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O GÊNERO FÍLMICO NO ENSINO SUPERIOR LUIZ ANTONIO XAVIER DIAS (UENP - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE DO PARANÁ - CAMPUS JACAREZINHO - PR; GP LEITURA E ENSINO - CNPQ.). Resumo Este trabalho é resultado de estudos desenvolvidos junto ao Grupo de Pesquisa Leitura e Ensino/ UENP, certificado pelo CNPq, tendo como meta de uma de suas linhas de pesquisa a formação do professor–leitor. Ao observarmos a contemporaneidade, é necessário lembrarmos que o intenso contato com meios de comunicação em massa, principalmente a TV e a internet, influenciam na formação do leitor atual, tornando–o, de certa forma, dependente de estímulos audiovisuais e de linguagem dinâmica para manter sua atenção focada em determinado programa ou propaganda, ademais, o leitor contemporâneo é muito dependente dessa linguagem sincrética, ou seja, a que mescla som, imagem em movimento e melodia. Desse modo, constatamos que um leitor competente é alguém que, pela sua competência metagenérica, sabe selecionar dentre os gêneros que circulam socialmente, aqueles que possam atender às suas necessidades comunicativas. Este tipo de leitor é capaz de selecionar as estratégias adequadas para abordar tais textos; de ler as entrelinhas, identificando os implícitos; de estabelecer relações entre o texto e outros já lidos. Com esse pressuposto, objetivamos nesta pesquisa propor a utilização do gênero fílmico como proposta motivadora de leitura em sala de aula, a fim de despertar o prazer e o aprendizado do aluno e, também, propor estratégias pedagógicas ao futuro professor. Reafirmamos o evento filme como gênero, adotando a postura de Marcuschi(2003). Palavras-chave: gênero fílmico, estratégias pedagógicas, leitor competente. Este trabalho é mais uma das reflexões teórico - metodológicas desenvolvidas pelo Grupo de Pesquisa Leitura e Ensino, UENP - Universidade Estadual do Norte do Paraná - Jacarezinho - PR, certificado pelo CNPq, em consonância a uma de suas linhas de pesquisa que visa a formação do professor- leitor. Objetiva a exposição da aplicação de uma prática pedagógica em sala de aula no Ensino Superior e o resultado dessa prática em uma sala no primeiro ano do no Curso de Letras, na Disciplina de Língua Latina. Nessa perspectiva, é necessário lembrar que o intenso contato com meios de comunicação em massa, principalmente a TV e a internet, influenciam na formação do leitor atual, tornando-o, de certa forma, dependente de estímulos audiovisuais e de linguagem dinâmica para manter sua atenção focada em determinado programa ou propaganda, ademais, o leitor contemporâneo é muito dependente dessa linguagem sincrética, ou seja, a que mescla som, imagem em movimento e melodia. Desse modo, constatamos que um leitor competente é alguém que, pela sua competência metagenérica, sabe selecionar dentre os gêneros que circulam socialmente, aqueles que possam atender às suas necessidades comunicativas. Este tipo de leitor é capaz de selecionar as estratégias adequadas para abordar tais textos; de ler as entrelinhas, identificando os implícitos; de estabelecer relações entre o texto e outros já lidos. Objetivamos nesta pesquisa, propor a utilização do gênero fílmico como proposta motivadora de leitura em sala de aula, a fim de despertar o prazer e

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O GÊNERO FÍLMICO NO ENSINO SUPERIOR LUIZ ANTONIO XAVIER DIAS (UENP - UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE DO PARANÁ - CAMPUS JACAREZINHO - PR; GP LEITURA E ENSINO - CNPQ.). Resumo Este trabalho é resultado de estudos desenvolvidos junto ao Grupo de Pesquisa Leitura e Ensino/ UENP, certificado pelo CNPq, tendo como meta de uma de suas linhas de pesquisa a formação do professor–leitor. Ao observarmos a contemporaneidade, é necessário lembrarmos que o intenso contato com meios de comunicação em massa, principalmente a TV e a internet, influenciam na formação do leitor atual, tornando–o, de certa forma, dependente de estímulos audiovisuais e de linguagem dinâmica para manter sua atenção focada em determinado programa ou propaganda, ademais, o leitor contemporâneo é muito dependente dessa linguagem sincrética, ou seja, a que mescla som, imagem em movimento e melodia. Desse modo, constatamos que um leitor competente é alguém que, pela sua competência metagenérica, sabe selecionar dentre os gêneros que circulam socialmente, aqueles que possam atender às suas necessidades comunicativas. Este tipo de leitor é capaz de selecionar as estratégias adequadas para abordar tais textos; de ler as entrelinhas, identificando os implícitos; de estabelecer relações entre o texto e outros já lidos. Com esse pressuposto, objetivamos nesta pesquisa propor a utilização do gênero fílmico como proposta motivadora de leitura em sala de aula, a fim de despertar o prazer e o aprendizado do aluno e, também, propor estratégias pedagógicas ao futuro professor. Reafirmamos o evento filme como gênero, adotando a postura de Marcuschi(2003). Palavras-chave: gênero fílmico, estratégias pedagógicas, leitor competente.

Este trabalho é mais uma das reflexões teórico - metodológicas desenvolvidas pelo Grupo de Pesquisa Leitura e Ensino, UENP - Universidade Estadual do Norte do Paraná - Jacarezinho - PR, certificado pelo CNPq, em consonância a uma de suas linhas de pesquisa que visa a formação do professor-leitor. Objetiva a exposição da aplicação de uma prática pedagógica em sala de aula no Ensino Superior e o resultado dessa prática em uma sala no primeiro ano do no Curso de Letras, na Disciplina de Língua Latina.

