para o plantio da soja florestal.119 Porém, isso não exclui o fato de que o

pecuarista adentra cada vez mais em áreas novas da floresta.

A previsão que posseiros, proprietários, ocupante de lote rural e serrarias

fazem de que as florestas abrirão espaço para o pasto, se tornou uma boa desculpa para

que a exploração madeireira predatória ocorra. Esses atores, segundo Meirelles Filho (2004)

possuem mentalidade de minerador, acreditando que a madeira é um presente da “Mãe

Natureza” e, portanto podem explorar até sua exaustão.

A madeira é o principal produto florestal explorado em larga escala na

Amazônia. Entre 60% e 80% da exploração madeireira na Amazônia é predatória120, “ou

seja, provêm de invasões, grilagens121, em áreas públicas como unidades de conservação e

áreas indígenas” (Meirelles Filho, 2004:173). Somente 14% da extração madeireira na

Amazônia é legal e é feita de forma sustentável. 122 Um grande problema da exploração

madeireira predatória é o fato de grande parte de sua extração ocorrer em áreas densas e,

portanto a floresta que nas fotos de satélites aparentam intocadas escondem troncos de

árvores abatidas. O que significa que os índices de desmatamento apresentados são

defasados.123

119 Meirelles Filho, 2004.120 GreenPeace, 2005.121 Quando um terreno é tomado por um indivíduo que falsifica documentos e diz-se proprietário da área (Meirelles Filho, 2004).122 Meirelles Filho, 2004.123 Estima-se que o desmatamento da Amazônia seja superior àqueles demonstrados em dados oficiais. Como em 2004 foi considerada a taxa de 20%, porém, alguns técnicos acreditam que esse índice ultrapassou os 30% (Meirelles Filho, 2004).

47

A ação da indústria madeireira gera graves problemas de desmatamento

começando na construção das estradas para a retirada da madeira. O grande desperdício

gerado por essa atividade contribui para o avanço do desmatamento, um exemplo é que a

retirada de uma árvore pode causar danos em outras vinte, dependendo da densidade do

local da exploração, os danos podem ser ainda maiores.124 Outro agravante dessa atividade

é o fato de algumas serrarias obterem a autorização para desmatamento, mas acabarem

por agir de modo insustentável.125

A terceira atividade grande contribuinte para o desmatamento foi

impulsionada, significativamente, por políticas nacionais na época da ditadura. As

colonizações públicas e privadas que representam cerca de 550 mil km2, foram fortemente

incentivadas na década de 60 pelos planos que visavam levar desenvolvimento econômico

às áreas mais isoladas do país. Apoiados no lema do general Emílio Garrastazu Médici

quando presidente “levar os homens sem terra à terra sem homens” o governo militar criou

dois planos que merecem destaque: a “Operação Amazônia” de 1966 e o “Plano Nacional

de Integração” de 1970. Ambos podem ser considerados marcos históricos da abertura à

exploração da Amazônia, o primeiro visava introduzir na região amazônica o

desenvolvimento econômico, já o segundo, integrar as áreas mais atrasadas do país para

vencer o subdesenvolvimento. 126 Esses planos acarretaram na ocupação em ritmo

acelerado das fronteiras pioneiras127 da Amazônia.

Os planos são caracterizados pelas obras de infra-estrutura (abertura de

rodovias) e pelo mau planejamento das mesmas, as quais muitas não se completaram

enquanto outras não saíram do papel. O mau planejamento é notável:

“não foi dada a devida atenção em instalar assentamentos em áreas com solos apropriados. Os planejadores não tinham conhecimentos sobre os cultivos mais adequados para região. Os colonos, que vieram do Nordeste e do Sul do país, não tinham familiaridade com as condições amazônicas e

124 As árvores são demasiadamente grandes, quando derrubadas, elas chocam com outras as danificando (Meirelles Filho, 2004).125 Meirelles Filho, 2004.126 Villas-Bôas Filho, 2002.127 “Também conhecida como ‘fronteira agrícola’, ‘a nova fronteira’, é a frente de expansão onde a vegetação nativa é retirada, a melhor madeira colhida, e as áreas queimadas e transformadas em pasto e lavoura” (Meirelles Filho, 2004:376).

48

faltou assistência técnica e para comercialização. Os governos acabaram perdendo interesse no projeto. A rodovia deteriorou-se rapidamente, isolando mais ainda a população e condenando o projeto ao fracasso" (David McGrath apud Com Ciência – Revista Eletrônica de Jornalismo Científico, 2004).

Na época também foi criado o Instituto Nacional de Colonização e Reforma

Agrária – INCRA (1970) com a função de promover o assentamento rural principalmente ao

longo das rodovias Amazônicas.

Esses assentamentos foram criados em locais isolados, desconsiderando características da paisagem natural e a presença de populações tradicionais. “Esse modelo gerou perdas ambientais e sociais, desmatamento, empobrecimento dos assentados, abandono dos lotes e concentração fundiária subseqüente” (Plano de Ação para a prevenção e controle do desmatamento na Amazônia Legal, 2004:38).

Os planos nacionais vieram em conjunto com a nova instituição responsável

por colocar seus projetos em prática, a Superintendência de Desenvolvimento da Amazônia

– SUDAM, e com programas de financiamento e crédito e incentivos fiscais. Todas essas

ações deixam claro o objetivo do governo de atrair grandes empresas para a região, mas

que também trouxe como conseqüência uma grande imigração de posseiros, ou sem terra.

A invasão na Amazônia é algo endêmico, “uma vez abertas as estradas, é

praticamente impossível controlar a ocupação dos novos territórios” (Meirelles Filho,

2004:180). “A incipiente e frágil presença do Estado, acarreta em grilagem e outras formas

de ocupação indevida da terra, estimula a exploração predatória dos recursos naturais e a

impunidade dos crimes ambientais” (Plano de Ação para a prevenção e controle do

desmatamento na Amazônia Legal, 2004:20). Em função disso, não se sabe quem é o dono

de 40% das terras da Floresta.

O desmatamento é a forma que os “novos” proprietários usam para tomar

posse de um terreno, e quanto mais desmatam, mais possuem. Quando grandes

proprietários iniciam suas atividades eles abrem estradas para escoar sua produção, isso

acarreta na ida de pequenos produtores que não teriam condições de abrir um acesso.

49

Madeireiros clandestinos, grileiros, posseiros e garimpeiros também seguem os cursos das

estradas chegando a regiões da Amazônia não exploradas.128

Há também o produtor que se instalou na região partir de recursos próprios, é

o chamado colono privado. Esse produtor geralmente vem de regiões do país que

apresentam características muito diferentes daquelas encontradas na Amazônia. Sem uma

ajuda social e sem preparo ele inicia suas atividades sem se preocupar com as

peculiaridades da região. A grande maioria desses colonos opta pela pecuária ou por

atividades de ciclo curto (arroz, soja, etc.) o que significa que toda a área do proprietário

será desmatada para dar lugar a essas atividades. A colonização privada vem reduzindo

devido ao aumento significativo das invasões de terrenos, aos roubos de madeira e ao

crescimento das preocupações ambientais.129

O desmatamento na Floresta Amazônica ocorre devido ao mau uso e falta de

preparo daqueles que desenvolvem atividades econômicas na região. Cabe agora analisar

se as causas do desmatamento colocadas acima representam para o Brasil uma questão de

segurança ou de políticas comuns.

