o homem e sua terra - luiz aires de sousa

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O HOMEM E SUA TERRA LUIZ AIRES DE SOUSA Pesquisa e texto: Osmar Lucena Filho PIQUET CARNEIRO Ceará

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Pesquisa e Texto: Osmar Lucena Filho

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Page 1: O HOMEM E SUA TERRA - LUIZ AIRES DE SOUSA

OHOMEME SUATERRA

LUIZ AIRES DE SOUSAPesquisa e texto:

Osmar Lucena FilhoO HOMEM E SUA TERRA

PIQUET CARNEIROCeará

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Pesquisa e texto:Osmar Lucena Filho

Osmar Lucena Filho nasceu em Piquet Carneiro no dia 16/01/1967. Licenciou-se em 19/01/1996, em Letras, pela Faculdade de Educação, Ciências e Letras de Iguatu - FECLI/UECE; é também Pós-Graduado pela mesma entidade, FECLI UECE, em nível de Especialização, no Ensino da Língua Portuguesa. Ingressou no magistério em 1986, passando a lecionar, a partir de 1988, as disciplinas: Língua Portuguesa, Literatura Brasileira, Arte e Educação e Produção Textual. Em Piquet Carneiro, desempenhou o cargo de Subsecretário da Educação, Diretor do Departamento Municipal de Cultura, Coordenador da Biblioteca Municipal, Superintendente da Casa do Cidadão e Ouvidor Geral do Município.

Obras publicadas:•OpúsculossobreaHistóriadePiquetCarneiro(1991)•ACaminhadadaFé(1999)•ConstruindoaHistóriaePreservandoaMemória(2004)•LuizAiresdeSouza:Ohomemesuaterra(2008).

Outros escritos de sua autoria:•ColunaOlhoVivo,nojornalFolhadoSertão;•Artigos publicados nos jornais Diário doNordeste, A Praça e Boletim da Diocese de Iguatu.

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OHOMEME SUATERRA

LUIZ AIRES DE SOUSA

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Pesquisa e texto:Osmar Lucena Filho

O HOMEM E SUA TERRALuiz Aires de Sousa

Piquet Carneiro - Ceará

O HOMEM E SUA TERRA Luiz Aires de Sousa

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Título:O HOMEM E SUA TERRA

Luiz Aires de Sousa

Pesquisa e texto:

Osmar Lucena Filho

Criação:

LAN Comunicação

Diagramação

Joevan Pinheiro OtavianoLucas Alves Otaviano

Revisão:

Rafael Aires de CastroAna Maria Pessoa Aires

José Lima Zaranza

Gráfica

Editora e Gráfica LCR Ltda.

Direitos desta obra reservados

© Ana Maria Pessoa Aires

Impresso no Brasil

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Nunca vou te esquecer...

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O HOMEM E SUA TERRA Luiz Aires de Sousa

AO AUTOR

Os sinceros agradecimentos da família AIRES a Osmar Lucena Filho, autor desta obra que retrata tão fielmente nosso querido pai. Sem você, Basinho, não teríamos fatos e dados tão ricos e precisos para realizarmos nosso sonho.

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O HOMEM E SUA TERRA Luiz Aires de Sousa

UMA PALAVRA DO AUTOR AOS LEITORES

Em julho de 2006, um artigo de minha autoria publicado no jornal Folha do Sertão, tendo, como tema, a evocação de um filho ilustre de Piquet Carneiro - Luiz Aires de Sousa - foi o bastante para despertar, na família do homenageado, a concretização de um sonho, há muito acalentado pelos membros desta: a publicação de um livro em que fosse refletida, mais plenamente, a trajetória do co-fundador e ex-líder político de Piquet Carneiro, três vezes honrado pela missão de chefe do Executivo em sua terra natal. Não constitui, todavia, missão fácil, à luz do amplo contexto da vida de Luiz Aires de Sousa escolher um ponto fundamental, no qual a pluralidade dos seus traços biográficos encontre como que um baricentro que unifique o todo: o chefe de família, o líder político, o cidadão comum entrelaçam-se, completam-se formando esse todo. Nosso trabalho, humilde e despretensioso, quer, pois, ser um tributo, à memória deste cidadão, que fez história em Piquet Carneiro e na região Sertão Central. Por isso, o título: Luiz Aires de Sousa: O homem e sua terra. Impossível torna-se separar o cidadão Luiz Aires desua amada Piquet Carneiro. Duas histórias? Não! Um só coração e uma só alma! Por isso, ao longo das páginas deste trabalho, a pesquisa se volta para ambos: para o homenageado e para sua terra. Devo ter o cuidado de esclarecer isto: trabalho desta natureza jamais será completo. A outros tantos, caberá, por conseguinte, o trabalho do recheio, da interpretação. Enfim, a vigente tradição oral popular, tão cara também aos piquet-carneirenses: “Feci quod potui, faciant meliora potentes”. Em vernáculo: “Fiz o que pude, quem melhor puder que o faça.”

Osmar Lucena Filho

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PREFÁCIO

É conhecendo História que se faz história. É conhecendo a História do mui digno educador Osmar Lucena Filho que me sinto honrada e orgulhosa ao receber o convite do ilustre professor, licenciado em Letras e pós-graduado com o título de Especialista no Ensino da Língua Portuguesa, para escrever este prefácio. Porém, muito mais que isso, me satisfaz ter participado do seu processo educativo e - por que não dizer - de sua formação humana e cristã. Vindo o mesmo de pais, por natureza, cultos e zelosos com a educação dos filhos, o Sr. Osmar Pereira de Lucena e a Sra. Antônia Letícia Alves Lucena, pessoas de bom exemplo familiar e social, gozam, assim, do privilégio de terem um filho tão prendado. Como podemos ver, foi no seio da família que, em Osmar Filho, nasceu o gosto pela leitura, pela história e pela religião, e por tanto mais que se possa imaginar. Foi, desde o ensino fundamental, em fins da década de 70, no primário (como era então conhecido o ensino fundamental de 1ª a 4ª série), mais precisamente a partir da 4ª série, que o Basinho, como,até hoje, é tratado pelas pessoas mais íntimas, passou a ser meu discípulo, até o término do mesmo ensino fundamental, em 1983. Aquele pré-adolescente sentia a necessidade de alguém que o ajudasse a perder a timidez. Foi, pois, com a colaboração desta humilde professora que o garoto, hoje professor, pesquisador e escritor, começou a sobressair-se. Demonstrou, a partir daí, o seu interesse pela escrita correta, por uma boa leitura e, principalmente, pela oratória.Destacou-se, como pesquisador, em todos os assuntos, tornando-se, assim, um referencial polivalente. E, a partir de seus artigos publicados em jornais, como o Folha do Sertão, Diário do Nordeste e o Boletim da Diocese de Iguatu, o mencionado professor notabilizou-se, e foi, por conseqüência, convidado, pela família Aires, a escrever este livro, ao qual deu o título: Luiz Aires de Sousa: O homem e sua terra. Como não se faz História sem pré-história, o autor procurou buscar registros sobre as origens do município de Piquet Carneiro, desde quando este era denominado Jirau.

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O HOMEM E SUA TERRA Luiz Aires de Sousa

Ao lermos o livro Luiz Aires de Sousa: O homem e sua terra, podemos observar que o escritor olha, não só para o passado do homenageado, mas também para toda a história de Piquet Carneiro, seja no campo político, religioso, social e econômico de nossa gente. A referida obra é, pois, de grande valor para o conhecimento de eventos relacionados à História de Piquet Carneiro e, por extensão dos fatos, servirá de grande ferramenta, como fonte de pesquisa, para os nossos estudantes e demais pessoas interessadas no estudo do nosso município. Sabemos que, pela forma eloqüente e zelosa como o autor conduz o texto, não há dúvida de que a leitura desta obra tornar-se-á ponto de saboroso entretenimento cultural. Teve Osmar Filho uma feliz iniciativa, caracterizada pelo amor à cultura e à história, quando descreve, com segurança, através de uma coletânea de informações sobre Luiz Aires e Piquet Carneiro. Cuidadosamente dá-nos informações daquele antigo povoado denominado Jirau. Mostra o sofrimento dos primeiros habitantes, vitimados pelas secas, pela falta de escolas e por tantas outras dificuldades e limitações do passado. Pelo que podemos observar, o homenageado Luiz Aires nasceu no seio de uma família católica e, em assim sendo, tomou tanto gosto por essa religião que, bem jovem, com apenas 23 anos, integra-se à comissão responsável pela criação da Paróquia de Piquet Carneiro, redigindo a carta de petição da instituição da sobredita paróquia ao Sr. Arcebispo Metropolitano de Fortaleza, o saudoso Dom Lustosa. Paróquia esta cujos 60 anos de instalação canônica estamos, neste 2008, ainda a celebrar. Luiz Aires nascera para ser líder! No campo da política, teve grande influência e lutou para ver efetivada a criação do município, sendo eleito o primeiro prefeito de Piquet Carneiro, e se repetindo, nesta função, por mais duas vezes. Que este trabalho estimule muita gente a se interessar pela história que nossos antepassados fizeram e que nós agora a fazemos. Vamos, pois, às páginas de Luiz Aires de Sousa: O homem e sua terra.

Profª. Francisca Gomes de Morais

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ORIGENS DE PIQUET CARNEIRO

Infelizmente, há poucos dados, oficialmente registrados, sobre as origens piquet-carneirenses.

O abalizado jornalista Doriam Sampaio, falecido em 2000, em sucessivas edições de seu famoso Anuário do Ceará limita-se a afirmar, quando segue, em relação ao surgimento de Piquet Carneiro: “O povoado de Jirau, resultante da construção da estrada de ferro de Baturité no lugarejo, deu origem ao distrito de igual denominação que pertencia ao município de Senador Pompeu”.

Francisco de Andrade Barroso prolonga-se mais, ao tratar de igual tema, no livro “Igrejas do Ceará: crônicas descritivas.” Diz ele: “Firmando-se as fazendas de criação de gado estabelecidas nos altos vales do Banabuiú e seus afluentes, rasgou-se um caminho, por entre caatingas, campos e frondosas matas existentes nos pés de serra ligando as localidades de Humaitá, Miguel Calmon e Lages etc., caminho que se alargou para dar passagem às tropas de burros e às boiadas, e que serviu de rumo à construção de via férrea da Estrada de Baturité, que avançava ao encontro do Cariri, ao fim da primeira metade do século XX. (...).”

Piquet Carneirona década de 50.

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Continua o cronista Andrade Barroso: “No lugar Jirau (...) cruzava com aquela via de penetração uma vereda, vinda do lado do Riacho do Sangue, que se embrenhava por estreitos desfiladeiros, através de formações orográficas atormentadas, para ir até Maria Pereira; a estrada de ferro, desejosa de atrair clientes, provavelmente localizou, desde logo, uma parada ali, que, por sua vez, determinou a formação de pequeno núcleo habitacional.”

Portanto, a terra que viu Luiz Aires despontar para este mundo surgiu, indubitavelmente, da construção da Estrada de Ferro de Baturité - EFB. Esta estrada é sua certidão de nascimento.

O LIMIAR

Estamos nos primeiros anos do século XX. No dia 15 de novembro de 1907, é inaugurada a estação ferroviária local. Os primeiros habitantes vão-se instalando nas adjacências da supracitada estação. Mas quem são eles? No número desses, as famílias chefiadas pelos cidadãos Manoel Ricarte da Cunha, Casimiro Nogueira, José Marques Filho, Francisco Rodrigues de Paula e Antônio Fernandes Lima.

Estação Ferroviária de Piquet Carneiro.

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TOPÔNIMO PRIMITIVO: JIRAU

Informações que nos chegaram por via oral, da parte, obviamente, daqueles que nos precederam, dão-nos, realmente, conta da existência de jiraus - espécie de estrado de varas sobre forquilhas cravados no chão, usado para guardar panelas, pratos, legumes etc. - erguidos, que eram, por caçadores de veados e onças, às margens do leito da ferrovia. Na calada da noite, esses caçadores armavam suas tocaias, em sentinela, pois, à chegada das presas; acantonavam-se, para tanto, nos referidos jiraus. À luz da etimologia, convém ressaltar que “jirau” é uma palavra indígena, uma corruptela de “ig rab”, ou seja, “o que é para colher a comida”. E mais: grafado, noutra possibilidade, com “g” - Girau - vem a significar “casa ou terraço feito sobre forquilhas”. Em embarcações - na jangada, por exemplo - o termo assume nova significação: espécie de estrado onde se acomodam passageiros.

A SECA DE 1915

Faltavam ainda oito anos para o nascimento de Luiz Aires quando violenta e devastadora seca martirizou estes sertões. Refiro-me à seca de 1915. O insigne historiador Haroldo Mota, em História Política do Ceará, citando o Barão de Studart, assim estimou os prejuízos daquela estiagem: “42.000 cearenses migraram, 30.000 morreram de fome; 4.441.000 caprinos, 211.000 cavalos, 112.000 asininos e muares e 243.000 suínos morreram de fome e de sede”. Inspirada nos sinistros efeitos dessa seca, a escritora cearense Rachel de Queiroz (H1910 - =2003) publicou, em 1930, seu primeiro grande romance, intitulado O Quinze, romance de cunho regionalista, que a lançou, efetivamente, no fascinante mundo de nossas literárias letras.

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PRIMEIRA ESCOLA PARTICULAREM PIQUET CARNEIRO

Proveniente de Quixeramobim, a convite do Sr. Casimiro Nogueira chega, em 1918, à Vila de Jirau, a professora, D. Idalice Nogueira, que passa a ministrar aulas para particulares, ao preço de dois mil réis.Contemporânea sua, no Piquet Carneiro de antigamente, foi a professora Cora de Castro.

A DÉCADA DE 20NASCIMENTO DE LUIZ AIRES DE SOUSA

Julho de 1923. No dia 14,na residência do casalMariano Aires do Nas-cimento (H04.06.1897 - =23.01.1984) e Maria do Carmo Aires do Nasci-mento (H19.08.1899 -

=08.06.1982), com sede na comunidade de Salão, a poucos quilômetros da Vila de Jirau, nasce uma criança. Conduzida à pia batismal da Paróquia de Nossa Senhora das Dores, recebe a graça da filiação divina pelo padre Francisco Lino Aderaldo de Aquino, passando a identificar-se pelo prenome de Luiz, seguido dos sobrenomes Aires de Sousa. É o primogênito do casal. Seguir-se-iam: Valderice, Francisco, Vilani e Antônio.

Naquele mesmo ano, a família mudou-se para a Vila de Jirau onde fixaram residência.

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MARIANO AIRES DO NASCIMENTO,PREFEITO DO MUNICÍPIO DE SENADOR POMPEU

Mariano Aires do Nascimento, nascido em Mombaça, em 4 de junho de 1897, e falecido em Piquet Carneiro, em 23 de janeiro de 1984, foi o 17º (décimo-sétimo) Prefeito Municipal de Senador Pompeu, durante o biênio 1937-38. Precedido, em igual cargo, pelo médico Alcides Uchoa Barreira, Mariano Aires foi sucedido por Mozart Soriano Aderaldo, juiz de Direito, escritor e membro da Academia Cearense de Letras. Pertencia Mariano à Liga Eleitoral Católica - LEC, chefiada, em Senador Pompeu, pelo então vigário, Pe. Francisco Lino Aderaldo de Aquino, morto em 1941. No curso de sua gestão, é sabido que assinou os Decretos-Lei, respectivamente, o de nº 01, de 26 de dezembro de 1937, e o de nº 7, de 22 de dezembro de 1938, pelos quais são orçadas e fixadas as despesas para o exercício de 1938 e 1939, assim distribuídas:

EXERCÍCIO DE 1938: RECEITA/DESPESA:112:632$000 (Cento e doze contos, seiscentos e trinta e dois mil réis)

EXERCÍCIO DE 1939: RECEITA/DESPESA:120:000$000 (Cento e vinte mil contos de réis)

A CHEIA DE 1924 JIRAU & JIRAUZINHO???

Em 1924, chuvas torrenciais aguaram os sertões nordesti-nos. O transbordamento das águas do riacho Bom Sucessochegou a níveis jamais então vistos, a ponto de cobrir os trilhos da ponte ferroviária, na localidade de Recanto. Ainda em 1924, a Vila de Jirau assistiria à explosão de uma fábrica de algodão, cujo proprietário era o Sr. Neo Militão. Localizava-se, a citada fábrica, no lugar onde, hoje, está situado o bairro do Piquezinho. Aliás, um dado, talvez pouco conhecido dos piquet-carneirenses, é este: em tempo que já vai distante, o tradicional

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bairro do Piquezinho também era identificado pela forma diminutiva do antigo topônimo de Piquet Carneiro: “jirauzinho”. Sobre o aludido fenômeno lingüístico, há uma referência de Dom Antônio de Almeida Lustosa, ex-arcebispo de Fortaleza, em seu livro Notas a Lápis, preciosa coletânea de textos escritos no decorrer das “visitas pastorais” que o venerado arcebispo fazia pelo interior do nosso Estado.

A SECA DE 1932: SOB O OLHAR REPRESSORDE FEITORES

“Te cala, acauã , que é pra chuva voltar cedo!”(Zé Dantas e Luiz Gonzaga)

Os jirauenses vivenciaram, em 1932, outra terrível e avassaladora seca, que, para maior desespero da população, veio “de mãos dadas” com um surto de febre amarela. Na vila de Jirau, o obituário multiplicou-se e, como não havia cemitério “in loco”, os sepultamentos eram realizados em Mulungu.

Airton de Farias, professor da rede particular de ensino do Estado do Ceará e pesquisador de História do Ceará, oferece-nos o panorama macabro daquele 1932. É uma fotografia, em preto-e-branco, do sertão cearense, naquele 32 cruel : “milhares de pessoas morreram de fome, de sede, de doenças, tendo em vista a pouca assistência do governo. Este, por meio da Inspetoria Federal de Obras Contra a Seca (IFOCS) limitava-se quase ao alistamento de sertanejos para trabalhar na construção de açudes e estradas. Tais trabalhadores, chamados pejorativamente de cassacos (gambás), laboravam de sol a sol sob o olhar repressor de feitores. Não recebiam salários em moeda, mas em gêneros alimentícios, os quais, na maioria das vezes, eram desviados pelos encarregadores da distribuição...” (cf. História do Ceará - Dos índios à geração Cambeba. P. 186).

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SECA E CHUVA NO NOSSO SERTÃO:NUMA VISÃO “RETROSPECTA”

Osmídio Felício de Souza, 91 anos de idade, é natural de Mombaça, mas chegou a estas plagas piquet-carneirenses em janeiro de 1942. Recém-casado, instalou-se no sítio São Gonçalo. De lá, ausentar-se-ia somente em fins de 1998. Sempre viveu da agricultura. Reside, desde 2006, na Chácara Santo Antônio de Pádua, com sede no sítio Pau-a-pique, município de Piquet Carneiro.

