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Área temática: Jogos de Empresas O IMPACTO DA GESTÃO DE ESTOQUES EM EMPRESAS SIMULADAS AUTORES SHEILA SERAFIM DA SILVA Universidade Federal Fluminense [email protected] ILTON CURTY LEAL JUNIOR UFF - Universidade Federal Fluminese [email protected] RESUMO Este artigo trata da demonstração e aplicação dos Jogos de Empresas como uma metodologia alternativa de ensino/aprendizagem da gestão de estoques, aplicada em um ambiente simulado, analisando o impacto dos custos nos resultados da empresa. Com o objetivo de demonstrar a utilização de Jogos de Empresas para estudo de teorias da administração, são abordados a gestão de estoques no modelo de lote econômico comparado ao gerenciamento de estoques no modelo Just in time e a aquisição de matéria-prima emergencial durante a simulação. Classifica-se a pesquisa como bibliográfica com base em livros e artigos na área da administração da produção e jogos de empresas e utiliza a análise de regressão linear simples para comparação e análise dos dados. Os resultados obtidos demonstraram que o modelo de gerenciamento de estoques mais viável seria o Just in Time ao reduzir custos significativos de estocagem e que o modelo de lote econômico não se aplica ao Jogo. Conclui- se que a utilização dos Jogos de Empresas como ferramentas didáticas são extremamente úteis e viáveis tornando o processo de ensino e aprendizagem mais dinâmico e interessante para os alunos e professores envolvidos. Palavras-Chave: Gestão de estoques, Jogos de Empresas, Ensino/aprendizagem. ABSTRACT This article comes from the demonstration and application of Business Games as an alternative methodology for teaching and learning of inventory management applied in a simulated environment, analyzing the cost impact on business results. Aiming to demonstrate the use of Business Games for the study of theories of administration in this case will be addressed inventory management in the model of economic lot compared to the inventory management model Just in time and the acquisition of raw materials during emergency the simulation. The work has been systemized based bibliographic research in the area of production management and business games and uses simple linear regression analysis to compare and analyze data. The results showed that the model of inventory management would be the most viable JIT to reduce significant costs of storage and that the model of economic lot does not apply to the game. It is concluded that the use of Business Games as teaching tools are extremely useful and viable making the process of teaching and learning more dynamic and interesting for students and teachers. Key words: Inventory management, Business Games, Teaching and learning.

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  • Área temática: Jogos de Empresas

    O IMPACTO DA GESTÃO DE ESTOQUES EM EMPRESAS SIMULADAS

    AUTORES SHEILA SERAFIM DA SILVA Universidade Federal Fluminense [email protected] ILTON CURTY LEAL JUNIOR UFF - Universidade Federal Fluminese [email protected] RESUMO Este artigo trata da demonstração e aplicação dos Jogos de Empresas como uma metodologia alternativa de ensino/aprendizagem da gestão de estoques, aplicada em um ambiente simulado, analisando o impacto dos custos nos resultados da empresa. Com o objetivo de demonstrar a utilização de Jogos de Empresas para estudo de teorias da administração, são abordados a gestão de estoques no modelo de lote econômico comparado ao gerenciamento de estoques no modelo Just in time e a aquisição de matéria-prima emergencial durante a simulação. Classifica-se a pesquisa como bibliográfica com base em livros e artigos na área da administração da produção e jogos de empresas e utiliza a análise de regressão linear simples para comparação e análise dos dados. Os resultados obtidos demonstraram que o modelo de gerenciamento de estoques mais viável seria o Just in Time ao reduzir custos significativos de estocagem e que o modelo de lote econômico não se aplica ao Jogo. Conclui-se que a utilização dos Jogos de Empresas como ferramentas didáticas são extremamente úteis e viáveis tornando o processo de ensino e aprendizagem mais dinâmico e interessante para os alunos e professores envolvidos. Palavras-Chave: Gestão de estoques, Jogos de Empresas, Ensino/aprendizagem. ABSTRACT This article comes from the demonstration and application of Business Games as an alternative methodology for teaching and learning of inventory management applied in a simulated environment, analyzing the cost impact on business results. Aiming to demonstrate the use of Business Games for the study of theories of administration in this case will be addressed inventory management in the model of economic lot compared to the inventory management model Just in time and the acquisition of raw materials during emergency the simulation. The work has been systemized based bibliographic research in the area of production management and business games and uses simple linear regression analysis to compare and analyze data. The results showed that the model of inventory management would be the most viable JIT to reduce significant costs of storage and that the model of economic lot does not apply to the game. It is concluded that the use of Business Games as teaching tools are extremely useful and viable making the process of teaching and learning more dynamic and interesting for students and teachers. Key words: Inventory management, Business Games, Teaching and learning.

