o interior das tribos

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Nerds: A crítica aos estereótipos de The Big Bang Theory Entrevista: Psicólogo analisa o fenômeno das tribos urbanas Torcidas Organizadas: Um dia com a bauruense Sangue Rubro p. 4 p. 3 p.11 Bauru, dezembro de 2012

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Suplemento produzido para a disciplina de Jornalismo Impresso II, 2012, do curso de Jornalismo da Unesp, câmpus Bauru, sob a orientação do Prof. Dr. Angelo Sottovia Aranha

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  • Nerds:

    A crtica aosesteretipos de The Big Bang

    Theory

    Entrevista:

    Psiclogo analisa o

    fenmeno das tribos urbanas

    Torcidas Organizadas:

    Um dia com a bauruense

    Sangue Rubrop. 4p. 3 p.11

    Bauru, dezembro de 2012

  • Qual a sua

    TRIBO?

    expediente

    EDITOR-CHEFERenan Moraes

    EQUIPE DE REPORTAGEMAna Luiza Martins, Deivide Sartori,Larissa Roncon, Mayara Castro,Melanie Castro, Murilo Barbosa, Nathlia Fontes, Renan Moraes

    DIAGRAMAO E ARTELarissa Roncon, Murilo Barbosa

    EDIO DE IMAGENSMelanie Castro, Nathlia Fontes

    INSTITUIOUniversidade Estadual Paulista Jliode Mesquita Filho - UNESPFaculdade de Arquitetura,Artes e Comunicao (FAAC)- Bauru/2012

    REITORJulio Cezar Durigan

    ATRIBUIESPlanejamento Grfico-Editorial,Jornalismo Impresso IIComunicao Social - Jornalismo

    PROFESSORES RESPONSVEISAngelo Sottovia Aranha, Tssia Zanini

    Zeca Baleiro cantava Eu no sou cristo, eu no sou ateu, no sou japa, no sou chicano, no sou europeu, eu no sou nego, eu no sou judeu, no sou do samba, nem sou do rock, minha tribo sou eu. fato que as tribos urbanas so algo recorrente em nossa sociedade. E os protagonistas desse fen-meno costumam ser os jovens.

    No muito fcil definir o que so tribos urbanas. O con-ceito diverge em alguns casos, mas tribos urbanas, tambm chamadas de subculturas ou subsociedades, podem ser grupos de pessoas que tm como objetivo principal estabelecer redes de amigos com base em interesses comuns. Essas agregaes apresentam uma conformidade de pensamentos, hbitos e ma-neiras de se vestir.

    Essa foi uma definio embasada nas teorias do socilogo francs Michel Maffesoli, que cunhou o termo em 1985. Ns, dO Interior das Tribos, partimos dela para mostrar esse que um fato em nossa sociedade. Punks, skatistas, nerds e torcidas organizadas so alguns dos movimentos que foram alvo de nos-sa reportagem e que sero aqui retratados.

    A pergunta que fica a do por que as pessoas terem a necessidade de aderir ao fenmeno. A psicloga Luciana Gagei-ro, da Universidade Federal Fluminense, responde essa pergun-ta fazendo uma anlise com base na cultura capitalista, que fortemente marcada pelo individualismo. Ela explica que em um perodo caracterizado pela fragmentao e pulverizao de referncias simblicas que balizem a passagem do adolescente para uma nova insero social no mundo, pode-se supor que as tribos representam espaos de encontro e partilha da experin-cia da adolescncia. As tribos seriam, assim, tentativas coletivas de fazer valer um ideal coletivo, produzido pelos prprios jo-vens, diante da falncia de grandes ideais sociais.

    Neste suplemento traremos um pouco mais de cada uma dessas tribos. Tentaremos explicar como funcionam, quais os perfis dos jovens que a elas pertencem e a opinio de especialis-tas sobre o tema. Esperamos que voc, leitor, possa desfrutar o mximo possvel do contedo que a nossa equipe preparou.

    E a, qual a sua tribo?

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    Pgina 11

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    Qual a sua tribo?

    De Vida longa e prspera at Bazinga!

    T no sangue

    Good old times!

    Tendncia da vez

    Voz aos que no tm

    Faa voc mesmo!

    Violo, camisa xadrez e muita festa

    Em nome do shape, do truck,dos rolamentos e das rodinhas: Skate!

    Entrevista

    Galeria

  • Como j dizia a banda Seminovos, o nerd de hoje o cara rico, lindo e bom marido de amanh. O hit Escolha j seu Nerd bombou na internet e gru-dou na cabea de muita gen-te. Mas as agruras da vida nerd tm outras razes para terem alcana-do a fama: o seriado The Big Bang Theory uma delas, por exem-plo. Virou moda usar culos enormes, rou-pa xadrez, vestir a ca-misa I love Nerds e o melhor: ser inteligente agora tambm cool!

    Da exibio do cls-sico nerd Piratas do Vale do Silcio at Shel-don Cooper virar heri muita coisa aconteceu. Muito preconceito, pia-das com a tribo e ex-cluso social rolou at que os nerds pudes-sem protagonizar um seriado de TV de su-cesso, ou fossem con-siderados um potencial pblico consumidor de jogos, filmes, seria-dos e eventos especficos.

    As curiosidades sobre essa tribo j comeam pelo termo que a denomina. E as controvrsias tambm. Afinal, no h um consen-so sobre a patente do nome nerd. Uma teoria afirma que foi nos anos 50, no Mas-sachusetts Institute of Tech-nology (MIT), que os nerds comearam a ser chamados assim. Nerd tambm pode ser uma abreviao de Nor-thern Electric Research and Development (Departamen-to de Pesquisa e Desenvol-vimento da companhia Nor-thern Electric do Canad).

    No d falar sobre a his-tria dos nerds e no citar o muso inspirador da tribo, nerd assumido e bem sucedi-do Bill Gates. As afirmaes

    do empresrio bilionrio so munio de muito nerd que precisa se defender do pre-conceito sofrido por gostar de estudar e passar horas pesquisando algum tema. Que atire o primeiro Kryp-ton o nerd que nunca profe-

    riu as palavras de Gates que explicava por que o popu-lar devia trat-lo bem: ele viraria seu patro no futuro.

    Que a fora(e a palavra)

    esteja com os nerds

    Otvio Cohen reprter da revista Super Interessante e escreve sobre um assunto que domina bem, o nerdismo: Ele acredita que o que defina um nerd o interesse obses-sivo por um tema que exija dedicao e conhecimento. Eu sou de humanas, estou mais para o lado da msica do que para o lado dos nmeros. Gosto de literatura fantsti-

    ca, fico cientfica, cinema, mas se eu for me considerar um nerd de verdade, vai ser por causa da literatura ge-ral. isso que mais me ins-pira essa obsesso, analisa.

