o homem espiritual 1 - watchman nee.pdf

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ÍNDICE NOTA EXPLICATIVA .................................................... 2 PRIMEIRO PREFÁCIO.................................................... 3 SEGUNDO PREFÁCIO .................................................. 6 PRIMEIRA PARTE: INTRODUÇÃO À DOUTRINA DO ESPÍRITO, DA ALMA E DO CORPO 1. Espírito, Alma e Corpo ................................................. 10 2. O Espírito e a Alma ...................................................... 14 3. A Queda do Homem ..................................................... 20 4. A Salvação ..................................................................... 25 SEGUNDA PARTE: A CARNE 5. A Carne e a Salvação.................................................... 32 6. O Crente Carnal .......................................................... 38 7. A Cruz e o Espírito Santo ........................................... 43 8. A Ostentação da Carne ............................................... 49 9. A Atitude Definitiva do Crente Para com a Carne...... 54 TERCEIRA PARTE: A ALMA 10. Libertos do Pecado e da Vida da Alma ..................... 61 11. A Experiência dos Crentes da Alma ......................... 69 12. Os Perigos da Vida da Alma ..................................... 75 13. A Cruz e a Alma ....................................................... 80 14. Os Crentes Espirituais e a Alma ............................... 86 1

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  • NDICE NOTA EXPLICATIVA .................................................... 2

    PRIMEIRO PREFCIO.................................................... 3

    SEGUNDO PREFCIO .................................................. 6

    PRIMEIRA PARTE: INTRODUO DOUTRINA DO

    ESPRITO, DA ALMA E DO CORPO

    1. Esprito, Alma e Corpo................................................. 10 2. O Esprito e a Alma ...................................................... 14 3. A Queda do Homem..................................................... 20 4. A Salvao.....................................................................25

    SEGUNDA PARTE: A CARNE

    5. A Carne e a Salvao.................................................... 32 6. O Crente Carnal.......................................................... 38 7. A Cruz e o Esprito Santo........................................... 43 8. A Ostentao da Carne ............................................... 49 9. A Atitude Definitiva do Crente Para com a Carne...... 54

    TERCEIRA PARTE: A ALMA

    10. Libertos do Pecado e da Vida da Alma..................... 61 11. A Experincia dos Crentes da Alma ......................... 69 12. Os Perigos da Vida da Alma..................................... 75 13. A Cruz e a Alma ....................................................... 80 14. Os Crentes Espirituais e a Alma ............................... 86

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  • NOTA EXPLICATIVA

    O Sr. Watchman Nee tornou-se bastante conhecido atravs de muitos livros, que so transcries de suas mensagens. Alguns provm de conferncias especiais sobre temas especficos. Outros so compilaes de vrias mensagens, proferidas em ocasies diversas e agrupadas por assunto. O Homem Espiritual foi o -nico que ele escreveu de prprio punho. Nos dois pre-fcios que se seguem, o Sr. Nee relata essa experin-cia com riqueza de detalhes. Quando este livro estava para ser impresso pela segunda vez em chins, o Sr. Nee manifestou um sentimento contrrio a isso, te-mendo que, pela forma da abordagem, os leitores o tomassem como simples manual de princpios, e no

    como um guia de experincia crist. Entretanto os fi-lhos de Deus apresentavam uma necessidade urgente de ajuda, tanto no que diz respeito vida espiritual como batalha espiritual. Como nosso irmo sempre foi submisso aos caminhos do Senhor, e desejoso de servir aos filhos de Deus com tudo aquilo que o Se-nhor lhe deu, estamos certos de que ele concordaria com sua publicao em outras lnguas.

    2

    Nosso desejo que os leitores recebam, com ale-gria e orao, essas preciosas verdades, que o Senhor to graciosamente permitiu que chegassem at ns, e que o Esprito Santo nos conduza a toda a verdade, produzindo em ns a to necessria experincia.

    OBSERVAO MUITO IMPORTANTE

    O original em ingls apresenta dois adjetivos, sou-lical e soulish, que no possuem equivalentes em por-tugus. Assim, no tivemos outra alternativa seno usar expresses correlatas, que no contm toda a carga conotativa do original. Por essa razo, essas ex-presses vm sempre acompanhadas de um (*) ou de dois (**) asteriscos, e devem ser entendidas da se-guinte maneira:

    (* - Soulical) - indica qualidades, funes e ex-presses prprias, legtimas e naturais da alma do homem; aquilo que Deus pretendeu, desde o incio, que ela possusse ou manifestasse.

    (** - Soulish) - indica o carter do homem que totalmente governado pela alma, de maneira que todo o seu ser assume as caractersticas e a expresso dela.

  • PRIMEIRO PREFCIO

    - 3 -

    Ao Senhor a quem sirvo apresento minha sincera gratido por ter me concedido o privilgio de es-crever este livro. Esperava que algum mais capaci-tado pudesse realizar esta obra. Todavia foi do a-grado do Senhor coloc-la em minhas mos. Se me fosse dado escolher, seria eu a ltima pessoa a es-crev-la, pois no tenho o menor desejo de faz-lo. Essa relutncia de minha parte no um anseio de me esquivar da obrigao. Ela brota do reconheci-mento de que um livro desse teor, que aborda o caminho da vida espiritual e das estratgias da bata-lha espiritual, certamente se acha alm das possibi-lidades de algum cuja experincia com o Senhor tem menos de dez anos. A Bblia permite ao crente relatar sua experincia, e o Esprito Santo at mes-mo o induz a faz-lo. E ser muito melhor, ainda, que experincias como ser "arrebatado at ao ter-ceiro cu" sejam mencionadas somente depois de "catorze anos". No tenho nenhuma experincia de "terceiro cu". Tampouco recebi grandes revelaes do Senhor. No entanto, pela sua graa, tenho apren-dido a segui-lo nos pequenos detalhes do viver di-rio. Desse modo, meu propsito nesta obra apenas comunicar aos filhos de Deus aquilo que ao longo dos anos tenho recebido.

    Foi h mais ou menos quatro anos que me senti chamado a escrever este livro. Naquela ocasio, es-tava descansando, por motivo de fraqueza fsica, numa pequena cabana perto do rio, orando e lendo a Palavra. Senti que havia uma necessidade urgente de um livro, baseado na Palavra e na experincia crist, que desse aos filhos de Deus um entendi-mento claro da vida espiritual. Precisvamos de um livro que o Esprito Santo pudesse usar para ajudar os crentes a prosseguirem na sua caminhada, sem ficar tateando nas trevas. Ento entendi que o Se-nhor estava me comissionando para realizar essa ta-refa. Comecei a preparar os captulos que tratam da distino entre esprito, alma e corpo, um captulo sobre o corpo, e tambm a primeira parte do captu-lo que trata da vida da alma. Entretanto, pouco de-pois, parei de escrever. Alm desse trabalho, outras atividades exigiam meu tempo. Contudo esse no era o principal empecilho, pois tinha tempo para es-crever. O principal motivo para a interrupo foi que, at essa ocasio, ainda no havia comprovado experimentalmente muitas das verdades sobre as quais eu deveria escrever. Reconhecia que essa fa-lha iria diminuir o valor da obra bem como o poder dela. Preferi esperar para aprender mais, diante do

    Senhor, e viver suas verdades na prtica. Assim, o que eu escrevesse seriam realidades espirituais, no meras teorias. Ento suspendi o trabalho por trs anos.

    Posso afirmar, porm, que durante todo esse tempo este livro estava diariamente em meu cora-o. Embora alguns talvez achassem que sua publi-cao j estava atrasada, percebi claramente a mo do Senhor nisso. Nesses poucos anos, vimos as verdades contidas neste livro, principalmente as do ltimo volume, libertando muitas vidas do poder das trevas, comprovando que havamos descoberto realidades espirituais. A graa especial do Senhor capacitou-me a entender mais do propsito da re-deno divina, que separar a nova criatura da ve-lha. Louvo a Deus por isso. Ele me concedeu tam-bm a oportunidade de conhecer, durante minhas viagens, muitos dos seus mais diletos servos. Com isso pude aumentar minhas observaes, meu co-nhecimento e minha experincia. No contato com as pessoas, o Senhor me mostrou, no apenas o que verdadeiramente est faltando entre seus filhos, mas tambm a soluo revelada na sua Palavra. Portanto quero dizer aos leitores que este livro um guia so-bre a vida espiritual, cujos ensinos podem ser com-provados experimentalmente.

    Devido experincia especial que passei em meu corpo durante esses ltimos anos, foi-me dado conhecer mais sobre a realidade da eternidade, bem como sobre a grande dvida que tenho para com a igreja de Deus. Desse modo, eu esperava poder concluir este livro dentro de um curto perodo de tempo. Graas a Deus, o Pai, e a alguns dos meus amigos no Senhor, consegui um lugar tranqilo pa-ra descansar e escrever. Com poucos meses, pude terminar da primeira quarta parte. Embora ainda no tenha iniciado as outras, tenho certeza de que, em tempo oportuno, Deus, o Pai, me conceder a graa necessria.

    Este volume est para ser publicado em breve; os outros logo o seguiro. Permita-me ento falar francamente. No foi fcil aprender as verdades contidas neste livro. E escrev-las foi mais difcil ainda. Posso dizer que, durante dois meses, vivi di-ariamente nas mandbulas de Satans. Que batalha! Que oposio! Tive de lanar mo de todos os po-deres do esprito, da alma e do corpo para lutar con-tra o inferno. No momento, tais batalhas se acham temporariamente suspensas, mas ainda tenho de es-

  • crever as outras partes. Aqueles que so como Moi-ss no monte, por favor, no se esqueam do Josu que est lutando na plancie. Sei que o inimigo o-deia esta obra profundamente. Ele vai usar todos os meios para impedir que ela chegue s mos dos lei-tores, para que no a leiam. No permitamos que nosso adversrio tenha sucesso nisso.

    - 4 -

    Este livro, a ser publicado em trs volumes, no escrito em forma de sermo, nem de forma expo-sitiva. Como os leitores ho de observar, tratei al-guns assuntos de maneira mais extensa que outros. Todos os volumes tratam de vida espiritual e da ba-talha espiritual Contudo, em algumas partes, enfati-zamos mais a vida espiritual; e em outras, a batalha espiritual. O livro, como um todo, tem por objetivo oferecer orientao espiritual. Desse modo, nossa maior preocupao ensinar a andar nesse cami-nho, e no persuadir as pessoas a entrarem nele. Nossa meta no tanto levar OS indivduos a bus-carem o caminho espiritual, mas ajudar os que j esto procurando conhec-lo. Que todos aqueles, cujo corao se acha voltado para o Senhor, possam encontrar auxlio nestas pginas.

    Sabemos perfeitamente que os leitores deste li-vro podem estar cm nveis espirituais bem diferen-tes. Assim, se algum encontrar pontos difceis de entender, por favor, no os rejeite de todo, nem ten-te compreend-los com a mente. Deixe para estudar tais verdades numa fase mais madura. Relendo essa parte difcil mais tarde (digamos, umas duas se-manas, ou um ms depois), talvez possa compreen-d-la melhor. No obstante, em todo este livro, fo-calizamos a vida espiritual como uma experincia. No se pode entend-la de nenhuma outra forma. O que no incio parece no ter sabor, mais adiante po-de tornar-se mais precioso. Quando o leitor alcan-ar esse estgio, ento compreender. Mas ser que teremos de esperar alcan-lo para s depois enten-der? Sendo assim, qual a utilidade deste livro? Um grande mistrio cerca a experincia espiritual do crente. O Senhor nos concede sempre o antego-zo de uma vida mais profunda j no momento em que a vislumbramos, antes de a gozarmos comple-tamente. Muitos confundem o antegozo com a ple-nitude, no percebendo que Deus est apenas co-meando a gui-los posse dessa vida. O que ensi-namos neste livro satisfaz s necessidades daqueles que j a provaram, mas ainda no beberam dela plenamente.