  • 1 – INTRODUÇÃO

    Uma política de estoques adequada é fundamental para o bom desempenho de uma organização. Mensurar os custos, avaliá-los e reduzí-los na medida correta fazem parte da estratégia da área de produção. Decisões quanto ao volume, quando e como produzir refletem diretamente nos resultados financeiros da empresa e devem, portanto, serem bem observadas. Diante disto, a participação nos Jogos de Empresas, especificamente na área de produção, gerou os seguintes questionamentos: (1) os Jogos de Empresas contribuem para o processo de ensino e aprendizagem de forma significativa, sendo possível a aplicação de teorias e conceitos no âmbito da graduação? (2) ao comparar a filosofia JIT e modelo de lote econômico, qual a melhor abordagem de gestão de estoques considerando o impacto dos custos para a empresa?

    Para responder a essas questões o presente artigo tem como objetivo demonstrar como os Jogos de Empresas podem ser utilizados como uma ferramenta didática de ensino e aprendizagem para aplicação de conceitos e teorias, principalmente, da área da administração, para isto, a gestão de estoques com foco na filosofia Just in Time e a programação de suprimentos para estoques serão aplicadas em uma empresa simulada a fim de quantificar o impacto dos custos nos resultados da empresa.

    Será abordada a importância dos Jogos de Empresas como um complemento de ensino na graduação e a aplicação do Just in time baseado em experiências da empresa simulada ICON S/A, participante do Jogo de Empresas Simuladas em 2010 no curso de Administração da Universidade Federal Fluminense, no interior do estado do Rio de Janeiro. Neste estudo buscou-se testar a utilização dos Jogos de Empresas como uma ferramenta inovadora para uma compreensão dinâmica de teorias como JIT e o modelo de Lote econômico.

    Espera-se com os resultados demonstrar a importância e utilização de simulações organizacionais para estudos próximos da realidade, ampliar a compreensão e aplicação das teorias da área de produção abordadas e sua utilização em questões práticas.

    2– FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA 2.1 JOGOS DE EMPRESAS

    Os Jogos de empresas têm sido utilizados como uma metodologia de ensino prático de conceitos e teorias em cursos de graduação. Riscarolli (2007) define os Jogos de Empresas como “instrumentos pedagógicos que visam, em ambiente simulado, prover a experiência e o treinamento de pessoas nas atividades administrativas”. São ferramentas que utilizam um curto espaço de tempo, baixo custo e buscam simular a realidade por meio de variáveis do ambiente empresarial. Esta metodologia não substitui as aulas conhecidas como expositivas, porém, às complementa, tornando-as mais dinâmicas e participativas.

    Rogers (1974) concluiu em seus estudos acerca da aprendizagem vivencial que a pessoa tem uma tendência de desenvolver-se e tornar-se autônoma e evoluiu a abordagem centrada no professor para a abordagem centrada no aluno. Segundo Rogers (1985, p. 29 apud Rosas, 2004) os elementos que tornam a aprendizagem vivencial significante são:

    a qualidade de um envolvimento pessoal; a auto-iniciativa, isto é, o sentido de descoberta e compreensão vem de dentro; a diferença no comportamento, nas atitudes e talvez até na personalidade do aluno; a avaliação pelo aluno que sabe se atende às suas necessidades e se conduz ao que ele quer saber;

  • A partir destes elementos pode-se observar a importância dos Jogos de Empresas no processo de ensino e aprendizagem. De acordo com Klein (1980 apud Ferrari, 2007), “a simulação estratégica ganhou o meio acadêmico, e se avançou por vários campos”, o autor ainda a caracteriza em seis tipos: preferência do aluno pelo jogo, o jogo como uma ferramenta de pesquisa, a percepção do aluno em ter eficácia, correlação entre atuação e habilidade, interesse, motivação e eficácia como arma de ensino. 2.2 GERENCIAMENTO DE ESTOQUES

    Slack (2002, p. 380) define estoques como “a acumulação armazenada de recursos materiais em um sistema de transformação”. As variações da demanda e da taxa de fornecimento resultam em diferentes tipos de estoques. Serão apresentados quatro tipos de estoques:

    Estoques de proteção - supri as incertezas da demanda e do fornecimento; Estoque de ciclo - necessário quando os estágios na operação não podem fornecer produtos diferentes ao mesmo tempo; Estoque de antecipação - mais usado quando há uma grande variabilidade na demanda; Estoque no canal de distribuição - existem quando o material não pode ser transportado diretamente a demanda.