Nessa perspectiva, é necessário lembrar que o intenso contato com meios de comunicação em massa, principalmente a TV e a internet, influenciam na formação do leitor atual, tornando-o, de certa forma, dependente de estímulos audiovisuais e de linguagem dinâmica para manter sua atenção focada em determinado programa ou propaganda, ademais, o leitor contemporâneo é muito dependente dessa linguagem sincrética, ou seja, a que mescla som, imagem em movimento e melodia.

Desse modo, constatamos que um leitor competente é alguém que, pela sua competência metagenérica, sabe selecionar dentre os gêneros que circulam socialmente, aqueles que possam atender às suas necessidades comunicativas. Este tipo de leitor é capaz de selecionar as estratégias adequadas para abordar tais textos; de ler as entrelinhas, identificando os implícitos; de estabelecer relações entre o texto e outros já lidos.

Objetivamos nesta pesquisa, propor a utilização do gênero fílmico como proposta motivadora de leitura em sala de aula, a fim de despertar o prazer e

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o aprendizado do aluno e também propor estratégias pedagógicas ao futuro professor. Reafirmamos o evento filme como gênero, adotando a postura de Marcuschi (2003) que convenciona o filme como gênero, por apresentar características, conteúdo temática, estilo convencionados socialmente, ou seja; quando se fala vou assistir ao filme tem-se ao menos virtualmente esse gênero em mente, não sendo possível confundi-lo com o gênero carta, por exemplo.

Além disso, o ato de ler é, na maioria das vezes, associado à escrita. Quando dizemos que uma pessoa é leitora, queremos dizer que ela sabe ler o mundo e os livros. O bom leitor é visto também como um bom decodificador da linguagem escrita, além da percepção dos sentidos dos textos.

Assim, a leitura está muito além das palavras escritas. Lemos o tempo todo, o olhar, o sorriso, o silêncio... o mundo. Aliás, a leitura que fazemos do mundo é a base para uma boa leitura da palavra e dos demais signos linguísticos.

Antes de apresentarmos nossa metodologia de trabalho com o gênero fílmico, é importante tratarmos sobre a concepção de gênero segundo Marcuschi (2003) e (2009) que, segundo ele, trata-se de textos orais ou escritos materializados em situações comunicativas recorrentes. Os gêneros textuais são os textos que encontramos em nossa vida diária com padrões sócio-comunicativos característicos definidos por sua composição, objetivos enunciativos e estilo concretamente realizado por forças históricas, sociais, institucionais e tecnológicas.

Para Marcuschi (2003) os gêneros constituem uma listagem aberta, são entidades empíricas em situações comunicativas e se expressam em designações tais como: sermão, carta comercial, carta pessoal, romance, bilhete, reportagem jornalística, aula expositiva, notícia jornalística, horóscopo, receita culinária, bula de remédio, lista de compras, cardápio de restaurante, resenha, edital de concurso, piada, conversação espontânea, conferência, e-mail, bate-papo por computador, aulas virtuais e assim por diante. Como tal, os gêneros são formas textuais escritas ou orais bastante estáveis, histórica e socialmente situadas.

Além disso, com a prática pedagógica no Ensino Superior pudemos constatar que a arte cinematográfica pode manter a atenção do aluno focada por um período maior. E nessa circunstância o professor pode trabalhar de forma profunda, observando as minúcias deste gênero, fazendo com que o leitor venha a interpretar de forma proficiente o gênero analisado.

A opção por pesquisarmos os efeitos de sentido trazidos pelo cinema, que é um texto com características sincréticas ─ misto de texto verbal, não-verbal, linguagem em movimento e sons ─, deve-se ao fato de acreditarmos que trabalhar com o cinema na educação pode trazer contribuições significativas ao leitor, tornando-o mais atento aos fatores linguísticos, imagéticos, marcas deixadas pelo autor, enfim, diversas pistas importantes para sua interpretação.

A seguir, apresentaremos algumas considerações de alguns autores como Almeida, (2001) sobre a importância da utilização do cinema na educação (ALMEIDA, 2001):

a utilização do cinema na educação é importante porque traz para a escola aquilo que ela se nega a ser e que poderia transformá-la em algo vivido e fundamental:

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participante ativa da cultura e não repetidora e divulgadora de conhecimentos massificados, muitas vezes já deteriorados, defasados. (p. 21).

Além desse, Napolitano (NAPOLITANO, 2005) argumenta que:

trabalhar com o cinema em sala de aula é ajudar a escola a reencontrar a cultura ao mesmo tempo cotidiana e elevada, pois o cinema é o campo no qual a estética, o lazer, a ideologia e os valores mais amplos são sintetizados numa mesma obra de arte. (p. 11).

Em se tratando de definição do gênero fílmico Costa (2009) afirma que esse gênero se constitui de qualquer sequência de cenas cinematográficas (drama, comédia, documentário, etc), registrada em filme/fita (película de acetato de celulose - primitivamente de nitrato de celulose - revestida por uma emulsão sensível à luz e destinada a registrar imagens cinematográficas). Há vários tipos de obra cinematográfica: filme de curta, média e longa metragens, conforme a construção que se faz do discurso fílmico (conteúdo, estilo, narratividade, período de duração, etc.).

É importante tratarmos da estrutura do gênero fílmico, na visão de Koch (2007) e Marcuschi (2003), todo gênero precisa ter uma composição, conteúdo temático, estilo, propósito composicional e modo de veiculação.

Em sua composição percebemos que o gênero filme é sempre uma narrativa curta ou longa, com personagens, com um narrador personagem ou observador.

Seu conteúdo temático não é muito fixo, pode variar segundo as intenções do roteirista, Diretor ou mesmo da produtora, podendo ser de vários gêneros como romance, policial, ação, aventura, terror, etc.

