o homem e a guanabara

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Page 1: O Homem e a Guanabara

O HOMEM E A GUANABARA(2º. edição)

Edicão comemorativa do IV Centenário da Cidade do Rio d e Janeiro

Page 2: O Homem e a Guanabara

DO NIESIMO AUTOR

na série A da

BIBLIOTECA GEOGRÁFICA BRASILEIRA

I . O H o m e m e o Brejo

I I . O H o m e m e a Restinga

IfI. O H o m e m e a Guanabara (2" edicáo)

I V . O H o m e m e a Serra ( 2 a edicão)

Page 3: O Homem e a Guanabara

,%rje A Rihliolecn Groqrlfica Rrnsileira Piili1icaç.Z~ iiq. 5

I N S T I T U T O U R A S l 1 , B l R O U B GEOGRl1FIA E E S T A T Í S T I C A

CONSELHO NACIONAL DE GEOGHAFltl

Setores da Evolução Flurninense

I11

O HOMEM E A GUANABARA (2". edição)

"fi tarrciiiilis c:nris;i 11 llio tle Jariciro cln bricn para deitiro qui: rins ijliriga a g;istar o teiitpn ern o dei'hrnr riesli: Iicgar, para qric s c i~c ja coi~io é c:npnz (li: se fazer irinis (:i~iti~i rlele do que se loír "

GABRIEL SOARES: Triiiiiil~i Descritivii i111 Brasil cni 1 6 8 2 3 . ; ~ ed Sáu I*aulo, 1938, ~ í í g , 89

Page 4: O Homem e a Guanabara

A A!AAIAÍk\

lribrito iirsicgnilir:;rnie por tudo o qrrr? Ihtr rltbr~o,

t? ;I ineris filllos Lll f ,~ I ; L ! ~ I 11110, HUGUflO CELSO, MARIA I ,ÓCIR P M.4filA I:LÁUDM

1101 iiido o qiie dêles espero.

Page 5: O Homem e a Guanabara

O Homerh e a Guanabara foi u m a das primeiras obras editadas pelo Conselho Nacional de Geografia, na série livros da Biblioteca Geográfica Brasileira, destinada a divulgar estudos regionais do Brasil, nos seus variados aspectos

O Homem e o Brejo e O Homem e a Restinga, que o precede- ram, e O Homem e a Serra, constituem com este trabalho sobre a região guanabarina, o que o autor, Prof. ALBERTO RIBEIRO LAMEGO

FILHO, denominou de Setores da Evo~lução Fluminense, nos quais estuda profundamente a história, a evolução social e econômica através dos tempos, da velha província fluminense.

O livro está dividido e m três partes: " A Terra", " O Homem" e " A Cultura", cada uma fixando seus aspectos predominantes.

O estudo físico da terra é ai interpretado a lux dos fenômenos que teriam determinado o aspecto atual da paisagem física da região, detendo-se na apreciação das formações mais caracterís- ticas. O quadro fisico guanabarino, onde predomina uma verda- deira "topografia de contraste", encontra no autor zim abalizado conhecedor de sua estrutura geológica.

A ocupação humana do espaço, com tôdas as suas conseqüên- cias, como se processou o estabelecimento de pioneiros e colonos, a conquista e a adaptação do homem a terra carioca, merecem do autor atenção destacada. Os aspectos e o desenvolvimento urbanos e rurais, a s lado do avanço da economia, são tratados com abundância de dados, a luz de fatôres geográficos e sociológicos, de grande significação na formação cultural do homem que aqui se fixou.

Através de uma profunda análise histórica, a baía da Guana- bara é apresentada como responsável, ou como tendo influenciado predominantemente na colonização e desenvolvimento econômico e social das regiões vizinhas. Os morros, as restingas e os pântanos, concorreram para a distribuição da populacgío, procurando o homem vencer os obstáculos que a natureza lhe oferecia.

A última parte do livro, denominada " A Cultura", retrata as características da civilixação fluminense, tendo, como peça prin- cipal, o homem, representado nos matizes étnicos da população atual; salientando suas tendências e manifestaçóes culturais.

Neste capítulo, o autor traça com felicidade o retrato da sociedade estudada, o homem lutando com o meio hostil, as obras

Page 6: O Homem e a Guanabara

de saneamento levadas a efeito com o fim de melhorar as condições de vida, a evolução e formação do espirito carioca, a análise crite- riosa de cada um dêsses tópicos, coqpleta o quadro cultural

A reedicão de O Homem e a Guanabara, logo e m seguida a de O Homem e a Serra, vem preencher u m a lacuna na literatura geográfica, e atender a determinações da Assembléia Geral do Co?tselho Nacional de Geografia, mandando reeditar os quatro livros do azltor.

A oportunidade agora se oferece magnifica, ao ensejo das próximas comemorações do IV centenário da fundacão da cidade do Rio de Janeiro, para as qz~ais o Conselho Nacional d e Geografia deseja contribuir, oferecendo ao público esta edição.

Rio de Janeiro, 1964

Secretaiio-Gexal do Coiiselho Nacional de Geografia

Page 7: O Homem e a Guanabara

CURRICULUM VITAE DO AUTOR

I - Nascido na cidade de Campos, no Estado do Rio de Janeiro Estudos primários e seciiiidáiios no Colégio de Campolide em Lisboa e no Colégio Saint Michel em Biuxelas, nmbos dos Jesuitas Estudos superioies iniciados na Univeisidade de Louvain, na Bélgica e teiminados na Royal School of Mines, de Londies Diplomado em Eilgenhaiia de Minas e Licenciado em Ciências pela Univeisidade de Londies

I1 - Ingiessou no Seiviço Geológico e Mineialógico do Biasil eni 1920, de onde saiu em 1924, regiessando ao mesmo em 1933

I11 - Diietoi da Divisão de Geologia e Mineialogia do Depaitamento da Piodução Mineial de 1951 a 1961, tendo nessa gestão publicado 162 trabalhos, executados pelos técnicos sob a sua diiecão, e iniciado no Biasil a fotogeologia em giande escala com os piojetos "Aiaguaia", "Noideste de Goiás e sudoeste do Maianháo", "Auto Xingu-Ta- pajós", "Biasilia" e "Ciiiabá" O total de novos levantamentos fotogeológicos e teliesties naquele peiiodo cobiem uma áiea de cêica de 2,5 milhões de quilometios quadiados, equi- valente a areas reunidas da Grã-Bretaiilia, Fiança, Alemanha, Itália. Suécia e Noiuega, ou seja mais de um quaito da superfície da Euiopa, onde milhales de geólogos trabalham pala as caitas geológicas de países de alta cultuia, enquanto os levantamentos no Biasil são feitos poi númeio iedueidíssimo de geólogos e com insupei8veis deficiências f iilanceii as

IV - Membio Titulai da Academia Biasileiia de Ciêilcias, d s Sociedade Biasileiia de Geologia, da Sociedade Biasileiia de Geogiafia, da Associação dos Geógtafos Biasileiios, tia Academia Fluminense, da Academia Campista de Letias, do Instituto Históiico e Geogiáfico da Cidade do Rio de Janeiio, do Instituto Pail-Amelicano de Geografia e Históiia (O E A ) com sede iio México

V - Delegado do Ministeiio da Agiicultuia junto ao Conselho Nacional cle Geogiafia de 1951 a 1961

VI - Delegado do Biasil aos Coiigiessos Inteinacionais de Geologia de Londies (1948), de Aigel (1952) e de Copenhague (1960) Delegado do Biasil ao Coilgresso Inteinacional de Geogiafia do Rio de Janeiio (1956) e aos Congiessos Pail-Ameiicaiios de Engenhaiisr de Minas e Geologia de Petiópolis (1946) e da cidade do México (1951) Delegado aos COngreSSoS Nacionais de Geogiafia de Floiiaiiópolis (1940) e do Rio de Janeiio (1956) e ao Coiigiesso Nacional de Geologia de Biasilia (1960)

VI1 - Vice-Piesidente da Comissão da Caita Geológica Inteinacional do Mundo, com sede em PaiiS, Vice-Piesidente da Comissão da Carta Tectônica Inteinacional do Mundo, com sede em Moscou, Vice-Piesideiite da União Inteinacional das Ciencias Geológicas com sede em Copenhague

VIII - Meinbio das bancas examinadoias dos concuisos paia cátedias de Geogiafia do Biasil da Faculdade de Filosofia da Univeisidade de São Paulo (candidato piofessoi Aloldo Azevedo), de Geogiafia Humana da Faculdade de Filosofia da Univeisidade do Biasil (candidato piofessoi Josue de Castio) e de Geogiafia Geial do Colégio Pedio I1 icandidittos professores Nilo Bernardes e Piinentel Gomes)

IX - Membio da Comissão do Conselho Nacional de Ecoilomia paia Recupeiaçáo do Noideste, em 1958

X - Piêmio José Boiteux (Medalha de ouio) pala a melhoi tese apreseiitada ao Congiesso Nacional de Geogiafia do Rio de Jaileiio de 1946, coni o tiabalho "O Hoinein e a Restinga"

Piêmio Oiville A Derby (Medalha de Ouro) para o melhoi, tiabalho sôbie Geologia do Biasil no quinquênio 1956-1961, com o "Mapa Geológico do Biasil"

XI - Chefe do Giupo Biasileiio do Coilvênio Biasil-Estados UiiSdos paia pesquisas de uiâllio no Biasil cle 1957 a 1961 Nessa chefia foiam locxlizadas vaiiitç ocoiiên~ias de uiánio, entie as quais as de Caldas do Jõiio, em Tucano, na Bahia Ao demitii-se do calgo que acumulava com o de Diietor da D.G M , em janeiio de 1961, devido extincão do Convênio, em caita ao Piesidente da República Di Juscelino Kubitschek encaieceu a impoitãncia do piossegiiimento das pesquisas em Tucano, coino a zona mais p lOmi~~0ia e com piobabilidades de nela sei encontiada uma jazida de exploia~ão comeicial Os estudos atualmeiite ali iealizados pela Coinissão Nacional de Energia Nucleai já tendem a confiimai aquela pievisão, feita após uma longa séiie de ieconheci- inentos nos Estados do Rio Giaiide do sul , Santa Cataiina, Paianá, São Paulo, Minas Geiais, Rio de Janeiio, Espilito Sapto, Bahia, Seigipe, Alaooas, Peinainbilco, Paiaiba. Ric Grande do Noite, Ceara, Piaui, Maranhão, Goiás e Mato Giosso. Os resultados dêises tiahalhoç foiam apiesentados ao Alm Otacilio Cunha, Piesidente da Comissão Nacional de Eiieigin Nucleai , eiii 102 i elatóiios das pesquisas efetuadas

Page 8: O Homem e a Guanabara

TRABALHOS PUBLICADOS

I - "Contiibuicão à geologia do vale do Rio Grande, Minas Geiais", Seiv Geol e Miilei do Biasil, Rio, 1933

2 - "A Planície do Solar e da Senzala", Rio, 1934 3 - "O maciço do Itatiaia e legiões ciicundantes", D G M , Rio 1936 4 - "Teoria do Piotognaisse" D G M , Rio 1937 5 - "A Gipsita da Boa Vista" D G M , Rio, 1937 6 - "Escaipas do Rio de Janeiio", D G M , Rio, 1938 7 - "Sobre uma crítica à Teoria do Protognaissev' Anais da Academia Brasileira de Ciêil-

cias, Rio, 1940 8 - "Máimoies do Muiiaé" D G M . Rio, 1640 9 - "Restiilgas na Costa do Biasil" D G M , Rio, 1940

10 - "A Bacia de Campos na Geologia Litorânea do Petióleo", D G M , Rio, 1044 11 - "O Desabamento no Faiol de Maceió" D G M , Rio, 1944 12 - "A Geologia de Niteiói na Tectônica da Guanabaia" D G M , Rio, 1945 13 - "Ciclo evolL~tivo das Lagunas Flumineilses" D G M , Rio, 1945 14 - "Giafita de Conceição de Macabu" D G M , Rio, 1946 15 - "Análise tectõnica e moifológica do Sistema da Mantiqueiia". - Anais do Coii-

giesso Pan-Aineiicano de Engenhaiia de Minas e Geologia de Petiópolis, 1946 16 - "Fôlha do Rio de Janeiio" D G M , Rio, 1948 17 - "A Faixa Costeira de Vitóiia" D G M , 1947 18 - "Aieia de Fundição de Macaé" D G M , Rio, 1947 19 - "O Coiigiesso Ii~teiaacional de Geologia de Londres" D G M , Rio, 1948 20 - "O Hoinem e o Biejo" Tese apiovada com louvoi no Congiesso Nacional de Geo-

giafia de Floiianópolis de 1940 Biblioteca Geogiáfica B1iasileiia do C N G . Rio, 1946 21 - "0 Homem e a Restillga" Medalha de Ouio do Congresso Nacional de Geogiafia

do Rio de Janeiio de 1946 Biblioteca Geogiáfica Biasileiia, Rio, 1946 22 - "0 Homem e a Guanabaia" Bibliot Geogi Biasileiia, Rio, 1948 23 - "O Homem e a Seiia" Bibl Geogi Blasileiia, Rio, 1950 24 - "Uma chaminé vulcânica no Distiito Federal" D G M , Rio, 1954 25 - "Geologia das Fólhas de Campos, Sáo Tomé. Lagoa Feia e Xexé" D G M , Rio, 1955 26 - "Relatóiio Anual do Diietoi da Divisao de Geologia e Mineialogia de 1951" D G M ,

Rio, 1952 60 páginas 27 - "Relatóiio ~ n u a l do Diietoi da Divisão de Geologia e Miiieialogia de 1952" D G M ,

Rio, 1953 80 páginas 28 - "0 geólogo, pioneiio da ccoiiomia mineial" Rev Engenliaiia, - Mineiacão e

Metaluigia, v01 XVIII, 11'' 107, 1953 29 - "Relatóiio Anual do Diietoi da Divisão de GeoIogia e Mineialogia de 1953" D G M ,

Rio, 1954 93 páginas 30 - "Relatóiio Anual do Diietoi da. Divisáo de Geologia e Mineialogia de 1954" I) G M , -

Rio, 1933 119 páginas 31 - "Relatóiio Anual do Diietoi da Divisão de Geologia e Mineialogia de 1955" D G M ,

Rio. 1956 125 aáainas A -

32 - "Relatóiio Anual do Diietoi da Divisão de Geologia e Miiieialogia de 1956" D G M , Rio, 1957 137 páginas - -

33 - "Relatóiio Anual do Diietoi da Divisão de Geologia e Miileralogia de 1957" D G M , Rio, 1958 157 págiilas

34 - "Recuisos Mineiais do Noideste" Rev do Conselho Nacional de ~coilomia, Rio, 1958 35 - "Relatóiio Anual do Diietoi da Divisão de Geologia e ~ineialogia . de 1958" D G M

Rio. 1959 200 páginas 36 - "Relatóiio Anual do Diretoi da Divisão de Geologia e Mineialogia de 1959" D G 3.4 ,

Rio, 1960 240 páginas 37 - "Mapa Geológico do Biasil" prêniio Oiville A Deiby (Medalha de OulO) 38 - "Relatóiio Anual do Diietor da Divisão de Geologia e Miileialogia de 1960" D G M

Rio, 1961, 252 piíginas 39 - "Mapa Geolóligo da Améiica do sul" apiesentado ao Coilgiesso Intelnacional de

Geologia de Copenhague em 1960 Em preparo pala publicaçúo 40 - "Atividades da Divisão de Geologia e Mineialogia do D N P M. 110 peiíodo de 19s1

1960'' Rev Eng Miii e Met , v01 XXXI n 0 182 pág 53

41 - "Mapa Tectônico da Ameiica do Sul" em execucão

Page 9: O Homem e a Guanabara

PREFÁCIO DO AUTOR

Os "SETORES DA EVOLUÇÁO FLUMINENSE" feitos e m curto prazo, t inham de ser revistos. O Homem e o Brejo e O Ho- mem e a Restinga, para congressos nacioaais de Geografia e m datas fixas, foram de apressada execução, não menos rápida para O Homem e a Guanabara e O Homem e a Serra, escritos para completarem os livros iniciais.

Essa revisão, contudo, limitou-se as partes e m relação com A Terra, simplificadas quando excessivamente técnicas ou aperfei- coadas por estudos mais recentes. * No que se alude a O Homem e do que se disse de A Cultura, apenas houve alterações na forma.

Poderiamos atualizar as estatbticas com acréscimos censitá- rios Mas, tratando-se de um documentário coincidente com o mal-cante período histórico da Segunda Guerra Mundial, preferi- mos nada acrescentar as cifras de u m a etapa cultural do povo fluminense. Porque ao findar a Guerra, inesperadas condições pas- saram a reger a vida. Desenvolvimentos técnicos, gananciosos inte- ~êsses e aventureiras ambições politicas por toda parte agitam os povos, mesmo os mais letárgicos e de estabilidade milenar. Por toda parte acirram-se idealismos súbitos, despertados ao estourar das bómbas e de obuses, tangendo as massas para caminhadas novas.

São colônias que se libertam, tratados que se rompem, nacio- nalismos que se exaltam, criam novas pátrias e aguçam ideais dormentes e m almas centenárias de vencidos que reclamam a restituição da liberdade.

Evanescidas energias raciais dinamizam-se, explosivas, e esgotam-se potenciais imperialistas, irremediavelmente gastos. Estarrecem plutocracias impotentes ante a audácia de nações submissas que empunham acordos vampirescos, extorquidos a canhão, e lhos rasgam impudentemente n o nariz.

Com o gênio de EINSTEIN muda-se a face pditica, econômica e social do Globo. A energia atômica prenuncia um equilíbrio de poderes Diplomacias cautelosas refreiam arreganhos bélicos, mostrando-lhes resistências a temer. A agressividade é contida pelo Mêdo .

Irresolutos e perplexos estadistas não concebem planos do futuro, e esperançosamente, apenas se deseja que a ilusória Paz

-. não se perturbe.

LAMEGO, A R : "Geologia das quadiiculas de Campos, Sáo Tomé, Lagoa Feia e Xexé", Bol n o 154, da Divisão de Geologia e Mineralogia, Rio, 1955

Page 10: O Homem e a Guanabara

- X I V -

Porque o desequilíbrio resultante da hecatombe não cessou, e imprevisiveis são ainda as suas conseqiiências Vivemos no em- pirismo dos conceitos e n a inversão de valores éticos.

Despenhou-se tudo isto sobre o Mundo, e conseqüentemente sobre nós Por toda parte h á o desajuste das idéias, o entrechoque de egoísmo. Desabam economias oscilantes, a cupidex de grupos vis que sorrateiramente se enrodilham para os botes nas finanças

Na política, oposições tenazes, permanentes, e mesquinharias partidárias antepondo-se a Nação A insinceridade por principio, o pistolão por meio e por fim a sinecura. Talentos n a penumbra e nulidades e m poleiros.

Contrastes sociais hediondos O .luxo de argentários fartos na trapaca e criancas n a indigência dos farrapos Vaidades grã-fines- cas inconscientes do grotesco e misérias que pululam, chocadas e m favelas. O crime, o jogo, o entorpecente epidêmicos nas metrópoles a corroerem corpos e almas

E sob tais escombros rui a honestidade, esvai-se a fé e nasce o cepticismo

H á um hiato na evolução humana, como entre os longos pe- riodos geológicos. Transita-se para u m a Nova Era, mas n a incerteza dos rumos a seguir Por toda parte os guias se improvisam, e aos gritos seus e m múltiplas chamadas, os homens desnorteados se conturbam A dúvida, a inquietação, a angústia assaltam a H u - manidade e m transe E enquanto a Forma se contorce, o Espirito interna-se n o silêncio. Apaga-se a única luz perene

É êste o grande drama do Presente O da vigília dos que sen- tem, e olhando e m torno o Mundo, a Pátria, o Estado, o Município, em tudo vêem, n o desvario coletivo, o Guia Eterno ausente

Não é hora de prever, mas de esperar Por isso é que, não obstante alterações sensíveis, progressistas, já se notem na terra jluminense como alhures, são elas desconexas Aparente evolucão material, sem que se vise a socializacão de bens Sobem as curvas da produção e o altissimo custo da vida, mais ainda E m ritmo quase acelerado, crescem as indústrias, ?nas sob u m a economia débil e crise inflacionária ininterrupta .

Movemo-nos entre paradoxos a enublarem as diretrizes sociais futuras. E os sociólogos emudecem, confusos n a desordem, expec- tantes de vislumbres do porvir

A obra fica, assim, estacionária, sem adicionais aos dados es- tatisticos. É o relato de um período já e m fuga para trás e fixo no passado, cujo termo é o marco onde paramos Que dêle sigam outros para a frente, quando as névoas sobre a Terra se dissipem e o Homem torne a achar o seu caminho.

Rio de Janeiro, 1964

Page 11: O Homem e a Guanabara

ÍNDICE GERAL

A TERRA

A GUANABARA

I - MARGEM OCIDENTAL

1 Síntese Panorâmica

2 Petrografia

Evolucão dos estudos geológicos no DF A "Teoria do Protognaisse" Eruptivas alcalinas

3 Estratigrafia e Tectônica

Grupo do Pão de Açúcar Grupo do Corcovado Grupo da Gávea Grupo da Providência A dobra de Santa Teresa

4 Geomorfologia

Causas tectonicas Esfoliaqão térmica Acão bioquímica do liqueri Morfolagia do Pão de Acúcar Síntese geomorfoló~ica

I1 - MARGEM ORIENTAL

I As Rochas Primitivas na Geomorfologia da Guanabara 2 As Eruptivas Filonares Básicas na Tectônica da Guanabara

111 - MARGEM SETENTRIONAL

IV - A S ILHAS

V - ORIGEM E EVOLUÇÃO DA GUANABARA

Baías do Extremo Oeste

VI - SÍNTESE FISIOGRÁFICA

Page 12: O Homem e a Guanabara

- XVI -

O HOMEM

I - A DESCOBERTA

11 - A CONQUISTA

I11 - O MORRO . IV - A RESTINGA

v - o PÂNTANO . VI - O RECÔNCAVO

vir - RELÍQUIAS VIVAS

A CULTURA

I - O HOMEM E O MEIO

I1 - O SANEAMENTO

I11 - EVOLUCÁO D A VIDA CARIOCA

IV - FORMACÃO DO ESPÍRITO CARIOCA

1 Análise histórico-social

2 Síntese geo-sentimental 3 Sinfonia carioca

BIBLIOGRAFIA . RELACÃO DAS ILUSTRACÓES

~ N D I C E A N A L ~ T I C O

Page 13: O Homem e a Guanabara

A TERRA

<<Há um lugar horrível, forte e guerreiro, sobre todos 0s que formou a natureza no grande âmbito da América, destinado parece da mesma para teatro de emprêsas grandes Demora em vinte e três graus da equinocial junto ao trópico de Capricórnio. Consta de uma baía formosa e de um dilatado recôn- cavo, e é chamado pelos naturais Nite- rói, e, pelos portuguêses Rio de Janeiro. Êste lugar quero descrever, ao tosco, como saiu das mãos da natureza, que assim serve mais ao intento; virá tempo em que o pintaremos mais ao galante com as cores que depois lhe darão a arte e o esfôrco dos portuguêses "

P e SIMÃO DE VASCONCELOS: "Vida do Venerável Pe. José de Anchieta" Ed da Inst. Nacional do Livto. Rio, 1943, pág 66.

Page 14: O Homem e a Guanabara

INTRODUÇÃO

1530: "Sábado trinta d'abril, no quarto d'alva, éramos com a boca do Rio de Janeiro"

PÊRO LOPES DE SOUSA: "Diário da Navega- ção" Lisboa, 1839, pág 25

1553: "Eu entrey no Rio de Janeiro que está nesta costa na Capitania de Martim Affonso, 50 legoas de São Vicente e 50 do Xspirito Santo; mando 01 debuxo della a V. A., mas tudo he graça ho que della se pode dizer. "

TOMÉ DE SOUSA?

1572 "Esta é a mais fértil e viçosa terra que há no Brasil " GANDAVO

1585: "É a mais airosa e amena. baía que há em todo o Brasil . "

ANCHIETA

1663 "Parece tomou a sua conta a mesma natureza indus- triosa sahir com hu tal sitio que, egualmente fosse inexpugnavel a innimigos, seguro a amigos & proveitoso a todos os viventes. Coil~ta de hua bahia & de hum reconcavo grandioso, na forma que logo diremos, & tem por nome Rio de Janeiro. Foi este sitio sempre formidoloso a todo innimigo maritimo. porque na verdade he temerosa & horrivel aquella muralha natural, que vae cercando toda esta paragem junto ao mar, das mais extranhas penedias que jamais se virão. Assombro he das armadas mais fortes quando chegando de mar em fora a ter vista de terra, em vez de praias que alegrem, começam a ver apparencias disformes de rochedos tão altos que sobem ás nuvens & espantam os homens. Segundo as figuras que fazem, assim lhes põem os nomes, o Frade, a Gavea,

Em quase tõdas as tiansciicóes dêste prefácio damos a data da estada do viajante no Rio de Janeiro, e não da publicaçáo, transmitindo assim, as suas impressões, ao dileto contacto com a natureza

"OMÉ DE SOWA: Carta a D JOÁO 111, em 1 de junho de 1553, (Elzst da Colonlzaçúo Portugudsa, v01 111, pág 365.)

3 GANDAVO, PÊRO de Magalhães: Tratado da Terra do Braszd Ed do Aizuárzo d3 Brastl, PQ 36

ANCHIGTA, Pe José: Cartas, Rio, 1933, pág 420

Page 15: O Homem e a Guanabara

a Cella, & outros semelhantes Quando já vem chegando a barra, se vêem levantados de hum & outro lado, quaes dous gigantes fortes, dous monstruosos corpos de solido penedo, a que chamam Pães de assucar, que dando com as cabeças nas nuvens, lavam os pés nas agaas "

Pe. SIMÃO DE VASCONCELOS

1766: "Durante a nossa estadia no Rio de Janeiro, gozamos a primavera dos poetas. . A vista desta baía dará sempre o mais vivo prazer aos viajantes" . "Nada é mais rico que o cenário destas paisagens que se oferecem de toda parte ."

BOUGAINVILLE

1773: "A entrada desta baía apresenta o mais imponente e o mais agradável espetáculo". "Esta terra é um paraíso ter- restre. "

PARNY

1808: "A cada passo, se tal expressão se pode usar quando se trata do movimenta de um navio, belezas novas se revelam a medida que penetramos no pôrto)'. . "Mas é eni vão que se tenta descrever; não pode a pena imitar o lápis, nem o lápis a natureza, em cenários tais como êsse. Acham contudo os juízes competentes que êles formam um panorama de magnificência e beleza quase sem par". . . "Concedi aos efeitos do contraste tudo quanto conceder-lhe era possível; e no entanto, ainda gosto, ou antes sou loucamente apaixonado por êste lugar, não invejando os sentimen- tos dos homens que são capazes de contemplar o mais resplan- descente dos sorrisos da natureza, sem com ela sorrir sempre "

1816. "Quem seria capaz de descrever as belezas que apre- senta a baía do Rio de Janeiro, êsse pôrto que na opinião de um dos nossos almirantes mais instruídos, poderia conter todos os na- vios da Europa? Quem poderia retratar as ilhas tão diversas entre si, de que está coalhada a baía, essa multidão de enseadas que lhe desenha os contornos, essas montanhas majestosas que a bordam e também a vegetação tão rica e variada que orna seu litoral?"

SAINT-HILAIRE

5 VASCONCELOS, Pe Siináo: C?ô?~ica da Companliia de Jeszts n o estudo do Grasil Lisboa, 1663, págs 360-361

'5 BOUGAINVILLE: Voyage autour d u Mo?~de par la Fregate d z ~ Roi la Boudei~se e t la Flute llÉtoile, en 1766, 1767, 1768 & 1769 Paris, 1772, v01 I, págs 143-144

7 PARNT, Oeuv?es Clzoisies Paris, 1830, v01 I, pkgs 243 e 246 L u c c o c ~ , John: Notas sobre o Rio d e Janeiro Trad d e MILTON DA SILVA RODRIGUES

São Paulo, 1942, págs 23 e 24 o SAINT-HILAIRE, At~gusto: Voyage duns les provinces d e Rio de Janeifo et Minas

Gerais Tiaci cle CLADO RIBEIRO LESSA São Paulo, 1938. pág 59

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1817: "Imaginemos com efeito estas montanhas imponentes que de longe apresentam ao olhar maravilhado imensos tapêtes de verdura; êsses vigorosos vegetais de todas as formas, de todas as dimensões, acumulados comumente em grande número sobre um mesmo ponto, e oferecendo entretanto, segundo os lugares, as dis- tâncias, as exposições, 'uma admirável variedade, cujo encanto cresce ainda pela presença de coulequins e de outras árvores de folhas coloridas, que, reunidas em grupos de matizes diversos, compõem o quadro mais sedutor e majestoso. Como exprimir o deslumbramento que sentimos ao nos aproximarmos suficiente- mente dêsses maciços soberbos para que o olhar possa penetrar em suas profundidades e distinguir os seus inúmeros elementos."

1821: "Nada do que até hoje vi é comparável em beleza a esta baía. Nápoles, o estuário do Forth, o pôrto de Bombaim e Tricomali, cada um dos quais eu julgara perfeito em sua beleza, todos devem ceder o lugar a esta baía, que excede a cada qual em suas peculiaridades. Soberbas montanhas, penedos em co- lunas superpostas, vegetação luxurjante, ilhas claras e floridas, verdes e tudo isto combinado ao casario branco, cada morro coroado por sua igreja ou fortaleza, navios ancorados ou a se moverem e numerosos botes a velejarem num clima d.e- licioso, conjugam-se para tornar o Rio de Janeiro o mais encan- tador cenário que a imaginação pode conceber "

1823: "Quem quer que tenha visto o Rio de Janeiro, sua baía imensa e a região que a cerca, não poderá recusar-se, quando se apresenta a ocasião, de dar ao menos algum testemunho da sua admiração para as grandes e belas coisas que se oferecem a nossas vistas "

DE LA TQUANE

1823 "Todos se deleitavam na contemplação do país, cuja doçura, cuja variedade encantadora e cujo esplendor superam o que h á de mais belo na natureza, como jamais havíamos vis'to "

'O G A U D I C H A U D , ' ~ ~ ~ ~ I ~ ~ S : Voyage autoui à u Monde e?itrep?is pa? l'ordre d u Roi, LoWIS FREYCINET Paltie Botanique", 1826, pag 10

" GRAI~AM, Mary: Journal of a Voyage to Blazil Londies, 1824, pjg 159 '-' Cf m o LEITÁO: Visita?tt,es d o Primeiio Império São Paulo, 1934, pág 54 '" VON SPIX, T B e V O N MARTIUS, C F P : Reise in Brasilie?~ Trad d e Lírc~a

FUHQUIM LAHMEYER, Rio. 1938, v01 I, pág 80

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1825 "O olhar se deleitava na contemplação desta natureza selvagem e magnífica. Estas montanhas elevadas contrastam com o céu ameno e azul, o qual a luz do sol tropical, encanta verdadeiramente o homem do Norte". . . "Não há pincel capaz de pintar a magnificência desta natureza grandiosa". . . "Que quadro de magnífico e brilhante colorido não se patenteia aqui à vista! Aquêle mundo fantástico que a fantasia oriental criou nos seus contos, parece ter-se tornado aqui uma realidade "

1825. "Talvez não exista no mundo uma região como o Rio de Janeiro, com paisagens e belezas tão variadas, tanto do ponto de vista da forma grandiosa das montanhas, quanto dos cont'ornos das praias. Em virtude da multidão de enseadas e promontóri~s, há uma variedade infinita de panoramas, tanto para o lado da baía e das suas ilhas quanto para o mar al- to Não são menores a riqueza e a variedade da vegetação "

1826 "Muito já se falou e escreveu do golfo de Nápoles, muito do semicírculo que Constantinopla com sua religião e natureza orientais oferece ao admirado viajante; muito da mag- nificência do Tamisa e do Tejo, de Copenhague no Belt e de Es- tocolmo no lago Melar; mas tudo isso não vale o pôrto do Rio de Janeiro" 'Todos sabemos que a natureza é vaidosa: ela se en- feita de flores e de verde folhagem, e gosta de mirar-se com satis- fação no espelho do córrego ou do oceano Mas em parte alguma ela mostra em mais alto grau do que aqui esta qualidade, tão inocente e encantadora, que se não pode considerá-la como defeito Silenciosas estávamos no convés, em bem-aventurado encanta- mento, como se um relâmpago nos houvesse carregado de leve magnetismo, a boca não tinha palavras, só as mãos. que mùtua- mente apertávamos em adoraçáo sem palavras, vib

r

avam convulsas sob a pressão amistosa do entusiasmo e da despedida É a festa di- vina da natureza Até os marinheiro tinham furtiva lágrima nos olhos. Quem nunca viu o pôrto do Rio de Janeiro, nãmo tem autori- dade para criticar semelhante sentimento. Não se pode analisar a impressão global, aqui não cabe o despotismo das minudências "

1 % BosCHE, Teodore: Quad?os Alte?nados ' i iad de V I C E N T E DE SOUSA QUEIRÓS, Sã0 Paulo, 1929, págs 19 e 123

~ " U G E N D A S , ~06.0 Maurício: Viagem Pitolesca Atiavés d o Brasil T r a d d e SERGIO MILLIKT, 3 ed , SRo Paulo. 1941, pág 20

1 " SEIDLER, Callos: Dez anos ?LO Brasil S r n d d o G e n BERTOLDO K LINCER São Paulo, 1911, págs 27-29

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1832. "Seguindo uma trilha, penetrei numa nobre floresta, e, de uma altitude de quinhentos a seiscentos pés, apresentou-se- -nos uma dessas vistas esplêndidas que são tão comuns em toda parte no Rio. Desta elevação a paisagem atinge o seu mais bri- lhante colorido, e cada forma, cada sombra, tão completamente excede em magnificência tudo o que o europeu sempre viu em seu país de origem que êle não sabe como exprimir as suas sen- sações - O efeito geral frequentemente lembra as mais alegres cenas de ópera ou dos grandes teatros. "

DARWIN

1835. "Eu gozava uma perfeita felicidade. A medida que os objetos mais nitidamente se desenhavam, eu me entusiasmava com a beleza da I-egião" . . "No momento da nossa chegada, emo- cões indefiníveis assenhorearam-se de mim. Meu coração trans- bordava, e eu sentia vivamente, por não poder comunicar aos ou- tros os sentimentos diversos que simultâneamente o agitavam. "

1836 "Todos os viajantes sentem prazer em celebrar a bele- za da baía do Rio de Janeiro. Lendo-lhes os escritos, sentimo-nos tentados a ver um pouco dêsse exagêro que é o apanágio universal dos narradores que vêm de longe. E no entretanto quem pode go- zar êste magnífico espetáculo, acha-o muito acima de tudo o que OS livros ensinaram "

DE LA SALLE I!'

1836' "A primeira vez que se entra num pôrto c,omo o Rio de Janeiro, marca, sem dúvida, uma nova época em nossa exis- tência, pois é preciso que se seja muito pouco apreciador da natureza para que, daí por diante, não se possa render home- nagens a beleza e a diversidade da Criação, bem como as mais altas manifestações do poder e da grandeza do Criador."

1836. "Traduzir o efeito que produz êsse espetáculo é coisa impossível. É muito que a alma suporte as emoções que êle desper- ta É mais que admi

r

ação, é uma exaltaçáo religiosa, um santo res- peito pelo Autor de todas as coisas, é um profundso sentimento de

" DARWIN , Chailes: T l ~ e Voyage o f tlbe Beagle Ed Collins, pág 44 I' D'ORRIGNY, Alcides: Voyaye rlans Z'Arnériqi~e Méridio?~ale Paris, 1835, v01 I,

págs 19-20

'!' DE LA SALLE: Voyage autoui d u Monde, de la corvet te La Bonite, ( c f MELO L E I T I O , obr cit , pág 5 6 )

"' KIDDER. Dailiel P : Reminiscências d e Viagem e Permanência no Brasil, Trad de MOACIR N V A S C O N C E L O S , Sã0 Paulo, 1940

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sua infinita grandeza e do nada do homem. As reflexões acodem em tropel ao espírito sucumbido pela majestade do lugar. Que são ao lado dessas admiráveis belezas as obras da mão do homem?"

1839 "A natureza formando a baía do Rio de Janeiro, parece haver acumulado todas as formas ostentosas, que podem combinar- -se n a paisagem. "

FERDINAND DÉNIS 22

1844' "Unânimes concordam os viajantes em fazer da baía do Rio de Janeiro o mais pomposo elogio, pois bem, acho-lhe a beleza acima de quaisquer descrições até hoje feitas. A gran- diosidade das linhas, a elegância dos contornos, a riqueza da ve- geta$~, tudo concorre para embevecer o espírito e encantar os olhos. Ouvira-a comparada a baía de Nápoles: em mim provocou impressões totalmente diversas. Nela a natureza ostenta-se com uma grandeza infinitamente superior a do pôrto italiano "

1846' "Um quadro cujo encantamento não saberia a pena descrever" . "Nós vimos desenrolar-se aos nossos olhos um panorama como seguramente o mundo raramente oferece "

1846: 'Tenho visitado desde então muitos lugares famosos pe- la beleza e magnificência, porém nenhum me deixou na mente igual impressão . . Ceilã,o tem sido decantada pelos viajantes por causa de suas especiarias odoríferas, mas eu já entrei duas vêzes eni suas praias quando soprava a brisa de terra, sem experimentar nada que se compa

r

asse as docuras que me acolhiam a chegada no Rio "

1851. "Vi marinheiros russos dos mais rudes e ignorantes, um aventureiro australiano imoral, incapaz de qualquer refle- xão, juntamente com europeus refinados e cultos, ficarem mudos,

:' Cf MELO L F I T ~ O : Obl ~it. l 3 j g ~ 110-111 ' 2 DÉNIS, F e r d i i ~ a n d : Brasil Tiad p o i t , Lisboa, 1844 2 Cf AFONSO DE TAUNAY: Rio d e Jane iqo d e Anta?z7~o São Paulo, 1042, phg 333 X L PFFEIFER, Ida: V o y a g e d ' u n e Fe?>a?ire azbtour dzc. M o n d e Pai is , 1858, p8gs 23 e 54 "'. GARDNER, G e o r g e : V i a g e i ~ s ?to Blas i l , 1836-1841 T r n d d e ALBERTINO PINHEIRO Sã3

Paulo, 1942, pBg 3

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estáticos, no passadico, acordes n a admiragão da colossal ave- nida de montanhas e ilhas cobertas de palmeiras, que, como pilastras de granito na frente do templo de Luxor, formam a digna colunata para o pórtico da mais bela baía do mundo "

1852 "Bste Rio de Janeiro é um lugar majestoso . A magnificência mais áspera acha-se aí casada na harmonia mais perfeita com o mimo mais delicado de formas e cores "

1858: "Geógrafos, historiadores, viajantes, artistas, todos quantos vagam e deliram, aqui deixaram seu hino sobre as be- lezas interiores, as.praias indolentes e fascinantes, as magníficas profundezas desta baía. Tais clamores ecoam em todos os na- vios, - e ainda estamos defronte de Cabo Frio, espécie de mu- ralha requeimada pelo sol -, a medida que se decantava em todos os idiomas o pôrto das cem ilhas, das águas azuladas e tranquilas, das margens umbrosas, ocultas sob as flores. "

1862 "Não há viajante que tendo visto o Brasil, não fale com admiração do espetáculo que oferece a baía do Rio de Ja- neiro" . . "É verdadeiramente então, em face dessas magnifi- cências, que se sente haver deixado 0 velho mundo e que nos achamos em presença de uma terra jovem. A alma sente im- pressões ignoradas mas inefáveis, e, sem esforços, ela abandana-se a um sonhar sem fim. O golfo da Bahia não é mais poético. O espanhol esquece nesse momento as suntuosidades de Sevilha e de Granada, o napolitano apenas relembra vagamente as ondas azuis que vêm morrer aos pés da sua cidade vuluptuosa "

EXPILLY 2g

1870 "Se o geólogo, possuir uma alma, algum amos pela bele- za, não há cenário que o possa mais impressionar com toda a sua fria análise dos elementos geológicos e topográficos. Nenhum me afetou tanto, - não sòmente como observador científico, mas como homem -, do que o das vizinhan~as do Rio vist~o do topo do Corcovado."

HARTT

*L KIDDER, D P . e FLETCHER, J C : O Biasil e os Biasileiros Tiad d e ELIAS DOLIANITI São Paulo, 1941, v01 1: pag 4

-7 PASCUAI., A . D . : Ensaio Critico sobre a V k g e ? n ao Brasil e m 1852 cle Carlos Mans- field, Rio. 1861, pág 94

RIBEYROLLE~, Chailes: Brasil Pitcresco T i a d d e GASTÃO PENALVA, São Paulo, 1941, i ~ k g 141, v01 I

"!I EXPILLS, Charles: Le Brésil te1 qzl ' i l est Paiis, 1826, p i g s 50 e 52 " HARTT, C h F ~ e d : Geology a?zd PlaysicaZ Geograplzy of B?azil Boston, 1870, p i g 11

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1896. "Thalatta! Thalatta! Esta viva e jubilosa exclamação dos gregos ao avistarem o mar que os devia restituir a doce e estremecida pátria, irrompeu-se involuntariamente dos lábios, quando ante nós surgiu, no horizonte, em toda a plenitude da sua magnificência, a deslumbrante baía do Rio de Janeiro."

1937: "Não há nenhum lugar no mundo que se possa compa- rar em grandiosidade e nobreza a esta baía. Reunidos, acham-se aqui os elementos da paisagem, belos como em nenhuma outra parte, e que alhures sòmente são encontrados separadamente: o mar enquadrado de vegetação tropical, as montanhas audaciosa- mente a se elevarem sobre as ondas, e um firmarnento estupendo.

Quando os navios que vem do largo deslizam sobre as águas e rapidamente se atravessa a garganta pr,ofunda desta baía, todos os olhares se dirigem para êste cenário teatral, e de chegada sente- -se sempre uma viva emoção diante de uma natureza, da qual um dos encantos é o de mudar os seus aspectos cada dia e cada hora "

Madame LOUIS HERMITE

1941 "Beleza é coisa rara e beleza perfeita é quase um sonho O Rio, essa cidade soberba, torna-a realidade nas horas mais tristes Não há cidade mais encantadora na Terra. .

. O Rimo de Janeiro não se impertiga diante de quem chega, abre seus braços macios, femininos, recebe-o em grande e carinhoso abraço, atrai, e abandona-se, com certa valupia, aos olhares admi- rados .

. Não há cidade mais bela no mundo, talvez não haja outra que seja mais misteriosa, mais heterogênea Quem a viu uma vez, n50 contestará o que acabo de dizer Não se consegue conhecê-la inteiramente "

STEFAN ZWEIG :{"

Homens e mulheres, nórdicos e latinos, viajantes familiares com o Globo inteiro, missionários de vários credos, artistas de re- nome, políticos, mercadores, diplomatas, militares, toda uma su- cessão de visitantes, muitos dêles expoentes da cultura ocidental, elementos portadores de antagonismos raciais indissolúveis, desde o primeiro relato de PÊRO LOPES DE SOUSA em 1530, anunciando a grande baía, todos êles fraternalmente se unem num clamor idêntico, ligam-se pelas mesmas sensações, deslumbrados à visão da Guanabara

:(' LAMBERG, Mau1íc10: O Biasil Rio, 1896, Trad de LU?^ DE CASTRO, páp 277 LOUIS HERMITE, Madame: Gua?iaba?a la Superbe Rio, 1937, pág 1 ZWEIG, Stefall: Brasil, Pais do F u t u r o Trad d e ODILON GALIOTTI , Rio, 1941

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Os próprios homens de ciência da estatura de um DARWIN OU

de um SAINT-HILAIRE, de um MARTIUS OU de u m GAUDICHAUD, de um GARDNER, de um HARTT OU de um D'ORBIGNY, despem-se da fria rigidez profissional, e arrebatadamente se lançam numa incondi- cional exaltação da natureza

É êste o grande milagre universal da Arte A espontânea uni- formização do sentimento pela irresistível submissão ao culto da Beleza.

Por mais rígidas, divergentes e ásperas que se exteriorizem as características individuais humanas, do íntimo delas e a qualquer momento, o espírito irrompe de improviso, e a todos une e concilia na coletiva transfiguração ante o Sublime

Porque a Arte, em todas as suas formas, é antes de tudo a espiritualização do sentimento A instintiva fuga da banalidade para o Belo, o Verdadeiro e o Bom. A tendência humana de ex- primir-se num estágio de Vida Superior O desejo intuitivo de subir a planos imateriais. A prova de uma oculta iluminação in- terna, no mais íntimo do ser, para a qual irresistivelmente somos atraídos, enlevados pela ânsia de uma infinita sublimação.

Por isso é que, na arquitetura, na escultura, na pintura, na forma literária e nas demais manifestacões artísticas, o verdadeiro artista nunca se completa, torturado na impossibilidade de expri- mir o inatingível Por isso é que o perfeito artista, - porque o iinico a satisfazer-se -, é o místico, que ao transportar-se para além dos limites dos sentidos, desmaterializa-se, integrando-se pelo êxtase na divina crença da Beleza e Perfeição universais

O quadro panorâmico da Guanabara dá-nos claro exemplo da limitação do artista ao querer escalar o inacessível. É: o que nos provam tantos testemunhos, das mais extremas conformações intelectuais e morais. Do mais rude e inculto marinheiro ao sábio de renome e ao esteta requintado transfiguram-se todos a fasci- nação de uma inenarrável maravilha

Daí as nossas escusas ao leitor. Ao descrevê-la, contamos ape- nas com uma benevolência compreensiva da impossibilidade abso- luta de reproduzir literariamente o cenário da baía do Rio de Janeiro, a qual, por sua magnitude em face das demais enseadas regionais, ocupa a maior parte dêste livro

As repercussões estéticas, por indescritíveis, cedem lugar a fria análise da Ciência. E bem certos somos de, ao nosso lado estar o verdadeiro artista, conosco aquiescendo ao contentarmo-nos com a perplexa exclamação de AMICIS -

"Si, tu t to questo é tropo bello per gli uomini!"

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Belo demais para os homens! Diante disto, só nos resta con- templativamente nos resignarmos ao conforta espiritual de KEATS, no verso intraduzível e imortal de seu Endmyon, refúgio enlevante e altruístico, sublimador das inquietacões da sensibilidade artística em face ao inexprimível:

"A thing of beauty is a joy for ever . ." Se é a isto que chegamos quanto ao cenário físico, - o que

involuntariamente nos restringe a descritiva a uma análise cien- tífica do ambiente -, não menos difícil é a reprodução da paisagem humana, onde a estrutura social de uma grande metrópole se com- plica de entrelaçamentos étnicos originais em toda a sua evolucão

Algumas transcrições apenas de observadores de crédito que presenciaram estágios passados do Rio de Janeiro, bastam para imediatamente perceber, de que complexidade racial surgiu essa população imensa.

Ao ali chegar em 1815, o príncipe MAXIMILIANO já dera reparo numa rápida europeizaçáo. O Rio "perdeu muito da sua origina- lidade, tornando-se hoje mais parecida com as cidades européias". Mas essa adaptação cultural, porém, se operava numa pan-mixia racial que jamais a Europa em nenhum ponto e a um só tempo conhecera.

"Várias nacionalidades se dão encontro aqui pelo comércio, e de sua união saíram as novas e numerosas misturas A classe que domina sobre todas as outras, em toda a extensão do Brasil é a dos portuguêses da Europa ou "filhos do Reino"; seguem-se os "brasileiros" filhos de portuguêses, de origem mais ou menos pura; os "mulatos" provenientes da mistura de brancos e negros, os "rnamelucos" ou mestiços saídos de brancos com índios, os "negros" d7África, - também chamados "moleques" -; os pretos "c~ioulos" nascidos no Brasil, os "curibocas", nascidos de negro e índio; os "índios" puros, ou habitantes primitivos do Brasil, entre os quais se denominam "caboclos" os civilizados, e "gentios" ou "bugres" as que ainda vivem em estado selvagem.

Todas essas variedades de cores se exibem no Rio de Janeiro; só os tapuias aí aparecem isoladamente como curiosidade. Desde que se põe o pé nas ruas da cidade, observa-se essa singular mis- tura de gentes diversamente ocupadas, e, junto delas uma reunião de todas as nacionalidades da Europa. Inglêses, espanhóis, italia- nos, são aqui bem numerosos; chegam presentemente muitos fran- ceses, encontram-se em muito menor número alemães, holandeses, suecos, dinamarqueses, russos". s4

-- " WIED-NETJWIED, Príncipe Maximil iai~o de: Viag.~??~ ao Brasil Trad de EDGAR SusSsE-

KIND DE MENDONÇA e FLÁVIO POPPE FIGUEIRDO, São Paulo, 1940, pags 31-32

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Pouco depois, um eminente antropologista francês, iria quase repetir o que dissera o príncipe alemão. Tal a complexidade étnica da capital brasileira em formação que D'ORBIGNY se mostra ad- mirado o que vê. "Olhos acostumados ao espetáculo de uma população de cor, por assim dizer uniforme, dificilmente se habi- tuam a essa mistura de todas as possíveis tonalidades, do branco ao negro, passando pelo amarelo e pelo castanho" "A populaqão do Rio de Janeiro é uma mistura de todas as cores e de todas as nacões. Depois dos brasileiros, os franceses parecem ser os mais numerosos. Êles habitam ruas inteiras, como por exemplo a rua do Ouvidor" :3J

Não obstante porém, toda essa mescla de raças que chega a d-esconcertar um antropologista, é êle mesmo quem nos deixa também ver, como o príncipe de NEUWIED, como essa,gente ver- tiginosamente absorvia a cultura de ultramar.

"No Rio de Janeiro, nós reencontrávamos a Europa, suas im- pressões, seus hábitos, seus costumes Não era mais a América primitiva que tínhamos vindo procurar" :)"

Quanto a vitalidade urbana, deixou-nos o autor um quadro que bem mostra quão complexa deveria já ser então a psicologia coletiva da cidade, com as suas características e um coloiido todo seiz .

"O porto, a bolsa, os mercados, as ruas paralelas ao mar acham-se entulhadas por uma multidão de mercadores, de marujos e de negros. As línguas diversas dessa massa tão misturada, a va- riedade dos costumes, os cantos dos negros que carregam fardos, o ranger dos seus carros pesados de mercadorias e puxados por bois, as frequentes salvas dos fortes e dos navios que chegam, o badalar dos sinos que chamam à oração, os gritos da multidão, tudo isso contribui para dar a esta cidade uma fisionomia confusa, barulhenta e original". 2í

É justamente essa mutabilidade fisionômica a refletir a alma caleidoscópica e tumultuosa da cidade que nos dificulta a sua penetração. Por mais que se apurem os costumes no Segundo Rei- nado, por mais que se renove o aspecto urbano na República, por mais rapidamente que se arianize essa população enorme, - con- forme se verifica hoje em contraste absoluto com a cidade colonial, onde o branco sempre estêve em minoria -, haverá sempre no carioca um substrato indissolúvel, proveniente da própria onto- gênese da sua etnia.

:o D'ORBIGNY. Alcides: Vmjage duns E'Amériqi~e Meridionale, I , págs 23 e 27 :'"Idem: Vffl jage Pi t toresque duns les Deux A?nériques Paiis, 1836, pág 193

Idem: obr cit , pág 194

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Mesmo diluído o seu sangue com as torrentes imigratórias européias, ou desbotada a sua cor com a sabida predominância hereditária da raça branca, haverá sempre um tremendo com- plexo na alma da cidade. Excessivamente entrelaçada foi a mes- tiçagem no passado, para que resíduos étnicos e psíquicos de inú- meros povos jamais se apaguem na perene inquietação do in- consciente coletivo

Juntemos a isso as impressões efêmeras mais necessariamente originadoras de matizes culturais dos mais diversos, pelo con- tacto secular e permanente com as mais estranhas raças do globo, num pôrto de mar.

Além dos meados do século XIX, a pena romântica de RIBEY- ROLL~ES dá-nos um quadro que nos desvenda todo um setor especial da cidade portuária, legando aos psicólogos um problema que, na aparência evanescente com o próprio rastro dos navios, não deixa de ter produzido repercussões pela continua filmagem das mesmas cenas até os dias atuais.

A Guanabara é um palpitante mostruário permanente dos mais afastados povos e das mais diferentes culturas de todos os cantos da Terra.

"Nessa moldura, larga e profunda, enumei-ai as velas, as ban- deiras, os mastros Pazei a chamada dos homens, e encontrareis todas as raças, côies e linguagens. Há os que vêm da China e das Índias, olhos rasgados, tez bistrada, cabelos lisos, gente exau- rida, gente do Oriente que definha entre o sabre e o pagade Há os louros do, norte, os que vêm da Noruega, da Suécia e das Rússias, espécie ativa e robusta, cujo olhar velado esconde todas ax energias e os grandes sonhos Eis aqui as carapinhas d'África, os galos ba- rulhentos da França, os taciturnos da Inglaterra e da Holanda. Há-os também que não dormem nunca, as americanos do norte, e os crioulos que dormem toda a vida É a terra". a "A população do Rio de Janeiro, fixa ou flutuante, excede quatrocentas mil almas. Muito menos que Nova Iorque. Sendo que o Rio é mais rico em espécies, em tipos, e encerra em seus muros vinte povos diversos. Salvol o samoieda e o lapônio, companheiros da rena, habitantes do gêlo, lá encontrareis todas as raças, todas as cores, todos as perfisJ7. 39

Eis aí talvez a. mais protunda divergência entre êste grupo e os demais que apresentamos. Geográfica e geologicamente, tam- bém o Distrito Federal é terra fluminense. Por fluminenses foram sempre os seus habitantes conhecidos durante o Império, embora neste livro utilizemos sempre o têrmo "carioca", de origem recente e republicana, por deferência especial por êste núcleo e para dos outros diferençá-lo por sua excepcional importância histórica,

39 Obl cit , pág 147 :'I' Obr cit , págs 165 e 166

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étnica e cultural n a zona brasileira que estudamos. Toda a ci- vilização da terra fluminense, nasceu na Guanabara, dela se irra- diou e até hoje tem ela sido a centralizadora das suas atividades, por um determinismo geográfico inelutável.

Eis porque não denominamos êste livro "O Homem e a Baía", como era de se esperar pela adoção do critério geográfico observado nos demais. Trata-se, de fato, de uma zona litorânea caracterizada por uma série de baías, como fatores fisiográficos essenciais São porém todas secundárias em cotejo com a Guanabara, cuja absor- vente atuação política, econômica e social, sempre dominou in- teiramente a história fluminense, merecendo, por deferência ex- cepcional um título todo seu.

Ademais, o vocábulo baía imediatamente sugere a de Todos os Santos, com a sua grande cidade histórica, patrimônio de b

r

a- silidade e obra-prima de encantamento única no gênero, cujo nome se universalizou e justamente lhe pertence, enquanto a Guanabara sempre foi conhecida por sua designação indígena

Foi ela sempre, com a sua agitadíssima formação étnica, com o seu enorme centro de intercâmbio e com o seu grande seio aco- lhedor da evolução e da cultura de ultramar, a grande incentiva- dora das iniciativas fluminenses .

Sempre foi o ambiente da Guanabara que, num contínuo re- cruzar dos mais diversos sangues por um ebuliente caldeamento, os selecionou, adaptando-os progressivamente as suas paisagens extraordinárias de lineamentos esquisitos e de pomposas singu- laridades

Daí ter sido sempre o carioca um original. A natureza espe- tacular e requintada certamente metamorfosearia o homem que adotara .

Em 1868, BURTON já notava com profunda agudeza a influên- cia dessa terra sobre o habitante em formação.

"O aspecto da natureza é agora reconhecido como influente sobre o ideal e o intelecto do homem". . "Esta região do Brasil está exatamente entre os extremos da natureza que excitam ou deprimem a imaginação". . "Há aqui uma delicadeza, uma ame- nidade de aspecto, que as rudes homens do norte encontram pela primeira vez e não devem esperar jamais encontrar de novo Ao mesmo tempo encontraremos em sua gente traços marcados de personalidade e uma energia quase selvagem, reveladores não só de uma pele delicada como de uma forte espinha dorsal".

Para BURTON, como para nós, os inexcedíveis contrastes da te

r

ra carioca, exercem uma definitiva ascendência na forma~ão espiritual do povo do Rio de Janeiro.

"Junte-se a esta delicadeza e encantamento, a esta graça e beleza feminina, um aspecto de força e uma majestade derivada das proporções e da grandeza das montanhas, dos picos, dos pre-

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cipícios e das rochas, que vencem a lembranqa de STAFFA, e que afas- tam qualquer idéia de efeminação. Tais efeitos da natureza, ao mesmo tempo máscula e feminil, alternativamente doce e rude, necessariamente influem no caráter nacional". I*

A êsse dualismo paisagístico4 ajusta-se a indefinível alma ca- rioca, inquieta, mutável, paradoxal, misto de jactância e de finura, de contagiantes humorismos sincopados de explosividades . Alma indisciplinada de contrastes camo a natureza, nuamente exposta e livre de repressões nos tumultos carnavalescos

Foi ainda ZWEIG com a sua admirável plasticidade artística, um dos que mais sentiram a importância para descrever o tão com- plexo ambiente físico do carioca. "A beleza dessa cidade, dessa paisagem, com efeito, quase não se pode reproduzir nem pela pa- lavra nem pela fotografia, porque é demasiadamente heteiogênea e inesgotável; um pintor que quisesse representar o Rio em toda a sua plenitude e com todos os seus milhares de cores e cenas, não teria tempo para concluir a sua obra em uma vida inteira,

E isso porque a natureza em capriclio sem par de prodigalida- de, concentrou num pequeno espago todos os elementos de beleza que costuma distribuir e disseminar, com parcimônia, pelo terri- tório inteiro de outros países". "'

E tal como sucede à natureza, a complexidade espiritual do homem, pela própria origem, impede-nos a sua total compreensão por processos analíticos, embora a sua psique assombrasamente se desnude, em suas espontâneas manifestações artísticas populares É o que veremos no final

Seja porém dito que, entre os tributos inatamente seus que a fazem tão peculiar e original, salienta-se uma ironia amável tão harmonizada com urna alegre bonomia, que talvez melhor que as mais extensas descrições, baste para defini-la, após o parecer de tantas testemunhas, volver de novo a 1530, e reler a singela frase do precursor dos seus cronistas, o qual desde o descobrimento, como que previra a futura alma carioca

" A gente deste rio he como a d a Bahia d e todolos Santos, senam quanto he mais gentil gente " '-

'I) BURTON, Richard F . : Viagein aos Pla?ialtos do Blasil -- 1868 T ~ a d cle AMÉRICO JACOBINA LACOM~E, Rio, 1940 v01 I, pag 58

" ZWEIG, Stefaii: obi cit . 190 LOPES DE SOUSA, Pêío: Di&?io da Nauegaccio d a Armada q u e foi ao Brasil enl 1530 -

sob a C a p i t a ~ ~ i a d e Martini Afoizso de Soztsa Lisboa, 1839, pag 26

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A GUANABARA FISIOGRAFIA E GEOLOGIA

I - MARGEM OCIDENTAL '9% terra mui fragosa e inuito mais que a serra da Estrêla; tudo são serranias e rochedos es- paritosos".

Pe FERNÃO CARDIM: 'cTratado da Terra e Gente do Brasil". 2.a ed São Paulo, 1933, pág. 307

1. SINTESE PANORÂMICA

"13 terra de grandes e altíssimos moiites e pe- nedias, e ao entrar da barra tem uma pedra miii larga ao modo de um pão de açúcar e assim se chama, e de mais de cem bracas em alto, que é cousa admirável".

ANCHIETA: "Cartas" Rio, 1933, pá& 420

En? nossa viagem pela terra flurninense temos vindo até aqui por um bordo litorâneo deprimido. Apenas em Macaé, em Cabo Frio e em raros pontos outros, o horizontalisrno das nuas praias extensíssimas subitamente se interrompe contra esporádicas pe- nedias batidas pelas vagas. Ilhas que já continentalizadas pelo avanço das restingas, defrontam arquipélagos ainda em pleno mar, todas elas pontas emersas de velhos maci~os naufragados.

Agora, porém, é todo um cenário novo que nos surge. Uma nova zona em que os fatores telúricos por tal modo se dessemelham dos que vimos, que outra série de pesquisas se vem impor.

Chegamos à Guanabara . Eiltremos na baía pela única fresta n a muralha montanhosa

litorânea pela qual penetra o Atlântico. As faces do morro do Pico e do Pão de Açúcar dir-se-iam vistas e alizares de um portão monumental. Ante os seus lisos paredóes tolhem-se as visadas Mas logo a seguir as águas se desapertam.

A esquerda, num estranho tumultuar de formas montanhosas, lombadas nuas se arredondam, despenhando para os vales, para os plainos, para o mar, enquanto. pelos cimos da Carioca pontacos de penhascos nus se eriçam, furando a cobertura de florestas. - -

A direita, em contraste inesperado, rolam as ondulacóes de Niterói

Est,amos em plena Guanabara. Para aquém do paredão atlântico se abate o relêvo.

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I -- Vi.:. 2 - O P ã o d e Açucar r! e n t r a d a da G u a n a b a r a a p e n a s o rni iv~iarda dns rriri,ni t . ~ f r n # f r r ! i ~ i t ! r ! ~ ~ ~ , . f r t r ~ i, f , f l ~ ~ , nt tnl cr!l[~rlta ~ i r f : r i ~ . i m-.~t+ ulu.~lrarfrlf~ u ~ m i 1 f 1 ~ r f l ~ t r I ! ; ~ ~ ~ ! i '

~ P I I R I ~ I 1 ' 6 . .10~!t'1ro.

Fim:. 3 - t ' ie lo or.i.i*n rln rrttrtrrln ria iiaia rlr Ciiflrialirirn

I Por uri i t l l~xi i rln c o ~ o i ~ e i Arirn Gi . [> l~ni irs - c10 Srrv. Orricr. <i<> Eur'rrltq~

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Há um seio de mar sumindo-se em vagos fins remotos. E com as águas a invadirem angras e enseadas, estende-se ante nós um imenso lago esplêndido.

Ao fundo, os seus contornos imprecisos nivelam-se a planícies- úmidas com colinas insulares, indo aos pés da cordilheira E em. remate espetacular, digitada de penedos que se enfiam pelo es- paco, a crista da serra dos Órgãos

Eis em síntese a Guanabara magnífica, de inenarráveis sun- tuosidades paisagísticas . Por impossível descrevê-la, contentemo- -nos em analisar-lhe a origem da morfologia estranha, dom geo- gráfico e nuclear para a centralização de uma cultura esparsa pelo vasto território brasileiro.

"A verdadeira ciência nada supr ime ela pro- cura e encara sem se perturbar as coisas quenão compreende ainda. Negar estas coisas n ã oseria suprimi-las; seria fechar os olhos e crei que a l u z não existe"

CLAUDE BERNARD: "La Science Expérimea- tale". 5 ed , Paris, 1911, pág 8 9

Evolução dos estudos geológicos no Distrito Federal

"Estas acrobacías da natuieza que se chamam as montanhas, não atraem sòmente os amadores do pinturesco a moda de ROUSSEAU, para os qua i s a discriminação das encostas em degraus fornece uma apreciação matemática das belezas pinturescas Os próprios sábios, também, se in- flamam ante tal teratologia; e a sua imaginação encontra de q u e se satisfazer, na contemplação dos movimentos que nos aparecem singularmentegrandiosos quando os comparamos com as pro- porções humanas".

L DE TAUNAY: "Oùe n est l a Géologie"; págs. v- VI

Na tarefa que nos impusemos de estudos geográficos regionais da terra fluminense, a base física de cada setor tem sido geolò- gicamente analisada, a fim de que possamos atingir uma completa compreensão da terra,_para Ta seguir, - nela verificarmos a adapta- ção do homem.

Nos dois volumes anteriores, entretanto, pouco tivemos que penetrar em assuntos geológicos especializados, devido as próprias condiçõestelúricas regionais que mais particularmente nos inte- ressavam. Na região dos canaviais campistas, a zona principal em toda a sua evolução histórica e conseqüentemente econômica é a das planícies marginais ao Paraíba, diluvialmente sedimentadas. De outro lado, é de tal vulto o predomínio das areias soltas pela

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costa de restingas que focalizam quase toda a descrição Por isso é que, apenas ali anotamos de passagem a petrografia dos afloramentos de rochas litorâneas, sobretudo quando mais cons- pícuos se apresentam êles nos contornos paleográficos ou na con- s o l i d a d e de pontos básicos de amarração para as línguas de areia.

Agora, porém, o problema geológico é bem diverso. A impor- tância dos fenômenos orogênicos é tamanha que, para defini-lo e abrangermos sintèticamente as camadas gnáissicas que compõem a tão original morfologia da Guanabara, teremos de penetrar em complexidades texturais e petrogenéticas.

Sòmente a começar daí, poderemos chegar a ver que tôdaessa aparatosa topografia aparentemente cataclísmica de manta- nhas agrestes, de penedos avulsos, de gigantescos paredões a pique, de vales profundos, de planícies e pântanos, resulta de um tecto- nismo inicial ocorrido h á bilhões de anos, no berço da criação terrestre, responsável por metamorfismos e estruturas que possibi- litaram a formação das ínigualáveis escarpas que tanto embele- zam e celebrizam um dos mais afamados espetáculos naturais.

Desde os estudos iniciais de ESCHWEGE em começos do passado século, foi tentada a cartografia geológica das margens ocidentais da . baía, --- bem coma um esboço de sua estratigrafia. Em sua Pe- trographische-~harte, ali notamos a serra da Carioca constituída de gnaisse e de granito-gnaisse, enquanto a faixa da Baixada en- tre aquêle relêvo litorâneo e a serra dos Órgãos é toda uma larga mancha de afloramentos graníticos. Em seu perfil todas essas rochas mergulham quase verticalmente para o mar. 43

A carta e o perfil de ESCHWEGE, a par Cios conhecimentos de sua época, apresentam hoje apenas interêsse para a história da nossa evolução científica Sòmente em 1842, com a publicacão dos trabalhos de PISSIS é que vemos uma primeira classificação das rachas do atual Distrito Federal, em base tão segura para o tempo que, em linhas gerais, sobreviveu quase até hoje. Tão notáveis foram as suas observações que o próprio DERBY ainda considerava neste século tudo o mais que se escrevera sobre as rochas primitivas brasileiras como delas extraído, e, de fato, a sua classificação dos tipos gnáissicos em porfiróide, cinzento e lepti- nito, continua ainda hoje basilar, embora com izomenclatura va- riável. Notemos ademais que, ao referir-se a zona de Angra dos Reis e de Ubatuba, notara PISSIS certas ligações entre um gnaisse muito rico em mica e os leptinitos, as quais, desprezadas pelas petrógrafos posteriores poderiam entretanto contribuir para escla- recer a petrogênese destas rochas

EECHWEGE, Wilhelm voii: Cot~tribuicóes para a Geog?iostica do BqasiE Tiad bias do centeiliirio de Minas Gerais, Belo Horizonte, 1922

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As suas secções geológicas são porém rudimentares, com mer- gulhos inexatos e interessam-nos hoje apenas, tal como as de ESCHWEGE, como curiosidade cartográfica . 4 s

A seguir ao geóloga gancês, temos AGASSIZ que nada introdu- ziu de original para o esclarecimento geológico da região da Gua- nabara Ao contrário, chegou êle a ver "folhelhos inicáceos e argi- losos" inexistentes, e, com a retina saudosa de suas montanhas suícas descobriu por toda esta zona uma suposta glaciacão inacei- tável, 45 embora igualmente admitida pela inteligência luminosa de seu discípulo e colaborador CARLOS FREDERICO HARTT. "I

Êste grande geólogo tãa justamente cognominado "o pai da geologia brasileira" por ter sido o primeiro a sistematizá-la, não fêz porém estudos especiais sobre as nossas rochas primitivas, limitando-se a descrições petrográficas parciais de tipos avulsa- mente localizados

O mesmo poderemos dizer de seu eminente sucessor ORVIL~LE DERBY, atarefado com ,problemas de maior premência para o co- nhecimento de nosso extenso território Idêntica anotaqão pode ser aplicada a seus ilustres discípulos GONZAGA DE CAMPOS e EusÉ- BIO DE OLIVEIRA, com tão desmedido campo de observações para a geologia pura e com tão relevantes questões da nossa economia mineral a serem resolvidas

DERBY, entretanto, com a profética penetração que a miúdo ressalta de seus escritos, salienta a importância dos estudos no Arqueano brasileiro, o qual inclui entre os seus problemas "alguns dos mais fundamentais e controvertidos de toda a ciência geoló- gica"

Não obstante porém, essa tentadora advertência do mestre, tais estudos só foram atacados em escala reduzida, ou pior ainda, desorientados por pesquisas petrográficas anárquicas em amostras avulsas, sem qualquer intento de uma síntese classificadora E o que talvez mais tenha contribuído para um tal desinterêsse, foi a influência indireta de um dos mais eminentes colaboradores de ORVILLE DERBY

Sem negarmos o alto valor dos trabalhos de BRANNER para a sistematizacão das nossas formações, o seu lance de olhos geral sobre o escudo aiqueano brasileiro não lhe permitindo aprofundar- -se em sua petrografia e petrogenética, induziu-o a proposiqão de Complexo Brasileiro para toda a série primitiva -I7

1% P I ~ S I S , M A . : Mémoile s7rr lu position géoloyigzte des t e ~ r d i n s CLS la pu?tie azlst?ale d z ~ Bresil Paris, 1842

'2 AGASSIZ, Luís e AGASSIZ, Elisabeth Cary: Viagem ao Brasil, 1865-1866 Cal "Biasi- liana"; São Paulo, 1938, págs 122-127

'" LIAIS foi O primeiio a iefiitai a teoiia glacial de A c ~ s s ~ z e HARTT, e a existência de blocos elraticos no Rio de Janeiio (ERIMANUEL L IAIS: Climats, Géologie, F a ~ ~ n e e t Géoglaphie Bota?zique d z ~ Brésil Paris, 1872, pág 21)

BRANNER, John C : Geologia Elen?.entar Rio, 1915, pág 289

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Aceita como desabafo dos petrógrafos, confusos ante as labi- rínticas aparências da insolubilidade do problema apenas investi- gado em gabinetes, a frase comodista generalizou-se, incrementan- do uma deplorável atividade microscópica sobre amostras colhidas a êsmo pelo nosso Cristalino, sem resultados mais profícuos que os de uma insípida e bizantina catalogação de nomenclaturas das espécies - Diga-se parém que, desde 1910, uma orientação mais segura se esbocara com os primeiros estudos do professor ALBERTO BETIM PAIS LEME sobre as rochas do Rio de Janeiro. " Mantendo a corre- lagáo de PISSIS, considera êle entretanto o gnaisse porfiróide como um granito porfiróide. As suas secções geológicas de importância ainda secundária, foram mais tarde reformadas pelo autor

Por êsse mesmo tempo, DARREL CRANDALL inicia a primeira carta geológica regional, limitada porém a uma pequena zona da cidade

Publicando em 1912 um novo trabalho, PAIS LEME vai adiante em suas pesquisas, dando-nos então as três primeiras secções po- sitivas através de morros cariocas. Ao iniciarmos os nossos estu- dos em 1933, verificamos serem até então as únicas aproveitáveis.

Em 1917, FERDINANDO LABOURIAU apresenta a sua tese para uma cadeira da Escola Politécnica, " q u e ao fundamentar o tra- balho em verdadeira campanha geológica no terreno e concluída no laboratório e não apenas em estudos de gabinete, chegara ante- cipadamente a conclusão de uma arigem exclusivamente magmh- tica para os gnaisses do Rio de Janeiro, contestada por todos os investigadores contemporâneas, com exceção do professor EVERAR- DO BACKHEUSER.

LAEOURIAU foi decisivo em suas afirmações: "13 óbvio que não somos forçosamente levados a admitir para todos os gnaisses da Terra uma origem eruptiva. É possível que haja paragnaisses. Apenas negamos a sua existência nas circunvizinhanças do Rio de Janeiro, por nós percorridas amiudamente e em todos os sen- tidos" "Conhecemos amostras de gnaisses do Espírito Santo que parecem ser sedimentares. Para concluir com conhecimento de causa, entretanto, seria preciso examinar de perto a localidade. Não asseveramos que tais rochas sejam efetivamente sedimentares, apenas pensamos que talvez o sejam, a julgar pelas amostras que possui o Gabinete de Mineralogia e Geologia da Escola Politécnica do Rio de Janeiro, de gnaisse com calcário intercalar"

I h PAIS LEME, Alberto Bet im: Estudos geológicos de urna parte d o Distrito Federal Rio, 1910

'!' PAIS LEME, Alberto Bet im: Os gnaiss,es do Rio de Janeiro Rio, 1912 A" L n s o m r ~ u , Ferdinando: Observações geológicas nas cemanias d o Rio de Janeilo -

Petroglafia e Petrogênese Rio, 1917 BACKHEU'SER, Everardo: A Faixa Litordnea do Blasil Meridional Rio. 1918, pag 185

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Não se deixando impressionar por amostras colhidas por outrem, hesita em classificar tais rochas como sedimentares, não obstante a "prova" do calcário intercalar, artigo de fé da maioria dos petrógrafos que entretanto admitem a existência de carbona- titos, de origem magmática

LABOURIAU prossegue ainda. "Admitindo sem restriqões uina origem ígnea para os gnaisses do Rio de Janeiro, estamos em de- sacordo com o modo de ver de geólogos de nomeada.

Não nas sentimos mal, entretanto, primeiramente porque esta conclusáo se nos depara uma evidência fulgurante, e, depois porque se estamos em contradição com geólogos ilustres, estamos de acordo com geólogos não menos ilustres. Estamos em muito boa companhia, o que é para nós motivo de natural satisfacão.

Mas ainda que todos os cientistas fossem acordes em deter- minar uma origem sedimentar para todos os gnaisses, discordaría- mos da opinião geral, ainda que omitíssemos então, mais tipica- mente o nosso modo de ver. A diferenga entre esta hipótese e o caso presente é que, estando de acordo com os mestres da Geologia, sentimo-nos - confortados".

-

LABOURIAU, entretanto, não fica aí. Com uma audácia ieve- ladora da sua honestidade científica, corajosamente emitiu a sua opinião contrária a Geologia Clássica, que não mais admite a exis- tência da primitiva crosta terrestre; "Repugna-nos sobremodo ad- mitir uma origem sedimentar para os gnaisses das circunvizinhan- ças do Rio de Janeiro, o estudo do terreno, o exame das amostras no laboratório, tudo nos leva a acreditar na sua o~rigem ígnea O metamorfismo destas rochas, por outro lado, é evidente De modo que concebemos a formação destas rochas como sendo endógeno- -metamórficas . Admitida esta origem, não nos repugna imaginar que os terrenos formados por estas rochas sejam a primeira crosta da Terra". "Gnaisse porfiróide, gnaisse leucocrático, gnaisse nze- Zanocrático, gnaisse mesocrático, são para nós variedades d e zinza mcha que é sempre a mesma". .52

Embora sem uma comprovação minuciosa das suas afiima- tivas, antecipava-se LABOURIAU ao nosso parecer

Em 1920, RUI DE LIMA E SILVA apresenta uma tese sobre as rochas do Distrito Federal, ampliando a zona então cartografada Nela aparece pela vez primeira o gnaisse do Engenho Novo, porém como tipo intermediário de passagem entre o porfiróide lenticular e o gnaixse cinzento, e não com as suas características tão acen- tuadamente individuais. z3

Em sua publicação de 1926, o professor EVERARDO BACKHEUSER apresenta a primeira tentativa de uma bem elaborada carta geo-

"- LABOURIAU, Feidinando: Obi cit , pág 73 ;:' LIMA E SI LVA, Rui de: A Faixa Gnciissica do Distr i to Federal Rio. 1920

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logica do Distrito Federal. Seu texto, bem esclarecido na lingua- gem sempre admirável do preclaro mestre, dá-nos todavia ainda os mesmos elementos petrogenéticos da classificação de PISSIS. O gnaisse da Engenho Novo também aparece na carta, mas referido

. - . ao tipo facoidal-lenticular -, e aos gnaisses cinzentos. Em-1935, finalmenteveio a luz um trabalho de autoria de

_ LUCIANO JAQUES DE MORAIS, OTÁVIO BARBOSA e DJALMA GUIMARÃES, cada qual especializando-se em partes diferentes, 5 sÔbre o qual nada temos a dizer quanto a petrografia.

Tratando-se porém, aqui, de uma resenha histórica e evolutiva da geologia da região da Guanabara, na qual também efetuamos estudos especializados, faremos como para os demais autores, uma ligeira análise expositiva de alguns capítulos que nos interessam a geologia descritiva, as secções geológicas e a petrogênese das lochas do Distrito Federal e vizinhanças

A classiPicacão de MORAIS na qual BARBOSA colaborou, é ainda a de PISSIS, apenas com a designação de gnaisse mesocrático para o lenticular, de leucocrático para o leptinito, e de melanocrático para o "gnaisse rico em silimanita"

Temos a considerar primeiramente que a diferenciacão das iochas apenas pela côr é por demais incerta e inaplicável a muitas variedades. E sobre a indicação de ser o tipo melanocrático um gnaisse a silimanita, replicaremos que a maioria dos leptinitos é frequentemente bem mais rica dêste mineral que aquela rocha.

Quanto aos três diastrofismos consecutivos definidos - dois no proterozóico e um caledoniano -, cuja violência é demonstrada por intrusões plutônicas, gnaissificação e granitização, catanl ase e aumento de xistosidade, só poderiam ser aceitos com provas es- tratigráficas obtidas no terreno. Tais provas não existem no tra- balho, além de que, todas as secções geológicas se acham ali em desacôrdo com a realidade.

A estratigrafia do Distrito Federal de relativamente simples camposição, como veremos, só poderia ser conhecida após tenazes trabalhos de campo. Por isso é que até bem pouco, apenas contá- vamos com as três secções do professor PAIS LEME, embora es- bocadas e desfiguradas por escalas verticais e horizontais tão di- ferentes, são as únicas a aproximadamente traduzirem estruturas reais, não obstante cortarem reduzida área de observações.

Quanto à petrogênese, é ela descrita numa acomodaqáo de versáteis hipóteses de observadores "estrangeiros" em formações 'ce~trangeira~", as quais não raro mutuamente se destroem. Por isso foi que, sem idéias preconcebidas, pusemo-nos a minuciosa-

- $ BACKIIEUSER, Evera~do: Brewe Noticia sõbie a Gec,logia do Distrito Federal Rio, 1926

zz MORAIS, Luciano Jaques; GUIMARÃES, Djalma; e BARBOSA, Otávio: Geologia e Petro- logia do Disttito Federal e I?nediaçóes Ouro Piêto, 1935

Page 37: O Homem e a Guanabara

mente estudar a estratigrafia e a tectônica do Distrito Federal com pormenorizadas observações de campo e de laboratório, che- gando a conclusões idênticas as de LABOURIAU que até entáo não conhecíamos, sintetizando-as na

"Teoria do Piotsgnaisse" "" "Formar a hipótese mais simples e mais simpá- tica que comporte presentar".

conjunto dos dados a re-

"Subordinar as coiistriiçóes subjetivas aos ma- t.eriais objetivos"

AUGUSTO COMTE: "Catecismo Positivista"; trad de MIGUEL LEMOS, Rio, 1905, p á g 479

"A ciência também precisa recorrer a hipóteses, mas só como ponto de paitiùa; precisa, para ser de fato ciência, basear-se em conhecimento ve- rificável, objetivameiite, independente da ritili- dade individual ou do capricho"

WILL DURANT: "Filosofia da Vida". Trad de MONTEERO LOBATO, S ã o Paiilo, 1937, p á g 23

"Na ciência, enquanto o nosso conhecimento per- manece incompleto, a explicaçáo mais simples traz convicqáo na razão da sua simplicidade"

JAMES JEANS: "O Universo Misteiioso" Trad de J. SAMPAIO FERRAZ, Sáo P;iulo, 1941, p á g 201.

As citações que encabecam as presentes linhas, notadamente as duas leis de Fi1,osofia Primeira do eminente filósofo do Positi- vismo, acodem-nos sobremaneira oportunas ao presenciarmos a miscelânea de afirmações empíricas com que nos enredam teóricos da Petrologia

Raros galhos da Ciência faram esterilizados por dissertações tão bizantinas e acadêmicas, calcadas em vagas hipóteses cada vez mais anarquizantes Qualquer espírito honestamente pesqui- sador ao entranhar-se pelos misteriosos campos da Petrogenética, particularmente em seus recantos mais inaccessíveís onde as ori- gens da Terra se diriam mergulhadas em incógnitas nebulosas, pas- ma de ver com que inconsciência grande maioria de petróg'rafos, de gabinete postula conclusões explicativas de fenômenos baseados em axiomáticas reticências.

Dentre estas, salientaremos por sua repetida impertinência as inexplicáveis "co~ndições físico-químicas", para as quais aliviado- ramente se relegam todas as ocorrências que embaracam quaisquer intentos de explicação. Com tais sofismas se empilharam calha- magos cabalísticos, inescrutáveis a não ser por investigadores de gabinete, confortavelmente instalados e sem o menor empenho de

"' LAMEGO, Alberto Ribeiro: Teolin do Ptotog?iaisse BOI 11 " 86 do Seiv Geol e Mliieialógico, Rio, 1937

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se atirarem às fadigas do campo, a ver "como a natureza de fato é".

Por tais processos foi-se tornando a Petrologia um ramo da Ciência quase metafísico, inaccessível à inquirição utilitária da grande maioria dos geólogos, e encouraçadamente impenetrável sob o noli me tangere de seus iluminados depositários, sectaria- mente ciosos de sua predestinacáo .

Incrível o que se tem amontoado em Saber de centímetros quadrados de lâminas mjcroscópicas de rochas, sem o menor es- crúpulo da mais leve correlação "direta" e "positiva" no campo, de camada a camada, de rocha para rocha. Amostras vindas de onde vierem e colhidas por quem quer que seja a centenas de léguas umas de outras, são levianamente conectadas por loquacidades li- vrescas, desprezando-se o critério apriorístico e unicamente admis- sível, da co?zsulta aos elementos estratigraficos e tectônicos e m toda a sua visivel realidade.

Por isso é que, para os hierofantes da anarquizada Petrologia, qualquer tentativa de uma simplificadora coordenação dos ba- ralhados elementos da crosta cristalina da Terra, quando não recebida com incoerentes protestos, é logo encoberta pelos silen- ciosos sorrisos de negativistas, incuràvelmente encortiqados do convívio com o sofisma.

Ora, nenhuma ciência requer tanta pertinácia quanto a Geo- logia. Só podemos aprendê-la com exaustivas caminhadas. Certas mentalidades, todavia, só a admitem no conchego dos gabinetes. Sendo impossível e inútil dissuadi-los, passemos a argumentar para os homens de boa-fé, que buscam na Ciência a pesquisa da verdade e não para os que nela apenas vêem temporários degraus de areia, úteis a ascensões efêmeras e vaidosas.

Se até bem pouco não fora possível resolver o problema ge- nético do Arqueano, mau grado o grande número de petrógrafos nêle ocupados, é que tais estudos foram sempre executados em áreas singularmente perturbadas Quem percorre os trabalhos estrangeiros que tratam da questão, nota sempre que os melhores especialistas se concentraram em regiões de complicadíssima estra- tigrafia. O enigma das origens da Terra sempre fora pesquisado em zonas castigadas de tremendas convulsóes telúricas, onde os sucessivos e impetuosos diastrofismos atingindo mais que todas, as camadas basais da crosta terrestre, obliteraram por completo não sòmente a sua estrutura inicial, mas também através de meta- morfismos repetidos modificaram as próprias rochas, transmudan- do-as em tipos bem diversos do original.

Por isso é que petrógrafos dos mais eminentes e incansáveis se perderam em minuciosidades cada vez mais embaraçantes de uma clara solução. Com poucas exceções - notadamente a da grande escola da Fenoscândia -, o maior anseio dos petrógrafos

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tem sido batizar uma nova rocha com o aparecimento de minerais secundários denunciantes de hipotéticos fenômenos físico-quími- cos . Nenhuma possibilidade de coordena~ão das camadas primi- tivas num plano petrogenético sistemático.

Contra êsse estéril desperdício de atividades levanta-se porém um dos maiores nomes da Petrologia, cuja autoridade é reforçada pela de SHAND: "Como C R . VAN HISE acentuou numa sentenca que já citei, o único princípio que os petrógrafos seguiram no passado foi o de darem um novo nome a cada rocha que difere apenas de qualquer rocha prèviamente descrita, sem referência a qualquer plano".

Entre nós o processo acentuou-se, provàvelmente sob o tabu atemorizante do citado "C~rnplexo'~ de BRANNER. E entretanto, desde 1909 que mais urna vez o tão justamente acatado ORVILLE

DERBY já previra agudamente ocorrências capazes de permitir uma racional classificação das rochas arqueanas, dentre elas Te-

tirando-as de Idades posteriores. "Mesmo entre os xistos cristalinos é necessário discriminar

entre os mais antigos, pertencentes verdadeiramente ao terreno arqueano, e os que são devidos ao metamorfismo, produzido pelas massas eruptivas que os atravessam, de xistos pertencentes a ter- renos mais modernos; e, uma vez feita esta discriminação, restará fazer a da natureza original, - e das transformacões físicas, quí- micas e mineralógicas que têm sofrido - de cada um dos nume- rosos tipos de rochas que entram nos dois grupos estabelecidos. Eis aí uma série de problemas dos mais intricados e interessantes de toda a ciência geológica, que hoje ocupa a atenção de um grande número dos geólogos mais sagazes do mundo, e que forço- samente hão de interessar os geólogos brasileiros, a vista da enor- me extensão territorial e importância científica e econômica das rochas dêste terreno no território da República Pode-se conside- rar como u m a das maiores felicidades do Serviço Geológico e Mine- ralógico ter, e m redor de sua sede, um distrito ideal para o estabe- lecimento, mediante estudos minuciosos, dos princípios básicos que se têm de aplicar as áreas de mais dificil acesso, e de estrzitr~ra menos aparente". ""

Para ser resolvido o indecifrado problema do Arqueano era mister fazer, pormenorizadamente e em maior escala, o que apenas fora esboçado em raros esforços locais. Cartografar antes de tudo essas formações no Distrito Federal e correlacioná-las por estudos microscópicos. Ligar intimamente a petrografia à estratigrafia . Ter um profundo conhecimento do terreno a?ztes d e quaisqzler trabalhos de laboratório.

"' SHAND, S J : E T ? L @ ~ v ~ R O C ~ S , London, 1927, pág 122 "' DERBY, Orville A : Boletim n 0 3 do Ministério da Indus t i ia , Viação e Obras Públi-

cas Rio, 1909; t o m o I, pags 75-76

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Vimos que tal método iniciado com o professor PAIS LEME deu resultados positivos, embora limitados. Os seguintes pesqui- sadores, entretanto, não se interessaram pela estratigrafia, não obstante a sua valiosa contribuição para a geologia descritiva

De comêco tínhamos pois de executar uma nova carta geoló- gica, na qual, ao mesmo tempo que eram fixados com a maior precisão possível os pormenores petrográficos e os mergulhos locais das rochas, havia a fazer uma colheita sistemática de amostras dando as zonas de contacto uma atenção particular. O exame posterior dessas amostras ao microscópio tendo em vista es- pecialmente aquelas zonas, revelou-nos surpreendentemente que toda a geologia regional se decompunha numa série de poucas rochas secundárias, todas provenientes por metamorfismo, de uma rocha original de origem magmática, constituindo no Rio de Janeiro, além de outros afloramentos menos impor- tantes, o pequeno serrote do Engenho Novo. Tipos interme- diários de passagem foram comumente localizados, notadamente na outra banda da baía, no local denominado Engenho Pequeno, em São Gonçalo.

Todas essas rochas têm por embasamento um batólito graní- tico nelas intrusivo .

A diferenciação dos tipos gnáissicos secundários processou-se por metamorfismo dinâmico e de contacto, resultante da movi- mentação a que foram submetidas e da distância do batólito

Não cabem aqui pormenorizações de sua petrogênese demasia- damente especializadas para fins geográficos. Tentaremos, toda- via, para mais completa sintetização da geologia da Guanabara, compilar os traços essenciais da nossa argumentação sobre a Teoria do Protognaisse .

Seguindo um caminho oposto ao dos processos generalizados em Petrologia, com os quais não se conseguira até então lo~brigai: a verdadeira origem das formações terrestres emaranhadas em nubladas soluções de um problema tão fundamental de toda a Geologia, e procurando sempre relacionar em rigorosa confronta- cão a estratigrafia, a tectônica e a petrografia das rochas, chega- mos assim, a vê-las sob uma hipótese genética original.

Essa crosta, com possíveis e prováveis diferenciações regionais, cristalizou-se numa rocha uniformemente bem definida por seus caracteres químicos e cristalográficos, sendo atualmente ainda visível nas citadas regiões onde é também observado o seu desdo- bramento em tipos metamórficos todos oriundos da mesma matriz sobre a qual a t u m um magma granítico que, procedente de pro- fundidades plutônicas, intrometeu-se em batólito nos vazios sob as camadas quando estas se enrugaram.

A rocha primitiva, inegavelmente magmática, como veremos, é um plagioclásio-gnaisse porfiróide no qual os elementos felds-

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páticos atingem quando muito um centímetro e com os cristais de quartzo envolvidos por biotita A orientação desta mica é que lhe dá o caráter gnáissico O plagioclásio é oligoclásio-andesita e a extinção ondulante e o fendilhamento observáveis nestes cris- tais e nos de quartzo, indicam poderosos esforços tectônicos sofri- dos pela roêha. Entre as minerais secundários distingue-se a apa- tita, acess'oriamente ocorrendo zirconita e magnetita.

A minuciosa investigação de campo e microscópio revelou que os outros tipos de rochas metamórficas citadas, provêm todos des- sa rocha básica, podendo-se observar uma tal indiscutível ascen- dência num trabalho metodizado onde os pontos de contacto com ela sejam preferivelmente estudados.

Com tais resultados fomos levados a dar ao plagioclásio-gnaisse do Engenho Novo a designação de protognaisse, por se filiarem a êle os demais tipos regionais.

Essa filiação pode ser analisada pelo exame de lâminas ini- croscópicas, onde os fenômenos metamórficos peculiares a cada gnaisse se repetem com maior ou menor intensidade através de centenas de amostras, denunciando uma sequência de fatores ex- pressivos para uma classificação das rochas em tipos essenciais.

Esta classificação levou-nos necessariamente a ampliar o sis- tema de PISSIS, insuficiente para uma síntese concordante com os nossos conhecimentos atuais, visto que grupos de rochas caracte- rísticas e de importantes afloramentos ficavam a sua margem

A partir de cima para baixo, damos a seguir uma coluna geo- lógica que organizamos com as formações do Arqueano, deduzida da estratigrafia e petrografia.

a - Biotita-gnaisse, gnaisse quartzítico (var ) e gnaisse de Ipanema (var )

b - Gnaisse lenticular c - Leptinitos d - Gnaisses graníticos e - Migmatitos f - Protognaisse (plagioclásio-gnaisse) g - Granito

A esta coluna deveremos adicionar mais três tipos de rochas que, embora de exposições menos generalizadas, comumente apa- recem intercaladas nas camadas cristalinas, em afloramentos lo- cais São êles.

h - Gnaisses quartzo-mon~onític~os i - Gnaisses dioríticos j - Dolomitos.

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Em torno de cada grupo existem, como de se prever, varie- dades que, todavia, nêles se enquadram. Apenas excluímos dessa classificação as rochas básicas intrusivas em bossas ou em filóes que, embora por vêzes importantes por seus efeitos na morfologia, não interessam nem afetam a teoria por serem de idade posterior e a sua intrusão não ter acarretado metamorfismos nas rochas encaixantes

Reveremos agora, resumidamente a petrografia e a petrogê- nese de cada grupo

Ao começar, frisemos mais uma vez que nossas investigaçóes estratigráficas e tectônicas, executadas no "campo7' não compro- varam diastrofismos posteriores ao primitivo capazes de metamor- fizar regionalmente as rochas arqueanas, como tem sido sugerido, não obstante a contradição de que "os estudos sistematizados sobre o nosso Arqueano estão por se fazer" 59

As diversas granitizações sugeridas não foram comprovadas com testemunhos de campo A não ser em pequenos veios de gra- nitos sódicos, raramente vistos nos contornos da baía da Guanabara, nenhuma intrusão granítica veio afetar visivelmente o metamor- fismo regional além do possante batólito primitivo. Nenhuma prova foi ainda apresentada de que o metamorfismo dos gnaisses secun- dários seja devido a diversas espécies de granito

A rocha que sempre aflora no Distrito Federal é um gianitito com notável porcentagem de microclina, além de biotita e quartzo, pouco oligoclásio e, como elementos acessórios mais conspícuos, apatita, zircsnita e magnetita. A sua granulaçáo vai da média a equigranular .

Nos contactos da massa batolítica com o protognaisse, comu- mente aparecem misturas indiferenciáveis das duas rochas. os "migmatitos" .

Acima desta zona migmatítica, em geral é visto um gnaisse intermediário e fitado. Revela o microscópio ser esta rocha cons- tituída de faixas escuras de protognaisse, intercaladas de bandas claras de elementos graníticos - quartzo e microclina injetados Classificamo-lo como "gnaisse-granítico".

Esta rocha é disseminada vastamente. Distingue-a quase sem- pre a textura fitada, que pode entretanto passar a granitóide por alargamento das bandas claras e menor xistosidade poi esmaga- mentos intensos. Êsse tipo de gnaisse, conseqüentemente varia para subtipoa de facies mais ou menos características como o gnaisse-granítico biotítico, o gnaisse-granítico leptinítico ou mes- mo o gnaisse-granítico lenticular, podendo naturalmente passar a

BARBOSA, Otávio: Obr cit , pág 86 ''1 LAMEGO, Alberto Ribeiio: Sobre utna Critica à Teoiia d o Protog7iaisse

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verdadeiros leptinitos quando submetidos a violentas perturbações diastróficas, ou ao biotita-gnaisse e ao lenticular.

Os gnaisses-graníticos são portanto rochas intermediárias, de classificação anteriormente impossível pelos simples processos de petrografia de gabinete, mas que se tornam hoje fáceis de imediata especificacão dada a sua indiscutível procedência do protognaisse e do granito.

Note-se de passagem que um dos fenômenos mais caracterís- ticos da atuaçáo da massa batolítica sobre o gnaisse primitivo - quase sempre perceptível mesmo em casos de mais intensa diges- tão da rocha primitiva pelo granito -, é a persistência de agru- pamentos de plagioclásio do protognaisse, distinguíveis ao micros- cópio até em lâminas de rochas completamente alteradas, em manchas esparsas de um mosaico nebuloso.

A seguir h á os "leptinitos". Sobre a incerta petrogênese destas rochas chocaram-se opiniões das ma,is contraditórias denunciando sempre a controvérsia dos petrógrafos .

Segundo a teoria do Protognaisse derivam êles do protognaisse que, "sob intensas ações dinâmicas e magmáticas, evolve por sua vez para um tipo leucocrático, com crescente acidificação, destrui- cão do plagioclásio e substituicão dêste por elementos potás- sicos". G1

A evolução da rocha é clara, embora exigindo um trabalho correlativo minucioso entre as amostras colhidas no campo e o exame microscópico. O fenômeno da leptinitização do protognaisse, dos mais fundamentais para a petrologia brasileira, pode ser acompanhado desde as zonas de menor intensificação dínamo- -metamórfica onde começa a destruição da biotita, a destruicão e milonitização do plagioclásio com formação de nébulas, a forma- cão de silimanita e de granada, e, par vêzes, mirmequitização no- tável, até os mais perfeitos e belos tipos da rocha branca e de grã uniforme comumente pintalgada de granadas, como a do morro do Cavalo em Icaraí, ou a da pedreira da Glória, no Distrito Federal.

A mais perfeita sequência de subtipos que sucessivamente se entrosam ao protognaisse pode ser vista na margem oriental da Guanabara, em São Gançalo, numa faixa montuosa e desabitada, quase sempre apenas accessível através de trilhas de pouco trân- sito e que vem de Colubandê As proximidades do Barreto Para quem se der a fadiga de percorrê-la colhendo amostras bem lo- calizadas e posteriormente analisando-as ao microscópio, a origem da racha é de insofismável evidência.

Continuando a subir pela coluna, temos o gnaisse-Zenticular, ou facoidal. O augen-gneZss dos geólogos alemães, com suas gran- des lentes feldspáticas. É a rocha do Pão de Acúcar e da maioria

6' LaMEco, Albeito Ribeiro Teolia do P~otog?raisse , pág 40

- 3 -

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das belas escarpas do Rio de Janeiro, entre as quais destacaremos ainda como constituídas quase exclusivamente dêste gnaisse, a Urca e a Babilônia, Cabritos, Dois Irmãos, todo o soclo da Gávee e o pico do Corcovado.

Os seus afloramentos parecem limitar-se às zonas de fortes dobramentos da orla oceânica e na vizinhança do batólito.

As suas relações com o protognaisse de mais difícil verificaqao, é contudo bem nítida em certos pontos, notadamente em Joatinga, na base da Gávea, onde vemos a racha originada de injecões peg- matíticas. Os veios, estrangulando-se entre as camadas de mica do gnaisse primitivo, seccionam-se em rosários de lentes. As lentes são de ortósio, geralmente pertítico, e de microclina. A massa CPPÇ- talina que as envolve, apresenta em condições rniloníticas os mP- nerais constituintes da rocha primitiva. De quando em vez, nwma irretorquivel indicação de sua origem, o gnaisse da Gávea apr'e- senta ao microscópio xenolitos de protognaisse, com seu mosaico feldspático característico.

A rocha foi originada na base das camadas micáceas do bito- tita-gnaisse superior, mas acima da zona de contacto mais die-ets com o granito, onde surgiram os migmatitos, os gnaisse-granítlcss e os leptinitos. Encontra-se na zona média, atingida pelos veios pegmatíticos, e a sua formação limitada, como vimos, as zonas de grandes dobramentos que permitiram com a movimentacão das camadas a penetração em rosário de lentes do material feldspátiês dos referidos veios, é dêste modo explicada.

O gnaisse lenticular provém de um metamorfismo de injecãa ligado a um violento dínamo-metamorfismo.

No topo da série temos o biotita-gnaisse também denominado gnaisse cinzento, designação que não adotamos por imprecisa, podendo induzir a confusões com outros tipos de coloração seme- lhante. Ali, embora a rocha fosse em muitas lugares violentamen- te castigada de plicaturas, não foi ela atingida pela zona média dos esquizolitos, ou veios projetados da massa granítica, onde se cristalizam a mica e o feldspato. Apenas os veios de quartzo ali che- garam, tendo-se esgotado em zonas mais profundas os outros agen- tes mineralizadores, devido as leis de fusibilidade e cristaIiza@ão Daí a intensa silicificação do biotita-gnaisse, no qual tão comu- mente se intercalam entre as camadas escuras os veios de quartzo

A rocha é, comumente, bem larninada, e a presença dos veios de quartzo intercalados em geral lhe dá um aspecto fitado. Ocorrência notável, neste gnaisse, à qual os petrógrafos nunca prestaram a devida atenção, é a abundância de fenocristais de oligoclásio-andesita, ou mesmo plagioclásio do protognaisse . Nos tipos em que menos atuou o metamorfismo de pressão e de injecãs o tamanho e a disposição dêsses cristais são quase idênticos aos da rocha primitiva, sendo que, nestas zonas, a principal diferen~a

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macroscópica entre as duas rochas é a maios xistosidade do gnaisse superior. Ao microscópio podem-se contudo ver num paralelo com os gnaisses graníticos as faixas tipicamente inconfundíveis de plagi~clásio e mica do protognaisse entre as camadas de quartzo e microclina injetados .

Em regiões de maior intensidade diastrófica os elementos gra- níticos acentuam-se, bem como todos os fenômenos metamósficos originadores do tipo#. Entretanto, raros são os casos em que a tex- tura primitiva e mais ou menos idiomórfica dos cristais de plagio- clhio evanesce, e mesmo nestas ocorrências, a ligacão estratigrá- fica a outras zonas da mesma rocha menos perturbada, comprova sempre a sua derivação do protognaisse.

Entre os minerais acessórios mais comuns nesta rocha, salien- ta-se a silimanita, cuja ocorrência tem sido abusivamente inter- pretada pelos petrógrafos como proveniente de um excesso de alu- mina provando a sua origem sedimentar. A silimanita não existe no protognaisse, sendo mais comum nos leptinitos que dela estão repletos. Mas de todas as rochas do sistema que estudamos, a mais rica em alumina é justamente o protognaisse e a mais pobre o leptinito.

A silimanita não favorece a hipótese sedimentar, reforcands contràriamente a origem magmática . ROSENBUSH entre outros comprova a origem da silimanita no ortognaisse, "proveniente do esmagamento de lâminas de biotita" . 62

A opinião de tamanha autoridade clássica que justamente ini- ciou seus estudos de petrografia no Rio de Janeiro, anula de vez a suposta gênese sedimentar das nossas rochas, fundamentando-a na presença do mineral. Ao microscópio temos inúmeras vêzes observado o aparecimento da silimanita que surge da decompo- sição de cristais de mica ferromagnesiana.

Têm os petrógrafos considerado certas rocl~as do Arqueano como quartzitos. Em amo,stras colhidas no Distrito Federal, nota- -se, entretanto a presença de feldspatos, biotita e abundância de silimanita. Sáo essas rochas quase sempre ligadas ao biotita-gnais- se, e êste, muita vez injetado de camadas de quartzo, a ponto de se tornar quartzítico. Os referidos quartzitos parecem dêsse modo se filiarem ao biotita-gnaisse, por uma invasáo quase total das camadas pelo quartzo, que, com a destruição dos minerais pii- mitivos, substituiu-os na rocha metamorfizada, sugeríndo a de- signação de "gnaisse quartzítico" .

Outra variedade desta racha do andar superior é o denomi- nado "gnaisse de Ipanema", subtipo explorado na pedreira da face meridional do morro do Cantagalo, entre os bairros decopacabana e de Ipanema. O gnaisse é quase negro e de grã finíssima. Ao microscópio nota-se ter ela sofrido milonitização intensissima e ao

O2 ROSENBUSH, Wulfing: Mik?oscopische Phgsiographie, Stu t tga~ t , 1927. pág 319

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mesmo tempo injeções de quartzo. A mica foi completamente destruída e os restantes minerais essenciais esmagados Como produtos da decomposição da mica, observam-se alinhamentos de cristais de silimanita e de magnetita. A abundância dêste mineral é que dá A. rocha a sua cor cinzento-escura o.u negra. A,silimanita ocorre de maneira idêntica a dos gnaisses-quartzíticos

A ligação entre as duas rochas é mais que evidente na avenida Nieméier, logo em seu início próximo a praia do Leblon. Impor- tantes afloramentos de arnbas estas rochas - a quartzítica e a do subtipo Ipanema -, fazem parte do mesmo sinclinal de biotita- -gnaisse que atravessa de lado a lado o morro dos Dois Irmãos, cuja estrutura adiante explanaremos. A rocha na escarpa seten- trional é o biotita-gnaisse, mas, devido aos enormes esforços que sofreu n a compressão do sinclinal, passa gradualmente aos seus dois subtipos ao longo da encosta marítima. Esta prova estrati- zráfica decisiva, anula quaisquer pretensões de se considerar o gnaisse quartzítico e o gnaisse de Ipanema como rochas sedimen- tares Ambos são estreitamente aparentados entre si numa direta f iliação ao biotita-gnaisse .

Restam os três tipos menos comuns que avulsamente apare- cem

O gnaisse "quartzo-monzonítico" tem a textura quase idêntica a do lenticular, sendo apenas mais negro e esverdead~o tornando-se porém mais claro e com as lentes de um brilho nacarado ao ser lavado pelo mar. Além de plagioclásio, ortósio, e quartzo, nêle se nota invariavelmente a presença de hiperstênio. Por vêzes tem aparência intrusiva, mas a sua gradação horizontal ao gnaisse lenticular é bem visível na rua Saint-Romain em Copacabana. Julgamo-la pois procedente de pequenas variações locais e básicas na massa do protognaisse.

Os "gnaisses dioríticos7', abundantes em certas regiões do vale do Paraíba, como na zona de Barra Mansa, onde seus afloramentos têm às vêzes caráter regional, apresentam-se quase sempre com a mesma textura e composição do gnaisse fundamental, distinguin- do-se porém pela presença de hornblenda. A sua concordância e intercalação com os outros elementos da série indicam pois a mesma origem, sendo a formação de hornblenda explicável pela emigração de produtos catamórficos oriundos da destruição dos minerais essenciais do protognaisse nas camadas inferiores, ao se formarem os leptinitos. Com a destruição da biotita e o conse- qüente aparecimento de silimanita, são igualmente libertados elementos alumino-ferro-magnesianos. Partes dêstes produtos se unem aos elgmentos cálcicos, sódicos e potassicos dos plagioclá- sios contemporâneamente destruídos, indo cristalizar-se nas ca- madas superiores sob a forma de hornblenda, a qual pode também ocorrer como produto secundário da granada, que, fornada por processo semelhante pode por sua vez ser de novo decomposta.

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Frisamos a abundância dêsse tipo de rochas na cordilheira dos Andes, o que parece comprovar a sua origem. Mencionamos também outra notável ocorrência testemunhando as nossas de- duções. É o caso da constante presença de horblenda-gnaisse e de anfibolitos granatíferos justamente em toda a volta da grande área de leptinitos da Lapônia, citados por MIKKOLA. 63

Temos afinal os "dolomitos", que embora não apareçam no Distrito Federal, são argumento apresentado pelos geólogos de gabinete, - como a da silimanita que já destruímos -, em favor da arigem sedimei~tar do Arqueano.

Mas a petrologia que não admitia a formação de calcários por processos magmáticos endógenos, teve de o fazer em face dos car- bonatitos. E assim, com mais razão tem base o nosso parecer de que êsses calcários não provêm diretamente da cristalização de um magma, mas sim, como acima expusemos para a formação dos gnaisses dioríticos, da subida de produtos oriundos da destruição em massa dos elementos cristalinos fundamentais da rocha pri- mitiva em suas camadas mais profundas. Um excesso de produtos cálcicos e magnesianos trazidos em solução hidrotermal, "depo- sitou-se" em lentes dolomíticas "entre as altas camadas tipica- mente magmaticas" do gnaisse da cordilheira. A posição altimé- trica dessas forma~ões jamais encontradas entre as camadas inferiores fortalece a dedução, e ainda em testemunho da provável migração de calcário, rochas basais da série denunciam por trata- mento ácido a presença de carbonatos provenientes da decompo- sição parcial dos plagioclásios . Poderemos também adicionar que a variabilidade do teor em magnésia nestas rochas, por vêzes bem alto e por outras reduzido, parece igualmente contrariar a hipótese sedimentar, visto que são todas da mesma idade e originadas por processos idênticos.

O maior óbice a teoria parece, pois removido, com a formacão dos dolomitos diretamente ligada ao problema da leptinitização do protognaisse, mormente quando sabemos existirem massas in- trusivas de calcários, como no caso dos carbonatitos.