    O jornalista opina so-bre a recente populariza-

    o do nerdismo: Os ner-ds clssicos do passado se graduaram e comearam a abrir empresas, escre-ver livros e ajudar a criar os produtos que hoje fa-zem parte da cultura pop.

    Quanto ao sucesso de The Big Bang Theory, Ot-vio acha o seriado diverti-do, mas condena o abuso de esteretipos utilizados pe-los roteiristas. A srie mos-tra um grupo de nerds das exatas com comportamen-tos social-awkward, tmidos, mas que namoram mulheres lindas. No estou dizendo que um nerd no vai namo-rar uma mulher bonita, mas o seriado brinca com es-sas caricaturas e exagera os

    dois lados da relao (o nerd extremo e a menina linda) a ponto de tornar isso uma ironia, pontua o jornalista.

    Para Felipe Storino, editor - assistente do site nerd Mob Ground, as histrias de Dr. Cooper e seus amigos no

    so nada divertidas. The Big Bang The-ory o seriado mais imbecil que surgiu nos ltimos tempos e tenta reforar um esteretipo que no

    existe no mundo real, afirma. A editora de fico do Mob Ground, Beatriz Paz, afirma que os nerds no so s o que a srie mostra: O nerd uma mistura de preferncias com comportamento. Fa-lar sobre isso com-plicado uma vez que as segmentaes do movimento nerd cres-cem cada vez mais.

    Essas segmenta-es surgiram para ca-tegorizar os diversos interesses que com-pem o universo nerd.

    Igor Queiroz, do blog Whos Nerd?, desde cedo tem for-te afinidade com a cultura japonesa e com o universo dos games. Esses interes-ses permitem caracteriz-lo como um Otaku (aficionado por itens da cultura japone-sa, como mangs) e Gamer (viciado em jogos). Alm desses, temos os geeks, loucos por tecnologia, e os Fandoms, amantes de obras e sagas como Harry Potter. As caixinhas para rotular os nerds no param por a. Mas, como afirma Igor, existe uma caracterstica que pare-ce suficiente para defini-los: Eles no se satisfazem com informaes rasas, precisam de informaes aprofun-dadas, e acredito que isso seja inerente a todo nerd.

    Lojas da Galeria do Rock, em So Paulo,se rendem cultura nerd

    Ana

    Lui

    za M

    artin

    s

    -Banda Weezer, msica Smart Girls. Cd Hurley, lanado em 2010 pela Epitaph Records -Fime A Vingana dos Nerds (Revenge of the Nerds). Lanado em 1984, dirigido por Jeff Kanew.

    De Vida longa e prspera at Bazinga! Eu no ligo pro que eles dizem sobre ns de qualquer forma. Eu no ligo pra isso (Weezer, Buddy Holly)

    Ana Luiza Martins e Renan Moraes

    Um pouco mais

  • Numa tarde ensolarada de sbado, Jos Ro-berto Pavanello, profissional autnomo, 58 anos, rene a famlia e os amigos para um almoo comemorativo. Arroz, couve e farofa so os acom-panhamentos de uma sucu-lenta feijoada, servida ao som de um grupo de pagode que toca no quintal da casa acanhada. Entre os presen-tes, uma caracterstica em comum: a vestimenta nas co-res vermelha e branca. Num dado momento, a msica para e Vitor Vieira, 18 anos, o presidente da famlia, grita: Todo mundo tem ingresso? Sim, essa famlia tem um pre-sidente. A famlia que Vitor preside a Sangue Rubro, torcida organizada do Espor-te Clube Noroeste, de Bauru.

    Fundada em 13 de de-zembro de 1986, a Sangue Rubro surgiu a partir da di-viso de uma antiga torcida noroestina chamada Dra-ges Vermelhos - j extinta. Ex-presidente e atual dire-tor, Pavanello emprestou a casa para a fundao. Hoje, sua funo organizar even-tos, cuidar das finanas e do patrimnio da Organizada.

    J Vitor o responsvel por ser a alma da torcida na arquibancada. ele quem puxa o coro, agita e coorde-na as manifestaes dos tor-cedores. A paixo pelo que faz surgiu quando tinha cer-ca de 14 anos e entrou para a Sangue. Acompanhando os jogos, o fanatismo cresceu a ponto de tatuar o distinti-

    vo do Noroeste nas costas. Alm da feijoada, outro

    compromisso uniu os fami-liares naquele dia: ir para o Estdio Alfredo de Castilho apoiar o Norusca na estreia da equipe na segunda fase da Copa Paulista de Futebol, contra o Rio Claro. Uma hora antes do incio do jogo, os cerca de 50 membros reuni-dos comeam a caminhada rumo ao Alfredo. A sada an-tecipada necessria em ra-zo da vistoria que a Polcia Militar faz nos instrumentos de percusso e faixas levadas ao campo pelos integrantes.

    Com a entrada autoriza-da, os membros da bateria tomam seus lugares nos de-graus mais altos da arqui-bancada, enquanto Vitor e parceiros amarram as faixas no alambrado atrs de uma das linhas de fundo. A maior faixa tem a inscrio San-gue Rubro e proposital-mente colocada de cabea para baixo. uma manei-ra de protestar e, ao mesmo tempo, uma aposta entre ns [integrantes]. Se no ano que vem o time subir de diviso no Paulista, a faixa volta ao normal, explica o diretor.

    Outras duas faixas des-mentem a ideia de que o ambiente de uma torcida organizada s para ho-mens e hostil em relao aos adversrios. Numa delas, a expresso Comando femi-nino chama a ateno para as cerca de 10 garotas, com idade entre 13 e 18 anos, que fazem parte da torcida.

    Elas participam sem-pre. Fazem eventos nas redes sociais para atrair outras meninas, viajam em caravanas. As me-ninas so fundamentais para que todos vejam que l o lugar delas tambm, comenta Vi-tor. Muitos pais trazem as garotas aqui e as dei-xam sob nossa responsa-bilidade. Num eventual problema, todos da tor-cida tm que defend-las, refora Pavanello.

    J a terceira faixa ex-pe a sigla FFT, que faz referncia Fiel Fora Tri-color, torcida do Botafogo de Ribeiro Preto (?!). O es-tranhamento ao ver faixas de equipes adversrias lado a lado se desfaz quando o pre-sidente explica a parceria formada por algumas orga-nizadas do interior do Esta-do: Nossas alianas, como chamamos, surgiram h al-guns anos e, de um tempo para c, formamos a Fam-lia Interior. Quando vamos para as cidades de nossos aliados somos bem recebi-dos sempre. Estamos presen-tes nas festas de aniversrio deles e eles nas nossas.

    Se o clima com os torce-dores aliados de paz e sem atritos, o mesmo no se pode dizer em relao aos torcedores rivais. Se eu dissesse que ns nunca nos envolvemos em confli-tos, seria uma hipocrisia. J aconteceram brigas aqui em Bauru e fora. Mas no tive-

    mos alternativas. Entramos para nos defender, abre o jogo Pavanello. Respeite para ser respeitado o que Vitor se limita a dizer ao ser perguntado sobre como a relao da Sangue Rubro com as demais organizadas.

