o início do fim - rumo à primeira morte

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DOMINGO Assinaturas e serviço de atendimento: Belo Horizonte: (31) 3263-5800 - Outras localidades: 0800 031 5005 Assinatura Uai: 0800 031 5000 771809 987014 9 ISSN 1809-9874 9 MG: R$ 3 NÚMERO 25.985 EDIÇÃO 82 PÁGINAS FECHAMENTO DA EDIÇÃO: 21H B E L O H O R I Z O N T E , D O M I N G O , 3 1 D E M A R Ç O D E 2 0 1 3 www.em.com.br INÍCIO DO FIM Gritos da torcida, autógrafos, fama e portas abertas para o mundo. Os dias de glória podem parecer eternos para o jogador, mas é impossível driblar o tempo e a idade. A bola que consagra é a mesma que expulsa dos gramados. A partir de hoje, o E EM M mostra na série ‘‘Rumo à primeira morte’’ como jogadores no limiar da aposentadoria encaram o fim de carreira e se preparam para quando os holofotes se apagarem. CAPA E PÁGINAS 4 E 5 O ‘‘Eu me preparo para ter outro ambiente longe do mundo da bola’’ Tinga, 35 anos, volante do Cruzeiro ‘‘Quero abrir mais negócios, mexer mais com aluguel, terreno...’’ Glaysson, 34 anos, goleiro da Caldense ‘‘Tenho 20 anos de carreira e é difícil chegar próximo de encerrá-la’’ Marcelinho Paraíba, 37 anos, atacante do Boa ‘‘Tem de ir atrás do sonho, mas se preparar, estudar, para ter outra saída’’ Rodrigo Posso, 36 anos, goleiro do Nacional ‘‘Por enquanto, não tenho nenhum projeto. Vamos ver...’’ André Luís, 33 anos, zagueiro do Boa ‘‘Tenho conversado com minha família para quando eu parar não ter aquele baque’’ Geovanni, 33 anos, armador do América ‘‘A gente sente falta de jogar. É difícil ficar assistindo da arquibancada’’ Ditinho, 41 anos, ex-jogador e vereador em Patos de Minas ‘‘Meu sonho é fazer o Enem e cursar faculdade na minha área, educação física’’ Luizinho, 34 anos, armador da Caldense ‘‘Tenho vontade de continuar trabalhando no futebol’’ Fábio Jr., 35 anos, atacante do América ‘‘Quero dedicar mais tempo aos estudos para seguir carreira de administrador’’ Gilberto Silva, 36 anos, volante do Atlético Raposa vence Villa Nova e se classifica Galo recebe Tupi no Independência Cruzeiro decide Superliga de Vôlei outra vez PUNIÇÃO ACELERADA PARA ULTRAPASSAGEM PROIBIDA GOVERNO AGILIZA MUDANÇA NA LEI PARA IMPOR MULTA MAIS PESADA A MOTORISTAS QUE DESRESPEITAREM FAIXA CONTÍNUA, CAUSA DE MUITAS MORTES NAS ESTRADAS PÁGINA 12 DENGUE O mosquito que desafia a ciência Medo da violência leva população de rua para Zona Sul A epidemia que já fez 37.733 vítimas, com 34 mortes em Minas este ano, é consequência de uma longa batalha entre a ciência e o Aedes aegypti. Desde o recrudescimento da doença, na década de 1970, muitas foram as tentativas, mas ainda não há soluções eficazes, como vacinas ou alterações genéticas no próprio inseto. PÁGINAS 2, 24 E 25 Vigilância particular de edifícios e maior movimento e policiamento estão atraindo pessoas que não têm onde viver para bairros da Zona Sul de BH, segundo moradores e comerciantes. A prefeitura diz que está no limite para acolher os 2,2 mil sem-teto da capital, cujo abandono é agravado pelo crack e alcoolismo. PÁGINAS 21 E 22 B B E E M M V V I I V V E E R R Seja simples! Não ao consumismo e ao supérfluo. Conheça pessoas que optaram pela simplicidade e vida mais saudável, como Priscila Caliziorne, que não entra em shopping há 10 anos: “Nunca fiz escolhas motivadas pelo financeiro”. CAPA E PÁGINAS 4 E 5 Muito além do chocolate CHARME EM DEFESA DA LEI O cacau é conhecido como principal ingrediente da delícia mais cobiçada da Páscoa, mas tem múltiplos usos culinários, como sucos, iogurtes, geleias, mousses, pudins, sorvetes, destilados e fermentados finos. CAPA F F E E M M I I N N I I N N O O & MASCULINO Além do batom e do salto alto, muita responsabilidade para comandar investigações. A Polícia Civil já tem 380 delegadas em Minas. Roberta Fernandes Sodré, de 32 anos, enfrenta o desafio de conciliar a vida profissional com a educação dos filhos, gêmeos de 1 ano. PÁGINA 4 REPORTAGEM ESPECIAL ARTE DE ÁLVARO DUARTE E EVANDRO CRUZ SOBRE FOTOS DE ALEXANDRE GUZANSHE, LEANDRO COURI, RAMON LISBOA E RODRIGO CLEMENTE/EM/D.A PRESS FOTOGRAFIAS INSPIRADAS NO ENSAIO ‘‘LIFE BEFORE DEATH’’, DO ALEMÃO WALTER SCHELS JAIR AMARAL/EM/D.A PRESS MARCOS MICHELIN/EM/D.A PRESS degusta A NOVA RELAÇÃO COM AS DOMÉSTICAS Lei muda relações de subserviência e afeto entre patrões e empregados ao garantir direitos básicos de trabalhadores domésticos. PÁGINAS 13 E 14 IPI DE CARROS É MANTIDO EM 2% Alíquota será congelada até o fim do ano pelo governo, que desistiu da elevação a 3,5% para carros populares. PÁGINA 16

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Renan Damasceno - Série do jornal Estado de Minas conta a história de jogadores no limiar da aposentadoria. Jogadores como Tinga, Gilberto Silva, André Luis, entre outros, falam da dificuldade de deixar os gramados.

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Page 1: O início do fim - Rumo à primeira morte

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Assinaturas e serviço de atendimento: Belo Horizonte: (31) 3263-5800 - Outras localidades: 0800 031 5005 Assinatura Uai: 0800 031 5000

771809 9870149

ISSN 1809-9874

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●● M G : R $ 3 ●● N Ú M E R O 2 5 . 9 8 5 ●● 1 ª E D I Ç Ã O ●● 8 2 P Á G I N A S ●● F E C H A M E N T O D A E D I Ç Ã O : 2 1 H

B E L O H O R I Z O N T E , D O M I N G O , 3 1 D E M A R Ç O D E 2 0 1 3

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INÍCIODO

FIMGritos da torcida, autógrafos, fama e portas abertas parao mundo. Os dias de glória podem parecer eternos parao jogador, mas é impossível driblar o tempo e a idade. Abola que consagra é a mesma que expulsa dos gramados.A partir de hoje, o EEMM mostra na série ‘‘Rumo à primeiramorte’’ como jogadores no limiar da aposentadoriaencaram o fim de carreira e se preparam para quando osholofotes se apagarem. CAPA E PÁGINAS 4 E 5

O‘‘Eu me preparo parater outro ambientelonge do mundoda bola’’●● Tinga, 35 anos,

volante do Cruzeiro

‘‘Quero abrir maisnegócios, mexermais com aluguel,terreno...’’●● Glaysson, 34 anos,

goleiro da Caldense

‘‘Tenho 20 anos decarreira e é difícil

chegar próximo deencerrá-la’’

●● Marcelinho Paraíba,37 anos, atacante do Boa

‘‘Tem de ir atrás dosonho, mas se

preparar, estudar,para ter outra saída’’

●● Rodrigo Posso, 36 anos,goleiro do Nacional

‘‘Por enquanto,não tenho

nenhum projeto.Vamos ver...’’

●● André Luís,33 anos, zagueiro do Boa

‘‘Tenho conversadocom minha família

para quando eu pararnão ter aquele baque’’

●● Geovanni, 33 anos,armador do América

‘‘A gente sente faltade jogar. É difícil

ficar assistindo daarquibancada’’

●● Ditinho, 41 anos, ex-jogador evereador em Patos de Minas

‘‘Meu sonho é fazero Enem e cursarfaculdade na minhaárea, educação física’’●● Luizinho, 34 anos,armador da Caldense

‘‘Tenho vontadede continuartrabalhandono futebol’’●● Fábio Jr., 35 anos,

atacante do América

‘‘Quero dedicar maistempo aos estudospara seguir carreirade administrador’’●● Gilberto Silva, 36 anos,

volante do Atlético

Raposa vence Villa Nova e se classifica ● Galo recebe Tupi no Independência ● Cruzeiro decide Superliga de Vôlei outra vez

PUNIÇÃO ACELERADA PARA ULTRAPASSAGEM PROIBIDAGOVERNO AGILIZA MUDANÇA NA LEI PARA IMPOR MULTA MAIS PESADA A MOTORISTAS QUE DESRESPEITAREM FAIXA CONTÍNUA, CAUSA DE MUITAS MORTES NAS ESTRADAS

PÁGINA 12

DENGUE

O mosquitoque desafiaa ciência

Medo da violêncialeva população derua para Zona SulA epidemia que já fez 37.733

vítimas, com 34 mortes em Minaseste ano, é consequência de umalonga batalha entre a ciência e oAedes aegypti. Desde orecrudescimento da doença, nadécada de 1970, muitas foram astentativas, mas ainda não hásoluções eficazes, como vacinasou alterações genéticas no próprioinseto. PÁGINAS 2, 24 E 25

