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O Gerador Linear de Magnetos Permanentes Aplicado à
Recuperação de Energia das Ondas
Paulo Torres de Carvalho Cordovil
Dissertação para obtenção do Grau de Mestre em
Engenharia Electrotécnica e de Computadores
Júri
Presidente: Prof.ª Doutora Maria Eduarda de Sampaio Pinto de Almeida Pedro
Orientador: Prof. Doutor Paulo José da Costa Branco
Co-orientador: Prof. Doutor Ivan Eduardo Chabu
Vogal: Prof. Doutor Joaquim António Fraga Gonçalves Dente
Vogal: Prof. Doutor Gil Domingos Marques
Novembro de 2013
i
Agradecimentos
Agradeço aos meus orientadores que tanto tem contribuído para a minha aprendizagem no
tema das máquinas elétricas. Aos professores António Dente e Paulo Branco que estiveram lado-a-
lado comigo na elaboração desta dissertação, por terem estado sempre disponíveis para o
esclarecimento das minhas dúvidas e para auxiliar o trabalho. Gostava de apresentar, também, o
meu agradecimento sincero ao professor Ivan Chabu, que sempre acreditou no meu trabalho e me
motivou a ir mais longe. Mesmo a distância contribuiu de forma inestimável para a realização desta
tese.
Agradeço ao professor Luís Gato por ter me permitido assistir as aulas de operação e
manutenção do curso de formação avançada em energias renováveis marítimas. Ao engenheiro do
WavEC, Miguel Torres, professor desta disciplina, que compartilhou o seu conhecimento e
experiência na operação dos sistemas conversores de energia das ondas, por ter estado disponível
para me esclarecer questões sobre o assunto e me encaminhar materiais que permitiram uma
abordagem mais realística sobre este tema.
Agradeço e dedico esta tese aos meus quatro avós. A minha avó Sylvia que acompanhou
toda a minha caminhada pela Universidade de São Paulo, se não fosse pela sua astúcia, eu não teria
tido conhecimento sobre o cursinho preparatório para entrar na USP, o que fez total diferença na
minha trajetória. Ao meu avô Paulo, ao qual tenho orgulho de carregar o mesmo nome, no qual me
inspiro para ser uma pessoa e um engenheiro melhor. Aos meus avós Nuno e Maria Emília por terem
me recebido nesta terra com tanto carinho e alegrado os meus finais de semana.
Aos meus pais e amigos que me suportam nos melhores e nos piores dias.
ii
Resumo
Nas últimas décadas a comunidade científica tem-se empenhado para tornar
economicamente viável a produção de energia elétrica através das fontes renováveis marítimas. Uma
das formas de se aproveitar o mar como recurso energético é captar a energia das suas ondas.
Existem hoje diversas topologias de conversores de energia das ondas. Dentre elas surgem os
geradores lineares que retiram diretamente a energia das ondas, sem precisar de etapas
intermediárias para a conversão de energia. Esta característica tem ganhado interesse por se esperar
que assim seja possível diminuir os custos de operação e manutenção nestes sistemas. Entretanto,
surge o desafio de se construir geradores, numa topologia não convencional, aplicados a velocidades
muito baixas.
O objetivo deste trabalho consistiu na construção de um protótipo de um gerador linear
síncrono com excitação a magnetos permanentes aplicado à recuperação de energia das ondas.
Para isso foi utilizado o estator de um motor linear de indução, construído pelo Prof. Cabrita [36].
Realizaram-se, através do método dos elementos finitos, os estudos eletromagnéticos
necessários para a definição do sistema de excitação e para a caracterização das forças parasitas.
Analisa-se, também, a metodologia do deslocamento relativo entre os estatores para atenuar estas
forças. Destas análises retiram-se os parâmetros teóricos do circuito elétrico equivalente do gerador.
A validação do modelo teórico foi efetuada através de ensaios com carga trifásica equilibrada e com
carga retificada. Por fim, procurou-se extrapolar os resultados para um caso real utilizando-se o
regime de ondas da costa portuguesa.
Palavras-chave
Energia das ondas, gerador linear, forças parasitas, elementos finitos,
iii
Abstract
In the last few decades, the scientific community has been working hard to make marine
energy technologies economically feasible. One way of taking off the energy of the ocean is by the
waves. Today there is a wide variety of wave energy converters (WECs). One of them is the direct
drive system with a linear generator. The interest in this topology is increasing because it’s expected
to reduce the operation and maintenance (O&M) costs. However, this topology is not usual and it
needs to be suitable for very-low speeds.
The main purpose of this project was to build a permanent magnet linear synchronous
generator prototype for wave energy conversion. For this, a linear induction motor stator was used.
The electromagnetic analysis was done by the finite element method. With this analysis the
excitation system was defined and the cogging-forces were calculated. The methodology of the
displacement between stators was studied to reduce these forces. The theoretical model was
validated experimentally, with three phase and rectified loads. In the last chapter, the experimental
results were extrapolated to the Portuguese sea state.
Key words:
Wave energy, linear generator, cogging forces, finite element analysis,
iv
Lista de figuras
Figura 1 – Usina de La Rance (França) para a recuperação de energia das marés, com 240MW de
potência instalada. ................................................................................................................................... 2
Figura 2 – Parque de aproveitamento de energia das ondas com conversores Pelamis. ..................... 3
Figura 3 – Sistema de aproveitamento de energia das ondas no porto do Pecém Ceará – Brasil. ....... 4
Figura 4 – Conversor HS1000 da Andritz Hydro Hammerfest sendo instalado próximo de Orkney no
Reino Unido. ............................................................................................................................................ 5
Figura 5 - Wave Hub – Infraestrutura para desenvolvimento e testes de conversores de energia das
ondas em Cornwall – Inglaterra. ............................................................................................................. 5
Figura 6 – Locais com variação de altura acima de 5m entre maré alta e baixa. Ref. [25] . .................. 7
Figura 7 – Correntes marítimas. .............................................................................................................. 8
Figura 8 – Variação média da altura da maré. Ref.[10]. ......................................................................... 9
Figura 9 – Variação do fluxo de corrente de maré com a fase da lua, em “Minas Passage in the Bay of
Fundy – Canada ”. Ref.[26]. .................................................................................................................... 9
Figura 10 – Histograma de frequência de velocidades de correntes de marés em Knik Arm no Alaska
e em Tacoma Narrows em Washington. Ref.[26]. ................................................................................ 10
Figura 11 – Potencial de energia das ondas em kW/m. ....................................................................... 11
Figura 12 – Exemplo de funcionamento de um sistema OWS, ref.[3]. ................................................. 11
Figura 13 – Princípio de operação de um sistema Overtopping. Ref.[23]. ........................................... 12
Figura 14 – Na esquerda: esquema de um conversor AWS. Na direita: conversor com conceito
Seabased AB. Ambos utilizam um gerador linear como forma de tomada de potência. ...................... 12
Figura 15 – Na esquerda: detalhe do vazamento de óleo na central OWC do Pico dos Açores em
Portugal. Na direita: sensor danificado por problemas de corrosão na mesma central. Ref.[32]. ........ 13
Figura 16 – Duração temporal de cada atividade necessária para a operação de manutenção
normalizada pelo tempo total que o sistema permanece fora de operação. Resultados do estudo
sobre a instalação de um parque de energia eólica offshore na região NL07 na Holanda. Ref. [31]. . 14
Figura 17 – Distribuição dos custos de operação e manutenção. Resultados do estudo sobre a
instalação de um parque de energia eólica offshore na região NL07 na Holanda. Ref.[31]. ............... 15
Figura 18 – Percentagem dos custos estimados de instalação de um parque Pelamis 300 GWh/ano.
Imagem. Ref.[33]. .................................................................................................................................. 15
Figura 19 - Diferentes processos para transformação da energia mecânica das ondas do mar em
eletricidade. Ref.[18]. ............................................................................................................................. 16
Figura 20 – Enquadramento do gerador síncrono linear para o aproveitamento da energia das ondas.
............................................................................................................................................................... 18
Figura 21 – a) Topologia da Columbia Power Technologies. b) Topologia da Trident Energy. Ref. [57].
............................................................................................................................................................... 20
Figura 22 - Esquema de um gerador síncrono linear trifásico com excitação por magnetos
permanentes e duplo estator. Em vermelho, amarelo e verde, apresenta-se a localização das
bobinas. ................................................................................................................................................. 21
v
Figura 23 – Conversor AWS. Os magnetos são destacados em azul e as bobinas de cada fase são
destacadas em vermelho, amarelo e verde. Ref. [22] [56]. .................................................................. 22
Figura 24 – Conversor da CPT de 10 kW. Na esquerda, conversor em operação. No centro, vista
interior. Na direita: em vermelho, amarelo e verde são localizadas as bobinas e, em azul a localização
dos magnetos. Ref.[62][64]. .................................................................................................................. 22
Figura 25 – Na esquerda, parte interna do conversor Seabased AB, onde por se ver dois dos quatro
estatores. No centro, em cima, o flutuador. No centro, em baixo, instalação do conversor. Na direita,
detalhe do sistema de excitação e dos enrolamentos Ref. [67] [69]. ................................................... 23
Figura 26 – Na esquerda, conversores da Trident Energy sendo instalados para testes no mar. Na
direita, vista interior do conversor, com seis geradores. Em baixo, detalhes do gerador linear. Ref. [57]
[70] [71]. ................................................................................................................................................. 24
Figura 27 – Na esquerda, um módulo do transladador C-Gen. No centro, caracterização do módulo.
Na direita, distribuição das linhas de fluxo magnético em um módulo. Ref. [65]. ................................. 24
Figura 28 - Esquema da circuitação longitudinal (entre módulos) do gerador linear C-Gen. Ref. [65].
............................................................................................................................................................... 25
Figura 29 – Protótipo C-Gen de 25kW. Ref. [65] .................................................................................. 25
Figura 30 – Na esquerda, esquema de funcionamento do gerador VHM. Na direta, Imagem do
protótipo VHM de 3kW. Ref.[59]. ........................................................................................................... 25
Figura 31 – Estator em diferentes perspectivas. ................................................................................... 26
Figura 32 – Curva B x H do “M-15 Steel” utilizada para o dimensionamento da máquina. .................. 28
Figura 33 – Características dos magnetos de NdFeB. ......................................................................... 29
Figura 34 – Curva de desmagnetização do NdFeB (N35EH) à temperatura de 20º C. ....................... 29
Figura 35 – Possíveis geometrias para o sistema de excitação por passo polar. ................................ 29
Figura 36 – Circuitação magnética média e o seu respectivo circuito magnético. ............................... 30
Figura 37 – Diferenças entre o modelo real e o modelo simulado em FEMM. ..................................... 32
Figura 38 - Modelo do gerador linear geometria 1. Meio entreferro mecânico = 5 mm e indicação da
região do terceiro passo polar da esquerda para a direita. ................................................................... 32
Figura 39 - Na esquerda: região de medição de , no centro do magneto. Na direita: região de
medição de , no centro da cava. ....................................................................................................... 32
Figura 40 – Razão entre o fluxo magnético útil e o fluxo magnético produzido em função de . ....... 33
Figura 41 – Modelo do gerador com a geometria 2, = 24 mm e largura do magneto de 25mm. .... 33
Figura 42 – Na esquerda, região de medição de , e na direita medição de em um
magneto (em verde) pelo FEMM. .......................................................................................................... 34
Figura 43 – Modelo do gerador linear com magnetos de 40 mm de largura e = 24 mm. ............... 35
Figura 44 – Evolução do fluxo magnético útil pela ocupação do passo polar. ..................................... 35
Figura 45 – Razão entre o fluxo magnético útil e o fluxo magnético produzido em função da ocupação
do passo polar. ...................................................................................................................................... 36
Figura 46 – Evolução do campo B médio no magneto pela variação da largura do magneto ............. 36
Figura 47 – Modelo de simulação para o cálculo das indutâncias. Situação com injeção de corrente
apenas na fase C. ................................................................................................................................. 39
vi
Figura 48 – Aproximação da cabeça da bobina para o cálculo da sua indutância. .............................. 41
Figura 49 – Modelo de simulação, transladador na posição inicial (0º elétricos), sem deslocamento
entre os estatores. ................................................................................................................................. 42
Figura 50– Modelo de simulação, transladador na posição final de 360º, sem deslocamento entre os
estatores. ............................................................................................................................................... 42
Figura 51 – Modelo de simulação para =6 mm. .................................................................................. 43
Figura 52 – Fluxo ligado por fase para diferentes valores de . ........................................................... 43
Figura 53 – Análise harmônica do fluxo magnético concatenado por fase para cada deslocamento
relativo entre os estatores. .................................................................................................................... 44
Figura 54 – Nesta imagem é apresentada a razão entre cada harmônica de cada deslocamento
relativo e a harmônica, de mesmo número, para a configuração sem deslocamento relativo entre
estatores. ............................................................................................................................................... 44
Figura 55 – Para cada topologia, é apresentada em % a razão entre a 3ª, 5ª e 7ª harmônica em
relação à harmônica fundamental. ........................................................................................................ 45
Figura 56 – Cálculo das forças no transladador pelo método do tensor de Maxwell através do FEMM.
............................................................................................................................................................... 46
Figura 57 – Forças parasitas de propulsão em 360º elétricos para cada topologia. ............................ 46
Figura 58 – Forças parasitas no eixo y em 360º elétricos para cada topologia. .................................. 46
Figura 59 – Deslocamento = 4,5 mm, os dentes de um estator estão centrados nas cavas do outro.
............................................................................................................................................................... 47
Figura 60 – Força de propulsão . ................................................................................................. 48
Figura 61 – Força de propulsão mm.......................................................................................... 48
Figura 62 – Força de reação de propulsão em função do ângulo de carga 𝛅. ..................................... 49
Figura 63 – Modelo elétrico de parâmetros concentrados por fase em regime permanente. .............. 49
Figura 64 – Sistema de acionamento composto por: dois braços mecânicos, uma caixa redutora e um
motor de indução. .................................................................................................................................. 52
Figura 65 – Modelo matemático do movimento dos braços mecânicos. .............................................. 52
Figura 66 – Posição e velocidade linear para o acionamento instalado e para o acionamento
perfeitamente cossenoidal..................................................................................................................... 54
Figura 67 - Evolução da frequência elétrica para o acionamento instalado e para o acionamento
perfeitamente cossenoidal..................................................................................................................... 54
Figura 68 – Comparação entre a forma de onda da tensão induzida por fase para um acionamento
perfeitamente cossenoidal e para o acionamento instalado. ................................................................ 55
Figura 69 – Circuito elétrico equivalente por fase. ................................................................................ 56
Figura 70 – Formas de onda teóricas em regime trifásico equilibrado. ................................................ 57
Figura 71 – Estrutura de suporte do gerador linear; gaiola de aço composta por quatro peças. Na
imagem estão circulados em vermelho os parafusos de fixação.......................................................... 58
Figura 72 – Fixação dos estatores na gaiola de ferro através de 6 parafusos cada. ........................... 59
Figura 73 – Na esquerda é apresentado o trilho inferior, e um dos carrinhos em azul. Na direita vê-se
em detalhe um dos carrinhos. ............................................................................................................... 59
vii
Figura 74 – Na esquerda, os quatro carrinhos lado-a-lado e na direta o detalhe da fixação do braço
mecânico no transladador e em vermelho está destacada a região onde o rolamento está instalado
nesta junção. ......................................................................................................................................... 59
Figura 75 – Transladador e sistema de excitação ................................................................................ 60
Figura 76 – Sistema de apoio feito em madeira e detalhe da assimetria do entreferro em operação. 61
Figura 77 – Descrição da bancada experimental. ................................................................................. 61
Figura 78 – Em cima: tensão em vazio para frequência mecânica de 1Hz, destacado em amarelo o
período escolhido para a análise dos resultados. Em baixo: variação da posição com destaque em
amarelo da região onde a velocidade é quase constante..................................................................... 62
Figura 79 – Tensão em vazio em função da frequência elétrica do período de análise. ..................... 63
Figura 80 – Comparação entre a forma de onda da tensão induzida teórica e experimental. ............. 64
Figura 81– Análise Harmônica da tensão induzida em vazio. .............................................................. 64
Figura 82 – Corrente de curto-circuito. .................................................................................................. 65
Figura 83 – Comparação entre a corrente de curto-circuito teórica e experimental. ............................ 66
Figura 84 – Análise harmônica da corrente de curto-circuito. ............................................................... 67
Figura 85 – Curva V x I, = 14,53 Hz, = 1,59 m/s. .......................................................................... 68
Figura 86 – Curva P x I, = 14,53 Hz, = 1,59 m/s. .......................................................................... 69
Figura 87 – Ângulo 𝛅 x I, = 14,53 Hz, = 1,59 m/s. ......................................................................... 69
Figura 88 – Em cima: Formas de onda da tensão (verde) e da corrente (azul) retificada para carga
resistiva de 150 ohms. Em baixo: Corrente alternada na fase A do gerador linear. Em cada imagem
está destacado em amarelo o período de análise dos resultados. ....................................................... 70
Figura 89 – Curva característica tensão e corrente no lado DC, = 14,53 Hz, = 1,59 m/s. ........... 71
Figura 90 – Potência em função da carga retificada, = 14,53 Hz, = 1,59 m/s. ............................. 71
Figura 91 – Tensão e corrente retificada com indicação em linha pontilhada do valor médio em um
período mecânico para carga de 25 Ω. ................................................................................................. 72
Figura 92 – Forma de onda e valor médio da potência entregue ao lado DC em um período mecânico.
