o futuro do design no brasil-web

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    O FUTURO DO

    DESIGN NO BRASIL

    JOO CARLOS RICC PLCIDO DA SILVADANILO CORRA SILVAJOS CARLOS PLCIDO DA SILVALUIS CARLOS PASCHOARELLI

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    O FUTURODODESIGN

    NOBRASIL

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    CONSELHO EDITORIAL ACADMICOResponsvel pela publicao desta obra

    Aniceh Farah NevesJoo Cndido FernandesJoo Eduardo Guarnetti dos Santos

    Joo Roberto Gomes de FariaJos Carlos Plcido da Silva

    Luis Carlos PaschoarelliLuiz Gonzaga Campos Porto

    Marizilda dos Santos Menezes

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    JOO CARLOS RICC PLCIDODA SILVA

    DANILO CORRA SILVA

    JOS CARLOS PLCIDO DA SILVA

    LUIS CARLOS PASCHOARELLI

    O FUTURODODESIGN

    NOBRASIL

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    2012 Editora Unesp

    Cultura Acadmica

    Praa da S, 108

    01001-900 So Paulo SP

    Tel.: (0xx11) 3242-7171

    Fax: (0xx11) 3242-7172

    [email protected]

    Editora afiliada:

    CIP Brasil. Catalogao na Fonte

    Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ

    745f

    O futuro do design no Brasil / Joo Carlos Ricc Plcido da

    Silva... [et al.]. So Paulo: Cultura Acadmica, 2012.

    Inclui bibliografia.

    ISBN 978-85-7983-328-1

    1. Desenho (Projetos). 2. Desenho (Projetos) Estudo e ensi-

    no. I. Silva, Joo Carlos Ricc Plcido da.

    12-8601 CDD: 745.4

    CDU: 745

    Este livro publicado pelo Programa de Publicaes Digitais da Pr-Reito-ria de Ps-Graduao da Universidade Estadual Paulista Jlio de MesquitaFilho (UNESP)

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    SUMRIO

    Introduo 7

    Reviso terica1 Origens do design 132 Design na atualidade 193 Perspectivas futuras 37

    Concluses 51

    Referncias bibliogrficas 55

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    O mundo tem mudado constantemente e de maneiracada vez mais acelerada. Notam-se durante as dcadaspassadas o desenvolvimento e a modicao de valores de

    grande parte da sociedade. Durante o sculo XX, houve asubstituio das fontes de energia mecnica pela eletrici-dade. Posteriormente, tivemos a incluso e a disseminaodas tecnologias eletrnicas, que transformaram deniti-vamente a natureza de muitos objetos, cercando a todosde aparatos eletrnicos. As teorias para as quais a forma um reexo da funo acabaram por ser contrariadas sob os

    efeitos da miniaturizao das placas de circuitos integradose pelo impressionante aumento da potncia desses proces-sadores que hoje, alm de estarem nos computadores, estoem grande parte dos aparelhos eletrnicos.

    Esse tipo de tecnologia considerado invisvel, ou seja,no compreendido pela populao e, por isso, acabou nose tornando uma preocupao para a sociedade. Entre-

    tanto, os designers estilistas procuram criar tendnciasde produtos que se utilizam dessa tecnologia como umamoda ou estilo de vida, para que o pblico a compreenda,possibilitando assim sua utilizao. Esses produtos e a

    INTRODUO

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    8 Joo C. R. PlCido da Silva danilo C. Silva8 JoS C. PlCido da Silva luiS C. PaSChoaRelli

    constante mudana no estilo de vida da sociedade modernanecessitam de uma boa comunicao que desempenhe umpapel importante em vrios nveis sociais, sempre atraves-sando um considervel estgio de mudana. A globalizaoacaba criando novos valores e diminuindo as fronteiras,sejam estas tnicas ou polticas, o que acaba por misturardiferentes culturas, que tomam elementos emprestadosumas das outras.

    A expanso dessa globalizao e os avanos da tecno-logia de informao deixam claro que o volume de dadosdisponveis tanto para o projetista como para o usurio cada vez maior. Entretanto, as novas informaes criadass tm valor se forem interpretadas e aplicadas de maneiracriativa e ecaz, obrigando os designers a ter muito cuidadono desenvolvimento de seus projetos. Elas tambm trazemum uxo livre de ideias em todos os mbitos polticos,culturais ou econmicos. Um dos objetivos do design a

    criao de uma identidade em termos visuais que agreguea capacidade das novas tecnologias de se expandir a umacompreenso mtua das imagens ou dos produtos entrequem os criou e seus possveis usurios.

    A evoluo e a substituio da tecnologia transforma-ram a produo, substituindo a fabricao manual pelamecnica. Surgiu assim a necessidade de se desenvolve-

    rem no pensamento administrativo novas tendncias queenfatizem uma produo exvel, voltada especicamentepara nichos do mercado selecionado. As mudanas aca-baram resultando em uma valorizao das inovaes,que passaram a ser fundamentais para a sobrevivncia deum produto ou de uma empresa perante a concorrncia(Heskett, 2008).

    O que se pode concluir dessa evoluo que ela trouxemuitos benefcios nas questes relacionadas ao desenvol-vimento e criao de novos produtos e tecnologias quemelhor se adaptem ao usurio, enobrecendo uma nova

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    rea que est tendo o seu valor reconhecido no mundotodo e que est em constante evoluo, buscando a melhormaneira de desenvolver produtos funcionais e estticos,sejam estes grcos ou objetos, de maneira que atinjamseu pblico-alvo. Assim, o design tem se rmado em todosos mbitos, tanto mercadolgicos como no ensino e napesquisa, apoiado pela preocupao quanto aos aspectossociais no desenvolvimento desses projetos.