Vigilância particular de edifícios e maior movimento e policiamentoestão atraindo pessoas que não têm onde viver para bairros da ZonaSul de BH, segundo moradores e comerciantes. A prefeitura diz queestá no limite para acolher os 2,2 mil sem-teto da capital, cujoabandono é agravado pelo crack e alcoolismo. PÁGINAS 21 E 22

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EE RR Seja simples!Não ao consumismo e ao supérfluo. Conheça pessoas queoptaram pela simplicidade e vida mais saudável, como PriscilaCaliziorne, que não entra em shopping há 10 anos: “Nunca fizescolhas motivadas pelo financeiro”. CAPA E PÁGINAS 4 E 5

Muito alémdo chocolate

CHARME EMDEFESA DA LEI

O cacau é conhecido comoprincipal ingrediente da delíciamais cobiçada da Páscoa, mas temmúltiplos usos culinários, comosucos, iogurtes, geleias, mousses,pudins, sorvetes, destilados efermentados finos. CAPAFF EE

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Além do batom e do salto alto, muitaresponsabilidade para comandar investigações. APolícia Civil já tem 380 delegadas em Minas. RobertaFernandes Sodré, de 32 anos, enfrenta o desafio deconciliar a vida profissional com a educação dosfilhos, gêmeos de 1 ano. PÁGINA 4

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A NOVA RELAÇÃOCOM AS DOMÉSTICASLei muda relações desubserviência e afeto entrepatrões e empregados ao garantirdireitos básicos de trabalhadoresdomésticos. PÁGINAS 13 E 14

IPI DE CARROS ÉMANTIDO EM 2%Alíquota será congelada até ofim do ano pelo governo, quedesistiu da elevação a 3,5%para carros populares.PÁGINA 16

Page 2: O início do fim - Rumo à primeira morte

Se vencer o Tupi no Independência, oAtlético chega a seu 11º triunfo seguido e

se garante nas semifinais do MineiroPÁGINA 3

VITÓRIA HOJEVALE CLASSIFICAÇÃO

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RUMO À PRIMEIRA MORTE

RENAN DAMASCENO

e repente, não há mais gritos da torcida, as criançasnão lhe pedem autógrafo nas ruas, o dono do res-taurante não mais o recebe de braços abertos. Asarrancadas ficam escassas, as dores aumentam eo tempo no departamento médico supera o dosminutos em campo. A idade se torna um marca-dor implacável e a aposentadoria, impossível deser driblada. A bola que consagra pode se tornartambém o cadafalso.

"O jogador de futebol morre duas vezes. Aprimeira, quando para de jogar." A frase do ex-jogador e técnico Paulo Roberto Falcão sintetizaa realidade dos atletas que passam dos 30 anos eestão perto de pendurar as chuteiras. "Acaba deum dia para o outro. É complicado pensar nisso",diz o atacante Fábio Júnior, de 35. "É triste, por-que eu amo jogar futebol", confessa MarcelinhoParaíba, de 37, armador do Boa. "Sonhei durante

muito tempo que estava no vestiário, fazendouma jogada ou batendo pênalti...", comenta otécnico do Cruzeiro, Marcelo Oliveira, que seaposentou aos 30, em 1985.

Autor da afirmação que se tornou quase umpreceito do futebol, Falcão acredita que muitos jo-gadores vivem um personagem – e como tal creemque a vida de holofotes vai ser eterna. "O futeboltem muita gente envolvida. Amigos, mídia, assé-dio, exposição... É preciso saber que isso não é parasempre. Para evitar o impacto, ele precisa ter convi-vência com pessoas de fora desse mundo, se preo-cupar com a postura longe dos gramados, fazersempre uma autoanálise", destaca o treinador, quefrequentou psicanalista por 17 anos para convivermelhor com o sucesso. "Desde o começo sabia quetudo teria um fim. Aprendi a não ser escravo doque a vida de jogador me proporcionava", justifica.

A partir de hoje, o Estado de Minas apresen-ta a série de reportagens “Rumo à primeira mor-te”, com depoimentos exclusivos de jogadoresque estão no limiar da aposentadoria. Como elesencaram o fim de carreira e se preparam paraquando os holofotes se apagarem. Alguns jogampor amor, outros por necessidade. Longe dos al-tos salários, atletas que fizeram a vida em timesdo interior recorrem aos livros, a concursos pú-blicos e aos pequenos empreendimentos. Joga-dores de sucesso internacional, por sua vez, bus-cam reconstruir a carreira, driblando a descon-fiança e tomando fôlego para disputar vaga comos mais novos. Embora trilhem caminhos dife-rentes, o destino apresenta a mesma interroga-ção: qual a melhor hora de parar?

LEIA MAIS NAS PÁGINAS 4 E 5

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‘‘O jogador de futebolmorre duas vezes.

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Page 3: O início do fim - Rumo à primeira morte

SUPERESPORTESE S T A D O D E M I N A S ● D O M I N G O , 3 1 D E M A R Ç O D E 2 0 1 3

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RUMO À PRIMEIRA MORTEREPORTAGEM ESPECIAL

ilberto Silva é a voz baixa e mansa da expe-riência. Volante da Seleção Brasileira emtrês Copas do Mundo – titular em 2002 e2010 e reserva em 2006 –, o mineiro voltouao estado natal em dezembro, com contra-to de uma temporada com o Atlético, de-pois de uma década longe do alvinegro, de-fendendo Arsenal, Panathinaikos e Grêmio.Aos 36 anos, afirma estar "preparando bema cabeça para virar uma página importanteda vida", que é como costuma tratar a apo-sentadoria. Por enquanto, se cuida nos trei-nos para desempenhar bem a função de za-gueiro ou volante, quando solicitado pelotreinador Cuca.

"Não é só o corpo que precisa de cuida-do. A cabeça também, para lidar com as di-versas pressões. Por ser mais experiente, agente passa a ser mais cobrado em deter-

minadas situações e, se você não conseguedesempenhar bem a função dentro decampo, as pessoas começam a achar quevocê não está mais apto para ajudar. Vocêtem de ter a cabeça no lugar para não sefrustrar", comenta.

Gilberto sempre teve estrela. No pri-meiro ano como profissional, em 1997, aju-dou o América na conquista do título da Sé-rie B do Brasileiro. Em 2000 conquistou aCopa Sul-Minas pelo Coelho, antes de setransferir para o Atlético e ser campeão mi-neiro. Depois do título da Copa do Mun-do’2002, atuando nos sete jogos, foi nego-ciado ao Arsenal. Na estreia no clube londri-no, fez o gol do título da Copa da Inglater-ra. Após nove temporadas na Europa, acer-tou com o Grêmio em 2011, voltando aoGalo no fim do ano passado. Segundo ele, o

respeito que conquistou é fruto de sua pos-tura. "Sempre cultivei uma imagem positi-va na minha carreira, trabalhando sério. E éassim que vou continuar, para cumprirbem meu contrato com o Atlético."

CURSOS ON-LINE A chance de ficar perto damulher e dos filhos pesou para Gilberto Sil-va aceitar a proposta do Galo e retornar a Mi-nas. Depois da aposentadoria, que ainda nãotem data marcada, pretende se dedicar aosfilhos e descansar. Continuar no futebol éuma possibilidade, mas não é a prioridadedo atleta. "Estou buscando conhecimento fo-ra do futebol. Quando tenho tempo, façocursos on-line de administração, marketinge recursos humanos. Quero dedicar maistempo aos estudos para seguir carreira deadministrador depois de parar."

‘ESTOU BUSCANDO CONHECIMENTO’

O ARTILHEIROVIROU VEREADOR

GILBERTO SILVAGILBERTO APARECIDO DA SILVA

36 ANOS

●● Nascimento: 7/10/1976, em Lagoa da Prata ●● Altura e peso: 1,84m e 74kg●● Posição: volante ●● Clubes: América, Atlético, Arsenal (ING),

Panathinaikos (GRE), Grêmio e Atlético

RENAN DAMASCENO

Os 12 anos dedicados à URTrenderam a Ditinho 1.386 votosnas eleições municipais do anopassado, votação suficiente pa-ra elegê-lo vereador em Patosde Minas, no Alto Paranaíba.Maior artilheiro da história daURT, com 103 gols em mais de200 jogos, o atacante abando-nou os gramados aos 40 anospara se dedicar exclusivamen-te ao Legislativo.

A ideia de se lançar candida-to era antiga e tomou força de-pois de problema de saúde queo tirou de combate. Em março

do ano passado, Ditinho pas-sou mal durante partida contrao Araxá, pelo Módulo II do Mi-neiro. Após o jogo, foi levadopara a UTI, onde se submeteu avários exames. A tomografiamostrou uma obstrução do ca-nal do rim direito, totalmentecomprometido, obrigando a re-tirada do órgão.

"Coincidiram o período derecuperação, a idade avançadae a vontade de me candidatar.Queria retribuir à cidade todo ocarinho que recebo nas ruasdesde que cheguei aqui. É um

trabalho completamente novo,mas aos poucos estou apren-dendo direitinho", comenta overeador, que tem dois filhosque sonham ser jogadores defutebol: Luiz Henrique, de 15anos, e Ially Henrique, de 14,vão fazer teste nas categoriasde base do Cruzeiro no mêsque vem.