Da mesma forma o estilo é bastante variado, se alterando de acordo com as intenções do produtor. Atualmente, as produções cinematográficas se utilizam de efeitos e câmeras especiais para captar e envolver o expectador.

Quanto ao propósito comunicacional: A função inicial dos filmes era entreter o público, mas percebemos que em muitos anos de trabalho sua função passa a ser denunciar os fatos do cotidiano e fazer seu público refletir sobre a realidade que os circunda.

A veiculação desse gênero se dá em sites da internet, no cinema que é um evento, em vídeo locadoras. Desse modo, sua veiculação é muito prática, o que facilita o acesso do docente a esse gênero e, consequentemente, tornará mais fácil sua utilização em sala de aula.

Em consequência dos fatos expostos anteriormente, percebemos que o gênero fílmico é muito peculiar e pode despertar o interesse do aluno, dessa forma, é preciso comprovar sua eficiência com a utilização de aspectos metodológicos em âmbito escolar.

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A seguir, passaremos a metodologia que pode ser aplicada com o gênero fílmico em sala de aula. Ao passar fragmentos da obra, o professor deve pedir aos alunos com um dia de antecedência os temas que giram em torno da obra, ou mesmo a sinopse para eles, a exemplo, temos o filme A Era do Gelo, que trata do aquecimento global, desse modo, para haver maior semiose nos alunos, o professor pode pedir que os discentes pesquisem o aquecimento global.

Com o assunto delimitado, o professor já com o DVD alugado ou próprio, pode passar a sinopse, a fim de contextualizar o que está acontecendo na obra até o presente momento.

Em sequência o docente passará o fragmento ao menos duas vezes, pedindo para os alunos prestaram muita atenção em todos os detalhes da obra.

Passada essa fase, o professor entregará aos educandos um questionário contendo em média 10 (dez) questões, que englobam os níveis de decodificação - que é a fase mais rudimentar da leitura, ou seja, são todos os elementos explícitos numa cena de cinema, esse pode passar cerca de três a quatro questões.

Em seguida, entram as questões de abstração. Abstrair é o mesmo que inferir, é o mesmo que perceber sutilezas. E isso pode ser chamado de interpretar o texto. Tal fato pode ser comprovado quando se percebem os temas que estão numa obra, ou mesmo, quando observamos que alguém está ironizando determinado contexto.

Desse modo, o que nos leva a perceber isso são as estratégias de leitura, que estão intrínsecas em nossas mentes, mas que no momento da abstração vão à tona. É essa habilidade de ativar estratégias de leitura que não nos deixa ser enganados.

Sendo assim, para as questões de abstração, o professor deveria passar cerca de três a quatro questões, enfocando os temas, o assunto geral, o tema global, as sutilezas que queiram expor um fazer-crer, que é o mesmo passar um contexto para o espectador acreditar, ou seja, fazer-crer é o mesmo que persuadir, convencer.

Em úlltimo nível, estão as questões de re(contextualização) que giram em torno das experiências vividas. Nesse ponto, estão as intertextualidades - que é o universo de textos presentes na mente do sujeito-leitor e que no momento da semiose vão vem à tona.

Para esse trabalho, recuperamos uma obra polêmica "O Código DA VINCI (2006), cuja polêmica maior é questionar a divindade de Jesus Cristo, além disso, faz referência a Opus Dei até a sociedade Secreta conhecida como Priorado de Sião, também refere-se em muitos momentos a Demanda do Santo Graal".

A escolha dessa obra foi feita para que se levantassem questões acerca da história da própria Roma antiga e também provar que até hoje a língua latina é utilizada.

O primeiro passo para a pesquisa que fizemos no primeiro ano do Curso de Letras da UENP - Jacarezinho - PR, na disciplina de Língua Latina foi propor aos discentes, com uma semana de antecedência, pesquisarem em suas

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casas o que era a lenda da Demanda do Santo Graal, o que era o Priorado de Sião e também como se formou a Opus Dei.

Com esse conhecimento de mundo em mãos, passamos para os discentes a sinopse do gênero fílmico, uma vez que não passaríamos toda a obra, apenas um trecho de cerca de 10 minutos, com o objetivo maior de propor a discussão de temas polêmicos e mostrar que a língua latina ainda está viva.

É importante, a partir de agora, para contextualizar o filme trazendo para o leitor a sinopse da obra, que começa após um curador ser morto, um simbologista é chamado para decifrar as misteriosas pistas deixadas. As investigações levam a mensagens ocultas nas obras de Leonardo Da Vinci, que indicam a existência de uma sociedade secreta. Dirigido por Ron Howard (Uma Mente Brilhante) e com Tom Hanks, Audrey Tautou, Jean Reno, Paul Bettany, Ian McKellen e Alfred Molina no elenco.

O Código Da Vinci, tornou-se um fenômeno global, e apresentou a milhões de leitores um mundo misterioso onde Leonardo Da Vinci codificou significados ocultos nos seus quadros; símbolos estranhos estão esculpidos numa remota capela escocesa; e a Igreja Católica e uma antiga sociedade secreta continuam a travar uma batalha velha de séculos para obterem o controle do derradeiro prêmio: o Santo Graal.

O filme trata da morte misteriosa do curador do Louvre, que pertencia ao Priorado de Sião, uma sociedade secreta, e guardava o segredo do Santo Graal e de mensagens cifradas sobre o assunto que estariam nas obras de Leonardo Da Vinci. Esse não seria um cálice (como se buscava na Idade Média), mas a própria Maria Madalena, que teria casado com Jesus e constituído uma linhagem carnal. A partir deste assassinato se desenvolve toda a trama.