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    REVISO TERICA

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    1ORIGENSDODESIGN

    No se sabe ao certo quando os homens comearam amodicar o ambiente de forma signicativa. A discusso

    sobre esse assunto pode chegar aos primrdios da espciehumana, na pr-histria, pois descobertas arqueolgicasrevelam a utilizao de pedras ou ossos como ferramentas.No entanto, costuma-se relacionar o design com a Re-voluo Industrial, pois foi nessa poca que os meios deproduo foram alterados signicativamente e a em quese encaixa grande parte das denies de design.

    A Revoluo Industrial, protagonizada pela Ingla-terra, ocorreu em duas fases: a primeira em meados dosculo XVIII, foi caracterizada pelo incio da substi-tuio do trabalho humano pelo trabalho mecnico; e asegunda, cerca de um sculo aps, caracterizou-se poradicionar o uso de novas fontes de energia ao trabalhomecnico, sobretudo os combustveis fsseis. A segunda

    etapa foi a de maior impacto devido amplitude de suasmudanas. Tambm foi a mais relevante para o cenrioque propiciaria o surgimento oficial do design, algunsanos mais tarde.

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    Aps 1830, a produo industrial descentralizou-seda Inglaterra e se expandiu rapidamente ao redor domundo, principalmente para o noroeste europeu e o lestedos Estados Unidos. Porm, cada pas desenvolveu umritmo diferente, baseado em suas prprias condies eco-nmicas, sociais e culturais. Na Alemanha, por exemplo, aunicao decorrente da guerra Franco-Prussiana em 1870impulsionou as indstrias do pas, gerando grande expan-so no setor siderrgico e de base (Hobsbawm, 2003).

    As indstrias experimentaram um crescimento vertigi-noso, dizimando a concorrncia, representada por atelise artesos. Nesse processo, um dos principais fatores foio preo dos produtos industrializados, acessveis a qual-quer classe social da poca. Porm, ocorreu uma queda naqualidade dos produtos; a produo acelerada no permitiaque o criador do produto participasse de todas as fasesda produo. nessa poca que se insere o movimento

    Artes e Ofcios, criado por William Morris (1834-1896),que defendia a qualidade artstica dos produtos, tomadacomo fator secundrio no processo de industrializao emcurso (Malpas, 2001).

    O movimento Artes e Ofcios, porm, no logrou xito,pois os produtos produzidos a mo acabaram por se tornardemasiadamente caros e, com isso, eram vendidos apenas

    a uma pequena parcela da populao da poca. Todavia,seus ideais seriam revividos em Weimar (Alemanha)anos mais tarde, com a criao de uma escola de ArtesAplicadas, que buscava a insero da arte na indstria.No entanto, com a ecloso da Primeira Guerra Mundial,o edifcio da escola foi utilizado como hospital militar, oque causou um adiamento de suas operaes para o ps-

    -guerra (Wingler, 1975).Aps a guerra, a escola foi reaberta com Walter Gropius

    (1883-1969) como diretor. Com a fuso entre a Escola deArtes Aplicadas e a Escola de Belas-Artes, em Weimar,

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    surgiu uma nova instituio, Das Staatliches Bauhaus(Casa Estatal da Construo), conhecida apenas por Bau-haus. Essa escola foi inaugurada em 12 de abril de 1919,com a Alemanha em convulso pela derrota na PrimeiraGuerra Mundial. Sua viso era essencialmente socialista visando as camadas populares com produtos predomi-nantemente funcionais e tambm razoavelmente concisasobre assuntos relacionados esttica e aos produtos defabricao em srie (Meggs, 2009).

    A Bauhaus uniu artesos e artistas, agregando vriasconcepes de movimentos de artsticos. Seu intuito eraaplicar produo em massa ideias advindas de movimen-tos como o Artes e Ofcios e o Art Nouveau. Com isso,seu desao foi lanar ao mundo artstico e industrial umafuso entre arte e tcnica, ou seja, a Bauhaus seria o mda separao que o processo de produo industrial haviainserido entre o momento artstico-criativo e o tcnico-

    -material (Caristi, 1997).A escola passou por trs fases: a primeira em Weimar

    (1919-1925), com o diretor e fundador Walter Groupius; asegunda em Dessau (1925-1932), onde, em 1928, Gropiusfoi afastado por presses polticas, sendo substitudo porHannes Meyer at 1932, quando este foi afastado e assu-miu Ludwig Mies van der Rohe; e a terceira em Berlim

    (1932-1933), por um curto perodo de tempo, onde foifechada por presso dos nazistas.

    Apesar de sua curta existncia, a Bauhaus teve grandeinuncia no ensino, na prtica e at mesmo nas indstrias.Ainda aps sua dissoluo, a Bauhaus contribuiu com adisseminao do design, pois seus docentes e os alunosse espalharam por todo o mundo. Assim, muitas outras

    escolas surgiram em vrios pases, calcadas nos modelosde ensino e prtica da Bauhaus, inclusive a Hochschule frGestaltung (HfG Escola Superior da Forma), em Ulm,Alemanha, considerada a sucessora ocial da Bauhaus.