    Uma prtica devemos evitar: usar o conhecimen-to adquirido neste livro como auxlio para efetuar-mos uma auto-analise. Se na luz de Deus vemos a luz, ento conheceremos a ns mesmos sem perder a liberdade que temos no Senhor. No entanto, se passarmos o tempo lodo nos analisando, dissecando nossos pensamentos e sentimentos, no poderemos

    descansar em Cristo de modo completo. Somente poderemos ter um verdadeiro conhecimento de ns mesmos se formos profundamente instrudos pelo Senhor. A introspeco e a busca do autoconheci-mento so prejudiciais vida espiritual.

    Ser muito proveitoso meditar sobre o plano re-dentor de Deus. O propsito divino que, atravs da nova vida, que recebemos por ocasio da regene-rao, o Senhor possa nos livrar do pecado, do na-tural e do sobrenatural, isto , do poder satnico do mal, no plano invisvel. Precisamos ser libertos desses trs fatores. No podemos omitir nenhum deles. Se um cristo limitar a obra redentora de Deus, contentando-se apenas em vencer o pecado, por exemplo, ficar aqum do propsito de Deus. Temos de vencer a vida natural (o bom ego) da mesma maneira que precisamos derrotar o inimigo sobrenatural. Obviamente muito bom vencer o pecado, mas, se no subjugarmos o ego mesquinho e o mal sobrenatural, a obra no estar completa. A cruz pode nos conceder essa vitria. Espero, pela graa de Deus, poder enfatizar esses pontos, me-dida que avanarmos.

    Com exceo da parte final do ltimo volume, em que vamos focalizar o corpo, este livro pode ser considerado um tratado de psicologia bblica. Tudo aqui est baseado na Bblia e comprovado atravs da experincia espiritual. Descobrimos, tanto pelo estudo da Palavra, como pelo viver, que a toda ex-perincia espiritual (como o novo nascimento, por exemplo) corresponde uma mudana em nosso ho-mem interior. Conclumos que a Bblia divide o homem em esprito, alma e corpo. Mais adiante ve-remos como esses trs elementos diferem no que diz respeito s suas funes e esfera de atuao, particularmente o esprito e a alma. A propsito disso, precisamos dizer algumas palavras referentes primeira parte deste primeiro volume. Aqueles que buscam crescer na vida espiritual precisam a-prender a distinguir entre esprito e alma, e entre suas funes. S depois de sabermos o que o esp-rito e o que espiritual, que poderemos andar em esprito. A carncia desses ensinamentos muito grande, por isso procurei dar uma explicao deta-lhada do assunto. Os crentes que possuem alguma experincia no vo achar nenhuma dificuldade nesta primeira parte. Aqueles que no esto familia-rizados com esse estudo precisam reter apenas as concluses, podendo, em seguida, passar segunda. Na primeira parte, no tratamos especificamente da vida espiritual. S fornecemos alguns conhecimen-tos bsicos, que so necessrios a ela. Voltando a esta parte, depois de concluir a leitura deste livro, o leitor ir compreend-la melhor.

    No sou o primeiro a ensinar a distino entre alma e esprito. Andrew Murray disse certa vez que

  • o que a igreja e os indivduos devem temer uma atividade desordenada da alma, com o poder que ela possui, devido mente e vontade. F. B. Meyer declarou que, se no tivesse aprendido a distinguir o esprito da alma, no sabia como teria sido sua vida espiritual. Muitos outros, como Otto Stochma-yer, Jessic Penn-Lewis, Evan Roberts e Madame Guyon, deram o mesmo testemunho. Fiz muitas ci-taes dos escritos deles, pois todos recebemos a mesma comisso do Senhor; desse modo, resolvi no anotar as referncias a eles.1

    - 5 -

    Escrevemos este livro no somente para crentes como esses, mas tambm para aqueles que so mais novos do que eu no servio do Senhor. Ns, que somos responsveis pela vida espiritual de outros, devemos saber de onde os estamos tirando e para onde os estamos conduzindo. Ser que o Senhor quer apenas que ajudemos as pessoas a se livrarem do pecado e a se tornarem mais fiis? Ou ser que existe algo mais profundo? Eu, pessoalmente, acho que a Bblia j deu a resposta definitiva. O propsi-to de Deus que seus filhos sejam totalmente liber-tos da velha criatura e assumam plenamente a nova. No importa o que a velha criatura possa parecer ao homem, ela se acha inapelavelmente condenada por Deus. Se ns, obreiros, soubermos o que precisa ser destrudo e o que deve ser edificado, no estaremos como cegos guiando cegos.

    O ponto de partida de toda vida espiritual o novo nascimento, o recebimento da prpria vida de Deus. Se a finalidade de nosso estudo, de toda a nossa exortao, de toda nossa persuaso, de nossa argumentao, nossa explanao, for apenas um sentimento, um entendimento intelectual e uma de-terminao da vontade, tudo ser intil. Isso no a-juda ningum a receber a vida de Deus em seu esp-rito. Ns, que somos responsveis pela pregao do evangelho, precisamos fazer com que as pessoas recebam a vida de Deus no fundo do seu ser. Se no receberem, no teremos realizado nada de proveito-so. Se verdadeiramente entendermos bem esse fato, ocorrer uma mudana drstica em nosso trabalho. Na verdade, com tal conhecimento, iremos reco-nhecer que muitos que professam crer no Senhor

    Jesus realmente nunca o fizeram. As lgrimas, as oraes, as mudanas, o zelo e o trabalho no so as caractersticas genunas de um cristo. Felizes de ns, se compreendermos que nossa responsabilida-de levar o homem a receber a vida no-criada de Deus!

    Quando me lembro de como o inimigo tentou impedir-me de aprender as verdades que apresento no ltimo volume, sinto-me receoso de que ele ve-nha a impedir alguns de ler este livro. Temo ainda que, se chegarem a l-lo, talvez venham a se esque-cer dele em pouco tempo. Por isso, quero fazer uma advertncia ao leitor: Amigo, pea a Deus que no permita que Satans o impea de l-lo. Leia-o em esprito de orao; transforme em orao tudo o que ler. Ore para que Deus o cubra com o capacete da salvao, para que no se esquea do que leu, ou no se limite a encher a mente de um grande nme-ro de teorias.

    Precisamos dizer algumas palavras tambm -queles que j esto de posse das verdades apresen-tadas nas pginas que se seguem. Se Deus, pela sua graa, o tem livrado da carne e do poder das trevas, voc, por sua vez, deve levar essas verdades a ou-tros. Portanto, depois de digerir o livro completa-mente, apropriando-se de seus ensinamentos, deve-r reunir alguns crentes e ensinar-lhes essas verda-des. Se o livro todo for demais, j ser bom ensinar uma ou duas partes. Esperamos que as verdades aqui contidas no passem despercebidas. Ser mui-to proveitoso at mesmo emprestar o livro a outros para que o leiam.

    Agora este pequeno tratado est nas mos do Senhor. Se for da vontade dele, possa ele abeno-lo para o meu crescimento e minha vitria espiritu-al, bem como de muitos dos meus irmos. Que a vontade de Deus seja feita. Que o inimigo seja der-rotado. Que o Senhor Jesus possa voltar logo para reinar. Amm.

    Shanghai

    4 de junho de 1927

    Watchman Nee

  • SEGUNDO PREFCIO

    - 6 -

    Sinto-me muito feliz hoje porque completei a l-tima parte do livro. Recordo que, quando escrevi o primeiro prefcio, eu havia concludo apenas as pri-meiras quatro partes. Terminadas essas ltimas seis, percebo que ainda tenho muito para compartilhar com os leitores. Da, este segundo prefcio.

    Muitos meses se passaram desde que comecei a escrever esta poro final do livro. Verdadeiramen-te posso dizer que, durante esse perodo, tenho sen-tido o encargo desta obra todos os dias. natural que o inimigo odeie a divulgao da verdade de Deus. Em conseqncia, ele tem me atacado inces-santemente. Devo render graas ao Senhor porque at agora a sua graa me tem sustentado. Muitas vezes cheguei a pensar que seria impossvel conti-nuar escrevendo, porque a presso sobre meu esp-rito era muito forte e a resistncia do meu corpo, por demais pequena. Na verdade, cheguei a perder a esperana da prpria vida. Entretanto, sempre que o desespero me atingia, eu era fortalecido pelo Deus a quem sirvo, segundo suas promessas e com a ajuda das oraes de muitos. Ao ver, agora, a ta-refa concluda, sinto-me aliviado do encargo. Que conforto posso experimentar neste momento!

    Hoje, reverentemente, ofereo este livro ao nos-so Deus. Ele concluiu aquilo que comeou. Por is-so, minha orao que o Senhor possa abenoar es-tas pginas, de modo que cumpram, na igreja, a misso designada por ele. Peo a Deus que abenoe cada leitor, fazendo com que encontre seus retos caminhos e siga o Senhor de modo perfeito. Meu esprito e minha orao, daqui por diante, acompa-nham esta obra. Que Deus possa us-la segundo a sua excelente vontade.

    Irmos, no recomendvel que um escritor demonstre demasiado entusiasmo pela prpria obra. Contudo agora vou pr de lado essa formalidade humana. Fao isso no por ser o autor do livro, mas por causa do depsito de verdade que h nele. Se outro o tivesse escrito, eu me sentiria ainda mais li-vre para conclamar todos a l-lo. Portanto devo pe-dir desculpas por tomar meu partido. Sei da impor-tncia das verdades aqui contidas e, de acordo com o conhecimento que tenho da vontade de Deus, sin-to que elas iro suprir a necessidades prementes do ser humano em nossos dias. Mesmo que eu esteja errado em outras questes, de uma estou certo: eu no tinha a menor inteno de realizar essa tarefa. S escrevi este livro porque o Senhor me ordenou

    isso. As verdades nele contidas no so minhas; fo-ram-me dadas por Deus. Ainda quando eu estava escrevendo, ele me agraciou com muitas bnos novas.

    Fao questo de que os leitores entendam perfei-tamente que esta obra no deve, de modo nenhum, ser considerada um tratado terico sobre a vida es-piritual e a batalha espiritual. Eu mesmo posso tes-temunhar que aprendi essas verdades atravs de muito sofrimento, ensaios e erros. Creio que posso dizer que cada um dos ensinos aqui registrados foi marcado com fogo. E no digo essas palavras de maneira leviana, no; elas procedem do fundo do meu corao. Deus sabe de onde provm essas ver-dades.

    Ao compor estes volumes, no tive a preocupa-o de agrupar os princpios similares, relacionados entre si. Simplesmente os fui mencionando medi-da que a necessidade ia surgindo. Devido extrema importncia de algumas verdades, posso t-las mencionado repetidas vezes, esperando que, dessa forma, os filhos de Deus as fixem melhor. Somente pela repetio se retm a verdade, e s pela reviso se consegue aprend-la. "Assim, pois, a palavra do Senhor lhes ser preceito sobre preceito, preceito e mais preceito; regra sobre regra, regra e mais regra; um pouco aqui, um pouco ali." (Is 28.13.)

    Reconheo que existem diversas aparentes inco-erncias nesta obra. Entretanto o leitor deve lem-brar-se de que na verdade elas so apenas aparen-tes, no reais. Pelo fato de este livro tratar de assun-tos do reino espiritual, certamente haver muitas contradies tericas aparentes. As questes espiri-tuais freqentemente parecem contraditrias (2 Co 4.8,9). Entretanto todas elas encontram perfeita harmonia na experincia crist. Por isso, embora haja pontos que parecem difceis de entender, peo que o leitor se esforce ao mximo para compreen-d-los. Se algum quiser distorcer esses ensinamen-tos, sem dvida poder "ler" nestas pginas concei-tos que no pretendi dizer.

    Estou plenamente convicto de que s um tipo de pessoa ir realmente entender este livro. Meu pro-psito original era o de atender s necessidades es-pirituais de muitos crentes. que, obviamente, s os que tm necessidade estaro em condies de apreci-lo. Estes encontraro aqui um roteiro. Os demais, ou vero estas verdades como meros ideais, ou as criticaro julgando-as erradas. Cada crente

  • - 7 -

    entender o que aqui est escrito de acordo com a medida de sua necessidade. Aquele que no tiver necessidades pessoais no encontrar nenhuma so-luo para seus problemas na leitura destas pginas. disso que o leitor deve se acautelar.