3.1.1.1. – As causas do desmatamento analisadas a partir da teoria de complexo de segurança e do processo de securitização

Definitivamente, as causas do desmatamento formam complexos de

segurança no nível local. Um grande contingente de ONG’s e Institutos de pesquisas130 vêm

128 Meirelles Filho, 2004.129 Ibid.130 Amigos da Terra; World Wildlife Fund - WWF; GreenPeace; Instituto do Homem Meio Ambiente da Amazônia – IMAZON; Instituto de Permacultura da Amazônia; Fundação AVINA; Instituto Peabiru; Ecoamazon; Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola - IMAFLORA; The Nature Conservancy do

50

demonstrando através da implementação de projetos e políticas131 a preocupação com as

causas do desmatamento e suas implicações para a segurança da região.

O Brasil vem demonstrando grande preocupação com as causas do

desmatamento, suas medidas dão ênfase a políticas que visam a minimização do

desmatamento para fins de desenvolvimento econômico, o desenvolvimento social, a

manutenção da biodiversidade e o manejo fundiário.

O complexo de segurança local é formado, basicamente, pelo Brasil, ONG’s,

comunidades civis, institutos de pesquisa e empresas Os atores que fazem parte do

complexo de segurança local nem sempre estão em sintonia com relação o que deve ser

adotado em relação a ameaça apresentada pelo desmatamento. De um lado, estão aqueles

que defendem a conservação da biodiversidade e da floresta, atores condutores e, do outro,

aqueles que promovem a expansão da nova fronteira sem considerar os custos sociais e

ambientais. Nesse caso há atores veto e funcionais, geralmente são as empresas que se

enquadram nesse último grupo de atores. Existem as empresas que simplesmente exploram

sem se envolver nas questões políticas, elas são atores funcionais. Porém existem aquelas

que exploram e tentam influir nas decisões contra o desmatamento, como a Madenorte e a

empresa produtora de soja Cargill. A Madenorte junto com outras madeireiras conseguiram

que o governo do Pará criasse uma Floresta Estadual (Flota) e uma Área de Preservação

Ambiental (APA), nessas áreas é permitida a exploração em escala industrial de madeira. Já

a Cargill ganhou licença, também do estado do Pará, para a construção do porto em

Santarém, porto este, construído ilegalmente, que acabou por ser condenado pelo Tribunal

Regional Federal da 1a Região (TRF). Essas empresas são os atores veto. 132

Brasil; SOS Amazônia; Instituto Brasileiro de Educação em Negócios Sustentavéis – IBENS; Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM); Centro de Pesquisa de Woods Hole (WHRC); Associação de Universidades Amazônicas – UNAMAZ; Museu Paraense Emílio Goeldi, entre outros.131 Projetos e programas brasileiros: PROTEGER; Bom Manejo do Fogo; Projeto Fogo Emergência Crônica; o SISPROF – Sistema de Controle de Produtos Florestais; Programa Integrado de Monitoramento, Prevenção e Controle de Queimadas e Incêndios Florestais na Amazônia Legal (PROARCO); Sistema Nacional de Prevenção e Combates aos Incêndios Florestais (PREVFOGO); Núcleo de Operações Aéreas (NOA); Programas Jovens pela Amazônia e Cidade Amiga da Amazônia (GreenPeace); Programa Amazônia do WWF-Brasil; entre outros.132 GreenPeace, 2006.

51

Em junho de 2003 o governo do Brasil se viu diante de uma constatação

alarmante, o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) informou que o

desmatamento havia crescido em 40% do ano de 2001 para 2002 (25.500 km2). Esse foi o

segundo maior índice da história, inferior apenas ao de 1995, quando foram derrubados

29.059 km2. Já no início de julho do mesmo ano, foi assinado um Decreto Presidencial que

instituiu o Grupo Permanente de Trabalho Interministerial (GT Interministerial) com a

finalidade de propor medidas e coordenar ações que visam à redução dos índices de

desmatamento na Amazônia Legal.133 Esse instrumento adotado pelo governo é significativo

e expressivo para o complexo de segurança, que em vários aspectos vai ao encontro de

projetos de outros atores desse complexo, como ONG’S e comunidade civil. Por outro lado,

pode gerar conflito com interesses de empresas privadas, como aquelas que investem na

produção madeireira, e agrária.

O primeiro passo adotado pelo GT Interministerial foi o estabelecimento de

quatro subgrupos de ação, para a elaboração de propostas focadas, os grupos são:

Ordenamento Fundiário e Territorial; Monitoramento e Controle; Fomento a Atividades

Produtivas Sustentáveis; Infra-estrutura. Organizações não governamentais e os estados

brasileiros Amazônicos tiveram participação na construção do GT Interministerial, uma vez

que eles receberam um relatório preliminar para comentários e sugestões, esses foram

largamente incorporados ao plano.134

As medidas propostas pelo grupo de ação do ordenamento fundiário e

territorial135 são as que apresentam melhores resultados na redução do desmatamento. Em

especial aquela que visa a criação de novas unidades de conservação na Amazônia

Legal.136 Esse também é o grupo que recebe a maior porcentagem do orçamento destinado 133 Plano de Ação para a prevenção e controle do desmatamento na Amazônia Legal, 2004.134 Ibid.135 Combate à grilagem e regularização fundiária; revisão de políticas de destinação de terras públicas; criação e consolidação de unidades de conservação (proteção integral, uso sustentável); gestão de terras indígenas; assentamentos rurais sustentáveis; zoneamento ecológico-econômico; e realização de estudos de análise e modelagem sobre o uso dos recursos naturais na fronteira amazônica (Plano de Ação para a prevenção e controle do desmatamento na Amazônia Legal, 2004).136 Desde o lançamento do Plano em março de 2004, foram criadas nove unidades federais de conservação na Amazônia Legal, totalizando aproximadamente 7,5 milhões de hectares (Plano de Ação para a prevenção e controle do desmatamento na Amazônia Legal: Relatório de Avaliação, 2005).

52

as ações de combate ao desmatamento em 2004 (62% de R$ 394 milhões) (Plano de Ação

para a Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal: Relatório de Avaliação,

2005).

As atividades desenvolvidas pelos grupos de trabalhos da GT Interministerial

possuem forte apoio por parte de ONG’s e comunidade civil. O WWF, o Instituto de

Desenvolvimento Sustentável de Mamirauá (IDSM) e o IMAZON, são alguns exemplos de

atores do complexo os quais possuem projetos que estão de acordo com o proposto por

esses grupos de trabalho.137

O papel das comunidades civis e das ONG’s como grupos de pressão é muito

importante para que as políticas implementadas pelo governo ganhem forma e segmento. 138

É muito comum que ONG’s com projetos para a Amazônia desenvolvam trabalhos com as

comunidades civis. Geralmente, os projetos buscam conscientizar as comunidades da

importância da proteção da floresta para a região e para o mundo assim como instruindo-as

sobre a produção e uso da terra sustentável. As ONG’s também se inspiram e aprendem

com as comunidades civis tradicionais e indígenas para elaboração e implantação de

projetos.139

As comunidades civis formadas principalmente por pequenos produtores e

garimpeiros, e algumas empresas privadas140, majoritariamente as que atuam no setor

madeireiro e agropecuário, exercem pressão de forma contrária aos planos de governo de

controle do desmatamento. Muitos desses atores são contrários a políticas implementadas e