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    preciso considerar que, embora essa instituio sejaconstantemente abordada apenas no mbito esttico emetodolgico, no se pode analisar sua histria sem quese leve em conta o contexto poltico e social da poca. Emtodas as suas fases, a Bauhaus esteve aliada a reinvindi-caes sociais e, portanto, polticas. Consequentemente,o funcionalismo no foi uma manifestao neutra nessesentido, e sim um movimento com engajamento social epoltico (Schneider, 2010).

    Ao entrarmos no mrito das implicaes sociais epolticas do design, tambm devemos ter em mente ocaminho inverso, pois fatores polticos e econmicos sodeterminantes na produo do design. Aqui cabe lembraro que Schneider (2010) chamou de design negativo,que consiste em sua utilizao para nalidades sociais ouhumanas nocivas. Podem-se citar como exemplos a pro-duo para a indstria de armamentos e instrumentos de

    tortura, vigilncia e opresso. Mesmo itens aparentementetriviais, como cartazes ou materiais de propaganda, podemser usados para iludir, como ocorreu na Alemanha nazistadurante a Segunda Guerra Mundial.

    De maneira geral, iniciativas de engajamento socialcomo a da Bauhaus foram mal-sucedidas. A racionalidadee a esttica adotadas no foram compreendidas como valo-

    res culturais, transformando-se, ao invs disso, em produ-tos que conferiam algum status queles que contavam comuma formao que permitisse reconhecer um bom design(Schneider, 2010). Ainda assim o ideal do artista-projetistanascido no incio do sculo XX permanece um elementosignicativo do design (Heskett, 2008). Isso ocorre emparte porque muitos designers iniciam sua atuao de

    forma autnoma, com pouco ou nenhum envolvimentocom a produo industrial.

    A trajetria do design pode ser entendida como um pro-cesso de sobreposio, na qual tudo o que desenvolvido

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    modica ou acrescenta novas funcionalidades ao existente.Como exemplo, podem-se destacar as ocinas do sculoXIX, que encontraram novas funes para desempenhar,entre elas fornecer produtos para o mercado do turismo ouabastecer o segmento global do artesanato. Os produtosnovos no substituem totalmente os produtos existentes, esim modicam ou limitam a sua utilidade (Heskett, 2008).

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    2DESIGNNAATUALIDADE

    Aspectos etimolgicos

    Atualmente, aps quase um sculo da iniciativa alem,o termo design ainda controverso. Percebe-se umabanalizao dessa palavra, ora por falta de conhecimento,ora pelo fato de no designar uma carreira nica, como Di-reito, Medicina ou Arquitetura. Essas prosses requeremuma licena ou qualicao, com padres estabelecidos eprotegidos por instituies autorreguladas. O design, por

    outro lado, amplia-se cada vez mais em novas habilitaessem nenhum tipo de especicao institucionalizada, semorganizao ou conceito regulador, o que o torna passvelde uso indiscriminado (Heskett, 2008).

    De maneira geral, toda literatura da rea inicia com umadenio de design, com o intuito de delimitar o seu pontode vista e embasar suas armaes. Com isso, so muitas

    as denies que permeiam o campo do design, pormtodas elas se pautam em cinco pontos de vista bsicos que,segundo Lbach (2001), so:

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    objeto de um quociente esttico, devido ao fato de ter sidoinicialmente projetado e no apenas submetido a sucessivasintervenes manuais (Dores, 1990).

    Adota-se essa denominao no caso de qualquer pro-cesso tcnico e criativo relacionado congurao, con-cepo ou elaborao de um objeto. Ento, para se obterum produto de design, necessrio um projeto baseadoem metodologias que propiciem atingir objetivos prees-tabelecidos, sejam eles quais forem. A atuao do designerengloba objetos como utenslios domsticos, mquinas,veculos, e tambm imagens, como peas grcas, fam-lias de tipos, livros e interfaces digitais de softwares ou depginas da internet.

    Um dos aspectos que devem ser levados em conta quea forma no um fenmeno isolado. Ela deve ter ligaodireta com todas as outras variveis que envolvem o produ-to. Atualmente, o design tambm est ligado ao contedo,

    como varivel que faz parte das atribuies do designer(Buchanan, 2005). Assim, no possvel classicar o de-sign com uma atividade ligada arte ou tecnologia, massim ligado arte e tecnologia. O design uma atividadeprojetual multidisciplinar que conjuga e busca harmonizarconhecimentos de diversas reas.

    Com o surgimento de diversas vertentes dessa pro-

    fisso, ocorrem tambm muitos equvocos sobre o seuverdadeiro significado. comum qualquer tipo de de-senho ou representao grfica ser considerado design.Com as facilidades que a informtica trouxe, muitaspessoas so capazes de desenhar um logotipo ou pan-fleto, mas design no se limita a desenho (Maldonado,1977). O design no se limita a uma ilustrao na capa

    de um livro, pois lida com o projeto do livro como umtodo, incluindo tipografia, papel e formato. A estticafaz parte do design, mas somente um dos aspectos dodesign (Wollner, 2005).

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    Aspectos do ensino e da pesquisa

    O ensino e a pesquisa em design so aspectos intima-

    mente ligados ao pensamento crtico e inovador do design.Buchanan (2005) destaca a importncia da manutenoda viso pessoal do designer, mas tambm destaca a ne-cessidade de disciplina, para que todo o conhecimentoadquirido seja transmitido s geraes seguintes. O autorcontinua manifestando sua preocupao com o que vem todo o mundo: a falha na manuteno da disciplina,da arte, da cincia, e no modo de pensar do design, que otorna to caracterstico.