Auxiliado por ele, busquei recompor, seguindo uma ordem cronológica, a alternância, como se verá, da quadra invernosa, e do período das secas, em nossos sertões:

Anos de seca: 1915, 1919, 1932, 1951/52, 1958, 1970. Anos tidos como de “invernos fracos e/ou regulares”, a chamada, numa expressão mais moderna, “seca-verde”: 1931, 1933, 1936/37, 1941, 1943, 1948, 1953, 1957, 1960, 1971/72, 1978-83; 1987/88; 1991-93; 1998; 2002/03; 2005/07. Anos de invernos considerados “bons e/ou ótimos”: 1920/21, 1929/30. 1934/35, 1944/47, 1949/50, 1954/56, 1959, 1962/69, 1973/76; 1984/86; 1989/90; 1995/97; 1999/2000; 2004; 2008.

LUIZ AIRES NA ESCALADA DO SABER

“Que saudades da professorinha, que me ensinou o bê-á-bá...”

(Ataulfo Alves)

Seus estudos iniciais foram feitos com a professora Quitéria Veras Vieira, numa escola pública existente na Vila do Jirau, até a idade de 10 anos.

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Desde tenra idade, Luiz Aires revelou uma inclinação natural pelos estudos, razão pela qual seus pais logo o mandaram para Fortaleza. Estava-se em 1933.

O futuro prefeito e líder político, com apenas 10 anos de idade, vislumbrava, não sem emoção, um mundo diferente do tórrido sertão, instalado, agora, na capital da Terra do Sol. Os “verdes mares bravios” da capital cearense foram, com certeza, encanto para os olhos daquele petiz.

Colégio Cearense

1936 - Liga Eucarística

1936 - 1ª Série

4º Ano Primário

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Ter-se-á ele dado conta - tão novo, garoto ainda! - de que, exatamente naquele 1933, no dia 4 de dezembro, sua terra natal, Piquet Carneiro, que ele viria a administrar por três vezes, passara da categoria de Vila à categoria de Distrito de Senador Pompeu? Não sabemos. Certo é que, pelo Decreto 1.156, o então Governador do Ceará, o capitão Roberto Carneiro de Mendonça, criou o novo distrito de Jirau.

Matriculado no conceituado Colégio Cearense do Sagrado Coração de Jesus, na qualidade de aluno interno, cursou neste estabelecimento de ensino do 1° ano primário ao 5° seriado. Neste mesmo período, no horário noturno, fez o curso de Ciências Contábeis na Academia Comercial Padre Champagnat. Em 1936, com 13 anos, quando aluno interno do Colégio Cearense, fez sua 1ª Eucaristia, tendo como catequista o Irmão Adauto.

1937 - Colégio Cearense

1939 - Internos

Colégio Liceu do CearáLuiz Aires

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O HOMEM E SUA TERRA Luiz Aires de Sousa

No ano de 1940, cursou no colégio Liceu do Ceará, o Pré-Médico, tendo concluído o 2° ano. Naquela época não existia no Ceará uma Faculdade de Medicina e, para cursá-la, teria, necessariamente, que se deslocar para outro Estado da Federação. Na total impossibilidade deste deslocamento, parou seus estudos.

ESPÍRITO FRANCISCANO!

Por relatos de sua genitora, Dona Carminha Aires, repassados à família, Luiz Aires sempre se revelou uma pessoa generosa, a ponto de, em criança, ao sair para divertir-se com os amigos, doar, aos mais carentes, a camisa e os chinelos. Tal “franciscana” atitude, obrigava sua mãe a ter que providenciar novos enxoval e fardamento, quando Luiz tinha que retornar para Fortaleza, aluno que era, do Colégio Cearense do Sagrado Coração.

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O RETORNO À SUA TERRA NATAL E ÀS ATIVIDADES AGROPECUÁRIAS

Concluídos, que foram, os estudos em Fortaleza, Luiz regressa à sua terra natal. Nova incumbência o aguarda: auxiliar o pai, Mariano Aires, à testa da direção de uma loja de diversificados artigos, de propriedade deste. Tornou-se sócio de seu pai na Firma Comercial Mariano Aires e Filho (a maior casa de comércio da região central do Ceará).

Na época, o cultivo do algodão estava em voga como índice de nosso principal produto industrializado. Luiz Aires, com o vigor e o talento de seus vinte e poucos anos, resolve, então, empenhar-se na compra e venda do “ouro” branco. Os negócios prosseguem com reconhecido êxito. Fruto desse sucesso nasce a Usina São Luís – Beneficiamento de Algodão e Madeira, cujas ruínas ainda puderam ser vistas, até os inícios da década de 1990, em terreno próximo ao atual prédio do Fórum. Em meados da década de 1960, mais precisamente em 1965, uma segunda usina seria inaugurada: a AIRES, Comércio e Indústria S/A - ACISA, localizada na Fazenda Rancho Alegre, na época, de sua propriedade.

Luiz Aires buscou fazer do binômio pecuária e agricultura o trampolim, em vista do crescimento de seu patrimônio econômico-financeiro.

Usina São Luís Usina ACISA

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1943: A CONSTITUIÇÃO DE UM LAR

Dona Maria Luiza provém da tradicional família Pessoa de Carvalho, de Senador Pompeu, com destaque na área educacional, como a professora Cristina Pessoa; e, na religiosa, a exemplo, o Pe. João Pessoa.

A natureza foi-lhe benevolente: ainda hoje, não obstante o correr do tempo, ainda conserva os traços estéticos de uma rara beleza, emoldurada, ainda mais, por um sorriso encantador, dispensado aos seus interlocutores, quando a visitam ou a cumprimentam. Dona Maria Luiza Pessoa Aires, pela dedicação aos seus e à edificação de sua família, recorda-me a “mulher forte”, aquela louvada por Salomão, no livro dos Provérbios: “Quem poderá achá-la?” - pergunta o rei e adianta: “seu preço excede a tudo o que vem de longínquas distâncias e dos últimos confins da terra (...) reveste-se de fortaleza e verá, risonha, o último dia. (...) Levantaram-se seus filhos e proclamaram ditosíssima. (...) Foi esta senhora que Luiz Aires, então com 20 anos, elegeu como dileta esposa e mãe de seus filhos, que a Providência lhes quis conceder em número de quatro: Luiz Roberto, Eva Maria, Marilu e Ana Maria.

Maria Luiza

Luiz Aires Maria Luiza e Luiz Aires

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O calendário assinalava o ano de 1943, quando esta decisão, após um tempo de namoro e noivado, foi amadurecida e converteu-se em casamento.

Assim, coube ao Pe. Odilo Lopes de Melo Galvão, então vigário da Paróquia de Nossa Senhora das Dores, em Senador Pompeu, assistir e abençoar os nubentes:Luiz Aires de Sousa e Maria Luiza Pessoa Aires, os quais, “com o favor de Deus e da Santa Madre Igreja”, resolveram unir-se em matrimônio.

Casamento de Luiz Aires e Maria Luiza

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1948 - LUIZ AIRES INTEGRA A COMISSÃO QUE ULTIMA OS TRABALHOS EM VISTA DA CRIAÇÃO DA PARÓQUIA DE PIQUET CARNEIRO

O raio de abrangência das ações de Luiz Aires em Piquet Carneiro não se restringe ao setor sociopolítico: também na esfera religiosa, ele impregnou sua marca de líder. Com efeito, em maio de 1946, ele se incorpora à comissão encarregada de articular, junto ao então Arcebispo Metropolitano de Fortaleza, Dom Antônio de Almeida Lustosa, a instituição da Paróquia do Sagrado Coração de Jesus, de Piquet Carneiro.

Igreja do Sagrado Coração de Jesus

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Em carta, redigida por Luiz Aires, com data de 1º de maio de 1946, a Comissão supramencionada dirige-se ao Arcebispo Metropolitano de Fortaleza, nestes termos:

“AoExmo. e Revmo. Dom Antônio de Almeida LustosaM.D. Arcebispo MetropolitanoFortaleza - CE

Tomamos a liberdade de vos dirigir a presente missiva com o intuito único de vos tornar ciente do que se segue, como também para contarmos com o vosso apoio, condição primordial para realizarmos o nosso ideal.

No dia 28 pp. fizemos uma reunião, na qual compareceram todas as pessoas de boa vontade desta Vila, tendo, como objetivo único, a aludida reunião, angariarmos donativos em prol da paróquia. O resultado desta foi satisfatório, donde conseguimos a importância de Cr$ 10.000,00 (dez mil cruzeiros); esta, adicionada a uma economia que tínhamos, para o mesmo fim, de Cr$ 6.000,00 (seis mil cruzeiros) tornou-se, por conseguinte, em um total de 16.000.00 (dezesseis mil cruzeiros). Isto prova, tão-somente, que estamos ansiosos pela criação de uma paróquia nesta vila.

De forma que, contando com o apoio de V. Exa. Revma., queremos que a missa do Natal seja celebrada pelo vigário de nossa paróquia. Com isto, mais uma vez, queremos provar que queremos a Paróquia.

Conforme fomos sabedores de que V. Exa. Revma. acede a vinda do padre por Cr$ 20.000,00 (vinte mil cruzeiros) temos a vos garantir que, desta data, até o fim de outubro próximo, faremos a aludida importância.

O portador desta é o Sr. Cícero Alencar Guerra, pessoa em quem confiamos e de magno interesse pelo que acabamos de expor. Ele está devidamente autorizado a combinar e acertar tudo o que for mister com V. Exa. Revma.

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O HOMEM E SUA TERRA Luiz Aires de Sousa

Certos de vossa aquiescência ao pedido, desde já os nossos efusivos agradecimentos e subscrevemo-nos atenciosamente,

Luiz Aires de Sousa, Cícero Alencar Guerra, Alfredo Bezerra, Mariano Aires do Nascimento, José Aires da Silva, Franco José Vieira, Euclides Gomes da Silva, Enéas Alves Barbosa, David Teixeira de Castro, Severino Barbosa, Joaquim Rodrigues de Paula, Raimundo Fernandes Lima, Enemias Fernandes, Antônio Moreira Pinto, Bernardino Xavier de Morais e José de Melo Brasil.”

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OS VIGÁRIOS DE PIQUET CARNEIRO, UM A UM

1° Pe. Antônio Pinheiro Freire Paroquiato: 15 de fevereiro de 1948 a 15 de fevereiro de 1955

2° Pe. Alberto Nepomuceno de Oliveira Paroquiato: 5 de março de 1955 até 29 de janeiro de 1959

3° Pe. Francisco Alves Teixeira Paroquiato: 9 de fevereiro de 1959 a janeiro de 1966

4° Pe. Agostinho Paulino de Melo Paroquiato: 13 de março de 1966 a 20 de janeiro de 1974

5° Pe. Monsenhor Antônio Alves de Oliveira Paroquiato: 24 de março de 1974 a 30 de abril de 1975

6° Pe. Ricardo Siuta Paroquiato: abril de 1975 a 5 de setembro de 1976

7° Pe. José Joaci Cavalcante Paroquiato: 5 de dezembro de 1976 a 1978

8° Pe. Afonso Queiroga da Silva Paroquiato: inícios de 1978 a março de 1980

9° Pe. Inácio Biesdorf Paroquiato: abril de 1980 a junho de 1981

10° Pe. Renzo Cassoni Paroquiato: junho de 1981 a 4 de abril de 1982 11° Pe.Umberto Maille Paroquiato: outubro de 1982 a outubro de 1983

12° Pe. Policarpo Ribeiro de Menezes Paroquiato: 4 de março de 1984 a 2 de dezembro de 1985

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13° Pe. Graziano Odorizzi Paroquiato: 6 de junho de 1986 a 29.05.1987

14° Pe. José Doth de Oliveira Paroquiato: 19 de março de 1988 até 2 de julho de 1988

15° Pe. Francisco Chagas Souza Nobre

16° Pe. Paulo da Silva Cavalcante, OSB Paroquiato: 17 de fevereiro de 1989 a 1° de abril de 1990

17° Pe. Francisco Valberto Marinho Barreto

18° Pe. Paulo da Silva Cavalcante Paroquiato: 4 de julho de 1990 até 8 de setembro de 1991

19º Pe. Pedro Aquino Rolim Paroquiato: outubro de 1991 a 6 de março de 1994

20° Pe. Antônio Fernandes do Nascimento Paroquiato: 6 de janeiro de 1995 a 5 de março de 1995

21° Pe. José Leirton Alencar Souza Paroquiato: 5 de março de 1995 a 7.02.1998

22° Pe. Pedro Aquino Rolim Paroquiato: 17 de fevereiro de 1998 a 20 de abril de 2001

23° Pe. José Batista da Silva Paroquiato: início em 20 de abril de 2001

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1950: O INGRESSO NA POLÍTICA

A primeira experiência na esfera da política partidária, Luiz Aires a fez em 3 de outubro de 1950, concorrendo a uma cadeira no Legislativo, em Senador Pompeu. Logrou êxito, posto que foi o vereador mais bem-votado, atingindo um patamar de 842 votos. Era filiado ao Partido Social Democrático - PSD, de oposição ao prefeito eleito, cidadão Acrísio da Silva Jácome (= 1999), dos quadros políticos da União Democrática Nacional, a UDN. Outros vereadores do PSD eleitos na ocasião: Filemon Magalhães, Antônio Gonçalves de Magalhães e Pedro Benevides Pedrosa. Da UDN foram eleitos: Audísio Vieira do Nascimento, Joaquim Ferreira de Magalhães, Jaime Paulino de Souza, Agostinho Alves Bezerra e José Aprígio Silva.

Tendo recebido o maior número de votos, o jovem político passa, então, a exercer a presidência da Câmara Municipal.

Comício em Senador Pompeu animado por Luiz Gonzaga e Humberto Teixeira

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17 DE DEZEMBRO DE 1951O TREM DESGOVERNADO MORTE NO QUILÔMETRO 322 DA ENTÃO RVC – REDE DE VIAÇÃO CEARENSE

“Em Ramá se ouve uma voz, lamentação, choro amargo; Raquel chora seus filhos.”

(Do Livro do Profeta Jeremias: cap. 31, vers. 15)

Uma segunda-feira banhada de sol, o dia 17 de dezembro de 1951 despontou tranqüilo no cotidiano da vida dos piquet-carneirenses. Mas o fatídico desastre de trem com passageiros, ocorrido por volta das 8 horas da matina, transformaria completamente o clima de quietude e de pacatez, próprio de uma vila interiorana, em página crucial de dor e de desespero para todos: acontecera o maior acidente ferroviário da então Rede de Viação Cearense - RVC, com, aproximadamente, uma centena de mortos.

No livro “Migalhas do Sertão”, escrito pelo então vigário de Senador Pompeu, Pe. João Paulo Giovanazzi, o Sr. Darlois Franco Ribeiro, antigo agente da estação ferroviária daquela cidade, já falecido, informa que “numa curva, por excesso de velocidade, seis carros - quatro de passageiros, o restaurante e um bagageiro - viraram.”

Proveniente de Crato, com destino a Fortaleza, esse trem pernoitara em Iguatu, de onde, cedinho, partira. Era conduzido pela locomotiva a diesel, de prefixo 612, comandada pelo maquinista João Cruz, o homem sobre quem recaiu a maldição das famílias enlutadas...

Lembro-me, a propósito, de que um dos “temas” das, quase freqüentes, conversas, que mantive com Luiz Aires, teve, como ponto central, exatamente, esse trágico acontecimento. Falava-me ele, na ocasião, das impressões

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que guardara, no escrínio da memória, daquela maldita ocorrência.

Ao tomar conhecimento do trem sinistrado, Luiz Aires estava - hábito que cultivaria ainda por longos anos - entretendo-se com populares junto ao comércio local. Antes, porém, que a triste informação a ele chegasse, confidenciou-me haver percebido, nitidamente, um barulho, “típico de um estrondo de trovão”, seguido de uma “nuvem de poeira” que, por alguns minutos, breves instantes até, se agigantou nos céus de Piquet Carneiro: estranho fenômeno lhe pareceu - como para muitos - aquele! Diante da certificação dos fatos, buscou Luiz Aires associar-se ao grupo de voluntários que marchou em busca do local do acidente, a fim de prestar socorro às vítimas.

Saliento que, nesta época, em 1951, o cartório de registro civil já se encontrava sob a direção de Luiz Aires e de sua esposa. Assim, coube a dona Maria Luiza a incumbência, perante a história, de lavrar os termos de óbito de alguns passageiros do trem cognominado “da morte”.

O ATENDIMENTO DE MÉDICOSE ENFERMEIROS FEITO ÀS VÍTIMASEM PIQUET CARNEIRO

Recorro como fonte de informação, ao jornal O Povo, no enfoque a esta notícia sobre as atividades realizadas pelas equipes médicas, em Piquet Carneiro:“O trabalho heróico para salvar a vida dos que ainda a retinham no corpo dilacerado pelo espetacular descarrilamento foi inegavelmente o desenvolvido por médicos e enfermeiros em Piquet Carneiro, onde não havia recursos terapêuticos nem material cirúrgico para atender aos sinistrados. Olhos foram arrancados a mão livre e até serrotes comuns de carpinteiro funcionaram nas amputações.” (Cf. O Povo, terça-feira, 18 de dezembro de 1951)

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1952: UM CRUZEIRO“AD PERPETUAM REI MEMORIAM”

Em decorrência da repercussão da tragédia, um ano após a ocorrência desta, em 17 de dezembro de 1952, por iniciativa do vigário local, Pe. Antônio Freire, com o apoio do prefeito municipal de Senador Pompeu, Acrísio da Silva Jácome, ergueu-se, no local do sinistro, um cruzeiro, em cujo epitáfio podem, ainda hoje, 57 anos depois, ser divisadas estas breves, porém sublimes expressões: “Os sufrágios da Paróquia de Piquet Carneiro pelas vítimas do desastre de trem aqui ocorrido em 17 - 12 - 1951.”. E, na face do monumento supra voltada para o leito da ferrovia: “Homenagem da Prefeitura Municipal de Senador Pompeu. Acrísio da Silva Jácome, prefeito municipal.”. A última inscrição citada até que resistiu à pátina do tempo; porém, sucumbiu à ação devastadora de gente de má índole, que a destruiu.

Ainda hoje, neste local, são celebradas missas e são feitas peregrinações pelos devotos das almas das vítimas deste acidente. Em memória dessa tragédia, a fazenda de seu filho Luiz Roberto, situada no local do desastre, recebeu o nome de Fazenda Cruzeiro.

ELEIÇÕES MUNICIPAISDE 3 DE OUTUBRO DE 1954

O ano de 1954 constituiu-se em um dos mais significativos na vida de Luiz Aires. É sua primeira campanha direcionada para o alto cargo de chefe do Poder Executivo do município de Senador Pompeu, de que Piquet Carneiro, naquele 1954, ainda era distrito. Luiz Aires enfrentaria José Benigno Soares.