137 Programa Amazônia WWF; Projetos do IMAZON: Cidades sustentáveis, Floresta e comunidade, Cenários de ocupação, Transparência Florestal; Projetos do IDSM: Projeto Mamirauá, Projeto Amaná. 138 Oficina do Norte, evento relacionado ao Projeto “1ª Rodada de Consultas Estratégicas no Brasil” e o Encontro Amazônia de Experiências Sociais Inovadoras são eventos que reúnem ONGs, comunidades indígenas e movimentos sociais desenvolver a capacidade inovadora das comunidades civis e para questionar frente aos governos federal e do Estado do Amazonas os impactos de políticas governamentais de desenvolvimento sobre a Amazônia (Coalisão Rios Vivos/ ECOA & Grupo Banco Mundial).139 Alguns exemplos são: Permacultura América Latina: Instituto de Permacultura; WWF: Consórcio Amazoniar; IMAZON: Floresta e Comunidade.140 Não se pode fazer uma generalização acerca das ações das empresas e das comunidades civis em relação ao desmatamento. Existem aquelas empresas que buscam se adequar da melhor forma possível às normas estabelecidas para o alcance do desenvolvimento sustentável. Existem também pequenos produtores que buscam o manejo florestal como forma de melhorar a renda sem prejudicar a floresta. Porém há a contrapartida, empresas privadas e pequenos produtores que vêem a reserva legal em sua área de floresta como um empecilho. (WWF – Programa Amazônia WWF)

53

inclusive não registram suas atividades e trabalham na ilegalidade, por exemplo, não

respeitando o limite de 20% de desmatamento da propriedade, não respeitando unidades de

conservação e terras indígenas.141 Para os dirigentes da Coordenação das Organizações

Indígenas da Amazônia Brasileira (Coiab), o setor privado é o seu maior inimigo,

principalmente aqueles envolvidos em atividades que acarretam na expansão do cinturão da

soja, e pela falta de apoio de grandes empresas que discursam em favor da

responsabilidade social e ambiental, mas não agem conforme o discurso.142

Por sua vez, as instituições de pesquisa desenvolvem trabalhos que auxiliam

a elaboração de projetos para controle do desmatamento. Os trabalhos são de base

científica, de desenvolvimento de centros de monitoramento que proporciona conhecimentos

quase em tempo real.

Após as análises das políticas para as causas do desmatamento no nível

local, é possível dizer que não ocorreu securitização. Como exposto nos capítulos

anteriores, a securitização se dá a partir da aceitação de um discurso, quando elites com

força e capacidade de argumento resolvem definir que algo de extrema importância (objeto

de referência) está sendo ameaçado existencialmente, e, portanto, medidas emergenciais

são demandadas. No caso do desmatamento da Amazônia, há uma ameaça existencial, e o

objeto de referência é a própria floresta, porém o ato de securitização não ocorreu.

As medidas implantadas para lidar com as causas do desmatamento são

desenvolvidas no campo da política comum. Por mais que o governo declare ações

emergenciais que priorizarão o ordenamento143, elas continuam sendo políticas normais. Os

projetos de medidas voltadas para o controle da degradação ambiental, geralmente

elaboradas por grupos de trabalhos compostos por especialistas, ainda devem ser

submetidos aos processos burocráticos de aprovação por Congressos, Câmaras e Senado

onde há o risco de modificação de seus termos por emendas que transformem as propostas

bem intencionadas em um malfadado desastre ambiental.144

141 Meirelles Filho, 2004.142 Repórter Social, notícia do dia 30 de março de 2006.143 Plano de Ação para a Prevenção e Controle do Desmatamento na Amazônia Legal, 2004.144 GreenPeace – Campanha Amazônia, 2000?.

54

Outro ponto que comprova a não securitização é a questão de

disponibilização de recursos. Como dito anteriormente, essa é uma característica comum

desse processo. O aumento no orçamento anual para as políticas de Meio Ambiente

governamentais (orçamento do Ministério do Meio Ambiente) não excede aquele ocorrido

nos demais ministérios.145

3.1.2– Efeitos

Os efeitos da degradação ambiental são muitos e variam em diferentes

esferas, social, econômico, ambiental e político. Serão apresentadas aqui questões chaves

para a formação dos complexos de segurança que existem em função dos efeitos do

desmatamento. A saber, conflitos gerados pela sobreposição de terras indígenas e de

proteção para o desenvolvimento atividades produtivas; mudança do ciclo hídrico regional;

erosão do solo; perda da biodiversidade; e mudanças climáticas e aquecimento global.

Os planos de governo de colonização da Amazônia da década de 60, sem o

planejamento adequado levaram à ocupação de grande parte do espaço disponível. A

incapacidade do governo de controlar as demandas por terras na Amazônia teve como

conseqüência a invasão de áreas não destinadas à colonização, como terras indígenas e

unidades de conservação, tornando a iminência de conflitos mais real.146 O desmatamento

feito para a expansão das atividades rurais invade as reservas gerando conflitos. Meirelles

Filho (2004) apresenta o exemplo da reserva indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima

que enfrenta sérios problemas com a invasão agrícola em sua área. Também em Rondônia,

e no Mato Grosso reservas indígenas foram invadidas por garimpeiros. A invasão da reserva

Roosevelt de Rondônia ocasionou a morte de 29 garimpeiros.147

145 O orçamento anual de despesa do Governo Federal para o Ministério do Meio Ambiente no ano de 2002 foi de R$ 798.574.844,06; em 2005 de R$ 1.040.612.166,34; e em 2007 a previsão é de que os gastos sejam de R$ 2.836.798.549,00. Comparativamente, os mesmos gastos com o Ministério da Defesa foram de R$ 26.930.117.808,57; em 2002; no ano de 2005 de 30.759.497.403,15; e em 2007 a previsão é de que os gastos cheguem a R$ 38.980.630.351,00 (SIGA Brasil, 2006).146 Meirelles Filho, 2004, p.141.147 Folha Online, notícia do dia 26 de abril de 2004.

55

O ciclo hídrico regional é bastante influenciado pela vegetação encontrada na

Amazônia. As chuvas resultam do vapor gerado pela transpiração das árvores e pela água

retida pelas folhas. “A floresta interage com a atmosfera para produzir chuva” (Meirelles

Filho, 2004:31). Portanto, o desmatamento influencia no regime de chuvas. Análises

realizadas pelo Instituto Nacional de Pesquisas Amazônicas – INPA, em várias partes da

Amazônia mostram a ocorrência do aumento da temperatura e da diminuição da umidade do

ar, especialmente na estação mais seca do ano.148 Isso pode acarretar em atrasos nas

temporadas de chuva da região e no aumento de queimadas. Segundo Meirelles Filho

(2004:242), “florestas que antes jamais queimariam com a entrada do fogo agora estariam

suscetíveis a profundas alterações”.