    No Brasil, a decincia de pensamento crtico se feznotar nos primrdios da implantao do design. Nessaocasio, optou-se pela importao de um modelo pronto: oda escola de design em Ulm, na Alemanha. O modo comofoi implantado o ensino de design no Brasil estabeleceu umdistanciamento crescente entre a prosso e as necessida-des do mercado. Alm disso, permitiu o aparecimento ea manuteno de uma srie de problemas relacionados aoconceito e ao desenvolvimento do design.

    A Hochschule fr Gestaltung (HfG, Escola Superiorda Forma), em Ulm, na Alemanha, foi fundada em 1952por Inge Aicher-Scholl (1917-1998), Otl Aicher (1922-

    1991) e Max Bill (1908-1994), como uma tentativa derestabelecer a ligao com a tradio do design alemo.Foi considerada a sucessora ocial da Bauhaus, da qualextraram-se muitos de seus mtodos, disciplinas, ideaispolticos, e tambm por acreditar no importante papelsocial que o design deveria desempenhar. Os primeirosanos letivos eram comuns a todas as reas, aps os quais

    era possvel se especializar em design de produto oucomunicao (Wollner, 2005).

    Segundo Wollner (2005), embora a Escola de Ulm fossecriada nos moldes da Bauhaus, inseriu inovaes impor-

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    tantes, principalmente no que concerne ao desenvolvimen-to de metodologias projetuais (conhecidas como Mtodode Ulm). A reexo, a anlise, a sntese, a fundamentaoe a seleo tornaram-se primordiais, em detrimento doensino artstico. Apenas a fotograa, a tipograa, a emba-lagem, sistemas expositivos e tcnicas publicitrias eramconsiderados suportes do projeto de design. Aos poucosoutras disciplinas que caracterizam at hoje os cursos dedesign foram inseridas, entre elas a ergonomia, a histriada cultura e a semitica.

    O modelo pedaggico da Escola de Ulm foi extrema-mente inuente, sendo utilizado como base para outrasescolas em todo o mundo. No Brasil, o ensino superiorem design, iniciado em 1963, com a fundao da EscolaSuperior de Desenho Industrial (ESDI), no Rio de Janeiro,tomou como base o currculo de Ulm. Deve-se considerarainda que, como design era uma rea do conhecimento

    nova no Brasil, no havia docentes capacitados ao seu ensi-no. Isso resultou na utilizao de prossionais formados noexterior, ou mesmo de estrangeiros, que zeram prevalecera esttica da HfG-Ulm (Niemeyer, 2007).

    A ESDI tinha como objetivo principal a criao deum espao institucional capaz de produzir a identidadenacional de produtos e comunicao visual e de legitimar a

    prosso de designer. Buscou tambm introduzir o designna pauta do debate pblico. No entanto, por seu molderigorosamente copiado da HfG, acabou por restringir osensaios formais prprios, como acontecia com a arquiteturae o movimento Free Form. Com isso, no houve incentivo reexo crtica sobre o sistema produtivo da poca, etampouco foi criada uma espcie de identidade nacional

    (Niemeyer, 2007).Atualmente, a identidade nacional ainda tema am-

    plamente discutido, porm a teoria e a prtica precisamser conciliadas para a criao de uma identidade. Nesse

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    sentido, Whiteley (1998) aponta que, de maneira geral,percebe-se uma crescente aproximao entre a teoria e aprtica, [...] sintomtica de um desmoronamento maiordas fronteiras que separavam disciplinas, reas de conhe-cimento e metodologias cientcas (ibidem, p.63). O quese observa que as diferenas existentes entre a teoria e apratica tm se confundido tanto que a relao entre essesdois polos se estreitaram, aproximando-se de uma fusodas duas prticas.

    No entanto, ainda podem ser observadas muitas de-cincias no campo do ensino em design no Brasil. Desdesuas origens, muitos docentes ou gestores se mostramindiferentes importncia do processo de capacitao. Emconsequncia, o nmero de mestres e doutores muito pe-queno, e a carga horria dedicada pesquisa incipiente e produo acadmica baixa. O corpo docente est carentede estmulos, apoio e recursos para sua formao pedaggica.

    Ainda so poucos os centros de pesquisas e informaes, abibliograa especializada e atualizada disponveis em lnguanativa no cenrio nacional (De Paula et al., 2010).

    Quanto aos discentes, o mesmo estudo destaca queh uma formao de segundo grau deciente e uma baixacultura geral, com exceo dos alunos que vm da camadamais alta da sociedade. Alguns ingressam no curso sem

    ter plena convico da prosso que escolheram ou ashabilitaes disponveis. Some-se a isso que a estruturaoferecida por muitas instituies ainda fraca e cria-seum ambiente propcio evaso escolar ou ao abandono daprosso aps o trmino do curso. Muitos so os egressosque acabam por concorrer a cargos pblicos que nada tmem comum com o design, utilizando sua formao apenas

    como pr-requisito ao cargo.O ensino em design, portanto, reete ou decorrente

    dos mesmos problemas observados em outras discipli-

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    nas ou outros nveis (Ensino Mdio, por exemplo). Huma tendncia dos governos atuais em se destacarem osmontantes de investimento em educao, relativos aoProduto Interno Bruto (PIB) do Brasil, comparveis aosde pases desenvolvidos. No entanto, a educao no pasest longe de ser comparvel de pases desenvolvidos.H problemas estruturais na forma como o ensino geri-do, incluindo problemas administrativos, de capacitao,desperdcio de recursos e falta de crtica por parte dasociedade (Waack, 2010).

    oportuno destacar que a sociedade est se transfor-mando em escala global, impulsionada sobretudo peloavano das tecnologias de informao. Os modelos deensino utilizados h dcadas parecem no ser mais ade-quados ao contexto atual, do ensino primrio ao superior.Novas metodologias de ensino j podem ser observadasnos nveis mais elementares da educao. A nova ordem

    mundial est se desvencilhando dos paradigmas econ-micos. Assim, formas de classicao como primeiro ousegundo mundo, pases centrais ou perifricos, esto semodicando para aqueles que detm ou no conhecimen-to (Rocha, 2005).