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José Benigno (1915-1974) era natural de Senador Pompeu, e estava, politicamente, agregado à União Democrática Nacional - UDN. Assim, por extensão dos fatos, contava com o apoio do prefeito d’então, Acrísio da Silva Jácome. Em livro de sua autoria, publicado em 1984, sob o título “De Humaytá a Senador Pompeu”, Fernando Maia da Nóbrega afirma que o pleito eleitoral de 1954 “foi indubitavelmente a mais emocionante peleja eleitoral já existente, até então, em Senador Pompeu.” Continua ele: “José Benigno apresentava uma maioria de 1.384 votos, quando o número total de eleitores excedia em pouco a 3.000. Entretanto, ao serem abertas as urnas dos distritos de Ibicuã, Piquet Carneiro e Mulungu, Luiz Aires conseguiu 1.174 votos. A diferença final em prol de José Benigno foi somente de 214 sufrágios.” Essa brilhante guinada, dúvida não há, já era, de alguma forma, reflexo da macro liderança político-partidária que Luiz Aires passaria a exercer, dali por diante, agora entre os de sua amada terra.

JULHO DE 1957: PIQUET CARNEIRO EMANCIPA-SE DE SENADOR POMPEU

Solenidade no dia da criação do município

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“Deus quer, o homem sonha, a obra nasce!”

(Fernando Pessoa)

Para quem foi testemunha ocular do evento, a data de 12 de julho de 1957 jamais se extinguirá da lembrança, pois, nesse dia, o distrito de Piquet Carneiro foi elevado à categoria de município.

Eis o panorama sociopolítico no qual se encontravam o Brasil e o mundo no ano em que nasceu o nosso município: à testa da Presidência da República, achava-se Juscelino Kubistchek de Oliveira; o Ceará era governado por Paulo Sarasate Ferreira Lopes; e o Deputado Edson da Mota Correia, representante do município de Caucaia, era quem presidia a Assembléia Legislativa do Ceará. No setor religioso, era bispo de Piquet Carneiro - vale ressaltar que a Paróquia já existia há nove anos - Dom Antônio de Almeida Lustosa; o Sumo Pontífice gloriosamente reinante era o papa Pio XII; e Alberto Nepomuceno de Oliveira, o vigário de Piquet Carneiro. A Lei que elevou o distrito de Piquet Carneiro à categoria de município é a de n° 3.685, subscrita por Edson da Mota Correia, a que já aludimos, no dia 12 de julho de 1957. Luiz Aires de Sousa foi, indubitavelmente, um dos homens de nossa terra que mais sonharam com o advento desse dia. Trabalhou, sem reservas, para tal fim. Como acontecera com a criação da paróquia, para qual ele tanto batalhou, agora sua atenção voltava-se para a concretização desta magna data: a da criação do município de Piquet Carneiro. No dia 11 de agosto de 1957, um domingo, quase um mês após a assinatura da Lei, Luiz Aires, por incumbência do Sr. José Benigno Soares, então prefeito de Senador Pompeu, passa a secretariar o evento que se tornou, por extensão dos fatos, o marco da instalação da nova comuna.

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Por volta das nove horas da manhã daquele dia, o povo, com o coração em festa, congrega-se em multidão na praça brigadeiro Eduardo Gomes - hoje, Praça Mariano Aires - para prestigiar o grande ato. Ergue-se imponente palanque, de frente à residência do Sr. Alfredo Alves Bezerra. A esse, acorrem as lideranças da época.

Um retrato fiel do que aconteceu naquele agosto de 1957, vem-nos da ata da sessão de instalação do nosso município, cujo texto, exatamente redigido por Luiz Aires, passo, ipsis litteris, a transcrever:

ATA DA SESSÃO DE INSTALAÇÃO DO MUNICÍPIO DE PIQUET CARNEIRO-CE - REDATOR: LUIZ AIRES DE SOUSA

“Aos onze dias do mês de agosto de mil novecentos cinqüenta e sete, da Era Cristã, às nove horas, nesta, até então Vila de Piquet Carneiro, do município de Senador Pompeu, do Estado do Ceará, elevada à categoria de sede do município de igual nome, criado pela Lei número três mil, seiscentos e oitenta e cinco, de doze de julho de mil novecentos e cinqüenta e sete, publicada no Diário Oficial do Estado do Ceará, de número seis mil, novecentos e vinte e dois, edição do dia quinze do mesmo mês e ano, na Praça Brigadeiro Eduardo Gomes, o Sr. Prefeito Municipal José Benigno Soares deu início aos trabalhos, convidando o Sr. Luiz Aires de Sousa para secretariá-los, convidando ainda para comparecerem ao palanque os senhores: Pe. Alberto Nepomuceno de Oliveira, vigário desta Paróquia, Pe. Geraldo Aguiar, vigário da vizinha cidade de Senador Pompeu, Pe. Odilo Lopes de Melo Galvão, professor do Ginásio Cristo Redentor, de Senador Pompeu, Dr. Francisco Augusto de Oliveira, Juiz da Comarca de Senador Pompeu, Deputado Federal Alfredo Barreira Filho, Cel. José Rabelo Machado,

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prefeito municipal de Solonópoles, Agostinho Alves Bezerra, Presidente da Câmara de Vereadores de Senador Pompeu, Vereadores: Agaús Barbosa da Costa, Filemon de Araújo Magalhães, Audísio Nascimento, Joaquim Ferreira de Magalhães, João Francisco Teixeira, Inspetor Raimundo de Sousa Sales, delegado especial de Senador Pompeu, tenente-coronel Leôncio Botelho; Dr. Antônio Fernandes Franco, Diretor do Ginásio Cristo Redentor de Senador Pompeu, Raimundo Queiroz, Chefe do Serviço de Trânsito, Dr. José Roberto Sales, chefe da sexta Região Agrícola, Egdunio César Braga, 2º Tabelião de Senador Pompeu, Otácio Acreano Dantas, chefe do Posto de Serviço de Algodão, Franco José Vieira, Severino Alves Barbosa, Alfredo Alves Bezerra, Mariano Aires do Nascimento, Francisco Félix, Francisco Chagas Vale, Marcionílio Gomes de Freitas, João Marques da Silva, Presidente do Círculo Operário de Piquet Carneiro, cabo Adalberto Alves do Nascimento, Delegado de Piquet Carneiro, Joaquim Rodrigues de Paula, doutores Adonias Mano de Carvalho e José René Holanda Barreira, médicos na cidade de Senador Pompeu, Manoel Dias de Oliveira, Raimundo Peixoto, Luiz Vitoriano Costa, Arcelino Vieira, representantes do Distrito de Ibicuã e grande multidão. O Sr. José Benigno Soares, prefeito municipal de Senador Pompeu, explicou que, em conformidade com o parágrafo único do artigo vinte e um da lei número duzentos e vinte e sete, de quatorze de julho de mil novecentos e quarenta e oito, com a redação que lhe foi dada pela lei número três mil duzentos e oitenta e três, de vinte e oito de agosto de mil novecentos e cinqüenta e seis, o fim da solenidade era proceder à instalação do município de Piquet Carneiro, criado pela mencionada lei de julho último. Em seguida, após fazer breve explanação sobre o auspicioso acontecimento, declarou instalado o município de Piquet Carneiro, desmembrado do

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município de Senador Pompeu, congratulando-se com o povo da nova Comuna pela sua emancipação política. As palavras finais do Sr. Prefeito de Senador Pompeu foram seguidas de estrepitosos aplausos. Em seguida usou da palavra o Revmo. Padre Alberto Oliveira que, com palavras calorosas parabenizou o povo deste novo município, fazendo votos para que futuramente se continue esta união para o progresso da terra. Em seguida, o Sr. Prefeito Municipal de Senador Pompeu fez a entrega do título de nomeação do subprefeito José Alves de Magalhães, considerando-o empossado. Após, convidou o Pe. Alberto Oliveira para presidir o restante da solenidade. Logo depois usou da palavra o subprefeito recém-nomeado, dizendo algo das suas pretensões futuras. Após, representando o município recém-criado, falou o Sr. Luiz Aires de Sousa. Em seguida, falou outro filho da terra Dr. Antônio Fernandes Franco, Diretor do Ginásio Cristo Redentor de Senador Pompeu, que, com bonitas palavras, congratulou-se pelo grande acontecimento. Após o deputado Alfredo Barreira Filho. Padre Alberto de Oliveira determinou que fossem enviadas cópias desta Ata para a Secretaria da Fazenda dos Negócios do Interior e a da Justiça e Conselho de Assistência Técnica dos Municípios. Do que, para constar, eu, LUIZ AIRES DE SOUSA, secretário, lavrei a presente ata, que, depois de lida, vai assinada pelos presentes.”

1958: SECA E ELEIÇÃO MUNICIPAL

“Mas, doutor, uma esmola, para um homem que é são, ou lhe mata de vergonha, ou vicia o cidadão.”

(Humberto Teixeira/Luiz Gonzaga, em “Vozes da Seca”)

1958 ficou guardado, na lembrança de muitos, pelos efeitos catastróficos de mais um tempo de estiagem.

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Sobre esta página de dor, que foi a seca, vejamos o relato que nos vem de uma autoridade da época, o 2º vigário de Piquet Carneiro, Pe. Alberto Oliveira. Brilhantemente, ele redigiu e lavrou, de próprio punho, no livro do Tombo paroquial, esta notícia sobre 58: “1958 fica na lembrança dos homens de Piquet Carneiro pelo flagelo da seca com que martirizou estes sertões. Um ano difícil, de sofrimento, de nenhuma safra, de carência absoluta de gêneros, de muita fome, de debandadas - retiradas em massa para o extremo norte ou extremo sul. A jovem cidade despovoou-se a olhos vistos. As autoridades competentes, com certo atraso, ofereceram trabalhos públicos - rodovias e ramal ferroviários para assistir os pobres flagelados. O flagelo da seca, no território desta Paróquia, comportava uma página. Eu digo tudo, dizendo que a seca de 1958, em Piquet Carneiro, foi uma calamidade pública.”

LUIZ AIRES É ELEITO, PELA PRIMEIRA VEZ, CHEFE DO PODER EXECUTIVO

O quadro socioeconômico era sombrio, dada a ocorrência da grande seca; mas, nem por isso, os piquet-carneirenses deixaram arrefecer o ânimo, com que se vinham preparando, para, junto às urnas, elegerem, numa sexta-feira, a primeira do mês, dia 3 de outubro, aquele que se tornaria o primeiro prefeito da história política local. Concorriam ao cargo: Luiz Aires de Sousa e Antonio Fernandes Franco. Apurada a eleição, Luiz Aires saiu-se vitorioso. O mote de sua campanha havia sido “Luiz Aires de Sousa: Exemplo de trabalho, garantia de progresso”. Consoante informação oriunda de site do Tribunal Regional Eleitoral do Ceará, este foi o resultado oficial daquele pleito:

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Prefeito eleito: Luiz Aires de Sousa, pela coligação PSD/PPS, com 1.233 votos; tendo, como vice, Alfredo Alves Bezerra, o qual, pela mesma coligação, arrebatou 1.175 votos.

A 1ª Câmara Municipal compôs-se destes vereadores, cujo número de votos recebidos, segue entre parênteses: José Chagas Filho (215), Raimundo Fernandes Barbosa (153),

Filomeno Sobreira Dantas (130), Otacílio Leandro de Farias (147), Afonso Pinheiro da Silva (142); pelo PDS/PPS; Luís Vitoriano Costa (292) e José Isidoro de Morais (150), pela UDN.

MARÇO DE 1959:POSSE DO SR. LUIZ AIRES DE SOUSA NO CARGO DE PREFEITO DO MUNICÍPIO

Primeiro gestor eleito de Piquet Carneiro, Luiz Aires tornar-se-ia seu maior líder político ao longo de três décadas.

Em data de 24 de março de 1959, ao assumir, pela vez primeira, os destinos de sua amada terra, coube-lhe, certamente, envidar todos os esforços necessários na busca de ações técnico-administrativas que, de fato, pudessem tornar Piquet Carneiro um município de projeção no cenário regional e estadual.

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A ATA DE POSSE DO PRIMEIRO PREFEITODE PIQUET CARNEIRO

“Atas”, como todos o sabem, são importantes meios de que o historiador e/ou pesquisador se serve e, portanto, a que recorre, em face da comprovação de algum evento; são elas como que uma “fotografia”, em texto, de acontecimentos relevantes. Nesse sentido, de acordo com o que está registrado nos anais da Câmara Municipal de Piquet Carneiro, podemos viajar no tempo, e rever como se deu a “posse” de Luiz Aires naquele já longínquo 1959:

“Às dezesseis horas do dia vinte e cinco de março de mil novecentos e cinqüenta e nove, da Era de Cristo, no Salão da Câmara Municipal, nesta cidade de Piquet Carneiro, presentes os senhores vereadores: Filomeno Sobreira Dantas (presidente), Afonso Pinheiro da Silva, Otacílio Leandro de Farias, Luiz Vitoriano Costa, José Isidoro de Moraes, José Chagas Filho, comigo, Raimundo Fernandes Barbosa, secretário da Câmara, totalizando todos os vereadores deste município. Havendo número legal, o Senhor Presidente declarou abertos os trabalhos da presente Sessão, explicando a sua finalidade. Em seguida, declarou instalada a Câmara Municipal. Prosseguindo, disse que ia se proceder o ato de posse do prefeito e do vice-prefeito a serem empossados, os quais foram vivamente aplaudidos. O Sr. Presidente convidou o prefeito e vice-prefeito a prestarem o compromisso de estilo. A seguir, usou da palavra o Sr. Elesbão Almeida Crespim o qual teceu elogios às pessoas a serem empossadas, dizendo confiar na futura administração. Em seguida, falou o Sr. Assis Carvalho apresentando os parabéns ao povo deste município, à Câmara que acaba de se instalar e ao prefeito e vice que acabam de se empossar. Prosseguindo, usou da

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palavra o Sr. Luiz Aires de Sousa prometendo fazer uma administração sadia e honesta e, por último, falou o Sr. Presidente da Câmara, Filomeno Dantas, prometendo colaborar com o prefeito. Nada mais havendo a tratar, foi encerrada a Sessão, do que, para constar mandou que se lavrasse a presente ata, expedindo cópias a quem de direito. Eu, Raimundo Fernandes Barbosa, secretário, a lavre”.

PRINCIPAIS EVENTOS DO QUADRIÊNIO: 1959 a 1963

Ao transmitir, no dia 25 de março de 1963, ao seu sucessor, prefeito Antônio Fernandes Barbosa, as rédeas do Executivo municipal, Luiz Aires, em solene discurso proferido no salão-mor do antigo Círculo Operário, apresentou um balanço das obras que conseguira efetuar no decurso do quadriênio 1959 a 1963, conforme se vê do seguinte registro, transcrito, no “Livro de Posse dos Prefeitos” pelo, na época, arquivista e datilógrafo da Câmara Municipal, o Sr. Osmar Pereira de Lucena, meu pai:

“Senhor Prefeito Municipal, Senhor Presidente da Câmara, Senhores Vereadores, demais componentes da mesa, Meus Senhores, Minhas Senhoras:

Há quatro anos, no dia de hoje, recebi o município de Piquet Carneiro, numa fase de inércia, tudo parado, com ânsia de crescer para ser reconhecido pelo Brasil afora. Nada não possuía, a não ser esta avenida velha construída por mim, quando vereador do município de Senador Pompeu. Naquele dia, prometi ao povo da minha terra trabalhar pelo nosso progresso. Neste quadriênio, 1959 a 1963, empreguei os meus esforços e fiz o que vou discriminar: na sede: luz elétrica, mercado público, matadouro, lavanderia, Ginásio Coração de Jesus, cadeia pública, instalação da linha telefônica para Mulungu; idem para Sítio Alto;

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idem, sítio Bonfim; idem, para Boa União; início de instalação de linha telefônica para os sítios: São Luiz, Pau d´Arco e Catingueira. Em Ibicuã: luz elétrica, telefone, escolas reunidas; em Mulungu: luz elétrica, telefone, escolas reunidas. Diante desta prestação de contas que faço para com o povo de minha terra, fico com a consciência tranqüila de que desempenhei a missão que me foi confiada. Missão esta que, em certos dias, se me apresentou cheia de espinhos, cheia de obstáculos, cheia de dificuldades. Entretanto, com a ajuda de Deus, consegui vencê-las. Hoje, não sou mais o prefeito desta terra. Entretanto, sou o mesmo amigo que continuarei ao lado do meu povo, na alegria e na dor. Se cometi algum erro, foi involuntário, resta tão-somente pedir desculpas. Se acertei, dou graças a Deus, porque cumpri a minha obrigação. Ao Sr. Antônio Fernandes Barbosa lanço o meu veemente apelo para que trabalhe pelo engrandecimento de nossa terra. O povo deste município deposita em você uma esperança de que iremos para a frente.”

1961: A CRIAÇÃO DO GINÁSIO SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS, PRIMEIRO ESTABELECIMENTO DE ENSINO FUNDAMENTAL EM PIQUET CARNEIRO

O PREFEITO LUIZ AIRES APÓIA A NOBRE IDÉIA DO VIGÁRIO, PE. FRANCISCO ALVES TEIXEIRA

O terceiro vigário de Piquet Carneiro, Pe. Francisco Alves Teixeira, deixou marcas significativas na história da educação local, visto ter sido um sacerdote altamente empreendedor, dinâmico, perspicaz. Soube se distinguir, numa comunidade carente de recursos, como a nossa, naquele começo dos anos 1960.

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Em fins de 1961, teve, assim, ele, uma iluminada idéia: criar uma instituição de ensino que permitisse ao alunado piquet-carneirense concluir o curso ginasial; curso esse, equivalente, em nossos dias, ao ensino fundamental. Antes, aqueles que detinham um certo poder aquisitivo - e eram poucos! - deslocavam-se para outros municípios, a fim de darem prosseguimento aos estudos. Mas, ação como esta, de tão hercúlea, pressupunha, logicamente, a união de todos, à maneira do adágio que diz: “um por todos e todos por um”. Outrossim, o reverendo sacerdote, não hesitou em buscar apoio - e era natural que o fizesse - junto à administração municipal. Luiz Aires de Sousa, o gestor, aquiesce, de pronto, à petição do sacerdote-educador, colocando-se, por extensão dos fatos, à inteira disposição deste, em face do enfrentar os primeiros obstáculos. O Ginásio, que, por sugestão da então primeira-dama, dona Maria Luiza Pessoa Aires, recebera o inspirado nome de “Sagrado Coração de Jesus”, abria, enfim, suas portas, em março de 1962, para acolher os primeiros alunos, num total de quarenta discentes.