Podemos, dessa maneira, enunciar as seguintes conclusões-

"1 - Os leptinitas do chamado Complexo Arqueano Brasilei- ro, nos inúmeros pontos até hoje observados, não são mais do que um produto anamórfico de intensas ações dinâmicas e de injeções mineralizadoras de um magma granítico sobre um pla- gioclásio-gnaisse do tipo Engenho Nôvo, com destruição que pode ser total da biotita e crescente milonitização do plagioclásio.

2 - A mesma origem é indicada para os outros tipos de gnaisse do Complexo, cujas diferenciacões são devidas ao maior ou menor

'I3 M IKKOLA, Erkki: On t7ze Plzysiography uns$ Late-Glacial Deposits i ? ~ Noithern Lapland Bul de la Soc de Finlande, n o 96; Helsingfois, 1932, pág 9

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afastamento do magma e às variações de intensidade do dínamo- -metâmorfismo . Nos tipos melanocráticos é insignificante a des- truição da biotita e o plagioclásio é menos decomposto e mais conservado em fenocristais, devido à menor intensidade dos agentes metamórficos . " G4

A teoria explica assim, de maneira simples, a gênese dos gnaisses do Distrito Federal, como provenientes de uma única rocha, um plagioclásio-gnaisse que pela tabela de valores de NIGGLI provém de um magma quartzo-diorítico. E é interessante notar que, conforme DALY que se baseia em milhares de análises de rochas em todo o Globo, a "rocha-média" da crosta terrestre apro- xima-se pela composição química de um diorito ou andesito.

Como teoria poderá ela ser contestada por sua simplicidade. Mas dentro da ética profissional, tal contestação só poderá ser feita com pesquisa paralelamente idêntica, isto é, com minu- ciosa exame estratigráfico das formações visando a execucão de secções geológicas pormenorizadas, nas quais a análise petrográfica microscópica seja efetuada gradativamente de camada a camada através da série, com o sincero objetivo de verificar se existem entro as rochas sucessivas relações petrogenéticas .

Eruptivas alcalinas

Além das rochas primitivas que acabamos de mostrar, dois outros grupos merecem atenqão especial nos estudos petrográficos da zona da baía de Guanabara.

Um dêles é o das eruptivas básicas, cuja importante ligação a fenômenos tectônicos e cuja interferência no relevo nos levam a retardar a sua apresentação para quando expusermos a geomor- fologia.

Outro, mais interessante para o petrógrafo, é o das rochas alcalinas cujos afloramentos regionais se notabilizam pela varie- dade das espécies. C J

DERBY foi O primeiro a cartografar um dêsses centros erupti- vos nos limites setentrionais do recôncavo com a serra do Mar,

LAMEGO, Alberto Ribeiro: Teoria do Protogiaaisse, p 60 Paia rapidamente compreendeimos a complexidade petiológica .do problema, bastar

-nos a seguinte tianscrição: "Tanto no maciço de Jeiicinó quanto no do Tingua. dêle distante 30 quilômetros, é imp~essionante a variabilidade de textuia e de com- posição mineralógica das rochas ligadas ao mapma nefelínico 0s tipos mais fre- quentes são da família dos eleolito-sienito-foiaitos, por vêzes muitos iicos em eleolita cinzenta ou rósea, passando pela diminuição de feldspatóide a laiviquito e solvsbergito, e, pela aquisição de feldspatóide sódico, a sodalita-nefelita-sienito; nefelina-sienito-peg- matito, nefelita-aplito, tinguaíto, (com textura panidiomóffica), sodalita-tinguaíto, nefe- liiia-sienito-pórfiro, larviquito-pórfiro, fonolito e queietofi~o. Família dos malignitos, malignito e nefelinamii~ete Família dos essexistos-essexito (Guaratiba) ". (AVELINO I DE OLIVEZM e OTHON LEONARDOS: Geologia do Brasil, 2 a e d , pág. 496)

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- o do maciço do Tinguá - em trabalho que marcou época nos anais da Petrografia. 66

Não sendo wsso objetivo neste livro embrenharmo-nos em assunto tão complexo e especializado como a petrogênese dessas rochas, sobre a qual já divulgamos parecer 67 passaremos apenas a reratar alguns dos afloramentos mais conspícuos na região inte- ressada no presente estudo.

Na Carta GeoMgica do Distrito Federal do professor EVERARDD BACXHEUSER, vemos pela primeira vez, a localidação dêsses aflora- rnentos alcalinos nas vizinhanças da baía de Guanabara, diferen- ciados pelo autor em três principais espécies petrográficas: duas efiasivas, a dos mendanhitos e a dos fonolitos, e uma plutônica, a dos sienitos nefelini,cos .

S6bre as primeiras, localizadas na base meridional da serra do Mendanha, já nos externamos, não podendo aceitar o batismo de urna nova espécie - o mendanhito -, visto que os nossos estu- dos de campo nos levaram a considerá-la como insignificantes di- ferenciações locais do próprio fonolito . ca

Quanto a esta rocha, além de numerosos pequenos afloramen- tos cartografados em manchas geralmente circulares - como a indicarem bossas intrusivas -, exposições de maior vulto apare- cem na base da serra do Mendanha e no seu prolongamento para oeste, onde o espigão divisor entre os rios da Prata do Mendanha e s Quandu do Sapê é quase todo em fonolito. Outros conspícuos afloramentos são também indicados em torno do morro do Qui- tunga e em Paciência.

Q mapa dá-nos como ocorrência principal da terceira espécie - os sienitos nefelínicos -, quase todo o morro do Marapicu e grande faixa da vertente oriental da serra de Jericinó, onde estas rochas predominam sobre os fonolitos .

Nos estudos de campo que efetuamos n a face carioca dêste pequeno serrote, há divergências com o primitivo mapa de BACK- BEUSER, que entretanto não o desmerecem, visto representar êle não sòrnente um grande esfôrco para o tempo em que foi feito, como também ter sido o primeiro a nos permitir um golpe de vista geral sobre a geologia do Distrito Federal.

Concordamos plenamente sobre o morro do Marapicu, quase que só de foiaítos que ali formam uma grande bossa. Êstes aflo- ramentos reaparecem na extremidade do espigão. entre os rios da Prata do Mendanha e a Guandu do Sapê, e, mais ao norte, n a aba da serra de Jericinó, nas nascentes do Guandu do Sena

D E R B ~ , Oiville A : O n Nepheline Rocks in Btazi l Quait Joiir of the Geol S O C , sgôsto de 1887 e maio de 1891

'" LAMEGO, Alberto Ribeiio: O H o m e m e a Restinga "': LAMEGO, A Ribeiio: O maciço do Itatiaia e regiões c i rcu?~dantes Bol n O 88 do

Serv Geol e Min , nota à pág 19

Page 51: O Homem e a Guanabara

As exposicões de fonolitos são porém bem raras, e, longe de apresentarem derrames ou bossas apreciáveis, limitam-se em geral a poucas áreas isoladas, quando não afloram sob a forma de pe- quenos diques.

A mais importante ocorrência destas rochas alcalinas a revelar é todavia a dos altos do rnacico. A sua descoberta nada teria de notável, não fossem os tipos petrográficos e a natureza do aflora- mento É que êstes, no alto da serra e a oeste do morro do Guandu, ocupam uma área circular de mais de quilômetro de diâmetro e a rocha aJi dominante é um tu fo vulcânico com bombas

De uma segunda viagem que fizemos ao local em companhia dos professôres VITOR LEINZ, ALCIDES FRANCO e OLIVEIROS LEONARDOS, colheram-se amostras, confirmando-se a nossa hipótese de se tratar de uma típica chaminé vulcânica, repetindo-se nesta região o caso do Tinguá, por DERBY desc

r

ito. A reprêsa das nascentes do Guandu do Sapê situa-se em plena

chaminé, sendo fácil atingi-la por excelente estrada de rodagem que nos conduz a um dos mais aprazíveis e menos conhecidos ce- nários rupestres da terra carioca, refrescado pela altitude, por abundante vegetaqão florestal e por lindíssimas piscinas naturais no rio encachoeirado .

Uma Última objecão é de que a rocha regional da serra do Men- danha não é o gnaisse cinzento - biotita-gnaisse -, em sua parte ocidental, nem o granito na oriental que inclui as vertentes do Jericinó, mas sim um gnaisse-graníticu semelhante ao das pe- dreiras de Bangu, onde a rocha resultou de um metamorfismo de contacto, procedente da atuação direta de grandes bossas gra- níticas do batólito sobre a primitiva capa de protognaisse.

13 esta aliás a conformação geológica regional entre o macico da Pedra Branca e a serra do Mendanha, onde a topografia é definida por várias séries de pequenos serrotes, nos quais se elevam bossas graníticas marginadas por faixas de gnaisses graníticos nas encostas. Tais por exemplo, entre outros, as morros do Qui- tungo, do Taquaral, dos Coqueiros, do Retiro, do Santíssimo e do Lameirão, êste último já na subida para o pico da Pedra Branca, ponto culminante do Distrito Federal com 1 024 metros, no topo de um maciço granítico, em cujas abas meridionais fronteiras a planície de Jacarepaguá, aflora um granito fluida1 e poifiróide, fácil de confundir-se por inexperiência com o gnaisse lenticular.

Convém notar que, fora da serra da Carioca e de seus partidos contrafortes, tanto o gnaisse lenticular quanto o biotita-gnaisse só voltam a predominar n a geologia carioca exatamente na extie- midade oposta do Distrito, em toda a série de colinas baixas ra- mificadas pelas planícies de aluvião, de Santa Cruz as margens do Guandu-Mirim .

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Passando a margem oriental da Guanabara, observa-se também dêsse lado a presença do magma alcalino, embora menos visível que na margem oposta.

OTHON LEORNADOS diz que, em "Alcântara, Sacramento e em outros pontos do município de São Gonçalo afloram, principal- mente fonolito e toleíto" e nós mesmos, além da localização de um veio de queratófiro na fazenda de Itaitindiba, próxima a Santa Isabel, na Estrada de Ferro Maricá, já cartografamos um veio de granito-sódico em Pendotiba, no caminho para o morro do Canta- galo, o qual embora insignificante, é de suma importância para a determinação da idade da intrusão, visto que êsse veio corta um possante dique de diabasito, sendo portanto posterior a intiusão do magma ferro-magnesiano .

Numerosas outras ocorrências do magma alcalino devem exis- tir em veios, quer nesta margem, quer na ocidental, sobretudo nas redondezas do maciço Marapicu-Mendanha-Jericinó, foco vulcâ- nico central dessas rochas eruptivas alcalinas, cujos aflorarnentos em Rio Bonito, Barra de São João e Cabo Frio, revelam a subterrâ- nea presença do magma sob considerável superfície dêsse trecho litorâneo

3. ESTRATIGRAFIA E TECTÔNICA

"Náo é necessário ser geólogo ou mineiro pala apreciar a importância filosófica de reconstitui- cóes, que nos mostram, como um cinema, o nas- cimento, a vida e a desapariçáo das poderosas saliências montanhosas, onde os antigos viam corpos de Titáes fulminados. Sob todos os pontos de vista, a Geologia nos faz tocar com o dedo essa instabilidade, êsse caráter provisório e pre- cário do nosso pequeno planêta, êste incessante evanescimento das suas mais estáveis aparências que espantam o orgulho humano. Ela impõe as- sim aos insignificantes incidentes de nossa po- lítica ou de nossa vida social e econõmica, da qual a Terra é o teatro indiferente, êsse recuo no tempo e no espaco, sem os quats seríamos tentados a lhes atribuir lima importância des- proprcionada".

L. DE LAUNAY: Oùr cit. pág. 32

"E comecemos do Pão de Acúcar "

GABRIEL SOARES: "Tratado Descritivo do Brasil". 3 a e d , Rio, 1933, pag 89.

Para compreensão da acidentada geornorfologia da baía de Guanabara, teremcls de sover-nos por 'etapas. A exposição que terminamos foi a primeira, na qual estudando a natureza das ro- chas e a sua origem, aprontamo-nos para a seguinte, onde veremos os tectonismos que elevaram as formações numa estrutura peculiar que, posteriormente trabalhada por agentes erosivos, deu-nos por uma lenta evolução as famosas paisagens da grande baía.

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Em sua margem ocidental, no Rio de Janeiro, essa estrutura é tão concisamente definida por uma série de enrugamentos simi- lares e sucessivos agrupados ao redor de um hemidomo que o seu estudo nos oferece raro exemplo de uma tal composição.

Fácil é desvendar essa disposição estrutural. Mas para isso teremos de partir do ponto exato onde ela mais se nos revela, exibindo-se aos olhares dos geólogos com uma evidência de clareza ii~dubitável .

É nítida a exibição dêsse fenômeno estratigráfico exposto cla- ramente sobre a face do Pão de Açúcar, e que sucessivamente se repete nos demais penedos.

Para compreendermos, entretanto, a estratigrafia e a tectô- nica do Distrito Federal, devemos grupá-las em séries de morros intimamente relacionados entre si .

GRUPO DO PÃO DE ACÚCAR

O Pão de Açúcar

Dos morros do Rio de Janeiro, sendo o Pão de Açúcar mundialmente conhecido, admira não ter sido escrutado por olhares de estratígrafos, pois a sua estrutura pode mesmo ser fotografada.

A pouca atencão dada ao notável penedo pelos geólogos, talvez nascesse de uma falsa representa~áo de sua petrografia nos mapas da geologia local. Assim, o morro Cara de Cão, dado como inteiriço de gnaisse lenticular, em quase metade é composto de biotita-gnaisse, sendo que uma das suas melhores exposições no Rio de Janeiro é a do velho forte de São João que nela firma as grossas muralhas em camadas dessa rocha bem listada.

Em suas proximidades e no caminho do "Pegão", há igual- mente um dos melhores afloramentos da variedade quartzítica, cuja clecomposição deu origem a uma gruta.

Quanto ao Pão de Açúcar, sempre foi também representado como um bloco maciço de gnaisse lenticular. Ao observarmos porém a sua verdadeira estrutura que visivelmente apresenta o morro como o fragmento de uma dobra deitada, suspeitamos da exis- tência. do gnaisse superior, na base de sua estreita escarpa de oeste, e, uma subida ao local comprovou a nossa dedução.

A descoberta desta ruga e dos testemunhos de biotita-gnaisse, foi-nos decisiva para a o,rientação das demais pesquisas sobre as escarpas do Rio de Janeiro, quer em referência a sua estratigrafia, que à sua morfogênese. Buscando efetivamente a base de outras escarpas, várias vêzes encontramos êsse gnaisse superior no mes- mo encaixamento, e, em tal. relação com a estratigrafia que uma idêntica repeticão de rugas se tornou logo manifesta.

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I Fi ' -- G~lriilrrra nrtilrioira d o PCo (Ir ACrrrar srnirlirlo A. R. LAMEGO. O ui iai~sr lr?i liriiinr. c r i ,. ,.*isriii r vinirrtriiririr t i ~ a n u o o ~ ?icqiiiat rtor P q ~ i e c o ~ ~ s t i t ~ i ~ C I I I S I ~ C todo O 3~iorro. 1.7 ; . iiiiiii viirtmFiiial ii irla prq~ct.ila wnsm tlr hiotita-unaissc. R d P rti?tjiiii to ~ s t r i r l irrnl

r -:os roclias r I iliiro ciii ii?lrilPrnsov ?riorrr:?i 30 R i o d~ JUltef~O. tor~in?tdo-$r I17170 nri- ' . C rirlr r i t r n t f g ~ r i l i c n n Irctoiitca loral. N O [ & : Os pcgiiiatitop loraiit rrJuryatIor riii

Jirni~r-ri iin !o lovr~! ta , pura ?iir?iíor E O ~ ~ P ~ P P I I S ( ~ C I .

(Do llvro do nutor: Escarpas d o Rio de J ~ n c i r o . Rio, 1938)

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Fig. 6 - Corte çiraiasr- -r(?inrt:itico na cineni::; X ~ ~ ! l l l ( i l ~ f .

FOTO A E LAUf(:ol

Fig. 7 - Gruta pr6::ma ac jorte de Sho Joüo, no niorro Cclra d e CBo, O r i g i ~ i u d a pelo desn, orona- melito d o gs~lai$se quartzitico Cc- composto. Note-se contacto desta ~oclaa com o griaisse lenttiuhr da parte ir i jrriur d o pamddo.

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Fie S - A entrada da Guanabara entre a Fortaleza d e Santa Cruz e o Páo de Acirrar, vista da ilha da Boa Vzagem Ao fundo a ilha da Cotunduba.

(Fo to A R LAMEGO)

Fig. 9 - A escarpa sul d o Páo de Açúcar, vista d e leste, vendo-se u m a lasca de esfoliacão, e n o mar boulders resultantes d o descascamento.

(V ide fig. 40)

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&,,AIS IENTICULAR ~ S ~ C T I T A GNAIS ~ J A R T E N Á R I O [_grl BASAL' - s : ---.- DI REÇÃO DAS FPATU RAS

GEOLOGIA DO MACIÇO URCA-PÃO DEAÇUCAR PELO ENGOALBERTO R. LAM EGO . 30 . ) t 5 a-

Fi:. 10 - CÍer,Tcigia CJc: ? ? I ( I C . ~ C O ú-rc<l-P(iTi d e A$. i Í ( .c i ( .

, D o ;i:.!o rio :tiitoi,: E . r f : , / i i ! e r10 Rici cle ./ . . , Fiii;

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GNAISSE L E N T I C U L A R B I O T I T A G N A I S S E

Fig 11 - Est7atigrafia cla Urca, nm plaia Ve?inellta, sey~rndo A R LAMEGO

Fig 12 - CompEexo estratigrufico e tectônico do grupo Urca-PÜo cie Açitcar, segu?ado A R LAMEGO

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Fig. 14 - Secçdo geológica através do morro da BabilBnia.

(Do livro do autor: Escarpas do Rio de Janeiro)

Fig. 15 - O morro dos Cabritos, visto da lagoa Rodrigo de Freitas. A direita, a escafpa do Cantagalo. A abertura entre os dois morros coincide com um sznclinal de biotita-

-gnaisse. (Foto A. R. Laramo)

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Fig. 16 - A escarpa sul do Corcovado, vista de leste.

I Fig. 17 - A escarpa sul do Corcovado vista de frente. A sua parte inferior é de leptinito, e o tôpo de anaisse Zenticular. No- tem-se as-juntas devidas ao tec- tonismo orogêntco, e que onentam o descascamento na f o r m a ç ã odo paredão

(Foto A. R . LAMEGO)

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Fig. 24 - O pica da Tfjuca.

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Flg. 28 - O morro de Dona Marta, no eztremo do serrote do Corcovado, todo em leptinito.

(Foto A. R. LAMIGO)

Fig. 29 - A escarpa do morro da Nova-Sintra, originada por descascamento orientado por clivagem tectônica.

(Foto A. R. LAMEGO)

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No Pão de Açúcar pode-se claramente observar a estrutura visível pela inter'calação de veios pegmatíticos entre as camadas do gnaisse lenticular, prova de que a origem dêste gnaisse ligada indiscutivelmente aqueles veios, ocorreu no início do enruga- mento necessário à penetração e disposição do feldspato injetado em lentes/ Logo depois, na fase final do movimento, cessou a - subida dos pegmatitos, pois de outro modo teriam cortado trans- versalmente as camadas, obliterando a notável estrutura tão ex- celentemente conservada. Por idênticos motivos é impossível admitir quaisquer outras perturbações metomórficas no Pão de Açúcar decorrentes de supostos diastrofismos posteriores, visto que resquícios indeléveis de tais movimentos seriam observados quer na textura e composição das rochas, quer em sensíveis alteracões na própria disposição das camadas de tão singela dobra.

Prova isto mais uma vez o terreno falso em que pisam os petrógrafos restritos a meras observações de gabinete, e a visiona- rem tão formidáveis movimentos da crosta terrestre em f enbinenos cristalográficos fora de seu alcance pela ausência de investigacões objetivas no campo

Urca, L e m e e Babilônia --

De maneira idêntica à do Pão de Açúcar, o penedo da Urca aparentemente se apresenta como um bloco maciço de gnaisse lenticular que mergulha de modo geral para o sul em sua encosta da Guanabara, mas que na esplanada do alto passa a mergulhar para a pequena enseada da Praia Vermelha.

Um tanto mais complexa que a precedente, a estrutura da Urca, entretanto, a um atento e minucioso serviço de campo, apre- senta-se-nos com sua estratigrafia intimamente unida à do Pão de Açúcar, não obstante torcimentos algum tanto perturbadores. O morro foi talhado na segunda plicatura do grupo, deitada como a primeira, vendo-se ainda na base de sua escarpa da Praia Ver- melha testemunhos de biotita-gnaisse encaixados em fundas de um primitivo sinclinal .

Esta rocha, porém não constitui como no Pão de Açúcar um simples afloramento . Da massa principal destaca-se na escarpa uma estreita faixa do gnaisse superior que, subindo para os lados de Botafogo, torna porém a descer ao longo das escarpas seten- trionais do morro. Pode ser ela vista na lombada que descai para os fundos do Cassino da Urca. Daí por diante sendo constantemen- te localizada ao longo da avenida São Sebastião, reduz-se muito em espessura e a tal ponto é estrangulada que as suas lâminas amarrotadas e polidas por alisamentos - slickensides -, não têm mergulhos definidos, enquanto as camadas encaixantes do lenti- cular conservam a sua estrutura inalterada. Nos fins da referida avenida, o biotita-gnaisse desaparece, recoberto por solo residual.

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Na estratigrafia da Urca verifica-se dêste modo uma cunha, espécie de falha-dobra secundária contemporânea do enrugamento principal. Quaisquer conjecturas de um posterior diastrofismo responsável por esta cunha, são inaceitáveis por motivos idênticos aos do Pão de Açúcar.

Passando ao lado oceânico, nota-se, paralelamente ao grupo Una-Pão de Açúcar o Leme-Babilônia que se prolonga para oeste, pelo morro de São João. Idênticas formaçóes e mergulhos revelam intima relação estrutural entre os dois grupos.

No Leme, próximo à entrada do forte e onde terminam as areias de Copacabana, o biotita-gnaisse encaixa-se com mergulho forte entre o gnaisse lenticular dêste morro e o da Babilônia, encurvando-se daí a direção das camadas num arco dirigido para as proximidades da praia do Anel. Entre o morro da Babilônia e o de São João, outra faixa do gnaisse superior foi localizada sobre o Túnel Novo. Do lado de Copacabana suas camadas mergulham sob a escarpa do Babilônia, sendo visíveis nos fundos de casas da rua Princesa Isabel. Do lado de Botafogo nota-se no corte da rua Carlos Peixoto, por trás da matriz de Santa Teresinha, a perfeita estrutura dessas camadas, dispostas em sinclinal.

Vimos ainda restos do biotita-gnaisse adiantando-se por êsse costado em direção à Urca, mas, atualmente os seus derradeiros testemunhos já desapareceram com a pedreira ali existente.

As cinco exposições do gnaisse superior nesta zona marítima abrangida pelos relevos do Babilônia ao Cara de Cão, e cuidadosa- mente cartografada, apresentam-se-nos pois sob os dados estrati- gráficos de centenas de mergulhos que medimos, como sòlidamente entrelaçados num conjunto orogênico bem distinto e caracterizado por seus dois enrugamentos paralelos, cujo estudo nos levou a descoberta da terceira dobra do sistema.

Viúva, Pasmado e São João

Fixando as extremidades do lindo arco da praia de Botafogo, os morros da Viúva e do Pasmado nunca aparentaram relações estratigráficas estreitas.

Desvendada porém a estrutura do conjunto precedente, co'm suas rugas e seus atuais afloramentos de biotita-gnaisse dispostos em curvaturas sinuosas, pelo exame da topografia surgiu-nos a idéia de que, ao ser repetida uma nova dessas faixas com a mes- ma disposição das já identificadas, impunha-se a ligação dêstes novos morros. Em tal caso, era quase provável a existência de testemunhos do gnaisse superior no morro da Viúva, em sua ex- tremidade onde se juntam a praia de Botafogo e a avenida Osvaldo Cruz.

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Indo ao local, verificamos ser o que sucede justamente nesse ponto, onde na base do morro, as camadas do biotita-gnaisse mer- gulham sob o gnaisse lenticular.

Por outro lado, na op0st;a terminal da praia, vê-se por trás do Hospital na encosta do Pasmado, uma conspícua faixa de giiaisse escuro, concordantemente encaixada na massa lenticular do morro. Fortes esmagamentos tor'ceram a rocha melanocrática, cujas ligações com o gnaisse em que se encaixa nunca foram esclarecidas, tendo-se mesmo explicado o seu aparecimento como um caso de especialização na massa gnáissica.

Ora, em verdade a rocha é um biotita-gnaisse, e olhando-se bem a localização exata dessa faixa num mapa geológico de pre- cisão, verifica-se que, fazendo-se concordar a sua extremidade próxima à baía com a oposta ocorrência da mesma rocha no morro da Viúva por uma curva semelhante a dos outros afloramentos apresentados, embora menos acentuada, ambas se reajustam numa terceira dobra. Os três enrugamentos aparecem pois de maneira nítida, notando-se curiosamente e numa perfeita concatenação, as suas curvaturas para sudeste entre os maciços Urca-Pão de Agúcar e Leme-Babilônia, para as duas primeiras dobras, e entre a Viúva e o Pasmado para a terceira.

A esta última plicatura pertence o morro de São João. Em- bora não tenha sido nêle encontrado o biotita-gnaisse, o fato é facilmente explicável.

Já vimos a ligação estratigráfica do morro ao segundo enru- gamento Urca-Babilônia, através da zona do Túnel Novo. Por outro lado, enquanto os testemunhos do gnaisse superior na base do morro da Viúva se encontram ao rés do chão, os do Pasmado já são vistos no alto da parte média do paredão. Quer isto dizer que, do mesmo modo que a segunda ruga subiu da Urca para a Babilônia, vindo passar sôbre o túnel e não na base da escarpa, elevou-se também assim a terceira dobra e as suas camadas internas ultrapassando a altitude do atual morro de São João já foram removidas.

A maior elevação dessa terceira dobra é aliás comprovada pelo aparecimento de rochas basais da série metarnórfica - leptinitos -, na base do morro de São João por todo o cemitério, de onde prosseguem aflorando ao pé do morro da Saudade até a lagoa Rodrigo de Freitas.

A unidade estratigráfica do São João e do Saudade é poís evidente, indo tornar-se relevante ao considerarmos que o último dêsses morros ligado ao dos Cabritos, vai-nos permitir em sequên- cia lógica relacionar a estrutura da primeiro grupo de morros à do segundo, que passaremos a descrever.

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Grupo do Corcovado

Arpoados, Cantagalo, Cabritos, Saudade, Corcovado, Formiga e Sumaré

Através desta série de morros o saudoso professor PAIS LEME elaborou secções geológicas, as quais, como frisamos, embora por demais localizadas, já esboçam a verdadeira estrutura das rochas do Rio de Janeiro.

Infelizmente, foram elas traçadas com escalas verticais e hori- zontais de tal maneira discordantes, que o mergulho natural das camadas "sofrendo enormes deformações" não lhe permitiu verifi- car a exata relação dos quatro primeiro relevos com o do Cor- covado.

Em secções geológicas locais de uma zona tão acidentada, é sempre necessário adotar-se a mesma escala vertical e horizontal Do contrário, sempre haverá grandes erros de visão conducentes a interpretações erradas, devido à representação inexata dos mergulhos.

A estratigrafia do segundo grupo, bem mais fácil que a do primeiro, necessita todavia de alguns preliminares explicativos de sua ligação aos três enrugamentos já descritos.

Mencionamos a união do grande penedo do Cabritos ao São João através do morro da Saudade. Na praia de Copacabana, porém, existem afloramentos que, relacionados à segunda ruga do Babilônia, também nos permitem prosseguir por êsse lado marí- timo através de nossas deduções.

Vemo-los junto ao Palace Hotel, no morro junto à piscina constituído de biotita-gnaisse. Por trás dêsse morro as mesmas rochas quase desaparecidas com as edificações da avenida Copa- pacabana e da rua Fernando Mendes, podem ser ainda vistas entre esta rua e a Inhangá, onde para alicerces de arranha-céus estão sendo atualmente cortados, e destruídos belos exemplos de contacto entre o biotita-gnaisse e o lenticulas.

Ambas estas rochas mergulham concordantemente no mar e a passagem de uma para outra conquanto ripida, efetuando-se apenas através de poucos metros, dá-nos uma prova indiscutível de que as duas rochas provêm da mesma matriz original, e que não são provenientes de sedimento de composiçáo diversa.

A carta geológica mostra-nos ser comprovadamente lógica a ligação que fizemos dêsses afloramentos de Copacabana ao sin- clinal do Túnel Novo. Prosseguindo-se para oeste porém, ao che- garmos ao segundo grupo de morros, essa relação torna-se mais

@ - A esses afloramentos já desapareceiam sob os novos edifícios (Nota da 2 e d ) .

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/

difícil, sendo porém provável que, entre as exposições indicadoras de seu prosseguimento, isto é, ao do sul do morro de Cantagalo e a que se nota entre êste e o dos Cabritos, a dobra do Túnel Nôvo liga-se ao último citado, sendo o chamado "gnaisse de Ipanema" com seus afloramentos mais próximos do mar pertencentes a dobra Leme-Babilônia e Urca-Pão de Açúcar. Concordariam assim har- monicamente com o segundo grupo as três dobras do primeiro, visto que a terceira destas rugas, como vimos, elevou-se, vindo a desaparecer sobre o morro de São João, e, a seguir sobre o dos Cabritos.

Unia ocorrência de enorme importância para a estratigrafia regional, que adiante veremos na síntese final, verifica-se aqui através dos novos morros que presentemente estudamos. É: que o mergulho geral das rochas fazendo-se para leste no Pão de Açúcar e de modo geral desviando-se para suleste a medida que avanca- mos para o segundo grupo, dirige-se neste francamente para o sul

Analisemos portanto a sua estrutura Duplamente concebida que foi a ligação desta série de morros aos do primeiro grupo, ao longo dos afloramentos da praia de Copacabana e mais segura- mente pela incontestável união do Cabritos ao Saudade, fácil é compreender que as exposições do gnaisse superior ao sul do morro de Cantagalo e as que se encontram encaixadas entre êste e o dos Cabritos - nas quais foi talhada a ligação de Copacabana à Lagoa -, apresentam-se n a base das respectivas escarpas e eleva- ções como testemunhos daquela rocha embutidos em fundos de sinclinais. A não ser pela admissão de complexas perturbações tectônicas incomprovadas pela estratigrafia dêste grupo, é inad- missível qualquer outra dedução.

Em concordância com a petrografia e a estratigrafia, o corte geológico representativo da verdadeira estrutura dêsses morros seriados é pois o que apresentamos. Além das três dobras do primeiro grupo, todavia, uma quarta aparece elevando o Corcovado. BETIM PAIS LEME posteriormente repetido por LUCIANO DE MORAIS, limitou-se apenas a três rugas. Impossível porém sem uma quarta dobra explicar certos afloramentos de gnaisse lenticular em Hu- maita n a base do morro da Saudade, mergulhando sob o leptinito, bem como de maneira comprovante ao mesmo tempo aclarar o aparecimento desta rocha entre o Saudade e o Cabritos A quarta dobra tudo explica ao mesmo tempo que nos expõe elegantemente a disposição das rochas do alto do maciço, onde os dois andares superiores da série - o gnaisse lenticular e o biotita-gnaisse -, deitam-se em camadas do andar inferior de leptinitos, testemu- nhando um sinclinal entre êste quarto e um quinto enrugamento cujo anticlinal se elevou entre o morro da Formiga e o Sumaré. Verificamos ademais nesta secção prolongada até a serra do Enge- nho NÔvo, que ao longo dela mais uma sexta dobra sucessivamente

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se inclinou para o norte, onde além daquela serra, constituída de protognaisse, logo surge a grande massa do batólito granítico comumente ainda capeada de migmatitos, que irão todavia pouco adiante sumir, substituídos pelo granito puro.

Relacionado com a quarta plicatura que originou o Corcovado, temos ainda 0 morro do Inglês no Cosme Velho. Não querendo entrar em pormenores, diremos apenas que um evidente caimento do eixo desta dobra influenciou a formação do vale das Laranjeiras pela formação de uma estrutura sinclinal, cujos fundamentos es- tratigráficos já exibimos. 6"

Passemos ao terceiro grupo.

Grupo da Gávea

Dois Irmãos

Dentre os mais notáveis penedos que enfeitam o Rio de Ja- neiro, salienta-se êste pela beleza de suas escarpas e por sua privilegiada localização à beira do oceano. A sinuosa estrada da Gávea que o circunda, talhada na rocha a borda do Atlântico, permite ao turista como ao geólogo o descortínio de cenários a um só tempo inexcedíveis de emoções artísticas e pródigos em fenô- menos petro-gráficos, tectônicos e geomorfológicos.

O mergulho de lisos paredões no mar, por exemplo, é ali visto melhor que alhures, da bela rodovia que os domina. Uma das mais conspícuas peculiaridades geológicas do Rio de Janeiro, que é o descascamento dos penedos, pode accessivelmente ser analisa- do na Gruta da Imprensa. Leptinitos, gnaisses quartzo-monzo- níticos, gnaisse lenticular e biotita-gnaisse, todos se mostram em ótimas exposições no morro. As interessantes variedades dêste último, o gnaisse quartzítico e o gnaisse de Ipanema, apresentam notáveis afloramentos, notando-se ali a mais perfeita intimidade entre êstes dois subtipos e a rocha biotítica que caracteriza o grupo.

BETIM PAIS LEME considera o Dois Irmãos resultante de uma dobra-falha, na qual, "tendo havido pressão desigual sobre as duas camadas de plasticidade diferente, um dos flancos do dobra- mento foi estirado até sua supressão completa, formando assim as escarpas do Cantagalo e do Dois Irmãos.

Não se trata porém de uma dobra-falha, podendo-se verificar com clareza a passagem do biotita-gnaisse por baixo do morro, vindo as suas camadas que mergulham sob o gnaisse lenticular na base do paredão do norte, aparecer em magníficos aflorarnentos na avenida Nieméier e à beira do mar já metumorfixadas e m gnais- se quartxitico e e m gnaisse de Ipanema.

00 LAMEGO, Albeito Ribeiio: Escarpas do Rio de Janeiro, págs. 46-47. PAIS LEME, Albeito Bet im: Os Gnaisses do Rio d e Janeiro, Rio, 1912, pág 27

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Essa continuidade é conspicuamente visível e basta para anu- lar quaisquer afirmativas de petrógrafos que não fazem trabalhos de campo, sobre a existência de pretensos quartzitos no Rio de Janeiro. Vimos que uma intensa silicificação da rocha esmagada no sinclinal por tremendas pressões, deu-nos a um só tempo o sub- tipo quartzítico e o subtipo Ipanema, milonítico e de caracterís- ticas microscópicas tão peculiares.

Gávea, serra da Carioca e pico da Tijuca I

A descoberta do enrugamento do Dois Irmãos e de suas dire- tas relações petrográficas com as montanhas da Carioca que o defrontam, vai-nos agora explicar a formação desta serra cu jos últimos píncaros orientais já foram mencionados ao tratarmos do Corcovado.

Um de seus mais formidáveis contrafortes lançado para su- doeste, vem findar abruptamente na estupenda montanha da Gávea, quase toda de gnaisse lenticular, excetuadas a barra de gnaisses graníticos da orla marítima e a mesa. granítica do topo, a qual içada a 800 metros de altitude deu nome ao enorme penedo por analogia com a gávea dos mastros dos navios.

A concordância dos gnaisses graníticos com o lenticular e com o biotita-gnaisse dos altos da serra, e um minucioso estudo dos mergulhos de todas estas rochas, provam que a continuidade estratigráfica observada na carta geológica mais uma vez nos .con- duz à aceitação de uma estrutura semelhante à do Dois Irmãos e à dos outros grupos de morros.

Inadmissível qualquer outra explicação. A dobra da Gávea, porém, é mais deitada, o que a um só tempo elucida os aflora- mentos de tipos de rochas do andar inferior, como também um maior alastramento do gnaisse lenticular não só nas abas da montanha como também através do morro do Cschrane até a Vista Chinesa.

Relativamente aos lep tinitos, observa-se que, ao prolongar-se para leste o eixo dos afloramentos desta rocha do Dois Irmãos, atinge-se um ponto no vale de um córrego entre a Gávea e o Cochrane, no caminho da Gávea Pequena, onde testemunhos da mesma rocha irrompem da crosta de gnaisse lenticular. Não nos foi possível acompanhar o seguimento dêste leptinito serra abaixo, visto que a encosta da Gávea se acha recoberta de material extre- mamente decomposto e de produtos desmoronados do penedo. A beira mar, entretanto, a presença dos gnaisses graníticos tão inti- mamente ligados aos leptinitos por sua gênese, ajustam-se perfei- tamente à secção.

Os belos picos da Pedra Bonita - 693 metros -, fazem parte desta dobra, de cujos remanescentes sobem hoje devido aos feno-

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menos de erosão que descreveremos ao tratarmos da morfologia. Tanto a Pedra Bonita quanto o Cochrane - 706 metros -, têm de ser forçosamente encarados como partes da grande ruga deitada da Gávea, cujas rochas se inclinam para oeste, orientação final dos mergulhos que vimos através da nossa descrição acompanha- rem a marcha dos ponteiros de um relógio desde o Pão de Acúcar na outra extremidade do semicírculo, onde as camadas mergulham para leste.

A importância da ruga da Gávea vai-nos agora aparecer com as investigações na serra da Carioca. Acompanhando-a desde a sua parte mais oriental definida pelo Dois Irmãos, nota-se que o contacto entre o biotita-gnaisse e o lenticular, sempre na mesma ordem justapostos -, arqueia-se indo à base setentrional do Cocra- ne e daí ao Alto da Boa Vista e a Cascatinha, de onde desce para a estrada das Furnas até a altitude de 250 metros, subindo em seguida para as matas da Tijuca até o Excélsior, além do qual contorna o pi,co da Tijuca e daí prossegue para oeste.

A tendência de o biotita-gnalsse passar a gnaisse quartzítico nas inatas da Tijuca é visível ao longo das rodovias até o Excélsior, e sobretudo na. subida da Pedra do Conde, em cuja base o solo é de areia grossa proveniente da decomposição da rocha. Mais para leste, também nas proximidades do Queimado, a.parece o gnaisse quartzí tico

A Pedra do Conde é um testemunho da capa. de gnaisse lenti- cular que resistiu a erosão, idêntico aos afloramentos desta rocha que da Cascatinha se dirigem para o sul, indo entroncar-se na Gávea Pequena e no morro do Cochiane.

O mergulho e a natureza das rochas da serra da Carioca podem ser admiravelmente estudados ao longo da estrada do Re- dentor que liga o Corcovado ao Alto da Boa Vista, e do antigo leito da linha de bondes que dêste último local se dirigia outrora a Santa Teresa.

Relacionando-se todas essas abservações sintetizadas de um minucioso serviqo de campo, podemos seguramente concluir afinal que a estrutura da serra da Carioca obedece aos mesmos fenôme- nos estratigráficos anteriormente expostos, e representa a mesma dobra que originou a Gávea e o Dois Irmãos.

O tombamento desta ciobra nos deixa ver a totalidade das camadas de biotita-gnaisse expostas pela erosão, cuja possanca pode ser aproximadamente computada pela metade da espessura do sinclinal em que se encontram, isto é, em cêrca de 1000 metros.

Quanto à espessura geral do gnaisse lenticular, das secções do morro dos Cabritos e da Gávea, podemos computá-la em cêrca de 800 metros.

Na parte ocidental da serra da Carioca eleva-se da capa dêste gnaisse toda uma série de picos desta rocha. Excepcionalmente o

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pico do Papagaio é uma ponta de granito, cujo magma cristalizou em outras pequenas bossas das redondezas, que afloram atualmen- te nas Furnas, na Taquara, em Paulo e Virgínia e no vale do Tijuca a leste do Excélsior

A mais notável dessas elevações é evidentemente o pico da Tijuca, como toda esta região da serra da Carioca estratigrafica- mente ainda relacionado à grande ruga da Gávea Em nosso corte geológico vemos uma bossa granítica perfurando a dobra deitada, possivelmente uma derradeira projeção do batólito após o meta- morfismo dos gnaisses secundários, a qual não tendo afetado o gnaisse lenticular que atravessou, poderá entretanto ter alguma relação com os gnaisses-quartzíticos abundantes no Excélsior, pela injeção de novos elementos silicosos.

Tal é a estrutura da serra da Carioca, ao prolongar-se para leste até os contrafortes de Santa Teresa que vão merecer um estudo especial pela sua importância na geomorfologia .

Originou-a, em sua parte ocidental e mais elevada, uma siin- ples ruga arogênica, onde a erosão nos apresenta hoje um arca- bouço de biotita-gnaisse em sinclinal dobrado entre camadas de gnaisse lenticular Da parte superior desta capa erguem-se picos elevados e roliços. Passando por baixo da serra onde encaixa o biotita-gnaisse no sinclinal, aquela rocha de novo salienta-se na orla do maciço, em toda uma faixa que do morro de Santos Rodri- gues se alastra pelo Engenho Velho, Tijuca e Andaraí, sem relevos conspícuos em sua rasteira topografia urbanizada, a não ser quando na Tijuca começa a altear-se na Chácara do Céu e daí se encurva para o Grajaú onde o notável pico1 dêste nome inespera- damente sobe a 466 metros com suas arestas vivas e suas faces planas e triangulares, como uma gigantesca pirâmide natural.

Grupo da Providência

Morros do Pinto, da Providência e da Conceição

Deixando momentâneamente a extremidade oriental da serra da Carioca, onde na dobra de Santa Teresa, o morro da Nova * Sintra levanta uma escarpa de importância capital para a geo- morfologia do Rio de Janeiro, passemos agora ao serrote isolado que margina o Cais do Pôrto com elevações que continuam para leste com os morros de São Bento e da ilha das Cobras.

Se considerarmos a priori o serrote como podendo ser incluído no prolongamento da secção Leme-BabiIÔnia-Pasmado - como adiante será exposto -, veremos que se trata de uma quinta dobra paralela as precedentes

Ao transitarmos pelas vielas tortuosas e pelas favelas dêsses bairros populares, onde a nomenclatura de ruas lembra por vêzes

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grandes nomes de nossa história, podemos com repetidas investi- gações observar as mesmas ocorrências geológicas já descritas.

Embora por toda a face meridional do serrote o biotita-gnaisse fosse removido, há dois conspícuos testemunhos desta rocha. Um, n a subida do morro da Favela, onde a rocha aflora num corte a rua Senador Pompeu beirando a Estrada de Ferro Central do Brasil e daí subindo até meia encosta. A rocha mergulha para sudoeste com 400, e repousa no gnaisse lenticular. Outro aflora- mento é visto na ladeira da Conceição logo ao sair da rua do Acre. Ali, o mergulho é para suleste e um pouco mais acentuado

Subindo-se, observa-se que todo o arcabouço dos morros é constituído de gnaisse lenticular. Mas na descida para o Cais do Pôrto uma larga faixa do biotita-gnaisse superior é vista a borde- jar por toda a encosta desde a rua Coronel Pedro Alves a Saúde onde se projeta para os lados do mar. Do morro da Saúde ao da Gamboa, também constituído da mesma rocha, abria-se ou- trora uma pequena enseada que com o atêrro desapareceu.

Pelos costados setentrionais do serrote há constantemente bons afloi-amentos e contactos das duas rochas sempre justapos- tas e em mergulho para S-SW. Não repisaremos pormenores já d ~ s c r i t o s , ~ ~ bastando precisar que os fenômenos geológ+ícos se repetem com as mesmas características das outras zonas estuda- das, e que a estrutura dêstes morros bem como a dmo São Bento e da ilha das Cobras, originou-se idênticamente de uma dobra dei- tada similar às precedentes. Nenhuma autra explicação racional é permissível, sobretudo agora que já podemos quase ver em con- junto que toda a estratigrafia desta região- do Distrito Federal decorreu de um mesmo tectonismo, com resultantes composicões estratigráficas paralelamente uniformes, caracterizadas por toda uma série de plicaturas que se ligam em sequência.

A dobra de Santa Teresa

O morro da: Nova Sintra

Embora de estrutura semelhante à das outras plicaturas, e podendo ser relacionada por um corte geológico ao "grupo do Pão de Açúcar", preferimos focalizá-la em capítulo especial, a vista de certas ~caracteristicas tectônicas que tornam a grande escarpa do morro da Nova Sintra de importância capital para a compre- ensão da geornorfologia do Rio de Janeiro.

Preliminarmente frisemos que, devido à sua aparência, êste enorme paredão vertical foi sempre considerado uma "falha" por todos os geólagos que a incluíram em seus estudos, excetuando o

2 LAMEGO, Albeito Ribeiro: Escarpas do Rio de Janeiro, pag 56

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professor BACKHEUSER que voltou de uma sua primeira opinião publicada. 72

O generalizado equívoco de julgar-se a escarpa da Nova Sintra como correspondendo a um desabamento, proveio, como para o caso do Pão de Açúcar e o de outros morros, de superficiais inves- tigações da geologia descritiva e da estratigrafia regional Quem se der porém ao trabalho de cartografar essas formações no cam- po com um minucioso estudo dos mergulhos, chegará necessaria- mente às nossas conclusões.

Para melhor esclarecimento vamos repetir o que dissemos sobre anteriores pesquisas nesta zona. "No mapa do professor PAIS LEME, notável por ser o primeiro esboço da geologia do Rio de Janeiro, (1912), a faixa de leptinito é limitada ao sul por uma linha que sai do cemitério de São João Batista, estende-se para leste, marginando o morro da Saudade e entra na lagoa Rodrigo de Freitas. Toda a base do Corcovado é desta formação que se prolonga para o norte por Paineiras, Dona Marta e Laranjeiras e vai abruptamente terminar numa "falha" que da Lagoinha acom- panha mais ou menos a rua do Arqueduto, em Santa Teresa, atin- gindo a baía na praia da Glória. Neste mapa, os vaIes entre o morro da Nova Sintra e o de Santa Teresa são cavados em lep- tinito.

O mapa do professor LIMA E SILVA, que é o mais minucioso, limita ao norte a faixa de leptinito a escarpa da Nova Sintra, indicada como "falha", ficando os vales e os altos de Santa Teresa exclusivamente em biotita-gnaisse .

O do professor BACKHEUSER, limita o leptinito por uma linha que, de leste a oeste, parte da extremidade setentrional do morro da Glória e vai a rua do Aqueduto. A escarpa do Nomva Sintra não é especificada. 73

Ora, em verdade, os vales das ruas Benjamim Constant e Santo Amaro, são cortados nessa rocha que ainda forma a ponta setentrional do morro da Glória, na praia do Russel. Porém o morro do Cantagalo é todo de leptinito. O gnaisse superior apenas atin- ge a rua Pedro Arnérico ja muito ao alto da subida, merguIhando sob aquela rocha.

Por outro lado, as camadas de leptinito capeiam os altos de Santa Teresa, "sempre sobrepmtas ao biotita-gnaisse", ein con- tactos bem precisos.

Deduz-se, pois, que a sequência estratigráfica se encontra in- vertida, sendo porém fácil compreendê-la. Para isso basta não

'2 BACKHEUSER, Everarão: A Faixa Litordnea do Brasil Meridional, pág 185 73 LAMECO, Alberto Ribeiro: Escarpas do Eio de Janeiro, pBgs 62-63 74 Idem, págs. 62-63

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considerar isoladamente a dobra de Santa Teresa, nesta zona, mas seguir o prolongamento de suas camadas para sudoeste, indo entroncá-las a serra da Carioca entre o Sumaré e o Corcovado. Nota-se então, através de uma série de secções que traçamos a partir desta zona, que a dobra de Santa Teresa é a mesma em anticlinal que ali começa a levantar-se formando o morro da Formiga, e que, em seu andamento para nordeste gradativamente vai tombando até cair completamente ao atingir a extremidade marítima do espigão

Por estas secções baseadas nos mergulhos locais observados, compreende-se igualmente o desaparecimento do gnaisse lenti- cular entre o leptinito e o biotita-gnaisse, visto tratar-se de uma dobra-falha que se aprofundou na crosta, estirando as camadas da rocha média

O nascimento desta dobra vem de longe, podendo-se observar a sua continuidade a oeste do morro da Formiga por uma faixa de gilaisse lenticular que aflora nas nascentes do rio Trapicheiro, e mais adiante ainda, na estrada da Tijuca ao Alto da Boa Vista, onde o seu primeiro empolamento já se esboça Estas faixas iso- ladas de gnaisse lenticular encaixadas na massa de biotita-gnaisse da encosta da Carioca, tem assim racional explicação dentro da estrutura da serra, de acordo com a estratigrafia regional, sem que precisemos invocar complexos tectonismos para o seu apare- cimento.

Com a dobra-falha de Santa Teresa que nos oferece uma curiosa anomalia estrutural, mas ajustada concisamente a toda uma série de enrugamentos sucessivos, finalizamos o estudo ana- lítico do Maciço Carioca

Com essa estratigrafia singular surgiram fenômenos mecâ- ni'cos que, conjugados às propriedades físicas e aos caracteres químicos das rochas deram origem a tumultuosa topografia do Rio de Janeiro.

Antes de penetrarmos porém, no campo geomorfologico e para a sua melhor compreensão, grupemos os nossos resultados analíticos numa síntese dos fenômenos estratigráficos e tectônicos regionais.

Tectônica do Macico Carioca -- -- - - -

Podemos agora perceber num todo a série de enrugamentos que definem a estrutura das rochas do Maciço Carioca, esclarecen- do ao mesmo tempo a sua origem.

Vimos que, sendo para leste a inclinação das camadas no Pãc de Açúcar, o seu mergulho para o mar, entretanto, gradual-

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mente se desvia no sentido dos ponteiros de um relógio por todo um semicírculo. Assim já, para suleste nos morros da Babilenia e de São João, e para o sul, nos morros de Cantagalo e dos Cabritos, do segundo grupo, toma o rumo de sudoeste no Dois Irmãos e na Gávea que, em suas encostas de Jacarepaguá cornumente apresen- t a mergulhos para oeste

Nota-se dêste modo uma disposi~ão err círculos sobrepostos de rugas em escamas ao redor de um her,idomo. No topo dessa meia calota se eleva a serra da Carioca com o pico do Corcovado nas proximidades do eixo. vertical.

Na parte ocidental do maciço o segmento esférico bem mais amplo e inteiriço avançando até o pico da Tijuca. Na extremidade oriental, todavia, o eixo da serra da Carioca prolongando-se até o espigão de Santa Teresa impediu a continuidade do hemidomo para o norte, dêste lado

Vemos assim toda a série de rochas gnáissicas acomodadas na aba de um gigantesco batólito granítico, erguendo-se dessa maneira a serra da Carioca

O motivo da formação do hemidomo torna-se claro pela in- trusão sob os gnaisses do Rio de Janeiro de uma protuberância gra-nítica projetada do batólito, ao redor da qual vieram as ca- madas se grupar em rugas, empurradas pelo orogenismo

Na aba norte do batólito, não havendo grande movimenta- ção das camadas, houve de modo geral um só rnetamorfismo regional e de contacto com a massa granítica. Daí essa vasta área de gnaisses graníticos distribuídos numa larga faixa inter- mediária entre o batólito e as camadas do protognaisse, que, não sendo atingidas pelo magma no interior do sinclinal, conservaram a sua textura e a sua primitiva carnposiçáo

Na outra extremidade da secção, porém, as rochas atuadas por forte movimentação, sofreram violentos metarnorfism-os não só de contacto mas também dinâmicos. Tais perturbações orogê- nicas, além de poderosamente contribuírem para a destruição parcial do protognaisse por esmagamento, permitiram a ascensão mais ativa de injeções mineralizadoras do magma, as quais de- compuseram e substituíram em parte os elementos cristalinos essenciais da rocha primitiva, cujos vestígios são entretanto sempre visíveis através da evolução petrogenética .

Daí a formação de vários tipos de rochas dispostas em andares, definindo-se a estrutura estratigráfica dos gnaisses do Rio de Janeiro por sucessivas rugas deitadas, sobrepostas

Com essas bases geológicas definidas podemos agora prmse- guir, estudando a gênese das escarpas.

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4. GEOMORFOLOGIA

"Sem o conhecimento da estrutiira geológica iiáo se pode intentar uma explicacão da origem do ielêvo".

SIEGFRIED PASSARGE: 'Geomorfologia" Tiad espanh. Barcelona, 1931, pág 8

Um dos mais 1.iscinantes enigmas da geologia brasileira é sem dúvida o das oribens dos famosos cenários alcantilados do Rio de Janeiro. Desde o passado século que tentam cientistas des- vendá-110, sem todavia haverem chegado a conclusões elucidativas 32 que o problema de tal modo se enraíza em fundamentos geológicos que, sem uma prévia soluc$io de tais premissas era impossível resolvê-lo.

Tão grande porém tem sido a perplexidade ante êsses blocos montanhosos e os singulares penedos nus que, mesmo sem aquela base indispensável, foi tentada a interpretação de tão singulares motivos da topografia convulsionada.

Entre os fenômenos responsáveis por uma tal geomorfologia, além da hipótese de falhas, o da "esfoliação térmica" é generali- zadamente admitido para o arredondamento das lombadas gnáis- sicas, de maneira idêntica a formação dos esferóides graníticos.

Ora, conquanto seja inegável o descascamento das escarpas por intermédio das variações térmicas, não bastam estas para explicar a origem dos grandes paredões planos. Inicialmente opinara EVERARDO BACKHEUSER ser necessária uma prévia existên- cia de falhas que as talhassem. Mas, o mesmo professor desfez-se dessa idéia em relação a Nova Sintra, estipulando que os desaba- mentos devem ser limitados na zona do Rio de Janeiro.

Nenhuma outra explicacão foi, além desta, exposta por geó- logos, relativamente aos paredões gnáissicos. Através dos nossos estudos chegamos porém a conclusão de que outras causas de origem tectônica antecipadamente orientam a forma~ão das faces a serem trabalhadas pela esfoliação, e que esta é completada ainda por fenômenos bisquímicos .

Passando pois a estudar a origem das escarpas desde a sua fase inicial, veremos quão íntiina é a geomorfologia do Rio de Janeiro, não só da estrutura estratigráfica como também da pró- pria natureza das rochas com seus atributos físicos e seus carac- teres químicos peculiares

Causas tectônica-s- --

Conhecidos são em Geologia os fenômenos de clivagem ou fratura de rochas em planos paralelos, devido a tectonismos. Caso

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clá,ssieo e bem pormenorizadamente esclarecido é o da "clivagem ardoslaca", onde os folhelhos metamorfizados por pressão intensa, tiveram as suas partículas e minerais rearranjados em planos pa- ralelos e numa fina laminagem. Esta clivagem é sempre associada a fortes dobramentos e conserva o seu paralelismo independente da direção das camadas. Em geral são estas transversalmente fa- lhadas e um tal tipo de clivagem é peculiar às rochas de fina granuIação, jamais sendo encontrada em sedimentos de textura grossa*.

Comprovada foi a sua origem, devida a fenômeqos de "pressão". Entre as teorias explicativas da clivagem das rochas distingui-

remos a de SORBY e a de SHARPE e TINDALL, concordes ambas quanto a origem da laminaçáo, proveniente de grandes esforços "compressivos" atuando sobre a massa rochosa numa direção perpendicularmente a qual se estabelece o fraturamento paralelo.

A teoria de SHARPE e TINDALL, patrocinada por HOSKINS, 75

considera o encurtamento da rocha como participado por todas as partículas da massa. Cada partícula é achatada e estirada paralelamente a um plano único. SORBY, porém, exige a preexis- tência de partículas achatadas que apenas foram submetidas a rotação na rocha comprimida.

Entre os demais tratadistas que explanam tais fenômenos salientemos DALE que, num exemplo ilustra o paralelismo da cli- vagem a uma falha, e noutro, o mesmo fraturamento paralelo em camadas de micaxistos através de uma série de dobras e numa secção de 20 quilômetros, Aqui há certas analogias com as ocor- rências do Rio de Janeiro, sendo porém a clivagem muito mais oblíqua em relação à vertical, não sendo também as dobras tão inclinadas como as nossas.

Um dos que melhor tratam dêste assunto é LEITH, que distribui os tipos de clivagem por dois grupos. "clivagem original" e "cli- vagem secundaria". "

Para LEITH, existe a "clivagem fluidal" - flow-clivage -, originada ao estirar-se a massa fluida sem deformação ou cons- pícuas fraturas da rocha, e, "clivagem de fratura", fractztre clivage -, desenvolvida através de deformações da rocha com subsequente recimentação .

Nenhum dos autores citados exemplifica um tipo de clivagem similar ao que apresentamos para as rochas do Rio de Janeiro, o que não é de estranhar, visto que não temos notícia de paisagens geológicas idênticas. O segundo grupo de LEITH, todavia, tem com o fenômeno brasileiro alguma semelhança.

72 HOSKINS, Leander Millei: FLow and F ~ a c t u r c of rocks as ?elated t o S t r u c t i ~ r e U S Geological Survey: 16 th Annual Repoit, 1894-1895, phg 869

" DALE, 'T NELSON: T i ~ e Rensselaer Grit Plateau zn New YorX U S G 23 13 th Annual Report, 1891-1892, pág 297

'? LEITH, Charles Kenneth: Rock CZiziage, U S G S , Bul n O 239, Wash~ngton, 1905

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(Do livro do a u t o r Escarpas do Rio d e Janezro)

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No nosso caso não há deformação dos elementos e a clivagem n5o é visível a Ôlho nu, sendo porém revelada ao microscópio por um fendilhamento paralelo da rocha, transversal aos alinhamen- tos dos cristais. Tais fraturas comumente atravessam vários cris- tais com o mesmo paralelismo, inclusive os da granada, mineral isento de qualquer clivagem, sendo muita vez preenchida por minerais secundários, tais como a calcita.

A tendência de a rocha clivar é portanto bem visível, sobre- tudo em gnaisses de grã mais fina e uniforme - como os leptini- tos -, sendo de notar a facilidade com que nêles são talhados paralelepípedos de calçamento.

Comprovado êsse fato, restava-nos porém saber se os planos de clivagem se apresentavam paralelos as escarpas, o que foi positivado por amostras orientadas no campo, cujas lâminas para exame foram cortadas perpendicularmente ao paredão

Há, portanto., uma tendência natural de a rocha partir segun- do êsses planos produzidos por esforços que não afetaram a tex- tura dos minerais, visto que êstes nem sequer apresentam defor- mações nos bordos das fraturas

Averiguado assim o fenômeno com prova microscópica, res- tava-nos a sua explicação pelos dados estratigráficos e tectônicos do serviço de campo. E o melhor exemplo que se nos ofereceu foi o da escarpa da Nova Sintra, n a Glória

Já expusemos resumidamente a sua estrutura, incluída na dobra-falha de Santa Teresa Examinando-se agora com mais atenção esta dobra pode-se notar o seu grande estiramento para noroeste, e, por simples raciocínio, observa-se a tendência natural de desagregação das rochas na parte do enrugamento sub- metido a maiores esforços de "tensão" Tal desintegração se apre- senta máxime nos morros de Santa Teresa e de Santo Antônio, onde as camadas friáveis são altamente decompostas, o mesmo acontecendo com o do Castelo, onde elas foram facilmente re- movidas por jactos hidráulicos

Oposta a esta zona desintegrada, vê-se o morro da Nova Sintra, justamente numa zona de "compressãa" das camadas, o que explica a dureza das suas rochas e a origem de uma clivagem transversal a direção dos esfor~os tangenciais responsáveis pela dobra, n a conformidade da opinião das autoridades citadas, a respeito dêsse tipo de fratura

Devemos considerar todavia que a clivagem do Nova Sintra não se efetuou normalmente a pressão - o que é também comum na clivagem ardosíaca -, mas aparece em ângulo de 450 com a direção das camadas A causa de tal desvio é racionalmente explicável pelo movimento secundário de torção que atingiu a dobra nesta zona, pôsto que, ao seguirmos as camadas, vindos de sudoeste, notamos que o seu mergulho pende para leste ao nos

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aproximarmos da Guanabara, o que é bem visível nos alt'os da rua Santo Amaro e nas pedreiras ao fundo da rua Bento Lisboa

A análise desta dobra permite-nos compreender a decisiva influência do tectonismo n a origem das demais escarpas. Tra- tando-se de um sistema de rugas paralelas e deitadas, temos na estrutura do pacote uma sucessão de zonas de compressão e de tensão, correspondendo a volumes de rochas paralelamente cliva- dos, que se intercalam com massas desintegradas e mais facilmente atacadas pelos agentes erosivos .

Isto explica a sequência de vales paralelos e de relevos escar- pados no Rio de Janeiro, sem precisarmos invocar um sistema de falhas, ao mesmo tempo que esclarece a continua presença do gnaisse superior da série - o biotita-gnaisse - , na base de muitas escarpas sob as quais êle mergulha.

Os apertados fundos de sinclinais em que se encontram estas camadas, explicam a xistosidade da rocha movimentada sob pres- sões enormes, tornando igualmente claro o seu esmagamento e a passagem da rocha aos subtipos quartzíticos e Ipanema, conforme precisamos

Fixado êste ponto essencial para a origem das grandes escar- pas, prossigamos em busca de outros fatores também responsáveis pela formação das lombadas polidas.

Esfoliação térmica

A comprovada presença de uma clivagem paralela a face do paredão do Nova Sintra, bem compreendida através do tectonismo que originou a dobra de Santa Teresa, será idênticamente admi- tida ao estudarmos a movimentação criadora das outras dobras. A invocação de falhas é quase sempre inaceitável, sobretudo para as mais famosas escarpas, a não ser em casos especiais de morros isolados, camo os do grupo do Pão de Açúcar, onde a evidência de desabamentos parece clara.

Investiguemos, portanto, as demais causas que agindo sobre os primitivos relevos que de antemão esboçados pela tectônica, con- tinuaram a evolução morfológica até os seus contornos atuais

Ao barão de CAPANEMA, em fins do século passado coube a primeira tentativa de explicar essa morfologia, com as suas idéias sobre o descascamento dos penedos que expandem sob a ação solar e se resfriam durante a noite, bastando essa contínua repetição de diferenças térmicas para que, com o correr dos sé- culos, fossem os blocos arredondados pela escarnação de lascas

BRANNER explica bem essa teoria, condenando a hipótese de geleiras que, segundo AGASSIZ, seriam responsáveis pelo apareci- mento de tais 6ouZders no Rio de Janeiro O geólogo demonstra

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bem como se processa o fenômeno por esfoliação, evidenciando a tendência ao arredondamento dos penedos pela destruição das quinas, onde um maior número de faces permite maior absorcão de calor ao mesmo tempo que u m resfriamento mais rápido.

A teoria de CAPANEMA ajusta-se à origem das blocos graníti- cos tão comumente esparsos pela Guanabara, na qual por vêzes se acumulam empilhados em belíssimas ilhotas denominadas "ti- pitis" . Como notou entretanto BACKHEUSER, O processo não parece explicar a origem das grandes escarpas sem talhos prévios que orientem a esfoliação, conforme veremos aos analisarmos a gênese de vários morros.

Quanto ao descascamento, é êle um fenômeno fàcilmente apreensível. A expansão ou contração da rocha pelas variações térmicas diurnas e noturnas ou mais acentuadamente quando as stibitas chuvaradas de verão caem sobre as escarpas escaldantes, tendem naturalmente a esfolih-las. As camadas superficiais são desintegradas devido à variação na condutividade- térmica para os diferentes minerais, além de que, mesmo em cada cristal, o coefi- ciente de expansão varia de acordo com os eixos cristalográficos. Temos ainda a influência da cor. Minerais negros como a biotita absorvem e irradiam mais rapidamente o calor.

Com tais repetidas intermitências térmicas, a rocha superfi- cial desintegra-se, fendida em miríades de pequenas fraturas nas quais penetram o ar e as águas meteóricas ricas em ácidos car- bônico e nítrico, que por sua vez quimicamente atacam os minerais.

Em presença da umidade oxidam-se os cristais, cujo volume aumenta com a hidratação. A crescente decomposição química adiciona-se portanto a mecânica, sendo tais fenômenos particular- mente acentuados nas saliências, por exporem estas para um mes- mo volume maiores superfícies, resultando em mais enérgicos efeitos de insolação.

Nas quinas, a orientação da clivagem é um fator secundário que pode anular-se ante a intensidade dos fatores químicos e térmicos. Daí o arrendondamento dos penedos em formas cônicas, quando isolados, enquanto os grandes paredões talhados em abas serranas permanecem com a orientação primitiva das fraturas.

Temos, pois, em traços gerais, a geomorfologia do Rio de Janeiro explicada. Existe porém outro fator de grande im- portância no acabamento das escarpas, que iremos agora ver.

Ação bioquímica do líquen

Pouca ou nenhuma atenção foi dada aos agentes biológicos na elaboração da paisagem carioca.

Entre os autores que se ocuparam da contribuição de tais agentes na geologia em outras partes do Globo, MUNTZ afirma

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sempre haver encontrado bactérias nitrificantes em rochas decom- postas, enquanto WARMING, FRANKLUND, WINOGRASKY e BUTHELOT dizem que certas formas de microrganismos dispensam alimento orgânico. BRANNER, todavia, hesita em afirmar poderem as bacté- rias atacar diretamente as rochas. ís

Estudando a questão, VERNADSKY assegura que "a matéria viva tem função preponderante n a destruição dos silicatos e alu- rnino-silicatos juvenis ou freáticos . í" ~ nosso caso, porém, trata- -se não de microrganismos infiltrados n a crosta em lençóis aquosos, mas sim de sua direta açã0 em rochas nuamente expostas

BRANNER ainda, com referência ao Brasil, atribui certa im- portância direta as plantas dos penedos que só lhes dando escassa proteção contra o desgaste mecânico ainda fornecem ácidos as águas superficiais. Além disso, a vegetação mantendo a superfície umedecida e acidulada, facilita o ataque as rochas. A cor escura ou negra de certas plantas igualmente contribui para maior absorção de calor. s0

BRANNER não atingiu porém o âmago do problema e nem os nossos geólogos dêle se ocuparam. E entretanto, a função dos vege- tais na "direta destruição" d~os nossos penedos parece-nas impor- tantíssima, no que se refere a um dêles: o líquen.

Todas as superfícies polidas das nossas escarpas são por êle cobertas de um contínuo manto. Mesmo em pedreiras recen- temente abandonadas, nota-se a capa de líquens que as envolve.

Ora, sabe-se que o talófito se compõe da associação de uma alga e de um fungo, os quais incapazes de viverem separadamente, proliferam pelo mecanismo da simbiose. E quanto ao seu foimi- dável poder destrutivo sobre as rochas, basta citar o seguinte: "Em superfícies de pedra nua, um fungo morreria por falta de substância orgânica e uma alga por falta d'água e de substâncias minerais. O líquen entretanto pode crescer, visto que a alga lhe fornece alimento orgânico com que se nutre, e o fungo desen- volve u m a bateria de ácidos que possibilita a dissoluçáo das rochas mais resistentes.

Praticamente, pois, o líquen come a rocha. As nossas escarpas são envolvidas n u m manto que continuamente as digere. E tama- nho é o seu poder destrutivo que efetua reaçóes sòmente possíveis em laboratórios com os mais poderosos ácidos inorgânicos e a temperaturas elevadíssimas .

Nota-se portanto que, sob a fina cobertura aparentemente protetora e úmida, os paredões desmancham-se, continuamente

7 s BR A N N E R , J C : Bacteria and Decomposition of Rocks T h e American Journal o f Science, v01 111, pág 438 New Haven, Conecticut, 1897

'"ERNADSKY, W : La Geocl~imie, Paris, 1924 B R A N N E R , J C : Decomposition of Rocks i ? ~ Brazil Bul Geol S o c , V01 7; 1896

págs 301-302 Tlie Encyclopedia Bntanic Vol XVI, Eleventh edition; Cambridge, 1911

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roídos pelos talófitos As minúsculas saliências vão sendo esbati- das dada a sua maior exposição ao ataque dos ácidos Os produtos residuais esfarelados são removidos pelo vento e pelas chuvas. Isto explica a ausência de taludes e de matacões n a base de inzi- meras escarpas, o que parece indicar em certas scorrências a pre- ponderância do fator bioquímico sobre a esfoliação térmica, não dando tempo a que as grandes lajes se destaquem

Concluímos, pois, ser O processo geomorfológico da formaqáo das escarpas do Rio de Janeiro iniciado com a clivagem tectônica - assistida mas só e m casos especiais por um sistema de falhas -, completando-se pela esfoliaçáo térmica e pela ação bioquímica do Líquen

Exemplifiquemos com alguns casos mais conspícuos

Morfslogia do Pão de Acúcar

BRANNER, em uma ilustraçao que reproduzimos, atribui a formação dos morros cônicos dêsse tipo a simples fenômenos de- esfoliação, quando em verdade se deve a morfologia de tais pe- nedos a causas mais complexas, nada tendo porém a ver com su- postas "falhas de torção" - pivotal fauíts -, como foi sugerido.

Para compreendermos a gênese dessas escaipas teremos de analisar o Pão de Açúcar em cada uma de suas faces.

Escarpa de oeste

Basta um olhar ao nosso corte geológico para percebermos que, de maneira idêntica a da formação da escarpa da Nova Sintra, a dobra foi desintegrada em sua zona de tensão, deixando em pé a dura rocha da zona comprimida Mas em lugar de uma face plana esta escarpa apresenta-se em gume convexo, visto que do isolamento do penedo lhe veio a tendência a arredondar-se pela esfoliação das quinas.

Na base desta escarpa de gnaisse lenticular aflora o biotita- -gnaisse no que resta do primitivo sinclinal, e as suas camadas continuando concordantemente a aparecer entre o penedo e a Urca, num mesmo nível aproximado, "destroem a hipótese de falha".

Devido ao mais fácil desgaste desta rocha, nela existe uma cava talhada, na base do paredão.

Escarpa de leste

Há nela como que uma enorme dentada no Pão de Açúcar, cuja reentrância polida tem aparência de um plano de fricção

""IMA E SILVA, Rui d e : A Faixa Gn6 i s s i ca rio Distrito FedeiaZ Rio, 1920, pág 98

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mergulhando com as camadas para leste, enquanto o bordo SU- perior da cavidade se apresenta dilacerada.

Um breve exame leva-nos a sugerir o que os geólogos ame- ricanos denominam bedding-fault, isto é, um "escorregamento", no qual uma das faces da falha deslizou sobre a outra paralela- mente a direcão das camadas acompanhando o merguIho.

A hipótese de um simples descascamento por esfoliação tér- mica deve ser repudiada, pela ocorrência de um veio de basaltito que enche a fratura, tendo esta pois atingido grandes profundi- dades, permitindo a ascensão do magma.

Beni fronteim a esta face passa o canal da barra para o qual a lombada mergulha com o mesmo ângulo das camadas, conti- nuando sob as águas com o mesmo alisamento.

O canal prossegue aproximadamente reto por vários quilô- metros pelo interior da baía, indo beirar o forte da Laje, além do qual se aprofunda mais vinte metros numa fossa. Na direção oposta nota-se o mesmo alinhamento, indo o canal passar entre a ilha da Cotunduba e a ponta do Leme.

Tudo nos leva a supor ter sido êle produzido pela falha, o que esclal-eceria a origem da atual entrada da baía por um desaba- mento

Escarpa do sul

A sua explicação é mais complexa, mas se enquadra perfei- tamente n a tectônica regional. Basta para isso considerarmos em conjunto o maciço Urca-Pão de Açúcar e o Leme-Babilônia.

Provada foi estratigràficamente a primitiva ligação de am- bos, hoje afastados pela enseada da Praia Vermelha. Vimos, porém, que, pelos afloramentos atuais da base do Pão de Açúcar e do Leme, uma dupla direção de esforços tang7enciais atuou no pacote gnáissico enrugado.

A primeira, de leste para oeste, dobrou as camadas, origi- nando a plicatura desenhada nos cortes geológicos, o que encaixou o biotita-gnaisse no Pão de Açúcar e entre o Leme e o Babilônia. Sobre esta dobra assim formada, novas pressões vindas do sul agiram, comprimindo em sentido horizontal o primeiro enruga- mento que foi curvado em direção à Cotunduba

Fácil é compreender através das consideraçóes que fizemos para a Nova Sintra, que em tal zona se desenvolveu por compres- são uma clivagem na rocha paralela aos paredóes que hoje se defrontam. Outros fatores, porém, vieram concorrer para o rasgão entre os dois maciços.

De um lado, n a zona entre êles tão fortemente castigada pela dupla movimentação das camadas, percebe-se que, ao mesmo tem- po que comprimidas, sofreram as rochas um forte estiramento

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em direção à Cotunduba, o qual ainda mais amarrotando a pi'i- mitiva dobra, esmagou-a fraturando-a. De outro lado, o prolonga- mento do canal da barra até o Leme, indica ainda a continuidade da falha de escorregamento, a qual nesta zona da enseada encon- trando rochas fraturadas, fàcilmente nelas atuou, arrastando-as para o mar em bloco delimitado ao norte e ao sul pelas escarpas confrontantes da Urca, do Pão de Açúcar e do Babilônia, em partes do conjunto estratigráfico não enfraquecido pelas fraturas e onde os futuros paredões já se encontravam esboçados pela clivagem tectônica .

'asse escorregamento deu assim origem a duas falhas late- rais orientadas pela clivagem. A massa da rocha intermédia foi com facilidade removida entre as duas sólidas encostas escarpadas, sobre as quais posteriormente agiu a esfoliação térmica.

Neste caso especial os planos de clivagem correspondem aos planos de falhas. Inútil porém procurar êstes Últimos, visto que desapareceram há muito com a esfoliação. Tem sido êste um êrro de geologia ao tentarem discriminar falhas no Rio de Janeiro pelas aparências com paredões polidos, nos quais pretenderam ver supostas indicações de arrastamento - drag -. A não ser em muito raras ocorrências, tais como na face leste do Pão de Açúcar, onde um dos planos da falha é bem abrigado e menos exposto às soalheiras, dificilmente poderão ser encontrados ves- tígios de tais desabamentos em faces de escarpas atuais.

Escarpas d o norte

Aplicam-se a ela os mesmos argumentos que expusemos para a face meridional do penedo. A minúscula enseada da praia de Fora repete já no interior da baía a mesma feição topográfica da Praia Vermelha.

Atribuir tais concavidades à açáo mecânica do mar é im- possível dada a existência de paredões a prumo que protegem as tranquilas enseadas. Inútil também tentar referi-las a quaisque

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outros processos erosivos. A escarpa formou-se por um desaba- mento similar aos das faces leste e sul.

E m Escarpas do Rio de Janeiro focalizamos a presenqa de uma falha no morro Cara de Cão, onde as camadas superiores esco

r

regaram sobre as inferiores, para a enseada. Os mesmos fe- nômenos foram repetidos, apenas cam a diferença de que, neste caso, o exame das camadas de biotita-gnaisse no Cara de Cão re- vela pela mais suave curvatura do sinclinal cuja convexidade é para Botafogo, menor intensificação dos efeitos dinâmicos moti- vadores de escarpas neste pequeno morro.

No Pão de Açúcar, porém, os efeitos da clivagem são notáveis Em rodapé ao penedo nesta face, há toda uma enorme laje

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saliente, cujos veios pegmatíticos não concordam com os veios anexos do paredão. O bloco deslizou do alto por descascamento, o que é facilmente verificável pela concavidade acima dêle na escarpa, e pelos pegmatitos cujo aspecto e estratigrafia o apa- rentam às camadas superiores da escarpa.

Na hipótese de simples esfdiacão para a origem dos penedos, esta concavidade teria uma explicajão difícil, visto que a ten- dência dêste fenômeno é de formar superfícies convexas pela expansão da rocha compacta e de uniforme condutividade térmica. A concavidade requer uma superfície de ruptura pré-traçada, o que concorda com a existência de uma clivagem no penedo paralela ao seu descascamento .

Assim, pois, a gênese morfológiea do Pão de Açúcar, embora devida à esfoliação, prende-se a outras causas que sintetizaremos para cada. face do morro:

A escarpa de oeste originou-se pela desintegraçáo da dobra em sua zona de maior tensão. A de leste, de uma falha com escorre- gamento da capa sobre os leitos inferiores e ao longo do mergulho dêstes. A do norte e a da sul por falhas normais a orientação das camadas e paralelas ao mergulho, provocadas pela falha da es- carpa de leste que afundando o canal da barra, provocou desaba- mentos laterais ao Pão de Açucar.

Na escarpa de leste, a esfoliacão é facilitada por serem os planos de laminaçáo da rocha paralelos a face de escorregamento Na de oeste, com seu gume apontando para a Urca, percebe-se a influência das duas falhas laterais que para ela se inclinam Nas do norte e do sul, a clivagem tectdnica prepondera, orientando o descascamento.

Essa esfoliação nas duas últimas escarpas de mesma origem apresenta porém efeitos distintos devido a fatores que sempre nos advertem da necessária atenção devido a causas secundárias podendo alterar a morfologia.

Na escarpa do norte, sempre batida pelo sol, o descascarnento processa-se normalmente, observando-se a presença de uma enor- me laje inteiriça ao pé do morro. A do sul, entretanto, apenas iluminada poucas horas ao nascer e ao pôr do sol em certas épocas, é sempre refrescada e umedecida pelos ventos marinhos. Daí uma decomposição mais intensa da rocha, menos atuada pelas varia- çães térmicas, e a sua destruição patenteada por um caos de gran- des blocos ao pé da escarpa a beira-mar, o que mais uma vez nos prova a necessária preexistência de planos de fratura. É com- preensível que sem uma clivagem orientadora dêsse brutal esfa- celamento jamais teríamos um tão vasto paredão, sendo ademais esta face de todas a mais plana.

Antes de passarmos à mcrrfogênese de outros relevos, que- remos apenas mencionar a existência de veios de basaltito, além

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do notificado na escarpa de leste. Confirmam êles movimentos da crosta mais modernos, que, sem qualquer atuação petrogenética ou orogênica nas camadas do sistema primitivo não deixam de ter certa importância na morfologia, como adiante veremos.

Ozctras escarpas

Especificando as causas originárias dos grandes paredões cariocas, exemplificamos com a Nova Sintra a evidência de uma clivagem de rocha inicial e responsável pela orientação da maioria destas escarpas. Com o exame tectônico do Pão de Açúcar, de mais complexa morfogênese, não só concluímos pela necessária exis- tência dessa clivagem, como também podemos verificar a presença de falhas e a atuaçáo dos demais fatores gliptogenétieos na lenta formação dos contornos do morro.

Estamos portanto aparelhados para, numa rápida excursão compreendermos como se originaram as demais escarpas que cen- tralizam em si os elementos essenciais da paisagem guanabarina. Tôdas elas tiveram idêntica evolucão, exceto com referência a fa- lhas dificilmente comprovadas a não ser em casos excepcionais como o Pão de Açúcar.

De modo geral, a clivagem tectônica, a esfoliaqão térmica e a aqão bioquímica do líquen, bastam para explicá-las, desde que a primeira destas condições seja verificada pela estratigrafia E é de fato o que acontece com as mais típicas dessas escarpas que passaremos a descrever.

Sobre a Urca e o Babilônia, pouco teremos a acrescentar. Para os altos paredões da Urca em suas faces de oeste e do norte, um olhar aos cortes geológicos mostra-os em zonas de compressão de dobras, deduzindo-se daí a existência de clivagens .

Do lado marítimo, o Babilônia sobe bem mais lentamente com a própria ascensão das camadas A ponta meridional do Leme todavia, que circula com seus mergulhos sempre para o mar, su- gere a existência de desabamentos similares aos do Pão de Açúcar.

No morro de São João, na face de Botafogo, algumas escar- pas denunciam a velha zona de compressão da ruga erodida Em seu lado atlântico, a ponta que avança para os afloiamentos gnáissicos do Copacabana-Palace, indica ser o pequeno vale do Anhangá um vaIe de ruptura, devendo-se a uma falha a grande escarpa do morro Idêntica separação motivou as penedias de leste do morro dos Cabritos no vale afunilado para o Túnel Alaor Prata

É possível que as penhas da Viúva e do Pasmado sejam tam- bém relacionadas a desabamentos. Tais relevos todavia, por seu pequeno volume e baixa altitude, não permitem observaqões es- tratigráficas pormenorizadas e suficientes para uma definitiva conclusão.

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A análise das grandes escaspas do Maciço Carioca, entretanto, revela-nos uma característica fundamental para uma síntese da morfologia do Rio de Janeiro. É: que intimamente relacionadas à estratigrafia e à tectônica, localizam-se de frente para o hemi- domo. É o que vemos notavelmente exposto no Cantagalo, Cabri- tos, Dois Irmãos, Gávea e pico da Tijuca, cujos paredões mais consideráveis e aprumados sempre nos aparecem da lado interno de cada ruga. A mesma observacão pode estender-se ao morro de Dona Marta em Laranjeiras.

A mais singular das exceçóes é a do Corcovado com sua grande escarpa voltada para o sul.

O professor BACKHEUSER que a havia considerado como falha em sua Faixa Litorânea, 8"presenta-a mais tarde como "um sim- ples caso de descascamento".

Por mais que investigássemos essa aba da montanha, nada encontramos em sua estrutura estratigráfica provando a hipótese de um deslocamento vertical das camadas, notando-se porém, em todos os cortes e barreiras a existência de juntas cujos planos são paralelos ao grande paredão.

Algumas dessas juntas que partiram as camadas de leptinito devem ser atribuídas ao tectonismo inicial, enquanto outras fra- turas co'm veios básicos se originaram de posteriores movimentos.

A rocha intrusiva em Humaitá, comumente se apresenta com textura de brecha ao mesmo tempo que nos expõe uma laminação paralela as paredes da r,ocha encaixante. Pequenas faces de escor- regamento com ranhuras - slickensides -, denunciam movimen- tos que afetaram a massa dos leptinitos locais, muito fraturados e injetados de injeções silicosas. Não há pròpriamente indícios de falhas mas sim de pequenos reajustamentos da crosta subme- tida a violentos esforços de torção.

O fato de ser o gnaisse lenticular sòmente visível no pico do Corcovado e não em qualquer outra parte de suas encostas até a planície, também se contrapõe à hipótese de um desabamento, e os próprios fenômenos das barreiras de Humaitá não parecem ter afetado a zona do paredão. A disposição em V dos contactos do leptinito com os sedimentos quaternários, sugere antes que tais fenômenos se ligam, à semelhança dos dois que apontamos em Copacabana, no morro de São João e entre êste e o dos Cabritos, a uma ruptura angular que afastou Cabritos e Saudade do Cor- covado.

O corte geológico dêste morro explica a sua estrutura sem falhas, e as grandes juntas no alto da escarpa visivelmente para- lelas ao paredão, indicam ser a esfoliaçáo também aqui orientada por fraturas oriundas do próprio tectonismo inicial, e p~ssivel-

" BACKHEUSER, Everaido: Breve Noticia sobre a Geologia d o Distlito Federal, Rio, 1926, pág 46.

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mente devidas a própria dobra, quebrando as rochas em planos radiais a sua curvatura.

No outro lado da montanha, tão pouco existem indicações de falhas, embora uma textura brechosa igualmente seja obser- vada num dique muito decomposto na descida de Paineiras, com evidentes manifestações de fenômenos hidrotermais em sua massa fraturada e cimentada por elementos ferruginosos e silicosos .

Também nesta face teremos de admitir um descascamento orientado por fraturas radiais ao dobramento. O pico do Corco- vado é nada mais que um bloco residual entre tais fraturas, o qual ainda hoje sofre os fenômenos da esfoliação térmica e do ataque bioquírnico do líquen conjugados para a sua eliminajão.

Entre os restantes penedos mais conspícuos do Rio de Ja- neiro, temos ainda a Penha, que sendo uma bossa de granito, dispensa explicações estruturais para a formação de seus contor- nos. O mesmo diremos do ponta1 de Sernambetiba, no extremo ocidental da praia de Jacarepaguá, que é um monólito cônico de granito profiróide. Neste mesmo distrito, os morros da Panela, de Itanhangá e de N S." da Penha, embora apresentando lombadas de escorregamenbos, ajustam-se a composição estratigráfica regional E, finalmente no penedo do Colégio Militar, no Andaraí, e no pico de Grajaú, ambos da mesma rocha e que isoladamente se projetam de rebaixadas redondezas, há probabilidades de falhas, sobretudo neste último cujas imensas faces planas singularmente o asseme- lham a uma enorme pirâmide

Com estas escarpas, finalizamos a breve análise da geomorfo- Iogia do Rio de Janeiro, em suas saliências mais notáveis Quase todos êsses picos e lombadas como vimos, situam-se nas zonas de leste do Distrito Federal, onde aflora predominantemente o gnais- se, vendo-se portanto a sua íntima ligacão à estratigrafia das calliadas .

Devido a isto é que nos distritos ocidentais começam as escar- pas a rarear. Por ali afloram mais abundantemente as massas graniticas do batólito que, embora exibindo testemunhos de gnais- ses graníticos em sua auréola, não apresentam fortes dobramentos com outros tipos de gnaisse, havendo portanto ausência de feno- menos de clivagem e de suficientes contrastes entre as rochas para que os agentes erosivos nelas talhassem a mesma diversidade de efeitos morfológicos .

É o que se nota em todo o macico da Pedra Branca, embora mais volumoso que o da Tijuca, e atingindo 1024 metros Distin- gue-se a montanha pela massa bruta e irregularmente acidentada

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de selvagens penedias, mas de um conjunto monótomo, sem as diferenciações excepcionais de escarpas tão notáveis que nos dis- tritos orientais do Rio de Janeiro se articulam à estratigrafia e à tectônica regionais.

Isto exemplifica mais uma vez a necessidade imprescindível de fatores outros que os da simples esfoliação térmica - fenômeno justamente peculiar às homogêneas massas graniticas -, para uma explicação lógica da origem dos grandes paredóes. Sem a clivagern tectônica, essencialmente ligada aos enrugamentos das camadas de gnaisse, são muito raras as possibilidades de formação de grandes escarpas, a não ser em casos singulares em que falhas ou juntas parcialmente substituem a fina laminação paralela à face em que atua a descascamento.

Antes de chegarmos a uma síntese final dos fenômenos aos quais se deve a atual morfologia do Distrito Federal, teremos de brevemente considerar uma série de rochas intrusivas que, embora insignificantes na massa dos granitos e gnaisses, tiveram grande influência em certos aspectos topográficos.

Queremos nos referir as eruptivas básicas, já mencionadas no Pão de Açúcar e nas encostas do Corcovado. Expusemos a sua procedência de movimentos mais modernos que não afetaram as rochas regionais em sua textura e composição. A intrusão de tais veios, todavia, foi de enorme importância para a paisagem carioca.

Entre os pequenos afloramentos pouco há de dizer, exceto sobre o que corta o morro da Babilônia em seus limites com o do Leme, e que atravessando a enseada da Praia Vermelha vai-se encravar entre a Urca e o Pão de Açúcar, onde o ataque do mar destruindo o basaltito, deixou-nos a gruta do Mero com suas paredes lisas de gnaisse lenticular. O mesmo sucede com o dique do Cafofo, na fortaleza de Santa Cruz, onde o mar removendo a rocl-ia intrusiva abriu uma enorme fresta de dezenas de metros de profundidade, limitada por faces plasas e verticais.

A importância de tais eruptivas, entretanto, só se manifesta decisiva, na formação dos vales.

Cremos tê-las cartografado com bastante precisão em sua quase totalidade, em ambas as margens da baía de Guanabara, e, se pequenas intrusões ainda existem por acaso, deverão ser in- significantes e ocultas na floresta.

A rocha dos veios, em geral, é a diábase, e mais raramente, como no Pão de Açúcar, na fortaleza de Santa Cruz e nos altos da rua Santa Alexandrina, um basaltito. Dêste último veio a rocha negra que tem sido utilizada para os mosaicos de cal~amento.

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Um dos grandes diques de diábase começa na rua Carlos Pei- xoto, sobre o Túnel Novo, passa para o de São João no Hospital dos Inglêses, sendo visto na encosta por trás do cemitério e, continuan- do sobre o Túnel Velho aflora ao longo da depressão entre o morro da Saudade e dos Cabritos. Outro, corta a estrada da Gávea entre o Dois Irmãos e o Cochrane .

No Juá e na ponta da Juatinga, há veios menores, e também localizamos pequenos afloramentos muito decompostos na subida do morro de Santo Antônio, logo após a estação dos bondes e na encosta do morro Santos Rodrigues. A rua São Luís Gonzaga, em São Cristóvão, é parcialmente cortada num dique de certa mag- nitude.

Dois dos mais importantes dêsses veios seguem a estrada da Tijuca e a estrada das Furnas, pelo talvegue dos dois vales res- pectivos, e o maior de todos aparece aos fundos do vale do Jardim Botânico, acompanha a estrada D." Castorina até a Mesa do Im- perador, e desce pelo vale oposto indo terminar próximo à estrada da Gávea Pequena.

Fato significativo de toldos êsses grandes veios, é o seu aflora- mento ao longo dos talvegues. Êstes vales foram portanto origi- nados de fraturas, tenda a sua escavagão acentuada pela fraca resistência da rocha básica aos agentes erosiv~s .

Quanto à sua petrografia, já mencionamos serem quase todos compostos de diábase, com algumas exceg6es de basaltito No dique da Estiada das Furnas entretanto - em evidente ligacão com o da Tijuca -, temos um disorito Êste veio projeta-se direta- mente de uma bossa desta rocha entre a referida estrada e o mo,rro da Taquara, a qual é explorada sob o nome de "granito negro", dando um belo polimento De diorito igualmente é o pe- queno dique entre o Juá e a Gávea.

Todos êsses veios parecem oriundos de uma só fase eruptiva e provenientes de um magma diorítico, sendo a diábase e o basaltito resultantes de diferenciações magmáticas .

Síntese geomsrf ológíca

Acabamos de ver como a paisagem do Rio de Janeiro foi ela- borada através das Idades. Partimos da gênese das rochas e da sua composição, e acompanhando os movimentos tectônicos que as enrugaram e talharam, podemos ver que essa paisagem fora de- lineada desde os tempos mais remotos.

Seguindo essa evolução até o estágio atual, estamos aptos a compreender essa topografia tão acidentada, onde entre grandiosas

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escarpas desnudas e polidas aprofundam-se vales abruptos Toda essa morfologia foi unicamente possível pela justaposiçãs de rugas contendo uma série de rochas opondo variáveis resistências ao desgaste, e que um tectonismo inicial verticalmente laminou. Por vêzes, mas nem sempre, um sistema de falhas cortou na massa gnáissica enormes blocos de rochas, onde os agentes erosivos tro- picais lentamente foram esculturando monólitos.

Para além dessa muralha marítima, agacha-se repentina- mente a convulsionada topografia montanhosa. É que já estamos na aba do batólito, sobre o qual as dobras se deitaram, e por ali afloram espécies de rochas que geralmente aparecem muito fiiáveis. os migmatitos .

Dêste modo foi a erosão facilitada. Por toda parte na bacia do rio Farias, no Méier e em Inhaúma, ondulam as reduzidas ele- vações de migmatitos decompostos. Quando as vêzes acidentes esporádicos se elevam como no morro dos Urubus, verifica-se uma relicto da primitiva crosta gnáissica, no qual a auréola de migma- titos atesta o seu assentamento nestas rochas que por sua vez repousam sobre o granito.

Ao norte dessa área deprimida, eleva-se entretanto ainda, a escalvada serra da Misericórdia. É que nela já não existe a mistura migmatítica. Toda a sua massa é de granito puro Mas pelas abas de seus contrafortes setentrionais, novamente a rocha friável em testemunhos por toda parte visíveis, capeia os fundamentos graníticos. Daí uma nova depressão, visto que os agentes erosivos ali deram com uma crosta fácil de escavar.

A seguir, para o norte, os morros se rebaixam Cada vez mais abertos, vão-se' os vales dilatando em pantanais. É que um novo fator tectônico veio ainda mais deprimir toda essa região dos fun- dos da baía de Guanabara. A formação da serra da Mar por um gigantesco desabamento.

Seus formidáveis paredões destacam-se imponentes, mas com a base umedecida em grandes pantanais. Assim se compreende a origem dessa baixada que inicialmente afundou sob as águas da baía de Guanabara, e foi a seguir aterrada pelas descargas dos rios que nela despenham das alcantiladas encostas serranas

Zonas ilhadas com o afundamento cercaram-se de tremedais, parcialmente já enxutos Mas de modo geral todas essas planícies empoladas de elevações e que contornam a baia, até hoje perma- necem encharcadas, numa tremenda oposição ao homem, que, vizinho e em grandes aglomerações, para elas encaminha irresis- tivelmente os passos.

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I1 - MARGEM ORIENTAL

"As falhas podem se revestir, entretanto, de con- figuracóes variadas, inclusive direcóes cuivus, circulares mesmo Daí os "desabamentos" em círculo de que são exemplo, no Mediterrâneo ocidental, os golfos de Gênova, N5poles e Sa- lermo"

VERíSSIMO e VÁRZEA: "Geogiafia". 1 série, Z.a ed pág 238.

I AS ROCHAS PRIMITIVAS NA GEOMORFOLOGIA DA BAEA DE GUANABARA

Dada a relativa simetria das duas margens da baía de Gua- nabara, deveríamos esperar nesta outra banda da baía uma similar reprodução dos mesmos fenômenos estratigráficos e tectônicos observados no Distrito Federal. Inesperadamente, porém toda aquela estrutura desaparece.

Pesquisada com minúcia idêntica e bem anotados os mergu- lhos das rochas e os contactos entre as várias formações, poucos dados deixam transparecer o tão conspícuo orogenismo que enru- gou os gnaisses do Rio de Janeiro.

Observações locais podem conduzir-nos à execução de cortes geo,lógicos em Niterói e São Gonçalo, expositores de enrugamentos e de outros fenômenos responsáveis por acidentes geomorfologicos. São porém todas elas apenas referentes a restritas áreas.

Dois obstáculos conjugaram-se, impedindo uma exata com- preensão da estrutura regional. A ausência de altos cordões mon- tanhosos e uma desorientante monotonia de afloramenbos de gnaisse lenticular. Em quase toda a vasta superfície regional mi- nuciosamente palmilhada, só emerge esta rocha. Quanto aos poucos afloramentos de outros tipos nela encaixados, a topografia ondulante e de atenuados relevos raramente deixa de obscurecer quaisquer pesquisas estratigráficas a êles referentes

De maneira um tanto imprecisa poder-se-ia ainda relacionar os cordões de serrotes que das margens do Atlântico e da baía de Guanabara se encurvam para o norte, como em seguimento a rele- vos bem definidos n a outra banda Assim, os morros da Viragão, do Sapêzal e de Santo Inácio interpostos entre a Jurujuba e a lagoa de Pirapetinga, parecem continuar o serrote de Copacabana e o Pão de Açúcar. Idênticamente, a ponta de Itaipu e as ilhas do Pai e da Mãe continuariam o arquipélago das Cagarias ou as ilhas Redonda e Rasa, relíquias de primitivas dobras imersas no oceano

O mergulho geral das rochas, entretanto, contraria qualquer ligação estratigráfica positiva.

Vimos que, no Rio de Janeiro, o pendor das camadas litorâ- neas é sempre dirigido para o mar, em torno de um hemidomo Agora, porém, a direção inversa é sempre observada Em Itaipu,

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no morro do Telégrafo, nu Engenho do Mato, em toda a longa península entre as lagoas de Itaipu e Pirapetinga, no se~rote da Jurujuba e por longas distâncias para o norte por toda a faixa oriental da zona estudada, as rochas sempre mergulham para o norte Mas já no morro do Cavalgo, em Santa Rosa e por toda a faixa vizinha da Guanabara de Icaraí a São Gonçalo o pendor é pai a o sul.

Em vista disso, sòmente surgem possibilidades de uma veri- ficacão de estruturas em zonas muito excepcionais. Uma delas vai d a ilha da Boa Viagem a ponta de Gragoatá, a qual, por ter sido a geologia de Niterói até hoje apenas ligeiramente pesqui- sada quanto a textura e composição de suas rochas, sem quais- quer alusões a fatos estruturais, passamos, como exemplificação, a descrever.

A secção geológica através dessa extremidade do espigão que separa Icaraí e Santa Rosa de São Domingos e do bairro central de Niteroi, é nítida pela sua exposição natural do lado marítimo. Nas falejas nuas cortadas pelas vagas a estrutura evidencia-se com clareza.

Da ponta de Gragoatá, onde o gnaisse lenticular mergulha para suleste, segue o espigão para nordeste. O alinhamento geral da encosta setentrional ruma em direção a pedreira da rua São Lourenco Parece-nos tratar-se de uma falha que afundou a zona fronteira hoje aterrada em planície por meio de restingas, man- gues recentes e entulhamentos artificiais.

De Gragoatá a Boa Viagem o contacto entre o gnaisse lenti- cular e o gnaisse superior torna-se bem nítido n a Praia Vermelha, cujo nome provavelmente lhe foi dado pela forte coloração de suas falejas cortadas na massa decomposta do biotita-gnaisse, mas também devido às manchas de areias granatíferas que ali aparecem, por vêzes com espessura de um decímetro

Nas falejas encontra-se o feldspato inteiramente caulinizado e veios de quartzo acompanham de alto a baixo a estratificação das camadas, entre os leitos micáceos desagregados.

Passando a Boa Viagem, nota-se pela secção que o biotita- -gnaisse não atinge a ilhota dêste lado, mas reaparece no outro, justamente levantando a parte mais alta onde se ergue a velha ermida

Esta ilha nos oferece um esplêndido corte geológico natural, através do qual podemos compreender porque elevações constituí- das de rochas altamente decompostas conseguem manter-se em níveis elevados, enquanto zonas de rochas mais resistentes são rebaixadas mais depressa pela erosão

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Fig 41 - Esfoliaçáo dos moiros côiricos, se- gundo BRANNER

(B~LIZ o f t l ~ e Geological Society o f Amefica, v01 VII )

A Mu990 D E 5 10bs

Fig 42 - Esfoliaçáo do P6o de Açúcar, segundo A R. LAMEGO. CZ. clivagem da roclta devido a esfoiços LI e Lc, lascas de esfoliacáo P, f a l l~as

(Do livro do autor: Escarpas do Rio de Ja?aeiro)

Fiç 43 - Oligem das escarpas e uales do Rio de Janeiro, segundo A R LAMEGO A clicagr?n tectbizica concorre pala a foi??~açáo dos paiedóes abruptos e as zonas desi?&-

teg?adas são mais fhciln~ente eroáidas, dando oiigenz avs vales

(Do l ivio do autor: Escarpas do Rio de Ja?ieiro)

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Fig- Escarpa norte do Pão de Açúcar Em T é indicadaa zona de tensão d a primitivadobra, a qual, estirando-se, desintegrou a rocha, facilitando a f u t u r aeroasão

(Do lívro do autor: Escarpas do Rio de J a n e i r o )

Fig. 45 - Escarpa d e oeste do P ã o de A ç ú c a r A flecha aponta acava no biotita-gnaisse.

(Vide fig. 4 )

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Na Boa Viagem, o fenômeno ge0m0rf0lÓgi~0 realça-se pelo fato de estar a ilha diretamente exposta à entrada da baía, dêste lado recebendo o violento choque dos vagalhóes. É que, conforme se nota na secção, a ilha é ali protegida pelo paredão de um dos veios de quartzo estratificado entre as camadas friáveis do biotita- -gnaisse, cuja vagarosa demolição entulha a base do morro de um verdadeiro enrocamento natural.

O desaparecimento súbito do biotita-gnaisse no lado oposto da ilha, onde os seus afloramentos são limitados a Praia Vermelha, sugere uma falha, dedução esta fortificada pela presença de uma série de fraturas paralelas nas vizinhas falejas de gnaisse lenticular da Boa Viagem.

Da ilhota a praia de Icaraí, por toda a costa aflora a rocha superior, exceto em um ponto onde testemunhos do tipo lenticular entram nas águas formando uma saliência. No contacto entre as duas rochas há grutas cavadas pelas ondas. A reprodução do mesmo fato era outrora presenciada na ponta da Itapuca, onde o penedo que ali vemos nada mais é que o pilar de um enorme arco natural criminosamente destruido. Gravuras antigas repro- duzem o arco da Itapuca, nome êste que significa "pedra furada".

A famosa Pedra do fndio, em Icaraí, manteve-se em pé com suas camadas verticais, pela intromissão entre as suas camadas de resistente hialomito larninado, e é provável que a. ilha dos Cardos, próxima à Boa Viagem, também deva a sua conservação ao endurecimento local das rochas por intrusões silicosas.

Toda esta faixa de biotita-gnaisse prolonga-se para nordeste através da zona do Ingá, margina a planície de Icaraí onde forma as encostas das elevações, subindo em seguida aos altos do morro da Boa Vista. Na chácara do Pé Pequeno, em Santa Rosa, há transposição para o subtipo quartzítico, notando-se ao microscópio em amostras desta rocha, a disposicão de finas camadas de caulim e de biotita, além de palhêtas de sericita e de silimanita que tes- temunham a proveniência magmáti,ca da rocha que aparentemente é um quartzito .

Um dos produtos mineralógicos secundários do metamorfis- mo, percebidos ao microscópio em rochas desta zona, é a fluorita, também encontrada num pseudo-quartzito do Buraco do Juca Branco, na encosta setentrional do morro da Boa Vista. Por análi- se química também foi constatada a presença de flúor nos hialomi- tos laminados que afloram no Rio Cricket.

O espigão entre a planície de Icaraí e de Santa Rosa, e os bairros de São Domingos e de Niterói, é petrograficamente dividido em duas zonas longitudinais. A do sul, constituída de gnaisse su- perior, como acabamos de ver, e a do norte, de gnaisse lenticular.

i3 certo corresponder êste espigão a um dobramento. Já pelo corte da Boa Viagem a Gragoatá, notam-se indícios de tal estrutu-

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ra, não obstante a presença de uma falha. E a ligação desta ponta ao morro da Boa Vista fortalece a nossa afirmativa, vista que &te se originou de um enrugamento.

Esta elevação centraliza a topografia niteroiense, no ponto mais alto do espigão que dêle se projeta para Gragoatá, dividindo a cidade pelo meio. Costeando a sua base setentrional passa a alamêda de São Boaventura, no Fonseca, enquanto ao sul de seus contrafortes penetra a garganta do Cubango .

De longe, o morro impressiona por seu aspecto florístico, peculiar as elevações de biotita-gnaisse decomposto. A sua nudez reproduz a mesma feição do Sumaré, no Rio de Janeiro. Abatida a vegetação primitiva, não repontam em ambos os casos capoei- rões nem sequer cerrados, mas sim um manto ralo de gramíneas que aveludam as formas arredondadas de tais morros. Provavel- mente, a reduzida porcentagem de feldspatos nesses gnaisses mi- cáceos injetados de quartzo, diminuindo os elementos alcalínos em seus solos residuários, os torna mais estéreis.

O morro da Boa Vista dá-nos um exemplo típico dêsse fend- meno. Seus contrafortes bilaterais ouriçam-se de capoeirões es- pessos quando aflora o gnaisse lenticular, enquanto quase toda a elevação constituída de biotita-gnaisse decomposto é coberta de uma pelúcia de capim.

Das nossas observagões e~tra~tigráficas em seus contornos, concluímos ser a sua estrutura definida por um sinclinal.

Ao geólogo e mesmo ao geógrafo que comece a subir o morro, há de parecer estranha a afirmativa de uma tal estrutura em rochas tão decompostas formando essa conspícua elevação. De fato, suas encostas íngremes são a tal ponto friáveis que visivel- mente escorregam. Da banda do Fonseca isto é bem patente na superície corrugada em escadarias de pequenos degraus, tão in- consistentes que se diriam apenas mantidos pelas raízes das gra- míneas .

Chegando-se ao topo, desvenda-se porém o motivo da grande resistência do morro aos agentes erosivos que o tentam rebaixar. É que, correndo ao longo de sua crista e em seguimento ao eixo do sinclinal, um possante veio de quartzo lhe firma todo o arca- bou~o. Os fenômenos relatados para a Boa Viagem, aqui se repe- tem com a mesma evidência.

Todo o gnaisse do morro da Boa Vista, decomposto em massa vermelha argilo-arenosa, é sustentado e impedido de se desmoronar por um verdadeiro esqueleto de quartzo.

Um dos aspectos econômicarnente importantes dessa estrutu- ra veio a refletir-se no primitivo abastecimento d'água da cidade. Em sua encosta ocidental, paralelamente a alamêda de São Boa- ventura, existe um pequeno vale secundário, denominado Buraco do Juca Branco. Quase apenas um grotão, talhado em paredes de

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gnaisse lenticular impermeável, por ali desce nas enxurradas um filête d'água, conservando-se porém a depressão quase sempre sêca durante o ano. Ora, enquanto isto se dá na base do morro, por suas lombadas mais acima abundam as cacimbas.

E que as águas meteóricas ao invés de seguirem os declives, jorrando na base da encosta, infiltram-se por entre as camadas porosas, e, sendo represadas pela capa de gnaisse lenticular da ruga, vão sair na encosta ocidental do Boa Vista, para onde as acarreta a calha do sinclinal. As ruínas do aqueduto e da velha caixa d'água ali existentes na antiga chácara do Vintém, é tudo o que hoje resta do primitivo manancial da cidade, atualmente servida por encanamentos que lhe chegam da Boca do Mato, aos pés da serra do Subaio, na subida para Friburgo.

O ocorrência mostra como em certos acasos a própria vida de uma população urbana e o crescimento de uma cidade subordinam- -se a estruturas geológicas. Sem o sinclinal do morro da Boa Vista e sem os atributos petrográficos de suas rochas, permitindo a sua decomposição em massa tão altamente porosa, não teria Niterói êsse natural reservatório d'água, sem o qual não poderia a cidade evolver nos quatro primeiros séculos de sua formação.

O nome da chácara do Vintém recorda o preço dos barris d'água de que se abastecia a população, trazidos em ombros de escravos da gigantesca bica de um sinclinal.

Em continuação a geologia descritiva regional, outros exem- plos de exposições nítidas de estruturas como os que acabamos de relatar não foram achados. A grande faixa de biotita-gnaisse no Engenho do Mato, aos fundos da planície de Itaipu, e na encosta do morro do Telégrafo, parece indicar um siclinal deitado, com suas rochas mergulhando para noroeste, isto é, em sentido oposto ao das dobras cariocas. Faltam-nos porém dados precisos para uma tal afirmativa.

Apresentamos mais duas secções locais. Uma, através do morro da Armação e outra na face da pedreira do morro do Cavalão em Santa Rosa. Ambas revelam a existência de falhas que, a nosso ver, fraturaram e obscureceram toda a estrutura regional.

Outro corte geológico no Engenho do Mato, em São Gonçalo, apenas apresenta uma série de tipos gnáissicos concordantes, sem quaisquer possibilidades de uma positiva definição estrutural. A importância desta exposição prende-se unicamente à presença do gnaisse do Engenho Pequeno, que denominamos de pré-leptinitos, os quais tamanha importância tiveram como primeiro passo para a elaboração da Teoria do Protognaisse.