    Tendo em vista essas mudanas, o design foi se reade-quando para novas necessidades de ensino e de mercado.

    As habilitaes clssicas em design de produto e emprogramao visual , as nicas opes disponveis atpouco tempo, foram ampliadas sensivelmente. Novasespecializaes, como o design de interiores e o designde moda, foram adicionadas ao campo de atuao dodesigner e, como consequncia, ao ensino. No entanto,alteraes no processo de ensino dessas habilitaes

    ainda so realizadas quase exclusivamente por questesmercadolgicas, deixando parte as alteraes culturaisdecorrentes de novas organizaes sociais.

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    Aspectos sociais

    Segundo Dormer (1995), a gerao atual nasce e crescesujeita a restries impostas pela gerao mais velha. Issogera uma associao do existente ao conceito de restrio,ou antiquado, e sua consequente rejeio. No entanto, agerao mais nova passa a condio de atual e surgem os seusdescendentes, que passaro a rejeitar seu status e redescobriras qualidades de seus avs. Embora possa parecer trivial,deve-se considerar que a mudana um sinal de questiona-mento, de busca da inovao e de especulao constantes.

    Nesse sentido, o design estaria rmemente atrelados tendncias de uma gerao, assim como cultura naqual se insere e qual serve. Com isso, todo estudo dodesenvolvimento do design no Ocidente tem de considerara ideologia subjacente histria recente do consumo. Odesign, tal como o prprio consumo, no uma atividade

    nem amoral nem apoltica. Deve-se ter em mente quecomprar tanto quanto possvel por vezes consideradoum direito, uma necessidade (Dormer, 1995).

    As alteraes no contexto social e no modo de vida daspessoas so determinantes para o design. Nota-se umaconvergncia de aes e aspiraes que promove o uso deprodutos muito parecidos em diversos locais do planeta,

    o que, juntamente com outros aspectos, passou a ser co-nhecido como globalizao. No entanto, Buchanan (2005)defende que esse um termo adequado para a economiae o mundo dos negcios. O autor defende o conceito decosmopolitismo como o mais adequado para descreveresse processo no mbito do design.

    Buchanan destaca ainda que ser cosmopolita, a despeito

    de fronteiras polticas, implica o conhecimento das cir-cunstncias locais, da histria, das decincias, e tambmdas possibilidades para o futuro. Isso seria essencial paraa conscincia de saber onde se est, e por quais meios se

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    participa da cultura mundial. No entanto, essa tendnciade aproximao muitas vezes cria tambm um processo dearmao, como orgulho e exaltao da riqueza cultural deuma localidade. Segundo Heskett (2008), cabe ao designavaliar at que ponto a identidade cultural est consolidadae at que ponto ela suporta mudanas.

    A mudana, no entanto, determinada pela economiadominante. De maneira geral, aqueles que produzem pro-dutos em escala global so capazes de impor sua culturade consumo aos demais. Ento, o design deve assumir aresponsabilidade de solucionar problemas que vo alm dacongurao formal de um produto. Os blocos econmicosregionais tm ampliado a necessidade de conectar dife-rentes mercados e culturas. No entanto, o design deve sercapaz de se adaptar s preferncias e s compatibilidadesde mercados especcos (Heskett, 2008).

    As solues atuais para problemas dessa natureza quase

    sempre envolvem uma mudana de produtos padroni-zados para componentes padronizados, que permitemsua congurao para necessidades especcas. Heskett(2008) cita um exemplo de lavadora de roupas da empresaWhirpool, comercializada mundialmente e que teve deser ajustada ao mercado brasileiro pela adio do ciclo delavagem molho, que tpico desse mercado. A congu-

    rao exvel fornece uma variedade de formas de satisfazera mltiplas necessidades.

    Em outro nvel, metodologias que tentam compreenderos problemas dos usurios tm sido adaptadas de cinciascomo a Antropologia e a Sociologia. Um exemplo aobservao comportamental em busca de insights sobreas diculdades que as pessoas enfrentam em diversos

    contextos, como no ambiente de trabalho, nas lojas ou emescolas. A observao detalhada, levando-se em conta tem-po e espao, capaz de revelar diculdades que podem serabordadas por novas solues de design (Heskett, 2008).

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    Uma das preocupaes mais em pauta na atualidade o desenvolvimento sustentvel. Essa preocupao de-corre naturalmente do fenmeno consumista observadoaps a Segunda Guerra Mundial. Uma tendncia quepersiste ainda hoje, em alguns casos, que os consumi-dores se habituaram noo de no ser vivel o reparo deum componente defeituoso, e sim ser prefervel comprarum produto inteiro, novo e mais moderno (Dormer,1995). Com isso, volumes imensos de lixo foram e aindaso produzidos com objetos que no completaram seuciclo de vida.

