o impacto das redes empresariais no desempenho...
TRANSCRIPT
O IMPACTO DAS REDES
EMPRESARIAIS NO DESEMPENHO DE
MICRO E PEQUENAS EMPRESAS NA
CADEIA SUPRIMENTOS
Herlane Suele Alves Martins (FMGR )
Este artigo analisou o impacto das redes empresariais de micro e
pequenas empresas na melhoria do seu desempenho na cadeia de
suprimentos, em especial nas atividades de compras. Para atingir o
objetivo proposto foram revisadas as teorias coonsolidadas,
relacionadas a temática, através de uma pesquisa bibliográfica e
realizado um estudo de caso de uma rede de supermercados. Os
resultados apresentados mostraram que empresas pesquisadas tiveram
melhorias das suas atividades depois da rede, com redução de custos
na atividades de compras, maior poder de negociação e melhoria dos
serviços dos fornecedores, o que sugere que a cooperação entre
empresa é mais vantajosa do que se trabalhar isoladamente e que traz
melhor desempenho das empresas de porte menor na cadeia de
suprimentos.
Palavras-chaves: Redes empresarias; Cadeia de Suprimentos;
Desempenho
XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos
Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.
XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos
Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.
2
1. Introdução
O cenário empresarial mudou muito nas últimas décadas, a competição é cada vez mais
globalizada e em partes o que contribuiu para isso foi uma significativa melhoria da logística,
fazendo com as empresas consigam chegar em mercados locais com preços competitivos.
Além disto, as aquisições de empresas locais por grandes redes nacionais ou multinacionais
são cada vez mais comuns. Esses fatores multiplicam o número e o nível de concorrentes,
gerando dificuldade para empresas de portes menores, com poucos recursos sobreviverem no
mercado.
A historia das micro e pequenas empresas (MPE) tem sido marcada pela busca de soluções
criativas frente à supremacia de recursos, conhecimentos e poder de barganha das grandes
empresas, buscando formas de equilíbrio competitivo. As micro e pequenas empresas
contrabalançando a eficiências das escalas de produção e alavancagem operacional das
grandes empresas, se valem daquelas que podem ser chamadas suas vantagens mais modestas:
capacidade de reagir mais rapidamente, relações pessoais e engenhosidades superiores.
No entanto, embora a MPE tenha seus diferenciais relacionados a uma estrutura mais simples
e flexível ela acaba perdendo mercado para concorrentes que possuem maior poder de
negociação e economia de escala. Um dos modelos que surgiram na busca de aumentar a
competitividade de empresas de portes menores tem sido a cooperação entre si, através das
redes empresariais, compartilhando atividades estratégicas, como logística, marketing,
Treinamento, pesquisa, desenvolvimento de produtos, dentre outras.
Castells (2000) define rede como sendo um conjunto de nós interconectados, sendo o nó o
ponto no qual uma curva se entrecorta. No tecido empresarial, a conexão entre os nós,
realizada pelos fios, pode ser entendida como as relações entre os agentes envolvidos. No
entendimento de Balestrin e Werschoore (2008, p. 79), “... redes de cooperação constituem
grupos de empresas coesas e amplamente inter-relacionadas, orientadas a gerar e oferecer
soluções competitivas de maneira coletiva e ordenada”.
Nas redes empresariais os participantes são independentes, existe uma multiplicidade de
lideranças que se unem na busca de um objetivo comum. Ao mesmo tempo que cooperam as
empresas em rede competem entre si, essa união se justifica pelas vantagens obtidas. De
XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos
Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.
3
acordo com Lipnack e Stamps (1994, p. 40) "os benefícios mútuos tornam tangíveis os
propósitos unificadores."
As vantagens das redes empresariais empresariais são muitas, de acordo com Martins (2012),
podem resolver deficiências de marketing, aumentar a qualidade dos serviços, diminuir
custos, melhorar a capacitação gerencial e dos funcionários, além de maior poder de compras
junto aos fornecedores.