DE UM HUMOR REFINADO

Nosso biografado tinha, por hábito, acordar cedo; era, portanto, um madrugador. Fácil, assim, vê-lo, sob o sinal dos primeiros raios solares, entretendo-se, com seus conterrâneos, nas adjacências do mercado público; na pauta, uma conversa sempre animada em que seu Luiz deixava transparecer, em toda sua expressão, seu “senso of humor”. Foi, certamente, nesses instantes de sua vida, em que o lúdico estava sempre em alta, que ele se punha a criar pseudônimos, com os quais passava a identificar amigos e colaboradores seus nas tarefas administrativas. Selecionamos alguns desses apelidos: Zé Calango, Timbau, Barrão, Goela, Fumareta, Besouro, Macaco, Jatobá, Caminhão, Osmarzinho, entre outros.

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Não dispensava, ao cair da tarde, um papo, regado a cerveja, com os amigos; por tira-gosto, não escondia sua predileção por queijo e carne assados. Nessas horas, imperava, também ali, o riso, no embalo das anedotas, bem picantes, é verdade, que contava, mas sempre muito divertidas. E recolhia-se cedo aos seus aposentos.

UM QUADRIÊNIO OBSCURO: 1963 - 1967

O pleito eleitoral realizado em 7 de outubro de 1962 apresentou este resultado: Antônio Fernandes Barbosa (Prefeito eleito) e José Calixto Lima (vice-prefeito eleito). Não eleitos: Ant. Fernandes Franco (candidato a prefeito) e Valdir Braz (candidato a vice).

A dupla vencedora teve o apoio do líder Luiz Aires; este, aliás, um fator, doravante imprescindível, ao menos por mais duas décadas, a quem almejasse ascender ao cargo de prefeito. Os “Anais da Câmara Municipal de Piquet Carneiro” não deixam a menor dúvida: o quadriênio que vai de 25 de março de 1963 até 31 de janeiro de 1967 foi, certamente, o mais conturbado da história política local. Perturbações de ordem político-administrativa culminaram com a renúncia do prefeito Antônio Fernandes Barbosa no dia 17 de setembro de 1964. Então, pelo Paço da Prefeitura Municipal, o povo contemplaria o “desfile”, em curto tempo, de mais dois gestores: José Calixto Lima (1964 a 1966) e Manuel Vitoriano Filho (1966 a 1967).

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CÂMARA MUNICIPAL DO PERÍODO 1963-1967:Francisco de Assis Carvalho, José Chagas Filho, Raimundo Fernandes Lima, Manoel Vitoriano Filho, Angelino Rodrigues Vieira, Ezequiel Pereira da Costa, Afonso Pinheiro da Silva e Nascimento Gomes da Silva.

ELEIÇÕES MUNICIPAIS DE 15 DE NOVEMBRO DE 1966

Francisco de Assis Carvalho, vereador, havia premeditado o retorno de Luiz Aires de Sousa ao comando da Administração Municipal: basta que se releia a ata de 25 de março de 1963, quando da posse do 2º prefeito de Piquet Carneiro. Nesse documento, está consignado que o legislador supracitado, após agradecer ao povo piquet-carneirense a confiança que nele haviam depositado, ao lhe conceder uma vaga no Legislativo, põe-se a “enaltecer os feitos heróicos do Prefeito Luiz Aires, lançando a candidatura do mesmo (sic!) para prefeito em mil novecentos e sessenta e seis.” E aconteceu: Luiz Aires é indicado, pela 2ª vez, candidato a prefeito do município.

As eleições municipais de 1966 transcorrem já sob o impacto do período ditatorial. Quem ocupa a presidência da República é um cearense: o Mal. Humberto de Alencar Castello Branco. Por um decreto deste, os partidos, que eram tantos, uma vez extintos, resumem-se a dois: ARENA - Aliança Renovadora Nacional; e MDB - Movimento Democrático Brasileiro.

Candidato da oposição, duas vezes derrotado, em 1958 e 1962, o prof. Antônio Fernandes Franco, é, agora, substituído pelo seu irmão, o médico Alfredo Fernandes Franco.

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O HOMEM E SUA TERRA Luiz Aires de Sousa

Segundo o Tribunal Regional Eleitoral do Ceará, eis o RESULTADO DAS ELEIÇÕES DE 15 DE NOVEMBRO DE 1966:

Total de votantes: 2.768 - Votos em branco: 16 - Votos nulos: 81

ELEITOS: Luiz Aires de Sousa (prefeito) e Antônio Virgílio de Oliveira (vice). Total de votos: 1522

NÃO-ELEITOS: Alfredo Fernandes Franco (prefeito) e Luís Vitoriano Costa (vice). Total de votos: 1002

RESULTADO PARA VEREADOR EM 1966:

ARENA: Antonio Antonino Aderaldo do Nascimento (592), Luiz G. Oliveira (275), Raimundo Nonato Pinheiro (256), Eduardo Almeida Meireles (231), José Nogueira Oliveira (228), Afonso Pinheiro (170). MDB: Otacílio Leandro (202).

SUPLENTES, PELA ARENA: Ezequiel Pereira (139), José Ferreira Lima (116), Vicente Barros da Silva (112) e Raimundo Fernandes Lima (59).

SUPLENTES, PELO MDB: Zacarias Pinheiro (105) e José Edílson Gonçalves (57).

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31 DE JANEIRO DE 1967: LUIZ AIRES É EMPOSSADO, PELA SEGUNDA VEZ, NO CARGO DE PREFEITO DE PIQUET CARNEIRO

Respaldado pelo apoio do seu povo, conhecedor já do ofício, porém consciente de suas limitações, Luiz Aires iniciava, assim, seu segundo mandato.

A seguir, trechos da Ata de Posse:

“Aos trinta e um dias do mês de janeiro de mil novecentos e sessenta e sete, nesta cidade de Piquet Carneiro, no Edifício da Câmara Municipal (...) com a presença dos senhores vereadores: Angelino Rodrigues Vieira, vice-presidente em exercício, José Chagas Filho, 2º secretário, Afonso Pinheiro da Silva, Nascimento Gomes da Silva e Ezequiel Pereira Costa (...) o Sr. Presidente declarou que a finalidade desta sessão era a posse do Sr. Prefeito Municipal, o cidadão Luiz Aires de Sousa e o vice, cidadão Tenente Antônio Virgílio de Oliveira. (...) O Sr. Presidente designou uma comissão composta dos vereadores: Afonso Pinheiro da Silva, Ezequiel Pereira Costa e Nascimento Gomes da Silva para irem à residência do prefeito eleito (...) para o introduzir no recinto desta Câmara onde teve

Luiz Aires com vereadores eleitos em 1967

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lugar a posse (...) O Sr. Presidente facultou a palavra, fazendo uso da mesma o prefeito que acabava de ser empossado (...) A mesma Comissão introduziu o Sr. Prefeito em seu Gabinete de trabalho, onde recebeu das mãos do Interventor, cidadão Alfredo Alves Bezerra. Tendo sido lavrado o termo de posse. E, para constar, eu, 2º secretário, lavrei a presente Ata.”

O ARCO DE TEMPO: 1967 a 1971

Neste 2º mandato, Luiz Aires dedicou especial atenção à construção de grupos escolares no meio rural. De fato, várias comunidades tiveram o mérito de possuir a sede própria de seu estabelecimento de ensino; ainda na esfera da educação, houve concessão de “bolsas” para os alunos do Ginásio Sagrado Coração de Jesus; a sede do município ganhou novas praças, com destaque para a Praça 12 de Julho - (denominação que alude à data de criação do município - construída entre 1969 e 1970); cadeia pública reformada; construção de lavanderias públicas, chafarizes, barragens, poços profundos, drenagens;Além disso, foi construído o Matadouro e Curral de Matança, Abrigo de Animais e o Mercado da Carne, Peixes e Verduras.

O BRASIL SOB O SIGNO DE MÉDICI

Em Brasília, o presidente Costa e Silva, enfermo, é substituído pelo general Emílio Garrastazu Médici. Frases ufanistas do tipo “Ninguém segura este País” ou “Brasil: Ame-o ou Deixe-o” buscavam multiplicar uma idéia de “progresso” e de “bem-estar” do povo brasileiro. Infelizmente, outra, a realidade…

1970 não deixou boas lembranças para o sertanejo, pois foi um ano assinalado por seca. Em meio a toda sorte de percalço, o prefeito Luiz Aires vai em socorro imediato do

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pequeno agricultor; chegando a declarar estar o município em “estado de calamidade pública”.

15 DE NOVEMBRO DE 1970:NOVAS ELEIÇÕES MUNICIPAIS

Apoiado pelo prefeito e líder Luiz Aires, Antonino Aderaldo, então presidente da Câmara Municipal, torna-se o candidato da ARENA - 1 ao posto de prefeito do município.

O pleito eleitoral, realizado em 15 de novembro de 1970, fora determinado pelo Ato Institucional de nº 11, assinado pelo então Presidente da República, Mal. Artur da Costa e Silva, no dia 14 de agosto de 1969. Em seu artigo segundo, o ato supra vaticinava: “os prefeitos, vice-prefeitos e vereadores eleitos em 1970 exerceriam seus mandatos até 31 de janeiro de 1973.”

Administrariam, portanto, por um biênio apenas! Na linguagem popular, dir-se-ia por um “mandato tampão”.

Concorriam ao Executivo: Antônio Antonino Aderaldo do Nascimento (tendo, como vice, Juremir Martins da Costa), pela ARENA-1; e Alfredo Alves Bezerra (tendo, como vice, João Faustino Filho), pela ARENA-2. Em 1970, Piquet Carneiro possuía 4.065 cidadãos aptos a votar; 3.872 compareceram às urnas; 193 abstiveram-se. 136 votos foram anulados, e 4 eleitores votaram em branco.

Antonino Aderaldo, apoiado, como já dissemos, por Luiz Aires, de quem era parente, recebeu 2.182 votos, tornando-se, assim, o sexto prefeito de Piquet Carneiro. Alfredo Alves Bezerra, apoiado pelo Dr. Alfredo Franco, recebeu 1.450 votos.

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A 4ª CÂMARA MUNICIPAL: 1971 a 1973VEREADOR, SIM! - MAS SEM REMUNERAÇÃO- VOCÊ QUER SER?

Os que ocuparam a Câmara de Piquet Carneiro no biênio 1971-1973 não receberam remuneração. É que o Ato Institucional de nº 7, assinado por Costa e Silva em 26 de fevereiro de 1969, determinava que “somente seriam remunerados os vereadores das capitais e municípios de população superior a 300.000 habitantes.” Piquet Carneiro possuía, na ocasião, segundo o Censo de 1970, apenas 15.396 habitantes. Não dava mesmo!

4ª Câmara Municipal, aquela “sem remuneração”, constituiu-se destes edis: Nascimento Gomes da Silva (452), José Costa Tomaz (416), Manoel Sobreira Alencar (379), Zacarias Pinheiro da Silva (377), José Vitor Machado (349), João Cavalcante Vieira (261) e Israel Henrique de Souza (235).

Suplentes eleitos em 1970: Osmir Vieira (211), Agenor Lopes Bezerra (166), Ezequiel Pereira Costa (158) e Antônio Alves Martins (153).

1972 - PIQUET CARNEIRO SOB NOVA INTERVENTORIA

Por indicação do Presidente Emílio Garrastazu Médici, o sucessor de Plácido Aderaldo Castelo, à frente do Governo do Ceará, passa a ser o cel. César Cals de Oliveira Filho. Este, em 1º de outubro de 1972, nomeia o ten. Jarbas Benedito da Mota para a função de Interventor Municipal de Piquet Carneiro.

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RENÚNCIA DO PREFEITO ANTONINO ADERALDO

Sob o impacto da aludida interventoria, Antonino Aderaldo abdicou do cargo. Não foi, contudo, o primeiro caso de renúncia de prefeito na história política de Piquet Carneiro: Antônio Fernandes já o havia feito em 17 de setembro de 1964; idem, José Calixto Lima, em 3 de junho de 1966.

A Câmara Municipal, reunida por ocasião da 11ª Sessão Ordinária do 2º Período Legislativo, em data de 24 de novembro de 1972, registra o ofício do prefeito Antonino Aderaldo, pelo qual ele apresenta o pedido de renúncia.

ELEIÇÕES MUNICIPAIS DE 15 DE NOVEMBRO DE 1972

A escolha do sucessor de Antonino Aderaldo apresentava-se delicada, difícil, tendo em vista o quadro, nada animador, em que se achava mergulhada a política local naquele tempo, enfraquecida, mais ainda, pela interventoria e pela renúncia do chefe do Executivo.

Na verdade, a Arena 1, sob o comando de Luiz Aires, tinha que indicar, com uma certa urgência, um candidato, cuja personalidade, de tal modo forte, se impusesse logo de início, para fazer face à crise que se instalara no município. E, assim, um nome apresentava-se como o ideal para aquele momento: Luiz Roberto Pessoa Aires. Compondo a chapa, como vice, o Sr. Zacarias Pinheiro da Silva.

O líder da Arena 1 não escondia o contentamento de poder apoiar, agora, como candidato ao cargo de prefeito do município - do qual fora co-fundador e prefeito por

Luiz Roberto

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duas vezes já - o próprio filho, de 28 anos apenas, recém-formado em Direito.

Como diziam os romanos: alea jacta est! Restava “arregaçar as mangas” e partir para a batalha.

Em 15 de novembro de 1972, data da Proclamação da República, lá se foram os piquet-carneirenses às urnas para eleger aquele que se tornaria o sétimo gestor municipal.

Não deu outra! O candidato da ARENA 1, Luiz Roberto Pessoa Aires, elege-se prefeito municipal de Piquet Carneiro, com uma margem de votos acima, obviamente, do opositor, cidadão Paulino Vieira Cavalcante, candidato da ARENA 2, já mais repetida na história local: 2.960 votos; 1.839 a mais. Paulino Cavalcante, que tinha, como vice, João Faustino Filho, recebeu 1.121 votos.

Ocuparam o Legislativo entre 1973 e 1977 estes vereadores: Eduardo Almeida Meireles, o mais bem votado, com 492 votos; seguem-se: Maria Risoleta Vieira Félix (487), Isaías Cirilo de Magalhães (433), Pedro Moreira de Carvalho (404), Raimundo Aderaldo do Nascimento (331), Manoel Sobreira Alencar (328), Osmir Vieira (316), Luiz Apolônio de Jesus (268) e Vicente Barros da Silva (227).

Suplentes: Maria Odete Saraiva Nogueira (159) e Deuzimar Bezerra de Alencar (124).

Em 1972, havia 5.077 aptos a votar; 4.198 eleitores compareceram às sessões; 879 abstiveram-se. Houve ainda 499 votos em branco e 129, nulos.

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ATA DE POSSE DO PREFEITO LUIZ ROBERTO PESSOA AIRES E DA 5ª CÂMARA MUNICIPAL

“Aos trinta e um dias do mês de janeiro de mil novecentos e setenta e três, nesta cidade de Piquet Carneiro, Estado do Ceará, no prédio destinado às reuniões da Câmara Municipal, teve lugar a sessão de instalação e posse dos vereadores deste município. Realizou-se às doze horas, ficando composta a Mesa Diretora dos seguintes membros: Eduardo Almeida Meireles (presidente), Vicente Barros da Silva (vice), Maria Risoleta Vieira Félix (1ª secretária), Raimundo Aderaldo do Nascimento (2º secretário), Pedro Moreira de Carvalho, Isaías Cirilo de Magalhães e Manuel Sobreira de Alencar. (...) O Sr. Presidente designou os vereadores: Manuel Sobreira de Alencar, Vicente Barros da Silva e Pedro Moreira de Carvalho para conduzirem o prefeito e o vice-prefeito até o recinto da Câmara. E dando prosseguimento, o Sr. Presidente facultou a palavra, sem que ninguém fizesse uso da mesma. A Câmara declarou empossados no cargo de Prefeito Municipal desta cidade, o Sr. Luiz Roberto Pessoa Aires, e no cargo de Vice-Prefeito Municipal, o Sr. Zacarias Pinheiro da Silva. (...) E para constar, eu, Maria Risoleta Vieira Félix, primeira-secretária, lavrei a presente ata, que, depois de lida e achada conforme, vai devidamente aprovada e assinada por mim e por todos os vereadores presentes. Sala das Reuniões da Câmara Municipal de Piquet Carneiro, em 31 de janeiro de 1973.”

A ADMINISTRAÇÃO LUIZ ROBERTO PESSOA AIRES: 1973 a 1977

Uma das primeiras iniciativas de Luiz Roberto como prefeito foi a promulgação da Lei pela qual foi criada a bandeira municipal.

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Pela importância histórica deste documento, apresento-a aqui, não na sua integridade, porém destacando as passagens mais significativas do texto:

LEI Nº 162, DE 9 DE NOVEMBRO DE 1973

Adota a Bandeira do Município de Piquet Carneiro, e dispõe sobre a forma da mesma.

O PREFEITO MUNICIPAL DE PIQUET CARNEIRO

Faço saber que a Câmara Municipal de Vereadores de Piquet Carneiro decretou e eu sanciono e promulgo a seguinte Lei:

Art. 1º - Fica adotada no município de Piquet Carneiro, de conformidade com o disposto no parágrafo 1º da Constituição da República Federativa do Brasil, a bandeira constante do anexo 1.

Parágrafo Único - Na Bandeira do Município de Piquet Carneiro estão representados no vermelho a nossa afirmação de fé e de amor na doutrina Cristã, no azul o céu sereno no Brasil sob o qual nos abrigamos como pequena partícula do solo pátrio e, no branco, o caráter nobre, altivo e pacífico de nossa gente, no escudo central, temos, nas três estrelas a representação em ordem de grandeza da cidade de Piquet Carneiro, do distrito de Ibicuã e do povoado de Mulungu, como suporte do referido escudo, temos, em cores naturais, dois ramos de algodão, representativos de nossa principal cultura.(...)

Art. 4º - Esta Lei entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário.

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Paço da Prefeitura Municipal de Piquet Carneiro, em 9 de novembro de 1973.

Luiz Roberto Pessoa AiresPrefeito Municipal

CENTRO COMUNITÁRIOMARIA LUIZA PESSOA AIRES

Solenemente inaugurado em 1975, o Centro Comunitário Maria Luiza Pessoa Aires tornou-se, por longos anos, palco de muitos eventos artístico-culturais em Piquet Carneiro: bailes, escolha da Rainha do Município, apresentação teatral etc. Quando a novela global “Dancin´ Days”, de Gilberto Braga, lançou a moda da “discoteca”, era comum, sobretudo ao cair da tarde, as pessoas lá, no Centro, se congregarem, para, entre um e outro aperitivos, apreciar a melodia de sua canção favorita. Logo nos seus inícios, este serviço era coordenado por Luiz Amaro.

UNIDADE MISTA DE SAÚDECEL. HUMBERTO BEZERRA

Luiz Roberto, em seu segundo ano de mandato, entregou à população piquet-carneirense outra obra de significativo porte: a Unidade Mista de Saúde Cel. Humberto Bezerra, o hospital local.

Dada a magnitude do evento, o governador do Ceará, na época, Cel. Adauto Bezerra, agendou uma visita a Piquet Carneiro, a fim de, ele próprio, proceder ao ato inaugural.

