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PENSAMENTO COMUNICACIONAL BRASILEIRO O legado das ciências humanas

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pensamento comunicacional brasileiroO legado das ciências humanas

coleção comunicação

• História do pensamento comunicacional – Cenários e personagens, José Marques de Melo • Mídia e poder simbólico – Um ensaio sobre comunicação e campo religioso, Luís Mauro Sá Martino • A produção social da loucura, Ciro Marcondes Filho • Culturas e artes do pós-humano – Da cultura das mídias à cibercultura, Lucia Santaella • Corpo e comunicação – Sintoma da cultura, Lucia Santaella • Navegar no ciberespaço – O perfil cognitivo do leitor imersivo, Lucia Santaella • Mídia controlada: A história da censura no Brasil e no mundo, Sérgio Mattos • Comunicação e Cultura das minorias, Raquel Paiva / Alexandre Barbalho (orgs.) • A realidade dos meios de comunicação, Niklas Luhmann • A sociedade enfrenta sua mídia: Dispositivos sociais de crítica midiática, José Luiz Braga • É preciso salvar a comunicação, Dominique Wolton • Teoria do jornalismo: Identidades brasileiras, José Marques de Melo • Comunicação e sociedade do espetáculo, Valdir José de Castro / Cláudio Novaes Coelho • O signo da relação, Cremilda Celeste de Araújo Medina • A dromocracia cibercultural – Lógica da vida humana na civilização mediática avançada, Eugênio Trivinho • A televisão brasileira na era digital – Exclusão, esfera pública e movimentos estruturantes, César Ricardo Siqueira Bolaño / Valério

Cruz Brittos • Ética e comunicação organizacional, Clóvis de Barros Filho (org.) • Políticas de comunicação: Buscas teóricas e práticas, Murilo César Ramos / Suzy dos Santos (orgs.) • Mídia e movimentos sociais: Linguagem e coletivos em ação, Jairo Ferreira / Eduardo Vizer (orgs.) • Linguagens líquidas na era da mobilidade, Lucia Santaella • Mídia e cultura popular: História, Taxionomia e Metodologia da Folkcomunicação, José Marques de Melo • Comunicação e inovação: Reflexões contemporâneas, Mônica Pegurer Caprino (org.) • Comunicação e democracia: Problemas & Perspectivas, Wilson Gomes / Rousiley C. M. Maia • Midiatização e processos sociais na América Latina, Antônio Fausto Neto / Pedro Gilberto Gomes / José Luiz Braga / Jairo Ferreira

(orgs.) • Observatórios de mídia: olhares da cidadania, Rogério Christofoletti e Luiz Gonzaga Motta (orgs.) • O escavador de silêncios – Formas de construir e de desconstruir sentidos na comunicação, Ciro Marcondes Filho • Sistemas públicos de comunicação no mundo, Coletivo Brasil de Comunicação Social • Vestígios da travessia: da imprensa à internet – 50 anos de jornalismo, José Marques de Melo • Ser jornalista: a língua como barbárie e a notícia como mercadoria, Ciro Marcondes Filho • Ser jornalista: o desafio das tecnologias e o fim das ilusões, Ciro Marcondes Filho • Interesses cruzados – A produção da cultura no jornalismo brasileiro, Sérgio Luiz Gadini • A sociedade tecida pela comunicação: técnicas da informação e da comunicação entre inovação e enraizamento social, Bernard

Miège • A serpente, a maçã e o holograma, Norval Baitello Junior • Os caminhos cruzados da comunicação – Política, economia e cultura, José Marques de Melo • O futuro da internet: em direção a uma ciberdemocracia, André Lemos e Pierre Lévy• Redes sociais digitais: a cognição conectiva do Twitter, Lucia Santaella e Renata Lemos• A ecologia pluralista da comunicação: conectividade, mobilidade e ubiquidade, Lucia Santaella• Comunicação e identidade: quem você pensa que é?, Luís Mauro Sá Martino• Regulação das comunicações: história, poder e direitos, Venício Artur de Lima• O princípio da razão durante - comunicação para os antigos, a fenomenologia e o bergsonismo - Tomo I - Nova teoria da comu-

nicação III, Ciro Marconde Filho• O princípio da razão durante - da Escola de Frankfurt à crítica alemã contemporânea - Tomo II - Nova Teoria da Comunicação III,

Ciro Marcondes Filho• O princípio da razão durante - O círculo cibernético: o observador e a subjetividade - Tomo III - Nova Teoria da Comunicação III,

Ciro Marcondes Filho• O princípio da razão durante - Diálogo, poder e interfaces sociais da comunicação - Tomo IV - Nova Teoria da Comunicação III,

Ciro Marcondes Filho• O princípio da razão durante – O conceito de comunicação e a epistemologia metapórica – Tomo V – Nova teoria da comunicação

III, Ciro Marcondes Filho• História do jornalismo: Itinerário crítico, mosaico contextual, José Marques de Melo• O explorador de abismos: Vilém Flusser e o pós-humanismo, Erick Felinto e Lucia Santaella• O rosto e a máquina: o fenômeno da comunicação visto dos ângulos humano, medial e tecnológico – Nova Teoria da Comunica-

ção vol. 1, Ciro Marcondes Filho• Comunicação ubíqua: repercussões na cultura e na educação, Lucia Santaella• Mutações no espaço público contemporâneo, Mauro Wilton / Elizabeth Saad Corrêa (orgs.)• Teoria e metodologia da comunicação – tendências para o século XXI, José Marques de Melo• Pensamento comunicacional brasileiro: o legado das ciências humanas - vol. I – História e Sociedade, José Marques de Melo /

Guilherme Moreira Fernandes (orgs.)• Pensamento comunicacional brasileiro: o legado das ciências humanas - vol. II – Cultura e Poder, José Marques de Melo / Gui-

lherme Moreira Fernandes (orgs.)

comunicação

pensamento comunicacional brasileiro

José marques de melo Guilherme moreira Fernandes

(orgs.)

o legado das ciências humanas

II – Cultura e poder

© PauLuS – 2015

rua Francisco cruz, 22904117-091 – são paulo (brasil)tel.: (11) 5087-3700 – Fax: (11) [email protected]

isbn 978-85-349-4144-0

Direção editorial: claudiano avelino dos santoscoordenação editorial: Valdir José de castroassistente editorial: Jacqueline mendes FontesPreparação dos originais: claiton césar czizewski Élmano ricarte de azevedo souza Guilherme moreira FernandesRevisão: caio pereira cícera G. s. martinsDiagramação: ana lúcia perfonciocapa: marcelo campanhã impressão e acabamento: paulus

Dados internacionais de catalogação na publicação (cip)(câmara brasileira do livro, sp, brasil)

pensamento comunicacional brasileiro: o legado das ciências humanas ii: cultura e poder / José marques de melo, Guilherme moreira Fernandes (orgs.). – são paulo: paulus, 2015. – (coleção comunicação) Vários autores.

isbn 978-85-349-4144-0 1. ciências da comunicação 2. ciências humanas 3. ciências sociais i. melo, José marques de. ii. Fernandes, Guilherme moreira. iii. série.