Contextualizado o filme, passamos para os alunos um pequeno trecho de 10 minutos, que se passa quando os personagens principais da trama Robert Langdon e Sophie Neveu que estão fugindo da polícia por serem acusados de mortes, vão até o Chateau Villet, conversar com Sir Leigh Teabing que poderia dar as respostas sobre o Santo Graal e ajudá-los a desvendar o assassinado de Sounier, pois este era um estudioso do assunto há muitos anos.

Ao entrarem no Chateau foram bem recebidos e então, Teabing mostra o afresco da Santa Ceia de Leonardo Da Vincci, expondo que na verdade o Santo Graal não é o cálice, mas a figura feminina de Maria Madalena, que teria, antes desta ceia, engravidado de Jesus Cristo, a cena se passa e então a polícia chega até a referida residência, e, então, a cena foi parada de passar.

Nesse momento, entregamos aos discentes um questionário, vide anexos, com dez perguntas que continham perguntas no nível de decodificação ao de abstração, a elaboração deste questionário se fez em razão da cena escolhida ser a mais debatida e a mais polêmica do filme e que representa o tema central.

Após entregar as perguntas para os alunos percebemos que a maioria estava muito entretida e estava ansiosa para responder de forma adequada ao que foi proposto pelo professor, (o questionário está anexado) e em seguida acrescentamos as imagens representativas do gênero fílmico como os pôsteres e os pivôs da trama.

Tal questionário apresenta perguntas como quem são os personagens da cena, como se desenvolvem os conflitos, quais são as

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intertextualidades presentes na obra? Questionamentos que giram em torno do imaginário e que prendem a atenção dos discentes no momento de sua aplicação.

Após termos passado a cena duas vezes, pedido para os alunos prestarem muita atenção em todas as minúcias dela, entregamos o questionário em branco para eles, e então os discentes do primeiro ano, da disciplina de língua latina responderam em conformidade com o que foi pedido 88% das respostas, índice alcançado graças a insistência do professor em contextualizar o filme até o momento de sua exibição.

Além disso, o fato de pedir uma pesquisa prévia aos alunos enriqueceu o contexto da aula, uma vez que após a entrega dos questionários fizemos um grande debate sobre a pertinência dos temas, o que acabou gerando grande curiosidade e interesse deles.

O que se pode perceber pela prática apresentada, no momento da exibição do trecho analisado e no período posterior da execução do questionário, além do debate sobre o tema analisado, foi observar a participação dos discentes e o interesse pela discussão em grupo.

Como fazia parte da disciplina de Língua Latina, foco principal da proposta, os alunos conheceram um pouco mais do cotidiano romano, além de conhecerem palavras como Opus Dei e sua devida significação, além da conotação de Santo Graal com Sangue Real, além disso, prestigiaram um pouco da história da Igreja e dos afrescos de Da Vincci.

Percebemos que pelas experiências discutidas, o cinema tem muito a acrescentar na melhoria da leitura do aluno, pois esse pode se sentir fascinado pelo filme e, assim, conseguir abstrair melhor os conteúdos propostos pelo professor, como leituras gradativamente mais desafiadoras. Enfim, acreditamos, diante da análise do corpus dessa pesquisa, que havendo um contínuo trabalho de interação professor-filme-alunos que esse gênero se ajusta a um trabalho pedagógico que busca essa interação e o aperfeiçoamento do aluno na leitura de novos códigos.

Se o professor souber utilizar o gênero fílmico, que prende e desperta a atenção dos alunos, e, é claro, se a escola dispuser de recursos para que isso aconteça, é possível termos, no final do ensino médio, um aluno que se torne mais preparado para a leitura profissional.

Portanto, se o gênero fílmico for bem trabalhado em âmbito escolar, é uma ferramenta importante para a mediação na formação de um leitor crítico, que compreende a realidade a sua volta de forma inteligente e consegue discernir, identificar a intencionalidade que interage com ele. Dessa forma, o professor pode conseguir uma melhor formação de seu aluno cumprindo, de modo eficiente e realizador, o seu papel enquanto um profissional formador.

Referências Bibliobráficas

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ALMEIDA, Milton José de. Imagens e sons: a nova cultura oral. São Paulo: Editora Cortez, 2001.

COSTA. Sérgio Roberto. Dicionário de gêneros textuais. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2009.

DIAS, Luiz Antonio Xavier. Cinema e educação: uma leitura semiótica de "O enigma de Kaspar Hauser", de Werner Herzog. 16º Cole - Congresso de Leitura no Brasil. Campinas- SP. Disponível em: . Acesso em: 18-12-2007a.

______. Cinema e ensino: uma proposta metodológica para o ensino de leitura. VII Congresso de Educação do Norte Pioneiro - Educação e Interdisciplinaridade. Jacarezinho- PR, 2007b.

KOCH. Ingedore Villaça. ELIAS, Vanda Maria. Ler e compreender: os sentidos do texto. São Paulo: Contexto, 2007.

MARCUSCHI, Luiz Antônio. Questão do suporte dos gêneros textuais. 2003. In:

. Acesso em: 20/04/2007.

______. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. 3. ed. São Paulo: Parábola

Editorial, 2009.

NAPOLITANO, Marcos. Como usar o cinema em sala de aula. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2005.

O CÓDIGO DA VINCI . Direção: Ron Howard. Produção: John Calley e Brian Grazer. Sony Pictures - EUA, 2006 1 DVD (146 min.), son. color.

Anexos

Questionário sobre o trecho do filme O Código DA VINCI (2006)

1 - Quem são os personagens da cena?

Resposta esperada: Sophie, Robert e Sir Teaging.

2 - Quantos cálices existiam no afresco do artista?

Resposta esperada: Nenhum o que existia era a pista que da Vinci deixou.