Uma das maiores dificuldades com que luta o geólogo em pesquisas estruturais em toda essa região de São Gonçalo e Niterói é a extraordinária ausência de granitos. Nem sequer o menor vestígio de afloramento do batólito aparece. Raríssimos são os

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granitos, que sempre ocorrem sob a forma de veios de importância mínima.

Um dêles apresentamos no corte do morro do Cavalão. Outro, no morro da Viração, na descida para o Saco de São Francisco. A mais importante dessas exposições aflora no lado oposto dêste morro, na garganta que liga o forte de Imbuí a lagoa de Pirape- tinga. Terá cêrca de um quilômetro de extensão e umas duas centenas de metros de largura, aparentando encaixar-se entre as camadas do gnaisse lenticular .

Bstes granitos são em geral de grã mui fina. Nada que re- lembre sequer uma bossa em centenas de quilômetros quadrados. Ao concluirmos com uma síntese geológica desta região da Baixa- da Fluminense, explicaremos o motivo dessa inexistência de bossas graníticas pelo afastamento do batólito para o norte. Basta no momento considerar que, embora superficialmente distantes, a presença de massas graníticas em profundidade é patenteada pelos numerosos veios de quartzo que comumente afloram em toda a região.

Pela exata localização dêstes veios, podemos verificar a exis- tência de fraturas paralelas e primitivas, cujos lineamentos gerais gradualmente se encurvam das proximidades da baía para nor- deste, sendo a mais notável e bem definida a que a partir do Saco de São Francisco segue através de Pendotiba indo além de Paciência, onde um grande veio de vários quilômetros indica nitidamente o alinhamento da intrusáo. Êstes afloramentos são explorados para as fábricas de louça da margem oposta da baía.

Outro fenômeno geológico anotado é o de uma ação hidroter- mal generalizada e de idade mais recente. Já mencionamos tais ocorrências no Rio de Janeiro, ao escrevermos sôbre os diques do Corcovado. Em Niterói e em São Gonçalo, porém, tais fenômenos se evidenciam sôbre áreas bem maiores, estendendo-se mesmo por vários quilômetros quadrados.

A presença de elementos mineralógicos silieosos de origem hidrotermal - a calcedônia, por exemplo -, é muita vez consta- tada sobre extensas superfícies, Uma delas é a de uma elevação ao norte do Cubango. Outras foram registradas no vale do Tribobó. A maior alastra-se pelo Baldeadouro e é cortada pela rodovia que dos fundos da alamêda de Sã0 Boaventura segue rumo a leste. Delimitamos nessa zona acidentada os contornos da área onde os fenômenos hidrotermais se tornam mais evidentes. Um dos pontos mais accessíveis e de melhor observação é o Juca Mateus, na ro- dovia, onde há inúmeros blocos de calcedônia espalhados pelas proximidades. Nas vizinhanças dêste local explora-se um veio de "baritina" de provável origem hidrotermal.

Entre os indícios de outros minerais econômicos encontramos "grafita" em Tribobó, sem contudo conseguirmos localizar qual-

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quer afloramento. Também constatamos pequenas jazidas de "ametistas", rudimentarmente exploradas num sítio em Sete Pon- tes, onde os cristais aparecem num pegmatito que corta o gnaisse leptinítico .

Um mineral cuja exploração poderá dar resultados campen- sadores é o "feldspato". No Engenho Pequeno foi trabalhado um pegmatito para êsse fim, sendo o feldspato branco e em grandes cristais. Em Santa Rosa existe uma exploração a céu aberto no local conhecido por Valados, à rua Martins Torres. Um túnel de cêrca de 30 metros penetra no veio a partir da escavação, e ali colhemos grandes blocos de mineral e amostras de "mica", tendo notícia que, desta foram extraídos cristais de "muscovita" de 40 centímetros, vendidos a uma extinta instalação de beneficiamento, há um decênio ainda existente no Fonseca.

Nas matas do morro do Eumba, no Baldeadouro, vimos um poço de 25 metros de profundidade, onde foi explorado o feldspato . Em seu redor, como resíduos da exploraçáo notamas além do mi- neral, quartzo e brechas feldspáticas. Também no morro do Atalaia, no Viradouro, localizamos um grande pegmatito com feldspato e mica de possível extração comercial.

A maior riqueza mineral desta zona, abrangida na carta geo- lógica, são porém as suas pedreiras, de longa data intensamente exploradas. No morro da Armação há várias importantes, e, de Santa Rosa a São Gonçalo, por toda parte se notam as abas de morros trabalhadas. A rocha extraída é em geral o gnaisse lenti- cular, denominado "pedra de galho" e, nas poucas explorações de gnaisse cinzento e laminado, chamam a esta rocha de "pedra lorr. sada". Já mencionamos a pedreira de leptinito de Santa Rosa, onde êste gnaisse é de uma brancura imaculada mas pintalgado de granadas vermelhas cuja decomposição, com o tempo, prejudica o aspecto da rocha em obras de arte.

Entre outras rochas cristalinas citaremos alguns pequenos aflo- ramentos de gnaisses quartzo-monzoníticos, distantemente locali- zados uns dos outros. Um dêles aparece entre o morro da Vista Alegre e o de Colubandê, no Engenho Pequeno. Outro em Sete Pontes, em fundos de um grotão e cortado por um veio de diábase. Um terceiro, por trás das casas da rua Leopoldo Fróis, a esquerda de quem vai de Neves para Sete Pontes

Pequenas exibições desta rocha escura e esverdeada podem ser vistas n a encosta do morro do Céu, no Cubango, e justamente onde acaba a rua do vale da Atalaia, em Santa Rosa, onde o gnaisse é aparentemente intrusivo no lenticular, o que não implica uma necessária idade posterior para aquela rocha, em vista da sua li- gação com êste gnaisse, provada no Rio de Janeiro.

Maior frequência de exposições aparecem no Saco de São Fran- cisco em afloramentos a beira-mar e em cortes da rodovia para

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Jurujuba. No morro da velha ermida, no Saco, na encosta do morro da Viração e na rodovia para Imbuí, a rocha mostra-se em concordância com o lenticular .

O maior dos afloramentos que encontramos de rochas desta categoria n a Guanabara é a do morro do Pico, na subida da Juru- juba para o forte São Luís. Ali, a rocha é quase negra e de textura laminalar. A sua composição é a de um gabro, o que nos faz supô-la neste caso, como de idade posterior a dos gnaisses primitivos, não sendo impossível a sua relação a bossa diorítica entre a estrada das Furnas e o morro da Taquara no Distrito Fe- deral.

As áreas destas exposições todavia, são insignificantes n a vasta região em que frisamos ser o gnaisse lenticular predominan- temente generalizado, e onde mesmo outros tipos tão importantes na geologia do Distrito Federal, ali modestamente comparecem apenas em faixas estreitas de poucos quilômetros de extensão.

Não mencionando a restrita superfície do município de Niterói, todos os cordões de serrotes do município de São Gonçalo incluídos na planta, são quase exclusivamente de gnaisse lenticular. Dois dêles, ao norte, formam destacados espigões paralelos ao sul da cidade de São Gonçalo, onde porém as altitudes máximas nunca atingem 200 metros.

Mais ao sul, outra série de elevações alteia-se, atingindo 288 metros no morro do Zumbi, e 317 no do Castro O morro do Céu nos limites intermunicipais tem 221 metros Mas só quando chegamos ao cordão do Saco de São Francisco é que atingimos altitudes maiores no morro da Viração, com 322 metros, no do Sapêzal com 285 e no de Santo Inácio com 349.

Tais elevações são sòmente ultrapassadas no divisor da mar- gem direita da bacia do Tribobó, com 397 metros n a serra Grande e com 407 no Cantagalo. Entre Itaipu e as restingas de Maricá, o cordão serrano que nasce no Falso Pão de Açúcar atinge 344 metros no morro do Telégrafo.

Vemos pois que, contrhriamente aos alterosos maciços do Rio de Janeiro, a topografia desta margem oriental da baía de Guana- bara apresenta-se medianamente elevada e sem a tumultuosa se- quência de relevos que tanto embelezam as paisagens cariocas. É: que nos falta aqui uma tectônica semelhante. Um conjunto de enrugamentos bem definidos que, por mais que se investigue, sempre nos foge à observação.

Indiscutivelmente existiram dobras cujos testemunhos verifi- camos. Tais dobras, porém, não tendo como núcleo centralizador de sua estrutura uma bossa granítica ao redor da qual vieram se ajustar em pregas sucessivas e ascendentes, esgalharam-se. Dêste modo, os agentes erosivos não encontrando uma composição oro- gênica suficientemente unida e capaz de orientar um traçado

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paisagístico com indesviáveis diretrizes, destruíram e removeram por tdda parte a capa superior, deixando exposta a zona média do pacote gnáissico .

Dai, a generalização dos afloramentos de gnaisse lenticular e a relativa ausência do biotita-gnaisse, cujas camadas do outro lado da baía se elevaram, constituindo grande parte do arcabouço da serra da Carioca, recoberta em seus limites de sudoeste pelas camadas lenticulares de uma única dobra.

A origem de cada paisagem deve ser buscada em seus funda- mentos geológicos. Além dos fenômenos petrográficos devemos sobretudo investigar profundamente as causas tectônicas, primor- diais na evolução das formas topográficas. Acabamos de ver isto claramente, ao confrontarmos as duas margens da baía de Guana- bara, que, embora constituídas de rochas da mesma origem, apre- sentaram aos agentes gliptogenéticos estruturas diferentes a serem trabalhadas, resultando em efeitos morfológicos que contrastam

Mas, se o diastrofismo inicial foi menos pródigo para o futuro relêvo de um dos lados da baía, evidentemente menos rico de motivos paisagísticos, outras causas tectônicas sobrevieram, as quais, por sua singularidade excepcional, revelam-se hoje de suma importância na gênese da baía de Guanabara.

2. AS ERUPTIVAS FILONARES BÁSICAS NA TECTONICA D A BAÍA DE GUANABARA

Conspícuos elementos da formação dos grandes vales cariocas foram os grandes veios de diábase que assinalamos na descrição geológica do Rio de Janeiro

Dêste lado igualmente, aparecem êles, mas já sem aquela inconfundível característica de sempre acompanharem as gran- des linhas dos talvegues nos afloramentos principais. Aqui tam- bém vemos casos semelhantes, porém o que distingue os notáveis diques fluminenses de seus congêneres da margem fronteira, não é tanto a sua influência n a formação de vales, mas sim o que dêles podemos deduzir, projetando u=a nova luz sobre as origens da baía de Guanabara.

Três veios minuciosamente castografados em toda a extensão de seus afloramentos, ao invés de se apresentarem retilíneos como no Distrito Federal, surgem por distâncias de muitos quilÔmetros seguindo curvas paralelas que o compasso quase poderia traçá-las de um mesmo centro.

O mais próximo da baía tem início na encosta do morro da Vira~ão . Embora intermitentemente interrompido, pode-se acom- panhá-lo ao longo do serrote, sendo visível nas subidas e a meia lombada. Foi feita a localização de seus vários segmentos desde os altos de Pendotiba, e, através de afluentes do Tribobó até o

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Baldeadoro, onde no Arrota-Contos já decomposto em ocre muito- vermelho, completa um arco de circunferência de cêrca de 10 quilômetros .

Não obstante o seu comprimento, não tem êste dique relaqão alguma com os vales que atravessa.

Mais para leste, outro veio paralelo aflora nos fundos de um estreito vale ao norte da lagoa de Pirapetinga, por êle acima galga o divisor e alcança o vale de um afluente do Tribobó em direção a fazenda Maria Paula. Um galho seu se volta para o mar, pas- sando entre a serra Grande e o morro do Cantagalo até atingir a planície do vale de um afluente do Pirapetinga. Em seu ali- nhamento aflora a diábase ainda, num ponta1 que se projeta para a referida lagoa, ,cortado pela rodovia de Itaipu. Tanto o dique quanto o seu galho são contínuos, chegando aquêle a en- grossar do lado oriental do morro do Cantagalo até uns duzentos metros de possança

Mais para leste ainda, um terceiro e grande dique veio surgir pela encosta ocidental de outro afluente do Tribobó, e, beirando o morro da Maria Paula, vai sair em Paciência onde passa o basal- tito na parte atravessada pela rodovia, tornando a reaparecer a montante de um córrego e em seu talvegue no caminho de Muiiqui. indo terminar um pouco além de Jacaré, nas vertentes da serra Grande. O seu contínuo afloramento apenas interrompido ao sul de Paciência e a leste do morro de Tribobó em trechos de vales cobertos por aluviões ali acaba Mas prosseguindo pela mesma curvatura para o sul, localizamos no Engenho do Mato um peque- no dique, e outro ainda no meio da península gnáissica entre as lagoas de Itaipu e de Pirapetinga. Essa fratura circular terá neste caso 13 quilômetros de extensão.

Ao longo da ponta de Itaipu, ainda outro dique beira a planí- cie, e, além de ser visto na passagem para Maricá entre o Alto do Moirão e o morro do Telégrafo, parece desdobrar-se dado, que nesta ultima elevação existem dois afloramentos paralelos.

Vários outros pequenos veios foram cartografados. Um, na ponta do Barreto, à beira-mar. Outro, ao longo das ruas Leopoldo Fróis e Pio Borges, e, em Sete Pontes, outro ainda nos fundos de um grotão.

Na extremidade ocidental da faixa dos pré-leptinitos do Enge- nho Pequeno, um dique segue os contactos desta rocha com o gnaisse lenticular e nos altos do morro do Zumbi aflora outro.

Além dêstes, anotamos veios de diábase nos seguintes lugares: ponta da Tapaíba, entre Jurujuba e Imburi; n a encosta ocidental do morro da Boa Vista, o qual em seu alinhamento para o sul reaparece numa barreira à rua Paulo César, em Santa Rosa for- mando um notável muro de dois metros de espessura e a prumo entre os restos de gnaisse decomposto, no extremo de um vale

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fechado ao norte da alamêda São Boaventura e, finalmente em São Gonçalo, na estrada do Rocha, onde um grande afloramento segue a estrada do morro do Boqueirão. As águas minerais do Rocha, em São Gonçalo, brotam desta rocha, ali muito fraturada.

Do ponto de vista de estrutura e tectônica regionais, pouco se pode deduzir da maioria dos pequenos diques. O mesmo porém, não acontece com a série de grandes veios circulares.

Depreende-se que tais arcos só poderiam ter sido ocasionados por "desabamentos circulares", tais como os dos golfos de Génova, Nápoles e Salerno. S4

No caso da Guanabara, embora os círculos não se tenham completado, pode-se concisamente deduzir que, pelo menos a parte sul da Guanabara desabou, originando fraturas em círculo, as quais atingiram suficiente profundidade para. que o magma subisse e as entulhasse, ao mesmo tempo que outras fraturas radiais apenas rachando as camadas superficiais contribuíram para a formação de "uma costa de esporões tectôiucos", cujas reentrâncias entre morros foram aterradas com as planícies de São Francisco, Icaraí e Niterói que se prolongam para leste através de longos e estreitos vales de ruptura, como os da alamêda São Boaventura, do Cubango e de Santa Rasa, embora todas essas gargantas tam- bém sempre se relacionem com a direqão das camadas gnáissicas, a qual orientou as fraturas, desviando-as um tanto para o noite do verdadeiro raio de círculo, quando êste não coincidia exata- mente com aquela diseção .

Compreendemos agora porque todo êsse litoral da Guanabara é tão rugoso de enseadas e pontais, sobretudo ao considerarmos os seus contornos paleográficos, antes que areias e aluviões houves- sem entulhado as suas reentrâncias. Trata-se de costas de ruptura provocadas por desabamentos internos na baía.

Foi esta a causa da grande obliteração da estrutura niteioien- se, toda partida de falhas e de escorregamentos que afundaram blocos inteiros da crosta fraturada. No lado carioca idênticos efeitos podem ser notados, sendo que ali, porém, a possante massa montanhosa pôde melhor resistir aos desabamentos, mantida rí- gida pelo hemidomo que conservou a estrutura estratigráfica. Apesar disso, mergulhos locais para a baía são visíveis, como nas pedreiras da rua Bento Lisboa, sugerindo afundamentos de blocos litorâneos.

Ao norte da faixa gnáissica da margem oriental nota-se que há um desaparecimento súbito das rochas cristalinas, mais cons- pícuo ainda que da outra banda da baía. Imensos pantanais co- brem os vales dos rios Guapi e Macacu. Os motivos dessa depres- são maior já foram explicados pelos desabamentos da serra do

S' VER~SSIMO E ~ ~ A R Z E A : Geografia, 2 r ed , Rio, 1933, p6.g 238

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Mar que tão grandemente afetaram os fundos da baía, alagando-a de tremedais entre morros graníticos ilhados. A contínua presença desta racha deve-se ao eixo da batólito que por ali corre.

Compreende-se agora, pela direção dêsse eixo, porque os aflo- ramentos graníticos em contacto com os gnaisses da serra da Carioca nos deixam hoje ver a perfeita estrutura do Rio de Janeiro. A grande massa de granitos atravessa o Distrito Federal formando o maciço da Pedra Branca, enquanto no lado oriental da baía, estando ela distanciada das rochas gnáissicas, não deixa tão visí- veis fenômenos de contacto. Daí também se explica o desapareci- mento dos granitos na região de São Gonçalo e Niterói.

Adiante veremos a enorme importância da orientação do eixo do batólito, ao estudarmos a serrilhada costa flurninense dos limites paulistas a Itaguaí.

III - MARGEM SETENTRIONAL

c'Excepcionalmente, o recôneavo da Guanabara teve gênese diversa A mesma ideiitidaáe cle estruturaçáo geológica, corresponde uma discor- dância i10 processo originário. Aqui, o mar tam- bém recua, cedendo lugar A planície que se al- teia. Mas são as grandes massas de sedimentos terrígenos, produtos da erosão ds coráilheirn marítima, transportados pelas caudais, que, es- tratificando-se continuamente no fundo do mar, vão acrescendo o kitoial Formam-se, assim, ao longo da costa e de cada lado dos rios, ex- tensas áreas periòdieamente alagadas pelas ma- rés, que o manto das rizóforas recobre Quando transboidam os cursos d'água, os materiais só- lidos em srispensáo, depositam-se nos terrenos baixos que os marginam E os manguezais que se prolongam até o mar, elevam-se sem cessar, transformando-se nas vastas planuras que orlam a baía suntuosa.

Na baixada inteira, o solo como que se alca à nossa vista, numa lenta emersáo. Colmatam-se, pela açáo dos agentes naturais, lagoas e brejais, mangues e alagadiços. Aumentam, continuamen- te, por toda parte, as cotas hipsométricas A terra enxuga-se aos poucos. Mas permanece, ainda, inacabada para a vida".

HILDEBRANDO DE ARAÚJO G ó I S : "O Sanea- mento da Baixada Flnminense" Rio, 1939, pág. 12.

Com os minuciosos trabalhos cartográficos do Serviço Geográ- fico Militar e do Departamento Nacional de Obras de Saneamento, crescentemente vem se precisando a fisiografia desta faixa da Baixada Fluminense, e, com esta, toda uma paisagem paleográfica que nos põe a par da sua gênese.

Do alto da Independência, em Petrópolis, vemos ao meio dela um serrote paralelo à serra do Mar e que parece atravessá-la, inter- pondo-se entre a Guanabara e as grandes escarpas. Esta muralha,

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porém, não obstante a sua aparente continuidade, é seccionada por brechas varadas pelos rios que, através delas, buscam a baia.

Todos êstes rios quando não meandram por vastíssimos panta- nais, circulam em geral pelo meio de planícies que, embora desse- cadas, atestam ser por seu aspecto e composição, a cobertura superficial de enormes massas de alúvios que entulharam antigas depressões.

Tomemos por qualquer um dêsses rios e o subamos até a seria.

Próximo às fozes, notam-se logo, em geral, outeiros isolados em pleno pântano. É o que observamos ao primeiro contacto com o delta comum do Estrêla e do Iguaçu, e o que se repete nas em- bocaduras do Suruí, do Iriri e do Majé.

Prosseguindo-se rio acima, verifica-se que, não obstante ser o leito salteadamente marginado por morrotes idênticos ou por maiores extensões de encostas de colinas que se ligam, avoluman- do-se em pequenos serrotes para o interior, os vales sempre se apresentam com áreas niveladas de planícies ou de pântanos, de cota pouco superior à das águas da Guanabara.

Êstes pântanos vão até a base das próprias escarpas da serra do Mar, onde só terminam bruscamente ao atingirem os trechos de regime torrencial dos afluentes dêsses rios, ali separados uns dos outros n a Baixada por divisores de assaz fracas altitudes

Deduz-se disso que toda essa baixada setentrional das mar- gens da Guanabara até a raiz da cordilheira, originada pelo grande sistema de falhas que a fêz descer de muitas centenas de metros, profundamente mergulhou n a crosta apenas despontando as saliências da velha superfície desabada, por entre as quais, atra- vés de gargantas e vales afundados, penetraram até a serra as águas da baía.

Desta morfogênese formou-se uma costa de penínsulas suces- sivas, individualizadas por longos brejos que entre elas se ramifi- cam devido ao próprio afundamento de concavidades superficiais preexistentes. E, como de se esperar dessa descida de uma superfí- cie já trabalhada pela erosão e além disso fraturada pela movi- mentação, o que dela ficou exposto em muitos pontos, sobretudo pelos contornos da primitiva baía onde o mergulho fora total, foi uma franja de ilhotas a testemunharem antigos relevos que os depósitos aluvionais foram encorporando ao continente.

Explica-se dêste modo a origem dessa topografia regional, onde o leque de rios desde o Meriti ao Macacu circula sobre largas planícies pantanosas, e de cujos divisores peninsulares, notadamen- te próximo às embocaduras, destacam-se os já referidos outeiros isolados.

Page 119: O Homem e a Guanabara

Tais morrotes nada mais são que antigas ilhas espalhadas pela bem mais ampla superfície da baía quando esta se formou, e que os mesmos rios foram entupindo com os seus detritos

A área alagada, outrora bem maior, foi dessa maneira redu- zida aos contornos atuais, fixados por mangues e restingas que retardam com as suas barragens naturais o entulhamento que prossegue.

BACKHEUSER, já em sua Faixa Litorânea, exemplifica o fenô- meno com a subida do caminho de Petrópolis, o qual "seja êle feito por Mauá, seja percorrido pela linha do norte, deixa bem ver a grandeza da planície, que se estende a perder de vista para um e outro lado dos trilhos, sem que nenhuma serra ou serrote corte o horizonte do observador. Há morrotes de barro vermelho, mos- trando serem êles antigas ilhas do mar que iria até a "Raiz da Serra". s5

A tectônica desta faixa setentrional é, pois, bem mais simples que a das colaterais, sintetizando-se como a resultante de um sistema de falhas que formou a serra do Mar, e que além de fratu- rar a parte seccionada, fê-la descer em bloco das elevadas altitudes em que primitivamente se encontrava.

Idêntica simplicidade vamos notar na sua petrografia Em oposição ao que expusemos sobre a margem niteroiense, e bem diferentemente da margem carioca com a sua grande riqueza de espécies petrográficas, a rocha típica e dominante nesta faixa é o granito. Excelentes exposições podem ser vistas ao longo da Estrada de Ferro Leopoldina que a atravessa pelo meio desde as vizinhanças de Rosário até Majé, em cortes vivos da própria via férrea ou em matacões que ao longo dela sucessivamente se apre- sentam.

É bem provável que, ao norte dessa entrada onde os morros se alteiam tornando-se angulosos, e não raro apresentam cristas espontadas, perdendo a feição das "meias-laranjas" mais caracte- rísticas da zona sul a estender-se até as margens da baía, o gnaisse já começa a aparecer. Nesta zona, todavia, tendo-se em vista a orientação geral das camadas cristalinas na serra do Mar e no Distrito Federal, de W-SW para E-NE, e dada a situação desta faixa granítica pràticamente em seguimento aos diversos grupos dos mais colnspícuos afloramentos graníticos no Rio de Janeiro, a rocha predominante, embora muitas vêzes dissimulada por espêssas ca- pas de argilas vermelhas, deve ser o granito, como sempre, acom- panhado de ocorrências migmatíticas .

Uma síntese da estratigrafia regional envolvendo o conjunto da petrografia e da tectônica das margens da Guanabara, conduz- -nos em suma, pelos estudos que efetuamos, a considerar todas essas massas graníticas como testemunhos de um batólito intsusi-

Obr cit , págs 82-83

Page 120: O Homem e a Guanabara

vo sob o pacote gnáissico, cuja orientação fica portanto bem defi- nida, e que passa aflorando pelos fundos da baía de Guanabara

Além dessas rochas cristalinas e dos sedimentos quaternários das planícies, existe no divisor entre o Saracuruna, ao norte, e o Pilar e o Iguaçu, ao sul, uma série de baixas elevações sobre as quais voltaremos a falar, onde os cortes apresentam argilas varie- gadas com as mesmas características das nossas formações terciá- rias litorâneas, sobretudo na estação de Rosário e além do quilô- metro 30 da rodovia Rio-Petrópolis até as margens do Saracuruna.

Descrito assim o quadro geológico e fisiográfico a emoldurar a Guanabara, resta-nos, para completá-lo, uma breve descrição das suas ilhas que se numeram por muitas dezenas, ramilhetes de cocais que, com os seus penedos redondos, além da significativa importância para o naturalista, enfeitam salteadamente a Guana- bara de toques artísticos fascinantes.

IV - AS ILHAS

. é táo capaz que terá 20 léguas em roda, cheia pelo meio de muitas ilhas frescas de gran- des arvoredos, e não impedem a vista limas as outras que é o que lhe dá grata".

Pe. FERNÃO CARDIM: Obr. cit pág 308

Em grandeza variam elas desde a ilha do Governador com cêrca de 29 quilômetros quadrados e de contornos irregulares, aos minúsculos esferóides graniticos, em grupos ou isolados, das mais interessantes curiosidades turísticas que caracterizam o cenário guanabarino .

Quando próximas a margem carioca ou a niteroiense, a petro- grafia dessas ilhas de modo geral é a mesma do bordo continental, a que se ligam por antigas estruturas desmanteladas, tornando-se bastante fácil recompô-las por estudos locais.

A direção das camadas é em síntese a mesma dos morros vi- zinhos, provando-nos uma continuidade estratigráfica relacionada com primitivos enrugamentos partidos por falhas OU parcialmente destruídos pela erosão.

Idênticamente ao que se deu nas margens da baía, onde os sedimentos quaternários entupiram velhas fossas, gradativamente aumentando as áreas de terra firme, muitas dessas ilhas também tiveram a superfície ampliada com bem notáveis acréscimos de planícies recentes algumas destas ainda empantanadas. Bons exemplos temos as do Bom Jesus, do Fundão, do Governador e de Paquetá, indo esta Ultima nos servir para uma demonstração em miniatura da capacidade construtiva do mar pelo processo das restingas .

Page 121: O Homem e a Guanabara

Na ilha do Governador - a Única importante pela superfície capaz de suportar uma grande populaçáo -, a marcha daqueles aterros parece mesmo prosseguir com acentuada rapidez na sua extremidade ocidental fronteira à praia de Maria Angu, onde o canal raso e de fundo lamacento já nos dá indícios de uma futura ligação ao continente.

Notemos que, de ambos os lados ddêsse canal, os alagadigos também demonstram a curta idade dessas planícies marginais, provando que o processo de entupimento do braço de mar apenas continua um recente atêrro das margens opostas que ainda não tiveram tempo de secar.

Em quase todo o contorno da ilha idênticas planícies quater- nárias interpuseram-se entre as antigas colinas gnáissicas e o mar, barrando-as de praias que não só aumentaram a sua superfície, como a enriqueceram de recantos aprazíveis para a fundação de núcleos residenciais .

O gnaisse é a rocha dominante na ilha do Governador. BACK- HEUSER em sua Carta Geológica do Distrito Federal, classifica as rochas cristalinas de quase toda a ilha entre os gnaisses melano- cráticos - o biotita-gnaisse da nossa classificação -, excetuando uma pequena área aos fundos do Saco da Olaria, em Cocotá, na qual localiza uma bossa de granito.

A petrografia das rochas arqueanas de Governador, constitui entretanto um dos problemas geológicos difíceis de resolver no Distrito Federal, devido à topografia local e aos próprios fatores insulares. A paisagem interna da ilha caracteriza-se por ondula- ções de fraca altitude, onde o solo residual comumente oculta a verdadeira natureza das rochas por grandes extensões, e o isola- mento pelo mar impede uma correlação direta com áreas terrestres vizinhas, exceto em sua extremidade oriental.

Seguindo um método comparativo com a zona fronteira do continente que cartografamos em nossa Carta Geológica da Cidade do Rio de Janeiro, visivelmente observamos que não deve ser desprezada uma analogia com as rochas da zona que vai de Ramos a CordoviI, onde as massas graniticas sáo comumente relacionadas com migmatitos ou com testemunhos do plagioclásio-gnaisse

Como na carta de BACKHEUSER esta rocha não se encontra diferençada do biotita-gnaisse, e não sendo mesmo sempre fácil especificá-la sem a prova microscópica, somos de parecer que a sua presença na ilha deve ser mais que provável, senão em típicos afloramentos, pelo menos em xenolitos inclusos no granito regional ou com êle misturada em migmatitos.

Não devemos esquecer que, de acordo com a mesma estrutura e com a petrografia das rochas do Distrito Federal, a ilha se encon-

" LAMEGO, A R : Esca9pas do Rio d e Janeito

Page 122: O Homem e a Guanabara

tra no alinhamento do batólito, fato êste ainda reforçado pela circunstância de serem e~sen~cialmente graniticas quase todas as numerosas fronteiras a sua extremidade oriental, inclusive Pa- quetá .

Que o granito seja, pois, na petrografia da ilha, uma rocha de importância, é caso bem provável. Nós mesmos pudemos constatar que a bossa de Cocotá é bem mais ampla do que a sua represen- tação no mapa de BACKHEUSER, abrangendo para o norte o morro do Barão.

BACKHEUSER admite uma emersão costeira na região da Gua- nabara, sendo uma das provas a ocorrência de planícies arenosas com conchas atuais na ilha do Governador, citando o caso do "extenso areal da fazenda de São Bento, na ponta do Galeão, areal "alguns metros acima do nível do mar". 8T

Em O Homem e a Restinga já opinamos sobre a origem dessas planícies arenosas por correntes secundárias e temporárias produ- zidas pelos ventos, parecendo-nos ademais inaceitável admitir a emersão apenas para as ilhas, quando e m torno delas as grandes planícies alagadas do recôncavo permanecem quase ao nivel das águas da baia, num quadro geológico sem positivos indícios de levantamento e com toda a aparência de estabilidade.

Parece-nos, antes, que a própria natureza dessas planícies insulares, geralmente mais arenosas que as do continente, permi- tiu que, ao serem acamadas em baixa cota pelos processos forma- dores de restinga, fossem as areias posteriormente movimentadas pelos ventos, sem uma necessária formação de dunas, de maneira idêntica à que fizemos ver por quase todo o litoral fluminense.

A hipótese de BACKHEUSER foi aceita por STERNBERG, em sua excelente tese Paquetá, trabalho modelar para outros estudos em casos semelhantes. 85

Admitindo a emersão do litoral do norte fluminense, apóia-se êste autor na formação de restingas, "cujas estrias paralelas e su- cessivamente afastadas do mar, parecem comprovar êsse levanta- mento". s"

Não voltaremos a repetir os argumentos contraditórios a essa versão, bastando-nos apenas citar que, justamente na zona de maiores planícies de restingas, ao sul e ao norte da lagoa Feia, os talvegues dos rios que escoam essa grande massa d'água se en- contram atualmente a meio metro abaixo do nível do mar, o que destrói a hipótese referida.

87 Obr cit , pág 89.

STERNBERG, Hilgard O'Reilly: Paquetd Anais do IX Congiesso Biasileiro de Geo- grafia de Florianópolis Vol V

Idem, págs 703-704

Page 123: O Homem e a Guanabara

A restinga apenas represa os pantanais e as lagunas, que aos poucos vão sendo entulhados pelas descargas sólidas dos rios. A restinga, cujo crescimento podemos ainda ver por todo êsse litoral, também explica a existência dos sambaquis pré-históricos a longas distâncias do mar, não sendo êste de igual modo um argumento comprovante como quer o autor.

Quanto a sua opinião de que inversamente as baías da re- gião de Angra dos Reis se encontram numa zona litorânea em "imersão", dando-nos como prova a ausência de falejas, não tendo havido tempo para que fossem estas cortadas pelas ondas, deve- mos dizer que, justamente uma das características dessas baías é a ausência de ondas, sendo mínimas as possibilidades de abrasáo nessas águas lacustres protegidas pela Ilha Grande, e que ba- nham uma costa desfavorável à formação de restinga pela exis- tência quase exclusiva de pequenos rios torrenciais. Excetuamos evidentemente a zona de Sepetiba, onde o Itaguaí forneceu am- plos volumes de areia que, em condições paleográficas privilegia- das possibilitaram, consoante esquematizamos, a formação da grande restinga da Marambaia.

A origem da ilha de Paquetá, " aliás magnificamente ilus- trada pelos desenhos de STERNBERG, exclui a invocação de um le- vantamento dos fundos da baía. Ela é bem clara, pois se trata de pontais lançados entre pequenos morros insulares. Para mo- vimentar as areias necessárias a formação dêsses pontais, basta- -nos recorrer ao fluxo e ao refluxo das marés a remexerem um fundo muito raso e grossamente forrado de detritos transportados pelos rios. Os fragmentos de quartzo rolado menos sujeitos a decomposição, conservam-se em grãos maiores que, ao serem car- regados pelas marés, são os primeiros a serem depositados, ao quebrar-se a corrente contra os morros do pequeno arquipélago de Paquetá, justamente ao norte e ao centro do canal entre a ilha do Governador e a margem oriental da Guanabara, ao longo do qual mais livremente circulam o fluxo e refluxo das águas do mar.

A importância da geologia dinâmica de Paquetá, ressalta, pois, tanto para o geólogo quanto para o geógrafo.

Para este, efetua-se uma rápida mutação de formas geográ- ficas. O arquipélago se transforma em ilha pela união das colinas esparsas, por intermédio de planícies arenosas. 13 o que poderemos chamar talvez de "ilha-arquipélago", admitindo um novo têrmo para a designação de um complexo geográfico não especificado nos compêndios, e de suma importância pelo que veremos a seguir.

00 Além dos vários significados etimológicos de Paquetá, citados pol STERNDFRG, entre os quais sobressaem os de lugar de "muitas pacas", de "muitas conchas", ou de "muita lama'', acrescentaremos a que nos foi confiada pelo saudoso indianista patiicio JosÉ GERALDO BEZERRA DE MENESES, lindissima pela origiiialidade e referência nos famosos penedos da ilha: "pedias caídas do céu"

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Fig. 47 - A Pedra d o fndzo, principal curiosidade natural da praza de Icarai, q u e a i n d anáo foi to talmente destruida pelo mar devzdo a presença nas suas rochas de resistentes

h i a l o m i t o slaminados. (Fo to A. R LAMEGO)

Fig . 48 - O n o m e d e Ztaquatzara - pedra p intada -, n o l i toral ao norte aa G u a n a b a r aprovém dêste dique de rocha granitica de grã f ina , com fendas de mater ia l f e r r u g i n o s o

sugerindo letras o u arabescos. (Fo to A. R. LAMEGO

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POR ALBERTO RIBEIRO LAMEGO

Pig. 49 - Vemos nesta secgáo como a illza d a Boa Viagem diretamente exposta à entrada da Guanabara, restste à sua demolição pelas grandes vagas deutdo ao enrocamento natural o n u n d o d a destruzção de camadas rzgzdas de gnazsse-quartaftico zntrometidas n o bzo-

tita-gnazsse.

(Do livro do autor: A Geologla d e Niterói n a Tectõnzca da Guanabara)

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POR ALBEWTO RIBEIRO LAMEGO

Fig. 50 - Embora o bzotita-gnazsse d e q u e se compõe a parte central dês te 1,zorro ss ja ex t remamen te decomposto e frzável, a elevacão é m a n t i d a pelo rigzdo arcabouço dos vetos d e quar t zo . O prznczpal dês tes vezos aflora ao Longo d a crzsta d o morro. A es trutura e m sinclinal d e rochas decompostas assentando e m camadas zmpermeavezs d e gnazsse-lenticular. f o rma u m a zmensa calha o n d e se znfil-

t r a m as ,ayuas pluvzazs. O morro d a Boa Vis ta loz dêsse m o d o , o reservatolzo natural d e agua para a ant iga Niterói.

( D O livro d o autor: A Geologzq d e Niterói n a TectGnzca d a Guanabara)

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Fig 51 - Ped?ei?a de leptinito n o melro do Cavaláo

(Do l ivio do autor: A Geologia de Niterói n a Tectônica da Gz ta?~abe~a)

Fig 52 - Secção geoldgica n o morro da Armação

( D o l ivio do autor: A Geologia de Niterói n a TectÔ7rica da Guanabara)

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DESHBFIMEflTOS CIQCULRRES NR ORIGEM DB GUfiNflBFIRFI SEGUIYDO RLBEQTO QIEEtR0 L W M E C O

Fig. 56 - Na margem oriental da Guanabara u m a série de diques de diabasito singularmente circulares e paralelos entre si, parecem indicar desabamentos e m funil para a bata, de importância fundamental n a origem da Guanabara. O bloco recoir- solidado foi, porém, de novo basculado para nordeste motivando a bacia ão rio Tribobó,

que desce para o interior conr as suas nascentes b e m próximas ao litoral

(Do livio do autor: A Geologia de Niterói n a Tectônica da Gz tanaba?~)

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Fig 57 - A. inexistência de iugas bem definidas da naargem oriental da Gicanabaia é justificaãa pela ausência de u m a bossa granitica iesistente aos esforços orogSizico3,

sobre a qual viriam as dobras depositar-se, como na margem ocidental

(Do livio d o autor: A Geologia de Niterói na Tectônica da Guanaba7a)

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A "ilha-arquipélago", da qual Paquetá pode ser considerada um protótipo, tem uma grande significação na futura geografia humana da Guanabara. Os morros anteriores isolados não po- deriam possibilitar a fundação de agrupamentos. Agora, porém, ligados pelas restingas, apresentam uma base ecumênica sobre a qual já se eleva pequena cidade entre um dos mais lindos cenários da baía, "jóia tropical", no dizer de JOAQUIM NABUCO, "de uma variedade quase infinita para o pintor, o fotógrafo, o naturalista estrangeiro" .

"São praias de coqueiros, campos de cajueiros, e, à beira-mar, as hastes flexíveis das canas selvagens alternando com as velhas mangueiras e os tamarindos solitários. Ao lado, entretanto, dessas miniaturas do norte, encontram-se na ilha a cada canto do mar, rochas vestidas com a mesma característica vegetação flumi- nense" 91

Indo além do sentimentalismo de N~suco, ao ali ver "uma paisagem do norte do Brasil desenhada na baía do Rio", diremos mesmo que Paquetá é a mais brasileira das nossas ilhas. Toda a beleza mágica da ilha encobre, porém, um tremendo significado para os destinos geográficos da Guanabara. E êste só poderá ser desvendado com a análise fria do geólogo.

Em primeiro lugar ali vê êle a petrografia das suas rochas cristalinas, muito bem sintetizadas por STERNBERG, firmado em RUI DE LIMA E SILVA, e que se caracteriza por ter como rocha domi- nante o granito cinza ou róseo, sendo êste o mais comum. Os únicos testemunhos de outra rocha primitiva mencionados, são duas insignificantes faixas de leptinito na base dos morras da Cruz e da Paineira .

Considerando-se agora que a maioria das demais ilhotas ao sul e a leste de Paquetá, e cobrindo uma área que excede uma légua quadrada, são em geral de composição idêntica, chega-se a conclusão de que por toda esta zona da baía aflora o batólito, fortalecendo-se dêste modo as nossas ponderações sobre a petro- grafia da ilha do Governador.

Importantes considerações também decorrem da morfologia dêsses ilhotes, cujo arrendondamento bizarro fê-las famosos n a ciência geológica, na qual padronizam um processo especial de destruição das rochas.

Ao discutirmos a morfologia do Rio de Janeiro, expusemos a nossa opinião. Como ali, entretanto, analisamos mais profun- damente a formação das escarpas, apenas de leve tocando no caso dos boulders isolados de granito, cumpre-nos aqui dizer que, não obstante aceitarmos as conclusões de CAPANEMA e BRANNER, sobre a esfoliação térmica, agindo em blocos previamente definidos por

O' NABUCO, Joaquim: Minlra Formaçcio, Rio, 1900, pág 293

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juntas, nem sempre a simples expansão e retração da rocha pelas variacões de temperatura bastam para explicar o arredondamen- to, quanto êste se dá sob espêssa camada de solo residual e a rocha descasca em visíveis calotas esféricas.

STERNBERG chama a atenção para tais casos, atribuindo-os a existência de núcleos mais resistentes, produzidos durante a cris- talização e que centralizam os futuros matacões. MORAIS RÊGO e SOUSA SANTOS, ao mencionarem o caso, bem ilustrado nos grani- tos de Piratuba, na serra da Cantareira, em São Paulo, já o haviam referido a "circunstâncias pertinentes a estrutura original da rocha", e o geólogo português, DOMINGOS ROSAS DA SILVA, cita notáveis ocorrências em rocha idêntica, devido a diferenciações magmáticas . O 2

Mais recentemente, RUELLAN emite a opinião de que êsses blocos esféricos foram arredondados quando ainda enterrados. "As águas de infiltração, quentes e carregadas de ácidas", pe- netrariam entre os planos de fratura das rochas, envolvendo-as num meio úmido e ocasionando uma intensa decomposição quí- mica Considera RUELLAN OS numerosos amontoamentos de tais bouíders n a Guanabara, como resultantes de remoção dos detritos superficiais pela erosão fluvial ou marinha contestando as con- clusões de BRANNER sobre a esfoliação térmica, uma vez que, expos- tas e sêcas as rochas sob a ação do vento e do sol, não poderiam aquelas águas atuar com a mesma intensidade. O3

Tal idéia merece ponderação, devendo-se, entretanto, anotar que indubitavelmente o descascamento se processa na atualidade e por toda parte, em rochas completamente expostas. A nosso ver, ambas as hipóteses devem sei adrnissíveis. Os boulders podem ter-se arredondado no subsolo, mas a esfoliação prossegue, quando descobertos e expostos a uma direta influência térmica solar.

Passando em seguida à geologia dinâmica, apodera-se do geó- logo uma séria preocupação, quando, a par de seus estudos espe- cializado~, lança êle um olhar sobre os destinos da Guanabara. É que o caso de Paquetá apenas individualiza a marcha de um processo evolutivo que se generaliza por toda a baía.

Vários grupos de ilhotas igualmente belos - alguns desfi- gurados por monstruosos tanques de combustíveis -, já se acham também ligados por pequenas planícies de areia, provenientes da mesma origem que nos deu a jóia da Guanabara. Citemos apenas como exemplos, a Brocoió, embelezada por um proprietário de riqueza e gosto, e a ilha d'Água, onde BRANNER colheu uma das melhores ilustrações que provam a esfoliação térmica dos penedos.

" Contribuigão para os estudos dos granitos da serra da Cantareira. Boletim n . O 18 do Ins t de Pesquisas Tecnológicas de São Paulo, pág 29, e Nódulos Graniticos Pubi do Museu e Lab Geol e Min da Faculdade de Ciências do Pôrto, n O XIII, 1939, pag 3

" RUELLAN, Francis: A evoluçáo geomorfológica da baía de Guanabara Rev Bras de Geografia. ano V I , n O 4, Rio. 1944

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Como estas, todos os ilhotes, desde os maiores até as gracio- síssimas pilhas de grandes bolas de granito a emergirem das águas da baía - como os Tipitis, as Tapuamas, os Itapacis, a ilha das Folhas e as Pedras Brancas -, todos êles irão aos poucos rodean- do-se de barras arenosas. Grupos de matacões e morros, um após outro, unir-se-ão em ilhas maiores, as quais por sua vez desapa- recerão num aterramento sem limites, que tende a entulhar pelo menos toda a parte setentrional da Guanabara, já excessivamente rasa.

É êste o dramática futuro da baía, com a formação das "ilhas- -arquipélagos7', que entre si irão por fim soldar-se, no que pode- remos com a mesma precisão denominar "arquipélago terrestre".

Com Paquetá ligada às demais ilhas e à do Governador, e todas elas ao continente, terá o carioca do futuro uma grande e nova área ecumênica para o desdobramento da população. Mas, caso não queira ou não consiga desfazer com a sua engenharia a obra fatal dos agentes naturais, perderá com um enorme trecho da sua baía, um dos seus maiores encantos, do qual se orgulha no presente: na magnificência espetacular dos seus cenários gua- nabarinos, a originalidade e a beleza das suas ilhas esquisitas re- fletindo em águas espelhantes .

V - ORIGEM E EVOLUÇÃO DA GUANABARA

'<Casos há em que, toda uma região da super- fície terrestre muda de nível: é o que chamarnus u m "desabamento". Uma de suas interessantes variedades é a chamada fratuia "circular" o11 'cramificada".

AROLDO AZEVEDO: "Geografia". 5 a série, 6 a r d , São Paulo, 1941, págs. 199-200.

"Estendendo agora ao Passado os resultados dês- te estudo, nós poderemos, do conhecimento dos "fenômenos atuais", concluir sôbre o que se prodiiziu n2.s idades remotas e assim recons- tituir a história do Globo".

COLOMB et HOULRERT: <'La Géologie" - pág 10

Após a análise geológica da Guanabara, passemos agora, em rápida síntese, a resumi-la, para a compreensão da origem da baía e do que nela posteriormente aconteceu até atingir o seu aspecto geográfico atual .

Em idades primitivas, um sistema de rugas isoclínicas ergueu na faixa fluminense e carioca da Guanabara uma composição orogênica nas abas de um batólito granítico.

Por centenas de milhões de anos durante os quais a baía inexistia, trabalhou a natureza na erosão de um imenso volume de rochas, lentamente descobrindo os atuais afloramentos A

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Guanabara só começou, dêsse modo, a esboçar-se nos fins do Cre- táceo ou mesmo em princípios do Cenozóico, após um longo pe- ríodo erosivo que remonta às primeira idades terrestres. Sòmente então, quando a costa fluminense foi talhada por grandes desa- bamentos que afundaram no Atlântico a parte oriental do conti- nente, formando-se a serra do Mar, é que apareceu a Guanabara onde se depositaram os tabuleiros terciários .

Prende-se dêsse modo a origem da baía ao sistema de falhas que riscou o litoral dando origem a cordilheira marítima, ao pé da qual, numa depressão isolada do oceano e já intensivamente trabalhada pela erosão, novos desabamentos na margem oriental aumentaram o fosso ampliando-lhe os ,contornos paleográficos. Como argumentos comprovantes dêsse aprofundamento, falam os grandes diques básicos circulares daquela margem, denunciadores de uma queda em funil para um foco interno na baía, com posterior empinamento do bordo niteroiense onde os formadores do seu mais impo'rtante curso d'água, o Tribobó, afastam-se para o in- terior.

Nesse tectonismo original, as falhas embora não tendo re- percutido muito na formação das escarpas do Rio de Janeiro, parecem haver tido grande atuação no restante da Baixada que se apresenta como um degrau tectônico para a cordilheira.

J á deixamos esboçado êsse ponto de vista em O Homem e a Restinga, a0 nos referirmos a pesquisas geofísicas ao norte de Cabo Frio na zona de Campos Novos, onde o embasamento gra- nítico mergulha para o norte. Dissemos então que, "a nosso ver, êsse fenômeno não é apenas local e peculiar à bacia do Una, mas sim generalizado por extensas regiões da Baixada Fluminense, notadamente pelos fundos da Guanabara onde os grandes panta- nais que marginam a cordilheira parecem igualmente indicar um afundamento maior da crosta por falhas do que nos bordos atlân- ticos". 95

I **

Independentemente exprimindo idéias semelhantes, desenvol- veu-as o professor FRANCIS RUELLAN em seu notável trabalho "A Evolução Geomorfologica da Baía de Guanabara", " no qual ainda nos fornece o autor contribuições fundamentais para a tectônica do vale do Paraíba, de que trataremos em O Homem e a Serra.

Embora discordando do autor em pontos secundários, a sua exposição de ser a Guanabara uma antiga ria, ajusta-se a morfo-

03 LANIEGO, Albeito Ribeiio: O Homem e a Restinga Rio, 1946 " Revista B?asilei?a de Geografia, ano VI, n O 4, outubro-dezemblo de 1944 07 Referem-se as ilossas objeçóes aos seguintes pontos: 1 As praias de Jacarepaguá, Gávea, Leblon, Ipanema, Copacabana, Piratininga,

Itaipu e Maricá, são típicas planícies de restingas e não aluviais como as considexa O autor em seu mapa geomorfológico, leservando o nome de iestinga apenas para a piaia prògiiamente dita. São estas planícies compostas de aleias do mal - O que é fácil de constatar em qualquei escavação para fundações -, que barram lagunas como a de Marapendi, Rodrigo de Fieitas, Piiatininga e Itaipu. Uma pequena destas lagunas existiu ein Copacabana, na reentrâilcia entre os moiios de São João e dos Cabiitos, a saída

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logia do litoral do Rio para o norte onde a existência de antigas rias barradas por planícies de restinga e transformadas em longos pantanais são de generalizada ocorrência. " Podemos constatá-las pelo menos até Maceió, onde as "alagoas" que deram nome ao Esta- do nos fornecem os melhores exemplos dessas formações lacustres.

Justifica RUELLAN a sua tese com o profundo e estreito canal que da boca da baía segue para o norte, atravessando a Guanabara pelo meio e indo terminar entre as ilhas de Paquetá e Governador Ao sul da barra êsse canal penetra no oceano, passando entre a ponta do Leme e a ilha da Cotunduba. -

Uma objeçáo que poderia ser levantada contra a hipótese de ser êste sulco o leito de um antigo rio, é a irregularidade do seu perfil longitudinal. O talvegue ao longo da ilha do Governador desce à cota de 26 metros, mas logo ao sul desaparece numa plata- forma de 15 metros. Volta em seguida a reaparecer entre Niterói e o Rio de Janeiro onde atinge a profundidade de 40 metros entre Gragoatá e o Aeroporto Santos Dumont prosseguindo para a ponta de Santa Cruz, em frente a qual desce a máxima cota batimétrica de 56 metros.

Justamente neste local, na estreita boca da baía. não há mais indícios do canal que só vem a reaparecer em frente ao Pão de Açúcar numa pequena fossa de 38 metros, seguida pela referida passagem entre o Leme e a Cotunduba com 24 metros, pouco após desaparecendo ao penetrar nos domínios da plataforma continental.

Fala o autor da vasta contribuição de sedimentos que a baía recolhe, devido a erosão dos pequenos rios que "precipitam para o mar quantidades enormes de arenas, de areias e de argilas nos dias de chuvas torrenciais", explicando a conservação do canal pela corrente de maré, a qual, mesmo com pequena velocidade "é sufi-

do Túnel Velho, testemunhada pela depressão argilosa que ali se vê e que ainda co- nhecemos embrejada

Mesmo no interioi da baia, planicies como a da Ponta do Galeáo na ilha do Go- vernado~. são compostas de areias do mar conchilifeias, e não foimadas de aluviões

2 Parece-nos excessivo o númeio de terracos indicando níveis de erosão, numa zona onde o desgiiste em dobras cleitndas c frnti1rad:is tende a cieixnr piotnforiiias rcmaiiesceiices do Iioiizoiltnlisino dos caniadas. sem que cstns iiecessnriaineiitc icgieseiiteiii tcsteiiiuiilios daqueles níveis Considere-se aliás que, com o intenso plantio de café em todos os morros do Rio de Janeiro em fins do século XVIII e pjlincípios do XIX, é bem possivel que muitos dêsses teiiaços nada mais sejam que terreiros artificiais de secagem cortados pelos esc1 avos.

3 Na margem oriental da baía o estudo estiatigiáfico das camadas não confiima a hipótese de uma virgação Tão pouco a alte~nância de camadas gnáissicas de variável resistência a erosão e desta banda responsável por adaptaçóes apalachianas das cristas e vales a estruturas. O gnaisse iegional é quase unicamente o lenticular,, e tais adaptacóes ligam-se a dois sistemas de fraturas, um antigo caracterizado por veios de quartzo, e outro moderno, poi veios de diabásio (Vide mapa geológico de A Geologia de Nitelói na Tectônica da Guanabara, de A R LAMEGO) "

4 Relativamente a formação das restingas, discordamos quanto ao papel "acessório" das colientes originadas pelos ventos São evidentemente as vagas que depositam as aieias, mas a função reguladoia da corrente é que determina o avanço dos pontais e a sua morfologia As vagas por si só teriam entulhado por exemplo toda a baia de Sepetiba, e as peifeitas curvaturas dos esporões da Aiaruama jamais poderiam ser explicados sem i a invocação de correntes oiientadoias (Vide Ciclo Evolutivo das Lagu?ias FEuininenses de A R LAMEGO, B01 n o 118 da Div de Geologia e Mineralogia, Rio, 1945)

Os LAMEGO, A R : O Homenz e o Brejo Rio, 1945, mapa da "Geognose da Terra Goitacá", págs 16-17, fig 4.

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ciente para o transporte de partículas argilosas e de grãos de areia fina". Cremos, porém, que, neste caso, o material deveria reguia- rizar o perfil do talvegue, entulhando os locais de maiores profun- didades o que não se da.

A mais séria objeção contra a hipótese de RUELLAN é, todavia, a que decorre do exame da entrada da baía. Dá-nos O autor como causa da brusca diminuição da sua profundidade e descarga da corrente de jusante, a qual apertada entre a ponta de Santa Cruz e a de São João - distanciadas apenas de 1,6 quilometro -, logo em seguida se alarga entre o Pão de Açúcar e a ponta de Fora, já separadas por 3,15 quilômetros de mar. Êsse alargamento súbito faz a corrente perder velocidade, com precipitação de grande vo- lume de sedimentos. "Compreende-se, pois, que uma brusca des- carga de aluviões arenosas se produza imediatamente ao sul da ponta de Santa Cruz, onde os fundos sobem ràpidamente, oblite- rando o canal da ria. da Guanabara". 99

Segundo o autor ainda, "a velocidade das correntes de maré particularmente em sizigia, mantém, no gargalo, o canal modelado pela erosão fluvial. Não há vasa, os fundos são arenosos e às vêzes mesmo rochosos".

Levanta-se, porém, aqui uma interrogação fundamental Seria êsse trecho atual o antigo leito de u m rio apenas entulhado por: sedimentos?

É inadmissível que um curso d'água, ao escavar esta garganta, não tenha ali deixado um canal profundo ao transpô-la com ve- locidade. Deveriam portanto os afloramentos rochosos do antigo leito estar submersos em profundidade maior que a do talvegue do canal n a ponta de Santa Cruz - 56 metros Ora, segundo in- formações do Ministério da Marinha, há uma plataforma de 10 metros de profundidade ligando a Laje à referida ponta, essen- cialmente rochosa: H á portanto u m paredão de rocha barrando o gargalo da Guanabara, com o seu topo a çêrca de 45 metros acima da cota vizinha do talvegue do canal na ponta de Santa Crux, sendo impossiveE que êsse gargalo seja o Eeito entulhado de zcm rio.

De outro lado, sendo aceitável que a barra venha sendo obstruí- da pela diminuição das correntes de maré com precipitação de sedimentos, verificamos porém nós mesmos, ao atravessá-la em barco a remos que justamente ali têm essas correntes velocidade máxima entre a extremidade do canal interno em Santa Cruz e o trecho externo entre o Leme e a Cotunduba. E a tripulação de pescadores que esforçadamente remava e que em seus trabalhos diários atravessa de contínuo esta barra, garantiu-nos que tal fe- nômeno é permanente.

M RUELLAN, Francis: Obi cit pág 428 Idem

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Quer isto dizer que, não obstante a diminuição geral da cor- rente de maré jusante ao atingir o oceano, ou inversamente a de maré montante ao chegar a baía, no trecho obstruído entre Santa Cruz e o Pão de Açúcar há sempre um feixe circulatório de grande velocidade, justamente ao longo do suposto leito o que deveria impedir o seu entulhamento .

Além disso, a referida barragem natural de rochas no gargalo da baía, leva-nos a um evidente dilema. Ou o rio da Guanabara não existiu, pelo menos atravessando a barra, sendo os canais dentro e fora da baía de origem tectônica, ou a entrada da Gua- nabara foi obstruída por desabamentos, conforme o nosso parecer do escorregamento de um bloco entre o Pão de Açúcar e o morro Cara de Cão. O outro bloco entre aquêle penedo e 0 morro da Babilônia afundou-se na enseada da Praia Vermelha, sem chegar a obstruir o canal de fora da barra.

A hipótese de RUELLAN não é dêsse modo invalidada, desde que seja admitido um recente sistema de falhas conforme expusemos e ilustramos, responsável pelo talhe inicial de grandes blocos à en- trada da Guanabara, os quais foram a seguir trabalhados por outros agentes morfológicos .

A ria entretanto, embora satisfazendo os geógrafos mais adstri- tos a fisiografia dos tempos atuais não basta para os geólogos que facalizam sobretud,~ a síntese dinâmica dos fenômenos regionais. A ria em si é um fenômeno superficial e recente. Apenas um coro- láiio da verdadeira formação da Guanabara, cuja bacia se deve antes de tudo a poderosos movimentos tectônicos e a subsequente escavação dos rios do recôncavo, de suma importância no relêvo, conforme atestam os diversos níveis de erosão discriminados por RUELLAN .

Resta-nos ainda opinar que, sendo posterior ao canal que teria atravessado a barra, o desabamento que a obstruiu e que hoje ainda eleva o fundo do mar a cêrca de 10 metros, em concordância com os que se deram entre o Pão de Açúcar e a Babilônia e entre o mor- ro do Pico e o da Viração, provàvelmente transformaram a Guana- bara num grande lago, antes da submersão que produziu a ria.

Já provamos a origem da Praia Vermelha como contemporânea das falhas do Pão de Açúcar, e o paredão do lado marítimo do pico apresenta características de um desabamento conjugado ao mesmo sistema de fraturas responsáveis pelos veios de diábase dêste morro, da ponta de Tapaíba, do Cafofo na fortaleza de Santa Cruz, do Pão de Açúcar e do Leme. O dique do Pão de Açúcar não é, pois, devido a uma falha antiga como sugeriu RUELLAN, por dever a sua origem ao recente tectonismo ligado à formacão dos morros da entrada da baía.

Se considerarmos afinal os veios da mesma rocha no Distrito Federal e na margem niteroiense, vemos que, devendo êstes diques

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ser recentes, resulta que, pelo menos em sua parte meridional, a bacia da Guanabara foi intensamente remodelada por movimentos tectônicos epirogênicos, após a sua escavação.

Sugerimos os fins do Cretáceo ou o início do Cenozóico para os primeiros desabamentos que a originaram, ligando-se dêste mo- do a sua formação a da serra do Mar e da Baixada Fluminense.

Nos fundos do recôncavo argilas semelhantes as dos tabulei- ros cenoaóicos afloram em Rosário, e outras idênticas foram re- gistradas por HARTT ao longo da Estrada de Ferro de Friburgo, desde Vila Nova do Itambi até proximidades de Cachoeira, no sopé da serra do Queimado, em cujas encostas ainda anotara êle êstes sedimentos. lol Uma das características destas argilas coloridas é a presença de camadas de seixo's rolados, hoje bem visíveis nos cortes da E F . Leopoldina, logo depois da estação de Visconde de Itaboraí, no rumo de Majé. Os seixos são de quartzo e por vêzes acompanham o contacto das argilas com os depósitos subjacentes, mas também se alastram pela superfície das colinas.

As argilas são em geral vermelhas, mas em frescas exposições é comum vê-las marchetadas de ro'xo, branco ou amarelo Além dos pantanais do rio Guapi tornam elas a reaparecer, sendo logo após substituídas pelo gnaisse decomposto das mais altas elevações das vizinhanças de Majé.

Desta cidade ao rio Estrêla os cortes da estrada de ferro são em granito, que salientamos como a rocha dominante pelos fun- dos da Guanabara. Mas em Rosário, as argilas reaparecem, for- mando os morros baixas da bacia dro Saracuruna. Em direção a Actura estas exposições continuam por certo espaço, dando lugar em seguida a uma série de relevos cristalinos que separam a bacia daquele rio da do Iguaçu.

Tais formações sedimentares deveriam outrora ocorrer por todo o recôncavo da Guanabara, ocupando as depressões entre ilhas de rochas cristalinas. São, porém, hoje bastante limitados seus afloramentos, devido a sua fragilidade que as torna facilmente removíveis pela erosão.

O seu nível superior de alguns metros apenas, sobre o da baía indica um levantamento da bacia da Guanabara após a sua sedi- mentação, que HARTT assim descreve: "Já numa fase adiantada do período terciário, depois que as montanhas da cidade do Rio de Janeiro se haviam erguido, e quando a região se apresentava em nível um pouco mais baixo, depositaram-se as argilas estratificadas por toda a área da bacia do Rio de Janeiro e das terras baixas adjacentes. Estas, com toda a probabilidade, se ergueram mais tarde, conforme tratarei de demonstrar, a uma altura maior do

1"' HARTT, Ch Fred : Geologia e Geoglafia do Brasil E d bias Tiad de EDGARD SUÇSEKIND DE MENDONÇA e ELIAS DOI,IANITI, São Paulo, 1941, págs 41-43

- 9-

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que presentemente, e foram sujeitas à ação aquática e glacial" ] IJ2

HARTT não abandonara a hipátese das geleiras de AGASSIZ, acei- tando-a porém apenas parcialmente. "Quanto à idade de tais for- ma~ões, isto é da argila, mais tarde referi-as ao Terciário, não obstante estar o professor AGASSIZ inclinado a considerá-las como dri f t . Acredito, como o professor AGASSIZ, que o depósito superficcial de argila vermelha seja dr i f t . As areias estratificadas foram de- positadas em águas rasas n a ocasião em que o mar estava a alguns pés sòmente mais acima do que atualmente, e foram soerguidas por um levantamento recente do litoral - soerguimento que su- ponho ainda se esteja processando'^. lu:{

Sem adotarmos a sua idéia de um período glacial, responsável pela generalização de blocos graníticos e de seixos rolados em numerosos pontos do território fluminense, de modo geral aceita- mos a explanação de HARTT. Atribuímos a confusa ou quase ine- xistente estratificação nas argilas variegadas a regimes torrenciais

Vemos assim a Guanabara originada como depressão tectônica seccionada em bacias menores, talhadas estas, em geral, em áreas de migmatitos que cobriam parcialmente o batólito e onde a mais fácil desagregação das rochas permitiu uma escavacão mais rápida. As zonas atualmente mais deprimidas na crosta arqueana dos contornos da baía são quase sempre nesta rocha.

Os fundos e as reentrâncias dessa depressão foram aterrados pelas descargas dos rios e córregos que sobre êles depositaram as argilas terciárias.

Com a subida do bordo continental posteriormente a esta se- dimentação, a maioria das camadas terciárias foi por sua vez erodida, e seus componentes mais uma vez transportados para o interior da grande concavidade, ficando apenas irz situ os aflora- rnentos atualmente esparsos, ao rnesmn tempo que, com esta ascensão, os cursos d'água se aceleravam, desbastando fortemente o círculo montanhas0 da Guanabara e trazendo de roldão as massas de seixos rolados que vieram acamar-se sobre os anteriores sedimentos.

Não cremos, entretanto, como HARTT e BACKHEUSER, que o soerguimento litorâneo ainda hoje continue. Ao tratarmos da formação das restingas fluminenses, preferimos admitir uma atual estabilidade para o bordo continental.

Com sedimentos mais finos foi a seguir a concavidade da baía se entulhando. Seus fundos se elevaram, transformando-se em pantanais por vastos trechos. De suas quatro saídas para o Atlântico, três foram fechadas pelo próprio mar, com as barragens de restingas entre a Urca e a Babilônia, o Cara de Cão e o Pão de Acúcai e o pico e o morro da Viração, mantendo-se ùnicamente

1" HARTT, Ch Fied : Obi cit , pág 44 103 Idem

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aberta a fresta atual, bem definida por um profundo canal tectô- nico limpo de detritos pelas marés, não devendo ser também intei- ramente desprezado o volume d'água doce que desce para a baía, e que cresce com a diminuição da área inundável pela colmatagem natural e as obras de saneamento. Tais aterros findarão por redu- zir quase a metade a vasta superfície de evaporação perdida em tão extensas planícies pantanosas, o que provavelmente contribuirá para o aumento do volume d'água a ser despejado no oceano.

Conquanto tal contribuição possa no momentr, ser desprezível, do ponto de vista da geologia dinâmica só ela bastaria para manter futuramente aberta a barra da baía - cujo entripimento foi su- gerido por um autor - visto que um tal pêso d'água tem de buscar uma saída para o mar, na baía que se retrai.

Vemos, pois, em conclusão que, tendo a Guanabara sido oiigi- nada por um desabamento geral resultante da formacão da serra do Mar, posteriormente acentuado por fraturas circulares em funil em sua margem oriental, serviu de bacia receptora para sedi- mentos terciários e quaternários continuando êstes a serem cie- positados .

Atualrnente nos apresenta ela os contornos aparentemente fixos por tarjas de mangues e de restingas. Mas não devemos es- quecer que o seu entupimento prossegue sempre, com a inexorabi- lidade das leis evdutivas naturais Vimos como o fenômeno se processa, ao t ratarrnos das suas "ilhas-arquipélag os" . É preciso, pois, que o homem, crescentemente impelido para as margens do recôncavo pelo centiifugismo demográfico do Rio de Janeiro, cuide quanto possa, de retardar com a, sua engenharia o dramático desaparecimento final da grande baía, inevitável, a não ser que a técnica do futuro possa nesse caso reagir contra leis imutáveis da natureza

Baías do extreino oeste

Sepetiba, Jacz~acnnga, Angra dos Reis e Parati

"Os coiitornos da terra firnie como que ircoi- tados em numerosas curvaturas onde as águas vêm formar remansadas e rliiietas o abrigo das angras e o recesso das enseadas"

LATINO COELHO: "A Hélade" ("Páginas escn- lhidas", 3." ed. vol. I, pág. 181)

A não ser a extraordinária praia de Cabo Frio e o cenário excepcional da Guanabara, nenhum trecho de toda a costa brasi- leira pode a êste comparar-se. Em nenhum outro - excetuado o canal entre a ilha de Santa Catarina e o continente -, existe essa oposta conjugação de um mar espelhantemente lacunar e de esfar-

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rapadas serranias que o bordam, roídas de concavidades e ásperas de penhascos

Perspectivas maravilhosas por ali se estiram Atraem-nos E ao segui-las a partir de Itaguaí, vemo-las distenderem-se com os mesmos contrastes até os recôncavos de Parati.

Por mar é uma viagem que se não descreve devido à penúria vocabular, e que talvez por isso se deseja sempre repetir. Sôbre essas tranquilíssimas toalhas de baías sucessivas onde as embarca- ções navegam sem balouços, pode-se notar com que poderosas fôr- ças conta a natureza para a formacão dos relevos terrestres.

Inúmeros são os cabos, promontórios ou simples pontas de rochas que ferem o manto anilado dessas águas abrigadas, puras por não receberem grandes rios lodosos. Todos êles torrencial- mente vertem das alturas serranas. Tombam em cachoeiras. Batem na rocha viva que esfacelam desblocando matacóes que rolam por vales profundos entulhados de penedos. Pouca é a matéria fina transportada e que se precipita nas proximidades da embocadura.

Possibilidades deltaicas não existem nessas bicas fortemente inclinadas e de águas transparentes. A retificaçáo de trechos de costa por meio de restingas é igualmente inexequível pela escassez de massas arenosas, a não ser em sua extremidade oriental onde os sedimentos do rio Guandu possibilitaram a forma~ão da Maram- baia Em todo o seu restante essa costa esfrangalhada perma- nece quase virgem, no mesmo estado original em que a talharam os grandes desabamentos formadores de toda essa massa de monta- nhas marítimas.

Nenhuma suavização dos contornos primitivos. ~fIinúsculas enseadas, incontáveis, aninham-se na calmaria dessas águas entre escabrosas saliências que as ocultam. Em seus côncavos, uma fím- bria de areia fina, e, logo atrás as subidas íngremes, os aclives bruscos da cordilheira que mergulha diretamente as raízes num mar sem ondas, protegido pela Marambaia, pela Ilha Grande e pelo espigão continental que de Parati avança para leste. Raros são os vales marítimos que enfiam planícies em brechas montanhosas.

Cidades, vilarejos, ermidas e moradas de fazendas, isoladas casinholas de pescadores, tudo repousa nesses fundos convidativos das baías sob montanhas e florestas.

Toda essa magnificência natural das formas brutas e serranas, todo êsse rendilhado litorâneo finamente recortado, toda essa pla- cidez de águas reluzentes têm suas origens motivadas por fenô- menos geológicos deterministas .

Para explicar a paisagem temos ainda uma vez de penetrar no âmago das rochas, buscar n a litologia a composição e textura dos

1"' L A M ~ O . A R : O Homenz e a Rest i i~ga

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elementos da crosta, pesquisar n a sua estrutura as causas de toda essa selvajaria montanhosa, de todo êsse arquipélago de ilhotas que surgem de um mar inerte. Sem principiarmos por aí, jamais poderemos entendê-la.

E foi bem simples a sua gênese. Nada que repita as comple- xidades estratigráficas e as modalidades da tectônica, imprescin- díveis para a formação da Guanabara. Aqui, todo êsse litoral des- pedaçado que se estorce por dezenas de quilômetras, teve uma causa única uniformemente a desenhar as suas tortuosidades agressivas, ao mesmo tempo que num traço geral golpeava a cordilheira dando-lhe um rumo definido.

Para compreendermos esta causa, temos de regressar um ins- tante à Guanabara.

Frisamos ali que a orientação do eixo do batólito é de oeste- -sudoeste para les-nordeste, e que a massa granítica já dtominante na serra da Misericórdia e em vários distritos suburbanos, muitas vêzes sob a capa de migmatitos - como no Méier e em Inhaúma -, irrompe subitamente na zona central, subindo a mais de mil metros no maciço da Pedra Branca, cujo arcabouço é constituído desta rocha, e em torno ao qual se acamam gnaisses granitizados com testemunhos xenolíticos de plagioclásio-gnaisse

A geologia costeira de toda essa faixa carioca e fluminense mostra-nos que as baías de Sepetiba, Jacuacanga, Angra dos Reis e Parati, encontram-se no prolongamento do eixo do batólito.

Do lado setentrional dêsse braco de mar, eleva-se a cordillleira gnáissica. No lado meridional, a mesma rocha é predominante no pico da Marambaia, n a Ilha Grande e na quina continental de Parati. Mas por todo êsse friso marítimo de ambos os lados das baías, a rocha que aflora é quase sempre o granito

Observa-se êste fato desde Itacuruçá, tornando-se cada vez mais evidente em Mangaratiba onde forma todo o cabo, e, daí por diante até Parati.

As ilhotas que enxameiam ao redor de Angra dos Reis são quase todas graniticas, e a mesma anotação se aplica às ilha e cabos a leste de Parati, na face interna da referida quina, a qual, embora gnáissica, apresenta comumente amontoados de boulders graníticos em seus contornos dilacerados. Verificação idêntica pode ser feita na face interna da Ilha Grande, onde as pontas e cabos em geral terminam por afloramentos graníticos

Já o arcabouço desta ilha é de gnaisse, rocha que forma a ilha de Marambaia como o grosso do espigão de Parati. Neste último, em toda a faixa marítima e meridional até a enseadas de Ubatu- mirim e Picinguaba, já no Estado de São Paulo, podem ser exa- minados exemplos notáveis de fraturas que caracterizam o para- lelismo das grandes escarpas que beiram o oceano e toda uma série de grandes juntas igualmente orientadas

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Temos ali uma costa de ruptura, onde os desabamentos foram dirigidos pela orientaqão das camadas gnáissicas .

Caso mais interessante nota-se neste grande cabo com as chamadas baías dos Meros e de Mamanguá, as quais não passam de longas rachaduras abertas de oeste-sudoeste para les-nordeste. Ambas são profundas, calando 20 a 30 metros e penetram cêrca de 10 quilômetros por terra adentro.

A disposição destas duas baías paralelamente as fraturas do lado atlântico esclarecem a sua origem. Resultam elas dos de- sabamentos que talharam a costa fluminense e a paulista, e não passam de extensas rachaduras no referido cabo. Por sua mor- fologia toda especial constituem no Brasil isolados exemplos de f jords, embora não ocasionados por geleiras.

Examinada, pois num relance a geologia descritiva e tectônica dessas baías, chega-se a conclusão de ser o longo braco de mar definido por um quadro de rochas gnáissicas que se acomodam sobre um interior granítico.

Não temos dúvida de que se trata mais uma vez do batólito, cujos afloramentos submergiram justamente na faixa das águas, apenas emergindo nos bordos terrestres, e sobre o qual lateral- mente assentam, de um lado as abas da cordilhejra gnáissica e do outro os relevos oceânicos da mesma rocha

Toda a longa faixa de baías procede assim de um formidável desmoronamento Em sua banda setentrional temos ainda a mesma linha de escarpas da serra do Mar que delimita os fundos da Guanabara. Do lado oceânico, porém, outra série de rupturas contemporâneas deu-nos o cabo de Parati, a Ilha Grande e a de Marambaia, resultantes igualmente de um terceiro desaba- mento que lhes tracou as encostas atlânticas. A essa derradeira linha de falhas subordinam-se fraturas transversais com escor- regamentos de grandes massas de rochas para o sul, atraídas pela depressão do oceano, resultando em aberturas entre a cabo de Parati e a ilha Grande e entre esta ilha e o pico da Marambaia

Todo o grande braço de mar entre o recôncavo de Parati até o Distrito Federal é, pois, um fosso tectônico. Em seus extremas arientais, conforme expusemos em O Honzern e n Restinga, os sedi- mentos trazidos pelos rios Guandu e Itaguaí permitiram a cons- trucão da grande restinga da Mararnbaia. Impedidos tais detritos de serem transportados para oeste pela barragem do cordão insular distenso entre o pico da Marambaia e a ilha da Madeira - o qual chega quase a fechar a Sepetiba dêste lado -, e não existindo outros rios de vulto na parte restante desta costa, compreende-se a permanente abertura das duas passagens laterais a Ilha Grande

Quanto a estrutura estratigráfica regional, daremos algumas seccões explicativas

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Na primeira, apresentamos as relações entre os granitos litorâneos e os gnaisses de Mangaratiba. A disposição das rochas em monoclinal sobre o batólito deu motivo a um metamorfismo de contacto e a formação de gnaisses graníticos, rocha peculiar a uma tal feição estratigráfica

A segunda, em Angra dos Reis, é quase idêntica à primeira. Neste pôrto não existem afloramentos de granitos tão notáveis como os de Mangaratiba. Há entretanto sempre boulders à beira- -mar, e, num dêles, redondo, de uns quatro metros de diâmetro e aberto para paralelepípedos, vimos um belo xenolito de plagio- clásio-gnaisse, de faces bem recortadas, exibindo a assimilação desta rocha pelo granito.

Na subida da cordilheira verifica-se em cortes da estrada de ferro que a rocha regional é um gnaisse granitico bem Iaminado, passando, porém, a forma granitóide ao atingirmos o alto da serra.

Ao microscópi'o estas rochas como as de Mangaratiba mostram a sua evidente ligação ao plagioclásio-gnaisse, do qual provieram por metamorfismos de contacto.

Temos dessa maneira uma, grande similitude na tectônica e na petrografia desta faixa das baías de oeste com as do fundo da Guanabara, e o que aqui vemos nada mais é que a mesma sequên- cia de uma série de fenomenos geológicos regionais

VI - SÍNTESE FISIOGRÁFICA

"A Geologia é o prólogo d a Humanidade"

LATINO COELHO: "OS Estudos Geológicos" ("Páginas Escolhidas", pá6 141).

Antes de passarmos à parte humana, recompilaremos abrevia- damente o aspecto geral dos cenários que analisamos.

Devida a sua formacão geológica peculiar, a moldura da Guanabara se define por uma topografia de contrastes, na qual os altos relevos dos cordões serranos franjados de grandes penedos avulsos sobem de vales de fraturas e de planícies aluviônicas so- bremaneira alargadas pelos fundos da baía.

A característica essencial de todas essas planícies era serem alagadas permanentemente. Mesmo as rechãs atualmente urba- nizadas do Rio de Janeiro e de Miterói são vistas nos antigos mapas como pantanosas. Por toda parte o pântano como elemento essen- cial a ser vencido. A importância da generalização de tais enchar- camentos vai-nos aparecer quando estudarmos através de sua evolucão histórica a sempre crescente adaptacão do homem a terra desde o Descobrimento.

Sempre os lamaçais a serem domados em toda a Baixada Flu- minense Mas essa peculiaridade fisiográfica nem sempre atua

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com as mesmas diretrizes retardatárias ou progressistas para a cultura que chega de além-mar, e que, uma vez plantada comega a diferençar-se também de acordo com os demais fatores topo- gráficos.

De modo geral houve sempre n a luta contra a água uma centralização de atividades permanentes para. a passe do solo, mesmo em vastas zonas da regiãbo das restingas. Tais esforqos, po- rém, foram dirigidos por motivos econômicos em intimidade com elementos fisiográficos que em primeira mão derivam da geologia.

Na região campista, vimos a "aluvião" atraindo com o seu alto valor agrícola chusmas de aventureiros que o retalharam, feraz- mente lutando pela posse do solo cobiçado. Por toda a zona cos- teira e arenosa, foi a "restinga" que orientou as iniciativas civiliza- doras, ramificando-as em modalidades de cultura de acordo com as possibilidades econômicas de cada zona. Na região das baías ele- mentos outros vão1 sobressair, destacando-se na Guanabara o "mor- ro" como base fundamental da fixação do homem a terra. Sem o morro não se teria iniciado a grandiosa tarefa de dominar os paludes circundantes. Na região das baías do oeste o morro ainda, encorporado em serranias teve oposta funçãjo evolutiva na socieda- de que de longa data se disseminou por tais paragens, impedindo a sua marcha transversal para a cordilheira e nucleando em pontos esparsos essas pitorescas cidades velhíssimas encolhidas sobre areais estreitos em cavidades litorâneas

Sempre na Baixada teve o homem que contar com a agua a contrariar a sua expansividade. Na região das baías, porém, não foi ela que se interpôs como elemento refreador de seus empenhos progressistas. A água, ali, foi justamente a instigadora de suas crescentes ambigões. Foi ela que, retida em vastas bacias abriga- das, apareceu-lhe corno suntuosa dádiva da natureza para refúgio de seu comércio e centro de intercâmbio entre os longínquos liames de além-mar e as vias terrestres a se embrenharem pelo continente

É o que iremos ver agora. A civilização se ergueu a beira das baías. Cidades e vilas que se miram em águas espelhantes onde a,utrora refletia a selva bárbara. Iremos, sobretudo, ver nas mar- gens da Guanabara, o homem descer do morro para o pântano Marchar sobre essas planícies, enxugando-as, e cobrindo-as de cultura a medida que as secava. E a coroar tado êsse esfôrco, o Rio de Janeiro aos poucos ir crescendo, tornando-se afinal um dos maiores empórios do Globo

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O HOMEM

"Eu sou a Terra E tu? - E u sou o Homem

Perdoa Larga o arado brutal, que a face ma

[arregoa ! Não mais venha, oh força60 eterno, a

[labutar, Teu duro alviáo de ferrc, os flancos meus

[rasgar ! Náo mais me esfole a enxada e a

[charina o espinhaco! Deixa-me, inculta embora e estéril, ao

[mzrmaqo, A canícula, ao -01, dormir! Homom,

[perdão ! Cessa de revolver minhas estranhas !

- Não !

RAIMUNDO CORREIA: Dijlogos, ("Pce sias", 4 a ed págs 249 e 250)

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I - A DESCOBERTA

'c . entrdmos iiiirn braco de mar eham;rdo <'Giin- nabara" pelos selvagens e "Rio de Janeiro" pelos poititgiiêses que assim o denominaram por tê-lo descoberto como afirmam, no dia I O de Janeiro"

LERY: ''Viagem :i Terra do Brasil" Trad. de S&RGIO MILLIET, São Paiilo, 1941, pig. 73

Ao penetrar na Guanabara em 7 de marco de 1557, LERY já vai encontrá-la com a designação de Rio de Janeiro.

Teria sido êste, entretanto, o nome dado à grande baía por seus descobridores? A sua ausência nas primitivas cartas quinhen- tistas que já apresentam uma desenvolvida toponímia, redunda nuin enigma

Divergências entre historiadores vêm obscurecendo a verda- deira data do descobrimento da Guanabara. Inclinam-se uns pela expedição de 1501, que logo a seguir a de CABRAL deixou Lisboa, a fim de reconhecer a nova terra Até hoje pairam dúvidas quanto ao comando desta frota, confiado quer a ANDRÉ GONCALVES, quer a GASPAR DE LEMOS OU a D NUNO MANUEL

Do relatar de vários escritores encabeçados por VARNHAGEN, colige-se que esta esquadra veio batizando o nosso litoral, ono- masticamente referindo os pontas mais conspícuos aos santos do calendário, nos consecutivos dias em que iam sendo descobertos. Assim, a 16 de agosto dobrara ela o cabo de São Roque, a 28 dmo mesmo mês o de Santo Ago4stinho, a 4 de outubro passa pela foz do rio São Francisco, a 1.0 de novembro entra na baía de Todos os Santos, a 21 de novembro avista o cabo São Tomé, e, em 1 0 de janeiro de 1502 penetra na Guanabara, rumando em seguida para o sul, tocando no dia 6 do mesmo mês em Angra dos Reis

Contràriamente a ii~clusão do Rio de Janeiro nessa lista ma- nifesta-se JoÃo RIBEIRO, aludindo a praxe dos navegantes franceses de nomearem os lugares conforme a data ein que nêles apartavam. Mas embora opinião tão respeitável possa ser contraditada pelo fato de que já nas mais antigas nomenclaturas apareçam as de- signações de Rio Real, Baía Formosa e Cabo Frio, igualmente a destoarem da tradição católica portuguêsa, é quase certo não ter sido a descoberta da Guanabara naquela primeira viagem

Quem por mar já entrou nessa baía, sabe ser a sua boca irnper- ceptível a poucas milhas de barra a fora, podendo assim escapar a desprevenidos nautas, sobretudo quando em primeira viagem deve- riam passar ao largo com receio de parcéis, num litoral ilhoso onde

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os serrotes salientes projetam-se entre planícies como cabos colo~ssais. Costear a Guanabara sem notá-la, é compreensível e ao mesmo tempo desculpável aos audaciosos mas prudentes capi- tães, já embaraçados de perigos para as suas naus ainda preciosas por tão poucas.

Prova de que mesmo os antigos ignoravam a data da desco- berta da Guanabara, é o testemunho de frei GASPAR DA MADRE DF

DEUS, O qual a refere à tardia expedição de 1530, que em 1 0 de janeiro de 1531 "divisou um boqueirão por todos os lados cercados de penhascos Os naturais chamavam-no Niterói, e MARTIM AFON- SO deu-lhe o nome de Rio de Janeiro, por o ter descoberto no primeiro dêste mês " ln5

Essa versão foi destruída por VARNHAGEN, ao publicar em 1839 o Diário da Navegação de Pêro Lopes de Soz~sa, irmão do almirante e cronista daquela viagem tão fundamental para os destinos bsasi- leiros. Como já transcrevemos nas primeiras páginas dêste livro, MARTIM AFONSO entrou na Guanabara em 30 de abril

Ao defrontarmos a volumosa documentação de MALHEIRO DIAS

e de seus colaboradores n a História da Civilixacáo Portl~guêsa no Brasil, parece-nos ficar esclarecida a descoberta da Guanabara em 1504 pelas naus de GONCALO COELHO, e não pela frota de 1501

Quase a seguir a fundação da feitoria de Cabo Frio, teria ali deixado êsse navegador uma "casa de pedra" núcleo de um arraial a beira de um riacho, a qual os selvagens logo denominaram "ca- rioca" ou "casa do branco", designação esta, aliás, contestada pelos que vêem no vocábulo a deturpação de "cariboca", cuja etimologia se tentou filiar a "caraíba" ou "homem branco estrangeiro", e por outros que lhe dáo origens várias l0"

Como quer que seja, um fato, porém, ressalta do cuidadoso exame dos primeiros mapas costeiros do Brasil É que o nome Rio de Janeiro só vem a sei usado além dos meados do segundo dezênio do século de quinhentos.

A começar pelo portulano de CANÉRIO, de 1505 ou 1506, no qual a nomenclatura costeira já se divisa com os citados funda- mentos no calendário Já nesta carta a região da Guanabara pode ser localizada pela fixação de Angra dos Reis, a "baía de reis", e pelo "alapego de sam paulo", o qual, como veremos só pode ser atribuído ao arquipélago formado pelas ilhas de Cabo Frio e pelas de Sant'Ana, em Macaé

10j MADRE DE DEUS, frei Gaspai : Memórias pala a História da Capitatzia dc São Viccl~lc 3 " ed , São Paulo, 1920, pág 116

lu GUSTAVO BILRROSO, em nota a pág 55 do O Rio de Janeiro co7no é. de SCHLICIITHORST, da-nos os seguintes significados do vocábulo: "Pala JoÃo DE LERY, Casa dos Kaiis ou Tamoios. Para monsenhor P ~ ~ Z A R R O , Agua Corrente da Pedia Para MARTIUS, Casa da Giuta Pala VARNHAGEN, Casa do Branco Para VALE CABRAL, Corrente do Mato, isto é ribeiro, iiacho do mato Para C o u ~ o MAGALHÃES, Descendelite do Biallco, de Ca,riboc

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Entre êsses dois pontos uma única designação refere-se a uma chanfradura no litoral, intitulada "Rio dos reféns". Teria sido êste o primeiro nome português da Guanabara?

A observação merece reparo por não ter sido anotada por liistoriadores, fundamentados em "base cartográfica", visto ser o fato repetido em várias cartas contemporâneas ou posteriores, como na de WALDSEEMULLER, de 1507 e na de KUNSTMANN 11, de 1505 ou 1506, neste se lendo "Rio arefens"

No mapa de RUYSH, de 1508, lê-se "Rio De Orefens7' na mesma posição cartográfica, embora o nome do arquipélago não aparep, e, ainda n a WALDSEEMULLER 1516, "Rio da reféns"

No mesmo local lê-se entretanto "Rio de Ramos", na carta de KUNSTMANN 111, e na carta de VISCONTI DE MAIOLLO, em 1519, vê-se ainda o "Rio arrefens", mas já ao norte de Cabo Frio, sendo esta a única discrepância quanto a localização, talvez devida a um erro de cópia, visto contrastar com a maioria dos mapas anteriores

A denominação de "alapego de sam paulo" é por vêzes subs- tituída por "pagus sam pauli", ou aldeia de São Paulo, o que se explica pela existência de uma povoação indígena em Cabo Frio, verificada pelo "Regimento da Nau Bretoa"

Êsse "alapego", ou arquipélago, como dissemos, sòmente pode ser o grupo de ilhas ao norte do cabo incluindo as de Macaé. A zona é bem definida entre a "baía de reis" e a "serra de sam tho- mé" - relacionada a serra do Mar a oeste dêste cabo -, além de que a configuração cartográfica do litoral nãa admite contestacões.

As asperezas da saliência formada por Cabo Frio já teriam sido notadas pelos primeiros cartógrafos que tambim representaram a súbita mudança de orientação da costa fluminense ao sul do cabo, a qual subitamente passa a leste-oeste.

O argumento que tem dificultado a localização do rio dos Reféns, é a sua latitude apresentada por DUARTE PACHECO em sua "Tábua de Ladezas" do famoso Esme~aldo de situ orbis. Nela se lê que o "Rio dos Harefees" tem 240 e 40' de "ladeza", latitude evidentemente excessiva mas justificável ante os processos primi- tivos de observação Os que conosco reconhecem graves erros de latitude em cartas atuais, e com a nossa moderna aparelhagem para determinação de coordenadas, certamente o admitirão nos dados quinhentistas.

É o que também reconhece DUARTE LEITE, para o qual "as coordenadas dos lugares identificáveis estão quase tôdas bastante erradas" Para as de Angra Formosa, por exemplo, admite êle um êrro de cópia de nada menos de 10 graus em latitude, e, para a. baía de Todos os Santos e Cabo Frio, erros de cálculo de 2 O e 2O

Hist da Colon Port no Brasil, v01 11, pag 424 "'" LEITE, Dual te - A Exploraçáo d o Litoral d o Brasil. na Plilneira Década do Século

X V l (Hist d a Col Polt Vol 11, pag 416)

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e 40, respectivamente Isso não obstante, como a "tábua de La- dezas" dá porém para o Cabo Frio 250 OO', latitude maior que a do rio dos Reféns, aventa ser êste curso d'água o rio São João, o Macaé ou mesmo u Paraíba, todos ao norte do cabo, em franca contradicáo com os mapas quinhentistas, todos êles figurando com bastante realismo os contornos do litoral

Fundamentado no mapa anônimo de TORRENO, 1523, diz-nos ainda DUARTE LEITE constar o "alapego de sam paulo" "da pequena ilha de Santa Ana, defronte da foz do rio Macaé e de algumas ilhotas circunvizinhas", excluindo o arquipélago maior de Cabo Frio, bem vizinho Todas essas ilhas são visíveis umas das outras, e não poderiam ser separadas em dois grupos na pequena escala dos referidos mapas .

Note-se de passagem que, ao noite do arquipélago, o mar é inteiramente vazio até avançarmos bem ao longo da costa espírito- -santense, onde sòmeiite em Itapemirim começam a aparecer ilhotes isolados

Bem determinada por conseguinte a zona do "alapego", resta- -nos agora fixar o "rio dos reféns" que lhe fica ao sul. Seria êste profundo e único recorte no litoral entre a zona referida e Angra dos Reis a própria Guanabara?

Posta de lado por incorreta a "Tábua de Ladezas" sòrnente uma única hipótese poderia inutilizar esta sugestão. A de ser a projeçáo costeira ao sul do arquipélago o cabo dos Búzios, e sòmen- te a segunda ponta ao sul da foz do rio, a saliência de Cabo Frio

De fato, ao sul desta ponta, a costa ruma para oeste, coino nas cartas atuais, até a baía de Angra dos Reis Mas uma compa- ração linear dêste último trecho com a distância entre os dois cabos, daria ao primeiro uma extensão por demais pequena em face a realidade, para que possamos aceitá-la sem reservas, as quais en- tretanto removidas nos levariam a irrefutável conclusão de ser o Rio dos Reféns a própria lagoa de Araruama, cuja foz, o canal de Itajuru, justamente se localiza entre a ponta dos Búzios e o Cabo Frio.

A não ser esta hipótese, o rio dos Reféns só poderá ter sido a Guanabara, cujo batismo permanece incerto

Embora descoberta nos primeiros anos do quinhentos, bem pouco frequentada deveria ter sido a grande baía. Prova disso temos na viagem de MAGALHÃES, O qual, ao nela penetrar em 1519, lhe teria dado a denominação de "Santa Luzia".

100 ORVILLE DERDY já anteiioimente iilcicliia nesse eiiga,no A iespeito do mapa dc I~UNSTMANN 11, diz-nos êle: "LOÇO ao norte da enonne saliência que representa o Cabo Frio, o mapa II figura uma grande barra com a denomillaçáo de "ri0 de leféns" que deve sei o Paraíba (ROCHA POMBO: História do B ~ a S i l , v01 I,, nota a págs. 268-269)

Como frisamos, a maioria da s cartas traz o lefeiido rio ao sul, e não no norte do cabo "O DUARTE LEITE: Obl cit 11, pág 433 H ' COSTA, Nélson: Nistdr ia d a Cidade d o Rio cZe Ja?teito, Rio, 1933, pá:, 10

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Este nome desfez-se porém, logo, com o próprio rastro da frota do circunavegador, e no citado mapa de Turim já temos claramente a definitiva consagracão de Rio de Janeiro. Na carta de GASPRR VIEGAS de 1534, e em todas as posteriores, é o nome que desde então permaneceu.

Nome reconhecidamente impróprio, visto que os indígenas ti- nham um cunho geográfico tão significativo.

Um dêles era "Niterói", "água escondida" que tão bem define o braço de mar oculto pelos paredóes da barra e pelas ilhas. Diz-nos ~YÉLSON COSTA que os aborígenes reservavam essa denominacão para a parte oriental, a entra#da - a qual atualmente ainda, a conserva -, designando a parte inferior de "Guanabara", - seio ou b rap de mar. 11"

Provàvelmente os dois nomes eram indistintamente usados, sendo todavia. o primeiro o mais original, embora o segundo tam- bém date dos primórdios, visto que LERY expede as suas cartas da "Rivière de Guanabara" . Convenhamos porém que, não obstante reconhecermos ser inútil repelir quatrocentos anos de tradição, bem lógico é RIBEYROLLES, ao rejeitar a designação de Rio de Ja- neiro: "Prefiro Niterói, a "água escondida" que tão bem a defirre. Não é uma fantasia, é a imagem verdadeira". 113

E êste nome lhe foi dado pelo índio analfabeto, mas de tal modo enraizado à natureza, que a decalca na cornposiçáo de seus vocá- bulos, com um instintivo senso geográfico extraordinário.

11 - A CONQUISTA

"V A deve mandar fazer ally hiia povoapio honirada e boa, porque nesta costa iioin ha rio em flue entrem franeezes senão este e tiráo delie muyto porveito".

TOMB DE SOUSB: Carta a D JOÃO I11 em 1 de Junho de 1533. "Hist, da Col. Port., v01 111, pág. 365

"Por ese rio, e modo de procesion flotante. trajo e1 su fiera tropa, desde e1 mar distante"

SANTOS CHOCANO: ''Ciudad Fiiiidada", ("Altna Ameiica", Paris, 1924, pá6 245)

Voltando à fundação de GONÇALO COELHO, verificamos ter sido ela muito efêmera, embora acrescida pelos fins de 1511 ou princí- pios de 1512, com o abandono da feitoria de Cabo Frio por seu feitor JoÃo LOPES DE CARVALHO que ali sucedera a JoÁo DE BRAGA desde a passagem da nau "Bretoa". Ambos se mudam para o ar- raial da Guanabara, o qual também, logo, veio a desaparecer não obstante o crescente comércio de pau-brasil.

I33 Idem, pag 13 1'3 RIBEYROLLES, Charles: Brasil Pitoresco Tiad de GASTAO PENALVA, Rio, 1941, v01 I,

P~LZ 145

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CAPISTRANO DE ABREU atribui a sua destruição aos aborígines indignados com o procedimento do feitor O povoado já não existia quando por ali passou FERNÃO DE MAGALHÃES a 13 de dezembro de 1519, encontrando apenas restos de plantações nas quais medrava a cana-de-acúcar.

Além dos piratas franceses que logo na esteira de GON~ALO COE- LHO começaram a rondar a costa de Santa Cruz, CRISTÓVÃO JAQUES

deu entrada na Guanabara em 1516, voltando em 1527 em tremenda perseguição as naus de França, já então em audaciosas investidas no contrabando do pau de tinta.

Tantos já eram os corsários que o rei de Portugal desiludido com as suas esquadrilhas de guarda-costas que patrulhavam os ma- res da nova terra, decide-se pela expedição de 1530, sob o comando de MARTIM AFONSO DE SOUSA .

Por três meses demora-se êste na Guanabara, tempo necessário ao reparo e a construção de barcos, e, ao prosseguir para o sul, cos- teia o litoral pela antiga rota de GONÇALO COELHO, navegando pelas tranquilas baías de oeste

Em seu regresso do Prata tem êle notícia da divisão do Brasil em capitanias, cabendo-lhe do atual Estado do Rio de Janeiro toda a zona dos limites de São Paulo até o rio das Ostras, entre Cabo Frio e Macaé

Com sua doação centralizada em São Vicente, MARTIM A F O N S ~ é dêste modo o primeiro senhor do Rio de Janeiro Esta posse é porém apenas nominal, visto que, retirando-se para a metrópole, entrega a capitania a GONÇALO MONTEIRO e a JoÃo RAMALHO, que atarefados na consolidação da vila e dos engenhos paulistas, não podem acudir a defesa da Guanabara

Não obstante concessões anteriores de sesmarias no Rio de Janeiro - segundo PEDRO TAQUES -, não há notícia ali de coloni- zadores quando em 1555 um grande perigo ameaça esfacelar o império português da América. Com fartas informações obtidas de uma pirataria quase oficializada, chega então de França NICOLAU DE VILEEGAIGNON com os seus huguenotes perseguidos e bem sabe- dores pelos piratas, de ser a Guanabara um excelente pôrto com formidáveis baluartes naturais.

Tem início então o mais decisivo episódio histórico da grande baía. Tão importante que um fracasso português romperia a futura unidade geográfica e política brasileira, mais tarde igualmente ameaçada pelo domínio holandês nas capitanias nortistas.

Portugal abrira os olhos. A perda da Guanabara seria irreme- diavelmente desastrosa para a Colônia que nascia. Já seus fatores fisiográficos. se revelavam essenciais para a coesão dos seus domí- nios. Um incomparável pôrto para as naus. A rota do Prata e

Segundo CAPISTRANO, O pióplio JOÃO LOPES nE CARVALHO e um mameluco filho seu, eiicorpoiaram-se então à expedição de MAGALHÃES

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mesmo das fndias ameaçada pelo domínio do Atlântico por navios inimigos, seguros de um abrigo inatacável sob a proteção de futuras fortalezas. O comércio do açúcar e do pau-brasil arruinado, abas- tecido em refúgio próximo e inviolável. Sem a Guanabara o Império Português estremeceria. Impossível a colonização do sul Impos- síveis a fundação de vilas e a estabilidade dos engenhos. Impossível a singradura das naus em rotas permanentes num mar invadido por corsários.

Impunha-se a conquista da Guanabara, e, através dela, do ninho de piratas de Cabo Frio A Geografia mais uma vez subme- tia-se a Política. A um insignificante rasgão na imensa costa brasileira, subordinavam-se gigantescos planos do catolicismo im- perial que então consolidava os alicerces econômicos da pátria portuguêsa. Por isso a luta seria tremenda e pertinaz Jogava-se nela o comércio, a religião e o poderio militar.

O risco de perder a Igreja o imenso campo virgem americano, futuramente compensador das massas humanas que lhe fugiram com a Reforma, alertara Roma. Seu estado-maior jesuítico, vi- gilante e sob eminentes condutores sacudia o comercialismo comodista dos colonizadores, apontando-lhes s perigo. Sob a in- fluência de NÓBREGA e de ANCHIETA sobretudo, governadores e capitães-mores absorvidos n a ereção de vilas e em problemas administrativos da primeira hora, sobressaltam-se O govêrno de Lisboa finalmente i% par de tudo, prestigia de longe a arremetida que se prepara. E assim, padres, militares, colonizadores e iridí- genas investem contra a Guanabara

Em 1560, deu-se o primeiro embate MEM DE S Á , como sempre instruído por NÓBREGA, com OS 1 500 soldados e índios que chegam da Bahia, aguarda à entrada da Guanabara os reforços que envia São Vicente, e então acomete o forte Coligny, na ilha de Ville- gaig non .

Intimado a rendição, seu comandante BOIS-LE COMTE resiste, confiante nas defesas e na aliança com os tamoios, e a 15 de março daquele ano começa a travar-se a peleja. Dois dias dura o combate sem resultados ante as inabordáveis defesas da ilha fortificada, quando um troço mais atrevido de índios e soldados consegue escalar as muralhas e, infiltrando-se no interior do forte, faz voar o paiol de pólvora.

Desalentados, rendem-se os huguenotes . Muitos porém con- seguem evadir-se em seus navios ou mergulham nas selvas lito- râneas com os tamoios indomáveis.

Pela segunda vez a Guanabara é portuguésa. Mas MEM DE SÁ arrasando as fortificações, regressa a Bahia, de novo abandonando- -a. E os franceses mais habilidosos no trato com o silvícola, são de novo atraídos pelo seio de mar que lhes prometia tão inexpug- navelmente consolidar uma formidável base naval, centralizando

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as suas esperanças de uma nova colônia. Dêste modo voltam a fortificar-se em Uruçu-Mirim, I1Q na ilha de Paranapuã ou de Maracajá . 116

É nesses dias que uma das mais terríveis ameaças paira sobre o domínio português n a América. Os tamoios enfurecidos com a vitória de MEM DE SÁ, organizam-se na grande confederajão que vai agora investir contra os dois melhores núcleos do sul: Pirati- ninga e São Vicente.

Alarma-se mais uma vez o govêrno da Bahia, e, em 1563 é cles- pachado ESTÁCIO DE S Á com O fim de extirpar definitivamente o foco renascente e contaminador do jovem império colonial, em vias de perecer sob as crescentes infiltrações de rebeldia em grandes massas de aborígines .

Com a sua esquadrilha de caravelas e naus, o sobrinho de MEM DE S Á aporta ao Rio de Janeiro em 1564, mas vendo-se na impossibilidade de êxito pela escassez da gente que trazia, apela para São Vicente onde ANCHIETA incansável reúne colonos e guaianás e com êles parte para a Guanabara. Do Espírito Santo com os seus temiminós também chega o ARARIBÓIA, futuro funda- dor de Niterói. E o novo assalto começa

Dúvidas persistentes até hoje continuam, quanto ao local em que desceram os canquistadores, fincando o marco inicial da cidade do Rio de Janeiro. Não as discutire?pos, parecendo-nos entretanto que a mais convicente argumentação é a de BACI~HEU- SER, O qual apoiado por MORALES DE LOS RIOS c01Oca a fundacão da cidade no próprio Cara de Cão, ,contràriamente a VIEIRA FAZENDA

e aos demais membros do 1.0 Congresso de História que preferiram a várzea entre a colina e o Pão de Acúcai.

Entre os fatores que mais contribuíram para o triunfo de ESTÁCIO DE S Á , OS geográficos não devem ser esquecidos. A pre- destinada região das baías de oeste com suas águas tão pacíficas permitia uma ininterrupta navegação de flotilhas de canoas in- dígenas desde os limites de São Paulo, quando os colonizadores não dispunham de grandes embarcações para o transporte de guerreiros e de mantimentos.

Pela cordilheira e através das selvas dos tamoios a expedicão seria inexequível . E pelos desprotegidos mares bravios dificilmente passariam as frágeis canoas com as suas cargas intactas. Esta influência dos fatores da nossa geografia costeira na tomada da Guanabara, ná,o parece ter sido assaz apreciada pelos histariadores com o relêvo que lhe compete.

" N a s cercailias do morro da Glóiia A atual ilha do Governador BACKEIEUSER, Eveiaido: A Faixa Litord?aea do Brasil Me?i.dic?tal Rio, 1918, p6ps 7.3-'78

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I11 - O MORRO

"A cidade está situada em um monte de boa vista para o mar, e dentro tem uma baía que bem parece que a pintou o arquiteto do mundo, Deus Nosso Senhor, e assim é cousa formosíssima e mais aprazível que há em todo o Brasil, nem lhe chega a vista do Mondego e Tejo"

Pe FERNÃO CARDIM: "Tratados da Terra e Gente do Brasil" 2." ed., pág. 368

Em confronto com a extensa faixa litorânea das restingas a míngua de bons ancoradouros, a evolução social da Guanabara processou-se de maneira outra, motivada por fatores bem diversos.

Além, nos areais, vimos a avareza da terra dispersando o homem, anulando os seus interêsses agrários, espalhando comu- nidades por medíocres núcleos contemplativos e agachados à beira de pequenos rios ou a margem das lagunas. Fraco lhe foi o es- tímulo telúrico, incapaz de o robustecer para um progresso ace- lerado

Aqui, na mesma costa ainda, e entre as mesmas tarjas de restingas isolantes que estendem os braços amparando enseadas, iremos presenciar bem outros fenômenos histórico-sociais . A predestinação geográfica de uma zona com uma tectônica geoló- gica peculiar. Acidentes fisiográficos que, embora minúsculos em relação ao território brasileiro, irão influir sobre os destinos hu- manos em amplidões continentais. Uma simples chanfradura nos mapas representando uma brecha no litoral, e a esta subordinando- -se toda a evoluçáo política de um país imenso.

Embora não prevista por seus primitivos coloniza-dores, foi esta a grande sina da Guanabara. Um portal aberto para a expansividade dos planaltos.

Por trás e sob o anteparo de formidáveis alcantis, centralizar- -se-ia o império português da América, bem mais seguro ali de arremetidas do que os portos do norte menos defensáveis. Rodea- dos de serras estratègicamente bem dispostas, os senhores da Guanabara fortificada seriam inderrotáveis, num reduto de ante- mão fadado a unificação de seus esforços colonizadores. E assim lhes coube o primordial encargo de multiplicar a população flu- minense .

Ao seu centrifugismo povoador é que se deve a invasão dos pauis e selvas da Baixada e a disseminação da cultura pelas res- tingas improdutivas. Por isso mesmo é que os contornos dessa concavidade marítima transformaram-se em fervilhante cadinho de fusão das nascentes etnias fluminenses .

Logo de c~mêço o lusitano em falta de mulheres patrícias cruza-se com a índia, e, desde a chegada das primeiras levas de africanos, une-se ardorosamente à negra em crescente promiscui-

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dade Nas ruas coloniais do Rio de Janeiro precipita-se dessa mis- tura sanguínea toda uma récua indesejável de trânsfugas da lei, cuja escapatória única a disciplina dos uniformes au aos calabouços corretivos era o acoitamento nas terras bárbaras circunvizinhas

O sensualismo lusitano cria essa plebe fervilhante, inacomo- dável ao convívio social urbano, porém mão-de-obra admirável para o desbravamento da Baixada ainda feroz de indígenas e gros- samente enflorestada. A mesma aspereza de toda essa gente é que facilita uma rápida penetração, pois com o índio, o negro, o marneluco e o mulato é que partem os primeiros brancos para o cultivo das suas sesmarias .

Todos os vales pantanosos do recôncavo imediatamente são invadidos. Alastram-se os rebanhos pelas úmidas rechãs e as pri- meiras lavouras começam a subir os morros que o braço do escravo desarboriza .

Esboçado que será em linhas posteriores o que Poi êsse contacto inicial entre o homem e a terra, passaremos agora a narrar em períodos breves como germinou o núcleo de MEM DE S Á plantado no Castelo

Nessa arriscada época de pirataria desenfreada, deveria a vila distanciar-se da barra por demais exposta, sem entretanto perdê-la de vista para a surprêsa de algum ataque. Por isso mesmo o Cara de Cão fora abandonado, tornando-se necessária a escolha de outro morro para o novo assentamento da cidade que nascia, o do Pasma- do, da Viúva, da Glória eram pequenos, rochosos e íngremes O de Santo Antônio serviria, mas o de São Januário mais a cavaleiro do mar, permitia melhor contacto com as naus do reino, e assim, mais fácil e direto intercâmbio de mercadorias

Situado numa península molhada em sua face ocidental pela extensa lagoa do B~queiráo, tinha assim ao lado, um calmo abrigo para as embarcações que a êle acostavam, penetrando pela aber- tura navegável que o separava do morro de Santo Antônio, a qual se deve o nome da lagoa primitiva. lls Além disso, o São Januário satisfazia completamente as exigências militares como posição es- tratégica, visto dominar a entrada da Guanabara sempre cobiçada pelos piratas.