Valor médio indicado pela linha pontilhada. .......................................................................................... 73
Figura 93 – Característica Vdc x Idc em um período mécanico, = 1 Hz, = 0,98 m/s. ............ 73
Figura 94 – Potência média em um período mecânico para a operação retificada em função da carga,
= 1 Hz, = 0,98 m/s................................................................................................................... 73
Figura 95 – Regime de ondas na costa portuguesa, imagem retirada da referência [34]. ................... 76
Figura 96 - Resultados teóricos para = 0,5 m, = 3,46 s, Rc = 15 Ω e = 0,289 m/s. ............ 77
Figura 97 – Potência em função da carga em um período de onda, = 0,289 m/s. ......................... 78
Figura 98 – Modelo do Transladador, vista completa. .......................................................................... 88
Figura 99 – Modelo do transladador, vista detalhada. .......................................................................... 88
Figura 100 – Ensaio em vazio, frequência mecânica de 1 Hz. ............................................................. 89
Figura 101 – Ensaio em vazio, frequência mecânica de 0,96 Hz. ........................................................ 89
Figura 102 – Carga trifásica, Rc = 5 ohms. ........................................................................................... 90
Figura 103 – Carga trifásica, RC = 10 Ohms. ....................................................................................... 90
Figura 104 - Carga trifásica, RC = 20 Ohms. ....................................................................................... 91
viii
Figura 105 – Carga trifásica, RC = 30 Ohms. ....................................................................................... 91
Figura 106 – Carga trifásica, RC = 50 Ohms. ....................................................................................... 92
Figura 107 – Carga retificada, em curto-circuito. .................................................................................. 92
Figura 108 – Carga retificada, RC = 15 Ohms. ..................................................................................... 93
Figura 109 – Carga retificada, RC = 30 Ohms. ..................................................................................... 93
Figura 110- Carga retificada, RC = 50 Ohms. ....................................................................................... 94
Figura 111 – Carga retificada, RC = 100 Ohms. ................................................................................... 94
ix
Lista de tabelas
Tabela 1 – Panorama geral do estado da arte dos geradores lineares síncronos aplicados à
recuperação de energia das ondas. ...................................................................................................... 26
Tabela 2 – Dados do estator. ................................................................................................................ 27
Tabela 3 – Distribuição das bobinas por fase ....................................................................................... 27
Tabela 4 – Relações fundamentais para a análise do circuito magnético. ........................................... 30
Tabela 5 – Comparação entre as geometrias 1 e 2. Medidas para o terceiro passo polar da esquerda
para a direita. ......................................................................................................................................... 34
Tabela 6 - Comportamento magnético para diferentes ocupações do passo polar ............................. 35
Tabela 7 – Perdas no ferro para o aço M-1H. ...................................................................................... 38
Tabela 8 – Valores da primeira harmônica e da distorção harmônica total (Total Harmonic Distortion,
THD) para cada topologia. .................................................................................................................... 45
Tabela 9 – Valor de pico do fluxo ligado máximo de primeira harmônica corrigido, para cada valor de
deslocamento relativo entre os estatores. ............................................................................................. 50
Tabela 10 – Modelo teórico de parâmetros concentrados em regime permanente do gerador, sem
deslocamento relativo entre estatores. ................................................................................................. 50
Tabela 11 – Dimensões dos braços de alumínio. ................................................................................. 52
Tabela 12 – Resultado ensaios em vazio para diferentes valores de frequência................................. 63
Tabela 13 – Comparação entre a primeira e terceira harmônica da tensão induzida experimental e
teórica no período de análise. ............................................................................................................... 64
Tabela 14 – Resultados ensaio em curto-circuito ................................................................................. 65
Tabela 15 – Indutância síncrona calculada experimentalmente. .......................................................... 66
Tabela 16 – Comparação entre a primeira e terceira harmônica da corrente de curto-circuito teórica e
experimental. ......................................................................................................................................... 67
Tabela 17 – Parâmetros corrigidos do gerador em regime permanente por fase. ............................... 67
Tabela 18 – Ensaio em carga resistiva trifásica equilibrada. ................................................................ 68
Tabela 19 – Resultados experimentais dos ensaios com retificação. .................................................. 71
Tabela 20 – Valores de e para cada fator de escala . Com e . ................ 76
x
Lista de acrônimos
AWS Arquimedes Wave Swing
Coppe Instituto Alberto Luis Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia
CPT Columbia Power Technologies
DEEC Departamento de Engenharia Electrotécnica e de Computadores
EDF Électricité de France
EMEC European Marine Energy Centre
EPRI Electric Power Research Institute
FEMM Finite Element Method Magnetics
IST Instituto Superior Técnico de Lisboa
OPEP Organização dos Países Exportadores de Petróleo
OWC Oscillating Water Columns
RPM Rotações por minuto
SI International System of Units
THD Total Harmonic Distortion
TISEC Tidal In-Stream Energy Conversion
UFRJ Universidade Federal do Rio de Janeiro
VHM Vernier Hybrid Machine
xi
Lista de símbolos
Símbolo Unidade (SI) Descrição
- Elementos da matriz
Área
- Matriz cíclica
- Coeficiente de Steinmetz
-
Indução magnética
Indução magnética média no dente do ferro
Indução magnética média no magneto
Indução magnética do ponto de máxima energia magnética no
NdFeB
Campo de indução magnética remanescente
Velocidade do grupo de onda
Deslocamento de cada estator em relação ao eixo central
- Matriz diagonal
𝛅 rad Ângulo de carga
Força eletromotriz
Valor eficaz da força eletromotriz
Força eletromotriz na fase i
Energia magnética
Frequência elétrica
Densidade de força magnética
Frequência mecânica
Força magneto motriz
Forças gravitacionais
Forças inerciais
- Número de Froude
Aceleração da gravidade
Altura da cabeça da bobina
rad Ângulo entre o braço b e a horizontal
Campo magnético
Altura bruta
Campo magnético no corpo do ferro
Campo magnético no dente do ferro
Campo magnético no entreferro
Campo magnético no magneto
xii
Altura significativa
Corrente
Corrente de curto-circuito
Valor eficaz da corrente
Corrente na fase i
Densidade de corrente
- Coeficiente de perdas Foucault
- Coeficiente de perdas por histerese
- Razão entre o fluxo magnético útil e o fluxo magnético
produzido
- Fator de enrolamento
Comprimento
Comprimento da cabeça da bobina
Comprimento da circuitação no ferro
Comprimento do dente do ferro
Comprimento do entreferro
Altura do magneto
Grandeza linear na escala do protótipo
Grandeza linear na escala real
Comprimento da crista da onda
Matriz de indutâncias
Indutância da cabeça da bobina
Indutância de carga
Matriz de indutâncias cíclica
Indutância de sequência direta
Indutância de sequência homopolar
Indutância de sequência inversa
Indutância própria da fase i
Indutância mútua entre a fase i e j
Indutância mútua
Indutância própria
Indutância síncrona
Fluxo magnético ligado
Fluxo magnético ligado máximo por fase
Permeância magnética da cabeça da bobina
- Número de espiras
- Número de espiras por fase por estator
Potência disponível
xiii
Perdas no ferro
Potência mecânica
Potência do protótipo
Potência de perdas
Potência na escala real
Fluxo magnético
Fluxo magnético produzido pelo magneto
Fluxo magnético útil
Fluxo magnético útil no estator 1
Fluxo magnético útil no estator 2
Densidade
Densidade da água
Densidade do ar
Vazão
Comprimento do braço a
Comprimento do braço b
Relutância magnética
Ω Resistência de carga
Ω Resistência interna do gerador
- Fator de escala
Tempo
- Transformação de Fortescue
Período de energia
Grandeza temporal na escala do protótipo
Grandeza temporal na escala real
Passo polar
rad Ângulo do braço a
rad Ângulo elétrico
- Permeabilidade relativa
- Permeabilidade relativa do ferro no dente da geometria 1
- Permeabilidade relativa do ferro no dente da geometria 2
Velocidade
Velocidade da água
Velocidade do ar
Velocidade média
Posição linear
Eixo centrado na posição
Ω Impedância de carga
xiv
Índice
Agradecimentos .........................................................................................................................................i
Resumo .................................................................................................................................................... ii
Abstract.................................................................................................................................................... iii
Lista de figuras ........................................................................................................................................ iv
Lista de tabelas ....................................................................................................................................... ix
Lista de acrônimos ...................................................................................................................................x
Lista de símbolos ..................................................................................................................................... xi
Índice ..................................................................................................................................................... xiv
1. Introdução ........................................................................................................................................ 1
1.1. Energia do mar: avanços e conjuntura .................................................................................... 1
1.2. O mar como recurso energético .............................................................................................. 6
1.3. Operação e manutenção no ambiente marinho .................................................................... 12
1.4. O gerador linear síncrono na recuperação de energia das ondas ........................................ 16
1.5. Objetivos do trabalho ............................................................................................................. 19
2. O gerador linear síncrono de magnetos permanentes .................................................................. 20
2.1. Princípio de funcionamento ................................................................................................... 20
2.2. Estado da arte ....................................................................................................................... 21
2.3. Características do estator ...................................................................................................... 26
2.4. Definição do sistema de excitação, cálculo da indutância síncrona e das perdas no ferro .. 28
2.4.1. Magnetos e geometrias possíveis ................................................................................. 28
2.4.2. Análise do circuito magnético ........................................................................................ 30
2.4.3. Caracterização do fluxo magnético por passo polar em função do entreferro ............. 31
2.4.4. Comparação entre o desempenho das geometrias 1 e 2. ............................................ 33
2.4.5. Comportamento magnético em função da largura do magneto .................................... 34
2.4.6. Perdas no ferro .............................................................................................................. 37
2.4.7. Indutância síncrona ....................................................................................................... 38
2.5. O deslocamento relativo entre os estatores para a redução das forças parasitas e a
distribuição espacial do fluxo magnético ligado. ............................................................................... 42
2.6. Análise harmônica do fluxo magnético ligado por fase ......................................................... 43
2.7. Cálculo das forças parasitas ................................................................................................. 45
xv
2.8. Desenvolvimento da força de propulsão ............................................................................... 47
2.9. Modelo de parâmetros concentrados em regime permanente ............................................. 49
3. Operação em regime permanente: modelo teórico ....................................................................... 52
3.1. Caracterização do acionamento ............................................................................................ 52
3.2. Cálculo da tensão induzida por fase ..................................................................................... 55
3.3. Operação em regime trifásico equilibrado ............................................................................. 56
4. Protótipo e ensaios experimentais ................................................................................................ 58
4.1. Estrutura mecânica e sistemas de fixação do gerador linear ............................................... 58
4.2. Transladador e sistema de excitação .................................................................................... 60
4.3. Estabelecimento do entreferro .............................................................................................. 60
4.4. Descrição da bancada experimental ..................................................................................... 61
4.5. Metodologia para comparação e avaliação dos resultados .................................................. 62
4.6. Ensaio em vazio .................................................................................................................... 63
4.7. Ensaio em curto-circuito ........................................................................................................ 65
4.8. Ensaios com carga resistiva trifásica equilibrada.................................................................. 67
4.9. Ensaios com carga retificada ................................................................................................ 70
4.10. Curvas características em um período mecânico ............................................................. 72
5. Análise para um regime real de ondas .......................................................................................... 75
6. Conclusões .................................................................................................................................... 80
Referências ........................................................................................................................................... 83
Anexo 1 – Indutância síncrona .............................................................................................................. 86
Anexo 2 – Detalhes do transladador ..................................................................................................... 88
Anexo 3 – Imagens dos resultados experimentais ............................................................................... 89
1
1. Introdução
1.1. Energia do mar: avanços e conjuntura
Os termos “fontes renováveis marítimas” ou “energias do oceano” têm sido empregados para
se referir às formas encontradas pelo homem de explorar o mar energéticamente. Consistem em:
energia das ondas, energia das correntes marítimas e energia potencial das marés1.
A tentativa de extrair energia do mar não é recente. A primeira patente, de que se tem
conhecimento, sobre o aproveitamento do movimento das ondas para acionar um sistema mecânico
data de 1799 do parisiense Girard e do seu filho. Patentes com finalidades semelhantes também são
encontradas no Reino Unido, a parir de 1855, segundo o trabalho de Leishman e Scobie [1].
Na última década do século XIX em São Francisco, Califórnia, começam a aparecer as
primeiras experiências nas quais se procura utilizar a energia das ondas para a geração de
eletricidade. Em 3 de julho de 1896 o jornal “ Santa Cruz Daily Sentinel ” em Santa Cruz, Califórnia,
publica uma matéria anunciando o fracasso do projeto de Emil Gerlach que consistia na utilização da
energia das ondas do mar para o bombeamento de água ao topo de uma montanha para um
aproveitamento hidrelétrico [2].
“The Gerlach Wave Motor at Capitola does not allow itself to be disturbed by the waves. This
we regret…Its success meant cheap power and electric railroad from Capitola to Santa Cruz and from
this city to the metropolis. It meant more – a mechanical revolution so vast to be beyond powers of
comprehension.” [2].
Estas experiências perseveraram até, aproximadamente, a terceira década do século XX,
momento a partir do qual entraram em declínio.
O surgimento da primeira tecnologia moderna dos conversores de energia das ondas ocorre
em 1945. Yoshio Masuda concebeu um sistema de colunas de água oscilantes, Oscillating Water
Columns (OWC), com a finalidade de realizar o abastecimento elétrico de um flutuador para
navegação [4]. Neste sistema, uma câmara pneumática fechada é colocada em contato com a água.
Assim o movimento oscilatório da onda pressuriza e despressuriza o ar dentro da câmara. Essa
variação de pressão aciona uma turbina de ar acoplada a um gerador elétrico.
Em 1966 em La Rance, França, foi instalada a primeira usina2 de aproveitamento da energia
potencial das marés, através de uma barragem e de um conjunto turbina-gerador hidrelétrico para
baixas quedas d’água. A usina de La Rance possui 240 MW de potência instalada com 24 turbinas
Bulbo de 10 MW, desenvolvidas pela Électricité de France (EDF). A usina está ligada a rede elétrica
francesa e é operada pela EDF até aos dias atuais [3].
1 Em alguns casos a energia eólica offshore também é enquadrada como uma fonte renovável marítima.
2 O termo mais adequado em português de Portugal seria “central”.
2
Figura 1 – Usina de La Rance (França) para a recuperação de energia das marés, com 240MW de
potência instalada.
A crise do petróleo de 1973 provocou um grave impacto nas economias mundiais e pode-se
dizer que “acordou” o mundo para os problemas relativos à dependência dos combustíveis fósseis.
Problemas estes não só por conta da limitação do recurso, mas, também, o de se ter a economia
mundial sujeita às decisões de uma oligarquia (OPEP).
Esta tomada de consciência alavanca uma busca exaustiva por formas alternativas de
produção de eletricidade. Neste cenário, a saída para o mar é vista como uma possibilidade atrativa e
inicia-se uma nova fase de pesquisas e experiências na tentativa de aproveitar este recurso.
O professor Stephen Salter do Institute for Energy Systems da Universidade de Edimburgo,
na Escócia, criou em 1974 o primeiro conversor de energia das ondas de corpos oscilantes,
Oscillating Bodies. A maioria dos conversores modernos de energia das ondas funciona com
princípios semelhantes ao “Salter Duck”. O princípio de funcionamento consiste no seguinte
paradoxo: para retirar energia de uma onda é preciso que o corpo oscilante crie outra onda que tenha
um impacto destrutivo na onda incidente3. A tomada de potência
4 é feita com o auxílio de um sistema
hidráulico [5][6].
A partir daí, foi proposta uma grande quantidade de modelos de conversores para o
aproveitamento da energia das ondas. No Reino Unido já se somam mais de 340 patentes [7].
Diferente do que aconteceu com os aerogeradores, onde se chegou a um modelo padrão para
aproveitar a energia eólica, com três pás e eixo horizontal. Nos conversores de energia das ondas um
padrão ainda não foi encontrado e permanece tema de pesquisa5.
A experiência portuguesa com a energia das ondas começa relativamente cedo, em 1999,
com a central OWC do pico dos Açores de 400 kW de potência instalada. Em 2003 se seguiram
outras experiências com um sistema Arquimedes Wave Swing (AWS). 3 Os sistemas OWC também funcionam desta forma, mas é mais conveniente explicar o seu funcionamento pela
variação da pressão na câmara de ar. 4 Tomada de potência – power take-off – consiste na forma como se converte a energia primária na energia
mecânica que aciona o gerador elétrico. 5 O termo mais adequado em português de Portugal seria “investigação”.
3
Em Portugal, dá-se ênfase à instalação do primeiro parque de energia das ondas em
Aguçadora, 2008. Este parque era constituído por três conversores – tecnologia escocesa da Pelamis
Wave Power - com capacidade total de 2,25 MW. Cada conversor Pelamis é composto por quatro
tubos flutuantes interligados na direção de propagação da onda. A sua passagem provoca um
deslocamento relativo entre os tubos, resistido por pistões hidráulicos que bombeiam um óleo em alta
pressão a um acumulador. Este fluido em alta pressão é então utilizado por um motor hidráulico para
acionar um gerador elétrico convencional. O sistema, enquanto operante, era interligado com a rede
elétrica portuguesa [12]. Com a quebra da bolsa de 2008, um dos parceiros do projeto entrou em
falência e o parque teve que sair de operação.
Figura 2 – Parque de aproveitamento de energia das ondas com conversores Pelamis.
Em 2009, foi inaugurada na Coréia do Sul a maior usina de energia potencial das marés até
hoje construída. Sua capacidade atinge 254 MW, 14 MW superior à potência instalada da usina de La
Rance. Situa-se no lago Sihwa, no centro oeste da península coreana, numa barragem aí existente
desde 1994. Esta barragem foi construída com o fim de garantir a disponibilidade de água para a
crescente indústria e agricultura da região. No entanto, o despejo de resíduos industriais associados
à estagnação da água criou um problema ambiental que só poderia ser solucionado com a reabertura
do lago ao mar. Ao decidir aproveitar a infraestrutura da barragem para a instalação da usina, o
governo sul-coreano não só tornou possível a produção de energia elétrica como resolveu o problema
ambiental. Esta usina é composta por dez turbinas bulbo de 25,4 MW desenvolvidas pela VA Tech
Hydro6 [8][9].
Três anos depois, 2012, o Brasil instalou, no porto do Pecém, Ceará, o seu primeiro
conversor de energia das ondas do mar.7 Esta tecnologia foi desenvolvida pelo Instituto Alberto Luiz
Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia (Coppe), parceiro da UFRJ – Universidade
Federal do Rio de Janeiro – financiada pela Tractebel. Consiste num sistema de braços mecânicos
6 A VA Tech Hydro foi comprada, em 2009, pela empresa Austríaca Andritz Hydro.
7 A sua inauguração aconteceu na Conferência das Nações Unidas sobre o Desenvolvimento Sustentável
(CNUSD) de 2012 com sede no Rio de Janeiro, também conhecida por Rio+20.
4
acionados pelo movimento das ondas do mar de forma a bombear água para um gerador hidrelétrico
convencional. A energia produzida é consumida pelo próprio porto, sem ligação à rede externa [13]
[14].
Figura 3 – Sistema de aproveitamento de energia das ondas no porto do Pecém Ceará – Brasil.
Existem outros sistemas conversores de energia das ondas, com outras topologias,
instalados pelo mundo. No entanto, não serão abordados aqui. Chama-se a atenção ao fato de que
eles continuam em fase de prototipagem e testes em escala.
Os investimentos do Reino Unido para as tecnologias de conversão de energia das ondas
merecem destaque. O Reino Unido é sede do European Marine Energy Centre (EMEC) e de
empresas que têm se tornado cada vez mais influentes no setor, tais como a AWS Ocean Energy e a
Pelamis Wave Power.
Estes investimentos têm uma razão de ser. O Reino Unido vive hoje uma conjuntura com
vários fatores que o faz apostar nas alternativas marítimas para a produção de eletricidade. O Reino
Unido, que já foi um grande exportador de petróleo e dos seus derivados, se vê, desde 2004, na
necessidade de importá-los. É hoje o sétimo maior importador do mundo de carvão e gás natural. A
dependência da sua matriz energética dos combustíveis fósseis – 70% composta por carvão e gás
natural – e o declínio contínuo das suas reservas de combustíveis tornam a situação ainda mais
dramática [78][79]. Numa região onde não há muito espaço disponível, o mar torna-se uma alternativa
bastante atraente.
A ScottishPower Renewables tem atualmente dois projetos em desenvolvimento com
conversores Pelamis de segunda geração, pretendendo instalar 145 MW, e um terceiro projeto em
parceria com a Andritz Hydro Hammerfest, para aproveitar a energia das correntes marítimas de 10
MW [15].
5
Figura 4 – Conversor HS1000 da Andritz Hydro Hammerfest sendo instalado próximo de Orkney no
Reino Unido.
Na região de Cornwall, sudeste da Inglaterra, encontra-se o Wave Hub um projeto financiado
pela South West RDA, pelo governo do Reino Unido e pelo European Regional Development Fund
Convergence Programme for Cornwall and the Isles of Scilly. O Wave Hub é uma infraestrutura
compartilhada para auxiliar o desenvolvimento e realizar demonstrações de sistemas conversores de
energia das ondas. Consiste num cabeamento8 submarino que atinge uma distância de 16 km da
costa norte de Cornwall com capacidade de transmissão de 20 MW ligado ao sistema elétrico do
Reino Unido [16].
Figura 5 - Wave Hub – Infraestrutura para desenvolvimento e testes de conversores de energia das
ondas em Cornwall – Inglaterra.
Com este panorama verifica-se que há um interesse significativo por parte de alguns países
nas fontes marítimas para a produção de energia elétrica, sendo esperado que em pouco tempo elas
8 O termo mais adequado em português de Portugal seria “cablagem”.
6
possam se tornar competitivas. Dentre as tecnologias marítimas é importante ressaltar que, até hoje,
a única em nível maduro9 é a tecnologia de aproveitamento da energia potencial das marés. Isto se
dá pela semelhança entre estas aplicações e as centrais hídricas de baixa queda d’água.
Os sistemas de energia das ondas e das correntes marítimas continuam em fase pré-
comercial. Dos conversores de energia das ondas, o sistema Pelamis é o que parece estar mais
adiantado para a entrada no mercado. Os conversores de energia das correntes marítimas tem
indicado um potencial promissor, embora ainda com pouca experiência de campo.
1.2. O mar como recurso energético
Na maior parte dos casos, a exploração do mar como recurso energético pode ser realizada
sem entrar em conflito com as suas outras formas de utilização. Esta característica em conjunto com
a abundância deste recurso na superfície terrestre, cerca de 70%, fazem do mar uma fonte renovável
de alta disponibilidade para a produção de eletricidade. Outra característica atrativa é a existência de
uma significativa quantidade de polos consumidores em suas margens. Desta forma, não são
necessárias grandes infraestruturas para a transmissão de energia.
As energias marítimas podem também ser vantajosas para abastecer energeticamente zonas
isoladas, estruturas offshore e regiões com pouca disponibilidade de espaço.