15-01198 cDD-302.2

Índices para catálogo sistemático:1. ciências da comunicação: sociologia 302.2

1ª edição, 2015

comunicação

5Volume 2

ada cristina machado da silveira

adriana c. omena santosallan soljenítsin barreto

rodriguesana carolina rocha pessôa

temeranita simisbetania macielboanerges balbino lopes Filhocelso Francisco Gayosocésar ricardo siqueira bolañocicilia peruzzoclaiton césar czizewskiclarissa Josgrilberg pereiracláudia lagoesnél José FagundesFernando oliveira paulinoFlávio linsFrancisco rüdigerGiovandro marcus FerreiraGuilherme moreira Fernandes

alfredo bosicarlos Guilherme motacelso Furtadoegon schadenGilberto FreyreJosé nilo tavares

Juan Díaz bordenaverené armand Dreifussruben George olivenruth cardosoVamireh chacon

coautores

igor sacramentoiluska coutinhoJ. s. FaroJosé Guibson DantasJosé marques de meloJuçara brittesJuliano Domingues-da-silvamargarita ledomaria cristina Gobbimargarida maria Krohling

Kunschnair pratapaula casari cundariprotásio cezar dos santosricardo Ferreira Freitasroberto Joaquim de oliveirarogério christofolettirose mara Vidal de souzascarleth Yone o’Harasérgio luiz GadiniYuji Gushiken

comunicação

7

sumário

Prólogo margarida maria Krohling Kunsch ........................................................................... 15

Exórdio margarida ledo andión............................................................................................. 17

APrEsEntAção Guilherme moreira Fernandes .................................................................................. 21

introdução José marques de melo ............................................................................................... 27

Parte III

comunicAção: fEnômEno culturAl .................................................... 41

para entender a comunicação como fenômeno cultural clarissa Josgrilberg pereira ..................................................................................... 43

1. o euRotRoPicaLiSmo comunicacionaL .................................. 59

o eurotropicalismo comunicacional de egon schaden cláudia lago............................................................................................................. 61

a antropologia da comunicação e a cultura eurotropical do brasil egon schaden .......................................................................................................... 71

mídia e cultura: a antropologia da comunicação depois de schaden Francisco rüdiger ..................................................................................................... 95

pensamento comunicacional brasileiro

8 2. o PoPuLaR “RuRbano” .......................................................................... 107

o popular “rurbano” segundo Gilberto Freyre betania maciel .......................................................................................................... 109

o ânimo folclórico no comportamento e na cultura do brasileiro, inclusive na literatura Gilberto Freyre .......................................................................................................... 117

o real e o imaginário em Gilberto Freyre esnél José Fagundes e protásio cezar dos santos .............................................. 133

3. o PoPuLaR PóS-uRbano ........................................................................ 143

o mito da uniformidade e as diferenças negadas: comentários sobre o pecado de ruben oliven Juçara brittes ............................................................................................................ 145

industrialização, urbanização e meios de comunicação de massa ruben George oliven ............................................................................................. 151

uma perspectiva antropológica para o estudo da indústria cultural na obra de ruben George oliven igor sacramento....................................................................................................... 159

4. o PoPuLaR PóS-inDuStRiaL ................................................................. 169

o popular pós-industrial segundo alfredo bosi iluska coutinho ........................................................................................................ 171

cultura brasileira e culturas brasileiras alfredo bosi .............................................................................................................. 183

complexo, mas não caótico: o olhar de alfredo bosi para a comunicação ana carolina rocha pessôa temer ........................................................................ 225

5. o PoPuLaR tRanSnacionaL ............................................................... 231

comunicação e consciência crítica na cultura brasileira segundo Darcy ribeiro allan soljenítsin barreto rodrigues ....................................................................... 233

uma questão de cultura e consciência – o projeto nacional na perspectiva de Darcy ribeiro claiton césar czizewski e Guilherme moreira Fernandes ................................ 247

Vejam como é ruim questionar! uma árdua e bela batalha pelas ideias no pensamento de Darcy ribeiro boanerges balbino lopes Filho .............................................................................. 257

comunicação

9 6. ibeRo-ameRicaniSmo comunicacionaL .................................. 267

o ibero-americanismo comunicacional de Vamireh chacon Fernando oliveira paulino ...................................................................................... 269

ibéria e nova ibéria noutra globalização Vamireh chacon ...................................................................................................... 275

a história como variável relevante em Vamireh chacon Juliano Domingues-da-silva ................................................................................... 299

conteXtuaLiZação teóRica ................................................................... 311

Virtualidades da comunicação no campo cultural: notas sobre a interface entre ciências sociais e ciências da comunicação Yuji Gushiken e celso Francisco Gayoso .............................................................. 313

RefLeXõeS PeDagógicaS ............................................................................. 331

a “estratégia pirandello”: legado humanístico, ensino de comunicação e vetores acadêmicos para a área rogério christofoletti .............................................................................................. 333

Parte IVcomunicAção: sistEmA dE PodEr ........................................................... 351

para entender a comunicação como sistema de poder rose mara Vidal de souza ...................................................................................... 353

1. DifuSão RevoLucionáRia.................................................................... 365

Difusão revolucionária segundo carlos Guilherme mota adriana c. omena santos ...................................................................................... 367

ideia de revolução: formas de pensamento revolucionárias carlos Guilherme mota .......................................................................................... 371

História e comunicação: interações metodológicas na obra de carlos Guilherme mota J. s. Faro .................................................................................................................... 411

2. Hegemonia eStataL ................................................................................. 425

Hegemonia estatal segundo José nilo tavares nair prata .................................................................................................................. 427

estado e meios de comunicação no brasil José nilo tavares ...................................................................................................... 437

estado e indústria cultural: o olhar de José nilo tavares ricardo Ferreira Freitas e Flávio lins ...................................................................... 449

sumário

pensamento comunicacional brasileiro

10 3. contRainfoRmação buRgueSa ..................................................... 457

contrainformação burguesa segundo rené Dreifuss maria cristina Gobbi ............................................................................................... 459

ação de classe e elite orgânica rené armand Dreifuss ............................................................................................ 471

meios de comunicação, hegemonia e ação da elite orgânica – 1964: a conquista do estado Giovandro marcus Ferreira ..................................................................................... 487

4. aLteRnativaS SimbóLicaS .................................................................... 499

alternativas simbólicas da sociedade civil segundo ruth cardoso paula casari cundari ............................................................................................... 501

sociedade civil e meios de comunicação no brasil ruth cardoso ........................................................................................................... 509

a metodologia da problematização das alternativas simbólicas da sociedade civil scarleth Yone o’Hara .............................................................................................. 525

5. meDiaçõeS ecLeSiaiS ................................................................................ 539

mediações eclesiais segundo Juan Díaz bordenave José Guibson Dantas ............................................................................................... 541

uma visão sistêmica dos fluxos de comunicação no povo de Deus Juan Díaz bordenave ............................................................................................... 549

a comunicação libertadora de Juan Díaz bordenave roberto Joaquim de oliveira .................................................................................. 561

6. DeSafioS econômicoS ........................................................................... 569

economia política, comunicação e cultura: sobre a contribuição de celso Furtado césar ricardo siqueira bolaño ............................................................................... 571

Desenvolvimento e cultura celso Furtado ........................................................................................................... 579

uma releitura de “Formação cultural do brasil” anita simis ................................................................................................................ 587

conteXtuaLiZação teóRica ................................................................... 597

para (re)pensar variações, elementos e perspectivas nos sistemas de poder da comunicação sérgio luiz Gadini .................................................................................................... 599

comunicação

11 RefLeXõeS PeDagógicaS ............................................................................. 615

a identidade do campo comunicacional-midiático perante os sistemas de poder ada cristina machado da silveira ......................................................................... 617

sobrE os AutorEs ................................................................................................. 631

sumário

Obra comemorativa pelos 100 anos de fundaçãoda família paulina no Brasil

comunicação

15

próloGo

Esta coletânea Pensamento comunicacional brasileiro: o lega-do das ciências humanas, organizada por José Marques de Melo e Guilherme Moreira Fernandes, surge como a mais

surpreendente e nova contribuição para os estudos das ciências da comunicação no Brasil.