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3 - Qual é o tema central da cena?

Resposta esperada: A dúvida sobre a espiritualidade de Jesus, e a possível quebra de uma história contada há mais de 2.000 anos.

4 - Comente as formas masculinas e femininas que Robert explicou.

Resposta esperada: A forma masculina é um falo rudimentar, representado até hoje nos uniformes militares e a feminina é o contrário e representa um cálice.

5 - Na concepção do autor quem é o Santo Graal?

Resposta esperada: É a descendente direta de Jesus - o sangue de Jesus na terra, que foi escondida pelo Priorado de Sião.

6 - O que foi o Concílio de Nicéia?

Resposta esperada: Foi uma reunião feita por Constantino em 325 d. C em Roma, para unificar, dar parâmetros a Religião Cristã e, enfim decretar que a religião Oficial do Império Romano era a Católica.

7 - Qual a significação da palavra companheira e fale sobre a ligação que tem com os temas secundários da obra.

Resposta esperada: Era considerada mulher e não havia outra conotação para a época.

8 - Comente quais foram os Evangelhos rechaçados e porque eram?

Resposta esperada: Dois.

9 - Fale sobre a dicotomia inquisição X paganismo.

Resposta esperada: A inquisição perseguiu por muitos séculos as mulheres que eram mais liberais para o sexo e o paganismo pregava a liberade, a transcendência através do sexo e para impor sua supremacia a Igreja Católica perseguiu por muitos anos as mulheres pagãs, acusando-as de bruxaria.

10 - Com quais histórias/lendas o trecho traz intertextualidades?

Resposta esperada: A lenda de Rômulo e Remo, Moisés.

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ANEXOS

Figura 1 - Pôster de O Código Da Vinci

ANEXO 1

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Fonte: acesso em: 10 - 06 - 2009.

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Figura 2 - Imagem de Sir Teabing ao expor a outra teoria do Santo Graal

ANEXO 2

Fonte: Acesso em 10 - 06 - 2009

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Figura 3 - Outro pôster difundido na mídia

ANEXO 3

Fonte: Acesso em: 10 - 06 -2009.

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Este trabalho é mais uma das reflexões teórico – metodológicas

desenvolvidas pelo Grupo de Pesquisa Leitura e Ensino, UENP - Universidade

Estadual do Norte do Paraná – Jacarezinho - PR, certificado pelo CNPq, em

consonância a uma de suas linhas de pesquisa que visa a formação do professor-

leitor. Objetiva a exposição da aplicação de uma prática pedagógica em sala de aula

no Ensino Superior e o resultado dessa prática em uma sala no primeiro ano do no

Curso de Letras, na Disciplina de Língua Latina.

Nesta perspectiva, é necessário lembrar que o intenso contato com

meios de comunicação em massa, principalmente a TV e a internet, influenciam na

formação do leitor atual, tornando-o, de certa forma, dependente de estímulos

audiovisuais e de linguagem dinâmica para manter sua atenção focada em

determinado programa ou propaganda, ademais, o leitor contemporâneo é muito

dependente dessa linguagem sincrética, ou seja, a que mescla som, imagem em

movimento e melodia.

Desse modo, constatamos que um leitor competente é alguém que,

pela sua competência metagenérica, sabe selecionar dentre os gêneros que

circulam socialmente, aqueles que possam atender às suas necessidades

comunicativas. Este tipo de leitor é capaz de selecionar as estratégias adequadas

para abordar tais textos; de ler as entrelinhas, identificando os implícitos; de

estabelecer relações entre o texto e outros já lidos.

Objetivamos nesta pesquisa, propor a utilização do gênero fílmico

como proposta motivadora de leitura em sala de aula, a fim de despertar o prazer e

o aprendizado do aluno e também propor estratégias pedagógicas ao futuro

professor. Reafirmamos o evento filme como gênero, adotando a postura de

Marcuschi (2003) que convenciona o filme como gênero, por apresentar

características, conteúdo temática, estilo convencionados socialmente, ou seja;

quando se fala vou assistir ao filme tem-se ao menos virtualmente esse gênero em

mente, não sendo possível confundi-lo com o gênero carta, por exemplo.

Além disso, o ato de ler é, na maioria das vezes, associado à escrita.

Quando dizemos que uma pessoa é leitora, queremos dizer que ela sabe ler o

mundo e os livros. O bom leitor é visto também como um bom decodificador da

linguagem escrita, além da percepção dos sentidos dos textos.

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Assim, a leitura está muito além das palavras escritas. Lemos o tempo

todo, o olhar, o sorriso, o silêncio... o mundo. Aliás, a leitura que fazemos do mundo

é a base para uma boa leitura da palavra e dos demais signos lingüísticos.

Antes de apresentarmos nossa metodologia de trabalho com o gênero

fílmico, é importante tratarmos sobre a concepção de gênero segundo Marcuschi

(2003) e (2009) que segundo ele trata-se de textos orais ou escritos materializados

em situações comunicativas recorrentes. Os gêneros textuais são os textos que

encontramos em nossa vida diária com padrões sócio-comunicativos característicos

definidos por sua composição, objetivos enunciativos e estilo concretamente

realizado por forças históricas, sociais, institucionais e tecnológicas.

Para Marcuschi (2003) os gêneros constituem uma listagem aberta, são

entidades empíricas em situações comunicativas e se expressam em designações

tais como: sermão, carta comercial, carta pessoal, romance, bilhete, reportagem

jornalística, aula expositiva, notícia jornalística, horóscopo, receita culinária, bula de

remédio, lista de compras, cardápio de restaurante, resenha, edital de concurso,

piada, conversação espontânea, conferência, e-mail, bate-papo por computador,

aulas virtuais e assim por diante. Como tal, os gêneros são formas textuais escritas

ou orais bastante estáveis, histórica e socialmente situadas.