    A grande popularizao do design tornou produtos dealta qualidade acessveis s camadas menos favorecidasda populao. Isso, alm de agravar o problema descritoanteriormente, levou as classes dominantes a direcionaremsuas aspiraes ao meio ambiente. Aps terem consumidoo suciente para encher seus lares e garagens, voltaram

    seus olhos para o espao exterior. Ao que parece, essalgica de ampliao de expectativas pode ser to til pararecuperar e preservar o ambiente como foi para destru-lo(Dormer, 1995).

    De maneira geral, o design est no fogo cruzado entreinteresses polticos, empresariais e os da populao consu-midora, sem apoio de nenhum dos lados. O design conta

    com um apoio restrito do Estado, ainda visto como corpoestranho na gesto empresarial, e no tem uma tradiopara sustent-lo; muitas vezes, no nem reconhecidopela cultura nacional como linguagem particular. Cadavez mais, utilizado como instrumento para a venda, [...]contribuindo para a perpetuao de uma ordem inqua quetransforma cidados em consumidores e espaos urbanos

    em painis de merchandising, obrigados a abrir mo de suadimenso crtica (Escorel, 2005, p.19).

    Nesse ponto, necessrio salientar que a coeroinstaurada pela indstria foi, em grande parte, respon-

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    svel pela manuteno do design. Um exemplo foi oorescimento do design nos Estados Unidos onde, desdea dcada de 1930, a resposta questo da boa formaou do bom design veio atravs do estmulo s vendas.Essa abordagem, conhecida como styling, consiste emmodicar esteticamente um produto de forma acelera-da, incentivando sua troca peridica. Em outros pases,como a Alemanha e a Sua, as condies produtivas dops-guerra no eram propcias ao consumo de massae, portanto, a qualidade foi adotada como diferencialeconmico.

    Com isso, o interesse na qualidade dos produtos estavamuito mais ligado competio por mercados do que aalguma ideia de progresso social. Da mesma forma queo ocorrido anteriormente com a Bauhaus, as camadaspopulares no entendiam o valor de expresses comoboa forma (Schneider, 2010). Produtos dessa natureza

    eram, muitas vezes, comprados apenas sob a pretensode serem especiais, ou artigos de marca. Nesse ponto,no h muitas divergncias entre as duas abordagens,pois os consumidores so constantemente subjugados propaganda e esttica dominante do mercado de umproduto especco. Contudo, ca claro que, seja qual fora estratgia adotada, o design tem um importante papel

    em sua aplicao.Apesar de mais ligado s condies tecnolgicas do

    que a alguma tica social em particular, o design pode seruma ferramenta excepcional de desenvolvimento social.As reas para as quais pode contribuir incluem, mas nose resumem a: educao, sade, moradia, transporte ecultura. H muito a construir, modicar e melhorar, e as

    tecnologias modernas trazem ao design a possibilidade e aresponsabilidade de desenvolver produtos que contribuampara essas e muitas outras reas nos contextos poltico,econmico e social.

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    Aspectos profissionais

    As demandas de atuao de um designer envolvemvrios setores de uma empresa, como o planejamento daidentidade corporativa, o desenvolvimento de produtos,de embalagens, da marca, de papelaria, uniformes, sina-lizao, alm do layout de ambientes fsicos, buscandocriar uma linguagem comum entre todos esses elementos.Porm, na maioria dos empreendimentos atuais, o designainda no visto como um componente estratgico, quepode colaborar decisivamente no sucesso de um produto.Com isso, o designer quase sempre ainda subordinadoaos prossionais de outras reas, como a engenharia ou omarketing. Normalmente, o designer trabalha em equipe,tanto com outros designers como com prossionais deoutras reas. O tipo e a amplitude da atuao do designerdependem da organizao do departamento de design e decomo ele se integra estrategicamente empresa.

    Departamentos de design dentro de empresas muitasvezes se dedicam exclusivamente aos produtos e serviosdesenvolvidos por elas. Isso permite que os prossionaisacompanhem vrias geraes de um produto e tenhamconhecimento aprofundado de problemas especcos doproduto ou da atividade a que se destina. O envolvimento

    de um departamento de design fator-chave para o sucessodo produto a ser desenvolvido. Comumente, os designerslidam no apenas com as etapas projetuais, mas tambmrealizam anlises de mercado para conhecer os usurios esuas necessidades ou aspiraes.

    Como exemplo, Heskett (2008) cita o empreendimentolanado na dcada de 1980 pelo departamento de design

    da Canon. Aps anlise do perl de vendas de mquinascopiadoras, descobriu-se que o mercado estava saturadocom equipamentos grandes, caros e com alta tecnologia.Com isso, o departamento de design sugeriu a produo

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    de copiadoras pessoais, menores, de custo relativamentebaixo e a partir da miniaturizao da tecnologia existente.Com a produo das primeiras mquinas sob esse concei-to, a Canon alcanou um estrondoso sucesso e chegou liderana do mercado.

    Embora parea absolutamente essencial a uma empresaque desenvolve novos produtos, h uma recente tendn-cia terceirizao do design. Nesses casos, a principaljusticativa a reduo de custos, pois a contratao deconsultores externos periodicamente elimina os custosde manuteno de um departamento interno de design.At mesmo empresas como a Siemens e a Philips transfor-maram seus departamentos em consultores internos. Issosignica que eles funcionam como um empreendimentoseparado da corporao e, por isso, devem se autogerirnanceiramente e abrir concorrncia com escritrios ex-ternos pela execuo de um projeto (Heskett, 2008).