    Com a bola em jogo, a organizada coloca em pr-tica o papel de 12 jogador. Sempre em p, todos can-tam sem parar. Na verdade, at ficam em silncio aps uma chance perigosa a fa-vor do Rio Claro. A Sangue estanca. Mas, no por muito tempo. Poucos segundos de-pois, Vitor grita: La, la, laia, No-rus-ca. O coro volta mais forte. Variados cantos se seguem, com um especial-mente emblemtico: Ol, l, ol, l, torcida organiza-da no foi feita pra sentar.

    Rena

    n M

    orae

    s

    Lance a Lance: Um dia com a Sangue Rubro

    Casa Rubra: a concentrao pr-jogo acontece na sede da

    torcida

    At a p ns iremos: trs quadras separam a sede do est-

    dio

    Vermelhou! Vitor (sem camisa, ao centro) comanda a festa antes da

    entrada

    Protesto: enquanto a partida no comea, dedicao aos ltimos

    preparativos

    Bola em jogo: organizada rioclarense (ao fundo) tambm

    comparece ao Alfredo

    Provocao: bandeira apontada para rivais relembra duelo

    histrico

    Placar final: 3 a 0. Comemorao no alambrado para o terceiro gol

    noroestino

    Desespero sincronizado: chances perdidas pelo Norusca foram

    muitas, mas no fim...

    Ana

    L.

    Mar

    tins,

    Dei

    vide

    Sar

    tori e

    Ren

    an M

    orae

    s

    Vitor exibe sua paixo pelo Norusca

    T no sangueMuitos dizem que sou louco. Eu at concordo, mas na vida voc tem que

    fazer o que gosta. E disso que eu gosto, ento isso que eu fao, Vitor VieiraDeivide Sartori

    Em tempo: a faixa vi-rou. O Noroeste foi cam-peo da Copa Paulista 2012.

  • Rena

    n M

    orae

    s Todo segundo domingo do ms a rea sob o viaduto J-nio Quadros, em Sorocaba, toma-da por carros antigos, grupos de moto clubes de todo o Estado, fa-mlias e gente de todos os estilos. Mas entre todos os frequentadores, chamam a ateno jovens com um visual bastante distinto: as garotas usam vestidos rodados e bandanas na cabea; os moos abusam do topete e da jaqueta de couro. Isso porque o evento comeou como um encontro rockabilly.

    Essa tribo teve origem nos anos 50, com os greasers, jovens da classe operria nos Estados Unidos cujo estilo foi populari-zado e transformado em smbolo de rebeldia pelo filme Juventude Transviada (Nicholas Ray, 1955). Tambm era patente seu gosto pelos hot rods, carros antigos customizados, en-quanto os rockers, no Reino Unido, tinham preferncia pelas motos.

    O nome rocka-billy vem do estilo musical preferido por eles, um subgnero do rockn roll que tem influncia direta do country (hillbilly). Os participantes ainda so chamados de rockers. Para as garotas, comum a denomina-o pin-up, termo que signifi-ca pendurar, em referncia s garotas que, com poses ca-ractersticas, estampavam os calendrios da poca.

    Hoje, a msica e a moda da poca vm sendo revividas por cada vez mais jovens com algumas modificaes, como as tatuagens (coraes, n-coras, laos, cerejas e outros desenhos retr), piercings (principalmente Marilyn e no septo) e cabelos colo-ridos. Essa nova roupagem caracteriza a tribo rocka-billy. Os participantes mer-gulham de cabea em todos os aspectos das dcadas de 50 e 60.

    Ivan Ciola, um dos pre-cursores do rockabilly no Brasil, explica o que defi-ne os rockers: uma s-rie de fatores e sentimen-

    tos somados nostalgia e paixo pela poca, por um tempo no vi-vido pela maioria, mas conhecido e explorado por meio dos filmes, documentrios, relatos de pessoas daquela gerao e artistas que esta-vam na cena da poca. tudo muito simples: gostamos de ir a bares, bai-les e festas temticas, de preferncia com o carro antigo ou a moto, com a pessoa amada do lado, ouvir e dan-ar rockabilly a noite toda, beber e conversar com os amigos, como era nos anos 50 e 60, com todo visual da poca, claro!.

    Sua paixo pelo estilo vem da in-fncia. Meu primeiro contato com o rock dos anos 50 ocorreu quando eu tinha apenas 5 anos, saindo de

    um restaurante com meus pais no centro da cidade ouvi um som dife-rente, forte e contagiante, era Elvis Presley em um vinil que tocava na loja de discos ao lado. Corri at a loja deixando meus pais para trs e ao entrar disse: Eu quero essa msi-ca!. No teve jeito, meu pai teve que comprar o disco do Elvis, era o LP do filme Loving You. Depois desse dia eu nunca mais fui o mesmo no que-sito msica, o rockabilly entrou na minha vida pra ficar, relembra.

    Ivan organiza a mais tradicional festa rockabilly de So Paulo, a Pin Ups Party, com edies mensais. Os rockers da capital contam tambm com a casa The Clock, que segue a temtica dos anos 50 e 60. No local h at aulas de dana nos moldes da poca. A estudante Juliana Pinho frequentou as aulas e desde ento danar rockabilly se tornou uma de suas paixes: Eu conheci o rocka-billy porque uma amiga minha da faculdade me convidou para ir ao The Clock. Fui, fiz a aulinha bsica que eles do l mesmo e tentei dan-ar. Adorei, conheci muita gente e passei a frequentar sempre o lugar, e depois outras festas de rockabilly

    tambm. O clima no lugar

    muito agradvel, as pessoas aca-bam realmente se conhecendo e ficando amigas, no como nas ou-tras baladas.

    Esse clima de amizade se reflete e se repete no evento de Sorocaba. Famlias comparecem em peso para comer espetinhos e escutar as ban-das que tocam o som temtico. Uma das mais bem-sucedidas bandas de rockabilly do interior a Bad Mo-tors, tambm de Sorocaba. O voca-lista, Creck Rocker, conta um pouco sobre como encontrou pessoas com gostos parecidos com os seus.

    A partir de 1994 comecei a fre-quentar festas em So Paulo, Jundia, ABC, onde fiz muitos amigos que so meus amigos at hoje, montei um

    bar aqui em Sorocaba onde s se tocava Rockabilly, fiz o primeiro show com uma banda do gnero na cidade (Crazy Legs), e isso fez com que muita gente que curtia o estilo se juntasse e se co-nhecesse, conta. Mas Cre-ck acrescenta que o clima familiar no impede que ha-jam discordncias: Como em toda tribo, o rockabilly tambm tem suas vertentes e suas preferncias. Alguns

    so do tipo purista, gostam do som como era feito na poca; outros mais eclticos gostam no s das bandas e msicas da poca, mas tambm de novas bandas, como o meu caso. Mas com todas as divergncias e discusses todos se do bem, cada um a seu modo.