Além disso, com a prática pedagógica no Ensino Superior pudemos

constatar que a arte cinematográfica pode manter a atenção do aluno focada por um

período maior. E nessa circunstância o professor pode trabalhar de forma profunda,

observando as minúcias deste gênero, fazendo com que o leitor venha a interpretar

de forma proficiente o gênero analisado.

A opção por pesquisarmos os efeitos de sentido trazidos pelo cinema,

que é um texto com características sincréticas ─ misto de texto verbal, não-verbal,

linguagem em movimento e sons ─, deve-se ao fato de acreditarmos que trabalhar

com o cinema na educação pode trazer contribuições significativas ao leitor,

tornando-o mais atento aos fatores linguísticos, imagéticos, marcas deixadas pelo

autor, enfim, diversas pistas importantes para sua interpretação.

A seguir, apresentaremos algumas considerações de alguns autores

como Almeida, (2001) sobre a importância da utilização do cinema na educação:

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a utilização do cinema na educação é importante porque traz para a escola aquilo que ela se nega a ser e que poderia transformá-la em algo vivido e fundamental: participante ativa da cultura e não repetidora e divulgadora de conhecimentos massificados, muitas vezes já deteriorados, defasados. (ALMEIDA, 2001, p. 21).

Além desse, Napolitano argumenta que:

trabalhar com o cinema em sala de aula é ajudar a escola a reencontrar a cultura ao mesmo tempo cotidiana e elevada, pois o cinema é o campo no qual a estética, o lazer, a ideologia e os valores mais amplos são sintetizados numa mesma obra de arte. (NAPOLITANO, 2005, p. 11).

Em se tratando de definição do gênero fílmico Costa (2009) afirma que

esse gênero se constitui de qualquer sequência de cenas cinematográficas (drama,

comédia, documentário, etc), registrada em filme/fita (película de acetato de celulose

– primitivamente de nitrato de celulose – revestida por uma emulsão sensível à luz e

destinada a registrar imagens cinematográficas). Há vários tipos de obra

cinematográfica: filme de curta, média e longa metragens, conforme a construção

que se faz do discurso fílmico (conteúdo, estilo, narratividade, período de duração,

etc.).

É importante tratarmos da estrutura do gênero fílmico, na visão de Koch

(2007) e Marcuschi (2003), todo gênero precisa ter uma composição, conteúdo

temático, estilo, propósito composicional e modo de veiculação.

Em sua composição percebemos que o gênero filme é sempre uma

narrativa curta ou longa, com personagens, com um narrador personagem ou

observador.

Seu conteúdo temático não é muito fixo, pode variar segundo as

intenções do roteirista, Diretor ou mesmo da produtora, podendo ser de vários

gêneros como romance, policial, ação, aventura, terror, etc.

Da mesma forma o estilo é bastante variado, podendo ser bastante

variado, se alterando de acordo com as intenções do produtor. Atualmente, as

produções cinematográficas se utilizam de efeitos e câmeras especiais para captar e

envolver o expectador.

Quanto ao propósito comunicacional: A função inicial dos filmes era

entreter o público, mas percebemos que em muitos anos de trabalho sua função

passa a ser denunciar os fatos do cotidiano e fazer seu público refletir sobre a

realidade que os circunda.

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A veiculação desse gênero se dá em sites da internet, no cinema que é

um evento, em vídeo locadoras. Desse modo, sua veiculação é muito prática, o que

facilita o acesso do docente a esse gênero e, consequentemente tornará mais fácil

sua utilização em sala de aula.

Em conseqüência dos fatos expostos anteriormente, percebemos que o

gênero fílmico é muito peculiar e pode despertar o interesse do aluno, dessa forma,

é preciso comprovar sua eficiência com a utilização de aspectos metodológicos em

âmbito escolar.

A seguir, passaremos a metodologia que pode ser aplicada com o

gênero fílmico em sala de aula. Ao passar fragmentos da obra, o professor deve

pedir aos alunos com um dia de antecedência os temas que giram em torno da obra,

ou mesmo a sinopse para eles, a exemplo, temos o filme A Era do Gelo, que trata do

aquecimento global, desse modo, para haver maior semiose nos alunos, o professor

pode pedir que os discentes pesquisem o aquecimento global.

Com o assunto delimitado, o professor já com o DVD alugado ou

próprio, pode passar a sinopse, a fim de contextualizar o que está acontecendo na

obra até o presente momento.

Em sequência o docente passará o fragmento ao menos duas vezes,

pedindo para os alunos prestaram muita atenção em todos os detalhes da obra.

Passada essa fase, o professor entregará aos educandos um

questionário contendo em média 10 (dez) questões, que englobam os níveis de

decodificação – que é a fase mais rudimentar da leitura, ou seja, são todos os

elementos explícitos numa cena de cinema, este pode passar cerca de três a quatro

questões.

Em seguida, entram as questões de abstração. Abstrair é o mesmo que

inferir é o mesmo que perceber sutilezas. E isso pode ser chamado de interpretar o

texto. Tal fato pode ser comprovado quando se percebem os temas que estão numa

obra, ou mesmo, quando observamos que alguém está ironizando determinado

contexto.

Desse modo, o que nos leva a perceber isso são as estratégias de

leitura, que estão intrínsecas em nossas mentes, mas que no momento da abstração

vão à tona. É essa habilidade de ativar estratégias de leitura que não nos deixa ser

enganados.

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Sendo assim, para as questões de abstração, o professor deveria

passar cerca de três a quatro questões, enfocando os temas, o assunto geral, o

tema global, as sutilezas que queiram expor um fazer-crer, que é o mesmo passar

um contexto para o espectador acreditar, ou seja, fazer-crer é o mesmo que

persuadir, convencer.