Por outro lado, o ambiente marinho apresenta características bastante agressivas que, além
de aumentar os custos, dificultam a operação e a manutenção destes sistemas. Sobre os impactos
ambientais é difícil afirmar algo por se tratar de sistemas que ainda são de pequena escala e com
pouco tempo de operação. Além disso, os resultados dos estudos ambientais realizados até o
momento são praticamente inconclusivos [20][21].
Energia potencial das marés
A variação das marés é bastante familiar ao ser humano. A atividade pesqueira, bem como o
transporte naval e atividades esportivas podem ter os dados da maré como um condicionante às suas
práticas. As forças gravitacionais entre a terra e o sol e, principalmente, entre a terra e a lua são os
principais fatores para determinar o estado da maré.
Os sistemas que aproveitam a energia potencial das marés usam barragens para conseguirem
obter uma diferença de altura entre a água de um lado e do outro da barragem com a mudança da
maré. A ligação entre a água a montante e a jusante é permitida, mas passa por um grupo turbina-
gerador no caminho que retira energia da vazão10
de água. Costuma-se utilizar turbinas do tipo Bulbo
que são uma variação da turbina Kaplan.
9 O termo mais adequado em português de Portugal seria “avançado”
10 O termo mais adequado em português de Portugal seria “caudal”.
7
A potência disponível para uma diferença de altura a montante e jusante da barragem,
com uma vazão , densidade da água e aceleração da gravidade pode ser dada pela equação:
(1)
Figura 6 – Locais com variação de altura acima de 5m entre maré alta e baixa. Ref. [25] .
Na figura 6, estão indicados os locais ao redor do mundo onde a diferença de altura entre as
marés é suficientemente significativa para este tipo de aplicação. Como pode ser visto as condições
necessárias para a operação destes sistemas são encontradas em regiões muito específicas,
praticamente pontuais, limitando assim a exploração deste recurso. No Brasil as maiores alturas das
marés são encontradas no rio Mearim no Amapá com 11 m e na baía de São Marcos no Maranhão
com 7 m [25].
Usinas que aproveitam a energia das marés: La rance – França, Lago Sihwa – Coréia do Sul,
Annapolis – Canada.
Energia das correntes marítimas
O movimento das massas de água no mar é influenciado por diversos fatores como: os
gradientes de temperatura e salinidade, a interação entre os ventos e a superfície do mar, a rotação
da terra e as forças gravitacionais. O deslocamento da água do mar acontece em todas as escalas
possíveis, desde pequenas movimentações devido a gradientes locais de salinidade até grandes
deslocamentos gerados pelo aquecimento desigual do planeta.
Usualmente, designa-se de correntes marítimas (ou oceânicas) as correntes de larga escala,
como as correntes quentes que partem das zonas próximas do equador para os polos e as correntes
frias que fazem o percurso contrário. Contudo, os conversores desenvolvidos para aproveitar a
energia contida no deslocamento da água do mar baseiam-se na variação do fluxo da água devido à
alteração da maré (Tidal In-Stream Energy Conversion, TISEC, Devices), desta forma estas correntes
bidirecionais costumam ser chamadas de correntes de maré.
8
Figura 7 – Correntes marítimas.
Independente da origem da corrente, a potência disponível é dada pela mesma formulação
matemática, que é semelhante à potência eólica, pois o princípio envolvido é o de aproveitar a
energia cinética contida no deslocamento de um fluido.
A potência disponível num fluido com densidade que atravessa um atuador de área com
velocidade perpendicular ao mesmo é dada pela seguinte equação:
(2)
Neste caso, a potência disponível no fluido é diretamente proporcional a sua densidade e
proporcional ao cubo da velocidade perpendicular ao atuador. A densidade média da água do mar é
de, aproximadamente, 1025 e a densidade do ar 1,225 . Ou seja, a densidade da água
do mar é 837 vezes superior à densidade do ar. No entanto, as velocidades das correntes marítimas
ou de maré são significativamente inferiores. Desta forma, para uma mesma área útil do atuador a
relação entre as velocidades que disponibilizam a mesma potência é:
(
)
(3)
Da relação (3) verifica-se que nas condições já descritas a potência disponível numa corrente
de água salgada de 1 m/s é igual à potência eólica disponível para uma velocidade de vento de
9,5m/s.
As correntes do mar têm velocidades, normalmente, entre 0,5 e 4 m/s. A velocidade de 1 m/s
é um valor comum. A velocidade do vento de 9,5 m/s é elevada, mas não atípica na altura dos
aerogeradores de grande porte. A operação nominal destes conversores é estabelecida para ventos
entre 14 m/s e 16 m/s.
O potencial energético das correntes de maré é, obviamente, relacionado com a altura da
maré, mas nem sempre de forma diretamente proporcional [27]. Aspectos da geografia local podem
canalizar as correntes e, assim, mesmo com uma menor altura de maré é possível obter melhores
9
distribuições de velocidade. Para determinar o local de instalação destes conversores é necessário
estudar as características geográficas específicas da região para localizar as áreas mais adequadas
a este aproveitamento.
A figura 8 apresenta a variação da altura da maré ao redor do mundo que serve, também,
como um indicativo do potencial energético das correntes de maré. Percebe-se que, neste ponto de
vista, a Europa está numa posição privilegiada e que no Brasil as melhores condições são
encontradas na região Norte - Nordeste.
Figura 8 – Variação média da altura da maré. Ref.[10].
A figura 9 apresenta a evolução das correntes de maré ao longo do tempo evidenciando a
bidirecionalidade e a influência das fases da lua. A figura 10 apresenta exemplos de distribuições de
frequência (probabilidade) da velocidade das correntes em regiões de Washington e do Alaska.
Figura 9 – Variação do fluxo de corrente de maré com a fase da lua, em “Minas Passage in the Bay of
Fundy – Canada ”. Ref.[26].
10
Figura 10 – Histograma de frequência de velocidades de correntes de marés em Knik Arm no Alaska
e em Tacoma Narrows em Washington. Ref.[26].
A previsão das correntes de maré consegue ser feita de forma precisa. Esta é uma
característica positiva, pois permite: maior precisão para a estimação da energia anual produzida, um
melhor dimensionamento dos conversores e facilita a alocação das operações de manutenção. A
alocação das operações de manutenção é facilitada por se garantir a existência de janelas, mesmo
que curtas, onde a velocidade da água não ultrapassa o limite máximo permitido para o reparo.
Energia das ondas
A interação entre o vento e a superfície do mar gera as ondas que se propagam por longas
distâncias até arrebentarem. A quebra da onda significa a liberação da sua energia e isso costuma
acontecer nas proximidades da costa.
Como não há uma propagação isolada das ondas do mar, a energia nelas contida é definida
consoante o conjunto das ondas incidentes na região. Portanto, a estimativa da potência disponível
leva em consideração os valores de velocidade e altura da onda que sejam capazes de representar a
interação conjunta das ondas incidentes.
A formulação matemática da potência disponível pelo tamanho da crista da onda com uma
altura significativa e velocidade do grupo de onda é dada pela seguinte equação:
(4)
Tipicamente com a hipótese de serem águas profundas escreve-se esta equação apenas em
função da altura significativa e do período de energia como:
(5)
11
Figura 11 – Potencial de energia das ondas em kW/m.
A figura 11 mostra que as regiões de melhor potencial são localizadas entre as latitudes de
30º e 60º. Ao se comparar com o potencial europeu, a costa brasileira não parece ser uma zona
atrativa a este aproveitamento. Contudo, as ondas brasileiras são bastante constantes e dificilmente
atingem alturas excessivas. Este último fator diminui a probabilidade de dano nos equipamentos e
facilita a alocação de janelas para as operações de manutenção.
Segundo o documento apresentado pelo Prof. Estefen do Coppe/UFRJ à câmara dos
deputados em 2008, o potencial brasileiro para esta fonte é de 87 GW [28]. Ainda no caso brasileiro,
a energia das ondas pode ser interessante para alimentar as plataformas offshore de extração de
petróleo bem como outras regiões isoladas que estejam próximas ao mar e, obviamente, diversificar a
matriz energética brasileira aumentando a sua fiabilidade.
Os conversores de energia das ondas costumam ser classificados em três tipos principais:
Colunas de água oscilante – Oscillating Water Columns (OWC): O movimento ondulatório
das ondas é utilizado para pressurizar e despressurizar o ar e então acionar uma turbina de ar,
normalmente do tipo Wells, conforme pode ser visto na figura 12. Exemplos: Central de Ondas do
Pico na ilha do Açores em Portugal, LIMPET na Ilha de Islay – Escócia.
Figura 12 – Exemplo de funcionamento de um sistema OWS, ref.[3].
12
Galgamento – Overtopping: Estas tecnologias funcionam com um reservatório que é
regulado para armazenar a água do mar com a incidência das ondas. Esta água armazenada é então
utilizada num gerador hidrelétrico convencional devolvendo a água para o mar. Exemplo de sistema
que opera desta forma é o Wave Dragon que vem sendo desenvolvido em parceria com a
Universidade de Aalborg na Dinamarca.
Figura 13 – Princípio de operação de um sistema Overtopping. Ref.[23].
Corpos oscilantes – Oscillating Bodies: Estas estruturas utilizam diretamente o movimento
oscilatório das ondas para a conversão eletromecânica. Alguns sistemas como o Pelamis e o Oyster
da Aquamarine Power [77] aproveitam este movimento para pressurizar um fluido, armazená-lo e,
então, através de motores hidráulicos, acionar geradores elétricos convencionais. Já os conversores
AWS, da AWS Ocean Power e os conversores da Seabased AB utilizam a oscilação das ondas para
acionar um gerador linear.
Figura 14 – Na esquerda: esquema de um conversor AWS. Na direita: conversor com conceito
Seabased AB. Ambos utilizam um gerador linear como forma de tomada de potência.
1.3. Operação e manutenção no ambiente marinho
A operação e manutenção dos conversores de energia das ondas tem sido um dos
obstáculos para sua viabilidade e competitividade econômica.
A elevada quantidade de energia contida no mar carrega inevitavelmente um enorme
potencial destrutivo. A tragédia do Osprey, em 1995, ilustra esta potencialidade devastadora. O
13
sistema OWC instalado próximo à costa de Dounray, norte da Escócia, de 750 toneladas e 2MW de
potência instalada foi atingido por uma onda gigante provocada pela cauda do furacão Felix pouco
tempo após ser lançado ao mar. Os danos foram tão severos que o projeto teve que ser abandonado.
As regiões com os melhores potenciais para o aproveitamento da energia das ondas
possuem algumas características que aumentam a probabilidade de falha dos equipamentos e,
consequentemente, a necessidade de manutenção. Cita-se aqui:
A elevada salinidade que trás problemas de corrosão e acúmulo de sal.
Eventos extremos: ondas excessivamente grandes, tempestades e rajadas de vento.
Um fator crucial para a operação e controle dos conversores de energia das ondas é a
monitoração. É necessária a aquisição dos dados tanto dos fatores ambientais quanto das etapas da
tomada de potência. Os dados ambientais são necessários para: calcular a potência disponível e
assim determinar a eficiência de operação do sistema, ativar ou desativar estratégias de emergência,
verificar a disponibilidade climática ao acesso local e, também, podem ser necessários para o
controle do sistema de tomada de potência. Os dados do sistema de tomada de potência são
necessários para o controle da operação e para a constatação de falhas.
Ao se conjugar as características ambientais com a necessidade de monitoração, chega-se a
um quadro complicado. Por um lado a monitoração é indispensável. Por outro, os sensores são
equipamentos sensíveis e mesmo aqueles projetados para condições extremas, com certa
frequência, falham no ambiente marinho.
A redundância dos sensores mais importantes costuma ser a estratégia adotada para
remediar esta questão. Por exemplo, na central OWC do Pico dos Açores o sistema funciona com
três sensores de vibração para garantir a monitoração desta grandeza.
Figura 15 – Na esquerda: detalhe do vazamento de óleo na central OWC do Pico dos Açores em
Portugal. Na direita: sensor danificado por problemas de corrosão na mesma central. Ref.[32].
O aceso ao parque, talvez, seja o fator que introduz maior dificuldade e custos para as
operações de manutenção. Estas operações requerem condições ambientais razoavelmente amenas,
14
tendo como parâmetros condicionantes: a altura das ondas, a visibilidade fora da água, a velocidade
do vento e das correntes marítimas e, em operações submersas, a visibilidade dentro da água. O
paradoxo surge, pois o potencial energético é maior aonde as condições ambientais raramente são
amenas. Desta forma, nestes locais as condições necessárias para as operações de manutenção
podem só ser satisfeitas durante poucos dias do ano e espaçadas por meses.
Os períodos de melhor aproveitamento energético acontecem quando há maior probabilidade
de dano nos equipamentos. Uma falha que inviabilize a operação nesta época, mesmo que seja num
componente de fácil reparo, poderá retirar o conversor de operação por um tempo prolongado até
que os requisitos ambientais para a atividade de manutenção sejam novamente satisfeitos. Este tipo
de inconveniente agrava os custos de receita11
, pois o sistema é mantido fora de operação durante a
melhor estação para a produção de eletricidade.
Atualmente, a experiência em parques de energia das ondas é reduzida e, assim, é difícil
apresentar dados concretos sobre a manutenção destes sistemas. No entanto, o trabalho
apresentado em [31], sobre os aspectos de operação e manutenção de um parque de energia eólica
offshore de 500 MW na Holanda, mostra alguns resultados interessantes que podem ser trazidos a
este contexto de forma ilustrativa.
Segundo este documento, 89,4% do tempo em que o sistema está fora de operação por
conta de alguma avaria corresponde à espera pelas condições climáticas necessárias para a
atividade de manutenção, enquanto apenas 3,4% do tempo são gastos no transporte e no reparo em
si.
Figura 16 – Duração temporal de cada atividade necessária para a operação de manutenção
normalizada pelo tempo total que o sistema permanece fora de operação. Resultados do estudo
sobre a instalação de um parque de energia eólica offshore na região NL07 na Holanda. Ref. [31].
O custo de receita corresponde à maior parcela dos custos de operação e manutenção,
representando 55% do custo total desta atividade.
11
Os custos de receita referem-se à energia que não pode ser vendida equanto o sistema esteve fora de
operação.
15
Figura 17 – Distribuição dos custos de operação e manutenção. Resultados do estudo sobre a
instalação de um parque de energia eólica offshore na região NL07 na Holanda. Ref.[31].
Para se enquadrar o impacto dos custos de operação e manutenção nas despesas totais do
projeto de conversores de energia das ondas, cita-se aqui o trabalho apresentado em 2005 pelo
Electric Power Research Institute (EPRI) [33]. Este trabalho é sobre a instalação de um parque
Pelamis de 300 GWh/ano na costa norte-americana.
Os resultados indicam uma parcela de 40% para as despesas de operação e manutenção.
Por mais que, deste então, já se tenham feito melhorias nas tecnologias de conversão e na fiabilidade
do sistema, este resultado ainda serve como um indicativo da relevância dos custos de operação e
manutenção para o sucesso econômico do projeto.
Figura 18 – Percentagem dos custos estimados de instalação de um parque Pelamis 300 GWh/ano.
Imagem. Ref.[33].
Com a análise deste cenário conclui-se que os custos de operação e manutenção nos
conversores de energia das ondas tem sido um dos entraves à viabilidade econômica destes
projetos. Dentre estas despesas, destacam-se os custos de receita, originados, principalmente, pela
necessidade de manutenção corretiva num ambiente de difícil acessibilidade.
16
Para que esta questão possa vir a ser ultrapassada será necessário desenvolver novos
métodos que aumentem a fiabilidade do sistema. Melhorias na infraestrutura disponível para os
serviços de manutenção de forma que eles possam ser realizados em condições ambientais mais
severas também trarão benefícios para a redução dos custos de receita.
1.4. O gerador linear síncrono na recuperação de energia das ondas
A maioria das tecnologias desenvolvidas para o aproveitamento da energia das ondas precisa
de sistemas relativamente complexos para transformar o movimento oscilatório natural das ondas
num movimento rotativo e, assim, permitir a utilização de geradores convencionais de velocidades
fixas ou variáveis [22].
Figura 19 - Diferentes processos para transformação da energia mecânica das ondas do mar em
eletricidade. Ref.[18].
O processo de conversão de energia com sistemas de tomada de potência hidráulicos, como
o Pelamis, é realizado através de várias etapas. Os pistões hidráulicos têm sido pontos sensíveis
para a operação destes conversores. Na prática, estes equipamentos têm apresentado uma
durabilidade reduzida em relação a que era esperada e, em mau funcionamento, podem
comprometer a operação e iniciar vazamentos de óleo.
Apesar da complexidade do sistema o rendimento total destes conversores é relativamente
alto, por volta de 70%.
Os conversores de colunas de água oscilantes (OWCs) utilizam um sistema pneumático em
conjunto com uma turbina Wells para o acionamento do gerador elétrico. Uma das principais
desvantagens destes sistemas, em comparação aos sistemas de tomada de potência hidráulicos, é a
eficiência do sistema pneumático em conjunto com os problemas de stall na passagem do fluxo de ar
pela turbina Wells. O descolamento do fluxo de ar nas palhetas guia, stall, aumenta a turbulência do
fluido, introduzindo problemas de vibração e reduzindo a eficiência da conversão.
17
A vibração é um dos maiores problemas enfrentados pela central OWC do pico dos Açores.
Ela limita a rotação da turbina em 1420 RPM, impedindo a operação do gerador elétrico em
condições nominais.
Outra dificuldade enfrentada nos OWC é a grande inércia da turbina Wells que torna o
processo de frenagem, realizado por uma válvula de escape, relativamente lento. Em casos de ondas
com alturas excessivas, esta questão aumenta os riscos do sistema embalar e, devido aos problemas
de vibração, danificar a estrutura.
Segundo o relatório da Carbon Trust [30], na central LIMPET foram observadas perdas de
36% na câmara pneumática e de 60% na turbina Wells, resultando em 74,4% de perdas antes da
entrada do gerador elétrico. A eficiência total medida nesta central e na central do Pico do Açores é
muito baixa, de 8 e 6% respectivamente. Em ambos os casos esta eficiência foi prejudicada pelo
baixo rendimento do gerador elétrico instalado nas condições possíveis de operação.
A utilização de geradores lineares simplifica o processo de conversão, aproveitando
diretamente o movimento oscilatório das ondas do mar. Representa a minimização da quantidade de
processos para a conversão de energia e diminui, não apenas, a quantidade de equipamentos
envolvidos na tomada de potência, mas também, o número de sensores deste processo.
Espera-se que esta opção seja a que menos necessite de atividades de manutenção corretiva
e que a sua menor eficiência e maior custo por kW instalado em relação às máquinas rotativas sejam
justificados com a redução dos custos de receita.
Esta opção é hoje possível através da ligação assíncrona à rede elétrica, com a utilização de
conversores CA/CC e CC/CA que estão cada vez mais robustos e baratos. Entretanto, existem novos
desafios, pois atualmente não se utilizam geradores lineares para a produção de energia elétrica em
outras áreas, não existe um consenso sobre qual a melhor forma de construí-los e é uma aplicação
de baixa velocidade. Alguns fenômenos que são atenuados nas máquinas rotativas convencionais,
em baixa velocidade podem ter sua relevância intensificada. Entre eles cita-se as forças parasitas.
Embora uma das vantagens dos geradores lineares seja a redução da necessidade de
manutenção corretiva, eles também apresentam dificuldades de operação. Entre elas cita-se: os
esforços nos rolamentos do transladador que podem ser provocados tanto por forças
eletromagnéticas perpendiculares ao movimento, quanto, por exemplo, pela formação de um ângulo
entre a corda e o conversor num sistema Seabased; o sistema de fim de curso, pois com ondas
superiores à nominal a tendência do movimento seria de ultrapassar os limites da guia, precisando de
um sistema especial de frenagem12
(indicado na figura 14).
A necessidade de manutenção corretiva do sistema de monitoração dos parâmetros
ambientais permanece uma fragilidade.
12
O termo mais adequado em português de Portugal seria “travagem”.
18
Nesta introdução procurou-se enquadrar a necessidade do desenvolvimento de um gerador
linear dentro da perspectiva dos conversores de energia das ondas, comparando as suas
características com as outras formas de tomada de potência. Deu-se ênfase às dificuldades
enfrentadas, atualmente, por estes sistemas de conversão eletromecânica, nomeadamente aos
aspectos de acessibilidade local para as operações de manutenção e, como este aspecto tem
consequências nos custos do projeto.