POSSÍVEL RETORNO Habituadoà nova rotina e totalmente re-cuperado, Ditinho sonha emvoltar a defender as cores azule branca. Cogitou disputar oClássico do Milho, com o ar-quirrival, Mamoré, marcadopara hoje, mas a falta de tem-po para os treinos e divergên-cias com membros da direto-

ria adiaram seu retorno. "Es-tou jogando, mas não profis-sionalmente. Tenho vontadede defender a URT, mas estáfaltando tempo para treinar. Édifícil conciliar, sempre temuma coisa nova para fazer, umcompromisso ou alguma reu-nião na Câmara."

Para Ditinho, ficar de fora doduelo que o consagrou – é omaior artilheiro do clássicocom 12 gols – ainda é difícil. "Agente sente falta de jogar. É di-fícil ficar assistindo da arqui-bancada. Apesar de ter feito 41anos, ainda estou bem e teriacondições de voltar a jogar. Àsvezes, dá vontade de descer,calçar a chuteira e correr com abola rumo ao gol." (R.D)

Ginga chegou ao Cruzeiro em maio do anopassado e já impôs respeito. Exemplo paraos mais novos, o volante de 35 anos assinoucontrato até dezembro de 2014, quando es-tará prestes a completar 37. Pretende cum-pri-lo integralmente, se possível com título.Em seguida, quer curtir a família, tocar pro-jetos sociais que mantém em Porto Alegre,estudar e desfrutar de uma vida tranquila –de preferência, longe do futebol.

"Estou me preparando para parar de jogardesde os 32 anos, quando terminou meucontrato com o Borussia Dortmund. E minhamente começou a trabalhar em função dis-so. O choque vai ser inevitável, mas vai sermenor. Comecei a estudar inglês, já que faloalemão fluentemente, faço curso de oratória.Eu me preparo para ter outro ambiente lon-ge do mundo da bola e fazer amizades com

pessoas que, quando eu parar de jogar fute-bol, vão continuar comigo, porque não meconhecem apenas como jogador", comentao volante, que cuida de dois projetos sociaisem bairros carentes da capital gaúcha: o Es-porte Clube Cidadão, em parceria com Dun-ga, e o Aspirantes de Cristo, com o zagueiroLeo, companheiro no Cruzeiro.

Nascido no Bairro da Restinga – que origi-nou o apelido –, Tinga é um líder nato. Acon-selha os mais novos, principalmente sobre asilusões e armadilhas do futebol. Por causados cinco anos na Europa e pelas passagensem grande clubes, tem conhecimento táticoque arranca elogios de treinadores. No entan-to, não pensa em se tornar técnico, apesar denão esconder a curiosidade pelas funções ad-ministrativas dos clubes.

Quando chegou ao Cruzeiro, fez questão

de conhecer todos os detalhes do funciona-mento dos oito andares da sede administra-tiva, no Barro Preto. "Conhecimento nunca édemais. A coisa mais valiosa que a gente temé o aprendizado. Na vida, a gente estandopronto, pode competir em qualquer área domercado. Sou curioso, gosto de aprender."

DESGASTE Tinga acredita que os jogadoresbrasileiros são vítimas da rotina pesada dejogos e treinos e por isso chegam aos 30anos já próximos da aposentadoria. "Todoatleta com mais de 30 que joga em alto ní-vel hoje no futebol brasileiro esteve pelomenos dois anos no exterior. Aqui fazemos80 jogos. Lá fora, 40. No exterior, treinamosuma vez por dia, você pode viver. Jogou,treinou, acabou. Aqui, psicologicamente,você fica desgastado", compara.

‘CHOQUE SERÁ INEVITÁVEL’

REFORÇO NO TIMEDA PREFEITURA

TINGAPAULO CÉSAR FONSECA DO NASCIMENTO

35 ANOS

●● Nascimento: 13/1/1978, em Porto Alegre ●● Altura e peso: 1,70m e 62kg●● Posição: volante ●● Clubes: Grêmio, Kawasaki Frontale (JAP), Botafogo, Sporting (POR),

Internacional, Borussia Dortmund (ALE), Internacional e Cruzeiro

RENAN DAMASCENO

Contratado em dezembro doanopassadoparadefenderoAmé-rica-TOnoCampeonatoMineiro,oatacante paulista Erivelto, prestesa completar 31 anos, surpreendeua todos ao pedir desligamento doclube no mês passado, por motivoinusitado: passou em um concur-so público de auxiliar administra-tivo na Prefeitura de Guarulhos,Região Metropolitana de São Pau-lo. O salário, de menos de R$ 2 mil,é inferior ao recebido no futebol,mas ele optou pela estabilidade.

Erivelto casou-se em dezem-bro, tem uma filha de 5 anos e

quis ficar mais perto da família, nacidade em que nasceu. Conta que,por causa dos treinos, não tevetempo nem para a lua de mel. Noano passado, ficou desemprega-do, sem nenhuma fonte de renda,antes de assinar com o Botafogo-PB. O receio de passar por proble-mas semelhantes depois da apo-sentadoria o encorajou a prestar oconcurso. O resultado foi sur-preendente: 14º lugar entre maisde 3 mil concorrentes.

"Se a gente olhar as estatísti-cas, a maioria esmagadora dos jo-gadores de futebol ganha salários

entre R$ 3 mil e R$ 5 mil, uma rea-lidade muito diferente da vividapelos atletas de grandes clubes.Se o jogador tiver a cabeça no lu-gar, dá para comprar uma casa,carro...", diz Erivelto, que come-çou a trabalhar no novo empre-go há duas semanas. "Senti umfriozinho na barriga na hora emque entrei na sala, igual ao quesentia nos estádios", brinca.

VOLTA AOS GRAMADOS Eriveltoainda está aprendendo o novoofício, conhecendo os serviçosde escritório e almoxarifado.Mas, se até o ano passado eleprecisava procurar time para jo-gar, agora tem o passe disputa-do no campeonato interno. "Opessoal da garagem veio me

chamar para o campeonato daprefeitura, mas as inscrições es-tavam encerradas", conta. Na se-mana passada, ele estreou naCopa Kaiser, mais tradicionalcampeonato de futebol amadordo país, defendendo o Classe A,que pertence a um velho amigo.

O ex-jogador, que ainda sonhaem fazer faculdade de nutrição,dá risadas sobre a repercussão desua aposentadoria. "Esses dias, noalmoço, o Fred estava em umprograma de TV falando sobreTeófilo Otoni, sua cidade natal.Aí, um funcionário, na outra me-sa, começou a falar sobre um jo-gador que jogava naquela cidadee estava trabalhando na prefeitu-ra. Eu me levantei e falei: ‘Esse ca-ra sou eu!’.” (R.D)

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FOTOS: RODRIGO CLEMENTE/EM/D.A PRESS FOTOS: ALEXANDRE GUZANSHE/EM/D.A PRESS

AMANHÃ: FÁBIO JÚNIOR, ATACANTE,SENTE A ANGÚSTIA SÓ AO PENSAR EM PARAR

ERIVELTOERIVELTO ALEXANDRINO DA SILVA, 30 ANOS● Nascimento: 7/4/1982, em Guarulhos-SP● Altura e peso: 1,84m e 79kg ● Posição: atacante● Clubes: Juventus, Inter de Limeira-SP, Cataratas de Foz-PR, RioBranco-SP, Corinthians-AL, FK Qabala (AZE), XV de Jaú-SP,Flamengo de Guarulhos-SP, Canedense-GO, Náutico, Brasiliense,Trindade-GO, Fluminense de Feira-BA, Botafogo-PB e América-TO

DITINHOFRANCISMAR ROSA DOS SANTOS, 41 ANOS● Nascimento: 21/3/1972, em São José dos Campos-SP● Altura e peso: 1,70m e 66kg● Posição: atacante● Clubes: Guarulhos, Noroeste, Paulista, URT, Passos,

Funorte e Hortolândia-SP

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RUMO À PRIMEIRA MORTEREPORTAGEM ESPECIAL

atacante Fábio Júnior conseguiu algo raro nofutebol: conquistar o respeito de três torcidasrivais da mesma cidade. Em Belo Horizonte, érecebido com reverência pelos torcedores deAmérica, Atlético e Cruzeiro. Aos 35 anos, o ca-misa 7 do Coelho espera jogar por mais duastemporadas antes de se aventurar à beira dogramado. "Tenho vontade de continuar traba-lhando no futebol, com garotos na base, mas,para ser sincero, tenho muita vontade de trei-nar. Vou ficar nesse meio, porque minha vidafoi toda dedicada ao esporte", disse ao Estadode Minas, na segunda reportagem da série“Rumo à primeira morte”, com depoimentosexclusivos de jogadores que estão no limiarda aposentadoria.

Além de ter marcado época no futebolmineiro, Fábio Júnior jogou em seis países.Em 2010, voltou a Belo Horizonte para de-

fender o América. Em três anos pelo alviver-de fez 67 gols – é o 13º maior artilheiro dahistória do clube, a 11 de entrar no top-5.

De São Pedro do Avaí, distrito de Manhua-çu, atuou na base do Democrata, de Governa-dor Valadares, se destacou no Cruzeiro e foivendido à Roma por US$ 15 milhões – segun-da maior negociação celeste, superada pela doarmador Geovanni, companheiro no Coelho,que custou US$ 18 milhões ao Barcelona.

Quando pensa que o fim de carreira estápróximo, se entristece. “De repente, aquela ro-tina acaba de um dia para o outro. Hoje já con-sigo parar e pensar na situação. E confessoque, ao pensar que vou parar daqui a doisanos, bate uma angústia, por mais que a gen-te se prepare. Vai ser complicado...”