    Hoje Creck, cujo nome verdadei-ro Marcelo Figueiredo, trabalha numa oficina que restaura carros an-tigos e se dedica Bad Motors, que tem grandes planos para o futuro: Recentemente tocamos na Funar-te, em Braslia, e fizemos dois shows no Chile, em Santiago e Valparaiso. Agora no prximo ms estamos en-trando em estdio pra gravar nosso prximo disco, que sair no incio de 2013 em CD e vinil, e a meta pro pr-ximo ano uma tour pela Europa.

    Pela popularizao das bandas e eventos na capital e no interior, parece que a onda nostlgica do ro-ckabilly s tende mesmo a aumen-tar. Ivan torce para que a tendncia se confirme: Me alegra muito que cada vez mais venham pessoas no-vas que realmente gostam de tudo que envolve os anos 50 e o rocka-billy. Ningum eterno, mas o rockn roll nunca vai morrer!.

    As Pin-Ups de hoje so donas deum visual menos conservador

    Crist

    ina

    Rom

    ero

    Rockabilly: msica, visual e hobbies dos anos 50 vem conquistando os jovensMelanie Castro

  • sunto polmico: o referente aos anncios veicula-dos em sites. Blo-gueiras que so pagas por marcas ganham produtos para darem uma opinio positiva sobre o que foi en-viado, e com isso o propsito com que os blogs surgiram fica distorcido. Ou seja, em alguns ca-sos os blogs acabam se tornando apenas meios de ganhar dinheiro pela publicao de opini-es falsas. O assunto muito discutido pelas pessoas que compem a to famosa blo-gosfera e foi tema de uma discusso no Youpix Festi-val, um evento que rene pessoas ligadas internet.

    Enganao Online

    Motivada por esse surto de blogs de moda, Titia Sha-me, como gosta de ser cha-mada, criou o Shame on you, blogueira. A pgina um espao no qual ela desaba-fa sobre a enganao que v nos posts alheios e os looks cafonas. Suas palavras so cidas e muitas vezes trazem uma viso que as pessoas que frequentam esses sites no tm, ou simplesmente ignoram. As blogueiras pas-sam uma ideia de que a vida delas perfeita, que andam sempre penteadas, maquia-das e em festas, que ganham por ms o que muita gente no ganha num ano. S que sabemos que no bem as-sim, que as roupas no so delas, que elas no acor-dam penteadas e maquiadas etc, comenta Titia Shame

    Quem copia cegamen-te as tendncias mostradas,

    perdendo muitas vezes o es-tilo prprio e usando peas que no favorecem seu tipo fsico, faz isso para se ade-quar ao grupo. As pessoas esto cada vez mais viven-do de aparncia, domina-das pelo consumismo. Hoje o importante ter, e no ser. Pode ser prejudicial por-que vemos meninas novas, adolescentes, se endividan-do para acompanharem o ritmo de compras das blo-gueiras, para terem o que elas tm, afirma Shame.

    Assim como a realeza em uma monarquia, as bloguei-ras vivem de aparncia e de mitos e acabam por influen-ciar os gostos e hbitos dos plebeus. A jornalista Nina Lemos exemplificou esse fe-nmeno ao comentar o ca-samento de uma blogueira famosa, que foi chamada de princesa pelas leitoras. A internet, como j disse muitas vezes, aumenta a imagem de perfeio da vida das pesso-as. Comparar uma princesa com uma blogueira de moda milionria pode parecer absurdo, mas no . Quem mais pode ser uma princesa brasileira do que uma me-nina linda, jovem, rica, que se veste super bem e campe dos looks do dia?.

    - Justlia Escrito pela Lia, traz vrios assuntos do universo feminino e ainda conta com a

    opinio masculina em alguns posts: http://www.justlia.com.br/ - Depois dos Quinze Bruna mostra seu mundo, sentimentos e seu amor pela moda atravs do blog: http://www.depois-

    dosquinze.com/

    Tudo comeou quando os seres humanos ain-da moravam em cavernas e resolveram cobrir-se com peles de animais para se protegerem contra o frio. O que era uma forma de pro-teo, se tornou um objeto e tambm sinnimo de po-der. Foi na Idade Mdia que surgiram os tecidos de algo-do e a associao das rou-pas com o status social das pessoas; roupas vermelhas eram sinnimo de realeza, enquanto os trabalhadores podiam ser distinguidos por estarem vestindo cores como

    a marrom, por exemplo.A moda virou um universo

    que abrange muitos aspectos, estilistas que querem suas roupas nas passarelas e co-biadas por todos, modelos que ficam milionrias por dar em alguns passos mostrando um produto e, claro, as pes-soas que assistem a tudo isso.

    Com a chegada da inter-net, e dos blogs, ficou mais fcil para as pessoas exi-birem suas opinies, suas roupas e o seu conceito so-bre moda: os blogs. E como funciona? Cada um tem o seu prprio espao para ex-pressar suas opinies. Os vi-ciados em moda acharam a oportunidade que queriam para poder fazer parte des-

    Um pouco mais

    se mundo. Nos ltimos anos, houve um boom de blogs de moda. O que vemos hoje que a blogosfera sobre o tema s aumenta e todos querem ser consultores de estilo, mesmo que virtuais.

    Karla Lopes, de 20 anos, dona do blog Hey Cute, cria-do em 2009 para comparti-lhar opinies e experincias femininas. Em seus posts, ela mostra os produtos de beleza que usa e diz no se impor-tar com preo ou marca, s recomenda se ela realmente gostar. A blogueira procu-ra diferenciar sua pgina de

    tantas outras que esto na in-ternet. Por isso, no fala ape-nas sobre moda, mas escreve tambm sobre msicas, fil-mes e coisas que a inspiram.

    Parece que todo mundo quer ter um blog que fala sobre moda. Eu tento tra-zer para as minhas leitoras a minha verdadeira opinio. Por mais que eu esteja ga-nhando produtos, no tenho medo de ficar queimada com a marca por ter falado o que achei do que foi tes-tado. Acho que s assim as marcas podem melhorar o que fazem, vendo o que uma pessoa comum acha do seu produto, explica Karla.

    Juntamente com o suces-so dos blogs, surge um as-

    Com a onda dos blogs de moda, o importante consumir cada vez mais

    Um exemplo de tendncia que Shame critica

    A tendncia da vezO que h por trs dos posts dos blogs de moda e a alienao que eles geram

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    Nathlia Fontes

  • O Hip-Hop no s um estilo de msica ou um modo de danar. prin-cipalmente um movimento cultural iniciado nos Estados Unidos, que valoriza a cultu-ra das ruas, dos guetos, e que documenta os conflitos so-ciais e a violncia urbana vi-vida pelas classes baixas. O Hip Hop se apresenta como uma reivindicao de espa-o e de voz, o que traduzi-do nas letras questionadoras, no ritmo forte e nas imagens grafitadas pelas cidades.