    Quanto mais profunda a verdade, mais facilmen-te ela se transforma em teoria. Sem a operao do Esprito Santo, ningum pode entender as verdades mais profundas. Par isso, alguns vo enxergar estes princpios como uma espcie de ideal. Sejamos cuidadosos, portanto, para que no venhamos a a-ceitar os ensinamentos deste livro apenas com a mente, e nos enganar a ns mesmos achando que assim j os possumos. Isso por demais perigoso, pois o engano que vem da carne e do maligno cres-cer a cada dia.

    O leitor deve estar vigilante, tambm, para no utilizar mal o conhecimento obtido nestas pginas, criticando os outros. muito fcil passarmos a di-zer que isto do esprito e aquilo, da carne. Ser que no sabemos que ns mesmos no constitumos exceo? Deus nos concede a verdade para nos li-bertar, e no para apontarmos os erros de outros. Ao criticar, provamos que no somos nem um pou-quinho menos carnais nem vivemos menos pela alma do que aqueles a quem criticamos. O perigo muito srio; por isso precisamos exercitar muita cautela.

    No primeiro prefcio, mencionei um assunto que preciso repetir e ampliar mais aqui. da maior im-portncia que no tentemos nunca analisar a ns mesmos. Aps lermos um tratado como este, po-demos, inconscientemente, exagerar na auto-analise. Observando a condio da nossa vida inte-rior, tendemos a analisar demais nossos pensamen-tos e sentimentos e as mudanas que se passam em nosso interior. Isso pode resultar em aparente cres-cimento espiritual. Na realidade, porm, s serve para dificultar a soluo do problema da vida ego-cntrica. Se persistentemente nos voltarmos para dentro de ns mesmos, perderemos completamente a paz, pois logo descobriremos a diferena entre o que queremos ser e aquilo que realmente somos. Esperamos ser cheios de santidade, mas descobri-mos a ausncia dela. Isso nos deixa insatisfeitos. Deus nunca pede para sermos introspectivos. A in-trospeco constitui uma das principais causas da estagnao espiritual. Nosso descanso est em olhar para o Senhor, e no para ns mesmos. Na propor-o em que olhamos para ele, vamos sendo libertos do ego. Descansamos na obra consumada pelo Se-nhor Jesus Cristo, e no na nossa experincia que inconstante. A vida espiritual verdadeira no se ba-seia em sondarmos nossos sentimentos e pensamen-tos desde o amanhecer at ao anoitecer, mas no o-lharmos "firmemente" para o Salvador!

    Meu desejo que nenhum leitor se engane, pen-sando que deve resistir a todo acontecimento so-brenatural. Meu propsito simplesmente chamar a ateno para a necessidade de provarmos se o even-to sobrenatural de Deus ou no. Sinceramente creio que muitas experincias sobrenaturais vm de Deus; tenho testemunhado grande nmero delas. Entretanto devo reconhecer que vrios fenmenos sobrenaturais, hoje, so falsos e enganosos. No te-nho a menor inteno de persuadir ningum a rejei-tar tudo que sobrenatural. Neste livro, simples-mente quero ressaltar as diferenas bsicas entre es-ses dois tipos de manifestao. Quando um crente se defronta com um fenmeno sobrenatural qual-quer, deve examin-lo cuidadosamente, conforme os princpios revelados na Bblia, antes de decidir se o aceitar ou rejeitar.

    Quanto questo da alma, percebo que muitos cristos oscilam de um extremo ao outro. Por um lado, costumamos achar que as emoes so prove-nientes da alma (**). Por isso, comum dizermos que aqueles que se movem ou se entusiasmam com facilidade agem guiados pela alma (**). Por outro lado, esquecemo-nos de que o fato de algum ser racional no o torna espiritual. Devemos evitar o erro de espiritualizar uma vida racional, assim co-mo temos de nos precaver para no achar que uma vida predominantemente emotiva espiritual. Indo um pouco mais adiante, jamais devemos reduzir as funes da nossa alma a uma inatividade mortal. possvel que nunca tenhamos olhado com preocu-pao os sentimentos e o entusiasmo de nossa alma, e por isso temos andado segundo eles. Mais tarde, porm, reconhecendo esse erro, reprimimos todas essas emoes. Tal atitude pode parecer correta, mas no nos tornar nem um pouquinho mais espi-rituais. Tenho certeza de que, se o leitor tiver qual-quer dvida acerca disso, ainda que insignificante, sua vida se tornar "morta". Por que isso? Porque seu esprito, sem nenhuma oportunidade de se ex-pressar, estar aprisionado por uma emoo amor-tecida. Alm disso, h ainda um perigo: o crente que reprimir demasiadamente as emoes, torna-se um ser racional, mas, no, espiritual. Desse modo, ele continua sendo guiado pela alma (**), embora a forma agora seja outra. Se, porm, o entusiasmo da alma expressa o sentimento do esprito, extrema-mente vlido. E se ele exprime a mente do esprito, pode ser bastante instrutivo.

    Gostaria de dizer algo sobre a parte final do li-vro. Considerando a fragilidade do meu corpo, de-vo ser a pessoa menos qualificada para escrever so-bre tal assunto. Por outro lado, possvel que essa minha fragilidade me proporcione uma percepo mais profunda, uma vez que sofro mais fraqueza, doena e dor que a maioria das pessoas. Por diver-sas vezes, minha coragem pareceu falhar, mas,

  • graas a Deus, pude concluir essa parte. Espero que aqueles que tm tido experincias semelhantes em seu "tabernculo terreno" possam aceitar o que es-crevi como uma luz proveniente das trevas pelas quais passei. Naturalmente as controvrsias a res-peito da cura divina so inmeras. Uma vez que es-te livro trata basicamente de princpios, abstenho-me de discutir com outros crentes acerca de deta-lhes. Neste livro, digo o que senti que eu deveria dizer, aquilo que Deus me inspirou a dizer. No to-cante a doenas, peo aos leitores que procurem distinguir aquilo que vem de Deus e o que vem do ego.

    - 8 -

    Confesso que h muitas partes incompletas nesta obra. Contudo fiz o melhor que pude, e ofereo este melhor ao leitor. Conhecendo a seriedade da men-sagem, pedi ao Senhor, com temor e tremor, para me guiar ao longo de todo o processo. Aquilo que escrevi apresento conscincia dos filhos de Deus, para que possam avaliar.

    Reconheo que uma obra que busca descobrir as sutilezas do inimigo certamente atrair a hostilidade do poder das trevas bem como a oposio de mui-tos. No escrevi com o propsito de obter a aprova-o dos homens. Portanto considero essa oposio como de nenhuma importncia. Reconheo tambm que, se os filhos de Deus tirarem proveito da leitura deste livro, podero pensar a meu respeito mais do que devem. Permitam-me falar com toda sin-ceridade. Sou apenas um homem, o mais fraco den-

    tre eles. Os ensinos contidos nestas pginas revelam as experincias das minhas fraquezas.

    Agora o livro est nas mos dos leitores. Isso se deve unicamente graa de Deus. Caso o leitor te-nha coragem e perseverana para ler a primeira par-te e ir at o fim, talvez Deus o abenoe, revelando-lhe sua verdade. Quando terminar de ler toda a o-bra, quero rogar-lhe que, depois de algum tempo, a leia novamente. Amados, mais uma vez voltemos o corao para nosso Pai, lancemo-nos em seus bra-os pela f, buscando nele sua vida. Confessemos mais uma vez que somos pobres, mas ele rico; que no temos nada, mas ele tem ludo. Se no nos tornamos participantes da graa divina, no passa-mos de pecadores perdidos. Possamos ns louv-lo com o corao agradecido, pois o Senhor Jesus nos conferiu graa.

    Pai Santo, aquilo que me confiaste est agora neste livro. Se te parecer bem, abenoa-o. Que tu possas, nestes ltimos dias, guardar teus filhos da carne corrupta e dos espritos malignos! Pai, que possas edificar o corpo do teu Filho, destruir o ini-migo do teu Filho, e apressar a vinda do reino do teu Filho! Deus Pai, estou olhando para ti, sobre ti lano meu ser, e anelo por ti!

    Shanghai,

    25 de junho de 1928

    Watchman Nee

  • PRIMEIRA PARTE

    INTRODUO DOUTRINA DO

    ESPRITO, DA ALMA E DO CORPO

    9

  • 10

    De acordo com o entendimento generalizado, os seres humanos apresentam uma constituio dualsti-ca: alma e corpo. Essa concepo estabelece que a alma a parte espiritual, invisvel, interior; enquanto o corpo a parte corprea, visvel, exterior. H algu-ma verdade nisso, entretanto no se trata de um con-ceito preciso. Tal opinio procede do homem decado, no de Deus. E qualquer conceito que no vem da re-velao divina no digno de crdito.

    E claro que o corpo o revestimento exterior do homem. No h dvida disso. Contudo a Bblia ja-mais confunde esprito e alma. Ela no os apresenta como elementos idnticos. So conceitos diferentes, e tm naturezas diversas, tambm. A Palavra de Deus no ensina que o homem possui duas partes, alma e corpo. Antes, mostra-o como um ser de trs partes: esprito, alma e corpo. o que lemos em 1 Tessaloni-censes 5.23: "O mesmo Deus da paz vos santifique em tudo; e o vosso esprito, alma e corpo sejam con-servados ntegros e irrepreensveis na vinda de nosso Senhor Jesus Cristo". Esse versculo mostra de modo preciso que o homem dividido em trs partes. O a-pstolo Paulo se refere aqui santificao completa do crente, dizendo "vos santifique em tudo". Ento, de acordo com o apostolo, como que uma pessoa santificada em tudo? Pela conservao do seu espri-to, da sua alma, e do seu corpo. Por isso podemos en-tender facilmente que somos constitudos dessas trs partes. Esse versculo faz tambm uma distino entre o esprito e a alma. Se assim no fosse, Paulo teria di-to simplesmente "vossa alma". Deus fez distino en-tre o esprito e a alma humana. Conclumos ento que o homem constitudo no de duas, mas de trs par-tes: esprito, alma e corpo.

    Ser que importante considerar a existncia de esprito e alma como duas entidades distintas? uma questo de importncia suprema, pois afeta grande-mente nossa vida espiritual. Como que um crente poder entender a vida espiritual, se no souber qual a extenso da esfera do esprito? Sem essa compreen-so, como que ele poder crescer espiritualmente? Se no fizermos distino entre o esprito e a alma,

    no chegaremos maturidade espiritual. Os cristos muitas vezes vem os aspectos da alma (*) como sen-do espirituais. Por isso deixam-se orientar pela alma (**), no buscando o que realmente espiritual. Cer-tamente teremos prejuzo se acharmos que esses ele-mentos que Deus separou so um s.

    O conhecimento espiritual muito importante para a vida espiritual. Entretanto to importante quanto is-so (se no mais) que o crente seja humilde e esteja desejoso de aceitar o ensino do Esprito Santo. O Es-prito conceder, a quem satisfizer essa condio, a bno de experimentar na prtica a diviso entre es-prito e alma, mesmo que o conhecimento desse cren-te nessa rea seja limitado. certo que todo cristo, at o que no tem a menor idia dessa doutrina, pode conhec-la por experincia. E certo, tambm, que o crente mais instrudo, inteiramente versado nessa ver-dade, pode no t-la experimentado. O ideal que de-tenhamos tanto o conhecimento como a experincia. A maioria, porm, carece da experincia. Portanto, no incio, bom conduzir os mais novos ao conhecimen-to das diversas funes do esprito e da alma, para de-pois incentiv-los a buscar o que espiritual.