VANTAGENS E DESVANTAGENS A braçadeira

de capitão e o reconhecimento dos compa-nheiros refletem o respeito conquistado porele no Coelho. Com a experiência, aprendeua poupar fôlego para os momentos certos.Fora das quatro linhas, dedica-se à mulher,Cristina, aos dois filhos – Isadora, de 6 anos,e Enzo, de 2 – e aos imóveis que administra.

Apaixonado pelo futebol e dedicado aostreinos, Fábio Júnior entende bem as van-tagens e desvantagens da idade. “Quandoa gente chega aos 35, começa a passar pelacabeça que está chegando ao fim. Por maisque a gente se esforce, se dedique, acabasentindo um pouco. Hoje em dia, quandovocê se cuida, você tem uma carreira maislonga. Pelo lado positivo, tem a experiên-cia: a gente passou pelas dificuldades e en-sina isso para os garotos. É isso que me mo-tiva a cada dia.”

EX-BARÇA SONHAEM JOGAR ATÉ OS 40

FÁBIO JÚNIORFÁBIO JÚNIOR PEREIRA

35 ANOS

●● Nascimento: 20/11/1977, Manhuaçu ●● Altura e peso: 1,86m e 76kg●● Posição: atacante ●● Clubes: Democrata-GV, Cruzeiro, Roma (ITA), Palmeiras, Vitória de Guimarães (POR),

Atlético, Kashima Antlers (JAP), Al Wahda (EAU), Bochum (ALE), Hapoel Tel Aviv (ISR), Brasiliense e América

RENAN DAMASCENO

Quando repetiu o ano pela pri-meira vez no colégio, Geovannipensou em desistir de tudo e vol-tar para Acaiaca, na Zona da Matamineira. A vontade era se tornarengenheiro civil, mas o sonho dopai, Manoel Maurício, falou maisalto e a carreira do garoto deslan-chou. Com apenas 21 anos, de-pois de ser campeão da Copa Sul-Minas’2001 pelo Cruzeiro, comdireito a gol na decisão com o Co-ritiba, o armador baixo e ariscofoi negociado ao Barcelona porUS$ 18 milhões – até hoje a maiorvenda da história cruzeirense.

Aos 33 anos, Geovanni está devolta ao futebol mineiro. Sem sefirmar no Barça, ele teve passa-gem de destaque pelo Benfica ejogou ainda na Inglaterra e nos Es-tados Unidos antes de retornar aoBrasil. Se depender dele, a carreiraainda será longa. "Não sei se é cul-tura nossa, mas o jogador chegaaos 30 anos e é tachado de velho.Eu me sinto melhor hoje do queantes. Pela experiência, cuidomais do físico, meu posiciona-mento é diferente. Pego mais nabola e corro menos. Coisas que agente aprende com o decorrer da

carreira. O futebol brasileiro temde mudar a mentalidade."

Paraevitaradepressão,Geovan-ni tem se preparado para não so-frerquandopenduraraschuteiras.A exemplo de Fábio Júnior, parcei-ro no Cruzeiro e no América, pre-tende continuar no meio. "Minhavida é futebol e família e quandovocê larga uma coisa de que gosta,sentefalta.Tenhoconversadocomminha família para quando eu pa-rar não ter aquele baque."

OS ANOS DE BARÇA Incentiva-dor da carreira, o pai de Geovanniganhou um presente de aniversá-rio inesquecível em 2000: o títuloda Copa do Brasil conquistado pe-lo filho, que em pouco tempo che-gariaaoclubecatalão."OBarcelona

foiumaprendizado.Láelesnãoes-peram você se adaptar. Tem dechegarejogar.Hoje,pelaminhaex-periência, falo mais, mas no Barçaeu não tinha isso. A falta de comu-nicação, de falar, impor a liderançaemcampo,atrapalhoumeurendi-mento", explicou o armador, quefez grande amizade com Puyol eIniesta,duasestrelasaindacintilan-tes na constelação azul-grená.

Se ainda está bem física e tecni-camente, Geovanni agradece aoperíodo de aprendizado no clubecatalão. "Hoje colho os frutos doqueaprendilá.Eumelembromui-todoPhilipCocu,doFrankdeBoer,do Rivaldo... Eles me impressiona-vam pela vontade e a garra na ho-radostreinos.Querochegaraos40com a mesma garra deles." (R.D)

O

FOTOS: LEANDRO COURI/EM/D.A PRESS

GEOVANNIGEOVANNI DEIBERSON MAURÍCIO GOMEZ, 33 ANOS

● Nascimento: 11/1/1980, em Acaiaca● Altura e peso: 1,73m e 67kg ● Posição: armador● Clubes: Cruzeiro, América, Barcelona (ESP), Benfica (POR),Manchester City (ING), Hull City (ING), San Jose Earthquakes(EUA) e Vitória

‘BATE UMA ANGÚSTIA’

AMANHÃ: MARCELINHO PARAÍBA, NO INTERIORDE MG, JÁ AGENCIA JOVENS JOGADORES

Page 5: O início do fim - Rumo à primeira morte

SUPERESPORTES

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RUMO À PRIMEIRA MORTEREPORTAGEM ESPECIAL

arginha – Marcelinho Paraíba tinha poucasreferências terrenas sobre Varginha antes dedesembarcar no Sul de Minas para defendero Boa, em outubro. Da cidade, conhecia ape-nas histórias de discos voadores e extrater-restres, que tornaram a região conhecida emtodo o mundo na metade da década de 1990.Aos 37 anos, com contrato renovado até no-vembro, caso o Boa suba para a Série A doBrasileiro, o armador vai cobrar da diretoriacompromisso por mais uma temporada. Eleabre a terceira reportagem da série “Rumo àprimeira morte”, que o Estado de Minas pu-blica desde domingo, sobre jogadores próxi-mos da aposentadoria.

Em boa forma, Marcelinho já se arriscaem nova função. “Tenho trabalhado maiscomo empresário de jovens atletas. Tenhoos direitos de alguns jogadores. Estou co-

meçando agora, não são muitos, mas te-nho três ou quatro para começar”, comen-ta o jogador, agente do armador Esquerdi-nha (emprestado ao Patrocinense), do ar-mador Fernandes (Campinense) e de al-guns jovens da base do Sport.

Marcelinho teve carreira de destaqueno Brasil e na Europa. No Velho Continen-te, destacou-se no Hertha Berlin, onde fi-cou cinco temporadas, vencendo a Liga daCopa Alemã em 2001 e 2002. De volta aofutebol brasileiro desde 2008, ao sair doFlamengo em 2009 esteve bem perto doCruzeiro, mas não chegou a acordo.

VIDA NO INTERIOR Apesar de estar bem fi-sicamente, o armador se diz incomodadocom a proximidade da aposentadoria. “Te-nho 20 anos de carreira e é difícil chegar

próximo de encerrá-la. A gente já começaa pensar no futuro, como vai ser quandoparar. É triste, porque amo jogar futebol.Meu condicionamento físico está bom,pois se não estivesse eu não me esforçaria.”

Morando com a família em Varginha,ele alugou uma casa ampla e vive aos cui-dados da mãe, dona Elita, que acompanhade perto sua carreira. Constantemente pa-rado nas ruas para dar autógrafos, não fogedas cobranças quando o time vai mal. “Éum pouco parecido com Campina Grande,apesar de menor. Estou acostumado como interior. Morei em Paraguaçu Paulista,Americana... Todo mundo se conhece.Aqui, gostei do carinho que o povo teve co-migo e com o Boa. É um time novo na ci-dade e quero abrir as portas para outrosgrandes jogadores virem para cá.”

ARMADOR QUERFAZER O ENEM

MARCELINHO PARAÍBAMARCELO DOS SANTOS

37 ANOS

●● Nascimento: 17/5/1975, em Campina Grande-PB ●● Altura e peso: 1,77m e 70kg ●● Posição: armador●● Clubes: Campinense-PB, Paraguaçuense, Santos, Rio Branco-SP, São Paulo, Olympique de Marselha (FRA),

Grêmio, Hertha Berlin (ALE), Trabzonspor (TUR), Wolfsburg (ALE), Flamengo, Coritiba, São Paulo, Sport, Barueri e Boa

RENAN DAMASCENO

Enviado especial

Poços de Caldas – Banco pa-ra Luizinho, só se for o da escola.Desde o ano passado, o arma-dor da Caldense divide seu tem-po entre treinos, jogos e estu-dos. O baiano, de 34 anos, pre-tende fazer faculdade depois dese aposentar e sabe que o cami-nho é longo e requer dedicação."Meu sonho é fazer o Enem ecursar faculdade na minha área,educação física, porque querocontinuar no futebol", conta ojogador, que completou o se-gundo grau por meio de cursosupletivo em 2012.

Nascido na cidade baiana deSanta Inês, Luizinho veio paraMinas em 1998, por indicaçãodo técnico Célio Costa, das divi-sões de base do Cruzeiro, e nun-ca mais voltou ao futebol baia-no. No interior mineiro, passoupor muitos clubes antes de che-gar a Poços de Caldas, que oadotou há cinco anos.

Quando tinha 15 anos, Luizi-nho conheceu a mulher, Rosân-gela, à época com 12. Hoje, ela oajuda a estudar. "Estou lendo oslivros. Minha esposa é profes-sora e tem me ajudado muito."

Apesar de não ter jogado pro-fissionalmente em nenhumclube de expressão, o atleta sesente realizado. "Não ganhei sa-lários altos, mas a média mepossibilitou ter estabilidade.Meu filho estuda em escolaparticular. Tenho tudo do me-lhor, sem nenhum abuso."