A obra, dividida em seis partes e três volumes, expõe o pensa-mento de grandes nomes nacionais das ciências humanas e sociais que dialogam com o campo comunicacional em temas que per-passam a comunicação em diferentes vertentes, tais como: gênese e evolução, o processo básico, o fenômeno cultural, o sistema de poder, fluxos comportamentais (consumo, participação e opinião pública) e ciências sociais aplicadas.

A partir de uma concepção teórica-metodológica singular os temas são explorados primeiro pelo resgate autoral de textos originais publicados em diferentes momentos da história do país, seguidos de uma descrição da memória bibliográfica e de uma análise metodo-lógica textual realizadas por um contigente enorme de professores e pesquisadores de todo o território nacional. A hercúlea tarefa empre-endida pelos organizadores e autores desta antologia histórica é admi-rável e digna de reconhecimento público pelos esforços empregados.

pensamento comunicacional brasileiro

16Trata-se de uma obra significativa, que expressa como o campo

das ciências da comunicação se interconecta com o das ciências humanas e das ciências sociais aplicadas. Mais uma vez, o incan-sável professor José Marques de Melo, com seus conhecimentos, e o olhar perspicaz e reflexivo, captou textos tão significativos e históricos, muitos deles completamente esquecidos pela atual gera-ção de pesquisadores, que expressam uma visão interdisciplinar dos estudos da comunicação.

A Federação Brasileira das Associações Científicas e Acadêmicas de Comunicação (SoCiCoM) congratula-se com os organizado-res por mais esta iniciativa em prol das ciências da comunicação. A preocupação em recuperar a história do campo comunicacional no Brasil é exemplar para a geração atual e as gerações futuras de pes-quisadores. Estas terão o privilégio de encontrar, para seus estudos e suas práticas, um rico acervo de conhecimentos acumulados que os pioneiros tiveram a dedicação e a coragem de produzir.

iniciativas como a presente são, assim, de suma importância para a história das ciências da comunicação. São resgates que contribuem não só para o conhecimento dos que se dedicam aos estudos e das práticas do campo comunicacional, mas também para fazer justiça àqueles pioneiros que desbravaram caminhos, lançaram sementes e cultivaram ações, muitas vezes em solos áridos e difíceis.

Margarida Maria Krohling KunschPresidente da Federação Brasileira

das Associações Científicas e Acadêmicas de Comunicação (SoCiCoM) e Diretora da Escola de Comunicações

da Universidade de São Paulo.

comunicação

17

apresentação

exórDio

Textos, experiencias, contextos, a súa relación nesta obra ili-mitada é a proba maior dun percurso no que as, os mestres dialogan co presente dende o seu proprio tempo e dende

as súas proprias posicións. Discernir, analizar, reflectir, aplicar son doas dun proceso onde o pensamento articula un campo acadé-mico, o brasileiro, que é, arestora, un referente ricaz da función constituínte da comunicación nas diferentes sociedades.

So a connotación intercultural, comunitaria, cidadá ou popular, as fontes humanísticas e antropolóxicas danlle a man a unha tra-dición vizosa canto aos estudos económicos ou á incorporación de teorías e áreas de especialización que visan o poder, a opinión, as mediacións. Co xermolar dunha actitude independente e o paso á acción práctica – da pedagoxía e ate a comunicación aplicada – o campo brasileiro das ciencias da comunicación pasa a ser sinónimo dun espazo intelectual en andamento, quen de cooperar dende a diferenza ou, tamén, dende a diverxencia.

Escribo este exordio na véspera do 17 de Maio de 2014, Día das Letras Galegas, cando se relembra a saída do prelo da obra Cantares Gallegos de Rosalía de Castro (1863), da autora que deveu en icona do noso rexurdimento político-cultural para alén

pensamento comunicacional brasileiro

18de voceira do dereito das mulleres a expresaren “o que senten e o que pensan”.

Escribo este texto a poucas horas do lanzamento institucional da primeira páxina dun dominio que en diante nos identifica como comunitas na internet, o dominio .gal, que o catedrático de dereito mercantil da USC, profesor Gómez Segade, simbolizou “no barco polo que a língua e a cultura galegas van navegar polo ciberespazo”. A comezar pola Real Academia Galega, as Universidades de Santia-go de Compostela, Vigo e A Coruña, o Colexio de Xornalistas ou o de Telecomunicacións, e ate chegarmos a entidades da diáspora europea e americana, nomeadamente dende Arxentina, Uruguai e Brasil, as 114 agrupacións representativas de todo o abano social e político de Galiza son o alento, a buxola e o ronsel desa nave mundo avante, recoñecíbel, de modo sobranceiro, polo galego, a língua de nós, - e remítoos ao texto de Lima Sobriño -, por esa peza mestra que articula e lle dá senso á presenza nosa no universo, imenso e diverso, da comunicación.

En que pouso o meu ollar encol esta obra da que o profesor Marques de Melo, na compaña de alguén da xeración mais nova, o profesor Guilherme Fernandes, me convida a termar, a miña memoria vai cara o ano 1998, o do “ii Coloquio Brasil-Estado español de Ciencias da Comunicación”, cando unha Facultade de a penas 7 anos de andadura, a da Universidade de Santiago de Compostela, organizara e animara un encontro no que tomaron parte representacións de todas as Universidades públicas españolas. Repaso, xa que logo, as comunicacións editadas un ano despois, e comprobo con abraio - e con certa emoción intelectual - que as persoas vindas do Brasil coas que non encontramos naquel e noutros eventos a seguido - o propio Marques de Melo, imma-colata Vasallo, Margarida Kunsch, César Bolaño, Sergio Mattos, Doris Fagundes, etc., etc.- continuamos a construír esa “comuni-dade imaxinada” de comunicación iberoamericana que o profesor espallou.

Hai ben pouco a efeméride eran os 50 anos de Ciencias da Comunicación no Brasil e non falta moito para que se fagan

comunicação

19os 25 na Galiza, nunha universidade que xa soborda os 500 anos. E esa efeméride vai contar no seu acervo co agasallo de se ter atopado polo camiño coa toma de posición, a gorxa liberada e o modo igualitário de entender o intercambio de Marques de Melo. E tamén co seu legado en que nos aprendeu a necesidade de pasarmos do rexistro dos feitos ao pensamento, do vestixio á contextualización e interpretación da proba empírica, do enun-ciado á reflexión crítica secomasí a por en valor a organización, a institucionalización e a internacionalización de todo o que nos identifica.