    Existem outros textos das Escrituras que fazem a mesma distino entre esprito e alma. "Porque a pa-lavra de Deus viva, e eficaz, e mais cortante do que qualquer espada de dois gumes, e penetra at ao ponto de dividir alma e esprito, juntas e medulas, e apta para discernir os pensamentos e propsitos do cora-o." (Hb 4.12 - grifo do autor.) Nesse versculo, o escritor divide os elementos no-corpreos do homem em dois: "alma e esprito". A parte corprea aqui so as juntas e medulas - rgos do movimento e dos sen-tidos. Quando o sacerdote usava a espada para cortar e dividir completamente as partes do animal imolado, nada no interior podia ficar escondido. Havia separa-o at entre juntas e medulas. Da mesma forma, o Senhor Jesus aplica a Palavra de Deus ao seu povo para separar tudo, para penetrar at a diviso do esp-rito, da alma (*) e do corpo. A alma e o esprito po-dem ser divididos; logo, possuem naturezas diferen-tes. Desse modo, torna-se evidente que o homem constitudo de trs partes.

  • A CRIAO DO HOMEM

    11

    "Ento, formou o Senhor Deus ao homem do p da terra e lhe soprou nas narinas o flego de vida, e o homem passou a ser alma vivente." (Gn 2.7.) No in-cio, Deus criou o homem, formando-o do p da terra. Depois soprou "o flego de vida" em suas narinas. To logo o flego de vida, que se tornou o esprito do homem, entrou em contato com o corpo, a alma foi gerada. Portanto a alma resultado da unio do corpo com o esprito. E por isso que as Escrituras chamam o homem de "alma vivente". O flego de vida tornou-se o esprito do homem, que o princpio de vida que h nele. O Senhor Jesus diz que "o esprito o que vivi-fica" (Jo 6.63). Esse flego de vida vem do Senhor da criao.

    Todavia no devemos confundir o esprito do ho-mem com o Esprito Santo de Deus. Este ltimo di-ferente do esprito humano. Podemos ver essa dife-rena em Romanos 8.16, que declara que o "Esprito testifica com o nosso esprito que somos filhos de Deus" (grifo do autor). O termo original traduzido como "vida" na expresso "flego de vida" chay, e est no plural. Isso pode estar indicando que o sopro de Deus produziu uma vida dupla: a vida da alma (*) e a do esprito. Quando o sopro de Deus entrou no corpo do homem, tornou-se o esprito do homem. As-sim que o esprito interagiu com o corpo, a alma pas-sou a existir. Essa a origem da vida do esprito e da alma (*). Precisamos reconhecer, porm, que esse es-prito no a prpria vida de Deus, pois "o sopro do Todo-Poderoso me d vida" (J 33.4). Tambm no se trata da vida eterna de Deus, nem tampouco da vi-da de Deus que receberemos por ocasio da regenera-o. Essa vida, a que recebemos no novo nascimento, a prpria vida de Deus tipificada pela rvore da vi-da. Nosso esprito, embora existindo permanentemen-te, destitudo da "vida eterna".

    A expresso "formou ao homem do p da terra" re-fere-se ao corpo do homem. A frase "e lhe soprou nas narinas o flego de vida" fala do esprito do homem, que veio de Deus. "E o homem passou a ser alma vi-vente" relata a criao da alma do homem, quando o corpo foi vivificado pelo esprito e ele se tornou um ser vivo e consciente de si. O homem completo uma trindade. E composto de esprito, alma e corpo. De acordo com Gnesis 2.7, ele foi feito de apenas dois elementos independentes: o corpreo e o espiritual. Contudo, quando Deus soprou o esprito dentro da-quela estrutura de terra, a alma foi gerada. O esprito do homem, em contato com o corpo inanimado, gerou a alma. O corpo separado do esprito estava morto; com o esprito, porm, o homem passou a viver. O e-lemento constituinte que resultou disso foi chamado de "alma".

    A frase "e o homem passou a ser alma vivente" no expressa apenas o fato de que a combinao do

    esprito com o corpo produziu a alma. Indica, tam-bm, que o esprito e o corpo estavam completamente fundidos nessa alma. Em outras palavras, a alma e o corpo estavam juntos com o esprito, e o esprito e o corpo, fundidos na alma. "Em seu estado anterior queda, Ado nada sabia dessas incessantes lutas entre esprito e carne, que, para ns, so experincias di-rias. Suas trs naturezas se uniam perfeitamente, for-mando uma s. A alma, como fator de unidade, tor-nou-se a base de sua individualidade, de sua existn-cia como ser distinto." (Pember's Earth's Earliest A-ge.) O homem foi denominado "alma vivente" porque era nesta que o esprito e o corpo se encontravam, e nela tambm se manifestava sua individualidade. Tal-vez possamos usar uma ilustrao, ainda que imper-feita. Se derramarmos um pouco de tintura num copo d'gua, os dois elementos vo se misturar, formando algo diferente, a tinta de escrever. Da mesma forma, esprito e corpo, dois elementos independentes, unem-se tornando-se alma vivente. (A analogia no perfei-ta porque a alma, gerada pela combinao do esprito com o corpo, torna-se um elemento independente e indissolvel, tanto quanto o esprito e o corpo.)

    Deus dispensou um tratamento todo especial al-ma do homem. Os anjos foram criados como seres espirituais; o ser humano, predominantemente como alma vivente. O homem, alm de ter corpo, possua tambm o flego da vida. Por isso tornou-se alma vi-vente tambm. Assim que, nas Escrituras, Deus fre-qentemente se refere aos homens como "almas". E por que isso? Porque aquilo que o homem depende de como sua alma. Esta o representa e expressa sua individualidade. a sede do livre-arbtrio do homem, o lugar onde o esprito e o corpo se unem de maneira perfeita. Se a alma do homem quiser obedecer a Deus, permitir que o esprito o governe, conforme ordenado por Deus. Se ela preferir, poder, tambm, na condio de dominadora do homem, reprimir o es-prito e deleitar-se fora do Senhor. Esta trindade, esp-rito, alma e corpo, pode ser ilustrada, ainda que de modo imperfeito, por meio de uma lmpada eltrica. Dentro da lmpada, que representa o homem total, e-xistem a eletricidade, a luz e o filamento. O esprito seria a eletricidade; a alma, a luz; e o corpo, o fila-mento. A eletricidade a causa da luz, e a luz o e-feito da eletricidade. O filamento o elemento mate-rial que conduz a eletricidade e tambm manifesta a luz. A combinao do esprito com o corpo produz a alma, aquilo que singular no homem. A eletricidade, conduzida pelo filamento, manifesta-se atravs da luz; do mesmo modo o esprito atua sobre a alma que, por sua vez, expressa a si mesma atravs do corpo.

    Existe, porm, uma verdade que deve estar bem presente em nossa lembrana. Na vida atual, a alma o ponto de convergncia dos elementos constitutivos do nosso ser. Em nosso estado ressurreto, porm, o esprito ser o poder governante. Isso porque a B-

  • blia diz que "semeia-se corpo natural, ressuscita corpo espiritual" (1 Co 15.44). Todavia eis aqui um ponto vital: ns, que fomos unidos ao Senhor ressurreto, podemos, j no presente, ter nosso esprito governan-do todo o nosso ser. No estamos unidos ao primeiro Ado, feito alma vivente, mas ao ltimo, que espri-to vivificante (v. 45).

    12

    FUNES CARACTERSTICAS DO ESPRITO, DA ALMA E DO CORPO

    atravs do corpo fsico que o homem entra em contato com o mundo material. Portanto podemos de-fini-lo como o elemento que nos possibilita ter cons-cincia do mundo. A alma compreende o intelecto (que nos ajuda na presente existncia) e as emoes (que procedem dos sentidos). A alma pertence ao prprio ego do homem e revela sua personalidade, por isso denominada de autoconscincia. atravs do esprito que temos comunho com Deus e somente por ele podemos compreend-lo e ador-lo. Por isso se diz que ele o elemento que nos confere conscin-cia de Deus. Deus habita no esprito; o eu, na alma; e os sentidos, no corpo.

    Conforme j dissemos, a alma o ponto de con-vergncia do esprito e do corpo; nela que eles se unem. Por meio do seu esprito, o homem se relaciona com o mundo espiritual e com o Esprito de Deus, re-cebendo e tambm expressando o poder e a vida do reino espiritual. Atravs do corpo, o homem entra em contato com o mundo exterior dos sentidos, influenci-ando-o e sendo influenciado por ele. A alma perma-nece entre esses dois mundos e pertence a ambos. Es-t ligada ao mundo espiritual, atravs do esprito, e ao material, por meio do corpo. Ela possui tambm o poder do livre-arbtrio, por isso capaz de tomar de-cises relacionadas com o meio em que se encontra. O esprito no pode atuar diretamente sobre o corpo. Precisa de um intermedirio, a alma que, por sua vez, gerada pelo contato do esprito com o corpo. Por-tanto a alma fica entre o esprito e o corpo, unindo-os. Por intermdio da alma, o esprito pode subjugar o corpo, para que obedea a Deus. Da mesma forma, o corpo, atravs da alma, pode levar o esprito a ter a-mor pelo mundo.

    Desses trs elementos, o esprito o mais nobre porque se une com Deus. O corpo o inferior, pois est em contato com a matria. Situada entre eles, a alma os une e recebe o carter de ambos, como sendo dela prpria. Ela tambm torna possvel a comunica-o e a cooperao entre o esprito e o corpo. A fun-o da alma manter esses dois elementos num rela-cionamento harmonioso. Isto , o corpo, que o infe-rior, fica subordinado ao esprito; e o esprito, que o mais elevado governa o corpo atravs da alma. O principal elemento constituinte do homem , sem sombra de dvida, a alma. Ela busca no esprito aqui-

    lo que ele recebeu do Esprito Santo. Em seguida,

    depois de aperfeioada, ela transmite ao corpo aquilo que recebeu. Assim, o corpo tambm poder partici-par da perfeio do Esprito Santo, tornando-se corpo espiritual.

    O esprito a parte mais nobre do homem e ocupa o mais profundo do seu ser. O corpo a menos nobre, e acha-se situado na parte mais externa. Entre os dois, encontra-se a alma, servindo de intermediria. O cor-po o abrigo dentro do qual a alma se aloja. Esta a "capa" que reveste o esprito. O esprito transmite seu pensamento alma, e esta capacita o corpo a obede-cer ao comando do esprito. Essa a funo da alma como intermediria. Antes da queda do homem, o es-prito controlava todo o ser por meio da alma.

    O poder da alma muito grande. Como o esprito e o corpo se acham unidos nela, ela se torna o centro da personalidade e da influncia do homem. Antes do pecado, esse poder se concentrava completamente no esprito. A fora dela, portanto, vinha do esprito. Es-te, por si, no pode atuar sobre o corpo; somente por intermdio da alma. Vemos isso em Lucas 1.46,47: "A minha alma engrandece ao Senhor, e o meu espri-to se alegrou em Deus, meu Salvador". "A mudana no tempo verbal mostra que, primeiro, o esprito ex-perimentou a alegria em Deus e, depois, comunican-do-se com a alma, levou-a a expressar esse mesmo sentimento por meio do corpo." (Pember's Earth's Earliest Age.)

    Repetindo, a alma a sede da personalidade. ne-la que se acham a vontade, o intelecto e as emoes. Atravs do esprito, o homem se comunica com o mundo espiritual, e atravs do Corpo, com o natural. A alma fica no meio e exercita seu poder para discer-nir e decidir quem deve reinar: o mundo espiritual ou o natural. Algumas vezes, tambm, ela mesma exerce controle sobre o homem, por meio do intelecto, crian-do um mundo ideal, que passa a reinar. Para que o es-prito governe, a alma precisa dar seu consentimento. Caso ela no o d, ele fica sem condies de coman-dar a alma e o corpo. Essa deciso, porm, cabe al-ma, pois nela que reside a personalidade do homem. Na verdade, a alma a espinha dorsal de todo o ser, porque a vontade do homem pertence a ela. S quan-do a alma se dispe a assumir uma posio de humil-dade que o esprito pode dirigir todo o homem. Se a alma se rebela contra essa tomada de posio, o esp-rito fica sem poder para governar. Isso mostra o que o livre-arbtrio do homem. Este no um autmato que deve se mover conforme a vontade divina. Pelo contrrio, ele tem o poder pleno e soberano de decidir por si. Tem vontade prpria, podendo deliberar entre fazer a vontade de Deus, ou resistir-lhe e seguir a Sa-tans. Deus quer que o esprito, como a parte mais nobre do homem, controle todo o seu ser. No entanto a vontade, a parte de sua individualidade que toma as decises, pertence alma. E a vontade que determi-

  • na se quem deve governar o esprito, o corpo, ou ela mesma. Alm de possuir esse poder, a alma o ele-mento que define a individualidade do homem; por isso a Bblia o chama de "alma vivente".