As variações climáticas podem se estender para além da região amazônica, o

Instituto Goder de Estudos Espaciais, de Nova York realizou uma simulação de circulação

global, indicando

que a massa de umidade que começa na Amazônia projeta-se depois, como chuva, em toda uma imensa região do Planalto Brasileiro. Então, atinge, por exemplo, São Paulo, a parte mais produtiva em termos agrícolas do Brasil de hoje (Instituto Goder apud. Fearnside, 1989, http://www.scielo.br)

Na Amazônia estão os maiores índices médios de chuva do continente

americano, quando terrenos de florestas densas são transformados em pastos e em

cultivos, aumenta as chances de erosão dos solos frágeis da Amazônia fazendo com que

esse perca sua capacidade de renovação. Isso ocorre porque o impacto direto das chuvas e

do sol no solo acarreta na perda de nutrientes e compactação dos solos

Quando ocorre o desmatamento, o solo fica exposto às chuvas e às altas temperaturas. A chuva endurece o solo, diminuindo sua capacidade de absorver a água, a água passa a correr sobre o solo, aumentando sua erosão. A elevação da temperatura pela exposição direta ao sol destrói a camada de matéria orgânica (o húmus). Desaparecendo o húmus, diminui a capacidade do solo de reter a água (Meirelles Filho, 2004:37)

A erosão do solo ocorrida pelo desmatamento gera mais desmatamentos. Os

proprietários rurais produtores agrícolas e pecuários, desgastam a terra até que essas

148 Jornal da Ciência , notícia do dia 27 de setembro de 2004.

56

percam sua fertilidade, então as abandonam, seguindo para novos terrenos dando início a

mais um ciclo de desgaste até a erosão do solo.

Quando a chuva cai em solos danificados pela erosão, ela chega aos rios

mais rápido do que se a floresta estivesse erguida. Como exposto, as árvores acumulam

25% das chuvas e, além disso, as gotas percorrem um longo caminho até atingir o chão. As

chuvas levam para os cursos d’água as matérias orgânicas que ainda existir e a própria

terra dos solos danificados, que entopem os rios. “Menos água no solo significa terra mais

seca, dura e com menos matéria orgânica. Espera-se, assim, verões mais secos e estações

secas mais drásticas” (Meirelles Filho, 2004:241)

Como exposto, a mudança do ciclo hidrológico provoca mudanças climáticas,

que se estendem pelo Brasil e América Latina.149 Lovejock apud. Meirelles Filho (2004)

defende que a Amazônia é fundamental para o equilíbrio climático do planeta e que

intervenções mal planejadas podem gerar conseqüências ambientais em escala mundial

difíceis de serem mensuradas.

O efeito estufa é um fenômeno natural responsável por manter a temperatura

da terra em níveis habitáveis, esse fenômeno ocorre em função de gases150 que são soltos

na atmosfera com capacidade de aumentar a retenção de calor na mesma. A emissão

excessiva desses gases acarreta no aumento da temperatura na atmosfera. Esse aumento

causa mudanças nos padrões climáticos mundiais, gerando efeitos naturais como o El Niño

e La Niña.151 “A Floresta Amazônica armazena em sua massa vegetal cerca de 20% do

carbono do planeta, sob a forma de anidrido carbônico, retido pela fotossíntese” (Meirelles

Filho, 2004:243). Quando as florestas são queimadas há liberação de gases de efeito estufa

e o carbono que antes era seqüestrado pelas folhas das árvores, vão para a atmosfera. As

149 Folha Online, notícia do dia 29 de agosto de 2006.150 Principalmente Dióxido de Carbono (CO2), Metano (CH4), óxido nitroso N2O e clorofluorcarbonos (CFCs). (Meirelles Filho, 2004)151 O El Niño é um fenômeno atmosférico-oceânico caracterizado por um aquecimento anormal das águas superficiais no oceano Pacífico Tropical, e que pode afetar o clima regional e global, mudando os padrões de vento a nível mundial, e afetando assim, os regimes de chuva em regiões tropicais e de latitudes médias. A La Niña representa um fenômeno oceânico-atmosférico com características opostas ao El Niño, e que caracteriza-se por um esfriamento anormal nas águas superficiais do Oceano Pacífico Tropical. Alguns dos impactos de La Niña tendem a ser opostos aos de El Nino. (Centro de Previsão de Tempo e Estudos Climáticos – CPTEC, 2001)

57

atividades que ganham lugar após a queima das florestas, como criação de gado e cultivo

de arroz, emitem metano, óxido nitroso e outros gases de efeito estufa.152

”Há grande controvérsia sobre os números, mas de maneira geral a queimada na Amazônia é apontada como responsável por 5% do carbono liberado na atmosfera. (...) Anualmente as queimadas da Amazônia liberam cerca de 300 milhões de toneladas de carbono. Acredita-se que este número esteja subestimado, pois não são considerados os pequenos incêndios florestais e os efeitos do trabalho clandestino dos madeireiros, o que poderia significar o dobro dessa quantidade” (Meirelles Filho, 2004:243).

Outro efeito do desmatamento é a grande perda da biodiversidade. “A

Amazônia Continental é a região de maior diversidade biológica do planeta. A Floresta

Amazônica apresenta muitas espécies endêmicas, ou seja, que são encontradas somente

em uma região, caso essa região seja devastada, essas espécies são extintas. O avanço do

desmatamento vem causando perdas significativas da biodiversidade Amazônica. Muitas

espécies são extintas antes mesmo de terem suas características estudas, uma vez que o

desmatamento avança mais rapidamente do que os estudos. Meirelles Filho (2004), aponta

para a estimativa de que 2/3 do número de espécies vegetais e animais estarem acima de

10 metros, no dossel153 das árvores, essa é umas das razões do desconhecimento de

muitas espécies amazônicas, uma vez que a maioria dos cientistas faz coletas de vegetais e

animais abaixo dessa altura. O dossel é o primeiro a ser afetado pelas conseqüências das

mudanças climáticas, onde se acredita estar a maior biodiversidade do planeta.154

O desmatamento causa perdas significantes da biodiversidade Amazônica, as

árvores amazônicas são suporte da vida de muitos vegetais e animais, e uma vez

desmatadas esses seres deixam de existir. ”Mais que espécies, perdem-se sistemas

organizados e inter-relacionados. Os cientistas não sabem quanto tempo é necessário para

recuperar áreas degradadas” (Meirelles Filho, 2004:219). A perda da diversidade implica

muitas vezes em perdas econômicas. Estudos das espécies amazônicas apontam para

plantas e substâncias encontradas em animais de grande utilidade para o homem, em

152 Ministério da Ciência e Tecnologia, 2005153 Camada superior da mata, estrato mais alto da vegetação, a canópia (Meirelles Filho, 2004:376).154 Meirelles Filho, 2004.

58

conseqüência de grande utilidade para o desenvolvimento econômico.155 A observância da

importância dessas espécies poderia gerar o incentivo de seu cultivo ao invés do

desmatamento da floreta. Como aponta Barata (2000), as universidades e empresas estão

afastadas umas das outras,156 portanto, o “caminho do conhecimento até o mercado é

bastante longo, complicado e exige absolutamente a presença do setor produtivo. Essa

talvez seja a razão pela qual não existam produtos da nossa biodiversidade amazônica”

(Barata, 2000, http://www.comciencia.br)

A maioria dos efeitos do desmatamento da Amazônia se relaciona entre si e o

agravamento de um gera implicações para outros. Mudanças nos ciclos hídricos acarretam

em mudanças climáticas que, por sua vez, geram perda de biodiversidade e erosão dos

solos. Eles podem ser sentidos nos vários níveis, local, regional e global. Após a exposição

de alguns efeitos do desmatamento amazônico, cabe analisar como os complexos de

segurança ocorrem e se houve securitização em função dos efeitos.