    Os estoques representam um custo considerável na tomada de decisão. Os gerentes de

    produção são responsáveis por decisões de quanto produzir, quando produzir e como controlar o sistema de produção. A seguir apresentam-se alguns tipos de custos relevantes relacionados ao estoque:

    Custos de pedido - cada pedido realizado para reabastecer o estoque representa um custo para a empresa e pode ser calculado pela equação 1:

    Em que: CP = Custo de pedido; Cf = Custo fixo; D = Quantidade demandada; L = Tamanho do lote;

    Custos de desconto de preços - quando os fornecedores oferecem descontos sobre

    o preço normal para a compra de grandes quantidades, fazendo com que pequenos pedidos tenham um custo maior.

    Custos de falta de estoques - a falta de estoques resulta em custos pela falha no

    fornecimento de produtos aos consumidores, considerando que ao ficarem insatisfeitos podem recorrer aos concorrentes.

    Custos de armazenagem - são custos associados à armazenagem física dos

    produtos. Inclui aluguel, energia elétrica, etc, e pode ser calculado pela equação 2:

    Em que: CA = Custo de armazenagem;

    CA = Ce x

    L2

    CP = Cf x D L

  • Ce = custo de estocagem unitário; L = Tamanho do lote;

    Custos de obsolência - pedidos em quantidades muito grandes sem alta rotatividade resultará em estoques prolongados correndo o risco de tornarem obsoletos.

    2.2.1 Lote Econômico de Compras e Just in Time

    Corrêa (2001) apresenta o lote econômico de compras (LEC) como a “quantidade ótima de compra que minimiza o custo de estocagem”. Para o cálculo do LEC são considerados os custos de armazenagem (CA) e o custo de fazer pedidos (CP). A soma dos custos de armazenagem e estocagem representa o custo total.

    e

    f

    CCDA

    LEC

    2

    Em que: LEC = lote econômico de compras;

    DA = quantidade demandada; Cf = Custo fixo; Ce = custo estocagem;

    Alguns autores, apesar de apresentarem em suas literaturas o lote econômico, também têm feito diversas críticas ao modelo. Martins (2005) afirma que o modelo é inelástico, pois não considera a variação na quantidade de produtos demandados. Uma outra crítica tem sido o fato de que não se encontram incluídos aspectos relativos ao fornecedor, ou seja, pode acontecer de eventualmente o fornecedor não fornecer o tamanho do lote calculado, por não disponibilizar da quantidade ou por possuir um lote mínimo de entrega. Martins (2005) ainda afirma que “às vezes é difícil – ou mesmo impossível – calcular o custo para se fazer pedido de compra”.

    As principais críticas ao modelo de LEC vêm das filosofias inspiradas do JIT.

    Slack (2002, p. 395) afirma que “a ênfase do LEC é tentar determinar custos representativos de pedidos e de manutenção de estoque, e então, otimizar decisões de pedidos à luz desses custos. Implicitamente, os custos são tomados como fixos, no sentido em que a tarefa dos gerentes de produção é descobrir quais são os verdadeiros custos ao invés de tentar mudá-los”.

    O Just in Time é uma filosofia de administração da produção que surgiu no Japão em

    meados da década de 70, foi desenvolvido por Taiichi Ohno, vice-presidente da Toyota Motor Company com o intuito de alcançar vantagem competitiva otimizando o processo produtivo.

    Segundo Slack (2002, p. 482) “JIT é uma abordagem disciplinada, que visa aprimorar a produtividade global e eliminar os desperdícios. Ele possibilita a produção eficaz em termos de custo, assim como o fornecimento da quantidade correta, no momento e locais corretos, com o mínimo de instalações, equipamentos, materiais e recursos humanos”.

    O objetivo fundamental do sistema JIT é a melhoria contínua do processo produtivo através da redução do nível de estoques que tendem a esconder problemas. Corrêa (1993, p. 57) afirma que “os estoques têm sido utilizados para evitar descontinuidades do processo

  • produtivo, diante de problemas de produção” e classifica-os, principalmente, em três grupos: Problemas de qualidade, quebra de máquina e preparação de máquina.

    A filosofia JIT está fundamentada em fazer as coisas simples da melhor maneira possível eliminando todos os desperdícios em cada etapa do processo, e tem sido definida em três razões-chaves: (1) a eliminação de desperdício evitando a superprodução, tempo de espera, transporte, processo, estoque, movimentação e produtos defeituosos; (2) o envolvimento da equipe de trabalho que engloba todos os funcionários e processos da organização uma vez que preza pelos conceitos de qualidade total, que depende de uma equipe motivada e consciente de sua contribuição e (3) o aprimoramento contínuo visando atender a quantidade certa, com qualidade perfeita e sem desperdícios.

    A explicação de Ballou (2007, p. 346) torna clara a importância da filosofia JIT e a aplicação de suas técnicas para um bom gerenciamento da cadeia de suprimentos. O autor afirma que “os tempos de reposição tornam-se altamente previsíveis porque são curtos”. As entregas podem ser feitas com freqüência, sem grandes despesas com o transporte, devido à proximidade dos fornecedores e os lotes pedidos são pequenos porque os custos de preparação e manutenção são mantidos baixos.