A temática relativa à energia das ondas está inserida no contexto da exploração do mar para
a produção de eletricidade. Considerou-se relevante estabelecer as diferenciações entre as formas
de se extrair energia deste recurso. Apresentando de forma sucinta os diferentes conceitos e
potencialidades de cada uma.
Figura 20 – Enquadramento do gerador síncrono linear para o aproveitamento da energia das ondas.
19
1.5. Objetivos do trabalho
Objetivo geral
O objetivo deste trabalho consistiu na construção e avaliação do desempenho de um gerador
linear síncrono de magnetos permanentes, acionado por um sistema mecânico que simula o
movimento ondulatório das ondas do mar. Para isso recorreu-se ao estator de um motor linear de
indução anteriormente desenvolvido pelo Prof. Cabrita [36].
Objetivos específicos
Os objetivos específicos desta tese consistiram em:
1) Definir a topologia do sistema de excitação, estabelecendo a colocação dos magnetos no
transladador.
2) Caracterizar as perdas magnéticas e de condução.
3) Caracterizar as forças parasitas e analisar a metodologia do deslocamento relativo entre
os estatores para minimizá-las.
4) Estabelecer o modelo de regime permanente do gerador linear.
5) Validar o modelo experimentalmente.
6) Extrapolar os resultados para um regime real de ondas
O estudo do protótipo foi realizado com auxílio do método dos elementos finitos em duas
dimensões. A análise eletromagnética descreve: a distribuição do fluxo magnético para cada
geometria do transladador estudada, as dimensões do magneto que “otimizam” a razão entre fluxo
magnético útil e o fluxo magnético de dispersão, a redução das forças parasitas – cogging forces –
pelo método do deslocamento relativo entre os estatores, a distribuição espacial do fluxo magnético
ligado com as bobinas para cada deslocamento relativo entre os estatores e a matriz indutâncias da
máquina. Com estes resultados estabelece-se o circuito elétrico equivalente do gerador.
Na parte experimental é dada ênfase à validação do modelo teórico, bem como à sua
correção. A avaliação do desempenho do gerador linear é feita através de um conjunto de ensaios
laboratoriais, em carga trifásica equilibrada e em regime retificado.
Por fim, estabelece-se um paralelo em termos de escala entre a operação do protótipo e um
regime real de ondas. Para isso, utiliza-se como exemplo o regime de ondas da costa portuguesa.
20
2. O gerador linear síncrono de magnetos permanentes
Com os conversores de energia das ondas do tipo oscillating bodies surge o interesse nos
geradores lineares síncronos visando aumentar a fiabilidade destes sistemas. Nesta aplicação, além
das topologias AWS e Seabased AB (figura 14), existem, ainda, as topologias da Columbia Power
Technologies (CPT) e da Trident Energy que são apresentadas na figura 21.
Figura 21 – a) Topologia da Columbia Power Technologies. b) Topologia da Trident Energy. Ref. [57].
2.1. Princípio de funcionamento
O princípio de funcionamento de um gerador linear síncrono é exatamente igual ao de um
gerador síncrono convencional. A única diferença consiste na forma como se estabelece o movimento
relativo entre as bobinas de cada fase e o sistema de excitação, sendo, neste caso, um movimento
linear [38].
A força eletromotriz induzida por fase , segundo a lei de Faraday, é calculada pela derivada
temporal do fluxo magnético ligado (ou concatenado) por fase :
(6)
Esta equação pode ser reescrita em função da velocidade linear relativa entre o sistema de
excitação e as bobinas da fase por:
(7)
A parte fixa dos geradores lineares é chamada de estator e parte móvel é chamada de
transladador (“translator”). Os geradores lineares costumam ser classificados quanto: a sua
geometria, usualmente, plana ou tubular; ao material do seu núcleo, ferromagnético ou não (núcleo
de ar); a direção da circuitação das linhas de fluxo magnético, que costuma ser longitudinal ou
transversal; a quantidade de lados, normalmente, simples (um lado) ou duplo (dois lados).
21
A figura 22 apresenta a topologia do gerador linear síncrono trifásico que será utilizado neste
trabalho para ilustrar o princípio de funcionamento destes dispositivos. Ele apresenta as seguintes
características: geometria plana, duplo estator, núcleo ferromagnético e fluxo longitudinal.
Figura 22 - Esquema de um gerador síncrono linear trifásico com excitação por magnetos permanentes e duplo
estator. Em vermelho, amarelo e verde, apresenta-se a localização das bobinas.
2.2. Estado da arte
Para apresentar o estado da arte dos geradores lineares aplicados à recuperação de energia
das ondas dar-se-á ênfase aos protótipos que foram testados no mar. Neste sentido, as empresas
que o autor tem conhecimento que levaram seus protótipos para ensaios no ambiente marinho são:
AWS, Columbia Power Technologies, Seabased AB e a Trident Energy. Outras duas tecnologias
desenvolvidas pelas Universidades de Durham e de Edimburgo, ambas no Reino Unido, são
detalhadas por possuírem características distintas e, desta forma, consegue-se apresentar um quadro
com as principais topologias destes geradores13
.
AWS
O desenvolvimento do gerador linear AWS foi realizado em parceria com a Universidade
Técnica de Delft (Delft University of Technology, TUDelft) na Holanda. Os conversores AWS são
trifásicos com duplo-transladador e excitação por magnetos permanentes de fluxo longitudinal. O
estator é centrado entre o duplo-transladador e é composto por material ferromagnético. Este
conversor possuía potência nominal de 1 MW. Atualmente, a empresa AWS já não trabalha com este
conceito, o seu protótipo mais recente – AWS-III – opera com um sistema de tomada de potência
pneumático, semelhante ao “Sea Clam” [56][60][61]. Não se tem conhecimento das razões
específicas que levaram esta empresa a desistir da topologia apresentada na figura 23. Entretanto,
um fator recorrente nos artigos dos desenvolvedores do sistema AWS refere-se às elevadas forças
no eixo perpendicular ao movimento, que geram esforços nos rolamentos do transladador e dificultam
a manutenção do entreferro, principalmente, em máquinas compridas (o gerador AWS possuía 8 m
de comprimento) [49].
13
O autor utilizou como guia o estado da arte da tese de doutorado de R. Vermaak [57].
22
Outro conversor que também tem topologia plana com dois lados e núcleo ferromagnético é o
“Snapper”, mas possui um sistema de molas que amplifica a velocidade do transladador [74] [75] [76].
Figura 23 – Conversor AWS. Os magnetos são destacados em azul e as bobinas de cada fase são destacadas
em vermelho, amarelo e verde. Ref. [22] [56].
Columbia Power Technologies
O gerador linear da Columbia Power Technologies foi desenvolvido em parceria com a
Universidade do Estado de Oregon (Oregon State University, OSU) nos Estados Unidos. É um
gerador trifásico de geometria tubular com núcleo ferromagnético e excitação com magnetos de
NdFeB que desenvolvem uma distribuição longitudinal de fluxo magnético. A potência nominal deste
conversor de segunda geração (2008) é de 10 kW. Após os testes no mar a CPT viu a necessidade
repensar a topologia do seu sistema [63]. Os seus conversores de terceira geração já não utilizam
geradores lineares. A nova tecnologia, segundo o site da empresa, consiste num sistema de tomada
de potência direto (direct drive), mas com um gerador rotativo [63]. A figura 24 apresenta o gerador
linear da CPT em operação e a sua parte interior.
Figura 24 – Conversor da CPT de 10 kW. Na esquerda, conversor em operação. No centro, vista interior. Na
direita: em vermelho, amarelo e verde são localizadas as bobinas e, em azul a localização dos magnetos.
Ref.[62][64].
Seabased AB
Os conversores da Seabased AB são desenvolvidos em parceria com a Universidade de
Uppsala na Suécia. O transladador e o estator deste conversor possuem quatro lados. O transladador
23
acomoda magnetos de NdFeB espaçados por alumínio, que desenvolvem uma distribuição
longitudinal de fluxo magnético, e é envolvido pelos quatro estatores. A distribuição das bobinas nas
ranhuras dos estatores ferromagnéticos é feita de forma a atenuar as forças parasitas, possuindo 6/5
de cavas por polo por fase [69]. O conceito Seabased consiste em ter baixa potência instalada por
conversor, mas construir parques com muitas unidades. Segundo o documento de Dezembro de
2012 da Strategic Initiative for Ocean Energy [58] estes conversores têm potência nominal de 30 ou
50 kW. Ainda neste documento, cita-se que a Seabased já recebeu financiamento para a construção
de um parque de energia das ondas de 10 MW com aproximadamente 420 conversores em Sotenas
na Suécia.
Figura 25 – Na esquerda, parte interna do conversor Seabased AB, onde por se ver dois dos quatro estatores.
No centro, em cima, o flutuador. No centro, em baixo, instalação do conversor. Na direita, detalhe do sistema de
excitação e dos enrolamentos Ref. [67] [69].
Trident Energy
A topologia proposta pela Trident Energy consiste num gerador tubular bifásico sem ranhuras
(“slotless”). O estator deste conversor é composto por magnetos de NdFeB, separados uns dos
outros por material ferromagnético, que desenvolvem uma distribuição longitudinal de fluxo
magnético. O transladador, que neste caso envolve o estator, não possui dentes (“slotless”), mas
possui uma camada de aço atrás das bobinas (reduzindo a relutância magnética), por esta razão não
se diz que esta máquina possui núcleo de ar. Cada conversor Trident Energy possui no seu interior
seis geradores cujos transladadores movimentam-se em sincronismo. Esta topologia possui como
característica positiva a redução dos esforços de atração entre o estator e o transladador, trazendo
benefícios à sua operação mecânica. Por outro lado, a topologia slotless reduz significativamente a
densidade de fluxo magnético nas bobinas estatóricas e, assim, estas máquinas trabalham com baixa
densidade de força e precisam ter entreferros mínimos [57]. A figura 26 apresenta este conversor.
Outros protótipos com topologia tubular e núcleo de ar são apresentados pela Universidade
de Durham em [55], pela Universidade de Stellenbosch em [57] e pela Universidade de Wits em [59].
24
Figura 26 – Na esquerda, conversores da Trident Energy sendo instalados para testes no mar. Na direita, vista
interior do conversor, com seis geradores. Em baixo, detalhes do gerador linear. Ref. [57] [70] [71].
C-Gen
Segundo os desenvolvedores do C-Gen este gerador linear é pensado para ser utilizado por
um conversor de energia das ondas de conceito AWS [65]. O transladador desta topologia é
composto por módulos cada qual com duas peças ferromagnéticas em C, que acomodam magnetos.
A distribuição das linhas de fluxo magnético é tridimensional, com circuitação longitudinal, entre
módulos distintos, e transversal, dentro do mesmo módulo. O estator é plano, interno aos módulos,
composto por material não ferromagnético (núcleo de ar). Esta topologia possui como vantagens o
fato de não existirem forças de atração entre o estator e o transladador e a possibilidade da
construção modular do conversor [65] [72]. Em contrapartida as densidades de fluxo magnético e de
força nas bobinas estatóricas são reduzidas. A figura 27 detalha a topologia de um módulo.
Figura 27 – Na esquerda, um módulo do transladador C-Gen. No centro, caracterização do módulo. Na direita,
distribuição das linhas de fluxo magnético em um módulo. Ref. [65].
A figura 28 permite observar o fechamento das linhas de fluxo magnético entre módulos
(circuitação longitudinal). A figura 29 apresenta o protótipo de 25 kW instalado.
25
Figura 28 - Esquema da circuitação longitudinal (entre módulos) do gerador linear C-Gen. Ref. [65].
Figura 29 – Protótipo C-Gen de 25kW. Ref. [65]
Vernier Hybrid Machine (VHM)
A topologia VHM consiste num gerador linear de relutância variável. O gerador VHM trifásico
é composto por três estatores monofásicos duplos devidamente espaçados. Cada estator é composto
por duas peças em C ferromagnéticas onde são alocadas as bobinas e os magnetos (figura 30). O
transladador é composto por um núcleo ferromagnético com dentes. O posicionamento dos dentes do
transladador e dos magnetos no estator é feito de forma a garantir que a circuitação das linhas de
fluxo magnético atravesse as duas peças em C. A polaridade do fluxo magnético nas bobinas
estatóricas é definida pela polaridade dos magnetos para os quais os dentes do transladador estão
alinhados. Desta maneira, a tensão induzida tem sua frequência determinada pelas dimensões dos
dentes e dos magnetos. Esta topologia facilita a operação com valores maiores de frequência elétrica,
aumentando a densidade de potência do gerador. Por outro lado, as forças de atração entre o estator
e o transladador são elevadas e o entreferro precisa ser pequeno para que os magnetos não entrem
em curto-circuito magnético [59].
Figura 30 – Na esquerda, esquema de funcionamento do gerador VHM. Na direta, Imagem do protótipo VHM de
3kW. Ref.[59].
Outro gerador linear de relutância variável é utilizado pela Wedge Global (com 160 kW pico a
1 m/s), mas não utiliza magnetos permanentes [73].
26
A topologia do gerador linear de fluxo transversal apresenta semelhanças à topologia VHM
por operar com maiores valores de frequência elétrica e, consequentemente, com maiores
densidades de força e potência. Contudo, o autor não encontrou na literatura exemplos de empresas
ou protótipos na escala dos kW que utilizam esta topologia. Entretanto a referência [50] apresenta
teoricamente este conceito e G.F. Beirão [44] apresenta um protótipo construído no Instituto Superior
Técnico.
Uma visão geral do estado da arte atual dos geradores lineares síncronos aplicados à
recuperação de energia das ondas é apresentada na tabela 1.
Densidade de
força Topologia Empresa/Desenvolvedor
Potência
nominal
Baixa
Núcleo de Ar, plana U. Edimburgo, C-Gen [65][72] 25 kW
Núcleo de Ar, tubular U. Durham [52][59], U. Stellenbosch
[57], U.Wits [55]
1.6 kW, 1 kW,
-
Slotless, tubular Trident Energy [70][71] -
Média Núcleo ferromagnético, plana Seabased AB [66][67][68][69] 30/50 kW
Núcleo ferromagnético, plana Snapper [74][75][76] 1.4 kW
Alta
VHM U. Durham [52][59] 3 kW
Núcleo ferromagnético, plana de
relutância variável Wedge Global [73] 160 kW pico
Tabela 1 – Panorama geral do estado da arte dos geradores lineares síncronos aplicados à recuperação de
energia das ondas.
2.3. Características do estator
Neste trabalho recorreu-se a um estator linear previamente projetado e construído para um
motor linear de indução trifásico de oito polos. Usado na tese de doutorado do Prof. Cabrita [36]. Este
estator é apresentado na figura 31 em diferentes perspectivas e as suas características são
detalhadas nas tabelas 2 e 3.
Figura 31 – Estator em diferentes perspectivas.
27
Estator
Tipo Duplo em série
Número de fases 3
Número de polos 8
Número total de ranhuras (cavas) 24
Número total de dentes 25
Número de ranhuras por polo 3
Número de ranhuras por polo e por fase 1
Largura das ranhuras 12 mm
Altura das ranhuras 36 mm
Largura dos dentes 6 mm
Largura dos blocos estatóricos 77 mm
Altura dos blocos estatóricos 65 mm
Comprimento dos blocos estatóricos 438 mm
Largura total dos estatores 160 mm
Número de bobinas 27
Número de espiras por bobina 100
Forma de ligação dos enrolamentos Estrela
Passo polar 54,75 mm
Diâmetro do fio de bobinagem 1 mm
Fator de preenchimento das ranhuras 37%
Classe de isolamento H (180º)
Espessura das chapas magnéticas 0,3 mm
Número de chapas magnéticas por estator 222
Perdas das chapas a 50 Hz e 1,5 T 0,8 W/kg
Peso total de cada estator 16 kg
Resistência do enrolamento por fase e por estator 6,8 Ω
Corrente nominal (enquanto motor de indução) 3,3 A
Tensão nominal (enquanto motor de indução) 400 V
Tabela 2 – Dados do estator.
Distribuição das bobinas por fase por estator
Fase Bobinas de passo normal
(3 ranhuras)
Bobinas de passo reduzido
(1 ranhura)
A 8 1
B 8 1
C 7 2
Tabela 3 – Distribuição das bobinas por fase
28
A distribuição das bobinas no estator é apresentada na figura 22, com exceção às bobinas de
compensação. As bobinas de compensação são alocadas nas extremidades dos estatores e têm
como finalidade atenuar os efeitos longitudinais de extremidade, importantes no motor linear de
indução em velocidades elevadas.
O material ferromagnético foi modelado utilizando como base a curva de magnetização do
aço “M-15 Steel” disponível na biblioteca do programa FEMM (figura 32).
Figura 32 – Curva B x H do “M-15 Steel” utilizada para o dimensionamento da máquina.
2.4. Definição do sistema de excitação, cálculo da indutância síncrona e das
perdas no ferro
Esta fase do trabalho consiste nos estudos eletromagnéticos necessários para definir: o
sistema de excitação, a indutância síncrona da máquina e as perdas no ferro. O estudo da
distribuição espacial do fluxo magnético ligado por fase será realizado na próxima secção. Esta
escolha provém da metodologia escolhida para a redução das forças parasitas – do deslocamento
relativo entre estatores – a qual altera esta distribuição. Os impactos desta metodologia serão
analisados não só para a redução das forças parasitas, mas, também, em relação ao conteúdo
harmônico da forma de onda espacial do fluxo magnético ligado às bobinas de uma fase.
2.4.1. Magnetos e geometrias possíveis
Magnetos permanentes
Para este trabalho foram disponibilizados, pelo Laboratório de Máquinas Elétricas do Instituto
Superior Técnico de Lisboa, magnetos permanentes de NdFeB sinterizados de 25 x 12 x 25 mm3. A
figura 33 apresenta as principais características magnéticas deste material. A figura 34 exibe
graficamente a curva de desmagnetização do NdFeB (N35EH).
29
Figura 33 – Características dos magnetos de NdFeB.
Figura 34 – Curva de desmagnetização do NdFeB (N35EH) à temperatura de 20º C.
Geometrias possíveis
Com as características do estator e dos magnetos chega-se a quatro possíveis geometrias
para a alocação dos magnetos por passo polar do transladador (figura 35).
Figura 35 – Possíveis geometrias para o sistema de excitação por passo polar.
As geometrias 3 e 4 foram descartadas, pois a proximidade entre os magnetos, nas
condições disponíveis em laboratório, inviabilizaria a montagem. Além disso, nestas geometrias a
distância entre magnetos de passos polares adjacentes, que são de polaridades opostas, é muito
pequena (3mm). Este fator poderia levar a máquina a um curto-circuito magnético.
30
Assim, o objetivo das secções subsequentes consiste em se caracterizar
eletromagneticamente as duas geometrias restantes e, com isso, determinar se a utilização do dobro
do material magnético, na geometria 2, estabelece de fato uma vantagem para o desempenho do
gerador elétrico.
2.4.2. Análise do circuito magnético
Antes de apresentar o circuito magnético desta configuração, são enunciadas as relações
fundamentais que permitem esta análise na tabela 4.
Grandeza Formulação matemática
Força magnetomotriz ∮ (8)
Fluxo magnético ∫
(9)
Relutância magnética
(10)
Tabela 4 – Relações fundamentais para a análise do circuito magnético.
A circuitação magnética média e o circuito magnético equivalente desta topologia são
apresentados na figura 36.
Figura 36 – Circuitação magnética média e o seu respectivo circuito magnético.
Para o estudo analítico desta topologia pode-se resolver o circuito magnético apresentado na
figura 36 ou aplicar diretamente a equação (8) na circuitação magnética média da mesma figura.
Neste último caso, chega-se a:
(11)
31
A principal diferença entre os circuitos magnéticos com magnetos permanentes é que estes,
diferentes das bobinas, não introduzem uma força magneto-motriz constante. O seu ponto de
operação é determinado pelas características específicas do circuito magnético em questão.
A equação (11), embora possua um aspecto simples, esconde uma série de dificuldades e
limitações desta metodologia para a caracterização magnética do sistema. Para a sua aplicação
forma adequada é necessário estabelecer parâmetros de correções que implicam um conhecimento a
priori de algumas características magnéticas ou o estabelecimento de algumas aproximações. Entre
elas cita-se: o fator de correção do entreferro pela existência dos dentes – fator de Carter; o fator de
correção da indução magnética no entreferro, que requer o conhecimento da distribuição deste
campo no entreferro; o fator de dispersão, o qual requer o conhecimento, ou a estimativa, do fluxo
disperso para a geometria em questão [38] [39] [40].