– Os efeitos do desmatamento analisados a partir da teoria de complexo de

segurança e do processo de securitização

As preocupações acerca dos efeitos do desmatamento da Amazônia também

geram complexos de segurança, nesse caso, eles ocorrem nos três níveis, local, regional e

global.

i. Conflitos gerados pela sobreposição de terras indígenas e de proteção para atividades

produtivas

Os conflitos gerados pela sobreposição de terras indígenas e de proteção

para atividades produtivas; são preocupações de segurança no nível local. Esses conflitos

representam ameaças no âmbito social e político, gerando complexo de segurança no qual

os principais atores são o Brasil, as comunidades e associações indígenas, ONG’s, a Igreja

Católica, e produtores agropecuários. Esse complexo de segurança ocorre em nível local

155 Barata, 2000.156 Ibid..

59

uma vez que o Brasil é o país que apresenta maiores preocupações com a causa indígena

no contexto da Amazônia Continental e dentro de seu território existe um contingente

significativo de instituições que também atuam em prol dos indígenas.157

Esses atores tanto os condutores como os veto, estão interconectados a

partir da preocupação relativa ao efeito do desmatamento amazônico, que são conflitos

gerados pela sobreposição de terras indígenas e de proteção para atividades produtivas.

Esse complexo é marcado pelos conflitos de interesses, uma vez que uns defendem a

implantação de terras indígenas e outros defendem sua redução em função da atividade

econômica. Nesse caso, os atores veto são os produtores agropecuários que tentam ganhar

licença das terras invadidas.

São duas as principais medidas adotadas pelo governo do Brasil, como ator

condutor, em relação a esse efeito do desmatamento da Amazônia: a criação da Fundação

Nacional do Índio – FUNAI em 1967, a qual deu força à política de demarcação de terras

indígenas; e a implementação do Projeto Integrado de Proteção às Populações e Terras

Indígenas da Amazônia Legal – PPTAL, vinculado à coordenação geral de projetos

especiais da FUNAI. Esse projeto visa

melhorar a qualidade de vida das populações indígenas, promovendo a conservação dos seus recursos naturais por meio da demarcação participativa das terras indígenas da Amazônia Legal, executada pelo órgão indigenista, e a aplicação de projetos de proteção a essas áreas, desenvolvidas com organizações indígenas, ONG's indigenistas e postos da Funai (Fundação Nacional do Índio – FUNAI, 2004, www.funai.gov.br)

Os componentes desse projeto se baseiam na regularização fundiária de

Terras Indígenas na Amazônia Legal, em planos de vigilância dos limites das áreas

indígenas demarcadas, na avaliação dos procedimentos utilizados pela FUNAI no processo

de regularização fundiária, desenvolvimento e cursos de capacitação para lideranças

indígenas; e, gerenciamento e avaliação do projeto.158

157 Boletim PPCor, 2006

158 FUNAI, 2004.

60

Algumas comunidades indígenas se encontram nas fronteiras de países

amazônicos. Esse fato demanda ações e planejamentos conjuntos acerca dessas

comunidades, principalmente no tocante a invasão das terras indígenas por garimpeiros,

invasores, traficantes de animais e de drogas. Os Yanomami se encontram na divisa do

Brasil com Venezuela, esses países, em 2005, se reuniram para realizarem o primeiro

acordo de cooperação técnica em relação a comunidades indígenas visando a melhoria da

qualidade de vida de índios das etnias Yanomami e Ye’kuana, que vivem na Amazônia.

Esse acordo é de grande interesse para a Venezuela uma vez que o Brasil apresenta

melhores avanços em relação à saúde indígena.159

As comunidades e associações indígenas e ONG’s são os principais atores

condutores no nível regional, uma vez que atuam através de movimentos de pressão para

mobilizar os governos a agirem em relação aos direitos dos índios, inclusive do direito de

suas terras invadidas. “As prioridades dos índios são a demarcação, homologação e registro

de todas as terras indígenas, fiscalização dessas terras para que não sejam invadidas, e a

aprovação de uma nova legislação – o Estatuto dos Povos Indígenas” (Meirelles Filho,

2004:93). No Brasil, a Coiab tem como objetivos e fins a promoção da organização social,

cultural, econômica e política dos Povos e Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira.

Essa organização utiliza articulação local e internacional (América Latina) para fortalecer a

autonomia dos povos indígenas amazônicos, atua junto a instâncias governamentais

visando o respeito aos direitos dos povos indígenas.160

As organizações indígenas encontram forte apoio na Coordenadora das

Organizações Indígenas da Bacia Amazônica – COICA. Essa é uma organização que

representa os povos indígenas de toda a Floresta Amazônica.

“Em nível internacional, a COICA logrou as mais importantes conquistas a favor dos direitos dos povos indígenas. Os logros alcançados em relação a Declaração Universal de Direitos dos Povos Indígenas, do Convenio 169 da OIT do convenio de Diversidade Biológica e de outros instrumentos internacionais posicionam a COICA como um dos organismos indígenas mais importantes em nível mundial” (Llacta Movimento Indígena y Sociales del Ecuador, 2006, http://www.llacta.org, tradução livre).

159 Fundação Nacional de Saúde – FUNASA, notícia do dia 25 de novembro de 2005.160 Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira – COIAB, 2006.

61

A Igreja Católica, também é um ator condutor, e através do Conselho

Indigenista Missionário atua diretamente com as comunidades indígenas e desenvolve

projetos no sentido de apoiar o processo de autonomia dos índios como povos étnica e

culturalmente diferenciados. O apoio oferecido é sustentado nas práticas de evangelização.

Essa instituição atua como parceira dos movimentos indígenas oferecendo apoio e

discutindo planos para ações.161

Geralmente, os produtores agropecuários e garimpeiros têm o índio como um

empecilho ao desenvolvimento de suas atividades. Muitos invadem as terras indígenas e

desenvolvem atividades, o que gera conflitos. A principal ação desses grupos é o

desenvolvimento de suas atividades na ilegalidade e fazer pressão sobre os governos na

tentativa de adquirir vantagens no desenrolar dos conflitos gerados pela invasão.162

ii. A mudança do ciclo hídrico regional, erosão do solo e perda da biodiversidade

A mudança do ciclo hídrico regional, erosão do solo e perda da

biodiversidade, são efeitos que geram preocupações acerca do desenvolvimento

sustentável. Todas essas degradações apresentam ameaças ao desempenho econômico

local e regional. As preocupações regionais em relação a esses efeitos estão

interconectadas em uma constituição política, formando um complexo de segurança163

regional. Esse complexo tem como principais atores os países, empresas, ONG’s e a

Organização do Tratado de Cooperação Amazônica - OTCA.

A elaboração do Tratado de Cooperação Amazônica (TCA) em 1978164, é um

marco representativo das preocupações regionais acerca da questão ambiental. O

estabelecimento da OTCA em 1995, é fruto da necessidade de fortalecer e implementar os

objetivos do TCA. Em seu Plano Estratégico de 2004 a 2012, a importância dada aos planos

161 CIMI, 2004.162 Meirelles Filho, 2004.163 “Se atores se tornam interconectados em uma constelação política sobre questões de segurança, eles representam um complexo de segurança” (Buzan et. al., 1998:89)164 O Tratado assinado em 3 de julho de 1978 pela Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela com o objetivo de promover ações conjuntas para o desenvolvimento harmônico da Bacia Amazônica.