CHUTEIRA 35 Sair de uma cida-de de pouco mais de 10 mil ha-bitantes e tentar um lugar aosol no difícil mundo do futebolnão foi a única dificuldade en-frentada por Luizinho. Encon-trar uma chuteira do seu núme-ro, 35, sempre lhe deu trabalho.Muitas vezes, só na prateleirados calçados femininos. A queele usa no Campeonato Minei-

ro pertenceu a ninguém menosdo que a atacante Marta.

"O preparador de goleiros doNacional de Nova Serrana esta-va em Londres com a Marta,em Wembley, né? Teve um jo-go em que ela deixou a chutei-ra em um canto para fazer oexame. O preparador foi entre-gar a ela, que disse: ‘Pode ficarpra você’. No fim do ano passa-do, quando eu estava jogandoem Nova Serrana, o preparadortrouxe as chuteiras para todomundo e perguntei: ‘Professor,não tem uma 35 aí, não?’ Eleme respondeu: ‘Tenho, é daMarta, você se importa?’ Eu dis-se: ‘Claro que não’. Ainda veiocom as gramas de Wembley",comemora. (R.D)

V

FOTOS: ALEXANDRE GUZANSHE/EM/D.A PRESS

LUIZINHOANTÔNIO LUIZ FERREIRA DOS SANTOS, 34 ANOS● Nascimento: 8/3/1979, em Santa Inês-BA● Altura e peso: 1,64m e 61kg● Posição: armador● Clubes: Vitória, Bahia, Montes Claros, Uberlândia,Rio Branco, Caldense, Villa Nova, Uberaba, Nacional e Caldense

‘É TRISTE. EU AMO JOGAR’

AMANHÃ: RODRIGO POSSO, GOLEIRO,PRETENDE SER AUXILIAR TÉCNICO

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SUPERESPORTES

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RUMO À PRIMEIRA MORTEREPORTAGEM ESPECIAL

goleiro Rodrigo Posso já experimentou osdois lados da bola. Chegou a se aposentarem 2009 e a atuar como diretor de futebolno Ipatinga, mas a saudade dos gramados ealgumas decepções no novo cargo o fizeramvoltar. Aos 36 anos, vive a incerteza: vai con-tinuar jogando no segundo semestre ou pa-rar de vez? “O calendário é pequeno: quatro,cinco meses. Se o time não conseguir vagana Série D, estou desempregado. A maioriados times do interior do Brasil só funcionano primeiro semestre”, comenta o goleiro,que tem contrato até maio com o Nacional.Ele abre a quarta reportagem da série “Ru-mo à primeira morte”, publicada desde do-mingo pelo Estado de Minas, sobre jogado-res próximos da aposentadoria.

Rodrigo Posso saiu de casa, em MoreiraSales-PR, aos 15 anos, abdicando do convívio

com a família, para se tornar jogador. Ele in-tegrou as categorias de base do Cruzeiro eherdou a vaga de Dida no time profissionalem 1999, mas se destacou no Ipatinga, na as-censão meteórica do time do Vale do Aço en-tre 2004 e 2008, sendo campeão mineiro em2005, vice estadual e semifinalista da Copado Brasil em 2006. Trocou as luvas pelas fun-ções burocráticas depois de passar pelo Chi-pre em 2009 e ajudou o Tigre a ser campeãodo Módulo II. “Parei em uma decisão errada,precipitada, para ficar mais com a família.Quando meu filho nasceu, eu queria que eleme visse jogando. E o cargo de diretor de fu-tebol não era o que imaginava”, conta.

VIDA DE ESTUDANTE Rodrigo Posso ficouquase uma temporada longe dos gramadose retornou no Uberlândia em 2010. Jogou

ainda no Social de Coronel Fabriciano antesde chegar ao Nacional. Garante que a idadelhe faz bem. “O trabalho de reação e veloci-dade é a mesma coisa. Treino o mesmo tan-to que os mais jovens, mas me cuido mais.”

Apesar de não pensar em assumir cargode diretoria novamente, o goleiro não querlargar o futebol. Sonha ser auxiliar técnico.Na metade do curso de educação física, naUnileste, de Ipatinga, teve de trancar a ma-trícula para voltar aos gramados. Garanteque leva vida tranquila, apesar de ter jogadoboa parte da carreira no interior. “O salárionão é o que todo mundo imagina. E às vezesse pode ficar cinco ou seis meses sem jogarou defender um clube que não paga direito.É uma aposta, que vale a pena para os maisjovens. Tem de ir atrás do sonho, mas se pre-parar, estudar, para ter outra saída.”

CALOTES NO PASSADO,NEGÓCIOS NO FUTURO

RODRIGO POSSORODRIGO POSSO MORENO

36 ANOS

●● Nascimento: 16/5/1976, em Moreira Sales-PR ● Altura e peso: 1,86m e 86kg●● Posição: goleiro ● Clubes: Cruzeiro, Ipatinga, Rio Branco-MG, Tuna Luso, Remo, ABC-RN, Gama, Uberaba, Ermis

Aradippu (CHP), Uberlândia, Social e Nacional

RENAN DAMASCENO

Poços de Caldas – Poucos jo-gadores conhecem tão bem ointerior de Minas quanto o go-leiro Glaysson. Basta começar oaquecimento no estádio de umdos 13 clubes mineiros que eledefendeu em duas décadas decarreira para ser lembrado eaplaudido pelos torcedores lo-cais. Há três temporadas na Cal-dense, sabe como poucos darealidade do futebol longe dosgrandes centros.

“Ficar rico a gente não fica,não. Se pegar um time que pa-ga em dia, dá para ter um carro,

uma casa. Vive tranquilamente.O ruim é que tem muito timeque acerta tudo e não paga. Agente entra na Justiça e mesmoassim fica sem receber. Tenhouma dívida do Democrata deSete Lagoas desde 2007, quenão recebo. Ficou para trás. UnsR$ 100 mil...”, lembra o jogador,que viveu situação semelhanteno Araguari. “Eles me pagaramsó o primeiro mês, depois ficousó no papo...”

Aos 34 anos, Glaysson pensaem atuar até os 40. “Pretendo jo-gar bola até quando os times me

quiserem e as pernas aguenta-rem. Por enquanto, estou indobem, aguentando”, comenta ogoleiro, que se preocupa com aforma. “Por ter tendência a en-gordar, tenho de me cuidarbem. Não posso comer de tudo.Às vezes, a gente viaja e fica emhotel bom, com churrasco baca-na, e tenho de me segurar.”

VIDA DE EMPRESÁRIO Ao con-trário da maior parte dos joga-dores, Glaysson não pensa emseguir carreira no futebol de-pois de se aposentar, apesar desempre brincar com o diretorde futebol da Caldense, AlexJoaquim, que ainda vai “arru-mar uma mesinha no escritóriodo clube”. Ele se sente realizado

na profissão, pelas amizades ecausos do futebol. No Cruzei-ro, dividia o armário com otambém goleiro Dida e sem-pre que chegava tinha de tiraras cartas de fãs do titular paraacomodar suas roupas. Lem-bra e conta muitas histórias,sempre com sorriso largo.

Mesmo sendo um cigano dointerior, o atleta pretende viverem Belo Horizonte quando pa-rar, para tocar os negócios da fa-mília. “Graças ao futebol, conse-gui minha casa, meu carro,montei uma empresa de alu-guel de mesa para festa, uma lo-ja de calçados, da qual minhamulher toma conta. Quero abrirmais negócios, mexer mais comaluguel, terreno...” (R.D)

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RAMON LISBOA/EM/D.A PRESS

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GLAYSSONGLAYSSON LEANDRO RODRIGUES, 34 ANOS● Nascimento: 1/3/1979, em Belo Horizonte● Altura e peso: 1,84m e 92kg ● Posição: goleiro● Clubes: Cruzeiro, Ipatinga, Democrata-GV, GrêmioMauaense-SP, Olympic de Barbacena, Guarani, Democrata-SL, Mixto-MT, Uberlândia, Rio Branco, Villa Nova, Legião-DF,Uberaba, Volta Redonda, Nacional, Araguari e Caldense

‘EU PAREI E VOLTEI’

AMANHÃ: ANDRÉ LUÍS, ZAGUEIRO,CONFESSA QUE NÃO TEM PROJETO

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RUMO À PRIMEIRA MORTEREPORTAGEM ESPECIAL

arginha – Tricampeão brasileiro por Santos(2002 e 2004) e Fluminense (2010), AndréLuís chegou ao Boa no mês passado com oobjetivo de reconstruir a carreira e pôr a ca-beça no lugar. Aos 33 anos, o zagueiro esta-va desempregado havia seis meses, temposuficiente para repensar a profissão. “Fiqueiprocurando trabalho. Meu empresário ten-tou me empregar em vários times, mas es-tava difícil. Fiquei esse tempo todo sem jo-gar. Bate a preocupação, pois todo jogadorquer estar na ativa”, conta o jogador, emmais um capítulo da série de reportagenssobre jogadores perto da aposentadoria.

A carreira do defensor de 1,92m ficoumarcada mais pelas polêmicas do que pe-los títulos. Em 2008, defendendo o Botafo-go, teve decretada voz de prisão depois deser expulso contra o Náutico, nos Aflitos.