Porque nesta obra a observación das mudanzas, por exemplo metodolóxicas, e a escolla dun modelo que vai alén da compilación anotada para devir nun Tratado, demostrase atinada para irmos ao encontro co pensamento brasileiro de comunicación, o diálogo entre formación, o artellamento de estruturas organizativas, a rela-ción do visíbel co velado que atinxe o tecido media, democracia e poder, a mesma serve para achegarnos un sistema no que se engar-zan os vieiros históricos (memoria) coa creba da dependencia, a través do intercambio de experiencias concretas e de proxectos para axir nos foros internacionais influindo na axenda e na comprensi-ón crítica dos fenómenos socioculturais.

Levar a diversidade ao corazón dun outro sistema, o mediáti-co; coller distanza e repensar a sociedade do coñecemento; facer comunidade canda unha loita árdua por acadar a lexitimade das ciencias sociais; vencellar a democracia política co rol dos medios de comunicación; animar un, dous, moitos lugares de encontro, de debate e de vencello entre todas e todos nós, eís um esgo múltiplo que define a pluralidade da escola brasileira e da que un dos resul-tados tanxíbeis son obras nas que se expresa un suxeito colectivo, no caso os autores e autoras de Pensamento Comunicacional Brasileiro: o legado das ciências humanas.

E querería rematar cun brinde a quen endexamais caeu na trapela do confronto entre dereito persoal e colectivo, nin no da comunicación profesional fronte da comunal. o seu pensamento relacional soubo facer do harmonía e da acción crítica o guieiro da

exórDio

pensamento comunicacional brasileiro

20súa intervención nas diferentes paisaxes que transitou e que neste intre teñen unha vizosa árbore máis.

Santiago de Compostela, Galiza, 16 de maio de 2014

Margarita Ledo Andión Presidenta da Asociación Galega

de investigadoras e investigadores en Comunicación (AGACoM), ex-presidenta da Federação Lusófona

de Ciências da Comunicação (LUSoCoM).

comunicação

21

apresentaçãoGuilherme Moreira Fernandes

Em dezembro de 2013, durante o Viii Simpósio Nacional de Ciências da Comunicação (SiNACoM), fui a São Paulo para lançar minha primeira parceria editorial com o gran-

de mestre José Marques de Melo, o livro Metamorfose da folkco- municação (Editae Cultural, 2013). Nessa ocasião, recebi o con-vite para trabalhar em mais uma “quase epopeia”, que acabou se tornando este livro que ora apresentamos ao leitor. Durante aque-les dezembro e janeiro de 2014, foram várias as trocas de e-mail com o intuito de debater o melhor formato para o livro. optamos por seguir uma estratégia similar à que fizemos no Metamorfose da folkcomunicação, ou seja, a cada “texto-base” seria acrescenta- do um “texto introdutório” e haveria outro amarrando cada uma das seções. Após diversas discussões, modificamos o formato e a cada “texto-base” foram acrescentados dois outros textos. o primeiro, de natureza biobibliográfica, ressaltando a trajetória do autor e a importância do texto, e outro, de natureza metodológi-ca, trazendo novas contribuições ao texto. Dividimos a produção em dois momentos; assim, os autores das notas metodológicas tiveram acesso aos textos biobibliográficos, o que evitou possíveis repetições.

pensamento comunicacional brasileiro

22Cada uma das seis seções presentes no conjunto da obra tive-

ram outros três textos. o primeiro, denominado “introdução”, visa apresentar o conjunto de textos em consonância com o título da seção. o segundo, que chamamos de “contextualização teórica”, publicado após os “textos-base” e suas respectivas notas, tem como objetivo amarrar os seis textos presentes da seção, visto que os autores são filiados a distintas áreas e não apresentam diálogos per se. Por fim, “reflexão pedagógica” é o texto de fecho e traz contri-buições para a leitura reflexiva. os exegetas da “contextualização teórica” tiveram acesso às notas biobibliográficas, e os convidados para redigir a “reflexão pedagógica”, por sua vez, tiveram conheci-mento dos textos de “introdução”. É necessário lembrar que, com excessão do texto de Darcy Ribeiro, todos os demais “textos-base” lidos pelos pesquisadores convidados estão reproduzidos na íntegra, neste volume. Neste ponto aproveito para publicizar meus agrade-cimentos aos professores Claiton César Czizewski e Élmano Ricarte de Azevedo Souza, que me ajudaram na preparação dos originais e também a todos os autores, editoras, institutos e familiares que gentilmente cederam os direitos de reprodução dos textos.

A escolha dos exegetas não foi arbitrária. Procuramos pesquisa-dores que possuem afinidade com o autor ou com o tema refletido no texto. Conseguimos representantes de todos os Estados da fede-ração. Do Rio Grande do Sul ao Amapá, da Paraíba ao Acre. Mobi-lizamos 111 pesquisadores, além dos 35 pensadores que compõem os “textos-base”, totalizando 146 autores.

No momento do copydesk, ao se aproximar das mil páginas e ainda estarmos na quarta seção do livro, a sapiência de Marques de Melo aconselhou dividirmos a obra em três volumes. o pri-meiro volume – História e sociedade – foca sobretudo os processos comunicativos axiológicos; o segundo – Cultura e poder – apresenta aspectos e traços da comunicação; e o terceiro – Mídia e consumo – reúne textos com o propósito de refletir cognitivamente a apli-cabilidade da comunicação e sua relação com as ciências sociais e humanas. A divisão permite que os livros possam ser lidos em conjunto ou de forma separada, sem se ater à ordem dos volumes.

comunicação

23

apresentação

o livro está em consonância com as preocupações do professor Marques de Melo de resgatar e trazer à baila o estado da arte da comunicação. Ao contrário de outras publicações com vistas nos teóricos e pensadores da comunicação stricto sensu, este livro traz uma abertura e uma visão do processo comunicacional de forma lato. Todos os 35 pensadores reunidos nos “textos-base” não são oriundos do campo comunicacional, são reconhecidos por pares em outras esferas da grande área das ciências humanas e sociais. Contudo, suas diversas contribuições ao universo comunicacional fazem deles autores-referências. o caráter que diferencia esta de tantas outras antologias é a presença dos intérpretes-leitores. Estes, sim, pesquisadores atuantes no campo comunicacional que direcio-naram seu olhar para a comunicação inscrita e circunscrita nestes 36 textos. Apesar dos nossos esforços, não conseguimos autorização para a reprodução de todos os textos que gostaríamos. Nesses casos, substituímos o “texto-base” por um comentário com as principais indicações comunicacionais presentes no texto que serviu de base para os exegetas e que não estão presentes nesta antologia.

Também consonante com a perspectiva pedagógica do professor Marques de Melo, o livro apresenta visões das mais distintas gera-ções de pesquisadores, de mestrandos a renomados e prestigiados pesquisadores do campo comunicacional. As diversas orientações metodológicas e epistemológicas coexistem lado a lado. o resulta-do é um amplo mosaico da sociedade e cultura brasileira à luz das ciências da comunicação.

Este livro está divido em duas seções. A primeira (terceira, se levarmos em consideração o primeiro volume da série), denomina-da “Comunicação: fenômeno cultural”, apresenta o pensamento de Egon Schaden, Gilberto Freyre, Ruben oliven, Alfredo Bosi, Darcy Ribeiro e Vamireh Chacon. os textos e os autores aqui reunidos são fundamentais para a compreensão da relação da antropologia com a comunicação. Schaden certamente foi o pioneiro ao sugerir a denominação “Antropologia da Comunicação”. Diferentemente da “sociologia da comunicação”, amplamente estudada nos cursos de comunicação social (PASQUALi, 1973), no campo da comunica-

pensamento comunicacional brasileiro

24ção, a acepção “Antropologia da Comunicação” ainda não foi aceita e incorporada. Nos antigos cursos de comunicação social (Jorna-lismo, Publicidade e Propaganda, Rádio, TV e internet, Produção Editorial etc.), é comum que um professor do departamento de antropologia assuma tal disciplina, que geralmente é denominada de “antropologia cultural”. São poucos os cursos, entre eles o da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), que apresentam uma ligação entre as duas ciências (na ECo/UFRJ, por exemplo, a disciplina chama-se “comunicação e antropologia” e é oferecida por um professor da própria ECo).