As redes podem ajudar as empresas menores a aumentar o poder de barganha e negociação,
criando uma relação de cooperação entre agentes da cadeia de suprimentos, que pode ser
entendida como o conjunto de processos requeridos para obter materiais, agregar-lhes valor e
disponibilizar aos clientes e consumidores (BERTAGLIA, 2009). Diante da importância se
obter bons relacionamento e parcerias na cadeia de suprimentos, este estudo busca resolver o
seguinte problema: as redes empresariais podem melhorar o desempenho micro e pequenas
empresas na cadeia de suprimentos?
O objetivo deste trabalho é analisar o impacto das redes empresariais de micro e pequenas
empresas na melhoria do desempenho das atividades de compras na cadeia de suprimentos.
Para atingir o objetivo proposto artigo busca revisar as teorias consolidadas, relacionadas a
temática, e analisar o estudo de caso de uma rede de supermercados.
2. Metodologia
Esta pesquisa é caracterizada como descritiva, que de acordo Cervo, Bervian e da Silva (2007,
p. 62) "trata do estudo e da descrição das características, propriedades ou relações existentes
na comunidade, grupo ou realidade pesquisada." A pesquisa descritiva trata de dados ou fatos
colhidos da própria realidade. Ainda de acordo com os autores e com Leite (2008), a pesquisa
descritiva pode assumir diversas formas, uma delas é o estudo de caso.
O estudo de caso Para Gil (1999, p. 73) “é caracterizado pelo estudo profundo e exaustivo de
um ou poucos objetos, de maneira a permitir conhecimentos amplos e detalhados dos
mesmos.” Para Leite (2008) este tipo de pesquisa pode ser auxiliar de outro tipo de pesquisa
ou tornar-se a pesquisa principal, como é o caso, por exemplo, do estudo descritivo de uma
pessoa, instituição ou organização empresarial. Assim esta pesquisa caracteriza-se
principalmente como um estudo de caso, por analisar o caso de uma rede de empresas.
XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos
Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.
4
A pesquisa é caracterizada ainda como bibliográfica, por ser estudo sistematizado
desenvolvido com base em material publicado, tais como livros, dissertações, artigos e redes
eletrônicas (VERGARA, 2007).
Os dados foram obtidos através de questionário realizado com os gestores das empresas
participantes da rede e de uma entrevista com o gestor executivo da rede. O questionário é um
instrumento de coleta de dado constituido de uma série ordendas de perguntas, que devem ser
respondidas por escrito sem a presença do pesquisador (MARCONI E LAKATOS, 2007).
Também foi realizada uma entrevista com o gestor executivo da rede para obtenção de dados
gerais sobre a rede. Para Marconi e Lakatos (2007), a entrevista é uma serie de perguntas
ordenadas feitas com a presença do pesquisador.
3. Revisão bibliográfica
3.1 Contexto das micro, pequenas e médias empresas
As MPE’s apresentam uma estrutura adaptável e flexível, que são características essenciais
para a inovação em um ambiente de mudanças constantes. Cada dia mais cresce o número de
empresas destes portes, gerando emprego e renda. Apesar do potencial, estas empresas
enfrentam vários problemas no mercado competitivo, tais como baixa capacidade
competitiva, baixa produtividade, deficiências de marketing, baixa qualidade, tendência de
imitação entre os competidores, dificuldade de negociação, falta de controle financeiro e de
custos, entre outros problemas como à deficiência tecnológica e de capacitação (GOEDERT,
A. R., 1999).
Buscando alternativas que elevem as vantagens competitivas, pode-se perceber um
impressionante crescimento de parcerias estratégicas entre empresas, principalmente as de
micro, pequeno e médio porte, que individualmente tem dificuldade de enfrentar as barreiras
competitivas que o mercado impõe. As empresas se vêem compelidas a repensar internamente
seus processos de produção, organização e gestão do trabalho, em uma perspectiva externa a
vislumbrar novas alternativas de parcerias, uniões, alianças e coligações.
3.2 Cadeia de suprimentos
A logística por muito tempo foi vista como uma atividade de apoio dentro das empresas,
porém a logística moderna é vista como uma atividade que pode trazer vantagens
competitivas para empresa. Segundo Ballou (2010), a logística tem como meta providenciar
XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos
Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.
5
bens ou serviços corretos, no lugar certo, no tempo certo e na condição desejada ao menor
custo possível. Essa visão envolve gerenciar todos os processos envolvidos com o fluxo de
bens e serviços, desde o fornecedor da matéria prima ao cliente final.