    13

    O TEMPLO SANTO E O HOMEM O apstolo Paulo escreve o seguinte: "No sabeis

    que sois santurio de Deus e que o Esprito de Deus habita em vs?" (1 Co 3.16.) Por uma revelao do Senhor, ele comparou o homem com o templo de Sa-lomo. Anteriormente, Deus habitava no templo. Do mesmo modo, hoje, o Esprito Santo habita no ho-mem. Analisando essa comparao do ser humano com o templo, podemos ver como os trs elementos constitutivos do homem se manifestam de modo dis-tinto.

    Sabemos que o templo estava dividido em trs par-tes. A primeira era o trio externo, onde todos podiam entrar. Ali se prestava todo o culto exterior. Mais para dentro estava o Santo Lugar onde s os sacerdotes podiam entrar para oferecer a Deus o leo, o incenso e o po. Ali eles se achavam bem prximos de Deus, mas ainda havia certa distncia entre eles e o Senhor, pois se encontravam do lado de fora do vu e, portan-to, sem condies de permanecer na presena dele. Deus habitava no ponto mais profundo, bem dentro do templo, no Santo dos Santos, onde uma brilhante luz dispersava as trevas, e onde nenhum homem po-dia entrar. Apenas o sumo sacerdote podia entrar ali, e somente uma vez por ano. Antes de o vu ser ras-gado, nenhum outro homem podia estar no Santo dos Santos.

    O homem tambm templo de Deus e, de igual modo, constitudo de trs partes. O corpo como o trio exterior, e ocupa uma posio visvel a todos. Nele, o homem deve obedecer a todos os mandamen-tos divinos. A o Filho de Deus morre pela humanida-de como substituto dela. Por dentro, est a alma, que constitui a vida interior. Ela contm a mente, as emo-es e a vontade. o Santo Lugar de uma pessoa re-generada, pois seu amor, sua vontade e seu pensa-mento acham-se plenamente iluminados, para que possa servir a Deus, como fazia o sacerdote no passa-do. No mais interior, alm do vu, est o Santo dos Santos, onde jamais penetraram a luz e o olhar huma-nos. E "o esconderijo do Altssimo", a habitao de Deus. O homem s pode ter acesso a ele se o Senhor quiser rasgar o vu. E o esprito do homem, que jaz alm da autoconscincia do ser humano e acima de sua sensibilidade. A o homem se une a Deus e tem comunho com ele.

    No Santo dos Santos, no h nenhuma lmpada, pois Deus habita nele. No Santo Lugar existe a luz do candelabro com sete hsteas. O trio exterior recebe a luz do dia em toda a sua plenitude. Tudo isso ima-gem e figura do homem regenerado. Seu esprito o

    Santo dos Santos, onde Deus habita. Nele, tudo se re-aliza pela f, e nada pela vista, pelos sentidos ou pelo entendimento do crente. A alma simboliza o Santo Lugar, amplamente iluminada por numerosos pensa-mentos e preceitos racionais, muito conhecimento e entendimento concernentes s coisas do mundo ideal e do material. O corpo comparvel ao trio exterior, claramente visvel a todo mundo. As aes do corpo acham-se vista de todos.

    A seqncia estabelecida por Deus para ns no deixa margem a dvida: "vosso esprito, alma e cor-po" (1 Ts 5.23). A no diz "alma, esprito e corpo", nem tampouco "corpo, alma e esprito". O esprito a parte preeminente, da ser mencionada primeiro. O corpo a inferior, por isso citada por ltimo. A al-ma ocupa uma posio intermediria, da o fato de ser mencionada entre os dois. Ao examinar essa ordem determinada por Deus, podemos sentir toda a sabedo-ria da Bblia ao comparar o homem a um templo. Vemos que h perfeita harmonia entre o templo e o homem, tanto no tocante ordem, quanto ao valor de cada parte.

    O servio do templo se realiza segundo a revelao no Santo dos Santos. Todas as atividades do Santo Lugar e do trio exterior so reguladas pela presena de Deus no Santo dos Santos, o lugar mais sagrado. para ele que os quatro cantos do templo convergem e sobre ele se apoiam. A ns pode parecer que nada se faz nesse lugar, pois escuro como breu. Todas as a-tividades se desenrolam no Santo Lugar. At mesmo as atividades do trio exterior so controladas pelos sacerdotes no Santo Lugar. Entretanto todas as ativi-dades do Santo Lugar, na verdade, so dirigidas pela revelao, que chega quietude e paz total existentes no Santo dos Santos.

    No difcil perceber a aplicao espiritual dessa figura. A alma, a sede da nossa personalidade, com-posta de mente, vontade e emoo. Parece que ela senhora de todas as aes, pois o corpo segue seu comando. Antes da queda, porm, e a despeito de su-as muitas atividades, a alma era governada pelo esp-rito. E a seqncia desejada por Deus continua sendo primeiro o esprito, depois a alma, e por ltimo o cor-po.

  • 14

    O ESPRITO E essencial que o crente saiba que possui um esp-

    rito, uma vez que toda comunicao de Deus com o homem se processa por meio dele. Ento vamos a-prender isso. Se o crente no discerne seu esprito, certamente no ter condies de comungar com Deus em esprito. Assim, facilmente confunde as o-bras do esprito com os pensamentos e emoes da alma. Dessa forma, fica limitado sua esfera exterior, sempre incapaz de alcanar a espiritual.

    Em 1 Corntios 2.11, Paulo fala do "esprito do homem, que nele est" (ARC).

    Em 1 Corntios 5.4, do "meu esprito". Em Romanos 8.16, do "nosso esprito". Em 1 Corntios 14.14, usa a expresso "meu espri-

    to".

    Em 1 Corntios 14.32, fala dos "espritos dos pro-fetas".

    Em Provrbios 25.28, h uma referncia ao "seu prprio esprito" (Darby).

    Em Hebreus 12.23, est registrada a expresso "espritos dos justos aperfeioados".

    Em Zacarias 12.1, lemos que "o Senhor... formou o esprito do homem dentro dele".

    Esses versculos das Escrituras so suficientes para provar que ns, seres humanos, possumos um espri-to. Ele no equivale nossa alma, nem o mesmo que o Esprito Santo. nesse esprito que adoramos a Deus.

    De acordo com o ensino da Bblia e a experincia dos crentes, podemos dizer que o esprito humano possui trs funes principais: conscincia, intuio e comunho. A conscincia responsvel pelo discer-nimento. Ela capaz de distinguir entre certo e erra-do. Isso no se d, porm, pela influncia do conhe-cimento acumulado na mente, mas por um julgamento espontneo e direto. Freqentemente o raciocnio procura justificar atos e atitudes que nossa conscin-cia julga errados. O trabalho da conscincia inde-

    pendente e direto; ela no se curva s opinies exteri-ores. Se algum comete um erro, ela logo levanta a voz de acusao. A intuio o lado sensitivo do es-prito humano. completamente diferente das sensa-es fsicas e da sensao da alma (*), tambm cha-mada de intuio. A intuio do esprito envolve um sentimento direto e independente de qualquer influn-cia externa. O tipo de conhecimento que obtemos sem nenhuma participao da mente, da emoo ou da vontade vem atravs da intuio. Na realidade, por meio desta que "conhecemos" tudo. A mente sim-plesmente nos ajuda a "entender". O crente tem cin-cia das revelaes de Deus e de todo o mover do Es-prito Santo por intermdio da intuio. Devemos, portanto, estar atentos voz da conscincia e ao ensi-no da intuio. A comunho adorao a Deus. As faculdades da alma so incapazes de adorar ao Se-nhor. Nossos pensamentos, sentimentos e intenes no podem ter percepo de Deus. Somente o esprito pode ter um conhecimento direto dele. Nossa adora-o a Deus e toda comunicao de Deus para conosco ocorre diretamente no esprito. Acontecem no "ho-mem interior", no na alma, nem no homem exterior.

    Podemos concluir, ento, que a conscincia, a intu-io e a comunho so elementos intimamente rela-cionados, que funcionam de forma coordenada. A conscincia julga segundo a intuio e condena toda conduta que no segue a orientao dada por esta. E nisso consiste a relao entre elas. A intuio se rela-ciona com a comunho ou adorao, uma vez que o homem conhece a Deus pela intuio, e tambm por ela o Senhor lhe revela sua vontade. Jamais alcana-mos o conhecimento de Deus atravs da expectativa ou por deduo.

    Com base nos trs grupos de versculos bblicos que damos a seguir, podemos observar que nosso es-prito possui a funo da conscincia (no estamos di-zendo que o esprito a conscincia), da intuio (ou sentido espiritual), e da comunho (ou adorao).

    1. A Funo da Conscincia no Esprito do Ho-mem

    "O Senhor, teu Deus, endurecera o seu esprito" (Dt 2.30).

  • 15

    "Salva os de esprito oprimido" (Sl 34.18). "Renova dentro de mim um esprito inabalvel" (Sl

    51.10).

    "Ditas estas coisas, angustiou-se Jesus em espri-to" (Jo 13.21).

    "O seu esprito se revoltava em face da idolatria dominante na cidade" (At 17.16).

    "O prprio Esprito testifica com o nosso esprito que somos filhos de Deus" (Rm 8.l6).

    "Presente em esprito, j sentenciei, como se esti-vesse presente" (1 Co 5.3).

    "No tive, contudo, tranqilidade no meu esprito" (2 Co 2.13).

    "Porque Deus no nos tem dado esprito de covar-dia" (2 Tm 1.7).

    2. A Funo da Intuio no Esprito do Homem

    "O esprito, na verdade, est pronto" (Mt 26.41). "E Jesus, percebendo logo por seu esprito" (Mc

    2.8).

    "Jesus, porm, arrancou do ntimo do seu esprito um gemido" (Mc 8.12).

    "Jesus... agitou-se no esprito e comoveu-se" (Jo 11.33).

    "Foi Paulo impulsionado no esprito" (At 18.5 - SBTB).

    "Sendo fervoroso de esprito" (At 18.25). "E, agora, constrangido em meu esprito, vou para

    Jerusalm" (At 20.22).

    "Porque qual dos homens sabe as coisas do ho-mem, seno o seu prprio esprito, que nele es-t?" (1 Co 2.11.)

    "Porque trouxeram refrigrio ao meu esprito e ao vosso" (1 Co 16.18).

    "Cujo esprito foi recreado por todos vs" (2 Co 7.13).

    3. A Funo da Comunho no Esprito do Homem

    "E o meu esprito se alegrou em Deus, meu Salva-dor" (Lc 1.47).

    "Os verdadeiros adoradores adoraro o Pai em esprito e em verdade" (Jo4.23).

    "Deus, a quem sirvo em meu esprito" (Rm 1.9). "De modo que servimos em novidade de esprito"

    (Rm 7.6).

    "Recebestes o esprito de adoo, baseado no qual clamamos: Aba, Pai" (Rm 8.15).

    "O prprio Esprito testifica com o nosso esprito" (Rm 8.16).

    "Aquele que se une ao Senhor um esprito com ele" (1 Co 6.17).

    "Cantarei com o esprito" (1 Co 14.15). "E, se tu bendisseres apenas em esprito" (1 Co

    14.16).