De fato, a seção não agrupa todo o pensamento antropológico/cultural e é sensível a falta de importantes pensadores como Gilber-to Velho, Sérgio Buarque de Holanda e Roberto DaMatta, assim como de pensadores mais recentes, como Hermano Vianna ou ondina Leal. os exegetas convidados foram sensíveis ao destacar as diversas relações culturais da comunicação e trouxeram a antro-pologia para o debate comunicacional. A questão principal não foi debater ou entender o conceito de cultura e sua aplicabilidade no cenário comunicacional, mas sim o de perceber como as diversas culturas coexistem nas ciências da comunicação.

o conjunto das distintas formas de retratar a cultura, de certa forma, está ligado à concepção de Edgar Morin (1977), ao perceber a cultura como um complexo de símbolos, e ao apresentar as distin-tas naturezas dos “focos culturais”: “precisamos, então, considerar a cultura como um sistema que faz comunicar – em forma dialética – uma experiência existencial e um saber constituído” (MoRiN, 1977, p. 77). E, naturalmente, da acepção de Marques de Melo (1998) ao afirmar: “em todo o mecanismo de formação e evolução de uma cultura, a comunicação desempenha papel fundamental. Como processo social básico que é, a comunicação representa o próprio motor da configuração do simbolismo que marca o fenô-meno cultural” (MARQUES DE MELo, 1998, p. 187). Acrescen-to, contudo, o que já tive a oportunidade de afirmar anteriormente: “a concepção de que a comunicação é por excelência uma prática realizada em multiperspectiva e que a(s) cultura(s) está(ão) intima-

comunicação

25mente relacionada(s) a um sistema de Comunicação” (FERNAN-DES, 2013, p. 358).

Como recorte, trazemos o eurotropicalismo e o ibero-america-nismo comunicacionais (Schaden e Chacon, respectivamente) e o popular “rurbano” (Freyre), o pós-urbano ou midiático (oliven), o pós-industrial e também acadêmico/universitário (Bosi), e o trans-nacional (Ribeiro).

A segunda parte deste livro (quarta da coleção) é denominada “Comunicação: sistema de poder”, e reúne os seguintes autores: Carlos Guilherme Mota, José Nilo Tavares, René Dreifuss, Ruth Cardoso, Juan Díaz Bordenave e Celso Furtado. A pesquisa de Mota e Dreifuss é densa, retrata dois distintos momentos históricos brasileiros e mostra as relações de poder e de comunicação à época retratada, respectivamente o período imperial e o regime militar. Já os textos de Tavares e de Cardoso poderiam – dada a circunstância de produção (uma conferência realizada em uma das edições do intercom) – ser considerados datados e sem fôlego. Permanecem, contudo, atuais e dinâmicos e ainda podemos considerá-los refe-rências para retratar a hegemonia estatal e as alternativas simbólicas da sociedade civil.

No universo comunicacional, o pensamento de Bordenave e de Furtado certamente são mais conhecidos. o primeiro ficou famoso especialmente pelas obras O que é comunicação, da coleção Primei-ros Passos (Melhoramentos), e Além dos meios e mensagens, publica-da pela Vozes. Já Furtado é apresentado como uma das principais referências da Economia Política da Comunicação (BoLAño, 2013), além de ser referência para a concepção da formação cultural do povo brasileiro. A seção, enfim, apresenta diversas perspectivas em que o exercício do poder, via comunicação, é realizado. Friza-mos que as diversas concepções de “poder”, de Gramsci a Foucault, perpassam as discussões apresentadas nesta seção.

o primeiro volume apresentou as seções “Comunicação Huma-na: Gênese e Evolução”, com o pensamento de Lévi-Strauss, Câmara Cascudo, Jarbas Maciel, Florestan Fernandes, Barbosa Lima Sobrinho e Virgilio Noya Pinto, e “Comunicação: processo

apresentação

pensamento comunicacional brasileiro

26social básico”, com as pesquisas de Emilio Willems, Alceu Maynard Araújo, Paulo Freire, Manuel Diégues Júnior, Antônio Cândido e Fernando de Azevedo. Já o terceiro volume é composto pelas seções “Comunicação: fluxos comportamentais (consumo, participação e opinião pública)”, com textos de Gabriel Cohn, Arthur Ramos, Cândido Mendes, Samuel Profomm Netto, ingrid Sarti e octavio ianni; e “Comunicação: ciências sociais aplicadas”, com estudos de octavio Eduardo, Florestan Fernandes, Dante Moreira Leite, Maria isaura Pereira de Queiróz, Luiz da Costa Lima e Fernando Henrique Cardoso.

Deixamos as construções simbólicas a cargo dos leitores e dese-jamos uma proveitosa leitura.

RefeRênciaS:

BoLAño, César. “Celso Furtado: na origem e no futuro da EPC brasileira”. in: MARQUES DE MELo, José; MELo, Patrícia Bandeira de (orgs.). Economia Política da Comunicação: vanguardismo nordestino. Recife: Massagana, 2013, p. 125-140.

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PASQUALi, Antonio. Sociologia da comunicação. Petrópolis: Vozes, 1973.

introDuçãoJosé Marques de Melo

A ideia da obra enciclopédica Pensamento comunicacional bra-sileiro: o legado das ciências humanas (volume 1 – História e sociedade; volume 2 – Cultura e poder; volume 3 – Mídia

e consumo) surgiu nos idos dos anos 1960, quando ingressei na carreira acadêmica.

Para elaborar minha tese de pós-graduação no Centro interna-cional de Estudos Superiores de Jornalismo para a América Latina, como bolsista da Unesco, garimpei a literatura nacional, tentando encontrar fontes capazes de respaldar o objeto fundamental da pes-quisa. Tive a nítida sensação de catar agulha em palheiro.

Naquela ocasião, as anotações feitas incluíram apenas dois bra-sileiros – os baianos Anísio Teixeira (discípulo da Escola de Chica-go) e Leôncio Basbaum (discípulo da Escola de Moscou) – e um brazilianist francófono. Refiro-me a Claude Lévi-Strauss, francês que ajudara a fundar a Universidade de São Paulo, na década de 1930, e se exilou nos Estados Unidos quando Paris foi ocupada pelos nazistas, na ii Guerra Mundial. Mais tarde foi reverenciado como patriarca do estruturalismo, corrente de estudos ancorada em pesquisas de campo feitas em tribos indígenas do Brasil e da América do Norte.

pensamento comunicacional brasileiro

28Todos foram devidamente citados no capítulo inicial – “Comu-

nicação: conceitos e estrutura” – do meu primeiro livro, Comunica-ção social – Teoria e pesquisa (Vozes, 1970).