Um atilado tino geográfico presidiu, pois, à fundação do Rio de Janeiro no morro de São Januário ou da Castelo, como postesior- mente viriam a denominá-lo devido a sua fortificação.

Um dos fatores que contribuíram para a escolha do local era a sua quase inexpugnabilidade por terra, visto que a lagoa do Boqueirão reforçava a disseminação geral dos pântanos a iimpedi-

Como ielíquia dessa passagem diz BACKHIEUSER que, nas escavações para a coils- truçlo do Teatro Municipal, acharam-se "restos de um grande barco de excelente madeira de lei, cujos pedaços, serrados e Iustrados, foram pelo Dr OLIVEIRA PASSOS ofeiccidy: como Lembranqa da cerimánia da colocaçáo da pedra fundamental (20 de março de 1905) Obi cit , pág 55

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reni a marcha de grandes efetivos assaltantes, já estorvada pela retaguarda de montanhas da serra da Carioca

É também provável que a atração das belezas panorâmicas da margem ocidental da Guanabara houvesse influído na fundaqão, além de o lado niteroiense de relevos pouco expressivos era mais exposto a possíveis ameaças do núcleo de corsários franceses de Cabo Frio.

Com a conquista da Guanabara pelos portuguêses, e bem fir- mada agora, vai o Rio de Janeiro rapidamente evolver numa irra- diação de iniciativas colonizadoras, superativada pelos fatores naturais de sua geografia determinista.

A eficiência organizadora de MEM DE S Á manifesta-se logo com a mesma objetividade com que fundara a cidade do Salvador. Imediatamente "assentou a nova povoacão cercada de muros e baluartes cheios de artilharia, edificando-se a igreja dos jesuítas, a Sé de três naves, a cadeia, a casa dos armazéns para a fazenda de sua alteza, sobradadas e telhadas com varandas". 17v'Mandel vir muitos moradores, muito gado para povoar a dita cidade, o qual dá muito bem, de que já há grande criação", diria tempos depois o governador-geral 720

A vida administrativa é organizada com as nomeações "do juiz dos órfãos, escrivão e tabelião de notas, meiiinho, porteiro e pre- goeiro, escrivão da Câmara, distribuidor, inquiridor, contador e escrivão da Almotacaria e alcaide-mor". lZ1 Doaqões de terras são efetuadas, e, além do forte de São Januário, no Castelo, iniciam-se as fortificacões de São Diogo, de São Teodósio - cujas ruínas ainda existem no morro Cara de Cão -, e da Guia, atualmente Santa Cruz Para governador da cidade nomeia MEM DE S Á outro sobrinho seu, SALVADOR CORREIA DE S Á , antes de regressar a capital da Colônia em Salvador.

Ativamente prosseguindo com o mesmo fito de seu tio, SALVA- DOR CORREIA DE S Á cuida em primeiro lugar da consolidacão da vila, onde as palhoças começam a sei substituídas por verdadeiras casas Um ataque de franceses à fronteira aldeia de São Louxenco - onde o ARARIBÓIA lanqara os alicerces de Niterói -, é por êle repelido, e ainda é êle quem chefia um ataque a Cabo Frio, sempre em mãos de piratas franceses, aprisionando uma nau que envia a MEM DE SÁ.

Tanto co'm o segundo governador quanto com os seus suces- sores, continuam as doações de terras nas redondezas da Guana- bara que assim vai sendo crescentemente possuídu. pelo branco Mais tarde falaremos dêsse contacto inicial do homem com a terra, mostrando c choque natural do meio com a cultura que o invadia,

- "" COSTA, Né18011: Histó?ia c7u Cidade do Rio de Ja71eiro. Rio. 1933 Eu Idem

Idem

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modificando-o. Por ora focalizaremos apenas alguns resultados principais da férrea atuação dos primeiros governadores, aos quais se deve a primitiva expansão urbana do Rio de Janeiro

Como capitães-mores competia-lhes, além da administração civil para a qual iam criando autoridades, a militar sempre aguçada pela expectativa de ataques inesperados.

No que se refere à luta com os franceses, só terminada com a tomada de Cabo Frio por ANTONIO DE SALEMA, nada teremos a acrescentar ao que foi dito em O H o m e m e a Rest inga. O cresci- mento da cidade, porém, fruto dos primeiros esforços e da orien- tacão dêsses governadores, merece aqui um ligeiro esbôco pelo histórico interêsse dêle decorrente.

Fora das muralhas do Castelo e quase após a fundação, co- meçam a espraiar-se os povoadores sobre o morro, atingindo as encostas galgadas por três ladeiras: a da Misericórdia, a do Coto- vê10 e a do Seminário. Das duas primeiras ainda nos restam indícios, sendo que o antigo beco do Cotovêlo é hoje denominado Vieira. Fazenda A terceira que descia para os lados da atual ave- nida Rio Branco, desapareceu com o arrasamento dêsse morro.

O mais importante dos edifícios da vila primitiva foi sem dúvida o Colégio dos Jesuítas, para onde os padres transferiram o seu seminário de São Paulo. 122 Com o Colégio entrava a cultura intelectual e moral no Rio de Janeiro, juntamente com a sua fundação. "Nêle houve sempre escolas de ler e escrever e algaris- mos, e uma classe de latim e lição de casos de consciência para toda a sorte de gente". Ali morre o seu primeiro reitor em 1570, ao qual tanto se deve não sòmente a conquista da Guanabara, mas os próprios resultados tão positivos da organização deixada por MEM DE SÁ, por êle sempre aconselhada. A extraordinária clarividência do Pe. MANUEL DA NÓBREGA ainda não foram prestadas pelos cariocas homenagens que reflitam uma justa gratidão

É em torno do Colégio e não da Câmara que se organiza toda a vida colonial do Rio de Janeiro do primeiro século. E inútil será talvez repetir que são os jesuítas com seus invulgares conheci- mentos enciclopédicos para a época, e com o seu predomínio mentaI e moral sobre os governadores que orientam com a sua disciplina toda essa plebe de chegadi~os rudes, ambiciosa de conquistas materiais e sempre atraída para a rebeldia tropical de costumes, estimulada pela própria natureza de uma vida pioneira.

O jesuíta é o médico e o conselheiro. É o hortelão que importa os legumes do reino e vai espalhando mudas pelos colonos. É o mestre-escola que inicia a vida intelecutal do Rio de Janeiro anal- fabeto. E, além disso, é o amansador de índios.

Em 1583, já encontra o Pe. CRISTÓVÃO DE GOUVEIA, além dos indígenas do próprio Colégio, duas aldeias n a região fronteira. da

"' LEITE, Serafim: Prigiizas d e História do Biasil, SRo Paulo, 1037, pií:, 57

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baía, - São Lourenço e Sáo Barnabé -, onde se abrigam 3 000 índios. lZ3

Para melhor julgarmos a influência jesuítica no Rio de Janeiro dêsse temp?, basta considerar que, naquele ano, o Pe. FERNÃO CAR- DIM nos da para uma população de brancos avaliada em "150 vizinhos com seu vigário", 28 padres e irmãos da Ordem habitando o Colégio, isto é, um jesuíta para cêrca de 5 colonos portuguêses.

No primeiro estágio da vida carioca centralizada no Castelo, pode-se, pois, considerar o jesuíta como o verdadeiro mentor não só da população como também dos próprios governadores que sempre os ouviam, e submissamente acatavam as suas decisões Por sua tão elevada atuação nessa época, poderemos denominar assim êsse período até os fins do quinhentos como a "fase jesuítica" do Rio de Janeiro.

Mas já pelos fins do século a população transbordando pelas abas do Castelo começara a invadir os alagadiços contornantes Aos poucos iam as planícies secando a braço de escravo, por meio de aterros e valas saneadoras. E, afinal, como prova de um cres- cente alastramento urbano, as próprias edificações religiosas em torno as quais sempre se agruparam as nossas povoações, come- çaram a se elevar nas úmidas rechãs. Em 1572 já existia a igreja da Misericórdia. Em 1590, a de N . S." do Ó ocupava o sítio onde atualmente se ergue a catedral. em 1592, a de Santa Luzia le- vantava-se à beira-mar. lZ4

Quer isto dizer que a fase defensiva e embrionária do Rio de Janeiro se achava concluída. As estradas que partiam para o inte- rior em busca das fazendas iam semeando à direita e a esquerda novas habitações, por vêzes multiplicando-se em pequenos povoa- dos. Outros morros iriam ainda sucessivamente ser escalados por todo o período colonial, numa prudente fuga aos pantanais cir- cunjacentes. Mas já desde êsses longínquos tempos dos fins do século de quinhentos o povo carioca iniciava o seu verdadeiro e único trajeto para a formação da grande metrópole Cabia-lhe o mesmo destino que futuramente iria orientar o laborioso grupo fluminense dos campistas. O domínio do brejo sobre o qual iremos assistir a uma incansável e constante luta, sem a qual jamais teríamos a bela capital que nos orgulha.

Antes porém de enveredarmos pela época seguinte, restam-nos ainda alguns dizeres sobre a fundação de Niterói, que, também data do primeiro século. Também foi rápido o povoamento da outra margem da baía hoje ocupada pela capital fluminense, em- bora um verdadeiro agrupamento urbano só ali começasse a existir em princípios do século passado.

CARDIM. Pe Fernáo: Tratado da T e ? ? a e cla G e n t e do Brasil, 2 a ed , Rio, 1939, p&gs 306-307

COSTA, Nélson: Obi cit , pág 44.

Page 163: O Homem e a Guanabara

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Fic. GO - . . . ali ri rlrjini6ti.a rniic/?iivlri cI i : Cabo Frio rili 1615. o crariotha awdrra - se tlo .~i#*ro l is icr i . r o ruirsolirla P O ~ ! O xr.14 . Y U B I ~ ~ ~ I ~ . (1118 80 niisbura rio i f r rn rciir ri (10 ahoriqiirr'

rm t rt,?~lr>idas rIiuciiia,v l ifx/<iricos. I D E R R R T ~

I.'i<. t31 - AlPiii Ba .tiia grande obra social d o aiiaan.ua?neiito do indio. o jrsilitu c.<iiri nc . , ius aldeia'u ~ii.cseri:oir-tr d a destruiçrio. po$crosa?nPlltr! caiitribirindo Nari! Q lufii l 'a

i!ieutiçagcin do ~icmer i to nat iro. (RUCENIIAS)

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Ftr. RZ - Wnsa dessas aldeias tipica? foi Itagiiai . czijo priinliie-o colçpio jesi~itico aqui ?.r*rnor. Em t6r?io d è l p # qi ic . no começo d o arcirlo XlX. conicraram a se agritpar as rnrax da aEual ctcinrir. inot.iineritada roln a jiaarnge~ir rias t ropas r l f m16. serirlu o l i

estabelecidu iint rcgtstro. (Fo to DNOSi

FI;. 63 - Erii priricipios do nr'c-iiIo X I x poiicos jri sreiii r;s iridios iru R i o rlr .In?lriro. ciii f)lrito rirradFricia +c rrtiio rara ah.vvrririri.

1 DFSRET J

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Fig. 64 - A capela quinhentista de São Lourenço dos Indios 1ez:antada pelos iesilitas 7za prznlztr2.a sean~arza de ARARIBOIA. A aldeza futadada e m tôrno dela por ANCIIIETA,

foi a origem de Ntteróz. (Foto A. R. LAMEGO)

Fig. 65 - São Pedro de Marui, no atual cemite'rio de Naterói, data de 1751, tendo sido levantada numa das velhas fazendas

do rec6ncavo.

(Foto A. R. LAMXO)

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F i g 6 6 - Nos fundos da velha igreja do Saco d e São Francasco, o ant iqü íss imorelógio d e sol ainda conserva o emblema

dos j e s u í t a s

(Foto A. R . LAMEGO)

de São Francisco, n o saco dêste n o m e .

(Fo to A . R . LAMEGO)

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Fig. 68 - Ruinas do portão da velha fazenda dos jesuitas em Itagual.

(Da Fototeca do Patrimônio Histórico e Artistico Nacio:i.il)

Fiz. 69 - O velho engenho d e aciícar d e Ztaguai q u e data de 1794, construido ?>"!o co?-o?~el MANUEL MARTINS DO COUTO REIS n a antiga fazenda cios lesuitas, por ordem do

mce-rez conde de RESENDE. Cf . AFONSO VÁRZEA, Brasil Açucareiro, jan. 1947.

( D a Fototeca d o Patrimònio Histórico e Artístico N a c i o ~ i ~ ~ l i

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Fiz. 70 - A p o n t e rios J e s u i t a sn a b a i x a d ad e S e p e t i b a s ó l i d a o b r a de alvenar ia d o sm e a d o sd o s é c u l oX V I I I

i F o t o D N O S

Fig. 71 - N a p o n t e d e Sepet iba . o n d e . c o m o e m t ô d a p a r t e o n d e e s t i v e r a m os J e s u í t a ss e m p r e deixar a m s i n e t e d a sua passagem n o s m o n u m e n t o h i s tór icos que n o s l e g a r a m

Page 170: O Homem e a Guanabara

Toda a vida colonial dessa banda oriental da Guanabara foi quase exclusivamente uma vida de fazendas, em contraste com a região fronteira onde a cidade carioca se expandia.

Embora os jesuítas por ali andassem desde os primeiros tem- pos fundando capelas, toda a sua atividade primitiva parece ter-se resumido em aldeamentos indígenas, aos quais pretendiam manter isolados do contacto com o Rio de Janeiro.

Velhas igrejas como as de São Francisco Xavier de Jurujuba cuja fundação alguns atribuem ao próprio ANCHIETA, em 1572, a de N. S." da Conceição também em Jurujuba, igualmente erguida pelos jesuítas e a de N. S. do Bom Sucesso de Pirapetinga ainda a êles atribuída, e que se diz datar de 1600, atestam essa atividade religiosa, que entretanto não conseguiu grupar em torno aos templos núcleos povoadores persistentes.

Várias outras igrejas que pelo correr dos dois seguintes séculos foram levantadas tiveram idêntico destino, podendo-se daí con- cluir que a irradiação demográfica do Rio de Janeiro através da baía projetava unicamente elementos ansiosos de uma vida rural e incapazes de mais íntima associação para o erguimento de uma vila

Concorreu talvez para isso a própria fundação inicial de ARARI- BÓIA, constituindo um verdadeiro latifúndio indígena e hereditário, com uma légua de terra ao longo do mar e duas para o sertão "nas terras que possuíam D. ANTONIO DE MARIZ e sua mulher, que as mesmas renunciaram em favor daquele principal. "

Já mesmo antes da morte do grande cacique foi tão cobiçada a posse da sesmaria pelos próprios índios que a aldeia de São Lourenco "se estendeu da montanha dêsse nome por todo o lugar chamado Praia Grande, até os areais de Icaraí, e aumentou de maneira tal que em 1578 já não havia ,terras para serem dadas aos índios V ~ s c o FERNANDES, ANTONIO DE SALEMA, SALVADOR CORREIA, ANTONIO FRANÇA e FERNÃO ÁLVARES que as solicitavam. Em 24 de janeiro de 1583 foi confirmada a sesmaria de quatro léguas de terra aos índios de São Lourenço, de Macabu à serra dos Órgãos, por intervenção dos padres, para atender as reclamações dos índios supra nomeados". l m j A citação é feita para que se veja como já na primeiro século a penetração da Baixada se estenderia até a cordilheira.

Quanto a Niterói, o direito as terras da sesmaria reclamado ainda em nossos dias por herdeiros do ARARIBÓIA, não impediu to- davia que proprietários portuguêses por ali se afazendassem Em princípios do século XIX as seus estabelecimentos eram nume- rosos.

22.7 CARDI~M, Feinão: Obt cit , nota LXXIV; pág 359

MATOSO MAIA FORTE, Jose: O Mi~nic ip jo ,de Niterói , Rio, 1941, págs 41-44 12' Idem

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Embora, pois, com tais intrusos, a grande sesmaria dos indí- genas houvesse podido contribuir para a criação da vila da Praia Grande num dos pontos de maior densidade demográfica do Brasil, o agrupamento urbano só veio a unir-se tardiamente. Explica-se o paradoxo aparente do fenômeno histórico-social pela absorção do Rio de Janeiro, onde os elementos de pendor verdadeiramente urbano ali ficavam, enquanto os elementos rurais irradiavam da crescente cidade para todo o recôncavo.

Quanto as povoações das baías de oeste, não obstante a sua remota descoberta e o contínuo tráfego marítimo para a capitania de São Vicente, só vieram a aparecer no século seguinte.

0 que vemos neste capitulo é a importância geográfica da Guanabara n a evolução histórica e econômico-social da Baixada Fluminense. Já começamos a entrever que toda a civilização de serra abaixo do atual Estado do Rio de Janeiro evolveu da viva expansividade étnica e político-administrativa do núcleo do Cas- telo, o qual, estimulado pelo abrigo excepcional a garantir-lhe a segurança e os meios de comunicação com o exterior, alastrou-se primeiramente pelo recôncavo, e, em seguida, projetou-se por centenas de quilômetros sobre as faixas litorâneas laterais.

É um caso típico do inflexível determinismo geográfico de um centro natural, gradativamente subordinando a si não sòmente as atividades humanas de vizinhas zonas, como posteriormente, com a subida para os planaltos, as de todo um país de vastidão continental.

IV - A RESTINGA

"Les relations commereiales et politiques entre les hommes se nouent et se maintiennent blen pliis facilement dans les plaines".

CAMILLE VALLAUX: <'Le Sol et l'Etat, Paris, 1911, pág. 120.

Com a descida do Castelo já iniciada no século anterior, vai agora *começar a verdadeira expansão urbana do Rio de Janeiro.

Entre os morros e os brejais onde nascera a cidade, pràtica- mente não tinha escolha o carioca primitivo. Caso a transbor- dante proliferação dos habitantes se acolhesse as elevações ilhadas entre charcos, o crescimento natural do Rio de Janeiro descentra- lizar-se-ia num arquipélago de vilarejos de administração dificul- tada para a Câmara. Além disso a contínua apreensão dos corsá- rios tornaria problemática, n a ocorrência de um ataque, uma rápida acolhida às muralhas do Castelo. Daí, o povoamento pro- cessar-se nas imediações do morro, sobretudo n a restinga que o

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ligava ao de São Bento onde o mar penetrava então bem mais a dentro, indo à atual rua 1.0 de Março e a Candelária.

Levantadas a êsmo e sem alinhamentos obrigatórios, casinho- las de adôbe tortuosamente se arruaram ao longo da praia e em vielas transversais. Esporadicamente, uma ou outra habita@ maior ia sobrepondo-se as demais. Um golpe de vista geral sobre o primitivo ecúmeno, o que nos mostra porém é um amontoado de grosseiro casario.

De comêço, a principal artéria da cidade beirava o mar, cor?- tornando o Castelo. Vinha da igreja de Santa Luzia com o nome de praia da Piaçava, e, ao chegar a Misericórdia, p

r

osseguia com esta designação até a "Várzea da Cidade" - atual praça 15 de Novembro -, onde as capelas de São José e de N. S." do 6 já fixavam o povo na planície pela prévia implantacão de núcleos religiosos.

Da Várzea o Rio de Janeiro estendeu-se para São Bento ao longo da praia de Manuel de Brito, posteriormente a rua Direita e hoje 1 .O de M a r ~ o .

De Santa Luzia ao morro dos Beneditinos traçava-se dSsse modo a primeira artéria da cidade baixa, devido aos próprios fa- tores topográficos lacais, condicionando ao meio físico as diretrizes do povoamento. O primeiro trecho desta via, contornando as encostas íngremes do morro, e, o segundo, sobre o tômbolo entre o Castelo e São Bento. Por trás desta restinga ficava a lagoa do Boqueirão com seus alagadiços marginais, toda uma área imensa a ser paulatinamente conquistada.

A segunda rua foi a de São José, até hoje com o mesmo nome, a qual, contornando o Castelo, prolongava-se pela rua da Ajuda ao longo da margem da lagoa.

Vemos assim o carioca primitivo ampliando a cidade com uma. liberdade aparentemente ilimitada para o seu traçado, mas na realidade, submetendo-se ao determinismo dos fatores do meio geográfico.

Esta imposição telúrica, porém, vai ser agora enfrentada pelo crescimento da população que já não cabe nessas estreitas tarjas de abas de morros e restingas. É mister atacar os paludes e os alagadiços. Dai o ínicio de ruas transversais que começam a es- quinar da praia de Manuel Brito decisivamente orientadas sobre a lagoa do Boqueirão, e que aos poucos vão sendo cruzadas por outras à medida que avançam, para a formação de quarteirões. Todo o bairro central do Rio de Janeiro vai assim nascer desta ofensiva contra o pântano, contra a lagoa e contra o mar, por meio de aterros colossais que duram até os nossos dias.

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V - O PÂNTANO

"Mudaram-se os tempos, à face da terra, Cidades alastram-se no antigo paul '> GONCALVES DIAS: "O Gigante de Pedra", ("Poesias Americanas", Rio, 1939, pág. 40).

Desde que os colonizadores se plantaram no Castelo, uma grande cidade fatalmente surgia, por maiores que fossem os obs- táculos à sua expansão urbanística. É que, devido à excepcional situação geográfica da Guanabara, o Rio de Janeiro pertence à categoria das capitais naturais, "cidades que teriam sido vivas e populosas como núcleos de relações industriais, comerciais e agrícolas, mesmo se o Estado não houvesse feito delas o centro da sua atividade" . 128

Do alto de seu morro inicial, ao baixar o carioca os olhos sôbie as redondezas, além da baía só se lhe deparavam estreitas línguas de areia bordando o mar, e, por trás delas, dilatadas rechãs em- pantanadas. Mas assim mesmo teve de descer.

Disseminou-se primeiramente pelas praias, como vimos na fase anterior, onde já um comêço de investida contra o brejo foi lançada. É sòmente porém agora, no segundo século que, com a crescente pressão demográfica, o desenvolvimento do comércio exigindo a ampliação dos poderes políticos e administrativos, as grandes áreas sob o domínio do brejo progressivamente vão sendo atacadas.

De tal monta é entretanto o problema do saneamento que os gigantescos esforços dos governadores e vice-reis irão concentrar- -se quase exclusivamente n a zona urbana, à medida que esta cresce

Com o brejo há porém outro obstáculo a derrubar. É a floresta que nas áreas mais enxutas se adensava com toda a pu- jança da fartura biológica tropical. Já o primeiro governador co- meça a desbastá-la, "não só para ganhar terreno e facilitar as vias de comunicação, como para retirar ao gentio a facilidade de armar ernbo~cadas"~~9 Mas é fácil essa tarefa de imediatos resul- tados em confronto com a demorada peleja contra os charcos.

Pode-se quase afirmar que todo o grande bairro central e comercial do Rio de Janeiro, desde o Cais do Porto à praça Paris e desde a rua 1.0 de Março as Campo de Sant'Ana assenta sobre uma esponja de velhos paludes aterrados. Com exceção de estrei- tas faixas em abas de morros consolidadas por descargas de enxur- radas, é-nos lícito deduzir da própria formação geológica desta planície e dos dizeres de antigos mapas e cronistas que, por toda parte se generalizavam a lagoa, o brejo e o alagadiço.

BACKHEUSER, num estudo comparativo de velhas cartas e com a sua grande experiência de engenheiro da Prefeitura Municipal,

VALLAUX, Carnilo: Obr c i t , pág 351

Page 174: O Homem e a Guanabara

tendo efetuado inúmeras perfurações, mostra-nos como "bem cla- ramente foi surgindo a cidade do Rio de Janeiro: sobre pânta- nos. 1 2 V ã o grande era nos primeiros séculos a carência de um solo enxuto para a expansividade urbana que, mesmo sem nenhu- ma técnica saneadora iam sendo as planícies dessecadas. "Não se procurava acabar com o paul, dessecando-o por drenagem, colo- cava-se simplesmente - como ainda se faz hoje -, o atêrro por cima. Quando houvesse dúvidas sobre isso, as sondagens feitas em diversas ocasiões - ou por acaso ou sistemàticamente -, provam a pouca altura a que se encontra a outra camada, - essa de argila compacta (tabatinga) -, impermeável". 130

Do minucioso trabalho do ilustre professor poderemos catalo- gar algumas das principais lagoas mais centrais, com exclusão das mais distante, hoje englobadas na grande metrópole.

Assim, além da Boqueirão já por vêzes citada, destacava-se a da Sentinela que o mapa anexo representa como um grande saco aberto para a baía, a leste do morro da Conceição. BACKHEUSER, entretanto, reportando-se a vários documentos, diz ter ela existido entre a rua Conde de Catumbi e a do Senado, tendo por escoadouro natural o Saco de São Diogo - cujo remanescente é o canal do Mangue -, o qual vinha até a atual praça da República

A lagoa da Lampadosa ou do Polé ia da praça Tiradentes ao local do antigo Tesouro, na avenida Passos. A da Pavuna localiza- va-se atrás da igreja do Rosário. A do Destêrro entre os morros de Santo Antônio e de Santa Teresa, e, a da Carioca ocupava a atual praça Duque de Caxias.

Isto quanto as toalhas d'água mais profundas, porque a disse- minação dos pântanos era geral. Assim, a lagoa da Carioca pro- longava-se em mangais até Botafogo, sobre os quais foram cons- truídas em aterros as ruas do Catete e Marquês de Abrantes.

O maior de todos êsses pântanos era o de São Diogo, imenso lodaçal. Através dêle ia-se da praça da República embarcado até o arraial de Mataporcos, atualmente o bairro Estácio de S á .

A origem geológica de toda essa topografia palúdica do Rio de Janeiro pode ser compreendida por quem nos seguiu em O Homem e a Restinga. Fácil é de imaginar que antes da formação dêsses pântanos os contornos da Guanabara, bem maiores, carac- terizavam-na por uma abrupta formação de escarpas montanho- sas onde batia o mar, sobre o qual vários morros da cidade insu- larmente então subiam.

Entre essas ilhas estenderam-se restingas que, numa barra- gem quase ininterrupta desde a Urca ao Castelo e a São Bento e daí em seguida à base do serrote da Misericórdia, indicavam as águas fluviais das bacias da serra da Carioca. Por trás dessa longa

129 F L E ~ S S , Max. Obl clt, pag 56 '30 BACKHEUSER, Everardo: Obr cit , pág 61

Page 175: O Homem e a Guanabara

reprêsa natural um b r a ~ o de mar foi enclausurado. E embora essa grande laguna tortuosa e a bracejar tentáculos pelas reentrâncias do antigo litoral fosse em lugares bem profunda, o seu aterramen- to processou-se de maneira rápida com as pesadas descargas dos numerosos riachos torrenciais despenhados dos cordões serranos.

Tão providencialmente êsse atêrro se efetuou a tempo que, ao desembarcarem os portuguêses n a Guanabara, pouco restava que fazer aos cursas fluviais para um completo entupimento. A natu- reza tomando a si o impossível a capacidade humana, deixara apenas rasas toalhas d'água, as quais embora requerendo imensa tarefa para extingui-las, todo êste esfôr~o nada mais representaria que minúscula parcela do trabalho anteriormente efetuado pelos agentes geológi~o~s, ao erguerem à flar das águas um leito de mar, para que sobre essas planícies e êsses vales conjugados a uma orografia de cenários estupendos pudesse o homem levantar uma grande metrópole.

A natureza preparou a terra e entregou-a ao descobridor, jus- tamente ao faltar apenas para acabá-la um impulso necessário a própria evolução humana.

Passemos portanto a verificar como essa marcha evolutiva progrediu, desde as primeiras vielas de areia ou de lama e desde as palhoças do carioca pioneiro até o asfalto das grandes avenidas e o cimento dos arranha-céus espetaculares

Já mencionamos que, por motivos geográficos da própria for- mação da cidade, entre as toalhas lacustres que então se espa- lhavam pelo Rio de Janeiro, a primeira a ser atacada foi a do Boqueirão, visto ser ela o primeiro obstáculo a entravar a disse- minação da gente do Castelo sobre a planície

Vimo-la aberta para o mar entre êsse morro e o de Santo Antônio, enfiando para o norte lateralmente a um eixo que deveria com bastante aproximação acompanhar a nossa avenida Rio Branco e indo quase confinar com os cersos da Conceição e de São Bento. A sua margem fronteira ao Castelo beirava parte da rua Senador Dantas indo ao largo da Carioca Um de seus gallios era a lagoa do Destêrro, já mencionada, e outro provavelmente a da Pavuna, por trás da igreja do Rosário

Segundo BACKHEUSER tinha ela uma segunda abertura entre o morro de São Bento e o do Castelo, com a qual se deduz que "o estreito istmo que é hoje a rua 1 0 de Março" era um verdadeiro tômbolo periòdicamente rasgado pelas marés

Foi sem dúvida o material dessa restinga o primeiro a ser utilizado para o aterramento da Boqueirão.

Congestionada de primevas construqóes a antiga praia de Manuel de Brito, novas ruas transversais tiveram de ser abertas para leste, sobre os pântaeos marginais a lagoa. E foi necessàiia- mente com a areias do tôrnbolo que essas vias se firmaram sobre

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OS fundos pantanosos, desta maneira nascendo toda a série de ruas aproximadamente paralelas entre a da República do Peru e a de Visconde de Inhaúma, destacando-se de cornêço entre elas a rua do Ouvidor.

Repetidamente vem-se afirmando como causa da estreiteza da maioria dessas ruas quer a necessidade de aumentar as horas de sombra quer a desnecessidade de alargá-las pela ausência de veí- culos nos primeiros tempos. O principal motivo, porém, ainda não focalizado foi o próprio atêrro.

O dificultoso e pesado transporte de areia com meios de con- dução precários, necessàriamente limitou a largura das ruas onde os fundos de casas deveriam por longo tempo ainda permanecer alagadiços .

A tais aterros iniciados com o relativamente escasso material da restinga entre o Castelo e o São Bento e com tamanha dificuldade no transporte é que devemos antes de tudo atribuir a origem do atual congestionamento dos nossos bairros comerciais. Grande injustiça é sobretudo acusar os primitivos colonizadores de impre- vidência e desleixo no traçado dessas ruas, ou compará-las com a grandiosa urbanização de Buenos Aires, projetada em planície aberta sobre as aluviões depositadas pelo rio da Prata

A culpa não foi do homem. Foi da terra. Foram os imposi- tivos telúricos que se opuseram a um planejamento urbanístico racional, quando a conquista do solo foi tão árdua e os meios a disposição eram tão mesquinhos.

A generalização do brejo e o exíguo material a mão para aterrá-los numa apressada elaboração de ruas para o rápido cres- cimento da população, exime da culpa da estreiteza das nossas ruas centrais os administradores coloniais do Rio de Janeiro que em tantos outros pontos se mostraram tão capazes e de acuidade tão atilada na execução de obras de utilidade publica até hoje perduráveis.

Competia-lhes, com os parcos meios de que dispunham, execu- tar os aterros para as vias públicas e aos habitantes completá-los nos fundos de seus lotes Culpados mais justamente serão os administradores dêste século permitindo que em tais ruas fossem construídos grandes edifícios sem um novo plano de alinhamentos condizentes com as nossas necessidades atuais e previsíveis para um intenso tráfego futuro.

Como prova do alagamento p

r

imitivo dos bairros centrais do Rio de Janeiro pelas marés que penetravam no Boqueirão, diz-nos ainda BACKHEUSER "A rua da Quitanda, lembremo-nos, começou se chamando "Quitanda dos Mariscos", acabava na rua dos Pes- cadores - hoje Visconde de Inhaúma -, designações que bem indicam a proximidade do mar. Essa lagoa do Boqueirão seria diminuída por sucessivos aterros, os primeiros naturalmente para

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ligar os dois morros de São Januário - depois São Sebastião e hoje Castelo -, e São Bento, primeiros aterros atirados irracional- mente para, n a frase do Dr. PAULA FREITAS fazer "pântanos aba- fados". Mais tarde ficou muito reduzida. . . "

A lagoa do Boqueirão não foi por conseguinte um simples charco, fácil de entupir com fina camada de aterros, mas de profundidade ponderável, sendo que já citamos vestígios de sua raavegabilidade por grandes embarcações . Isto patenteia os enor- mes trabalhos dos colonizadores para esforçadamente nos legarem o nosso grande centro comercial.

Enquanto as ruas da cidade iam dêsse medo se estirando sobre os aterros, os morros entretanto já começavam a ser habitados pwc ordens religiosas, buscando nêles ao mesmo tempo, um am- biente mais salubre e mais consoante com as suas finalidades, que as afastavam do bulício urbano.

São Bento concedido em sesmaria a DIOGO DE BRITO LACERDA

em 1575, foi transferido aos beneditinos em 1590 Santo Antônio foi doado aos franciscanos em 1607. E no da Conceição em 1634, é levantada a capela.

Já em princípios do seiscentos a cidade crescera de modo a exigir a transferência da Câmara do alto do Castelo para a várzea, "ed8dicando-se então para a municipalidade uma casa térrea pró- xima do mar, ao lado da ermida de São José". 131 Para ali descera a stividade comercial e seus moradores sòmente subiam o morro "aos domingos e em dias de festa". Segundo frei VICENTE DO SAL- VADOR já o Castelo se tornara então incômodo, e seus habitantes apenâs ali permaneciam devido à matriz e à igreja e Colégio dos Jesuítas, onde os filhos dos colonos se educavam 1 3 2

A planície embora ainda insalubre dominara o morro, ern conformidade com o verdadeiro ambiente geográfico das cidades, onde um dos primeiros fatores para o seu desenvolvimento é a facilidade de comunicações internas. Tão impositiva é esta ne- cessidade de adaptação do homem ao meio para as suas iniciativas soclais urbanas que, mesmo constrangido pela ambiência, vai êle aos poucos dominando-a com seus recursos culturais.

Por isso é que, a exemplo de Roma, o Rio de Janeiro desceu d o morro para o pântano.

Conquanto o cerque uma atmosfera palúdica, o carioca ali vive e se multiplica. Crescem as atividades rurais, e com elas o comércio e navegação não obstante a persistência da pirataria que jmpele em 1615 CONSTANTINO DE MENELAU a ir a Cabo Frio de onde expulsa cinco embarcações e funda uma povoação.

FLEIUSS, Max: Obr cit , págs 69-70 Idem

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Êste episódio focaliza a vigilância do govêrno pela segurança da cidade, posta sempre em primeiro plano pelos governadores. A seguir ao despótico e atrabiliário RUI VAZ PINTO, sucessor de MENELAU, FRANCISCO FAJARDO, em 1620 prepara-se contra a ameaca holandesa. MARTIM CORREIA DE SÁ, en? 1623, concentra as suas iniciativas em fortificações, devido à invasão da Bahia pelos ba- tavos que então iniciavam o seu domínio do Brasil setentrional, logo após concretizado com a tomada de Pernambuco

Os fortes do Carmo, de São Tiago, de São Gonçalo e de Santa Cruz da Barra foram então reparados e o da Laje construido. M a cidade baixa, o de Santa Cruz - no loca1 da igreja de Santa Cruz dos Militares -, é reformado. Também datam dessa época os fortes de São João no morro Cara de Cão, e o de Santa Margarida na ilha do Governador.

Além dos templos e capelas edificados na fase anterior, vão sendo outros levantados e n ~ crescente numero, o que em vista do espírito religioso da época nos dá um índice eloquente do progresso econômico e demagráfico da populaçáo

Assim, a ermida da Candelária que se transformaria nos se- guintes s6culos na imponente igreja atual, é erguida em 1604 A ermida de São Cristóvão em 1627 e o templo que hoje vemos de São Lourenço dos Índios, reconstuído em 1628. A igreja de São José, no local da ermida, foi começada em 1633, a de Nossa Senhora da Conceição em 1634 e a do Carmo em 1648. Na segunda metade do século temos a de Nossa Senhora do Parto em 1653, a do Livra- mento em 1670, a de Nossa Senhora da Glória em 1671 e a da Ajuda em 1678.

Com esta exposição verifica-se, pois, que a adaptacão do ho- mem a terra carioca já não sòmente o enraizara, mas também dera lugar a uma rápida evolução econômica e social no correr do século de seiscentos, claramente observada pelo govêrno de Lisboa, o qual já podia prever a importância do Rio de Janeiro como núcleo centralizador da Colônia imensa

Os fatores geográficos, num determinismo fatal, já tentavam impelir para a Guanabara a capital do Brasil, mesmo antes que a impetuosa projeção das Bandeiras dilatasse tanto para oeste o nosso território.

Esta imposição do meio geográfico é visível. nas repetidas criações de dois governos gerais, sendo o primeiro dêstes ensaios efetuado mesmo no século anterior, apenas cinco anos decorridos da fundação da cidade por MEM DE SÁ, quando a 10 de dezembro de 1572 D. ANTONIO DE SALEMA é nomeado governador-geral do sul, com sede no Rio de Janeiro, continuando o norte a ser dirigido de São Salvador.

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P.ouco dura entretanto essa primeira tentativa, pois que em 1577 centraliza-se novamente n a Bahia a unificação governamen- tal da Colônia com LOURENÇO DA VEIGA.

O determinismo geográfico, porém, iria gradual e inflexivel- mente apresentando impositivos cada vez maiores da importância do Rio de Janeiro para Capital. Em face do desenvolvimento das capitanias do sul, o crescimento da cidade e a sua posição cada vez mais aconselhavam uma nova partilha no govêrno da Colônia.

Já em 1642, seus habitantes têm os mesmos privilégios que os de Lisboa e do Pôrto. Em 1647, é cidade honrada com o título de "Leal" pelo empenho que os moradores sempre exibiram em sua defesa. E a 17 de setembro de 1668 o general SALVADOR CORREIA

DE SÁ é investido de poderes autôn~omos para o sul, com sede no Rio de Janeiro.

Daí por diante a predominância política da cidade sobre a de Salvador irá num crescendo ininterrupto, acelerado pelas des- cobertas auríferas A sua jurisdição estende-se por São Paulo, e Minas e por toda a costa meridional até a Colônia do Sacramento

A situação geográfica das lavras de ouro, sobretudo, geològi- camente localizadas em Minas Gerais e em Goiás, iriam concentrar as atenções do govêrno de Lisboa nesta baía e nesta cidade pro- videncialmente situadas num ponto de atraçáo de toda a l-iiii- terlândia produtiva de tesouros para os reis de Portugal.

Em 1697 funda-se a Casa da Moeda para os lingotes que atra- vés de penosa jornada via Taubaté e Parati, ali chegam das fais- queiras sertanejas.

Crescendo porém o Rio de Janeir ,~, paralelamente cresce a cobiça dos corsários. DUCLERC, em 1710, perde a vida num frustrado assalto. Mas DUGUAY TROUIN consegue conquista-la no ano seguin- te, exigindo em resgate nada menos de 600 000 cruzados, 110 caixas de açúcar e 200 bois que abarrotam as naus francesas, além dos despojos de um completo saque. Esta prêsa mostra-nos a prosperidade já atingida pela cidade nessa época, devido aos imperativos geográficos centralizadores, embora ainda com defi- cientíssimas ligações com os distritos auríferos que já predomina- vam na economia brasileira. O Caminho Novo para as Minas Gerais, aberto em 1704, 133 dera enorme impulso a vida carioca

Incalculável foi a importância desta via, posteriormente me- lhorada com variantes. P30de-se dizer que com o Caminho Novo entra a Guanabara em sua verdadeira função histórico-social de unificadora das iniciativas brasileiras nos planaltos centrais.

ORVILLE DERBY opiniou que, não fosse a compulsória do trá- fego entre Minas e a Bahia, canalizando para o Rio de Janeiro todo o comércio da mineração, ter-se-ia modificado "considera-

MAGALHBES, Basílio d e : Expansão Geográfica do Brasil Colonial, Rio, 1935, págs 372-385.

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velmente o curso da história mineira". 13" nosso ver, porém essa alternativa jamais poderia acontecer. A sucessão dos fatos de nossa história econômica até hoje, quando a ligação entre os dois Estados permanece deficiente, ainda prova que imperativos de ordem geográfica haveriam de irretorquivelmente impor a utiliza- ção da Guanabara como escoadouro da produção mineira e como centro solar da sua civilização. É ela o pôrto mais próximo dos núcleos urbanos do planalto, evolvidos da predestinação geológica das suas lavras.

A história mineira teria de forçosamente seguir um destino econômico-social submisso à orientação política do Rio de Janeiro, quaisquer que fossem as correntes formadoras de sua população e quaisquer os caminhos de penetracão por elas seguidos. O re- torno ao mar sempre seria atraído pela Guanabara, por motivos naturais alheios a vontade humana.

Embora os formidáveis obstáculos da Mantiqueira e da enflo- restada serra do Mar se interpusessem ao contacto dos planaltos com o litoral, o comércio das Minas e a civilização que dêle surgiu, teriam de "necessàriamente" sujeitar-se ao determinismo telúrico originador da grande baía.

O impulso do Caminho Novo fora decisivo para o futuro do Rio de Janeiro, incentivando o progresso da cidade com a súbita majoração de recursos econômicos. Mas a vida carioca, como vimos, desenvolvera-se por si mesma de longa data e de moto próprio desde a descida do castelo e com a tremenda luta contra o paul.

33 nisto sobretudo, que êste homem vai tornar-se formidável: na peleja contra o meio; n a solidificação de um solo encharcado; no estender centenas de quilômetros quadrados de uma grande cidade sôbre um pântano A não ser possivelmente o México, construída sobre um antigo lago dessecado pelos espanhóis. e onde o subsolo requer drenagens permanentes, e Armsterdão erguida sobre estacas nos Iamaçais do Zuiderzee, nenhuma outra grande capital teve de empenhar-se em problemas tão difíceis para a fixação de seus alicerces.

Foi êste o grande óbice a enfrentar o carioca na criação do Rio de Janeiro desde os primitivos dias das palhoças copiadas dos indígenas, até os tempos atuais, quando o saneamento ataca os novos subúrbios onde uma extraordinária e crescente germinação de prédios sobe de grandes planos alagadiças. Vimos que o início do treino contra o brejo teve lugar com o atêrro e o escoamento da lagoa do Boqueirão. Mas seriam necessários cêrca de cem anos para a consecução de um piso firme em área tão extensa que o atual largo da Carioca só veio a secar em 1646, ocupado então pelas águas de um paul remanescente - a lagoa de Santo Antônio.

13'. Idem, pág 168.

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A Câmara decidiu exaguá-la com a "construção de um cano de pedra e cal de 4 palmos de largura por 3 de altura". 135 A rua do Cano que por longo tempo conservou êste nome, é hoje a 7 de setembro.

Outra via pública originada dêsse escoamento é a rua Uru- guaiana, antiga da Vala, ao longo da qual as águas desciam até a Prainha, desaparecida com fundaqão do Cais do pôrto. 13'

Muitos decênios levará a cidade atravessando a Boqueiráo até chegar a êste limite antecedido entretanto pela rua dos Ourives, cuja tortuosidade contrastante com as outras ruas centrais e retilíneas deve resultar de seu traçado inicial a beira da lagoa.

Foi, pois, sobre um grande charco extinto que o centro da ci- dade foi erguido a custa de labuta secular. E um exame urbanístico dos antigos mapas vai-nos agora revelar um fato contraditorio da tão apregoada incúria dos administradores do Rio de Janeiro colonial relativamente a medidas higiênicas de ordem coletiva, visto poder-se dizer que o exaguamento em tal maneira precedeu as construções que a área da cidade permaneceu quase a mesma por mais de um século, quando em 1769 poucos quarteirões ultra- passavam a praça do Rocio, atingindo o Campo de Sant'Ana. E a população da cidade quadruplicara no tempo dos vice-reis. É que o traçado original das ruas sobre aterros fora em sua maior parte concluído ao raiar do setecentos - conforme as cartas dessa época -, e durante o correr dêste século em que a densidade de- mográfica se acentuou vivamente, a população ia apenas cons- truindo prédios ao longo de ruas já existentes e penosamenk levantadas sobre pântanos.

Houve assim um plano urbanísti,co sistematicamente realizado para- a futura população do Rio, o qual desde os começos do século XVII fora iniciado numa área que sòmente viria a ser coberta .de edificaçóes em fins do século XVIII. A única falha nesse plano foi, como vimos, a estreiteza das ruas, desculpável com as próprias dificuldades do sistema de aterros necessários.

Foi esta a primeira grande conquista do carioca. O domínio completo da lagoa do Boqueirão, sobre a qual cresceu a maior parte da cidade antiga nos séculos dezesseis e dezessete, define a a fase colonial do Rio de Janeiro na luta contra o meio.

1::s COSTA, Nelson : Obr , cit , pág 59 '""Ôbbi a oiigem desta lua escieve o autor das Memórias Históricas: "Construida

a Fonte da Caiioca, abriu-se um canal para levar as águas ao mar da Prainha, com as d o Campo de São Domingos que vinham aIi despejar Poique então houve negligência em cobri-la, assim ficou seivindo igualmente de gera1 depósito de imundicies que os nloradores vizinhos lhes aumentavam diàriamente " (V01 VII, nota à p8g 43)

Ao refeiir-se a D Luís DE VASCONCELOS que "calça o meio da rua do Cano", diz PIZARRO: "A travessa da Vala que por providência do vice-rei conde da CUNHA Se cobriu toda com grossas lajes, principiou a ter igual benefício desde o canto da lua do Piolho, mas estacada quase toda, que, por isso intransitável de sege, concedendo apenas trilho mais fieqilente em tempo sêco e quando as chuvas não a cobrem: pois que a falta de expedição das águas nega o passo a indivíduos calçados" (Idem, v01 V, Pag 260)

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Obra iniciada sob os governadores, sòmente viria a ser com- pletada pelos vice-reis mais financeiramente poderosos. Ainda em fins do século XVIII existiam restos da grande lagoa quando o. vice-rei D. Luis DE VASCONCELOS sobre eles construiu o Passeio\ Público desmontando para êsse fim o morro das Mangueiras si- tuado próximo ao de Santa Teresa e junto ao aqueduto. Deno- minava-se então a lagoa Boqueirão da Ajuda, "cujo seio compre- ende o espaço desde a ponta da Misericórdia até o monte de Nossa Senhora da Glória, e por assaz pantanoso náo só criava insetos e mantinha grossa mosquitaria, como ocasionava a podridão da atmosfera, recolhendo as ondas impetuosas que ali se espraia- vam". 137

Sob o marquês de LAVRADIO numerosos charcos são entupidos. e enérgimcas medidas higiênicas decretadas, "não consentindo o desleixamento dos habitantes em conservar as testadas das suas propriedades enxovalhadas com lixo ou águas derramadas, por isso que as ruas do Rio de Janeiro lavadas da lama e de qualquer imundície não invejam a Polícia das mais notáveis cidades européias" . 138

Descontando-se o otimismo do historiador, nota-se entretanto que, por fins do século dos vice-reis, a área urbanizada achava-se quase livre de pauis. Os brejos praianos do Valongo foram des- secados sob o govêrno do Marquês, "devido a abertura da rua espaçosa em lugar da medonha azinhaga por onde passavam para as suas chácaras os habitantes da Saúde, Gamboa e Saco do Alferes".

É ainda LAVRADIO quem oficialmente inicia no Rio de Janeiro a higiene preventiva com o isolamento de negros vindos d'África, comumente portadores de escorbuto, varíola e outras moléstias transmissíveis, no mercado de escravos do Valongo. lZ9

D. Luis DE VASCONCELOS seu sucessor - 1'779 a 1789 -, além de entupir os restos da lagoa do Boqueiráo e já então acompa- nhando o crescimento da cidade para oeste, começa a aterrar a da Lampadosa e a do Campo de Sant'Ana onde chegavam os grandes pântanos da Sentinela, "tendo concorrido os moradores mais abundantes da cidade com avultadas quantias em dinheiro. e escravos".

Além daquele campo a povoação esbarra num Imenso treme- dal alimentado pelas marés e por diversos riachos vindos da serra da Carioca : o Saco de São Diogo .

PIZARRO: Menróiias Histó?icas, VII, pág 71 Idem, pág' 45

OS negociantes de negros conduzidos d'Áfilca os recolhiam nas lojas das casas da sua vivenda, ou em outias semelhantes que alugavam Sendo danosa a residência da negraria no centro da cidade pelas moléstias adquiridas ou trazidas, além de rius, mandou-os remover a vivenda dos negios chamados "Novos" para o sitio do ValOngO". (PIZARRO: Ob1 cit , v01 V, pag 201)

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Bem maior que a lagoa do Boqueirão, êste enorme obstáculo impedia a expansão do Rio de Janeiro, isolando-o de povoados suburbanos que para além nasciam. A tarefa de saneá-lo era ina- diável, e assim como o dessecarnento da Boqueirão fora a grande vitória da carioca colonid em sua luta contra o meio, a adaptabi- lidade a um intenso povoamento dos grandes pantanais da Sen- tinela e de São Diogo seria a obra do Reinado completada no Império.

Obra tão vasta que, além dos meados do século dezenove, viajantes de olfato mais refinado deblateram contra os odores do Campo da Aclamação e o aspecto pouco recomendável das ruas do novo bairro denominado Cidade Nova. Porém mesmo CARLOS EXPILLY, sempre obcecado pelo mau cheiro do Rio, testemunha em seu livro parcialíssimo o que foi a titânica luta do carioca para o estabelecimento da cidade. "o Rio é construído sobre um solo em tal maneira. úmido que nêle se encontra água em se cavando unicamente com a unha". 140

O autor embora esquecendo a imundície das ruas de Paris no fastigioso tempo dos L u f s ~ s , quando já envelhecidas de milênio e meio, desculpa entretanto inconscientemente o carioca numa frase entusiástica: "É verdadeiramente em face destas magnificências que se sente bem haver-se deixado o velho mundo e que se está em presença de uma teria nova". Dezenas de séculos era a vantagem do europeu na construção das suas capitais, sobre o brasileiro que na retaguarda se apressava, ao mesmo tempo de- batendo-se contra a ambiência palustre e tropical.

Nessa ambiência é que a cidade continuava sempre a alas- trar-se. Em O Homem e o Brejo mencionamos o grande inten- dente da Polícia PAULO FERNANDES VIANA, primeiro saneador oficial dos Campos dos Goitacás e a sua obra no Rio de Janeiro. Com vastíssimas atribuições que hoje caberiam a várias autoridades, a êle se deve o remate e o calçamento de ruas como a do Sabão - General Câmara -, Inválidos, Matacavalos (Riachuelo) , dos Arcos, do Conde (Frei Caneca), e Mataporcos (Estácio de Sá). Além dêste e de numerosos melhoramentos outros, entre os quais o da iluminação pública, o maior de seus benefícios foi sem dúvida o exaguamento parcial dos pantanais de São Diogo, repletos de mangues, inaugurando a Cidade Nova em meio a qual fica o canal do Mangue, obra do visconde de MAVÁ que, em 1857, com êle completa o saneamento e perpetua com essa designação a lem- brança do extinto tremedal.

Do tempo do intendente datam a rua Senador Eusébio, pri- mitivamente o "Caminho do Atêrro" e a seguir "Caminho das

140 EXPILLY, Cliarles: Le Brésil te1 qzr'il est Paiis, 1862, pag 63 Idem, pág 52

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Lanternas" desde que por ali passou o rei para a Quinta da Boa Vista.

Desde então o Rio de Janeiro toma impulso extraordinário, podendo-se dizer que, com a travessia de São Diogo por FERNANDES VIANA, a cidade precipitou-se para os subúrbios atuais. Para tanto basta considerarmos o seu aumento de população que, de cêrca de 50 000 em fins do setecentos - segundo PIZARRO -, ascende a 150 000 no advento de PEDRO 11, a mais de 500 000 no fim do seu reinado e a quase 700 000 ao ter início o século XX. 143

Estas cifras mostram-nos quão decisivo foi o século XIX para a evolução do Rio de Janeiro. Ante a enorme expansão e o pro- gresso da cidade, a fase colonial parece-nos mesquinlza, embora num confronto relativo entre as duas épocas, tendo-se em vista as possibilidades econômicas e culturais do Império e da Colônia, a fase inicial fosse bem mais árdua além de fundamental para a sua etnia.

Verdadeiramente, foi n a vasa da lagoa do Boqueirão que o Carioca enraizou a sua estirpe racial onde até hoje predomina o elemento português. Foi neste cepo rijo, fertilizado por quotas de sangue indígena e africano, fortalecido por dois séculos e meio de seleção apurada na ambiência palúdica que definitivamente êle se apresenta aperfeiçoado ao raiar o novecentos. Dêsse tronco é-que de súbito se esgalha a metrópole com os atuais enxertos de outras procedências.

Foi necessária toda uma idade precursora sob a conduta dos governadores e vice-reis para que, com a chegada da Corte, uma sólida base étnica e cultural já permitisse, a partir daí, um de- senvolvimento extraordinário.

Em contínua e lenta subida desde os prirnórdios coloniais a té o recenseamento do conde de RESENDE em 1799, as cifras demográ- ficas desde então se avivam até 1821. A influência das grandes reformas efetuadas sob D. JoÃo VI, torna-se evidente com o aumento da cidade. Sob o primeiro Imperador e a Regência, a popula~ão continua a multiplicar-se, embora seja menor o índice de crescimento, possivelmente resultante da inquietação política dessa época, que torna o ambiente urbano menos atraente.

Fenômeno inverso vai se dar, porém, com a Maioridade, quando ao inaugurar o seu meio século de fecundo govêrno, PEDRO 11, embora adolescente, dir-se-ia já irradiar por toda a sua capital

1.~2 COSTA, Nélson: Obr. cit , pág. 102 1 ' V o s começos dn Repiiblica, temos a seguinte estatística do Rio de Janeiro: Con-

tavam-se na cidade 48 000 casas com 522 000 habitantes. Dêsses, 155 000 eram estrangeiros, sendo 106 000 portuguêses. 17 000 italianos. 10 000 espanhóis, 4 000 franceses, 1 800 alemães, 1900 inglêses, 1200 austríacos e 13 000 de diversas nacionalidades Racialmente, esta população difeiençava-se em 206 000 brancos, 111 000 mulatos, 64 000 pretos e 17 0000 caboclos (O Brasil. MAUR~CIO LAMBERG Trad. de Luís nm CASTRO, Rio, 1896, pag. 285 )

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o dinamismo criador de sua extraordinária personalidade. Em 11 anos apenas, a população quase dobra, ao passar de 137 038 em 1838, a 266 466 em 1849.

Desta última data até 1870, quando se faz o seguinte censo, há uma inexplicável anomalia no índice do crescimento que sensivelmente baixa. O progresso do Império e as contínuas re- formas n a capital não justificam tal fenômeno, para o qual apenas duas interpretações são aceitáveis. Ou o censo de 1870 não exprimiu a realidade, ou as epidemias de colerina e de cólera que justamente nesse período, entre 1851 e 1868 assolaram a cidade, afugentaram o carioca e reduziram a imigração.

De 1870 em diante, em pleno desabrochar do 3 . O reinado e quando já o prestígio pessoal do grande imperador e a sua inata- cável honestidade no govêrno unificaram politicamente o Brasil e transformaram a sua capital numa verdadeira cidade com notá- veis transformações, começa então num ritmo impressionante a ascensão do Rio para uma grande metrópole.

O impulso imperial fora definitivo, e a República já então contemporânea dos modernos progressos da Ciência e senhora de poderosos recursos financeiros, pegou da cidade com a sua popu- lação já quase explosiva para todos os recantos do Distrito Federal. e embelezou-a .

Os 522 651 habitantes do censo de 1890 multiplicam-se para 811 443 no de 1906, para 1 157 813 no de 1920 e para 1764 141 no de 1940. Segundo cálculos censitários, o Rio de Janeiro deverá ultrapassar 2000 000 de habitantes em 1950 e 5 300 000 no ano 2 000. 143-A

Para enfrentar tamanha responsabilidade em futuro próximo, já se prepara felizmente o terreno para os impositivos da previsão demográfica. Após a magnífica urbanização dos bairros de Copa- cabana, Ipanema, Leblon e Gávea, a invasão dos 18 quilômetros da praia de Marapendi inaugura o povoamento de mais 100 quilômetros quadrados da grande planície de Jacarepaguá, em vias de ser exaguada.

Por toda parte novos arruamentos talham os flancos da serra da Carioca. A zona de Grajaú alinda-se, toda nova de residências modernas. Do Engenho Novo a Anchieta e à Pavuna e pelos su- búrbios da Central e da Rio do Ouro cruzam-se novas artérias onde há bem pouco dominava a solidão. Nos 12 quilômetros da planície entre Deodoro e Santíssimo já se levanta uma importante cidade com os núcleos da Vila Militar, do Realengo e de Bangu, em rápida expansão e ligados entre si, enquanto em Campo Grande, em Guaratiba e em Santa Cruz o Departamento Nacional de Obras de Saneamento exágua mais de 150 quilômetros quadrados de

Id3-* O censo de 1950 revelou e atualmente já se contam 3 000 100 de habitantes no Rio de Janeiio (Nota da 2.a ediçáo )

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Fig. 72 - Mapa do Rio de Ja?zei?o dos fins do primeiro século, vendo-se a lagoa da S e ~ ~ t i n e l a aue desaguava entre os molros de São Bento e da Caceiçáo, e a sua direita a ($0 Boqueiláo com livle acesso para a baia entre os morros d o Castelo e de Santo Antônio, cu jo entupimento iria

consumir duzentos anos de energia carioca

( D o livro de EVERARDO BACKHFUSER: A Faixa Litor&nea do Blasil Meridional)

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F i g . ;.I o R i o d e Janeiro nas vésperas da Independência, quase inteiramente l e r a n t a d o. ~ t i I v i , . i1 antiga lagoa do Boque i rãoe outros p â n t a n o sextintos, é a grande o b r a d o

carioca dos t empos coloniais, n a l u t a contra o m e i o

F i g . 75 - Neste quadro a óieo do Museu Histórico Nacional, de autoria do pintor JOSÉL E A N D R O d o s fins do século X V I I I , vemos o que então restava da grande lagoa d o Boque i rão a qual d a í se estendia quase até o morro de São Bento, passando entre osd o Castelo e de Santo A n t ô n i o Sôbre êste pequeno lago fêz o vice-rei D. LUÍS DE VAS-CONCELOS levantar por mestre VALENTIM O Passeio Públ i co Dai o antigo n o m e d e

"Boqueirão do Passeio" dado ao local.

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Fig. 78 - Uma topografia v io l en tada de s u r p r e e n d e n t e sr e l e v o s esgalha - sepela c idade. . .

Fig. 7 9-. . . b r u s c a m e n t e isolando bairros v i z i n h o s e dificultando - lhes a c o m u n i c a ç ã o

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Fig. 76 - O canal d o Mangue, a maior obra d e saneamento d o Rio de Janeiro execzitada n o Império, constrzcido e terminado eni 1857 pelo viscoilde de MAUÁ para dessecar a a lagoa da Sentinelu e os pantanais d e Sáo Diogo, sobre os quais se alastra h o f e a

Ctdade Nova

d e açúcar. Ao centro a igreja d e São Francisco Xaeier da antiga fazenda dos Jesuitas!

(CHAMBERLAIN)

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Fig. 80 - Do alto r10 Corcovado nota-se o crescente dominio d a s planícies pelo Fomem.. .

Fig . e a geometrii is linllas urbanisticas a corrigir e embelezar a n a t u -

reza sem a deturpar.

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Fim:. 82 - fYtsla wl~'aja7ia d r uni ceiiório inicitrnl6r.rl oritlta-tr e mois linda rias nlrlrópote.9.. .

Fi? 83 - . . . oirdp os primores d e C I L ~ ~ U T B T C $ ~ I D ~ W Z P C P I I ~ . e ~ ~ q t ~ u d r u r i o s por obra.9-p~ima~ d e ?:?na brrrria na t s r r -a .

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Page 194: O Homem e a Guanabara

Fig. 85 - No interior da baia, a cidade expansiva avança pelo mar, destruiizrlo as praias com os seus cais protegtüos por enrocamentos contra as ressacas.. .

Flg. 86 - . . . mas Copacabana. em 1944 -, náo tendo mais por onde se estender, sobe com os seus a ~ r a n h a - ~ d ~ s , mantendo o renome universal das suas areias e das

suas ondas.

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Fig. 87 - O carioca, homem de planicie, abandona os seus morros selvagens, z!l~ados na civilaxaçáo . . .

(Foto Aviação Militar)

Fig. 88 - . . . e cria novas planicies invadindo a Guanabara com aterros. Ao alto, c i esquerda, o aterro onde foi c m s t r . ~ ~ M o o aeroporto Santos Dumont, u m dos mais mo-

vimentados do mundo e no centro da cidade. (Foto Aviação Militar)

Page 196: O Homem e a Guanabara

Fig. 89 - O asfalto e o cimento estendem-se continuamente com os novos bairros sôbreos areais.. .

Fig. 90 - ... o homem, porém, com os seus retoques civilizadores, iamais consegue subjugar o maravilhosocenário de montanhas espetaculares.

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Fiy. 82 - Outro aspecto da colrstr?tção da avenida Presidente Yurgas com cerca d c qiralro guilbntetros de extensdo.

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planuras tornando salubre além da baixada, uma área colinosa pelo menos igual. Nos distritos de Irajá, B0nsucesso e Vigário Geral, os subúrbios da Leopoldina já quase se entrelaçam numa única urbanização de 20 quilômetros e os lamaçais da foz do rio Farias, em Manguinhos, desaparecem sob grandes aterros sulcados de canais.

Na ilha do Governador cruzam-se ruas modernas de vilas re- sidenciais. O Rio de Janeiro previdentemente se prepara para o dilúvio humano que lhe está chegando e que em poucos decênios transbordará por suas planícies, por suas colinas e pelas encostas de suas montanhas. Mas toda essa enorme superfície habitável que a natureza apresenta a iniciativa carioca nos 1 000 quilômetros quadrados de seu território, não basta porém, ainda, ao futuro gigantesco da metrópole.

Seu transbordamento será fatal pela imensa área do recôn- cavo. A Geografia assim a predispôs em torno ao grande centro marítimo, num determinismo visível. O recôncavo da Guanabara é a derradeira etapa do carioca em sua descomunal missão ur- banística.

Vejamos como desde os primórdios começou a irradiar a sua cultura por êsses banhados aparentemente tão inóspitos, mas que a sua energia foi aos poucos subjugando, guiada pelos fatores geográficos como se os tangesse uma instintiva adivinhação da futura cidade colossal, de existência pré-traçada com as próprias origens da Guanabara, decorrentes de fenômenos geológicos di- nâmicos e estruturais.

Praticamente a cidade colonial estacionara n a rua da Vala, para além da qual enormes extensões de pântanos aguardavam saneamento. Tamanha obra que vimos realizada no século XIX, quando a Cidade Nova se espalhou pelos aterros sobre as lagoas da Sentinela e o Saco de São Diogo, tão decisivamente contribuiu para o crescimento do Rio de Janeiro que já antes mesmo da pro- clamação da República a sua população espraiou-se pelo Engenho Velho, São Cristóvão, Andaraí, Tijuca, Engenho Novo, Méier, indo até Piedade e Cascadura.

Para o sul, nos tempos da Colônia, apenas uma rua de casas marginava a baía até a Glória, além da qual apenas chácaras e fazendas se estabeleciam, englobando morros e restingas, charcos e florestas sobre os quais hoje progridem as eonstruções e os calça- mentos dos nossas melhores bairros residenciais que vão do Catete a Gávea, cada vez mais congestionando vales e planícies e já em subida pelas encostas da serra da Carioca.

Quando pelo correr do século XIX o carioca atravessou os pantanais da Sentinela e de São Diago, já iria entretanto ali en- contrar entre as fundações agrícolas primitivas, povoados nucleares

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que facilitariam o espraiamento da grande cidade. la4 Idêntica- mente, para os lados do sul, foram as primitivas chácaras das La- ranjeiras, do Flamengo e de Botafogo que, ao serem subdivididas, atrairiam uma vizinhança de moradores de recursos, fugindo à plebe da cidade antiga, e que, com costumes e hábitos mais apu- rados iriam criar com uma vida familiar mais seleta o isolamento social dos bairros aristocráticos, crescentemente atraídos para as praias atlânticas já hoje em dia congestionadas.

Foi assim que tiveram início as zonas suburbanas. Enquanto espíritos mais atrevidos se atiravam para oeste em busca de terras para trabalhar, a classe mais dinheirosa aos poucos se aproximava do Atlântico, com as suas chácaras oriundas do retalhamento de antigas fazendas à beira-mar

Com as primeiras doações de sesmarias fizeram-se l'ogo três estradas de penetracão A mais antiga, já varada pelos conquista- dores, seguia para o Pão de Açúcar beirando o mar em busca da Vila Velha de Estácio de S á . A segunda, marginal ao morro de Santa Teresa, tortuosamente contornava a lagoa da Sentinela responsável por inúmeros atoleiros que deram ao caminho o nome de Mata-Cavalos 145 Com a terceira nas'cia a atual rua da Alfândega Esta estrada atravessava o campo dos Ciganos - atual praça da República -, e através dos pântanos de São Diogo ia até a Praia Formosa.

Por êstes caminhos primitivos projetava a cidade os seus ele- mentos rurais que a viriam abastecer Cbom êles surgiam a pecuá- ria, as lavouras e os engenhos de açúcar, definitivos precu

r

sores dos canaviais e das usinas fluminenses. A lavoura de cana com a aclimatação natural a extensas áreas planas, foi pois um dos grandes fatores conducentes à adaptabilidade humana na vasta zona rural do Rio de Janeiro.

Deve ter sido enorme a. contribuição particular das fazendas em obras de saneamento e de drenagem para aquêle fim, e, indubi- tavelinente, esta experiência de séculos facilitou a futura execução de planos urbaníticos locais. Embora com o tempo se apagassem os vestígios que deveriam ser numerosos dessa luta contra o pân-

lli Um dos mais impoitantes povoados subuibanos da cidade colonial, foi o arraial de Mata-Poicos, na at,ual zona do Estácio de Sá, sobre o qual assim fala PIZARRO: "Nesse Sítio, coberto de arvoredos silvesties, se criavam além de caças giossas abundantes varas de porcos que, depois de moitos, eiam conduzidos à cidade Por isso ficou conhecido com o nome de Mata-Poicos, devendo dizei-se Mata dos Porcos O lugar era dos mais apiaziveis subúrbios da cidade, não só goi conter o seu distrito propriedades nobies e sei habitado poi suficiente povo, mas em iazão da estiada geral que o atiavessa em di- leitura ao Campo de São Cristóvão, e, por êle ao interior dos sertões até as Capitanias mais remotas dêste Estado Onde está a capela dedicada ao Espfiito Santo, que no ano de 1746 se fundou, repaite-se o caminho para a Tijuca" ( M e m ó i i a s His tór icas , VII, pág 24).

145 "Em outio tempo que a passagem do lugai do Destêrro para a lagoa da Sentinela se fazia por uma azinhaga coberta de altos arvoiedos, ela o caminho um lameiro seguido onde os animais de tiansporte cansados de trabalha1 por êle, moiiiam frequentemente nfadiçados Por êsse motivo, ficando com o nome de Mata-Cavalos a estrada que os estragava, pioveio dai a comunicação do mesmo nome ao território da sua vizinhança" (PIZARRO: M e m ó i i a s Históricas, v01 VII, pág 23 )

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tano na zona rural, eloqüentemente ainda sobrevivem obras jesuí- ticas na fazenda de Santa Cruz, que modernizadas pela engenharia, têm sido aproveitadas nos grandes trabalhos que atualmente ali executa o Departamento Nacional de Obras de Saneamento.

Além de, portanto, contribuírem para o crescimento econômicrs do Rio de Janeiro, os estabelecimentos rurais do tempo da Colônia tornaram-se um fator decisivo no desbravamento do sertão carioca e na adaptação do homem a terra.

Logo após a conquista surgiram os primeiros engenhos. Qua- tro anos após a tomada da Guanabara, CRISTÓVÃO DE BARROS levantava a sua fábrica de açúcar no rio Majé aos fundos d o recôncavo. Porém nos próprios arredores da cidade outros enge- nhos foram erguidos por êsse tempo.

O mais antigo deve ter sido o de SALVADOR CORREIA DE S Á , n a Tijuca, seguido pelo de ANTONIO DE SALEMA próximo a lagoa Rodri- go de Freitas, não longe do qual ficava o de MARTIM DE S Á . "De tal modo se desenvolveu a indústria açucareira nesses lugares que o governador mandou fazer uma ponte sobre o rio Carioca, a fim de facilitar o acesso pela estrada que levava a praia de João de Sousa, hoje Botafogo. Foi o melhoramento denominado ponte do Salema" . 146

O atual distrito do Engenho Velho nasceu da primeira fábrica de açúcar dos jesuítas, os quais, "mais tarde temendo as invasões da cidade pelos corsários estrangeiros, transferiram-se para o local depois conhecido por Engenho NÔvo". 147 A sesmaria da Ordem, obtida no século anterior, englobava o Engenho Velho, Andaraí e São Cristóvão, indo até o rio Iguaçu.

Ao entrar o século XVII a lavoura de cana generalizou-se. "No Maracanã, construiu-se em 1602 um engenho de açúcar, perto da capela ainda hoje existente". "Em Catumbi, MAUR~CIA GOMES construiu um engenho em 1636, e no Itapiru outro existiu sob a invocação de São Sebastião. Em São Cristóvão os jesuítas tiveram uma fazenda onde é hoje o hospital dos Lázaros". "MARTIM COR- REIA VASQUEANES construiu um engenho no Andaraí Pequeno, hoje Fábrica das Chitas".

Mercê do interêsse econômico resultante da cultura da cana, distantes freguesias germinaram neste século. São Tiago de Inhaúma, Nossa Senhora da Conceição de Irajá, Nossa Senhora do Destêrro de Campo Grande e São Salvador de Guaratiba nasceram dentre canaviais de fazendas seiscentistas .

A maior destas fo i Santa Cruz, a qual se "foi formando len- tamente com várias doações de devotos feitas aos jesuítas que ai fizeram várias obras de engenharia, canais e pontes, olarias, enge- nhos, fornos de cal, oficinas, pescarias e muita criação de gado,

1°C COSTA, Nélson: Obr cit , pág 35 FLEIUSS, Max: Obr cit . pág 68

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havendo nos pastos cêrca de onze mil reses. Construíram matriz, capelas, convento - era o curato de Santa Cruz".

Pode-se pois dizer que, não obstante a limitação da cidade aos quatro marcos orográficos da Conceição, de Santo Antônio, de São Bento e do Castelo toda a área futura do Distrito Federal fora descoberta e possuída pelo carioca do segundo século, graqas a cana-de-acúcar e a pecuária, principais instigadoras da pene- tração.

Daí o compreendermos agora mais profundamente a pertiná- cia e o aferramento a monocultura do campista, que vimos em O Homem e o Brejo por trezentos anos de olhos fitos nos canaviais. E que o carioca, do qual saira êle por direta descendência, também isoladamente assim viveu agarrado aos seus canaviais, criando de maneira idêntica a sua economia numa região de contactos frouxos com o restante da Colônia. Enquanto existissem planícies, embora alagadiças, ao redor da Guanabara, nenhum desejo haveria de galgar a cordilheira, como acontecera ao vicentino premido sobre o lagamar, entre o Atlântico e as escarpas do Cubatão.

Foram os engenhos que o retiveram n a Baixada. Foi a riqueza vizinha do açúcar que, incrementando o comércio, desenvolveu a cidade portuária. Foi a crescente escravaria necessária às lavouras que poderosamente contribuiu para o grande aumento da popu- lação do segundo século, quando a fortuna dos senhores de en- genho refletia diretamente n a cidade, único elo de intercâmbio com a civilização de ultramar.

V I - O RECÔNCAVO

"CRISTÓVÃO DE BARROS, bem afortunados em guerras, e assim, depois qiie cliegou ao Rio de Janeiro, em todas as que teve com os tamoios foi vitorioso, e pacificou de modo o recôncavo e rios daquela baía que, tornando os feiios das lanças em foices e as espadas em machados, tratavam os homens de fazer as suas lavoiiras e fazendas, e éle fêz também um engenho de acúcar junto a um rio cliamado Majé"

FREI VICENTE D O SALVADOR: "História do Brasil - 1500-1627" 3." ed., pág 213

"A cidade conserva lima economia rural; eIa pertence ao que os sociólogos denomina111 tipo iiidif erenciado".

PIERRE LAVEDAN: "Geographie des VilLes", Pa- ris, 7 a ed , pag. 53.

Acabamos de ver a evolução urbana do Rio de Janeiro peno- samente processar-se contra um meio pantanoso O que é hoje a enorme cidade se levanta de pauis gradativamente soterrados ano após ano, desde que os primitivos habitantes do Castelo sob

14s COSTA, Nels011: Obr c i t , pag 63

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crescente pressão demográfica foram compelidos a descer o morro e a instalarem-se na várzea.

Por maior que seja, porém, a expansão atual da grande me- trópole, por tão grandes que sejam ainda a s suas possibilidades de alastrar-se pelos mil quilômetros quadrados do ~ i s t r i t o ~ede ra l , é racionalmente visível a qualquer estudioso de fenômenos histó- rico-sociais que a tendência irreprimível da capital é a de futura- mente se dilatar pelo recôncavo da Guanabara, capaz de abrigar milhões de habitantes do centro cultural de um país imenso, que agora entrando em sua fase industrial, decisivamente marchará entre as grandes potências.

Desde os começos dêste século o Riao de Janeiro se dirigiu para as praias atlânticas. De um deserto de restingas surgiram Copa- cabana, Ipanema, Leblo'n e Jardim-Gávea. Ultrapassada a ponta do Juá, derrama-se êle agora pela extensa praia de Marapendi Os subúrbios do norte e de oeste cresceram, triplicando a popula- ção. Mas o que se começa a presenciar, é um fenômeno que já es- boça uma grandiosidade previsível: o povoamento do recôncavo.

Tornaram-se possíveis as obras de saneamento em grande esca- la que o engenheiro HILDEBRANDO DE ARAÚJO GÓIS e seus colegas abnegadamente realizam Os grandes pantanais fluminenses que contornam a baía começam a secar E de Caxias para o norte nascem povoados, arruamentos novos já se cruzam em lugares há bem pouco abandonados.

São vilas que surgem e que se expandem Com o tempo irão elas se ligando para a formação de um imenso arrabalde da me- trópole. Deixemos no momento essa obra saneadora gigantesca e volvamos ao passado, aos primeiros passos para o domínio dêsse tremedal cuja atração, não obstante a sua malignidade, foi ir- resistivel desde os primórdios da conquista.

Segundo MATOSO MAIA FORTE começou ela com a chegada de ESTÁCIO DE S Á . "Em 1565 foram concedidas as primeiras sesmarias nas proximidades e à margem da baía de Guanabara a CRISTÓVÃO MONTEIRO e JosÉ ADORNO, em "Peratinim" - Pertininga -; a PEDRO MARTINS NAMORADO e JosÉ ADORNO, da "banda de Cabo Frio, uma agoa que se chama Quarií" ao mesmo CRISTÓVÃO MONTEIRO no rio Iguaçu; a DIOGO BRAGA, no caminho de "Peratinim", pela en- seada de Cabo Frio; a SIMÃO MOTA no rio Maje; a Luis DE Górs, no rio Iguaçu, a JÁCOME LOPES e JÁCOME DÓRIA, no rio Corumiri, da banda de Cabo Frio, a ALEXANDRE DIAS, no sertão do rio Suruí, em 1566, a JÁCOME PINHEIRO, no sertão da Piaçava, da aldeia de Itambi e a DUARTE MARTINS MOURÃO em Majé" . No ano seguinte, 1567, vemos CRISTÓVÃO DE BARROS e MIGUEL DE MOURA com terras no sertão do rio Macacu; em 1568, ANTONIO FONSECA obtém sesma- ria no rio Inhomirim; TOMÉ RODRIGUES, na mesma zona junto ao

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rio da Velhas a BRÁS CUBAS, no rio Meriti, pela "Piaçava" da aldeia de Jacutinga; e a PEDRO CUBAS em Jacutinga".

Com a derrota dos franceses e a implantação da cidade no Castelo, ativa-se a penetração com as sesmarias "de CLEMENTE PIRES FERREIRA, no rio Iguaçu; em 1570, de ALEXANDRE DIAS; de ANTONIO DE MARIZ - O primeiro sesmeiro das "barreiras verme- lhas" cedidas ao índio ARARIBÓIA -, no rio Macacu; em 1571, de FRANCISCO MIRANDA BELTRÃO, no rio Majé; em 1572, de ANDRÉ LOPES, no rio Suruí; em 1573, de DUARTE LEÃo, no rio Iriri, "o qual sai da serra dos órgãos"; em 1574, do mesmo ANTONIO VAZ - a que fora dada a BRÁs CUBAS -; em 1578, de diversos nos rios Suruí, Meriti, Saracuruna, Cacerebu, Mutuapira e Tapacorá".

Com mais algumas concessóes irão agora os desbravadores se distanciar da Guanabara numa contínua invasão dos sertões. Assim é que vemos, em 1579 a GONÇALO DE AGUIAR, no rio Guaxin- diba; em 1586 a FAUSTINA ALBANO, na banda d'além de Cabo Frio; em 1958 a BARTOLOMEU ANTUNES, no Guandu; em 1590, aos padres de São Bento, no rio Guapi e a que fora dada a DUARTE LEÃo; a DUARTE MARTINS MOURÃO, em Itaipu e entre a lagoa de Maricá, em 1991, a FRANCISCO RODRIGUES; em 1592, a GARCIA AIRES, em 1593, a BALTASAR DA COSTA, no rio Marapicu, em 1594, aos padres do Carmo em Saquarema e em 1595, a diversos no rio Capivari".

O assalto as margens da Guanabara em todo o seu recôncavo já estava desta maneira terminado antes do fim do século de qui- nhentos, mas ininterruptamente a marcha prosseguia através de restingas e morros, florestas e pântanos.

Tornando-se difícil o caminhar pelos bordos da baía, devido a tanto brejo, tinha entretanto o carioca admiráveis estradas natu- rais para a sua grande obra civilizadora no sistema de rios que dela se irradia em leque para as zonas montanhosas. Todos deci- sivamente influíram na penetração. Pelas águas do Meriti, do Sarapuí, do Iguaçu, do Pilar, do Saracuruna, do Inhomirim, do Suruí, do Majé, do Guapimirim, do Macacu e do Guaxindiba é que foram subindo os desbravadores. Ao longo de suas margens é que se foram alinhando engenhos e fazendas e por êles é que descia para o Rio de Janeiro a produção agrícola do recôncavo.

Para se ajuizar da importância dos rios na vida carioca, basta repetir o que em princípios do novecentos dêles dizia PIZARRO: "pe- los navegáveis se conduzem do interior do sertão as madeiras precisas aos edifícios e ao fabrico das embarcações, os gêneros necessários ao sustento do povo, e todos os efeitos das lavouras em tanta fartura que, num só dia não falta n a ribeira o necessário a mantença dos habitantes da cidade. Nos mesmos rios acham os moradores dos lugares mais .centrais abundante influência de

"" MATOSO MAIA FORTE, Jose:O Estado d o Rio d e Janeiro, Rio, 1928

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pescado que Ihes comunica o mar da enseada, onde se cria tarnbeni toda a espécie de marisco de concha e de pernas." lSv

Ainda em fins do Império, ao serem construídas as primeiras estradas de ferro, enorme era a importância de alguns dêles. Através do Iguaçu, do Inhomirim e do rio d'Aldeia é que se atingia os portos do Pilar, da Estrêla e de Porto das Caixas, pontos tei- minais das grandes estradas sertanejas que varavam a cordilheira, inovimentadas por milhares de burros em contínuo transporte de mercadorias do intercâmbio com uma navegação intensa.

A êsses pequenos portos hoje arruinados devia-se, além do comércio de Minas, grande parte da imensa riqueza do café no médio vale do Paraíba, a qual através dêles se escoava para o Rio de Janeiro

Os fatores geográficos da Guanabara predestinando-a a um grande pôrto de mar, completavam-na dêste modo com o seu leque de rios. Foram êles que, incentivando a obra do carioca, atraíram- -no para o desbravamento da terra através de numerosas vias líquidas prèviamente preparadas E êsse desbravamento processou- -se com grande rapidez.

Já noticiamos o engenho de CRISTÓVÃO DE BARROS em Majé o qual com o de SALVADOR CORREIA DE SÁ na ilha do Governador, foram os primeiros a fumegar no atual território fluminense, após o fracasso da Capitania de São Tomé, de PÊRO DE GÓIs, Com as suas fábricas de açúcar da Vila da Rainha e das margens do Ita- bapoana .

Em 1584, menciona ANCHIETA "muitas fazendas pela baía den- tro", e no ano seguinte diz êle ser a "terra rica, abastada de dados e farinhas e outros mantimentos, tem três engenhos . ." "I-

Por êsse tempo já a "cidade está muito avante" na opinião de GABRIEL SOARES. De seu relato e do de outros cronistas contempo- râneos nota-se a atividade polimorfa do colono em seus ensaios de ambientação. "Neste Rio de Janeiro se podem fazer muitos enge- nhos por ter terras e águas para isso, em o qual se dão as vacas muito bem, e todos o gado de Espanha; onde já se dá trigo, cevada, vinho, marmelos, romãs, figos e todas as frutas de espinho, e é muito farto de pescado e marisco, e de todos os mantimentos que se dão na costa do Brasil: onde há muito pau do Brasil e muito bom'' 153

O Pe. FERNÃO CARDIM nos da pela mesma época um panorama idêntico do Rio de Janeiro, onde a cidade "tem 150 vizinhos com seu vigário e muita escravaria da terra", n a qual o jesuíta aparece com todo o seu engenho adaptativo, implantando culturas de além-

P r z n n ~ o : Obr cit , v01 VII, pág 21 I m ANCHIETA: Caitas, Rio, 1933, pág 320

Idem, pág 420 15:' SOARES DE Sousn, Gabiiel: Tratado Descritivo do Brasil e m 1578, 3 ed , p5g 100

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-mar. Do Colégio, sementeira de espécies vegetais importadas que iriam disseminar-se pela terra fluminense, diz-nos êle que "a cêrca é cousa formosa; tem muito mais laranjeiras que as duas cêrcas d'Évora". Abundam "muito marmeleiros, romeiras, limeiras, li- moeiros e outras frutas da terra; também tem uma vinha que dá boas uvas, os melões se dão no refeitório quase meio ano, e são finos, nem faltam couves mercianas bem duras, alfaces, rabãos e outros gêneros d'hortaliça de Portugal em abundância; o refeitório é bem provido do necessário'; a vaca na bondade e gordura se parece com a d'Entre Douro e Minho; o pescado é vário e muito, são para ver as pescarias da sexta-feira, e quando se compra val o arratel a quatro séis, e se é peixe sem escama a real e meio, e com um tostão se farta toda a casa, e residem nela de ordinário 28 padres e irmãos afora. a gente, que é muita, e para todos há7'. 15*

É da cidade, e sobretudo do Colégio que, pouco a pouco, irra- diam todas aquelas plantas para as fazendas do recôncavo onde os rebanhos se multiplicavam e os engenhos eram raras ainda Mas já no seguinte século o número de engenhos rapidamente cres- cia e o acúcar iria absorver quase toda a iniciativa dos fazendeiros da Guanabara. Cêrca de 120 engenhos são levantados em torno da baía, j5'" e é o acúcar do recôncavo que vai afinal, como nos demais portos primitivos, erguer a economia do Rio de Janeiro e com ela dar o grande impulso ao desenvoIvimento da cidade É também êle o grande impulsionador do índice demográfico com a crescente entrada de africanos para as lavouras

A paisagem cultural da Guanabara no século XVII é dêste modo percebida como um centro urbano em sua margem ocidental, não longe da entrada da baía, a projetas toda a população agrícola sobre os enflorestados morros do recôncavo e os intermináveis pân- tanos e alagadiços marginais. Esta penetração teve início com as doações latifundiárias.

Uma das regiões lago de comêço exploradas foi a das bacias do Meriti e do Iguaçu. Nesta última houve cancessões de terras desde 1566, e, em 1568, uma grande sesmaria de "3 000 braças de testada pela costa do mar e 9 000 de fundos pelo rio Meriti" foi concedida a BRÁS CUBAS, que por não ter tomado posse, em 1577 e em 1602 foi partilhada entre sesmeiros Ia"

Vimos também pela mesma época o governador CRISTÓVÃO DE

BARROS construir o seu engenho de açúcar em Majé, em sua sesma- ria de 4 500 braças pelas margens da baía e 7 500 para o interior, acrescida em 1567 de mais 6 000 braças de testada e 9 000 de fun- dos, "nos sertão do rio Macacu". lZi

IJL CARDIM, Pe Ferilão: T?atados da Terra e Gente do Blasi l , 2 ed , Rio, 1939, pág 300 '" COSTA, Nelson: Obr cit , pLg 63 Iz0 MATOSO MAIA FORTE, José: Meiiaórias (lu F ~ ~ i ~ d a ~ ü o d e Iyztaçu, Rio, 1933, ;)a& 8 Iz7 Idein, pág 9

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No rio Marapicu, em 1592, GARCIA AIRES obtém 3 000 braças em quadra, e, em 1593, "uma grande sesmaria de 9 000 braças entre o Marapicu e o Guandu era doada a BALTASAR DA COSTA"

Aberta assim a mão dos governadores, pródigos em doa~ões territoriais para fomentarem o povoamento, inúmeros outros co- lonizadores contemporâneamente começam a tomar posse do re- côncavo. Páginas acima demos a lista de algumas das primeiras sesmarias, provando o interêsse imediato pela vida rural do carioca. primitivo Lançaremos agora uma vista d'olhos pelas re- dondezas da Guanabara, tentando seguir aquela penetração, com a qual presenciaremos interessantes casos de povoações evolvidas da iniciativa agrária paiticularista

O núcleo de São Bento, em Caxias, atualniente centralizado pelo magnífico edifício do mosteiro, assenta em terras já em fins do quinhentos possuídas pelos beneditinos que ali tinham seu en- genho de aqúcar. Na zona de Pilar, uma capela já servia de paró- quia em 1612

De 1645, data a paróquia de São João da Trairaponga, "em um outeiro fronteiro a baía, adiante da foz do Meriti" Construída porém uma igreja em 1660, próxima ao rio, muda-se com ela o nome da freguesia para São João de Meriti

Santo Antônio da Jacutinga, povoado regular no período colo- nial, parece ter nascido com o seu templo em 1657 O núcleo for- mado

r

da antiga vila de Iguaçu, foi a capela de Nossa Senhora da Piedade, erigida em 1619

Mais para oeste, vemos também a freguesia de Nossa Senhora da Concei~ão de Marapicu, surgir de uma capela seiscentista

Em prosseguimento pelas margem da Guanabara, verificamos que, ao norte da baía, em 1677, já era existente a freguesia de Nossa Senhora da Piedade de Inhomirim - em cuja igreja atual f'oi batizado o então futuro duque DE CAXIAS -, e Majé zona esta que não obstante povoada desde a conquista inicial, o seu antigo templo do qual nos resta notícia foi o de Nossa Senhora da Piedade, fun- dado por SIMÃO DA MOTA, em 1665, vindo a ser matriz em 1696

Passando a margem oriental, igualmente observamos que o povoamento com as entradas coloniais faria em breve germinar povoados que evolveriam para vilas. Bem vetustas são as ruínas do convento de São Boaventura de Macacu, entre os escombros da vila de Santo Antônio de Sá ou Santo Antônio do Macacu. O povoado nasceu em terras da primitiva sesmaria de MIGUEL DE MOURA, de 1567, a qual cedida aos jesuítas em 1571, venderam estes uma parte a MANUEL FRANCISCO OZOURO que ali construiu uma capela em 1612. Em tal maneira arredor dela novos habitantes se aglomeraram que, em 1697, é Santo Antônio de Sá a primeira po- voação do recôncavo honrada com o nome de vila

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A sua existência foi um milagre da pertinácia do colonizadoi em sua luta contra o brejo. O ambiente que circunda a vila é péssimo, devido aos intérminos alagadiços do rio Macacu. Tal a sua importância, porém, já no segundo século que, instalando-se ali os franciscanos em 20 de novembro de 1649 e dando início as obras de uma casa provisória, em breve tornar-se-ia esta pequena para o noviciado. De 1660 a 1670 levantam os frades um primeiro convento, do qual, parece, nada resta com a reforma do seguinte século, quando eminentes religiosos viriam dali sair.

A penetra~ão para leste nesta margem da baía rapidamente se processou desde os piimórdios, espalhando-se os colonos pelas bacias do Cacerebu e do rio d7Aldeia, onde entre os contrafortes da serra do Mar e do serrote costeiro da região das lagunas, uma topografia colinosa requeira menores esforços para a lavoura. Assim é que a primeira igreja de São João de Itaboraí a margem do rio Iguá, data de 1627 e o novo templo foi construído em 1670.

Em 1645, funda GONÇALO GONÇALVES, na sua fazenda à ma

r

- gem do Guaxindiba, a primeira capela de São Gonçalo, a qual, segundo PIZARRO, torna-se paróquia em 10 de fevereiro do ano seguinte

A irradiação demográfica da Guanabara, porém, já neste se- gundo século e desde a tomada de Cabo Frio, em 1616, atingira a região das lagunas, fundando-se esta cidade, bem como São Pedro d'Aldeia em 1617 pelos jesuítas. As zonas de Maricá e de Saqua- rema que vimos doadas em sesmarias em fins do século dezesseis, só tiveram núcleos de povoamento estabilizados após muitos de- cênios

A primeira capela de Saquarema data de 1660 e a atual de 1675. Maricá deve te i quase a mesma idade, já sendo paróquia antes de 1687.

Niterói não existia como vila, e fato singular, a sua história dos tempos coloniais praticamente está para ser escrita O mais minucioso dos investigadores regionais, MATOSO MAIA FORTE, pula do aldeamento de ARARIBÓIA para o século dezenove, dando-nos apenas citações de fazendeiros do século XVIII . Há um vácuo in- compreensível de duzentos anos desconhecidos do seu passado, clamando por um historiador. Entretanto, são bem antigos vários de seus primitivos núcleos, os quais, ao se expandirem, soldaram-se na cidade atual.

Já vimos a capela de São Louren~o dos Índios centralizar a aldeia jesuítica de ARARIBÓIA. O forte de Gragoatá, também anti- quíssimo, já existia em 1600, quando vários oficiais representaram a metrópole em favor da sua conservacão. Para alguns, a igreja de São Francisco Xavier do Saco de São Francisco, foi fundada

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por ANCHIETA, enquanto FIGUEIRA DE ALMEIDA a remoça de um século, fixando-lhe as origens em 1696. Nossa Senhora da Con- ceição de Jurujuba é também atribuída aos primeiros jesuítas, embora o seu aspecto externo revele modernas reformas

Segundo consta, o velhissimo templo de Nossa Senhora do Bom Sucesso de Pirapetinga foi também erguido por aquêles padres aproximadamente em 1600, conquanto os dois LL na cartela sobre o sino sugiram alguma curiosa relação com a época dos LuÍs~s de Franca.

A capela de Nossa Senhora do Rosário de Icaraí existe nas proximidades do local de outra primitiva' a de São João Batista de Icaraí, a qual datava de 1660. No centro de Niterói, a igreja de Nossa Senhora da Conceiqão foi erigida em 1663 por TOMÁS DE PINA, recebendo em 27 de agosto de 1671 a d o a ~ á o de 200 braças de terras dos herdeiras de ARARIBÓIA. E a mais pitoresca relíquia da Colônia, a capela e o forte da Boa Viagem, embora reformados e consolidados no skculo XVIII, surgiram segundo PIZARRO, com a ermida e o pequeno forte ainda conservado a meia encosta em frente ao Rio de Janeiro, que já existiam em 1663

Desta rápida olhadela ao redor da Guanabara nota-se pois quãio importante fôra o século XVII para os seus destinos sociais. Foi no seiscentos que se deu o assalto decisivo contra a terra, a tomada do solo pelo homem para o advento da cultura Entre os fatores econômicos ativadores dessa ofensiva para o domínio da gleba, ressalta como a mais eficiente a cana-de-açúcar. Entre os sociais, a religiosidade do colono.

Sôbre os primeiros teremos ainda que falar. E quanto aos se- gundos, pelo que acabamos de expor, plenamente se justifica a frase de um historiador fluminense de que "a primeira demons- tração de atividade do colonizador era a capela, célula inicial da embrionária aldeia, freguesia, vila ou cidade7'.

Por que positivamente é inadmissível a asseveração de tiave- rem as povoações do recôncavo surgido em seu período inicial de bases puramente econômicas. Vimos que através dos rios da bacia da Guanabara, toda a produção das fazendas e engenhos escoava- -se diretamente para o Rio de Janeiro, único centro intermediário e consumidor facilmente accessível aos colonos.

Através de numerosas pequenos portos fazia-se a remessa cios produtos agrícolas para a cidade. Nenhum dêles cresceu, entre- tanto, nessa primeira fase da cana-de-açúcar, a ponto de se tornar um povoado Nem mesmo Niterói comecara a existir, a não ser

PALMIER, Luis: S ~ O Gonçalo Ci i~quentenhr io , Rio, 1940, pág 17 "," MATOSO MAIA FORTE menciona 14 portos desde o i io Meriti a t é o SZLI~LPLI~, em 1770

(Me~l ió t ia d a Fu?rdaçáo de Igiraçu, pig 34 )

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como aldeia indígena nos altos do outeiro de São Lourenco, mau grado a intensa vida agrícola dêsse lado da baía

Esta inexistência de vilas no recôncavo até quase fins do se- gunda século pode parecer-nos surpreendente em vista de um já sensível crescimento demográfico. Atina-se porém de pronto com as causas dêste paradoxo histórico-social, reparando-se na forma- ção puramente agrária do povoamento, e na conexidade dos fatores geográficos regionais. É que as curtas distâncias da cidade, o transporte fluvial e marítimo e a própria situação financeira dos colonos empenhados aos comerciantes do Rio de Janeiro que lhes adiantavam o capital em troca da produção agrícola, quase im- possibilitavam a presença de intermediários naqueles portos. E assim, embora uma larga tarja de lavoura cintasse a Guanabara, os produtos alimentícios de consumo imediato, tais como a fari- nha, o feijão, o milho e o arroz, além das caixas de açúcar, ruma. vam diretamente das fazendas para o mercado carioca.

Concebe-se destarte o desinterêsse dos colonizadores absor- vidos em suas lavouras e isolados em seus clãs rurais para a fun- dação de povoados que ademais Ihes viriam cercear o absoluto mandonismo. Aos administradores do Rio de Janeiro também não conviria a criação de outros núcleos urbanos, zelosos que estavam do auniento da cidade e para tal estimulados pelo próprio govêrno de Lísùoa.

Tâo lenta foi dessa maneira a germinação de vilas no recôn- cava que, só em 1697, vimos aparecer a primeira delas, Santo Antonio de S á .

Os próprios governadores tão hábeis n a multiplicação do fo- mento agrícola pela doação de sesmarias, não tinham elementos para concentrar em povoados essa populacão dispersa e a sua prolífica descendência. Outro poder, entretanto, paralelamente velava Era a Igreja.

Foi esta que, ciosa da organização e do domínio espiritual de seu crescente rebanho católico, lancou, com a fundação de fre- guesias, as verdadeiras raízes das futuras vilas e cidades. Foi em torno dessas primitivas capelas elevadas a curatos que todas elas nasceram sob a vigilância dos vigários, posteriormente dilatando- -se para agrupamentos urbanos com o surto de um comércio local.

U m a análise imparcial da evolução histórico-social na Guana- bara no século XVII, mostra-nos partanto o centrifugismo demo- gráfico impulsionado pelas autoridades civis, retrair-se em núcleos pela acão centrípeta do bispado A expansão colonizadora rural, anarquicamente disseminada pela ambição do colono, contrair-se e organizar-se em centros ad-ministrativos, por um ajuste harmo- nioso entre ambos os poderes prestigiados pelo Estado O remate

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a civilização individualista' e agrária pela centralização associa- tiva de pequenos núcleos urbanos. O tino político dos governado- res completar-se com o arguto congregacionismo dos prelados.

Só mais tarde, no seguinte século, é que as estradas de pene- tração n a cordilheira, iriam criar em seus pontos de partida e de juncão com as vias fluviais, as "vilas de comércio7' tais como Iguaçu, Pilar, Jucutinga, Estrêla, Inhomirim e Pôrto das Caixas, hoje reduzidas a ruínas com o advento das estradas de ferro.

O caso de Iguaçu basta para exemplificar o que às demais aconteceu.

Em 1789, nos tempos de D. LuÍs DE VASCONCELOS, tinha a freguesia 963 habitantes livres e 1219 escravos. Em 1795, já assinala porém PIZARRO um notável aumento da populaqão que sobe a 6 142 indivíduos A vila é criada em 1833, e, tendo nascido a beira do velho caminho para a serra, numa região de vários en- genhos de açúcar "para cujos campos, cobertos de excelentes pas- tagens, se dirigia de preferência o gado que descia de Minas Gerais e de Gdás, destinado ao abastecimento do Rio de Janeiro", cresce com o transporte do café do vale do Paraíba Dali parte en- tão para serra acima uma nova estrada, a "do Comércio7', ligando- -se também a outra posteriormente construída, a "estrada da Poli- cia" que passava por Belém, dirigindo-se ao Rio Prêto.

Iguaçu tornara-se um centro de comunicações, e continua- mente se expandia com o crescente comércio da cordilheira "Na época em que o café passou a ser cultivado em mais larga escala nas fazendas do vale do Paraíba e ainda na zona iguaçuana, maior foi a prosperidade de Iguaçu, já vila, chegando a possuir grandes armazéns, verdadeiros trapiches e estabelecimentos comerciais que giravam com vultosos capitais

Tornou-se a vila um verdadeiro entreposto comercial, pois os negociantes aí estabelecidos, adquirindo o café que vinha de cima, supriam as fazendas do interior com as mercadorias necessárias ao seu consumo e custeio, muito embora tivessem a concorrência do comércio que se fazia através dos portos do Pilar, de Inhomi- rim e da Estrêla". 1(i:3

Toda essa atividade, porém, começa a declinar já em 1834, quando MAUÁ constrói a nossa primeira via-férrea das margens da Guanabara a Raiz da Serra de Petrópolis. Juntemos a isso a concorrência do pôrto da Estrêla, bem mais perto da zona central do vale do Paraíba, com navegação a vapor, onde o transporte de

",L MATOSO MAIA FOOTE, Jose: M ~ ? ? z ó r i a d a F?inda-do de I g i ~ ~ ç i l , Rio, 1933. ~ 5 . ~ 3 11 I"' ARAÚSO GÓIs, Hildebiando: Saneai~aeizto da Baixada Flzc?~ailielise, Rio, 1934, I>& 311 I ' : : APn~oso MAIA FORTE, José: Ohr cit , pRg 58

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café iria subir a 30000 toneladas anuais, descidas da serra em lombos de burros e ali embarcadas.

Dessa maneira, a navegação do rio Iguaçu foi decaindo, e o caminho d'água descuidado entupindo-se com um aumento de pântanos que, alimentados em tempos de chuva e a falta de escoamento alastraram-se por imensas superfícies.

Com êles veio a malária, não bastando, a epidemia de cólera- -morbo do Rio de Janeiro, de 1855, que invadindo as freguesias de Meriti e Jacutinga, assolou a sua zona rural

Em 1858, é construído o primeiro trecho da Estrada de Ferro Pedro 11, do Rio de Janeiro a Queimados, seguindo logo para Be- Iém em busca do vale do Paraíba. E o que restava do esplendor comercial da vila da Baixada, sumiu-se então, definitivamente, com mais esta mudança radical das vias de transporte

Com tudo isto, nos fins do Império a vila ainda não morrera totalmente. Com a pertinácia peculiar aos povoados da Baixada que surgiram em zonas palúdicas, resiste ao aniquilamento pela inércia,

Mas tudo é em vão. A fuga do b r a ~ o escravo para o Rio de Janeiro vai apressar o seu desaparecimento final "Iguaçu era um fantasma de vila, abandonada, cuja escassa população vivia prêsa do impaludismo Restringia-se a sua existência a vida artificial que lhe dava o oficialismo' a Câmara Municipal, a vida judiciária, isto mesmo durante certas horas do dia. A noite, Iguaçu mergu- lhava no sono agitado pelos excessos da impiedosa malária

Quando no comêço da República, o futuro ministro RODRIGO

OTÁVIO para ali fora nomeado juiz, depara-se-lhe um quadro im- pressionante dos derradeiros estertores de uma vila outrora prós- pera. "A poucas horas da Ponta do Caju, pela estradinha do Rio d'Ouro, a vila de Iguaçu era então um povoado morto. Constituída principalmente por uma rua larga, sinuosa e longa, a vila tivera sua liora de prosperidade, atestada pelas grandes casas de sobrado e vastos armazéns alpendrados, tudo, então, fechado, sem mora- dores Ligada com o interior da baía de Guanabara por canais através da alagadiça Baixada Fluminense, Iguacu fora, por muito tempo, o entreposto comercial entre o litoral e o sertão. Por aí chegava toda a produção do interior para consumo na cidade e exportação, por aí entrava tudo quanto o interior exigia para viver e trabalhar E a vila crescia na agitacão febril de cargas que

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chegavam e de cargas que partiam, em tropas, na variada música dos cincerros, em carros de bois, na esfusiada langorosa dos eixos engraxados.

A estrada de ferro, porém, drenando todo êsse movimento comercial, reduziu Iguaçu a penúria e a levou à miséria e a morte. A' vila se despovoou; os canais desde então abandonados, se atulha- ram de vegetação e de lodo; as águas cresceram, cobriram todos os campos, tornando-os imprestáveis para qualquer cultura. . . Era êsse o Iguaçu que encontrei ao tomar conta da minha judicatura Só as quintas-feiras, dia de audiência, havia algum movimento na vila A casa da Câmara reabria; além do pessoal do foro, solicitan- tes e partes iam ao despacho do juiz. E tudo depois caía no habi- tual silêncio".

Era quase o fim. Há muito que os próprifos magistrados não moravam em Iguaçu, indo ali apenas em dias de audiência. Até o juiz residia em Maxambomba, posteriormeiite Nova Iguaqu, atual sede municipal, desde 1891. E, completamente abandonada, a velha cidade tomba em ruínas, desaparece engulida pela vegeta~ão sob irremediável fatalidade. Mudam-se as vias de comunicação e carregam consigo as "vilas de comércio".

HILDEBRANDO DE ARAÚJO GÓIS assim descreve " a antiga vila de Iguaçu que é atualmente mato fechado. Em uma excursáo feita a essa região, tivemos oportunidade de observar uma rua antiga da cidade, cujo calçamento de pedras irregulares, o tempo não conseguiu ainda destruir. Esta rua também está sendo, aos poucos, integrada no seio da mata que a margeia de ambos os lados e encoberta pela vegetação que se desenvolve nos intervalos das pedras. Nela encontram-se vestígios da cadeia pública, representa- da pela fachada anterior, quase despercebida no meio do mato, tão denso que está atualmente. A fazenda de São Bernardino atesta, de algum modo, pela sua imponência, os dias de esplendor que esta região já teve". lo6

Idêntica a vida de Iguaçu foi a de todas as demais "vilas de comércio" do recôncavo. Foi a de Jacutinga e de Pilar, foi a de Estrêla, de Pôrto das Caixas e de Inhomirim, tôdas elas nascidas, evolucionadas e mortas, sob as contingências de um sistema de transportes que acabou e de vias circulatórias que se desviaram

Revendo agora a contribuição cultural das iniciativas agrícolas nas margens da Guanabara, percebe-se que foi o aqúcar, o seu principal elemento civilizados nos primeiros séculos Os fatores

1':' Obi cit , págs 65-66

"fl, LAMEGO, Alberto: O Estado, Niteiói

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geográficos do grande pôrto de mar e o alto valor econômico do produto n a Europa é que determinaram o dinamismo rural, esti- mulando os colonos pela certeza de uma exportacão crescente.

A pecuária desenvolveu-se também logo, sendo porém absor- vida pelos engenhos, com incalculáveis resultados para a economia fluminense, visto que, como expusemos em O Homem e o Brejo, foi a urgente precisão de bois de carro para as fazendas que levou os "Sete Capitães" aos Campos dos Goitacás e a todo o norte da Capitania. Foi a busca de pastarias nativas para o gado necessário aos engenhos do recôncavo que, originariamente motivara com a descoberta das planícies do baixo Paraiba, a grande indústria açucareira campista.

Nota-se, pois, como indispensáveis elementos para a economia de uma região podem ser causa de repercussões em quadros geo- gráficos distantes, e, por sua vez êstes, ao evolverem, tornam-se poderosos centros das próprias causas que lhes deram vida, em tal maneira dominantes que a primitiva zona de origem lhes en- trega totalmente a produção industrial que a absorvia, passando a novas diretrizes culturais.

A seleção telúrica do trabalho é que afinal decide quais as iniciativas que em confronto podem vitoriosamente prevalecer. A maior adaptabilidade a cultura da cana ao solo campista, possibi- litando extensões maiores de canaviais e um melhor planejamento para a monocultura em grande escala, acabou por extinguir quase completamente os engenhos do recôncavo, onde o excessivo alaga- mento das planícies não lhes permitiam competir com os fecundos massapês do norte fluminense, além de que, por seus próprios fa- tores geográficos, salientam-se os destinos crescentemente ur- banos das margens da baía do Rio de Janeiro

Por todo o século XVIII ainda permanecem, todavia, na cin- tura da Guanabara grande número de engenhos e banguês que se vão erguendo com a partilha das sesmarias iniciais. Entre outros, o município de São Gonçalo guarda nomes locais relembradores dessa intensa cultura da cana, por aquêle tempo generalizada Engenho Pequeno, Engenho Nôvo do Roçado, Engenho do Mato e Engenho Novo do Retiro, são designações que, similares as de bairros da fronteira capital, indelèvelmente recordam a maneira camo se processou o desbravamento municipal desde os tempos da Colônia até uma época bem próxima, quando aos poucos a expan- são urbana valorizando cada vez mais a terra, foi destruindo as fazendas por um retalhamento simultâneo a elevação do índice demográfico

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F i g . 94 Portão de e n t r a d a d o velho da Eoo Viagem, em Niterói, fundado por S E B A S T I Ã O D E CASTRO CALDAS, e que enfrentou a esquadra de DUGUAY T ROUIN. e m 1711. A p r i m i t i v a ermida existia n o alto desde

1663.

(Foto A . R . L A M E G O )

F i g . 95 - A cortada de m

i l h a de Boa Viagem é tôdaagni f i cas escadarias de pedra

q u e . . . (Foto A. R . LAMEGO)

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Fig . 96 - ... conduzem ao alto, coroado pela velha igreja, cercada pelas.. .

(Foto A . R . LAMEGO)

Fig. 97 - . . . ameias d o velho forte. A esquerda, o poço em mármore de Lios, conduzindo a cisterna que r e c o l h i aa agua das c h u v a s

(Foto A . R . LAMEGO)

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F'ir. RR - A iwrrjn da Boa Viaoriri. rciriro alinr IddQs a,u olimr rrrciltadns Iru i : i r n . . \ < i r> ~ i , l r r I n r i r p ~ i t e p r i i t rq~c las E O ~ Q j l r rf!tl?a ~ n r n r t c r i x i I E U da.$ p f ) ? ~ . u l rltrí lc,~ CO!O?I f u i x purl l~r /~t l :nf l i .