Em úlltimo nível, estão as questões de re(contextualização) que giram

em torno das experiências vividas. Nesse ponto, estão as intertextualidades – que é

o universo de textos presentes na mente do sujeito-leitor e que no momento da

semiose vão vem à tona.

Para esse trabalho, recuperamos uma obra polêmica “O Código DA

VINCI (2006), cuja polêmica maior é questionar a divindade de Jesus Cristo, além

disso, faz referência a Opus Dei até a sociedade Secreta conhecida como Priorado

de Sião, também refere-se em muitos momentos a Demanda do Santo Graal”.

A escolha dessa obra foi feita para que se levantassem questões

acerca da história da própria Roma antiga e também provar que até hoje a língua

latina é utilizada.

O primeiro passo para a pesquisa que fizemos no primeiro ano do

Curso de Letras da UENP – Jacarezinho - PR, na disciplina de Língua Latina foi

propor aos discentes, com uma semana de antecedência, pesquisarem em suas

casas o que era a lenda da Demanda do Santo Graal, o que era o Priorado de Sião

e também como se formou a Opus Dei.

Com esse conhecimento de mundo em mãos, passamos para os

discentes a sinopse do gênero fílmico, uma vez que não passaríamos toda a obra,

apenas um trecho de cerca de 10 minutos, com o objetivo maior de propor a

discussão de temas polêmicos e mostrar que a língua latina ainda está viva.

É importante, a partir de agora, para contextualizar o filme trazendo

para o leitor a sinopse da obra, que começa após um curador ser morto, um

simbologista é chamado para decifrar as misteriosas pistas deixadas. As

investigações levam a mensagens ocultas nas obras de Leonardo Da Vinci, que

indicam a existência de uma sociedade secreta. Dirigido por Ron Howard (Uma

Mente Brilhante) e com Tom Hanks, Audrey Tautou, Jean Reno, Paul Bettany, Ian

McKellen e Alfred Molina no elenco.

O Código Da Vinci, tornou-se um fenômeno global, e apresentou a

milhões de leitores um mundo misterioso onde Leonardo Da Vinci codificou

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significados ocultos nos seus quadros; símbolos estranhos estão esculpidos numa

remota capela escocesa; e a Igreja Católica e uma antiga sociedade secreta

continuam a travar uma batalha velha de séculos para obterem o controle do

derradeiro prêmio: o Santo Graal.

O filme trata da morte misteriosa do curador do Louvre, que pertencia

ao Priorado de Sião, uma sociedade secreta, e guardava o segredo do Santo Graal

e de mensagens cifradas sobre o assunto que estariam nas obras de Leonardo Da

Vinci. Este não seria um cálice (como se buscava na Idade Média), mas a própria

Maria Madalena, que teria casado com Jesus e constituído uma linhagem carnal. A

partir deste assassinato se desenvolve toda a trama.

Contextualizado o filme, passamos para os alunos um pequeno trecho

de 10 minutos, que se passa quando os personagens principais da trama Robert

Langdon e Sophie Neveu que estão fugindo da polícia por serem acusados de

mortes, vão até o Chateau Villet, conversar com Sir Leigh Teabing que poderia dar

as respostas sobre o Santo Graal e ajudá-los a desvendar o assassinado de

Sounier, pois este era um estudioso do assunto há muitos anos.

Ao entrarem no Chateau foram bem recebidos e então, Teabing

mostra o afresco da Santa Ceia de Leonardo Da Vincci, expondo que na verdade o

Santo Graal não é o cálice, mas a figura feminina de Maria Madalena, que teria,

antes desta ceia, engravidado de Jesus Cristo, a cena se passa e então a polícia

chega até a referida residência, e, então a cena foi parada de passar.

Nesse momento, entregamos aos discentes um questionário, vide

anexos, com dez perguntas que continham perguntas no nível de decodificação ao

de abstração, a elaboração deste questionário se fez em razão da cena escolhida

ser a mais debatida e a mais polêmica do filme e que representa o tema central.

Após entregar as perguntas para os alunos percebemos que a maioria

estava muito entretida e estava ansiosa para responder de forma adequada ao que

foi proposto pelo professor, o questionário que se fala está anexo e em seguida

acrescentamos as imagens representativas do gênero fílmico como os pôsteres e os

pivôs da trama.

Tal questionário apresenta perguntas como quem são os personagens

da cena, como se desenvolvem os conflitos, quais são as intertextualidades

presentes na obra? Questionamentos que giram em torno do imaginário e que

prendem a atenção dos discentes no momento de sua aplicação.

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Após termos passado a cena duas vezes, pedido para os alunos

prestarem muita atenção em todas as minúcias dela, entregamos o questionário em

branco para eles, e então os discentes do primeiro ano, da disciplina de língua latina

responderam em conformidade com o que foi pedido 88% das respostas, índice

alcançado graças a insistência do professor em contextualizar o filme até o momento

de sua exibição.

Além disso, o fato de pedir uma pesquisa prévia aos alunos enriqueceu o

contexto da aula, uma vez que após a entrega dos questionários fizemos um grande

debate sobre a pertinência dos temas, o que acabou gerando grande curiosidade e

interesse deles.

O que se pode perceber pela prática apresentada foi no momento da

exibição do trecho analisado e no período posterior que foi a execução do

questionário, além do debate sobre o tema analisado, foi observar a participação dos

discentes e o interesse pela discussão em grupo.

Como fazia parte da disciplina de Língua Latina, foco principal da

proposta, os alunos conheceram um pouco mais do cotidiano romano, além de

conhecerem palavras como Opus Dei e sua devida significação, além da conotação

de Santo Graal com Sangue Real, além disso, prestigiaram um pouco da história da

Igreja e dos afrescos de Da Vincci.