Não desisti, contudo, dessa identificação geoculturalista, arru-mando os pedaços do mosaico cognitivo que serviu como matéria--prima para os ensaios “A imprensa como objeto de estudo científi-co no Brasil” e “o estudo científico do jornalismo”, publicados no livro Estudos de jornalismo comparado (Pioneira, 1972).

Além dos pernambucanos Gilberto Freyre e Luiz Beltrão, des-tacados no título daquele capítulo, localizei outros intelectuais que haviam conquistado legitimação nacional: o alagoano Arthur Ramos, o fluminense José Honório Rodrigues, o pernambucano Amaro Quintas, o paraense Vicente Salles, o mineiro Pedro Parafita Bessa, o gaúcho Carlos oberacker Jr. e os paulistas Emília Viotti, Edgar Carone, Florestan Fernandes, bem como os brazilianists Roger Bastide, Jean Roche (franceses), Emilio Willems (alemão) e Zdenek Hampejs (tcheco).

Tendo em vista a escassez de obras em circulação no mercado nacional que pudessem suprir as carências intelectuais dos jovens ingressantes em nossas faculdades de comunicação, empreendi uma ambiciosa cruzada para divulgar suas ideias, tanto através de antologias quanto de opúsculos editados pela gráfica da Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. infelizmente essa experiência, contabilizando mais de uma centena de títulos (MATToS, 2010, p. 148), sofreu descontinuidade durante a fase de endurecimento do regime militar. Ela só foi mantida pelas cole-ções de livros que coordenei ou assessorei em editoras particulares.

Fazia falta uma obra de referência contendo o inventário crítico das contribuições humanísticas ao campo comunicacional, conside-rando que a escassez de cabeças pensantes inibia a exposição pública dos que tinham acumulado conhecimento nessa área. Além do Inventário da pesquisa em comunicação no Brasil (intercom, 1984), cobrindo o período 1883-1983, trouxe uma modesta contribuição para reduzir esse gap cognitivo, publicando um guia das mais recen-tes obras destinadas ao estudo da comunicação.

comunicação

29Trata-se de Fontes para o estudo da comunicação (intercom,

1995), cujo conteúdo refletia em grande parte o acervo bibliográfi-co que me servira no final do século XX. Estão ali registradas 690 indicações, a maior parte delas acrescidas de fichas informativas sobre a natureza de cada documento.

É bem verdade que vinte anos atrás publicara um livro contendo o mapa do conhecimento comunicacional brasileiro acessível em bibliotecas norte-americanas. Além das fichas-resumo de 235 docu-mentos, selecionei alguns estudos paradigmáticos dos interesses que os brazilianists norte-americanos tinham naquela época, traduzindo dez artigos representativos do conjunto. Na introdução que escrevi para o livro Comunicação, modernização e difusão de inovações no Brasil (Vozes, 1978) achei necessário registrar minha perplexidade, problematizando a circunstância de a comunidade acadêmica dos Estados Unidos conhecer, muito mais que os seus pares brasileiros, os sistemas de comunicação no Brasil.

Usando a metáfora do “telhado de vidro”, expressei o mal-estar visível sempre que os intelectuais “verde-amarelos” se deparavam com “trabalhos sistemáticos, precisos e ricos em detalhes, sobre fatos específicos” da nossa realidade comunicacional.

mais do que a sensação de estarmos sendo observados de fora, era o sentimento de que a sociedade brasileira resumira--se a um objeto passivo, uma vez que os pesquisadores ou as instituições que os patrocinaram não haviam demonstrado, a não ser com raras exceções, o menor interesse em compar-tilhar as suas experiências com os membros da comunidade acadêmica nacional, retribuindo o uso de tão rico laboratório [...] (marques De melo, 1978, p. 6).

Esse “complexo de inferioridade” foi se desanuviando paulatina-mente quando a comunidade acadêmica brasileira das ciências da comunicação se organizou institucionalmente, criando mecanismos de cooperação e intercâmbio. os colóquios binacionais criados pela Sociedade Brasileira de Estudos interdisciplinares da Comunicação (intercom) de certo modo assumiram o papel de fórum de debates

introDução

pensamento comunicacional brasileiro

30não apenas sobre questões teórico-metodológicas, mas sobre a natu-reza e a significação dos estudos realizados nos dois países.

Para tanto, o episódio-chave foi sem dúvida o congresso inter-com 1982, quando a nossa vanguarda intelectual decidiu estabelecer um diálogo orgânico com lideranças dos países hegemônicos, reco-nhecendo a dependência, tanto teórica quanto metodológica, dos estudos de comunicação no espaço denominado Terceiro Mundo.

a internacionalização das discussões ocorreu em dois planos: primeiro, através da reflexão que pesquisadores brasileiros rea-lizaram sobre as tendências da pesquisa em comunicação nos países metropolitanos; segundo, através da participação de pesquisadores estrangeiros [...] que trouxeram contribuições para revisar criticamente os modos de investigar os processos de interação simbólica nos seus países de origem (marques De melo, 1983, p. 11).

Uma década depois, o Brasil começava a superar seus traumas identitários, sentindo-se em condições de participar do debate internacional sobre as questões comunicacionais no mundo con-temporâneo. Ao sediar o Congresso Bienal (Guarujá, 1992) da international Association for Media and Communication Research (iAMCR), ultrapassávamos, de certo modo, o “complexo do colo-nizado”, como pode ser visto nos dois livros que distribuímos aos membros da comunidade acadêmica mundial inscritos nos congres-sos de Bled (antiga iugoslávia) e do Guarujá (Brasil), agendando Brazilian Perspectives para questões que nos eram significativas: Communication and democracy (1991) e Communications for a new world (1993).

Na medida em que alcançáramos visibilidade mundial, em consequência da ação difusora da intercom, testamos o efeito demonstração da nossa produção científica, atraindo novamente a comunidade acadêmica agrupada pela iAMCR para voltar a se reunir em território nacional, desta vez em Porto Alegre (2004). o balanço das nossas conquistas feito na ocasião indicava duas tendências convergentes.

comunicação

31conquistamos evidência mundial, especialmente pelo tama-nho do nosso mercado como consumidor potencial das ideias germinadas no exterior. corremos, por isso mesmo, o perigo de nos transformar em simples mercado de reserva para autores que necessitam de legitimação extramuros, mas cujas criações intelectuais muitas vezes configuram ideias fora do lugar (para não dizer fora do tempo) (marques De melo, 2005, p. 114).

Tal deslocamento estava implícito na denominação contida no título da memória daquele evento. Enquanto a versão em língua portuguesa privilegiava o vocábulo pensamento (reflexão, teoria, crítica), a tradução em língua inglesa mostrava-se reducionista, comedida, enunciando o campo de trabalho, através da palavra research (conhecimento, método, análise).

Trata-se de impasse semelhante ao que enfrentáramos no pri-meiro congresso da intercom ao debater o conceito de sistemas de comunicação. A questão fora posta pelo Conselho Federal de Educa-ção ao instituir as disciplinas básicas do currículo mínimo imposto pelo governo militar aos cursos de comunicação de todo o país, ao qual a comunidade acadêmica reagiu concitando à “desobediência civil”. ou seja, cumprir a lei interpretada pela sociedade civil, desprezando as instruções emanadas do colegiado maior do ensino superior do nosso país.