    A programação Just in Time entra em conflito com a programação de suprimento para estoques (Lote econômico de compras). A tabela 1 compara as duas abordagens, lembrando que são alternativas e o presente artigo não tem como objetivo criticar o modelo de lote econômico. Tabela 1 - Comparação entre as filosofias de programação de suprimentos JIT e de suprimento de estoques

    FATORES PROGRAMAÇÃO JIT PROGRAMAÇÃO PARA ESTOQUES

    Tamanhos de lotes Todos os esforços necessários

    para eliminá-los devem ser empreendidos.

    Proteção contra erros de previsão, problemas nos equipamentos e atrasos.

    Preparações Disponibilidade de máquinas

    adicionais ou preparações extremamente rápidas.

    Maximizar a produção é a meta.

    Estoques de produtos em processo Eliminá-los. Um investimento necessário.

    Fornecedores São colegas de trabalho. Um relacionamento

    estritamente profissional é mantido.

    Qualidade A meta é a eliminação de defeitos. Alguns defeitos são toleráveis.

    Manutenção Manutenção preventiva, ou capacidade excessiva é a regra.

    Na medida das necessidades. Não é fundamental, em vista da reserva de estoques.

    Tempo de reposição Devem ser exíguos. Tempos de reposição longos não constituem problemas.

    Fonte: Adaptada de Slack (2002). 3 – METODOLOGIA

    Para Gil (1999, p. 42), “a pesquisa tem um caráter pragmático, é um processo formal e sistemático de desenvolvimento do método científico. O objetivo fundamental da pesquisa é

  • descobrir respostas para problemas mediante o emprego de procedimentos científicos”. A pesquisa pode ser classificada de diversos pontos de vista:

    Tabela 2 – Método de pesquisa e procedimentos técnicos

    Quanto: À natureza À forma de abordagem

    do problema Aos objetivos Aos procedimentos técnicos

    Classifica-se como:

    Pesquisa Aplicada

    Quantitativa Descritiva Bibliográfica

    Estudo de Caso

    Conceito:

    Objetiva gerar conhecimento para aplicação prática dirigidos à solução de problemas específicos.

    Considera-se que tudo pode ser quantificável, o que significa traduzir em números informações para classificá-las e analisá-las

    Visa descrever as características de determinada população ou fenômeno ou o estabelecimento de relações entre variáveis.

    Elaborada a partir de material já publicado, incluindo livros, periódicos em revista ou congresso.

    Quando envolve o estudo profundo e exaustivo de um ou poucos objetos de maneira que se permita o seu amplo e detalhado conhecimento.

    Aplicação:

    Aplicação do Just in time e LEC para solucionar problemas de estoques.

    Cálculo do LEC e da produção no modelo JIT, comparando os resultados e relacionando-os com os custos utilizando a análise de regressão linear simples.

    Descreve o ambiente do Jogo de empresas e relaciona suas variáveis de decisão na área de produção.

    O estudo é sistematizado com base em livros e artigos de administração da produção e jogos de empresas para explicação das teorias.

    O estudo profundo do histórico da empresa simulada Icon S/A e suas decisões durante os jogos e seus impactos nos resultados.

    Fonte: Elaboração própria com base em Gil (1999).

    Para realização da pesquisa foram utilizados como referência básica para análise dos dados os relatórios gerencias do trimestre 01 ao trimestre 07, da empresa simulada Icon S/A, o livro-texto da disciplina Laboratório de Gestão e os relatórios gerenciais das empresas concorrentes.

    Nos relatórios gerenciais foram utilizadas informações como: Compra de matéria-prima; Custo de estocagem de matéria-prima e produtos acabados; Estoque de matéria-prima e produtos acabados; Volume de Produção; Mercado Potencial; Volume de Vendas.

    4 – DESENVOLVIMENTO

    O experimento foi realizado durante a disciplina Projeto de Pesquisa – Empresas Simuladas em um curso de graduação em administração, no primeiro semestre de 2010. A

  • classe foi dividida em cinco grupos que correspondiam às empresas, cada empresa possuía seis funções, sendo elas, marketing, produção, finanças, planejamento, recursos humanos e presidência.

    A tomada de decisão acontecia uma vez por semana, podendo ser durante a aula ou não. A equipe deveria tomar decisões quanto ao preço do produto, investimentos em marketing e P&D, compra de equipamentos e matéria-prima, investimentos na fábrica, manutenção, capacidade produtiva, volume de produção (com ou sem hora – extra) e dividendos a distribuir. As empresas atuavam em oligopólio e tinham liberdade para negociar descontos com fornecedores, presidente do Brazol - país onde as empresas estavam localizadas - e outros mediante a submissão de projetos.