62

voltados para o desenvolvimento sustentável para promoção do crescimento econômico é

clara. Essa instituição foi criada a partir da convicção de que Amazônia é estratégica para

impulsionar o desenvolvimento econômico da região, portanto, seu patrimônio deve ser

reservado a partir do desenvolvimento sustentável.

Não há dúvida que o principal desafio para os governos dos países que compartilham a Amazônia e, conseqüentemente, para a OTCA, é o de contribuir à criação de oportunidades econômicas para as populações amazônicas e para nossas nações como um todo, a partir da megabiodiversidade da região, reconhecendo sua importância como uma possibilidade de estimular o desenvolvimento de nossos países, incentivando, entre outros mecanismos, a criação de redes que promovam os produtos amazônicos no contexto de uma política de aproveitamento sustentável dos recursos naturais, compatível com as estratégias e políticas nacionais ou sub-regionais sobre biodiversidade (Plano Estratégico 2004|2012 – OTCA. Brasília, 2004:25)

Essa organização também apresenta ações no intuito de fortalecer a

integração regional, e para a gestão do conhecimento. Essa linha de ação está associada

ao fato de os investimentos tanto governamentais como privados serem baixos na área de

informação. Portanto, defende que é através da integração regional que os processos de

geração de conhecimento, transferência e troca de tecnologia, terão consistência para

avançar em busca de pesquisas para solucionar as ameaças que vão contra as ações de

desenvolvimento sustentável.165

Em reuniões, sejam bilaterais ou multilaterais, entre os presidentes de países

amazônicos, as preocupações com a degradação ambiental é tema corrente. Em

declarações conjuntas, após viagens realizadas pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva à

Venezuela, Guiana e Suriname, e dos presidentes da Colômbia e do Peru ao Brasil, as

autoridades, afirmaram a importância da integração regional para desenvolvimento

econômico e fortalecimento comercial, ressaltando a importância da OTCA e de suas ações

em prol do desenvolvimento sustentável.166

O governo brasileiro como ator condutor, desenvolveu o Plano Amazônia

Sustentável, o plano sinaliza aos setores produtivos e à sociedade em geral caminhos para

165 Plano Estratégico 2004|2012 – OTCA, Brasília, 2004.166 Data das viagens: Venezuela 13 e 14 fev. 2005; Guiana: 14 e 15 fev. 2005; Suriname: 15 e 16 fev. 2005; Peru 09 nov. 2006; Colômbia: 25 abr. 2006 (Documentos que fazem referência à OTCA - OTCA).

63

o desenvolvimento da Amazônia. Ele se apóia na idéia do aumento da presença do Estado

na região, e de que a Amazônia não pode ser trata de forma homogênea, sendo necessária

a implementação de projetos direcionados para a diversidade sub-regional. O Programa

Piloto é um outro projeto criado pelo governo brasileiro para o desenvolvimento sustentável

da Amazônia. É um projeto amplamente apoiado financeiramente pelos países do G-7.

Dentre os objetivos do projeto se de destacam:

demonstrar a viabilidade da harmonização dos objetivos ambientais e econômicos nas florestas tropicais; ajudar a preservar os enormes recursos genéticos de que estas dispõem; reduzir a contribuição das florestas brasileiras na emissão de gás carbônico; e, fornecer um exemplo de cooperação entre os países desenvolvidos e em desenvolvimento nas questões ambientais globais (Programa Piloto – Ministério do Meio Ambiente, 2006, www.ider.org.br).

A criação de novas áreas protegidas na Amazônia por parte do governo do

Brasil é outra medida que vem apresentando resultados positivos na manutenção da

floresta. O desmatamento diminuiu em 30% de 2005 a 2006, devido a criação de cerca de

20 milhões de hectares de novas unidades de conservação localizadas próximas a regiões

de maior desmatamento.167

As ONG’s desempenham papel fundamental para o alcance do

desenvolvimento sustentável. Nesse caso elas também são atores condutores e suas ações

se baseiam no aprendizado com as comunidades tradicionais e com a própria natureza para

aplicar esse conhecimento às novas condições da floresta (desmatada ou em estágio de

recuperação). Foi desse conjunto de observações que surgiu a proposta da Permacultura.168

Essa nova forma de cultivo é fortemente incentivada pelo Instituto de Permacultura da

Amazônia – IPA, apoiado pela AVINA, uma organização sem fins lucrativos que busca a

integração da América Latina. Essa instituição aspira “a uma América Latina integrada,

solidária e democrática, inspirada na sua diversidade e construída através de uma cidadania

que se posiciona globalmente a partir de seu próprio modelo de desenvolvimento inclusivo e

sustentável” (AVINA, 1995-2006, www.avina.net).

167 Nepstad et. al., 2006:9; Instituto de Desenvolvimento Sustentável e Energias Renováveis - IDER. 2006, www.ider.org.br.168 É um sistema de design para a criação de ambientes humanos sustentáveis (Meirelles Filho, 2004:378)

64

O papel das empresas nesse complexo é fundamental, uma vez que as

políticas de desenvolvimento sustentável estão basicamente voltadas para elas. Suas ações

serão no intuito de negociar essas políticas de forma que seus interesses econômicos não

sejam prejudicados. Ainda existem os atores funcionais que são empresas que não se

atentam para essas políticas e continuam desenvolvendo suas atividades sem considerar as

implicações ambientais.

O complexo de segurança formado a partir das preocupações acerca das

modificações dos ciclos da floresta e de sua biodiversidade, recebe influencias

internacionais, ainda que esse complexo não ocorra no nível global. Isso porque esses

efeitos não geram preocupações de segurança no âmbito global. Pressões internacionais

tornam o desenvolvimento sustentável algo desejável pelas empresas localizadas na

Amazônia que visam ou já atuam no mercado internacional. Esse mercado começa a exigir

produtos com qualidade socioambiental. Países industrializados utilizam essa exigência

como uma forma de proteger seus produtos agrícolas169, porém, para a Amazônia isso

representa o cumprimento das leis ambientais e a adoção de boas práticas de uso de terra

por parte dos produtores. Os Princípios do Equador170 é uma iniciativa do International

Finance Corporation, instituição vinculada ao Banco Mundial, que também incentiva os

produtores a buscarem o desenvolvimento sustentável.171

iii. Mudanças climáticas e aquecimento global

Os efeitos do desmatamento amazônico mudanças climáticas e aquecimento

global apresentam complexo de segurança basicamente no nível global. Esses são efeitos

não somente do desmatamento da Floresta Amazônica, mas também da industrialização e

desmatamento das florestas tropicais como um todo. A maioria das ações para controlar

esses efeitos no âmbito local e regional, parte do nível global: Convenção de Mudanças

Climáticas da ONU e Protocolo de Kyoto. Por isso será considerado o nível global para a

169 Nepstad et.al., 2006.170 “Diretrizes socioambientais que precisam ser utilizadas pelas instituições financeiras que vão fornecer financiamentos acima de US$50 milhões às empresas” (Instituto Uniemp - Fórum Permanente das Relações Universidade-Empresa, 2004).171 Nepstad et. al., 2006.

65

análise do complexo de segurança, no qual os principais atores são os paises signatários da

Convenção de Mudança Climáticas, ONG’s e Organizações Internacionais. No qual seus

suas preocupações e esforços para controlar a emissão de gases do efeito estufa fazem

deles atores condutores.