Para melhor compreender a situação, tomemos como referência o conteúdo da disciplina “sistemas de comunicação”, uma novidade no currículo mínimo federal para o qual não tínhamos referentes claros na jurisprudência educativa nacional (MARQUES DE MELo, 1978a, p. 211-139).

Adotando o conceito estrutural de comunicação (Lévi-Strauss), o universo contemplado ampliou a compreensão dos sistemas nacionais, estabelecendo conexões entre a comunicação espacial (infraestrutura) e a comunicação cultural (superestrutura), de modo a entender como as vias (estradas) se articulam com os veículos (transportes) para permitir a veiculação (circulação) de mensagens (conteúdos) produzidas em três segmentos culturais (erudito, mas-sivo e popular).

introDução

pensamento comunicacional brasileiro

32Foi justamente para discernir a bibliografia destinada a essa

disciplina que revisei o conhecimento estocado pelas ciências humanas, cuja riqueza exigia dos seus docentes uma compreensão multifacetada da sociedade brasileira (economia, política, cultura, comportamento, religião, vida cotidiana).

Tal inventário procurou combinar os parâmetros sugeridos por Abraham Moles (1974), para quem o “sistema de comuni-cação” é sinônimo de “circuito de comunicação e cultura”, cuja “diversificação” depende do “canal” utilizado, bem como por Luiz Beltrão (1977, p. 123), cujo conceito abrange “conjunto específico de procedimentos, modalidades, ideias e sentimentos essenciais à convivência e aperfeiçoamento de pessoas e instituições que com-põem determinada parcela da sociedade, caracterizada pelo grau de integração no contexto civilizatório”, presumindo a coexistência de dois grandes sistemas planetários: sistema de comunicação cultural (peculiar aos seres humanos) e exobiocomunicação (constituído por seres de outras galáxias).

o inventário das obras ali esboçado alavancou a construção do perfil dessa enciclopédia, embora persistisse uma dúvida: que tipo de conteúdo deveria ser focalizado? informação ou interpretação? Dado ou crítica? A experiência adquirida na elaboração do meu livro História do jornalismo (Paulus, 2012) foi decisiva, pedagogi-camente, para buscar o equilíbrio entre cognição e reflexão, entre factual e crítico, entre memória e previsão.

Na metade do século XiX,

[...] a pesquisa jornalística contempla a imprensa como enig-ma a ser desvendado no bojo da sociedade. considerada como um “problema”, robustece a demanda por respostas convincentes, capazes de dirimir dúvidas de percepção, supe-rar impasses cognitivos. [...] a seguir, o jornalismo deixa de ser pesquisado a partir do suporte tecnológico – a imprensa –, passando a ser entendido como processo sociopolítico--econômico. É sintomático que seu artífice – barbosa lima sobrinho – faça a exegese da transformação do jornalismo em atividade mercantil, porém ainda não se refere nominalmente ao fenômeno (marques De melo, 2012, p. 22-23).

comunicação

33Voltei a me confrontar com questões dessa natureza quando

assumi o compromisso de revisar o pensamento comunicacional uspiano para explicar aos participantes do i Congresso Mundial de Comunicação ibero-Americano a complexidade fisionômica da instituição-anfitriã, ou seja, a Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São Paulo. Minha tarefa era mostrar aos colegas visitantes as profundas “raízes ibero-americanas” da instituição que os acolhia. Concebi uma obra estruturada em duas partes organi-camente articuladas.

A primeira, em três tomos, averiguou a natureza do conhe-cimento comunicacional que “fez a cabeça” da primeira geração (1966-1972), em que se identifica uma forte presença de huma-nistas como agentes de conhecimentos hegemônicos na instituição. Estão ali explicitadas as correntes de pensamento que adensaram nossa escola: a dos “fundadores” endógenos (constituída por docen-tes oriundos de outras disciplinas). Portadores de conhecimentos ou ideias consideradas “fora do lugar” ou “fora do tempo”, mas dialogando com um segmento oriundo do setor produtivo ou da militância sindical/profissional, tornaram-se difusores de ideias que “abalaram os alicerces” institucionais.

A elas se agrega a corrente constituída por “fundadores exóge-nos” ou “novatos” educados dentro do campus, formando equipe mista de acadêmicos, profissionais, especialistas dotados de compe-tência cognitiva e aderência temática.

A segunda obra, em dois tomos, focaliza o período inicial do curso de pós-graduação em comunicações culturais, recons-tituindo o itinerário percorrido pelo corpo docente fundador. Procedente de outras áreas do conhecimento, essa equipe adquiriu legitimidade interna, pesquisando fenômenos essenciais para dis-cernir a trajetória intelectual dos mestres que ali se diplomaram, supervisionados pela saga de jovens doutores titulados no biênio 1973-1974.

Circulou em 2011 o Pensamento comunicacional uspiano (tomo 1 – Raízes ibero-americanas; 2 – impasses mundializadores; 3 – ideias que abalaram os alicerces); aguardam a segunda, denomi-

introDução

pensamento comunicacional brasileiro

34nada Comunicações culturais, ordenada em tomo 1 – Raízes e tomo 2 – Matrizes.

outro dilema angustiante para a preparação desta obra conjunta residia na escolha dos livros e autores que deveriam ser resenhados. Não obstante a larga experiência adquirida no diálogo com as novas gerações que adentram minha sala de aula, percebi que seria temerário escolher títulos e escritores de modo unilateral. Por isso, demandei sugestões e opiniões do jovem Guilherme Fernandes. Sua competência já havia sido testada em outro bem-sucedido projeto lançado pela Rede Folkcom, do qual resultou o livrão Metamorfose da folkcomunicação (Editae Cultural, 2013), produzido num clima dialógico, respeitoso, fraterno e criterioso, sob o manto editorial da microempresa Editae, que se vem distinguindo pela eficácia no ramo das edições eletrônicas.

Essa interação manteve-se além da seleção dos textos formadores da espinha dorsal desta antologia. Embora tenha sido responsa-bilidade que o editor sênior assumiu, na fase de planejamento, a contribuição do editor júnior foi estratégica, com a sugestão da inclusão de textos esquecidos, ou, durante o processo de edição, a proposição da substituição de autores.

Sua contribuição foi notável também para a identificação dos colaboradores que escreveram as notas biobibliográficas ou fizeram a crítica das unidades construídas, bem como dos que aceitaram o encargo de despertar ou provocar a consciência crítica dos media-dores didáticos em relação ao conhecimento aqui disseminado ou ao pensamento a ser elaborado na fase da leitura, ou seja, na sala de aula.

Mais importante que isso foi a disponibilidade do meu jovem colega para assumir todo o fluxo editorial: desde a digitação do pro-jeto até o controle do processo, sem esquecer as relações telemáticas, fundamentais para o controle do fluxograma. Tal colaboração foi sensível, eficaz e oportuna para essa conjuntura.

Esta obra tomou vulto em 2013, quando comemoramos os cinquenta anos das ciências da comunicação no Brasil, com a realização de um ciclo de conferências apoiado pela Fundação de

comunicação

35Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp). o programa do evento, circunscrito aos escritores e obras publicadas em São Paulo, criou uma expectativa favorável à produção deste livro, pela sua abrangência nacional.

Nos três volumes propostos estão focalizados 36 textos, emble-máticos e singulares, cuja leitura crítica mobilizou aproximadamen-te uma centena de acadêmicos de todas as regiões do país, perten-centes a todas as gerações. A diversidade das áreas de conhecimento dos resenhistas é a garantia da amplitude cognitiva e a evidência da pluralidade analítica.