    "E me transportou, em esprito" (Ap 21.10). Essas passagens mostram que nosso esprito pos-

    sui, pelo menos, essas trs funes. Os incrdulos tambm as possuem, embora ainda no tenham vida. (E o culto deles dirigido aos espritos malignos.) Alguns manifestam essas funes em grau maior; ou-tros, em menor grau. Isso no significa, porm, que no estejam mortos em seus delitos e pecados. De a-cordo com o Novo Testamento, um indivduo no es-t salvo s por ter uma conscincia dotada de sensibi-lidade, uma intuio aguda, ou a tendncia e o inte-resse pelas coisas espirituais. Isso apenas constitui prova de que, alm da mente, da emoo e da vonta-de, que constituem nossa alma, possumos tambm um esprito. Antes da regenerao, o esprito est se-parado da vida de Deus. S depois dela que a vida de Deus e do Esprito Santo passam a habitar em nos-so esprito, que assim vivificado para ser instrumen-to do Esprito Santo.

    Estudamos a importncia do esprito para entender melhor o fato de que ns, seres humanos, possumos um esprito independente. O esprito no a mente, nem a vontade, nem a emoo do homem. Suas fun-es so a conscincia, a intuio e a comunho. a, no esprito, que Deus nos regenera, nos ensina e nos conduz ao seu descanso. Lamentavelmente, contudo, muitos cristos conhecem bem pouco do seu esprito, por causa dos longos anos que vivem presos alma. Devemos orar a Deus fervorosamente, pedindo-lhe que nos ensine, pela experincia, a distinguir o que espiritual e o que da alma (**).

    Antes de o crente nascer de novo, seu esprito a-cha-se to imerso na alma que ele no consegue dis-tinguir o que emana da alma do que emana do espri-to. As funes deste misturam-se com as daquela. A-lm disso, o esprito perdeu sua funo principal - a de relacionar-se com Deus - j que est morto para o Senhor. como se ele se tivesse tornado um acess-rio da alma. E quando a mente, a emoo e a vontade se fortalecem, as funes do esprito ficam to apaga-das que quase se tornam desconhecidas. por isso que, depois da regenerao, o crente precisa aprender a fazer distino entre a alma e o esprito.

    Examinando algumas passagens das Escrituras, pa-rece-nos que o esprito no-regenerado opera do mesmo modo que a alma. Os versculos seguintes i-lustram essa concluso:

  • "Achando-se ele de esprito perturbado" (Gn 41.8).

    16

    "Ento o esprito deles se abrandou para com ele" (Jz 8.3 - Darby).

    "O que de esprito precipitado exalta a tolice" (Pv 14.29 - Darby).

    "O esprito abatido faz secar os ossos" (Pv 17.22). "Os que erram de esprito" (Is 29.24). "Uivareis pela angstia de esprito" (Is 65.14). "Seu esprito se tornou soberbo e arrogante" (Dn

    5.20).

    Esses textos apresentam as obras de um esprito no-regenerado e mostram a semelhana delas com as da alma. Eles mencionam o esprito, e no a alma, para descrever algo que aconteceu bem no fundo do ser. Isso mostra que o esprito veio a ser inteiramente controlado e influenciado pela alma, a ponto de pas-sar a manifestar as obras dela. Apesar de tudo, porm, ele ainda existe, pois essas obras procedem do esp-rito. Embora governado pela alma, ele no deixa de ter existncia prpria.

    A ALMA Alm de o homem ter um esprito que o capacita

    comunho com Deus, possui tambm uma alma, ou a conscincia de si prprio. Ele tem conscincia de sua existncia atravs da alma. Ela a sede de sua perso-nalidade. Os elementos que nos do status de ser hu-mano pertencem alma. O intelecto, a mente, os ide-ais, o amor, a emoo, o discernimento, a capacidade de deciso, etc, so experincias da alma.

    J dissemos que o esprito e o corpo acham-se fun-didos na alma, que, por sua vez, a sede da nossa personalidade. por isso que, s vezes, a Bblia cha-ma o homem de "alma", como se ele tivesse apenas esse constituinte. Em Gnesis 12.5, por exemplo, al-gumas verses referem-se s pessoas como "almas". Quando Jac levou toda sua famlia para o Egito, no-vamente se registra que "todas as almas da casa de Ja-c, que vieram ao Egito, foram setenta" (Gn 46.27 - ARC). Existem diversos outros exemplos, na lngua original da Bblia, em que a expresso "alma" usada para designar "homem". Isso se d porque a sede e a essncia da personalidade a alma. Compreender a personalidade de um indivduo entender sua pessoa. A existncia do homem, suas caractersticas e sua vi-da encontram-se na alma. Por essa razo, a Bblia chama o homem de "alma".

    A personalidade do homem constituda de trs faculdades principais: a vontade, a mente e a emoo. A vontade o instrumento que utilizamos para tomar decises, e revela nossa capacidade de fazer escolhas. Ela manifesta se "queremos" ou "no queremos". Sem

    ela, o homem ficaria reduzido a um autmato. A men-te, a sede de nossos pensamentos, manifesta nossa ca-pacidade intelectual. Dela surgem a sabedoria, o co-nhecimento e o raciocnio. Se no a tivesse, o homem seria tolo e irracional. O instrumento pelo qual exerci-tamos nossos gostos e antipatias a emoo. Por meio dela, somos capazes de expressar amor ou dio, e de sentir alegria, ira, tristeza ou felicidade. A falta de emoo tornaria o homem insensvel como o pau ou a pedra.

    Um estudo cuidadoso da Bblia revela que essas trs principais faculdades da personalidade pertencem alma. So muitas as passagens das Escrituras que sustentam essa verdade, de modo que seria difcil ci-tar todas elas. Por isso, damos aqui apenas algumas.

    1. A Faculdade Volitiva da Alma

    "No me deixes vontade (no original, "alma") dos meus adversrios" (Sl 27.12).

    "Tu (Senhor) no o entregars vontade (no ori-ginal, "alma") de seus inimigos" (Sl 41.2 - ARC).

    "E te entreguei vontade (no original, "alma") das que te aborrecem" (Ez 16.27).

    "Deix-la-s ir sua prpria vontade" (no origi-nal, "alma") (Dt21.14).

    "Cumpriu-seo nosso desejo" (no original, "alma") (Sl 35.25).

    "Ou fizer juramento, ligando a sua alma" (Nm 30.2 - ARC).

    "Disponde, pois, agora o corao e a alma para buscardes ao Senhor, vosso Deus" (1 Cr 22.19).

    "A qual era grande desejo da sua alma voltar, e habitar l" (Jr 44.14-ARC).

    "Aquilo que a minha alma recusava tocar" (J 6.7).

    "A minha alma escolheria antes, ser estrangulada" (J 7.15 -Darby).

    Os termos "desejo" e "corao" nesses textos de-signam a vontade humana. "Disponde o corao e a alma", "recusar" e "escolher" so todos atos da vonta-de, e brotam da alma.

    2. A Faculdade Intelectual ou Mental da Alma

    "O anelo de sua alma e a seus filhos e suas filhas" (Ez 24.25).

    "No bom que uma alma esteja sem conhecimen-to" (Pv 19.2-Darby).

    'At quando estarei eu relutando dentro de minha alma?" (SI 13.2.)

    "As tuas obras so admirveis, e a minha alma o sabe muito bem" (SI 139.14).

  • 17

    "Minha alma, continuamente, os recorda" (Lm 3.20).

    "O conhecimento ser agradvel tua alma" (Pv 2.10).

    "Guarda a verdadeira sabedoria e o bom siso; porque sero vida para a tua alma " (Pv 3.21,22).

    "Ento, sabe que assim a sabedoria para a tua alma"(Pv 24.14).

    Nesses versculos, os termos "anelo", "conheci-mento", "relutando", "recorda", etc, designam ativi-dades do intelecto ou da mente do homem. E a Bblia ensina que elas provm da alma.

    3. A Faculdade Emotiva da Alma a) Emoes de afeto

    "A alma de Jnatas se ligou com a de Davi; e J-natas o amou como sua prpria alma" (1 Sm 18.1).

    "Dize-me, amado de minha alma" (Ct 1.7). "A minha alma engrandece ao Senhor" (Lc 1.46). "Sua vida abomina o po, e a sua alma, a comida

    apetecvel" (J 33.20).

    "A quem a alma de Davi aborrece" (2 Sm 5.8). "Minha alma irritou-se com elas" (Zc 11.8 -

    Darby).

    "Amars, pois, o Senhor, teu Deus, de todo o teu corao, de toda a tua alma e de toda a tua fora " (Dt 6.5).

    "Minha alma tem tdio minha vida" (J 10.1 - Darby).

    "A sua alma aborreceu toda sorte de comida" (Sl 107.18).

    b) Emoes de desejo

    "Esse dinheiro, d-lo-s por tudo o que deseja a tua alma... ou por qualquer coisa que te pedir a tua alma" (Dt 14.26- Darby).

    "O que tua alma disser" (1 Sm 20.4 - Darby). "A minha alma suspira e desfalece pelos trios do

    Senhor" (Sl 84.2).

    "Anelo de vossa alma" (Ez 24.21). "Assim, por ti, 6 Deus, suspira a minha alma" (Sl

    42.1).

    "Com minha alma suspiro de noite por ti" (Is 26.9).

    "A minha alma se compraz" (Mt 12.18). c) Emoes de sentimento e de percepo

    "Uma espada traspassar a tua prpria alma" (Lc 2.35).

    "O nimo (a alma) de todo o povo estava em a-margura" (1 Sm 30.6 -ARQ.

    "Sua alma se afligiu pela misria de Israel" (Jz 10.16 - Darby).

    "A sua alma est em amargura" (2 Rs 4.27). "At quando afligireis a minha alma?" (J 19.2.) "A minha alma se alegra no meu Deus " (Is 61.10). "Alegra a alma do teu servo" (S 86.4). "Desfalecia neles a alma" (Sl 107.5). "Por que ests abatida, minha alma?" (Sl 42.5.) "Volta, minha alma, ao teu sossego" (Sl 116.7). "Consumida est a minha alma" (Sl 119.20). "Palavras agradveis so... doces para a alma"

    (Pv 16.24).

    "A vossa alma se deleite com a gordura" (Is 55.2 - ARC).

    "Quando, dentro de mim, desfalecia a minha al-ma" (Jn 2.7).

    "A minha alma est profundamente triste" (Mt 26.38).

    "Agora, est angustiada a minha alma" (Jo 12.27). "Atormentava a sua alma justa, cada dia" (2 Pe

    2.8).

    As observaes acima, concernentes s vrias e-moes do homem, permitem-nos concluir que a alma capaz de amar e odiar, de desejar e aspirar, de sentir e perceber.

    Com base nesse breve estudo bblico, percebemos claramente que a alma do homem contm os aspectos que chamamos de vontade, mente ou intelecto, e e-moo.

    A VIDA DA ALMA De acordo com alguns estudiosos da Bblia, exis-

    tem no grego trs palavras para designar "vida": bios, psych e zoe. Todas elas se referem vida, mas pos-suem conotaes bem diferentes. O termo bios refere-se aos meios de vida ou de subsistncia. O Senhor Je-sus empregou essa palavra para elogiar a mulher que havia lanado no tesouro do templo toda a sua subsis-tncia. O vocbulo zoe designa a vida mais elevada, a do esprito. Sempre que a Bblia fala de vida eterna usa essa palavra. J o vocbulo psych aplica-se vi-da animada do homem, vida natural, vida da alma. Encontramos esse termo na Bblia quando se fala de vida humana.

  • Devemos observar aqui que no original se emprega uma s e a mesma palavra tanto com o sentido de "alma" como de "vida da alma". No Antigo Testa-mento, a palavra hebraica que designa "alma" - nefesh - igualmente usada com o significado de "vida da alma". O Novo Testamento tambm emprega a pala-vra grega psych tanto para "alma" como para "vida da lima". Desse modo, sabemos que a "alma" no a-penas um dos (rs elementos do homem, mas tam-bm sua vida natural. Muitas vezes, na Bblia, a pala-vra "alma" traduzida como Vida".

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    "Carne, porm, com sua vida, isto , com seu san-gue, no comereis" (Gn 9.4,5).

    "A vida da carne est no sangue" (Lv 17.11). "J morreram os que atentavam contra a vida do

    menino" (Mt 120).

    " lcito, no sbado... salvara vida ou deix-la pe-recer?" (Lc 6.9.)