As preocupações internacionais com o aquecimento global e mudanças

climáticas ficaram claras em 1992 durante a Conferência das Nações Unidas sobre Meio

Ambiente e Desenvolvimento no Rio de Janeiro. Nessa Conferência foi negociada e

assinada a Convenção Quadro das Nações Unidas sobre Mudança do Clima. Os

participantes da Convenção se propuseram a elaborar uma estratégia global para proteger o

sistema climático para gerações presentes e futuras. “A Convenção fornece um "quadro"

dentro do qual os governos podem trabalhar juntos para desenvolver novas políticas e

programas que terão grande implicação na forma como as pessoas vivem e trabalham”

(Ministério da Ciência e Tecnologia – Brasil, 2005, www.mct.gov.br).

Para atingir o objetivo final da Convenção, de estabilizar a concentração de

gases do efeito estufa na atmosfera num nível que não interfira perigosamente no sistema

climático foi criado o Protocolo de Kyoto172. O Protocolo institui uma série de metas de

redução de emissão de gases do efeito estufa pelo grupo de países descrito no Anexo I da

Convenção.173

Essas são as principais ações realizadas no complexo de segurança no

âmbito global. Todos os atores desse complexo tomam atitudes em função da Convenção

Clima e do Protocolo de Kyoto. As principais medidas das ONG’s e Organizações

Internacionais são de fiscalização, realização de estudos e disseminação de informações.174

172 Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social & Ministério da Ciência e Tecnologia173 Encontram-se no Anexo I da Convenção: Alemanha, Austrália, Áustria, Belarus, Bélgica, Bulgária, Canadá, Comunidade Européia, Croácia, Dinamarca, Eslovaquia, Eslovênia, Espanha, Estados Unidos da América, Estônia, Federação Russa, Finlândia, França, Grécia, Hungria, Irlanda, Islândia, Itália, Japão, Letônia, Liechtenstein Lituânia, Luxemburgo, Mônaco, Noruega, Nova Zelândia, Países Baixos, Polônia, Portugal, Reino Unido da Grã-Bretanha e Irlanda do Norte, República Tcheca, Romênia, Suécia, Suíça, Turquia, Ucrânia. (Ministério da Ciência e Tecnologia, 2005).174 Alguns exemplos: Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente – PNUMA, Organização Mundial de Meteorologia, GreePeace, WWF, GermanWatch, Climate Action Network France, Friends of Earth, Nature and Youth

66

O desmatamento da Floresta Amazônia é uma das muitas fontes que emitem

gases do efeito estufa na atmosfera. As preocupações decorrentes desse efeito são globais,

e o estabelecimento de medidas também ocorre majoritariamente nesse âmbito. Porém,

devido a significância das emissões das queimadas da Floresta e das atividades agrícolas

nela realizadas175 será feita uma análise de algumas medidas realizadas no nível local.

Os esforços locais são basicamente para manter a floresta “de pé”, uma vez

que são as queimadas e as plantações cultivadas nos locais das florestas que emitem os

gases do efeito estufa na atmosfera. Dessa forma, as ações são direcionadas para o

alcance do desenvolvimento sustentável, tendo como conseqüência a redução do

desmatamento. Ou, o que ocorre no caso de algumas empresas e produtores

agropecuários, que executam ações que agravam a emissão desses gases.

As áreas protegidas criadas pelo governo desenvolvem um papel muito

importante na conservação das florestas. Para Nepstad et. al.(2006:9), “As novas áreas

protegidas criadas desde 2004 terão um efeito importante na redução de futuras emissões

de carbono resultantes de desmatamento”. Para eles, se essas áreas permanecerem

protegidas pela próxima década, prevenirá a liberação de aproximadamente 0.6 bilhões de

toneladas de carbono para a atmosfera.176

Dentre as principais medidas adotadas pelo governo brasileiro estão a

adesão à Convenção de Mudanças Climáticas da ONU, e ratificação do Protocolo de Kyoto.

Esses acordos levaram à criação da Comissão Interministerial de Mudança Global do Clima

em 1999, que tem como função realizar a coordenação e a articulação julgadas adequadas

para implementação das ações relacionadas à mudança global do clima.177 A adesão a

essas instituições levanta questões acerca da implementação de uma Política Nacional de

Mudanças Climáticas. Os ambientalistas Délcio Rodrigues, Rubens Born e Mark Lutes178 são

175 Estima-se que essas atividades são responsáveis por 5% da emissão de carbono na atmosfera (Meirelles Filho, 2004).176 Nepstad et .al., 2006.177 Ministério da Ciência e Tecnologia, 2005.178 Esses ambientalistas são membros da ONG Vitae Civilis – Instituto para o Desenvolvimento, Meio Ambiente e Paz. Eles apresentaram a proposta para uma Política Nacional de Mudanças Climáticas na audiência pública sobre a Política Nacional de Mudanças Climáticas realizada no dia 01 de junho de 2005 no Congresso Nacional.

67

grandes defensores dessa idéia. Eles se apóiam no artigo 4.1 da Convenção-Quadro de

Mudança de Clima que compromete os países parte a

formular, implementar, publicar e atualizar regularmente programas nacionais e, conforme o caso, regionais, que incluam medidas para mitigar a mudança do clima, enfrentando as emissões antrópicas por fontes e remoções antrópicas por sumidouros de todos os gases de efeito estufa não controlados pelo Protocolo de Montreal, bem como medidaspara permitir adaptação adequada à mudança do clima (Rodrigues et.al., 2004:1)

A partir desse artigo, eles acreditam que a elaboração de uma Política

Nacional para Mudança de Clima seria essencial para o país no cumprimento dos

compromissos internacionais, e fortaleceria a liderança global nas negociais acerca de

mudanças climáticas dentro daquilo definido pela Convenção Clima.179

A análise das medidas adotadas para os efeitos do desmatamento na

Amazônia, permite afirmar a mesma conclusão acerca da securitização das causas dessa

atividade, a securitização não ocorre. Mais uma vez aqui, as medidas devem passar por

longos processos de elaboração e implementação de forma a se adequar aos interesses

dos envolvidos. Um exemplo, é a negativa do maior emissor de carbono na atmosfera (cerca

de 25%), os EUA, em ratificar o Protocolo de Kyoto, com a justificativa de que a redução de

7% das emissões desse gás traria prejuízos para sua economia.180

No capítulo 2 foi mostrado que no setor ambiental os efeitos são os mais

prováveis de serem securitizados, porém o fator que favorece essa indução ainda não

ocorre nos efeitos do desmatamento da Floresta Amazônica: a visualização clara da

ameaça. Os efeitos aqui listados se encontram bastante concentrados nas esferas

científicas e políticas. Algumas das ameaças apresentadas, principalmente pelos cientistas,

são consideradas exacerbação da realidade, porque a maioria será mais evidente no futuro

e muitas vezes suas conseqüências são difíceis de serem mensuradas. Outro ponto, é que

grande parte dos efeitos são sentidos localmente, onde as elites brasileiras não se sentem

ameaçadas. Portanto, somente quando os efeitos começarem a ser sentidos de forma a

179 Rodrigues, et. al.,2004.180 Folha Online, noticia do dia 23 de outubro de 2004.

68

prejudicar as elites e os Estados no desenvolvimento de suas atividades é que a

securitização poderá ocorrer.