Para que uma empresa possa ter uma logística eficiente torna-se cada vez mais necessário se
relacionar melhor com os outros agentes da cadeia produtiva. Assim, é necessário pensar não
apenas no gerenciamento da empresa individualmente mas no gerenciamento da cadeia de
suprimentos (Suplply Chain Management), que segundo Meindl e Chopra (2011) consiste em
todas as partes envolvidas, direta ou indiretamente, na realização de um pedido de um cliente
(fabricante, fornecedores, transportadoras, armazéns, varejistas e os próprios clientes).
O gerenciamento da cadeia de suprimentos envolve uma mudança significativa nos
tradicionais relacionamentos distantes, mesmo antagônicos, que sempre caracterizaram as
relações entre comprador e fornecedor. A cooperação e a confiança entre as partes são
necessárias na cadeia de suprimentos, fazendo com que todos ganhem mais cooperando do
que agindo somente em busca do seu interesse individual (CHRISTOPHER, 2007).
A grande tendência é que os elementos da cadeia de suprimentos se integrem cada vez mais
na busca de redução de custos e agregação de valor. As redes de empresas tem apresentado
vantagens na cadeia de suprimentos, pois quando as atividades relacionadas a suprimento e
distribuição são compartilhadas entre as empresas que compõe a rede isso aumenta sua
capacidade de negociação. Em se tratando de redes de micro e pequenas empresas, que
possuem isoladamente baixo poder de barganha com fornecedores e limitações de recursos, a
integração com outros integrantes da cadeia de suprimentos pode ser muito vantajosa.
3.3 Redes empresariais
Redes vêm sendo entendidas como estruturas dinâmicas e indeterminadas, uma configuração
flexível e orientada por estratégias de auto-regulação (NEGRAES, 2002). De acordo com
Cândido (2000), as redes são formadas pôr uma estrutura celular não rigorosa e compostas de
atividades de valor agregado que, constantemente, introduzem novos materiais e elementos.
As redes constituem uma ferramenta poderosa para o aumento das capacidades de
transposição de fronteiras e melhoria de eficácia das partes envolvidas.
Ainda segundo Cândido (2000) as redes envolvem um amplo processo de atividades
conjuntas, podendo ter um grande conjunto de variações e aplicações no contexto
XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos
Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.
6
organizacional desde as Redes flexíveis de Pequenas e Médias Empresas, Redes top-dow (ou
de subcontratação), redes de relacionamento, redes de informação, redes de comunicação,
redes de pesquisa, redes de inovação, etc. envolvendo empresas de diversos tamanhos e, que
atuem em diversos segmentos econômicos.
Para Casarotto Filho e Pires (2001), existem duas estruturas de redes de empresas que podem
ser aplicáveis as PME’s, que são: As redes topdown, que acontece quando empresas de menor
porte fornecem direta e indiretamente sua produção a uma empresa-mãe, através de
terceirização, subcontratação e parcerias. E as redes flexíveis de PME’s que são aquelas em
que as PME’s reúnem-se através da formação de um consórcio em objetivos comuns, em que
cada empresa é responsável por uma parte do processo de produção. Neste caso o conjunto
das atividades faz com que elas atuem como grandes empresas.
Para Lipnack e Stamps (1994) empresas que participam de redes empresariais flexíveis fazem
negócio em conjunto. Porém em vez de fundirem-se, tais empresas permanecem
independentes, com suas próprias finanças, funcionários e áreas de especialização. E ao
mesmo tempo tais empresas atuam como se fosse uma só, somando recursos e fazendo
intercambio técnicos e complementares.
As classificações de redes empresariais na literatura são extensas, e em glumas nomenclaturas
de diferentes autores encontramos semelhanças nas características, como por exemplo, na
classificação de estrutura modular de Wood Jr. e Zuffo (1998), que se assemelha a de
Casarotto Filho e Pires (2001) de redes topdown, ou mesmo a estrutura livre com as redes
flexíveis. Escolheu-se neste trabalho estudar mais as características das redes empresariais
flexíveis tratadas por Casarotto Filho e Pires (2001), por serem mais aplicáveis ao contexto de
empresas de porte menor.