(Foto A . R . I,41ilFlic)i

FI.: 99 - Enlrada rio solar de M e r i t i . obra d n aflurado #&$to arq?ritrtòfiico, o qrrnl. ut,g~tndo a tradlcão . D . PEDRD I ~na?rdofl C O I I S ~ ~ ~ I ~ p u ~ a a riiarqtdrsa de JaWTos.

(Fato A. R. Laarrcol

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Fia. 1W - Ruinas d a capela d o miar rta mrrrqtiesn de Sawros, cin M e r i t ~ .

(Foto A. R. LAX'ECOI

Ftg. 101 - Oatm aspecto dan ruinas do mtar d u marquesa d e SANTOS.

(Foto A. R. LAMEGO)

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Fig. 102 - A v e l h a igreja de Marapicu. u m a das sesinarias quinhent is tas c o m que se iniciou o p o v o a m e n t e das vizinhanças do

Rio de J a n e i r o

(Fo to DNOS)

F i g .1 0 3 - A p o n t e do I m b a r i ê ,do t e m p o dos senhores d e e n g e n h on o r e c ô n c a v o( F o t o DNOS)

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Flg. 104 - O forte d e Gragoatá, e m Niterói, d e fundação anterior a 1600. r e c o n s t r u í d oe m 1762, pelo marques de LAVRADIO, foi novamente armado e m 1893, durante a r e v o l t ada

esquadra. É atualmente o Museu d a Cidade. ( F o t oA. R . L A M E G O )

Fig. 105 - Interior das ruinas d o convento d e Santa Teresa, n a praia d e I taipu, f undado e m 1764 por MANUEL DA ROCHA, para ma- dalenas convertidas, e terminado e m 1785.

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Fig. 106 - O vale do Sarapui é um dos tipicos, amplos e abertos para a Guanabara, sedimentados e m fossas pré-existentes e cobertos d e pantanais.

(Fo to DNOS)

Fig. 107 - O S u m i ao entrar n a Guanabara. Foi ês te u m cios pequenos rios d o recôncavo que facilitaram a sua p a t r a ç á o desde os primórdios qu in l~en t i s tas . Em suas margens desenvolveu-se u m a intensa cul tura agrícola, independente das grandes rotas terrestres d e comércio q u e m u i t o fizeram para o progresso d e Iguaçu, Estrêla e Porto das Catxas n o século X I X . A civilização rural d e Snru i foi obra exclusiva d o caminho d'água.

(Fo to DNOS)

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Fig. 108 - z3ila S e Surui . nascida com as necessidades de in tercâmbio de u m a zona d e fazenaus d o recôncavo outrura fértil , e sobretirdo a famada por sua far inha de

mandioca. (Fo to DNOS)

- 2ecava os produtos agricola; d o pôrto de Suru i ao mercado do Rio de Janeiro.

(Fo to DNOS)

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Figs. 110 e 11 - U m dos rios d o recôncavo mais navegados desde os primitivos t empos coluniais foi o Majé. Mas, com a c o n s t r u ç ã od a Estrada d e Ferro Teresopolis q u e partia da Piedade nos fundos da Guanabara , a navegação quase se ex t ingu iu . Passageiros e mercadorias baldeavam d i r e t a m e n t e al i en t re as barcas e o s trens . Ao contornar, porém, a Guanabara e m recentes anos, a Estrada de Ferro Leopoldina provocou u m n ô v o des- l o c a m e n t oda circulação, tocando n a c idade d e M a j é , e ho je vemos o v e l h o pórto da

Piedade com o ponto inicial da via férrea comple tamen te abandonado. (Fo to DNDS)

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Page 225: O Homem e a Guanabara

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ni.s'rC.i:i;r*, arliti iiiorrcic ciii 1706. i Foto DNOSi

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Fig. 117 - São Bernardino, u m dos solares abandonados que atestam a opuléncia do recôncavo da Guanabara no periodo imperial.

(Foto DNOS)

Fig. 118 - A fachada como todo o solar de São Bernardino, é u m magnifico exemplo do e q u i l i b r i o ,do b o mgôsto e do confôr to que caractennaram a elevada cultura das

fazendas do recôncavo no século X I X . (Foto DNOS)

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Fig. 120 - Conquan to a freguesia d e N . S." d a Piedade f ô s s e criada e m 1677, segundo PIZARRO ,esta igreja q u e fo i a terceira ma t r i z d e Inhomirim, data d e 1754. Nela fo i ba- t i zado o f u t u r o duque de CAXIAS e , seu interior ainda conserva a imagem da padroeira,

que é u m a primorosa obra de arte. (Foto A. R. LAMEGO)

Fig. 121 - Ryinas isoladas de velhas igrejas, como esta d e Bananal, exempl i f icam sem c o m e n t á r i o so q u e fo i o despovoamento da Baixada após a Abolição.

(Fo to DNOS)

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Fig. 122 - A sede d a fazenda de Culubandé, e m São Gonçalo, é uma das mais notávezs em torno do recóncavw da Guanabara, onde comumente entre os motzvos arquztetónicos,

destacam-se as varandas com colunas. (Da fototeca do Património Histórico e Artístico Nacional)

Fig. 123 - A espaçosa e acolhedora varanda de C u l u b a n d ê

(Da fototeca do Património Histórico e Artístico Nacional)

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Fig. 125 - Outro trpu de a!penrl~e d e linhas mais elcgantss é o da capela da fazenda

da Posse, em Nova Zgílaçu.

(Foto Serviço d o Patrimõnlo Histórico e Artistico Nacional)

Page 232: O Homem e a Guanabara

Fig. 126 - Fazcitda EngenTto d'Agua em Jncarepaguci, D:strito FCderal.

F1g. 127 - Anem (l varandu do Engenho d'Agua ucb,ava-se a capela, cuja porta se VC

ao jundo.

(Foto Servlço do Patdmbnfo Rlst6rlco e ArtistiCO Nhclonal)

Page 233: O Homem e a Guanabara

figa. 128 e 12g - Dois b e h exeeinplos de varandas com C O ~ U Í U Z S , comuna nos oredores da Guanabara, são as rios

fazendas da Xuquars e do Vicgopi.

Page 234: O Homem e a Guanabara

Fig. 130 - A fazenda Rio D'Ouro e m S ã o G o n ç a l o . C o u t r o tipo d e edifício a s s o b r a d a d oc o m v a r a n d a no p i so inferior.

( D a fototeca cio P a t r i m ô n i o Histórico e Artístico Naciona l )

Fig. 131 - O a l t a r d a capela d e Rio D'Ouro é u m ad a s rel íquias da a r t e religiosa da Baixada F l u m i n e n s e n o passado século

( D a fo to teca d o P a t r i m ô n i o His tór ico e Artís t ico Nac iona l )

Page 235: O Homem e a Guanabara

Fig. 132 - Pia batismul da capela do Rio D'Oum.

(Da fototeca do P~trlmBnlo Histçirlco e Artistico Nacionsl

Fia. 133 - O mosteiro d e Sóo Bento, em M e n t t , datando dos comecos do a+cuio X171? e construido na fazenda desta Ordem, que ?a oi i trnhu u m engenho de uçucap. nos f i ~ i s

do quinhentos. G hoje sede d e um nzicleo agrdcoIa do Ministério d a Agricultura.

Page 236: O Homem e a Guanabara

Fig. 134 - A bela varanda da fazenda São Bento, com a sua colunata tipica das f a z e n d a sdo recôncavo.

( D a fototeca do Patrimônio Histórico e Artistico Nacional)

Figs. 135 e 136 - JOSÉ MARIA DE MORAIS LAMEGO e SOFIA JARDIM LAMEGO, senhores d oengenho na fazenda de Sáo Tomé, e m Ztaborai, avós paternos do a u t o r

(RUGENDAS)

Page 237: O Homem e a Guanabara

Na atividade açucareira revelamos o motivo da insignificância dos agrupamentos urbanos dêsse lado da baía em tempos coloniais. Senielhantemente ao que então se passa em Campos, onde a população urbana quase nada aumenta desde os princípios do setecentos até o advento das usinas - em oontraste com o enorme crescimento da população rural -, Niterói e suas zonas vizinhas ainda em fins do penúltimo século achavam-se repartidas entre numerosos proprietários rurais. A cidade de Campos fundara-se pela intervenção de um núcleo administrativo na planície e pela premência de um centro comercial, tão distanciado estava o seu distrito do Rio de Janeiro ou de qualquer outra sede governamen- tal. Mas fronteira a Niterói erguia-se a capital, subordinando a sua administração e ao seu comércio toda a atividade agrícola do recôncavo. Daí a tardia aparição da capital fluminense, por des- necessária. Os fatores geográficos da Guanabara interferiam assim diretamente em sua evolução econômico-social .

Uma cidade única e um só pôrto satisfaziam às necessidades de intercâmbio de toda a vasta zona do recôncavo, onde um pro- duto básico de uma indústria esparsa em núcleos numerosos, de toda parte era atraído para o mercado monopolizador do Rio de Janeiro.

Para se avaliar a atividade agrícola de Niterói, basta repetir que "a feição regional, no princípio do século passad,~, era a de uma zona rural da cidade do Rio de Janeiro, da qual fazia parte, sujeita as autoridades civis, judiciárias e eclesiásticas. Para satis- fazer as necessidades espirituais fora criada a freguesia de São João Batista de Icaraí, cuja jurisdição só não alcançava os silví- colas, sujeitos à disciplina dos religiosos dirigentes do seu aldea- mento em São Lourenço, que já era freguesia"

O que é hoje o centro da cidade, a "Praia Grande", achava-se dividido entre proprietários rurais que ali cultivavam a cana e a mandioca. As terras do maior dêsses proprietários iam "desde o mar até o morro da Conceição, seguiam por êste último em linha de vertentes até o morro onde se ergue o hospital de São João Batista, e, por êsse, iam até o mar". lGS

Em São Domingos, em Icaraí, no Barreto, para as bandas de *

São Lourenço, do Fonseca, no Baldeadoro e na velha fazenda dos jesuítas do Saco de São Francisco, numerosos proprietários rurais persistiam numa florescente expansão de canaviais, de mandiocais, de milharais, enquanto arredor e para além ainda, outras lavouras se disseminavam até Itaipu, Engenho do Mato, Colubandê, Ipiiba e demais localidades são-gonçalenses, cada vez mais se projetando para leste através da zona de morros divisórios entre as bacias guanabarense e atlâ~itica .

MATOSO MAIA FORTE, Jose: O municipio de Niterói, Rio, 1941, pág 41 Idem, págs 41-42

Page 238: O Homem e a Guanabara

Isto em princípios do século XIX, quase ao chegar D. JoÃo VI, quando o Rio de Janeir'o iria centralizar todo o Império Português.

Um pouco antes, em 1780, dentro da atual Niterói e na fre- guesia de Icaraí, havia "3 engenhos que produziam 54 caixas de açúcar e trabalhavam com 101 escravos". 4 engenhos fumegavam em Itaipu, dando 79 caixas de a ~ ú c a r e com 138 escravos. São Gonçalo tinha 3 engenhos de aguardente com uma produção de 52 pipas e "20 engenhos de açúcar e aguardente cuja produção era de 490 caixas e 280 pipas, contando 866 escravos para o serviço. Para o escoamento da produção havia na enseada da Boa Viagem 32 barcos e 23 em Sã,o Domingos e na Praia Grande, afora os exis- tentes além de Maruí". 169

Um intenso ruralismo dominava assim todo o recôncavo, mesmo no que é hoje a capital fluminense. Na Guanabara como em Campos, a cana-de-açúcar criara um feudalismo agrícola oposto ao centralismo urbano e só flexível ao jugo administrativo dos vice-reis no Rio de Janeiro, única cidade necessária ao intercâmbio da produçã;~ dos orgulhosos senhores de engenho. Para a formação de qualquer agrupamento urbano, além das autoridades é neces- sário o povo. Compunha-se êste quer de escravos quer de sitiantes aferrados a nesgas de terras e hereditariamente incapazes de as abandonarem. E quanto a vilas, não interessava ao govêrno cen- tral criá-las, partilhando a autoridade e as rendas. Por isso Niterói não se agrupara na Colônia, embora quando ao ser fundada a Vila Real da Praia Grande, em 1819, a sua população espalhada em chácaras, sítios e fazendas, já subisse a 13 000 habitantes.

A geografia humana da Guanabara em fins do setecentos, definia-se, pois, como a de uma vasta zona com centenas de núcleos rurais irradiados de um só foco urbano. Como única vila em toda essa imensa faixa alagadiça e a simbolizar pela sua ina- dequada posição fronteira aos tremedais do Macacu, a ferrenha tentativa do homem de adaptar-se ao meio palustre, a velhíssima Santo Antônio de Sá ainda prosperava com o seu convento fran- ciscano. Entre os religiosos que dali saem, destacaremos o autor da Flora FLurninense, frei JosÉ MARIANO DA CONCEIÇÃO VELOSO, O

grande orador sacro frei FRANCISCO DE S Ã O CARLOS e frei FRANCISCO SOLANO BENJAMIM, autor dos desenhos que ilustram a obra de frei VELOSO, além de escultor e pintor. Ali morre em 1706 outro famoso pregador, frei MANUEL DO BESTÊRRO. I T 0

Com tamanhas perspectivas culturais, Santo Antônio de Sá, porém, não vinga. A sua resistência bissecular ao meio palúdico iria de súbito se abater em 1834, quando uma epidemia fulminante de tal modo a despovoou que os seus fragmentos municipais foram

la0 Idem, pág 44 LAMEGO, Alberto: O Estado, Niteioi

Page 239: O Homem e a Guanabara

acaparados por Capivari, Santo Antônio de Macacu, Itaboraí, Rio Bonito e Friburgo .

Em Santo Antônio de Sá o meio vencera o homem, embora não possamos prever se, com as atuais obras saneadoras do vale do Macacu, não tornará ela a renascer dos próprios escombros.

Um precioso mapa do território fluminense, executado pelo sargento-mor MANUEL VIEIRA DE LEÃO em 1767, por ordem do conde DA CUNHA e que se encontra no arquivo do Instituto Histórico e Geográfico, dá-nos uma idéia maravilhosamente clara da civili- zação dessa época, toda ela projetada e evolvida do primitivo núcleo da Guanabara .

Êste mapa indica o apogeu da "Civilização do Açúcar" no re- côncavo, já com as suas 24 freguesias centralizadoras de engenhos numerosos. O que redobra a sua importância é o haver êle sido feito no exato período em que a história econômica do Brasil vai fletir para outro rumo com o aparecimento do café, nôvo fator agrícola que por volta de 1760 foi trazido para o Rio de Janeiro pelo chanceler CASTELO BRANCO.

O surto da rubiácea que vai agora requerer energias novas para um gigantesco desflorestamento das zonas montanhosas, já encontrava porém uma base cultural sòlidamente alicerçada com as fazendas de cana do recôncavo e da zona costeira vizinha da Guanabara. Só no distrito de Guaratiba que se estendia de Itaguaí a Jacarepaguá pela zona marítima indo a seguir para o interior limitar-se com o de Irajá, menciona ALBERTO LAMEGO 57 engenhos no tempo do marquês DE LAVRADIO, além de 8 olarias, 88 fábricas de farinha e 6 de anil. Em 1796, a população do distrito era de 17 927 habitantes, sendo 10 064 escravos, e contava 13 116 cabeças de gado. 173

Pela mesma época, segundo MATOSO MAIA FORTE, existiam nas freguesias de São João de Meriti, do Pilar, de Santo Antônio de Jacutinga e de N S." da Piedade 24 engenhos de açúcar e enge-

ROWER, flei Basílio: O COi~.vei~to de São Boaveiztz~?u de Macacu, Petlópolis, 1934 Magnífica repioducáo dêste mapa encontra-se na Biblioteca do Itamarati, ofe-

recebida pelo rei D CARLOS ao haiáo do RIO BRANCO OS contornos costeiios são minucio- samente polmenoiizados com uma exatidáo passível de confronto com as Cartas modernas, excetuado um pequeno tiecho ao norte da foz do Paraiba, entre Manguinhos e a foz do Itabapoana, apenas esbocada e de maior extensiio leal. Sobiemaneiia notáveis são os contornos da Guanabala e a topografia das suas ilhas Todas as freguesias e engenhos do recõncavo são especificados. O "Caminho Nôvo" e as suas variantes para Minas Gerais, e as estradas para São Paulo são caltografadas com minúcias de um levantamento rigoroso para a época A mesma pxecisão pode ser admiiada n o SinLI0S0 litoial das baías do extremo oeste e nas pióprias lagunas flurninenses onde os diferentes Pontais, angras e espoMes apalecem com a mesma disposição das plantas atuais Por êle se vê que, por toda a coidilheiia, fora do sulco das estradas gerais de Minas e de São Paulo, e, excetuada a. freguesia de N Sa da, Conceição do Campo Alegre - a futura Resende -, dominava um indevassado matagal, "Certáo occups,do por indios biabos", o qual só viria a se1 penetrado no seguinte século com o alastramento do café

A zona deficiente de Campos completa-se com outro notável mapa 0 de Coutro REIS, de 1785

li3 LAMEGO, Alberto: "Os engenhos de açúcar nos recôncavos do Rio de Janeiio em fins do século" XVII I , Rev Brasil Açucareiro, dezembro de 1942, págs 584-589

Page 240: O Homem e a Guanabara

nhocas de aguardente. A produção de Guaratiba era de 51 856 arrôbas de açúcar, 1561 pipas de aguardente, 22 912 alqueires de farinha, 1836 de feijão, 1705 de milho, 16 856 de arroz, 480 de polvilho e 147 de anil. Já por êsse tempo produziria o distrito 615 arrôbas de café.

Entre as freguesias marginais a Guanabara, talvez a única exceção a uma intensa cultura de cana-de-açúcar era São Nicolau de Suruí, a qual, todavia, além dos 5 000 sacos de arroz e dos 4 000 da sua famosa farinha, já produzia 1000 arrôbas de café e 100 dúzias diárias de cachos de bananas.

No govêrno do conde DE RESENDE, O Rio de Janeiro já centra- lizando uma importantíssima região agrícola, exportara só num ano 384 074 arrôbas de açúcar, 23 792 de arroz e 1 194 pipas de aguardente para Lisboa e 445 273 arrôbas de açúcar, 136 736 de arroz e 134 pipas de aguardente para o Porto, "afora o que ia para Viana e ilhas". A exportação de anil para Portugal atingira 4 922 arrôbas .

Quer isto dizer que, além da volumosa produção de outros gêneros da lavoura, já expedia o Rio de Janeiro anualmente mais de 800 000 arrôbas de açúcar, ou seja mais de 200 000 sacos - usando-se a unidade atual -, conseguidos com processos primi- tivos em estabelecimentos movidos a água ou a tração animal

A cifra exprime dêste modo uma notável iniciativa parti- cularista, demonstrando uma atividade de colmeia por todo o recôncavo do qual saía a maior tonelagem daquela produção

Com a cana-de-açúcar dominara pois culturalmente o carioca os contornos da Guanabara, transformando a selvajaria da paisa- gem que encontrara num grande centro de trabalho. Com a cana- -de-açúcar aclimara-se no ambiente pantanoso, desdobrando-se ademais numa prole tão ativa que iria ela espalhar-se por toda a Baixada Fluminense, cobrindo-a de agrupamentos culturais desde os extremos costeiros de Parati, escarpados de projeções serranas, até as planícies de Campos encharcadas de lagoas A economia do açúcar levantara a própria cidade e a de- senvolvera no primeiro e segundo séculos, antes que o 'Ca- minlio NÔvo" a revigorasse com o comércio das Minas Gerais

Cumprira o carioca a primeira fase da sua missão cultural, concretizada no ciclo do açúcar, civilizando as planícies do i'ecôn- cavo. Áreas enormes restavam, porém, ainda, sob o domínio mon- tanhoso e florestal, sondadas apenas pelos sulcos temporárias dos arrastões de madeira e inadaptáveis a um intensivo plantio de gramínea. A fim de aproveitá-las um novo elemento era necessário, capaz de renovar iniciativas criadoras. E providencialmente viera o café.

I" MATOSO MAIA FORTE, José: Me?~tórias d a Fundacáo de I g ? ~ n c z ~ , págs 33-39

Page 241: O Homem e a Guanabara

Na própria cidade é que nasce a imensa onda verde, em breve a se alastrar em reanimada ofensiva civilizadora pela terra flu- minense, com a proliferação das primeiras mudas plantadas na chácara dos barbadinhos, no convento de Santa Teresa, na chácara do holandês JoÃo HOPPMANN em Mata Porcos e na Gávea. 175

A cordilheira iria ainda esperar o oitocentos para que se visse dominada pelas fazendas cafeeiras. Mas já no século XVIII come- çou a penetrar profundamente n a Baixada a "Civilização do Café".

Segundo o Almanaque Laemmert, de 1896, "o padre ANTONIO MPES DA FONSECA estabelece a cultura do café "em ponto grande" n a sua fazenda de Mendanha, em Campo Grande". Dai saíram "mudas para serra acima: Resende, Areias, etc.".

Além de HOPPMANN que em 1792 também cultiva a rubiácea "em grande escala" em Mata Porcos, o bispo D . JosÉ JOAQUIM JUS- TINIANO em sua fazenda do Capão, em Inhaúma, faz nesse ano uma colheita de 160 arrôbas. Baseando-nos em REYNAL, 6 essa mesma a cifra da produção que entra no Rio de Janeiro "tanto de fora quanto do recôncavo da cidade".

Para que se veja como se expandiu a cultura cafeeira pelos contornos da Guanabara, basta repetir que em 1779 apenas saem do Rio para Lisboa 57 arrôbas do novo produto, e já em 1797 são exportadas 8 302,s arrôbas A planta definitivamente se enrai- zara n a terra fluminense antes do fim do século, e milhares sobre milhares de pés de café em marcha pelas ondulações do recôncavo, avançaram destroçando a indústria açucareira.

Abandonava-se a planície, o alagadiço exaguado e mesmo o brejo dessecado Uma vigorosa ofensiva de machados assaltava os morros, desbastava encostas de montanhas numa contínua derrubada de florestas.

De primeiro era preciso escolher o solo, esquivar-se aos pân- tanos por demais profundos, costear os grandes tremedais com as lavouras de cana Agora porém eram os montes íngremes inves- tidos. Toda a área montanhosa da Baixada foi acometida. Des- florestavam-se de alto a baixo as montanhas e por elas iam su- bindo os cafèzais. Num crescente preamar as grandes ondas cafeeiras arremetiam contra os relevos do recôncavo. Um novo fatsr enèrgicamente impelia o homem contra o meio.

Nas próprias vizinhanças da cidade os cafèzais substituíam matagais cerrados. Subiam pelas encostas da serra da Carioca e dominavam a Tijuca. Mais além iriam galgar o Jericinó e, ao longo dos rios da Baixada, invadindo as cabeceiras, trepavam aos

"' TAUNAY, A~OIISO de E : História do Café no Brasil, v01 11, tomo 11, pág 123 Idem, pág 130

" Idem, pág 130

Page 242: O Homem e a Guanabara

contrafortes da serra do Mar. Em fins do século XVIII, no sítio da Serra, da fazenda de Santa Cruz, já existem 20 000 pés. 17s

Mesmo com a corrida para as terras mais frias da cordilheira a invasão do café não esmorecia n a Baixada, onde as velhas fa- zendas rejuvenesciam com a roupagem nova dos seus morros des- vestidos das florestas seculares. Quando em trânsito pela região das lagunas, em O Homem e a Restinga presenciamos a passagem de uma destas ondas de café que, impetuosamente atirada s6bre as ondulações litorâneas, marcha de Saquarema a Cabo Frio. Com o mesmo impulso com que é lançada, porém, logo esmore, -e na retaguarda, como se o mesmo fluxo com que a impeliram, arrastas- se consigo num refluxo fatal a decadência da cultura que ia ficando atrás.

Assim foi que, de 1860 a 1869, em nove anos apenas, enquanto o número de fazendas de café crescia de 71 para 105 em Cabo Frio, de 123 para 202 em São Pedro d'Aldeia, já em Araruama decrescia de 447 para 398 e em Saquarema de 670 para 271.

A onda passava com toda a sua opulência. O ouro do café luzia nos brasões e nas comendas. Mas, como que a prever toda essa nobreza efêmera, em breve a terra se exauria sob o insaciável hausto da rubiácea.

Foi-se a riqueza do nôvo-rico esbanjada na capital ou repar- tida pela prole. Foi-se o ouro das coroas caídas titulares, com o Império. Foi-se a fartura da terra esgotada de elementos essenciais a lavoura, acumulados através de milênios. Foi-se o sobrado e ficou a tapera.

Mas entre as ruínas de toda essa grandeza extinta, humildes e rústicas, erguem-se ainda as chaminés de engenhos, relembrando aqui e além a grande luta adaptativa que por duzentos anos foi levando o homem terra adentro. O segundo fator agrícola que o arremessara sobre as bacias do recôncavo dir-se-ia haver extingui- do a sua vitalidade, com êle esvaindo-se. Mas o primeiro sobrevive, embora com a aparência extenuada que apresentam sempre essas engenhocas de aguardente, lembrando antiguidades anacranicas de um passado bem remoto.

Porque não obstante o saneamento atual poder apresentar grandes áreas para a cana-de-açúcar, a expulsão da graminea do recôncavo parece definitiva, pelo menos para a sua cultura em grande escala. E é curioso observar que os mesmos fatores demo- gráficos que a impuseram outrora, desviarão doravante as ativi- dades humanas para setores outros.

Foi a pressão demográfica do Rio de Janeiro nascente que go- voou o recôncavo com a cultura da cana, e é ela que nos tempos atuais irá crescentemente impedir que a indústria açucareira re-

I'" TAUNAY, Afonso de E : Obr cit , toino 11, v01 11, p B g 140

Page 243: O Homem e a Guanabara

nasça nos contornos da Guanabara. E isto mostra a que ponto os imperativos humanos, de comêço dominados pelo meio, a tal modo podem modificar as circunstâncias externas que causas idênticas, em época diferente e num estágio superior de evolução, chegam a originar efeitos sociais inteiramente opostos.

A disseminação cada vez maior do homem pelas margens da baía, acelerada pelo saneamento oficial redunda agora em resul- tantes bem diversas do primitivo povoamento. É ela que atual- mente determina a valorização da terra; o crescente apêlo a vias de comunicação; o previsível retalhamento da gleba em lotes ger- minadores de futuras vilas; o avultante aumento das necessidades diárias da metrópole em gêneros alimentícios de pequenas culturas e instalações; as iniciativas fabris *com matéria-prima importada; uma organização enfim, de atividades que em conjunto se reajus- tem no perfeito equilíbrio econõmico-social entre uma grande ci- dade e a zona que a circunda, semirural.

Os destinos da Guanabara começam dêste modo a ser pre- cisados. A capital do país poderá ser transferida para o interior. Porém os fatores geográficos da grande baía não sòmente a farão sempre o grande pôrto natural do sul, como também êstes mesmos fatores, murando-a de serranias e limitando a dispersão da sua etnia já indesviavelmente jungida ao centripetismo da metrópole, tendem crescentemente a em torno dela associar uma populacão que se multiplica.

Por isso é que, em sua mais ampla definicão, o futuro grande Rio de Janeiro estender-se-á por todo o recôncavo, evolvido que será da nossa presente capital e de seu satélite: Nitesóí.

Pode o homem ser livre de escolher o seu destino. Poderá êle modificar o meio para subordiná-lo a seus interêsses, transfor- mando-o por seu trabalho em paisagens sucessivas oriundas de uma causa essencial. Mas os fatores geográficos o reconduzirão sempre à realidade social imposta pela ambiência, sobrepondo a todos os seus desígnios condições evolutivas fora das quais será impossível progredir.

Nenhum esforço, nenhum povo, nenhum govêrno em casos como êste de uma tão palpável predestinaqão poderá demover os intuitos da natureza. Toda a evolução econômico-social das mar- gens da Guanabara, todo o seu passado agrário, toda a sua luta histórica para a adaptação a um meio hostil pelo cultivo da terra, foi apenas um prelúdio do que iria ali acontecer.

O recôncavo foi planejado para uma cidade imensa. E o que compete aos governantes de visão é prever com o auxílio da Geo- grafia os rumos de sua dilatação, orientando-a para que possamos apresentá-la ao mundo como o expoente máximo da civilização de um grande povo.

Page 244: O Homem e a Guanabara

VI1 - RELÍQUIAS VIVAS

"Consagra-se a inteligência à eivilizacáo esplên- dida que avanca; e dedica-se o sentimento 5 eivilizacáo imperfeita que expirou."

LATINO COELHO: "Arte e Natureza" 1" e d , pág. 98

Enquanto o guanabarino expansivamente acumulava um enorme acervo cultural, projetando-se pelo recôncavo, dirigindo os passos decisivos sobre as restingas das lagunas, acometendo o tamoio e o corsário em seu reduto de Cabo Frio, inaugurando nas planícies goitacás uma notável civilizacão rural, e por fim galgava a cordilheira indo plantar milhões de pés de café entre a selvajaria dos matagais, na extrema toalha de baías ocidentais, pequenas cidades se incrustavam entre engastes de uma costa Iacerada.

Por trás delas empina-se densamente enflorestada a serra do Mar E foi êste o fator geográfico responsável por sua lenta evo- lucão..

Planícies costeiras como as de Bananal, de Paratimirim e de Mambucada, poderiam prestar-se a fundação de agrupamentos prósperos Mas sempre limitados, porque todo êsse litoral carece de base topográfica essencial a uma grande atividade agrária, precursora de uma sólida economia urbana e capaz de lhe dar um elevado índice demográfico, como aconteceria nas margens da Guanabara .

O exemplo de Santos que se estende sobre um antigo lagamar fronteiro as serras igualmente abruptas e selvagens, não pode ser referido em cotejo com estas pequenas cidades fluminenses, visto que, não obstante similares condições costeiras, a atração do planalto iria lá criar, desde os primórdios, um vultuoso centro produtosr exigindo um grande pôrto a beira-mar.

Na retaguarda continental de Mangaratiba, de Angra dos Reis e de Parati, a cordilheira não tentava porém os colonos para a sua escalada, em busca das selvas do Paraíba que ficaram a esperar pelo século XIX com o café.

Mesmo então, embora uma boa parte da produção cafeeira descesse aos tranquilos portos dessas baías, tais surgidouros apenas permitiam uma navegação de cabotagem de modesto calado, antes das modernas abras portuárias de Angra dos Reis. Daí a prefe- rência pela Guanabara, centralizadora da exportação por tran- satlânticos, não obstante o alongamento da viagem terrestre em filas intermináveis de muares.

Um motivo puramente geográfico e fundamentado em imposi- tivos geológicos, deteve assim a evoluçáo das pequenas cidades das baías de oeste que ainda hoje nos aparecem com muitos ves- tígios coloniais.

Page 245: O Homem e a Guanabara

E foi todavia, bem remota a sua fundação. Parati, nascida com o marco terminal do "caminho dos goianás", Q "Caminho Ve- lho" dos primeiros séculos, vindo de São Paulo, deve ter tido as suas primeiras cabanas levantadas desde a conquista do Rio de

. Janeiro, quando por ali passara ANCHIETA com as suas canoas de guerreiros.

Até Angra dos Reis dilatava-se o domínio dos goianás, e a sua firme aliança com os portuguêses era a garantia desta costa abri- gada e tão útil para o intercâmbio com o Rio de Janeiro. J á em 1559, a Ilha Grande e as suas águas foram doadas ao Dr. VICENTE DA FONSECA por MARTIM AFONSO DE SOUSA, O qual se abrigara nestas baías quando por elas passou em 1531. 179

A colonização dêste recanto fluminense co'meçou, assim vinda de São Vicente, com as primitivas sesmarias costeiras que aos poucos se estenderam até além de Ubatuba, segundo PEDRO TAQUES. Dêste modo, ao findar o século XVI, já existiria na baía de Parati um agrupamento que deu origem ao templo de São Roque, em Parati Guaçu, aproximadamente em 1600. ISO

Supõe PIZARRO que a matriz de N. S." dos Remédios haja sido fundada em 1646, necessitando porém de reconstrução entre os anos de 1668 e 1679, quando foram as obras paralisadas "porque estava o povo muito alcançado, e muito pobre, e não podia con- tinuá-la naquele tempo". O mesmo autor adianta serem os primi- tivos povoadores sesmeiros de Angra dos Reis, em terras doadas por JoÃo PIMENTA DE CARVALHO, capitão-mor do conde de VIMEI- R O . IS1 Ignora porém o autor o ano da fundação da vila, conquanto já existisse em 1654, quando ali vai em correição o ouvidor geral J o ~ o VELHO DE AZEVEDO, "por não haver no dito lugar justiça al- guma nem câmara formada, e ser ela um couto de malfeitores".

Em contradição a PIZARRO temos entretanto a afirmativa de PEDRO TAQUES, dando a vila como fundada em 1667, por MARTIM

CORREIA VASQUES ANES. Is2

Para o nosso ponto de vista, porém, o que mais interessa é a indigência do vilarejo em meados do seiscentos, quando várias ou- tras povoações da Baixada Fluminense já pròsperamente evolviam Perdida na mais oculta e solitária das nossas enseadas e escon- dida à vigilância do Rio de Janeiro, dir-se-ia que Parati apenas se movimentava com a estrada dos goianás, num intercâmbio ele- mentar e provisório entre São Paulo e a capital do sul.

~~VAQUES. Peciro: História da Capitania de São Vicente, pág 70 ' 50 Segundo frei VICENTE DE SALVADOR é a MARTIM AFONSO que devemos a denominação

de baía de Angra dos Reis, poi haver êle ali apoitado em 6 de janeilo de 1531 De acôido porém com a exposicáo que acima fizemos, onde o nome de "baía de reis" já aparece no portulano de CANÉ&O, somos compelidos a admiti1 a data da 1504 para a descoberta

" e o batismo dessa baía pot GONÇALO COELHO

lS1 PIZARRO : Obr cit , v01 111, p&g 50 ~~VAQUES, Pedro: Obr cit , pfig 137

Page 246: O Homem e a Guanabara

A essa rota geogràficamente necessária ao primitivo tráfego de canoas e de embarcações pequenas que, através das baías de oeste assim evitavam a agitação do mar aberto, deve a pequena cidade a sua existência.

Sobrevivendo à primeira idade, Parati vai nos fins do segundo) século mais acentuadamente evolucionar. Antes da estrada terres- tre do Rio a São Paulo ,passando por São João Marcos, é sobretudo em Parati que se desembarca para o alto vale do Paraíba e para as Minas Gerais. Dali é que, através da garganta de Cunha e ao longo do "Caminho Velho" sucessivamente se galgam a serra do Mar, o vale do grande rio e a serra da Mantiqueira.

Encaminhando para o Rio de Janeiro o ouro das Minas Gerais, da Casa de Fundição de Taubaté desce a Parati, de onde é, por mar, levado a Guanabara. Cria-se no pequeno pôrto um "registro,, verdadeiro pôsto de alfândega, em que se verifica se os portadores do ouro estão quites com o fisco, e onde se cobra direito de en- trada sobre as mercadorias e escravos destinados às minas". *S3

Até a abertura do "Caminho NÔvo" em começos de setecentos, Parati nos apresenta assim, o exemplo de um núcleo urbano a de- senvover-se quase exclusivamente do intercâmbio, pela passagem de uma estrada, mas do vaivém de mercadorias e homens intei- ramente alheios à sua vida social e as atividades produtoras locais, e destinados a longínquas zonas sertanejas ou de retorno ao foco a um só tempo dispersivo e centralizador da Guanabara.

Além dessas curtas raízes em sua adolescência colonial, aos fatores geográficos ainda se devem repercussões sociais na história de Parati, instabilizadoras de seu progresso. É que justamente situada no ponto de encontro de dois caminhos, o marítimo, foca- lizado no Rio de Janeiro, e o terrestre, com base econômica em São Paulo, sérias contendas sobre a sua jurisdição prolongaram-se entre os governos das duas capitanias em começos do setecentos, preju- dicando a administração da. vila.

Mas, enquanto as necessidades do transporte exigissem o> concurso de Parati, a pequena vila teria de progredir, tangida por circunstâncias externas. Chegou mesmo a ter a sua Casa de Fundição de ouro, transferida de Taubaté, mas por sua vez abolida quando o "Caminho NÔvo" possibilitou o transporte de metal dire- tamente para o Rio por via terrestre.

Parati foi assim, durante a primeira metade de sua vida colo- nial uma cidade sui-generis, devido aos fatores geográficos. Exem- plifica na história brasileira e na primeira fase do grande período: aurífero, o caso de uma feitoria de singular importância econômica na vida do país, mas por isso mesmo exclusivamente limitada ao seu papel inexpressivo de intermediário sem recursos. Ajusta-se a

1" LATIF, Miiam M de Bairos: As Minas Gerais, Rio, pág 57

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esta vila um dos períodos do claríssimo DEMOLINS: "É justamente êste um dos pontos fracos destas cidades exclusivamente comer- ciais; a sua prosperidade fica a mêrce de uma simples mudança de caminho no movimento dos homens e das mercadorias". lR4

Verdade é que a nossa principal indústria colonial generali- zada pela faixa litorânea, deveria instalar-se ali, impulsionar algum desenvolvimento cultural visivelmente duradouro. Temo-lo de fato em suas fábricas de aguardente cuja fama ainda, por toda parte espalha o nome da cidade.

Em suas planícies marítimas, em seus vales aluviônicos, em suas colinas menos íngremes, a cana-de-açúcar foi sendo plantada por uma população de pequenos agricultores, como de se esperar numa região toda retalhada de acidentes orográficos . Iniciativas particularistas começam a desbravar no século XVIII essa tarja litorânea por demais acidentada para fecundar propriedades rurais de grande vulto. E foi dessa partilha natural da terra induzindo a uma idêntica fragmentação das áreas cultiváveis que nasceu a famosa aguardente "Parati".

PIZARRO menciona em 1820 a existência de 12 engenhos de açúcar e mais de 100 fábricas de aguardente com uma produção de 1500 pipas anuais, cujo preço por unidade era superior de 7$000 réis ao das demais.

Ainda por êsse tempo além desta exportação o seu comércio consistia em "permuta de gêneros com Minas Gerais, Santos e São Paulo, levando gêneros europeus e com preferência o sal que de Pernambuco ali vai, cujas embarcações carregam em troca farinha e outros mantimentos".

Não obstante porém essa atividade promissora, a sua herança exclusivamente comercial negou-lhe a melhoria econômica da co- letividade. "O caráter dominante nas cidades do comércio é a ins- tabilidade", diz-nos ainda DEMOLINS, e assim, Parati não pôde crescer com seus próprios recursos da iniciativa urbana. Por outro lado, vimos que, com os fatores topográficos, fragmentadores da terra, faltou a região essa aristocracia agrícola que fundada no poder territorial criou em outras zonas a nossa grande indústria açúcareira. O rejuvenescimento particularista seria em breve li- mitado pela mesquinhez da base física. A estabilidade e o apêgo ao solo engendrados pelo trabalho agrícola, não eram fortalecidos por uma classe forte como a dos senhores de engenho em outras regiões, unidos com seus fortes interêsses contra a cobiça dos in- termediários. Bstes, alojados n a vila com seus armazéns e barcos mono;polizadores da exportacão e apenas visando ao lucro, assenho- rearam-se da produção de Parati. Daí a pobreza coletiva, visto que "o poder criado pelo comércio não tem solidez senão sob uma

Ifi4 DEMOLINS, Edmolld: Les Grandes Routes des Peuples , v01 I, pág 380

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condição: é que êle seja mantido por um povo onde predomine a influência dos agricultores" . Is5

Por isso é que PIZARRO nota em Parati que "o povo não é tão abundante como parece em conseqüência de um comércio tão amplo. Na mão de bem poucos fica a riqueza, porque encadeados os demais habitantes com os princípios do negócio, em suas mãos depositavam os frutos de suas lavouras, sua vantagem considerá- vel e sempre com forçosa dependência". leG

Disse êle, isto, em 1820, quando começara a expandir-se o café pela terra fluminense, cuja produção ascende nesse ano a 97 500 arrôbas e só de Mangaratiba, Ilha Grande e Parati saem 50 000. Os comerciantes dos pequenos portos das bacias de oeste com esta produção já em maioria provavelmente serrana, continuavam a lucrar, enquanto a verdadeira fixação do homem ao solo penosa- mente prosseguia, numa ilusória criação de riquezas para desfrute alheio.

Daí o aniquilamento rural e urbano de Parati por todo o século, dado que nenhuma outra fonte estimuladora, a não ser os engenhos de aguardente, veio impulsionar a distante faixa lito- rânea, tão escalavrada em sua topografia que em todo o município existem 26 pequenos rios a escorrerem da cordilheira. Um tal re- lêvo há necessariamente provocar a disseminação do povo pelas fendas entre montanhas ou sobre grimpas escabrosas; a fecunda- ção de grupos minúsculos e isolados e a improbabilidade de evolu- ção de grandes núcleos urbanos.

A estabilidade econômica de Parati necessàriarnente haveria de refletir em todos os seus aspectos sociais, o que foi visto em fins do Império, quando a sua população que era de 12 194, em 1872, sobe apenas a 12 333 em 1890.

A fuga do homem à terra incapaz de o receber é aí claramente visível. As insignificantes cifras de 269 estrangeiros no primeiro daqueles censos e de apenas 43 no segundo, ajuda-nos a compreen- der a falta de atração do meio, para, a torrente imigratória. E justamente quando a produção rural fluminense alicerçava com a sua economia o reinado de D. PEDRO 11, em 1876, pode-se ajuizar da pequena contribuição de Parati ao verificar-se que numa po- pulação fluminense de 286 856 escravos, o município litorâneo apenas contava com 1442, isto é, cêrca de 0,5%.

Adiante veremos, como insensível foi ainda a ascensão do índice demográfico n a República, não obstante o valor de seus estabelecimentos rurais ser dos maiores entre os municípios desta zona de baías. Por enquanto, frisemos apenas ter sido Parati n a civilização litorânea rural que vamos abandonando em escala

DEMOLINS, Camilo: Obr cit, v01 I, pág 346 180 PIZARRO: Obr. cit , v01 111. p&gi 39

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crescente em troca de uma atividade industrial, uma das menos f avorecidas cidades f luminenses quanto aos f atôres geográficos determinantes de seu passado. Êstes mesmos fatores, porém, ao atuarem nos dias que correm com um poderoso surto fabril po- derão agir de maneira bem diversa, elevando a zona ao pôsto que lhe compete na economia fluminense. Grandes potenciais hidráu- licos das suas serranias transformados em energia elétrica, bastam para fornecê-la a numerosas pequenas indústrias instigadas por um mercado próximo e pela facilidade de transportes marítimos.

Será esta a recompensa de Parati por seus esforços seculares de uma ingrata adaptação ao meio, além do entusiasmo dos tu- ristas por seus admiráveis cenários serranos e por suas águas serenas pontilhadas de rochedos caprichosamente ornados de uma vegetação bizarra.

Já em Angra dos Reis, conquanto predominem similares condições geográficas, são outras as perspectivas. Quando visi- tamos pela primeira vez em 1933, apesar do pôrto já em explora- ção e da via férrea que galgando a oordilheira ligava-a a Barra Mansa, era uma das cidades brasileiras de maior aspecto de velhice. Um pitoresco museu arquitetônico. Por cada rua que transitásse- mos, íamos andando através do Império e da Colônia, num repassar contínuo de antiqualhas .

Ruas estreitas e tortuosas, calçadas de pedrouços e com decli- ves para o centro onde ao longo de seu eixo deprimia-se um rêgo para as águas; filas de casas agachadas com suas janelas em arco e seus beirais enormes; aqui e além um sobrado maciço; arandelas, rótulas, sacadas de ferro batido; ao canto de uma rua, um velho marco de pedra com "El-Rei" gravado e sobretudo as igrejas velhís- sírnas, os conventos coloniais a nos falarem de uma importância histórica evanescida .

Sete anos depois, Angra transformara-se. O asfalto e a retificação de ruas, grandes armazéns e prédios novos atestavam o progresso de seu pôrto com a ascensão do comércio mineiro e o desenvolvimento de Barra Mansa, onde já fora iniciada a grande indústria com a moagem de trigo.

A gasalhosa enseada da Ilha Grande começara enfim a ser utilizada numa escala para que a fizera a natureza. Escala que, em confronto com a sua movimentada navegação do passado sé- culo, seria esta apenas um prelúdio bem medíocre. Vejamos como o seu povoamento se fêz, orientado pelos fatores geográficos e tangido pelo entrelaçamento das conquistas eeonômico-sociais que impeliram a sua evolução.

Descoberta por GONÇALO COELHO em 1504, como toda esta faixa marítima fluminense teve porém de esperar pela tomada da Gua- nabara, afim de que, ao abrigo do Rio de Janeiro, pudessem as suas primeiras casas ser protegidas contra a ameaça da pirataria.

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E assim tão logo o português acastebu-se em São Januário, expurgando a costa dos corsários, Angra dos Reis, na rota de São Vicente, de pronto foi habitada.

Na sesmaria da Ilha Grande, em 1559, em terra firme e a uma légua da cidade atual, em frente à ilha da Jibóia, surge o primeiro agrupamento, em breve a paróquia dos Santos Reis Magos da Ilha Grande, elevada a categoria de vila por carta régia de 6 de janeiro de 1608. lS7

Tempos depois, muda-se a povoação para o local onde frades carmelitas, já em 1553, começaram a erguer o seu convento, to- mando o sítio abandonado a designação de Vila Velha.

Foi êste o primeiro têrmo administrativo do atual território fluminense, do qual veio a desmembrar-se a paróquia de Parati a 26 de fevereiro de 1667, e mais tarde, em 16 de janeiro de 1764, a de Mangaratiba.

Para o idealismo econômico dos primeiros séculos, bem parcas eram as possibilidades de Angra dos Reis com as suas estreitas planícies litorâneas sobre as quais desciam grandes abas empina- das de montanhas. A multiplicação de engenhos de açúcar e a proliferação da pecuária eram impassíveis nessa costa ainda mais acidentada que a de Parati, onde uma sucessão de agrestes pro- montórios intercepta as comunicações entre as pequenas planícies marítimas. Não obstante, porém, essa hostilidade ambiental, An- gra dos Reis progrediu nos três primeiros séculos.

A sua posição excepcionalmente estratégica e ao seu pôrto que com o de Jurumirim são os únicos dessas enseadas a oferece- rem um calado médio, deve-se em parte a sua evolução. O que mais a impulsionara, era entretanto, ainda, a lavoura da cana, como em Parati disseminada por onde o solo a permitia. O mesmo parti- cularismo civilizador na sua zona rural. O mesmo aproveitamento de lombadas menos íngremes e de glebas aluvionais junto as fozes dos pequenos rios, tão minguadas se as compararmos às grandes planuras da faixa mais oriental da Baixada Fluminense. A mesma dispersão de colonos em pequenas propriedades diligentemente ex- ploradas.

Deduz-se isto da estatística de PIZARRO que em 1794 conta em Angra dos Reis 14 engenhos de açúcar e 91 engenhocas de "águas ardentes, tãlo boas e perfeitas como as de Parati, que comumente se reputam por mais superiores".

A cidade entretanto só com tais recursos não podia crescer, embaraçada pela própria topografia de acidentes montuosos que a premiam contra o mar e com uma boa parte da sua área urbani-

IS7 CHATEAUBRIAND, Assis: O Mistério Eterno, ("O Jornal", ed do Bicentenáiio do Café")

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zável em mãos de ordens religiosas. ISS Em 1800 numeram-se em Angra ,dos Reis 250 casas, "quase todas fabricadas de estuque, cujo lavor é de mui longa duração".

Vista por L u c c o c ~ em 1813, diz-nos êle ter sido ela "primiti- vamente cidade principal da província, mas em decadência hoje". 189 Em Angra dos Reis como em Parati, a fase colonial e açucareira não conseguira elaborar uma organizacão urbana de realce, devido a ausência de uma base física suficiente para a criação de maiores recursos econômicos de acordo com as possibilidades daquele pe- ríodo.

Angra dos Reis entretanto não perece. Mau grado o seu aca- nhamento territorial urbano, traz consigo nos próprios fundamentos naturais, a predestinação de ser uma cidade permanente. Os mes- mos fatores geográficos que tolheram tanto o seu desenvolvimento colonial, mas que a afirmaram como um centro portuário, nos sucessivos ciclos da história econômica do Brasil irão garantir-lhe a sobrevivência, elevando-a crescentemente. É o que se vai dar no ciclo do café.

HONÓRIO LIMA, um dos melhores conhecedores do seu passado não precisa a data em que essa planta ali entrou. Sabe-se entretanto que grandes lavouras logo tomaram conta de seu morros e de suas encostas de serras, sobretudo no vale do Mambucaba e na Ilha Grande. E com elas vai surgir um renascimento com o qual no ciclo anterior ninguém sonhara.

Em 1800, pouco excede a sua população de 3 000 almas, e cêrca de 10 000 conta esta faixa fluminense de baías, dispersos por 1380 fogos. lgl Mas já então, num súbito reflorescimento, toda a sua riqueza começara a fundamentar-se no café. É êle o primeiro grande fator a transfigurá-la, sacudindo o torpor das suas águas tão tranquilas e dinamiiando as velhas ruas de uma inesperada movimentação

De comêço era ela apenas instigada pela produção local. lS2

Mas tão logo as florestas da cordilheira começaram a cair e as grandes marés de cafèzais cobriram o vale do Paraíba invadindo Minas e São Paulo, a importância de Angra dos Reis tornou-se ines- timável. É o seu pôrto o mais próximo e o melhor dos surgidouros para a exportacão Dias de viagem eram economizados pelas filas de muares. Tropas de São João Marcos, de Resende e Piraí, tropas de Minas Gerais e de Ssio Paulo, tropas até de Goiás e Mato Grosso -

Menciona PIZARRO umti inútil tentativa da Câmara de Angra, de dilatar a cidade com a 'abertura de ruas em terienos do Convento de São Bernardino em fins do século XVIII

L ~ C O C K , John: Notas sobre o Rio de Janeiro e partes meridionais do Brasil Trad de MÍLTON DA SILVA RODRIGUES, ~ á g 180

Irn LIMA, Honório: Noticia Histórica e Geográfica d e Angra dos Reis, Rio, 1889 CHATEAUBRIAND, Assis: Mistépio Etertzo ("O Jornal", ed do "Bicentenílrio do Café")

1" Anteriormente a 1805, a proclucáo de café em Angra ela ainda insignificante. dando-lhe PIZARRO O valor anual de 5S000 reis (Obr cit , v01 11, pág 80)

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descem e sobem continuamente a serra, em número tal que as estradas são parcialmente calçadas para suportarem o tráfego

Refere CLODOMIRO DE VASCONCELOS O caso provavelmente am- pliado pela tradição de que "houve quem ganhasse muito dinheiro e fizesse fortuna", (sic) mandando apanhar as ferraduras caídas nesses caminhos dos cascos das centenas de burros que nêles tran- sitavam. Partindo-se do ponto de vista de que toda a tradição encer- ra pelo menos parcialmente a verdade, o fato, embora diminuí&, mostra-nos o que foi essa intensa corrida do café para o pôrto de Angra dos Reis.

Já na primeira metade do século XIX era êle um dos mais movimentados não só do "litoral fluminense como o do Brasil me- ridional". E estávamos então, apenas, nos começos da expansão cafeeira .

Mas a onda verde alastra-se. Enroupa de paisagens civilizadoras quase todo o vale do médio Paraíba. E com o café, Angra dos Reis atinge em 1850 o "apogeu da sua atividade comercial". Grandes armazéns, importantes casas comerciais, tropas e embarcacóes mo- vimentadas por grandes capitais, agitam a pequena vila flurninense. "Em 1864, Angra é o segundo pôrto d o Brasil meridional''.

Desde muito, entretanto que o seu escoadouro não bastava para. satisfazer às necessidades do intercâmbio. E as iniciativas expor- tadoras se desdobram por toda uma série de novos portos na mesma zona.

Com a abertura de mais caminhos para a descida do cafk, surgem os embarcadouros de Jurumirim, Ariró, Itanema, Frade, Bracuí, Mambucada e Sítio Forte. De todos êles partem estradas subindo a serra. Barieiro, Cruzeiro, Itaverá, Barra Mansa, Bananal, e outros centros do plantio do café despejam a sua produqão no golfo angrense .

Entre todos vai-se destacar o de Jurumisim, senhorio de JosÉ FRANCISCO DA SILVA que manobrando com 4 000 contos, - quantia enorme para a época -, com seus três vapôres e seus dezesseis veleiros monopolizava quase todo o comércio. lg5

Uma navegação regular unia os portos de Angra dos Reis e de Sepetiba, onde a Estrada de Ferro Pedro I1 chegava da capital, e sete vapores e navios faziam diretamente o comércio com s Rio de Janeiro.

lw CHATEAUBRIAND, Assis: Artigo citado ' 04 MAGALHÃES, Basílio de : Os caminhos antigos pelos ,quais foi O café transportado d o

interior para o Rio d e Janeiro,, e pata outlos pontos do litoral flu?ninense ("O Joina?", ed do "Bicentenáiio d o CafB)

CHATEAUBRIAND, Assis: art cit

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( s v o ~ a w x ) - a m o a p rnro$tl o p safap s g w a p s a p a

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O govêrno provincial que contava com o café para a maior e a mais segura fonte de rendas, cuidava zelosamente das estradas. Em 1837, despende a Província com elas 32% das suas verbas. Em 1838, os gastos se elevam a 36%, e em 1841 atingem a 46%, não obstante a má situação financeira provincial.

Os resultados dessa política previdente não se fazem esperar. Em 1840, para uma receita total da Província de 844 contos, o café contribui com 500. Em 1845 a relação é de 555 contos para 947 e em 1850 de 678 para 1200.

Tôda esta pletora econômica da baía angrense repousava, porém numa base provisória: os meios terrestres de transporte. E êstes, com o progresso técnico do século XIX, sùbitamente se des- viando para um novo rumo, em breve iriam arrasar toda esta eco- nomia. Em 1838, começa o Govêrno Imperial a prodigalizar decretos concessionários de estradas de ferro, e serão elas que irão apagar o brilha cultural de Angra dos Reis e dos seus satélites.

Vimos que o ano de 1864 marcara o início do declínio comercial na baía da Ilha Grande. JZ que justamente nesse ano a Estrada de Ferro Pedro I1 chega a Barra do Piraí, começando a estirar-se ao longo do Paraíba e esgalhando-se em ramais que se aprofundam pelo vale.

Em 1871, os trilhos entram em Pôrto Novo do Cunha, e, no rumo oposto em busca de São Paulo, a linha atinge Queluz em 1874 e Cruzeiro em 1877. Com isto há no vale do Paraíba uma súbita inversão dos rumos de tráfego e com ela a imediata deca- dência dos portos angrenses. lg8

Todos êsses pequenos embarcadouros ràpidamente voltam a insignificância primitiva, salvando-se apenas Angra. Mas é uma cidade apenas sobreviva de uma economia arruinada. Tenta ela ainda resistir com os próprios cafèzais da sua Ilha Grande que ainda em 1887 rendem 1 600 contos. Para quem teve em mãos po- rém a produção de serra acima de três Províncias, o que lhe restava de recursos próprios era muita fome. E Angra viu assim desabarem os telhados e os soalhos de seus armazéns, abandonarem-na os homens de negócio com os seus capitais, aproarem mar afora os seus vapores e subirem serra acima para sempre, as numerosas tropas que a alimentavam fartamente.

Abatido êste centro de gravitação, desfez-se a existência lunar dos portos secundários. Todavia, Angra decaiu sem definitivamen- te sossobrar .

B que a sua eminência temporária, embora simples função da grande maré cafeeira e portanto a refluir com a fuga da onda

VASCONCELOS, Clodomir de: As antigas estradas d o transporte d e café no Estado do R i o ("O Joinal". ecl do "Bicentenário do café")

197 Idem 1°8 Idem.

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verde, apoiava-se em prognósticos seguros. A composicão geográ- fica de seus fatores naturais fadando-a para uma cidade de comér- cio subordinada a culturas externas, futurizou-lhe perspectivas econ6micas brilhantes, mas submetidas a um isocronismo oscilante com os diversos ciclos culturais.

Extinto, o do café, Angra dos Reis mantém-se à espera de pos- sibilidades novas. As rurajs continuam ínfimas, mau grado a niodernização dos processos de cultivo do solo. Tão pequenas têm elas sido que o censo de 1920 apenas registra no município 15 estabelecimentos rurais. Sòmente 10,5 7% da sua área municipal é trabalhada pelo homem e a sua população bovina é de 546 cabeças.

O meio, ali se opõe a ser dominado por uma vida rural, a não ser que a densidade dernográfica a tal ponto cresça que force a sua gente costeira a escalar as encostas serranas com culturas novas, o que parece improvável em futuro próximo. lgg

Uma das possibilidades econômicas de toda esta face da cordi- lheira exposta ao mar de Parati a Mangaratiba é a da exploração das suas ótimas madeiras de lei já vastamente utilizadas no pas- sado. Um reflorestamento sistemático dêsses flancos montanhosos de alta pluviometria e outrora famosos pela exuberância das suas selvas, poderá torná-los fornecedores sem competição de madeira para o crescente consumo de centros vizinhos, desde que um plantio em massa e metódico de espécies exigidas e uma extraqão tècnicamente racional satisfaçam as exigências dos mercados. Toda esta costa fluminense poderia dêste modo conter permanentes reservas de madeiras de lei, sobretudo para os gastos do Rio de Janeiro que sempre aumentam.

Além dos poucos engenhos que sobrevivem do primeiro ciclo, após a decadência do seu período cafeeiro a indústria angrense quase se reduz à pesca. As suas pescarias iniciadas com a própria fundação da vila, evolveram com o correr do tempo e acham-se oficialmente organizadas com a Colônia 2-5, com sede na cidade, contando a região além desta, com as de Barra de Guaratiba, Pedra de Guaratiba, Sepetiba, Itacuruçá, Angra, Parati, Abraão e Palmas na Ilha Grande,

Metade das colônias de pesca fluminenses foram instaladas nesse lençol tranquilo que vai de Guaratiba a Parati, com uma

1" Como comprovante desta suposí~ão damos a seguinte estatística do vagaroso ciescimento da população da região das baías de oeste:

Municipios 1872 1890 1907 1908 1910 1912 1920

Parati 12 194 12 333 11 773 12 068 12680 13 324 13 466 Angra . 21 833 18468 19 655 20 102 21 025 21 990 20 958 Mnngaratiba 7 468 6 175 14219 14 504 15 089 15 699 t 573 Itaguaí . .. . . 13 800 14 180 12 509 12 712 13 128 13 557 15 571

Os dados para os anos de 1872 e 1890 srio do ReLatório apresentado ao presidente estaaual Dr. JosÉ TOMAS DA P o n c r ú ~ c m ~ pelo diretor interino dos negócios do Estado, bacharel M I G ~ L DE CARVALHO, em 1892 Os de 1907 a 1912, do A T L ~ L ~ T Z O Estat is t ico do BrasiZ, de 1916, e os de 1920, do recenseamento dêste ano

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população de pescadores recenseados em cêrca de 5 000 e que em 1940 produziriam 3 milhões e setecentos mil cruzeiros, cabendo mais da metade as de Angra dos Reis e da Ilha Grande. 20'>

Com essa atividade marítima cria-se em Angra a indústria da pesca e derivados, que em 1929 já exportava 40 000 caixas de sardinhas e 5 000 caixas de peixe fresco. Juntemos a estas cifras 1 000 pipas de aguardente e 5 000 arrôbas de café e teremos apro- ximadamente computada a exportação local.

Antes de focalizarmos a vinda do terceiro ciclo, mencionare- mos outra possibilidade de recuperação. É que não obstante ha- vermos apontado esta faixa litorânea como originadora de "cidades de comércio", há um fator que poderá subitamente criar em toda essa região um grande surto industrial. Referimo-nos aos seus recursos em energia hidráulica. Dezenas de milhares de cavalos é a pothcia dos vários rios que saltam da cordilheira para o mar próximo. Famosa é a cachoeira da Mambucaba, além das do Ariró e do Bracuí, já parcialmente estudadas. 201

Como início da sua fase industrial, a Companhia Sal-Gema, Soda Cáustica e Indústrias Químicas escolheu Angra para as suas instalações.

É o terceiro ciclo que desponta. O ciclo industrial com as fá- bricas regionais, sobretudo com as grandes indústrias do vale do Paraíba e com o vulto crescente do comércio mineiro.

O movimento portuário de Angra com a siderurgia de Volta Redonda em tal maneira crescerá que a cidade vai de novo assu- mir o lugar de um dos grandes portos brasileiros. Os fatores geo- gráficos assim o determinaram desde as remotas idades em que o bordo litorâneo se abateu por um formidável sistema de falhas, criando esta concavidade costeira e protegida, ao sopé de alti- planos fadados a uma intensa industrialização e a denso povoa- mento. Com o terceiro ciclo, Angra dos Reis ingressa na maiori- dade. Na madureza econômica em uma contínua marcha evolutiva até hoje apenas dirigida por culturas provisórias sòmente capazes de assentar um pequeno agrupamento urbano, degrau deprimxo de uma civilização local que vai galgar a serra.

Indo-se agora para leste à beira dêstes contrafortes serranos que elevadamente se projetam para a baía, acolhemo-nos a uma enseada bem protegida por um ponta1 granítico, no qual uma pe- quena cidade em plena decadência se encastoa. É Mangaratiba, de origens seiscentistas, uma das tantas "cidades nômades" da Bai- xada Fluminense, errantes de pouso em pouso ao sabor da con- quista do meio pelo homem.

A.s colônias da Barra de Guaratiba, da Pedia e de Sepetiba, embora pertencendo ao Distrito Federal, foram aqui juntadas pela sua localizaçáo nas baías

ao1 LOFGREN, Luís: FÕTÇUS H i d r d ~ l i c a s Bo1 14 do Serv Geol e Min do'Brasi1, Rio, 1925

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Nascera n a restinga da Marambaia com o aldeamento dos tupiniquins, para ali trazidos de Pôrto Seguro por diligência do governador MARTIM DE S Á , que os fêz passar ao Saco de Mangara- tiba onde reapareceu com a aldeia de Ingaíba. 202

A seguir, atravessam os índios a enseada, estabelecendo-se em São Brás. "Mas por desabrido o lugar onde a ressaca era cons- tante, ou por falta de cachoeiras desaguarem mais próximas, ou também porque os índios refugiavam em seus domínios soldados desertares", o fundador pela terceira vez desloca o povoado para o sítio atual.

Com a escassa população do século XVII a caranguejar por estas praias descobiçadas pela aspereza física da terra que por detrás lhes fica, a aldeia pouco se adianta, mesmo com a presença de colonos lentamente a fixarem-se pelas margens da baía. O meio agreste e montanhoso não favorecia os processos adaptativos em favor n a época: a cana-de-aqúcar e o pastoreio. Daí - como acontecera em Maricá e em Saquarema -, uma invasão de inde- sejáveis sobre êsse litoral rugoso e solitário, comprovada pela pre- sença de militares fugitivos entre os índios.

Como nas lagunas, a psicosidade das baías transformou-os em pescadores. Aqui, porém, mais que no cenário uniforme das res- tingas, as minúsculas praias acolhedoras e isoladas entre si por consecutivas saliências rochosas, iriam também disseminar o ho- mem com as suas palhoças. E a vida colonial de Mangaratiba dêsse modo rastejou em agrupamentos diminutos. Tamanhos eram o seu abandono e mesquinhez que, em 1708, o bispo do Rio de Janeiro ordena que "os moradores e vizinhos de Mangaratiba ficassem agrupados à igreja da aldeia de Itinga, para poderem receber os sacramentos das mãos dos padres da Companhia ali residentes

yy

. O homem utiliza-se do meio físico com as possibilidades cul-

turais e econômicas de cada época. Nos séculos XVI e XVII eram elas a criação de gado e os engenhos de açúcar, inadaptáveis a estreitas línguas de areia e a íngremes encostas empedradas, e as da pesca, de si mesmas insuficientes para um desenvolvimento acentuado. Com tal cenário e com tais bases econômicas é que o homem teve de se haver em Mangaratiba. Daí a estagnação de seu processo evolutivo, para cuja inalterabilidade concorria po-

m2 PIZARRO, de quem extraímos êstes infoimes, é de certo modo impreciso ao nairar as fundações contemporâneas das aldeias de Ingaiba e de Itinga, esta origem de Itaguaí. Com referência a esta fundação diz-nos êle qu'e: "atraidos pelo governador MARTIM DE SÁ os índios da ilha de Jaguaiamenon - hoje Jaguanon -, para a outra da sua vizinhança, situada ao sul e conliecida com o nome de Piaçavera - lioje ItaCUrUçá -, daí passaram ao lugar de Itinga, sito entre os rios Tinguçu e Itaguai - onde se dls Cabeça Sêca -, em cujo chão jnstituíram os padres jesuítas uma aldeia, e por sua direção se levantou um templo em benefício dos catecúmenos" (Obr cit , v01 V, págs 99-100). Quanto a fundação de Itaguai, diz-nos o historiador que, por ser o lugar "mais cômodo, pouco longe do mar e mais pióximo de Santa Cruz, para ali mudaram os padres jesuítas a aldeia em 1718, construindo novo templo, terminado em 1729"

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derosamente a própria aldeia indígena, como todas submetida a isolamento pelos jesuítas.

Por isso é que, não obstante a fundação ser antiquíssima, 203

PIZARRO encontra-a insignificante ainda em começos do século XIX, quando em 1820 possuía 451 fogos com cêrca de 3 600 habitantes "de todas as classes sujeitas a sacramento". Estas cifras, referem- -se porém, a toda a freguesia, visto que a aldeia pròpriamente dita, apenas contava no mesmo ano com 70 casas, em sua maioria tér- reas havendo sòmente alguns sobrados.

Como as demais aldeias indígenas fluminenses após a partida dos jesuítas, Mangaratiba se desorganizara, e a sua população vegetava numa indolência prenunciadora da extinção de toda a sua atividade. "A cargo de um índio da mesma raça munido com patente de capitão-mor, está o govêrno desta República composta de homens pouco amigos do trabalho em lavoura, e mais jeitosos para. o exercício do remo e do falquejo, em que se mostram no- táveis".

Em sua zona rural, a iniciativa particularista destituída de um núcleo administrativo centralizador, apenas conseguira erguer algumas fábricas de a ~ ú c a r e engenhocas. Para uma tão fraca economia agrícola um centro de intercâmbio era desnecessário.

Chega porém o ciclo do café, e com êle tudo vai mudar. Não precisamente na zona rural embora melhorada. Mas a povoação sacudida por fatores externos vai-se de súbito metamorfosear. Onde um pouco antes a descendência dos aborígines se contentava para viver com a extração de alguns madeireiros, a pesca de cama- rões tão grandes que "dois podem servir de pitança a qualquer frade", e a do tubarão, dos quais extraíam o azeite para as "luzes noturnas", onde há não muito se erguiam os armamentos de "ca- sas térreas feitas com paredes gradeadas de madeira delgada e cobertas de barro sob teto de palha, à exceçáo de cinco defendidas por telha vã", inesperadamente surge uma cidade nova.

O café de São João Marcos, com a potência econômica dos BREVES, seria o reformador da vida e costumes citadinos, o movi- mentador dó pequeno pôrto desprezado.

Quem hoje sobe a serra pela velha estrada, bem pode avaliar a desmedida opulência desses potentados fluminenses, cuja resi- dência palaciana ainda se levanta próximo à histórica cidade serrana. Embora em certos trechos muito estragada, quando a percorremos de automóvel verificamos a energia enorme despen- dida em seu traçado. Longas faixas empedradas conservam-na até hoje, enquanto em lombos de montanhos cortes em rocha e muros de arrimo exibem a precisão das grandes obras técnicas.

zo3 Sôbre a fundação da aIdeia de Ingafba, diz-nos o histoiiador: "Não consta com certeza a era em que aconteceram êstes fatos; mas por conretura se Presume iealizados depois de 1620, à vista da sesmaria passada na vila de Santos com a data de 4 de ja- neiro dêsse ano, a iequerimento de MARTIM DE SA". (PIZARRO, obt C i t , v01 IV, pag 38).

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O mais notável trabalho de arte desta estrada é a Ponte Bela, construção de linhas simples, porém maravilhosamente bem acaba- da em sua cantaria. Com esta via é que Mangaratiba cresce quase instantâneamente de aldeia indígena a cidade. Através dela é que descia a carga dos cafèzais de São João Marcos e de toda a vizi- ahanqa onde os BREVES regiam com absolutismo os seus vastos latifúndios.

Por ela "rodavam diàriamente sessenta ou setenta diligências e mal davam para veicular a sofreguidão do ganho que alvorocava os dois municípios. É bem de ver que a estrada beneficiava em particular o patriarca do clã, que ia embarcar o seu café em Man- garatiba, e receber aí, provindas da África, as centenas de pretos que trabalhariam a gleba, depois de uma ligeira estada em Ma- rarnbaia, a aprazível restinga em que os recém-vindos eram fric- cionados a casca de coco, para se limparem da sarna, e adquirirem rudimentos de sociabilidade, para o contacto com os brancos. Acentue-se que todo êsse serviço marítimo, seja o comércio do café, seja o comércio negreiro, era feito em navios de propriedade do coronel". 204

Com os 6000 negros das vinte fazendas dessa família é que se fêz Mangaratiba. Sôbie ela reflete a enorme potência financeira dos reis do café no Segundo Reinado, e as seguintes linhas dão-nos uma fugaz visão da opulência da cidade nessa época: "Quanto as chácaras e aos palácios dêste" - "o maior dos BREVES" -, em Mangaratiba, ainda hoje ostentam, em meio ao mato bravo, alguns espécimes exóticos, que êle mandava trazer de climas vários, sem temer despesas, para fins meramente ornamentais, e uma vasta mesa de mármore, sob enorme jequitibá, lembra que ali correram centenas de contos no jogo do voltarete. Armazéns, cocheiras, tra- piches e um teatro em que representou JoÃo CAETANO, ainda apru- rnam os esqueletos de granito9'-. 205

Marambaia era a praia de banhos do clã patriarcal ao mesmo tempo que a porteira de entrada da sua escravaria, cujo isola- mento frustrava a fiscalização do tráfego negreiro pelos navios britânicos a serviço de seus interêsses coloniais. Marambaia era também uma fazenda cultivada, visto que todos os domínios dos BREVES tinham de produzir. Pelas encostas de seu morro subiam cafèzais, mandiocais e milharais. O seu fim principal, todavia, era o de receber e aprimorar a mão-de-obra para os latifúndios de serra acima.

"Os escravos que saíam dos porões dos navios negreiros, per- maneciam algum tempo naquele viveiro. Reconstituíam as forças perdidas na travessia transatlântica. Cevavam-nos, e, uma vez assim retemperados, eram distribuídos pelas fazendas do aIto da

"Oi GRIECO, Agiipino: O maior clos Breves, impressio?rante figula d e gelztil-hontem rural. ("O JornaI", ed do "Bicentenario do Café").

Idem

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serra. Logo, o que os BREVES possuíam n a Marambaia era uma estação de engorda do seu pessoal de eito, e isto explica as Ótimas recordações que aquêles velhos escravos guardam do senhor já desaparecido há tantos anos. Devia comer-se bem n a Marambaia, porque o objetivo mais importante daquela fazenda não era produ- zir café, mas fornecer mãa-de-obra forte, robusta, para o trabalho no cafèzal". 206

Para ali, periòdicamente, vinham da serra lotes de escravos a fim de se refazerem, e as ruínas de seu vastíssimo solar testemu- nham que a fortuna dos potentados já com vários palácios no vale do Paraíba, também viera aparatosamente luzir pelas praias atlân- ticas. Nos destroços dêsse velho sobrado "grandioso e confortável", ASSIS CHATEAUBRIAND pôde ainda verificar 58 metros em sua facha- da já parcialmente demolida, e, numa sala do edifício "pedaços doirados, frisos de tetos desabados, em triste abandono". "As jane- las do solar se abriam, nas épocas de trabalho intenso de colheitas e plantios, ou nos dias e noites de festa, quando também se descer- ravam as portas da capela para as missas solenes, o mês de Maria e o do Rosário".

Mas toda essa atividade e essa pompa sòlidamente enraizada em milhões de pés de café sumiu repentinamente com uma sim- ples assinatura. A da princesa ISABEL, em 13 de maio de 1888. Com a Lei Aurea a paisagem cultural da Marambaia apagou-se como um desenho a giz sob a passagem de uma esponja. O que dela hoje resta são farrapos de sombras da extinta faustosidade do clã rural dos grandes bailes, nos escombros de um trapiche à beira- -mar, e no viçoso coqueiral que parece espanejar nos ares os ves- tígios que pudessem ainda ecoar de todo aquêle bulício aristocrático.

Em Marambaia que era "o primeiro marco do poder dos BRE- VES" C U ~ O S domínios "abrangiam a restinga, atravessavam o mar, desdobrando-se da Raiz da Serra, Mangaratiba e Saco de Man- garatiba" até o vale do Paraíba, o que sobrara até bem pouco dessa organizada população de escravos tangida pelo braço de feitores poderosos eram uns 500 habitantes, mescla fatalista de mestiçaria onde o branco, o mulato, o negro e mesmo o cafuso abandonados à natureza e sem o pulso firme do grande senhor a dirigi-los, resvalaram para uma existência vegetativa e miserável, numa promiscuidade cada vez mais atrofiadora de suas possibili- dades econômicas, e de seus caracteres intelectuais e morais.

A fundação pelo Govêrno no local da Escola de Pesca Darci Vargas, provida de todos os modernos recursos técnicos, veio agora a tempo de salvar de uma completa degenerescência os descenden- tes de toda aquela massa de milhares de infelizes que por ali pas- saram, para com as suas vidas elevarem a terra fluminense ao mais brilhante período da sua história econômica.

ma CHATEAUBRIAND, Assis: U m viveiro morto ds mão-de-obra negia para o cafèzal ("O Jornal", ed do "Bicentenario do café")

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O mesmo abalo da Abolição derrocou Mangaratiba. As pare- des de seus sobrados e armazéns desmoronaram. Esvaziou-se o pôrto de navios. O comércio atrofiou-se a um mínimo desprezível. Hoje o que ali vemos é um inexpressivo povoado com o seu templo de fachada de azulejos, onde vegeta entre agachada casaria, uma simplória gente desprovida de ambições.

Extinguiu-se o lustre efêmero da terra onde nasceu PEREIRA PASSOS, o reformador do Rio de Janeiro. Hoje, Mangaratiba, sabe- -se que existe - diz-nos um historiador -, porque há um trem de subúrbio com êsse nome. 207 Em sua zona rural havia apenas em 1920 cinquenta e cinco estabelecimentos recenseados cujo valor ultrapassava de pouco um milhão e seiscentos mil cruzeiros, e a população total do município, que vimos inesperadamente crescer ainda em princípios dêste século, decaiu de 15 699 em 1912, para 7573 em 1920. Reduziu-se a menos de metade em 8 anos!

Êste núcleo urbano é um frisante exemplo de cidade que nasceu de uma estrada de comércio e sem bases produtivas locais. A sua atividade era apenas um reflexo das iniciativas agrárias de serra acima, cuja produção se canalizava para ali Das 250 000 arrôbas de café anualmente exportadas por Mangaratiba, 150 000 eram dos BREVES. Seus latifúndios hoje retalhados, em mãos de novos donos e imprestáveis para a rubiácea que os esgotou, enca- minham seus produtos para os mercados do Rio e de São Paulo pelas estradas de ferro e de automóvel.

Um dos menores municípios fluminenses, com 358,5 quilo- metros quadrados, a sua sede pouco tem a esperar dos recursos municipais para se reerguer. Até mesmo a sua colônia de pesca foi instalada na belíssima ilha de Itacuruçá. E a não ser que o govêrno beneficie a cidade com instalações federais ou estaduais de grande vulto ou que alguma poderosa emprêsa venha utilizar o seu pequeno pôrto para iniciativas industriais, bem pouco pro- missores são os destinos da capital marítima dos BREVES, a qual, no dizer de AGRIPINO GRIECO, satisfaz a sua exportação atual com as abóboras de São João Marcos.

Mangaratiba perfeitamente concretiza os organismos sociais urbanos fundados na instabilidade cíclica de atividades culturais externas, e, por isso mesmo fadados ou a perecer ,com o traçado de novas rotas de comércio, ou a vegetar sob a influência de re- flexos alheios as suas próprias realidades econômicas.

Resta-nos agora o bordo continental mais vizinho do Rio de Janeiro, entre o qual e a restinga de Marambaia se encerra a baía de Sepetiba.

O cenário, agora, vai mudar. A série ininterrupta de encostas abruptas da cordilheira que nos outros municípios descem direta-

AMARAL, Luís: HistLi~ia Getal da AgiicuZtura Brasileira São Paulo, 1940, v01 111, pág 83

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mente sobre o mar, vai desaparecer, desviando-se para o interior. E grandes planícies litorâneas nivelam quase todo êste friso cos- teiro onde apenas uma baixa série de elevações consegue levan- tar-se como divisor entre os rios Guandu e Cabuçu, na zona de Santa Cruz.

A não ser em seu extremo ocidental onde o município de Ita- guaí se encosta ao de Mangaratiba e prevalece ainda um trecho de escarpado litoral, a influência da planície vai salientar-se na orien- tação do homem para a conquista do solo.

A vizinhança do Rio de Janeiro fêz com que desde a conquista da Guanabara fosse a zona visitada pelos colonizadores. Foi mes- mo através de Sepetiba que os índios trazidos por ANCHIETA para o assalto, "apartando-se dos navios se vieram para dentro de uma ilha chamada Marambaia, por entre aldeias de tamoios, caminho do Rio de Janeiro". 20s

Com tão vastas áreas planas para plantações, não parece porém ter sido a zona procurada pelos primeiros emigrantes do Castelo, visto que a primeira sesmaria ali doada e que menciona a relação de MATOSO MAIA, foi a de BARTOLOMEU ANTUNES, no Guandu, em 1558. Segundo CAPISTRANO, OS jesuítas só entraram em Santa Cruz em 1596, Explica-se o menosprêzo por essas terras pela atração geográfica dos rios da Guanabara, mais buscados pelos sesmeiros quinhentistas devido ao fácil transporte de mercadorias para o mercado da cidade.

Mais argutos porém, para compreenderem o valor agrícola dessa regiáo, os jesuítas pouco a pouco dela se apossaram, em tal modo aumentando a sua sesmaria com doações de amigos devo- tados e de heranças que no século XVIII se tornaria Santa Cruz a maior fazenda nas proximidades do Rio de Janeiro, abrangendo um imenso latifúndio integrado já não só com as planícies do Itaguaí e do Guandu, mas também com vastos territórios serra acima.

Já mencionamos por alto a sua modelar organização, que a par de inúmeras obras culturais e civilizadoras deu início a pe- cuária em grande escala em terras fluminenses.

Pertencendo à Ordem todo êsse imenso território, é natural que os agrupamentos urbanos surgissem da sua iniciativa missio- neira com a fundação de colégios e aldeias indígenas. Vimos Itaguaí nascer da velha aldeia de Itinga, para ali mudada a fim de a isolar do mar e do contacto com os colonizadores, corifoime a praxe dos jesuítas e igual origem teve Santa Cruz, onde a es- ploração da terra foi um dos baluartes econômicos da Ordem.

ANCHIETA, Pe J o s é : Obr c i t , pág 147. M* Idem, nota 575 a pág 442

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Nos tempos de PIZARRO, havia em Santa Cruz 124 fogos e 3 300 adultos e em Itaguaí 118 fogos e 1 000 almas, podendo-se portanto admitir uma população de 10 000 habitantes nos domínios dos religiosos da Companhia. Além da farinha, do anil e do arroz, Santa Cruz tinha dois engenhos de açúcar e com os seus milhares de reses para a exportação e consumo do Rio de Janeiro, também fornecia todo o gado para as naus de guerra.

Com as grandes realizações da engenharia dos padres, salien- tando-se os canais exaguadores da planície, a zona de Santa Cruz foi a melhor colonizada nas redondezas da Guanabara nos primei- ros séculos, a única superfície rural onde a adaptação do homem ao solo foi objeto de um planejamento racional em grande escala, sob a conduta e a disciplina dos jesuítas perspicazes.

Tão vasta e notável era a sua organização que, sequestrada com a expulsão dos religiosos e passando ao domínio da Coroa, a sede e os principais estabelecimentos foram incorporados aos bens reais, tornando-se depois a principal residência campestre do pri- meiro Imperador. Mas, não obstante os recursos pessoais de Dom Jogo VI e de Dom PEDRO I, a administração da fazenda enfraque- ceu-se com a partida dos padres, que tudo viam e a tudo infatigà- velmente acudiam com o seu govêrno . Pelo menos é o que se depre- ende dos dizeres de Luccoc~, bom observador de tino prático, o qual a visitou por várias vêzes em 1813, pouco após a. chegada da família real ao Rio de Janeiro.

Quarenta anos sob a direção de administradores desinteres- sados de seu aumento debilitaram a ordem social e a economia de Santa Cruz. "Uma boa capela contribui para a sua aparência, en- quanto choças miseráveis de barro, imundas habitações de negros a desmerecem. A terra dá a impressão de ter sido cultivada com a energia característica da, seu primitivo proprietário, constando que conseguiram fazê-la altamente produtiva. Existem ainda vestígios de drenos e de um canal navegável. Mas com tudo isso, a aparência que no geral agora possui é a de uma herdade aban- donada, mais que a de uma, quinta de poderoso monarca; os cava- los, bois e mulas, por ali vagueiam sem qualquer r e~ t r i ção . "~~"

A centralização social exercida por Santa Cruz nos tempos je- suiticos afrouxara-se de maneira idêntica. A prepotência dos es- quadrões ali acantonados aterrorizava os habitantes. "O estado de desleixo em que por tempo demasiado longo se permitiu que se arrastasse êsse régio parque, demonstrou-se origem de inconve- niências e misérias para quantos lavradores e colonos existiam pelas vizinhanças, sem meios de obter que suas pessoas, como suas propriedades, fossem respeitadas pela Corte".

210 L u c c o c ~ , John: Obr c i t , p&g 178

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A presença mais frequente da família real em Santa Cruz, e sobretudo as visitas assiduas do primeiro imperador, ràpidamente puseram têrmo a essa anarquia provocada pelas tropelias de sol- dados nesse tempo boçalíssimos, sobre indefesos fazendeiros e colonos.

É o que se colhe nos Dex anos no Brasil de CARLOS SEIDLER, mercenário mais que suspeito por sua maledicência contra o im- perador, o qual, não obstante ter descrito a cidadezinha como constituída de uma única fileira de casinhas baixas e mal cons- truídas, geralmente penates de poabreza e desasseio", é mais otimista quanto a residência de D . PEDRO I, "um palácio bastante elegante" e sobretudo quanto a exploração da grande fazenda.

"Mais de mil escravos, todos pertencentes a êle, estavam sem- pre entregues ao cultivo dos extensos campos; também lhes com- petia tratar de uma porção de cavalos, bois, porcos e aves. Todos os produtos de Santa Cruz eram diversas vêzes na semana expe- didos a venda para a cidade e rendiam enormemente ao imperador ávido de dinheiro, que pessoalmente se ocupava com a adminis- tração dessa fazenda nos mínimos pormenores". 211

De tudo ista se depreende que, em contraste com o meio físico, onde o horizontalismo das grandes planícies sucede à convulsio- nada topografia de encostas serranas da zona ocidental, a tomada da terra pelo homem nesta zona mais oriental das pequenas baías, ocorreu sob um processo de agrupamento social diverso do ante- rior. O particularismo dos pequenos colonos internados pelas con- cavidades litorâneas foi substituído por um sistema feudal latifun- diário. Em lugar das dezenas de engenhocas disseminadas por restritos plainos aluviônicos, um único centro semi-rural con- trolador de toda a atividade campesina.

Daí ficar impossibilitada a criação de um verdadeiro centro urbano em Santa Cruz no período colonial, dada a inexistência de uma economia subdividida como a dos núcleos regionais de Angra dos Reis e de Parati, estimuladora de um comércio urbano, ou mesmo como a de Mangaratiba, erguida por um clã rural, mas cuja papulaqão a beira do pôrto de mar tornava praticável a existência de casas de negócios.

Em Santa Cruz, quer no período jesuitico, quer no da incor- poração a Coroa, as rendas integrais entravam para os cofres da Ordem ou para as arcas reais, mormente sob um regime de escra- vidão 212

E o'mesmo se poderá dizer de Itaguaí, satélite seu em quase todo o tempo da Colônia, submetida administração dos mesmos

211 SEIDLER, Carl: Dez anos ?ao Brasil Trad do general BERTOLDO KLINGER, pág 58 3m Boa parte do comércio entre Santa Cruz e o Rio de Janeiro devia-se fazer por

via fluvial e maiitima, através do rio Guandu e da baía de Sepetiba O Guandu era bem navegavel, menciollando mesmo L u c c o c ~ a sua subida por uma nau britânica de noventa canhões

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religiosos, e que só veio a sentir a sua vida própria com a chegada do café, quando o produto serrano que não descia diretamente para os outros pequenos portos das baías de oeste, por ali passa- va a caminho do Rio de Janeiro, ou estacionava para embarque fluvial e marítimo

Em 1822, ainda ali encontra SAINT-HILAIRE vestígios da- pri- mitiva aldeia dos jesuítas, em algumas famílias de índios locali- zadas na pequena vila, já entretanto subordinadas a administra- $50 e ao comércio da gente branca "Alguns brancos construíram casas à beira do caminho Ali estabeleceram vendas e lojas, co- locou-se um pel.ourinho no meio de arbustos que cobrem o terreno entre a estrada e a aldeia de Itaguaí, transformou-se em vila".

SAINT-HILAIRE presenciava justamente a transição da aldeia para a vila, motivada como em Mangaratiba, pela influência de fatores econômicos externos E também aqui, como no pôrto da família BREVES, um formigamento de iniciativas desenvolve-se de súbito com o desfile do café

Quatro anos apenas são decorridos desde a passagem do bo- tânico francês, e nota-se já um desusado intercâmbio para a locali- dade habituada a uma completa pacatez, por duzentos anos de prirnitivismo indígena CARLOS SEIDLER, sempre tão mesquinho para as nossas coisas tem um rasgo de generosidade para a insignifi- cante povoação que então começava a se desenvolver. "Antiga- mente todo o café das províncias tinha que ser transportado por terra para o Rio de Janeiro, e eram três penosos dias de viagem para os cargueiros entre Itaguaí e a capital; "& mas agora trans- portam o café dessa maneira sòmente até Itaguaí onde os nego- ciantes aí estabelecidos o negociam e remetem por mar para o Rio de Janueiro. Os mineiros, isto é, habitantes da província de Minas Gerais, com o dinheiro realizado, aqui se abastecem as vêzes para anos, em chitas, panos, vinho, ferragens e outros artigos de indústria inglêsa e do sistema sul-americano de contrabando, o que traz grandes vantagens aos negociantes de Itaguaí, que ven- dem suas mercadorias com 50 a 70% de lucro Por essa forma a cidadezinha até há poucos anos quase desconhecida e completa- mente sem importância, tornou-se uma cidade famosa e rica, que qual criança, ainda está em fraldas mas com as circunstâncias favoráveis em poucos anos se desenvolverá em pujante juven- tude" 21:

Infelizmente esta última previsão não veio a realizar-se. Ita- guaí como os demais portos das bacias de oeste teria apenas a ful-

- SAINT-HILAIRE: Segunda Viagem do Rio de Ja?aeiro a Mi?ias Gerais e a São Paulo

(1822) Trad de AFONSO DE E TAUNAY São Paulo, 1932, pás 230 3% Não é exato que todo o volume do café "das p io~í l l~ ias" fosse tiansportado por

terra para o Rio de Janeiio A maio1 tonelagem descia para os portos do golfo ançrense, at8 a construcão da Estrada de Feiro Pedi-o I1

Y..? SELDLLR, Carl: Obr cit , pag 59

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gurância aerolítica da passagem rapidíssima do cal-'é, cujo mar de plantações a ondularem pela bacia do Paraíba, transbordava a sua imensa produção por todas as brechas da cordilheira. Assen- tada ao sopé de uma dessas torrentes apenas utilizava a sua energia para movimentar-se temporàriamente . Extinta a força propulsora ou transmitida por outras vias novas correntes econômicas que viriam surgir na cordilheira, Itaguaí apagou-se como cidade.

Embora tocada pela Central do Brasil em seu ramal de Manga- ratiba, dificilmente poderemos conceber que êste reduzido centxo municipal possa erguer-se por si mesmo a um núcleo urbano pon- derável. Dir-se-ia que o velho espírito colonial imortalmente se encarnou na velha cidade, estampando a sua fisionomia definitiva de aldeia indígena, na fachada jesuítica de seu templo e colégio de São Francisco Xavier e na velha casa do engenho de açúcar a margem da rua principal.

Simples dependência do primitivo "Curral dos Padres", *I(;

Itaguaí cada vez mais se submete à gravitaçáo prodigiosa da ca- pital da República e mesmo de Santa Cruz, hoje uma bela cidade rapidamente crescida com o desenvolvimento suburbano.

Conquanto porém relegada a um modesto centro urbano, Itaguaí apresenta em sua zona rural um fenômeno excepcional em confronto com os demais municípios fluminenses costeiros a essas baías. A planície, fator geográfico já em evidência e ocupan- do superfícies bem maiores, encaminhou a iniciativa do colono pa

r

a outro ramo de trabalho, a pecuária, elevando as rendas do município a cifras que sobrepujam as dos demais, o que se pjode ver nos seguintes quadras do censo de 1920:

AREA E ESTABELECIMENTOS RURAIS RECENSEADOS

% da área dos est S t~per f f c i e Rlea dos estabele- Números de rurais sobre a municipal ciine?~tos rurais esC iu ia is ú ~ e a na~rnicipal

Parati 103 600 h;? 53 595 133 51,7% Angra dos Reis 72 900 7 652 15 iO,S% Mang&ratiba 9 700 " 7 093 " 55 73,17, Itaguaí 45 700 " 33 447 " 52 73,2%

VALOR DOS ESTABELECIMENTOS RURAIS

kZaqi~i?~is?nos e instrumentos

Ter? a Brnfeitorias agricolas Total Parati . . Ci$ 2 602 000,OO Cr$ 478 930,OO crB 653 695,OO CiFg 3 735 045,00 Angra dos Reis Ci$ 405 570,00 Cr$ 46 900.00 C i S 56 000,OO Cr$ 508 470,OO Mangaratíba CI$ 1 201 257,OO CrO 375 400,OO CrS 39 620,00 CiS 1 616 271,00 Jtaguiií Cr$ 2 986 140,OO Cr$ 899 100,OO CrS 212 850,OO C i S 4 098 090,OO

RECENSEAMENTO DO GADO

Bovino Cavalar Asini?lo Ovi?zo Ci~p,i?ao Suino P ~ ~ a t i 700 172 374 80 88 2 323 Angia dos Reis 546 118 77 247 50 301 Mangaratiba 49 5 202 88 227 15 531 Itaguai 11 337 845 125 229 73 1 035

, -- - 'O Fiimitivo nome de Fazenda Santa CIIIZ, ~osl;erin!m:llte d ~ i l o l ~ ~ i n a d n ' ' R Z I I ~ Z'n-

aenda de Santa Ciuz" e "Imperial Fazenda de Santa Ciuz"

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Êstes dados estatísticos mostram-nas com mais clareza que uma longa exposição, como os fatores g'eogr5ficos diretamente atuam no desenvolvimento econômico-social de cada um dos pe- quenos setores desta zona litorânea. Por êles vemos como a terra conduz o homem para diversos métodos de cultura, adaptando-o a labores que variam com as oportunidades oferecidas.

Parati, com a maior área inunicipal e com cêrca de metade desta superfície ocupada por 133 estabelecimentos rurais não atin- ge a produção total de Itaguaí, não obstante ser mais de três vêzes superior Q seu capital em maquinismos e instrumentos agrícolas. Em cômputo com as 55 fazendas da pequena superfície de Mangaratiba, nas quais o capital empregado para os mesmos fins é quase vinte vêzes menor, a produqão de Parati é relativamente baixa em vista da mais alta mecanização do trabalho agrícola.

Angra dos Reis, o segundo município em área, rende apenas um têrço do total de Mangaratiba em sua zona rural, onde sòmente existiam naquele ano, como já frisamos, 15 estabelecimentos. Cêrca de 90% da superfície municipal jazia inculta!

Finalmente Itaguaí, com a sua pequena sede inexpressiva e a guardar feicão singela de vila colonial, excede com a sua eco- nomia todos os demais municípios regionais.

Extraordinária, parece-nos sobretudo a estatística da sua pe- cuária com mais de 11 000 cabeças de gado, ante as quais insigni- ficantes se tornam as cifras de Mangaratiba, de Angra dos Reis e de Parati.

É que a influência do meio físico nitidamente nos aparece ali com uma evidência meridiana. A parte litorânea vivamente re- cortada por contrafortes montanhosos e podendo apenas acolher uma fragmentada cultura rural, não facultou as mesmas possi- bilidades de expansão que a zona oriental, onde a cordilheira flanqueada de menores elevações a emergirem de vastas planícies, permitiu a reprodução em grosso das manadas para ali traziclas desde os tempos jesuíticos .

Poucos são os recantos da terra fluminense e talvez mesmo do Brasil, onde as resultantes econômico-sociais ?ie uma longa adaptação do homem à terra se nos revelem com tamanhos con- trastes oriundos de um determinismo telúrico tão visível. Em todos ss pequenos municípios que se acotovelam numa só tarja lito- rânea, a natureza repercutiu de maneira diferente ao ataque do homem para o seu domínio. Em Itaguaí, a influência da planície rapidamente conduziu a colonização para uma cultura rural com base na pecuária, incrementada como em Santa Cruz pela vizinhan- ça do mercado consumidor do Rio de Janeiro Essa mesma vizi-

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nhança, entretanto, impossibilitou a formação de um núcleo urba- no expositor das suas atividades, não obstante o impulso que lhe deu a passagem do café que temporariamente Q fêz crescer Por suas próprias finalidades naturais Itaguaí ao evolucionar sempre vinculada aos destinos rurais da planície de Santa Cruz, pouco a pouco perde a sua personalidade municipal, sobretudo com o aceleramento dos transportes que mais e mais encurvam a sua órbita para a gravitacão em torno do Rio de Janeiro

Passivelmente mesmo, como em toda essa borda campestre fluminense anexa ao Distrito Federal, a urbanizaqão da metrópole no futuro virá transbardar por suas planícies, convidativas para a imaginação dos arquitetos prescientes de gigantescas marés de- mográficas

Já em Mangaratiba, Angra dos Reis e Parati temos coisa bem diversa Nestes três núcleos de topografias semelhantes há um pa- relelismo de tendências culturais motivadas pelo meio Mas as variações fisiográficas locais e sobretudo a reflexo da estrutura social ramificada nos grupos da cordilheira, repercutiram de modo a debuxarem quadros evolutivos sensivelmente desiguais.

O primeiro dêles é o de Mangaratiba, impotente para erguer- -se por si mesma, e que repentinamente surge no cenário imperial arquitetada pelo vigor de um formidável clã rural A cidade eleva-se aos impulsos de uma vasta atividade agrária alheia a iniciativas próprias Engalana-se de cultura e civilização, mas enfeitada por mãos estranhas e passivamente submetida à ex- traordinária energia viril de "o maior dos BREVES" Mucama fa- vorita do rei do café, o descalabro atual da sua fisionomia reflete numa dolorosa expressão senil o mesmo fim de raça da família a que pertenceu

Mangaratiba teve os seus dias de fastígio como portão de entrada de um imenso latifúndio, quando ao longo da sua estrada processionava o cortejo das suas dezenas de diligências e as inin- terruptas filas de tropas vergadas sob o café do clã patriarcal. Tudo isto sumiu com a ruína definitiva da nobreza rural. A reta- guarda geográfica da Serra não lhe deu alento Virou-lhe as costas e e3m a sua nova economia foi-se ao leito do Paraíba onde lhe apressa a ferrovia e o intercâmbio com os centros consumidores. E Mangaratiba, fundada pelo trânsito, aguarda qualquer impulso oficial au um novo BREVES que a soerga, revitalizando o seu pe- queno pôrto com indústrias próprias, visto que a cordilheira quase nada lhe promete.

E o que não se dá com Angra dos Reis Similares fatores geográficos ali orientaram uma evolução histórico-social assaz

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semelhante no passado, ainda com menores ofertas de possibilidades econômicas oriundas da exploração do solo. Nenhuma zona lito- rânea fluminense, focalizada vivamente pelo homem por mais de três séculos de cultura, apresenta êsse minimum de 10,5% de área municipal tomada por estabelecimentos rurais, um têrço apenas do total de Mangaratiba. É o que consegue apurar aquêle municí- pio bem servido pelo melhor dos pequenos abrigos costeiros flumi- nenses, que foi no Império o segundo pôrto do Brasil meridional, deixando Santos, Paranaguá, Florianópolis e Rio Grande em franca retaguarda. Mas, justamente por suas condições portuá- rias apoiadas pelo determinismo geográfico de uma vasta zona da cordilheira capaz de a alimentar e por sua favorecida posição de escoadouro dos planaltos do sul de Minas, Angra dos Reis, embora tenha sido até hoje quase exclusivamente o ponto sêco de inter- câmbio numa rota de comércio, tem, ante si, as mais esperancosas perspectivas econômicas de uma permanente evolução urbana.

Já no ciclo do café não foi acorrentada ao tronco absolutista de um potentadso rural, nem tão pouco foi a tulha receptara de uma calha única de escoamento Três estradas mestras - a do Caramujo, a da serra do Barro e a do Ariró -, cruzadas na Serra por caminhos outros, indicavam a sua superioridade portuária pieferida pelos plantadores fluminenses, mineiros e paulistas quando as centenas de fazendas que irradiaram do primitivo núcleo de Resende, sùbitamente enriqueceram o médio vale do Psraíba com o trabalho de dezenas de milhares de escravos. ' l i

Incapacitada de crescer no ciclo do açúcar por insuficiência da base física, já na seguinte fase, conquanto sempre uma cidade comercial nascida da incentivação do trânsito, Angra dos Reis, ao contrário de Mangaratiba, apresentara-se tão necessária à pe- netração da cordilheira que, além de esgalhar vários caminhos a fim de sorver as centenas de milhares de arrôbas anuais de café de três Províncias, fora compelida a ceder uma parte dessa pro- dução a vários embarcadouros satélites, abastecidos por novas estradas

O desvio e posteriormente a exaustão do fluxo- cafeeiro ani- quilaram o seu comércio Mas a predestinada localização do pôrto, embora de projeç50 terrestre embaraçada pelos alcantis da Serra, de novo, atualmente, a faz se erguer sob o poderoso dinamismo do ciclo industrial, com seguras promessas de desenvolvimento.

" I í Para compieendermos o que foi o gigantesco esfôrco produtivo da massa de es- ciavos na formação cultural do vale do Paraíbs, basta sabeimos que, em 1876, ai10 anteiior k chegada da estiada de ferio a Cruzeiro, vinda do Rio de Janeiro, contavam-se mais de 41 000 cativos nos municipios fluminenses de Bzira Mansa, Piraí, Rio Claro, São João Maicos e Resende - cuja produção de csfé já deixara de se escoa] pala Mangaiatiba. e o golfo angrense -, e mais de 41000 nos municípios paulistas, alimentadores clCsteS mesmos portos e de Palati (Diretoiia Geral de Estatística, Relatóiio a?aezxo ao (13 Mi- ?zistéiio idos Negócios do I n ~ p é ? i o de 1875, Rio, 1875)

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Fig. 140 - Angra &r Rei*, outra "cidade de com~rrio", 8egtrnrlo P6rt0 Ro Brasit me- rlfifo?ial aa fnsr fafrrirn d o tiaã~ do Pn~niha c cjtic rPs?ptrgt! rom a r~triarlis d e fero ir ~ 7 1 1 nloA1~rf1a9 t)hra,v ? I ? T ~ T L I L Y ~ ~ , Y , C ~ L O # * . ~ ~ ~ c t d m ~ r o O P i-@fitas XO~T(~S mtnelras e d a m e m o

rn1P i~1rI11striuIi,~1Io.

(Foto BaLmh'11

Flg. 141 - O rmtbcatn cão G a m o , em Angra do3 ReIs, constmÇLb de 1652. i& eXi~ t iad0 ciilrelantu oulro ?ao Ioral da zela rle.Ma 1601.

(Foto A R. L i M W O )

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i 1 4 1 .- O roiii'ririii (rn7irisrtiiin rir. Srín Rr~rriortTino ciir Anrrin 408 R r i ~ 8 tlie L(nsli>- I I I i ~ i I u I i I : : i i I .*ic~tilri X V I I I .

Puro Uei.i.rmi r

Fi?. 143 - Parati. ninrro liticia7 íla ?*ctIia "es t rada dos ~ o ~ u ~ u P " . Uma ( l r i9 tiptcus "cidfl- rlev di. roriiirrlo" d n linin ,ria Illia Gro?rdim gi i r rlorlinararn ro71t a niiidan(.n das 77laa (li- ~~oriiir??irrs(No. Kote-ar ri po7ilal jor?ii#dri prlf i rio. fazerida niniiqar R st~u r i i i l i o r ~ d u r a

1~11.5ntr l :r~ ~ ( . l i t i r~n >!a [ I J T I ~ I n(.Nu rIc rrs i t~iqas no I i t rirol cin t r l i c . (Forri DNOPi

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Fig. 144 - A velha fazenda e o engenho da Boa Vista e m Parati. aona lit3rciizea o r i f ! ~ a czcl tu~a da cana-dc-acilcar sc dcse~ivo1t.e desde os tempos coloniais. para a fabrical.ãf> d a famosa aguardente "Parati", c u j o nome veio depois a se generaliear para esta bebida.

(Da Fototeca do Patr imônio Histórico e Artístico Nacional i

Fig. 145 - A floresta v irgem e m Mangaratiba. e m Angra dos Reis e e m Parati, cobrlndo grandes extensôes d e abas de m o n t a n h a s pedregosas e e m c o n t a c t o scom o mar, impos -sibilitou a formação d e grandes centros agricolas e o desenvolv imento da pecuária.

(RUGENDAS I

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Em Angra dos Reis, não podendo o homem subjugar o meio pelo trabalho agrícola, auxílios externos tiveram de ampará-lo, compelidos pela exigência de fatôres econômicos, necessitados para a própria expansão das suas indispensáveis características geográ- ficas.

Temos nela o exemplo de uma "cidade de comércio", nascida ao sabor de rotas de intercâmbio, mas com fatôres geográficos locais que a diferençam de Mangaratiba, tarnando-a uma "cidade necessária", revitalizada pelos sucessivos ciclos da história econô- mica brasileira.

Angra dos Reis futuramente sempre crescerá como pôrto auxiliar do Rio de Janeiro, desafogando a Guanabara de uma na- vegação hipertrofiante .

Resta-nos finalmente Parati, de maneira idêntica premido contra a Serra e encerrado num hemicírculo de montanhas.

Não obstante as mesmas origens tectônicas da sua geologia, que com esta enseada cerca a oeste o golfo angrense, em confronto com Angra, acentuam-se ali peculiaridades topográficas bastantes para uma diversificação dos frutos culturais. Existem maiores vargedos em Parati, maiores possibilidades para a lavoura e mesmo para a pecuária. O número de seus estabelecimentos rurais re- censeados, em 1920, excede o total dos outros municípios fluminen- ses destas baías. 133 propriedades agrícolas contra as 122 de Itaguaí, Mangaratiba e Angra dos Reis. Daí ser a sua economia rural apenas excedida pela de Itaguaí, cujas planícies incentivaram a criação de gado.

De todos êsses pequenos núcleos municipais anexos, Parati é o que mais se caracteriza pelo cultivo da terra, estimulado desde os tempos coloniais pela incentivaçáo de um particularismo oriundo dos seus próprios fatores topográficos, retalhadores naturais da gleba. Daí essa vitalidade de outro jeito inexplicavel desde o su- miço do café no vale do alto Paraíba que para ali também se escoa em massa dos municípios paulistas vizinhos. Como em Angra dos Reis pela mesma época, tão intenso era então o tráfego de muares que foram calçados vários trechos íngremes da velha "estrada dos Goianás" e abriu-se um novo caminho na montanha para o mesmo fim Tão penoso e difícil era entretanto o acesso a cordilheira através da velha rota "cheia de atoleiros na própria serra pela abundância de nascentes d'água, cheia de lamaçais na planície pelo extravasamento de rios e pouca solidez de aterros", que já desde 1843 esta via de comércio começara insuficiente para a conservação de estradas. "IS

Parati, entretanto, o mais isolado município fluminense, por si próprio continuou lentamente a progredir. Mas, num trabalho de colmeia, quase invisível a quem desembarcasse em sua pequena

214 VASCONCELOS, Clodomiio: art cit

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enseada lamacenta ande os navios ficam a dois quilômetros de terra, e que a um lance de vista avaliasse as suas a'cividacles rui'ais pela fisionomia decadente da cidade.

É que Parati conservara intacto, em seus recantos rurais, aquêle precioso particularismo inicial dos primitivos colonos do século de seiscentos. Por isso é que, embora também nascida como vila de comércio no ponto sêco da passagem de uma estrada, duas vêzes movimentada em sua história no ciclo do ouro e no do café, quando afinal definitivamente sobrevém a fuga do trânsito a velha cidade quase clandestina em seu esconderijo litorâneo, pôde ela manter em fins do passado século uma navegacão superior A de Angra dos Reis. 219 -

Contràriamente ao que ocorre nesta zona, os fatores geog

r

á- ficos em Parati diferençando-se dos de Angra por tonalidades geológicas pouco perceptíveis, bastaram para, com dessemelhancas tão insignificantes, enraizarem uma cultura sólida na base da exploração agrícola.

Por isso é que Parati ao definhar como ní~cleo de trânsito de mercadorias num bordo continental com vasta áreas de produção e consuino na retaguarda, teve um alicerce economico para sobre-

"." 2 o que se pode ?:c: do Relntd~io cla Associ<cpio Cc?nercial do Rio de Jatzeiro do c110 &E 1872:

NAVEGAÇAO DA PROVINCIA DO RIO DE JANEIRO DE OUTUBRO

Entradas de 1871 a setenabro de 1872 Saidas

Ei~?õa?ca~.óes Toxelage??~ E?rli;n~cações I'o~~elagein portos

Angra 54 3 766 67 4 627 Atiró . -- - .i 423 Itacuruçit - 1 4.1 Mangaratiba 33 1 983 22 1 247 Parati . . . . . . 81 8 752 :j 7. 5 629 Campos (Sáo Joáo da Bairs) 421 54 539 401 53 497 Alnca8 133 22 922 134 23 156

Qunlificava-se esta navegaçtio pelos seguintes clifrrriltis tipos clc l~alcor;:

Gapôres Patachos Hiates Sumacas Lanchas Escunas Palhabotrs Brigues Brigues-oscuiias Lug.res .