Desde 1976, a sede da unidade hospitalar ostenta imponente lousa de ferro onde estão registrados, “ad perpetuam rei memoriam”, os nomes das autoridades diretamente associadas à consolidação daquele edifício, que incontáveis benesses trouxe à população deste município,

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dentre eles convém pôr em relevo: Adauto Bezerra (Governador do Estado), Lúcio Gonçalo de Alcântara (Secretário de Estado da Saúde) e Luiz Roberto Pessoa Aires (Prefeito Municipal).

OUTROS EVENTOS DO PERÍODO LUIZ ROBERTO PESSOA AIRES

Pavimentação de várias artérias da cidade; Instalação do serviço de alto-falante “A Voz do Município”; Construção do Palanque Municipal; Construção da Praça Luciana (hoje, depois de ampla reforma, Dom Antônio Lustosa).

1976 - LUIZ AIRES INDICAJUREMIR MARTINS DA COSTA

Esta última eleição municipal da década de 1970, transcorrida na data simbólica de 15 de novembro, desencadeou-se num quadro sociopolítico bem mais promissor que o de 1972, pois Luiz Roberto administrara com eficiência, tendo recebido macro atenção e apoio do então

governador, Adauto Bezerra.

O candidato da ARENA 1 veio, desta vez, da sede do maior e mais expressivo distrito de Piquet Carneiro: Ibicuã. Ele já havia sido vice-prefeito, entre 1971/72. Rebento de tradicional família deste município, Juremir Martins da Costa é o candidato com quem Luiz Aires simpatiza em vista do novo ciclo eleitoral. Juremir embarca nesta campanha tendo, como vice, Lourival Nunes da Costa.

Juremir Martins e Luiz Aires

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A ARENA 2, sob o comando do médico Alfredo Fernandes Franco, escolhe, por seu turno, Alfredo Alves Bezerra, agropecuarista, homem de índole moral ilibada, que já passara por tal experiência duas vezes: como candidato a vice-prefeito de Luiz Aires, entre 1959 e 1963, e como candidato a prefeito, embora derrotado, em 1970. João de Barros é indicado como vice deste.

RESULTADO DAS ELEIÇÕES MUNICIPAIS DE 15 DE NOVEMBRO DE 1976

PODER EXECUTIVO: Eleitos: Juremir Martins da Costa (prefeito) e Lourival Nunes da Costa (vice), com 2.866 votos 54,4%);

Alfredo Alves Bezerra recebeu 2.284, (43,4%).

PODER LEGISLATIVO: A 6ª Câmara ficou assim constituída: Luiz Augusto Pinheiro (490),Osmir Vieira (457), Francisco de Sousa Pessoa (431), Pedro Moreira de Carvalho (402), Valdenor Alves Beserra (344), Emídio Rodrigues Batista (326), Maria Risoleta Vieira Félix (320), Maria Salete Rodrigues Pereira (285) e Edgar Rangel Rolim (271).

SUPLENTES: Justiniano Gomes Pereira (270), Francisco de Sales (260), Francisco Bezerra Franco (246), Carlos César Alves Beserra (222), Isaías Cirilo de Magalhães (206)e Maria Ceci Fernandes de Oliveira (123).

A administração Juremir Martins da Costa, prevista para o quadriênio 1977-1981, prolongou-se, por imperativo legal, por mais dois anos, de forma que, somente em 31 de janeiro de 1983, pôde ele transmitir o cargo ao sucessor.

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1982: LUIZ AIRES CONCORRE, PELA TERCEIRA VEZ, À CHEFIA DO PODER EXECUTIVO

Em 1982, pela última vez, iam enfrentar-se, nas urnas, dois expoentes da política local: Luiz Aires de Sousa e Alfredo Fernandes Franco: um verdadeiro duelo de titãs! Ambos vinham de longa experiência já nos meandros do poder. Conheciam bem a realidade do nosso município. Todavia, o quadro, no qual se desenrolaria esta eleição, apresentava-se soturno, semeado, por conseguinte, de muitos espinhos e poucas rosas. O sertão nordestino castigado, mais uma vez, por um período de estiagem, agora rebatizado com o sugestivo nome de “seca verde”. O setor econômico não ia bem, visto que a inflação atingira o patamar dos 100%; o Regime Militar mostrava sinais evidentes de desgaste, e o governo Figueiredo agonizava… Luiz Aires e Alfredo Franco tinham nítida consciência de que o cargo a que aspiravam impunha, mesmo, muitos desafios. Verdade é que Luiz Aires partiu para esta campanha ciente de que era preciso muita prudência para se resguardar dos embustes dos adversários e para evitar suas emboscadas, pois, indubitavelmente, acirrado seria, o pleito eleitoral de 15 de novembro de 1982, inclusive com a participação, do PMDB, através da candidatura de Maria das Dores do Nascimento (prefeita), e Antônio Geraldo Lima (vice).

TRI - 1982

Em época de eleição, pulula, de boca em boca, um ditado, que diz: “quando o povo quer, não tem jeito que dê jeito”. Isso parece, de fato, confirmar uma verdade. A sabedoria popular tem sua razão de ser! O povo realmente quis, e Luiz Aires retornou ao paço

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da Prefeitura Municipal, atingindo, pela terceira vez, a culminância do poder em Piquet Carneiro.

Com 3.487 votos (52,89%), ao lado de Pedro Moreira de Carvalho, derrota, pela 2ª vez, o médico Alfredo Franco, o qual, por seu turno, logrou 2.830 votos (42,93%).Maria das Dores e Antônio Geraldo, candidatos do PMDB, receberam inexpressivos 29 votos (0,43%). Mas democracia é democracia.

7ª CÂMARA MUNICIPAL: 1983 - 1988

Compuseram a 7ª Câmara Municipal estes vereadores: Lourival Nunes da Costa (636), Carlos César Alves Beserra (545). Luís Alves de Lima (530), Sabino Chagas Sales (495), Luiz Augusto Pinheiro (457), Maria Salete Rodrigues Pereira (453), Deuzimar Bezerra de Alencar (445), Aloísio Gonçalves da Silva (382) e Francisco Sales (357).

SUPLENTES: Osmir Vieira (344), Francisco de Sousa Pessoa (327), Francisco das Chagas Magalhães e Silva (306), Angelino Rodrigues Vieira (252), Edgar Rangel Rolim (180), João de Barros (138), Francisco Alves Vieira (74), Francisco Antônio F. Sobrinho (23) e Maria Risoleta Vieira Félix (5).

31 DE JANEIRO DE 1983POSSE DO 10º PREFEITO DE PIQUET CARNEIRO: SR. LUIZ AIRES DE SOUSA

Nos arquivos da Câmara Municipal, encontramos registrada a posse de Luiz Aires de Sousa, no cargo de prefeito de Piquet Carneiro, nesta circunstância como o décimo de nossa história político-administrativa, conforme consta do seguinte registro:

“Aos trinta e um dias do mês de janeiro do ano de mil novecentos e oitenta e três, nesta cidade de Piquet Carneiro,

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Estado do Ceará, (...) composta a Mesa Diretora dos seguintes membros: Lourival Nunes da Costa (presidente), Maria Salete Rodrigues Pereira (vice), Carlos César Alves Bezerra (1º secretário), Luiz Augusto Pinheiro (2º secretário) (...) o Senhor Presidente designou uma Comissão composta dos vereadores: Carlos César Alves Bezerra, Maria Salete Rodrigues Pereira, Luiz Augusto Pinheiro, Luiz Alves de Lima e Francisco Sales para conduzirem o Prefeito e o vice-prefeito até o recinto da Câmara. A Câmara Municipal declarou empossado no cargo de PREFEITO MUNICIPAL desta cidade o Sr. LUIZ AIRES DE SOUSA, e no cargo de vice-prefeito municipal, o Sr. PEDRO MOREIRA DE CARVALHO. (...) E eu, Carlos César Alves Bezerra, 1º secretário, lavrei a presente ata que, depois de lida e achada conforme, vai devidamente assinada e aprovada por mim e por todos os vereadores presentes.”

Sala das Sessões da Câmara Municipal de Piquet Carneiro, em 31 de janeiro de 1983.

PRINCIPAIS EVENTOS DA GESTÃO: 31 DE JANEIRO DE 1983 - 31 DE DEZEMBRO DE 1988.

No setor de obras, houve uma série de reformas e/ou construções. Em 1983, por exemplo, reformou-se o prédio do mercado público, o qual foi então dotado de novas instalações sanitárias e as paredes revestidas; além disso, foram construídos açudes e rodagens para os sítios e cidades vizinhas. Numa época em que possuir um aparelho de TV era mérito de poucos, as praças, da sede, e até dos distritos, ganharam televisores públicos; notável foi a reforma do então Centro Comunitário Dona Maria Luiza Pessoa Aires e da Quadra de Esportes João Ferreira Lima, fatos

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ocorridos em 1984. Igualmente notáveis a construção do novo Gabinete do Prefeito, bem como a edificação da Praça Mariano Aires do Nascimento, trabalhos executados entre 1984 e 1985. No rol das construções, não se passe despercebido o prédio do Posto de Saúde Dra. Marilu Aires. Reformas também houvera no edifício da Prefeitura Municipal, com a construção de uma passarela interligando o antigo prédio ao moderno gabinete do chefe do Executivo. Na área educacional, a realização de Curso de Capacitação para professores leigos, contemplando uma clientela de 40 professores da rede municipal de ensino. Eu mesmo tive o mérito de fazer parte do quadro docente deste curso, efetuado no biênio 1986/1987. Concessão de bolsas para alunos do Centro Educacional Sagrado Coração de Jesus. Apoio em vista da implantação do Curso de Pedagogia no Ginásio Coração de Jesus, com a contratação dos professores: José Amílton Cavalcante, José Augusto Tôrres e Antônio Parente. Aquisição de moderno aparelho para ampliação do serviço de som “A Voz do Município” (1986); implantação do serviço de alto-falante “A Voz da Paróquia” (1988). Mas a obra mais expressiva desta administração, a terceira de Luiz Aires de Sousa, foi certamente a inauguração da agência do Banco do Brasil, no dia 14 de outubro de 1988, pelo fortalecimento que trouxe ao setor econômico de Piquet Carneiro.

CONSTRUÇÃO DE GRUPOS ESCOLARES

No decurso das administrações: 1959-63, 1963-67 e 1983-88. Luiz Aires voltou sua atenção para diversas comunidades rurais, melhorando-lhes a condição dos trabalhos educativos, através da construção de grupos escolares. Observe-se o elenco dos grupos construídos e as respectivas comunidades a que pertencem: Açude Velho, Vazante dos Divinos, Olho d´Água, Garrotes, José de Araújo, Lages, Cajazeiras, Cercado das Pedras, Conceição dos Nunes, Conceição, Travessão,

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O HOMEM E SUA TERRA Luiz Aires de Sousa

Pedro Leitão, Balão, Serrote dos Conrados, Bonfim, Alegre, Ema, São José dos Monteiros, Macambira dos Pinheiros, Luzia, Pau d´Arco, Pitombeiras, Murtas, Poçinhos, Poçinhos dos Dodôs, Varzante dos Quinquinhos, Catolé da Pista, Bairro Piquezinho, São José, Tataíra, Escola Carminha Aires, Grupo Escolar Antonio Fernandes Lima. Vale ressaltar que todos esses grupos escolares possuíam professores da própria localidade.

REALIZAÇÃO DE CONCURSOS PÚBLICOS

Com a finalidade de agregar novos funcionários à Prefeitura Municipal, o gestor municipal, Luiz Aires de Sousa, publicou vários editais, com vista à realização de concurso público, como se pode ver desta cronologia: 5 de julho de 1983, 28 de junho de 1984, 20 de março de 1985, 13 de janeiro de 1986 e 2 de setembro de 1987.

LUIZ AIRES INSTITUI O DIA MUNICIPAL DO LIVRO

No quarto ano de sua terceira administração, isto é, em 1986, Luiz Aires institui o Dia Municipal do Livro. Não se desconheçam os esforços empreendidos, nesse sentido, pelo professor José Amílton Cavalcante, o qual, contratado pela Prefeitura Municipal, lecionava no então Centro Educacional Sagrado Coração de Jesus. Mas, logicamente, necessário se fazia que essa feliz iniciativa ganhasse força de lei, e se incorporasse ao rol das atividades culturais de nosso município. O prefeito Luiz Aires aquiesceu, de pronto, ao projeto, enviando ao Legislativo o projeto de Lei. nº 279, de 13 de maio de 1986, como se vê deste registro:

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“Lei 279, de 13 de maio de 1986Institui o Dia Municipal do Livro, e dá outras providências.

O Prefeito Municipal de Piquet CarneiroFaço saber que a Câmara Municipal de Piquet Carneiro aprovou e eu sanciono e promulgo a seguinte Lei.

Art. 1º - Fica instituído como Dia Municipal do Livro, o dia 15 de maio de cada ano.

Art. 2º - Esta lei entrará em vigor na data de sua publicação, revogadas as disposições em contrário.

Paço da Prefeitura Municipal de Piquet Carneiro, em 13 de maio de 1986. ”

Luiz Aires de SousaPrefeito Municipal

Tratava-se de uma novidade no desencadeamento das ações culturais em Piquet Carneiro, visto que, pelo que se sabe, até hoje, o fato constitui um ineditismo em nível estadual.

ELEIÇÕES ESTADUAIS DE 1986

Novembro de 1986. Estão para acontecer novas eleições estaduais, em vista da escolha de governador, senadores, deputados estaduais e federais. Ao cargo de governador, concorriam o coronel José Adauto Bezerra, outrora ocupante deste cargo, e Tasso Ribeiro Jereissati, dinâmico empresário.

Na ocasião, Luiz Aires mostrou plenamente estar ainda à frente de seu adversário, Alfredo Franco, na liderança político-partidária de Piquet Carneiro, haja vista que, mesmo em face da grande aceitação que Tasso tinha, em todo o Ceará, o candidato Adauto Bezerra, apoiado por Luiz Aires,

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destronou, ao menos in loco (o que é suficiente para comprovação do que falei!) o “galeguinho dos olhos azuis”, expressão tomada de uma letra do nosso cancioneiro popular, com a qual Tasso era, na época, jocosamente, apelidado.

Um quadro-resumo das eleições estaduais de 15.11.1986

Em nível estadual

Tasso Ribeiro Jereissati: 1.407.693 (52, 32%)Pela coligação: PMDB, PDC, PCB e PC do B;

José Adauto Bezerra: 807.315 (30, 01%)Pela coligação: PFL, PDS e PTB;

José Haroldo Bezerra Coelho: 68.044 (2, 53%)Pela coligação: PT e PSB;

Francisco Aires Quintela: 7.304 (0, 27%)Pela coligação: PSC e PL.

1º DE JANEIRO DE 1989: O LÍDER DESPEDE-SE DO POVO, O SEU POVO

Ao lermos a Sagrada Escritura deparamo-nos com uma passagem do livro do Eclesiástico que, de tão exata em seu conteúdo, não dá margem a interpretações ambíguas: “Tudo tem seu tempo e sua hora”

No dia 1º de janeiro de 1989, Luiz Aires, pela vez derradeira, assoma ao Palanque Municipal, com o intuito de transmitira condução do Poder Executivoao neo-prefeito, eleito em15 de novembro de 1988, o médico Francisco Pinheiro das Chagas.

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Ao desincumbir-se do cargo, Luiz Aires profere aquele que seria, conseqüentemente, o último discurso seu, enquanto líder político de Piquet Carneiro. Ele era um bom cultor da retórica; um excelente orador, portanto. Veja-se:

“Estou hoje me afastando da Prefeitura, entregando o destino do nosso município ao meu sucessor. (...) Tivemos, é verdade, o desfalque do nosso quadro político, com a saída do ex-prefeito Juremir Martins da Costa. Entretanto, apesar deste grande desfalque, o nosso grupo imbatível, com a ajuda de Deus, e vontade férrea das pessoas que desejam o bem ao nosso município, o Dr. Alci foi vitorioso. Aproveito esta oportunidade para agradecer ao povo de uma maneira geral, que sempre esteve comigo nas dificuldades e alegrias pela compreensão e justa causa de eleger o meu sucessor.

Neste momento, me despeço dos funcionários que comigo trabalharam ajudando no desenrolar das atividades cotidianas que hoje se encerram. E é com muita saudade que assim procedo. (...)

Dr. Alci, neste momento de emoção, diante deste povo que aqui se encontra, te entrego este município que foi criado por mim. Faça com que o nosso município continue crescendo e se desenvolva cada vez mais. Obrigado!”

RESUMO DE SUAS REALIZAÇÕES

Revendo suas anotações, foi encontrado um resumo de suas realizações, feito por seu próprio punho. Luiz Aires enumera, com orgulho, tudo o que foi feito, durante décadas, ao povo de sua terra.

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Abaixo transcrevo algumas de suas conquistas:

Em Piquet Carneiro:

Mercado Público; Matadouro; Mercado da Carne, Peixe e Verduras; Três Abrigos de Animais (posteriormente transformado em três pontos comerciais); Reforma do Centro Comunitário Dona Maria Luiza Pessoa Aires; Quadra de Esporte João Ferreira Lima; Escola Carminha Aires; Posto de Saúde Dra. Marilu Aires; Lavanderia João Paulo II com Poço Profundo e Chafariz; Cadeia Pública; Lavanderia do Piquezinho; Praça ao redor da Igreja Matriz; Praça no Piquezinho; Praça Mariano Aires; Praça na Rua do Pepé; Gabinete do Prefeito; Ampliação da Prefeitura; Dois prédios para Almoxarifado; Prédio onde funciona o setor de Educação; Prédio onde funcionava o Serviço de Som; Dois prédios abaixo da Prefeitura para depósito; Paredão com grades em frente à Estação; Chafarizes.

Gabinetedo Prefeito

Mercado Público

Praça Mariano Aires do Nascimento

Banco do Brasil

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Em Ibicuã:Mercado Público; Lavanderia Pública; Matadouro; Curral de Matança; Poços Profundos; Chafariz; Televisor Público.

Em Mulungu:Calçamento; Pracinha; Limpeza geral nas casas residenciais; Instalação Elétrica em quase todas as casas; Cacimbão; Reforma da Igreja; Casa do Motor.

Outros feitos:Televisores Públicos em Mulungu, Catolé da Pista, Macambira, Alto do Maia, Praça do Pepé, Praça da Igreja, Praça do Piquezinho e Praça Dom Antonio; Distribuição de 110 Cadeiras de Rodas; Calçamentos; Drenagens; Construção de Tanques para Abastecimento d’água à população da cidade com água de seus açudes durante dez anos; Abertura de várias estradas carroçáveis; Conservação Anual de todas as estradas do município; Aquisição de inúmeros livros para a Biblioteca do Município; Construção de Cemitério e Instalação de Rede Elétrica no sítio Ema dos Marinheiros; Construção de um Cemitério em Catolé da Pista; Posto de Saúde no Sítio Garrotes; Construção na sede e sítios de 100 Cacimbões de Alvenaria; cerca de 80 Açudes em diversas localidades; Barragens; Linhas Telefônicas ligando os sítios; Construção de 32 Prédios Escolares; Durante a última gestão, fez convênio com o Hospital Suzana Gurgel, de Acopiara, para atender a Sede e o Distrito de Ibicuã; Instalação de Energia Elétrica na Sede, Ibicuã, Mulungu e Catolé da Pista (de início com Motor a diesel e, posteriormente, foi instalada luz de “Paulo Afonso”).