Ele havia sido expulso e, inconformado,chutou uma garrafa em direção à arquiban-cada, acertando uma torcedora. Perseguidopor policiais, foi detido por desacato. Em no-vembro do mesmo ano, tirou o cartão ama-relo da mão do árbitro Carlos Chandía ao serexpulso contra o Estudiantes, pela Copa Sul-Americana. “Hoje sou um cara mais tran-quilo. Aprendi muito com as duas passa-gens. Penso que não fiz nada de errado. Aúnica coisa é que chutei a garrafa na tela eela acertou a torcida. No Rio, fui apartar abriga com o Carlos Alberto e o juiz veio meexpulsando. Fiquei nervoso, mas exagerei.Entendo que exagerei. No futebol, se nãotem a cabeça no lugar, você só se prejudica.”

VOLTAR À ELITE O gaúcho nunca havia ou-vido falar de Varginha. Segundo ele, parece

um pouco Bagé, a cidade natal. Conhecepouco do Boa, apesar de ter jogado com oatual técnico, Sidney Moraes, no Fluminen-se, e com Marcelinho Paraíba no São Paulo.“Cidade tranquila, não tem zoeira, não temfesta. Bom para trabalhar. Gosto de sair.Sou solteiro, não vou esconder, saio bastan-te. Sou um cara que não bebe muito, bebopouco. Mas, quando estou em atividade,procuro me cuidar melhor”, garante.

Fora de campo, apesar de já ter passadodos 30, André Luís não se dedica a outra ati-vidade. “Até agora, não trabalhei com nada.Estou bem tranquilo, não tenho com o queme preocupar. A gente sabe que depois queo jogador para é difícil, mas nunca me preo-cupei. Por enquanto, não tenho nenhumprojeto. Vamos ver... Quem sabe, de repen-te, eu vire um treinador?”

‘VIVEU A VIDAINTENSAMENTE’

ANDRÉ LUÍSANDRÉ LUÍS GARCIA

33 ANOS

●● Nascimento: 31/7/1979, em Bagé-RS ●● Altura e peso: 1,92m e 88kg ●● Posição: zagueiro●● Clubes: Santos, Fluminense, Benfica, Olympique de Marselha (FRA), Cruzeiro, Botafogo,

Barueri, São Paulo, Fluminense, Portuguesa e Boa

RENAN DAMASCENO

Enviado especial

LORRANE MELO

Brasília – Ainda não tem da-ta exata. Mas é certo que será es-te ano. O local também não foiconfirmado. É comum saberpouca coisa sobre o fim. Ele queros pais por lá, assim como ostrês filhos – segurando-os nasmãos – e os amigos que o ajuda-ram durante os 23 anos de fute-bol. Vai que o acaso o proteja en-quanto andar distraído. Por isso,Dimba não planeja muito. Éque, ao decidir se aposentar hásete anos, quando defendia o

São Caetano, desistiu antes mes-mo de entrar em campo. Umafrase lhe martelou a cabeça: “Foio futebol quem me deu tudo”.Talvez por isso, aos 39 anos, elese emocione tanto ao falar sobreo fim da carreira.

Desta vez será para valer,mesmo jurando estar em diacom a forma física e balançandoas redes. O segundo maior arti-lheiro brasileiro em atividadetambém não buscará o milési-mo gol. Dimba só quer mais umtítulo. Desde que adiou a apo-sentadoria, está mais leve, mais

simples. Joga por prazer, comogosta de dizer. “Eu me divirto,sem a preocupação de vencersempre. Não tem mais um pesona hora de entrar em campo.”Afinal, “já deu tudo certo”. O queo preocupa são todas as coisasde que abdicou pelo esporte.Victor Hugo (de 16 anos), Diam(7) e Enzo (3) encabeçam a lista.Dimba não pôde ser como ou-tros paizões. Não tem fim de se-mana nem sempre está em casaà noite para ajudar nas lições.Mas já ensinou muito aos garo-tos, principalmente em matériade matemática financeira.

Tudo que o futebol lhe deufoi revertido em mais lucro –para não precisar comer a gra-ma do Maracanã de novo, como

fez em 1997 ao comemorar ogol do título carioca do Botafo-go em cima do Vasco. Guar-dou, aplicou, investiu na cons-trução civil, em uma produto-ra, e se abriu ao mercado que-rendo realizar sonhos – já queo dele virou realidade. “Procu-ro novas ideias. Se você chegarem mim e disser que quer fa-zer um negócio, vou estudar etentar ajudá-lo”, explica, dandoum prazo curto para resolveras pendências nessa área. Éque, depois de parar, Dimbatem outro plano. “Realizado”,agora quer ser normal. “Viveua vida intensamente” será seuepitáfio, como na música dosTitãs: a cada um cabem ale-grias. E a tristeza que vier.

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FOTOS: ALEXANDRE GUZANSHE/EM/D.A PRESS

DIMBAEDITÁCIO VIEIRA DE ANDRADE, 39 ANOS● Nascimento: 30/12/1973, em Sobradinho-DF● Altura e peso: 1,74m e 75kg ● Posição: atacante● Clubes: Sobradinho, Brasília, Gama, Botafogo, América,Portuguesa, Bahia, Leça (POR), Goiás, Al Ittihad (ARA),Flamengo, São Caetano, Brasiliense, Legião-DF e Ceilândia-DF

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‘NÃO TENHO PROJETO’

AMANHÃ: ALOÍSIO CHULAPA, ATACANTE,SÓ NÃO QUER DECEPCIONAR A MÃE

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SUPERESPORTES

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RUMO À PRIMEIRA MORTEREPORTAGEM ESPECIAL

rasília – O amor, "daquele jeito, aquele sen-timento", Aloísio Chulapa diz não ter encon-trado nem nos braços da ex-mulher, a cario-ca com quem foi casado por 17 anos. O cora-ção do atacante, que está noivo há quatro deuma alagoana que ele conhece desde crian-ça, sempre esteve dominado. “O futebol foiminha grande paixão”, conta o personagemdo sexto capítulo da série “Rumo à primeiramorte”, sobre jogadores prestes a se aposen-tar. como se tudo já tivesse chegado ao fim.Como toda relação, vieram a rotina e o can-saço. As pernas já não acompanham os joga-dores mais novos. O corpo dói muito depoisdo jogo. E nos treinos ele precisa ser poupa-do. São nada menos do que 38 anos.

Quando fizer 39, em janeiro do ano quevem, Aloísio quer pendurar as chuteiras. E

não tem medo do fim. Depois de dar à mãe,dona Maria, casa, comida, e tudo o que temde bom, ele precisa atender o último pedidoda única mulher que faz seus olhos mareja-rem. Todo dia, ao telefone, ela pede ao filho– seu eterno menino – que volte aos seusbraços e sossegue. O jogador já perdeu o pai,que, mesmo com o prato de comida conta-do – “Era só aquele e não tinha mais” –, nãoviu nada faltar à família e ainda lhe deixouuma casinha de herança. Mais um motivopara não decepcionar dona Maria.

Uma casa na praia, com o “danone” – cer-veja, para os íntimos – gelado, e um clubeque comprou em Atalaia (cidade alagoana, a30 minutos de Maceió, onde nasceu), alémde um flat e dois carros importados, estãolhe esperando, e ele diz estar preparado. Não

para deixar o futebol completamente de la-do. Mas para aproveitar ainda mais a vida.

Além de cuidar dos três filhos (o sorri-so se fecha quando ele pensa que a maisvelha, Ana Luísa, pode estar namorando),o atacante quer, só durante a semana, re-velar na Associação Aloísio Chulapa umnovo "trombador" que leve o nome de Ata-laia para o resto do mundo, como ele fez.Os sábados e domingos serão dedicadosao churrasco e à pelada com amigos. Equem sabe entrar para a política, espe-lhando-se no amigo Romário, a quemtambém homenageou dando o mesmonome ao filho do meio, de 10 anos? Aloí-sio ainda quer ter mais um menino parabatizá-lo de Rogério Ceni. E ser lembradopara também receber homenagens.

‘JÁ TENHO CARTEIRADE TREINADOR’

ALOÍSIO CHULAPAALOÍSIO JOSÉ DA SILVA

38 ANOS

●● Nascimento: 27/1/1975, em Atalaia-AL ●● Altura e peso: 1,88m e 93kg ●● Posição: atacante●● Clubes: CRB, Flamengo, Guarani, Goiás, Saint-Etienne (FRA), Paris Saint-Germain (FRA), Rubin Kazan (RUS),

Atlético-PR, São Paulo, Al-Rayyn (CAT), Vasco, Ceará, Brasiliense, Brusque-SC, Francana-SP e Gama-DF

LORRANE MELO

PEDRO VENÂNCIO

Rio – Prestes a completar 41anos, Ramon conserva a mesmaforma dos tempos em que era ti-tular de um Vasco que conquis-tou quase tudo no fim da décadade 1990. Os objetivos, no entanto,são diferentes. Na Cabofriense,que disputa a Segunda Divisão ca-rioca, ele se diz motivado com apossibilidade de ser campeão pe-la 16ª vez na carreira.

“Não parei porque sinto mui-to prazer em jogar futebol, da ro-tina do esporte. Meu corpo ainda

responde bem aos exercícios nostreinamentos, e acho que tenhocondições de ajudar muito a Ca-bofriense”, afirma o armador, quechegou ao clube no início do ano.“Fui convidado pelo presidentepara o projeto de uma tempora-da inteira. E estou muito feliz empoder jogar no Rio novamente.Cabo Frio é um lugar muito bomde se morar”, analisa o jogadormineiro, revelado pelo Cruzeiro,com boa passagem pelo Atlético,famoso pelas cobranças de falta epor se manter em grandes cam-peonatos por muito tempo.