O total das entradas na Provincin foi cle 973 iizvios coin 110485 toneladas e o totiil de saidas 951 navios com 106 646 tonelacias

Por êsse teinpo aincla o total da piociuç%o de açúcar do noyte fluininensc iumava pala o Rio de Janeiro e outios portos por via maritima através de Sáo JoBo da Bariir e Macaé, enquanto a produção de café que anteriolrnente descia pala os Pequenos Porto? do extremo oests jS. fora monogolizn~a pela Estrada de Ferro Pedio 11, hoje central cio Brasil Isto explica o númeio pequeno dc en~barcúçóes surgidas cm Angra dos Reis, Pnrati, Mangaiatiba e demais ancoradouros da baía da Ilha Grande, em ~0nfionto Con; ils qire eritiavam rios portos do noite flntiliiiensc eni busca clo t~cúcal

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viver. Como feitoria provisória morreu, incapacitada de concorrem com os modernos sistemas de transportes fugitivos de seu pôrto mau e de suas difíceis escaladas serranas. A presente ascendência de Angra dos Reis, vizinha e monopolizadora do grande comércio regional, destruiu-lhe quaisquer ambições que a tal respeito ainda pudesse ter. Mas como zona rural produtiva Parati firmou-se com as suas fábricas de aguardente reconhecida como irrivalizável pelos entendidos, além da sua elevada produção de arroz e do fabrico da farinha. Juntemos a isso a colônia de pesca e as suas reservas florestais em d d s terços quase intactas,22" o futuro do município apresenta-se bem garantido, com o mais perdurável dos embasa- mentos que é a exploração agrícola do solo.

Com esta exposição vemos portanto uma regiãs costeira ca- racterizada por duas faixas. Uma delas qualifica-se por um litoral corroído de pequenas angras, abertas sobre um fundo montanhoso. A outra é uma imensa planície limitada no mar por um friso de restingas. Na primeira, os fatores geográficos orientaram as ati- vidades humanas para a formação de núcleos de comércio fun- damentados no trânsito de mercadorias, com restritas iniciativas agrícolas devido à inadaptabilidade do meio físico. A evolucão dês- ses núcleos exclusivamente adstritos ao desenvolvimento de zonas internas, oscila não sòmente com os diferentes ciclos culturais, mas também com o rumo das comunicações que primitivamente apenas se entrelaçam, atam-se a seguir mais fortemente, acabando afinal por um açamharcamento dos transportes que se unindo em dois ou três feixes poderosos, de si mesmos selecionam os privile- giados pontos de intercâmbio, alvos apontados de remotas eras geológicas pela composição determinista dos fatores geográficos.

Daí a redução de todos êsses portos a um só embarcadouro - Angra dos Reis -, ponto sêco excepcional assinalado pela natu- reza para a permanente passagem de um dêsses feixes circulatórios, em detrimento dos vizinhos que se extinguem ou se atrofiam.

Na segunda faixa marginal a estas baías, a planície condicio- nou um modus-vivendi diferente. A pecuária desenvolveu-se em grande escala com a base física proporcionando a extensão de grandes propriedades provindas de um latifúndio. O seu principal núcleo - Santa Cruz -, até meados do passado século, insignifi- cante e submetido a irradiação tentacular do Rio de Janeiro é hoje uma cidade suburbana com intensificada ligação a capital O outro, a aldeia indígena de Itaguaí pouco evolucionada, dia a dia mais se ilumina sob a mesma projecão, subordinando-se defi- nitivamente aos destinos da metrópole

Tudo o que resta com caráter tradicional nesses pequenos agrupamentos, onde os homens tangidos pela sociabilidade uni-

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ram-se para o domínio da natureza, são as aldeias marítimas, tais como Sepetiba com seus flarnboyants acolhedores e seus molhes d e i ' i o ~ a d o s , ~ ~ ~ onde o pescador de costas para a terra sempre estranha, sempre esquivo e alheio ao perpassar dos ciclos cultu- rais, volta-se para o mar com o mesmo primarismo audaz dos pio- neiros

Pela estrada de rodagem distam apenas três quilômetros e meio de Santa Cruz a Sepetiba. Dir-se-ia porém que t1.ê.s séculos e meio ainda as separam.

::!I No ciclo do café Sepetiha roi o pô i to da Coinpailliia Fe i lo Caii i i e ~ : lvcg . icso Santa Ciiiz cliie fazia ii-itercâmbio Coni Angra dos Reis

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A CULTURA

"Tal era o espetáculc, acerbo e curioso espetáculo A história do homem e da terra tinha assim uma intensidade que lhe não podiam dar nem a imagi- nacão nem a ciência, porque a ciência é mais lenta e a imaginacão mais vaga, enquanto o que eu ali via era a conden- saqão viva de todos os tempos"

MAcaAno DE ASSIS: Memórias Pósturr,ras de Brás Cubas, E d Jackson, pág 35

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1 - O HOMEM E O MEIO

PIERRE LAVEDAN: "Géosraphie des Villes". Pa- ris, 7." ed , pág. 38

"Rio est une ville qui se promène à la cum- pagne"

JACQUES ARAGO: "Deux Océans". Paris, 1854, pág. 315.

Nos setores da geografia humana fluminense já transcursos, claramente se evidenciou a influência do meio físico nos destinos econômico-sociais de cada grupo. Em cada qual repercute a terra de maneira diferente aos assaltos indisciplinados do imigrante, como se houvesse um inconsciente telúrico a inquebrantavelmente reger as tentativas culturais de colonizações nascidas de ambicões confusas. Tendências culturais chegadas de além-mar, aqui se enfeixam e se orientam para rumos certos e manifestações metó- dicas de energia começam a surgir, então, de iniciativas de aven- tureiros policiados pela ambiência . Apressadas improvisações raciais oriundas de uma ardente mestiçagem, evolvem para des- cendências vigorosas selecionadas por endemias .

Há na história dessa Baixada, de comêço tão inóspita, tão contrária a uma concateniza~ão de esforps culturais, surtos de prosperidade progressiva. Os tremedais campistas subjugados, as serranias angrenses dominadas, os aguaçais cariocas aterrados e tantas mais paisagens onde outrora o desalinho de uma terra bárbara ferinamente se insurgia contra as arremetidas civilizado- ras, mostram-nos como a pertinácia de gerações conseguiu domar a gleba que as repelia.

O meio e o homem numa interação contínua de trezentos anos d.e aiitagonismos puderam, enfim, acomodar-se. Os fatores geo- gráficos obstrutivos da cultura, conquanto ainda persistam em escala que supera os recursos econômicos para a sua eliminacão completa, já se não levantam com a tremenda virulência primitiva, desalentadora dos esforços mais tenazes.

Por toda parte da Baixada a civilizacão penetra. Planícies incomensuráveis cobertas de plantacões indicam-nos a persistência do saneador, solidificando pantanais. Calotas de morros outrora descabelados em matagais, pentearam-se de lavouras sob o sulco dos arados. Toda essa amplidão de rios transbardantes, de banhados a envolverem colinas insulares ou penínsulas serranas de selvas

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impenetráveis, toda essa Baixada possuída por tribos de fron- teiras elásticas que erradiamente nela se embrenhavam, retalhou- -se em fazendas cadastradas, povoou-se de centenas de núcleos que espontaram do imenso drama trissecular de uma civilização nas- cida da cantenda com a barbárie

Nela pode o homem elevar-se hoje quase incólume as endemias fatídicas, as arapucas ambientais em que tentava a cada passo a natureza despenhá-10, a toda essa implacável agressividade arre- gimentada pelo meio para o prostrar, eriçando-se de hostilidades contra a sua marcha, desde as barricadas de muralhas vegetais em anteparo a insurreição biológica das selvas até o bafo morna dos pauis inertes, infestados de mosquitos e caldos de bactérias para os paroxismos epidêmicos .

De tudo isto se deduz uma irrefutável conclusão A de que a herança racial do fluminense da Baixada, transmitindo-se por sucessivas gerações vitoriosas sobre uma nosografia intimidante, é a de um forte excepcional.

Nenhum dos outros grupos estaduais brasileiros pode exibir em sua evolução econômico-social tamanhos resultados culturais e tamanha conjugação de iniciativas, desde que se não percam de vista os terríficos óbices ambientais impugnadores de seu progresso O gaúcho, o paulista, o baiano, o mineiro, o pernambu- cano e o cearense, expoentes atuais de nosso esforço cultural, evol- veram em outras condições, favorecidas por fatores geográficos ou sob influências climáticas de confronto impossível com esta faixa litorânea, cujo próprio nome de Baixada Fluminense sugere ainda no presente, uma região madrasta a ser evitada por uma coloni- zação metódica. Em nenhum daqueles grupos federais viu-se uma população inteira enraizar-se na lama firmemente, multiplicar-se em caesa etnia num tal meio, ao mesmo tempo acumulando reser- vas econômicas para fazer do Estado do Rio com a sua exiguidade territorial uma das principais unidades da União.

O fato em si, exemplificaria um fenômeno paradoxal, não fosse a causa geográfica impulsionadora e responsável por tão extraordinária evolução. Porque toda ela se deve a um único fator natural A um único foco ao mesmo tempo dispersivo e coordenador de iniciativas de outro modo inoperantes. a Guana- bara

Sem a baía esplêndida e imprescindível à unificação de esfor- ços grupais disseminados, toda essa ofensiva contra os pântanos se malograria por falta de imigrantes, ou nem sequer talvez fosse iniciada com tão grande antecedência sobre outras zonas de si- milares paisagens litorâneas, como as da costa vicentina ao sul de Santos ou a espírit'o-santense ao norte de Vitória, que sòmente agora se movimentam, não obstante a vizinhança daqueles portos antiquíssimos

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É que, mau grado a remota penetração daquelas zonas, an- terio

r

a do Rio de Janeiro, nenhuma delas se distende ao redor de uma grande baía cujos singulares fatores geográficos privilegiada- mente se agregam pelo determinismo telúrico em um ponto cos- teiro a um tempo excepcional para a inter-relação dos extremos marítimos do Brasil e para a projecão dos seus destinos sobre os imensos planaltos continentais

Foi para esta finalidade que o carioca inconscientemente dirigiu seus passos sobre os lamaçais do recôncavo. Aldeia ainda, já com foros de *cidade, começa logo o Rio de Janeiro a irradiar a sua cultura com os sesmeiros primitivos que dali partem para a Baixada. É o fluminense que nasce, piedestinando-se, para dispu- tar ao brejo quase a metade do seu solo É o mesmo homem que drenando os pântanos da sua capital, empreita a vasta missão de ampliar desmedidamente a sua obra, a cada passo repetindo-a, a medida que se afasta.

Desta obra é que surge a grandiosa civilização rural de seus canaviais num treino inflexível para o posterior ciclo do café. Tão árdua e característica foi ela, porém, que a Baixada ainda nos sugere um meio indesejável, onde o clima tropical se aliando a uma fisiografia em que as cifras altimétricas das planícies bai- xam-nas quase ao nível do mar em sequências de pântanos por dezenas de quilômetros, impele-nos a imaginacão para uma noso- logia tenebrosa, na qual a maleita reina sobre uma populajão atrofiada e improdutiva

A análise econômico-social de toda a sua história não só des- mente, porém, essa fama imerecida, como inteiramente a inverte, com os seus agrupamentos regionais de invulgar atividade e pro- dução, evolvidos por si mesmos em perfeita amoldagem particula- íista aos fatores ambientais sem a ajuda de coloniza~ões sistemá- ticas e orientadas por um patrimônio governamental

O homem da Baixada, desde as planícies alagáveis do Itaba- poana pontilhadas de rebanhos aos confins de Parati onde um estreito patamar costeiro acolheu as suas engenhocas empilhadas contra a muralha da Serra, exclusivamente se fêz por iniciativa prílpsia. Delimitou os seus currais, as suas fazendas, atirou-se aos pântanos, drenando-os, e aos morros, desflorestando-os Engenhos e plantações surgiram sem diretrizes nem recursos outros que os de seu particularismo inato.

Mas tudo isto que nos mostra uma etnia costeira isoladamente a progredir por trezentos anos, e ao mesmo tempo apresentando características uniformes de uma civilização que lhe é toda sua, tanto pela conformidade psíquica de seus habitantes quanto pelo íntimo entrosamento econômico e social da sua evolução, partiu de um único foco inicial Foi a Guanabara com o Rio de Janeiro, o centro de onde emanou toda essa atividade formadora de cul-

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turas essencialmente rurais, onde os núcleos urbanos apenas acomodam uma parcela bem pequena da população dispersa pelas áreas agrícolas.

É tempo, todavia, de aqui vermos um contraste essencial entre o foco da grande baía e as diferentes regiões satélites por ela gera- das. Todo êsse impulso rural nascido com os próprios fundamentos históricos do Rio de Janeiro das sesmarias e dos engenhos de acúcar, e dêle continuamente a irradiar desde os mais remotos decênios coloniais, tendeu sempre a inculcar no próprio centro irradiativo uma cultura essencialmente urbana.

A Guanabara instigadora e propulsora de uma intensa vida rural sobre toda a Baixada Fluminense, desenvolveu em si mesma uma crescente civilizacão de cidade, enquanto hoje, ainda, aquêles antigos centros urbanos fluminenses - mesmo os mais desenvol- vidos como Campos -, embora cresçam com a multiplicacão é bem menor que o dos distritos rurais.

Justamente o inverso é o que se observa na Guanabara A marcha da população urbana processa-se com tamanha rapidez que não Sòmente os arruamentos se cruzam por inúmeras áreas dos mais distantes subúrbios, como transbordam sobre as divisas do território fluminense em projeções crescentemente a se apos- sarem dos contornos do recôncavo.

Foi esta a dupla missão histórico-social do carioca, tangido pelos fatores geográficos da sua baía Êste magnífico pôrto de mar e único surgidouro natural em centenas de quilômetros de costa, figurou sempre desde os primórdios da conquista, como o grande núcleo a um só tempo distribuidor e centralizador de toda a civi- lização da Baixada, antes mesmo que a expansão cultural dos planaltos e os próprios destinos políticos da nacionalidade, sempre movidos por uma predestinação indiscutivelmente geográfica, impusessem ao Rio de Janeiro a sua privilegiada condicão de metrópole.

I1 - O SANEAMENTO

"Mas devemos voltar-nos para os mais ptofiin- dos aspectos da transfoimacáo por vir"

LANGDON-DAVIES: "O homem e o seu Zinivr i - so" Trad de GDISON CARNEIRO, Rio 1941 - pág 253.

Quanto mais nitida se torna a cartografia do recôncavo com os levantamentos aéreos que minuciosamente nos desvendam a paisagem regional, tanto mais árdua se nos afigura a sua penetra- ção pelos pioneiros quinhentistas.

Sòmente com êste moderno processo topográfico é que se pode bem aquilatar a difícil adaptacão do homem a terra, na cin-

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tura de pântanos da Guanabara onde a energia dos primitivos cariocas os ia mobilizando sobre os charcos, com a mesma tena- cidade que impelia a raça por desconhecidos mares.

Desde os calvos penedos a entrada da baía até as encostas da serra do Mar envoltas em florestas, a passos lentos foram êles caminhando sobre um solo úmido, na ocupação das primeiras sesmarias .

De olhos fitos no chão, erguiam-nos quando em vez as abas senanas lanhadas de profundos vales onde as torrentes estrepito- sas estalam em cascatas, e em cujo cimos, rompendo os matagais, entesam-se, exclamativos, os picos dos órgãos.

A sua missão, porém, não era a de assaltar montanhas, es- cudadas de escarpas defensivas. A sua marcha foi essencialmente horizantal, como se o treino da luta contra o brejo na fundacão do Rio de Janeiro, definitivamente o especializasse para a tarefa de enxugar toda a Baixada Fluminense .

Vimos que esta marcha foi apontada po

r

todos êsses rios que em meand

ros se espreguiçam por imensidões charcosas, vias pro-

videnciais que o meio geográfico da Guanabara prèviamente condicionara para o desbravamento das suas margens

O homem do Império e da Colônia tudo fêz para recuperá-las Tudo quanto possível aos seus recursos particularistas, quando o braço do escravo por meio de aterros e valas procedia ao exagua- inento, sem o qual seria inconcebível tamanha produção de gêneros e tão firme implantação nesse ambiente pantanoso, onde até vilas e cidades como Iguaçu e Santo Antônio de Sá conseguiram existir

Não obstante, porém essa espontânea iniciativa do colono, - característica do pendor associativo dos senhores de engenho da Baixada -, o problema do recôncavo em suas finalidades coletivas, até bem pouco apresentava a sinistra fácies de uma região aban- donada pelos governos, desde o 13 de Maio que atraindo para a capital a massa negra tradicionalmente grupalista e urbana, des- povoou as velhas fazendas Desgrenharam-se as capoeiras sobre as lavouras enralecidas pelo descuido

Veio a decadência Desvigorou-se toda aquela nobreza rural continuadora de gerações constantemente em luta pelo domínio de uma terra estigmatizada pelo pântano. E hoje o que ali vemos, são escassas ruínas de solares que ainda encavalgam outeiros perdidos em desertos, taperas lúgubres deslembradas pelos genea- Iogistas e apenas de interêsse para os raros arqueólogos, investi- gadores de mistérios soterrados pelo tempo.

O problema do recôncavo é de tamanho vulto pela extensão de áreas perdidas e anexas a Capital Federal que, por mais as- sociativas que fossem as organizações urbanas e rurais, e por mais bem lançadas as diretrizes de um saneamento parcelado, o malô- gro seria inevitável pela inexistência de um plano técnico de

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conjunto para a complexidade dessas rêdes hidrográficas de rios tardos que se entrelaçam, mas que a uma fraca pulsação saltam dos leitos, relaxando-se em alagamentos sobre as planícies.

A solução do problema da Baixada e especialmente o do re- côncavo da Guanabara justaposto ao Rio de Janeiro, de ocupação imediata, só se tornaria definitiva quando a par de vulto-sas cifras aplicadas em engenharia hidráulica e sanitária, paralelamente se alinhassem dados completamentares de estudos para um intenso povoamento, com a presença do homem não mais em tarefas individualistas, mas coletivamente orientado por um órgão oficial e fiscalizador das suas atividades e que lhe garantisse um patri- mônio arrancado aos lamaçais. E isto, foi sòmente compreendido e pela primeira vez iniciado em grande escala pelo Departamento Nacional de Obras de Saneamento criado pelo Govêrno

Nos dois primeiros volumes rkpidamente expusemos vários empreendimentos dessa notável organização que em poucos anos de iniciativas já conseguiu modificar todo a fácies geográfica da Baixada Fluminense. Apontamos particularmente a região cam- pista, padrão rural de uma atividade hereditária, onde o homem apenas aguardava há séculos o auxílio do Govêrno para que a sua economia particularista pudesse desdobrar-se afinal, com as diretrizes de uma engenharia que regulasse o Paraíba. Uma obra de conjunto e oficial que disciplinasse as águas erradias sobre imensidões aluviônicas, enxugando o labirinto lacustre onde en- xadas e charruas só não cavaram quando as linhas mestras cir- culatórias sòmente agora conhecidas, mantinham por extravasa- mento ou infiltração lagoas permanentes numa terra por demais fecunda para o desperdício.

Nas bacias da Guanabara e da Sepetiba, conquanto possa tam- bém o problema ser encarado com finalidades agrícolas, enredam- -se nêle todavia complexidades urbanísticas já visíveis com a progressiva expansão da capital, cujo destino é o de estender-se por todas essas planícias convidativas, desde que os arruamentos possam assentar em base firme.

Por isso é que, não obstante os trabalhos gerais iniciados pela Comissão de Saneamento da Baixada Fluminense, criada em 5 de julho de 1933--- e depois ampliada num Departamento com funções extensivas a todo o território nacional, é nas redondezas da Guanabara que melhor se pode ver os resultadas técnicos da sua atuação, fortalecida com poderes amplos. Poderes que se atrofiavam outrora em estéreis discussões parlamentares de um bacharelismo alheio a problemas especializados e tangido por interêsses partidários insustentáveis na vida moderna, com os seus

9, , 3 -- Criada nesta data poi poltaria do ministio da Viação, teve coino engenheiro- -chefe ALFREDO CONRADO NIEMÉIER, substituído em 24 de novembro poi CÂNDIDO LUCAS GAFFRÉE, ao qual pol sua vez sucedeu em 8 de dezembio do mesmo ano HILDEBIIANDO DE ARAÚJO GÓIS que desde então vem permanecendo à fiente dos serviços

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imperativos de bem-estar comum e não mais exclusivo de castas afortunadas.

Com tais poderes é que pôde ser executado o plano gigantesco de uma das mais eficientes instituições governamentais. O pro- blema da Baixada dependia, assim da criação de um órgáo indis- pensável, já sugerido desde os fins do Império e desde então con- fiado a nada menos de 13 comissões consecutivas, todas malogradas.

Sòmente livres de quaisquer óbices é que puderam os enge- nheiros do Departamento sob a chefia de HILDEBRANDO DE A R A ~ J O Górs, projetar a transfiguração da cintura charcusa da Guanabara, preparando a base física para o acelerado avanço de uma futura Nova Iorque ou Londres, que já sobre ela incontidamente se derra- ma. Porque é êste o verdadeiro fim do saneamento dessas margens paludosas, caso particular em que o desenvolvimento de uma eco- nomia agrícola e industrial a ser planejada pelo Departamento, irá sendo recoberto por faixas urbanas satélites do Rio de Janeiro.

Para tais resultados indispensáveis à própria evolução da ca- pital brasileira, toda uma complexa organização de serviços teve de ser instituída e unificada, num comando firme, incessantemente ccadjuvado pela constância de abnegados auxiliares que, em menos de um decênio já podiam apresentar toda uma nova fisionomia do recôncavo, a custa de sacrifícios desconcebidos da comunidade. 223

As causas dos fracassos anteriores foram o primeiro assunto de investigacões, a fim de que se não tornasse a consumir capitais e a inutilizar esforços tão preciosos num país onde a engenharia tem tanto ainda que fazer. A deficiência de estudos iniciais apa- receu logo como o fator básico dos malogros precedentes, pois que, com exclusão dos trabalhos dirigidos por SATURNINO DE BRITO em Campos e, parcialmente os da baixada de Santa Cruz, pouquissi- mas foram as pesquisas executadas. Tão parcos foram por vêzes os estudos topográficos, que canais haviam sido feitos com inver- sos resultados, secando rios e inundando várzeas.

A técnica do saneamento da Guanabara fora, aliás, mal con- cebida com a exclusiva preocupação de melhorar os trechos ma- rítimos dos rios e dragar as barras obstruídas sem consideração

223 O plano oficial de serviços a serem realizados pelo Departamento Nacional de Obras de Saneamento, resume-se na seguinte poitaria baixada pelo miilistio da Viação em 16 de fevereiro de 1934:

I - Projetar, executar ou fiscalizar quaisquer obras de saneamento da Baixada Fluminense .

I1 - Realizar os estudos necessários para o conhecimento do regime dos iios, bem como a forma e natureza das bacias hidrográficas, empregando-se os Processos mais indicados para cada caso

111 - Elaboiar um plano de desenvolvimento econômico da região, não só organizando bases pala a sua colonizaçáo, como para a criaçáo de cooperativas de produção, instalação cle novas indústrias etc

I V - Levanta1 o cadastro imobiliáiio de tôda a região da Baixada Blumiuense. a - fim de ser aplicado o item anteriol

V - Sugeiir a s bases de uma Iegislaçáo especial com o objetivo de 11, metàdicamente, aliviando o govêino dos ónus do saneamento e da conservaçáo das obras que forem executadas (HILDEBRANDO DE ARAÚJO GÓIs: S a n e a m e n t o da Baixada Flunzineizse, Rio, 1934, Pá6 7)

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pelas marés que anulam essas tentativas de aumentar a declividade superficial e que por si mesmas tanto contribuem para o alaga- mento regional, fazendo subir todos êsses rios de planície por dezenas de quilômetros do curso inferior.

A crítica serena de ARAÚJO GÓIS embora apontando erros, exculpa os técnicos que o precederam com malogros idênticos em adiantados países como os Estados Unidos com os seus dilúvios do Mississipe, a Itália com as enchentes do Pó e até a Holanda onde os frequentes insucessos desafiam a notória competência dos seus afamados engenheiros hidráulicos. Não justifica, entretanto a "falta de continuidade administrativa" do regime, quando ao sabor das correntes políticas dominantes, "o govêrno mudava constan- temente a orientação dos trabalhos, ora criando comissões ora extinguindo-as ou fundindo-as, para criar novas e separá-las em seguida".

A intercadência administrativa de tal política se agravava de um processo de financiamento em parcelas mínimas e irregulares. Daí ser óbvia a lentidão das obras e o seu encarecimento por in- terrupções consecutivas, e que mesmo quando aprovadas não passavam de "autorizacões legislativas" sem verbas especificadas nos orçamentos.

Era o tempo em que a Geografia não penetrava na legislação e quando os problemas fundamentais da nacionalidade como os de economia e finanças, os do exército e da marinha, os da energia e transportes, as reformas do ensino e as leis trabalhistas, em suma, toda a orientacão material e espiritual do país resolvia-se declama- tòriamente nos parlamentos, após gravibundas ponderaqões de especialistas em zebu, de idílicos sonetistas acadêmicos ou de bracejantes retóricos em delírio, imprudentemente a solta.

Tudo isto, enfim, condignamente submetido ao respeitável beneplácito de bacharelíssimas assembléias, com raras exceções bidiplomadas pela fraude eleitoral.

Dessas exceções é que em geral saíam os estadistas honestos chefes de Estado, quase sempre de visão e prestígio, mas tolhidos por compromissos partidários, entarrafados pela finança interna- cional, enlameados de insultos jornalísticos, o que os impedia de executar programas concebidos, pela pastosidade política do re- gime.

Os engenheiros do atual Departamento quando ainda em simples comissão, já souberam se utilizar com a mais enérgica decisão das possibilidades novas, sacrificando-se numa admirável continuidade de serviços, patenteada com a sua presença em todos os setores da Baixada.

A medida que os trabalhos de campo se adiantavam e que centenas de projetos eram executados, procedia-se a uma pesa-

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díssima limpeza de rios entupidos de galhadas e troncos, assorea- dos pelo vagar de fluxos retardados, coalhados de moitas de água- -pés ou mesmo irreconhecíveis quando não desaparecidos sob a cobertores dos capachos de tabua niveladores de leitos e alagadicos marginais .

Com essa desobstrução já por si dessecadora de grandes su- perfícies, tornaram-se não sòmente possíveis os estudos, sobre a vazão dos rios então desconhecida, como também a imediata va- lorização de grandes áreas alagadas, agora passíveis de aproveita- mento.

Para a defesa dessas propriedades e paralelamente as draga- gens bem calculadas para a regularizacão e aprofundamento dos leitos, aumentando-lhes a capacidade e tornando-os navegáveis, diques foram erguidos contra as inundações, os quais, nas partes marítimas dos rios transformaram em p o z ~ l d e ~ s imensos pantanais, destacando-se pela beleza e nitidez da obra o das margens do Me- riti.

Prosseguem aterros como o de Manguinhos, no Distrito Fe- deral, sobre os lamaçais da foz do rio Farias, dando-nos uma área enorme para os planos urbanísticos. A colmagem na- tural pela descarga sólida dos rios, em vários pontos foi orientada e intensificada pela conservacão do mangue, e, como sulcos mes- tres de perfeito exaguamento, grandes canais retificadores ou auxiliares da vazão foram rasgados em quase todas as bacias do reconcavo .

Como exemplo da premência das obras do Departamento e da sua utilidade imediata para fins econômico-sociais, basta o caso de São Bento, fazenda quinhentista dos beneditinos que por três séculos e meio lutaram contra o pântano. Desapropriada em 1922 pela Emprêsa de Melhoramentos da Baixada Fluminense, e passando em 1931, ao Domínio da União sendo nela iniciada a colonização racional, construindo-se prédios e desenvolvendo-se plantações antes mesmo de terminadas as obras de saneamento.

Igualmente em Santa Cruz, serviços de grande vulto foram desenvolvidos numa zona em que as condições naturais de um solo fértil e próprio a colonização intensa enriquecem a velha fa- zenda imperial. Escolhido o canal do São Francisco para escoa- douro principal das cheias, com vertedouros que conduzirão ines- perados volumes d'água para o Itaguaí, ao longo daquela via líqui- da e do Guandu-Açu, diques foram projetados com eixos distantes de 300 metros e com um coroamento a um metro acima da cheia maior prevista, alargando-se dêste modo o leito maior do último dêsses rios t: impedindo-o de extravasar.

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obstruido d e vegetação. . . (Foto DNOS)

Fig. 147 - . . . antes q u e o Departamento Nacional d e Obras de S a n e a m e n t o os trans- formasse e m m a g n i f i c o s canais navegáveis, como o de Arapucai .

Fot .DNOS)

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Fig 148 - Não reincidindo n o ê r r o de c o m i s s õ e santeriores q u e se l i m i t a r a m à desobs -trução da foi dos rios, o DNOS executa a l impeza destes e a sua re t i f icação a t é as

cabeceiras(Foto DNOS)

Fig. 149 - A construção de diques protege das enchentes as margens baixas e alagáveis,como as d o Iguaçu. Os canais laterais dei- xados pela escavaçáo recebem as águas das planícies marginais q u e são bombeadas

para o rio por estaçoes elevatórias.

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F i g . 150 - Por a q u i passara um c a n a l . . . ( F o t o DNOS)

Fig. 151 - A r e m o c á s d e g a l l ~ a d a s a o s rzos o b s t r u i d o s é u n t a d a s m a i s laboriosas t a r e f a s d o D e p a r t a m e n t o .

( F o t o DSOS I

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FIE. 1.52 - Conz tada sacrificios na Iimpezo dos rios r! que o opcrdaio do DNOS preparu' a base jisica 110 recdncato da Etaa~iabara.. .

(Foto 13x0s)

Ffa. 153 - . . para o conldrto dos ntillz6cs d e Itabitantss do grande Rio d e Janeiro do fZLtU70.

(Fota DNOSi

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Fig. 154 - N ã o menos penoso é o trabalho d o s e n g e n h e i r o s ,operando e m terrenos alaga- dos. e m levan tamentos que exigem grande

precisão.

(Fo to DNOS)

Fig. 153 - Onde outrora dominara o p â n t a n o , canais , estradas e pontes t r a n s f o r m a ma paisagem, possibilitando a p e n e t r a ç ã odo h o m e m

(Fo to DNOS)

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Fiq. 156- O rio Majé , à margem do q u a l CRISTÓVÃO DE BARROS f u n d o uo primeiro e n g e n h ode açucar do recôncavo, pouco após a conquista da Guanabara.

(Foto D N O S )

F i g . 157 - O rio Majé após a canal i zação vendo-se ao f u n d o a cidade.

(Foto DNOS)

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Fig. 158 - Cada setor a cargo cio Departamento t e m s e u s problemas próprios a serem resolvidos. N a baixada d e Sepetiba. além dos vários canais e v e r t e d o u r o sque se entrecruzam. foi necessária a cons trução d c u m

barragem n o Guandu-Acu para o contrôle do equilibrio hidráulico n a grande planície. (Foto DNOS)

Fig. 159 - Foi assim que o Departamento encontrou o rio Estrêla, outrora d e águas limpas e com intensa n e v e g a ç ã o Hoje. tècnicaniente canalizado, já se encontra de n ô v o aberto ao

trafego fluvial. (Fo to D N O S )

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Fiz 160 - Igualmente obstruido achava-se o Iguacu, um dos mazs tmportanter rio? do recÓnca2i0, quer n a zona das planictes marttznaa;. . .

(Fo to DNOS)

Fig. 161 - qtier e m quase todo o curso até a zona ntontanliosa. A q u i o ventos da pr,,?i!c n o caniinlro d o Sunga-a-Saia, pitorzsca desigiiacáo popular b e m sugestitia da intrcinsi-

tabilidade dessa estrada antes d o saneamento regional. (Fo to DNOS)

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Fig. 164 - O viaduto de Sáo Francisco na baixada de Sepetiba em tempo de sêca.

(Foto D N O S )

Fig. 165 - Pormenores do viaduto de SãoFrancisco, nos quais se notam a solidez e o

acabamento da obra. (Foto DNOS)

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Fig. 16ü - A c m p l e z t d a d e dos probZemas de saneumento da Bafzarãa exige muita vez a cona:rLçdo d e obraa uuxlEiare8, como neste caso da eatabili- z a ~ á o da Barro d a Tijtrca, onde u m viaduto auxiliar foi nscessbrio para o transporte d e pedra d e uma a outra margem.

(Foto DNOS)

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Fig. 167 - Completando o saneamento, o G o v ê r n oFederal e o d o Estado d o Rio cons- troem magnificas rodovias que aceleram a evolucão económica da Baixada F l u m i n e n s e

Aqui vemos u m trecho da rodovia Rio- São Paulo. (Foto D E R - RJ)

Fig.168 - Ê s t e solo humoso mas inút i l dos pantanais da Bairada, gretado com as s o a l h e i r a s ,torna-se fertilissimo após o saneamento e com o trabalho dos arados.

(Foto DNOS)

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Fig. 170 - E m substituiçãcy aos engen i~os de acúcar e aos cafèzais extintos, a larania cultivada e m grande escala é já u m dos inzimeros produtos agricolas que mais co?itrlbuem

para o rejuvescimeiito econômico d o recôncavo. (Fo to DNOS)

Fig. 171 - Outro produto é o arroz, de grande rendimento nas planicies saneadas de Santa Cruz .

(Fo to DNOS)

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Fiz. 171 - Tmiintr.?. . . (Foto DEOS)

Fiz. 173 - . . . e tbrla a sorte de IPqrintrs comecam a acr produ:idos rin orniidc escala apos o sanealrlento d o rcc6itcoco. srndo qne a IlortiC1tltiira Piicolrtrn i i i irdiato consuiiio

no crescente mercwio r~cinlro d o Rro tic Jn i i r i ru . (Pato DUOS)

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r.:- l i 4 e 175 - A Q ornii~as-iiioriiin ?ir sr nprrwntr im ramo l ima dos proniissoras fontes ~cuiidiiricas ?irira o r r h c ~ i i r p i r i t rir1 o rlrr liairariu d a Giiaiialiclro.

(Foto DNOS)

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As águas das chuvas serão dirigidas para o Itaguaí e para os canais secundários Itá e Guandu, abastecidos por uma barragem de concreto com adufas na confluência do São Francisco e do Guandu-Açu. A esta rêde entrosa-se o sistema de canais menores Guandu-Mirim, Gaiaba, Água Branca e Cação Vermelho.

Perfeitamente estabelecido, assim, o equilíbrio hidráulico dos rios que encharcavam a planície de Santa Cruz, toda uma região preciosa para o Rio de Janeiro foi posta a disposição das atividades humanas J á em 1939, meia dúzia de anos após o início dos tra- balhos, só nesta bacia do Guandu-Açu 1200 quilômetros quadra- dos estavam definitivamente saneados - área bem maior do que a de todo o Distrito Federal -, ao mesmo tempo que em Jacarepaguá e no recôncavo mais de 400 quilômetros quadrados eram dessecados. Isto sem contar as centenas de quilômetros qua- drados de bacias parcialmente exaguadas por trabalhos ainda em marcha. "s

Com as suas poderosas drag-Lines terrestres de caçambas de arrasto, com as suas dragas flutuante de alcatruzes, de sucgão e recalque, cam os seus scrapers puxados por tratores, toda a Baixada fora intensamente ferida de largos sulcos que drenavam rios limpos de galhadas, de velhos barcos naufragados, de toda uma pesadís- sima vegetação aquática manual ou mecânicamente remo- vida, equilibrados em leitos definidos por endicanientos e reg~~ladns por barragens.

Até aquêle ano já o Departamento desobstruíra 3 800 quilo- metros de rios, mantendo aliás a conservação dos trabalhos apenas com uma despesa anual de "cêrca de 1/10 da despesa inicial feita com a primeira limpeza".

O seu programa fora cumprido sem descontinuidade, graças a uma única administração perseverante, impossível de existir sob a intermitência administrativa anterior, mutável com o intercssv dos políticos.

Seis eram as categorias de problemas enfrentados pelo Depar- tamento. a recuperacãa das áreas alagadas periòdicamente pelas marés; a defesa contra as inundações; a dragagem de novos leitos para rios que se perderam em brejais, a ligação permanente das lagoas costeiras com o oceano, a drenagem subterrânea de deter- minadas áreas e as obras de arte E em todas elas magnificamente se verificavam definitivos resultados, expoentes de uma técnica precisa e da persistência no trabalho.

A fim de qualificarmos o critério da primeira, basta dizer que os projetos "sistematicamente alcançavam a bacia de cada rio, com as medições efetuadas, a área, a configuração e a constituição geológica, as observacóes do nível d'água, as chuvas registradas a

'"li -- ARAÚJO GÓIs, Hildebiailclo d e : Baixada F l u m i i ~ e n s e Rio, 1939

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comparação com outros cursos fluviais onde se executaram tra- ba lho~ an&logos". Para avaliarmos o segundo, constata-se que só na bacia do Iguaçu havia até então sido escavado 1000 000 de metros cúbicos de terra em 37 quilômetros de rios, dos quais 350 000 com 10 quilômetros de dragagem na bacia do Sarapuí, 200 000 com 6 quilômetros nos rios Estrêla, Inhomirim, Saracuruna e Imbariê, 50 000 n a bacia de Jacarepaguá, com 4 quilômetros de escavação, 500 000 com 18 quilômetros na do Guandu-Mirim e 160 000 com 8 quilômetros na do Itaguaí, nesta incluídos canais e valas *'"

Um total de 2 260 000 metros cúbicos de terra escavada em 83 quilômetros de ricas da região da Guanabara, sendo que mais de 3/4 dêstes serviços beneficiaram o recôncavo

Na própria cidade do Rio de Janeiro realizaqões notáveis fir- mam o nome do Departamento. Já mencionamos o que êle fêz na foz do rio Farias, em Manguinhos e podemos acrescentar a rigo- rosa drenagem subterrânea dos 900 000 metros quadrados do Campo dos Afonsos, onde os pilotos da nossa Força Aérea encon- tram haje em toda parte pistas firmes, mesmo após os grandes aguaceiros anteriormente responsáveis por frequentes acidentes de aterragem com os lamaçais deixados pelas chuvks

Uma das maiores transformações da paisagem humana do recôncavo decorrente da ação polidinâmica do Departamento foi a sua contribuição a0 sistema rodoviário As suas numerosas pon- tes de concreto armado verdadeiramente inauguraram um novo ciclo de circulaçáo, desafogando-a de passagens anacrônicas e in- coerentes com as novas diretrizes de colonizaqão surgidas com o saneamento Através delas, muita vez lançadas entre glebas ou- trora desertas pela improclutividade, transitará toda uma vida nova ao longo de rodovias sobre extintos pântanos, com um futuro recôncavo populoso.

Até 30 de junho de 1945, pode-se resumir o enorme trabalho do Departamento nas seguintes cifras.

Baixada Baixada Fluminense da

(Total) Guanaba? n

Limpeza de rios . . . . . . . . . . . . 6842,977 km 3 256,242 krn Endicamento de alvenaria . . . 47 881 m3 - Volume de terra movimentado 45 542 512 mJ 23 218 822 m:+ 402 pontes construídas . . . . . 5 380,080 km 1 924,250 krn

A limpeza dos rios excede ao comprimento total do Amazonas com os seus 5 800 quilômetros d e curso, e das 402 pontes construí-

, - das, das quais 65 de concreto armado, 204 pertencem à Baixada 'iiij - ARAÚJO GÓIS, Hildebrando de: Obr c i t , pág 41

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da Guanabara, devendo-se destacar n a vizinha baixada de Se- petiba, o magnífico viaduto de Santa Cruz, cruzando o leito maior do rio São Francisco e com 400 metros de extensão.

Centralizando-se nestas pontes como novos marcos fincados pelo Departamento para o balizar de uma nova civilização, poderão os geógrafos com segurança prever por quais rumos se encaminhará o povoamento dos contornos da Guanabara, desta vez não mais adstritos ao curso de rios e a nesgas de terras justafluviais, mas locomovido pela mecanização dos transportes terrestres, aceiera- dos transversalmente aos caminhos líquidos da velha civilização que se afogou nos tremedais.

Quem analisa essa obra monumental já executada não duvida que o projeto se termine por uma trama de estradas e caminhos a se esgalharem das rotas principais que atravessam a cintura da Guanabara .

"Convergindo para estas linhas fundamentais, bem como para as ferrovias, muitas estradas de segunda categoria, além de outras existentes que não oferecem boas condições de tráfego, devem ser construídas . Finalmente nos municípios, rodovias de terceira cate- goria completarão a rêde que se pretende traçar na Baixada Flu- xninense .

É indispensável considerar o problema dos transportes na região beneficiada, que permitirá o acesso às terras saneadas e o escoamento dos produtos agrícolas para os grandes centros de consumo e exportação.

Compreende-se assim que o govêrno organize um plano geral rodoviário para toda a Baixada Fluminense, que será executado logo após o dessecamento das áreas alagadas". 227

Os velhos caminhos fluviais não serão entretanto abandana- dos. "Com a desobstrução dos rios a dragagem de canais, abrem- -se novas possibilidades para a navegação interior, principalmente nos cursos d'água que desembocam na baía da Guanabara, que pelas profundidades que apresentam e pelo declive dos seus vales permitem a propagação da maré por longas extensões".

"Já se nota no Meriti, Iguaçu, Estrêla e Macacu, um renasci- mento do tráfego fluvial". 22"

Estamos pois em presenqa de uma obra ciclópica, da qual apenas apresentamos um setor das realizações efetuadas na Bai- xada Fluminense, a qual "abrange uma área de 17 000 quilômetros quadrados, quase toda afogada em vastos pantanais onde imperava a malária". Caso andássemos por ela toda, continuamente vería- mos a mesma energia no trabalho, a mesma repetição de canais que sulcam extintos tremedais, os longos diques protetores, adufas

2" ARAÚJO GÓIs, Hilclebiando de: Obr cit , pág 61 -98 ARAÚJO GÓIs, Hilãebiando de: Obr c i t , pag 61

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barragens e comportas, drag-íines agitando os longos braços sobre as planícies numa incessante atividade escavadora. Caso voásse- mos sobre o litoral brasileiro do Rio Grande do Norte ao Paraná, intermitentemente veríamos a mesma agitação na luta contra os pântanos de uma terra abandonada pelo mar em épocas recentes, e que o homem torna rica e produtiva, bastando citar o saneamen- to de Recife pelo engenheiro CAMILO DE MENESES, obra de fins xrbanísticos imensuráveis para a expansão da grande capital nor- destina.

Prevê-se para o Rio de Janeiro uma população de 5 300 008 habitantes no ano 2 000, por prognósticos estatísticos que talvez venham a ser ultrapassados. Antes, porém que as ruas definitiva- mente conquistem os velhos pantanais e as colinas do recôncavo com centenas de milhares de prédios, toda uma zona ainda há pouco desprezada irá desenvolver-se pela exploração agrícola.

Entre os produtos que podem transformar o solo sêca em gleba de produção elevada, destaca-se a banana. Na experiência da fazenda do Mutangê quase toda em extintos brejos das planícies marítimas do Inhomirim, salienta ARAÚJO GÓIS como padrão de uma simples iniciativa particular, 100 000 touceiras plantadas em apenas 150 hectares, que após dois anos e ainda incompletamente formadas, já produziam 100 000 cachos de bananas.

Em 1939 tal era essa producão no recôncavo, possibilitada pelo saneamento, que veio a se tornar um dos principais produtos de exportação. O seguinte quadro mostrw-nos o desenvolvimento dessa cultura na Baixada Fluminense ainda em 1932, ano anterior ao inicio do saneamento:

Municípios d a Baixada Produção de cachos de banana

Majé . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Maricá

Sant'Ana de Japuíba . . . . . . . . . . . . . . . . Rio Bonito . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . São Gonçalo . . . . . . . . . . . . . . . . . . Campos . . . . . . . , . . . . . . . . . . . . . . Capivari . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . - . Outros municípios . . . . . . . . . . . . . . . . .

Em Majé - com quase metade dessa produção -, modernas instalações as margens do Guapi e do Iriri acondicionam os ca- chos em barcos que os levam diretamente ao centro exportador do Rio de Janeiro. Computa-se o rendimento da banana na Bai- xada em "2 000 touceiras por hectare, dando aproximadamente 3 000 cachos de 20 quilos cada um", encabeçando a produção os municípios de Mangaratiba, Majé, Maricá e Sant'Ana de Japuíba.

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Outro produto que em proporções ainda maiores sai dêste setor da Baixada Fluminense é a laranja, cujas vastas plantaçóes se es- tendem atualmente sobre as zonas colinosas das velhas fazendas imperiais.

A região de Mova Iguaçu transforma-se na Canaã da citri- cultura. De 1930 138 caixas de laranjas exportadas pelo Brasil em 1932, num valor de Cr$ 40 179 070,00, couberam 68% ao pôrto do Rio de Janeiro. A Baixada Fluminense alinha-se nesta cifra com 93% do total, e sòmente os três municípios de Iguaçu, São Gonçalo e Maricá, vizinhos à capital, contribuíram com 85% da produl;áo de toda a Baixada

Em 1933, ano em que foi criada a Comissão de Saneamento, só a Baixada produziu 1 296 268 caixas.

Índice das possibilidades dessa velha região no campo da fruticultura favorecida pela grande base marítima de exportação, é o abacaxi rendendo no mesmo ano 11 495 640 frutos, isto é com 98% da produqão total fluminense, cabendo ao município de São Gonçalo 70710 dêsse niimero. A exportação brasileira era então quase integrada pelos frutas de 8 municípios dessa Baixada, cuja proclamada improdutividade, poder-se-ia refutar apenas com o se- guinte quadro.

Exportaçúo de abacaxis em 2939"""

Rio de Janeiro 1 601 922 frutos Pernarnbucmo . . 98902 " Santos 22 099 "

p-

1722 923 "

Sem que insistamos sobre outros produtos econômicos, de acli- mação natural nos terrenos arenosos ou facilmente irrigáveis do recôncavo, tais como a mandioca - afamada pela farinha de Suruí -, o arroz, de ilimitadas áreas de plantio, a horticultura com o grande mercado vizinho da metrópole, a pecuária com extensos campos de engorda para as reses do. interior destinadas ao consu- mo do Rio, apenas mencionando a indústria da cerâmica, ativada desde os mais recuados tempos coloniais com a inesgotável matéria- -prima para os tijolos e telhas com que se levantou a cidade; re- ferindo-nos apenas ao alto nível de grandes indústrias como a do cimento, motores, vidro plano, soda cáustica, estaleiros, material elétrico, conservas de peixe e tantas outras, que anualmente vão surgindo, fácil é prever toda a gigantesca e polimorfa economia dessa Baixada sob o estímulo da capital da República.

?2 1 ARAÚJO GÓIs, Hildebxando de: Saneamento da Baixada Fluminense, págs 446-448

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É esta a responsabilidade que os engenheiros do Departamento sobre os próprios ombros atraíram É esta, em síntese, a finalidade ecumênica da obra de seus técnicos, e de seus operários atolados ein tremedais, encharcados em rios obstruídos onde se abraçam a tronoos e galhadas para os remover.

A êsses engenheiros e auxiliares, fundadores do grande Rio de Janeiro do futuro com o preparo da sua base física, os vindouros milhões de cariocas deveriam certamente erguer o único monu- mento imperecível que é o da gratidão. -

I11 - EVOLUÇÃO DA VIDA CARIOCA

"A cidade trabalha por fazer-se bela; hoje to talmente, para um carnaval ou uma entrada de príncipe; amanhã e todo o m o , por quarteirões, corporacões, confrarias ou COnVentOS, cada peque- no grupo levado por seu zêlo, "mais rico de eo- rasgo que de dinheiro" pondo sua glória, em bem decorar sua capela e seu mosteiro, seu pór- tico e seu lugar de assembléia, seus trajes e seiis estandartes de torneio, seus carros e suas insígnias "

H TAINE: :'Filosofia da Arte" Trad de HE- LENA BARBOSA, Sáo Paiilo, 1934, paz 138

Acompanhando a evolução do Rio de Janeiro, desde o pe- queno arraial no morro do Castelo, até o súbito desenvolvimento no século imperial, capacitamo-nos de que essa marcha foi-lhe imposta por um determinismo natural Não foi a simples vontade humana que deu origem a cidade, sobrepondo a uma paisagem litorânea e bárbara uma civilização trazida de além-mar Mas sim os impositivos geográficos que atraíram conquistadores e imigrantes para uma baía excepcional, cavada em zona estratégica e de fatores unitivos das inter-relações econômicas e políticas do Brasil meridional.

Foi a pressão de tais fatores que imperativamente impeliu o homem contra uma ambiência adversa ao urbanismo, pois que ruas e alicerces requeriam um não cessar de entupimentos prévios de pauis esparsos, sobre os quais a cidade antiga quase inteira se expandiu.

Fora do brejo a escolha era a restinga estreita anteposta as invasões do mar, ou a subida íngreme de morros sobranceiros a um dilúvio A lama justapunham-se pedreiras ou encastas de ram- pas vivas, *cansativas para o colono, distanciadas muita vez das praias e desinteressantes para o mercador de olhos fitos n,os navios

O comércio exigia a planície para o negócio. A fácil interco- municação da fazenda com o armazém, as rápidas idas e vindas à venda e a loja, desembaraçadas correntes de intercâmbio entre o mar e a terra, o entreposto e as naus, a vila que crescia e os pequenos rios do recôncavo movimentados de canoas e barcaças.

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Tais foram essas exigências que, afinal o próprio govêrns avêsso ao abandono do Castelo, viu-se impelido a compartir da vida da planície. Um ou outro edifício público foi-se erguendo nos aterros, até que toda a vida administrativa da cidade baixou do morro, crescentemente ramificando-se do punho militar dos governadores para a burocracia civil da nascente burguesia.

Foi assim que o Rio de Janeiro começou vagarosamente a dominar o pântano, e sobre êle a recruzar as ruas estreitas que ainda existem na cidade. Vimos o que foi essa luta de três séculos, estágio mais demorado em sua evolução, a qual veio definitiva- mente a desabrochar em fins do novecentos com o arruamento da Cidade Nova.

LuÍs EDMUNDO em sua esplêndida obra de arte e erudição O Rio de Janeiro no Tempo dos Vice-Reis, por vêzes não dá tento a formidável obra colonial do carioca ao levantar a cidade, desme- recendo-a em trechos de seu livro. Assim é que, ao referir-se aos trabalhosos primeiros séculos de adaptação do homem ao meio pantanoso, resume a sua exposição em duas frases: "Fêz-se, no entanto pouco, muito pouco. Aterra-se a lagoa do Boqueirão e traça-se o Passeio Público".

Aterra-se a lagoa do Boqueirão! O que significa isto para uma rala população de parcos recursos financeiros e sem a mecanização dos processos saneadores! Numerem-se os prédios da cidade antiga, verifique-se a sua atual estatística demográfica, anotem-se os arranha-céus e todo êsse formigueiro humano que por ali se apres- sa entre a Uruguaiana e a 1.0 de Março, e de relance vislumbrar- -se-á que tudo isto seria impossível sem aquela frase por si s6 reveladora de uma obra formidável para o tempo em que foi feita: Aterra-se a Zagoa do Boqueirão!

Foi sobre essa planície alagada, onde nasceu o Rio de Janeiro, que o carioca impertigando-se contra o meio, se transplantou e vigorizou a sua descendência pela seleção, fazendo crescer a sua cidade. Vivendo, embora, num prodigioso cenário de montanhas, com êsse hereditário treino contra o pântano, até hoje preferiu êle a planície.

Em fins da Colônia e nos começos do Império, com a vinda do café quase todos os morros foram trabalhados. Sobre êles se alastraram as primeiras plantações após a queda das florestas primitivas. Mas o homem, se os subiu em fainas agrícolas, não se fixou nêles para morar. Sempre voltava à planície onde a cidade tentaeular se estirava para cxs vales acolhedores, refrescados de riachos que desciam da montanha, cujas sombras mais depressa o refrescavam nos entardeceres das canículas tropicais.

Os velhos mapas mostram com eloquência êsse horizontalis- mo urbano, em toda a evolução urbanística do Rio de Janeiro, vendo-se pelas cartas atuais como êsse homem torrado pelos ve-

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rões despreza as altitudes, apegado aos raros plainos que ainda restam a invasão de prédios e arruamentos, nos distritos orientais que contornam a serra da Carioca e onde mais densa é a população Neste propósito ainda persiste nos distritos do norte e do oeste, onde em idêntico menospreço aos climas montanhosos, prossegue êle através das planícies dos subúrbios.

Por sua própria formação histórica, o carioca é um homem de planície.

Fugindo ao morro salubre atolou-se na paul. Deviam, pois, ter sido necessàriamente construídas sobre esteios as primeiras casas a elevarem-se de um solo em que a umidade trescalava, fil- trando-se pelos soalhos quando os havia, ou refriando os chãos batidos mais comuns.

Antes que os oleiros desenvolvessem a sua indústria, o adôbe, a lama palmeada entre as malhas de cipó e taquarucu, solidificava- -se em paredes rústicas, alvejadas a cal de concha. Aos poucos, porém, a telha e o tijolo foram tomando o lugar do sapê e do barro cru. De par com a palhoça endireitava-se a casa térrea, em ruelas baixas que intervalavam os primeiros sobrados, casarões a imparem sobre o casalejo humilde como o ventre de seus donos, mercadores fartos com a abastança do recôncavo.

A capital do sul apresentava por todo êsse tempo dos primei- ros governadores o mesmo aspecto rasteiro dessas velhas cidades litorâneas prostradas em arruamentos de um singelo casario, hoje à espera das picaretas.

Estávamos no Rio de Janeiro das pescarias, da carne e do azeite de baleia, da farinha de mandioca e das fôrmas de açúcar, alim~ntos então básicos da população toda entretida com as suas rêdes, com as suas canoas e com os seus balcões, numa troca direta de mercadorias devido a falta de dinheiro.

A baieia era então grande fonte alimentícia. Relata-nos AN- CHIETA O seu encontro, ao' vir de São Lourenco, "com cardumes de baleias que ali costumavam vir parir, em tanta quantidade que os remeiros da canoa não sabiam por que parte haviam de remar, porque de todas as partes se viam cercado's". 230

Era a época. das flotilhas de canoas prontas a descerrarem as velas de algodão para "entre gaitas e tambores7' demandarem os fundos da baía em busca dos cardumes providenciais.

Em terra, crescia vagarosamente a vila. Ferreiros, carpintei- ros, pedreiros, sapateiros, taberneiros, formavam na dianteira dessa plebe chegadiça, com a posse dos escravos que os aburguesavam. O primeiro crisma da praia do Flamengo foi o de praia do Sapateiro, como a rua visconde de Inhaúma foi de inicio a rua dos Pescadores.

mo VASCONCELOS, Pe Simão d e : Viria do Venerúuel Padre JosB de Anchieta. Rio, 1943, v01 11, pág 52 .

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O nível da sociedade em formação media-se com o prestígio exclusivamente comercial ou utilitário das profissões e ofícios por demais preciosos num vilarejo isolado entre as selvas americanas

KNIVET, que chega ao Rio em 1592, presencia essa vida qui- nhentista. O Castelo, ainda "o núcleo maior e mais importante" da cidade, com o "Colégio dos padres da Companhia, a casa do governador, a câmara e cadeia e as principais fortificações", tudo porém em "âmbito apertado em que se sacrificava o plano melhor dos arruamento a necessidade da defesa, cousa então essencial, em vista dos frequentes assaltos e golpes de surprêsa dos corsários e dos ataques traiçoeiros do gentio rebelde ou inconstante" 231

Viu êle o início da luta contra o pântano; como o carioca tivera de descer o monte "rodeado de mangues brejosos do lado de terra" e que simulava uma península, não raro transformada em ilha por efeito das grandes marés, ou das chuvas diluviais que inundavam as baixadas arredor. Relata-nos como "viviam os moradores pobres do que pescavam os seus escravos africanos", a pesca de caranguejos pelos mangues ainda nos "fundos dos quintais", as grandes pescarias de Majé que tanto "davam para abastecer a cidade todo o ano" com as salgas de peixe, como o azeite para iluminação

Sua vida de prisioneiro identifica-se a do homem do povo no recôncavo, em cujos "engenhos e fazendas a beira-mar, havia sempre gente a pescar, quer para fornecer alimento a escravaria mais ou menos numerosa, quer para o fabrico de azeite", pois que "nesse mister se empregou por largo tempo no engenho do gover- nador", "ora transportando canas para a moagem ou cortando lenha de mangue para cozer o açúcar".

Bom juízo podemos fazer dêsse Rio enlameado, "não raro t

r

ansformado em ilha" pela magnitude das inundações conforme o dizer do pirata, 332 ao vermos ainda hoje certos bairros maríti- mos do Rio de Janeiro com toda a sua rêde moderna de esgotos, submergirem com as grandes chuvas a ponto de canoas trafegarem pela avenida Beira-Mar em Botafogo

Para um tal meio e uma tal vida, um povo rude E foi o que tivemos

Tudo gente forte pois que o débil sucumbia ou não ousara afrontar o sacolejo das aventurosas travessias no bojo dos cara- velões Assim foi toda essa plebe que nos enviava o Portugal do século XVI, onde no dizer de CAPISTRANO, O homem "era fragueiro, abstêmio, de imaginação ardente, propenso ao misticismo, caráter

SAMPAIO, Teodoro: Pelegrinaçúo d e AntÕ?lio Kitiuet n o Brasil, 720 Século X V I Rev do Inst Hist a Coisáiio companheiro de CAvENnIsH e que com êle tomaia paite na pilhagem da

vila de Santos, foi KNIVET posterioimente com vários outros feridos abandonados pelo grande flibusteiio na ilha de São Sebastião, após o desastrado assalto a vila de Vitória, no Espírito Santo Prisioneiio dos poituguêses, foi levado pala o Rio de Janeiro com alguns dos companheiros sobreviventes

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independente, não constrangido pela disciplina ou contrafeito pela convenção; o seu falar era livre, não conhecia rebuços nem eufe- mismos de linguagem".

"A têmpera .era rija, o coração duro. As cominações penais não conheciam a piedade A morte expiava crimes tais como o furto de um marco de prata. Ao falsificador da moeda infligia-se a morte pelo fogo e o confisco de todos os bens.

Com a rudeza de costumes que assinala aquêles tempos, a segurança da própria família e haveres dependia em grande parte da força e energia individual, daí frequentes homizios, agressões, ferimentos e mortes que habituavam a contemplação da violência e da dor, infligida ou recebida Crueza que hoje denotaria a vileza de um caráter perverso, não tinha nesses tempos semelhante sig- nificação". 233

Foi êste o homem que para aqui veio. Foi êste o pioneiro carioca. O mesmo que andou pela África e pela Asia apavorando reinos seculares. Fiéis seguidores dos ALMEIDA, dos GAMA, dos PACHECO, ferozes capitães saqueadores de cidades, chacinadores fanáticos que andavam a ventura na implantação do Império Português.

Misto de idealista e de facínora, tão bem pintado na pitoresca linguagem de FERNÃO MENDES PINTO em sua Peregrinacáo, onde "com o nome de Jesus na boca" prefaciam-se medonhas chacinas indiferentes a idade e sexo, "porque Deus Nosso Senhor por quem pelejávamos, nos ajudaria contra os inimigos da sua santa fé".

Era ainda o sangue carioca e dos sucessores de ALBUQUERQUE, "leão do bramido espantoso nas ondas do mar", no gongorismo do cronista, ou mais realisticamente apenas "leão dos roubos do mar" no conceito de um príncipe de Malaca. Era o sangue do cruzado evoluído para a cobiça da fortuna com o Renascimento. O sangue dos soldados-mercadores que, ao escaramuçarem contra piratas rnamoetanos enfurecidos pela concorrência, e "esforçando-os ali NOSSO Senhor" e animados "com o nome de Cristo Nosso Senhor por quem chamavam continuamente, os acabaram ali de os matar e consumir a todos". 234

Era êste o sangue carioca. O do homem necessário ao meio. "A dureza da têmpera correspondia extensamente um aspecto agreste, a força muscular era tida em grande aprêço. Cercear com um revés de montante uma perna de boi por meia coxa ou decepar- -lhe quase todo o pescoço eram feitos dignos de recordação histó- rica", diz-nos ainda CAPISTRANO .

Sem êle não desalojaríamos o francês e o tamoio da Guana- bara, sem êle não se faria o Brasil num tatear de arremetidas de

xi" ABREU, Capistrailo: Capitzalos d e História CoZo?~ial, págs 19-20

MENDES PINTO, Fer11Ao: Peregr ina~úo, Lisboa, 1908, cap LIX, pág 179

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Bandeiras, as apalpadelas através de um meio incógnito Para a rudeza das imensas descobertas era imprescindível essa confoima- ção ainda semibárbara, porém disciplinada pela influência espiri- tual de uma inflexível fé.

Rude por conseguinte foi toda esta fase inicial do Rio de Ja- neiro. Rudes os costumes e a vida. Áspera e grosseira a trama social a entrelaçar-se inicialmente. A sociedade era exclusivamen- te a do trabalho manual. Não se lhe viam florescências culturais denunciativas de uma iluminacão interior, a. não ser nos jesuitas moral e intelectualmente superiores, em outras ordens religiosas que, embora de menor influência e atuação, já também deixavam entrever com o erguimento de conventos um alvorejar de pálidos vislumbres de uma arte religiosa futura, que ainda hoje nos mara- vilha com as preciosas talhas douradas das suas igrejas.

Por todo aquêle fim do quinhentos a vida carioca foi essencial- mente a do contacto com a terra virgem e a da sua posse, podendo- -se aliás repetir o mesmo do seguinte século, sobre o qual discreta- mente emudecem os historiadores no que toca a emotividades expressivas de uma apuração do sentimento e gosto.

As celebrações da Páscoa de 1641, em que se festeja a Restâu- ração de Portugal, concretizaram-se numa "encamisada", simples passeata a caráter em que tomou parte o governador, seguida de simulacros de escaramuças, de corridas de touros e de cavalhadas. Querem alguns ver nessas reminiscências dos tempos heróicos e que ainda hoje sobrevivem pelo interior, a origem do nosso carna- val de raízes tão diversas, expositor de um espírito em incubaçao na alma carioca.

FROGER que nos visita em fins de 1695 com a esquadra de DE GENNES, em dizeres e gravura - a mais antiga que temos da cida- de -, deixa-nos ver um Rio de Janeiro já um tanto melhorado em sua arquitetura. Os conventos no topo das colinas, as torres de igrejas e numerosos sobrados, indicam-nos pelo menos em sua face marítima, um núcleo urbano que, se bem ainda atarefado com o entulhamento da Boqueirão, já possuidor de uma agradável aparência panorâmica denunciativa de firme evolucão .

Amplos são os encômios do viajante à "grande cidade, bem construída e de excelente aspecto, estendendo-se pela praia desde o magnífico Mosteiro de São Bento até o não menos monumental Colégio dos Jesuítas". Aos habitantes porém, não lhes faz os mes- mos elogios. "Bem vestidos, gravibundos como a gente da sua nação, se mostram ricos amantes do tráfico, possuem numerosos escravos negros, fora várias famílias de índios que empregam nos engenhos de açúcar, mas a quem não querem escravizar" 2:35

Investe contra a escravidão - esquecendo-se da boa leva de negros trazidos d9África na sua esquadra e que acabavam de ser

-".r, TAUNAY. Afonso de E : Rio de Jane i lo de A?t ta?~ho (1695-2831) Rio, 1925, pás 405

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veriaidos -, "a qual tanto desfibrava e amolentava os cariocas que nem sequer eram capazes de se abaixar para apanhar wn objeto de que carecessem". Desbocslse contra a luxrjriw da burguesia e sobretudo contra o clero ígncirante e impudico, exceção dos je- suítas e capuchinhos franceses, excepcionalmente zelosos em suas missões, extremanda-se contra um carnelita que surrara um dos oficiais de bordo.

Dêste seu relancear pela cidade seiscentista, colhe-se q- em- bora pelo correr do s6crrIo as pximitilrras ruelas de casinholas muilo houvessem melhorado com edificaqões menos provisórias - teste- munho de uma economia já firmada -, o espírito burgues con- quanto mais polido pelo dinheiro, já se petrificara todavia por isso mesmo num emparedamente familiar nascida com a diferenciação de classes pela fortuna do comércio.

A união íntima do homem à terra ainda por complementar-se. Dominada havia jA sido a maioria dos estorvos ao urbanismo, des- critos par KNITET um século antes. Consideráveis charcos da Bo- queiráo restavam, porém, afrontando o animo do cdono e impe- dindo pela oposição ambienta1 o relaxar da sua tens% toda ela dirigids contra a meio telúrice. Porque no fundo, o que ainda caracterizava e impeIia todo esse intercâmbio social quase exelusi- vamente mercantil era a adaptação do homem à terra, a incons- ciente pertinkia Isiológica abrindo caminho para a definitiva es- tabilizaçãlo da raça. A rudeza do músculo escavando a subida para 0 coroamento pinacuIax do c&rebro. E tão áspera era esta ascensão que ainda por todo o seguinte século a iremos ver, tangida pelo vigoroso braço dos vice-reis.

Em 1703 náo havia hospedarias e hotkis no Rio de Janeiro, prova da pouca frequência de visitantes. Os fazendeiros da recdn- cavo, di assiduas, pousavam em residência8 próprias ou em casas de amigos e fregueses .

Vida congregada num patriarcalismo rústico, onde embora já se pudesse pressentir a futura amabilidade carioca em "certos portugueses de posição", "muito delicados, afáveis e de excelente trato", a maioria ainda exterloriza hereditários atributos inapaga- da, como "a soberba, a empáfia, a vaidade". "Uma gente cheia de histhias, com idkias exageradissimas sobre o que entendia ser cor- tesia, não admítinão pílhérias nem brincadeiras, acmtelada numa emphfia intangível e feroz em suas explodes de reações aos sen- timentes conculcados"

Ao referir-se dêste modo à burguesia carioca, bem mais fedno o oficial francês, seria para com a massa popuIar, complexa de cruzamentos heterogêneos, mestiça dus sangues mais antagbnicm,

, ral4 deserdada e pululante onde o mulato, o cafuso e o mameluco

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fraternizavam no mais intrincado entrelaçament'o . Era êste povo "atrevidíssimo, de uma insolência e senvergonl-iice acima de qual- quer cálculo. Intratável, mentiroso, velhaco, rixento, insubordi- nado, sedioso, até desbocado como ninguém no emprêgo das mais imundas injúrias7'. A crermos no desconhecido traficante, os due- los seriam comuns nas ruas do Rio de Janeiro.

Com tal gente a ventura pelas vias públicas não é de admirar que a mulher vivesse enclausurada, perdendo a liberdade dos pri- meiros dias. As r ica~as apenas iam a igreja em dias de festa e só a mulher do povo ousava sair a rua, mas de tal modo encoberta por mantas que se tornava incógnita

Excepcionalmente o francês tece elogios a beleza carioca. "Não é possível deixar de confessá-lo, há brasileiras formosas"

Era êste, embora sob um testemunho parcial, o panorama social do Rio de Janeiro em princípios do setecentos, épma de crise econômica pela descoberta das Minas Gerais O êxodo de milhares de habitantes atraídos pel'o ouro, o abandono das lavouras do recôncavo, encareceram a vida e desequilibraram o comércio O saque da cidade por DUGUAY-TROUIN em 1711 e os 600 000 cru- zados do resgate, foram um tremendo golpe para o carioca já necessitado. O Caminho Novo, porém, conquanto acelerando a fuga da população, já começara a reativar o comércio combalido.

O ouro descia diretamente para o Rio As tropas dali saíam para o sertão vergadas de mercadorias O pôrto enfim se abria em definitivo como direto escoadouro dos planaltos A vida carioca atingia um novo ciclo, impôsto pelos fatores geográficos a diversa- mente reagirem numa nova fase cultural A da influência e da expansão comercial e política da cidade sobre as regiões lòngínquas da mineração

O Rio que não obstante a depressão financeira dos princípios do século já era a melhor das cidades brasileiras, iria entremostrar agora, numa rápida ascensão, a precedência dos fatores geográ- ficos na selejão natural das capitais. Em breve São Salvador perde- ria definitivamente o comando administrativo do Brasil.

Os cariocas que então já eram 12 000, alimentados a peixe e a carne de baleia nos anteriores séculos, iriam digerir as manadas de Campos, dos planaltos sulinos e mineiros. De Campos, sobretu- do, onde a invasão carioca se manifestara ativa nos Últimos decê- nios do seiscentos, a obra dos criadores de gado e dos senhores de engenhocas retornava sobre a capital multiplicada em milhares de reses e de caixas de açúcar, abastecendo-a de uma fonte próxi- ma e ativa. Vila Rica e as demais cidades mineiras iriam ali bus- car quase todos os produtos necessários à existência da sua popula- cão, por demais fascinada pelas faisqueiras para delas se afastarem com o intuito de proverem a terra com os próprios gêneros.

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De tudo isto vai tirar proveito a cidade portuária, alvo cres- cente das frotas do ouro, das naus do açúcar, dos cuidados da metrópole.

J á nas primeiras três décadas do novo século, o meio social complicando-se com o aumento da população exigia melhoramen- tos urbanos em conformidade com um novo estágio evolutivo. As- sim foi a canalização do rio Carioca iniciada e algumas ruas calça- das para o tráfego de uma burguesia mais exigente. Dois governadores destacam-se nesse período progressivo. AIRES DE SAL- DANHA, aclamado pelo povo ao regressar ao reino, e Luís VAÍA MONTEIRO, o "Onça", O qual moraliza a corrompida administração, disciplina a tropa desregrada, e fustiga os moedeir0.s falsos e os contrabandistas do ouro. Tamanhos eram o seu zêlo e exaltação que acaba alucinado .

Por fim, vem o conde de BOBADELA, GOMES FREIRE DE ANDRADA, - 1733-1763 -, carn o govêrno mais longo e mais benéfico da Co- lônia. Um dos maiores amigos do Brasil e do Rio de Janeiro e que preparou a capital para a chegada dos vice-reis.

Em seus trinta anos de govêrno modifica êle a vida carioca com as suas reformas. O antigo Paço da cidade - hoje edifício dos Telégrafos -, é obra sua. Por êle é reconstruído o aqueduto da Carioca. Seu nome liga-se a fundação da Catedral, a do convento de Santa Teresa, do hospital dos Lázaros, da fortaleza da Concei- ção e da ilha das Cobras, da primeira oficina tipográfica, da Aca- demia dos Felizes, reunida em seu próprio palácio, das igrejas de Sant'Ana e de São Domingos, de chafarizes, tanques e mais obras que enobrecem o Rio de monumentos e melhoram a vida dos ha- bitantes.

Nomeado vice-rei, não chega porém a tomar posse, por ter vindo a falecer em 1.0 de janeiro de 1763. O título de "Pai da Pátria" que o POVO lhe conferiu, foi o melhor que poderia am- bicionar em recompensa da sua dedicacão contínua.

27 de janeiro de 1763 é uma data fundamental para a cidade. Não obstante a sua magnífica situação portuária, os seus enormes créditos de precedência histórica e a imponência de seus templos ainda a atestarem a sua importância no oitocentos, a Bahia cede ao Rio de Janeiro a primazia de capital do Brasil

Sobrepondo-se a duzentos anos de história, os fatores geoló- gicos e geográficos têm a palavra final. Co'm a mineração gravita para o sul e definitivamente, o centro econômico do pais e com êle o centro político. A influência geográfica do Prata com a crescente ameaça de Buenos Aires à Colônia do Sacramento, também, exige o deslocamento do govêrno para menor distância da possessão es- panhola. A Guanabara atinge enfim os seus destinas, predeter- minados pela Geografia. Torna-se o ponto focal da civilização

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brasileira. E com a projeção social do prestígio dos vice-reis, acelera-se a evolução da vida carioca.

O conde da CUNHA, o primeiro dêles - 1763-1767 -, encontra ainda um pequeno burgo, sendo embora de justiça bem frisar que bastante melhorado por seu eminente antecessor. Mas a luta contra o meio permanecia dura, e com isto uma rude burguesia atacanhava o Rio. Queixa-se o vice-rei "que na cidade apenas viviam oficiais mecânicos, pescadores, marinheiros, mulatos, pre- tos boçais nus, alguns homens de negócio, frades, clérigos, soldados e mendigos, pois que os demais moradores, nobres e distintos, ha- viam-se retirado para as suas fazendas e engenhos, por não po- derem suportar o luxo e as excessivas despesas introduzidas pelos governadores. Daí a dificuldade de escolher vereadores e funcioná- rios para cargos importantes". 237

O meio social caracterizava-se ainda por ausência de refina- mentos, e a vida urbana era socialmente subordinada aos senhores de engenho do recôncavo.

A irradiação palaciana consubstanciada por sucessivas refor- mas, começa entretanto a modificar a facie da cidade colonial. Ao mesmo tempo que se porfiam em manter coesamente unido o território brasileiro imensamente acrescido com as Bandeiras, os vice-reis transformam os hábitos e costumes cariocas com a sua administração enèrgicamente utilitária.

Assim é que, com os calçamentos de ruas, a construção de novos edifícios públicos, de pontes e chafarizes, as obras de for- tificação e de aquartelamento, e o prosseguimento dos aterros, ajustaram eles a cidade a uma plano urbanístico de tão grandes repercussões em sua vida que o aspecto central do Rio de Janeiro pouco viria a modificar-se por muitos decênios ainda do seguinte século.

Com melhoramentos perduráveis fora criado um novo ambien- te que viria sensivelmente afetar a vida urbana. Leis draconianas reprimiam a vadiagem e disciplinavam a moralidade pública. Uma das mais enérgicas providências do conde da CUNHA, pois afrontava o ilimitado poder da Igreja, foi o de forçar ao casamento "os jovens que se destinavam ao noviciado e a ordens sacras", com o intuito de aumentar a população.

O conde de AZAMBUJA, seu sucessor - 1767-1769 -, pouco pôde fazer em sua curta administração dificultada por grande crise financeira. Mas ao terceiro vice-rei, o marquês de LAVRADIO - 1769-1779 -, o Rio e o Brasil devem serviços que o creditam à nossa gratidão. Além de numerosas reformas e novas edificações, os dessecamentos de lagoas e pântanos e a limpeza pública figu- ram entre as suas maiores obras.

-37 COSTA, Nelson: Obr oit , p&g 92

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Fig. 176 - Volta da casa de campo nos tempos coloniais. (DEIIRET)

Fig. 177 - Liteira.

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Fig. 178 - Em princípios do século XIX eram ê s t e s ainda os meios de t r a n s p o r t emais comuns entre a fazenda e a cidade.

(RUGENDAS)

Fig. 179 - Para se ir à lagoa Roãrago de Freitas nos começos do Impérao, os mais íuipiãos m n o s de locomoçáo eram a sege e o cavalo.

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Fig 1111 - Para a s y l i i i p clicicara? rio8 rrrral~al~1p.v (?a czrlatle a lumilta canoca utilrzaUo a coirroca o z ~ a carrocüo com toldo.

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Fkc. 182 - CPiatro~ de pernrorirrtte npitoçao e focos @ C rnnt f i l? la~ desordriis eram srrnpre os c l r o ~ a r ~ z e s . motqiiire?iladou pf los liegros np?iadfiros.

(Drern)

Fi?. 183 - Q~rnse t ~ i d o era transportodo na cubcca do9 ~scra i 'os , mesniri os grandrs cocli es desmontodos.

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Fig. 184 - Transporte de pipas. (CHAMBERLAIN)

Fig.185 - Para as mercadorias destinadas ao interior, o meio de transporte era a tropa que via java centenas de léguas. Aqui vemos tropeiros paulistas no Rio d e Janeiro.

(CHAMBERLAIN)

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Fig. 186 - Transporte de carne no Rio colonial. O t ráfego de carros de boi pela rua do Ouvidor só foz proibido e m 1829.

(DEBRET) '

Fig. 187 - As honras da cadeirinha eram t a m b é m para a mãe-preza ao levar o sinhô-moçoa batizar.

(DEBRET)

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Fig. 188 - " I r m ã o da Opa" c quitandeiros do Rio colonial. (CHAMBERLAIN)

F ig. 189 - A gelosia n a s portas e janelas l e m b r a v a msempre a i n f l u ê n c i ad o sanguem o u r on o colono portugues. Ao c e n t r o u m a quitandeira c u m v e n d e d o rde gamelas, - o p r a t o e a bacia do pobre -, e à direita u m a burguesa carioca a passeio com a criada. ( C H A M B E R L A I N )

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A êle se deve a proibicão das urupemas nas janelas, remo- gando o colonialisrno da cidade, a criação do bicho da sêda, e, entre outras originalidades, a de maior repercussão até hoje realizada na economia brasileira: o início do plantio do café. É ainda êle que inaugura a Academia Científica e a Opera dos Vivos assim denominada em antítese aos pequenos teatros de bonecos.

Em seu tempo, impulso notável toma o comércio marítimo e tão grande se torna a importância da cidade em seu govêrno que sobe a 11 270 homens a sua guarnição.

Não menos benemérito foi o seu sucessor D. Luís DE VASCOX- CELOS E SOUSA - 1779-1789 -, outro grande reformador da terra carioca. Entre outras obras que executou, as de calçamento e o atêrro do que restava da lagoa do Boqueirão, sobre o qual faz êle erguer o belíssimo Passeio Público, atestam a sua visão de admi- nistrador e o seu interêsse pelo futuro do Rio de Janeiro

Homem de ilustração acentuada, muito auxiliou o frei JosÉ MARIANO DA CONCEIÇÃO VELOSO em suas pesquisas botânicas, ao maior dos nossos pintores coloniais, JosÉ LEANDRO e sobretudo a mestre VALENTIM que além de planejar e executar o ajardinamen- to do Passeio Público, embelezou a cidade e enriqueceu a arte brasileira com as suas notáveis obras-primas de torêutica. 2:JY

Em prosseguimento, o conde de RESENDE - 1790-1801 -, com a mesma energia dos predecessores, foi preparando o Rio de Janei- ro para o século XIX. Não obstante, porém, os grandes melhora- mentos que a êle se devem, entre os quais o da iluminação da ci- dade com os primeiros candieiros a azeite de peixe, a eficiência de seu govêrno é obscurecida pela aparatosa execução do TIRADEN- TES. É êle quem traça o Campo de Sant'Ana, atual praça da Re- pública, que viria a ser nos fins do Império, primorosamente ajardinado por GLAZIOU .

Ao culto e criterioso D. FERNANDO JOSÉ DE PORTUGAL, coube em seguida o vice-reinado - 1801-1806 -, em que se destaca pela reforma das tarifas aduaneiras e por suas atividades no interêsse dos dinheiros públicos e da economia popular.

Dois anos apenas restavam ao Último dos vice-reis, o conde dos ARCOS, a fim de aparelhar a cidade, fortificando-a sobretudo contra a ameaça napoleônica, para que, em 1808, com a chegada da Família Real, viesse ela a tornar-se a capital do Império Por- tuguês.

Em menos de meio século, modificara-se o Rio de Janeiro com o prestígio do vice-reinado. Fora-lhe bem fecunda a poderosa em- bora ronceira aparelhagem governamental dos vice-reis. De jus- tiça é porém repetirmos que todos êles prosseguiram apenas ila

2as O traçado atual do Passeio Público deve-se à ieforma do piojeto de FRANCISCO JosÉ RALHO em 1860. (MACEDO, J M : U m passeio pela cidade d o Rio de Janeiro. 2 a ed levista por GASTÁO PENALVA e ASTROGILDO PEREIRA).

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grande obra cultural iniciada por BOBADELA, O qual auxiliado e orientado por um engenheiro ilustre, o general JosÉ FERNANDES PINTO ALPOIM, 239 começara resolutamente a caracterizar em ci- dade a rústica fisionomia da vila colonial, abnegando-se em contínua atividade nos últimos três decênios de uma vida útil.

As características peculiares a evolução da vida carioca no vice-reinado, levam-nos, pois, de fato, a recuar êsse período ao ano de 1733, início do govêrno de GOMES FREIRE. Desde aquela data é que pròpriamente se particulariza uma fisionomia urbana, até então inexpressiva por sua subordinação ao ruralismo do recôn- cavo. A verdadeira cidade com edifícios públicos importantes, com instituições culturais e humanitárias, com ruas calçadas e com serviços públicos bem organizados, começa desde então a se esbo- çar. E isto altera os hábitos e costumes do habitante pela sua adaptação ao meio que se modifica.

Foi porém bastante lenta essa transformação. Até os fins do século XVIII, o Rio continua uma cidade submissa ao absolu- tismo dos vice-reis que, por subserviência e mimetismo tentam copiar a corte metropolitana, beata e protocolar. Daí o desabafar- -se continuamente o povo de uma pesada monotonia, com as per- mitidas e sempre estimuladas festas de igreja.

Neste ponto o Rio de Janeiro era um decalque de Lisboa, superando-a mesmo pela exaltação de um sincretismo religioso, exibicionista de vários cultos africanos assimilados na mestiçagem, cuja enorme influência ainda em nossos dias nos foi revelada por JoÃo DO R10,240 e que ARTUR RAMOS profundamente analisa em seus notáveis estudos de etnografia religiosa.

O aparato dessas festividades acentua-se nas descrições de quase todos as viajantes que ali aportam naquele século, chegando um dêles a dizer que "a aparelhagem religiosa no Rio de Janeiro é mais cheia de ostentação que em qualquer outro país católico da Europa". 242

A sociabilidade, a mescla de classes, e sobretudo a presenca da burguesia na rua, só era admitida sob a severidade e o vigilante controle da Igreja, policiadora de familiaridades com tamanhas etiquêtas que os próprios mendigos em todos os cantos de ruas recitavam orações "em grande cerimônia".

Dava-se isto quando econômicamente a capital crescia. Quan- do os sucessos da mineração lhe incrementavam o comércio e já uma rica burquesia se hierarquizava ao redor dos vice-reis. Quando

"9 Autoi do piimeiro livro impresso no Brasil, o Exame de Bombeiros e do segundo, o Exame de Artilheiros

3 0 RIO, Joáo d o : As Religiões d o Rio R A M O S , Artur: O Negro Brasileiro, Rio, 1934

3'3 COOK, 3 : Voyage autour du Monde en 1768, 1769, 1770 et 1771

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no dizer de BOUGAINVILLE, só em 1762 o quinto real do ouro atingira 119 arrôbas! 243

Luis EDMUNDO ironicamente ressuscitou a vida carioca dêsse período em seu fascinante livro já citado, O Rio de Janeiro do Tempo dos Vice-Reis E se nos abstivermos de pessimismos exces- sivos ante a crua realidade de uma gente em árdua luta com um meio hostil, ali revemos, viva e palpitante, toda a cidade colonial da século XVIII.

As ruas estreitas e mal cheirosas lavadas pelas chuvas e sa- neadas pelo sol, a promiscuidade social de milicianos e frades, de negros quase nus e de funcionários encasacados, de capoeiras e mendigos, de mesuras soleníssimas, de berrantes obscenidades. . . As ruas barulhentas de sinos e de foguetes, movimentadas de animais a solta, de irmãos da opa, de viáticos badalantes e pro- cessionais. . . Tôda uma babe1 de línguas africanas a berrar nos chafarizes. . . Cantilenas de carregadores em cadência. . . Lundus, cl-iocainas, sarambeques das populaças nos pátios das tabernas. . . As ruas das cadeirinhas vagarosas, dos banguês, das serpentinas comodistas.. . As ruas obstruídas de berlindas, estufas, coches e estufins, de paquebotes e de seges de amuar em disparada.

O Rio das festas populares, das touradas e cavalhadas, do Imperador do Divino, das congadas, da "serração da velha", das alegorias que já inauguravam os préstitos carnavalescos. O Rio austero e cerimonioso das cortesias e obrigações, das cabeleiras e tricórnios, do minuete e dos jogos de prendas, da mantilha e do merinaque, dos namoros furtivos e dos casamentos forçados. . O Rio pantagruélico das comezainas portuguêsas . . O Rio ingênuo dos teatros de títeres e da "Casa da ópera" do padre VENTURA . . O Rio do empirismo terapêutica e das crendices medicinalmente milagrosos.. . da Justica atrabiliária e feroz, da forca, do pelou- rinho, das galés. . .

Todo êsse Rio de Janeiro, mau grado a sua evolução, era ainda o Rio dos carros de boi, cujo tráfego pela rua do Ouvidor só iria ser proibido em 1829 O Rio ainda em plena mestiçagem cuja efervescência FREYCINES presenciaria nos começos do seguinte século. "Português, descend,ente de portuguêses, várias famí- lias suíças, muitos escravos africanos do Congo, de Benguela, de Cabinda e de Angola, alguns mestiços relembrando cruzamentos com europeus, seja com os naturais do país - mamelucos -, seja com os negros - mulatos -, tais são os diversos elementios de que se compõe a população do Rio de Janeiro". 2-'"as já neste melt- ing-pot aparecem os primeiros glóbulos clarificantes que iriam gradativamente acentuar a brancura do carioca até os dias atuais.

:".' TAUNAY, A ~ O I I S O d e E : O Rio d e Janeiio de A i ~ t a n l ~ o , pág 439 "" FREYCINET, M Louiç: Voyage ai~tow? d z ~ ?no?ide de lu corvette Uranie 1817-1820

Par i s

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Tão escassos e individuais são êles entretanto ainda que o autor nas pode classificar "numa categoria distinta o insignificante ntimero de negociantes e trabalhadores de outras nações, que, abandonando o solo da pátria, vieram ali trazer a sua indústria ou tentar fortuna".

Era êste o Rio que nos vinha da Colônia. Ètnicamente hetero- gêneo, mas psicològicamente integralizado em hábitos e costumes, instintos e tendências coletivas, pelas rudes mãos dos vice-reis. Tósca e simples, quase primitiva, graças a êles, ao seu enérgico predomínio absolutista, trazia em si, porém, a vida carioca, os qualificativos essenciais das grandes civilizaçóes em germe. 0 ' senso grupalista de comuns afinidades vitais. Um inconsciente nativismo centralizador, a contrabalançar a permanente inquie- t a @ ~ das povos oprimidos. A unidade social cimentada pela pre- potência e o idealismo criador nascido com a revolta. O equilíbrio entre os impulsos individuais e as necessidades coletivas.

Com profundos e inabaláveis alicerces próprios levantados no isolamento da Colônia, a vida carioca pode agora receber os apri- nxoramentos culturais de outras nacões sem perder a sua origi- nalidade.

É o que vai acontecer no século XIX que lhe traz com a abertura dos portos e a Independência o contacto e o entrelaça- mento com a cultura universal. Ràpidamente evoluciona então a vida carioca, irmanando-se aos mais altos padrões da civilização européia.

Porque até aqui vimos quase exclusivamente o homem-eco- n6mico a se debater pelo domínio da terra. Erguer quase instin- tivamente as fundaçoes materiais e biológicas da raça para futuras fllsrescências culturais. Contemplamos a evolutiva seleção dos atributos físicos de uma etnia, preparando-a para a recepção dos primores espirituais. E, a partir de agora, o que iremos ver é sobretudo a reação do espírito sobre a matéria. A inteligência jiluminada por irradiações externas, conduzir o homem para a sua definitiva meta A evolução da vida carioca passa então a subor- díi~ar-se a um crescente aprimoramento espiritual que presencia- remos no capítulo a seguir.

Por enquanto, para que de relance possamos apreciar a com- pleta metamorfose do carioca em todas as suas atividades, em tôdas as suas relações, em toda a sua maneira de pensar e de viver; basta-nos em breves linhas mencionar alguns dos marcos funda- mentais dessa escalada súbita e civilizadosa.

Para os 50 000 habitantes do Rio aglomerados em pequena superfície ao começar o século XIX, o problema dos transportes n~banos era secundário. A bêsta ou o cavalo resolviam a situação dos remediados, e, numerosas seges, cabriolés e traquitanas de

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uso particular ou de cocheiras de aluguel atendiam à gente de recursos.

A cidade começa porém rapidamente a se expandir pelos su- búrbios, e, em 1817, surgem as primeiras diligências que vão a São Cristóvão e a Santa Cruz, a fim de proporcionar condução "às pessoas que quisessem ter a honra de beijar a augusta mão de Sua Alteza". 245

O verdadeiro sistema de transportes coletivos, entretanto, sò- mente aparece dois decênios depois. Em 1838 inauguram-se os primeiros Ônibus a cavalo para São Cristóvão, Engenho Velho e Botafogo, estendendo-se em 1842 as linhas para Laranjeiras, An- daraí Pequeno, Rio Comprido e rua Nova do Imperador - Mariz e Barros.

Em 1868, roda o primeiro bonde de tração animal da rua cio Ouvidor ao largo do Machado, e em 1892, o primeiro elétrico para O Flamengo .

Já existindo desde 1852 a primeira estrada de ferro de Mauá a Raiz da Serra de Petrópolis, em 1858, a Pedro I1 inaugura a sua primeira linha até Queimados. Em 1883, trafegam os primei- ros trens da Rio d'Ouro e em 1886 os da Leopoldina.

As primeiras licenças para automóveis são concedidas em 1903, e o primeiro auto-Ônibus em 1908, e eletrificam-se finalmente em 1937 os trens de subúrbios da Central.

Toda a evolução da vida carioca pode-se medir pelo insigni- ficante número de passageiros transportados pelos quatro Ônibus a cavalo de 1838 e as cifras astronômicas atuais, que, não obstante os recursos técnicos empregados na. circulação, exigem imperiosa- mente a construção de um metropolitano, ou dos ciclópicos viadu- tos, auto-estradas idealizadas por LE CORBUSIER. 247

.F: o que se deduz do número de passageiros transportados na Rio de Janeiro em 1940, pelos diversos meios de condução: 24s

Zona Sul Totais

Bondes . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 93 842 862 Ônibus . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 40341746

%"SANTOS, Noronha: Meios de Transpor te n o R i o de Janeiro R io , 1934, pág. 215. 31G EBLING. Eng Francisco Kiuel: Metropo l i tano . Rev do Clube de Engenhalia, n O 92,

Rio, 1944, pág 127. ?47 LE CORBUSIER: Lu ViZle Radieuse Paris, maio de 1933, pág. 225 248 EBLINC, Eng Francisco Kruel: art cit

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Zonas Norte e Central . . . . . . . . . . . . . . . . . . . Bondes 474 719 864

Ônibus . . . . . ! . . . . . . . . . . . . . . . 50499085 . . . . . . . . . . . . . . . . . . . . EFCB 94 279 678

. . . . . . . . . . . . . . . . . Leopoldina 23 005 767 Barcas . . . . . . . . . . . . . . . . . . . 21134841

Zona rural e Ilha do Governador

Total . . . . . . . . . . . . . 821 052 450

Na data em que escrevemos, o número de passageiros trans- portados anualmente no Rio de Janeiro, deve orcar em cêrca de um bilhão!

Consideremos paralelamente às datas mencionadas que a pri- meira barca de vapor para Niterói navegou em 1835, a primeira linha de paquêtes para a França em 1843, o primeiro sê10 postal que circulou neste mesmo ano, o telégrafo inaugurado em 1854, o cabo submarino em 1873, o telefone em 1877, o serviço de esgotos em 1866. E ainda que a iluminação a gás substitui os candieiros a azeite de peixe do conde de RESENDE em 1854 e que a 17 de janeiro de 1884 se inaugura a luz elétrica em Vila Isabel, e compre- enderemos a extraordinária evolução da vida carioca no período imperial.

Prosseguindo através da República com as enormes obras de remodelação e saneamento de PEREIRA PASSOS, OSVALDO CRUZ, PAULO DE FRONTIN, CARLOS SANIPAIO e HENRIQUE DODSWORTH, con- tinuadores em escala gigantesca da urbanização sistematizada pelos vice-reis, veremos que, nos últimos cem anos hábitos e cos- tumes, desejos e tendências, o pensar e o sentir da coletividade, tudo se modificou ao contacto da Cultura. Acelerada pela técnica, pela ciência e pelas artes, a evolução passa a revolução.

Com esta, arrebata-se e precipita-se a vida carioca, transmu- tam-se os atributos psíquicos primordiais, crescentemente espiri- tualizados. Mas para chegar a êsse elevado estágio de grande metrópole, foi sempre necessária uma tremenda e contínua peleja contra o meio.

Descrevemo-la, resumidamente, nas páginas precedentes. E, revendo-a agora, podemos repetir, como um geógrafo ilustre que bem a conheceu: "Não há cidade que tenha tido tantos combates a desenvolver sobre tantas frentes diferentes: o mar, a montanha, o pântano, a floresta. .. Que esforço de adaptação, que lutas in- cessantes! ... 249

DEFFONTAINES, Pierre: Meditação sobre o Rio de Janeiro Revista "Espelho", junho de 1963.

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IV - FORMAÇÃO DO ESPÍRITO CARIOCA

"O cosmos nutre-se do caos; o mais belo cosmos não passa de caos organizado".

MEREJKOVSKY: Napoeláo. Trad. de AGRIPINO GRIECO. São Paulo, 1934, pág. 24.

1. ANÁLISE HISTÓRICO-SOCIAL

"011 Franca! deste a liiz que de teu sei jor- rava!".

CASTRO ALVES: "No meeting do Comité c l i i Pain".

Entre os demais grupos regionais brasileiros destaca-se o carioca por suas características coletivamente singulares de um povo alegre e humorista, em todas as suas camadas pronto sem- pre a floretear requintes de ironia, a alvorecer as mais sérias dis- cussões de galhofas espontâneas, a motejar dos mais graves problemas de uma vida que aparenta levar em perene jovialidade.

Toda a pujança da sua organização metropolitana, árdua e complexa de atividades, dir-se-ia encobrir-se de uma petulante displicência, dissimular-se num sibaritismo indiferente ao penoso labutar diário de tão vasta aglomeração.

Acusam-no por isso outros grandes grupos sulii~os, menos vibráteis pela frigidez do clima ou magnetizados por um imedia- tismo utilitário, de instabilidade temperamental ligada a uma indolência improdutiva. Nada mais falso, porém, ao vermos a sua incessante agitação, ao analisarmos a sua engrenagem comercial febricitante, ao considerarmos a sua intelectualidade centraliza- dora dos nossos refinamentos culturais.

Confronto instrutivo e bem frisante pela grandeza e vizi- nhança dos oponentes, é o dêste grande centro com o paulista. Na Paulicéia, toda a sua gigantesca mobilidade apresenta-se-nos magnificamente concretizada numa civilização de nitidez angular, superdinamizando-se para a produtividade máxima e tão estru- turalmente industrializada que, no formigamento de seu povo às pressas pelas ruas dir-se-ia exteriorizar-se como que uma me- canização espiritual. Claro que nos referimos a massa popular, e não aos seus escóis esclarecidos de táo vasta atuação em nossos meios culturais.

Bem contrária é entretanto a psicologia do Rio de Janeiro, onde não obstante uma similar paisagem material de grandes fá- bricas suburbanas e uma enérgica movimentação comercial urbana, toda esta realidade cultural nos aparece menos viva de objetiva- ções palpáveis do trabalho, como se por sobre toda a clareza de um projeto de engenheiro, a geometria dos traços lineares e

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incisivos fosse inesperadamente velada por fantasias de mãos de artista.

A visualização do esforço construtivo na economia do carioca torna-se dêste modo menos nítida, em contraste com a do paulista, pela fulguração da sua vivacidade espiritual sobrepondo às suas conquistas materiais um alegre senso de rnundanidade, uma cor- tesia sorridente e comunicável, um regozijo superficial e afável, um criticismo arguto e instantâneo, a graça flutuante e refinada, sintomas aparentes de uma vida fácil, culta e descuidada.

A sua prazenteria desnorteia o severo homem dos planaltos, incompreensivo desta índole hereditária. Por que ela é toda sua Exclusiva da sua cidade acolhedora. Atributo de que se vangloria e preza tanto que, sem êle não se conceberia o Rio de Janeiro. É a sua expressão mais alta, ao mesmo tempo o seu dom e a sua defesa

Contra a política é a sua arma temível e acerada que tempera com a anedota. Com ela vive e floresce. Sai-lhe espontânea dos lábios e vai direta ao alvo Fere, inutiliza, destrói para sempre reputações imerecedouras do agrado público.

Neste ponto o carioca é indiscutive1mente soberano ein toda a política nacional Fisca,liza, acusa e julga As suas sentenças tornam-se inapeláveis pela irreverência do ridículo. Quase instan- tâneamente esfuziam por todos os recantos do Brasil que com elas assimila o sorriso carioca, a bonomia carioca, a gargall~ada carioca.

A irradiação cultural do Rio de Janeiro sobre os destinos do Brasil, enfeixa-se uma poderosa projeção de contínua alegria que o transforma, e dirige aos poucos para uma hilaridade irresistível o romântico espírito brasileiro. É esta uma das mais importantes funções sociais do carioca na formação psicológica do brasileiro, tornando-o um otimista em face das contingências modernas na luta pela vida, preparando-o para um novo mundo que se esboça, onde as relações de homem para homem e de povos para povos, necessàriamente terão' de ser atadas por um cordial contenta- mento coletivo, sem o qual repetidas catástrofes tornarão a desa- bar sobre a humanidade

A origem e a evolução dessa alegria carioca torna-se pois sobremaneira importante pela influência que exerce na mutaqão do caráter do nosso povo Tentemos estudá-las.

Todas as grandes metrópoles americanas têm uma alma essen- cialmente heterogênea, que, além de repartida em classes e sub- classes e ainda subdividida pela mescla de sangues e de heranças psíquicas raciais, complica-se de mutações originadas pelo meio. Paira todavia sobre quase todas o espírito disciplinador da cidade, eminentemente grupalista, o qual pela crescente associação de idéias e de interêsses coletivos unindo cada vez mais essas varie-

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dades étnicas e essa versatilidade espiritual, tende a moldar um padrão representativo da coletividade, a simetrizar cada elemento humano em tipos aproximadamente uniformizados pelos pendo- res intelectuais, artísticos e morais. * dessa luta entre os atri- butos individuais anàrquicamente variegados e a pressão do meio social que nasce o espírito das metrópoles.

Na carioca, todavia, os contrastes são por demais chocantes. A alma das massas apresenta-nos em seu inconsciente uma enorme complexidade psicológica, oriunda da sua própria evolução firmada em fusões raciais das mais diversas sob o imperativo das necessi- dades economicas .

Ao traçarmos a luta do carioca contra o brejo, vimos que, por cêrca de duzentos anos o Rio de Janeiro não conseguira ultrapassar a antiga rua da Vala - hoje Uruguaiana -, e que êste limite do ponto de vista urbanístico pode ser considerado como um dos quatro lados do caixilho a enquadrar a vida colonial urbana. Os outros três, formados pelas praias, eram balizados pelos morros de Santo Antônio, da Conceição, de São Bento e do Castelo.

Relancear apenas mais uma vez essa vida primitiva é divisar um estágio fundamental da formação espiritual do Rio de Janeiro, visto ser nêle que mais tarde viria alicercar-se toda a evolucão da grande metrópole.

Toscas eram, como em quase toda parte sempre o foram, as primeiras levas de imigrantes que, desamparados na longínqua pátria, desertaram-na por um novo mundo esperancoso. Traziam todos, porém, a inata audácia dos aventureiros, a certeza de vencer dos que buscam outras terras para, livres do ambiente social que os esmagava, tentarem acumular fortuna em meio es- tranho. Percebe-se por aí com que rusticidade social se fêz o primitivo ecúmeno carioca.

Gente habituada a todos os reveses, lavradores à míngua de terra em suas aldeias portuguêsas ou habitantes de cidades opri- midos na base de toda a pirâmide social, vinham respirar pela primeira vez em plena liberdade americana e ensaiar os músculos vigorosos em trabalhos bem aceitos, pois que os iriam enriquecer. Nos próprios níveis altos da administração, comumente se assen- tava um fidalgo desenobrecido por audaciosas falcatruas na mãe pátria. Dai o ambiente social pesado. Maneiras e costumes áspe- ros. Atrevimentos bruscos bem conformes ao meio selvagem por desbravar. Organismos prontos para o embate ao tropicalismo estranho, traiçoeiro de armadilhas patológicas. E, sobretudo, uma indomável fé nos recursos próprios, uma inflexível tenacidade à prova de miséria hereditária e da medonha travessia ao boléu das naus e caravelas minúsculas.

No íntimo de todos êles, uma intrepidez capaz de enfrentar todas as surprêsas da temível ferocidade indígena, a fim de escala-

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rem os postos de mando ou atingirem o renome da fortuna, únicos fastos permissíveis a ignorância e à força bruta.

Por isso, fàcilmente se vê o que teria sido o Rio de Janeiro dos primeiros tempos, sob a casca grossa dêsses chegadiços, apenas a, cuidarem do bem material, libertos de convenções a não ser as ditadas pela segurança mútua e pela disciplina moral dos jesuítas que nem sempre os atingia com a firmeza necessária.

A ânsia do ganho sobrepujava o apêgo ao conforto e as medi- das higiênicas individuais. Fora das lides no balcão, nos roçados próximos e nas canoas de pesca, o desleixo no traje caro pela escas- sez de panos, o pé descalço, os casebres em que viviam e as ruas de areia e lama onde perambulavam de permeio com a nudez quase absoluta da boçal escravaria, daria ao Rio de Janeiro o grosseiro aspecto de um acampamento de aventureiros a poluírem a formo- sura virginal de um magnífico cenário.

Era êste o povo em geral, o pescador, o negociante e o artesão, aoda essa pequena burguesia ainda no ensaio dos primeiros passos. E, internamente, pouco deveriam dêles diferir os funcionários de postos elevados, não obstante a vistosidade exterior da indumen- tária quinhentista, ali trazida pelos governadores e seus auxiliares.

A superioridade destas elites manifestava-se quase exclusiva- mente, pelo exibicionismo do vestuário, que os enobrecia. Os man- tos de sarja, os capotes de baeta, os gibões, as calças e as meias- -calças, os mantéus de holanda e de ruão, os saios de pano escocês, as raras camisas de linho, os chapéus de fêItro e os borzeguins de bezerro, deveriam ser pomposamente humilhantes para os calções surrados, a roupeta e o ferragoulo de algodão com que o povo se vestia.

Em dias festivos, co,m desvelos quase litúrgicos, desencofra essa fidalguia da terra de suas canastras encouradas ou de suas arcas maciças o tesouro de algum gibão de veludo com mangas acolchoadas, umas golilhas rendadas, um par de meias de sêda ou de calças-calções acutilados, sapatos golpeados, gorras de plu- mas, possivelmente algum tabardo em segunda mão, de terciopelo ou de brocardo, a peça de roupa mais prendada pela burguesia abastada, e que os mercadores da rua Nova de Lisboa exportavam para a colônia ansiosa de bem parecer pelo vestir.

Aos poucos, .com a riqueza dos engenhos e com a elevação do comércio, torna-se mais visível a separação de classes. Com o Qínheiro, surge a elegância importada. Os tecidos finos mais a miú- do aparecem, como a telilha e o gorgorão, o tafetá e o chama- lote, a escarlata, o catassol, a tiruela e vários outros que amesqui- nham a bombasina, o picotilho, a saragoça, o merlim, a estamenha e o burel da patuléia vestida de algodão e lã . Todo o riquíssimo figurino quinhentista, reflexo de uma época em que a história

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humana se caracterizou pela indisciplina social do Renascimento a desarticular com o seu individualismo criador a rígida engrena- gem coletiva da Meia-Idade, começa a descer das naus com o crescente intercâmbio mercantil, com os novos emissários régios e as suas camarilhas. Lisboa, rica dos despojos do saque às Índias, lê e copia - como aliás toda a Europa dêsse tempo -, as sucessivas coleções de centenas de trajes, que os ENÉIAS VICO, OS PEDRO BER'FEL- LI e os CESÁRIO VECELIO publicam de costumes italianos, particular- mente de Veneza, cidade do prazer e ditadora da moda no quinhen- tos. Lê e copia os modelos do flamengo ABRAÃO BRUYN e do francês JoÃo BROISSARD, levados através do continente pelos viajantes q u e os difundem. Lisboa copia as vestiinentas magníficas de Fioren~a onde o gosto e a pompa no vestir se alçava ao mesmo culto que a adoração pelos grandes artistas, e adota a rigidez dos trajes espn- nhóis, ditados para quase toda a Europa pela vontade imperial de CARLOS V e de FILIPE 11.

Em todo êsse fulgurante período europeu em que com o deça- brochar do Renascimento explodia anàrquicamente no homem a ânsia de singularizar-se, Lisboa foi nessa Europa multicolorida e aparatosa das mais estranhas roupagens, talvez a mais esquisita e extravagante das capitais em maneiras de vestir. 33 que Lisboa, maior porto europeu daquela época, além de um intercâmbio intenso com o resto do continente, a transfigurar a sua vida em todos os setores, era atingida pelo direto influxo de toda a riqueza e finura da velhíssima civilizacão oriental. Em seus cortejos de chegadas de naus da fndia processionavam surprêsas nunca vistas pelo europeu. Galas de vestes principescas, opulências de planzja- mentos policrômicos, requintes de exotismos esplêndidos, que o lisboeta novo-rico, extasiado, copiava.

Porque tudo isto viera inesperadamente cair sobre um povo de guerreiros que até enlão fizera toda a sua história de montante em punho, e cujas espadas e armaduras que vinham de reluzir às soalheiras equatoriais lhe prometiam garantir com novas dezenas de batalhas vitoriosas a forte alegria de viver dos povos fartos pelo imperialismo.

Todo êsse fausto e essa alacridade quinhentista iriam porém de súbito evanescer em Alcacer-Kibir, soterrando-se no misticismo tétrico dos FILIPE, na beatice lúgubre de soberanos absolutjstas, até que o nosso primeiro Imperador cavalheirescamente preferindo a glória ao trono, iluminou n a Terceira, em Almoster e em Assei- ceira uma nova era jubilosa em que o vergasto vocabular dos CAMILO, a pompa vernácula dos HERCULANO, e sobretudo o sar- casmo dinamizador de um ECA e de um RAMALHO, vieram sùbita- mente sacudir o povo das navegações que em duzentos anos de

, melancolia só conseguira momentâneamente rir com as frascarices do gênio de BOCAGE

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A tão apregoada tristeza lusitana foi apenas um pesadelo da decadência. O português não é racialmente um povo triste. Os povos melancólicos não conquistam, não se atiram resolutamente a peleja com o arrojo das transfigurados. E a história portuguêsa em todo o seu período formativo desde Ourique até Alcacer-Kibir, é uma história de a

r

rebatamentos. O fado, genuinamente portu- guês, evoluído da canção romântica do tempo das descobertas e não de origem brasileira como se tem suposto, o que deve refle- tir em sua dolência é o desejo da alma portuguêsa de expelir uma tristeza estranha que assimilou nos séculos da decadência. De expulsar do inconsciente o sebastianismo intruso e taciturno. O fado é uma saudade sonora da alegria quinhentista, onde a própria corte manuelina presidia ao júbilo nacional com o seu elenco de artistas, fazendo-se acompanhar "de músicos e cantores a todas as horas da dia e da noite, chamamelas, orlos, sacabuxas, harpas, tamboris, rabecas, tangedores mouriscos de alaúde e pandeiro, dançarinas de socos dourados, que tocavam, que bailavam", quando El-Rei comia, "quando êle dava despacho, quando êle se vestia, quando êle se metia na cama". Um povo que dera um GIL

VICENTE, maior expositor do espírito e da alma popular no skculo de quinhentos, só podia ser alegre.