    O ambiente do Jogo era afetado por variáveis como Índice Geral de Preços, Índice de Atividade Econômica e Índice de Variação Estacional. As decisões das empresas eram simuladas de forma interativa no Exercício de Gestão Simulada – EGS, simulador organizacional desenvolvido pela FEA/USP, que é composto por um conjunto de regras econômicas descritas no manual do participante. As empresas iniciam o Jogo com o mesmo cenário que vai sendo modificado conforme a tomada de decisão a cada trimestre e dispõem de relatórios gerenciais compostos de fluxo de caixa, balanço, demonstrativo de lucros e perdas, demonstrativo das operações e informações sobre a indústria contendo preços, dividendos, lucro líquido, volume de vendas e participação de mercado.

    Durante as rodadas do jogo de empresas, eventualmente, ocorrem mudanças no cenário, como falta de matéria-prima, divulgação de relatórios gerenciais de todas as empresas no final do ano garantindo a transparência fiscal e adequação obrigatória das empresas à compra de filtros contra poluição por parte do governo. 4.1 - ANÁLISE DESCRITIVA DO CASO As empresas iniciam o trimestre com um estoque inicial de matéria-prima no valor de R$1.200.000 e um estoque de produtos acabados de R$153.000. Na análise descritiva do caso, buscou-se aplicar na empresa simulada as teorias citadas anteriormente. Para compreensão da análise é importante conhecer a demanda, a produção efetiva e o custo unitário de matéria-prima em cada trimestre. Tabela 3 – Dados Gerais da Icon S/A

    Trimestre Demanda (unid.)

    Produção Efetiva (unid.)

    Custo unit. de Matéria-Prima (R$)

    Custo de estocagem unit. (R$)

    Custo de pedido (R$)

    1 357.325 559835 1,5682 0,0784 50.492 2 657.140 565812 1,5689 0,0784 50.370 3 566.939 423799 1,5273 0,0764 50.492 4 511.000 577385 1,5640 0,0782 50.613 5 597.480 582861 1,4878 0,0744 50.733 6 732.136 584829 1,4114 0,0706 50.733 7 759.042 583440 1,3858 0,0693 50.733

    A princípio, calculou-se o lote econômico de compras dos sete trimestres, utilizando as fórmulas apresentadas, obtendo o seguinte resultado, em unidades: Tabela 4 – Cálculo do Lote Econômico de Compras Trimestre 1 2 3 4 5 6 7

    LEC 678.370,14 918.644,10 865.856,36 813.296,58 902.732,00 1.026.004,27 1.054.269,46

  • A empresa estudada não utilizou nenhuma teoria para a compra de matéria-prima, sendo feita na maioria das vezes por dedução. Pode-se observar no gráfico 1 a diferença entre a compra real de matéria-prima, em unidades, e a quantidade que seria comprada caso a empresa utilizasse o lote econômico de compras.

    Compra real de matéria-prima X LEC

    0200.000400.000600.000800.000

    1.000.0001.200.000

    1 2 3 4 5 6 7Trimestre

    Qua

    ntid

    ade

    (uni

    d.)

    REAL LEC

    Gráfico 1 – Compra de Matéria-prima Real X LEC

    Observa-se que o LEC é consideravelmente maior que a compra real feita pela empresa no decorrer da simulação. Duas planilhas foram criadas para o acompanhamento da evolução do custo total utilizando o modelo de lote econômico de compras. É importante ressaltar que o custo de pedido varia de acordo com o volume de matéria-prima comprada, portanto, foi considerada uma média deste, uma vez que sua variação é muito baixa durante o jogo. A tabela 5 mostra o custo total de matéria-prima em cada trimestre. Tabela 5 – Custo total no modelo de LEC

    Trimestre

    Custo MP (R$)

    Ce (5%MP) (R$)

    Custo Pedido (R$)

    Custo Total (R$)

    1 1.063.847,18 60.000,00 50595 1.174.442,18 2 1.441.260,73 69.294,58 50595 1.561.150,31 3 1.322.431,08 91.031,01 50595 1.464.057,09 4 1.272.020,25 124.788,94 50595 1.447.404,19 5 1.343.120,78 143.237,58 50595 1.536.953,36 6 1.448.081,91 167.033,42 50595 1.665.710,33 7 1.461.048,79 198.166,72 50595 1.709.810,51

    A tabela 6 mostra a perda acumulada em função do custo de estocagem de matéria-prima, que representa, no jogo, 5% do estoque inicial. Caso a empresa utilizasse o LEC ao comprar a matéria-prima, considerando todos os outros fatores constantes, como volume de vendas, por exemplo, teria um custo de R$835.552,25 no final dos dois anos. Tabela 6 – Custo total de estocagem de matéria-prima em reais – Lote econômico