O MUNICÍPIO E OS ÚLTIMOS TEMPOS DE SEU CO-FUNDADOR

Luiz Aires assistiria ao desencadeamento da eleição em nível municipal correspondente ao ano de 1996.

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Na medida do possível, em virtude do declínio, cada vez mais evidente, de suas condições de saúde, envolve-se ele, ainda, com efusivo entusiasmo.

OUTUBRO DE 1996: A OPOSIÇÃO, APÓS 40 ANOS DE EXPECTATIVA, ENFIM FESTEJA!

Em 1996, três candidaturas são consolidadas: Francisco Pinheiro das Chagas (PSDB), Francisco Ivanildo Fernandes Franco (PPB, PDT, PMDB e PFL) e Calixto Fernandes Barbosa (PT).

Luiz Aires apoiou o candidato da oposição, o médico Francisco Ivanildo Fernandes Franco, da coligação: PPB, PDT, PMDB e PFL.

A espera do partido de oposição por uma oportunidade arrastou-se, seguramente, por longos 40 anos.

Verdade é que, desde a década de 1950, militantes dessa agremiação político-partidária ansiavam pela vitória.

Enfim, na noite de 4 de outubro de 1996, os meios de comunicação anunciavam para todo o município e região que o candidato vitorioso, no pleito de 3 de outubro de 1996, havia sido o médico Francisco Ivanildo Fernandes Franco, com uma vantagem de 529 votos em relação ao ex-prefeito, Francisco Pinheiro das Chagas.

Tendo, como fonte, o livro Ceará: Eleições/1996, e Mauro Benevides Filho, é este o quadro-resumo do resultado para prefeito:Candidatos para PrefeitoIvanildo Franco - 4.191 votos (52,45%)Alci Pinheiro - 3.662 votos (45,83%) Calixto Fernandes Barbosa - 137 votos (1,71%)

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EPÍLOGO

Como epílogo deste trabalho de pesquisa, publico, na íntegra, uma entrevista concedida por Luiz Aires de Sousa, em junho de 1999, a um grupo de estudantes da Escola de Ensino Fundamental e Médio Mal. Castelo Branco. Ressalto que concorri, tanto na parte técnica, como no auxiliar os discentes, no desencadeamento do roteiro de ambas as entrevistas, as quais se encontram em meus arquivos. Colocando-se, de todo, à disposição dos nossos estudantes, Luiz Aires de Sousa deu incontestável prova de sua simpatia pelo resgate da história do município, do qual ele foi o primeiro entre seus pares e grande batalhador no ato de criação e instalação deste. Era junho de 1999, e o nobre e saudoso entrevistado recepcionava a equipe de estudantes ali, num recanto de sua residência, onde, sobretudo nos últimos anos de sua existência, costumava dialogar com seus habituais interlocutores.

ENTREVISTA - 01

“O MUNICÍPIO FOI CRIADO SOB MEUS ESFORÇOS...”

(Luiz Aires de Sousa, junho de 1999)

Antônio Alves de Oliveira: Chegamos à residência do Sr. Luiz Aires. Estamos aqui, no gabinete dele e, de antemão gostaríamos de agradecer este espaço que o senhor nos reserva de seu precioso tempo, em prol desta entrevista.

Na verdade, não vamos “chamar” de entrevista, mas vamos procurar bater um papo descontraído aqui, focalizando temas ligados à história do nosso município.

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Em primeiro lugar, seu Luiz, gostaríamos que o senhor nos relatasse quem foi o 1º prefeito, quando ele foi empossado e por quanto tempo administrou?

Luiz Aires: Bem… É com satisfação que passo a lhe proporcionar esta entrevista e, por isso, me coloco à sua disposição para responder o que souber.

O 1º prefeito fui eu. Na eleição realizada a 3 de outubro de 1958. E a posse no dia 24 de março de 1959. Eu tive como vice-prefeito o Sr. Alfredo Alves Bezerra.

Antônio Alves: Piquet Carneiro tinha outro nome. Qual era esse nome? E quais as dificuldades encontradas pelos municípios e pelas lideranças naquela época?

Luiz Aires: Como vocês sabem, nós estávamos, naquela época, no tempo do Jirau. O que ouvi falar é que esse nome foi dado porque aqui era um lugar pouco habitado e quando a estrada de ferro passou aqui existiam uns giraus para pegar onça. Essa era a história que a gente ouvia e motivado por este jirau o nome foi dado como se dá nome a qualquer lugar. E esse nome vigorou por muitos anos até que o Governo Federal mudou de Jirau para Piquet Carneiro, como mudou o nome de diversos lugares passados a municípios. Eu acho que isso foi muito bem feito porque era preciso que aqui tivesse um nome de um homem de bem. Era um engenheiro da estrada de ferro. Dizem que foi muito trabalhador. Concorreu muito para o progresso da rede (...) O Luiz Roberto, quando era prefeito, fez uma visita à família dele, no Rio de Janeiro. Em compensação e agradecimento a essa visita que o Luiz Roberto fez a eles, a filha dele esteve aqui em casa.

Antônio Alves: O que mais mudou daqueles primeiros tempos para os tempos atuais, no aspecto político ou no aspecto cultural?

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Luiz Aires: Olhando para esse lado de cultura, Piquet Carneiro teve um desenvolvimento bom, não vou nem dizer razoável. Tem colégios. Foram implantados vários cursos. Durante o ano, muitos alunos são formados. Piquet Carneiro tem progredido nesse sentido. E eu faço votos para que esse progresso continue.

Antônio Alves: E no aspecto político, econômico e social: o que o senhor tem a nos dizer?

Luiz Aires: Eu tenho a dizer também que tem havido progresso. Tem tido ajuda dos deputados estaduais e federais.

Antônio Alves: Quantas vezes o senhor foi prefeito e quais as maiores dificuldades encontradas nas suas administrações?

Luiz Aires: Olha, Toinho, como é do seu conhecimento, eu fui prefeito três vezes. Nessas três vezes, a única dificuldade que eu palmilhei foi o problema de recursos. Piquet Carneiro é um município pequeno de fontes produtoras pequenas, e não pode ter recursos suficientes para agradar todo mundo. Tem que se limitar a certas ações.É preciso que o gestor faça tudo para que o município de Piquet Carneiro receba o apoio do Governo.

Antônio Alves: A próxima indagação que eu vou lhe fazer tem muito a ver com essa sua última resposta. Em seu ponto de vista, Piquet Carneiro teve um bom, ótimo ou excelente desenvolvimento, comparado com os tempos remotos?O senhor acabou de dizer aí que o maior problema encontrado foi a falta de recursos. E na parte do desenvolvimento?.Luiz Aires: Diante do que já falei, não vou dizer que excelente, porque o município não tem condições para isso. E qualifico, por isso, de bom. Um bom desenvolvimento.

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Antônio Alves: Na sua opinião, seu Luiz, como o nosso município pode se desenvolver mais no sentido cultural?

Luiz Aires: Olhe, o município tem que apoiar seus valores. O município tem valores que podem influenciar nos seu crescimento cultural, num campo mais amplo.

Antônio Alves: Na sua opinião, quais alguns nomes de pessoas que o senhor pode considerar importantes dentro da história de nosso município em seus vários segmento: segmento da igreja, segmento político, na educação, no aspecto cultural, e como essas pessoas mais têm contribuído para o desenvolvimento de nossa cidade? O senhor pode citar pessoas dos tempos atuais ou dos primórdios de nossa história.

Luiz Aires: Rapaz, desde os primórdios da criação do município, que nós temos uma família que concorre muito para esse progresso, para esse desenvolvimento. Uma família já numerosa, muito competente, eles estão em pontos-chaves desempenhando o papel de baluartes, que é a família do meu amigo Osmar Pereira de Lucena. Ele mesmo faz aquele tipo de gente simples, boa, honesta, mas a família ajuda no restante.

Antônio Alves: Uma última pergunta: qual o episódio mais marcante de sua vida política? Momento de mais alegria, de mais felicidade?

Luiz Aires: Foi a criação do município por uma razão muita justa que eu considero: o município foi criado por mim, por iniciativa política minha, sob meus esforços. E assisti ao desenrolar de sua instalação, de sua posse.

Antônio Alves: Agora, nós gostaríamos de saber qual o episódio mais crucial dessa mesma carreira?

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Luiz Aires: Toinho, eu não classifico esse momento de crucial, porque, eu gosto do negócio. Por isso, eu acho que nada é crucial em política. Na política, a gente sente mais é quando há uma injustiça, que fazem com a gente; eu não quero, com isso, me referir a um episódio recente, que o povo viu. Mas, para bom entendedor, meia palavra basta. Em todo o caso, posso dizer que só tive um momento crucial na minha vida, politicamente falando: porque fui mal recompensado. E essa pessoa, a quem estou me referindo, me desvirtuou por completo.

Antônio Alves: Para finalizar: o senhor mantém a esperança de ver nossa cidade ainda mais desenvolvida? E qual a sua opinião para que isso venha a acontecer o mais depressa possível?

Luiz Aires: Eu tenho essa esperança. Eu tenho esse desejo, pois Piquet Carneiro tem filhos que podem fazê-lo, isto é, ajudar o município a crescer. Tendo um administrador competente, eu tenho certeza absoluta de que Piquet Carneiro verá dias melhores, porque, desde, uma vez, que lutemos unidos em prol dessa razão, veremos o progresso desta terra. O progresso, certamente, não pode vir de forma definitiva e rápida, porque se trata de um município pequeno.

Antônio Alves: Seu Luiz, este material que nós estamos acabando de preparar, será destinado a um trabalho de História da Escola Castelo Branco. E esperamos que o mesmo possa interessar às gerações futuras. Só nos resta agradecer a sua disposição em nos conceder esta entrevista. Muito obrigado!

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ENTREVISTA - 2

“EU TENHO A SATISFAÇÃO DE LHE DIZER QUE TODOS OS CANDIDATOS QUE PASSARAM AQUI E GANHARAM, FORAM COM MINHA COLABORAÇÃO.”

(Luiz Aires de Sousa, junho de 1999)

Ednardo Sales: Aqui, me encontro com o seu Luiz Aires de Sousa, o qual administrou nosso município ao longo de três mandatos: 1959 a 63; 1967 a 71; 1983 a 88. De tal maneira que ele constitui uma verdadeira página histórica deste município. Então, seu Luiz, eu gostaria que o senhor nos relatasse algo de sua tão longa trajetória política.

Luiz Aires: Antes de eu ser prefeito daqui, de Piquet Carneiro, como era natural, Piquet Carneiro era distrito de Senador Pompeu. Nessa época, eu fui vereador. Inclusive eu tenho a satisfação de dizer que eu fui o vereador mais bem votado no município de Senador Pompeu. Depois, eu achei que nós devíamos dar o grito de “emancipação política”… Isso me deu muito trabalho, porque foi um processo demorado… E, independente de algumas coisas, eu, com o auxílio de um deputado amigo, Ésio Pinheiro, eu consegui a emancipação do município de Piquet Carneiro. Tendo sido, como já falei, o vereador mais bem votado, isso me animou muito… Tudo isso muito contribuiu para me ajudar na minha intenção. Então, na minha primeira administração, naquelas épocas, eu não tive a oportunidade de receber dinheiro… Porém, dentro dessas coisas pequenas, eu fiz o possível. Primeiro, por uma obrigação do dever moral de fazer. O prefeito tem obrigação de fazer! Segundo, porque eu estava fazendo pela minha terra natal, terra que eu quero muito bem. Razão pela qual, no decorrer das três administrações, eu fiz aquele mercado público; fiz um outro mercado, que era chamado o mercado da carne;

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que foi, depois, substituído pelo Center Comercial… parte dessas praças que tem na cidade foi feita também por mim, e, depois, claro, foram modificadas. Construí o gabinete do prefeito; reformei o prédio da Prefeitura para adaptá-lo às necessidades da administração; fiz os almoxarifados e outros prédios para as secretarias, naquela parte de baixo. Fiz cerca de 50 prédios escolares no município.

Ednardo Sales: E o Banco do Brasil?

Luiz Aires: O Banco do Brasil é um negócio mais ou menos à parte, porque o prédio é meu, particular. Agora, fui eu quem conseguiu para cá. Consegui por intermédio do deputado Orlando Bezerra. Por achar um negócio muito importante, eu tentei um posto do Banco do Brasil. Mas, devido ao prestígio do meu candidato junto do Presidente do Banco do Brasil, eu consegui foi uma agência para Piquet Carneiro. A agência veio, foi instalada… Por sinal, era uma agência de um porte muito maior que a atual, porque era composta de cerca de 15 funcionários… E, infelizmente, estamos na iminência de até perder esse posto… Deus ajude que isso não aconteça, porque ele é muito necessário ao nosso município, dada a situação financeira do nosso povo de Piquet Carneiro, etc… o povo não precisa se locomover para outro lugar, para receber seu dinheiro e ajuda nos pequenos movimentos financeiros da cidade. (pausa). Eu também comprei o trator de esteira, que ainda está por aí… Construí, naquela época, cerca de 80 açudes nos diversos sítios do município. Estrada… eu primava muito por estradas! Gostava muito de construir estradas! Eu… custasse o que custasse… eu construía, eu conservava… Tinha a patrol (Moto niveladora). Hoje… nós não temos mais nem a patrol… Não estamos, com isso, atacando a atual administração… Mas, infelizmente, temos, sim, é um monte de ferro velho, lá no sítio Bonfim… Um município como esse, no Centro-Sul (sic!) do Estado, precisa de uma patrol, para a construção de estradas… Você

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veja: um município pobre, como o nosso, mas tem muitos proprietários de carros, não é? E esses proprietários querem andar em estradas (conservadas)… (pausa) De forma que eu procurei fazer o possível… o que pude. Aquela escola Carminha Aires, aquele posto de Saúde, Dra. Marilu… O Centro Comunitário… eu ampliei, porque o Luiz Roberto foi quem construiu aquele centro. Mas, quando uma nova administração chega, e chega com muito boa vontade, procura fazer alguma modificação. Em Ibicuã, eu fiz classes; eu fiz um matadouro lá… Fiz uma lavanderia… Em muitas praças, aqui da cidade, eu coloquei televisores públicos. Eu sempre me empenhei por fazer algo pela minha terra.

Ednardo Sales: E… no Setor da Saúde?

Luiz Aires: Bom, eu fiz o possível. Construí esse posto, que já falei. Fiz alguma coisa no hospital… Esse hospital foi construído na gestão do Luiz Roberto. Mas a gente dá uma reforma, uma ampliação, essa coisa e tal… (pausa) Se você se lembrar de mais alguma coisa, que interesse, pode me perguntar.

Ednardo Sales: Nós gostaríamos que o senhor nos falasse sobre os candidatos que o senhor apoiou.

Luiz Aires: Eu tenho a satisfação de lhe dizer que, todos os candidatos que por aqui passaram, e foram eleitos, o foram com a minha colaboração.

Ednardo Sales: E todas essas vitórias aconteceram graças aos seus trabalhos, às suas administrações, não é?

Luiz Aires: Graças ao meu trabalho, à minha maneira de tratar o povo. Eu sou filho natural daqui. Conheço quase todo mundo… e se não dou ao povo o tratamento que ele merece, é porque, num determinado momento, a gente está preocupado com determinadas coisas etc...

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Mas eu reconheço que o povo merece acato! Piquet Carneiro é um município pequeno, muito fácil de administrar, e todo mundo pode fazer por Piquet Carneiro o que ele merece…

Ednardo Sales: Nós queremos lembrar, nesta pesquisa, que o seu Luiz Aires é o pai do Dr. Luiz Roberto, que é advogado da prefeitura local, que também foi prefeito e fez muitas obras no nosso município. Então, nós queríamos agradecer ao senhor, seu Luiz, pelo apoio que nos deu. E dizer que este trabalho não é, apenas, para se ganhar uma nota lá na escola… mas ele vai ficar arquivado, ou na escola, ou por alguém que queira arquivá-lo, pelo seu valor histórico… porque, eu acho, que, ninguém, chegou a entrevistá-lo, assim, filmando o senhor...

Luiz Aires: Olhe… eu gostaria ainda que você registrasse aí que, durante a minha última administração, (ndr: 1983-88) eu fiz questão, fiz todo o possível de manter aqui, no município, a minha filha médica, a doutora Marilu, que, depois, por necessidade dos estudos dos filhos, precisou ir para Fortaleza, deixando aqui, em Piquet Carneiro, um vácuo. A Marilu é muita querida aqui em Piquet Carneiro e… o povo, uma boa parte do povo, desejaria que ela aqui estivesse novamente, para continuar aquele trabalho, da maneira dela, de tratar o povo, de receitar o povo, de fazer os serviços no setor de Saúde.

Ednardo Sales: Ainda uma pergunta: o setor de Segurança Pública?

Luiz Aires: Rapaz, a segurança municipal é composta pelos policiais, não é? Eu sempre reservei essa parte aí eles…pedia aos delegados que tratassem bem o povo… Inclusive, no meu primeiro mandato, (ndr 1959-63) eu até armei a própria polícia… (risos). Dei um revólver a cada soldado, para eles policiarem com mais segurança, certo?

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Porque, a gente tendo um policiamento sadio, um policiamento bom, um policiamento honesto… ajuda, não é?

Ednardo Sales: Com certeza. Então, nossos agradecimentos a seu Luiz Aires por esta entrevista. Agradecimentos não só da Escola Castelo Branco, a qual pertencemos, mas agradecimento de toda a população, porque esse é um fato histórico. Obrigado!

Luiz Aires: Obrigado também. E eu estou aqui à inteira disposição de vocês.

LUIZ AIRES É HOMENAGEADO PELO LEGISLATIVO MUNICIPAL

No dia 9 de março de 1998, a Câmara Municipal, via Decreto Legislativo, tendo, como proponente o vereador José Alves Otaviano, resolve conceder a Luiz Aires de Sousa o Título de “Cidadão Emérito” de Piquet Carneiro-CE, “pelos seus relevantes serviços prestados a nosso município.”.