Por se tratar de uma máquina não convencional, com grande entreferro e por não se saber se
algumas suposições que seriam feitas para as máquinas tradicionais são, também, válidas neste
caso, optou-se pelo método dos elementos finitos que permite uma análise mais detalhada e precisa.
2.4.3. Caracterização do fluxo magnético por passo polar em função do
entreferro
A opção por se utilizar um software de elementos finitos 2D impediu a modelagem exata das
geometrias 1 e 2 da figura 35, as respectivas diferenças são apresentadas na figura 37. Os
resultados apresentados até a secção 2.7 referem-se ao modelo simulado.
Para caracterizar o fluxo magnético em função do tamanho do entreferro, modelou-se o
estator com as dimensões descritas pela tabela 2 e o transladador com a geometria 1 da figura 35. O
transladador com exceção dos magnetos é composto por um material que não é ferromagnético. Nas
simulações utilizou-se alumínio14
.
A metodologia de análise consistiu em se medir a razão entre o fluxo magnético útil e o
fluxo magnético produzido pelo magneto , para diferentes valores de entreferro, no terceiro passo
polar da esquerda para a direita. Optou-se por esta região a fim de evitar os efeitos de extremidade.
Define-se:
(12)
A figura 38 apresenta o modelo de simulação da geometria 1, indica o passo polar escolhido
para as medições e destaca o comprimento que corresponde à metade do entreferro mecânico. Os
valores de e foram obtidos pela integral do campo normal às superfícies delimitadas pelas
linhas vermelhas da figura 39. A figura 40 exibe o andamento de em função de .
14
Como as simulações são magnetostáticas, não há surgimento de correntes induzidas no alumínio.
32
Figura 37 – Diferenças entre o modelo real e o modelo simulado em FEMM.
Figura 38 - Modelo do gerador linear geometria 1. Meio entreferro mecânico = 5 mm e indicação da região do
terceiro passo polar da esquerda para a direita.
Figura 39 - Na esquerda: região de medição de , no centro do magneto. Na direita: região de medição de ,
no centro da cava.
33
Figura 40 – Razão entre o fluxo magnético útil e o fluxo magnético produzido em função de .
Na figura 40, observa-se que para = 5 mm apenas 80% do fluxo magnético produzido pelo
magneto é aproveitado, ou seja, há um fator de dispersão de 20%. Um dos motivos para esse
elevado fator de dispersão é a geometria dos dentes, bastante estreitos, que produzem um fator de
Carter elevado [38].
Devido às restrições mecânicas para a montagem da máquina, optou-se por trabalhar com
= 6 mm. Nessas condições o fluxo magnético disperso na geometria 1 é de 23,1%.
2.4.4. Comparação entre o desempenho das geometrias 1 e 2.
Fixando-se = 6 mm, modelou-se o transladador, também, para a geometria 2. O modelo
desta geometria é apresentado na figura 41.
Figura 41 – Modelo do gerador com a geometria 2, = 24 mm e largura do magneto de 25mm.
Além das grandezas medidas na secção anterior, para cada geometria foram medidos
também: os valores da indução magnética média no dente e no centro do magneto e a
energia magnética no magneto . A região onde é medido o valor de é apresentada na
figura 42. O cálculo de é efetuado no mesmo local de (figura 39) e a energia magnética é
calculada por uma função de integral de bloco do FEMM, também apresentada na figura 42.
00,10,20,30,40,50,60,70,80,9
1
4 5 6 7 8 9 10 11
K𝜑
lg (mm)
k𝜑 x lg
34
Figura 42 – Na esquerda, região de medição de , e na direita medição de em um magneto
(em verde) pelo FEMM.
Geometria (mWb) (mWb) (T) (T) (J) Dispersão (%)
1 1,316 1,012 0,683 1,152 0,769 3,42 23,1
2 1,757 1,336 0,912 1,489 0,760 3,12 24,0
Tabela 5 – Comparação entre as geometrias 1 e 2. Medidas para o terceiro passo polar da esquerda
para a direita.
Com os resultados apresentados na tabela 5 observa-se que a geometria 2 gera um fluxo
magnético útil 30% superior ao da geometria 1, com um fator de dispersão ligeiramente mais elevado.
Na geometria 2, os magnetos operam mais magnetizados, embora se afastem do ponto de
máxima energia magnética ( = 0,625 T). Desta forma, possuem um maior campo de indução
magnética, mas há uma redução na energia magnética. Isto indica que nesta geometria há um pior
aproveitamento do material magnético.
A permeabilidade relativa do ferro nos dentes, em ambas as situações, permanece elevada,
sendo na geometria 1 e na geometria 2 de .
Através destes resultados, opta-se pela geometria 2 que aproveita melhor as estruturas
ferromagnéticas, com uma maior quantidade de fluxo magnético por passo polar. Nota-se, entretanto,
que foi necessário aumentar em 100% o volume dos magnetos permanentes para conseguir 30% a
mais de fluxo magnético na região média das bobinas.
2.4.5. Comportamento magnético em função da largura do magneto
Esta secção tem como objetivo analisar a influencia da largura dos magnetos nas
características magnéticas do sistema, nomeadamente em: , , , . Com este intuito, fixa-
se em 6 mm e em 24 mm. Na sequência, em passos de 5 mm, altera-se a largura dos
magnetos. Na figura 43, apresenta-se, como exemplo, o modelo de simulação com a largura do
magneto de 40 mm.
35
Figura 43 – Modelo do gerador linear com magnetos de 40 mm de largura e = 24 mm.
Os resultados das simulações são exibidos na tabela 6. O andamento de , e , em
função da ocupação do passo polar pelo magneto, são apresentados nas figuras 44, 45 e 46.
Largura do
magneto
Largura do magneto/
passo polar
Distância entre
magnetos (mWb) (T) (T)
15 0,27 39,75 0,828 0,728 0,972 0,985
20 0,37 34,75 1,094 0,753 1,260 0,943
25 0,46 29,75 1,336 0,760 1,489 0,912
30 0,55 24,75 1,525 0,743 1,630 0,889
35 0,64 19,75 1,656 0,708 1,734 0,868
40 0,73 14,75 1,747 0,664 1,797 0,854
45 0,82 9,75 1,810 0,613 1,834 0,850
50 0,91 4,75 1,840 0,556 1,854 0,860
54,75 1,00 0,00 1,850 0,496 1,858 0,884
Tabela 6 - Comportamento magnético para diferentes ocupações do passo polar
Figura 44 – Evolução do fluxo magnético útil pela ocupação do passo polar.
0,0
0,2
0,4
0,6
0,8
1,0
1,2
1,4
1,6
1,8
2,0
0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1
𝜑u (
m W
b )
Largura do magneto / Passo polar
𝜑u
36
Figura 45 – Razão entre o fluxo magnético útil e o fluxo magnético produzido em função da ocupação
do passo polar.
Figura 46 – Evolução do campo B médio no magneto pela variação da largura do magneto
O aumento da largura do magneto aumenta a sua área e, consequentemente, os fluxos
magnéticos produzido e útil. Na figura 44, nota-se que o comportamento do fluxo magnético útil em
relação à ocupação do passo polar é sempre crescente e aproximadamente linear até 55%. A partir
daí, a função começa a saturar.
A figura 45 mostra que a relação “ótima” entre o fluxo útil e o fluxo produzido ocorre quando a
largura do magneto é 44% do passo polar (24 mm) com fator de dispersão de 23,8%. A partir de 60%
esta função tem seu decaimento acelerado. Isto significa que o fluxo disperso para os magnetos
adjacentes torna-se cada vez mais significativo, conduzindo ao curto-circuito magnético.
Para uma ocupação do passo polar acima de 80%, percebe-se que ocorre uma
“remagnetização” dos magnetos (figura 46). Isto pode ser visto como a redução da relutância
magnética equivalente do sistema devido ao curto-circuito magnético.
0,45
0,50
0,55
0,60
0,65
0,70
0,75
0,80
0,00 0,10 0,20 0,30 0,40 0,50 0,60 0,70 0,80 0,90 1,00
K𝜑
Largura do magneto/ passo polar
k𝜑
0,80
0,85
0,90
0,95
1,00
0 0,1 0,2 0,3 0,4 0,5 0,6 0,7 0,8 0,9 1
Bm
( T
)
Largura do magneto/ passo polar
Bm
37
Através desta análise, verifica-se que o ponto de operação escolhido com largura de 25 mm
é muito próximo da razão “ótima” entre o fluxo útil e o fluxo produzido, sendo, portanto, um caso
onde, percentualmente falando, o fluxo disperso é praticamente o mínimo possível.
Com o aumento da largura do magneto para valores entre 60 e 70% do passo polar (valores
típicos deste parâmetro para máquinas síncronas), obter-se-ia um maior fluxo útil e,
consequentemente, maior tensão induzida. No caso da largura do magneto ser 65% do passo polar, o
fluxo magnético útil seria de 1,66 mWb que é 24% superior ao obtido quando a largura do magneto é
de 25 mm (46% do passo polar). Ainda neste caso o campo médio nos dentes é de 1,74 T e a
permeabilidade relativa do ferro nesta região é de = 167. Por se tratar de uma topologia com
excitação a magnetos permanentes e grande entreferro, a queda da força magnetomotriz nos dentes,
ainda para este valor de indução, é pouco significativa. Relativamente às perdas no ferro, este valor
de indução magnética nos dentes também não é um problema por conta da baixa velocidade da
aplicação que acarretará em pequenos valores de frequência elétrica para este comprimento do
passo polar.
2.4.6. Perdas no ferro
Como será visto no capítulo 4 deste trabalho, para o aparato experimental instalado em
laboratório não será possível medir experimentalmente as perdas no ferro. O objetivo desta secção é,
então, estabelecer uma equação analítica que permita a estimação destas perdas em função da
frequência elétrica.
As perdas no ferro são calculadas através da soma das perdas de histerese com as perdas
por corrente de Foucault [46]:
(13)
As perdas do tipo Foucault variam com o quadrado da frequência elétrica e as perdas por
histerese variam de forma linear. O coeficiente de Steinmetz, , tem valores entre 1,5 e 2,2. As
perdas totais do ferro em W/Kg para diferentes valores de indução magnética e de frequência elétrica
costumam ser fornecidas pelos fabricantes nas especificações do material.
Uma forma típica utilizada para se estimar os coeficientes e consiste em dividir o valor
das perdas totais do ferro pela frequência elétrica e, então, para diferentes valores de frequência
plotar a seguinte reta [46]:
(14)
Apenas com os dados apresentados na tese de doutorado do Prof. Cabrita [36], não é
possível realizar este procedimento, pois só são dadas as perdas no ferro para a frequência de 50Hz
(tabela 2).
38
Ao se realizar uma pesquisa nos catálogos de diferentes fabricantes de aço, encontrou-se o
material M-1H (de fabricação da JFE Steel Corp), que com as mesmas características (chapas de 0,3
mm) e nas mesmas condições (50 Hz e 1,5 T), possui o mesmo valor de perdas por Kg apresentado
na descrição do ferro pelo Prof. Cabrita (0,8 W/Kg) [47].
Portanto, para este estudo considerou-se as características das perdas do aço de grão
orientado M-1H para as frequências de 50 e 60Hz, apresentadas na tabela 7.
Espessura (0,30mm)
Tabela 7 – Perdas no ferro para o aço M-1H.
Ao substituir estes valores na relação (14), chega-se a: = 7,67.10-3
e = 1,67.10-4
.
Para estimar os valores de e é feita a hipótese que =2, e assim:
Com e definidos, é possível estimar analiticamente as perdas no ferro para o caso
específico aqui estudado. Para isso, com os resultados das simulações em FEMM, toma-se o valor
de nos dentes em 1,49 T e de no corpo dos estatores em 0,44 T. Sabendo que a massa total dos
estatores é de 32 Kg e que os dentes ocupam 31% do seu volume, pode-se escrever as perdas no
ferro por:
(15)
2.4.7. Indutância síncrona
Nesta secção pretende-se determinar teoricamente a indutância síncrona da máquina para a
elaboração do seu circuito elétrico equivalente em regime permanente.
O transladador, deste trabalho, é composto por materiais que possuem permeabilidades
magnéticas praticamente iguais a do ar. Assim, a sua matriz de indutâncias deverá ser constante, de
forma semelhante à matriz de indutâncias de um gerador síncrono de polos lisos. Por conta disso, a
indutância síncrona para o circuito elétrico equivalente em regime permanente é a indutância de
sequência direta do gerador. O anexo 1 deste trabalho aborda esta questão de forma mais detalhada.
39
A metodologia utilizada para o cálculo teórico desta indutância consiste de, num primeiro
momento, calcular a matriz de indutâncias do gerador com ajuda da opção “circuits properties”15
do
FEMM e, em seguida, com a aplicação das componentes simétricas, definir a indutância de
sequência direta. Por fim torna-se necessário, ainda, introduzir o valor da indutância da cabeça das
bobinas por fase que o modelo em 2D não é capaz de levar em consideração.
A indutância própria da fase , , é dada pela razão entre o fluxo magnético ligado na fase
devido à injeção de corrente da fase :
(16)
A indutância mútua entre a fase e a fase , , é dada pela razão entre o fluxo magnético
ligado na fase devido à injeção de corrente na fase :
(17)
Desta forma, escreve-se a matriz de indutâncias do gerador por:
[
] (18)
Para o cálculo destas indutâncias é necessário retirar os magnetos do modelo para que o
fluxo magnético produzido por eles não interfira nos resultados. Portanto, a figura 47 apresenta o
modelo de simulação utilizado para o cálculo desta matriz de indutâncias, onde os magnetos de
NdFeB foram substituídos por regiões de ar. Nesta imagem há injeção de corrente apenas na fase C.
Figura 47 – Modelo de simulação para o cálculo das indutâncias. Situação com injeção de corrente
apenas na fase C.
Com este modelo, as indutâncias próprias e mútuas foram calculadas injetando-se uma
corrente de 10 A em apenas uma fase e medindo-se o fluxo magnético concatenado (ou ligado) em
cada uma delas, através do “circuits properties” do FEMM. O mesmo processo foi repetido para as
demais fases. Obteve-se a seguinte matriz de indutâncias :
15
A opção “circuits properties” do FEMM retorna ao usuário os seguintes resultados referentes ao circuito em
questão (neste trabalho cada fase foi definida como um circuito): corrente, queda de tensão, fluxo magnético concatenado. Se a corrente na fase em questão for diferente de 0, ele também retorna a razão entre o fluxo concatenado e a corrente, e a razão entre a queda de tensão e a corrente.
40
[
] (19)
Esta matriz de indutâncias não é cíclica, o que indica que há um desequilíbrio entre as fases.
Nestas condições, o desacoplamento entre as sequências direta, inversa e homopolar não é possível.
Para o estabelecimento do modelo, será feita a hipótese que o efeito do desequilíbrio das fases pode
ser desprezado.
Admite-se, então, que todas as indutâncias mútuas são iguais à média das indutâncias
mútuas medidas e, assim, escreve-se a matriz de indutâncias cíclica :
(20)
[
] (21)
[
] (22)
Com =
, a matriz de transformação de Fortescue é escrita por:
[
] (23)
As indutâncias de sequência homopolar , direta e inversa são obtidas segundo a
relação:
[
] [
]
E assim:
[
] [
] (24)
Portando a indutância de sequência direta, com as considerações já referidas, proveniente do
modelo 2D é = 0,139 H.
Indutância de cabeça de bobina
Para o cálculo da indutância da cabeça das bobinas por fase será utilizada a metodologia
descrita por M. Liwschitz em [48]. Consiste num método empírico, onde a cabeça da bobina é
modelada segundo a simplificação geométrica descrita na figura 48.
41
Figura 48 – Aproximação da cabeça da bobina para o cálculo da sua indutância.
Desta forma o comprimento total da cabeça da bobina é aproximado por:
(25)
A fórmula empírica para a estimação da permeância magnética da cabeça da bobina para
máquinas síncronas com enrolamentos em dupla camada é escrita em função de (em cm),
calculado pela equação 25, e do fator de enrolamento . O fator de enrolamento (winding factor) é
dado pelo produto entre o fator de distribuição (distribuction factor) e o fator de encurtamento (pitch
factor). Neste caso específico as bobinas de cada fase são concentradas e de passo pleno, ou seja,
= 116
.
(26)
A indutância da cabeça da bobina por fase por estator pode ser calculada por:
(27)
O valor de foi medido diretamente no protótipo, obteve-se = 3,87 cm. Ao substituir estes
valores nas equações (28), (29) e (30) chega-se a:
Desta maneira, como os dois estatores são ligados em série, a indutância síncrona do
gerador pode ser calculada por:
(28)
Ao aplicar os resultados encontrados em (28), chega-se a:
16
Chapman descreve com maior precisão cada um desses fatores, bem como a metodologia adequada para o
seu cálculo no Anexo B de [80].
42
2.5. O deslocamento relativo entre os estatores para a redução das forças
parasitas e a distribuição espacial do fluxo magnético ligado.
As forças parasitas são forças de relutância que surgem devido à interação entre os
magnetos e os blocos ferromagnéticos. Estas forças podem ser a favor do movimento, quando este é
direcionado para uma posição de menor relutância, ou contrária, quando o sistema está saindo de
uma posição de menor relutância. Em operação os seus efeitos são sobrepostos à força desenvolvida
pela máquina e tem valor médio nulo. Contudo, prejudicam o desempenho do gerador, como já havia
sido constatado no trabalho de G.F Beirão [44], dificultando o arranque, introduzindo acelerações
indesejadas e, consequentemente, harmônicas na tensão induzida.
Visando a redução destas perturbações, procurar-se-á um deslocamento relativo “ótimo”
entre os blocos estatóricos, que reduza a magnitude e as componentes harmônicas destas forças.
Com a finalidade de melhorar o desempenho do gerador. Para este estudo o transladador foi
modelado com o dobro do comprimento dos estatores, passando a ter 16 passos polares. Na posição
inicial (figura 49) os passos polares do transladador estão alinhados com os passos polares dos
estatores. O transladador foi deslocado em passos de 15º elétricos, o que corresponde a 4,5625 mm,
até 360º elétricos. A posição final das simulações é exibida na figura 50.
Figura 49 – Modelo de simulação, transladador na posição inicial (0º elétricos), sem deslocamento
entre os estatores.
Figura 50– Modelo de simulação, transladador na posição final de 360º, sem deslocamento entre os
estatores.
Cada estator foi deslocado de uma igual distância sendo o estator de cima deslocado para
a esquerda e o de baixo para a direita. Este deslocamento relativo entre os blocos estatóricos altera a
forma de onda do fluxo magnético concatenado com cada bobina, pois a fase com a qual o estator de
cima vê o magneto é diferente da fase vista pelo estator de baixo. Os valores de escolhidos para
este estudo foram: 3, 4.5, 6, 7.5 e 9 mm.
43
Realizou-se, inicialmente, a comparação entre as formas de onda dos fluxos magnéticos
concatenados por fase para cada distancia relativa entre estatores. Na sequência, foram analisadas
as forças parasitas de propulsão (eixo “x”), que prejudicam diretamente o desempenho do gerador, e
as forças parasitas no eixo “y”, que geram esforços no sistema de suporte da máquina. Na figura 51,
apresenta-se, como exemplo, o modelo de simulação para = 6 mm.
Figura 51 – Modelo de simulação para =6 mm.
2.6. Análise harmônica do fluxo magnético ligado por fase
Para cada valor de , foi medido o fluxo magnético útil no terceiro passo polar da esquerda
para a direita de cada um dos estatores e . O fluxo magnético concatenado por fase com
espiras por fase por estator é calculado pela relação (29).
(29)
A figura 52 apresenta o andamento do fluxo magnético concatenado por fase em 360º
elétricos para cada topologia dos estatores.
Figura 52 – Fluxo ligado por fase para diferentes valores de .