    Os pilares grafitados

    A cultura Hip Hop forma-da pelo rap, o grafite e o bre-ak. O rap se faz pelo ritmo e pela poesia, formando a ex-presso verbal do movimen-to. O grafite representa a arte plstica, expressada por de-senhos coloridos impressos nas ruas e espalhados por di-versos bairros da cidade. J o break representa a dana que acompanha, muitas vezes, o rap. Juntos, esses elementos so responsveis por chamar a ateno e dar voz aos que vieram da periferia e reivin-dicam suas necessidades pe-rante as classes abastadas.

    Do Bronx para o Brasil

    Nos subrbios negros e latinos de Nova Iorque na dcada de 60, a rua era o nico espao de lazer para os jovens, que geralmente se reuniam em gangues que se confrontavam na luta pelo domnio territorial. Com o Hip-Hop, cada gangue en-controu na arte uma forma de canalizar a violncia, tro-cando as armas por batalhas de rap e break. Seja como modo de demonstrar supe-rioridade, como hobbie ou como estilo de vida, a tribo

    levou pouco tempo para ul-trapassar as fronteiras do Bronx, regio onde nasceu, e da comunidade negra norte americana, surgindo em me-ados da dcada de 80 como uma das correntes musicais mais fortes da indstria fo-nogrfrica. No Brasil, o Hip-Hop cresceu e ganhou seu espao nas vozes de Planet Hemp, Racionais Mc, Emi-cida e Rashid, entre outros.

    Preconceito pra l e pra c

    A falta de conhecimento e os esteretipos so os res-ponsveis pelos olhares vira-dos que os rappers recebem. Infelizmente, ainda existe muita gente que v nas cal-as largas, nas grias e no estilo de vida de quem curte Hip-Hop apenas marginais que sujam as paredes, e va-gabundos drogados. Como amostra desse preconceito, o rapper Dom Black comen-ta a dificuldade de superar o conceito alheio sobre o mo-vimento Hip-Hop; o mais engraado que, quando comeamos em Bauru, exis-tiam tambm as casas de forr, de samba e toda noite tinha briga, jogando garrafa etc. Com a gente no, e no tinha exatamente porque sa-bamos que esse era o espe-rado. Qualquer coisa errada que rolasse, amos afirmar o que pensavam da gente.

    Ainda assim, Dom Black apresenta o outro lado da moeda: O Hip-Hop tambm j foi racista. Ao mesmo tempo que muita gente os discriminava, os julgava pela cultura e pela cor da pele, a tribo, por muitos anos, no aceitou brancos de classes de poder aquisitivo maior no movimento. Os rappers eram ignorantes tambm, tanto quanto aqueles que os apontavam o dedo. Porm,

    Dom Black afirma que essa situao mudou, j que hoje todo mundo bem vindo, quanto mais gente melhor. No a cor da pele ou a gra-na do cara que vai dizer o que ele j passou na vida.

    Na dana da vida

    Apesar de todos os este-retipos, o que realmente faz com que esses jovens conti-nuem na estrada a sua his-tria de vida. Eu mesmo sou prova viva de que o movi-mento me tirou de situaes da vida que so desumanas. Eu, na minha adolescncia, tive muito problema com droga, fui envolvido com o crime, at que conheci o mo-vimento. Eu curti o rap desde o comeo mas no tinha voz pra cantar, recorda-se Bboy Bruxo, que trocou o cri-me e as drogas pela dana.

    Assim como Bruxo, mui-tos outros rappers correm atrs dos seus sonhos em busca de uma vida melhor. Victor Hugo, mais conhe-cido como Mc Vick Vileiro, conheceu o rap aos 9 anos. O rap pra mim uma sa-da do crime, a distrao dos problemas que a gente enfrenta, a minha famlia e a minha verdade, analisa.

    Fama, por que no?

    Quando se discute uma manifestao cultural que busca reivindicar direitos ou dar voz aos reprimidos, a fama muitas vezes no en-carada como boa coisa. Isso ocorre porque h quem acre-dite que quando, no caso, um rapper reconhecido pela mdia, acaba perdendo sua essncia e seu papel de dizer a verdade e passa a produzir meros produtos, que buscam apenas agradar os consu-midores. Ouve-se esse tipo de opinio frequentemente, mas Mller Alves Moraes, o Mc Conspira, mostra uma maneira diferente de se pen-sar: Tem muita gente que fala que o Projota e o Emi-cida se venderam, mas eu acho que eles to fazendo a deles. Um monte de gente fala, no prprio rap, que quer ter dinheiro, a aparece um que conquistou o que todo mundo quer e ento falam mal. A gente s t aqui pra correr atrs do que nos-so e do que a gente quer.

    - Livro: Hip Hop - Dentro do Movimento, lanado em 2011 pela editora Aeroplano - Musica: A vida desafio, Racionais Mcs. Disco Nada como um dia aps o outro, 2001, Unimar Music

    Onde antes s havia negros, hoje h gente de todas as classes e cores. o Hip-Hop

    dizendo no ao preconceito

    Um pouco mais

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    Voz aos que no tmMayara Castro

    A histria do Hip-Hop e daqueles que encontraram nele o seu caminho

  • Quem imaginaria que trs acordes pode-riam ser to poderosos? O que bandas como Sex Pis-tols e Ramones iniciaram nos anos de 1970 foi mais do que msica. A cultura punk

    foi alm da Inglaterra e Es-tados Unidos e ultrapassou a dcada da sua criao. Sua ideologia, moda e comporta-mento ainda reverberam pe-los quatro cantos do globo a revolta do movimento contra o autoritarismo, a desigual-dade social e a represso.

    Quase 40 anos depois da banda de Sid Vicious afron-tar a monarquia britnica com o single God Save the Queen, em 2012 as russas do Pussy Riot fizeram algo bem parecido. O alvo foi o governo de Vladimir Putin. A execuo de uma orao punk em plena Catedral de Cristo Salvador, em Moscou, resultou na priso das trs integrantes do grupo punk. Mais ou menos o que acon-teceu com o Sex Pistols em 1977, quando a banda tocou a sua singela homenagem rainha em um barco no rio Tmisa, em frente ao Palcio de Westminster. Alm das cerca de quatro dcadas que separam suas aes, as duas bandas contam com contex-tos histricos e motivaes distintas para seus protestos. Mas os ingleses e as russas tm algo em comum. A luta

    contra o poder e a crtica ordem vigente so os pi-lares da ideologia punk, e certamente o esprito de re-volta do movimento esteve presente nas duas ocasies.