    A prtica do design em nvel individual muitas vezesexplora a linha tnue que separa o design das artes ou daarquitetura. Nesse espao cresce um nicho que produzobjetos que podem ser simultaneamente classicados comoarte ou como design. Com isso possvel que um produtoseja imediatamente associado ao designer, como no caso doJuicer Salif de Phillip Starck. No Brasil, os irmos Campa-

    na so os exemplos mais destacados desse tipo de atuao.No entanto, muitas consultorias em design funcionam

    como empresa, sem nenhuma referncia autoria indivi-dual. Em geral, elas tm muitos funcionrios em escritriosespalhados pelo mundo, atuando numa grande quantidadede projetos. Um exemplo dessa atuao o escritrio Na-rita Design, em So Paulo, responsvel entre outros, pela

    embalagem do Guaran Antrtica em 2002.Atualmente, grandes projetos de design so realiza-

    dos por escritrios de design com uma estrutura xa queatendem a todas as necessidades do cliente. A crescente

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    valorizao do design tem se mostrado uma nova e inte-ressante faceta de negcios. Esse tipo de organizao ganhacada vez mais espao, medida que oferece um pacotemais abrangente de solues do que apenas o redesenhode um logotipo ou embalagem. Assim, reforada a visode que o design altera e refora as bases sobre as quais umaempresa est construda (Brdek, 2006).

    H tambm o surgimento de instituies governa-mentais em todo o mundo que desenvolvem o que podeser descrito como polticas de macrodesign. O objetivodessas instituies promover o design como elementoimportante no planejamento econmico nacional, princi-palmente no que tange competitividade industrial. Talqual empresas, apresentam variaes estruturais e prticasdirecionadas aos seus objetivos. Normalmente tm vriosnveis individuais e corporativos, cuja interao pode serum elemento indispensvel para a eccia de qualquer

    poltica nacional ou para determinar os rumos tomadospelo design na sociedade (Heskett, 2008).

    Atualmente, o projeto de design contempla estudosaprofundados sobre o ciclo de vida dos produtos. O design um elemento essencial para o desenvolvimento sustent-vel, pois cabe ao designer: privilegiar o uso de materiais notxicos e menos poluentes; pensar em processos produtivos

    com mxima ecincia energtica; elaborar produtos comalta durabilidade, gerando menos lixo; projetar de maneiramodular, facilitando a substituio de componentes, semo descarte do objeto inteiro; e a reutilizao ou reaprovei-tamento (Fascioni, 2007). No Brasil, h agora um movi-mento crescente pela utilizao de madeiras alternativasou de reorestamento na fabricao de mveis.

    O desenvolvimento acelerado da informtica e da tec-nologia da informao responsvel pela criao de inte-ressantes possibilidades no design interativo. Alm disso,est transformando a maneira como produtos e servios so

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    concebidos e produzidos. Os computadores se tornaramuma valiosa ferramenta de design, complementando eaperfeioando os recursos de conceituao, representao eespecicao existentes. A desmaterializao permite tes-tar um produto antes de produzi-lo, substituindo modelosfsicos como recurso no desenvolvimento de conceitos paraa produo (Heskett, 2008).

    Mais do que servir como ferramenta, a tecnologia tam-bm modica a relao entre o design e o usurio. Por essemotivo, a expresso design grco est sendo substitudopor design informacional, pois atualmente o designerest envolvido diretamente no uxo de informaes, nacomunicao. No se trata mais de apenas conjugar textoe imagem numa pea grca; trata-se de signos e smbolosque trabalham como uma nica imagem, uma mensagem,e como ela apresentada (Buchanan, 2005).

    Da mesma forma percebem-se mudanas no design

    de produto. No se trata apenas de objetos; so materiaiscom os quais o usurio constri seu cotidiano. Um nicoproduto contm cada vez mais funes, no apenas porpraticidade, mas tambm porque o design est se voltandopara a experincia do usurio. A palavra que melhor denea gide sob a qual os produtos atuais so concebidos ao,ou seja, como o usurio interage com o mesmo produto em

    vrias atividades diferentes de sua vida (Buchanan, 2005).No entanto, a tecnologia pode representar um pro-

    blema se todos os seus aspectos no forem considerados.Muitos produtos e servios lanados ao redor do mundoso desenvolvidos sem a preocupao de serem teis oucompreensveis. Assim acontece em mercados saturados,como o da telefonia, no qual comum buscar-se a dife-

    renciao pelos mais variados meios. possvel encontraraparelhos telefnicos convencionais sob as mais diversasformas, como bananas, tomates, carros de corrida, tnis eoutros (Heskett, 2008).

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    Alm disso, principalmente na telefonia celular, cres-cente o nmero de funes disponveis, sendo a maioriasubutilizada ou incompreensvel maioria dos usurios.Com isso, ca evidente que, aquilo que se convencionouchamar de mercado global, no qual se pressupe umauniformidade, em vez de solucionar, pode criar novos pro-blemas (Heskett, 2008). Embora atualmente seja possvelviver em um pas e pertencer a uma cultura alheia, isso nodeve ser tomado como regra.