-2,500
-2,000
-1,500
-1,000
-0,500
0,000
0,500
1,000
1,500
2,000
2,500
0 30 60 90 120 150 180 210 240 270 300 330 360
Flu
xo L
igad
o (
Wb
)
Posição ( )
Fluxo Ligado por fase
Fluxo ligado por fase d=0
Fluxo ligado por fase d=3mm
Fluxo ligado por fase d=4.5mm
Fluxo ligado por fase d=6mm
Fluxo ligado por fase d=7.5mm
Fluxo ligado por fase d=9mm
44
Para a análise harmônica, considerou-se 20 períodos, cada qual com 24 amostras (de 0 a
345º) do fluxo magnético concatenado por fase, em cada topologia.
A figura 53 exibe esta análise para cada configuração dos estatores. A figura 54 apresenta a
razão das harmônicas de cada topologia em relação às harmônicas de mesmo número para a
topologia sem deslocamento relativo entre estatores.
Na figura 55, apresenta-se, em percentagem, a razão entre a 3ª, 5ª e 7ª harmônica em
relação à harmônica fundamental de cada topologia.
A tabela 8 apresenta a primeira harmônica do fluxo magnético concatenado por fase, em
cada configuração, e a distorção harmônica total (THD – Total Harmonic Distortion ).
Figura 53 – Análise harmônica do fluxo magnético concatenado por fase para cada deslocamento relativo entre
os estatores.
Figura 54 – Nesta imagem é apresentada a razão entre cada harmônica de cada deslocamento relativo e a
harmônica, de mesmo número, para a configuração sem deslocamento relativo entre estatores.
0,00
0,25
0,50
0,75
1,00
1,25
1,50
1,75
2,00
2,25
1 3 5 7
Flu
xo m
agn
éti
co (
Wb
)
Número da harmônica
Análise harmônica do fluxo magnético ligado por fase
Análise harmônica d=0
Análise harmônica d=3mm
Análise harmônica d=4,5mm
Análise harmônica d=6mm
Análise harmônica d=7,5mm
Análise harmônica d=9mm
0,00
0,10
0,20
0,30
0,40
0,50
0,60
0,70
0,80
0,90
1,00
1 3 5 7
Raz
ão h
arm
ôn
ica
d/h
arm
ôn
ica
d=0
Número da harmônica
Análise harmônica relativa
harmônicas d=3/d=0
harmônicas d=4,5/d=0
harmônicas d=6/d=0
harmônicas d=7,5/d=0
harmônicas d=9/d=0
45
Figura 55 – Para cada topologia, é apresentada em % a razão entre a 3ª, 5ª e 7ª harmônica em relação à
harmônica fundamental.
0 3 mm 4,5 mm 6 mm 7,5 mm 9 mm
1ª harmônica (Wb) 2,14 2,12 2,08 2,02 1,95 1,87
THD (%) 0,09 0,06 0,04 0,02 0,02 0,03
Tabela 8 – Valores da primeira harmônica e da distorção harmônica total (Total Harmonic Distortion,
THD) para cada topologia.
Com os resultados da tabela 8, verifica-se que a distribuição espacial do fluxo magnético
concatenado por fase tem uma pequena taxa de distorção harmônica em todas as topologias aqui
estudadas (sempre menor que 0,1%). Por outras palavras, o caráter de primeira harmônica é
dominante. O decréscimo desta harmônica, inerente a esta metodologia, é evidente. A partir de =
7,5 mm esta redução passa de 10%, verificado na figura 54. Na mesma imagem, observa-se uma
redução contínua da terceira harmônica com o aumento do deslocamento relativo entre estatores.
2.7. Cálculo das forças parasitas
Em cada posição do transladador e para cada situação de deslocamento entre os estatores,
foram medidas as forças de propulsão (eixo “x”) e as forças perpendiculares ao movimento (eixo “y”),
no transladador, pelo método do tensor de Maxwell, através do FEMM17
. Na figura 56, exibe-se, como
exemplo, o resultado do cálculo destas forças para a posição do transladador de 30º elétricos e com
= 4,5 mm.
O andamento espacial das forças parasitas de propulsão ao longo de 360º elétricos é exibido
na figura 57. Na figura 58, apresenta-se o andamento das forças parasitas no eixo perpendicular ao
movimento no mesmo período.
17
Para a aplicação deste método o FEMM gera automaticamente uma série de superfícies a serem integradas
que envolvem o bloco selecionado para o cálculo da força (neste caso, o bloco é o transladador). O resultado é a média das forças calculadas para cada superfície [35].
0,00
0,50
1,00
1,50
2,00
2,50
3,00
3 5 7
Raz
ão e
ntr
e c
ada
har
mô
nic
a e
a
fun
dam
en
tal (
%)
Número da harmônica
Conteúdo harmônico em relação à harmônica fundamental
harmônicas d=0/ 1 harmônica
harmônicas d=3mm/1 harmônica
harmônicas d=4,5mm/1 harmônica
harmônicas d=6mm/1 harmônica
harmônicas d=7,5mm/1 harmônica
harmônicas d=9mm/1 harmônica
46
Figura 56 – Cálculo das forças no transladador pelo método do tensor de Maxwell através do FEMM.
Figura 57 – Forças parasitas de propulsão em 360º elétricos para cada topologia.
Figura 58 – Forças parasitas no eixo y em 360º elétricos para cada topologia.
-300,00
-250,00
-200,00
-150,00
-100,00
-50,00
0,00
50,00
100,00
150,00
200,00
250,00
300,00
0 30 60 90 120 150 180 210 240 270 300 330 360
Forç
a (
N )
Posição ( º )
Forças parasitas de propulsão ( eixo x )
Forças parasitas d=0mm
Forças parasitas d=3mm
Forças parasitasd=4.5mm
Forças parasitas d=6mm
Forças parasitas d=7.5mm
Forças parasitas d=9mm
-250,00
-200,00
-150,00
-100,00
-50,00
0,00
50,00
100,00
150,00
200,00
250,00
0 30 60 90 120 150 180 210 240 270 300 330 360
Forç
a (
N )
Posição ( º )
Forças parasitas no eixo perpendicular ao movimento (eixo y)
Força parasita eixo y d=0
Força parasita eixo y d=3mm
Força parasita eixo y d=4.5mm
Força parasita eixo y d=6mm
Força parasita eixo y d=7.5mm
Força parasita eixo y d=9mm
47
Para a distância de 4,5 mm, em verde na figura 57, as forças parasitas possuem uma
evolução mais suave e o seu valor de pico é reduzido de 50% em relação à topologia sem
deslocamento relativo entre estatores. Contudo, as forças parasitas no eixo perpendicular ao
movimento são as mais críticas, chegando aos 250N (figura 58). A redução da harmônica
fundamental nesta configuração é de 3,4%.
Portanto, se o sistema de suporte da máquina for suficientemente robusto para aguentar o
aumento das forças no eixo perpendicular ao movimento, a troca entre 50% do valor máximo das
forças parasitas na direção do movimento e 3,4% da primeira harmônica do fluxo concatenado por
fase pode justificar esta topologia. A figura 59 procura destacar a antissimetria estabelecida nesta
configuração.
Figura 59 – Deslocamento = 4,5 mm, os dentes de um estator estão centrados nas cavas do outro.
2.8. Desenvolvimento da força de propulsão
A caracterização das forças parasitas, ou seja, das forças de relutância naturais da máquina
devido à sua geometria e materiais, permite a obtenção da força desenvolvida pelo gerador em carga.
Para isso, injeta-se uma corrente no estator e subtrai-se da força resultante total a componente
parasita.
A metodologia adotada para analisar a força de reação da máquina consistiu na injeção de
um valor constante de corrente em cada uma das fases, defasadas entre si de 120º elétricos, e na
movimentação do transladador em passos de 15º até 360º. Desta forma o fluxo de reação produzido
pelas correntes estatóricas possui uma distribuição constante no espaço. Com a variação da posição
do transladador, altera-se o desalinhamento entre o fluxo de reação das correntes do estator e o fluxo
de excitação dos magnetos. Em analogia às máquinas rotativas, este estudo permite descrever o
desenvolvimento da força em função do ângulo de carga 𝛅.
O valor de corrente escolhido corresponde ao valor nominal de operação quando estes
estatores eram utilizados para um motor linear de indução, de 3,3 Aef, conforme apresentado em
[36]. As correntes injetadas em cada fase do estator são:
48
[
]
[ √
√ (
)
√ (
) ]
[
]
A metodologia para o deslocamento do transladador e para a medição das forças foi mantida
conforme descrito na secção anterior. As figuras 60 e 61 apresentam, em 360º elétricos, o andamento
das forças de propulsão para as topologias de = 0 e 4,5 mm. A figura 62 exibe o andamento da
força desenvolvida pela máquina em função do ângulo de carga 𝛅 para cada topologia.
Figura 60 – Força de propulsão .
Figura 61 – Força de propulsão mm.
-1250
-1000
-750
-500
-250
0
250
500
750
1000
1250
0 30 60 90 120 150 180 210 240 270 300 330 360
Forç
a (
N )
Posição ( º )
Forças de propulsão d=0
Força de reação depropulsão
força de propulsão
Força parasita
-1250
-1000
-750
-500
-250
0
250
500
750
1000
1250
0 30 60 90 120 150 180 210 240 270 300 330 360Forç
a (
N )
Posição ( º )
Forças de propulsão d=4,5mm
Força de reaçãod=4.5mm
Força parasitad=4.5mm
Força de propulsãod=4.5mm
49
Figura 62 – Força de reação de propulsão em função do ângulo de carga 𝛅.
A comparação dos resultados das figuras 60 e 61 mostra o benefício na força de propulsão
ao se trabalhar com um deslocamento relativo entre os estatores. Na configuração com = 0, a
deformação da força de propulsão por conta das forças parasitas é clara, tornando-a bastante
irregular. Para o deslocamento de = 4,5 mm a força de propulsão é visivelmente menos deformada.
Constata-se pela figura 62 que a diferença entre as forças de reação destas topologias é
reduzida. Atingindo um máximo de 940 N, na topologia com = 0, e 910 N para = 4,5 mm.
2.9. Modelo de parâmetros concentrados em regime permanente
O modelo em parâmetros concentrados por fase de um gerador síncrono de magnetos
permanentes é dado pela sua força eletromotriz na velocidade do sincronismo e pela associação em
série da resistência dos enrolamentos do estator com a sua reatância síncrona.
Neste caso, por se tratar de um sistema de velocidade variável é necessário descrever a
força eletromotriz em função da frequência elétrica e o fenômeno reativo é caracterizado por uma
indutância. O seu circuito elétrico equivalente é apresentado na figura 63.
Figura 63 – Modelo elétrico de parâmetros concentrados por fase em regime permanente.
-1000
-750
-500
-250
0
250
500
750
1000
0 30 60 90 120 150 180 210 240 270 300 330 360
Forç
a (
N )
𝛅 ( º )
Força de reação de propulsão em função do ângulo 𝛅
Força de reação depropulsão d=0I=3.3Aef
Força de reação depropulsãod=4.5mm I=3.3Aef
50
Resistência interna: A resistência dos enrolamentos estatóricos desta máquina é um dado
apresentado em [36]. O seu valor é de 6,8 Ω por fase e por estator. Como a ligação entre os estatores
é feita em série, o valor total da resistência interna do gerador é = 13,6 Ω. Estes valores foram
confirmados com auxílio de um multímetro.
Indutância síncrona: O cálculo da indutância síncrona está descrito na secção 2.4.7. Seu
valor é de = 0,185 H.
Força eletromotriz: Considerando apenas a componente fundamental do fluxo magnético
ligado por fase, pode-se escrever a força eletromotriz em função da frequência elétrica :
(30)
Surge aqui a necessidade de corrigir os valores de pico dos fluxos magnéticos concatenados
por fase apresentados anteriormente na tabela 8, pois o modelo de simulação utilizado considera
magnetos com 77 mm de profundidade. O que significa uma área total do magneto por passo polar
de 77 x 25 mm2, enquanto a geometria 2, que é a escolhida para a construção do protótipo, apresenta
uma área total de magnetos de 50 x 25mm2 (figura 37).
O fator de correção aqui proposto consiste na razão entre a área magnética real e a área
magnética do modelo: . Aplicando este fator de correção, chega-se, para cada topologia,
aos resultados apresentados na tabela 9.
0 3 mm 4,5 mm 6 mm 7,5 mm 9 mm
(Wb) 1,39 1,38 1,35 1,31 1,27 1,21
Tabela 9 – Valor de pico do fluxo ligado máximo de primeira harmônica corrigido, para cada valor de
deslocamento relativo entre os estatores.
Assim, os parâmetros necessários para o estabelecimento do modelo são conhecidos. Na
situação sem deslocamento relativo entre os estatores tem-se:
E (V) (Ω) (H)
13,6 0,185
Tabela 10 – Modelo teórico de parâmetros concentrados em regime permanente do gerador, sem
deslocamento relativo entre estatores.
Principais conclusões:
Em relação às geometrias que foram consideradas possíveis para a definição do sistema de
excitação, pode-se dizer que foi escolhida aquela que proporciona o melhor desempenho à máquina,
pois a geometria 2 desenvolve um maior fluxo concatenado por fase e, consequentemente,
desenvolverá uma tensão induzida superior. Contudo, verifica-se que este gerador poderia ter o seu
desempenho melhorado caso tivesse sido possível dimensionar os magnetos para este caso
51
específico. Ocupando 65% do passo polar, por exemplo, e com magnetos de 77 mm de profundidade
(com área do magneto por passo polar de 77 x 35 mm2), conseguir-se-ia = 1,65 mWb e =
2,64 Wb na topologia sem deslocamento relativo entre estatores, 90% superior aos 1,39 Wb que se
obtém na geometria 2 (tabela 9). Considerando que a potência elétrica da máquina é proporcional ao
quadrado do fluxo magnético, isso significaria uma potência quase quatro vezes maior. Entretanto,
esta opção utilizaria um volume magnético 115% maior do que o utilizado na geometria 2, o que,
obviamente, encareceria o projeto.
A existência das forças parasitas traz acelerações e desacelerações indesejadas, que
deformam o movimento e, consequentemente, a forma de onda da tensão induzida. A metodologia do
deslocamento relativo entre os estatores consegue reduzir de forma significativa estas perturbações
e, com isso, espera-se conseguir um melhor desempenho mecânico e uma tensão induzida com
menor conteúdo harmônico.
A distribuição espacial do fluxo magnético ligado por fase é predominantemente de primeira
harmônica em todas as topologias aqui estudadas (THD 0,1%). Assim, assume-se que não há
prejuízo significativo em se estabelecer o modelo teórico apenas com a primeira harmônica. No
entanto, o valor de pico do fluxo magnético ligado por fase é reduzido gradualmente com o aumento
do deslocamento relativo entre estatores, como pode ser visto na tabela 9.
Para a máquina usada, o deslocamento relativo mais adequado é encontrado para = 4,5
mm, onde existe uma antissimetria entre os dois estatores. Nesta configuração, a variação da
relutância magnética no espaço se torna menor, o que provoca um andamento mais suave das forças
parasitas. Ainda nesta topologia, constata-se que a força de propulsão adquire uma forma de onda
com menor conteúdo harmônico.
Entretanto, chama-se a atenção que esta metodologia, ao reduzir as forças parasitas de
propulsão, insere forças parasitas no eixo perpendicular ao movimento. Este fator, embora não
reduza diretamente o desempenho da máquina, poderá trazer impactos mecânicos à estrutura de
suporte.
52
3. Operação em regime permanente: modelo teórico
3.1. Caracterização do acionamento
O sistema de acionamento é composto por dois braços de alumínio que convertem a rotação
de um eixo mecânico no movimento linear oscilatório do transladador. A figura 64 apresenta uma foto
deste sistema implementado no Laboratório de Máquinas Eléctricas do DEEC/IST. As suas principais
características são detalhadas na tabela 11. A figura 64 em conjunto com as equações (31), (32), (33)
e (34) caracterizam matematicamente o movimento do sistema.
Figura 64 – Sistema de acionamento composto por: dois braços mecânicos, uma caixa redutora e um
motor de indução.
Dimensões dos braços de alumínio
245 mm
640 mm
Espessura: 5 mm
Tabela 11 – Dimensões dos braços de alumínio.
Figura 65 – Modelo matemático do movimento dos braços mecânicos.
A modelagem matemática do movimento no eixo x é feita a partir das seguintes igualdades:
(31)
53
(32)
Assim:
(
) (33)
Escrevendo em função da frequência mecânica do eixo rotativo e do tempo , tem-se:
(34)
Com isso, estabelece-se a evolução temporal da posição do transladador em função de
, , , por:
( (
)) (35)
Derivando a equação (35) em função do tempo, chega-se a velocidade linear:
[
( (
))
√ (
) ]
(36)
A conversão entre a posição linear e o ângulo elétrico do gerador é dada por:
(37)
Logo:
(38)
E
(39)
Substituindo (36) em (39), chega-se a equação da frequência elétrica produzida por este
acionamento:
[ ( (
))
√ (
) ]
(40)
54
Vale a pena ressaltar que se
o movimento seria puramente cossenoidal e:
(
) (41)
(42)
Normalmente, a análise do desempenho destas máquinas é feita considerando-se
acionamentos com oscilação perfeitamente cossenoidal. As figuras 66 e 67 apresentam as diferenças
entre o sistema instalado e o sistema puramente cossenoidal com de 0,5 Hz.
Figura 66 – Posição e velocidade linear para o acionamento instalado e para o acionamento
perfeitamente cossenoidal.
Figura 67 - Evolução da frequência elétrica para o acionamento instalado e para o acionamento
perfeitamente cossenoidal.
55
3.2. Cálculo da tensão induzida por fase
Para o cálculo da tensão induzida por fase basta substituir as equações (35), (37) e (40) na
equação (30). Assim, chega-se a:
[ ( (
))]
[ (
)]
√ (
)
(43)
No caso de
, movimento puramente cossenoidal, ao inserir as equações (37), (41) e
(42) em (30), obtém-se:
[ (
) ]
(44)
Nas mesmas condições, mas aplicando uma translação no eixo de para que a oscilação
esteja centrada na origem do eixo :
(
) (45)
[
(
)]
(46)
A figura abaixo apresenta as diferenças entre forma de onda da tensão induzida com o
acionamento instalado e a forma de onda que ela teria se o acionamento fosse perfeitamente
cossenoidal.
Figura 68 – Comparação entre a forma de onda da tensão induzida por fase para um acionamento
perfeitamente cossenoidal e para o acionamento instalado.
56
3.3. Operação em regime trifásico equilibrado
O objetivo desta secção é descrever, usando o modelo teórico desenvolvido na secção 2.9, o
comportamento das grandezas elétricas do gerador quando acionado pelo sistema de braços
mecânicos instalados no laboratório. Para esta análise, fixaram-se os valores de em 1,39 Wb, o
qual corresponde à topologia sem deslocamento entre estatores, e da frequência mecânica em
0,5 Hz.
Em um gerador trifásico, a distribuição espacial do fluxo magnético ligado às bobinas possui
uma defasagem de 120º elétricos entre cada fase. Assim, pode-se escrever:
[
]
[
(
)
(
)]
(47)
Considerando uma carga resistiva indutiva genérica , composta por uma resistência e
uma indutância , o circuito elétrico equivalente por fase da operação da máquina nestas condições
é descrito na figura 69.
Figura 69 – Circuito elétrico equivalente por fase.
Ao aplicar a segunda lei de Kirchhoff, chega-se à seguinte igualdade matricial:
[
] [
]
[
] [
] [
]
Então,
[
] [
]
([
] [
] [
])
(48)
Assumindo =0 e =15 , resolveu-se esta equação diferencial numericamente. Este
valor de carga foi escolhido por se tratar de um valor próximo ao ponto de máxima potência do
gerador nestas condições. A figura 70 apresenta os resultados da força eletromotriz, da tensão na
carga, da corrente na carga e da potência na carga durante dois períodos mecânicos de operação.
57
Figura 70 – Formas de onda das grandezas elétricas obtidas pelo modelo teórico em regime trifásico equilibrado.
58
4. Protótipo e ensaios experimentais
4.1. Estrutura mecânica e sistemas de fixação do gerador linear
A figura 71 exibe a estrutura mecânica que suporta o gerador linear. Consiste numa gaiola de
aço composta por quatro peças: duas laterais, uma superior e uma inferior. A conexão entre estas
peças é feita por um conjunto de 8 parafusos, 24 porcas e 32 anilhas.
Figura 71 – Estrutura de suporte do gerador linear; gaiola de aço composta por quatro peças. Na imagem estão
circulados em vermelho os parafusos de fixação.