    Essa rebeldia a respon-

    svel pela taxao dos punks como violentos e perigosos. O visual punk - composto por roupas de couro, moicanos e coturnos - atrelado ao van-dalismo, e os constantes em-bates com outras tribos, como os skinheads, no ajudam muito o movimento a se des-vincular da marginalizao.

    Marcelo de Oliveira, gui-tarrista da Teenage Lobo-tomy, cover do Ramones, fala sobre o preconceito que en-volve a tribo. Isso distor-o da mdia e de pessoas que no conhecem o movi-mento. Vandalismo e violn-cia esto em todos os luga-res, opina. Para Marcelo, o senso crtico inerente aos punks o responsvel pela desconfiana com que a tribo vista. Quanto ao que ser punk, ele afirma que defi-nir e estabelecer aquilo que voc acredita de melhor no s para si, mas tambm em um contexto geral, respei-tando as diferenas e diver-gncias entre as pessoas.

    Uma loja fetichista em Londres, um bar em

    Nova York e um legado universal

    O empresrio Malcolm McLaren e a estilista Vivien-ne Westwood so, talvez, as figuras mais importantes da histria da tribo. Malcolm era o empresrio da Sex Pistols, precursores do punk rock ingls. Vivienne a respon-svel pela esttica visual da tribo. A loja Sex, fundada por ambos, um dos palcos do desenvolvimento do punk. Foi l que, em 1975, os Sex Pistols se reuniram. E na Sex as inspiraes de Vivienne se concretizavam, em meio s roupas rasgadas, correntes, cores fortes e couro, elemen-tos que foram as marcas re-gistradas da estilista na poca da criao da esttica punk.

    A primeira fase do movi-mento foi caracterizada pela exploso de bandas ingle-sas, o surgimento dos Ramo-nes nos Estados Unidos, a transformao do bar nova iorquino CBGB na Meca do punk rock, alm da definio da ideologia da tribo, cons-truda com base nos proble-

    mas sociais e econmicos de uma Europa do ps-guerra, alm de um mundo dividi-do pela Guerra Fria. A mor-te precoce de Sid Vicious, baixista do Sex Pistols, re-presenta o fim da primeira etapa do movimento. No fi-nal dos anos 70 e incio dos 80, o hardcore emergiu e lanou bandas como Dead Kennedys e Bad Religion,

    representantes da segunda fase da histria do punk rock.

    Punk is not dead

    Inspirada pela banda de Greg Graffin, a Stranger Than Fiction, que antes co-ver do Bad Religion, iniciou suas atividades no incio de 2012. Dija Dijones, guitar-rista da banda, opina sobre o que um punk: Punk uma postura. Voc no preci-sa adotar uma esttica para ser punk. O punk, por es-sncia, um sujeito interes-sado e consciente, que no se conforma com o estado das coisas e tem disposio de lutar por algo melhor, mais justo e em prol de uma coletividade, pontua Dija.

    O msico otimista em relao ao futuro do movi-mento. Assim como o fim dos anos 1970 precedeu a exploso do movimento no Brasil no comeo dos 1980, creio que o momento atual antecede algo maior a sur-

    gir em um futuro breve. importante lembrar que o punk se estabeleceu no Bra-sil de forma definitiva a par-tir do comeo da dcada de 80 e viveu certa asceno depois disso. O punk ainda tem muito a oferecer nes-tes novos tempos e talvez, em breve, uma nova gera-o de bandas esteja dan-do as caras por a, analisa.

    Objetivo da Teenage Lobotomy recriar a atmosfera punk dos anos 70 e trazer os

    Ramones de volta ao pblico

    Um pouco mais

    - CD Never Mind the Bollocks, lanado em 1977 pela Virgin no Reino Unido e pela Warner Bros Records nos EUA. - O filme Sid e Nancy, o amor pode matar. Lanado em 1986, com direo de Alex Cox.

    Banda Stranger than Fiction homenageia um dos maiores cones do punk rock da

    dcada de 80

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    Faa voc mesmo!Faremos sempre nossa maneira, por mais difcil que parea.

    Faremos com as prprias mos, no esperaremos que acontea (Underground, Inocentes)Ana Luiza Martins

  • De que me adianta, vi-ver na cidade, se a feli-cidade no me acompanhar. Adeus Paulistinha, do meu corao, l pro meu serto eu quero voltar. A cano Saudade de Minha Terra certamente resgata lembran-as e traz tona as memrias de muita gente. Populariza-da pela voz de Chitozinho e Xoror, a msica conta a his-tria de um rapaz que deixou o serto nordestino para con-quistar a capital paulista, mas viu que de nada adiantava ser morador da Selva de Pedra se a alegria estava na simpli-cidade das coisas do campo.

    Os anos passaram, o serta-nejo se propagou e surgiram novas vertentes, com desta-que para o sertanejo univer-sitrio. O estilo tomou fora a partir dos anos 2000, com o estouro de duplas como Cesar Menotti & Fabiano e Hugo e Tiago em meados de 2004. De l pra c, can-tores solo, duplas e bandas tm feito sucesso por todo o pas com hits animados cuja composio envolve, em sua maioria, temas como traio, bebida e baladas.

    Nos embalosdo Sertanejo

    Jauense e de corao ser-tanejo, a caladista Gabriela Rodrigues, de 19 anos, se en-cantou pelo gnero ainda na adolescncia: Ouo msica sertaneja desde os meus 14 anos. Comecei a gostar pela msica, pela voz, pela forma de agitar e o carisma, porque a msica envolve a pessoa, e sempre tem nela alguma coi-sa com que me identifico.

    Nos finais de semana em que marca presena nas ca-sas noturnas de Ja e regio, Gabriela comea os prepa-rativos cedo. A portaria libe-ra a entrada s 23h, mas ela se maquia, escolhe a roupa e comea a fazer o cabe-lo perto das 20h. A gente quer chegar l e curtir, mas para isso tambm preciso ficar bonita. Comeo a me

    arrumar bem cedo para mi-nha nica preocupao de-pois ser me divertir com as meninas, revela. Na maior parte das vezes, Gabriela sai acompanhada de mais trs amigas, mas conta que o cr-culo de amizades aumenta na porta da balada. Ns va-mos em umas quatro, cinco meninas, a s estacionar o carro, ficar perto da entrada e pronto, a festa comea ali mesmo! Sempre chega um pessoal com quem a gente estudou e no via h mui-to tempo, ou a galera com que fizemos amizade na se-mana anterior, ou o f clube dos cantores que vo tocar.

    E se para se preparar, o esquenta ali mesmo, na porta da balada. s ficar com o porta-malas aberto, ter umas bebidas pra acom-panhar a msica e amigos pra dar risada que a gente mata quase uma hora em frente casa e j entra no grau, diz a sorridente Ga-briela. Para quem quer curtir sertanejo universitrio em Ja, a loura recomenda as ca-sas Villa Country, Cervejaria, Montana e Aldeia Banaw.