69

4 – CONCLUSÃO

A expansão da agenda de segurança permite pensar na segurança

ambiental. Buzan et. al. (1998) são adeptos à tendência de ampliar a agenda de segurança,

nesse contexto, desenvolveram um método de análise para que os estudos de segurança,

partindo desse princípio, pudessem ser estruturados e analisados.

A aplicação do método desenvolvido por esses atuores nesse trabalho teve

por objetivo verificar se as ameaças decorrentes do desmatamento da Floresta Amazônica

são consideradas questões de segurança. Para isso, a teoria de complexos de segurança e

o processo de securitização desenvolvidos por Buzan et. al. (1998) foram integrados à

análise, o que tornou possível chegar às seguintes conclusões.

As preocupações acerca do desmatamento da Floresta Amazônica

configuram questões de segurança, uma vez que o desmatamento apresenta ameaças a

vida humana e à própria floresta. Para uma melhor análise do estudo de caso, foi feita uma

separação entre aquelas ameaças ocasionadas pelas causas e aquelas pelos efeitos do

desmatamento na Amazônia, possibilitando a percepção de qual categoria as ameaças se

enquadram181 e como as dinâmicas dos atores do complexo de segurança ocorrem (nível

local, regional e global).

Como exposto no capítulo 3, as principais causas do desmatamento são: a

agropecuária, principalmente a criação de gado e o cultivo da soja; a exploração madeireira

predatória; e as colonizações públicas e privadas. No que diz respeito às ameaças que

surgem a partir causa do desmatamento na Amazônia, é possível afirmar que todas elas se

enquadram na segunda categoria relacionamento, ou seja, a predominância das atividades

humanas sobre a natureza. Nesse caso, as atividades humanas atingiram níveis

insustentáveis, e por isso, Amazônia está perdendo sua capacidade de renovação nos

locais desflorestados, o que significa que ela está ameaçada existencialmente.

181 (1) Ameaças à civilização humana, provindas do meio ambiente que não são causadas pelas atividades humanas; (2) ameaças ao sistema natural ou a estruturas do planeta causadas pela atividade humana, que por sua vez causa ameaças à (parte da) civilização (Buzan et. al, 2004).

70

Interconectados a partir da preocupação182 a cerca das causas do desmatamento da

Amazônia, o Brasil, ONG’s, comunidades civis, institutos de pesquisa e empresas, formam

complexo de segurança no nível local.

Os principais efeitos do desmatamento da Amazônia, assim como as causas,

se enquadram na segunda categoria de relacionamento de ameaça. Esses efeitos também

configuram complexos de segurança, porém, cada efeito apresenta uma dinâmica diferente,

uma vez que os atores variam de acordo com o efeito que é tratando. O efeito gerado pelo

desmatamento da Amazônia, conflitos regionais pela sobreposição de terras indígenas e de

proteção para o desenvolvimento atividades produtivas, forma um complexo de segurança

local. Esse complexo tem como característica conflitos de interesses entre seus atores

partes, no qual indígenas defendem a marcação de áreas reserva e produtores invadem

essas terras para desenvolver suas atividades econômicas.

Os efeitos do desmatamento mudança do ciclo hídrico regional, erosão do

solo e perda da biodiversidade foram integrados em um único complexo de segurança

caracterizado por sua dinâmica regional. Eles formam um complexo de segurança, uma vez

que as preocupações que esses efeitos causam nos atores que os integram se voltam para

o desenvolvimento sustentável. Isso ocorre, porque esses efeitos têm implicações diretas na

economia.183

As mudanças climáticas e aquecimento global são os únicos efeitos do

desmatamento amazônico que apresentam uma dinâmica no nível global. O complexo de

segurança é formado por preocupações dos países signatários da Convenção de Mudança

Climáticas, ONG’s e Organizações Internacionais acerca das mudanças climáticas e

aquecimento global como um todo. Isso significa dizer, que esse complexo se estrutura na

preocupação de conter as mudanças climáticas e o aquecimento global, a partir de todos os

182 Aqui englobam preocupações em conter o desmatamento e preocupações em prosseguir com atividades econômicas causando mais desmatamento.183 A mudança dos ciclos hídricos causa variações nos níveis de chuva podendo prejudicar as produções agropecuárias, assim como a erosão do solo, que significa a inutilização do mesmo para atividades agropecuárias. A perda da biodiversidade implica em perdas de futuros negócios, hoje são feitas descobertas de novos produtos provindos da diversidade biológica de aplicação nas diversas áreas comerciais, medicina; estética; para fins artesanais (fibras industriais); para fins industriais (borracha), etc. (Buzan et. al., 1998; Barata, 2000).

71

efeitos que o causam: emissões de gases de efeito estufa provindos de desmatamentos em

geral, da industrialização, entre outros.

A securitização não ocorre para o desmatamento da Floresta Amazônica, seja

em relação às causas ou aos efeitos dessa atividade. Como visto, a Amazônia é um bioma

de grande importância em escala mundial que é ameaçado existencialmente pelas práticas

de desmatamento insustentáveis. A explicação para que a securitização não ocorra, é o fato

de suas causas e efeitos não terem implicações visíveis sobre as atividades desenvolvidas

por aqueles com poder de securitização.184 Fearnside (2005:121), deixa esse ponto bem

claro quando coloca que o “desmatamento representa um problema de longo prazo, que

provavelmente ganhará urgência na arena política internacional, à medida que os impactos

tornarem-se cada vez mais aparentes para o público e para os líderes políticos”.

Como colocado por Buzan et. al. (1998) e Ostrauskaite (2001), a

securitização impede que soluções para as questões ambientais sejam buscada a partir de

debates mais abertos que propiciam o alcance de ações baseadas na cooperação, o que faz

desse processo algo indesejável. No caso da Floresta Amazônica, a esperança é de que as

medidas hoje tomadas contra o desmatamento sejam suficientes para reverter a situação de

modo que o desmatamento alcance níveis sustentáveis, evitando que a securitização seja a

adotada no futuro.

Sendo o possuidor da maior floresta tropical remanescente do mundo o Brasil

é dono de um patrimônio incomparável, com grande riqueza em biodiversidade e em

serviços ambientais185. Perceber o desmatamento da floresta como parte da segurança

brasileira, não a partir da securitização, mas lembrando que essa atividade ali desenvolvida

insustentavelmente se configura ameaça existencial para a floresta, aponta para um

caminho no qual o país pode aprimorar suas políticas no nível local, regional e global. Isso

ocorre porque a partir dessa análise é possível observar quais as dinâmicas e

184 Para Wæver, (1998) esses atores são as elites ou o governo.185 Alguns dos serviços ambientais são: produção de chuva; proteção dos solos e rios; retêm 20% do carbono do planeta (Meirelles Filho, 2004).

72

vulnerabilidades moldam os complexos de segurança a partir das causas e efeitos do

desmatamento da Amazônia.

O foco que é dado no estudo de caso ao desmatamento da Floresta

Amazônica é uma limitação desse trabalho, uma vez que não são considerados outros

fatores que também se configuram como ameaça à Amazônia186. Esse fato impede uma

observação mais ampla e detalhada da Floresta Amazônica como um todo nas questões de

segurança para o Brasil.

186 Caça Predatória; poluição dos rios; tráfico de plantas e animais; tráfico de armas e drogas, entre outros (Meirelles Filho,2004)

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REFERENCIAS

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