Percebemos que pelas experiências discutidas, o cinema tem muito a

acrescentar na melhoria da leitura do aluno, pois este pode se sentir fascinado pelo

filme e, assim, conseguir abstrair melhor os conteúdos propostos pelo professor,

como leituras gradativamente mais desafiadoras. Enfim, acreditamos, diante da

análise do corpus dessa pesquisa, que havendo um contínuo trabalho de interação

professor-filme-alunos que esse gênero se ajusta a um trabalho pedagógico que

busca essa interação e o aperfeiçoamento do aluno na leitura de novos códigos.

Se o professor souber utilizar o gênero fílmico, que prende e

desperta a atenção dos alunos, e, é claro, se a escola dispuser de recursos para que

isso aconteça, é possível termos, no final do ensino médio, um aluno que se torne

mais preparado para a leitura profissional.

Portanto, se o gênero fílmico for bem trabalhado em âmbito escolar,

é uma ferramenta importante para a mediação na formação de um leitor crítico, que

compreende a realidade a sua volta de forma inteligente e consegue discernir,

identificar a intencionalidade que interage com ele. Dessa forma, o professor pode

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conseguir uma melhor formação de seu aluno cumprindo, de modo eficiente e

realizador, o seu papel enquanto um profissional formador.

Referências ALMEIDA, Milton José de. Imagens e sons: a nova cultura oral. São Paulo: Editora Cortez, 2001. COSTA. Sérgio Roberto. Dicionário de gêneros textuais. 2. ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2009. DIAS, Luiz Antonio Xavier. Cinema e educação: uma leitura semiótica de “O enigma de Kaspar Hauser”, de Werner Herzog. 16º Cole – Congresso de Leitura no Brasil. Campinas- SP. Disponível em: <http://www.alb.com.br/anais16/sem05pdf/sm05ss04_09.pdf>. Acesso em: 18-12-2007a. ______. Cinema e ensino: uma proposta metodológica para o ensino de leitura. VII Congresso de Educação do Norte Pioneiro – Educação e Interdisciplinaridade. Jacarezinho- PR, 2007b. KOCH. Ingedore Villaça. ELIAS, Vanda Maria. Ler e compreender: os sentidos do texto. São Paulo: Contexto, 2007. MARCUSCHI, Luiz Antônio. Questão do suporte dos gêneros textuais. 2003. In: <http://bbs.metalink.com.br/~lcoscarelli/GEsuporte.doc>. Acesso em: 20/04/2007. ______. Produção textual, análise de gêneros e compreensão. 3. ed. São Paulo: Parábola Editorial, 2009. NAPOLITANO, Marcos. Como usar o cinema em sala de aula. 2. ed. São Paulo: Contexto, 2005. O CÓDIGO DA VINCI . Direção: Ron Howard. Produção: John Calley e Brian Grazer. Sony Pictures – EUA, 2006 1 DVD (146 min.), son. color.

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Anexos Questionário sobre o trecho do filme O Código DA VINCI (2006)

1 – Quem são os personagens da cena? Resposta esperada: Sophie, Robert e Sir Teaging.

2 – Quantos cálices existiam no afresco do artista? Resposta esperada: Nenhum o que existia era a pista que da Vinci deixou.

3 – Qual é o tema central da cena? Resposta esperada: A dúvida sobre a espiritualidade de Jesus, e a possível quebra de uma

história contada há mais de 2.000,00 anos.

4 – Comente as formas masculinas e femininas que Robert explicou. Resposta esperada: A forma masculina é um falo rudimentar, representado até hoje nos

uniformes militares e a feminina é o contrário e representa um cálice.

5 – Na concepção do autor quem é o Santo Graal? Resposta esperada: É a descendente direta de Jesus – o sangue de Jesus na terra, que foi

escondida pelo Priorado de Sião.

6 – O que foi o Concílio de Nicéia? Resposta esperada: Foi uma reunião feita por Constantino em 325 d. C em Roma, para

unificar, dar parâmetros a Religião Cristã e, enfim decretar que a religião Oficial do Império

Romano era a Católica.

7 – Qual a significação da palavra companheira e fale sobre a ligação que tem com

os temas secundários da obra. Resposta esperada: Era considerada mulher e não havia outra conotação para a época.

8 – Comente quais foram os Evangelhos rechaçados e porque eram? Resposta esperada: Dois.

9 – Fale sobre a dicotomia inquisição X paganismo. Resposta esperada: A inquisição perseguiu por muitos séculos as mulheres que eram mais

liberais para o sexo e o paganismo pregava a liberade, a transcendência através do sexo e

para impor sua supremacia a Igreja Católica perseguiu por muitos anos as mulheres pagãs,

acusando-as de bruxaria.

10 – Com quais histórias/lendas o trecho traz intertextualidades? Resposta esperada: A lenda de Rômulo e Remo, Moisés.

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ANEXOS

Figura 1 – Pôster de O Código Da Vinci

Fonte: <http://www.adorocinema.com/filmes/codigo-da-vinci/codigo-da-vinci-poster11.jpg> acesso em: 10 – 06 – 2009.

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Figura 2 - Imagem de Sir Teabing ao expor a outra teoria do Santo Graal

Fonte: <http://www.adorocinema.com/filmes/codigo-da-vinci/codigo-da-vinci06.jpg> Acesso em 10 - 06 – 2009

Figura 3 – Outro pôster difundido na mídia

ANEXO 3

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Fonte: <http://www.adorocinema.com/filmes/codigo-da-vinci/codigo-da-vinci-poster09.jpg> Acesso em: 10 – 06 -2009.