O sistema de suporte apresenta dois graus de liberdade por parafuso de fixação, um no eixo
lateral, permitido pelo rasgo da estrutura de aço, e outro no eixo vertical controlado pelo
posicionamento das porcas no parafuso, totalizando 16 graus de liberdade.
A figura 72 apresenta o suporte dos estatores, onde cada peça lateral possui seis rasgos,
onde são inseridos 6 parafusos, 24 porcas e 6 anilhas de pressão. Na fixação dos estatores não foi
possível estabelecer um deslocamento relativo entre eles, pois os rasgos das peças laterais já
haviam sido efetuados anteriormente. Portanto, os resultados experimentais apresentados a partir da
secção 4.5 foram obtidos para a topologia sem deslocamento relativo entre os estatores, = 0.
59
Figura 72 – Fixação dos estatores na gaiola de ferro através de 6 parafusos cada.
As fotos da figura 73 destacam: o trilho inferior para o movimento do transladador (na
esquerda, circulado em vermelho), um dos quatro carrinhos que são fixados nos trilhos inferior e
superior (circulado em azul, na esquerda) e o detalhe de um dos carrinhos no trilho superior, bem
como os seus rolamentos na foto da direita.
Figura 73 – Na esquerda é apresentado o trilho inferior, e um dos carrinhos em azul. Na direita vê-se em detalhe
um dos carrinhos.
O braço mecânico de maior comprimento é parafusado no transladador. Para as junções
entre braços e entre o maior braço mecânico e o transladador são utilizados rolamentos,
possibilitando o movimento cíclico. Na figura 74, é apresentado o conjunto dos quatro carrinhos lado-
a-lado e o detalhe da fixação do braço mecânico do transladador.
Figura 74 – Na esquerda, os quatro carrinhos lado-a-lado e na direta o detalhe da fixação do braço mecânico no
transladador e em vermelho está destacada a região onde o rolamento está instalado nesta junção.
60
4.2. Transladador e sistema de excitação
A figura 75 destaca o transladador com os magnetos já colados na posição de operação. O
transladador é constituído por uma peça acrílica de 1095 x 270 x 25 mm3 com quarenta cavidades de
25 x 25 mm2 para alojar os magnetos (vinte passos polares, detalhes no anexo 2). Estes foram
colados nas cavidades com cola Araldit de 320 Kg/cm. Na colagem não se conseguiu manter os
magnetos perfeitamente alinhados com a placa acrílica, gerando inclinações que deixam algumas
regiões dos magnetos mais próximas do ferro e outras mais afastadas.
Figura 75 – Transladador e sistema de excitação
Foram utilizadas ainda duas placas acrílicas de 1000 x 100 x 3 mm3, uma de cada lado do
transladador para proteger os magnetos do contato com os estatores, limitando em três milímetros a
distância entre eles, e, também, para ajudar no ajuste do entreferro.
4.3. Estabelecimento do entreferro
Para o estabelecimento do entreferro mecânico em 6 mm de cada lado do transladador foram
utilizadas as placas acrílicas coladas no transladador de 3 mm e outras duas placas de 2 mm cada. O
objetivo era que estas placas juntas, mais a espessura da cola em cima dos magnetos e uma
distância que permitisse o movimento do transladador, sem encostar-se aos estatores, atingisse os
6mm. No entanto, em operação, verificou-se que, nestas condições, havia a tendência do
transladador encostar-se a um dos estatores por existir uma pequena liberdade de movimento entre
os carrinhos e os trilhos e, também, das estruturas laterais da gaiola. Desta forma, foi necessário
aumentar ligeiramente o entreferro de cada lado e confeccionar apoios em madeira para limitar a
amplitude da vibração das estruturas laterais da gaiola de aço (figura 76, foto da esquerda). Ainda
assim, em operação o entreferro não se manteve simétrico tendendo sempre a permanecer mais
próximo de um dos estatores (figura 76, foto da direita).
61
Figura 76 – Sistema de apoio feito em madeira e detalhe da assimetria do entreferro em operação.
4.4. Descrição da bancada experimental
O aparato experimental instalado em laboratório consiste num autotransformador ligado a
rede elétrica que alimenta um motor de indução da Siemens de 1 kW, 380 V e rotação nominal 1370
RPM. O seu eixo é conectado a um sistema de engrenagens redutor de velocidade que aciona os
braços mecânicos, responsáveis pelo movimento linear do transladador.
Para a aquisição dos dados foi utilizado um osciloscópio Tektronix 2014. Os valores de
tensão foram medidos com pontas de prova com atenuação de 10x e as correntes foram obtidas por
sondas de corrente de efeito Hall. Para a medição da posição do transladador, usou-se um sensor de
posição ultrassônico UNAM 18U6903/S14 da Baumer. A carga resistiva foi estabelecida por três
reostatos de 50 Ω / 5 A. Para a carga retificada foi utilizado um conversor CA/CC de diodos em ponte
com um filtro indutivo em série, = 1,336 H. A figura 77 apresenta um panorama geral da
bancada experimental.
Figura 77 – Descrição da bancada experimental.
62
4.5. Metodologia para comparação e avaliação dos resultados
A maioria dos parâmetros necessários para caracterizar o gerador depende da velocidade.
Como o sistema de acionamento instalado não permite a operação em velocidade constante
procurou-se identificar uma região onde a variação da velocidade fosse mínima (quase regime
permanente) e, a partir daí, analisar os dados de forma sistemática.
Figura 78 – Em cima: tensão em vazio para frequência mecânica de 1Hz, destacado em amarelo o período
escolhido para a análise dos resultados. Em baixo: variação da posição com destaque em amarelo da região
onde a velocidade é quase constante.
O período escolhido para a análise dos dados está identificado na figura 78, onde se
apresenta a evolução da tensão em cada uma das fases para o ensaio em vazio, com frequência
mecânica de 1Hz. Este período corresponde ao terceiro período da fase A começando por um semi-
ciclo negativo com o transladador a se deslocar no sentido positivo do eixo x (destacado em
amarelo). Os valores eficazes calculados para correntes e tensões dos ensaios que vem a seguir são
referentes a este período específico de operação. A figura 78 mostra, ainda, a evolução espacial do
transladador neste ensaio, destacando em amarelo a região do período de análise.
O anexo 3 deste trabalho complementa as secções 4.5 a 4.10, apresentado imagens dos
ensaios experimentais.
63
4.6. Ensaio em vazio
Foram realizados cinco ensaios em vazio com diferentes valores de alimentação do motor de
indução até a tensão nominal de 380 V. Os resultados são apresentados na tabela 12 e na figura 79.
(Hz) (Hz) (m/s) (Vef)
0,83 11,34 1,24 69,60
0,86 12,34 1,35 75,58
0,89 12,41 1,36 76,51
0,96 13,89 1,52 81,72
1,00 14,53 1,59 87,38
Tabela 12 – Resultado ensaios em vazio para diferentes valores de frequência.
Figura 79 – Tensão em vazio em função da frequência elétrica do período de análise.
Análise harmônica da tensão induzida
A análise harmônica da tensão induzida foi realizada utilizando-se os dados do ensaio com
alimentação nominal do motor de indução e frequência mecânica de 1 Hz. A comparação entre a
forma de onda da força eletromotriz teórica e experimental é apresentada na figura 80. O resultado da
análise harmônica é exibido na figura 81 e na tabela 13.
y = 6,0507x R² = 0,9473 50
60
70
80
90
10 11 12 13 14 15
Ten
são
( V
ef
)
Frequência Elétrica ( Hz )
Tensão em vazio em função da frequencia elétrica
Vazioexperimental
Vazio teórico
Linear (Vazioexperimental)
64
Figura 80 – Comparação entre a forma de onda da tensão induzida teórica e experimental.
Figura 81– Análise Harmônica da tensão induzida em vazio.
Harmônica Teórica (Vef) Experimental (Vef)
1 90,84 86,26
3 1,02 8,34
Tabela 13 – Comparação entre a primeira e terceira harmônica da tensão induzida experimental e teórica no
período de análise.
Experimentalmente verifica-se o surgimento de uma terceira harmônica com um valor de
9,7% em relação à harmônica fundamental e uma redução de 5% da primeira harmônica.
As principais diferenças entre as condições teóricas e experimentais são:
O modelo teórico considera um entreferro mecânico simétrico de 6 mm de cada lado
do transladador. Na prática, foi necessário estabelecer um entreferro ligeiramente
superior e, em operação, ele não permaneceu simétrico (figura 76).
0102030405060708090
100110120130140
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10
Ten
são
(V
)
Número da Harmônica
Análise Harmônica da tensão induzida em vazio
Análise Harmônica tensãoteórica
Análise Harmônica tensãoexperimental
65
As perturbações no movimento causadas pelas forças parasitas também não são
incluídas no modelo. Estes impactos são agravados por não ter sido possível
estabelecer o deslocamento relativo entre estatores de = 4,5 mm para atenuá-las.
As imperfeições na colagem dos magnetos também introduzem diferenças entre as
condições reais de operação e as condições de simulação.
Apesar das considerações citadas, o modelo teórico apresenta desvios relativamente
pequenos em relação aos resultados experimentais. No modelo teórico inicial
√
Vef (tabela 10), na regressão linear da figura 79 Wb. Assim deve-se
corrigir o valor de pico do fluxo magnético concatenado por fase de 1,39 Wb para 1,362 Wb. O que
representa uma diferença de 2%.
4.7. Ensaio em curto-circuito
Para o ensaio em curto-circuito o motor de indução foi alimentado com tensão nominal. A
tabela 14 apresenta os valores da frequência elétrica, da velocidade linear e o valor eficaz da corrente
no período de análise. A figura 82 exibe a forma de onda da corrente de curto-circuito em
aproximadamente um período mecânico.
(Hz) (m/s) (Aef)
13,76 1,51 3,70
Tabela 14 – Resultados ensaio em curto-circuito
Figura 82 – Corrente de curto-circuito.
Com os resultados da secção anterior e da tabela 14, torna-se possível calcular o valor
experimental da indutância síncrona do gerador, recorrendo-se a relação (49). A tabela 15 apresenta
os valores utilizados para o cálculo desta indutância, bem como a comparação entre os seus valores
experimental e teórico.
66
(
)
(49)
(Hz) E (Vef) (Aef) (Ω) experimental (H) teórica (H) Erro (%)
13,76 83,25 3,70 13,6 0,207 0,185 11
Tabela 15 – Indutância síncrona calculada experimentalmente.
O erro entre as indutâncias síncronas teórica e experimental é de 11%. As principais fontes
de erro são:
A contribuição das bobinas de compensação para o valor da indutância síncrona não
foi levada em consideração.
Como visto na secção 2.4.6, tudo indica que o aço real deste estator é de grão
orientado e, desta forma, a diferença entre as suas características e as
características do M-15 Steel, usado na simulação, de grão não-orientado,
influenciam no valor da indutância.
Análise harmônica da corrente de curto-circuito
A análise harmônica da corrente de curto-circuito foi realizada recorrendo-se ao período de
análise da imagem 82. A comparação entre as correntes de curto-circuito teórica e experimental é
apresentada na figura 83. A figura 84 e a tabela 16 exibem os resultados do estudo harmônico.
Figura 83 – Comparação entre a corrente de curto-circuito teórica e experimental.
67
Figura 84 – Análise harmônica da corrente de curto-circuito.
Harmônica Teórica (Aef) Experimental (Aef)
1 3.81 3,69
3 0.08 0,11
Tabela 16 – Comparação entre a primeira e terceira harmônica da corrente de curto-circuito teórica e
experimental.
Com a análise da tabela 16, verifica-se que a terceira harmônica é pequena em relação à
fundamental (3%). A diferença entre a primeira harmônica teórica e experimental ocorre,
principalmente, pela discrepância entre os valores teórico e experimental da indutância síncrona da
máquina.
Modelo em regime permanente corrigido:
Com os resultados experimentais obtidos, os parâmetros do circuito elétrico equivalente do
gerador (tabela 10) foram corrigidos para os valores apresentados na tabela 17.
(V) (Ω) (H)
13,6 0,207
Tabela 17 – Parâmetros corrigidos do gerador em regime permanente por fase.
4.8. Ensaios com carga resistiva trifásica equilibrada
A carga resistiva foi regulada com o auxílio de um multímetro digital. Em cada ensaio
manteve-se a tensão nos terminais do motor de indução constante e no seu valor nominal,
procurando minimizar, assim, a diferença de velocidade do transladador de ensaio para ensaio. Os
resultados destes ensaios são apresentados na tabela 18.
0
1
2
3
4
5
6
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
Co
rre
nte
( A
)
Número da harmônica
Análise Harmônica da Corrente de Curto-Circuito
Análise Harmônicada corrente decurto-circuitoteórica
Análise harmônicada corrente decurto-circuitoexperimental
68
Rc
(Ω)
(Hz)
(m/s)
Ic
medida
(Aef)
Ic
teórica
(Aef)
Vc_linha18
medida
(Vef)
Vc_linha
teórica
(Vef)
Potência
medida
(W)
Potência
Teórica
(W)
Regulação
(%)
50 14,01 1,534 1,29 1,28 107,4 110,95 239,97 246,21 36,7
40 14,02 1,535 1,51 1,50 99,30 103,80 259,83 269,34 47,9
30 13,93 1,525 1,77 1,78 90,00 92,75 275,91 286,74 62,2
20 13,85 1,516 2,20 2,20 72,38 76,14 275,82 289,83 100,5
15 13,77 1,508 2,51 2,47 59,39 64,14 258,21 274,26 143,0
10 13,87 1,519 2,80 2,82 47,84 48,93 232,02 239,4 203,8
5 13,79 1.510 3,27 3,23 24,96 27,95 141,36 156,39 479,0
Tabela 18 – Ensaio em carga resistiva trifásica equilibrada.
Para analisar adequadamente a variação da tensão e da potência em função da corrente,
optou-se por extrapolar estes resultados para um valor constante de frequência elétrica, para isso foi
escolhida = 14,53 Hz. Este valor foi escolhido pois é a frequência elétrica do período de análise
encontrada no ensaio em vazio com tensão nominal aplicada ao motor de indução e, porque,
corresponde a uma frequência mecânica de exatamente 1 Hz. Mais a frente os dados serão
analisados em função da sua frequência mecânica e, assim, o valor de 1 Hz é mais conveniente.
Este procedimento foi realizado considerando-se a linearidade entre a tensão e a corrente de
carga experimentais em relação à frequência elétrica do período de análise. Portanto, a variação da
reatância interna foi desprezada nesta extrapolação. Estes resultados para = 14,53 Hz ( = 1,59
m/s) são apresentados nas figuras 85 e 86.
Figura 85 – Curva V x I, = 14,53 Hz, = 1,59 m/s.
18
Vc_linha se refere à tensão composta na carga. Experimentalmente foram medidos os valores da tensão de
fase na carga (tensão simples). Os valores da tabela foram calculados multiplicando-se a tensão de fase por √ .
0
20
40
60
80
100
120
140
160
0,00 1,00 2,00 3,00 4,00 5,00
Ten
são
( V
)
Corrente ( A )
Característica V x I
Curva V x Iexperimental
Curva V x Iteórica
69
Figura 86 – Curva P x I, = 14,53 Hz, = 1,59 m/s.
Com os valores experimentais da tensão e da corrente na carga (extrapolados para = 14,53
Hz) calculou-se o ângulo de carga 𝛅. Estes resultados são apresentados na figura 86.
Figura 87 – Ângulo 𝛅 x I, = 14,53 Hz, = 1,59 m/s.
Da figura 86 retira-se que, na melhor das hipóteses, este gerador produz 300 W. Contudo,
nestas condições as perdas são significativas, atingindo no cobre 217 W.
O alto caráter resistivo desta máquina é visto de forma clara na figura 87, onde no curto-
circuito o “ângulo de carga”19
é 55º ou invés dos 90º que seriam esperados na representação típica
de uma máquina síncrona, onde a resistência interna pode ser desprezada.
19
Como a tensão na carga é nula no curto-circuito, falar em ângulo de carga não faz sentido. Neste caso, esse
valor corresponde à defasagem entre a força eletromotriz e a corrente.
0
50
100
150
200
250
300
350
0,00 1,00 2,00 3,00 4,00 5,00
Po
tên
cia
( V
A )
Corrente ( Aef )
Potência
Potênciateórica
Potênciaexperimental
0,0
10,0
20,0
30,0
40,0
50,0
60,0
0,00 1,00 2,00 3,00 4,00 5,00
𝛅 (
º )
Corrente ( A )
Ângulo 𝛅 em função da carga
Ângulo de cargaexperimental
Ângulo de cargateórico
70
4.9. Ensaios com carga retificada
A operação normal destes geradores é feita através da ligação assíncrona à rede elétrica.
Desta forma é importante observar os possíveis impactos desta opção no seu funcionamento. Os
ensaios foram realizados com um retificador em ponte de diodos em conjunto com um filtro indutivo
em série de . A figura 88 exibe as formas de onda típicas da tensão e da corrente no
lado CC, bem como da corrente na fase do gerador. É destacada, também, a região do período de
análise.
O estudo da operação do gerador em carga retificada é feito pela mesma metodologia
utilizada para a carga trifásica equilibrada descrita na secção 4.5. A variação da carga resistiva foi
feita de forma progressiva de 150 Ω até o curto-circuito. Os resultados destes ensaios são exibidos na
tabela 19.
Figura 88 – Em cima: Formas de onda da tensão (verde) e da corrente (azul) retificada para carga resistiva de
150 ohms. Em baixo: Corrente alternada na fase A do gerador linear. Em cada imagem está destacado em
amarelo o período de análise dos resultados.
Verifica-se, na tabela 19, a existência de um valor médio de tensão mesmo sem resistência
de carga. Esse valor médio corresponde à queda de tensão média na resistência do filtro. Com os
resultados deste ensaio em curto-circuito, chega-se a uma resistência de filtro de 3,17 Ω.
Para o levantamento das curvas de tensão e potência em função da carga optou-se,
novamente, por extrapolar os dados para o valor constante de frequência elétrica = 14,53 Hz com
as mesmas premissas já referidas. Os resultados nestas condições são apresentados nas figuras 89
e 90.
71
(Ω) (Hz) (m/s) I DC(A) V DC (V) Potência (W)
150 13,84 1,515 0,98 149,63 147,27
100 14,08 1,542 1,32 135,30 178,74
50 14,18 1,553 2,07 109,56 226,42
40 13,85 1,517 2,39 100,65 240,25
30 13,89 1,521 2,71 91,84 248,60
25 13,89 1,521 2,93 82,52 241,79
15 13,72 1,502 3,47 60,32 209,27
0 13,79 1,510 4,49 14,22 63,87
Tabela 19 – Resultados experimentais dos ensaios com retificação.
Figura 89 – Curva característica tensão e corrente no lado DC, = 14,53 Hz, = 1,59 m/s.
Figura 90 – Potência em função da carga retificada, = 14,53 Hz, = 1,59 m/s.
0
20
40
60
80
100
120
140
160
180
0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5 5
Ten
são
( V
)
Corrente ( A )
Curva Vdc x Idc
0
50
100
150
200
250
300
0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4 4,5 5
Po
tên
cia
( W
)
Corrente ( A )
Potência DC em função da carga
Potência emfunção dacarga nolado DC
Potência útilna carga
72
Comparando-se a figura 90 com os resultados da figura 86 da secção anterior, percebe-se
uma redução significativa entre a potência útil máxima em operação retificada e em regime alternado,
de 300 para 250 W. Esta redução é provocada não só pela dissipação de potência na ponte
retificadora, mas, também, pela deformação harmônica das correntes internas do gerador e, neste
caso, ainda há um agravamento devido à resistência do filtro instalado. Caso a resistência do filtro
fosse nula, a potência máxima atingida seria de 270 W, 90% da potência máxima em regime
trifásico.
A introdução das harmônicas ímpares na corrente do gerador também gera flutuações na
força eletromagnética. Em especial, cita-se o impacto da quinta harmônica que é de sequência
inversa e, assim, produz uma força de sexta harmônica contrária à força fundamental.
Experimentalmente, no ensaio com carga de 150 Ω, o valor da quinta harmônica da corrente do
gerador no período de análise (destacada em amarelo na figura 88) atingiu 18% da harmônica
fundamental.