    Trimestre 1 2 3 4 5 6 7

  • Estoque Inicial de MP 1.200.000,00 1.385.891,54 1.820.620,17 2.495.778,80 2.864.751,59 3.340.668,46 3.963.334,42

    Compra MP 1.063.847,18 1.322.431,08 1.322.431,08 1.272.020,25 1.343.120,78 1.448.081,91 1.461.048,79 Saldo Disponível 2.263.847,18 2.708.322,62 3.143.051,25 3.767.799,05 4.207.872,37 4.788.750,37 5.424.383,20 MP consumida 877.955,64 887.702,45 647.272,45 903.047,46 867.203,91 825.415,95 808.554,49 Estoque Final de MP 1.385.891,54 1.820.620,17 2.495.778,80 2.864.751,59 3.340.668,46 3.963.334,42 4.615.828,71 Custo de estocagem 60.000,00 69.294,58 91.031,01 124.788,94 143.237,58 167.033,42 198.166,72 Perda Acumulada 60.000,00 129.294,58 220.325,59 345.114,53 488.352,10 655.385,53 853.552,25

    A seguir, simulou-se a compra de matéria-prima no modelo Just in time, ou seja, a empresa comprou exatamente ou muito próximo à quantidade de matéria-prima que seria utilizada na produção, resultando em uma perda acumulada de custo bem inferior ao modelo de LEC. Observe as tabelas 7 e 8 abaixo: Tabela 7 – Custo total no modelo Just in time

    Trimestre

    Custo MP (R$)

    Ce (5%MP) (R$)

    Custo Pedido (R$)

    Custo Total (R$)

    1 0,00 60.000,00 50595 110.595,00 2 391.358,30 31.981,43 50595 473.934,73 3 865.891,60 0,00 50595 916.486,60 4 799.219,33 0,00 50595 849.814,33 5 888.954,64 0,00 50595 939.549,64 6 1.033.322,11 0,00 50595 1.083.917,11 7 1.051.910,77 0,00 50595 1.102.505,77

    Tabela 8 – Custo total de estocagem de matéria-prima em reais – Just in Time

    Trimestre 1 2 3 4 5 6 7 Estoque Inicial de MP 1.200.000,00 736.666,76 97.038,11 97.038,11 97.038,11 97.038,11 97.038,11

    Compra MP 0,00 391.358,30 865.891,60 799.219,33 888.954,64 1.033.322,11 1.051.910,77 Saldo Disponível 1.200.000,00 1.128.025,06 962.929,72 896.257,44 985.992,76 1.130.360,22 1.148.948,88 MP consumida 463.333,24 1.030.986,95 865.891,60 799.219,33 888.954,64 1.033.322,11 1.051.910,77 Estoque Final de MP 736.666,76 97.038,11 97.038,11 97.038,11 97.038,11 97.038,11 97.038,12 Custo de estocagem 60.000,00 36.833,34 4.851,91 4.851,91 4.851,91 4.851,91 4.851,91 Perda Acumulada 60.000,00 96.833,34 101.685,24 106.537,15 111.389,06 116.240,96 121.092,87

  • Pode-se observar no gráfico 2 a diferença no custo total da compra de matéria-prima pelo lote econômico de compras e pelo modelo Just in time. O custo total utilizando o LEC representa R$ 10.559.527,97, enquanto no modelo JIT o total é R$ 5.476.803,19 gerando um custo superior de 93%, caso a empresa utilizasse o LEC.

    Custo Total Modelo JIT X Modelo LEC

    R$ -

    R$ 500.000,00

    R$ 1.000.000,00

    R$ 1.500.000,00

    R$ 2.000.000,00

    1 2 3 4 5 6 7

    Trimestre

    Cus

    to T

    otal

    Modelo JIT Modelo LEC

    Gráfico 2 – Custo total Just in time X Custo total LEC

    4.1.1 Análise de Regressão

    Com o intuito de estabelecer a existência e o grau de dependência estatística entre a demanda e o custo total de matéria-prima utilizou-se a análise de regressão linear simples, que prediz o valor da variável dependente Y (custo da matéria-prima) dado que seja conhecido o valor da variável independente X (demanda). Construiu-se um gráfico de dispersão no qual cada ponto representa um par de valores e a reta mostra a relação entre as duas variáveis. Observa-se nos gráficos 3 e 4 a relação entre o custo de matéria-prima e a demanda nos modelos Just in time e Lote econômico, respectivamente.