“Entre 1992 e 2010 só joguei naSérie A dos países em que estive.A última foi no Vitória. Só em2011, aos 39 anos, me mudei parao Joinville, para disputar a Série C,e ganhamos. Acho que tive umacarreira vitoriosa, bem construí-da”, diz. O momento mais mar-cante, para ele, foi a conquista daCopa Libertadores de 1998 peloVasco, quando o time contavatambém com um veterano emcampo. “O Mauro Galvão foi im-portantíssimo para nos passar se-gurança naquele período. É im-portante haver jogadores expe-rientes em um grupo.”

Sobre a aposentadoria, o atletagarante encarar o assunto comtranquilidade. “Sei que em algummomentovaiacontecerequeessa

hora está chegando. Se tiver de pa-rar amanhã, faço isso sem proble-mas,poisjávivimuitascoisasboasdentro do futebol e sou muito gra-to por isso”, afirma Ramon, que, àexceção de uma fratura na fíbulaem 2005, quando defendia o Bota-fogo, não teve muitas lesões sériasna carreira. “Sempre me cuidei eagora estou colhendo os frutos.”

Ele já tem ideia bastante clarado que fazer quando deixar osgramados. “Já tenho minha car-teira de treinador, mas na vidaprecisamos nos preparar para tu-do o que formos fazer. Então, pa-ra iniciar essa atividade, precisome qualificar mais, buscar maisinformações e estudar mais. Meuobjetivo é continuar ligado ao es-porte”, conclui.

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FOTOS: ZULEIKA DE SOUZA/CB/D.A PRESS

RAMON MENEZESRAMON MENEZEZ HUBNER, 40 ANOS● Nascimento: 30/6/1972, em Contagem● Altura e peso: 1,70m e 70kg ● Posição: armador● Clubes: Cruzeiro, Bahia, Vitória, Bayer Leverkusen (ALE),Vasco, Atlético, Fluminense, Botafogo, Al-Gharafa (CAT),Atlético-PR, Joinville-SC, Caxias-RS e Cabofriense-RJ

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‘O CORPO DÓI MUITO’

AMANHÃ: CUCA E MARCELO OLIVEIRA CONTAM SUASEXPERIÊNCIAS. E CAMPEÕES QUE SE PREPARARAM PARA O FIM

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DEPOIS DA PRIMEIRA MORTEREPORTAGEM ESPECIAL

uca e Marcelo Oliveira – técnicos de Atléti-co e Cruzeiro, respectivamente – trilharamcom sucesso o caminho com que muitosjogadores sonham: pendurar a chuteira etreinar grandes equipes do futebol brasilei-ro. O hoje alvinegro se aposentou em 1996,quando defendia a Chapecoense-SC, e assu-miu um time pela primeira vez dois anosdepois: o Uberlândia. Já o celeste encerrou acarreira em 1985, no América, e começouna prancheta na década passada, nas cate-gorias de base do Galo.

Os dois guardam boas recordações dostempos de jogador, mas não escondemque sofreram na aposentadoria. Além dador de deixar o ofício a que se dedicou pormais de uma década, Cuca viveu um dra-ma pessoal. "Já não tinha condição física,

que era meu forte, por isso parei de jogarno fim de 1996. Aí, pensei: ‘Vou viver umpouco com meu melhor amigo’, que émeu pai, então com 61 anos. Ele era forte,jogava futebol com a gente, no gol. E mor-reu em 22 de fevereiro de 1997", comentao treinador, que no ano anterior havia con-quistado o Campeonato Catarinense, pri-meiro título da história da Chapecoense.

Cuca recorda o período como um dosmais difíceis da carreira. "A gente entra emparafuso, tentando entender por que a vi-da é assim: você vive longe do pai e, quan-do consegue ficar junto, ele morre. E daque-le dia em diante passei a cuidar da família."

SONHOS Marcelo deixou o futebol, mas abola nunca o abandonou nos anos em que

não viveu à beira do gramado. "Sou tãoapaixonado pelo futebol que sonhei duran-te muito tempo com futebol. Sonhava queestava no vestiário, com técnico dando pre-leção, com uma jogada, batendo pênalti...Agora, já passou. Sonho é com o próximojogo e com o time que vou colocar em cam-po e acordo e perco o sono", brinca.

O ex-atacante encerrou a carreira cedo,aos 30 anos, por opção própria. Tinha con-vites para defender o Santa Cruz, jogarnos Estados Unidos ou em um time da Se-gunda Divisão da Itália. "Era recém-casa-do e estava desgastado com viagens econcentrações. Então, parei bem cons-ciente, mas depois de um tempo penseique poderia ter jogado um pouco mais."(com Cláudio Arreguy)

BOAS LEMBRANÇAS, APESAR DE TUDO

‘FALTA CONSCIÊNCIADE CLASSE’

CUCAALEX STIVAL, 49 ANOS

Foi armador e jogou até os 33 anos. Hoje é técnico do Atlético

MARCELO OLIVEIRAMARCELO DE OLIVEIRA SANTOS, 58 ANOS

Foi armador e jogou até os 30 anos. Hoje é técnico do Cruzeiro

RENAN DAMASCENO

BRUNO FREITAS

No momento em que a apo-sentadoria não pode ser maisdriblada, um lance oportuno.Ex-jogadores desempregados esem os 15 anos de contribuiçãoexigidos pelo Instituto Nacio-nal de Seguro Social (INSS) têma chance de viver um recome-ço por meio de um programade assistência social capitanea-do por quem já esteve dentrodas quatro linhas: Wilson daSilva Piazza, capitão do Cruzei-ro nas décadas de 1960 e 1970 e

tricampeão mundial pelo Brasilem 1970. O baixo número desolicitações do Cidadania e Pre-vidência (média de 40 por ano)e o desconhecimento dos atle-tas, contudo, têm frustrado osplanos de quem está à frente doprograma. Sem recursos, a Fe-deração das Associações deAtletas Profissionais (Faap), en-tidade civil sem fins lucrativospresidida pelo ex-craque, correo risco de fechar as portas.

“Às vezes, o atleta chega aos 55anos exigidos pelo programa, masnãotemonúmerodosdocumentos

de contribuição. Infelizmente, osatletas são mal informados, desli-gados e sem esclarecimento. Espe-rava um número maior de solici-tações, mas falta consciência declasse”, reclama Piazza.

Na avaliação dele, embora ofutebol seja esporte coletivo, osex-jogadores são muito indivi-dualistas. Ele sustenta que a po-lítica atual tem prejudicado o au-mento do número de contribui-ções. Apenas ex-jogadores po-dem ser atendidos pelo progra-ma, porque a legislação especifi-ca como profissionais somenteatletas com contrato registradopela entidade nacional de admi-nistração, no caso a CBF. “É preci-so criar um sistema eficiente pa-ra a qualificação alternativa do

atleta. Já formamos vários comopreparadores físicos, fisiotera-peutas e até mesmo advogados,mas o atleta só pensa no presen-te. A maioria não pensa no futu-ro, achando que terá vida finan-ceira tranquila, e não vai”, alerta.

Desde que foi criado em 2010,o programa beneficiou cerca de60 ex-profissionais, nenhum deMinas. A principal meta da enti-dade agora é recuperar os recur-sos perdidos com a promulga-ção da Lei 12.395/11, que alteroua Lei Pelé reduzindo direitos dearena dos atletas de 20% para5%. “Ninguém questionou isso.Todos foram coniventes. Tam-pouco houve manifestações deatletas de nível para contestaresse abuso”, lamenta.

C aposentadoria não foi um tabu para Euller Elias de Car-valho. Depois de dois anos tentando “prolongar ao máxi-mo” a carreira, o Filho do Vento decidiu no fim de 2011que era hora de se retirar dos gramados. Apoiado pelafamília, o atacante deixou o América – que o revelou eonde ganhou o epíteto do locutor da Rádio Itatiaia MiltonNaves – com nova vida em mente: ser treinador. Aprimeira aula veio de ninguém menos do que Luiz FelipeScolari, em estágio de quatro meses no ano passado, noPalmeiras. “Sonho em me tornar técnico. Faço curso depsicologia do esporte e ainda quero fazer mais dois está-gios, de preferência com Vanderlei Luxemburgo e PauloAutuori, dois caras que admiro. O curso com Felipão foiexcelente. Apesar de já conhecê-lo do Palmeiras e daSeleção, pude ver a evolução e o desenvolvimento do tra-balho de perto.” Algo do trabalho atual da classe no Brasil,porém, o incomoda. “Andam perdendo muito a identi-dade dos clubes, o estilo de jogo... Tudo que foi feito vemsendo deixado de lado.”

O ex-atacante divide a rotina entre o apartamento emque mora, na Zona Sul de BH, duas escolinhas de futebol eprojetos sociais para jovens carentes. Como o InstitutoOnde a arte se une ao esporte (Auê), que tem a filha Eduar-da,de11anos,comopromessa,notreinamentodeginásti-ca rítmica a cerca de 50 meninas de escolas públicas. “Ela emeus dois outros filhos (Gabriel, de 12, e Alice, de 2) sãomeusgrandesorgulhos.”Quandopode,Eullervaiaosjogosdo Coelho ou do Atlético, sempre anotando estratégias nocaderninho que leva a tiracolo. Do América e da Seleçãovêm suas grandes lembranças e lições – como a frustraçãopor não ter sido chamado por Felipão para a Copa de 2002.“Esperei ser convocado até o último momento.”