    "Homens que tm exposto a vida pelo nome de nosso Senhor Jesus Cristo" (At 15.26). ,

    "Em nada considero a vida preciosa para mim mesmo" (At 20.24).

    "Para servir e dar a sua vida em resgate por mui-tos" (Mt 20.28).

    "O bom pastor d a vida pelas ovelhas" (Jo 10.11,15,17).

    No original, a palavra que designa "vida", nesses versculos, "alma". Foi traduzida assim porque de outra maneira leria mais difcil entender. A alma re-almente a prpria vida do homem.

    Conforme j mencionamos, a "alma" um dos trs elementos que constituem o ser humano. A "vida da alma" a existncia natural do homem, aquilo que o faz viver e que lhe d alento. a vida pela qual o ho-mem vive. o poder pelo qual ele vem a ser o que . Uma vez que a Bblia aplica os termos nefesh e psy-ch para designar tanto a alma como a vida do ho-mem, torna-se evidente que, embora possamos distin-gui-las, no se pode separ-las. possvel distingui-las porque em certos lugares o termo psych, por e-xemplo, deve ser traduzido como "alma", ou como "vida". E as tradues no podem ser intercambiadas. Em Lucas 12.19-23 e Marcos 3.4, por exemplo, "al-ma" e "vida" so, na verdade, a mesma palavra no o-riginal. Contudo a traduo ficaria sem sentido para ns se usssemos o mesmo termo nos dois casos. Um homem sem alma no vive. A Bblia jamais diz que o homem natural possui outra vida alm da alma. A vi-da do homem decorre de a alma estar residindo no corpo. Quando a alma se une ao corpo, torna-se a vida do homem. A vida a manifestao da alma. Para a Bblia, o corpo do homem um "corpo de alma" (*)

    (1 Co 15.44, no texto original), pois a vida que nos-

    so corpo tem agora a da alma. Portanto a vida do homem simplesmente a expresso da soma de suas energias mentais, emocionais e volitivas. Na esfera natural, a "personalidade" engloba essas funes da alma, mas apenas elas. A vida da alma a vida natu-ral do homem.

    muito importante reconhecer que a alma a vida do homem. Isso determinar a espcie de cristo que nos tornaremos, se espirituais ou da alma (**). Vere-mos isso mais adiante.

    A ALMA E O EGO DO HOMEM Vimos que a alma a sede da nossa personalidade,

    responsvel pela vontade e pela vida natural. Por isso, podemos concluir ento que ela tambm o "verda-deiro eu" - o prprio eu. Nosso ego a alma. E a B-blia pode demonstrar isso. Em Nmeros 30, a palavra "obrigar-se" (ou ligar-se) e derivados ocorrem mais de dez vezes. No original, o sentido "ligar sua al-ma". Da podemos depreender que a alma o prprio eu. Em muitas outras passagens, vemos que a palavra "alma" substituda por pronomes pessoais. Vejamos os seguintes exemplos:

    "Nem por elas vos contaminareis" (Lv 11.43). "No vos contaminareis" (Lv 11.44). "Sobre si e sobre a sua descendncia" (Et 9.31). "Oh! Tu, que te despedaas na tua ira " (J 18.4). "Porque se justificava a si mesmo" (J 32.2 -

    ARC).

    "Eles mesmos entram em cativeiro" (Is 46.2). "O que cada alma houver de comer; isso somente

    aprontareis para vs" (x 12.16- ARC).

    "O homicida que matar algum (no original, "al-guma alma") involuntariamente" (Nm 35.11, 15).

    "Que eu (no original, "minha alma") morra a mor-te dos justos" (Nm 23.10).

    "Quando alguma pessoa (no original, "alguma al-ma") fizer oferta de manjares ao Senhor" (Lv 2.1).

    "Fiz calar e sossegar a minha alma" (Sl 131.2). "No imagines que, por estares na casa do rei, s

    tu (no original, "alma") escapars" (Et 4.13).

    "Jurou o Senhor Deus por si mesmo" (no original, "jurou por sua alma") (Am 6.8).

    Esses textos do Antigo Testamento ensinam de v-rias maneiras que a alma o prprio "eu" do homem.

    O Novo Testamento transmite a mesma idia. A palavra original que em nossa Bblia traduzida co-mo pessoas em 1 Pedro 3.20 ("oito pessoas") "al-mas". O mesmo pode-se dizer com relao a Atos

  • 27.37 ("duzentas e setenta e seis pessoas"). Em Ro-manos 2.9, lemos que "tribulao e angstia viro so-bre a alma de qualquer homem que faz o mal", e esse o sentido tambm no grego. Desse modo, advertir a alma de um homem que pratica o mal advertir o prprio homem mau. Em Tiago 5.20, salvar uma alma significa salvar um pecador. O rico insensato de Lu-cas 12.19, que diz palavras de conforto sua alma, algum que fala a si mesmo. Est claro, portanto, que, no seu todo, a Bblia considera a alma do homem ou a vida da alma como sendo o prprio homem.

    Podemos encontrar uma confirmao desses ensi-namentos nas palavras do Senhor Jesus, registradas em dois dos Evangelhos. Em Mateus 16.26, lemos: "Pois que aproveitar o homem se ganhar o mundo inteiro e perder a sua alma (psych)? Ou que dar o homem em troca da sua alma (psych)?" J em Lucas 9.25, encontramos: "Que aproveita ao homem ganhar o mundo inteiro, se vier a perder-se ou a causar dano a si mesmo (eautov)?" Os dois evangelistas registram o mesmo ensino. Todavia um emprega a palavra "al-ma", enquanto o outro utiliza "a si mesmo". Isso quer dizer que o Esprito Santo est usando Mateus para explicar o sentido de "a si mesmo" encontrado em Lucas, e pelo texto de Lucas, explica o sentido de "alma" que aparece em Mateus. A alma ou a vida do homem o prprio homem, e vice-versa.

    Esse estudo nos permite concluir que, por sermos humanos, temos de possuir tudo aquilo que est con-tido na alma do homem. Todo homem natural tem uma alma com todas as suas funes, pois ela sim-plesmente a vida que todos os homens naturais possu-em. Antes da regenerao, tudo aquilo que faz parte da vida - seja o ego, o viver, a fora, o poder, a capa-cidade de deciso, o pensamento, as opinies, o amor, os sentimentos - pertence alma. Em outras palavras, a vida da alma a vida que o homem recebe ao nas-cer. Tudo o que essa vida possui e tudo o que ela pos-sa vir a ser encontra-se na esfera da alma. Se conse-guirmos distinguir bem as coisas da alma (*), ser mais fcil, depois, reconhecer o que espiritual. As-sim poderemos fazer distino entre o que espiritual e o que da alma.

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  • 20

    O homem que Deus formou era bem diferente de todas as demais criaturas. Ele possua um esprito se-melhante ao dos anjos, e ao mesmo tempo uma alma parecida com a dos animais. Quando Deus criou o homem, deu-lhe completa liberdade. Ele no o fez como um ser autmato, totalmente controlado pela vontade divina. Isso se evidencia em Gnesis 2, quando Deus instruiu o homem sobre o fruto que ele podia comer e o que no podia. O homem que Deus criou no era uma "mquina" dirigida pelo Senhor. Pelo contrrio, esse ser possua perfeita liberdade de escolha. Se decidisse obedecer a Deus, poderia; se preferisse rebelar-se, poderia faz-lo tambm. O ho-mem tinha a posse de uma soberania que lhe faculta-va exercitar sua vontade, e decidir se obedeceria a Deus ou no. Esse ponto muito importante, pois precisamos entender que Deus nunca nos priva da li-berdade em nossa vida espiritual. O Senhor no reali-zar nada por ns, a no ser que cooperemos ativa-mente com ele. Nem Deus nem o diabo podem lazer nada sem o nosso prvio consentimento, porque a vontade do homem livre.

    Originalmente o esprito do homem era a parte mais nobre do seu ser. A alma e o corpo deveriam submeter-se a ele. Em condies normais, o esprito como a "dona da casa"; a alma seria como o "mordo-mo", e o corpo, como o "criado". A "dona da casa" d as ordens ao "mordomo", que por sua vez manda o "criado" cumpri-las. A "dona da casa" comunica as ordens ao "mordomo" em particular. Este as transmite ao "criado" abertamente. O "mordomo" parece ser o senhor de tudo. Na realidade, porm, quem domina a "dona da casa". Infelizmente o homem caiu; foi der-rotado e pecou. Por causa disso, a hierarquia correta entre o esprito, a alma e o corpo foi invertida.

    Deus concedeu ao homem um poder soberano e outorgou inmeros dons alma. Entre as funes mais importantes esto o pensamento e a vontade (ou intelecto e inteno). O propsito original de Deus que a alma humana receba e assimile a verdade e a essncia da vida espiritual de Deus. Ele concedeu dons aos homens para que estes pudessem receber o

    conhecimento e a vontade de Deus como sendo deles mesmos. Se o esprito e a alma do homem manti-vessem a perfeio, a sade e o vigor originais, o cor-po poderia continuar existindo para sempre, sem ne-nhuma alterao. Se ele tivesse exercitado a vontade, e comido do fruto da rvore da vida, indubitavelmen-te a prpria vida de Deus entraria em seu esprito, permearia sua alma, transformaria completamente seu homem interior e modificaria seu corpo, dotando-o de incorruptibilidade. Assim, ele estaria, literalmente, de posse da "vida eterna". Ento a vida regida pela alma (*) se encheria totalmente da vida espiritual e o ho-mem se transformaria por completo num ser espiritu-al. Por outro lado, como se inverteu a hierarquia entre o esprito e a alma, o homem se precipitou nas trevas. Agora o corpo humano no poderia resistir por muito tempo, e experimentou a corrupo.

    Sabemos que a alma do homem escolheu a rvore do conhecimento do bem e do mal, em vez da rvore da vida. E no est claro que a vontade de Deus para Ado era que ele comesse do fruto da rvore da vida? Sim, porque antes de proibi-lo de comer do fruto da rvore do conhecimento do bem e do mal, e de adver-ti-lo de que no dia em que dele comesse morreria (2.17), Deus ordenou a Ado que comesse livremente de toda rvore do den. Mencionou proposital-mente a rvore da vida no meio do jardim. Quem pode con-tradizer isso?

    "O fruto do conhecimento do bem e do mal" eleva a alma e abafa o esprito. Deus no proibiu o homem de comer desse fruto apenas para test-lo. Ele o proi-biu por saber que, se o homem comesse dele, a vida da alma seria to estimulada que iria abafar a vida re-gida pelo esprito. Isso quer dizer que o homem per-deria o verdadeiro conhecimento de Deus e assim es-taria morto para ele. A proibio de Deus revela seu amor. O conhecimento do bem e do mal neste mundo j um mal em si. Tal conhecimento surge do intelec-to, na alma do homem. Ele "incha" a ida regida pela alma e conseqentemente esvazia a vida governada pelo esprito, a ponto de o homem perder todo conhe-cimento de Deus, tornando-se tal qual um morto.

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    Muitos servos de Deus entendem que essa rvore da vida a ddiva do Pai oferecendo vida ao mundo, por meio de seu Filho, o Senhor Jesus. Isso a vida eterna, a natureza de Deus, a vida divina, no-criada. Ento, temos aqui duas rvores - uma produz vida es-piritual, e a outra, a vida regida pela alma (**). Em seu estado original, o homem no era nem pecamino-so, nem santo e justo. Ficava entre os dois. Ele tanto poderia aceitar a vida de Deus, tornando-se um ho-mem espiritual, participante da natureza divina, como poderia nutrir sua vida original, passando a viver pela alma (**), e assim infligindo morte ao seu esprito. Deus dotou os trs elementos constituintes do homem de uma harmonia perfeita. Sempre que um deles se desenvolve alm da medida, os outros ficam atrofia-dos.