Foi essa alegria portuguêsa trepidante e galhofei

r

a, foi a sua franca e reboante gargalhada nascida com a satisfacão da independência, evolvida em quatrocentos anos de vitórias e afinal estrondosa e possante com a nação farta pelos descobrimentos que de início imigrou para o Rio de Janeiro, e que não obstante a memória do guante inquisitorial dos séculos da Colônia, aqui en- contrara o meio propício à sua expansividade nas festivas galas de um cenário exuberante.

Não morreu. A natureza carioca incubou-a, apenas mascarada pela rudeza policial dos costumes no período colonial. Mesmo sob o domínio dos vice-reis no Rio de Janeiro grave de mesuras proto- colares, misterioso de rótulas e de cortinas de cadeirinhas, severo de ritualismos religiosos, opresso de soturnas vigilâncias e de espírito acorrentado por implacáveis legislações, a alma popular do carioca soube sempre espontar de toda essa taciturrridade quando ensejos lhe ocorriam.

É o que se colhe do entusiasmo das suas festas de rua, das suas alegorias, das cavalhadas, das congadas, da serração da velha, dos festejos do Divino, em que uma alegria espontânea, ingênua e tumultuosa espoucava pela cidade carnavalescamente barulhenta, e afugentadora da sisudez daqueles burgueses "bem vestidos, gra- vibundos" que vira FROGER em fins do século XVII.

2" QUEIRÓS SANTOS, Isa: Origenz e EvoZução da M ~ i s i c a ella Po?tugal e SILU I~~iEzlê?acia no Brasil Rio, 1943, págs 131-132.

Obr cit , pág 45

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Em princípios do seguinte século, mesmo nessa burguesia, já iríamos porém ver, com .o testemunho de um viajante citado, a delicadeza, a tratabilidade e as maneiras afáveis do carioca a despontarem prenunciando atributos fundamentais da sua futura psicologia.

Quase todos os escritores estrangeiros que viram o Rio naquele século, não obstante a generalizada hostilidade ao nosso meio social, fazem-nos justiça neste ponto.

BOUGAINVILLE, mau grado a sua ojeriza contra o vice-rei conde da CUNHA, fala da cortesia carioca em 1766. PARNY, em 1773, devaneia sobre a beleza da mulher carioca de "olhos negros-e vo- lúpicos", "propensa ao amor", que já não vive tão encarcerada pois dançava o minueto em um baile a. que assistira. WHITE, em 1787, além de insistir no mesmo tema feminino, frisa o gênio alegre dos fluminenses. Já não encontra êle por êsse tempo o doentio ciúme do português a enjaular a mulher com os seus ina- baláveis preconceitos A senhora de um comerciante rico que visita, e que à sua frente desfizera o penteado a fim de mostrar-lhe o comprimento dos cabelos indo até o chão, arruma-os êle mesmo polidamente. 252

Já então numerosas seges percorriam as ruas da cidade, em concorrência com as cadeirinhas. A sociabilidade exigia para cada família de tom o seu carro particular.

Em 1792, até o fleugmático Lord MACARTNEY, raro espécime de insensibilidade mesmo britânica a beleza panorâmica do Rio de Janeiro, anota "que todas as classes da sociedade fluminense têm um pendor fortemente pronunciado para a alegria e os pra- zeres". O manto que outrora embuçava a mulher desaparecera. Saem elas agora "sempre sem chapéu", com as longas tranças enfeitadas de fitas e flores A tirania da rótula sumira mesmo antes da sua proibição em princípios do seguinte século, visto que as cariocas "a tarde estão todas a janela ou a sacada; amando a música apaixonadamente, tocam em geral cravo ou guitarra".

Pelos seus dizeres, o ciúme patriarcal sepultara-se no passado. "Se por acaso algum estrangeiro se detém a rua para ouvir a música, não raro vem o pai ou algum irmão da executante convi- dá-lo delicadamente a que entre". No Passeio Público, onde "quase sempre havia concertos ao a r livre ou fogos de artifício", iam as famílias cear em pequenos gabinetes reservados.

Desta série de impressões colhidas por TAUNAY, nota-se de pronto uma súbita mudança nos hábitos da burguesia carioca no

2.52 TAUNAY, Afonso de E : Rio d e Janeiro de A n t a n l ~ o Rev d o Inst Hist e Geogr Brasileiro

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século XVIII, não obstante a inexistência do fatos essencial para essa evolução. "Aqui falta a. única coisa que pode valorizar as demais: a liberdade. Tudo aqui está em cativeiro" dissera PARNY, referindo-se ao Rio de Janeiro.

Mas com toda essa barreira oficial, o carioca dera o decisivo passo para a libertação de seu espírito ,com o desenclausuramento da mulher Desde que esta pisara definitivamente a rua podendo ser encarada pelos transeuntes, transformara-se todo o velho edi- fício colonial da família. As rótulas tornaram-se inúteis. Tão inú- teis que logo ao aqui chegar o rei, em 1808, o intendente PAULO FERNANDES VIANA ordenou a sua eliminação.

A luz penetrara enfim nos penumbrosos casarões, e a inata alegria carioca poderia agora livremente irradiar do mais íntimo e do mais puro de seus focos: o núcleo da família.

Tão notável fora essa transformação do espírito carioca, liber- to nos princípios do século XIX, que um dos mais notáveis obser- vadores da época de PEDRO I, inquieta de intrigas políticas e apre- ensiva para o convívio social, refere-se àquele tempo com simpatia. i2 SCHLICHTHORST quem nos diz que "nos começos dêste século, o Rio de Janeiro era habitado por uma gente venturosa e feliz, simples e amável, com o contrapêso de ilimitada propensão para a libertinagem e da preguiça em alto grau".

A intriga amorosa ainda não fora substituída pela política. "Nesse bom tempo a vida social do Rio de Janeiro deve ter sido muito agradável. Ainda agora os brasileiros velhos falam do pas- sado com saudade. Os vizinhos em ruas inteiras formavam como que uma só família, visitando-se sem a menor cerimônia. As conversas eram vivas e livres, intercaladas pela música, a dança e a expressiva linguagem dos olhos. Referiam-se a aventuras com rara delicadeza. Os ciúmes não encontravam alimentos, porque, sendo costume tratar as senhoras casadas e moças solteiras com galante cortesia, as preferências, se as havia, eram tão dis- farçadas que não chegavam a ninguém. A indiscreção em matéria de amor considerava-se crime que só com a morte se pagava". 2j3

Era ainda a Colônia Mas um ambiente colonial de tal ma- neira evoluído que quase o não reconhecemos, sobretudo nessa intimidade familiar de "ruas inteiras". Nas boas maneiras e tam- bém no luxo - embora pesadão e sem finuras -, já surgia expres- sivamente a capital.

Com uma agudíssima sagacidade antropogeográfica, extraor- dinária para a época, faz-nos SCHLICHTHORST ver como a habi ta~áo

-̂' SCHLICHTHORST, C : O Rio de Jalzeiro como é 1824-1826 Trad de EMMY DODT e GUSTAVO BARROSO, pág 50

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influi de maneira incisiva n a formação psicológica de um agrupa- mento, com o notável exemplo da casa colonial carioca. Foi êle o primeiro a notar como as nossas casas construídas "ao gosto português" ajustam-se ao clima e a tradição, acrescentando que "infelizmente porém já se encontram algumas que dêle se dis- tanciam".

A essa arquitetura, elemento urbanístico racial e adaptado, atribui êle a comunicabilidade carioca "Foi ali que pude sentir como é agradável o estilo arquitetônico dos portuguêses, o qual favorece as relaçóes amistosas entre vi~inh~os. Vive-se em socie- dade nos balcões. As paredes que no interior das moradias formani intransponíveis barreiras entre seus habitantes, ali cedena lugar a um leve gradil de ferro. Respira-se o mesmo ar e sente-se o encanto da vizinhança amiga. Dum olhar e dum cumprimento, primeiras formalidades de cortesia, fàcilmente se passa a relações mais íntimas, e assim toda a vizinhança forma uma espkcie de roda familiar, que conforme a situação e as necessidades, ora se alarga ao quarteirão, ora se reduz às casas mais próximas" n5-1-

Já era êste, pois, o espírito carioca naturalmente surto do ambiente penumbroso de duzentos anos de colonização, e que prêso as raízes atávicas dos c.onquistadores quinhentistas por fim con- seguira. desabafar-se do oprimente meio social criado pela politica unitária dos vice-reis. Com o fim dessa política necessária para a conservação da nossa imensa herança territorial, a psique do carioca poderia alvoroçar-se agora com toda a exuberância de seus atributos raciais.

A inata alacridade portuguêsa, franca e sem rebuços, ampla e gargalhante, desencarcerava-se da sdurnidade compulsória. Me- nos rude, porém, não sòmente pela mestiçagem morigeradora de atributos extremistas, não sòmente pelo apuro interno resultante da contemplação hereditária da beleza do cenário, como também pela mesma prisão que a acorrentara. Deve ter sido esta que lhe deu com a íntima revolta secular essa contínua irreverência, o sarcasmo, a mordacidade, o alto senso de criticismo, a fulminante anedota contra os poderosos. Com o recalque enfim de uma natu- reza psíquica feita para o desabafo, a explosão sonora e a livre expansividade, a emancipação da velha atmosfera sufocante leva- va-o para uma vida nova com os sentidos aguçados pelo treino velado contra as interdições coloniais que o oprimiam.

Era portanto já bem visível em princípios do passado século a alegria carioca. A alegria rudemente portuguêsa que nus pri- mórdios importamos, duplamente porém amestiçada pelo negro que a infantilizou e pelo aborígine que moderadamente a restrin- giu. E o meio acelerou a sua evolução.

23 1 SCHLICHTHORST Obi' cit

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O próprio ambiente liberava os costumes com a vistosidade da paisagem tropical, ia-os relaxando com a libertinagem favore- cida pelo clima, amenizava-os pela indolência instigadora de pa- lestras cordializadas de zombarias. A própria inflexibilidade poli- cial que n a metrópole iria simbolizar-se no tremendo cacete de um PINA M ~ I Q U E , aqui paralelamente marcharia para a figura de um VIDIGAL, humoristicamente retratado por MANUEL ANTONIO DE

A L M E ~ ~ em um dos maiores dos nossos romances: Memórias de z~m Sargento de Milícias.

4 hereditária alegria carioca tinha pois raízes atávicas bem nascidas no Portugal das glórias quinhentistas.

Dir-se-á que o Rio de Janeiro não foi o único a recebê-la, mas de maneira idêntica todos (os portos da Colônia dela se beneficia- ram Isto é exato. Porém nenhum dos outros núcleos primitivos que inlnterruptamente evolucionaram para as grandes cidades atuais, teve o seu crescimento processado normalmente e sem acidentes históricos suficientes para uma concentração demorada.

As várias centralizações suburbanas que surgiam nas capita- nias nortistas, padronizadas por Salvador e Recife, além de assen- tadas em locais incomparáveis à formosura da Guanabara, tiveram na adolescência seiscentista uma inquietação constante. Com o batavo Ihes nasce a defensiva sisudez n a facies contraída pela prudência militar. E quando sob os pés dos invasores, a frieza racial e calvinista e a sua insensibilidade mercantil haveriam de forçosamente em tantos anos de soberania infiltrar-se no ambiente social dos colonizadores, onde o homem se cruzara aliás, bem mais que nos agrupamentos sulinus, com milhares de aborígines de apa- tia natural.

De Belém a Vitória as demais vilas não passavam na fase colonial de pequenos burgos inexpressivos de uma cultura bem sedimentada, e, ao sul do Rio, Santos e Paranaguá foram meros pontos secos para a subida dos planaltos. Destêrro um presídio militar indesejado pelo próprio nome, e Pôrto Alegre um ajunta- mento de vaqueiros.

A paisagem planaltina do paulista, longe da atração do mar, encourou-lhe a alma de andarilho na psicologia prática do escra- vagista, frio especulador de faisqueiras, místico soturno de El- dorados e geografos calculista de amplidões continentais.

Esta herança legou-a ele ao mineiro, ao goiano, ao mato- -grossense, o primeiro dos quais sobretudo, até hoje se apresenta com a desconfiança talvez nascida com as expectativas das bandeiras e com as contínuas desilusões das minas malogradas.

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F i g . 191 - Na cidade p o r é m o severo patriarcalismo burguês exigia sagacidade d i -plomática para os encontros f u r t i v o s

( RUGENDAS1

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Figs. 193 e 194 - A v ida i n t e r i o r tia família burguesa co lon ia l

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Fig. 195 - Famura de u í r s ~uneloncirio p z i b l i ~ purrarw. n rigidez! protocolar d o tempo dos vice-reis prolongou-se até os dias da Independência, conforme se vê na data sobre a

porto da casa (DEBRET)

Fig. 196 - A sala d e visitas da cidade nos tempos coloniais era a atual praça 15 de Novêmbro, com o Palácio dos Vice-Reis, hoje ed i f í c iodos Correios e Telégrafos, c u j a

reforma recente respeitou as linhas essenciais do seu aspecto primitivo.

(CHAMBERLAIN )

r r i

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Nem mesmo Salvador com todo o cenário de seu golfo acolhe- dor, nem mesmo a baiana com todo o seu encantamento, o cro- matismo indumentário, as suas voluptuosas reminiscências musicais dos longes africanos, nem mesmo a Bahia dos templos- -relicários refulgentes de tocheiros, da alegria dos romeiros, dos batuques desvairados, nem mesmo a Bahia soberba de tradiciona- lismos conseguiu reter e ampliar o regozijo entusiasta dos con- quistadores quinhentistas como os habitantes do Rio de Janeiro. Talvez também ali, a ânsia das entradas, a inter-relação pronun- ciada com o aguerrido espírito nordestino e a taciturna psique da enorme escravaria a melancolizar sombrias toadas de além-mar ensurdecidas de ritmos de adufes, houvessem amortecido a jubilosa tradicão inicial e entusiasta.

Neste particular, ninguém, pois, como o carioca, tão bem acolheu e multiplicou a herança recebida num meio próprio à sua expansividade. Fora da Baixada Fluminense - terra exclu- sivamente sua e sobre a qual se irradiara - por mais de um século nenhuma ligação terrestre com os outros núcleos de colonizacão veio influenciar o seu espírito acasalado a uma paisagem des- lumbradora .

A tal isolamento em seu período formativo seiscentista deve êle em grande parte a melhor preservação dos atributos que her- dara. do lusitano. Dessa alegria forte dos conquistadores, sobretudo que agora ressucitava de um nevoento período, melancólico apenas na aparência.

Uma alegria porém ainda primitiva, estrondosamente barroca peninsular, por demais espalhafatosa de efusões sonantes, rumo- rosa de franquezas rústicas, viva de chocantes inconveniências. Faltava-lhe o apuro, o refinamento cortês, a naturalidade no falar, o requinte simples no vestir todo êsse cortejo de florescências culturais distintivas das aitas civilizações, desde a afabilidade no trato mútuo aos fugitivos sorrisos irônicos e displicentes, toda a civilidade enfim, nascida exclusivamente com a educação e impe- netrável ao novo-rico apalhaçado de jactâncias monetárias.

O sorriso de EÇA DE QUEIRÓS que requintou a língua portuguêsa. Ao espírito carioca faltava ainda a sociabilidade elegante, o

tato na conversa, a fascinante distinção pela finura de gosto e de maneiras que não herdara, mas que imprescindivelmente neces- sitava para o polimento final. E o que devemos neste ponto à Franca é inestimável.

Toda a evolução histórica, étnica, econômica e social do carioca se processou nos precedentes séculos sob a liderança exclusiva- mente portuguêsa, com toda a sua energia racial essencialmente prática e mercantil, com toda a solidez patriarcal do vínculo fa- miliar, tão característica da singela mas inabalável cultura lusi- tana em toda parte onde veio a se implantar.

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A geométrica e severa expressáo externa de toda essa grande obra cultural, qualificada pela durabilidade e robustez, pela imo- bilidade impertubável das suas linhas arquitetônicas a encofrarem esmagadoras po'mpas intimas de um barroco aurifulgente, como se vê nas suas igrejas, e que mimetizam toda essa austera aparência do colono enriquecido e rigidamente protocolar, de arrogâncias entesadas de indestrutiveis preconceitos mas de espessas chalaças estrepitosas, todo o reboco superficial da indemolível formagão portuguêsa do carioca estava a carecer do revestimento final da polidez, do maneirismo, da espontânea jovialidade humoi-ística, da espiritualidade no trato, da elegância no vestir, e mais que tudo da graca e da delicadeza no viver pelo desaprisionamento da finura e gentileza femininas.

Para êste acabamento fundamental da sua cultura, de tão grande atuação na sua futura psicologia, teve o carioca o melhor dos mestres do bom tom e da elegância: o irancês.

Indiscutível foi a modificação por êle produzida nos costumes do Rio de Janeiro por todo o Império, mormente no Segundo Rei- nad,a .

Os primeiros e os mais tenazes inimigos do carioca, que o precederam na posse da terra no quinhentos, que o ameaçavam de Cabo Frio no seguinte século, que o venceram e o saquearam no setecentos, voltam agora mas com intuitos bem diversos. O francês, sempre atraído pelo Rio desde a fundação, aportava desta vez a Guanabara não como pirata faminto de piêsas de guerra, mas como negaciante, artista, homem de ciência que nos viria possibilitar a última demão num definitivo aprimoramento cultural.

No meio em que viria atuar, dominava ainda nos comeGos do século, o sadio e sólido espírito português, subordinado a ro- bustez biológica da raça. "Em honra de Deus, queimava-se muita lenha mas nenhum hereje", diz-nos SCHLICHTHORST. Com êste bom viver e com os princípios de lisura mútua do comerciante enrique- cido, o ambiente burguês era de fausto pesado e de tranquila bono- mia. "Havia poucas demandas devido à lealdade entre pessoas e por serem t&o funestas que o povo as odiava. Enriquecia-se viven- do-se com singeleza A moeda corria em profusão Igrejas e conventos regorgitavam de pratarias, ouro e pedras p

r

eciosas. Os mais simples talheres eram de prata As mulheres gostavam de jóias sólidas e pesadas O luxo principal consistia em escravos, que eram bem tratados e pouco trabalhavam na cidade".

Era êste bloco social fundido, que o francês iria burilar Não se pode negar que a influência inglêsa foi também grande neste século, mas a transformação por ela operada foi antes econômica Foram os inglêses os primeiros a chegar logo após a abertura dos portos em 1808, com os seus navios pejados de mercadorias, inician- do a conquista financeira do Brasil.

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Revolucionaram o velho comércio português com novas praxes mercantis e inundaram o mercado com os seus produtos fabris, anteriormente quase desconhecidos. "De Londres recebemos a manufatura, a iniciativa industrial, a máquina, quase tudo". A arquitetura, os jardins, o estilo mercantil - são inglêses. Entre 1808 e 1812 têm-se notícias de Portugal através das gazetas de Londres. O exército disciplina e veste-se a inglêsa, os homens de Estado fazem a sua educação política pelos discursos do parla- mento: ADAM SMITH é o evangelista da época.

As filiais de grandes firmas britânicas lideram o comércio do Rio de Janeiro e os seus caixeiros viajantes começam a percorrer o interior. Luccoc~, um dêsses negociantes que aqui vieram por êsse tempo, deixou-nos em suas Notas sobre o Rio de Janeiro qua- dros bem concisos da vida carioca no fim da era colonial, sobretudo referentes a pequena burguesia. Por êle sabemos quão grande era a falta de utilidades que permitissem ao carioca da classe média evolucionar para uma vida melhor, adaptar-se a um maior conforto e a novos hábitos sociais. Nos tempos anteriores a escassez de objetos de uso doméstico impedira maior evolução nos costumes e na educação familiar. Estagnaram os interiores em usos de uma vida arcaica, incompatíveis com a nova era industrial inaugurada para u mundo com a expansão do imperialismo britâ- nico, a invadir todos os recantos do globo. "Nunca jantei em uma casa brasileira - diz-nos L u c c o c ~ -, que parte dos objetos da mesa não fossem inglêses, especialmente a louça e a cristaleira. Antes de tais luxos terem sido introduzidos, usavam pratos de estanho ou de uma espécie de cerâmica holandesa, com uns pe- queninos copos portuguêses sem pé, estreitos no fundo e com a boca larga; cabaças e côcos em lugar de terrinas e xícaras, eram comuns, mesmo quando tinham convidados. As colheres e garfos eram de prata, ambos pequeninos e frequentemente do modêlo antigo. Cada convidado comparecia com a sua própria faca, em geral larga e pontiaguda e com cabo de prata; por vêzes, havia pessoas que faziam grande exibição de metais preciosos e jóias, não era raro que a fortuna andasse justamente nas mãos daqueles que menos conheciam os modos de usar dela com graça e con- forto". 256

Neste ponto, o industrialismo inglês iria tudo revolucionar. "A Colônia sofrera até então a carestia dos instrumentos de traba- lho, a escassez de comodidades, os hábitos de um luxo exterior, raro e ridículo: começou, a partir de 1810, a utilizar o que na Europa fazia o esplendor da casa burguesa, o seu conforto e o seu encanto. Vestindo-se bem, a mulher reaparece. Mobiliando-se o solar, abre-se a sala de visitas. As carruagens leves convidam ao

CALMON, Pedro: Erpirito d a Sociedade Colonial, São Paulo, 1935, págs 273-274. ?jS L u c c o c ~ , John: Obr cit , pág 83

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passeio e as ruas por isso melhoram. Vêm as alfaias, o interior artístico, a futilidade, o supérfluo elegante. Empobrecem os novos fidalgos adquirindo à pressa tafularias necessárias ao seu estado; a economia particular desarranja-se; queixam-se os velhos mer- cadores da loucura geral que alterara os costumes prudentes da classe média, acabando de desequilibrar a aristocracia rural. Em 1818, equipara el-rei os direitos alfandegários inglêses e portu- guêses. De fato, interrompera-se o contacto com Portugal. " 257

Toda essa influência inglêsa, por mais notável que fôsse, limitava-se, porém, ao aperfeiçoamento material. As suas próprias idéias políticas assimiladas pelos nossos primeiros estadistas, pouco a pouco foram cedendo lugar a expressões mais vivas e mais plás- ticas, consentâneas com a latinidade peninsular. PEDRO CALMON, brilhante expositor de aspectos sociais do nosso passado histórico, dá-nos ainda uma expressiva página do que foi essa transição da influência inglêsa para a francesa, ocorrida logo após a queda da barreira oposta a um entendimento franco-brasileiro pelas armas napoleônicas .

"Sòmente depois'de 1816, volta a França a concorrer com a Inglaterra na colonização espiritual e material do Brasil. A res- tauracão dos BOURBON favorece-a; ajuda-a a extorsão britânica; a política de influência de D. JoÃo V I - desvencilhando-se da pressão inglêsa graças aos seus entendimentos com a Áustria e a França -, orienta para as coisas francesas o interêsse e a curio- sidade do Brasil. Sob o signo de Londres êle transformou a sua fisionomia econômica; sob o signo de Paris modificaria a sua face política. Importamos o trabalho inglês e a idéia francesa. Os panos de Manchester e os livros de Paris. Livros, moda, espírito, artes plásticas - missão de 1816, que europeizou de novo a bal- buciante arte nacional -, a feminilidade, a compostura, a revolu- ção democrática, depois a evolução espiritual. . . LINHARES quisera ser um PITT OU um CANNING; PEDRO I sonhou ser um BONAPARTE. A LECOR, discípulo de WELLINGTON, nas fileiras do Brasil, vai suce- der LABATUT, discípulo de MASSENA. AO economismo inglês de 1808, o regime unitário-monárquico de 1824, copiado à doutrina de BENJAMIM CONSTANT. Depois de 1816 o povo continuou a com- prar em Londres, mas a imitar Paris. Compreendia mais a França que a Inglaterra. Esta, que se lhe tornava odiosa pelo monopólio mercantil, foi, progressivamente, impopular; aquela, revolvida pelas suas agitações cíclicas, crescentemente apreciada. Pode-se - dêste prisma da contemplação estrangeira -, definir a história do Brasil independente com uma fórmula: a curva do seu distan- ciamento de Londres e da sua identificação com a ideologia fran- cesa. Consumiria quarenta anos para se libertar da influência britânica". 258

=7 CALMON, Pedro: Obr. cit., phg. 273. Z5e CALMON, Pedro: Obr. Ci t , pág 274

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No espírito carioca essa libertação foi porém muito mais rápi- da. É que a sua índole hereditária era inconciliável com a rigidez do espírito britânico. A sua vivacidade, o seu bom humor, a sua hilaridade inadaptáveis a moldes outros que os de um povo de atributos similares.

Notara isto RUGENDAS com a sua aguda percepção artística, intuitiva para os entrelaçamentos sociais. "É bom tom, na alta sociedade, imitar os costumes inglêses; mas êstes são tão contrá- rios a vivacidade dos habitantes e a,o mesmo clima, que uma tal preocupação só pode provocar uma impressão desagradável no estrangeiro imparcial". 2m E de fato, bastou a primeira leva de franceses para que tudo se modificasse.

O próprio "comércio inglês que tinha a primazia na cidade do Rio de Janeiro, mais tarde foi sobrepujado pelo francês, que veio aprimorar a moda feminina, com a existência das costureiras, dos perfumistas, dos cabeleireiros e dos importadores de estofos preciosos".

Desde então é que o Rio de Janeiro se iluminou inesperada e bruscamente, a um novo foco de beleza, de bom tom e de elegân- cia, o qual não só perduraria por todo o século, mas também até os dias atuais, não obstante as grandes reformas por que a cidade passou. "Com os franceses, a hegemonia comercial, que pertencia à1 rua Direita, passou para a rua do O ~ v i d o r " . ~ ~ ~ Co,m esta rua é que evolveu a passos largos o espírita carioca. Foi ela a um só tempo a sua alma a o seu modêlo. Basta o seu nome para simbo- lizar todo o refinamento e graça, toda a intelectualidade irônica, $;&da a cordialidade afável, tod,o o parisionismo sutil da vida ca- rioca em suas mais altas expressões. E esta espiritualização co- meça logo a se operar com a própria corte que nela vai buscar o apuro indumentário para os seus salões.

MELO MORAIS FILHO em suas Memórias da Rua. do Ouvidor, dá-nos evidentes testemunhos da crescente influência desta rua no polir o espírito carioca. A finura parisiense invade primeiro a Corte, alastra-se a seguir pela burguesia e acaba contagiando as massas populares que mimetizam as altas classes afrancesadas.

Modista, cabeleireiros, lojistas de várias especializações, logo ali se instalaram após a chegada da Família Real. O cabeleireiro CATILINO, vindo na comitiva régia, é o primeiro a ter a sua casa. Pouco depois madame JOSEPHINE monta o seu atelier de modas atraindo novas cornpatrícias de Paris. É: ela quem veste as damas da Corte que entregavam as suas cabeças ao rebuscado fígaro, especializado nas complexidades ornamentais das cabeleiras da Bpoca .

25@ RUGENDAS, João 1Mauiício: Viagein Pitolesca Através d o Blasil. Tiad d e SERGIO &~ILLIE~. 3 a ed , São Paulo, pág 135.

"ao D'ARAÚJO GUIMARÃES, A. C : A CBrte no Brasil, Pôrto Alegre, 1936, pág 52 a1 Idem, pag 52.

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O exemp1,o cantamina a burguesia, e levas de franceses co- meçam a chegar, atraídos por toda uma população que de súbito se pusera a copiar as modas parisienses .

Vem o célebre DESMARAIS, "correto, sempre de casaca e luva branca, repimpado em cabriolet de praça", cabeleireiro da Casa Real. "De preferência habitada por franceses, a rua do Ouvidor exibia aos passantes do dia e da noite maravilhas do luxo, apura- dos produtos da arte de pentear e de trabalhar em cabelos".2fi2

Existe a casa de AUGUSTO CLAUD, a de CASSEMAJOU, a de FAVAUQUE e LÉON DEMORINEAU, a Casa do Urso. Fabricam-se já no Rio cabeleiras e chinos. 263

Há o Salão Fluminense de NIOBEY, O PAULO PANAGEAU, O de J. DELPECH e SILVAN JUGAND OS quais "ampliando as suas especia- lidades, expunham à venda no interior das suas lojas e ao hialino das vidraças, objetos da Índia e da China; bibelots de marfim, madrepérola e tartaruga; navalhas, tesouras, pastas para dentes e vários pertences de toucador".

Foram êles os primeiros mestres da elegância carioca. Aos seus ensinos, mucamas aprendiam a pentear as sinhás alvoro- çadas numa ânsia de bem aparecer.

Os alfaiates f

r

anceses dirigiam a moda masculina, com GE- SAR VALET, E. GAUDIN, PALAISINE e HILDEBRAND. Desta geração ainda são os HELOT, OS LABBÉ, OS FINOT, DESROSSEAUX e OLIVE, todos profissionais da arte de embelezar. Madame FINOT é "a mes- tra insigne de gerações de habilíssimas floristas nacionais e es- trangeiras" .

Toda a elegância carioca do Primeiro Reinado e da Regência iniciava-se com os modelos de Paris. Estamos n a época das sutile- zas românticas, dos requintes indumentários, de morbidezas nati- vas que se esmeram de maneiras importadas. Todo o escol carioca precipita-se para as GUDIN, as THOLOZAN, as BRETON, as LECARRIÈRE onde as tesouras cortam os insuperáveis tecidos do WALLERSTEIN .

Pela coroacão de PEDRO 11, em 1841, muito ganham êle e as modistas ditadoras do esplendor do Paço Imperial. - "Os precio- sos estofos e artefatos daquele e o desempenho artístico das se- gundas, marcaram o período mais belo e amplo da rua do Ouvidor".

Um novo Rio de sêdas e veludos, de saias-balão e de faces empoadas, já transparecia na velha cidade colonial, sombria e carrancuda. A França fizera o milagre de uma [email protected] inesperada. A sua luz rompia-se o casulo carioca para o borboletear de uma faustosa vida de novas formas e coloridos.

%j2 MELO MORAIS FILHO: Fatos e Memórias, Rio, 1904, ~ á g 243 Segundo WALSH, ff Rio conta e m 1830, já com 14000 fianceses. número êsse a

nosso ver exageiado (FERDINANDO DENIS, O ~ L cit, nota à pág 164)

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Tão conspícua era essa influência francesa que, nos meados do século, um de seus compatriotas, LAVOLLÉE, ao por ali passar em 1850, registra um cenário urbano similar aos da sua terra. "uma população numerosa, animada, caminha pelos passeios que ostentam belas lojas Sem a afluência de pretos que se encontram a cada passo, pensaria o viajante estar numa rua da Europa. A rua do Ouvidor é quase exclusivamente habitada por europeus, principalmente franceses. Só se ouve a nossa língua, só se vêem os nossos produtos; é um verdadeiro quarteirão francês". 2ti4

Substanciosa é a documentacão referente a vida e aos costu- mes dessa época, permitindo-nas recompor o cenário humano ca- rioca e bem aquilatar a sua evolução. Entre os melhores testernu- nhos salientam-se os dos mercenários alemães que, embora frequentemente vesgos de azedumes da desilusão de imigrantes malogrados, dão-nos fartas minúcias colhidas com o pendor teu- tônico para a exatidão dos pormenores.

CARLOS SEIDLER, TEODORO BOSCHE e SCHLICHTHORST apresen- tam-nos instantâneos dessa vida, suficientes para dela termos uma idéia exata da recíproca assimilação entre o homem e a terra, após a rude caminhada através dos séculos coloniais. Em direto contacto agora com os soberanos, desafogava-se o carioca da tutela dos governadores e vice-reis, de olhos fitos em Lisboa na ambição de favoritismos régios. A índole carioca oprimida em todo êsse longo período incubador, começava a despontar com todas as suas características essenciais de graça e alacridade permanen- tes, não obstante o meio ainda não inteiramente preparado para a sua completa florescênciâ .

O próprio BOSCHE, sempre a maldizer de tudo quanto é nosso, dá-nos impressões inéditas para o espírito europeu, em quadros originais e claramente expositores da singularidade carioca. Um dêles concretiza toda uma vida nova e perturbadora pela espantosa e inesperada mobilidade.

A superposição de vivos e promíscuos contrastes étnicos mul- ti-raciais, arrojados sobre a efervercência climática de uma natu- reza tumultuosa de relevos, ataranta o disciplinado espírito ger- mânico ultra-metódico .

"A impressão que esta capital produz no ânimo do recém-vin- do, que aqui chega depois de uma longa travessia, não pode deixar de ser surpreendente e duradoura. Imagens variegadas, confusas, novas raças de homens, costumes diferentes apresentam-se-lhes diante dos olhos maravilhados. Para qualquer lugar que se diri- jam, solicitam a sua atenção aspectos novos de vida e objetos dife- rentes',.

"4 MACEDO, Sérgio D T : N o Tempo das Sin t~àz inhas , Rio 1944, pág 88

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A alma do nórdico onde bem se coordenam as tradições de uma herança cultural estabilizada, vem de súbito colidir toda uma confusão sonora e visual. Salvas de artilharia, navios em idas e vindas pela baía, cantos inéditos de negros, contínuo bim- balhar de sinos "martelando os ouvidos", frequentes festas de igreja, fogos de artifício, irmandades pedintes com "tímbales e trombetas" em bandos pelas ruas. . . " tudo isto reunido produz um barulho horrível, um concêrto infernal que, nas primeiras horas da chegada perturba e desnorteia, impedindo de raciocinar e causando incômodo tal que sòmente um longo hábito torna supor- tável''. 265

Em meio a êste reboliço inaugural de uma nova fase carioca, já se vislumbram porém as tonalidades características do que po- deremos chamar de "brasileirismo", misto de acolhida franca e de hospitaleira agabilidade sentimental, de um desprendimento a normas sociais protocolares e de amizades súbitas que nos levam tanta vez a exploração pelo estrangeiro frio e calculista.

Foram-se os dias ásperos dos vice-reis, pesados de subserviên- cias e protocolares de servis mesuras. "O mais humilde, quando trata com os homens de alta e elevada posiqão, não se mostra perturbado e embaraçado, como sói acontecer nas classes baixas do norte da Europa em relação aos deuses da terra. O brasileiro pelo contrário, responde-lhes modestamente e sem servilismo al- gum, não havendo nos seus modos e maneiras o mais leve indício de perturbação ou embaraço".

É êste um dos primeiros frutos de uma nova civilização, que prenuncia um concêrto social desconhecido na velha Europa, e que o autor atribui "a consciência orgulhosa do homem livre e da dignidade humana, merecendo por conseqüência que se lhe teçam os maiores encômios". Não viu êle, todavia, ser isto apenas re- sultado natural da mestiçagem, de um sanguíneo equilíbrio nive- l a d o ~ de povos, sòmente possível nessa terra americana, virgem de antagonismos raciais e de insolúveis nobilitaçóes hereditárias.

O escol carioca já por êsse tempo se modificara, desvestindo- -se da secura e rigidez anterior, envernizando-se agora, de um crescente francesismo, pela contínua imigra~ão .

CARLOS SEIDLER, outro mercenário talvez mais rancoroso ainda contra tudo o que era nosso, não pôde eximir-se a confissão em breves linhas, do nível a que chegara a exteriorização do espírito carioca pela influência gaulesa. "As classes superiores vestem pelo Ultimo figurino parisiense e não raro exageram ridiculamente as modas importadas. A s mulheres da classe média em geral

-05 BOSCHE, Eduardo Teodoio: Quadtos A l t e fna los TI@ de VICENTE DE SOUSA QUEIR~S São Paulo. 1929, pág 109 .

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usam saias pretas de sêda, que sabem menear com particular graça" . 26G

Mas não obstante a sua maledicência de mercenário desiludido, deixa transparecer a assimilação da cultura parisiense, pelo teatro, havendo além do São Pedro, um particular "onde se representa- vam com notável perícia e muita graça, as mais recentes produções dramáticas francesas, sobretudo comédias e vaudevilles" .

Mesmo em suas acusações contra as casas do Rio, "em geral baixas, pequenas, sujas, sem gosto e incômodas", mostra-nos na disposição dos cômodos um interior em que se dispõe "tudo a francesa" .

Por êsse tempo se formara um bairro aristocrático em Bo- tafogo, o qual dêle merece francos elogios. Ali moram diplomatas e negociantes ricos, sobretudo inglêses que a cavalo vão à cidade, as suas traficâncias. "Muitas dessas casas são altamente ricas e de gosto, e pebs simpáticos jardins onde estátuas de mármore atuam tão encantadoramente à sombra da mais pujante vegeta- ção, tomam inteiramente a aparência de vilas italianas".

Em toda essa cultura que se refina, o que mais se destaca é o domínio suavemente imperativo da mulher. É ainda o inconciliá- vel BOSCHE que o afirma, não podendo ocultar a verdade que lhe salta aos olhos. "O brasileiro polido é de uma polidez e delicadeza para com o belo sexo, que lembram os tempos cavalheirescos da idade-média, parecendo ter aqui revivido a galanteria romântica daquelas épocas passadas. Há no belo sexo tipos encantadores, constituindo um espetáculo verdadeiramente imponente presen- ciar a ida de uma bonita brasileira, com o seu vestido teatral, porém de muito gosto, à igreja nos dias de festa, acompanhada por vinte escravas às vêzes, uma mais ricamente trajada que a outra, rivalizando em luxo e magnificência com a própria senhora. O seu andar é vagaroso, majestoso, parecendo seus pèzinhos mi- mosos apenas tocar o solo. A sua atitude é cheia de graça, e nos seus olhos pretos lê-se a certeza do poder dos próprios encantos, recebendo como um justo tributo as homenagens que lhes são apresentadas por todos". 267

A mulher casada, livre da prisão das rótulas, espraia-se agora para o domínio e o encantamento dos salões. "Madame quer fazer vida de sociedade e ressarcir no turbilhão dos prazeres mundanos os anos de mocidade perdidos sob a severa guarda dos pais".

O mais imparcial dêsses visitantes alemães é SCHLICHTHORST

que, em seu livro O Rio de Janeiro como é, vertido para a nossa língua por EMMY DODT e GUSTAVO BARROSO, e por êste enriquecido

SEIDLER, Cail: Dez Anos no Brasil Tiad do geneial BERTOLDO KLINGER, São Paulo, pág 64.

Obi eit , pág 111

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com eruditas anotações, tornou-se um dos melhores repositórios para a mostra da cultura dessa época.

Observador dos mais sagazes e dono de apreciáveis conheci- mentos, SCHLICHTHORST equilibra a sua narrativa de benevolente imparcialismo, única maneira de encararmos a evolução do espí- rito humano através da penosa caminhada histórica, cheia de obstáculos que fazem salientar as imperfeições raciais, ao mesmo tempo que as desgastam, transfigurando-as pelo sacrifício ooletivo.

É SCHLICHTHORST, de quem já extraímos várias miniaturas bem expositivas da cultura do Rio nessa época, um dos que melhor descrevem o aspecto arquitetural da cidade Das velhas casas térreas anteriores a Independência, poucas já restam nas ruas principais onde se elevam prédios até de mais de quatro pavimen- tos. Atribui êle em grande parte essa melhoria à curiosa lei "que permite levantar um andar sobre o prédio vizinho, se o proprietá- rio dêste não quer ou não tem meios para essa construção" (! ) , dispositivo êste suficiente para uma revolução nos dias atuais, pelo atentado ao direito territorial.

O Rio de Janeiro material e espiritualmente evolvia com acerituada rapidez na primeira metade do século XIX. Foi porém só na segunda que definitivamente se completou a formação do espírito carioca, tal qual o recebemos nos começos da República e o conservamos com as suas características praticamente inal- teradas .

Foi com a segunda ocupação do trono imperial onde assen- tava um homem extraordinário, que a capital brasileira, expan- dindo-se em população e área e em pmcos decênios transforman- do-se em grande metrópole, ascendia pela cultura ao alto nível dos grandes centros europeus.

E esta subida continuaria ainda pela mão da França, sen- tindo-se então a sua influência em todas as camadas.

Frutificavam já entao maduramente as primeiras colheitas da Missão Francesa, a qual, não obstante o ódio racial do período napoleônico, D. JoÃo VI nos fêz vir em 1815, a fim de organizar a Academia de Belas Artes. A sutil centelha gaulesa logo pene- trara no espírito carioca com um escol de homens eminentes já ilustrados pela reputação artístico. Os LEBRETON, OS DEBRET, OS

GRANDJEAN DE MQNTIGNY e os TAUISAY, logo encaminharam para o campo idealístico a nata de gerações até então quase exclusi- vamente a palmilhar o terreno prático e utilitário.

Cientistas como D'OREIGNY, SAINT-HILAIRE, PIS~IS, LJIA~s, e; vários outros, em sucessão aos navegantes que no século anterior aqui tocaram de passagem, deu-nos a França pelo correr do nove- centos, concorrendo com a sua cultura para um conhecimento melhor das nossas coisas.

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Verdade é que outras nações, sobretudo a Alemanha e a Ingla- terra, e os Estados Unidos, igualmente fizeram muito pela evolucão da cultura brasileira, sobretudo no campo da História Natural, bastando-nos citar entre outros os nomes de MARTIUS, e do príncipe de NEUWIED, OS de BATES e DARWIN, OS da Missão Agassiz com todo o seia escol de cientistas, para que vejamos não ter sido sòmente a França a nos iluminar com as luzes da sua cultura. O campo da Ciência, porém, estava por demais acima da multidão. Era apaná- gio de bem poucos e apenas sentido pelas massas com as visíveis reformas materiais no século da máquina. Mal o pressentia o povo em seu baixo estágio cultural, onde os sentidos sempre dominam a marcha das comunidades.

8 que portanto iria influenciar na alma carioca, não era essa presença do pensamento esclarecido, essa projeção de culminâncias culturais restrita a um âmbito limitado. A mutação dos hábitos coletivos exigia elementos mais distanciados dessa aristocracia mental e mais em contacto com a população. Requeria uma contínua filtração de novas idéias, de costumes e inclinações inéditas pelo exemplo diário de uma vida mais bela e atraente E para isto, o mais potente veículo era o comércio, com as suas lojas atrativas de originalidades, com os seus franceses reclamistas de inovações, com as suas francesas vendedoras de modas e de sorrisos facilmente conquistáveis .

Pelos meados do século, a posse espiritual da França que nos viera seduzir, tornara-se para o carioca uma obssessão idêntica à da posse das suas mercadorias e a da posse das francesas que encantavam a rua do Ouvidor. Bem expressiva é a frase de um escritor de que o "Rio imperial era uma França-mirim". 208

Mais que nunca a França então polia, completava a sociedade carioca espiritualizando sobretudo a mulher, a qual, como sempre, ia limando as asperezas do homem.

Distantes iam os tempos em que a única elite carioca era aquela nobreza de passagem, assaltante das melhores residências da cidade e que sob o modêlo de CARLOTA JOAQUINA aqui deixara a marca de um grosseiro sensualismo e de um atrevimento sem li- mites Distante já ia a Independência com o nosso Imperador cavalheiresco mas de idéias e costumes livres, com os primeiros brasões territoriais dos CARNEIRO LEÃo, dos CARVALHO E MELO e dos Rro-SÊco, a luzirem quase, apenas, das imensas fortunas dêsses titulares.

Saíamos da moralização regencial. Do prestígio iluminrtdo de JosÉ BONIFÁCIO, da maternal solicitude de D MARIANA CARLOTA VERNA DE MAGALHÃES, do equilibrado marquês de ITANHAÉM, edu- cadores do monarca. Entrávamos com a Maioridade numa corte

MACEDO, Sergio D T : N o Tempo das Si7zhciziizhas Rio, 1944, pág 87

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cuidadosamente planejada para aureolar um culto imperador. E digna mostrou-se ela sempre do prestígio cultural de DOM PEDRO 11.

Até o presente, em toda a evolução histórica da humanidade, os maiores requintes da sociabilidade, a educação, a cortesia, as artísticas florescências, toda essa armadura externa de uma deli- cadeza mútua, de convencionais afabilidades, de repressões senti- mentais que recalcam para o inconsciente o áspero e brutal ho- mem primitivo que em nós vive, teria de forçosamente nascer e desenvolver-se nos grandes salões. Somente uma classe detentora da riqueza e de lazeres bem folgados poderia gozar dos primores da civilização, desvanecer n a estesia artística da beleza, enquanto a maioria luta pelo pão.

Foi pois necessàriamente nos salões da nobreza imperial do Segundo Reinado que o espírito carioca antes da sua difusão pelas demais classes sociais, iria sublimar-se num campo ideal para a sua evolução.

E o salão era ainda e sempre a França. Descia aliás o próprio exemplo de São Cristóvão, onde a inl

fluência educativa de uma senhora ilustre afrancesava quanto possível os costumes da, nossa corte. Justo é relembrar por isso o nome dessa baiana de escol, a condessa de BARRAL E DA PEDRA BRANCA, a qual, ante a insistência do Imperador deixa-se elevar ao alto cargo de aia e preceptora das princesas.

Paralelamente, porém, ao afrancesamento da Família Impe- rial, DOM PEDRO I1 ao ampliar pròdigamente a nobreza com as con- cessões de comendas e de títulos nobiliárquicos, necessários ao prestígio e ao brilho da Coroa, criara o meio propício ao cultivo de uma sociedade fina, até então inexistente pela dispersão dos poucos elementos já iniciados. Por todo O Brasil cornendadores, barões, viscondes, condes, marqueses e mesmo duques, subiram de repente das fileiras do exército e da marinha, dos bancos, dos engenhos de açúcar e das fazendas de café.

200 Desde menina educada em Paris e inteiramente integrada no mundanisino da Cidade-Luz;, recusa consociar-se com o futuro marquês DE ABRANTES, casando-se em Franca com o visconde DE BARRAL

Nascida nos primeiros anos do novecentos, só veio a falecer em 1891 Viia pois quase todo o século Piesenciara toda a evolução dos transportes desde a cadeiiinha 8 estrada de feiro Ombreara nas Tulherias com váiias geiaçóes da nobreza desde as remanescentes do Piimeiio Império as românticas da côrte de Luís FILIPE Tratara com LAMARTINE e com outras famosas personalidades literárias e artísticas CHOPIN assidua- mente frequentava os seus salões Era uma grande dama em seu mais amplo senso

A dupla vida entre Paris e o engenho da Pedra Branca no iecôncavo baiailo, con- seivou-lhe todavia até o fim um feminino toque de blasilidade que a aureolava da graciosa dignidade e de um sentimentalismo cativante

Foi ela talvez a Única pessoa de influência nas decisões imperiais acima dos partidos, sobietudo nas de sua pupila a Piincesa ISABEL A ela, que libeitaia os seus escravos em 1880, talvez se deva, mais que a toda a propaganda abolicionista, um 13 de maio antecipando-se ao regresso do Impeiadol

Com o respeito, a admiração e o total apoio de PEDRO 11, a influência da con- dessa DE BARRAL foi indiscutivelmente decisiva na minoração da rigidez dos hábitos do Paço, onde a vida protocolar se prendia a singela austeiidade do monarca

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Os dois últimos é que nos iriam dar o maior contingente de brasões, entre todas destacando-se a nobreza rural fluminense, que, devido à proximidade da Corte, viria a ter destacada influência na evolução social do Rio de Janeiro.

Com as fortunas do café e do açúcar, já não era sòmente a projeção de Paris que nos chegava com os seus negociantes de mo- das, com a sua literatura, com os seus professôres de línguas, de canto, dança e música. A navegação de vapor já permitia que as roceiras sinhàzinhas e que os irmãos apenas saídos das nossas faculdades, fizessem um estágio quase obrigatório no grande centro da Cidade-Luz. E dêsse contacto com as primícias de uma civili- zação nos vinha para as galas da alta mundanidade carioca o próprio modêlo da educação parisiense .

Os grandes salões do Rio iniciaram então do alto para baixo os retoques finais da obra trabalhada pela rua do Ouvidor. E a sua atuação além de esmerar a sociabilidade, projetava-se indire- tamente sobre a nação inteira pelo entrelaçamento com a política.

WANDERLEY PINHO num dos melhores livros que estudam a vida do Império, Salões e Damas do Segundo Reinado, mostra-nos essa decisiva influência do salonismo nos destinos do país. "Os salões do Segundo Reinado exerceram êsse grande papel de mo- deradores do canibalismo das facções, e não poucas vêzes favore- ceram, dentro dos partidos, as conciliações, prevenindo rompimen- tos, cicatrizando dissidências, mantendo a unidade disciplinada dos grandes corpos políticos, sem a qual não era possível o regime parlamentar".

Era o salão que amaneirava o deputado bisonho ao chegar do interior. Era o salão que congregava os inimigos políticos, ameni- zava os rancores partidários, destruía os dissídios e a malevolência, abrandava os rigoristas inflexíveis pelo anedotário escolhido, pela palestra fina, pela obsequiosidade protocolar e sobretudo pela inelutável subserviência à graca e à insinuação da mulher de sor- risos conciliadores .

Para desfazer a rudeza anti-social de TORIAS BARRETO ao fu1- minar os salões da aristocracia imperial, bastam a WANDERLEY

PINHO algumas frases com que a boa educacão destrói os ímpetos selvagens. "Aquêles inegáveis clarões. que a mulher ilumina no espírito dos homens, é n a conversa dos salões, e nos salões que se acendem". "E onde a polidez, a arte das boas maneiras, melhor se desenvolve que num salão? Onde, senão aí, se defende a formo- sura feminina das ousadias que provoca com a graca que as doma ou com a "verve" que as ridiculariza e a ironia que as converte em homenagens e arrependimentos?"

Para aniquilar a maledicência do panfletário, basta-me ainda esta frase irrespondível: "Pode merecer desdéns o cenário onde

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a mulher aparece na plenitude das suas graças e poderes, conquista suas vitórias e reina e governa com espírito, beleza e gentileza?"

O próprio TOBIAS, aliás, neste ponto ao menos fêz justiça, ao escrever que "a influência do salão, que é sinônima da influência da mulher, não sendo perturbada por fatores estranhos é, em todo o caso, uma força civilizatriz, um elemento poderoso de vida espi- ritual". E é o que vemos n a sociedade carioca, sob a liderança das grandes damas da nobreza imperial.

Com elas pela primeira vez a galantaria, a fina educação, as mais requintadas sutilezas no trato social penetravam no Rio de Janeiro. Evocar em breves linhas alguns daqueles salões, é rever com docura e encantamento a gênese da mais pura espiritualidade carioca.

Em todos os bairros abriam-se intermitentemente os portóes dos solares para as recepções. Timbrava-se em bem aparecer. Es- meravam-se os anfitriões na difícil arte quase hereditária de bem receber, inassimilável pelo novo-rico. Pela pompa das salas de iluminação profusa, a nata social do Rio de Janeiro desfilava entre preciosidades artísticas desde então apreciadas, onde os bibelôs liumanos fascinavam com as suas formas mimosamente envolvidas no colorido encantador das saias-balão, mais tardes substituídas pelos vestidos corredios realçados de p f t f f s .

Os aparatosos lustres de cristal, os grandes espelhos, as seve- ras mobílias de mogno ou de jacarandá, os aparelhos de porcelana armoriados, a prataria portuguêsa em profusão, ensinavam o ca- rioca a admirar o belo, educavam-no para a delicadeza de costumes, incitavam-no para um viver melhor e mais estético pela embriaguez visual do meio sedutor pelo conforto, pelo bom trato e pelo fausto. Sobretudo porque em meio a tudo isto se erguia com o seu sorriso e a sua graça a realeza da mulher, da grande dama introdutora da fina sociabilidade no Rio de Janeiro.

Os nomes de alguns dos muitos solares que tanto contribuíram para a formação do espírito carioca pela educação dos seus escóis, por si só padronizam essa elevada atuacão da nobreza imperial na evolução da nossa capital.

O da baronesa de BELA VISTA, na rua Frei Caneca, onde com a opulência dos cafèzais de Bananal reinava uma das mais belas e elegantes damas de seu tempo. Ali, até o porteiro negro que acompanhara o Barão quando solteiro em repetidas viagens a Paris, falava corretamente o francês.

O da viscondessa de CAVALCANTE, que após deslumbrar o Rio com as suas recepcões na rua Senador Vergueiro, deslumbraria em Paris o próprio presidente da Franca, SADI CARNOT, O qual dis-

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sera ao inaugurar a Exposição Universal de 1889, ser ela a mais bela amostra que o Brasil apresentava.

Famosos por longo tempo foram os sal&% do barão de NOVA F R ~ ~ G O no Catete, e os do marquês de ABRANTES em Botafogo, frequentados pelo prbprio Imperador Com o falecimenta do mar- quês em 1865, casa-se a vibva com o visconde de SILVA, estreando-se então com &te novo casal uma nova fase d a vida social do Rio de Janeiro JOAQUIM Nmuco é ali sucessor de MACIEL MONTEIRO. E tão grande foi a influência dêste solar nos hábitm aristocráticos cariocas, que "a danca, a música, o teatro, a poesia, o galanteia, o fZi~t, a inteligencia, o bom-humor tiveram no salão da marquesa de ARRANTES, viscondessa de SILVA e baronesa do CATETE, O melhor c a p o , florido e ameno para expansões da vida social e elegante do Rio de Janeiro, durante o reinado de PEDRO 11. 2i0

Falemos ainda sem preferências dos salões dos viscondes de MERITI, do conselheiro BARBOSA DE OLIVEIRA, do conselheiro Nmuco, do barão de ITAMARATI - cujo solar e hoje o nosso Ministério das Relações Exteriores -, do barão de COTEJIPE, no Flamengo, onde o baiano ilustre, embora septuagen%rio, era um virtuose na arte gentil de receber t6da essa diplomaeia, tbda essa fina flor da elite financeira imperial.

Em todos eles se encarnava o espirito francês. "Copiavam-se os esplendores do segundo Imp6rio da França Paris dominava ainda uma vez o mundo, e as festas das Tulherias, em Saint-Clorir3, em Cornpiègne, maraviIhavam. O Rio de Janeiro contagiava-se da imitação. A alegria meridional da imperatriz EUGÊWIA talhava rnadeXo~'"~~

Deixara-se o carioca fascinar então por um dos maiores fatôres de refinamento coletivo pela aproximaqão dos sexos: a dança.

Por Gda parte se dança. Além dos salões citados, rnenciona- remos ainda o dos BREGÁRIO em Andaraf, o do comendador MORETRA, na Glória, o do visconde de MARANGUAPE, O da condessa de SARAPVI, o do conde de T o m , ministro de Portugal, todos eles, porém, nada mais são que poucos nomes de uma longa lista, a qual entretanto não podemos ainda abandonar, sem por alto, ao menos descrever a suntuosa residhcia dos H~RITOFFS nas Laranjeiras.

Era o palácio autêntico de u m nobre russa integrado na mais aristocrática vida parkiense dos saIões de NRPOLEÁO 111, e que unira a sua fortuna à dos BREVES, casando-se com uma das filhas do rei do café.

PINHO, Wandeiley: Slrlóes e Damas do Segundo Refnu.80 São Paulo, pBg 140 == idem, p4g 99

- 23 -

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Em seus famosos bailes transportavam os HARITOFFS para o Rio, os requintes mundanos da corte bonapartista, e até a República foi o seu solar um dos grandes centros da aristocracia carioca.

A deslumbradora policromia das sêdas roçagantes, a nitidez do corte das casacas, a pompa dos uniformes, toda a nobreza imperial, "ministros, conselheiros de estado, deputados, senadores", cintilações de jóias e comendas num ambiente enriquecido por tesouros artísticos.. . Muito aprendeu e evolveu em maneirismo neste meio a alta roda carioca, sempre a gravitar em tdrno da graça, da afabilidade e da finura de madame HARITOFF e em con- tacto com todo o corpo diplomático. "Raramente, mesmo nas capi- tais da Europa, se encontrariam reunidos numa casa tanta confôr- to, luxo e bom gosto e uma tão, perfeita cortesia, distinção e belas maneiras".

Madame HARITOFF, "une brésilienne doublée d'une vraie pa- risienne, dont da grâce, l'ésprit et la haute distinction ont reçu une consacration solenelle dans les salons les plus aristocratiques de la société européenne" - segundo o Messager du Brésil -, e seu marido, "ce russe si français, parisien jusqu'au bout des onglesiYy foram dos que mais contribuíram para a nossa aprendizagem do bom tom e do refinamento de costumes, desde a abertura de seus salões em 1883.

"Com a primeira e brilhante recepção dos HARITOFFS, inicia- va-se como uma nova era nos costumes brasileiros: - "la causeria intime réunissait en un seu1 faisceau tous les invités qui s'éffor- çaient de suivre la mâitresse de maison dans le tournoi où son esprit brillait comme um pur diamant" .

Assim como as fortunas dos engenhos costeiros e o ouro das lavras sertanejas fizeram as maravilhas internas dos templos baia- nos e mineiros, a economia do café na terra fluminense, espiritua- lizava requintadamente o espírito carioca. E, como de natural, essa espirituaIização iniciada na aristocracia, com rapidez se generali- zava por mimetismo na burguesia.

Porque já não bastam essas reuniões arist ocr5ticas e restritas a um fechado círculo. O povo exige a dança e grandes clubes aparecem pelos bairros. O carioca explosivamente alegre, pode agora desvendar o seu temperamento inato e a sua educação já cultivada pela cópia da alta classe. Com a dança, todo um gra- cioso séquito de galantaria, de boas maneiras, de iniciações musi- cais e de recitativos românticos, apuram a sensibilidade do bur- guês já externamente aprimorado pelas modistas e pelos alfaiates franceses da rua do Ouvidor.

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Fics. 1DII a 202 - Algrrnias das qra?adr?s rla?lia$ do S~gtciidu Reinado que com a siia rnt1iaiilr! rnlluòncia c z i l t ~ ~ ~ a l e c o i i ~ os r e q i i i i i t e n dos srus i a l ò c ~ esprriteralr:arolri 7 1 0

sFciilo X I X n m c i e d d v corfoca.

(Reprodiição do livro de WANDERLEY PINHO: S a l f i ~ s e Damas do Segundo Reiiiadol . Condessa d e BARRIL e da PEDRA BRANCA. aia P prpceptaru das priiicesas. (Fiq. 199) . I i ~ r q u ~ s a d e ABRANTES e ciscoirdessa d r SILVA (FIg 200) r ~ ~ F C U ? ~ ~ E S R U d~ CAVALCANTr I F1:. 2111 > Se?ll~ora HARITOTF. [FIE. 202)

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que paralelamente a dança, motivadora dessas reuniões, um irônico sentimentalismo desce também dos grandes salões para essa mesma burguesia. O Segundo Reinado é a época dos MACIEL, MONTEIRO, dos "leões do norte" a transtornarem damas e moças como o novo espírito romântico, onde o soneto rendilhado e insi- nuante se intercala entre os volúveis galanteios amorosos. É a época dos FRANCISCO OTAVIANO a esparzirem as suas malícias e os seus versos entre as admiradoras deslumbradas Jantares, pas- seios, regatas, corridas de cavalos, agrupam continuamente essa nata social, onde os namoros ainda esquivos cruzam instantâneas e discretas olhadelas sob o anteparo das varetas propícias dos grandes leques.

O canto nos saraus educa o ouvido carioca, enleva-o para a Arte pela voz das sinhazinhas. O concêrto afina o gôsto pela mú- sica Mestres de piano, canto e dança penetram afoitamente n a família, outrora domínio exclusivo do padre.

O próprio Imperador desde menino tão sisudo, baila na Corte, nos salões da nobreza, nas recepções de Províncias. De suas visitas a Campos há significativas descrições dos vários bailes em que toma parte. E em seu Palácio Isabel - hoje Guanabara -, iria a prince- sa imperial após o seu casamento com o conde D'Eu, reafirmar toda a influência espiritual da França que tanto já assimilara com a própria educação.

Com a Família Imperial inaugurara Petrópolis um novo hábito de elegância bucólica, onde as amazonas a Imperatriz EUGÊNIA, as carruagens repletas de senhoras e rondadas por cavaleiros a rigor copiam os requintes de Paris.

A partir dos Paços Imperiais, toda a nobreza sorve a cultura francesa Récitas em teatros particulares representam exclusiva- mente pecas francesas que ~o~mpletam os saraus musicais dos GOTTSCHALK e dos ARTUR NAPOLEÃO E toda a burguesia tenta imitar essa mesma nobreza com os seus clubes recreativos, êmulos do famoso "Cassino Fluminense", tão mencionado por MACHADO DE

ASSIS, cujos bailes congregavam a aristocracia e onde valsava o próprio Imperador.

A renovação do espírito carioca vinha pois de cima, com o próprio exemplo da Coroa Não esqueçsrnos, porén?, que, nessa persistente e contínua remodelação da vida e dos costumes cario- cas com a conseqüente evolução do seu espírito, atuava ininter- ruptamente a rua do Ouvidor, a "França Antártica", nas palavras de ITIER, a formigar de itinerantes todo o dia, e magnífica de luzes ao anoitecer, quando ante as suas lojas desfilava a família carioca, liberta afinal de restrições patriarcais, e onde os bandos de m ô ~ a s transitavam na contemplacão dos últimos vestidos de Paris, dos últimos penteados de Paris, dos últimos adornos de Paris.

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A francesa rua do Ouvidor, nascida com o Império, é que verdadeiramente transfigura todo o espírito da burguesia com os seus fatores associativos. JZ ela que aproxima a nobreza do povo. Com ela é que os costumes da alta sociedade baixa,m às camadas populares. Ali, "ombreados com a nobreza, o povo não se dava conta do trabalho sutil de separação que operavam vestuários e maneiras, gostos, relações e hierarquias7'.

Era a "rua dos franceses" que traía e misturava. Quase todos os visitantes do passado século, são concordes, ao notar ali uma extraordinária influência da França. J á citamos até a opinião de franceses eminentes as quais podemos adicionar a de BIARD que a descreve como "rua francesa de um extremo ao outro" e que "toda a cidade está nesta rua", 272 e a de ARAGO, O qual numa dramatici- dade toda profissional declara: "Je retrouve Paris a Rio!". "13

Um fato real é que, sem a existência da rua do Ouvidor, aquela aproximação da burguesia a nobreza seria lenta. Difícil a unifor- mização da alma carioca dividida em castas insolúveis pela bar- reira da riqueza e dos brasões.

Assim como a espirtualização do carioca se deve aos grandes salões e sobretudo a grande dama aristocrática, a democratização dêste mesmo espírito Poi antes de tudo a obra dessa rua, da sua vitalidade que até hoje desafia os quarteirões de arranha-céus das novas avenidas.

A rua do Ouvidor centralizou em si toda uma longa época do Rio de Janeiro, a mais importante em sua formação, porque foi nesse período que o espírito carioca se libertou definitivamente da sisuda expressão artificial dos dois e meio séculos da colonização, desabrochando ao sol de um parisianismo ali absorvido e tão con- forme à sua luminosa vivacidade ambiental.

A formação espiritual do carioca com o aprimoramento da burguesia e das elites, deu-se pois no Império. Sobre as realidades étnicas e fundamentais da herança portuguêsa enriquecida de atributos negros e ameríndios, sedimentou-se uma cultura francesa com a sua literatura, com os seus artistas, com a irresistível atra- cão das suas modistas, dos seus cabeleireiros, dos seus alfaiates, embaixadores populares da elegância e da espiritualidade de Paris.

A Inglaterra com as suas indústrias e com o seu comércio, por certo que muito contribuiu para a elevação da vida carioca, arrastando-a para um novo ritmo mecânicamente acelerado. Os grandes fundamentos porém dessa metamorfose cabem a Franca que nos ensinou como viver mais lindamente. Foi ela que nos deu a compreensão do Belo, a distinção que nos faltava, e pela amplia- cão dos nossos horizontes com a sua Cultura, foi ela ainda que

"2 BIARD, F : Deiix Années az~ B?BsiL Paris, 1862, páas 46 e 47 "-., e.W ARAGO, Jacques: DeiLx Oceans Paris, 1854, pág 301

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nos aprestou para mais distantes caminhadas, tais como a subli- mação da música italiana e alemã.

E, providencialmente, essa transformação se deu no Império. o período máximo do nosso feudalismo agrícola. Porque então a mulher brasileira nobilitada, na qual primeiramente teve efeito a sedução do espírito francês, imunizou-se de artificialismos exces- sivos pela intermitência da vida nas fazendas com a sua simplici- dade rural e caseira, com a afetiva parentela roceira, com a mu- cama e o negro velho, com o contacto diário com a cozinha, com a singela religiosidade das capelas solarengas, com toda essa tran- quila existência fazendeira que lhe deu e lhe fêz maternalmente transsrsltlr o sentimentalismo brasileiro, a herança mais preciosa da nossa, alma coletiva.

A nossa formação rural, alicerce das nossas tradições, à qual sòlidamenite se ligavam as elites cariocas, impediu que uma com- pleta erairopeização desmantelasse essa estrutura característica, essencial da nossa originalidade, substituindo-a por uma civiliza- cão inteiramente decalcada.

Foi este s maior presente dado pelo Império à Cidade Maravi- lhosa. M preservação das suas tradicóes familiares moralmente enraizadâs nos fundamentos portuguêses da sociedade, e a espi- ritualizaqâo das suas elites e da burguesia através do mais com- pleto expositor latino da civilização. Porque "o gênio francês - como bem disse NABUCO -, em todos os raios do espírito, princi- palmente os raios estéticos". 274

13 este afinal o espírito carioca, tal como o recebemos dos salões imperiais e da rua do Ouvidor, a qual por longo tempo ainda, na República, o iria acalentar. Que o iria reter e fascinar até a chegada do cinema, propagandista irresistível de uma cultura nova a se universalizar, impondo às massas em todo o globo um avassalante colonialismo espiritual e integrando-as num padrão único em maneiras de pensar e de viver.

Conseguirão em tal dilúvio grupalmente sobreviver os preciosos atributos cariocas? Poderão êles sempre culminar sobre um cos- mopolitismo universal que tudo invade uniformemente modelan- do sobretudo a vida e o espírito das grandes metrópoles?

B provável, pela originalidade indestrutível de um fator que ainda não citamos. Um poderosíssimo elemento concretizador e fundamental cuja imortalidade nos vai aparecer nas páginas a seguir.

Falamos até agora quase exclusivamente da burguesia e das elites. Mas a plebe afinal? Até que ponto êsse novo espírito pene- trou na grande massa d a população? No verdadeiro povo do qual

NABuco, Joaquim: Minha Formação Rio, 1900, p&g 95

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apenas se lembram os grandes capitalistas pelas estatísticas dos milhões de favelados, das gigantescas metrópoles?

Esta plebe carioca, viu-a quando ainda jovem um gênio da revolta. E é assim que no-la descreve em 1883 EUCLIDES DA CUNHA: "Uma noite, passeávamos eu e um amigo em frente ao Cassino - em noite de grande gala -, envolta nas harmonias vibrantes de uma orquestra se agitava a aristocracia dourada e ruidosa -; paramos - o meu amigo embevecido pela música e pelas luzes, em pé no lajedo lamacento, devorava com o olhar aquêle mundo lu- minoso e sonoro; eu contudo, alheio ao que o arrastava, fitava, não ol baile, a festa, mas a massa esfarrapada, sublimemente asque- rosa da multidão que, imóvel, em frente ao relento, quedava-se em frente àquele espetáculo que era uma gargalhada hor

r

ível, irônica, a sua fome, à sua nudez, e, fitando o povo - êsse grande anônimo, que por isso não deixa de ser o maior colaborador da história -, tirei a minha carteira, e quase a luz que cintilava do crachat de sua Majestade que lá estava, tracei êstes versos, enquan- to me brilhava no cérebro êste alexandrino, férreo e incisivo de VICTOEI HUGO:

"O Jongleurs! noirs par l'âme et par la s e r v i t ~ d e ! " ~ ~ Será isto afinal um vivo desmentido ao que dissemos sobre a

evolução do povo carioca na Era Imperial? Será esta afinal a crua realidade sob o verniz de uma cultura ilusória e superficial?

Não, ao considerarmos que era essa a mesma plebe de Paris. de Londres, de Viena, de Berlim, de Nova Iorque, incomparáveis então com o nosso Rio como grandes centros culturais. A mesma plebe atual dos bairros proletários das metrópoles, infeliz, mise- rável e explorada, cuja existência envergonha a presença de gi- gantescas civilizações. A mesma plebe que hoje aguarda a liber- tação de regimes moribundos, onde a cultura é apanágio das elites empedernidas pelo capitalismo sem entranhas.

Não fantasiamos romance Não escrevemos sobre o que deveria ter sido essa cultura carioca Cingimo-nos a fatos concretos e não a sublimações idealisticas. E aquêles, o que nos mostram em toda a evolução humana até os dias atuais, são as grandes civilizações a irradiarem de pequenas elites culturais. Foi o que se deu no Rio, como alhures. E certamente a influência dessa aristoburguesia penetrou nas camadas populares, elevando-as embora insensivel- mente pelo exemplo, pelo menos para o idealismo de uma vida melhor.

Nessa plebe entretanto é que se fincavam os próprios alicerces étnicos da cidade, hereditàriamente intactos em seus atributos primordiais. 33 nela, nessa multidão anônima que se acrisolou o que de mais original existe no espírito carioca, enquanto as altas clas-

-'" WANDERLEY P I N H O : Obr cft , págs 273-274

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ses flutuam ao sabor das correntes culturais alienígenas. Por certo que esta massa tão tradicionalmente vivaz, ,com rapidez contagiou-se a poderosa emanação de sociabilidade a desprender-se dos salões da nobreza e da burguesia afrancesada. Nessa plebe, porém, Cristalizaram-se atributos bem mais profundos. Toda a tremenda luta contra o pântano, toda a ânsia de conquista dessa paisagem atormentada de contrastes que centraliza as ambicões cariocas durante séculos, nela perdura com a consjstência das lentas sedimentações duráveis.

As angústias raciais do sebastianismo e da escravidão difundi- ram-se nela pelo cruzamento, e não obstante evanescidas p~?lo tempo, mergulham sempre vivas no inconsciente coletivo.

Por outro lado, a truculenta expansividade portuguêsa, tro- péis de ritmos africanos, sutilezas defensivas de ameríncolas. en- leiam-se no mais íntimo dêsse mestiço com toda a potencialidade latente dos recalques .

Há uma tremenda complexidade psíquica nesse homem ema- ranhado em si mesmo pela mestiçagem. Mas sendo um forte, sadia- mente selecionado por seculares gerações em perene luta contra o meio, essa mesma complexidade é que lhe garante a sobrevivência dos atributos próprios, por demais enredados para se desentrela- çarem, por demais coesos e enrijecidos para que se pulverizem e se dispersem, diluídos nas grandes vagas cosmopolitas do futuro que com o acelerado evolucionar dos meios de comunicação, tendem crescentemente a internacionalizar a alma dos povos

13 com a sublimação da alma dessa plebe que veremos imorta- lizar-se o espírito carioca.

2. SÍNTESE GEO-SENTIMENTAL

"Todos os contrastes parecem ter combinado eii- contro na baía do Rio de Janeiro" Du Petit Thouars, "Voyage autoiir dii moiide daiis la Frégate La Veniis"

"Uma cidade pa.ra. ser interessante deve ter cm si grandes contiastes é o que acontece no Rio. Nesta cidade os extremos divergem milito, mas apresentam transicóes entre si de especial harmonia"

STEFAN ZWEIG: "O Brasil, País do Futuro", Eio, 1944, pág 230

"A vida social tolera nesta cidade todos os con- trastes Todos aqui se misturam, e a rua pela grande variedade de fisionomias, se torna iim quadro constantemente cambiante" Idem, pág 231.

Tão íntima foi no Rio a associação final da terra ao homem, que se diria entrever os impulsos formadores do meio telúrico, pro-

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positadainente criando uma estrutura geológica e um ambiente geográfico em plena harmonia com a futura psicologia do habitante.

Vimos como os fatores gliptogenéticos com o correr das Idades vagarosamente esculpiram as formas da Guanabara e o relêvo da singular cintura terrestre que a circunda, talhando-os num bloco de rochas primitivas castigadas de violentos tectonismos. Em seu arcabouco fundamental, a baía resulta de poderosas forças tangen- ciais e verticais em camadas cristalinas.

Com tal dinamismo diastrófico, os fenômenos tectônicos qualifi- caram-se desde o comêço por intensa perturbação estrutural.

Expusemos com que elegância estratigráfica séries consecuti- vas de rugas sobrepuseram-se a uma bossa granítica no Distrito Federal. Observamos que tanto a margem oriental quanto os fundos da baía soerguem-se de uma base telúrica esfacelada, onde as ca- madas partidas por possantes sistemas de falhas, afundaram-se em fossos intervalados entre as sucessivas massas dos pilares divisores.

Sobre toda essa estrutura internamente convulsionada elevam- se escarpas quase a prumo e conicidades esquisitas. Isoladamente se alteiarn invulgares monolitos, a emergirem pètreamente nus de praias e florestas, ou do próprio mar que os franja de agitadas vagas espumantes. E em torno dessa morfologia paleográfica excepcionalmente sacudida, sobre a velha depressão que outrora ampliava os limites da baía por enormes áreas alagadas, veio a depositar-se o atêrro das aluvióes trazidas pelos rios, enquanto pelos bordos marítimos as areias padejadas pelas ondas estiravam- se em restingas, suavizando em curvas delicadas um litoral todo agressivo de penhascos.

Ponhamos de lado as zonas cristalinas com toda a sua agitação estrutural que reservam surprêsas tectônicas para o geólogo e comumente o desorientam com problemas petrogenéticos. Relem- bremos apenas que, embora oculto ao leigo que não vê, todo êsse tectonlsmo foi o verdadeiro criador da paisagem carioca, e portanto de seus reflexos diretamente a repercutirem sobre o homem e a sua evolução social.

Atentemos, todavia, mais um instante, na cobertura de sedi- mentos recentes, frisando a capital importância dos fenômenos geológicos na marca progressiva das comunidades.

Foram essas camadas que reduziram a área invadida pelo mar, aumentando a base plana para os futuros urbanismos. Ao mesmo tempo, foram os fenômenos da formação de mangues e restingas no interior da Guanabara que mantiveram a existência da mesma, limitando a dispersão dos alúvios e impedindo a generalização de um vasto aterramento sobre a maior parte da bacia coberta pelas águas.

Descrevemos a ação das restingas a isolarem do mar extensos banhados e alagadiços, focalizando a enorme contribuição dêsses

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diques naturais para o dessecamento do recôncavo. Foi a restinga que, impedindo a saída livre dos rios para a Guanabara, forçaram- nos pela paralisação a descarregar nesses tremedais as suas cargas sólidas trazidas da cordilheira e dos serrotes litorâneos. Sem a restinga não seria orientado o entupimento da concavidade e não teríamos a delimitação atual dos contornos da Guanabara. Sem ela seria a baía mais reduzida, com imensos pantanais em contínuo avanqo pelo mar e com a agravante da ausência de praias firmes no circuito litorâneo.

Após a Tridlência dos diastrofismos a espedaçarem todo o embasamento primitivo, no esboçar de magníficos blocos monta- nhosos marginais a uma grande baía, aberta para o Atlântico por uma brecha profunda e bem talhada, a natureza recompôs o cenário, pondo-se a arrematar a obra iniciada com a sedimentação de grandes planícies para o assentamento da futura metrópole.

Mais uma vez evidencia-se a necessária precedência da Geo- grafia Física em toda a sua afinidade com os fenômenos telúricos, na resolução de problemas inerentes a Geografia Humana.

8 caso do Rio de Janeiro é relevante neste ponto devido a uma topografia de contrastes incomuns . Difícil encontrar-se em outros pontos do globo um cenário similar, destinado pelo determi- nismo geográfi,co a um povoamento tão intenso, no qual o relêvo não sòmente influiu com tamanho poderio n a evolução histórico- -social de um grupo humano, como também se reflete ostensiva- mente nas chocantes disparidades da psicologia coletiva.

Da planície empantanada a montanha de mil metros, toda uma série de acidentes se desdobra em torno da baía, a diferen- çarem os esforços para o seu domínio. Climas e microcIimas extra- vagantes. Obstáculos naturais ao comum convívio de uma grande cidade, quase intransponíveis, a englobarem dificílimos problemas urbanísticos e que retorcem as linhas de comunicação com desvios enormes. Vida marítima, vida de planície, vida de morro e de montanha em contínuo acotovelamento . Psiques locais que se entretocam, oriundas de súbitos contrastes topográficos delimita- dores de grupos e que avizinham e regllçam distinções de classes. Heterogêneas inquietações inconscientes desarticuladas pelo pró- prio meio americano, livre de tradições coordenadoras, e agravadas pelo entrechoques de sangues tricontinentais. O morro fidalgo e a planura plebéia que com o correr dos séculos se transformam na planura burguesa e no morro proletário. Cidade que permuta as zonas residenciais em cada época, ao sabor do progresso dos trans- portes vencedores da topografia. Vales tentaculares densamente habitados mas desunidos por morrarias selvagens e enflorestadas. Favelas de barro e lata em pedestais de cerros esplêndidos e pala- cetes em fossas urbanizadas. Crescente atropêlo de veículos num centro ininúsculo a irradiar dezenas de quilômetros de ruas e ave-

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nidas. Comércios suburbanos bem crescidos, que o progresso fe- cunda nas distâncias. Baixadas notumamente consteladas de ilu- minações soberbas entre manchas tenebrosas de matagais. Calores tbrridos e aguaceiros alagadores. Arroubos jornalisticm, arroubos revolucion8rios, arroubos carnavalescos e sentirnentaIismos extre- mados de paixões enlanguescidas. Lábios em comissura de sorrisas educados e bocas altissonantes de protestos. Mocidade fina e bem cuidada como as avenidas impecáveis, mas que espalhafatosamente se contorce em coreografias africanas. Democracias de carnaval, de praias, de filas, de cassinos, e aristocracias domiciliares intacá- veis Povo aIegre e irreverente, anguloso e cumilíneo, a reproduzir numa psique desconcertante o panorama indisciplinado que o circunda. . .

Todo esse tremendo e reaIistico enxadrezamento geográfica, étnico, soeio1~gico e espiritual, é inexprirnível para o escritor. Sòmente o músico poderia sintetizá-lo, com êle identificando-se integralmente na composição a u m tempo sentimental e vivamen- te cõlorida de uma

Sinfonia carioca

" j e feraf de Ia miislqiic, e t nous vivions éternellement! Dui, pcitt Ctre Pterneilement!"

BEETROVEW: Cartas ao pintor ni2aceo

Contrastes! Contrastes! Contrastes! Envernizmentos cépticos aparentes a dissimularem misticismos nativos essenciais. Inatos sen- tirnen talismos indeléveis sob inescrupulosos utili tarismo irnport a- dos. Vivazes pan-sensualismos lusitanos que se esmoitam sob grã-finismos artificiais. Aima pan-mista de contradiç6es que em- penhadamente se entrebatem, de uisurretos antagonismos poligê- nitos, de ir reprimi veis recalques hereditários em arritmias pdpi- tantes .

Psique enigmática e inapreensível, de recônditos atributos rniscigênitos que mal atingem o mundo exterior em fug-idias reve- Iqões inconcatenaveis. Feição grupal de aspectos móveis e fuga- zes, de tonalidades velozmente esfuminhadas, de e fêinexos tracos fisionômicos reticentes, de continuas e infixáveis rnutacões que mal debuxam a configura~ão interna e espiritual.

Cidade paradoxal estàtimmente irretrathvel, mas que nos revela todo o seu complexo dinanlisrno, em sua síntese musical perplexamente ambígua de melancolia e arrebatamento o samba.

Requebrada em vias ziguezagueantes, tamborilada de ruídos permanentes, carnavaEesça de bizarrias arquitetônicas, em suas atitudes, em seus gestos, em suas humorística vivacidade, em sua fremente agitação, em suas decisões políticas espontâneas, há

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sempre a montanha, a confusão florística, os picos e as escarpas aprumadas, os quais, ao mesmo tempo morfològicamente, simboli- zanz a gigantesca potência das comoçóes telúricas responsáveis por essa orogenia tormentada e os resultados caprichosos dêsse espírito efervescente de malícia, espontado de agudezas, perene- mente aguilhoado por felinos sensualismos, desde os casebres de seus morros trepidantes de batuques, as suas praias voluptuosas, de ondas e corpos langues, férvidas de sol e de desejos, fecundas incubadoras das elites.

Cidade-Carnaval das massas arrebatadoras em clamores na espontânea mobilização de bandos policrômicos, que marcham, cantam, gesticulam, desoprimem-se de inquietantes atavismos, sublimando-os em ternas melodias, curvilíneas como as vagas de seus mares, ondulantes como as dobras de seus morros, alongadas como as perspectivas de seus plainos, mas que amotinadamente fremem sob a risada metálica dos pandeiros, barbarizam-se entre ululos transcedentes ao roncar de reco-recos e de cuícas primitivas, cadenciam em tribais arremetidas sob o estrépito irresistível dos tambores.

Em clãs, em hordas, que se mesclam, tudo isto ferve, move- se, acelera-se no rasto ciclônico das "balizas" que investem e con- tramarcham, contorcem-se em requebros, revoluteiam pelo a r os braços convidativos que giram sobre a cabeça, serpeiam pelo busto e pela cinta, contornam o rebolir das ancas emancipadas de forma- lismos, elevam-se de novo em súplicas de carícias, e que na magní- fica alegria da raça transfigurada e livre de preconceitos milenares, de súbito parafusam no bico das sandálias.

Dança morena, dança, que em tua dança há a presença dos séculos. Em tua passagem a órbita processional do Homem pelas eras. Em teus gestos serpentíneos, vagamente indicativos, focali- za-se a eterna hipnose das promessas dos caminhos. Nos boleios de teu ventre prolífico de mestiça palpitam genéticas reminiscên- cias das gerações extintas. Na arritmia da cadência dos teus pas- sos, oscila a marcha dos povos através da Terra. Na quentura do teu sangue efervescente pulsam todos os sangues recruzados. Em tua voz há o acalento de todos os berços, e erram por tua epiderme elétrica remanescentes arrepios de todas as carícias.

Porque t u és a integral das raças geograficamente diferencia- das. Tu vens de longe, de um passado inescrutável. Do branco, do negro e do índio. Da Europa, da África e da Ásia. Porque em t i há todas as vergônteas empunhadoras de florescências. Porque tu és a Mulher-Universal, plebéia carioca.

Em ti ressurgem todas as feminilidades hereditárias das bai- larinas que dançaram nos palácios assírios e babilônicos, nos tem- plos egípcios, nos serralhos mouriscos e orientais. Em teu sangue lembradiço bailam os instintos atávicos que explosivamente se

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libertam. Em ti descerram-se os requintes de estesia que deslum- braram uma Atenas de filósofos e enervaram a Roma de conquis- tadores e legistas. És tu que exumas indestrutíveis fetichismos africanos, que os arrasta no turbilhão das turbas que tanges, e ,que tumultuosas turumbambam aos ribombos de bombos que zabumbam! Bs tu que reges a ordem na desordem, a harmonia na dissonância, o ritmo no caos: o Carnaval.

Em seus ranchos e cordões, em seus corsos e sociedades em desfiles permanentes há todo um filme retrospectivo da humanida- de pela Terra. No torvelhinho das multidões que se misturam deli- rantes, passa toda a história humana em quadros sucessivos. Do homem das cavernas às culturas mais altas do índio ernpenachado ao fastígio imperial, da cigana a fidalga, do malandro isolado aos cortejos imponentes, a farsa, o drama, a tragédia, todos os povos e raças, revivem, desentranhadas da sintética alma carioca numa súbita e espetacular descoberta de si mesma.

A evolução inteira reaparece parcelada em blocos que atra- vessaram as idades, recruzaram os continentes e os oceanos, na espontaneidade evocativa da grande festa carioca. Toda ela res- surge de repente os estrídulos convocativos das trombetas carna- valescas. Tumultua e rodamoinha em súbitas demências. Ergue-se em vagas polifônicas que sobem, estrondam e se esvaem com a passagem dos bandos a carater. Dissemina-se na multidão em fantasias variegadas, expressivas divulgadoras de complexos incii- dividuais .

Em cada ser mediunizado pulam os pithecus originários Lon- gínquas afinidades perdidas reencontram-se na massa em desvario. Dispersas familiaridades errantes surpreendem-se aos esbarros no tumulto. Reunem-se transitòriamente e às pressas, parcelas de heranças comuns e desgarradas.

Uma onda de volúpia envolve a cidade inteira. Esma libertà- riamente e alucinada a lascívia procriadora das gerações mesticas. No som, na cor, na forma, em lúbricos frenesis irrefreáveis, resíduos psíquicos milenares aceleradamente se precipitam em ávidas ten- dências de recaldeamentos fervilhantes .

Na síntese dêsse espírito imponderável, o carnaval desvenda os profundos arcanos raciais. Retraça a caminhada cultural dêsse homem pela história, em fragmentos reajustáveis . Porque em toda essa anarquia translumbrante há sempre um ritmo coordenador, um compasso que guia, uma cadência que impele.

Há uma contínua intermitência de arrebatamentos sincopados, numa acústica simbologia descritiva da alma dessa plebe, a evolu- cionar aos repelões de cruzamentos primordiais. Há o tema persis- tente e disciplinador, o alegro musical da sublimação da psique popular em sua síntese definitiva: o samba.

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Referimo-nos especialmente ao "samba carnavalesco", dançan- te e orquestral, complexo e entusiástico de originalidades polifôni- cas solenizadas em grandes coros imponentes que automatizam os desfiles incessantes de cordões e ranchos processionais. Não a deturpação solista do "samba de malandro", monologado em versos humoristicos, claudicantes e enfieirados em cantilenas monoto- níssimas, ao qual se extraindo a letra, nada mais resta que uma sensaboria musical.

Poderá êste revelar-nos, o individualismo folclórico de trova- dores cariocas, por vêzes geniais e repentistas, 27G jamais, porém, a psicologia coletiva das massas da cidade, em transportes pelas ruas, delirantes nos salões de bailes, e sobretudo objetivamente centralizada nos turbilhões carnavalescos da extinta praca Onze.

O samba carnavalesco é a exteriorização dos atributos heredi- tários da alma carioca. A resultante sonora e coreográfica da sua evducão étnica e espiritual. O intempestivo desvendar de uma complexa estrutura inconsciente, modelada em sua formacão .

~5 êle o morro que pela segunda vez desce à planície para dominá-la. O espírito da plebe que emana para as elites que o reabsorvem e o assimilam. A imperceptível democratização das classes pela padronização emotiva, simetrizadora de impulsos e atitudes.

Nessa música e nessa dança há o ritmo do conquistador em marcha e a arregimentada sucessão das ondas ambulantes. Estra- nhas rotundidades pétreas e boleios conceptivos de quadris. A disciplinação de tumultos étnicos encarcerados na mestiçagem e o paroxismo das seivas constritas pela forma, na anarquia vegetal dos matagais. Repentinos píncaros sonoros como gritos de cativos e-fugas coleantes como os rios de banhados. Súbitos vácuos musi- cais, como instantâneas e interrogativas paradas ante abismos, e langores de planícies que se arrastam na canícula. Descaídas res- valadias sobre encostas côncavas e exalçamentos culminantes como os píncaros serranos.

O samba é a música e a dança dos contrastes. A síntese do homem e da paisagem cariocas. B ele um cântico natural da terra.

No seu ritmo trepidante, chocalham entre si numa alegria libertária as mais díspares características ingênitamente raciais, envoltas na flexuosa circulação das nossas dolências marcializadas . Em seus acordes paradoxais, sinfonizam-se os extremos de uma

Foi o caso de NOEL ROSA, além de célebre compositor de sambas carnavalescos, grande poeta, criador de miniaturas folclóricas, o qual marca uma época nesse eSt110, como o inimitáveI ERNESTO NAZARE musicalmente retratara o fim tardio do nosso ro- mantismo. com as suas valsas e a sua criação de tangos brasileiros

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topografia caótica. Ao compasso de uma vivacidade tropical a reger flexões amolentadoras, dominantemente contraponta, num ajuste harmonioso, a intercadência dos picos perfilados sobre as sucessões de plicaturas telúricas, sobre as curvas superficiais de encostas e lombadas, sobre as colinas que se agacham ondulantes, sobre os sinuosos cursos d'água sempre errantes, sobre as praias que se arqueiam em volutas para a intumescência dos penedos terminais.

Inaccessível por sua complexidade a investigacões psicana- líticas, toda a alma carioca de repente se desnuda na síntese etno- geográfico-musical do samba.

Em sua instintiva inspiração relatam-se as vicissitudes trans- cendentais do homem pluri-racial, adaptando-se a um cenário de perplexidades panorâmicas. Renascem na amorosa ternura me- lódica a saudade portuguêsa e os queixumes do negro escravizado. Revivem a languidez climática e os enervamentos vibráteis do mestiço.

Tôda essa mista evocação de sensibilidades meigas e lascivas, subalterniza-se, porém, a um compasso retumbante. Agita-se febri- citante, como ao repentino despertar de uma sublevação telúrica.

13 a própria alma da terra original e bárbara que se levanta. A potência das seivas, o dinamismo paisagistico, as extremadas aberrações do meio. 13 a dissonância rítmica dos píncaros em staccato na modulação das fugas das perspectivas. . .

Mas é sobretudo a estupefaciente revelação da permanência das origens. Da vanguarda pré-histórica e inexpulsável das cabil- das, a tonalizarem para sempre o meio americano. Da preexis- tência imemorial de uma alma típica na paisagem, pelo antecipado comparecimento do aborígine . Da precedência do plasma germina- tivo do ameríncola na ontologia racial, e de seus atributos étnicos indiluíveis no sangue e indissociáveis da cultura.

Em seu apoteótico nativismo, há no samba carnavalesco sem- pre a imanência do espírito primitivo. Insistências de entidades incorpóreas, subjetivamente errantes n a psique plebéia. Há sub- terrâneas presenças nativas em veementes angústias de reencar- nação. Cadências imortais e americanas que reboam pelos séculos, inseparáveis do Passado, do Presente e do Futuro. Sísmicos rumo- res de subsistentes atributos, evasivos do emparedamento nas iga- çabas tumulares. Esotéricos ritualismos bárbaros, em sapateantes reminiscências onomatopaicas . Ressurgem as tribos e baques so- turnos, retumbam nas tampas das tumbas das tabas! . . .

Motivos sólidos apóiam GILBERTO FREYRE, quando afirma: "Pode-se falar numa geografia moral, ou antes psico-social do

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Brasil, na qual as danças populares - principalmente as de Carna- val -, marcam fronteiras regionais de cultura, diferenças de formação histórica e de experiência social". 277

Inquestionavelmente, o samba carnavalesco é uma das mais típicas e espontâneas dessas expressões da nossa espiritualidade, musicalizada. 12 êle o símbolo essencial de realidades cósmicas iniponderáveis, num meio geográfico intensamente humanizado

O local onde mais autênticamente êle se revelou com toda a sua originalidade e a sua potência criadora, acha-se de há pouco integrado na maior das nossas avenidas. Mas o seu nome conti- nuará por longo tempo a enternecer a alma das ruas, com uma das mais belas, características e completas criações saudosas do gênio popular, que o perpetuou num magnífico epitáfio folcló- rico o "Vai acabar a praça Onze. " Ali deve o carioca erguer o "Monumento ao Samba", que é também o de si mesmo. Porque êle, em suma, é a única e lúcida interpretação visual e audível da sua indecifrável psicologia hereditária Nêle vemos num complexo en- trelaçado, o tropel das marchas transcontinentais varando os sé- culos em cadências rudes, múltiplas e erradias, indo ter a Guanaba- ra . As convulsivas transfiguracões da raça violentada pelo ambien- te e uivantemente a se estorcer no inconsciente torturado de contrastes. As evolutivas acomodaçóes da espécie pela mestiçagem, ajustando-se coleantemente ao meio para se adaptar. O espírito coletivo a evolver, mimetizando os elementos paisagísticos assimi- lados

"O Rio de Janeiro é uma natureza que se tornou cidade, e é uma cidade que dá a impressão de natureza", disse lapidarmente ZWEIG. 2iS E O samba é o seu Zied fisionômico regional a espera dos gênios da Arte para a estilização imgorredoura numa Sinfonia Carioca. É a analogia musical da gente a terra.

Terra que modela o homem. Homem que repete a natureza. Rio de Janeiro, cidade-samba, singular improvisação rapsódica rle complexidades étnicas e telúricas reunidas e mescladas pelo deter- ininismo geográfico, dramatizadas pela história e transmitidas pela evolução à eclética alma carioca transcendentalmente musical, sempre a expandir-se e a refazer-se como o cambiante reflexo da paisagem. Sempre a sublimar-se na mais perfeita harmonia dos contrastes, como se numa evasão anímica e espontânea transmi- grasse para o homem a própria essência peculiar de um cântico da terra, a mesma cósmica emanação da esquisita mobilidade dos motivos panorâmicos da originalíssima e estupenda Guanabara.

?i: FREYRE, Gilberto: Região e Tradicão Rio, 1941, pkg 253

ZWEIG, Stefail: Obi cit , pág 188

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Fig. 209 - . . . como se o próprio espír i to original das plagas cariocas emergisse da tewa, a ressurgir das igaçabas tumulares.

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Page 395: O Homem e a Guanabara

RELAÇÃO DAS ILUSTRAÇÕES

Fig Fig Fig Fig Fig Fig Fig Fig Fig Fig Fig Fig Fig Fig Fig Fig Fig Fig Fig Fig' Figs Fig Fig Figs Fig Fig Fig Fig Fig Fig Fig Fig Fig Fig Fiig Figs Fig Fig Fig Fig Fig Fig Fig Fig Fig Fig Fig Fig Fig Figs Fig Fig Fig Fig Fig Fig Fig

Ff: Fig Fig Fig Fig Fig Fig Fig

1 - Mapa dos "Setoies da Evolução Fluminense", p 18 2 - Páo de Açúcar, p. 19 3 - Vista aérea da entrada da baia da Guanabara, p 19 4 - Pano de fundo da Guanabara, p 32 5 - Estiutula geológica do Pão de Açúcar, p 43 6 - Coite em gnaisse-quaitzítico na avenida Nieméiei, p 44 7 - Gruta próxima ao Forte de Sã3 João, no morro Caia de Cão. p 44 8 - Entrada da Guanabaia, p 45 9 - Escaipa sul do Pão de Açúcar, p 45

10 - Geologia do maciço Urca-Pão de Açúcai, p 46 11 - Estiatigrafia da Uica, p 47 12 - Complexo estratigrhfico e tectônico do grupo Urca-Pão de Açúcai, p 47 13 - Formação tectônica da entrada da baia da Guanabara, p 48 14 - Secção geológica através do molro da Babilônia, p 49 15 - Morro dos Cabritos, p 49 16 - Escaipa sul do Coicovado, vista de leste, p 50. 17 - Escarpa sul do Coicovado, vista de fiente, p 50 18 - Secção geológica através do grupo do Corcovado, p 51 19 - Eniugamento do grupo do Corcovado, visto de oeste, p 51 20 - Corte av Nieméiei. Dois-Irmáos e estrada da Cascatinha, p 52 21 e 22 - A Gávea, vendo-se a Cabeça do Impeiadol, P 53 23 - Piaia e montanha da Gávea, vendo-se a praia de Miiapei~di, p 54 24 - Pico da Tijuca, p 54 25, 26 e 27 - Secções cla Gávea, da selia da Carioca e do pico da Tijdca, p 55 28 - O morro de Dona Marta, p 56 29 - A escaipa do moiio da Nova Sintra, p 56 30 - Oiigem do molio da Nova Sintla, p 72 31 - Seccões aaralelas de SSE a NNW através da cidade do Rio cle Janeiro. p 73 32 - corte geológico no morro da Providência, p. 74 33 - Magnifica pirâmide natural de Giajaú, p 74 34 - Esquema do eiliugainento piimitivo da seiia da Caiioca, p 75 35 - Esfoliação de penedos na Tijuca, p. 92 36 - Esfoliação de penedos na ilha de Paquetá, p 92 37 - Esfolia~ão de penedos na ilha d'Ãgua, p 93 38 - Bloco-diagiama da entrada da Guanabara, p 93 39 e 40 - Lâminas de rochas das escarpas do Rio de Janeiro, p 94 41 - Esfoliação dos morros cônicos, p 95 42 - Esfoliaçáo do Pão de Açúcar, p 95 43 - Origem das escaipas e vales do Rio de Janeiro, p 95 44 - Escaipa noite do Pão de Açúcai, p 96 45 - Escaipa de oeste do Páo de Açúcar, p 96 46 - Seccáo aeolórica da entrada da Guanabaia, P 113 47 - A Pedra do fildio na praia de Icalai, p 114- 48 - I taquatiala (pedra pintada), no litoral noite da Guanabara, p 114 49 - Secção geológica de GragoatB a ilha da Boa Viagem, p 115 50 - Estrutura aeolóeica do moiio da Boa Vista, P 116 51 - Pedieiia de leptinito no morio do Cavaláo, p. 117 52 - Secção geológica do morro da Armação, p 117 53 - Secções geológicas em Nitetói e São Gonçalo, p 118 54 e 55 - Iiregulaiidades estiuturais na bordo oriental da Guanabara, p 119 56 - Desabamentos circula,res na oiigem da Guanabaia, p 120 57 - Contraste tectônico entre as margens opostas d s Guanabaia, p 121 58 - Mapa da Guanabara, do livio de LERY, P 153 59 - Batallias navais e teliesties na Guanabara. em 1560, p 153 60 - Conquista de Cabo Frio em 1615, p 154 61 - Glande obia social do amansamento do índio. P 154 62 - Colégio jesuíta de Itaguaí, p 155 63 - Índios, habitailtes do ~ i o de Janeiro, no princípio do século XIX, p 155 64 - Capela de São Lourenco, Niterói, p L56 65 - Igreja de São Pedro de Maiuí, Niterói, p 156 66 - Maico jessiítico, próximo a igreja de Sáo Fiancisco, Niteiói, p 157 67 - Relógio de sol da ipieja de Sáo Fiancisco, Niteioi, p 157 68 - Ruínas do poitão da velha fazenda dos jesuítas em Itaguai, p 158 69 - O velho engenho de açúcar de Itaguaí, p 158 70 - Ponte dos jesuítas na baixada de Sepetiba, p 159 71 - Ponte de Sepetiba, p 159

Page 396: O Homem e a Guanabara

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Fig Fig Fig Fig Fig Figs

Fig Fig . Fig Fig Fig Fig

72 - Mapa do Rio de Janeiro nos fins do primeiro séciilo, p 176. 73 - A Guanabaia, segundo FROGER, em fins do século XVII, p 177 74 - O Rio de Janeiro nas vésperas da Independência, p 178 75 - Quadio do pintor JosÉ LEANDRO mostrando o que ainda iestava da lagoa

do Boquelrão em fins do século XVIII, p 178 76 - O canal do Mangue, p 179 77 - A Tiiuca no comêow do século XIX, p 179 78 - v i s t i aérea de coljacabana, p 180 79 - Vista aérea de Botnfogo, p 180 80 - Vista do alto do Corcovado, notando-se o Crescente domínio das planicies

pelo homem, p 181. 81 - Vista do alto do Coicovado, notando-sr a geometiia das linhas uibanis-

ticas coirigindo e embelezando a natureza sem a detuipar, p. 181 82 - Selvajaria de um cenáiio ocultando a mais linda das metrópoles, p 182 83 - Vista notuina da cidade do Rio de Janeiro, tirada do alto do Corcovado, p 182 84 - Obra do homem de planície executada entie montanhas e floiestas. p 183 85 - Tiecho da maia do Flamengo, p 184 86 - Vista de c%pacabana, vendo-se a praia, p 184 87 - Vista aérea da região de Botafogo, p 185 88 - Ateiros na Guanabaia, p 185 89 - Avanço de novos bairros sôbre os areais, 186 90 - Maiavilhoso cenjiio de montanhas espetaculares, p 186 91 - Flagiante d a abeituia da avenida Piesidente Vargss, p 187 92 - Outro aspecto da constiuçáo da avenida Presidente Vaigas, p 187 93 - Vista da ilha da Boa Viagem, p 204 94 - Portão de entrada do velho forte da Boa Viagem, p 205 95 - Escadarias de pedia na Boa Viagem, p 205 96 - Velha igiejz na ilha da Boa Viagem, p 206 97 - Ameias do velho forte da ilha da Boa Viagem, p 206 98 - Igreja da Boa Viagem, p 207 99 - Entrada do solai da marqiiesa de SANTOS, em Meiiti, p. 207

100 - Ruínas da capela do solar da marquesa de SANTOS, em Meiiti. p. 208 101 - Outro aspecto das ruínas do gelar da marquesa de SANTOS, p 208 102 - A velha igleja de Maiapicu, p 209 103 - A ponte do Imbaiiê, p 209. 104 - O foite de Gragoata, em Niteiói, p 210 105 - Intelioi das iuínas do convento de Santa Teiesa, em Itaipu, p 210 106 - O vale do Sarapuí, p 211 107 - Embocaduia do rio Suluí, na Guanabara, p 211 108 - Vila de Surui, p. 211 109 - Rio e pôito de Suruí, p 212 110 - Porto Velho, MajE, p 213 111 - Pôrto de,'Piedade, Majé, p 213 112 - Estrêla, vila de coméicio", p 214. 113 - Ruinas em Põito das Caixas, p 215 114 - Ruas calçadas do Pôxto das Caixas. p 215 115 - Um poitão peidido no mato testemunha a opulência, de outrora. da vila

da Estrêla, p 216. 116 - Ruínas do convento de S5o Boaventura de Macacu, p 216 117 e 118 - Fazenda São Beinardino, em Iguaçu, p 217 119 - Rio Inhomiiim, p 218 120 - Matiiz de Inhomirim, onde foi batizado o duque de CAXIAS, p 219 121 - Ruínas de velha igieja em Bananal, p 219. 122 - Fazenda de Culubandê, em São Gonçalo, p 220 123 - Fazenda de Culubaildê, em São Gonçalo, vendo-se uma acolhedora va-

landa, p 220 124 - Capela da fazenda de Culubandê, com seu alpendre oiiginal, p 221 125 - Outro tipo de alpendre, da capela da fazenda da Posse, em Nova Iguaçu, p 221 126 - Fazenda Engenho d'Águn, em Jacaiepaguá, p 222 127 - Capela do Engenho d'Água, cuja porta se vê ao fundo, p 222 128 e 129 - Dois exemplos de vaiandas com colunas das fazendas da Taquaia

e do Viegas. p. 223 130 - Fazenda do Rio d'ouro, em São Gonçalo, p 224 131 - Altar da capela da fazenda do Rio d'Our0, P 224 132 - Pia batismal d.a capela da fazenda do Rio d'oiiro, p 225 133 - Mosteiio de São Bento, em Meriti, p 225 134 - A bela vaianda da fazenda São Bento, p 226 ,135 e 136 - JosÉ MARIA DE MORAIS LAMEGO e SOFIA JARDIM LAMEGO, avós pateinos

do autor, p 226 137 - Chegada de escravos africanos ao Rio de Jai~eiio, p 243 138 - Engenho de açúcar movido a fôlça hidiáulica, p 244 139 - Cafezais nos inoiros cio Rio de Janeiio, p 245 140 - Vista paicial de Ailgra dos Reis, p. 262 141 - Convento do Carmo, em Angra dos Reis, p 262 142 - Convento de São Beinaiciino, em Angra dos Reis, P 263

Page 397: O Homem e a Guanabara

Fig 143 - Cidade de parati, p 263 Fig 144 - Fazenda da Boa Vista: em Paiati, p. 264 Fig 145 - Eloresta viigem em Mangaratiba, p 264 Figs 146 e 147 - Rio Arapucaia antes e depois de saneado, P 280 Figs 148 e 149 - Canalizaçáo de iios, p 281 Figs 140 e 151 - Obra de saneamento executada pelo D N O S . p 282 ~ i g s 152 e 153 - Obia de saneamento executada pelo D N O S , p 283 Figs 154 e 155 - Obra de saneamento executada pelo D N O S , p 284 Figs 156 e 157 - Rio MaJé, vendo-se ao fundo a cidade do mesmo nome, p 285 Pig 158 - Bairagem no Guandu-Açu, executada pelo D N O S , p 286 Fig 159 - Rio Estrêla antes de saneado, p 286 Pigs 160 e 161 - 0 rio Iguaçu antes de saneado, p 287 Fig 162 - O iio Iguaçu depois de saneado, p 288 Fig 163 - O viaduto de Santa Cruz sôbie o ~ i o São Fiancisco, P. 288 Figs 164 e 165 - O viaduto de São Francisco na baixada de Sepetiba, p 289 Fig 166 - Obia de saneamento da Baira da Tijuca, p 290 Fig 167 - Um tiecho da rodovia Rio-São Paulo, na Baixada Fluminense, p 291 Fig 168 - Solo humoso mas inútil da Baixada, p 291. Fig 169 - Bananais plantados em solo saneado, p 292 Figs 170 e 171 - Laianjais e airozais nas planicies saneadas de Santa Cruz, p 293 Pigs 172 e 113 - A. horticultura é laigamente explorada em teiras saneadas do Re-

concavo, p 294 Fiss 174 e 175 - A avicultura, em terias saileadas da Baixada da Guanabara, p 295 Figs 176 a 188 - Meios de trsnspoite d o Biasil colonial, p 311/317 Pig 189 - Influência do sangue mouro no colono poituguês, P 317 Fig 190 - Inteiior de moiadias de fazendas do Recôncavo, P 334 Fig 191 - Sagacidade diplomática pala os encontios fuitivos, P 335 Fig 192 - Larnpeáo de azeite de peixe usado na iluminação do Rio de Janeilo, p 336 Figs 193 e 194 - Vida inteiior da família burguesa colonial, p 337 Fig 195 - Familia de um funcionário público a passeio, p 338 Fig 196 - A atual piaça 15 de Novembio no tempo dos vice-reis, p 338 Fig 197 - A rua Direita, hoje 1 o de Maiço, no Rio de Janeiro, p 355 Fig 198 - Habitantes do Rio de Janeiio no comêço do século XIX, p 355 Figs 199 a 202 - Algumas das giandes damas do segundo ieinado, p 356 Fig 203 - Vaiiedade de tipos femininos de 16 nações africanas, p 370 Fig 204 - A procissão do Rosáiio, Rio de Janeiro, p. 371 Fig 205 - Bandos do "Divino", Rio de Janeiro, p 372 Fig 206 - 0 lundu coIonial com suas flexuosas melodias, p 373 Fig 207 - Ritmos convulsivos de batuques africanos, p 374 Fig 208 - Ritmos piimitivos imortalizam a tonalidade americana, p 375 Fig 209 - Igaçaba tumulai, p 376

Page 398: O Homem e a Guanabara

Abacaxis - expoitaçáo de, 300; lavouia de, 300

Abolição - o mesmo abalo da derrocou Mangaratiba, 268

Abraáo - colônia dr pescadores de, 263 ABREO - Capistrano de, 204 e 245; o ho-

mern português no dizer de, 303 ABRANTES - MarquêIS de, - falecimento

do, 339; iecusa de consórcio com o futu- ro, 337; salões do, 339 Academia Cientifica - iilauguraçáo da,

xnn -"- Academia de Belas Artes - organização

da, 235 Academia dos Felizes - fundação da, 308 Açúcar - ciclo do, 248; desenvolvimento

da indústria do, 231; empiegados dos engenhos de, 305; jesuitas fundam uma fábrica de, 231; Lavouia da cana de, 231; lenha para cozei o, 303; levantamento da primeira fabrica de, 231; ruina do comércio do, 205; suigem os engenhos de, 231

Administrativa - oiganização da vida, 71 íi --v

ADORNO - Sosmaria de José, 234 África - a morena vem da, 350; centenas

de pretos provindos da, 266; isolados por medida higiênica os negros vindos da, 226; negros tiazidos da, 305

Africano - sangue, 227 Agrícola - cultuia sólida na base da ex-

ploração, 279 Agrícolas - populacáo dispersa pelas

zonas, 286. Agricultores - população de pequenos,

255 Agua-Branca - sistema de canais de, 293 Aguardente - engenhos de, 256; expoi-

tacão de, 263; producão de, 248 AGUIAR - sesmaiia de Gonçalo de no

rio Guaxindiba, 234 Ajuda - lua da, 216; construção da igieja

da, 221 "Alapego de Sam Paulo" - denominação

de, 201 ALBANO FAUSTINO - sesmaria doada a, 234 ALBUUUERQUE - sangue dos sucessores dos,

7n4 -v - Alcacer-Kibii - história portuguêsa até,

320; tudo terminou com o, 320 Aldeia - penetração dos colonos na bacia

do rio da, 238; rio da, 235 Alemanha - contribuição da na evo-

luçáo da nossa cultura, 335 ALEXANDRE DIAS - sesmaiia doada a, 234 Alfândega - penetração até a atual lua

da, 230 Algodão - patuléia vestida de, 319 "Almanaque Laemmert" - 249 ALMEIDA - Figueira de, 239; Manuel An-

tônio de 324 ALMEIDAS - fiéis seguidores dos, 303 Almotacaiia - contadoi e escrivão da, 210 AMARAL - Luís, 268

América - ameaça ao impéiio português da, 204; ameaças ao domínio português na, 206; centralização do império poi- tuguês na, 208

Améiica Latina - embasamento da, 96 Amsterdam - construção da cidade de,

374 -- - ANCHIETA - padre, 23, 216 e 362; canoas ,de

guerra de, 253; caitas de, 236; índios trazidos por, 269; influência de, 205; os engenhos, segundo, 236; ordena-se, 207; reúne os colonos e guaianás, 206

Ancllieta - novas artéiias entrecortam os subúibios de, 229

Andaraí - expansão da população por, 230; salóes em, 340; sesmaria da ordem incluía o, 231

Andarai Pequeno - eiigeiiho em, 232; pri- meiros ônibus para, 313

ANDRÉ GONÇALVES - 199 Angola - esciavos vindos de, 312 Angra Foimosa - cooidenadas de, 201 Angia dos Reis - acanhamento teriito-

ria1 uibano de, 259; apogeu comercial de, 260; ascendência de, 279; ascensão do comércio mineiro a, 257; aspecto da velhice apresentada por, 257; atributos geográficos locais de, 277; auxílios ex- ternos anlpazam. 277; café vindo de váiios centros pala o pôito de, 260; ca- racterísticas geográficas de, 277; censo de 1920 em, 262 e 273; censo do gado de 271; colôiiia de pescadores de, 263; conl diçóes geográficas de, 257; condições portuárias de, 276; composição geogra- fica dos fatôres natuiais de, 262; deca- dência dos poitos de, 261; denominaçáo da baía de, 253; descoberta de . por GoNç.41.0 ComHO, 258; descobrimento de 199; domínio dos goianás até, 253; entra: da do café em, 259; estradas (as) de ferro concorrem para apagar o brilho cu l tu~a l de, 261; evoluçáo de, 258; expor- tação de peixe de, 263; fase colonial açucareira de, 259; fixaçáo de, 200; habi- tações de, 258; influência dos fatôres geográficos na evoluçáo histórico-social de. 226; importância de, 260; importân- cia da corrida do café para o pôrto de, 260; importância do porto de, 260; im- pressáo de uma visita a, 257; indústria da pesca em, 263; lavoura da cana em, 258; lavoura do café invade os morros dr, 259; modelnas obias portuárias de, 253; monopólio do comércio regional por, 279; movimento portuáiio de, 193; navegacão ie-lar unia a Sepetiba, 261; navegaçao supeiior a de, 278; novas possibilidades para, 262; núcleos iegionais de, ?": niimero de engenhos de açúcar de, 23s, o café é a riqueza fuildamental de, 259; o ciclo do açúcar i10 desenvolvimento de, 276; o ciclo do café em, 276; o ciclo industiial levanta, 277; o desvio do fluxo cafeeiro aniqui- lou o comércio de, 277; o fator geogiá-

Page 399: O Homem e a Guanabara

fico no desenvolvimento de, 259; o fu- turo do pôrto de, 263; o movimento do riôrto de. 260: os homens de negócio jogem de, 262; periodo de decadência cafeeira de, 263; perspectivas do futuio econômico de, 276; população bovina de, 262; pórto de, 258; posição do escoa- douro de, 276; posição estratégica de, 258; possibiiidades econômicas de, 258; povoamento de, 258, piodução de, 274; progresso de nos tiêk primeiros sé- culos, 258; progresso de nos últimos anos, 257; pioliferação da pecuáiia em, 258; recuisos de. 259; recursos hidihu- licos de, 263; redução dos portos ao em- baicadouro de, 279; reflorescimento de, 259; renda das colõnias de pesca de 263; retaguaida continental de, 252; ses- meiros de, 253; superioridade portuária de. 276: tráfego de muaies psr, 277; to- pografia acidentada de, 259; transfor- mação de, 257; vagaroso crescimento da população de, 262; vaior dos estabelecf- mentos rurais de, 274.

