o gigante egoísta

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Todas as tardes, quando vinham da escola, um grupo de crianças costumava ir brincar para o jardim do Gigante.

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Page 1: O gigante egoísta
Page 2: O gigante egoísta

Todas as tardes,

quando vinham da

escola, um grupo

de crianças

gostava de ir

brincar para o

jardim do Gigante.

Era um grande e

belo jardim, todo

atapetado de relva

verde e macia.

Page 3: O gigante egoísta

Aqui e ali, havia lindas flores, que eram como estrelas entre a

relva, e havia doze pessegueiros que, ao chegar a Primavera,

se cobriam de delicadas flores cor de rosa pérola, e no Outono

carregavam-se de deliciosos frutos. As aves pousavam nas

árvores e cantavam tão suavemente, que as crianças

interrompiam os seus jogos para as ouvir.

Um dia o Gigante voltou. Tinha ido visitar o seu amigo, o Ogre da

Cornualha, e ficara com ele sete anos. Ao fim desse tempo

dissera tudo o que tinha a dizer, porque a sua conversa era

limitada, e decidiu regressar ao seu castelo. Quando chegou viu

as crianças a brincar no seu jardim.

Page 4: O gigante egoísta

- Que fazeis aqui? –

gritou ele, carrancudo.

As crianças fugiram.

O jardim é meu – disse

o Gigante.

- Toda a gente tem de

compreender isto e não

permitirei que ninguém

venha para aqui brincar,

a não ser eu.

Construiu então um alto

muro a toda a roda e

afixou nele este aviso:

“É proibida a entrada.

Proceder-se-á contra

os agressores.”

Era um Gigante muito

egoísta!

Page 5: O gigante egoísta

Os garotos não tinham agora onde se divertir. Tentaram brincar

em vários sítios, mas nenhum resultava para eles. Então

vagueavam à volta do muro, falando do lindo jardim que eles

tão bem conheciam. Como tinham sido tão felizes lá dentro!

Chegou a Primavera e, por todos os lados havia flores e

chilreavam passarinhos. Só no jardim do Gigante Egoísta era

ainda Inverno.

As aves não queriam ir lá cantar, porque não havia crianças e

as árvores esqueceram-se de florescer. Os únicos seres

contentes eram a Neve e a Geada. A Neve cobria a relva com o

seu manto branco e a Geada prateava todas as árvores do

jardim.

Page 6: O gigante egoísta

Em breve convidaram o Vento Norte a viver com eles, que

pensou logo em convidar o Granizo, para fazer parte do

grupo. E ele lá veio, instalando-se no jardim, partindo

telhas todos os dias, com os seus rugidos.

O Gigante Egoísta olhava para a janela,

admirado por observar tão longo Inverno

e fazendo votos para que o tempo

melhorasse. Mas nem a Primavera,

nem o Verão chegaram.

Certo dia, estava o Gigante deitado,

ouviu uma música muito suave.

Foi à janela ver o que se tratava

e deu com um pintarroxo a cantarolar ali perto.

Page 7: O gigante egoísta

Há tanto tempo que não

cantavam aves no seu jardim,

que o Gigante achou aquela, a

melhor melodia do mundo. Foi

então que reparou: o Granizo

deixara de bailar sobre a sua

cabeça, o Vento Norte deixou

de rugir e um perfume

delicioso veio até ele, pela

janela aberta.

- Parece que a Primavera chegou finalmente! – exclamou o

Gigante que, rapidamente se vestiu e deu uma corrida até ao

jardim. Quando lá chegou viu um espetáculo maravilhoso: por

um buraco pequenino do muro, as crianças tinham entrado e

estavam sentadas nos ramos das árvores. Em todas elas, ele

viu uma cabecinha.

Page 8: O gigante egoísta

As aves voavam por todo o lado e chilreavam alegremente. As flores

espreitavam por entre a relva e riam. Era um espetáculo encantador

e só num recanto do jardim havia ainda Inverno. Era o recanto mais

afastado e via-se lá um rapazinho tão pequenino, que não conseguia

trepar aos ramos das árvores, tendo ficado no chão a chorar

amargamente.

A árvore que se encontrava

mais perto do menino estava

coberta de Neve e Geada e o

Vento Norte rugia por cima

dela. As outras crianças assim

que viram o Gigante fugiram.

Ele dirigiu-se então para o

pequeno que estava sozinho e

apanhou-o do chão.

O coração do Gigante

enterneceu-se e exclamou:

- Como tenho sido egoísta!-

disse ele.

Page 9: O gigante egoísta

- Agora compreendo porque

a Primavera não queria vir

para aqui. Vou pôr-te em

cima da árvore e depois

derrubar o muro. O meu

jardim será para sempre o

recreio das crianças.

Logo de seguida, a árvore

desabrochou em flores, as

aves vieram cantar sobre ela

e o rapazinho estendeu os

braços, abraçando e beijando

o Gigante.

As outras crianças, quando viram que ele já não era mau, voltaram a

correr pelo jardim e instalou-se a Primavera.

- Agora o jardim é vosso, meus meninos – disse o Gigante.

Page 10: O gigante egoísta

Passaram muitos anos e o Gigante

ficou muito velho e fraco. Como já não

podia brincar, sentava-se numa grande

cadeira de braços, a ver as crianças

felizes e a admirar o seu jardim.

- Tenho muitas flores bonitas, mas as

crianças são as mais bonitas de todas.

Pegou numa grande picareta e derrubou o muro.

As pessoas que passavam ficavam abismadas com o espetáculo,

pois viam o Gigante a brincar com as criancinhas no mais belo jardim

que já se tinha visto.Mas o Gigante nunca mais viu o

menino que o tinha abraçado

e todos os dias perguntava

por ele às crianças.

Os amigos não sabiam dele, achavam

que se tinha ido embora. Que triste

que ficava o Gigante! Talvez gostasse

mais dele, por lhe ter dado mimos.

Page 11: O gigante egoísta

Uma manhã de Inverno, olhou pela janela enquanto se vestia. Agora já

não odiava o Inverno, porque sabia que era apenas a Primavera

adormecida, deixando as flores repousar.

De repente esfregou os olhos de

espanto com o que viu. A um canto

do seu jardim, estava uma árvore

completamente coberta de belas

flores brancas. Os seus ramos

eram todos de ouro e deles,

pendiam frutos de prata. Debaixo

da árvore estava o rapazinho de

que ele tanto gostava, com uns

sinais vermelhos de feridas, nas

mãos e nos pés. O Gigante desceu

apressadamente as escadas e foi

ter com ele perguntando:

- Quem te magoou?

- Ninguém, respondeu o menino.

Estas são feridas do Amor.

Page 12: O gigante egoísta

- Mas afinal quem és tu? – perguntou o Gigante.

A criancinha sorriu e disse-lhe:

- Tu deixaste-me brincar uma vez no teu jardim; hoje virás comigo

para o meu, que é o Paraíso.

E, quando as crianças

vieram brincar nessa

tarde para o jardim,

encontraram o Gigante

morto, debaixo duma

árvore, todo coberto de

flores brancas.