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O homenageado recebeu a comunicação, mediante ofício do então Presidente do Legislativo, vereador Luiz Augusto Pinheiro. Por se tratar de um documento de alto e ímpar valor histórico, registro-o na íntegra:

Ofício Nº 012/98

Do: Senhor Presidente da Câmara MunicipalAo: Senhor Luiz Aires de SousaAssunto: Comunicação (faz)

Prezado Senhor,

Venho pelo presente comunicar a V. Sa. que em sessão ordinária da Câmara Municipal, realizada no dia 14 de fevereiro próximo passado, foi aprovado por unanimidade de votos dos Senhores Vereadores, Projeto de Decreto Legislativo, da autoria do vereador José Alves Otaviano, concedendo ao Senhor Luiz Aires de Sousa, o título de Cidadão Emérito de Piquet Carneiro-CE, pelos seus relevantes serviços prestados a nosso município.

Gabinete do Presidente da Câmara Municipal de Piquet Carneiro, em 09 de março de 1998.

Luiz Augusto PinheiroPresidente da Câmara

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A SUA ÚLTIMA E GRANDE LUTA

Suas viagens a Fortaleza, não mais por motivos de negócios como sempre fora, passaram a ser por motivos de saúde. Suas visitas a médicos e hospitais foram se tornando mais freqüentes.

Até que em 2003, sua saúde se agravou e não pôde mais retornar ao seu lar: a sua amada Piquet Carneiro.

A sua última e grande luta! E como foi de uma grandeza exemplar...

Espírito forte, confiança na vontade de Deus. Sem queixas e reclamações. Um guerreiro como Deus o fez.

Todos os dias, o dia todo, pedia aos seus filhos que o levassem de volta à Piquet Carneiro. Não esquecia sua casa, seu povo, sua terra… Mas, dada a gravidade de sua saúde, foi o único e grande pedido seu que não pôde ser atendido.

Teve todo amor, carinho da família e cuidados médicos...

“No teu livro foram escritos todos os seus dias, cada um deles escrito e determinado”

Salmo 139 - 16

“Não há nenhum homem que tenha domínio sobre o vento para o reter; nem tão pouco tem

ele poder sobre o dia da morte”Eclesiastes – 8 – 8

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UMA GRANDE MULHER

Dona Maria Luiza: esposa, companheira, amiga de todas as horas, de toda uma vida.

União de 62 anos. Bodas de Diamante.

Sempre ao seu lado, não se ausentando nem para acompanhar os filhos que estudavam em Fortaleza. Solidária nas

batalhas de sua vida pública e particular. Amiga forte nas horas de vitórias e aflições, tristezas e doenças como foram seus últimos anos.

Por trás de um homem tão forte existia uma grande mulher.

O acompanhou até o último instante de sua viagem, dando seu último adeus, seu último beijo… Com muito amor.

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5 DE JUNHO DE 2005:O TRÂNSITO PARA A ETERNIDADE

“Ó paz dos túmulosÓ frio das tardes invernais nos cemitérios

Ó mármores gelados, rosas frias,Cristos de gelo, como vos espero

Quando serei silêncio e frio apenas?Quando serei apenas o íntimo da terra?

Quando, enfim, dormirei na paz - na álgida paz?”(Augusto Frederico Schmidt, poeta)

Após longa enfermidade, enfim, a paz: faleceu Luiz Aires de Sousa, no início da noite de 5 de junho de 2005, em Fortaleza, aos 82 anos de idade. Completaria 83 em 14 de julho seguinte. Como cristão, empreendeu a última viagem marcado pelo sinal da fé e da esperança na ressurreição prometida por Cristo.

O homem a quem Piquet Carneiro deve, em grande parte, o mérito de se ter tornado município, fechava os olhos para o cenário deste mundo. Para familiares e amigos, não foi fácil a sua partida - como é natural, à luz do humano. Sua passagem aqui na terra estava encerrada, porém sua missão foi cumprida e seguiu sua viagem totalmente realizado.

De fato, por mais paradoxal que seja, o ser humano só estará plenamente cioso de haver atingido a maturidade, quando acalentado pelo “sono” da morte; quando ultrapassar os umbrais da eternidade e entrar no mistério de Deus, atingindo, por conseguinte, a plenitude da vida.

Pelos próximos dias, grande tributo seria, então, prestado à sua memória, a começar pela missa de corpo presente, de que participaram muitos amigos.

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DO PROF. OSMAR LUCENA FLHO, EM ARTIGO PUBLICADO NO JORNAL FOLHA DO SERTÃO

O jornal “Folha do Sertão”, em sua edição de nº 16, de julho de 2006, trouxe à luz artigo redigido por mim, sob o título “Tributo a Luiz Aires de Sousa”, com que busquei, à distância de um ano do desaparecimento de Luiz Aires, associar-me às homenagens a ele, na ocasião, prestadas pelo Governo do Município, quando da solenidade de inauguração do Ginásio Poliesportivo Prefeito Luiz Aires de Sousa.

“Dentro das celebrações alusivas ao 49º aniversário de sua emancipação política, o município de Piquet Carneiro reverenciou - antes tarde do que nunca! - a memória de um de seus mais ilustres filhos: Luiz Aires de Sousa. O ponto central desta recordação deu-se na noite de 12 de julho, quando o Governo do Município inaugurou, de forma solene, o “Ginásio Poliesportivo Prefeito Luiz Aires de Sousa”. No ato supramencionado, a honrosa responsabilidade de saudar a família Aires recaiu, de relance, sobre mim.

Agora, neste pequeno espaço de transmissão de idéias, repasso aos nossos leitores os dados biográficos, coligidos por mim, do postumamente homenageado Luiz Aires.

Filho de Mariano Aires do Nascimento (= 1984) e de Maria do Carmo Aires do Nascimento (= 1982), o venerando extinto nascera na comunidade de Salão, município de Piquet Carneiro, em 14 de julho de 1923. Matriculou-se, em 1933, no Colégio Cearense Sagrado Coração de Jesus, em Fortaleza. Fez-se discente, em seguida, do Curso de Ciências Contábeis, na Academia de Comércio Pe. Marcelino Champagnat. Em 1940, ei-lo já no célebre Liceu Cearense, cursando

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o pré-médico. Em 1943 contrai matrimônio com Maria Luiza Pessoa, de cujo consórcio nasceram quatro filhos: Luiz Roberto, Eva Maria, Marilu e Ana Maria. Entre 1946/47, Luiz Aires incorpora-se à Comissão responsável por ultimar os preparativos em face da criação da Paróquia do Sagrado Coração de Jesus. Na manhã de 15 de fevereiro de 1948 coube-lhe proferir o discurso de “boas-vindas” ao primeiro vigário de Piquet Carneiro, Pe. Antônio Pinheiro Freire. O ano de 1950 assinala seu ingresso no campo da política partidária, quando, pelo PSD - Partido Social Democrático, ascende à Câmara Municipal de Senador Pompeu-CE, tendo, por sinal, exercido o cargo de presidente daquela egrégia Casa Legislativa. Em 1954, através da mesma legenda partidária, concorre à Prefeitura Municipal de Senador Pompeu; não obstante, perdeu a eleição para o Sr. José Benigno Soares, candidato da UDN - União Democrática Nacional. De 1954 a 1957 trabalhou incansavelmente a fim de ver concretizada a emancipação político-partidária de sua terra natal. Seu esforço, somado ao de outras lideranças da época, não foi em vão! Com efeito, no dia 12 de julho de 1957, por força da Lei Estadual 3.685, assinada pelo deputado Edson da Mota Correia, então presidente da Assembléia Legislativa, nascia o município de Piquet Carneiro. Luiz Aires vê consolidada, em 1958, sua trajetória político-partidária. A contar daí, advieram-lhe três décadas de imbatível liderança nos meandros da política local. Elege-se, pelo PSD, em 3 de outubro de 1958, prefeito de Piquet Carneiro, tendo, como vice, Alfredo Alves Bezerra. Teve ele, assim, o mérito de traçar, com sabedoria, o arcabouço da máquina administrativa, em relação ao quadriênio 1959-63, o primeiro da História do Poder Executivo local. Retornaria a chefiar o Executivo por mais duas vezes: de 1967 a 1971 e de 1983 a 1988.

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Luiz Aires, como líder político, lograria êxito também nas sucessivas campanhas eleitorais de cujas urnas assomariam ao paço da Prefeitura Municipal de Piquet Carneiro estes edis:Antônio Fernandes Barbosa (eleito em 7.10.1962), Antonino Aderaldo (eleito em 15.11.1970), Luiz Roberto Pessoa Aires (eleito em 15.11.1972), Juremir Martins da Costa (eleito em 15.11.1976) e Francisco Pinheiro das Chagas (eleito em 15.11.1988).

Os últimos anos de sua existência foram marcados pela enfermidade que o levaria à morte. Porém, em nenhum momento, deixou arrefecer sua “paixão” por Piquet Carneiro. Aos que o visitavam, tinha sempre uma pergunta engatilhada: “Como está o município”?. Testemunha ocular é o autor deste artigo.

5 de junho de 2005. Era começo de noite. Estrelas aos milhares começavam a cintilar sob a abóbada negra dos espaços. Foi quando Piquet Carneiro recebeu a notícia: Luiz Aires deixara o cenário deste mundo. Com efeito, a “indesejada das gentes” havia-lhe dito: “Luiz, seu tempo findou!”. Restava-lhe, apenas, ir ao encontro do Justo Juiz.

Governando sob a ótica de uma determinada época e, portanto, à luz dos acontecimentos de seu tempo, ele marcou, sim, sua passagem entre nós, seus conterrâneos.

Para finalizar, uma confidência: em minha biblioteca, figura a coleção completa da obra do escritor baiano Jorge Amado. Um primor! Dádiva de “seu” Luiz para comigo. Presente, pois, que conservo, desde 1997, como prova de que, como muitos, privei de sua amizade.

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APÊNDICE - 1

DEPOIMENTOS SOBRE LUIZ AIRES,FEITO POR FAMILIARES E AMIGOS

Este trabalho conteria falha grave, caso não comportasse espaço para o registro dos “DEPOIMENTOS” que me foram gentilmente concedidos por familiares e amigos de Luiz Aires de Sousa.

Aqui, pois, prevalece a linguagem natural, espontânea,aquela que brota da emoção de quem conviveu, de forma tão íntima, com o ex-líder político de Piquet Carneiro.

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Sala de Sessões da Câmara Municipalde Piquet Carneiro - 19 de agosto de 2005:

Somente hoje, é possível fazer um pronunciamento, nesta augusta Casa, da morte do Senhor Luiz Aires de Sousa, ocorrida em cinco de junho de dois mil e cinco. Por meio de comunicação, chegou a triste notícia, e, em seguida, um silêncio invadiu Piquet Carneiro, pelo desaparecimento de um dos filhos mais ilustres desta terra, que, desde a emancipação do município, até hoje, acompanhou e participou, sem sombra de dúvida, de todo o processo político e histórico desta comunidade. Luiz Aires de Sousa, prefeito três vezes, em épocas alternadas, liderando Piquet Carneiro, por trinta e três anos, mostrando inteligência, perspicácia, trabalho, dedicação e amor ao seu povo. Em todo o universo, no mundo globalizado, trabalho, zelo, perseverança e conservação destacaram-se em grandes estadistas, dos quais menciono alguns como: Eisenhower (USA), Charles de Gaulle (França), Nikita Kruchev (antiga URSS) Getúlio Dornelles Vargas (Brasil), Juscelino Kubitschek (Brasil), Virgílio Fernandes Távora (Ceará). Deslizando as caatingas, pisando o exaurido solo nordestino, bem no coração do Sertão Central, apenas por diferenças geográficas, nasceu e viveu o grande estadista LUIZ AIRES DE SOUSA. Humano! Querido! Amado! Dedicando toda a sua história, seu trabalho, enfim sua vida a Piquet Carneiro.Portanto, deixo aqui, nos anais desta augusta Casa, o registro de nossa lembrança junto ao povo de Piquet Carneiro, nosso adeus ao Velho Guerreiro! Luiz Aires de Sousa.

Muito obrigado!

José Irismar Victor (Dr. José)

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Iniciando este depoimento, começarei com a minha chegada a esta cidade de Piquet Carneiro, naquela época, distrito de Senador Pompeu, a qual se deu no dia 22 de setembro de 1944. Deste então, fiquei conhecendo o Sr. Luiz Aires de Sousa, passamos a nos cumprimentar com o habitual “bom-dia”, “boa-tarde”. Meu vizinho, de então, era o Sr. Cícero Alencar Guerra (de saudosa memória) que sempre me convidava para assistir a transmissão de jogos de futebol, entre Ceará, Fortaleza, Maguari e Ferroviário, onde contávamos sempre com a presença do Sr. Luiz Aires de Sousa, e havia diálogo entre nós. Daí para frente, nosso encontro era mais firme, especialmente, na estação, onde, juntamente com o Sr. Enemias Fernandes e outras pessoas, conversávamos mais animadamente.

Quando o desembargador Dr. Faustino de Albuquerque era Governador do Estado do Ceará me nomeou “Juiz de Casamento”, cujo Oficial do Registro Civil era o Sr. Raimundo Alves Pinheiro, pai do popular “Candinho”. Com a mudança de governo, o Cartório de Piquet Carneiro passou a ser “Cartório Aires”, sendo titular dona Maria Luiza Pessoa Aires e escrevente compromissado, o Sr. Luiz Aires de Sousa, continuando eu como Juiz de Casamento. Nosso conhecimento tornou-se, então, mais sólido. Luiz Aires de Sousa foi um dos grandes batalhadores em prol da criação de nosso município, haja vista que, naquele tempo, ele, Luiz Aires, pediu para eu e Raimundo Fernandes Barbosa fazermos um levantamento para saber qual a opinião do pessoal sobre a criação do município. Assim, percorremos ruas, praças, bairros, sendo que a aprovação para a criação de nosso município foi unânime. Criado o município, pela Lei 3.685, de 12 de julho de 1957, assinada pelo então deputado Edson da Mota Correia, Presidente da Assembléia Legislativa, havendo a instalação do município em 11 de agosto de 1957.

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Daí começou a campanha em prol dos candidatos; de um lado, Luiz Aires de Sousa; e pelo outro lado, Antônio Fernandes Franco. Sendo eleitos, pelo PDS, Luiz Aires de Sousa (prefeito) e Alfredo Alves Bezerra (vice).Em 26 de abril de 1959 foi nomeado para a função de datilógrafo e arquivista da Câmara Municipal, por ato do então presidente, Filomeno Sobreira Dantas.

Em janeiro de 1965, por solicitação do prefeito José Calixto Lima ao Sr. Presidente da Câmara, fiquei trabalhando concomitantemente na secretaria da Câmara e na secretaria da Prefeitura. Desta forma, entre mim e Luiz Aires sempre houve bom diálogo, pois, na 1ª gestão dele, eu trabalhava no Legislativo; e na 2ª e 3ª gestão, eu trabalhava nas duas secretarias, ou seja, Câmara e Prefeitura.

Dentre as construções da Administração Luiz Aires citarei algumas que marcaram grande revelação na sua profícua administração: mercado público, abrigo de animais, lavanderia pública, gabinete do prefeito, unidades escolares nos sítios: Logradouro, Serrote, São José, Alegre, Travessão, etc. Em nossa convivência, tanto no Executivo, no Legislativo e no Cartório nunca houve algo que nos aborrecesse. Vale dizer que, todo fim de semana, ia me encontrar com ele na sua residência. Mesmo depois que ele foi para Fortaleza, ficando, assim, impossibilitado de voltar à terra que o viu nascer, eu fui, juntamente com meus filhos, João Eudes e Osmar Filho, visitá-lo duas vezes em Fortaleza; uma vez na sua residência; noutra vez, no hospital onde ele estava fazendo tratamento.”

Osmar Pereira de Lucena

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Falar sobre o Luiz Aires é uma honra para mim muito grande. Foi um político, um cidadão de bem; comerciante, um bom pai, e amigo de todos… Hoje, Piquet Carneiro ainda deve muito ao Luiz Aires porque foi ele quem iniciou quase tudo o que tem no município. Político que soube administrar e trabalhar. Conheci Luiz Aires desde criança e acompanhei sua trajetória política desde quando ele foi vereador em Senador Pompeu. Não vou dizer que não tenha quem não goste dele porque isso acontece, mas ainda hoje tem muitas pessoas que se lembram de Luiz Aires e sentem saudades dos seus atos, de como ele era. Piquet Carneiro tem que sempre relembrar Luiz Aires. (...) Quando Piquet Carneiro foi ser desmembrado de Senador Pompeu, Luiz Aires não mediu esforços. Na época, o Dr. Aquiles Peres Mota era Presidente da Assembléia Legislativa do Ceará. Luiz trabalhou junto com ele até o dia em que Piquet Carneiro se emancipou... Com relação às campanhas políticas, desde sua primeira campanha em 1958 eu estive presente e daí em diante a todas elas. Luiz esteve sempre à frente das campanhas de seus candidatos, elegendo todos eles.

Eduardo Almeida Meireles

Quando eu cheguei a Ibicuã, vindo de Acopiara, de onde sou natural, já trabalhava em política. Eu tinha 15 anos. Meu pai já tinha amizade com o Luiz Aires e, aí, nos engajamos na política do partido que o Luiz coordenava. Em 1976, fui eleito prefeito com o apoio dele. Nos tornamos grandes amigos. O Luiz Aires prestou muito serviço ao município de Piquet Carneiro a vida inteira.

Juremir Martins da Costa

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Tive o privilégio de ser amigo de Luiz Aires. Sempre tive uma grande admiração e respeito pelo seu trabalho e dedicação às causas do seu povo. Não se pode desenhar a experiência e o conhecimento da vida pública que ele acumulou em quase meio século de vivência e atuação. Foi, sem dúvida, a maior expressão política de Piquet Carneiro por várias décadas. Foi prefeito três vezes e sempre elegeu seus sucessores. Ninguém ocupará jamais a liderança que ele teve em sua terra, sem a verdadeira vocação de grande administrador que foi. Seus conterrâneos, como eu, guardarão na memória a presença viva do grande líder que foi Luiz Aires.

Luiz Augusto Pinheiro

Luiz Aires foi um marco na vida administrativa e política de Piquet Carneiro. Poderíamos afirmar que ele se dedicava à cidade e ao seu povo com amor. A sua maior virtude: ser amigo dos seus verdadeiros amigos. Está fazendo muita falta!...

Valdenor Pinheiro

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Luiz Aires para mim foi uma referência de amigo, homem e pai. Considero que tenha sido um professor em minha vida, onde passamos por muitos momentos bons dos quais sinto muita saudade. Suas características se misturavam da seriedade a pessoa brincalhona e extrovertida, que conquistavam todos à sua volta. Foi um homem de grandes atitudes, muitas delas marcaram sua história. Amigo, muitas saudades!

César Bezerra

O homem que me deu a mão aqui em Piquet Carneiro chama-se Luiz Aires, que só fez o bem a quem o procurasse. Sofreu muitas injustiças... Até hoje tenho saudades dele...

Adones

Não esqueço um grande homem como Luiz. Era muito meu amigo… Me ajudou muito... A linha de transporte que até hoje faço de Piquet Carneiro à Senador Pompeu, tive o total apoio deste grande amigo.