    Tendência da Matéria-prima - Just in time

    y = 1,9786x - 399433 R2 = 0,5665

    0,00200.000,00400.000,00600.000,00800.000,00

    1.000.000,001.200.000,00

    0 200000 400000 600000 800000

    Demanda (unidades)

    Cus

    to d

    a M

    atér

    ia-P

    rim

    a

    Gráfico 3 – Tendência do custo em relação à demanda – Just in time

  • Tendência da Matéria-prima - Lote econômico

    y = 1,0451x + 898779

    R2 = 0,9889

    0,00

    500.000,00

    1.000.000,00

    1.500.000,00

    2.000.000,00

    0 200000 400000 600000 800000

    Demanda (unidades)

    Cus

    to (R

    $)

    Gráfico 4 – Tendência do custo em relação à demanda – Lote econômico

    Quanto maior a demanda maior é o custo total nos dois modelos indicando uma

    correlação positiva, porém, no modelo de Lote econômico existe uma relação ainda maior comparado ao just in time, isto ocorre porque a compra de matéria-prima pelo modelo LEC gera custos de estocagem que não são incorridos no modelo JIT. A dispersão mostra que há outras variáveis que interferem no valor do custo.

    O R², baseado na equação de regressão, mostra a porcentagem das variações ocorridas no custo total explicada pelas variáveis na demanda. Sendo R² = 0,5665 no modelo Just in time e R² = 0,9641 no modelo de Lote econômico, indica que no modelo JIT 56,65 % da variação no custo de matéria-prima estão relacionados com a variação da demanda, sendo que 43,35% da variação não são explicados pela demanda e no modelo LEC 96,41 % da variação no custo estão relacionados com a variação na demanda e apenas 3, 59 % da variação não são explicados pela demanda. Quanto mais próximo de 1 estiver o R² melhor será o ajuste da reta de regressão. 4.1.2 Compra de matéria-prima emergencial

    Durante o Jogo é permitida a compra de matéria-prima emergencial, ou seja, a empresa compra e recebe no mesmo trimestre, sendo que, a empresa tem um custo adicional de 15% referente ao valor do frete. Além de simular a compra no modelo de lote econômico e just in time, analisou-se também a compra de matéria-prima, caso a empresa comprasse emergencial em todas as rodadas. Considerou-se a demanda real durante o jogo, o custo de pedido médio e o estoque inicial do trimestre 0 no valor de 98.038,12 unidades. A tabela 9 mostra o custo total da operação. Tabela 9 – Custo total – Matéria-Prima Emergencial

    Trimestre

    Custo MP (R$)

    Ce (5%MP) (R$)

    Custo Pedido (R$)

    Custo Total (R$)

    1 469.421,15 60.000,00 50595 580.016,15 2 1.185.634,99 31.981,43 50595 1.268.211,42 3 995.775,34 0,00 50595 1.046.370,34

  • 4 919.102,23 0,00 50595 969.697,23 5 1.022.297,84 0,00 50595 1.072.892,84 6 1.188.320,42 0,00 50595 1.238.915,42 7 1.209.697,38 0,00 50595 1.260.292,38

    Soma 7.436.395,78

    Os resultados confirmaram algumas afirmações no referencial teórico do estudo. A primeira delas se refere à filosofia Just in time que reduz nitidamente custos de estocagem ao fornecer a quantidade correta, no momento correto, possibilitando uma produção eficaz. Ao adotar o modelo de produção Just in time a empresa conseguiu reduzir, significativamente, o volume de estoques evitando assim o desperdício, eliminar o custo de estocagem consideravelmente, e assim, aumentar a margem de lucros da empresa.

    Comparando as três maneiras abordadas de comprar matéria-prima, nota-se que o LEC representa o maior custo total, seguido da matéria-prima emergencial e enfim o Just in time.

    Custo Total de Matéria-Prima

    0,00

    2.000.000,00

    4.000.000,00

    6.000.000,00

    8.000.000,00

    10.000.000,00

    12.000.000,00

    JIT MPEmergencial

    LEC

    R$

    Gráfico 5 – Custo total no Just in time, Matéria-prima emergencial e Lote econômico.

    5 – CONCLUSÕES

    A primeira conclusão fundamental é que os Jogos de Empresas podem ser utilizados como uma ferramenta extremamente viável no processo de ensino e aprendizagem e ainda, funciona como laboratório para estudos, pesquisas e aplicações de teorias na área da administração. O âmbito do laboratório de gestão proporciona uma interação entre os participantes, os Jogos de Empresas e a própria simulação permitindo realizar uma série de pesquisas que contribuem grandemente para o meio, principalmente, acadêmico.

    A vivência nos jogos estimulou a capacidade de análise dos alunos, proporcionou um envolvimento maior entre a turma, permitiu a aplicação de conhecimentos adquiridos no curso e desenvolveu habilidades e atitudes. Apesar da limitação, o jogo proporcionou aos diretores uma visão sistêmica da organização, dado que as decisões eram compartilhadas e discutidas em grupo.