4.10. Curvas características em um período mecânico
Os valores de tensão, corrente e potência retificados são agora apresentados com seus
respectivos valores médios em um período mecânico. A figura 91 apresenta as formas de onda
típicas da tensão e da corrente no lado CC, indicando os seus respectivos valores médios. A figura 92
apresenta a potência retificada para carga de 25 e o seu valor médio.
As figuras 93 e 94 exibem estes resultados corrigidos para a frequência mecânica de 1 Hz.
Esta correção foi feita considerando-se linearidade entre os valores de tensão e corrente médias em
um período mecânico e os valores de frequência elétrica do período de análise, considerando que a
frequência elétrica de 14,53 Hz no período de análise representa a frequência de 1 Hz no período
mecânico. Ou seja, utilizou-se o mesmo fator multiplicativo da secção anterior. Não se pode
considerar linear a relação entre a tensão e a corrente com a frequência mecânica, pois, para este
sistema de acionamento, esta relação é não linear (equação 43). Nestas condições de operação a
velocidade linear média em um período mecânico é de = 0,98 m/s.
Figura 91 – Tensão e corrente retificada com indicação em linha pontilhada do valor médio em um período
mecânico para carga de 25 Ω.
73
Figura 92 – Forma de onda e valor médio da potência entregue ao lado DC em um período mecânico. Valor
médio indicado pela linha pontilhada.
Figura 93 – Característica Vdc x Idc em um período mécanico, = 1 Hz, = 0,98 m/s.
Figura 94 – Potência média em um período mecânico para a operação retificada em função da carga, = 1
Hz, = 0,98 m/s.
0
20
40
60
80
100
120
0 0,5 1 1,5 2 2,5 3 3,5 4
Ten
são
( V
)
Corrente ( A )
Característica Vdc x Idc em um período mecânico
0102030405060708090
100110120
0 1 2 3 4
Po
tên
cia
( W
)
Corrente ( A )
Potência em função da carga, em um período mecânico
Potênciana cargaDC
Potênciaútil DC
74
Estes resultados apresentam claramente os efeitos da redução de potência devido à
modulação da velocidade, a qual é uma característica inerente ao regime oscilatório. Apresentando
em um período mecânico um máximo de potência de 100 W enquanto no período de análise da
secção anterior, quando a velocidade é praticamente constante, este valor atingia 250W, ou seja uma
redução de 60%.
Principais conclusões em um período de análise com = 14,53 Hz, = 1,59 m/s.
O principal resultado esperado da análise em velocidade constante é a validação do circuito
elétrico equivalente da máquina. Com o auxílio dos ensaios em curto-circuito e em vazio conseguiu-
se corrigir o modelo previamente estabelecido e determinar o circuito elétrico equivalente do gerador
que representa, com boa precisão, o comportamento da máquina. Utilizando este modelo, os erros na
tensão, corrente e potência foram sempre inferiores a 10%.
A potência máxima extraída do gerador em carga trifásica equilíbrada é de 300 W, com
perdas no cobre de 217 W. Resultando, no melhor cenário, em 9,38 W/Kg e em, aproximadamente,
9,64 kN/m2.
Na operação retificada foi possível observar a deformação da corrente na fase do gerador e a
redução da potência útil na carga devido às perdas no processo de retificação e, neste caso, ainda
agravadas pelas perdas no filtro. Nestas condições, a potência útil máxima na carga é de
aproximadamente 250 W, o que representa uma redução de 17% em relação aos 300 W obtidos em
carga trifásica equilíbrada.
Outra questão relevante se refere às condições térmicas. Esta máquina foi projetada para
trabalhar com um valor máximo de corrente por fase de 3,3 Aef e possui uma constante de tempo
térmica global de 37 minutos [36]. No entanto, na figura 85, observa-se que a máxima potência em
carga trifásica equilibrada é atingida para um valor de corrente de 2,2 Aef. Isso indica que estas
condições de operação não aproveitam adequadamente os enrolamentos estatóricos.
Principais conclusões em um período mecânico = 1Hz, = 0,98 m/s.
O potência elétrica média no período mecânico ensaiado atinge um máximo de 100 W com
corrente no lado CC de 1,8 Aef. Isso significa uma redução de 60% na potência em relação aos 250
W atingidos em velocidade constante com = 14,53 Hz e = 1,59 m/s.
Para este valor de 1,8 Aef no lado CC, o valor eficaz da corrente por fase do gerador é de 1,4
Aef. Como a constante de tempo térmica do gerador é bastante superior ao período mecânico, esta
máquina poderia trabalhar com uma corrente eficaz por fase máxima em um período mecânico de 3,3
Aef. Isso indica que nestas condições o cobre é ainda pior aproveitado.
75
5. Análise para um regime real de ondas
Neste capítulo pretende-se comparar as características do protótipo instalado em laboratório
com características reais das ondas na costa portuguesa. Para isso será feita a hipótese que o
sistema de dois braços instalado possa simular mecanicamente o comportamento ondulatório de um
grupo de ondas com altura significativa e período energético , representados por e com:
Metodologia para extrapolação dos resultados
A metodologia utilizada para que um protótipo possa representar uma operação real consiste
em se manter as relações entre as forças gravitacionais, inerciais e viscosas no modelo idênticas às
relações que seriam encontradas na situação real.
Isso é possível mantendo-se constante o número de Froude e o número de Reynolds. O
número de Froude é proporcional à razão entre as forças inerciais e gravitacionais e o número de
Reynolds é proporcional à razão entre as forças inerciais e viscosas.
Para os conversores de energia das ondas, na maior parte dos casos, as forças viscosas
podem ser desprezadas e, desta forma, para a construção do protótipo basta manter constante o
número de Froude. Assume-se, portanto, que a influência das forças viscosas é desprezível e, assim,
a metodologia consiste em se manter o número de Froude inalterado [53] [54].
O número de Froude é escrito em função da velocidade , da aceleração da gravidade e
da grandeza linear .
√
(50)
Define-se o fator de escala pela razão entre a grandeza linear do protótipo e a grandeza
linear real :
(51)
Assumindo a grandeza temporal do protótipo e as grandeza temporal real, para
preservar o número de Froude constante a seguinte relação deve ser estabelecida:
√ (52)
76
Regime de ondas em Portugal
O regime das ondas na costa potuguesa foi obtido pela referência [34] e é apresentado na
figura 95. Os dados desta tabela correspondem a quantidade de horas por ano em que as ondas
tiveram a altura significativa, em metros, apresentada no eixo vertical e o período de energia
descriminado na horizontal em segundos.
Figura 95 – Regime de ondas na costa portuguesa, imagem retirada da referência [34].
A tabela 20 exibe, para diferentes fatores de escala, os valores de reais de altura e período
da onda simulada no protótipo instalado em laboratório.
(m) (s)
0,50 1,00
1,00 1,41
1,50 1,73
2,00 2,00
2,50 2,24
3,00 2,45
3,50 2,65
4,00 2,83
4,50 3,00
5,00 3,16
5,50 3,32
6,00 3,46
6,50 3,60
7,00 3,74
Tabela 20 – Valores de e para cada fator de escala . Com e .
Com os resultados da tabela 20, observa-se que a relação entre altura e período de onda
simulados em laboratório não podem representar ondas reais da costa portuguesa mantendo o
número de Froude constante.
77
Extrapolação dos resultados
Por mais que os resultados experimentais não possam ser trazidos diretamente para a
comparação aqui pretendida, uma vez que o modelo da máquina está estabelecido e validado é
possível analisar teoricamente o desempenho esperado da máquina. Para isso será utilizada como
referência a onda com maior incidência na costa portuguesa com = 1,5 m e = 6 s. Com estes
valores e considerando uma escala
tem-se: = 0,5 m e = 3,46 s. Assim a frequência
mecânica a ser utilizada no modelo teórico é = 0,289 Hz. Nestas condições a velocidade linear
média em um período mecânico é = 0,289 m/s.
A figura 96 exibe as formas de onda teóricas da força eletromotriz, da tensão na carga, da
corrente e da frequência elétrica para a carga trifásica resistiva de 15 Ω. A figura 97 apresenta a
potência teórica desenvolvida em um período mecânico para carga trifásica resistiva de 50, 40, 30,
20, 15, 10, 5 Ω e em curto-circuito.
Figura 96 - Resultados teóricos para = 0,5 m, = 3,46 s, Rc = 15 Ω e = 0,289 m/s.
78
Figura 97 – Potência em função da carga em um período de onda, = 0,289 m/s.
A máxima potência a ser extraída pela máquina nestas condições é de 17,8 W com
rendimento de 51%. O valor eficaz em um período mecânico da corrente no ponto de máxima
potência é de 0,63 Aef.
A estimativa da potência a ser produzida na escala real é dada pela seguinte equação
(ref.[53]):
(53)
Desta forma, o valor máximo de potência produzida em escala real seria de 795 W. A
potência disponível nesta onda é de 6,61 kW/m.
Principais conclusões
Estes resultados indicam que o protótipo é mal aproveitado nestas condições de operação.
Atingindo, na melhor das hipóteses: 0,56 W/Kg, 4 kN/m2 e corrente eficaz por fase igual a 18% do
máximo permitido.
Este estator foi dimensionado para trabalhar com frequência elétrica de 50 Hz. Neste caso, a
frequência elétrica média em um período mecânico é de 2,64 Hz. Portanto, como a indução
magnética é limitada pelas características físicas dos materiais, ou seja, não se consegue aumentar
muito os valores de fluxo magnético (ainda mais com entreferros tão elevados), a deterioração da
tensão induzida, quando submetida a uma frequência quase 20 vezes inferior é inevitável.
Os valores médios de velocidade das ondas em Portugal encontram-se entre 0,22 e 1,33 m/s.
Desta maneira, percebe-se que o ponto de operação escolhido para realizar esta extrapolação
provavelmente não deverá ser o ponto nominal de operação de um gerador devidamente
dimensionado para o regime de ondas da costa portuguesa. Neste sentido, é natural que a máquina
0
10
20
30
40
50
60
70
0 0,2 0,4 0,6 0,8 1 1,2 1,4
Po
tên
cia
(W)
Corrente por fase (Aef)
Potência em um período da onda em função da carga
Potência útil na carga
Perdas no cobre
perdas no ferro
Potência total
79
esteja subaproveitada quando sujeita a velocidade de 0,289 m/s. Entretanto, como visto na secção
anterior, este protótipo é mal aproveitado mesmo para a velocidade de 1,59 m/s, superior às
velocidades das ondas da costa portuguesa. Assim, pode-se afirmar que esta máquina não está bem
dimensionada para este regime de ondas.
80
6. Conclusões
Neste trabalho procurou-se dimensionar o sistema de excitação de forma a garantir o melhor
desempenho possível, tendo em conta as limitações impostas pelos materiais disponíveis. Entretanto,
se tivesse sido possível definir as dimensões dos magnetos para aproveitar de forma mais adequada
o passo polar, os resultados poderiam melhorar significativamente (supondo que isto não seria um
problema para o sistema de suporte mecânico). Ao se utilizar magnetos com dimensões de 35 x 25 x
77 mm3, a potência desenvolvida pelo gerador seria quase quatro vezes maior. Contudo, o volume de
magnetos utilizados nesta topologia seria 115% superior ao volume utilizado no protótipo, o que
encareceria consideravelmente o projeto.
O deslocamento relativo entre estatores mostrou-se eficaz para atenuar as forças parasitas.
Para o deslocamento relativo considerado mais adequado ( = 4,5 mm), que consiste numa posição
de antissimetria entre os estatores, há uma redução de 50% no valor de pico da força parasita de
propulsão e uma diminuição de 3,4% na harmônica fundamental do fluxo magnético ligado por fase.
Contudo, verificou-se que esta metodologia introduz forças no transladador perpendiculares ao
movimento, que, dependendo da forma como o sistema de suporte é elaborado, poderá, também, ser
relevante.
Este sistema de acionamento composto por dois braços mecânicos consegue, com certa
simplicidade, simular um movimento, aproximadamente, cossenoidal. Contudo, introduz dificuldades
para a caracterização dos parâmetros da máquina. Seria interessante que este sistema permitisse a
operação em duas condições diferentes: em velocidade constante, para se caracterizar
adequadamente os parâmetros elétricos do gerador, e com velocidade cossenoidal, para analisar o
seu desempenho em regime oscilatório. Por conta da forma com a qual esse sistema esta instalado
em laboratório, não foi possível medir características importantes, como o rendimento total da
máquina e as perdas no ferro.
A gaiola mecânica que suporta o gerador é interessante por possuir muitos graus de
liberdade e permitir testar diferentes tipos de protótipos, com diferentes topologias e dimensões. No
entanto, como as forças de atração entre os magnetos e os estatores são muito elevadas nesta
topologia, esta estrutura de suporte proporciona amplitudes de vibração demasiadamente extensas
para se trabalhar com entreferros pequenos. Desta forma, a operação só foi possível após a
construção de apoios suplementares de madeira, que tem baixa fiabilidade. Além disso, este fator em
conjunto com o espaçamento entre os carrinhos e os trilhos impediu a operação com um entreferro
simétrico. Para se ter uma estrutura que permita ensaios por tempo prolongado de geradores
lineares, com esforços desta ordem de grandeza, é necessário repensar o sistema de suporte. Outra
possibilidade é utilizar configurações que diminuam as forças perpendiculares ao movimento, como
as topologias slotless ou com núcleo de ar.
81
Outras questões mecânicas observadas neste trabalho que devem ser repensadas em
trabalhos futuros são: os excêntricos dos carrinhos, que na prática se mostraram difíceis de regular e
a fixação do braço mecânico no transladador, havendo a tendência de, em operação, danificar o
parafuso de fixação do rolamento (figura 74).
Para validar o modelo teórico do gerador, procurou-se trabalhar numa região onde a
velocidade do acionamento é praticamente constante. Observou-se que, mesmo com todas as
diferenças entre o modelo de simulação e o protótipo, o modelo teórico apresentou resultados
razoáveis, com erro de 2% no valor do fluxo magnético ligado por fase e de 11% na indutância
síncrona. Com os parâmetros corrigidos experimentalmente estabeleceu-se um modelo elétrico que
representa com boa precisão o comportamento do gerador. Nos ensaios realizados, a diferença entre
os resultados teóricos e experimentais foi sempre inferior a 10%.
Em carga trifásica equilibrada com velocidade aproximadamente constante de 1,59 m/s ( =
14,53 Hz), o protótipo desenvolveu no melhor cenário: 300 W de potência útil, 217 W de perdas nos
enrolamentos estatóricos e corrente por fase igual a 66% da máxima permitida. Resultando em 9,38
W/Kg e em 9,64 kN/m2.
Em carga retificada, ainda com velocidade constante de 1,59 m/s, a potência útil máxima
desenvolvida pelo gerador foi de 250 W. Nesta situação, mas em um período mecânico com
velocidade linear média de 0,98 m/s ( = 1 Hz), a potência útil máxima obtida foi de 100 W.
As ondas da costa portuguesa possuem velocidades entre 0,22 e 1,33 m/s. Verificou-se que o
protótipo não está devidamente dimensionado para operar nestas condições, principalmente por não
conseguir estabelecer níveis adequados de tensão induzida e pela elevada impedância interna (com
alto caráter resistivo), que, em conjunto, trazem o ponto de máxima potência do gerador para valores
de corrente inferiores ao permitido. Para a onda de maior incidência, o protótipo desenvolve:
frequência elétrica média em um período mecânico de 2,64 Hz, velocidade linear média de 0,289 m/s,
potência útil máxima de 17,8 W e corrente no ponto de máxima potência de 18% da permitida. A
estimativa da potência produzida em escala real neste caso é de 795 W.
Pela relação (39) verifica-se que para aumentar a frequência elétrica de operação é
necessário reduzir o tamanho do passo polar destes geradores. Para um passo polar relativamente
pequeno de, por exemplo, 30 mm a frequência elétrica média desenvolvida pela máquina quando
submetida ao regime de ondas da costa portuguesa estará entre 3,5 e 22 Hz. O que significa que,
pela dificuldade de se estabelecer passos polares muito pequenos, provavelmente será necessário
operar com valores reduzidos de frequência elétrica, exigindo máquinas com grandes dimensões
para estabelecer a tensão induzida desejada. Neste sentido, as topologias de relutância variável,
como a VHM, e de fluxo transversal podem facilitar esta questão.
Analisando, ainda, os valores médios da velocidade das ondas na costa portuguesa, observa-
se que para conseguir extrair uma potência de, por exemplo, 1MW são necessários valores de força
82
entre 750 kN e 4500 kN. Para se trabalhar com forças desta ordem de grandeza, o projeto do gerador
deverá permitir a passagem de uma elevada densidade de corrente, requerendo um sistema eficaz
de arrefecimento.
As dificuldades em se construir geradores lineares desta ordem de grandeza com uma
topologia convencional foram evidenciadas pela empresa AWS, que acabou por desistir deste
conceito. Alguns protótipos, como os da Seabased AB e da Trident Energy, têm optado por
conversores de menor potência instalada. No caso da Seabased isso se dá na perspectiva da
construção de parques com muitas unidades. A Trident Energy utiliza um conceito com baixa
densidade de força – slotless – e, desta maneira, torna-se difícil a construção de geradores com
elevada potência instalada. Os desenvolvedores das tecnologias com baixa densidade de força
(slotless ou com núcleo de ar) têm apostado na redução do peso da máquina e da complexidade do
sistema mecânico para proporcionar um menor custo por kW instalado e, assim, tornar estes
conversores mais competitivos.
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[43] A. Dente – “Cálculo das Forças Eletromagnéticas – Modelos Dinâmicos” - 2007/8.
[44] G. F. Beirão - “Protótipo de um Gerador Linear para Aproveitamento de Energia das Ondas num
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[45] J. Grainer, D. Stevenson “Power System Analysis” -1994.
[46] MIT - “Magnetic Circuits and Transformers” -1943.
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[48] M. Liwschitz “Calcolo e Determinazione delle Dimensioni delle Macchine Eletriche”.
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85
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Grid Interface System”.
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[80] S. J. Chapman – “Electric Machinery Fundamentals” – 4ª edição.
Anexo 1 – Indutância síncrona
O objetivo deste anexo é detalhar aquilo que foi assumido na secção 2.4.7.
Definição de matriz cíclica:
Uma matriz 3x3 é dita cíclica quando pode ser escrita da seguinte forma:
[
]
Transformação do sistema trifásico nos equivalentes monofásicos de sequências
direta, inversa e homopolar.
Vamos supor que o gerador esteja em curto-circuito. A equação das malhas para a sua
operação é:
[
] [
]
[
] [
] [
]
Aplicando as componentes simétricas:
[
] [
]
[
] [
] [
]
[
] [
]
[
] [
] [
]
[
] [
]
[
] [
] [
]
Portanto, para ser possível decompor o sistema trifásico nos seus equivalentes monofásicos
de sequência direta, inversa e homopolar é preciso que:
[
]
Onde é uma matriz diagonal. Para isso a matriz de indutâncias precisa ser cíclica. O que
implica nas seguintes igualdades:
87
Como , os requisitos são:
Todas as indutâncias próprias precisam ser iguais
Todas as indutâncias mútuas precisam ser iguais
Logo deve ser escrita por:
[
]
E assim:
[
] [
]
Portanto:
[
] [
]
[
] [
] [
]
Conclui-se que a indutância da máquina em regime permanente trifásico equilibrado é dada
por .
88
Anexo 2 – Detalhes do transladador
Figura 98 – Modelo do Transladador, vista completa.
Figura 99 – Modelo do transladador, vista detalhada.
89
Anexo 3 – Imagens dos resultados experimentais
Ensaio em vazio:
Figura 100 – Ensaio em vazio, frequência mecânica de 1 Hz.
Figura 101 – Ensaio em vazio, frequência mecânica de 0,96 Hz.
90
Carga trifásica:
Figura 102 – Carga trifásica, Rc = 5 ohms.
Figura 103 – Carga trifásica, RC = 10 Ohms.
91
Figura 104 - Carga trifásica, RC = 20 Ohms.
Figura 105 – Carga trifásica, RC = 30 Ohms.
92
Figura 106 – Carga trifásica, RC = 50 Ohms.
Carga retificada:
Figura 107 – Carga retificada, em curto-circuito.
93
Figura 108 – Carga retificada, RC = 15 Ohms.
Figura 109 – Carga retificada, RC = 30 Ohms.
94
Figura 110- Carga retificada, RC = 50 Ohms.
Figura 111 – Carga retificada, RC = 100 Ohms.