Os movimentos em prol de redes empresarias flexíveis foi iniciado na região italiana de
Emília-Romagna durante os anos 70, nesta época a região se encontrava na 18ª colocação de
renda entre 21 regiões administrativas da Itália. Uma década depois impulsionada pelo
crescimento explosivo de suas pequenas empresas utilizando esse modelo de redes, tornou-se
a segunda região mais rica do país (LIPNACK e STAMPS, 1994).
As redes tem mostrado tantas vantagens que no Estado do Rio Grande do Sul, local onde as
redes se difundiram bastante, o processo de Redes de Cooperação tomou tal importância que
há mais de treze anos o governo estimula as empresas gaúchas a se organizarem e competirem
XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos
Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.
7
em rede por meio de uma política pública criada especialmente para o fomento e apoio ao
desenvolvimento empresarial, em parceria com Instituições de Ensino Superior
(WOITCHUNAS, 2009) .
3.3.1 Principais vantagens competitivas obtidas através das redes empresariais
A vantagem competitiva de uma empresa é o valor que se cria para o consumidor e que
ultrapassa o custo de produção, tornado-a uma produtora singular sob a ótica do usuário. Que
advém do fato da empresa operar com baixo custo ou diferenciação (TACHIZAWA E
REZENDE, 2000).
A vantagem competitiva pode ser entendida como aquilo que distingue a empresa das outras,
o que faz com que ela tenha mais clientes, ou mais lucro dentro de um mercado. Seriam os
efeitos da junção dos elementos internos ou externos diferenciadores na competição.
Para Porter (1989), a vantagem competitiva não pode ser compreendida observando-se a
empresa como um todo. Ela tem suas origens nas inúmeras atividades distintas que uma
empresa executa no projeto, na produção, no marketing, na entrega e no suporte de seu
produto. Cada uma destas atividades pode contribuir para a posição de custos relativos de uma
empresa, além de criar base para diferenciação.
Desta forma Porter (1989), coloca que as vantagens competitivas potenciais podem vir
basicamente de três inter-relações de mercado, de produção e de aquisições e tecnologias.
Algumas das possíveis vantagens competitivas dessas inter-relações são colocadas no quadro
1.
Figura 1 – Potenciais vantagens competitivas das inter-relações entre empresas
TIPO DE
INTER-
RELAÇÕES
FORMAS DE
COMPARTILHAMENTO
POTENCIAIS VANTAGENS
COMPETITIVAS
Mercado Marca registrada
Publicidade e promoção
Marketing
Processamento de pedidos
Imagem reforçada
Custos de publicidade e promoção
reduzido
Custo de pesquisa de mercado reduzida
Redução de custos no processamento de
pedidos
Maior poder de negociação
Produção Sistema logístico
Controle de qualidade
Atividades indiretas
(manutenção, treinamento de
Custo de frete e manuseio de materiais
reduzidos
Redução de custo de programas de
qualidades
XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos
Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.
8
pessoal, por exemplo) Redução de custos com atividades
indiretas
Aquisição e
tecnologias
Aquisição de insumos
Desenvolvimento de tecnologia
Custos reduzidos de insumos
Melhor qualidade de insumos
Custos reduzidos de projeto de produtos e
processos Fonte: Adaptado de Porter (1989)
As redes permitem que as empresas se especializem em suas competências centrais,
preservando ao mesmo tempo sua abrangência de atuação no mercado. Outra grande
vantagem das redes é que consegue transferir conhecimento, muitas vezes tácito, ampliando
os conhecimentos de todos os participantes sem redução ou perda de ativos para quem
colabora. Todas essas potenciais vantagens mostram o potencial deste modelo para as
empresas de micro, pequeno e médio porte atingirem um melhor desempenho.
4. Resultados do estudo de caso
O estudo de caso foi realizado em uma rede de supermercados localizada no interior do Rio
Grande do Norte, a Rede Oeste de Supermercados. A rede, que teve início em 2006, possui a
25 lojas, distribuídas em 19 cidades da região Oeste do estado do Rio Grande do Norte.
Atualmente a rede possui um escritório e centro de distribuição na cidade de Pau dos Ferros,
as empresas participantes são representadas por 22 gestores, pois 3 deles possuem 2 lojas.