    Corao Marcado

    Gabriela, que frequenta as casas noturnas de Ja e re-gio quase todos os finais de semana, j marcou presena em shows como os de Mu-nhoz & Mariano, Jorge e Ma-theus, Joo Bosco e Vincius, Fernando e Sorocaba, Trio Bravana e Michel Tel, e fala sobre a msica que tem mais significado. Incondicional, do Luan Santana. Essa msica me marcou porque ouvi uma pessoa que jamais esperaria cantando ela pra mim, e de-pois disso prestei mais aten-

    o na letra, e por isso ouo sempre, revela a jauense.

    E se para marcar, Ga-briela deixa um recado aos leitores que no apreciam ou ainda no tiveram opor-tunidade de ir a uma balada sertaneja. Quem no gosta no sabe o que est perden-do. O sertanejo envolve o rit-mo, a letra, e tudo isso mexe com o psicolgico quando escutado por algum. A von-tade de danar, pular e curtir imensa! Recomendo que escutem e provem uma ba-lada sertaneja o quanto an-tes, no vo se arrepender!

    Muito se fala sobre a dis-crdia entre o sertanejo tradicional e o universitrio; qual tem mais pblico, quais se deno-tam pelas melhores canes e o que ser deles em alguns anos. Com o p na estrada desde 2008, a dupla Gustavo Moura & Rafael observa a evoluo do gnero sertanejo e o boom do univer-sitrio. No estilo a galera reno-vou um pouco, como tudo que se renova tambm. Hoje acho que o sertanejo universitrio no diferente de nenhum ritmo, simplesmente uma renovao,

    uma mistura de ritmos que pe-gou muitas influncias do forr, do ax e transformou isso em sertanejo, observa Rafael.

    E sobre o que se diz acerca da rivalidade entre os cantores, Gustavo Moura desmistifica: Na verdade, no existe rivalidade nenhuma. A gente amigo de todo mundo. Caras como Zez Di Camargo, Chitozinho & Xoror e Srgio Reis so cones, dolos de toda essa galera nova que est chegando agora. Quando a gente tem oportunidade de encontrar com eles um privilgio.

    TRADICIONAL x UNIVERSITRIO

    Violao, camisa xadrez e muita festa

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    Mais que letra e msica,um som que contagia

    Nas noites jauenses, Villa Country opo para os sertanejos de planto

    Mur

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    arbo

    sa

    Murilo Barbosa e Larissa Roncon

  • O que fazer se voc mora na Califrnia e est cansado de pegar onda, mas quer sentir a adrenalina de se aventurar em uma pran-cha? E mesmo se voc no es-tiver cansado de surfar, como se divertir naqueles dias em que a mar no est boa?

    Na dcada de 60, os cali-fornianos criaram uma so-luo para esse dilema: o sidewalk surf, mais tarde batizado como skate. Cheia de manobras e famosa pelo perigo e risco, a vida sobre as rodinhas no se limita ao esporte. Ser skatista ter um estilo e um lifestyle prprios de uma tribo famosa tambm pelo incmodo que causa. A briga para retirar os estere-tipos do mundo do skate est longe de ser ganha e, enquanto a sociedade ainda no est muito bem informa-da sobre esse esporte que tem o espao urbano como palco de atuao, os amantes do skate precisam conven-cer chefes e famlias de que o skate no prejudica seus trabalhos, estudos e sade - afinal, no toda me que encara tranquilamente o fato de que seu filho pratica mo-dalidades como a high jump (saltar passando por cima de obstculos) ou a big air (des-cer de uma rampa em alta ve-locidade, realizar uma mano-bra e alcanar outra rampa).

    A tribo conta com vocabu-lrio, trilha sonora e modo de vestir caractersticos. Carri-nho e board so nomes para o skate, dropar descer a pista e Maria Rolamento o apeli-do carinhoso dado s garotas que frequentam as pistas para paquerar os skatistas. Ir para o treino ir para a session e ir para a piscina pode signi-ficar ir para a pista de skate.

    Como trilha sonora, a maioria dos skatistas escolhe rock e hip hop. O jogo Tony Hawks Pro Skater, inspirado no maior cone do esporte

    no mundo, o prprio Tony, conta com faixas de bandas como Dead Kennedys e Rise Against. No hip hop, os skatis-tas gostam de Public Enemy e Cannibal Ox, por exemplo.

    O visual composto por cala jeans larga, tnis e bo-ns. As meninas usam ber-mudas, babylooks e blusas de malha para montar o look. A Galeria do Rock, localiza-da no centro de So Paulo, o shopping dos skatistas que buscam novos equipamen-tos, roupas e acessrios. Foi em um sbado tarde que encontrei o estudante Mar-cos Silveira, um skatista de 25 anos, nas imediaes da Galeria. Ele pratica o espor-te desde os 12 anos, e afirma que o skate tudo em sua vida. Comecei andando de skate por causa dos meus amigos, mas ele me acompa-nhou pra sempre. J passei por problemas no emprego por causa do skate, porque quebrei o brao e meu chefe queria que eu parasse com o esporte, conta Marcos, que ressalta a relao do esporte com a msica. Comecei es-cutando bandas como Offs-pring, Bad Religion. Foi com certeza o skate que trouxe a msica para a minha vida.

    Tambm no centro paulis-tano est a Praa Roosevelt, cujo espao foi direcionado prtica do esporte. Porm, os skatistas e os moradores da redondeza esto em um gran-de impasse. Os primeiros precisam de um lugar ade-quado para andar, e a Roose-velt um dos seus espaos favoritos. J a vizinhana se sente ameaada pelo perigo das manobras, e reclama do barulho gerado pelos skatis-tas e seu equipamento. A Pre-feitura, como mediadora do debate, determinou que os skatistas utilizem a Roosevelt entre 8h e 23h, em alguns espaos da Praa. Esse con-flito mostra que os skatistas

    precisam superar obstculos no s nas manobras, mas tambm para conquistar seu espao nas grandes cidades.

    Vertical, Mega Rampa, Tony Hawk e

    Skate na terra do futebol

    Tony Hawk no o maior skatista do mundo toa. O californiano o criador da modalidade vertical, uma das mais famosas no mundo das rodinhas, e que prati-cada em uma pista com for-ma de U, a half pipe. Tony tambm um dos respon-sveis por mostrar que o esporte pode ser encarado de forma profissional. O X-Games, vencido vrias vezes por ele, e os campeonatos mundiais de Street Style so exemplos de competies em que atletas de alto nvel mostram que o skate pode

    ultrapassar os limites do la-zer e virar uma profisso.