Anil - Produção de, 248 ANTONIO FRANÇA - terias para o índio,

214 ANTUNES BARTOLOMEU - sesmaria doada a - no rio Guandu, 234.

ARAGO, Jacques - 283; influência da rua do Ouvidor, na opiniáo de, 342

ARCOS - administracão do último vice-rei, conde dos, 310 (

Arcos - calçamelito da rua dos, 227 ARARIB~IA - aldeia jesuítica de, 239; al-

deamento de, 239; apiisionamento de uma nau poi, 211; chega a Guana- bala, 206; doação de terras aos lieidei- 10s de, 239; fundação iniciada por, 213; futuro fundador de Niterói, 206; herdei- ros de, 214; Iança os alicerces de Niterói, 211: sesmaria doada a 110 rio Macacu, 234'

Aiaiuama - lagoa de, 202; numero Be fazendas de café em, 250

ARAÚJO GÓIs, Hildebiando de - 241, 291 e 298; depoimento de . sôbre O Iguaçu, 243; engenheiros sobre a chefia de, 290; obra de, 299; saneamento por, 233

Areias - mudas de café para, 249. Aiicó - cachoeira de, 263; estiada do, 276;

suige o embarcadouro de, 260 Aiioz - produção de, 248 e 279 Asia - a morena vem da, 350 Assírios - palácios, 350. Associacão Comercial do Rio de Janeiro -

relatório da. 278 Atenas - 350 Atlântico - as classes mais abastadas

apioximam-se do, 230; baía aberta pelo, 347; domínio do, 205

ATJGUSTO COMTE - Filosofia Primeira de, 101

AUGUSTO CLAUD - casa de, 320 Austria - entendimento com a, 329 Automóveis - inicio do tráfego de, 314 Auto-6nibus - tráfego dos piimeiros, 314. AZAMBUJA - administração do vice-rei

conde de, 309 Azeite - fabrico de Z J ~ ; iluminação a,

315 AZEVEDO - ouvidor João Velho de, 153 BACKHEUSER, Everardo - estudo compara-

tivo de velhas cartas por, 217; minu- cioso trabalho de, 217; opinião de

sõble o alaigamento do Rio de Janeiro, 220; opinião de . . sôbre a fundação do Rio de Janeiro, 206

' Biahia - alarma-se o govêrno da, 206: AN- CHIETA ordena-se na, 207; centraliza-se novamente na . a unificação da co- lônia, 222; invasão da, 221; MEM DE SÁ, 205; suspensáo do tráfego entre Minas e. 223; tradicionalismo da, 325

Baía Foimosa - designação de, 199 "Baía dos, Reis" - 201 Baiana - ciomatismo indumentário da,

325 Baiano - influência climática na evolu-

ção cultuial do, 284 Baiios comerciais - origem do conges-

tionamento dos, 219 Baixada fluminense - a causa geográfica

responsável pelo impulso da região da, 284; a civilizaçáo locomove-se hoje por toda, 284; a "civilização do café" pe- netra na, 249; a Guanabaia, fator pie- ponderante na evoIução da, 285 análise econômico-social da história da, 285; aumento demogiáfico das cidades da, 286; canais através da alagadiça, 243; centenas de núcleos povoadores espa- lh

a

m-se pela, 284; cidades nômades da, 264; complexidades das rêdes hidrogr8- ficas no saneamento da, 288; cultura da banana na, 197; desbravamento da, 209; despesas do DNOS com a, 295; esforços giupais disseminados pela, 285; expansão da capital para a, 290; expan- são do caiioca pela, 248; evoluçáo eco- nômico-social da região da, 284; fra- cassos das comissões que se incumbiiam do saneamento da, 291; helança racial do fluminense da, 284; história da. 283; influência da Guanabara na evolução histórico-social da, 214; intensa vida ru- ral sobre a, 286; invasão do café na, 250; modificação do fáceis geográfico da, 289; núcleo distiibuidor e centralizador da civilização da, 287; o homem da, 286; o que sugere o nome de, 284; o povoa- mento como base saneadoia da, 289; or- ganização de um pIano rodoviário para a, 296; o verdadeiro fim do saneamento da, 290; os engenhos retiveram o carioca na, 232; os cafèzais expandem-se ao longo dos iios da, 250; pendor associa- tivo do senhor de engenho da, 288; pe- netiação da, 214; pertinácia peculiar aos povoados da, 242; pIanuias da faixa mais oiiental da, 259; a economia poli- morfa da, 299; primeira brotaçáo da, 284; produção de abacaxis na, 298; pro- dução de laranjas na, 298; prosperidade e evolução de povoadores da, 254; rêkie rodovi&ria da, 296; iendimento da ba- nana na, 298; solução do problema do saneamento da, 288; surge a civilização iural dos canaviais da, 285; surgem os engenhos na, 286; surtos de prosperidade na, 283; trabalhos iniciados pela Comis- são de Saneamento da, 289; tribos de fionteiras elásticas na, 284.

Baldeadouro - expansão de canaviais, mandiocais e para as bandas de, 245

Baleia - o carioca alimenta-se de, 302 Banana - expo~tacáo da, 297; produção

da, 248 e 297 Bananal - o café vindo de, 260; opulência

dos cafèzais de, 339; planície de, 252. Bandeiras - as, 309: arlemetidas das, 304:

impetuosa projeção das, 222

Page 400: O Homem e a Guanabara

Bangu - ergue-se uma cidade como O s ilucieos de, 229

Barao - morro do, 179 Barra de Guaiatiba - colônia de pesca-

dores de, 253. Barra Mansa - desenvolvimento de, 257;

ligação a, 257; o café vindo de, 260. Barra do Piraí - e Estrada de Ferro Pe-

dro I1 chega a, 261. Baibadinhos - primeiias mudas de café

plantadas na chácara dos, 249 WRAL - condessa de, 337; vinconde de,

JJ I Barreiro - o café vindo de, 260 BARRETO, Sobias - rudez& anti-social de,

338 Barreto - expansão de canaviais e man-

diocais na zona de, 245. BARROS, Cristóvão de - 233; construção

do engenho de, 235 e 237; fábrica de açúcar de, 231.

BARROSO, Gustavo - versão de, 334 BARTOMMEU ANTUNES - sesmaiia doada

a, 269 BATES - O naturalista, 335 BEETHOVEN - 348 Beiia-Mal - canoas a trafegaiem pela

avenida, 303 BELA VISTA - solar da baronesa de. 339. Belem - 325; construção do primeiro

trecho de estiadas ate, 242; estrada que passava por, 241

BELTRÃO, Francisco Mirailda - sesmaiia d~ 9'74 --, --A

Beneditinos - morro dos, 215; sesinaria dos, 220; terras possuídas pelos, 237

Benguela - escravos vindos de, 312 Berlim - plebe de, 344 BIARD. F - influência da rua do Ouvidor

na, opinião de, 342. Biblioteca do Itamarati - mapa do terri-

tóiio fluminense que se acha na, 247. Boa Viagem - capela de, 239; escoamento

da produção pela enseada de, 246 BOBADELA - obra cultural Iniciada por,

310: o govêrno de, 307 BOCAGE - frascarices do gênio de. 320 BOIS LE CONTE - rendição de. 205. Bom Sucesso - urbanização de, 229 BONAPARTE - 329 Bondes - surgem os primeiros, 313. BONIFACIO, José - prestígio de. 336 Boqueiiáo - atenamento do, 219; atêrio

e escoamento da lagoa do, 224 e 300; calcamento da lagoa do, 309; conside- ráveis charcos do, 305: dissecamento da lagoa do, 226; dominio completo da la- goa do, 225; entulhamento da, 305; la- goa do, 209, 210, 215 e 217; marés que penetram na lagoa do, 220; na vasa da lagoa do, 227; restos da lagoa do, 225

Boscw~, E Teodoro - 331 e 332 Botafogo - bairio aiistociático em, 333;

os primeiros ónibus para, 313; prata de, 207; priinitivas chácaras de, 230

BOUGAINVILLE - 311 e 322 BOURBONS - restauração dos, 328. Bracuí - cachoeira de, 263; surge o em-

barcadouro de, 260 BRAGA, Diogo - sesmaria doada a, 234;

sucessor de João de, 203, Brasil - a anedota do carioca espalha-se

por todo o, 317; a influêincia dos fatôres geográficos na escolha da capital do. 222; colonizaçáo espiritual e material do, 328; com a mineraçãó gravita para o sul o centro económico e político do, 308: conquista financeira do, 327: defi-

nição da história do, 329; diviscio do . . em capitanias, 204; em 1864, Angra é o segundo pôrto do, 260; exportação da laranja pelo, 298; extremos maritimos do. 285; geografia fisico-social do, 353; mantimentos que se dão na costa do, 236; novo rumo na história econômica do, 247; o pôrto mais movimentado do, 260; o prestígio e a honestidade do im- perador fizeram a unificação do, 228; o primeiro vice-rei do. 308; os batavos ini- ciam o domínio do, 221: os primeiros livios impressos no, 310; ponto de maior densidade demogr&fica do, 214; primeiros mapas da costa do, 200; Sal- vador perde o comando do, 307; segundo pôito do, 276; serviços prestados ao pelo maiquês de LAVRADIO, 309; sob O signo de Londies D JoÁo VI, transfor- ma a fisionomia econômica do, 329; su- cessivos ciclos da história econbmica do, 259; títulos nobiliáiquicos por todo o, 337; um dos maiores amigos do, 307; fatôres unitivos das intercalações eco- nômicas e políticas do, 299

Brasileira - influência de outros paises na evolução da cultura, 335; unidade geogiáfica e política, 204

Brasileiro - a luta do, 226; formação psicológica do, 317

"Biiasileirismo" - o que podemos cha- mar de, 332

BnÁs CUBAS - sesmalia de, 234 e 237 BRECARIO - salões dos, 340 Brejo - início do treino contra. O, 224; o

dominio do, 213. "Bretoa" - nau. 201 e 203 BRETON - modista, 331 BREVES - destino da capital marítima dos,

269; dominio dos, 267; o maior dos, 275; pôrto da família, 272; potência econô-

mica dos, 266; restos do clã rural dos, 267; solar dos, 267; uniu sua fortuna à dos, 340; vastos latifúndios dos, 266

Britânico - expansão do imperialismo, 771< .,.."

BRITO, Satuinino de - trabalhos dirigidos por, 291.

BROISSARD, João - modelos franceses de, 319

BRUYN, Abraão - modelos flamengos de, 319.

Buenos Aires - urbanização de, 219; ameaça a, 308

Burros - estiadas movimentadas por mi- lhares de, 235.

Búzios - cabo dos, 202 Cabinda - escravos vindos de, 312 Cabo Frio - designação de, 199; enseada

de, 234; fundação da feitoria de, 200; fundação da cidade de . . pelos jesuí- tas, 239: expulsas cinco' embarcações de. 221; norte de, 201; núcleo de cors8rlos franceses de, 210; número de fazendas de café em, 250; plantações de café na região de, 250; reduto de, 252; saliência formada por, 201; sesmaria na banda de, 234; tomada de . por ANTONIO DE SA- LEMA, 211.

CABRAL, Pedro Alvares - expedição de, I 140 .---

i Cabuçu - divibOr entre o rio, 269 Cacão Vermelho - sistema de canais de,

293. , Café - aberturas de novos caminhos para

a descida do, 260: centros do plantio de, 260; chegada do, 301; ciclo do, 299,

Page 401: O Homem e a Guanabara

259, 276 e 285; expansão do, 256; expoi- taÇã0 de, 263; favorito do rei do, 275; fatôies demográficos impuseram a cul- tura do, 251; inicio do plantio do, 309; novo rumo com o aparecimento do, 247 produção de, 248; proliferação das pri- meiias mudas de, 249; transpoite de, 241

Cafeeira - comêço da expansão, 260 Cafèzais - os matagais são substituídos

pelos, 245. Cais do pôrto - baiiio entte o, 217; fun-

dação do, 224 C-ON, Pedro - 327 e 328 Câmara - constiução de um cano de

pedra por iniciativa da, 224; escrivão da, 210; transferê'ncia da, 220

Camarão - pesca do, 265. CAMILOS - vergasto vocabular dos, 320 Caminho das Lampadosas - antigo .

hoje lua Senador Eusébio, 227 Caininho do Atêiro - antigo hoje rua

Senador Eusébio. 227 "Caminho dos Goianás - marco teimiilal

do, 153 "Caminho Nôvo" - 248; abertura do, 254;

impulso advindo da abeitura do, 254 "Camiilho Velho'' - 253 Campista - saneamento da região, 289 Campo da Aclamação - odores do, 226 Campo Giande - cultuia do café em, 249;

saneamento de, 229 Campo de Santana - tiacado do, 310 Campos - crescimento da população ruial

de, 245; estudos iealizados em, 291: feu- dalismo agrícola em tôrno da cana de açúcar em, 246; fundação da cidade de, 245; manadas de, 307; o desenvolvimento do centro urbano de, 286; pioduçáo de banana em. 297

Campo dos Afonsos - drenagem do, 205 Campo dos Goitacás - os bois de cario

levam os "sete capitães" aos, 244 Cana - inteiêsse econômico resultante da

cultiiia da, 232: nomes relembradores da intensa cultura da, 244; penetracão instigada pela, 232; plantações de, 255

Canais - aterios enormes sulcados de, 229; drenagem de, 296

Canaviais - carioca (0) agarra-se aos, 232; civilização ruial dos, 285; extensões maiores de. 244; o campista de olhos fixos nos, 232

Candelária - 215; construcão da eimida da, 221

Cano - i u a do, 224 CANNING - 329 Canoas - épocas das flotilhas de. 302 Capão - cultivo do cafe na fazenda do,

74a - -v .

Capital Fedeia1 - áreas peididas e ane- xadas a, 288; cidade fronteira à. 239

Capitalismo - elites elevadas pelo, 345 Capitania - bois de cario levam os "sete

capitães" ao norte da, 244 Capitania de São Toiné - fiacasso da, 235 Capitanias - desenvolvimentos dos, 222 Capivaii - fiagmentos municipais de

Santo Antônio de Sá acapaiados por, 247; produção de bananas em, 297; ses- marias doadas a diversos, no rio, 234

Cara de Cão - a fundaç%o do Rio de Janeiro teve início no morro, 206; abandono do morro, 209; tiincheiias nos altos do moiro, 207

Caiamujo - estrada do, 276

CARDIM, Pe Fernáo - 208; deseavolvi- mento do Rio de Jailelio segundo, 236. populagão do Rio de Janeiro segundo: A. A LIA

Carioca - acelera-se a evolução social da vida, 208: adaptação do homem a terra, 222; águas fluviais das bacias da seiin, 218; alfaiates (os) franceses e a moda, 231; alicerces da civiliaação, 213; ali- cerces étnicos do, 245; alimentação do, 207; anedota (a ) na vida do, 216; atêiro do atual largo da, 224; a vida do segundo Luccocx, 227; bairros residen- ciais nas encostas da seira da. 230; ba- leia como alimento do. 202; beleza ( a ) da mulher, 221 e 234: cafèzais (os) so- bem pelas encostas da seria, 245; caiia- lização do iio, 207; canavial (o) na eco- nomia do, 232: características do, 215: canavial (0, 249 e 250; casa piimitiva do, 201; cereais (os) iumavam direta- mente das fazendas para o niercado, 240; com a cana de açúcar os coiitolnos da Guanabara são dominados pelo, 248; constiução do aqueduto da, 208; corte- sia, 221; criado um novo ambieiltc que viria afetar a vida do, 209; dança ( a ) da morena, 249; denominacão do, 200; distiitos orientais que contornam a seiia da, 201; dupla niissão histórico- -social do, 286; elemento social com que se fundou o piimitivo ecúineno, 218; interêsse pela vida rural do . piimitivo, 237; epidemia (a) da cole- rina afugenta o, 228; espantoso quadro de energias do, 287; espírito (o) alegre do, 221; evolução da vida, 299 e 313; evo- lução desde as palhoças do, 218; evolu- ção do espiiito do, 230; evoliiçáo étnica. históiica e social do, 226; exterioiização dos atiibutos heieditários da alma, 251; fator decisivo no desbravamento do sei- tão, 231: formação da serra da, 240: formação do espírito, 215; futura (a ) psicologia do, 221; geologia da seira da, 31; grandes clubes apareceiam lios bairros. 241; hino de louvor à, plebe. 250; impoitância dos iios na vida, 235; im- portância de veios de rochas eruptivas na paisagem, 260; impoitailtes fiitições sociais do, 217; impiessóes de CARLOS SEIDLER sõbre 0, 233; impressões de BOSCHE sôbie o, 232: individualismo fol- clórico de trovadores. 251: indumciltária do antigo, 219; influência da corte na ienovacão do espíiito, 242: iilfluêh- cia da danca nos costumes do, 240 e 241: influência da habitação na psicologia do, 223; influência da Inglaterra na ele- vacão da vida do, 243; iilfliiência da plebe iios costumes do, 244; influência da rua do Ouvidoi nos costumes do, 242; influência do coméicio nos costumes do, 235; influência dos salões no espí- rito do, 242; influência francesa sobre a moda, 229; influência inglêsa nos cos- tumes do, 227; inimigos do, 226; insta- bilidade emocional do. 216; largo da, 219; libertação do espírito da influ- ência iiiglêsa, 229: luta do contra o brejo, 217; luta do . . . para o estabele- cimento da cidade, 126; luxúiia da bui- guesia, 205; marcha hoiizontal do, 287; metamorfose do, 213; missão do. 287; missão uibanística do, 229; montanhas da seira da, 210: mudança nos hjbitos da burguesia, 222; novos arruainentos atalhaiam os flancos da seiia da, 229;

Page 402: O Homem e a Guanabara

origeni da hereditáiia alegria, 224; ponte sôbre o rio, 231; primeira grande con- quista do, 225; p

rimeiros (os) mestres

da elegância, 231; pioblema (o) do tiansporte urbano do, 213; prolonga- inentw da lagoa da, 218; psique do, 224 e 249; recôncavo (o) da Guanabara é derradeira etapa do. 229; riachos vindos da serra da, 226; samba (o) é a única interpretacáo da indeciflável psicologia hereditãria do, 253; sangue (O), 204; censo giupalista do antigo, 212; se- lmiação de classes, i10 meio, 219; sinfo- nia 248 e 253; síntese geo-sentimental do, 246; siiltétfca alma do, 250; socia- bilidade (a) do. 226, solares que contri- buíram para a formação do espirito, 239; transfiguração dos costiimes do, 231; tremenda luta do . contra o meio, 215' verdadeiro (o) ciiador da pai- sagem, 247; vida social do, 239; vitória do em sua luta contra o meio, 226; vivacidade espiritual do, 216

CARLOS V - vontade imperial de, 219 Carlos Peixoto - diques de diábase na

rua, 61; gnaisse no corte da lua, 35 Carmo - constiuçáo da igieja do, 221; re-

paios da fonte do. 221 Carnaval - a plebe carioca no, 250; oii-

gem do nosso, 205. CARNOT, Sadi - presidente da Franca, 239 CARVALHO - João Lopes de, 203 e 204; ter-

ras doadas por João Pimenta de, 253; relatório apiesentado po

r

Miguel de, 262 Casa da Fundição de Taubaté - o uso da,

254 "Casa da Ópeia" - o Rio de Janeiro da,

212 Cascaduia - esgailsfio da populacão poi,

230 - CASSEMAJOU - casa de, 230 Casserebu - penetracão dos colonos na

bacia do, 138; sesmaria no rio, 234 L'CasSi~lo Flumine~~se" - o famoso, 242 Castelo - acolhidas às muralhas do, 215;

alastrainento urbano a iiradiar do morro do, 212; antigos nomes do morio do, 220: barragem ii~interrupta desde o, 218; co- meçam a espraiar-se povoações em roda do morro do, 211; emigrantes do, 169; ex- pansividade do núcleo do. 214; govêino avêsso ao abandono do, 200; implanta- çáo da cidade no, 234; limitação da ci- dade aos quatro maicos orogiáficos do, 132; morro do, 217; pressão demogiáfica sôbre os habitantes do, 133; primeiro es- tágio da vida caiioca centraliza-se no inorio do, 212

CASTELO BRANCO - chancelei, 247 Catete - atêiro da lua do, 218 Catolicismo - gigantescos planos do, 205 Catumbi - constiucão de um engenho de

açúcar em. 231

CAVALCANTE - solar da visconáessa de, 239 CAVENDISN - col~ário companheiio de,

233: povoamento de, 237 Caxias - nascem povoados aa norte de,

233; povoamento de, 237 Celis0 - a iealidade do de 1870, 228;

habitantes segundo o de 1890, 228; Iiabitailtes segundo o de 1906, 228; habitantes segundo o . . de 1920, 228; habitantes no . . de 1940, 228

Censos - insiailificaiite o numero de es- trangeii os revelados pelos, 256

Cential - eiltiecruzados de novas artérias os subúrbios da, 229; trens elétiicos da, 214

Cerâmica - indústria da, 298 CESÁRIO VECELIO - fig~liinos de, 219 Cidade Antiga - fugitivos da plebe rude

da, 230. Cidade Maravilhosa - presente à, 243 "Cidades Nômades" - 264 Cidade Nova airuamentos da, 200; aspec-

tos do baiiro, 227; expansão da, 229 Cidade Luz - estágio no grande ceiltro

da, 237 Cidades - lançadas as raízes fundamen-

tais das, 241 Ciência - moderno progiesso da, 228 Ciência - moderno progresso da, 228 Ciganos - campo dos, 230 Cimento - grande indústiia do, 299 Cinem

a

- chegada do, 244 Circulacão - nôvo ciclo da, 295 Civilização - expoente máximo de uma,

951 "Civilização do Açúcai" - apogeu da

no recôncavo, 247;, "Civilização do Gafe - penetra na baixa-

da fluminense a , 249 Chácaras - oiigem das, 230 CHATEAUBRIAND, ASSIS - 258. 260 e 267 CRISTÓVÁO DE BARROS - Raleões sob o co- - . . -

mando de, 207 China - objetos da, 230 Cobras - ilha das, 208 Colégio dos Jesuítas - organiza-sc toda

vida colonial ein torno dó, 212 Cólera-morbos - epidemia de, 242 Coleiina - epidemia de, 228 Coligiiy - investida de MEM DE SÁ contia

o forte de, 228. Colônia - a mais pitoresca relíquia da.

139; andando atiavés da, 257; a perda da Giianabara para a, 204; capital da, 107; coiltiibuição dos estabelecimentos iurais ao teinpo da, 231; isolamento da, 213; nova partilha no govêkno da, 122; o govêrilo mais longo da. 207: o homem da, 188; poitos da, 224: possibilidades econôinicas e culturais da, 227; piivilé- gios dos habitniltes da, 222; região de próximo contacto com a, 232; ruas na zona sul nos tempos da, 230; unificação goveinamental da, 222

Colònia do Saciainento - aineaca à. 208 Coloilial - estacioila na rua. da vala a

cidade, 229; os moiros nos fins; 201. Colo110, - ntividades polifoimas do, 236;

expailsáo colonizadora rural disseinina- doia pela ambição do, 241; iniciativa espontânea do, 288

Coloilos - dis~eisáo de, 259 Coliibaildê - disseminação da lavoura até,

146: Comércio - existência e evolução dos nú-

cleos de, 279. Comissão de Saneamento - criaião da,

298 Compiègne - festas em, 240 Coiiceicáo - levantada a capela 1x0 morro

da, 120; limitacáo da cidade dos quatros marcos orogiáficos do moiio da, 132;

CONCEIÇÁO VELOSO, frei José Mariano da. - auxilio botânico de, 209: desenhos que ilustiam a obia de, 246; "Flora Flu- mineilse". de, 246

Conde - calçaineilto da rua do, 227 Coligo - escravos afiicnnos do, 212 Congiesso de Ristóiin (I) - a fundação

do Rio de Janeiro, segundo o, 206

Page 403: O Homem e a Guanabara

Conquista ( A ) - 203 CONSTANT, Benjamim - doutiina de, 229;

urb%nizaçáo dos bairros de. Cordilheira - começaram a cair as flo-

restas das, 260; coirida para as terras mais fiias da, 250; difícil acesso a, 277: detelminismo geográfico da zona da, 276; escalada da, 252; estradas de pene- tração nas, 241; estrutura social dos grupos da, 275; fazendas cafeeiras do- minam a, 249; o guanabarino galga a , 252; pontos terminais das giandes es- tradas sertanejas que varavam a. 235; potência de vários rios que saltam da, 263; passibilidades econômicas da, 262; transbordava a produção Cafeeiia por todas as brechas da, 273

Coroa - encorpoiaçáo de Santa Cruz à, 170; período de encoiporaçáo à, 272

Coronel Pedio Alves - presença do gnais- se superior nas encostas da rua, 213

CORREIA DE SÁ, Salvador - governador, 210: constiuido o primeiro engenho por, 231

Corsários - expulsos da costa os, 258; o guanabarino expulsa os, 252; apleensáo de, 215

Corte - a finura paiisiense invade a. 230: damas da, 230; uma sólida base social e c u l t ~ i a l já existia a chegada da, 228

Corumiri - sesmaria no rio, 234 COSTA, Baltasar da - doação de terias a

no rio Guandu, 235 e 237. COTEJIPE - solar do barão de, 239 CRUZ, Osvaldo - 215 Cruzeiro - a estrada de ferro atinge, 261 CuNan, Euclides da - 244; vice-rei e con-

de do, 224; mapa executado poi ordem do conde do, 247; ojeriza contra o vice- -rei, conde do, 221; primeiro vice-lei o conde do, 208; providências do conde do, 209

D'ARAÚJO GUIMAR~ES, A C. - 229 DARWIN - O natuialista, 235 D CARLOS - mapa oferecido pelo lei, 247 D'Eu - casamento do conde, 241 DEFFONTAINES, Pierre - 215 DE GENNEL - esquadra de, 205 DEMOLINS - 255, 256. Deodoio - ergue-se uma cidade na pla-

nície de, 229. Departamento Nacional de Obras de Sa-

neamento - 229; ação polidinámica do. 295: aproveitamento de obras pelo, 231; construção de rodovias pelo, 295 e 296; cumpiimento do programa do, 294; em- preendimentos do, 289; finalidades do, 290; grande problema iniciado pelo, 289: planejamento de uma economia pelo 290; problemas enfrentados pelo, 294: serviços piestados pelo, 287; resultados técnicos da atuacáo do, 289; utilidade social-econômica das obras do, 293.

DERBY, Orville - 102 e 123 DESMARAIS - O cabeleiio, 230 DESROSSEAUX - alfaiate, 231 DESTÊRRO, frei Manuel do - morte do pre-

gador, 246 Destsrro - lagoa do, 219; passagem do

lugar, 230 "Diário de Navegaçáo cie Pedro Lopes de

Sousa" - 200. Direita - hegemonia coineicial da rua,

230 Diques - construçáo de, 292 D JoÃo III - carta de TOMÉ D E SOUSA

a. 203

D Joáo VI - chegada de, 246; influência das giandes reformas de. 228; influência política de, 229: os recursos pessoais de, 270; vinda da missão francesa a convite de, 235.

DODSWORTH, Henrique - 215. DODT, Emmy - versão de, 234 Domínio da União - passa a fazendn de

São Bento ao, 293 DÓRIA, Jacorne - sesmaria doada a no

rio Corumiii, 234. D'ORBIGY - O cientista, 235 D PEDRO I1 - coroação de, 231 DUMTE LEITE - 201 e 202 DUARTE PACHECO - 201 DUCLERC - em 1710, a vida, 223 DUGUAY TROUIN - 206 DUQUE DE CAXIAS - caaela onde foi 13%

G a d o o , 238. EBLING, Francisco Kruel - 213 EÇA DE QUEIR~S - O saicasmo dinamizador

de, 220 EDISON CARNEIRO - 287 EnMuNDo, Luís - o Rio antigo, na pa-

lavia de. 211: o Rio de Janeiro na oai- niáo de,'200; "'o Rio de Janeiro no ~ e i n - po dos Vice-Reis", de, 211

Emprêsa de Melhoramentos da Baixada Fluminense - desapropriação da fazen- da são Bento peia,1293

ENÉIAS VICO - figuiinos italianos publi- cados por, 219.

Engenho - a fortuna dos senhores de. 232; classe dos senhores de, 256; o mais antigo. 231: pendor associativo do se- nhor de, 288

Engenhos de açíicar - ciiaçá0 de povoa- dos nas legiões de, 241; multipIicacão de.

258 Engenho - surgem os primeiros, 231 Ensino - as reformas do, 291 Entre Douio - vacas de, 136 Escola de Aviação Militar - 295 Escola Daicí Vargas - fundação da, 268 ESTÁCIO DE S Á - chegada áe, 206 e 234; fatores que contribuíram pala o tiiunfo

de, 206; morte de, 207 Estrada de Ferro Peãro I1 - 261; chega a Baria do Pirai a. 261; construçáo do p~imeiro trecho da, 242

Estrada do Comércio - ligação com a, 241

Estradas - zêlo dos governos pelas. 267 Estrêla - comércio através do porto da,

242: drenagem do rio, 294; p6rto da, 235; ienascimento do tráfego fluvial no lio, 296; vila de comércio de, 241 e 244

EUGÊNIA - a alegria meridional da impe- ratriz, 240; imperatriz, 241

Euiopa - alto valor econômico do pro- duto da, 244; a moiena vem da, 250; classes baixas do norte da, 232; pais ca- tólico da. 211; tiajes ditados para quase toda a , 219

Europeus - vantagens dos . na cons- truçiio de suas capitais, 226

"~voluçáo da Vida Carioca" - 299. EXPILLY, Carlos - testemunho de. 226 Farinha - fabrico de. 279; producáo de,

248 "Fatos e Memórias" - 230 FERNÁO ÁLVARES - terias pala o índio, 214 FERREIRA, Clemente Piles - sesmaria doa-

da a, 234 FILIPE I1 - vontade impeiial de, 219 FELIPES - misticismo tétrico dos, 220 FINOT - alfaiate, 231; madame, 231

Page 404: O Homem e a Guanabara

Flamenpo - chácaras do, 230; praia do, 207; primeiro bonde eIétrico para o, 213; primeiro crisma da praia do, 202

FLEIUSS, Max -4 217, 220 e 231 Florença - roupas magilificas de, 219 Florianópolis - pôrto de, 176 Fluminense - expansão do café pelo li-

toral, 256; produção rural, 257; primei- ros engenhos a fuinegarem no território, 235: urecursores dos engenhos e cana- viais,' 231

FONSECA - sesnaiia doada a Antônio no iio Inhomirini, 234; doação feita a Vicente, 253

Fonseca - expansáo de canaviais, man- diocais, para as bandas do, 245

FAJARDO Francisco - . prepaia-se con- tra a ' ameaça dos holandeses, 221.

Formação do Espírito Carioca - 215 França - chega de . NICOLAU VILLEGAI-

GNON. 204: cientistas representantes da, 235; entendimentos com a, 229; influ- gncia esairitual da, 241: linha de pa- quêtes pára a , 214; perseguição as naus de, 204; posse espiritual da. 236; SADI CARNOT, presidente da, 239

Fiei Caneca - rua, 239 FREYCINLT, M LOUIS - O Rio de Janeiro

na opinião de, 212. FREYRE, Gilberto - a dança popular lia

opinião de. 253 ~ i i b u r ~ o - fragmentos municipais aca-

parados por, 247 FROCER 4 205; O carioca visto por, 221 FRONTIN, Paulo de - 215. GABRIEL SOARES - desenvolvimeilto do Rio

de Janeiro, segundo, 236. GAMAS - fiéis seguidores dos, 203 GARCIA AIRES - doaçóes de terras a , 234 e

237 GASPAR DE LEMOS - 199 GIL VICENTE - um povo Que deu um, 221 GLAZIOU - ajaldinado o-campo de San-

tana por 210 Gleba - fatores econôinicos e sociais para

o dominio da, 240 Goianás - calçamento de trechos da ve-

lha estiada dos, 277; dominio dos, 253 Goiás - análise dp iochas do azóico brasi-

leiio, encontradas em, 122; lavras de ouro localizadas em, 222; para onde se dirigia o gado que descia de, 241; tro- pas-de, 260

Góis - sesmaria doada a Luís de, 234 Goitacás - notável civilização rural inau-

gurada nas planícies, 252; primeiio sa- neador oficial dos camnos dos, 227.

GOMES F R ~ R E - nomeadò vice-rei, o go- vernador, 208; reformas do govêino de, 208

GOMES. Maurício - construção de um en- genho de açúcar por, 231-

GONÇW COELHO - antiga rota de 204; descobeita de Angra dos Reis, por 258; frota de. 200: fundação de, 203; os pi- iatas fianceses na esteiia de, 204

GONÇALO GONÇALVES - fundação da pli- meira capela de São Gonçalo, por, 238

GONÇALO MONTEIRO - entrega da cagita- nia a, 204.

GONÇALVES DIAS - 216 GOTTSCHAU - saraus musicais de, 242 GOUVEIA, Cristóvão de - o padie en-

contra duas aldeias, 212. GRIECO, Agripino - 166 e 169 Guanabara - adaptaçáo do homem ao

meio pantanoso da, 287 e 288; a deira- deira etapa d o carioca será o i e c Ô n ~ a ~ 0

da, 229; e apogeu da "Civilizacão do Açúcar" no recôncavo da, 247; a pressão demogrãfica impede o renascimento da indústria açucareira na, 251; a região, da . no corte de Canério, 200; a ies- tinga impediu a saida dos rios para a, 247; arraial da, 203; a serra do Mar foi o fator geográfico responsável pela lenta evoluçáo da, 252; assalto às margens da, 234; atraçáo da beleza panorsmica da, 210; atração geográfica dos rios da, 269; atinge os seus destinos, a, 208; batismo da, 102; capacidade portuáiia da, colo- nização da zona das redondezas da, 270; colonos e guaianás partem para a, 206; começam a secar os pantanais que con- tornam a, 233; começam a ser precisa- dos os destinos da, 251; começa o povoa- mento do recôncavo da, 233; composicão dos fatores geográficos da, 285: conce- didas as primeiras sesmarias as margens da, 239; conquista da, 203, 211, 238 e 269; conquista dos velhos pantanais da, 297; conquista e abandono da . poi MEM DE 56, 205; construção da primeira via férrea margeando a, 242; das regiões satélites foimadas pela, 286; contribui- ção cultural das iniciativas agrícolas nas margens da, 244; CRISTÓVÁO JACQUES dá entrada na, 204, cursos de água que desembocam na, 296; decidem se os des- tinos da, 207; desbravamento da. 287 e 288; descoberta da, desembarque portu- guês na. 218; desenvolvimento da pe- cuária na região da, 244; desenvolvi- mento de crescente civilização de cidade em torno da, 286: desflorestamentos das abas montanhosas da, 250; designação de, 203; determinismo telúrico origina- dor da, 295; disseminação do homem cada vez maior pela, 251; distanciam-se os desbravadores da, 234; dominio dos contornos da, 248; drenagens da região da, 294; doações de terras nas redonde- zas da, 211; esfoiços dos colonos na con- quista da, 287; espantosa atividade for- madora de cultuia rural, paitiu da. 286; estiutuia da, 246; evolução das pe- quenas cidades da, 253, evoluçáo econõ- mico-social das margens da, 252; evolu- çáo social da. 208; excepcional situação geogr&fica da, 216: expansão da cultura do café. pelos contornos da, 249; expul- são dos franceses da, 204; fatores que esculpiiam as formas da, 246; fazendas de cana do recôncavo da, 247; fazendei- ros da, 136; feudalismo agrícola na, 246; foco dispersivo e centralizadoi da, 254; foi o acúcar o principal elemento civi- lizador da . . nos primeiros séculos, 244; formação da, 93; formação de mangues e restingas no inteiioi da, 247; formo- sura inigualável da, 225: geografia hu- mana da, 246; grande número de enge- nhos e banguês, permanecem ainda no século XVIII, em tôrno da, 244; grande sina da, 208; impóe-se a conquista da, 205; importância do século XVIII nos destinos sociais da, 239; importância dos fatores geográficos e dos rios, na posi- ção da, 235; importância geogiáfica da

na evolução da baixada, 214; indús- trias que vão aparecendo em volta da, 299; influências geográficas na tomada da, 206; intensa vida rural instigaàa e propulsionada pela, 286; intenso rura- lismo dominava todo o recôncavo dn. 246; investida contra a, 205; irradiacão

Page 405: O Homem e a Guanabara

demográfica da. 239; ligação da vila de IguaCu a, 243; localização da, 202; MAR- TiM AFONSO 11% 200 e 204; MEM DE S Á aguarda iefôrço a entrada da, 205; na- vegação hipertrofiánte da. 277; o braço escravo no saneamento da, 288; o ca- rioca agarra-se a, 232; o excelente pôrto da. 204; o francês aporta a não co- mo piiata, 226; o pôrto de Angia dos Reis, desafogalido a, 277: o problema de saneamento da, 289; o recôncavo da, 233; os fatôies geográficos já tentaram impelir a capital para a , 222; paisagem cultural da . no século XVIII, 236; papel da moderna cartogiafia, no co- nhecimento da, 287; papel do pôrto da, 287; papel do português ila expulsão dos tamoios da, 204; plaiiicies alagadiças em redor da, 232; pontes perteiiceiites à baixada da, 295; posse do ie~Ôncav0 da, 237; povoamento das margens da, 238; preferência pelos portos da, 253; tem inicio o mais decisivo episódio histórico da, 204; tendência de expansáo na dire- cão do iecôncavo da, 233; tomada da, 158; transfiguração da cintura chaicosa da, 290; t i a n s ~ o r t e de oUro pala a, 254; uma larga taria de lavouia cinta a, 240: utili7nqito da conio escoadoiiro da nroduc5o inineiia. 223: verdadeiia fun- ção histórico-social da, 223

Guandii - águas dirigidas para o canal do, 293; divisor entre o rio, 169; pla- nície do, 269; sesmaiia do iio, 234 e 269; terras doadas na região do li0 'l BALTASAR DA COSTA, 237

Guandu-Acu - adufas na ~ ~ l i f l ~ ê i l ~ i ~ do, 193; escoamento pelo rio, 293; sallen- mento da região do, 293

Guandu Miiiin - drenapein da bacia do, 294: sistemas de canais do, 293

Guapimirim - os desbravadores subiam as águas do rio. 235

Guaiatiba - engenhos do distiito de, 247; população de, 247; piodução de açúcar, aguardente, ailil, arroz, café, farinha, feijão, ~nillio e polvilho de, 248; sanea- mento do distrito de, 229

Guaxindiba - fundação da capela de São Gonçalo às margens do iio, 238; os ães- bravadores subiam as águas do rio, 235; sesmaria do iio. 234.

GUSTAVO BARROSO - 200 HAHITOFF soci~bilidade cie madame, 240 HAn1~roi;i - reccgçiío cios, 241; snlôes dos,

34n -A"

HELOT - alfaiate, 231 HERCVLANOS - a ponta veiriácula dos, 220 HILDEBR~ND - alfaiate, 231. "Históiia da Civilização P o i t ~ l g u ~ s a no

Brasil" - 200. História Natural - contribuição no cam-

po da, 235 Holanda - saneamento da, 291 Holandês - domínio nas capitanias do

noite, 204 HONÓRIO LIMA - 259 HOPPMANN, João - mudas de café plan-

tadas na chácara do liolandês, 249 Huco V i ~ o q - 244 Icaraí - areias de. 213; expansão de ca-

naviais, mandiocais, etc , na zona de, 245: produçáo dos engenhos da fiegue- sia de, 246

Igreja - a populaçíio dispeisa agiupa-se em tôrno da, 241; lançada pela . as iaizes fundamentais das futuras vilas e

cidades, 241; risco de perder a imen- so campo ameiicano, 205.

Igiiá - igreja à margem do rio, 238 Iguaçu - agiupamentos de populaçao em

torno de, 288; a estiada de feiro con- correu para a decadência de. 243; a ma- lária dizima a vila de, 242; a sesmaria da ordem ia até o rio, 231; decadência da vila de, 243; declínio da navegação do rio, 242; depoimento de ARAÚJO Górs, sôbre a vila de. 243; desaparecimento da vila de, 242; dienagem da bacia do, 294; exploração da região da bacia do, 237; ligação da vila de A Guanabara, 243; núcleo formador da antiga vila de. 237; os desbravadoies subiam pelas águas do rio, 235; populaçáo da freguesia de segundo PIZARRO, 241; Prosperidade de, 242; renascimento do tráfego fliivial no rio, 296; RonRlco O~Ávro, nomeado juiz de, 243; sesmaiia tio rio, 234; vila de comércio de, 241

Imbaiiê - dienageln do rio, 294; Imigração - falta de atracáo do meio à,

257 ~ s e r a d o r - crescimento da população

sob o ieiriado do primeiro, 228; hones- tidade inatacável do, 228; insistêincia do, 23'7; piestígio pessoal do. 228; piimeiro. 220; residência campestre do, 270; sa- lões fieqiieiitados pelo, 239

Iinperial - afiaiicesainento da família, 237; concesslo do g0vêrn0 . . . para aber- tura de estradas de feiro, 261

Império - a densidade demog~áfica e o piogiesso do, 228; aiidalido através do, 257; impoitância dos lios nos fins do, 235; iilfliiêncla francesa lios costumes durante o, 226; possibilidades econômi- cad e culturais do, 227

Império português - 246; implantação do, -.- 203

Impéiio lusitano - salvação do, 207 Independência - 213; casas térreas ante-

iiores à, 234 Índia - chegada de naus da, 220; obfetos

da, 230; ameaça as rotas da, 205; des- pojos do saque as, 219.

Indígena - sangue, 227; palhoças copia- das dos, 224

Inhaúma - piimeiro nome da rua Vis- conde de, 202.

Inhoinirim - coniércio através do pôrto de, 242; drenagem do rio, 294; os des- biavadores subiam as águas do rio, 235; planícies marítimas de. 297; sesmaiia no -:- ,,-A llU, 134

Ingaiba - nasce a aldeia de. 264 Inglaterra - contlibuiçáo da na evo-

lução da nossa cultura, 235; influência da, 243; volta a França a concorler com a, 238

Inglês - equiparação do direito alfande- gário, 228; importamos o tiabalho, 229; novas praxes mercantis dos, 227; ievvlu- cão do industiialismo. 228

1n:lêsa - desvencilha-se D. JoÁo VI, da pressão, 229; influência, 228.

Instituto Histórico e Geográfico - mapa do teiritório fluminense no arquivo do. 247

Interclmbio - privilegiados pontos de, 279

Inundaçóes - defesa contia as, 294 Inválidos - calçamento da rua dos, 227 IPANEMA - de um deseito de restingas

surgiu. 233; praia de, 85; iiihanização do bairro de, 229

Page 406: O Homem e a Guanabara

Ipiiòa - disseminação da lavoura até, 246 Irajá - urbaniza$io de, 229 Iiiii - modernas instalações as margens

do 297; sesmaria no rio, 234. ISABEL - princesa, 267 I tá - águas dirigidas para o canal, 293 Itabapoana - fábricas de açúcar das mar-

gens do, 235; O homem das planícies alagáveis de, 286.

Itaborai - fragmentos municipais ocupa- dos por, 247

Itacuiuçá - colônia de pescadores de, 263; instalada a colônia de pesca na ilha de, 268; iocha predominante em, 193

Itaguai - conduçáo de inesperados volu- mes d'água para o rio, 293; decadência de, 273; desenvolvimento rápido de, 273; drenagem do rio, 294; evolução da al- deia indígena de, 280; fenômeno rural em, 273; finalidades naturais de, 275; influ6ncia da planície no desenvolvi- mento de, 275; influência de fatores econÔmicos na transição de, 372; influ- ência do meio físico no desenvolvimen- to de, 274; município de, 269; negoci- antes de café de, 272; o contrabando favoiecia os negociantes de, 273; origem de, 270; pecuáiia no município de, 273; planície de, 269; população de, 270; pro- piiedades agrícolas em, 277; recensea- mento de em 1920, 273; recensea- mento do gado em, 274; transforma-se em vila a aldeia de, 272; transporte de café para, 272; vagaroso crescimento da populacão de, 262; valor dos estabeleci- mentos iurais de, 274

Itajiiru - canal de, 202 Itália - 291 Itambi - aldeia de, 234 I T A N H A É ~ Z - equilíbiio do iiiarquês de,

236 ITAMARATI - solaIi do barão de, 239. Itapiru - engenho de açúcai em, 231 Itapemiiim - ilhotas isoladas perto de,

202 Itaverá - o café vindo de, 260 ITIER - a "Franca Antártica" na palavia - .

de, 242 Itinga - os moiadoies de Mangaratiba

agrupam-se a igreja da aIdeia de, 265. Jacaraiidá - severas mobílias de, 239 Jacarepaçuá - drenagem da bacia de,

294; povoamento da grande planície de, 229; saneamento da região de, 293

Jacutinga - epidemia de cólera moibos invade a freguesia de, 242; sesmaria da aldeia de, 242; vida da vila de comércio de, 244.

Jaidim Gávea - de um deserto de res- tingas, surgiu o, 233

Jesuítas - aldeias indígenas submetidas a isolamento pelos, 265; doações feitas aos, 232; colégio dos, 221; disciplina moia1 dos, 218; edifício dos, 211; fun- dacão de igrejas pelos. 213; implantação da cultura de além mar pelos, 236; mo- numental colégio dos, 205; morre o pii- meiro reitor do colégio dos, 211; predo- mínio moral e disciplinar dos, 212; pii- meira fábiica de açúcar dos, 131; ieali- zaçóes da engenharia dos, 270; vazias obras feitas pelos, 232; vestígios da pri- mitiva aldeia dos, 193

Jibóia - surge um agrupamento em frente a ilha da, 168

Joá - ponta do, 233

JOÃO CAETANO - teatro em que repiesen- toii, 198

JOÃO no RIO - influência da mestiçagem, segundo, 211

JOÁO RAMALHO - entrega da capitania a, 158

J O Á O RIBEIRO - Opinião de sobre a descoberta do Rio de Janeiio, 131.

JOAQUIM JUSTINIANO, D José - colheita de caf& pelo bispo, 194

JOAQUINA, Cailota - elite sob o modêlo de, 236.

JOAQUIM NABUCO - 134, 239 e 243 JosÉ DE PORTUGAL, D Fernando - admi-

nistração do vice-rei, 210 JosÉ LEANDRO - auxílio ao pintor, 209 JOSEPHINE - atelier de madame, 230. Jurujuba - fundação da igieja de N S

da Conceição em, 213 Jurumirim - pôrto de, 258; surge o em-

baicadouro de. 198 KUNSTMANN I1 - a Guanabara na carta

cartográfica de, 153 KUNSTMANN I11 - a Giinnabara n a carta

cartogiáfica de, 161. KNIVET - chega ao Rio de Janeiro, 202;

opinião de sôbie a vida do Rio de Janeiio, 202; urbanização descrita por, 205

LABATUT - 229 LABRÉ - alfaiate, 231 LACERDA, Diopo de Biito - sesmaiia de,

144 Lagunas - passos decisivos pelas restin-

gas das, 252; região das, 239 e 250 Latifundiário, - sistema feudal de, 199 LATINO COELHO - 252 LAVOLLÉE - 231 Lavouras - com os camiilhos surgem as,

231; entrada de africanos para as, 236 LAVRADIO marqu6s de - administração do

vice-lei, 209: dessecamento dos brejos. pelo, 225; engenhos nos tempos do, 149; inicio da higiene preventiva pelo, 193; obras impoitantes do govêrno do vice- -lei, 209; sucessor do, 194 e 209

Lázaros - hospital dos, 143 e 208 LEÁo, Manuel Vieira - mapa executado

por. 236 LEÃo, Carneiio - primeiios brasões ter-

ritoriais dos, 236 Leblon - de um deserto de iestingas sur-

giu o, 233; urbanização do bairro do, 145

LEBRETON - influência dos, 235 LECOR - sucessor de, 229 LE CORBUSIER - sistema de tiansporte

idealizado por, 214 Legislação - a geografia não penetiava

na. 291 LEITE, Serafim - 169 LÉON DEMORINEAU - casa de, 230 Leopoldina - trafegam os primeiros tiens

da, 214; uibanizacão dos subúrbios da, 192

LERY - 199 e 203 LINHARES, conde de - 229. Lisboa - 222; atenções do govêrno de.

222; CABRAL deixa, 199: direto influxo da riqueza e finura da civilização oriental. atinge, 220; estimulados os administra- dores pelo govêrno de, 240; evoluçáo econômica e social observada pelo go- vêino de. 222; exportação pala, 248 e 319; lb e copia modelos. 219; o govêrilo de prestigia a arremetida, 205; olhos fitos em, 232; o maior pôrto europeu da época, 219; reforcos de, 167

Page 407: O Homem e a Guanabara

Liviamento - construção da igreja do, 145

LOIOLA - politica de, 155 Londres - máquinas importadas de, 227;

notícias através das gazetas de, 227; plebe de. 244: sob o signo de D JOÃO VI, transforma a ecõnomia do Bra- sil, 229: uma futura, 190

LOPES, ~ ~ i d r é - sesmaria doada a no rio Suruí, 234

LOPES DA FONSECA. Pe Antbnio - estabe- lece a cultuia do café o, 194

LOPES, Jácome - sesmaiia doada a . no rio Coiumiri, 234

Luccoc~, John - 259; "Notas sõble o Rio de Janeiro", de, 227

L u i s ~ s - Paris no fastigioso tempo dos . de Fiança, 226; relação com a época dos de França, 239

Lusitano - o sensualismo - cria uma plebe feivilhante, 209

Macacu - alagadiços do rio, 238; atuais obras saneadoras do vale do, 247; os des- biavadores subiam as águas do rio, 235; renascimento do tráfego fluvial no rio, 196; sesmaria no rio, 234; sesmarias para os índios de, 214; terias doadas no fun- do do sertão de. 234 e 237; vila fiontei- riça aos tiemedais do, 146

MACEDO, Séigio D. T - 231 e 236 Machado - bonde para o largo do, 213 MACHADO DE ASSIS - 185. Macaé - 200, 201 e 202. Madeira - extraçáo téciiica da, 262; re-

servas de, 262; plantações de, 262; pO?- sibilidades ecoiiômicas com a exploraça0 da, 195

MADRE DE DEUS, fiei Gaspar - testemunho de, 160

MAGALHÃES, Basílio de, 195 e 198 MAGALHÁES, Marina Carlota Veilla de -

maternal solicitude de, 236. MAGALHÁES, Fernáo de - 204; expedição

de, 204: viagem de, 202 Majé - fábrica de açúcar n? rio, 231; os

desbravadores subiam as aguas do li0, 195; pescarias em, 202; produção de ba- nana no município de, 297 e 298; ses- maria no iio, 198

Malaca - concrito de um príncipe de, íOd L" x

MALHEIRO DIAS - documeiitaçáo de, 200. MARANCUAPE - salões do visconde de, 240 Mambucaba - cachoeira de, 263; lavoula

do café no vale do, 259; planicie, 252; surge o embaicadouro de, 260

Manchestei - panos de, 229 Mandioca - produção de, 298 Mangaratiba - abandono de, 264; a po-

tência financeira dos reis do café refle- te-se em, 266; área de. 268; atividades agrárias em, 175; chega o ciclo do café para, 265; café expoitado por, 268: com o cativeiro de ilegios. é que se fêz, 166: cultura e civilização de, 275; decadência de, 275; desmembramento de, 158; de- senvolvimento de, 275: desorganização de com a retirada dos jesuítas, 19:: dias de fastígio para, 275; estagnaçao do processo evolutivo de, 265; evolução de, 265; exportação atual dos portos de, 168; filas de tiopas nas estradas de, 275; fundação de na opinião de, PI- ZARRO, 165; influência das vias de comu- nicação no desenvolvimento de, 266; in- desejáveis invadem, 264; indolência da população de no combço do século

XIX, 165; iiiicleos iegionais de. 272; nú- meio de propriedades agricolas de, 277; o abalo da Abolição derrotou, 268; o que é hoje. 268; opulência da cidade de, 166; origem de, 264; pOpUlaçã0 de em 1820, 265; populaçáo de em 1920, 168: possibilidades econômicas de, 262; povoamento de, 264; produçáo do café em, 156; produção de banana em, 298; ramal de, 173; recenseamento de em 1920, 173: recenseamento do gado de, 174; restos dos sobiados de, 268: restos que atestam a civilização de, 266; re- taguarda continental de, 252; iocha pie- dominante em. 193: superfície de, 274: valol das propiiedades rurais cle, 276; vagaroso crescimento da população de, 162: valor dos estabelecimeiltos iurais de, 274; vida colonial de, 264

Mangue - canal do, 117 e 127; conserva- ção do, 193

Mangueiias - desmonte do moiro da, 225 Manguinhos - aterros em, 229 e 293 Manuel de Brito - antiga praia de, 154 Mantiqueira - galgando a seirn da, 198;

obstáculos da serra da, 123 Maracajá - os franceses voltam a forti-

ficar-se na ilha de, 206 Maiambaia - apaga-se a paisagem cultu-

ral de, 267; construção da restinga de, 194; cultivo da mandioca em, 267; cui- tivo do milho em, 267; estaçáo de en- gorda em, 267; estada de pretos vindos da África, em, 266; o que iestn. da po- pulação de escravos de, 268; porteira de entrada da esciavalia, 267; praia de banho do clã patriarcal, de, 267; iece- ber gado humano, era o fim piincipal de. 267; iestinga da, 264. 269

Maracanã - constrói-se uni engenho cle acúcar, no, 131

Marapendi - extensa praia de. 233; in- vasão da praia de, 229; laguna de, 185

Maiapicu - sesmaria no rio, 234: teiras doadas no rio a GARCIA AIRES, 237

Maria Angu - piaia de, 178 Maricá - exportação de laranja em. 198;

indesejáveis invadem' 264; núcleos de povoamento estabelecidos na zona de, 239; produção de banana no município de, 297 e 298; sesmaria na parte fron- teira às ilhas de, 134

MARIZ, Antônio de - sesmaiia doada a no rio Macacu; terias de, 213

MARTIM AFONSO - nome (o) de Rio de Janeiio foi dado por, 200

MARTIM DE 56 - trazidos os tupiiiiquins por diligência do governador, 264

MARTIUS - 235 MASSENA - discipulo de, 229 Matacavalos - calçamento da. rua. 227;

origem do nome, 230 Mataporcos - mudas de café plantadas

na ch8cara de, 249; ariaia1 de. 218; oii- gem do ariaial de, 230.

MATOSO MAIA FORTE, JOSé - 214, 234, 237, 241 e 269

MAUÁ - const'uçáo de estradas por, 242; obia do visconde de, 227

Mauá. - estrada de ferro partindo de, 214 MELO MORAIS - 230 MEM DE S Á - 207; a Guaiiabara é inva-

dida poi, 205: chega o sobiinho de, 206; como germinou o núcleo, 209; eficiência organizadoia de, 110; fundacão da ci- dade por ; investe contra o

Page 408: O Homem e a Guanabara

foite de coligny 205; organização dei- xada por, 210; os tamoios enfurecidos com a vitória de. 106

MENDES PINTO. Fernão - o português na pitoresca . linguagem de, 204

MENELAU, Constantino de - expulsão de Cabo Filo de cinco embarcações por, 221; sucessoi de, 221

MENESES, Camilo de - saneamento por, 197

Meriti - construção do dique de, 292; cpidemin da cólera-morbos, invade a freguesia de, 242; exploração da região da bacia do, 237; os desbravadores su- biram pelas águas do rio, 235; renas- cimento do tráfego fluvial no rio, 296; sesmaria no rio. 234: solar do visconde d e , 239

Metró~ole - como nasce o espiiito da, 217;- futuro gigantesco da, 229.

México - construção da cidade do, 224 Minas Gerais - abastecem-se as, 176; co-

mércio das, 121 e 140; descoberta das, 206; desembarque para as, 254; gado que descia de, 241; jurisdiçáo de, 222; lavras de ouio localizadas em, 222; marés de cafezais invadem, 260: ouro das, 176; suspensão do trhfego entie Bahia e, 185; tiopas de, 143

Mineiro - influência climática na evo- lução cultuial do, 184

Mineraçáo - influencia da expansão c0- mercial e política da cidade sôbre a região da, 207

Miseiicóidia - base do serrote da, 218; ladeira da, 211; igreja da, 212.

Missão Fiancesa - primeiias colheitas da, 235

Mississipi - dilúvio do, 199 Moeda - fundacão da Casa da, 222; pena-

lidade para qÜem falsificava a, 203 Moiiocultura - melhor planejamento da,

244; o campista apega-se à, 232 M O N ~ I R O , Cristóvão - sesmaria de, 195 MONTEIRO MACIEL - época dos, 241; suces-

sor de, 239 MONTICNY, G. - influência dos, 235 MORALES DE LOS RIOS - opinião de

sôbre a fundação do Rio de Janeiro, 7nfi -" -

MOREIRA - salóes do comendador, 240 MOTA, Simão da - fundação do tempo de

N S da Piedade po- 238; sesmaria doada a no rio Maje, 234

Motoies - grande indústria de, 299 Mou~Áo, Duarte Martins - sesmaiia de

em Majé, 234 MOURA, Miguel - de sesmaria de. 234 e -" - 140

Nasuco - solar do conselheiro, 239. NAMORADO. Pedro Martins - sesmaria de,

234 NAFOLEAO, ~ i t u r - salaus musicais de. 242 NAPOLEÁO I11 - salões de, 240 Natureza - debate do homem-econômico

pelo domínio da, 213 NEUWIED - 235 Niterói - ARARIBÓIA, futuro fundador de,

206; atividade agrícola de, 245: constru- çáo da igieja de N S da Conceição no centro de, 239; criação e população de, 246; criada a freguesia de S João Ba- tista de Icaraí, para satisfazer as neces- sidades religiosas de, 245; cultivo da cana e da mandioca, onde hoje é a "Praia Grande", no centro de, 245; en- genhos existentes em . . . em 1870, 195: estrada de Campos a, 196; fundação de,

163; geologia de, 164; história colonial de, 239; interferência dos fatõres geo- gráficos n o desenvolvimento econômico de, 245; . n a opinião de RIBEYROLI~ES, 203; os naturais chamavam-na, 200; pla- nícies de, 173; primeira barca a vapor para, 214 significado de, 203; tardio sur- gimento de. 245; vácuo de duzentos anos desconhecidos a iespeito de, 193

N~BREGA, pe Manuel da - influência de 205; extraordinária clarividência do, 199'

N S da Conceição - construção da igreja de, 221 e 239

N S da Conceição de Iiajá - surgiu dos canaviais a freguesia de, 232

N. S da Conceição de Jurujuba - atii- buida aos jesuítas a fundaçáo da ig re~a de, 239

N S da COilCeição de Marapicu - siirge a capela de, 238

N S da Glória - construção da igreja de, 221; monte de, 225

N S da Piedade - engenhos da fregue- sia de . segundo MATOSO MAIA FORTE, 248; fundação do templo de por SI- MÃO DE MATOS, 238; o núcleo formador da vila de Iguaçu, foi, 237

N S da Piedade de Inhomirlm - suige a capela de, 183

N S do Bom Sucesso de Piiapetinga - atribuída aos jesuítas a fundação da igreja de, 239; fundação da igreja de, 213

N s do Destêlro de Campo Grande - dentio dos canaviais nasceu a freguesia de, 142

N S do O - igreja de, 212; capela de, 1 1 5

N-% do Pôrto - construçáo da igreja de, 221 ---

N S do Rosáiio de Icaraí - capela de, 2x9 ---

N S dos Remédios - fundação da ma- tiiz de . segundo PIZARRO, 253; recons- trucão da matriz de. 253

Nova -do Imperador -.os piimeiros oilibiis paia a rua, 213

NOVA FRIBURGO - salóes do barão de, 239. Nova Iguaçu - 243; producão de laranja

em, 298.- Nova York - uma futuia, 190; plebe de,

244 Novembro - atual piaça 15, de, 155 NUNO MANUEL - 130 OLNE - 231 OLIVEIRA - solar do conselheiro Barbosa

de, 239; Eusébio de, 26 Onze - tuibilhóes carnavalescos da ex-

tinta Praça, 251 Ordem - domínio da sesmaiia da, 231;

rendas que entravam para os cofies da, - -- IYZ

"O Rio de Janeiro Como E" - 234 "O Rio de Janeiro no Tempo dos Vice- -Reisw - 200 OTAVIANO, Francisco - Bpoca de, 241 Ourique - a história portuguêsa desde,

77n --- Ourives - iazáo do traçado da lua dos,

776 --A

Ouro - casa de fundição de, 255; poita- dores de, 254; situação geográfica das lavras de, 222; transportes de, 254

Ouvidor - batalha pela rua do, 237; he- gemonia comercial da rua do, 230; roda o primeiio bonde de tração animal, na rua do, 213; rua do, 219; tráfego de carios de bois pela rua do, 212

Page 409: O Homem e a Guanabara

Ozouao, Manuel Francisco - sesmaria de, 183

PACHECO: - fiéis seguidares dos, 203 Paço Imperial - modistas ditadoras do

esplendor do, 231 "Pai da Pátria" - título de, 208 Palácio Isabel - 241 PALarsrNq - alfaiate, 231 Palmas - colõnia de pescadoies de, 263 PALMLER, LUIS - 190 Pantanais - ofensiva contra os, 285; sa-

neador solidificando os, 284 Pantanal - luta do colonizador contia o,

238 Pântano - 216; inicio da luta contra o,

202; luta contia o na zona rural, 231; luta da plebe contra o, 245; luta dos beileditinos contra o, 193; o Rio de Ja- neiio vagaiosamente domina o, 200; terra estigmatizada pelo, 288

Pântanos - adaptação do homem à teira dos, 287; drenamento dos, 286; entu- siasmo e agitação na luta contra Os, 297; o homem atirou-se aos, 286; o ho- mem drenando os, 285

Paraiba - a estrada de felro alonga-se ao vale do, 261; cultivd do café no vale do, 242; descoberta das planícies do baixo, 244; desembarque para o alto vale do, 254; escalada em busca das selvas do, 252; escoamento do café para o alto vale do, 277; fazendas que enriqueceram o vale médio do. 276; formação cliltiiral do vale do, 276; leito do vale do, 276: males de cnfèzais cobrem o vale do, 193; nascem grandes indiistrias no vale do, 195: o domínio dos BREVES iam ate o vale do, 268: os diluvianos caprichos do, 289; paisagem civilizadora do vale do, 260; plantações de café ondulavam pelo vale do, 273; riqueza do café no médio vale do, 235: ruínas dos valios palácios do vale do, 267; súbita inveisão dos rumos do trafego no vale do, 261; sumiço do café no alto vale do, 277; transporte do café do vale do, 241

Paranaguã - pórto de, 176 e 225 Paianapuã - aprisionamento de gueriei-

ros na ilha de, 107; defesa da ilha de, 107; investida contra, 107; os franceses voltam a fortificai-se na ilha de, 106

Parati - admiracão dos turistas oelos ce- nários de, 157; agrupamento na bacia de, 153; aguardente de, 259; alicerce econõmico de, 179; aniqiiilamento rulal e urbano da vila de, 156; ascensão do índice demográfico de, 157; a s necessi- dades dos transpoites exigem o con- cuiso de, 255: aspectos sociais de, 156; atividades industriais de, 157: atividades rurais de, 178; casa de fundição de ouro transfeiida para, 155; . cidade "sili- -geneiis", 155; colônia de pescadores de. 163 e 179; colonização de, 253: conten- das sõbre a juiisdição de, 154; conten- das que prejudicavam a administraçáo da vila de, 154; contribuição do distrito de, 175; ciiação de um "registro" no pôito de. 154; cultivo da terra em. 277; definhamento de como base de trânsito, 179; desmembramento da pa- ióquia de, 185; desembarques em, 254; destruídas as possibilidades de, 279; eco- nomia rural de. 277; elevada produção de arroz de, 197; enoimes potenciais 111- dráulicos cercam, 257; espigão continen- tal do, 192; estabelecimentos iuiais de, 277; estabilidade econômica de, 256; es-

trada que liga São Paulo a, 254; evolu- ção de, 154; expansão do carioca desde os extremos costeiros de, 148; exporta- çáo de pr0dut0~ da vila de, 155; fabli- C ~ Ç ~ O de açúcar em, 155; fabricas de aguardente de, 155; fabrico de farinha em, 179; fatores topográficos desfavore- ceram a indústria na região de 156- fuga do trânsito à velha cidade dé, l78: fundação da cidade de, 153 e 154; ga- iantido o futuro do município de, 179; importância das flbricas de aguardente de, 197; importância do tráfego n a vida de, 145; indigência da vila de, 154; in- fluência dos fatores yeog~áficos, na vida de, 254 e 279; joinada via, 222; litoral de, 84; monopólio da produção no vale de, 256; morte de . como feitoria pro- visória, 279; navegação de. 178; niranças topográficas de, 177: núcleos regionais de, 172; o ciclo de ouro de, 178; o ciclo do café de, 178; o homem da planície de, 186; o ouvidor JoÁo VELHO DE AZE- VEDO, em visita de correição a viia de. 153; origens tectônicas da geologia de. 177; particulatismo inicial dos primiti- vos colonos conservado por, 178; peque- na enseada lamacenta de, 178; permuta de gêneios de com Minas Gerais, 255; plantações nos vales de, 155; popu- lação de em 1872, 156; possibilidades econômicas da cordilheira, desde, 262; possibilidades para a lavouia e pecuária, 177; primeiias cabanas levantadas em. 153; primeiros povoadores de, 153; pro- dução de. 274; produção de aguaidento em 135: plogresso do município de. 278; propriedades agiicolas em, 277; recen- seamento de . em 1920, 173; recensea- mento do gado de. 174; recomoensa de. 157; reselvas florestais de, 179; reta- guarda continental de, 152; surto, in- dustrial em, 157; tiansporte de ouio por, 254; valor dos estabelecimentos iurais de, 174; vaigedos em, 277; viçoroso crescimento da populaçáo de, 162; zona produtiva de, 279

Parati-Guaçu - templo de São Roque. em, 253 -

Paratimirird - planicie de, 191 Paris - contem~lacão dos últimos mo-

delos de, 242; -imkndície das ruas de, 146; livios de, 229; o bairro entie a praça, 217; plebe de, 244; proieção de, 237;' sob o signo de D. JoÁo vr mo- difica a face política do Brasil, 229

PARNY - a beleza da mulhei carioca, na palavra de, 221

pascoa - celebração, da, 205 Passeio Público - ajardinamento do, 210;

constiução do. 225; música ao ar livre. no. 222; traça-se o, 200

PASSOS, Pereira - obras de remodelação e saneamento de, 215; teira onde nas- ceu, 186

Paulicéia - atividades dinâmicas da, 216 Paulista - influência climática na evo-

lução cultural do, 284; paisagem lito- rsnea da costa, 285; psicologia do, 225

Paulistas - consolidação da vida e dos engenhos. 153

Pau-brasil. 236; iiiína do comércio do, 152 PAULO DE FREITAS -2 opinião de sóbre

os ateiros, 145 PAULO PAVAGEAU - salões de, 230 Pavuiia - lagoa da, 217 e 219; novas ar-

térias entrecoitam os subúrbios de, 194

Page 410: O Homem e a Guanabara

Pedra de Guaiatiba - colônia de pesca- doies de, 191.

PEDRO B E R T ~ I - figurinos italianos pu- blicados por, 219

PEDRO I - escravos pertencentes a , 271; recursos pessoais de, 270; residência de, 271; sonho de, 229; um dos mais notá- veis observadores da época de, 222

PEDRO I1 - a produção rural e sua eco- nomia como base do reinado de, 175; concessões de títulos nobiliárquicos por, 237; densidade demográfica na maiori- dade de. 228; estrada de feiio. 214; po- pulação do Rio de Janeiro no advento de, 127; prestígio cultural de, 236

Pecuaría - a penetração instigada pela, 157; desenvolvimento em grande escala da, 180; com os caminhos suigiu a, 181; cultura rural como base da, 275; pro- liferação da, 258.

Peixe - giaiide indústiia de conserva de, 299

Penetração - a mais antiga, 230; as doa- ções latifundiárias deram início à, 184 e 237; influência dos rios na. 235

"Peratinin" - sesmaria em, 234 Pernainbucano - iiifluêilcia climática na

evolucão cultuial do, 284 Pernambuco - expoitrtcão de abacaxis

pelo pôito de, 298; sal procedente de, 255; tomada de, 221

Pesca - instalação das colônias de, 192; renda das colônias de, 194

Pescadoies - lua dos, 220; rua Visconde de Iilhauma, antiga rua dos, 202; po- pulação de, 263

Piaçava - praia de, 215; sesmaria no ser- tão de, 234

Piedade - expansão da população por, 230

P I E ~ R E LAVEDAN - 195 Pila1 - capela que seivia de pariiquia. lia

zona de, 237; comércio através do pôrto de, 141; engenhos da freguesia de . , segundo MATOSO MAIA FORTE, 248; OS des- bravadores subiam pelas águas do rio. 235; vila de comércio de, 241 e 244

PINA MANIQUE - 224. PINA, Tomás de - doacão de terras dos

herdeiios de ARARIB~IA a, 190 PINHEIRO, Jácome - sesmaria doada a

no sertão de Piaçava, 192 PrNno, Wandelley - 237 e 244 PINTO ALPOIM, José Ferilandes - o pri-

meiro livro impiesso no Biasil, de au- toria de, 210

PINTO, Ruiz Vaz - despótico e atrabiliá- rio, 221

Piraí - tropas de, 290 Pirapetinga - fundação da igreja de N

S da Conceição em, 213 Piiatalla - ameaça da, 185 Piratininga - investida dos tamoios con-

tra, 206. PITT - 229 PIZARRO - a fundação de Mangaratiba, na

opiniso de, 265; a população do Rio de Janelio no século XVIII, segundo, 227; estatística de, 195; fundaç,ão da paró- quia de S Gonçalo, segundo, 238; im- portância dos rios na vida carioca, se- gundo, 235; opinião de . sòbre a fun- dação da matriz de N S dos Remé- dios, 192

Planaltos - escoadouros dos, 207; expan- são cultuial dos. 193; o severo homem dos, 216

Planície - abandono da, 249; canais en- xugadores da, 270; o ca~ioca é homem de, 201

Plebe - complexidade psíquica do homem da, 245: fugitivos da, 230; influência da

nos costumes do carioca, 245; luta da contra o pântano, 245

Pó - enchente do iio, 291 Política - a . submete-se a Geogxsfia,

174 ponte Bela - notável trabalho de arte, é

a construçáo de, 266 População - a crescente escravaria con-

tribui para o aumento da, 232; integri- dade biológica de uma nova, 289

PORCI~NCULA, D José Tomas da - 262 Pôrto Alegie - 255. Pòrto das Caixas - vila de comércio de,

235, 241 e 244 Pôito - exportaçáo para o, 248 Perto Novo do Cunha - estrada de ferro

ate, 261 Pôrto Seguro - tupiniquins trazidos de,

172 Portos - abeitura dos, 213 e 227 Portugal - exportação Para, 184; gêneios

de hoitaliças de, 236: homenagem ono- mástica ao rei de, 207; interrompera-se o contacto com, 228; ministro de, 240; noticias de, 227; plebe enviada por. 203: rei de, 104; restaiiiação de, 205; tesou- ros pala os reis de, 181.

Português - a tiisteza do, 220; domínio sadio e sólido do espíiito do, 227; im- pério, 105; influência psíquica do, 224; revolucionaram o velho comércio, 227

Portuguêsa - piataiia, 239 Poituguêses - aliança com os, 180 Postal - circulação do primeiro sêlo, 214 Povoados - desinterêsse dos colanizadores

na fundação de, 179 Povoamento - composição de iitii vasto

plano de, 202 Praia Foimosa - peiietraçáo até a, 230 Praia Grande - 213 e 214 Prainha - mal da, 142 Piata - aluviões do ria da, 219; ameaça

as rotas do. 204; influência geogiáfica do, 208; regresso do, 204

Piimeiro de Março - lua, 200 Primeiro Reinado - elegância carioca 110,

231 Produção - complexos problemas da, 301;

vastas áreas de, 205 Piovincias - o impeiadoi nas recepções

de, 241 Quarii - sesmaiia de, 234 Queimados - coiistruido o primei10 tre-

cho de estrada do Rio de Janeiro a, 242; estrada de feiro até, 214

Queluz - a estrada de ferro atinge, 191 QUEIRÓS SANTOS, Isa - 220 Quinta da Boa Vista - passagem do rei

pala a , 127 Quitanda - primitivo nome da rua da,

9.30 --v

Quitanda dos Maiiscos - rua, 220 Raiz da Serra - construção da primeiia

via fériea até a , 242; estiada de ferro até a, 214

RAMALHO - O salcasmo dinainizador de um, 220

RAMOS, Artur - 211 Realengo 4 ergue-se uma cidade com os

núcleos de, 192 Recife 4 224; saneamento de 297 Recôncavo - abandono da lavoura do.

206; a pressáo demográfica do Rio de

Page 411: O Homem e a Guanabara

Janeiro fêz povoar o, 251; começa o po- voamento do, 233; canais quase em tõ- das as bacias do,?293; cartografia do, 287; decadêincia do, 288; dirigidos os primeiros passos cariocas, para O, 285; hospedaria dos fazendeiros do, 206; ex- pulsáo da gramínea do, 251; extinçtlo dos engenhos do. 244; grandes ondas ca- feeiras arremetiam contra os relevos do, 250; marcha da população urbana sobre os contornos do, 186; mercadores fartos com a abastanca do, 201; o ., foi pla- nejado para uma cidade imensa, 252; O futuro Rio de ganeiio estender-se-á por todo o. 193; problema do, 288; penetra- ção dos tremedais do, 287; produçao de banana no, 142; produtos que podem transformar os pântanos do, 297; ter- renos inigualáveis do. 298; transborda- mento pela área do, 229; tornam-se em capoeiras as lavouras do, 288; transfor- inação da paisagem humana do, 204

Refens - localização do rio dos, 137 Reforma (a) - 139 Regência - crescimento da população sob

a, 228; elegância caiioca na, 231 Reinado - obra do, 226. Relíquias Vivas - 252 Renascimento - cobiça da fartura com

o, 204; desabrochar do 219; indisciplina sociai do, 219

República - ascensão do índice demogrh- fico na, 257; atual praça da, 210; ex- pansão da população antes da procla- mação da, 230; população e embeleza- mento da cidade. na, 228; população no comêço da, 227: praça da, 217; sub- metida à gravitaçáo da capital da, 192

República do Peru - rua, 190 RESENDE, conde de - 215; administiaçáo

do vice-rei, 210: exportaçáo no govêrno do, 248; recenseamento efetuacio pelo, 228

Resende - fazendas que irradiaram do primitivo níicleo de, 276; mudas de caf6 para, 149; tiopas de, 260

Restinga (a) - cenário uniforme da, 172; disseminação da cultura pela, 208; faixa litorânea da, 208

RIBEYROLLES - a designação de Rio de Ja- neiro, e, 174.

Rio Bonito - fragmentos municipais aca- aarados por. 247: ~roducão de banana - , . - em, 297

RIO BRANCO - mapa oferecido ao barão de, 247

Rio Biancd - avenida, 211 e 219 Rio Complido - os primeiros ônibus para,

213. Rio de Janeiro - alegria poituguêsa imi-

gra para o, 221; a apregoada incúria dos administradores do, 224: absorção do, 214; abundância de hortaliças nas terras do, 236; administradoies do, 120; ainda não havia hospedarias e hotéis no, 206; alargamento dos bairros cen- trais do . . pelas marés, 120; a lavoura da cana foi um fator prepondeiante na fixação humana na zona iural do, 231; aldeamentos indígenas isolavam-se do, 113; alimentod básicos da população do 202: Angra dos Reis ao abrigo do, 258: aparecimento do veidadeiro sistema de transporte do, 213; "aparelhagem reli- giosa" do, 211; as primeiias plantações nos morios do, 201: a rua do Ouvidor centializou tâda uma época do, 242; as- censão à grande metrópole o, 228; as-

pecto aiquitetural do, 234; associacão da terra ao homem do, 246; atêrro das ruas do, 220; a t h p e r a dos primeiros habitantes do. 204; aumento da poplila- çáo do . no Século XVIII, 127; azeite para a iluminação do, 202; bairro cen- tral e comercial do, 181 e 217; beleza pa- norâmica do, 222; bordo continental mais vizinho do, 169; cabanas levanta- das desde a conquista do, 153. com O auxílio da geografia, prever o ;um0 da dilatação da cidade do. 152; calçamen- to das ruas do, 207; cálculos censitSt- rios para 1950 e 2000 do, 128; canaliza- ção de todo combrcio de mineração para o. 123; capitania do atual Estado do, 104; centro de onde emanaram ativida- des formadoras de cultura rural, 192: centralização do impbrio português, no, 146; centralismo urbano no, 246; che- gada da família real ao, 170: cidade carnaval, 249; . cidade samba, 254; co- meça a veidadeira expansão urbana do, 115; comércio com o, 161: como foi sur- gindo a cidade do, 217; concessões de sesmarias no, 104; consolida-se o domi- nio português no, 107; Construido o pri- meiro trecho da estrada do . a Qllpi- mados, 142; consumo de gado :o-=; contagia-se de imitação o, 240; cAntri- buiçáo para o crescimento do, 129; con- trlbuicáo ao crescimento do. 131: cres- cente -escravalia aumenta a pii;uiaçáo do. 132: crescimento dos subúrbios do norte e' oeste do, 133; crescimento na- tural do. 155: criação do, 124: cobicado o. 223; dado o nome de . por M A R ~ M AFONSO, a Niterói, 142; define a fase colonial do, 125; depressão financeira do, 207; descobrimento do . . na opi- nião de JoÃo RIBEIRO, 99; desinterêsse dos administiadores do. 140: destino econõmico-social submisso a orientação politica do, 123; destino social das pla- nicies, ligado ao, 297; CiilIlvio humano transborda o, 129; eIement0s que com- póem a população do, 212; encaminhan- do o ouro para o, 154; entra a cultura intelectual e moral no, 111; epidemia da cólera-morbos no, 142; escarpas do, 56; escoamento do café para o, 143; escoa- mento da piodução agrícola do recôn- cavo para o. 135; escoamento de pio- dutos para o, 240; escondido à vigilân- cia do. 154; espraiamento da cidade do. 130; ESTACIO DE S Á aporta no, 152; está- gio fundamental da formação esairitual do, 218; estrada tezrestre entre S- Paulo e o, 154; evolução do no século XIX, 127; evoIução rbpida do. 234; evolução urbanistica do, 201; exaguameiito do, 124; expansão e pioglesso do na fase colonial, 227; expansão do no co- m&o dêste século, 133; expo&açáo de abacaxis pelo porto do, 198; exportaçáo do, 148; expulsáo dos franceses do, 107: fase inicial do, 204; fase defensiva e em- brion8ria do. 112; fase jesuíta do, 112; formação das escarpas do, 18; funda- ção do, 106; fundação do em 1 * de maiço de 1565, 207; fundaçio do n a opinião de BACKHEUSER, 100; fundação do na opinião de MORALES DE LOS RIOS, 106; fundacão do . . na opinião de VIEIRA FAZENDA^ 100 e 106; fundação do . no morio de 8 Januálio, 110; fundação do segundo o 1 0 Coilgres- so de História, 106; fundadores do. 299;

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guarnição do, 209: fuga do braço es- cravo para o, 142; fundamentos histo- ricos do, 186; gado destinado ao abas- tecimento do, 141; governador do. 110; gravitação em t6rno do, 175 iluminação de cidade do, 210; importância do. 222: importãncia do . . para capital brasi- leira, 122; importância dos fatores geo- graficos do, 151; importante região agri- cola centializada pelo, 148; impulso do

com a administração de PAULO FER- NANDES VIANA, 127; impulso iural do. 186; influência da beleza da Guanabara no, 110; influência da nobieza flumi- nense na evolução social do, 237; influ- ência dos fatores geogiáficos na evolu- cão do, 199; influência dos jesuítas no, 112; influência dos vice-reis, no desen- volvimento do, 210: influêiicia francesa nos costumes do, 226; início de higiene preventiva do, 226; introdutora da fina sociabilidade no, 239; intercâmbio com o, 153; iilundaçóes do, 203; irradiaçáo da cultura do, 185 e 217; irradiaçáo demo- gráfica do, 113; madeira para o gasto do, 162; mau cheiro do, 144; marco inicial da cidade do, 143; MARTIM AFONSO, pii- meiro senhor do, 104; mercado consu- midor do, 175; mercado monopolizadoi cio, 145; miniatura da cultura do, 234; mudança do aspecto central do, 209: na- vegação da província do em 1871/2, 178; nova fase da vida social do, 239; númeio de passageiros transpoi tados no, 214; o aeúcar ergue a economia do, 136; obras que enobrecem o, 208. o café das pi ovincias era transportado por teira para o, 272; o café, novo fator agrícola trazido para o . pelo chanceler CAS- TELO BRANCO, 147; o desenvolvimento do . . . na opinião do Pe FERNÁO CARDIM, 136; o :->ãntano dominado pelo, 200; opi- nião de FRAZER, sobre o, 205: oidem do bispo do, 165: o ~ g a n i z a ~ á o da vida colo- nial do, 112; oiigem da civilizacão do atual Estado do, 214; origem geológica da topografia do, 118; o reformadoi do, 168; o . . desceu do morro pala os pân- tanos. 121; o dos primeiros tempos, 218: o nos piimeiros tempos dos go- -reinadoies, 201; o saco de S Diogo im- pede a expansão do, 226; panorama so- cial do, 206; vecuáiia destinada ao con- siuno do, 198; pelos salóes desfilava a nata social do, 238; plano urbanístico sistemático para a futura população do, 225; plantacão de café, na extensa toa- lha de baías ocidentais do, 152; popula- cão do . no comêco da iepública, 127; população mestiça do, 206; pôrto auxi- liar do, 197: posição de Niterói, em re- lação ao, 145; predominância politica da cidade do. 122; piimazia do coinér- cio inglês no, 229; piimeiros passos do, 199; primitiva expansão urbana do, 111: processo da evolução urbana do, 233; piodução de café que entra no se- gundo REYNOL, 149: produtos destinados ao, 172; produtos para os mercados do, 168; prognósticos estatísticos da popu- lacáo do. 197; privilégio do . como metrópole continelital, 187; psicologia do, 216; quando foi usado o nome de. 200; realização do D.N O S . no, 194; resgate exigido pela libeitação do, 123; saque da cidade do. 206; o sede do govêrno geral do sul, 222; será sempre o o grande porto do sul, 151; situa-

çáo finnnceirfi dos C O ~ O ~ O S ernpeilhaclos aos comerciantes do. 140: solucíto do problema do saneamento do reiõncavo justaposto ao, 188; submetida a irra- diação tentacular do, 180; superficie ha- bitual do, 129; tipo de clivagens do, 49; topografia de contrastes incomuns a do, 247; total de entradas e saídas de navios n a província do, 278; traçado original das ruas do, 125; transporte de ouro para o, 155; TROUIN, conquista o, 123; valor da exportação de laranjas pelo porto do. 202; vida auinhentista do. 202: . . vida social do, 223; -vizinhança do, 190

Rio Giande - porto de, 192.. Rio Grande do Norte - 196 Rio do Ouro - entrecruzados de novas

artérias os subúrbios da, 243; estrada do, 243; trafegam os primeiros trens da, 214.

"=-dos Refeas" - 201; localização do, 102.

~ i o ~ r ê t o - estrada que se dirigia para, 191.

RIO -SÊCO - biasóes teriitoiiais dos, 236 Rocio - praça do, 125 RODRIGO OTÁVIO - nomeado juiz o futuro

ministro, 190 RODRIGUES, Tomé - sesmaria doada a

junto ao rio das Velhas, 234 Rolé - lagoa do, 217 Roma - 250; aleita com a Refolrna,

105; exeinplo de. 152 ROSA, Nélson - 251 Rosário - igreja do, 117; os solaies se

abriam no mes do 267 ROSAS DA SILVA, Domingos - 119 ROWER, fiei Basílio - 146 RUGENDAS, João Maurício - opiniáo de,

229 RUYSH - a Guanabara no mapa de, 137 RYNAL - produção de café, segundo, 149 SÁ, Salvador Coireia de - engenho de,

135; é investido de poderes autônomos, o general, 122; terras para o indio, 114

Sabão - calçamento da rua do, 227 Saco de Mangaratiba - o domínio dos

BREVES iam até o, 268 Saco de São Diogo - ateiros sôbie o, 229 SALDANHA, Aires de - o govêkno de, 207 SALEMA, Antônio de - engenho de, 142;

. . . nomeado governador geral do sul. 159; melhoramento denominado ponte do, 192; teiras pala o índio, 214; tomada de Cabo Frio por, 211

SALVADOR, frei Vicente de, 220 e 233 Salvador - cenário do gôlfo de, 225; fun-

dação da cidade do 210. Samba - apotetico nativismo do. 253; o,

249. 251 e 252; local onde mais autênti- camente se revelou o. 253; monumento ao, 253; origens do, 252; síntese etno- -geográfico-musical da, 252

SAMPAIO, Carl05 - 215 SAMPA~O, Teodoro - 202. "Saneamento" (o) - 187: contribuição

paiticular das fazendas no, 231; enoi- mes extensões de pântanos aguardavam, 129; novas diretiizes de colonização sur- gidas com o, 195; o problema do, 116; solução do problema do, 288

Sant'Ana - arquipélago formado pelas ilhas de, 100; atêrro do campo de. 161; bairio entre o campo de. 117; campo de, 125; consti+ução da igieja de, 208: o ala- pego de Sam Paulo e a ilha de, 202

Sant'Ana de Japuíba - piodução de ba- nana em, 297 a 298

Page 413: O Homem e a Guanabara

Santa Cataiina - ilha de, 131. Santa Cruz - administração da fazenda

de, 207; afrouxamento da centralização social em 171; cafèzais na fazenda de, 150; colonização da zona de, 170; cultura de arroz em, 170; cultura do milho em, 170; curato de, 132; debilitaram a ordem social e a economia de, 170; desenvol- vimento uibano de, 273; destino das lendas de, 172; destinos rurais da pla- ilicie de, 175; engenhos de açúcar em, 170; equilíbrio hidráulico dos rios que encharcavam n planície de, 193: estudos realizados na baixada de, 291; exporta- ção de gado de, 170: expulsão dos ieli- giosos de, 170 fazenda de, 132 e 169; fortaleza de, i10; fundação de aldeias indigenas em, 270; fundação de colégios em, 170; impossibilitada a ciiação de um centio urbano em, 171; incremento da pecuaiia em, 175; ligação de a caoital. 180; núcleos de, 180; organiza-

modelar de, 170; origem de, 190; Os jesuítas entram em, 169; os piratas fran- ceses rondam a costa de, 104; popula- ção de, 270; presença da família real em, 271; saneamento de, 129 e 193; satélite de, 172; sobievivem obras jesuiticas na fazenda de, 131; submetida a , 173 venda dos produtos de, 171; viaduto de, 195; zona de, 196

Santa CLUZ da Baira - reparos do forte de, 143

Santa Cruz dos Militares - igreja da. 132 Santa Luzia - igreja de, 112 e 115; deno-

minada a Guanabaia, de, 102 Santa Maraaiida - construcã:, do forte -

de. 121 Santo A~ostinho - descobrimento do cabo

de, 132 Santo Antônio - doado aos franciscanos

o morro de, 220; lagoa de, 224; moira de, 109. 119 e 217: liinitaçáo da cidade aos quatro niaicos orogiáficos do morro de, 132

Santo Ailtônio de Jacutinga - engenhos da fieguesia de . , segundo MATOSO MAIA FORTE, 148; origem do povoado de, .e-

L S I Santo Antônio de Macacu - fragmentos

municipais acaparados por, 147 Santo Antônio de Sá - apaiece a pii-

meira vila, a de, 141; epidemia que des- povoa, 147; fase histórica de, 288: frag- mentos municipais de, 147: peispectivas culturais de, 147; o meio vence o ho- mem, em, 147; iesiste a ev0lu;áo a ve- lhíssima vila de, 146

Saint'-Cloud - festas em, 240 SAINT-HILAXBE - cientistas como, 235: ves-

tígios encontrados por, 172 Santos - 225; exemplo de, 152; expoita-

cão de abacaxis pelo pôrto de, 198; pai- sagem litorânea ao sul de, 185; permuta de gêneros vindos de, 255; pilhagem de, 203; pôito de, 176.

Santos Reis Magos da Ilha Grande - ele- vada a vila a paróquia de, 158

Santíssimo - topografia do moiro do, 31 Santissimo - eigue-se uma cidade na

planície de, 129. São Bainabé i aldeia de, 130. São Bento - dado em sesmarin o inoiro

de, 120: desapropriação da fazenda de, 193; limitação da cidade aos quatio maxcos orográficos do morio de, 132; inorio de, 217; o magnífico mosteiio de, 205; povoação cio núcleo de em Ca-

xias. 137; saneamento da fazenda de, 193; sesmaria doada aos padies de no rio Guapi, 234

São Bernardino - fazenda de, 243 São Boaventura de Macacu - iuinas do

convento de. 138. São B'rás - os tupiniquins estabelecem-se

em. 164 ----, - - - SÁo CARLOS, frei Francisco de - o giande

orador sacro, 246 São Cri~tóvão - a sesmaria da ordem in-

cluía, 131; as primeiras diligências vão a, 213; constiução da ermida de, 121; exemplo saía de. 236; expansão da po- pulação por, 130; fazenda dos jesuítas em 132; os piimeiros ônibus para, 213

São Diogo - exaguamento parclal dos pantanais de, 127; fortificaçáo do forte de, 110; pantanais de, 118 e 130; povoa- mento dos pantanais de, 126; reparos do forte de, 121: saco de, 126

São Diogo de Inhaúma - dent20 dos ca- naviais nasceu, 132

São Domingos - campo de, 124; coilstru- çáo da igreja de, 208; escoaineiito da produção poi, 146; expansão de cana- viais na zona de, 145

São Francisco - adufas na confluência do, 193; descoberta da foz do, 99; esco- lhido para escoamento das cheias, o ca- nal de, 193; viaduto ciuzando o leito do, 195.

São Francisco Xaviei - colégio, 173 São Francisco Xavier do Saco do SBo

Francisco - oainiáo n iesaeito da fun- dação da igreja de, 139 -

São Gonçalo - engenhos de, 146; expor- tação de laranjas de, 198; fundação da capela de poi GONÇALO GONÇALVES, 138; município de, 144; piodução de abacaxi em, 198; produção de banana ein. 197; reparos do foite de, 221

São Januário - acastelação do português em. 158; o morio de domina a-en- trada da baía, 109; os aterros e o morro de, 190

São João - constiução do foite de. 221 São João Batista de Icaraí - capela de,

139: ciiação da freguesia de, 245 São João da Trairaponga - fundaçfio da

paióquia de, 137 São João de Itaboiai - construcáo da

primeira igreja d$ R. margem do rio Iguá, 138

São João Marcos - café de, 266: caigas dos cafèzais de, 166; estrada terrestre passando por, 154; expoitaçáo de abó- boras de, 169: tropas de, 260

São João de Meiiti - engenhos da fre- guesia de segundo MATOSO MAIA Fon- TE, 148; mudança da freguesia para. 173

Sáo José - capela de, 215; construç50 da igieja de, 121; eiinida de, 120; rua, 116

São Louienço - 202; aldeia de, 112 e 113; ataque as fronteiras de, 111: expansão de canaviais pala as bandas de. 145: igreja de, 140; sesmaiia para os índios de. 114: silvícolas sujeitos às disciplinas religiosas dos diiigent2s do aldeaiiiento de, 154

SBo Lourenço dos Indios - coiistrucáo do templo de, 121; ceiltralizaçáo na ca- pela de, 139

São Nicolau de Surui - pioduçáo de acú- cai, da fieguesia de, 148

São Paulo - aldeia ds, 101: análise de caminho com base econômica em. 154; caininhos vindos de, 153; estrada de

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ferio até, 161; estrada de rodagem entre o Rio e, 154; facilidade de navegação desde os limites de, 106; jurisdição de, 122; mares de cafèzais invadem, 160; produtos para os mercados de, 168; tiansferência do seminário de, 111: tio- pas de, 160; zonas de limites com, 104

São Pedro - teatro, 233. São Pedio d'Aldeia - fundaçáo de .

Delos iesuitas. 139; número de fazendas de café em, 150

São Roaue - oiigem do templo de em ~arat iguaçu, 153

São Salvador - decai a predominância política da cidade de, 122; perde O comando do Brasil, 207; . sede do g0- vêrno geial do noite, 122

São Salvador de Guaiatiba - dentro de canaviais nasceu, 132

Sao Sebastião - corsáiios abandonados na ilha de, 203; engenho de açúcar sob a invocacão de, 132; os ateiros e o morlo de, 120; padroeiro do Rio de Janeiio, 107.

Sâo Tomé - descobiimento do cabo de, 99

São Teodósio - fortificação do forte de, 110.

São Vicente - coloniza~áo vinda de, 153; doação centralizada em, 104; ESTÁCIO DE SÁ apela para, 106; investem os tamoios contra, 106; reforços de . para MEM DE SA, 105; rota de, 158: tráfego maií- timo pala a capitania de, 114

Sapateiro - praia do, 202 Saqimiema - a primeira capela de, 139;

indesejáveis invadem, 164; númelo de fazendas de café em, 150; núcleos de povoamento estabilizados da zona de, 139; plantação de café nas regiões de, 150; sesmaiia doada aos padres do Car- mo de. 134

Snincui~iiia - dreiiag?iii do rio, 194; os cleshinvadores subiaiii pelas ayuas do rio, 135; sesmaria no rio, 134

Sarapuí - dienagem da bacia ão, 194: os desbravadores subiam pelas amas do rio, ~ 135

SARAPU~ - salões da condessa de, 240 Saidinhas - exportação de, 163 Sarja - mantos de, 219 SCHLICHTHORST - 231; a e ~ 0 1 ~ ç ã 0 social,

segundo, 227; impiessões de . sôbie o carioca, 234; o caiioca na opiniáo de, 223; sagacidade antropogeográfica cie, 223

SEIDLER, Carlos - 231 e 233; "Dez Anos 110 Biasil", de, 121; opiniáo de sôbie Itaguaí, 172

Segundo reinado - potência financeira dos reis do café no, 166; salões da no- breza impelia1 do, 236.

Selvas - insurieição biológica das. 184 Senador Dantas - lua, 119 Senador Vergueiro - rua, 239 Semináiio - ladeiia do, 111 Sentinela - aterros sobre as lagoas da,

129; lagoa da, 117; os giandes pântanos da lagoa da, 126; penetração contornan- do a lagoa da, 130; pantanais da, 130: povoamento dos pantanais da, 126

Sepetiba - aldeia inaritima de, 180; baía de, 169; colônia de pescadoies de, 163: extremo ocidental da baia de, 169; na- vegação regular unia Angra dos Reis a , 161; o problema de saneamento na ie- sigo da bacia de, 189; viaduto da baixa- da de. 195

Sertões - invasão continua dos, 234 Sesmarias - concedidas as primeiras 134.

cobiça R posse das, 113; cultivo das: 109; multiplicação do fomento agrícola pela doaçáo de, 241; piimeiras doações de, 130

"Sete Capitães" - os bois de cario e os, 144

SILVA - casamento do visconde de, 239: o coméicio de café quase todo mono. polizado por JosÉ FRANCISCO da, 161

SILVAN JUGAND - salões de. 230 "Sinfonia Carioca" - 248 Sítio Forte - siiige o embarcadouio de,

I fio - -- SMITH, Adam - o evailgelista da época

227 S o u s ~ , Maitim Afonso de - capitania de,

204; doaçáo feita por, 153; expedição sob o comando de, 204.

Submarino - inaugiiiação cio cabo. 214 Sul,iirbios - expansão cla ridede 11elos

213 Subuibanas - início das zonas, 130 Tambores - estrépito irresistivel dos, 249 Tamoios - aldeia dos, 269; confedeiaçáo

dos, 106; expulsão dos . do Rio de Ja- neiro, 204: fuga dos indomáveis, 105: in- vestida dos contra Piratininga, 106; investida dos . contra São Vicente, 106; o guanabaiino acomete os em seu reduto de Cabo Prio, 192

Tapacorá - sesmaria no rio, 234 Taquaruçu - malhas de, 201 TAQUELS, Pedro - 104 e 153. Taubaté - casa de fundiçáo de ouro

transferida de, 155; jornada via, 122 TAUNAY, Afonso de, 149, 150 e 205 TAUNAY - iinpiessóes coligidas por. 222:

influêilcia dos, 235 Teria de Santa Ciuz - reconhecimento

da, 102 Teiras - doações de, 210 Territóiio fluminense - mapa do, 147:

primeiro têrmo administiativo do, 158 Tesouio - local do antigo, 217 THOLOZAN - modista, 231 TIRADENTES - execução de, 210 Tiradentes - placa, 217 Todos os Santos - coordenadas da baía

de, 102; descobrimento da baía de, 99 TOMAR - salórs do conde de, 240 TOMÉ D E SOUSA - Caita de, 103 TORRENO - mapa anônimo de, 130 Touros - coilída de, 205 Trabalho - seleção telúrica do, 144 Tiansportes - açambarcainento dos, 179;

animais de, 130; complexos pioblemas dos, 191; modeinos sistemas de, 179

Trigo - moagem de, 157 TROUIN, Duguay - conquista do Rio de

Janeiro, por, 223 Tubarão - pesca do. 165 Tulherias - festas das, 240 Turim - mapa de, 130 União - uma das piincipais unidades da,

184 : Urbanos - centralização associattGa de : pequenos núcleos, 141

Uruçu Mirim - investida contra, 107: os fianceses voltam a fortificar-se em. 106

Uiuguaiana - origem da rua, 224; rua, 200

VAÍA MONTEIRO, Luís, o "Onça" - o go- verno de, 207

Vala - a cidade colonial estacionkiia li& lua da, 129; rua da, 124 e 277

Page 415: O Homem e a Guanabara

VALENTIM - auxilio ao mestre, 210: no- táveis obras-primas do mestre, 210

VALW, Cesar - alfaiate, 231 VALLAUX, Camilo - 192 Valongo - dessecamento dos brejos praia-

nos de, 125; isolamento dos negros no mercado de escravos do, 162 VARNHAGEN - opinião de . sôbie a des-

coberta do Rio de Janeiio, 100; relatos de, 99

Vaizea - transferência da Câmara para a, 120.

VASCO FERNANDES - teiias para o indio, 114

VASCONCELOS E SOUSA, Luís de - 224 e 225; administração do vice-rei, 209; atêrro da lagoa da Lampadosa por, 126; atêiro do campo de Sant'Ana por, 226; nos tempos de, 141

V ~ s c o ~ c m o s , Clodomiro de - 260 VASCONCELOS, Pe Simão - 202 VASQUEANES, Martim Corieia - engenho

construído por . em Andaiaf Pequeno, 132: fundação de farati , por, 154.

VAZ, Antônio - sesmaria doada a, 134 VEIGA, Louienço da - governador da

Bahia, 222 Velhas - sesmaria junto ao rio das, 134 Veneza - a moda em, 219 VENTURA, Pe - o Rio de Janeiro do, 212 "Viagem Pitoiesca Através do Brasil" -

229 VIAKA, Paulo Feinandes - extraordinário

impulso do Rio de Janeiro sob o g0vêYn0 de, 127; intendente, 222; primeiro sa- neador oficial dos campos dos goitacás, o intendente de polícia, 127; travessia de São Diogo por, 127

Vice-reis - aparelhagem governamental dos, 210; centralismo urbano dos, 146; cidade submissa ao absolutismo dos, 211; continuadores da urbanização sis- tematizada pelos, 215; desafoga-se o ca- iioca da tutela dos, 232: fim do século dos 125: gigantescos esforços dos. 116: idade precursora sob a conduta dos, 128;

jugo administiatlvo dos, 146: polltica unitária dos, 224; população nos tempos dos, 125 prestígio dos, 208.

VIDIGAL - figura de um, 224. Vidro plano - grande indústria de, 199 VIEGAS, Gaspar - carta de, 103 VIEIRA, Pe Antônio - 107 VIEIRA FAZENDA - 106 Vieiia Fazenda - beco, 111. Viena - expoitação para, 148; plebe de,

744 vigário Geral - urbanização de, 129 Vila da Rainha - fábricas de açúcar da,

135. Vila Isabel - inauguração de luz elétrica

em, 215 Vila Militar - ergue-se uma cldade com

os núcleos da, 129 Vila Real da Praia Giande - fundação

da, 146 Vila Rica - produtos de Campos para,

7n7 viii 'velha - designação de, 158; desmem-

bramento de, 158; penetração de ESTACIO DE SÁ em busca da, 130

Vilas - lançadas pela igreja as raizes fundamentais das, 141; não interessa ao

govêino cential a criação de, 146 Vilas de Comércio - criação das, 141;

vida das, 144 Villegaignon - investida contra a ilha de,

105 VILLECAIGNON, Nicolau - perseguição aos

córsáiios de, 1C5 VIMEIRO - capitão-mOr do conde de, 153 Viiadouro - 69 Visconde de Inhaúma - rua, 119 Visconde de Itaboraí - estação de, 88 VISCONTI DE MAIOLLO - a Guanabara, na

carta de, 101 Vitóiia - 225 Volta Redonda - sideiurgia de, 163 WALDSEEMVLLER - a Guanabara na carta

de, 191 WELLINGTON - discípulo de, 229 WHITE - O &nio alegie dos flumineiises,

segundo, 221 ZWEIG, Stefan - 246 e 253