Participaram desta pesquisa o gestor executivo da rede e 13 gestores das empresas que
compõe a rede, que são micro e pequenas, segundo a classificação do SEBRAE (2005).
A rede implementa ações conjuntas e projetos de cooperação em logística de aquisição e
compras, marketing, gestão financeira e gestão da informação. As principais ferramentas
utilizadas na rede para obter melhorias conjuntas de desempenho são: a internet, através do
site da rede; a intranet, com plataforma de informações; reuniões periódicas e sistema
informatizado de gestão da rede.
Para o gestor executivo os principais resultados econômicos da rede o aumento do
faturamento e crescimento dos participantes. Os resultados sociais da rede segundo ele seria a
geração direta e indireta de empregos. Outros resultados trazidos pela rede foram uma
fortificação da imagem das empresas, redução de custos, aumento da produtividade, maior
agilidade no desenvolvimento de novos serviços, capacitação da mão-de-obra e dos gestores,
acesso a novos mercados, acesso a novas tecnologias, maior competitividade diante dos
XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos
Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.
9
concorrentes, e maior poder de negociação com fornecedores. Muitas dessas vantagens
citadas são identificadas por Porter (1989) nas inter-relações empresariais.
Os principais processos ou atividades que quando realizados em conjunto possibilitam a
melhoria da rede como um todo, segundo o gestor, são a elaboração de estratégias de atuação
da rede, elaboração de projetos para obtenção de recursos (financeiro, pessoal e
equipamentos), atividades de compra e distribuição, planejamento e contratação de auditorias
individuais para empresas da rede, gerenciamento e acompanhamento de projetos realizados
em conjunto, além de atividades de suporte e apoio aos projetos e necessidades da rede.
Nos primeiros anos da rede não existia o centro de distribuição e isso gerava uma limitação
nas negociações com fornecedores, em especial com as indústrias, pois a falta de um endereço
único para receber a cargas dos fornecedores gerava uma dificuldade logística, entregar uma
quantidade pequena em 25 lojas fazia com algumas industrias não fechassem a negociação. e
Isso fazia com que comprassem de distribuidores e atacadistas, com um custo maior. Assim, o
centro de distribuição representa um avanço.
4.1 Pesquisa com os gestores das empresas
A primeira variável analisada foi a compra compartilhada, buscando identificar se reduziu os
custos de aquisição de produtos. Todos os respondentes concordaram que os custos foram
reduzidos, no entanto, apenas 4 concordam totalmente, 9 concordam parcialmente, conforme
figura 2. Isso mostra que a atividade de compras compartilhada ainda não atingiu o nível
desejado de redução de custos, e que poderiam ser efetuadas melhorias. Mas no geral percebe-
se que as redes podem trazer de fato redução de custos da atividade de compras, pois aumenta
o poder de barganha com fornecedores e isso reduz o custo de aquisição. O que mostra que a
cooperação entre agentes da cadeia de suprimentos pode trazer negociações vantajosas para
todos.
Figura 2 – Redução de custos através da compra compartilhada
XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos
Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.
10
Fonte: A Autora (2011)
A segunda variável analisada foi se a compra compartilhada melhorou o serviço dos
fornecedores. A resposta foi em geral positiva, 4 concordam totalmente, 8 parcialmente e 1
indiferente, de acordo com a figura 3. Mostrando que o serviço oferecido pelos fornecedores
teve melhoria, que se dão, por exemplo, no atendimento, na oferta de promoções e na
negociação de prazos.
Figura 3 – Melhoria dos serviços através da compra compartilhada
Fonte: A Autora (2011)
XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos
Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.
11
A terceira variável analisa se a rede possibilitou a melhoria na atividade de compras. Dos
respondentes, 4 concordam totalmente e 9 parcialmente, mostrados na figura 4. Mostrando
que a atividade de compras no geral teve melhorias com o compartilhamento das compras.
Figura 4 – Melhoria na atividade de compras
Fonte: A Autora (2011)
A quarta variável analisa se o poder de negociação com fornecedores aumentou com a rede.
De acordo com a figura 5, dos respondentes, 6 concordam totalmente e 7 parcialmente.