A primeira passagem pelo futebol japonês pôs suapermanência no futebol em xeque. Em 1998, no VerdyKawasaki, uma grave contusão (rompimento do liga-mento cruzado do joelho esquerdo) o levou a pensarque iria parar de jogar. O momento mais marcante dacarreira para ele, contudo, estaria por vir. “Foi um tempotão bom que as portas se abriram e pude realizar outrosonho: estar ao lado do ídolo Zico, então diretor de fute-bol do Kashima Antlers. Nunca imaginei poder ser con-tratado por ele.” Do Japão também vieram o receio dosterremotos constantes e o gosto pela culinária oriental.“Por coincidência, meu irmão acabou montando umrestaurante japonês no Caiçara.” Agora, o Filho do Vento,de olho no futuro, quer acompanhar os jogos da Copadas Confederações e da Copa do Mundo, antes de setornar técnico em 2015. (BF)

‘SONHO EM METORNAR TÉCNICO’

EULLEREULLER ELIAS DE CARVALHO, 42 ANOS

●● Nascimento: 15/03/1971, em Curvelo (MG) ●● Altura e peso: 1,71cm e 72kg●● Posição: Atacante ●● Clubes: América, São Paulo, Atlético, Palmeiras, Verdy

Kawasaki (JAP), Vasco, Kashima Antlers (JAP) e São Caetano

Aepudessevoltarnotempo,GiovaneÉlberdeSouzanãohe-sitaria em reviver a trajetória nos gramados. Revelado pelaSeleção Brasileira de Juniores, vice-campeã mundial de1991, quando defendia o Londrina e despertou o interessedo Milan, o ex-atacante lamenta ter sido forçado a deixar ofutebol aos 34 anos, então no Cruzeiro, devido a uma lesãono tornozelo direito. Hoje com 40, não dispensa uma bola,embora o tempo seja escasso: além de dirigir uma empre-sa de nutrição animal e uma fazenda próximas a Cuiabá, ésecretário de Esportes de Londrina desde janeiro.

“De vez em quando, a gente bate uma bolinha. Depoisda cirurgia que fiz no joelho, por causa da lesão, conti-nuei jogando em ritmo forte durante cerca de um ano,mas a dor voltou e não aguentei. Não conseguia nembrincar com meu filho ao chegar em casa”, recorda Élber.Apesar do vínculo com a terra natal, a maioria das lem-branças vem da Alemanha, onde viveu 10 anos e teve seumelhor momento, defendendo Stuttgart e Bayern e fa-zendo 108 gols em 190 jogos. É sempre convidado paraamistosos da equipe sênior do Bayern.

Antes de se aposentar, o ex-atacante já pensava em in-vestirforadasquatrolinhas.Daísurgiuointeresseemem-preendimentos rurais. Antes de assumir a pasta na prefei-turadeLondrina,sempretensõespolíticas,ÉlberchegouaassinarcontratoscomumaemissoradeTValemãparaco-mentaraCopadasConfederaçõeseaCopadoMundo(co-mo fez nos Mundiais de 2006 e 2010) e como consultor doBayern para a América do Sul.

“Hoje minha agenda é muito mais concorrida do quena época de jogador. Assumi a responsabilidade pessoaldeapostarnamudançadoesporteemLondrina,mascon-tinuo com um pé na Alemanha. É um país muito bom dese viver, tranquilo e com muita segurança. Quando digoquevamosviajarparalá,meusfilhosvibram”,diz, referin-do-se a Camila, de 16 anos, e Victor, de 14.

O início na Europa, contudo, foi difícil. “Fiquei poucotempo no Milan, porque havia poucos estrangeiros e eusó tinha 18 anos. Era um time a ser batido, o Barcelona dehoje. No Stuttgart, fiquei sozinho num mundo frio. En-frentei muitas situações difíceis ao lado do meu irmão,mas foi um grande aprendizado.”

A passagem pelo Cruzeiro, com o qual conquistou oMineiro de 2006, é relembrada como “espetacular”. “Senão tivesse construído minha casa em Londrina, estariamorando em BH até hoje. O respeito pelos torcedores eragrande,mesmoosdoAtlético,eerabemgostosoviveremMinas. Só o tornozelo não ajudou. Não fosse isso, jogariamais quatro ou cinco anos.” (BF)

‘A DOR VOLTOU ENÃO AGUENTEI’

ÉLBERGIOVANE ÉLBER DE SOUZA, 40 ANOS

●● Nascimento: 23/7/1972, em Londrina-PR ●● Altura e peso: 1,82m e 90kg●● Posição: Atacante ●● Clubes: Londrina, Milan, Grasshoppers (SUI), Stuttgart

(ALE), Bayern (ALE), Lyon (FRA), Borussia Mönchengladbach (ALE) e Cruzeiro

Samisa 10 do Atlético no Campeonato Brasileiro de 1987 –dono da melhor campanha, o time caiu nas semifinaisdiante do Flamengo de Zico, Bebeto e Renato Gaúcho –,Marco Antônio da Silva já previa a aposentadoria quandodefendia o japonês Cerezo Osaka, de 1994 a 1996. A brigacom a balança e a escassez de tempo livre da vida de joga-dor acabaram por convencer o armador a deixar a carrei-ra no América, dois anos depois, aos 34, para se dedicar aoramo imobiliário. Motivado a aproveitar a vida, Marqui-nhos atualmente desfruta o sustento dos imóveis e gal-pões que construiu em Belo Horizonte, terra natal da qualnão abriu mão ao se despedir das quatro linhas.

“Foiumatransiçãobemtranquilaparardejogar.Nami-nha cabeça, quando estava no Japão, já sabia que não fica-riamuitotemponofutebol.Passeiboapartedaminhacar-reira sem os fins de semana livres, não podia comer o quequeria. Além disso, a vida de atleta era cansativa”, conta.

A dificuldade em se readaptar ao ritmo de jogo brasi-leiro no América, onde ficou apenas quatro meses, tam-bém contribuiu para a aposentadoria. Marquinhos atépensou em seguir carreira em times do interior, masconcluiu que não valeria a pena.

Analisando o passado, o elenco alvinegro de 1987, co-mandado por Telê Santana, foi o que mais o marcou. Parao ex-armador, que foi convocado por Falcão para a Sele-ção Brasileira quando defendia o Internacional, se o Brasi-leiro da época fosse em pontos corridos como hoje, o Ga-lo teria maiores chances de ser campeão. “Tínhamos umaequipe marcante, com Luizinho, Renato e João Leite. Noprimeiro ano no profissional, trabalhei com um dos me-lhores técnicos do Brasil, Telê, que dispensa comentários,pela qualidade e seriedade. Sinto saudade da torcida doAtlético, um público apaixonante, que incentiva bastan-te. No Rio Grande do Sul, tive recepção parecida.”

A exemplo de Euller, Marquinhos tirou do futebol ja-ponês um grande aprendizado. Emprestado pelo Intercom a missão de ajudar o Cerezo Osaka a subir para a Pri-meira Divisão, acabou tendo o passe comprado depoisdo final feliz. Os filhos, Jéssica (de 21 anos) e Allan (19), en-tão pequenos, e a cultura diferente não foram obstácu-los. “Não havia a facilidade de hoje em se comunicar, masnos adaptamos muito bem. A passagem pelo Osaka foimuito importante para minha carreira, principalmentedo ponto de vista financeiro.”

Apesar de continuar acompanhando o futebol, ele op-tou por deixar de frequentar estádios. “Não tem a míni-ma condição, por causa do tumulto. Ver a partida de pénão dá.” (BF)

‘A VIDA DE ATLETAERA CANSATIVA’

MARQUINHOSMARCO ANTÔNIO DA SILVA, 36 ANOS

●● Nascimento: 9/5/1966, em Belo Horizonte ●● Altura e peso: 1,71m e 73kg●● Posição:armador ●● Clubes: Atlético, Internacional, Cerezo Osaka (JAP) e

América

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ALEXANDRE GUZANSHE/EM/D.A PRESS RODRIGO CLEMENTE/EM/D.A PRESS TULIO SANTOS/EM/D.A PRESSRAMON LISBOA/EM/D.A PRESS DANIEL GOSTA/GAZETA DO POVO

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O ex-atleta pode solicitar o benefício nas sedes das Associações deGarantia ao Atleta Profissional (Agaps). Nas cidades onde não houveruma, a solicitação pode ser feita diretamente pelo site da Faap(www.faapatletas.com.br), enviando a documentação via Correios.Para ser atendido pelo Cidadania e Previdência, o candidato necessitater no mínimo 55 anos, três dos quais como atleta profissional.

DOCUMENTOS EXIGIDOS

● Cópia autenticada da carteirade identidade e CPF ou CarteiraNacional de Habilitação (CNH)● Cópia autenticada de contratosde trabalho devidamente registradosna CBF ou federação estadual,comprovando tempo mínimo de trêsanos de atividade profissional● Simulado de contagem detempo de serviço/contribuição,fornecido pelo Instituto Nacionaldo Seguro Social (INSS) para fins

de aposentadoria● Cópia dos Números deIdentificação do Trabalhador(NIT), Programa de IntegraçãoSocial (PIS) e Programa deFormação do Patrimônio doServidor Público (Pasep), quepodem ser adquiridos nasagências do INSS● Cópia do formulário derequerimento disponível no site daFaap (www.faapatletas.com.br)

Mais informações: AGAP-MG: Rua Uberaba, 370, 11ºandar, Barro Preto,Belo Horizonte ● Tel.:(031) 3295-3677/3295-3599 ● E-mail: [email protected]. ● FAAP: SBS Quadra 02, Lote 15, Edifício Prime, Salas801/805, Brasília/DF ● Telefax (61) 3349-7475 ● E-mail: [email protected]

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