    Quanto à aplicação da teoria, conclui-se que o modelo de Lote Econômico de Compras não se aplica ao Jogo, pois não considera o impacto do custo de estocagem no lucro da empresa. A compra de matéria-prima segundo a filosofia Just in Time garante um resultado significativo ao reduzir o custo de estocagem, embora, esteja atrelado à previsão de demanda. Optar por adquirir matéria-prima emergencial em todos os trimestres pode ser melhor do que o próprio LEC, apesar do custo adicional com o frete.

  • O desempenho real da empresa comparado às teorias não foi insatisfatório, a compra real de matéria-prima era sempre abaixo do LEC por desconsiderar o estoque de segurança, uma vez que, a entrega no prazo na simulação era altamente confiável, embora, o fornecedor tenha tido problemas no fornecimento em um dos trimestres.

    É importante ressaltar a contribuição dos jogos de empresas para a aprendizagem vivencial e contínua, que ultrapassa os limites da aula expositiva e atinge o objetivo central – gerar conhecimento – de uma forma bem mais dinâmica. A teoria se mostrou útil e aplicável no espaço do laboratório de gestão, confirmando a utilização dos jogos de empresas para a realização de pesquisa aplicada.

    Durante o desenvolvimento da pesquisa foram encontradas muitas limitações que impediram uma análise mais aprofundada do problema investigado. Os resultados encontrados no modelo just in time limitou-se na previsão de demanda que deveria ser extremamente próxima à quantidade comprada de matéria-prima, evitando estoques. Outra limitação foi encontrar casos de fracasso de gerenciamento de estoques, tanto da aplicação do just in time como do lote econômico de compras, portanto, foram descritos quais são os problemas enfrentados pelas empresas na aplicação destas teorias.

    Como propostas para novos estudos, seria interessante uma pesquisa semelhante a esta utilizando a análise de regressão linear múltipla, considerando mais de uma variável. Uma segunda proposta seria analisar quais fatores interferem no custo unitário da matéria-prima, além dos investimentos em manutenção.

    6 – REFERÊNCIAS BALLOU, R.H. Gerenciamento da Cadeia de Suprimento: logística empresarial. 2. ed. São Paulo: Bookman, 2006. CARRERA, A;MIOLA, A;FRUCHI, C.R;CALVO, E.A. Just in time: uma filosofia a serviço da administração. In: XV Simpósio de Engenharia de Produção, São Paulo, 2008. Anais. São Paulo: Universidade Estadual Paulista, 2008, p.5. CORRÊA, H.L.; GIANESI, IG.N. Just In Time, MRP II e OPT. 2. ed. Atlas, 1993. FERRARI, R.A. A Simulação Estratégica no Processo de Ensino /Aprendizagem – Os Jogos de Empresa. UDESC - Universidade do Estado de Santa Catarina. Artigo. Santa Catarina, 2007. GIL, A.C. Métodos e técnicas de pesquisa social. São Paulo: Atlas, 1999. HASEBE. SHOZO. Presidente Toyota Mercosul. Relatório de Sustentabilidade 2009. Toyota do Brasil. Disponível em: www.toyota.com.br. Acesso em jun de 2010.

  • MARTINS, Petrônio. LAUGENI, F.P. Administração da Produção. São Paulo: Saraiva, 2005. MULLER. Cláudio José. Sistema Toyota de Produção. Universidade Federal do Rio Grande do Sul. s.l, s.d. Disponível em: www.producao.ufrgs.br. Acesso em maio de 2010. RISCAROLLI, V. ; RODRIGUES, Leonel Cezar . O Valor Pedagógico de Jogos de Empresas. In: Encontro da Associação Nacional dos Cursos de Graduação em Administração (ENANGRAD), 2001, São Paulo. XII ENANGRAD, 2001. ROSAS, A.R. Reunindo Prática e Teoria de Administração por Meio de Jogos de Empresas. In: V I I SEMINÁRIOS EM ADMINISTRAÇÃO. Anais. Universidade Federal do Espírito Santo (UFES), s.d. SAUAIA, A.C.A. Laboratório de Gestão: simulador organizacional, jogos de empresas e pesquisa aplicada. 2. ed. ver. E atual. Barueri, São Paulo: Manole, 2010. SLACK, Nigel; CHAMBERS, Stuart; JOHNSTON, Robert. Administração da Produção. 2. ed. São Paulo: Atlas, 2002. VARELLA, Irani. Evolução, Sustentabilidade e Educação corporativa. Gerente executivo de Desenvolvimento de Gestão de Sistemas da Petrobrás. Disponível em: www.educor.desenvolvimento.gov.br. Acesso em: jun de 2010.