Mostrando que as empresas de pequeno porte têm um poder de negociação maior quando
agrupadas em rede, pois conseguem maiores volumes de compras. Verschoore e Balestrin
(2006) colocam que quanto maior o número de empresas, maior a sua capacidade de obter
ganhos de escala e poder de mercado. A imagem fortificada das empresas com a rede faz com
que o fornecedor almeje maiores espaços dentro das lojas para seus produtos, além da
participação de encartes promocionais como meio de divulgação de suas marcas.
Figura 5 – Poder de negociação com fornecedores depois da rede
Fonte: A Autora (2011)
XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos
Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.
12
A quinta variável analisada foi se a rede proporcionou de forma geral melhor desempenho das
atividades desenvolvidas pela empresa. De acordo com figura 6, a rede proporciona melhor
desempenho, pois 6 respondentes concordam totalmente, 6 parcialmente e apenas 1 foi
indiferente. Dessa forma, percebe-se que houve melhorias nas empresas individualmente com
a rede.
Figura 6 – Desempenho das atividades da empresa com a rede
Fonte: A Autora (2011)
Percebe-se que, em relação a processos de suprimentos, que as redes empresariais trazem
grandes vantagens em relação à atividade de compras e logística de forma geral, pois
possibilita maior poder de negociação com fornecedores, conseguindo melhor serviço por
parte destes. Além da redução de custos com compras, pois conseguem negociar maiores
volumes e menores preços, além da realização de grandes promoções, muitas patrocinadas
pelos fornecedores, já que a imagem das empresas é fortificada e passa a ser de interesse das
industrias ganhar espaço nessas empresas. De forma geral, observa-se o grande potencial das
redes na melhoria do desempenho das atividades desenvolvidas pela empresa.
5. Conclusões
Este artigo teve como objetivo analisar o impacto das redes empresariais de micro e pequenas
empresas na melhoria do desempenho das atividades de compras na cadeia de suprimentos.
Através da revisão da literatura, percebe-se que as redes tem potencial para melhoria de
diversas atividades da empresa, inclusive de logística, que foi confirmada através da pesquisa
com as empresas da rede analisada, o que pode trazer vantagens competitivas para as
empresas participantes.
XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos
Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.
13
Em especial nas atividades relacionadas a compras, os resultados sugerem que as redes podem
aumentar o poder de negociação das empresas participantes, que isoladamente por comprarem
em pequenas quantidades, não conseguem obter os preços e condições vantajosas por parte
dos fornecedores. Além de acabarem comprando de atacadistas e não diretamente das
indústrias. Isso acontece por não terem demanda suficiente para altos volumes de compras
isoladamente e as indústrias em sua maioria não trabalham com venda de pequenos lotes.
De forma geral, as empresas pesquisadas tiveram melhorias das suas atividades depois da
rede, o que sugere que a cooperação entre empresa é mais vantajosa do que se trabalhar
isoladamente e confirma que é importante que haja integração dos agentes da cadeia de
suprimentos.
Conclui-se, assim, que as redes possibilitam que as micro e pequenas empresas tenham
melhor desempenho na cadeia de suprimentos, em especial na área de compras. Podem obter
grandes vantagens competitivas devido a economia de escala proporcionada pela rede, além
de uma imagem mais forte perante o mercado e aos agentes da cadeia de suprimentos,
conseguindo melhores serviços por parte dos fornecedores, além da redução de custo.
Com um desempenho melhor na área de suprimentos, a empresa poderá reduzir os preços para
e melhorar os serviços para cliente final. Assim, as redes proporcionam vantagens
competitivas em relação aos concorrentes que não estão agrupados em rede e tem, portanto,
um impacto positivo no desempenho das MPE's.
Referências
BALESTRIN, A.; VERSCHOORE, J. R. Redes de cooperação empresarial: estratégias de gestão na nova
economia. Porto Alegre: Bookman, 2008.
BERTAGLIA, P. R. Logística e gerenciamento da cadeia de abastecimento. 2 ª Ed. São Paulo: Saraiva, 2009.
BALLOU, R. H. Logística Empresarial: transportes, administração de materiais, distribuição física. São Paulo:
Atlas, 2010.