Confesso que hesitei, ao principiar a seleção dos textos que seriam encaminhados aos comentaristas, ou seja, aos colegas que decidiram participar voluntariamente. Que critério adotar para o estabelecimento do marco histórico destinado a escolher autores?

Decidi, por razões operacionais, instituir, como divisor de águas, o momento em que passamos do conhecimento (registro, memória, narrativa) para a construção do pensamento (reflexão, crítica, pro-blematização) sobre os processos comunicacionais.

Em livro anterior sobre a matéria, argumentei que o estudo sis-temático da comunicação no Brasil tem origem na metade do sécu-lo XiX, no instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (iHGB), em cuja revista foram publicados os trabalhos pioneiros (MARQUES DE MELo, 2003). No entanto, examinando a natureza dos estu-dos datados daquele século, verifiquei que carecem de exercício reflexivo, o que somente viria a ocorrer a partir da década de 20 do século XX (MARQUES DE MELo, 2013).

Eis a razão que explica o fato de esta antologia tomar como marco histórico o clássico estudo de Barbosa Lima Sobrinho (1923) sobre o jornalismo. Dessa maneira, selecionamos dois blocos de autores que pensaram a comunicação no Brasil, de acordo com as categorias cognitivas vigentes na primeira metade do século XX, representando duas gerações: os visionários e os vanguardistas.

Visionários são aqueles que perceberam os fenômenos comu-nicacionais no instante da sua configuração: Claude Lévi-Strauss, Câmara Cascudo, Barbosa Lima Sobrinho, Florestan Fernandes,

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pensamento comunicacional brasileiro

36Emilio Willems, Alceu Maynard Araújo, Paulo Freire, Manuel Diégues Júnior, Antonio Candido, Fernando de Azevedo, Egon Schaden, Gilberto Freyre, Arthur Ramos, octavio da Costa Eduar-do, Celso Furtado.

Aqueles que deram continuidade ao trabalho da geração ante-rior, agregando elementos potencialmente transformadores, foram considerados vanguardistas: Jarbas Maciel, Virgílio Noya Pinto, Ruben oliven, Alfredo Bosi, Darcy Ribeiro, Vamireh Chacon, Carlos Guilherme Mota, José Nilo Tavares, René Dreifuss, Juan Díaz Bordenave, Gabriel Cohn, Candido Mendes, Samuel Pfromm Netto, Fernando Henrique Cardoso, octavio ianni, Dante Morei-ra Leite, Luiz Costa Lima, Maria isaura Pereira de Queiroz, Ruth Cardoso e ingrid Sarti.

Trata-se de um contingente predominantemente masculino, notando-se apenas três mulheres. Da mesma forma, sua distribui-ção geográfica privilegia o Nordeste, no mapa regional, e a USP, na cartografia institucional.

Poder-se-ia alongar a amostra, para superar essas aparentes dis-torções. Mas essa solução “politicamente correta” introduziria um artificialismo inadmissível. Como a seleção dos textos foi feita pelo mérito, é natural que ela reflita o perfil do universo, configurando um retrato da época.

Assim sendo, pareceu-me mais adequado deixar que tais vieses venham a ser contrabalançados naturalmente na composição do quadro de resenhistas e/ou comentaristas.

Basta uma vista d’olhos nessa lista para constatar que a parti-cipação feminina cresceu consideravelmente (atingindo o patamar de 60%), além de observar que a presença de colaboradores com-preendeu todas as regiões, passando o Sudeste à liderança (48%), ampliando-se a diversidade das instituições em que atuam.

integrado por seis unidades temáticas – as duas primeiras, dia-crônicas (gênese e evolução/processo social básico), e as restantes, sincrônicas, focalizando variáveis temáticas (cultura, política e consumo), bem como aspectos metodológicos –, cada texto sele-cionado vem precedido, na arquitetura editorial, por um artigo de

comunicação

37natureza biobibliográfica, apresentando a trajetória intelectual do autor e as explicações sobre a obra da qual foi pinçado.

Além desse esclarecimento sobre o conjunto da obra e da expli-cação sobre o texto-base, cada unidade temática inclui um ensaio analítico, tornando transparente a conjuntura em que foram produ-zidos os textos e focalizados os significados respectivos.

Trata-se de uma contribuição para que o leitor entenda o con-texto e possa correlacioná-lo às ideias contidas nos capítulos.

Assim sendo, cada texto é precedido por uma nota destinada a estimular a curiosidade do leitor, orientando sua leitura crítica. Trata-se de lição de casa que pretende suscitar a ousadia criativa, sem criar no interlocutor a sensação de estar beirando o caos.

Por sua vez, cada unidade temática é disposta na estrutura da obra como se fora um sanduíche cognitivo: de um lado, nutrido por ensaio de contextualização teórica, contendo a exegese do conjunto dos textos-base no sentido de articular as ideias originais dos autores com as anotações críticas feitas pelos leitores convi-dados, de modo a sugerir desdobramentos cognitivos; de outro, um complemento de reflexões pedagógicas sobre o conjunto dos textos, correlacionando as ideias originais dos autores às anotações feitas pelos exegetas convidados, potencializando a capacidade dos novos leitores. Trata-se de estimular a pesquisa crítica, tomando como referência o legado humanístico dos pensadores brasilei- ros que antecederam a constituição do campo acadêmico da comunicação.

É possível que persista uma ou outra lacuna informativa, bem como polêmicas interpretativas, em tão rústica cartografia, deman-dando esclarecimentos que só o tempo e a vigilância metodológica podem sanar progressivamente. Nesse sentido, tem a feição de uma obra aberta, suscitando controvérsias e concitando à imaginação criadora.

*** As variáveis “cultura” e “poder” são privilegiadas no segundo

volume da trilogia que resgata a contribuição das ciências humanas ao pensamento comunicacional brasileiro.

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pensamento comunicacional brasileiro

38Valendo-se do referencial teórico desenvolvido no âmbito da

disciplina que originalmente se devotou a conhecer e interpretar as civilizações “primitivas”, os autores aqui reunidos aportam con-tribuições valiosas para a instituição de um ramo “moderno” dessa ciência social, a Antropologia da Comunicação.

Egon Schaden, Darcy Ribeiro, Gilberto Freyre, Ruben oliven, trazem reflexões endógenas, que se agregam aos comentários dos historiadores Alfredo Bosi e Vamireh Chacon para redimensionar a oralidade e a diversidade, vetores estratégicos desse campo de pesquisas.

Refletir sobre questões comunicacionais para redimensionar a presença da cultura nos processos decisórios, particularmente aque-les que balizam os fluxos das indústrias criativas, constitui o leit motiv dessa plêiade intelectual.

Sendo esta a face culturalista da moeda comunicacional, o rever-so da medalha encontra-se na engrenagem de poder que regula e controla tal complexo produtivo.

As observações contidas em textos paradigmáticos de Carlos Guilherme Mota e Celso Furtado jogam lenha na macrofogueira cognitiva. Mota atiça o fogaréu, com a ideia de revolução na men-talidade brasileira, enquanto Furtado aplaca a fumaça, retomando o conceito de formação cultural na economia.

As outras anotações enfocam o protagonismo do Estado (Tava-res), da Burguesia (Dreifuss), Sociedade Civil (Cardoso) e igreja (Bordenave).

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