    Outros skatistas famosos nos EUA so Mitchie Brusco, um garoto de 15 anos que j compete na Mega Rampa; Tony Alva, conhecido pela agressividade com que an-dava de skate, e Stacy Peral-ta, o descobridor do talento de Tony Hawk. Mas quem pensa que o Brasil no tem representantes no esporte est errado. Bob Burnquist, heri da Mega Rampa; San-dro Dias, o Mineirinho, e Lincoln Ueda so skatistas brazucas que fazem boni-to na gringa. Alis, a Mega Rampa - cujo ponto mais alto tem 30 metros de altura - est brasileirssima, sendo montada no Sambdromo do Anhembi para o Campe-onato Oi Mega Rampa, ven-cido por Bob trs vezes. Um feito no muito difcil para quem tem essa gigante no quintal de casa na Califrnia.

    Um pouco mais

    - Cd Tony Hawks Pro Skater vol 3, Vrios artistas. Lanado em 2001 pela Warner Bros. Records.

    O esporte ultrapassa os limites de geraes

    Ana

    Lui

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    artin

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    Em nome do shape, do truck, dosrolamentos e das rodinhas: Skate!

    Quando eu vou descendo a rua, as pessoas me veem com calafrios e tremendo. Eu sou um prisioneiro do demnio.Eu acho que minha cabea est para quebrar (Suicidal Tendencies, Possessed to Skate)

    Ana Luiza Martins

  • qualquer dimenso, desde a simples forma de cortar o ca-belo at princpios ideolgi-cos. Nesse sentido, tambm no podemos estabelecer limites rgidos entre uma tri-bo dos donos de fusca e de naes inteiras unidas por princpios. Durante a ascen-so do nazismo, por exemplo, ficaram evidenciados os fato-res de coeso tribal com um smbolo prprio (a sustica), cores e demonstraes de fora.

    Qual ser o futuro das tribos com o advento da internet e, especialmen-

    te, das redes sociais?O que percebo de inter-

    ferncia das redes sociais no comportamento tribal se refere basicamente a duas dimenses. Em primeiro lu-gar, a internet possibilita que as pessoas com determina-dos interesses possam se encontrar (virtualmente ou pessoalmente) no intuito de compartilhar informaes e experincias. Em segundo lugar, as redes sociais possi-bilitam que as pessoas se or-ganizem em encontros, even-tos ou mesmo para atividade poltica, como se verifica em alguns pases rabes, onde a liberdade de expresso li-mitada.

    Dessa forma, as pessoas tm maior flexibilidade para encontrar grupos de maior afinidade, as chamadas co-munidades virtuais. Infeliz-mente, como todos os meios de comunicao, tais conta-tos podem ser proveitosos ou prejudiciais para a sade (como os grupos de anor-xicas, por exemplo) ou para a sociedade (como torcidas organizadas violentas, por exemplo).

    Formado em Bio-logia pela UFS-Car, com mestrado e doutorado em Psico-logia Experimental pela USP, Sandro Ca-ramaschi docente do Departamento de Psicologia da UNESP em Bauru. O profes-sor foca sua pesqui-sa em comunicao no verbal e tipos de relacionamento. Com toda a sua bagagem, ele explica um pou-co mais a respeito do universo das tribos urbanas.

    possvel definir o ter-mo tribos urbanas? Qual a origem dessa

    denominao?

    A analogia nessa denomi-nao est relacionada com as tribos indgenas ou quais-quer outros grupos tnicos, ou seja, um conjunto de pes-soas relativamente pequeno que compartilha princpios, histria, adornos corporais, alimentos, valores morais, religio e at mesmo o jeito de se vestir. Esses elemen-tos traduzem a identidade do grupo. As tribos urbanas, alm da caracterstica bvia de serem estruturadas em espao urbano, tambm se diferenciam da sociedade em geral por alguns aspec-tos identificadores de per-tencimento a um grupo espe-cfico. O estudo dos grupos urbanos se confunde com a prpria histria da Antropo-logia e Sociologia. Entretan-to, ao que me parece, essa terminologia de tribo urba-na ou mais especificamente de espao tribal foi difun-dida na dcada de 1960 por Desmond Morris, um cientis-ta que iniciou seus estudos

    com animais e depois se vol-tou para os comportamentos humanos, proporcionando

    cimento a um ou vrios gru-pos desempenha um papel primordial para as pessoas. Provavelmente, uma das pio-res coisas para o ser humano a sensao de isolamento e abandono. Nesse sentido, estar inserido em grupos sociais importante. O que pode ocorrer que algu-mas tribos urbanas podem se envolver em comporta-mentos de risco (consumo de drogas, por exemplo) ou comportamentos socialmen-te indesejveis (como os skinheads). Muitas vezes, os jovens podem se sentir coa-gidos a adotar condutas que no so decididas por eles, mas por presso do grupo.

    Por que determinadas tribos, para firmarem suas crenas e ideias, precisam bater de frente

    com outras?

    Parte da identidade dos grupos se forma em oposi-o a outros grupos e isso se verifica atravs de toda a histria da humanidade. Ao passo que os indivduos se juntam pelas semelhanas, procuram encontrar dife-renas com relao a outros grupos, as quais passam a ser desqualificadas. Em me-nor escala, as tribos urbanas lutam para estabelecer e de-fender o seu espao tribal. Junte-se a isso uma boa dose de testosterona e teremos uma combinao potencial-mente perigosa do ponto de vista da violncia grupal.

    Em que ponto as tribos deixam de ser grupos com interesses em co-mum e passam a ser gru-pos polticos, filosficos

    e/ou sociais?

    No possvel fazer essa distino. Na medida em que pensarmos nos gru-pos sociais como entida-des dinmicas, os fatores de agregao podem estar em

    grande difuso cientfica acerca da evoluo compor-tamental.

    As pessoas so coagidas a fazerem parte de tribos ou essa formao se d por instinto prprio do

    ser humano?Na verdade, apesar de

    existirem tribos urbanas mais visveis, principalmente por suas vestimentas e h-bitos bizarros, no podemos esquecer que todas as pes-soas fazem parte de vrias tribos simultaneamente, nas quais desempenham papis sociais diferenciados. Por exemplo, quando algum est em seu ambiente de tra-

    balho pode se portar de for-ma diferente do que quando est com os amigos. Dessa maneira, queiramos ou no, pertencemos a diferentes tribos e nossa forma de ser resultante dessas mscaras sociais utilizadas em dife-rentes contextos. No que diz respeito ao rtulo de tribo urbana, as pessoas podem se identificar mais ou menos com tais grupos estruturados. Isso ocorre principalmente entre jovens, que esto pas-sando por um processo de identificao e de formao psicolgica. O processo de identificao grupal faz par-te da histria evolutiva de nossa espcie, da mesma forma que os chimpanzs se organizam em grupos estru-turados com coeso interna e oposio a outros grupos, os seres humanos tambm procuram caractersticas co-muns que proporcionem a estruturao dos grupos so-ciais, nos quais alguns traos comuns so enfatizados.

    Agrupar-se em tribos psicologicamente

    saudvel?

    Na medida em que o ser humano notoriamente gre-grio, a sensao de perten-

    De onde vem, para onde vai...

    Mayara Castro