CÂNDIDO, G. A., ABREU, A. F. Os conceitos de redes e as relações interorganizacionais: um estudo
exploratório. In: ENANPAD, 24, 2000. Florianópolis. Anais ... Florianópolis: ANPAD, 2000. 1 CD.
CASAROTTO FILHO, N.; PIRES, L. H. Redes de pequenas e médias empresas e desenvolvimento local:
estratégias para a conquista da competitividade global com base na experiência italiana. 2ª ed. São Paulo:
Atlas, 2001.
XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos
Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.
14
CASTELLS, M. Sociedade em rede: a era da informação: economia, sociedade e cultura. 8ª Ed. São Paulo: Ed.
Paz e terra, 2005.
CERVO, A. L.; BERVIAN, P. A.; DA SILVA, R. Metodologia Científica. 6ªEd. São Paulo: Pearson Prentice
Hall, 2007.
GIL, A. C. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 1999.
CHOPRA, S.; MEINDL, P. Gestão da cadeia de suprimentos: estratégia, planejamento e operações. 4ªEd. São
Paulo: Pearson Prentice Hall, 2011.
CHRISTOPHER, M. Logística e gerenciamento da cadeia de suprimentos: criando redes que agregam valor.
São Paulo: Thomson learning, 2007.
GOEDERT, A. R. Redes de inovação tecnológica para pequenas e médias empresas: um estudo exploratório
para o setor apícola catarinense. Dissertação de mestrado em Engenharia de Produção. Florianópolis: UFSC,
1999.
MARCONI, M. A.; LAKATOS, E. M. Técnicas de Pesquisa. 6ªEd. São Paulo: Atlas, 2007.
LIPNACK, J.; STAMPS J. Rede de Informações. São Paulo: Makron Books, 1994.
LEITE, F. T. Metodologia Científica: métodos e técnicas de pesquisa (monografias, dissertações, teses e livros).
Aparecida, SP: Ideias & Letras, 2008.
MARTINS, H. S. A. Vantagem competitiva através de redes empresariais nas MPME’s: o caso de uma
rede de supermercados. In: XXXII Enegep 2012. Anais ... Bento Gonçalves, 2012. CD.
NEGRAES, C. L. B. A organização da pesquisa científica e a tecnologia em rede: o projeto Genoma Xillela e
a rede nacional de seqüenciamento de DNA. Dissertação de Mestrado do Centro de Desenvolvimento
Sustentável da UNB: Brasília, 2002.
PORTER, M. E. Vantagem competitiva: criando e sustentando um desempenho superior. 29ª Ed. Rio de
Janeiro: Campus, 1989.
SEBRAE – Serviço Brasileiro de Apoio as Micro e Pequenas Empresas. Boletim Estatístico de Micro e
Pequenas Empresas. Observatório SEBRAE, 1º semestre de 2005. Disponível em:
http://www.sebrae.com.br/customizado/estudos-e-pesquisas/estudos-e-pesquisas/boletim-estatistico-das-mpe.
Acesso em: 16/01/2013.
TACHIZAWA, T.; REZENDE, W. Estratégia empresarial: tendências e desafios – Um enfoque na realidade
brasileira. São Paulo: MAKRON Books, 2000.
XXXIII ENCONTRO NACIONAL DE ENGENHARIA DE PRODUCAO A Gestão dos Processos de Produção e as Parcerias Globais para o Desenvolvimento Sustentável dos Sistemas Produtivos
Salvador, BA, Brasil, 08 a 11 de outubro de 2013.
15
VERGARA, S. C. Projetos e relatórios de pesquisa em administração. São Paulo: Atlas, 2007.
VERSCHOORE, J. R S.; BALESTRIN, A. Fatores competitivos das empresas em redes de cooperação. In:
Encontro da Associação Nacional de Programas de Pós-graduação em Administração, 30º., 2006, Salvador.
Anais... Bahia. ANPAD, 2006.
WOOD JR, T.; ZUFFO, P. Supply Chain Management. Revista de Administração de Empresas, São Paulo,
v.38, n.3, p.55-63, Julho/Setembro, 1998.
WOITCHUNAS, L. F. Redes Empresariais e Gestão da Qualidade. Ijuí: Editora Unijuí, 2009.