    Se compreendermos bem a origem da alma e os princpios que a regem, isso poder ajudar muito nos-so crescimento espiritual. Nosso esprito vem direta-mente de Deus, pois nos dado por ele (Nm 16.22). J a alma no nos vem de forma to direta. Ela cria-da depois que o esprito entra no corpo. Portanto a-cha-se intrinsecamente relacionada com o ser criado. a vida criada, natural. Se a alma se mantiver em seu devido lugar, como "mordomo", permitindo que o es-prito seja a "dona da casa", ela ter uma utilidade muito grande. Assim o homem pode receber a vida de Deus e se relacionar com este em vida. Entretanto, se a esfera da alma (*) se ampliar, o esprito ser abafa-do na mesma proporo. Nessa condio, todos os a-tos do homem iro ficar confinados esfera natural do ser criado, incapaz de se unir vida de Deus que no-criada e sobrenatural. O homem original sucum-biu morte quando comeu do fruto do conhecimento do bem e do mal; com isso desenvolveu a vida da al-ma (*) de forma exagerada.

    Satans tentou Eva com uma pergunta. Ele sabia que isso despertaria a curiosidade da mulher. Se ela estivesse sob o controle total do esprito, rejeitaria es-sa indagao. Ao tentar responder, ela exercitou a mente, desobedecendo ao esprito. No resta dvida de que a pergunta de Satans estava cheia de erros. Sua principal motivao era simplesmente incitar Eva a fazer esforo mental. Ele esperava que a mulher at o corrigisse. Lamentavelmente, porm, na sua con-versa com Satans, ela ousou alterar a Palavra de Deus. Em conseqncia, o inimigo se viu estimulado a tent-la a comer, dizendo que, se o fizesse, seus o-lhos se abririam e ela seria como Deus - conhecendo o bem e o mal. "Vendo a mulher que a rvore era boa para se comer, agradvel aos olhos e rvore desejvel para dar entendimento, tomou-lhe do fruto e comeu e deu tambm ao marido, e ele comeu." (Gn 3.6.) Foi assim que Eva enxergou a questo. Primeiro Satans provocou a curiosidade de sua alma (*); depois avan-ou, apoderando-se de sua vontade. Resultado: ela ca-iu em pecado.

    Satans sempre usa a necessidade fsica como pri-meiro alvo de seu ataque. Ele simplesmente mencio-nou o comer do fruto a Eva, um ato totalmente fsico. Em seguida, avanou um pouco mais, buscando sedu-zir a alma dela, insinuando que, pela satisfao, seus olhos ficariam abertos, e ela conheceria o bem e o mal. Essa busca do conhecimento era perfeitamente legtima. Contudo, em conseqncia, levou o esprito dela a uma rebelio franca contra Deus. Ela com-preendeu de forma errada a proibio divina. Interpre-tou-a como sendo produto de ms intenes por parte do Senhor. A tentao de Satans alcana primeiro o corpo, depois, a alma, e por fim, o esprito.

    Aps ser tentada, Eva emitiu sua opinio. Primei-ro, "a rvore era boa para se comer". Isso a "cobia da carne". Sua carne foi a primeira a ser despertada. Segundo, era "agradvel aos olhos". Isso a "cobia dos olhos". Agora tanto seu corpo como sua alma ha-viam sido seduzidos. Terceiro, a rvore era "desejvel para dar entendimento". Isso a "soberba da vida". Tal desejo revelou que suas emoes e vontade esta-vam em atividade. A agitao de sua alma ento en-contrava-se fora de controle. Ela no mais se achava de lado, como um mero espectador, havia sido incita-da a desejar o fruto. Como a situao fica perigosa quando as emoes humanas dominam!

    O que foi que levou Eva a cobiar o fruto? Alm da cobia da carne e dos olhos, ela sentiu a curiosida-de de ter sabedoria. Quando buscamos a sabedoria e o conhecimento (mesmo o chamado "conhecimento es-piritual"), podemos encontrar freqentemente a ativi-dade da alma. Quando algum procura aumentar seus conhecimentos, fazendo "ginstica mental" nos livros, sem contudo esperar em Deus e sem buscar a direo do Esprito Santo, no h dvida de que sua alma se acha em plena atividade. Isso vai fazer murchar sua vida espiritual. A queda do homem foi ocasionada pe-la busca de conhecimento. Por isso, Deus usa a loucu-ra da cruz para "destruir a sabedoria do sbio". O inte-lecto foi a principal causa da queda. por isso que, para alcanar a salvao, o homem precisa crer na loucura da Palavra da cruz, em vez de depender da prpria inteligncia. A rvore do conhecimento pro-vocou a queda do homem. Ento Deus emprega a r-vore da loucura (1 Pe 2.24) para salvar as almas. "Ningum se engane a si mesmo: se algum dentre vs se tem por sbio neste sculo, faa-se estulto para se tornar sbio. Porque a sabedoria deste mundo loucura diante de Deus..." (1 Co 3.18-20; ver tambm 1.18-25.)

    Um cuidadoso exame do relato da queda do ho-mem mostra que, ao se rebelar contra Deus, Ado e Eva desenvolveram a alma a ponto de esta tomar o lugar do esprito. Com isso, precipitaram-se nas tre-vas. As principais funes da alma so a mente, a vontade e a emoo. A vontade responsvel pela

  • deciso, portanto, "senhora" do homem. A mente responsvel pelo pensamento, e a emoo, pelo afeto. O apstolo Paulo diz que "Ado no foi iludido", in-dicando que naquele dia fatal a mente do homem no foi confundida. Quem tinha a mente fraca era Eva: "A mulher, sendo enganada, caiu em transgresso" (1 Tm 2.14). De acordo com o relato de Gnesis, a mulher disse: "A serpente me enganou, e eu comi" (Gn 3.13). O homem respondeu: "A mulher que me deste por es-posa, ela me deu (no disse "me enganou") da rvore, e eu comi" (3.12). Obviamente Ado no foi engana-do. Sua mente estava lcida, e ele sabia que se tratava do fruto da rvore proibida. Comeu por causa de sua afeio mulher. Tinha conhecimento de que as pa-lavras da serpente eram um engano do inimigo. Pelas palavras do apstolo, entendemos que Ado pecou deliberadamente. Ele amava Eva mais do que a si. Fez dela o seu dolo e, por amor a ela, estava disposto a rebelar-se contra o mandamento do seu Criador. lamentvel que sua mente tenha sido anulada pela emoo, e seu raciocnio, vencido pela afeio! Por que que os homens "no deram crdito verdade"? Porque "deleitaram-se com a injustia" (2 Ts 2.12). No que a verdade seja irracional; o que acontece que ela no amada. Por isso, quando algum verda-deiramente se volta para o Senhor, "com o corao (no com a mente) se cr para justia" (Rm 10.10). Satans levou Ado a pecar, apoderando-se de sua vontade, por meio da emoo. E tentou Eva apossan-do-se de sua vontade, atravs do canal de uma mente obscurecida. Quando a serpente envenenou a vontade, a mente e as emoes do homem, este seguiu a Sata-ns, em vez de seguir a Deus. Seu esprito, que era capaz de comungar com o Senhor, sofreu um golpe fatal. Aqui podemos ver a lei que governa a atuao de Satans. Ele usa as coisas da carne (comer o fruto) para levar a alma do homem a pecar. To logo a alma peca, o esprito cai em trevas absolutas. Sua operao se d sempre do exterior para o interior. Quando no comea pelo corpo, irada se pela mente ou pela emo-o, a fim de chegar vontade do homem. No mo-mento em que o homem sujeita essa vontade a Sata-ns, este toma posse de todo o ser, causando a morte do esprito. Todavia no assim que Deus opera. Ele atua sempre do interior para o exterior. O Senhor ini-cia sua obra no esprito do homem. Em seguida, ilu-mina sua mente, desperta suas emoes, e leva-o a exercitar a vontade sobre seu corpo, a fim de lev-lo a realizar a vontade divina. Toda obra satnica comea no exterior, e segue para o interior. J a atuao de Deus parte do interior para o exterior. Dessa forma, podemos distinguir o que, vem de Deus daquilo que vem de Satans. Isso tudo ensina ainda que, quando Satans captura a vontade do homem, passa a ter con-trole sobre ele.

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    Observemos ento que na alma que o homem expressa sua vontade livre e exerce o domnio pr-

    prio. Por essa razo, a Bblia diz sempre que a alma que peca. Exemplo disso so as expresses: "pecado da minha alma" (Mq 6.7); "a alma que pecar" (Ez 18.4,20). E nos livros de Levtico e Nmeros, fre-qentemente se menciona que a alma peca. Por qu? Porque a alma que decide pecar. Nossa definio de pecado : "A vontade aceita a tentao". O pecar um problema da vontade, que uma das funes da alma. Por conseguinte, a expiao dirigida para a alma: "Quando derem a oferta ao Senhor, para fazerdes ex-piao pela vossa alma" (Ex 30.15); "Porque a vida da carne est no sangue. Eu vo-lo tenho dado sobre o altar, para fazer expiao pela vossa alma" (Lv 17.11); "Para fazer propiciao pelas nossas almas pe-rante o Senhor" (Nm 31.50 - ARC). a alma que pe-ca; logo, a alma que precisa ser expiada. Alm dis-so, a expiao s poder ser feita por outra alma:

    "Todavia, ao Senhor agradou mo-lo, fazendo-o enfermar; quando der ele a sua alma como oferta pe-lo pecado... Ele ver o fruto do penoso trabalho de sua alma e ficar satisfeito... porquanto derramou a sua alma na morte... contudo, levou sobre si o pecado de muitos e pelos transgressores intercedeu." (Is 53.10-12.)

    Examinando a natureza do pecado de Ado, des-cobrimos que, alm da rebelio, houve tambm um certo tipo de independncia. No devemos nos esque-cer de que ele tinha vontade livre. E a rvore da vida implica um senso de dependncia. Naquela ocasio, o homem no possua a natureza de I teus. Se, porm, tivesse comido do fruto da rvore da vida, poderia ter obtido a vida de Deus; poderia ter alcanado seu pi-ce, possuindo a prpria vida de Deus. Isso depen-dncia. J a rvore do conhecimento do bem e do mal sugere independncia. Isso se d porque o homem se esforou, atravs de sua vontade, para alcanar um conhecimento que Deus no lhe prometera, nem lhe havia outorgado. Com sua rebelio, ele declarou sua independncia. Rebelando-se, no precisava depender de Deus. Alm disso, desejando o conhecimento do bem e do mal, tambm manifestou sua independncia, pois no estava satisfeito com o que Deus j lhe havia concedido. A diferena entre o espiritual e o que da alma (**) clara. Enquanto o espiritual depende to-talmente de Deus, e se satisfaz plenamente com o que Deus deu, o que da alma (**) foge de Deus e cobia o que o Senhor no concedeu, principalmente o "co-nhecimento". A independncia uma caracterstica especial daquilo que da alma (**). E qualquer ao nossa, por melhor que seja, pode assumir essa condi-o. Basta, para isso, que seja praticada fora da com-pleta dependncia do Criador, unicamente atravs da autoconfiana. O prprio culto que prestamos a Deus est sujeito a isso. A rvore da vida no pode crescer dentro de ns ao lado da rvore do conhecimento. Todo pecado cometido por crentes e incrdulos resul-tam de atitudes de rebelio e independncia.

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    O ESPRITO, A ALMA E O CORPO DEPOIS DA QUEDA

    Ado vivia pelo flego de vida, que se tornou seu esprito. Pelo esprito, ele tinha percepo de Deus, conhecia a voz divina, e comungava com ele. Ento possua uma conscincia muito aguda de Deus. De-pois da queda, porm, seu esprito morreu.

    Quando o Senhor falou com Ado, no princpio, ele lhe disse: "no dia em que dela comeres (do fruto da rvore do conhecimento do bem e do mal), certa-mente morrers" (Gn 2.17). Entretanto Ado e Eva continuaram a viver, durante centenas de anos, mes-mo depois de haver comido do fruto proibido. A con-cluso lgica que a morte a que ele se refere aqui no a fsica. A morte de Ado comeou em seu es-prito.

    Na realidade, o que vem a ser a morte? De acordo com a definio cientfica, "a interrupo da comu-nicao com o ambiente". A morte do esprito a in-terrupo da comunicao deste com Deus. A morte do corpo a interrupo da comunicao d