No tempo que ele existiu, eu nunca sofri dificuldades na vida...

Francisco das Chagas Abrantes (Sr. Chaguinha)

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O HOMEM E SUA TERRA Luiz Aires de Sousa

Luiz Aires, um amigo que a gente perdeu… Amigo que muito considerava... Era um grande amigo que deixou muitas saudades. A saudade que deixou foi profunda...

Albertino e Felismina

O Sr. Luiz Aires foi um verdadeiro baluarte. Homem simples, humilde, que soube lutar por todos, sem distinção. Quem chegasse à sua porta, solicitando médico, remédio, passagens ou outras necessidades, nunca se negou a ajudar. O que temos foi feito por ele: repartições públicas, estradas... Tinha muito respeito pela pobreza... Meu pai, Sr. Pepé, tem 92 anos. Quando fala no seu nome, chora... Sr. Luiz Aires marcou com honradez sua passagem na terra.

Vângela

Luiz Aires foi uma pessoa que a gente tinha muito respeito e amizade. Convivi com ele muito tempo. Ajudou muita gente no município. Foi um amigo fiel e companheiro...

Nelcides

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Luiz Aires, para mim, foi mais que um pai. Amigo demais… Amigo de confiança... Não tenho palavras para expressar o que sinto. Convivi com ele todos os dias. Tudo o que eu disser é verdadeiro sobre Luiz Aires. Ele continua no meu coração... A saudade é muito grande!

Assis “Boi”

Foi muito meu amigo.

Pessoa folclórica em Piquet Carneiro pelo fato das brincadeiras. Coisa que o matuto, o brejeiro, o agricultor gostava muito. Ele enfeitava e o matuto gostava. Tanto ele como Luiz Roberto gostavam muito de brincar. Como político produziu muito e muita coisa foi feita.

Roberto Nascimento

Eu entrei na política sempre acompanhando o partido do Luiz Aires. Atuávamos nas campanhas sempre se destacando como uma linha de frente. Dada a confiança que o Luiz depositava na gente, eu fazia questão de trabalhar em troca de nossa amizade. O pessoal tinha muita ligação com Luiz Aires. Ele dizia: “Vá na casa do fulano de tal, diga a ele que eu quero falar com ele.” Um recado do Luiz Aires, para a pessoa, era uma honra! Assim nós fazíamos campanha… Campanha séria e sem mentiras...

Lourival Nunes (Lourinho)

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MEU PAI...

Não poderia ter havido outro melhor. Tenho apenas uma única lembrança ruim do senhor, a do dia de tua partida; o triste dia em que nos deixaste para morar eternamente junto ao Deus-Pai. Para mim, muitas são as fontes de tuas lembranças: no sorriso dos meus filhos e netos; nas conversas com minhas irmãs; na presença de minha querida e amada mãe; entre muitos outros momentos que me levam a lembrar de ti, das tuas estórias, das tuas conversas. Sempre me chamava de “minha filha” ou “Evinha”… Tua falta se faz presente em cada momento da minha vida, embora saiba que o senhor sempre estará ao meu lado em espírito. O que conforta minha alma é saber que o lugar onde estás, junto ao nosso DEUS, é muito melhor que este em que vivemos. Com certeza, um lugar sem sofrimento, onde o senhor possa expressar cada vez mais tua alegria comovente. Pai, o senhor nunca deixará de existir em nossos corações... Te amo muito...

Sua filha,Eva

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Papai, Lindas e saudosas lembranças: a infância, aquela casa querida, a mansidão, a ternura da mamãe e aquele PAI… grande PAI. Transmitindo segurança, firmeza, carinho, amor, moral e caráter. Nenhuma única repreensão ou grosseria com a mamãe, com filhos ou netos. Netos que ele amava, que no primeiro dia de férias vinha buscá-los para Piquet Carneiro. Piquet Carneiro que ele tanto amou. Não se abatia com problemas, decepções nem com injustiças sofridas. Uma rocha! Assim era o meu pai... Papai, meu amor, amor da minha vida. São essas as palavras que murmuro todas as vezes que lembro do meu querido pai. Luiz Aires, encho-me de orgulho ao pronunciar seu nome. Meu amor e dedicação por ele sempre foram grandes, mas a dimensão desse amor foi sentido com sua partida. Nos últimos anos, morando juntos, convivendo com sua doença, seu sofrimento, ele não era somente meu pai, era meu filho. Em seu leito eu o abraçava e dizia: - Eu te amo, papai! Você é muito especial, um grande homem, um marido maravilhoso, um pai amoroso, e um amigo leal. Ele se sentia orgulhoso e feliz. Olhava-me firme, como só ele sabia ser, e me dizia: - Eu também te amo, minha filha!Saudades, amor, amor, amor por você, papai.

Sua filha, Ana Maria

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Querido papai, A sua presença é muito forte no nosso dia a dia e, em qualquer ocasião, seu nome é citado. Como é bom contar e ouvir suas histórias, fatos engraçados e curiosos, dificuldades sofridas, as férias com toda a família e tudo que se relaciona a você, meu pai. Rimos muito, choramos, e até parece que o senhor sempre está presente… Cada um tem um fato para relembrar e, mesmo chorando de saudades, é muito bom reviver suas histórias de vida. Como foram maravilhosos os dez anos que convivemos juntos, morando em Piquet Carneiro. Ver meus três filhos crescendo junto aos avós, recebendo deles amor e proteção. Beatriz, Luiz Neto e Rafael tiveram a infância mais linda que uma criança merece: crescer em uma cidade do interior, tranqüila, sem violência, com os avós acompanhando seus passos, e eu com a felicidade e a certeza que na minha ausência (durante o horário de trabalho) estavam o vozinho e a vozinha para vigiá-los e protegê-los. Como fomos felizes! Papai, o senhor foi uma pessoa enviada por Deus para deixar sua passagem registrada aqui na terra. Sou grata a Deus por ter feito parte de sua história como sua filha que o amou e o respeitou muito. Agradeço a grande lição de doação, caridade e amor ao próximo ensinada por este grande Pai.Te amo muito.

Saudades,de sua filha,

Marilu

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Um homem singular e único

Existem pessoas que já nascem com um dom como poetas, cantores, esportistas, etc… Mas estes, apesar de seus valores, se contam aos milhares. Homens como Luiz Aires são raríssimos, pois não há como encontrar alguém que tenha em seu currículo fatos marcantes como: a criação de um município, a liderança nata de tê-lo governado por três vezes sem indicação de nenhum líder político, ser querido e idolatrado pelo povo de sua terra, ser admirado pelas mais altas autoridades do Estado e quiçá do país como Deputados Estaduais e Federais, Senadores, Governadores, enfim, representantes civis, militares e eclesiásticos que o reconheciam com o singular tratamento de “Luiz Aires de Piquet Carneiro”. O tratamento humano aos mais necessitados, a disponibilidade de ajudar, dia e noite, ininterruptamente, “seu povo”, a cativante facilidade de fazer amigos e perdoar àqueles que o perseguiam, são virtudes que sempre admirei em Luiz Aires e procurei exemplar-me. Agradeço a Deus por ter tido a oportunidade de tê-lo, não apenas como sogro, mas como amigo sincero e leal que, com sua palavra, seu exemplo e seus conselhos, me fizeram muitas vezes mudar de rumo para um caminho melhor. Sinto-me abençoado por Deus, pois tive a graça de poder ter dado a meus filhos um avô chamado Luiz Aires de Sousa.

Mário, genro

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Querido sogro, sua partida para o plano superior deixou no seio da família uma lacuna de saudades. Mas algo muito nos conforta, a certeza que temos de que você está num lugar muito melhor do que este aqui na Terra. Deus é justo e não cometeria o erro de não recebê-lo, pois sabe que você aqui na Terra foi um servo maravilhoso. Quem não reconheceria tudo que você fez de bom por toda sua vida? Sempre foi muito caridoso, amigo da pobreza e de todos; muitas vezes recebeu ingratidão, mas isto sempre soube perdoar. Seu Luiz, no momento em que escrevo esta homenagem, estou sentado em sua cadeira aqui no cartório, levantando a cabeça, vejo no alto da parede sua fotografia, aí sim a saudade faz tremer minhas mãos e quase não posso continuar escrevendo, mas mesmo assim continuo, pois, como já falei, a confiança e a fé em Deus nos conforta e nos dá certeza da tua felicidade. Rogamos a Deus que ao seu lado também esteja o seu querido filho e meu cunhado Luiz Roberto, que também foi prematuramente convidado para o convívio com o Senhor. Escrevo esta mensagem lhe enviando abraços e saudades eternas de todos os seus familiares, especialmente da minha querida sogra Dona Maria Luiza e de suas 3 filhas: Evinha, Marilu e Ana Maria.

Armando, genro

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Vozinho,

Deus escolhe sempre certo e trás para perto de si os que mais ama: assim se justifica sua ausência. Sempre te considerei uma criança grandona, sendo assim o meu melhor companheiro de brinquedos. Tivemos, ao contrário de outros tão valiosos netos, muito tempo para brincar, fantasiar, descobrir, inventar, discutir, conversar e aprender. Você me ensinava com o seu passado, o qual a mim servia de futuro: recordação e esperança, assim enlaçam-se avô e neto. Tua ausência me dói profundamente, quanto mais quando eu não pude ficar ao teu lado em sua interminável enfermidade. Tua imagem é viva em minha vida. Teus retratos em minha casa significam vida feliz. Significam que vivi plenamente e assim fui muito feliz. Olho para minha filha e sinto falta de ti: queria muito dar a ela o que recebi de ti com tanta espontaneidade. Eras o conforto, o amparo e o homem de uma casa que todos se dirigiam. Hoje penso em ti a visitar a minha casa: sabe eu sei que tu me visitas, que olha para mim, minha esposa e minha filha e concede o amparo que sempre buscamos. Crescemos com o valor da união familiar. Crescemos sabendo que datas comemorativas se passam em família, que elas podem até ser postergadas ou antecipadas, mas se passam juntos. O que não dizer da Semana Santa, do São João e do Natal (deste não há palavras que possam descrever!). Recordar-me de ti é recordar de mim. Saudades de ti, são saudades de mim: não há como dissociar. Ensinamentos e recordações, eu os tenho em vários momentos: seja o acordar cedo, o arrumar de uma bagagem, o valor do simples, o buscar do valioso, bater à máquina com maestria, a estante de livros sempre bem arrumada, o descanso ao final da tarde, os apelidos, os programas de televisão engraçados (antes “Os Trapalhões”

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tempos depois o “Chaves”), a palavra contida… e muito mais. Relembrando, enxergo que tu não foste grandioso para poucos, mas para muitos, por isso a política estava em ti. Política esta baseada na máxima de que muito mais amigos têm a dar do que os inimigos a tirar. S i n t o -me vaidoso por ter vivido tudo isso, por termos sido companheiros durante muito tempo. E este passou, e por isso sei que não fui sempre o menino com quem te deliciavas a ouvir e contar anedotas. Mas me tornei homem que também não verga e que se honra da humildade que sempre cultivaste e que me obriga a ter de respeitar a liberdade dos outros, inclusive a da tua ida. Por tudo isso que passei, poderia facilmente sentir-me preso ao passado, sem imaginar, projetar o futuro. Entretanto, ainda assim resta mais um ensinamento: o de que vale a pena envelhecer para ser um avô como você. Obrigado vozinho, muito obrigado...

Adriano, neto

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Vozinho,

Quando Deus te desenhou, Ele pensou na alegria, no desprendimento e no amor ao próximo. E então, o senhor nasceu em um lar simples, mas cheio de carinho. Cresceu e continuou a traçar seu caminho com uma história rica de amizade. Sendo o homem de negócios e ocupações que era, nunca deixou de nos levar ao colégio, sempre que estava em Fortaleza, pontualmente às 12:30 hs. Nessas viagens, conversávamos e riamos muito. “Cobra Preta”, assim o senhor me chamava, e eu adorava! Agradeço a Deus por ter me concedido a honra de ser sua neta e de que seus bisnetos o tivessem conhecido, apesar de não entenderem ainda, o homem maravilhoso e excepcional que o senhor foi, para com os seus e para com os outros. Saudades, saudades de suas risadas, das suas piadas, dos seus carinhos e dos “cocorotes”. Sinto-o presente em cada dia, em cada hora, por toda a vida, a vida toda.

Beijos,Cristiane, neta

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Saudades de um neto e admirador

Com certeza, Vozinho, fizestes a felicidade de muitas pessoas, seja pelo seu mais profundo senso de humor ou pela sua enorme generosidade, sua vontade de ajudar a todos que precisavam. Quem precisasse de um sorriso, de alegria, ali estava o senhor para fazê-lo rir com uma de suas hilárias piadas ou “frescando” com alguém ou com alguma coisa (será que é preciso lembrar-lhes da famosa estória do “Véi Manel Senhor’ dormindo viu no deserto, estando de...”); quem precisasse de alguma ajuda material, mais uma vez poderia contar contigo, às vezes até mesmo sem ter ou poder; aquele que precisasse de qualquer outra coisa, estarias para ajudá-lo. Muito obrigado por ter feito parte da minha história de vida, mesmo que tua participação tenha sido tão breve, sem o senhor ela não teria sido a mesma. Quem me dera ter tido a bênção de ter convivido contigo por mais tempo, como exemplo de meus irmãos mais velhos. Por tudo isso, não quero dizer que o meu querido e tanto amado avô tenha sido uma personalidade única aqui no plano físico, pois DEUS, com sua mais absoluta sapiência, bondade e generosidade, jamais poderia ter deixado de presentear outras famílias, outros indivíduos, com uma tão especial presença humana como assim foi a do nosso Vozinho. Mas, convenhamos, igualzinho ao senhor nunca existiu e jamais existirá... Vozinho, o senhor sempre estará em nossos corações e pensamentos...

Armando Filho, neto

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Um homem Justo

Vozinho, Deixaste muitas saudades em meu coração. Tua imagem ainda é muito forte para mim, lembro-me dela com muito orgulho, são lembranças de um homem de caráter, com uma moral ilibada, que lutava por justiça ao seu povo com força e segurança. A maior herança deixada por ti, é a de que devemos sempre fazer o bem, desta forma fomos criados, seguindo os teus ensinamentos e hoje nos tornamos homens de uma família unida e de bem.

Leonardo Aires, neto

“C’est lui íci C’est lui La”… Eram essas as palavras que o vozinho sempre dizia em francês: “Ele está aqui, ele está lá”… Hoje pronuncio essas palavras não como uma brincadeira, e sim para lembrar a presença dele em nossos corações aqui e lá! Se hoje choro, é pela grande saudade… Saudade de seus poemas engraçados (“Véi Manel Sinhô”!), de suas respostas inteligentes e prontamente ditas, das nossas conversas ao telefone, de nossas brincadeiras quase intermináveis. Meu vozinho… Nosso vozinho… Nosso Pai...Por tudo que fez a todos nós, por trazer alegria aos que mais necessitavam, pela sua busca constante em ajudar ao próximo e em nome de todos, do fundo do coração...Obrigado!

Rafael, neto

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O HOMEM E SUA TERRA Luiz Aires de Sousa

Vozinho,

É grande a saudade que sinto. A cada dia sem sua presença entre nós, fico imaginando como seria cada instante se o senhor estivesse ao nosso lado. Imagino como seria cada palavra, cada gesto. Quando garoto, estar com o senhor era muito divertido. As viagens para Piquet Carneiro eram especiais e o vozinho sempre conseguia deixar os “mundiças” (como chamava os netos menores) se divertirem da melhor maneira. Mesmo quando estava em Fortaleza, ir visitar o vozinho era a melhor parte do dia. Sempre serei grato pelos conselhos, pelas palavras, pelas brincadeiras e pelo grande avô que o senhor foi para mim. Hoje, tenho certeza que tudo que o senhor me ensinou, tenho guardado em meu coração junto com a saudade. Mas, tentando ser um pouco como o senhor era, e seguindo o grande exemplo de vida que o senhor nos deixou, sei que aí no céu, o senhor se orgulhará. Obrigado, vozinho.

Luiz Neto

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Vozinho,

Faltam palavras para falar da pessoa maravilhosa que o senhor foi. Do avô brincalhão, que tivemos a honra de ter. Do amigo sincero que muitos tiveram a oportunidade de conhecer. Enfim, uma pessoa que daria orgulho a qualquer família. A infância que passamos em Piquet Carneiro foi inesquecível, pois o vozinho fazia parte das nossas brincadeiras e tinha sempre uma história nova e muito engraçada para nos contar. Nosso pai herdou do vozinho a alegria de viver, a sinceridade, a lealdade aos amigos e, principalmente, a dedicação a família. Obrigado, vozinho, por ter encantado nossas vidas. Jamais o esqueceremos.

Amamos você!

Maria Luiza, Priscila e Roberto Filho. netos

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O HOMEM E SUA TERRA Luiz Aires de Sousa

Senhor Luiz,

Pessoas como o senhor é que fazem a diferença. A maior parte de sua vida foi dedicada ao bem estar dos outros. Um homem que não media esforços para ajudar no que fosse preciso. Um político suficientemente inteligente que sabia conduzir o seu município. Um pai de família sem igual, amoroso, mas que sabia ser firme nas horas certas. Um avô brincalhão que fazia a felicidade dos netos. É maravilhoso lembrar… deixar que a mente volte ano após ano para entender porque eles fazem tudo para manter viva a sua memória. Sua partida e a do Luiz Roberto deixou-nos um grande vazio, mas as lembranças ficaram vivas em cada um de nós. Foi para mim uma verdadeira satisfação, motivo de muito orgulho ter sido a sua nora. Aprendi a amá-lo como pai. Fostes muito importante para nós!Saudades...

Tânia, nora

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AOS AMIGOS

Nosso muito obrigado pelos seus testemunhos de amizade, contribuindo conosco através de seus depoimentos.

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O HOMEM E SUA TERRA Luiz Aires de Sousa

Bom Filho, Bom Esposo, Bom Pai e Amigo.

Continua gravado no coração de todos os que tiveram o prazer e a satisfação de tê-lo em seu convívio.

Nunca guardou em seu coração ódio nem ressentimentos de quem quer que seja e guardou

sempre dentro de si o perdão.

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Luiz Aires e Maria Luiza

Priscila, Maria Luiza, Luiz Roberto, Roberta, Roberto Filho, Alexandre, Tânia e Luciana

Adonias, Ana Maria e Felipe

Rafael, Marilu, Beatriz, Mário e Luiz Neto

Leonardo, Armando Filho, Eva, Armando, Cristiane e Adriano

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Sinto-me plenamente realizada, pois vejo meu propósito concretizado. Em honra ao meu Pai, Luiz Aires, deixo-o imortalizado em uma obra literária para lembrança dos familiares e dos amigos queridos. Muito justo, pois não poderia sua passagem terrena deixar de ser gravada.

Estou feliz...Estou realizada...Estou em paz...

Ana Maria