    O posicionamento do designer ante as mudanas im-postas pelo desenvolvimento tecnolgico, sobretudo o queBuchanan (2005) descreve como cosmopolitismo, dependeda alterao da sua prpria noo de responsabilidade. Osdesigners ainda hoje tendem a transferir a responsabilidadepelos produtos a outros setores na cadeia corporativa, comoo marketing ou a engenharia. O mesmo autor destaca queo tempo est ganhando fora como dimenso adicional

    de um produto, pois h uma crescente nfase em como asexperincias se colocam na vida dos usurios.

    No entanto, ainda h um grande hiato entre o modocomo o designer visto pelo meio corporativo, e como elev a si mesmo. Para aquele, o designer acima de tudoum tcnico industrial, e sua permanncia depende de suacapacidade de maximizar o lucro da empresa. J os prprios

    designers comumente se percebem como detentores de ummeio para transformar e aperfeioar o mundo com vistas qualidade da vida humana.

    O design de fato um elemento que congura objetos esistemas, tendo importante papel na comunicao e na cria-o de identidades, podendo ser considerado um elementocultural. No entanto, a atuao dos designers implica a

    considerao de fatores muito alm de seu alcance, pois aconformao do ambiente humano um importante fatoreconmico, visto que o sucesso empresarial tem grandeimpacto na sobrevivncia do design. A inuncia desses

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    fatores comumente ignorada na formao de muitosprossionais (Schneider, 2010).

    Pode-se questionar, portanto, o papel do design noconsumismo desenfreado que acomete o mundo na atua-lidade. A sociedade , de maneira geral, saturada comofertas de produtos supruos, cuja compra foi mediadapor anncios vazios que mascaram uma realidade em quemuitos esto abaixo da linha da misria, ou da degradaoacelerada do meio ambiente. Alm disso, como j expostoanteriormente, o estilo de vida incorporado nos produtosde design exportado para todo o mundo pelas economiasdominantes.

    Os usurios, por outro lado, comeam a ganhar cons-cincia do consumo alienado a que se submetem. Dormer(1995) aponta que novas aspiraes so determinadas pelosconsumidores da classe dominante medida que o designe a tecnologia oferecem produtos de mesma qualidade

    tcnica e esttica s classes menos favorecidas. No entanto,o problema reside no na tecnologia, mas nas solues dedesign mal pensadas. O design intrnseco ao ser humanoe um elemento determinante da qualidade de vida das pes-soas; portanto, trata-se de uma rea de potencial imenso,ainda subutilizado (Heskett, 2008).

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    3PERSPECTIVASFUTURAS

    Ensino e pesquisa

    Uma das principais caractersticas do design sua in-terdisciplinaridade. Isso signica que o desenvolvimentoda rea se dar em conjunto com outras disciplinas. Nessesentido, a universidade tem extrema importncia, pois nela que so realizadas as interaes mais amplas, seminterferncias do mercado. A universidade representa umcampo experimental onde so testadas novas metodologias

    e onde so formados os prossionais do amanh. Princi-palmente numa sociedade em rede e com a competioglobalizada, a educao e a pesquisa sero importantesbases para o desenvolvimento.

    preciso enfatizar a formao desses novos prossio-nais, prestigiando as escolas mais srias, as instituiesque sero capazes de atender s exigncias de um Ensino

    Superior de qualidade, e tambm de oferecer uma estru-tura de pesquisa com base cientca que permita a criaode cursos de ps-graduao (Rocha, 2005). A formaoacadmica essencial para elevar o nvel de qualicao e

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    a competncia dessa rea do conhecimento, que busca seconsolidar como prosso e como cincia.

    As perspectivas de crescimento da pesquisa em designno Brasil so relativamente boas. Uma anlise dos anaisde um dos principais congressos de design do pas, oCongresso Nacional de Pesquisa e Desenvolvimento emDesign P&D Design, realizada por Paschoarelli et al.(2010a) mostra que o nmero de publicaes est em ver-tiginosa expanso. Os autores destacam que uma anlisedos indicadores de publicaes nesse evento fornece umpanorama do desenvolvimento desta rea do conhecimentoe dos principais temas ou rumos que a pesquisa em designtem abordado nos ltimos anos.

    Os autores prosseguem, armando que nesses docu-mentos possvel identicar o amplo trabalho realizadopor diversos grupos de pesquisa em todo o pas. Pontuamtambm a busca de consolidar o design como rea do

    conhecimento cientco, principalmente relacionada aosurgimento de programas de ps-graduao por todo oBrasil. Realizado a cada dois anos desde 1994, o P&DDesign publicou 2.579 artigos at a edio de 2010. Aevoluo quantitativa de publicaes nesse evento podeser vista na Figura 1.

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    Figura1TotaldeartigosporediodoP&DD

    esign.

    AdaptadodePaschoarellietal.(2010a).

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    Outro evento de peso no cenrio do design no Brasil o Congresso Internacional de Pesquisa em Design(Ciped), realizado e organizado desde 2002 pela Associa-o Nacional de Pesquisa em Design (Anped). Da mesmaforma que o anterior, esse evento ocorre a cada dois anose vem demonstrando um crescente empenho dos gruposde pesquisa na publicao de seus trabalhos (Figura 2).At a sua quinta edio, o evento publicou 898 artigos e previsto que a sua sexta edio ocorra em Lisboa, Portugal(Paschoarelli et al., 2010b).

    O aumento da produo cientca em design sinto-mtico do empenho de pesquisadores e prossionais darea, em diversas instituies do Brasil. Embora grandeparte dessas publicaes ainda se concentre nas regiesmais desenvolvidas do pas (Sul e Sudeste), crescentetambm a participao de grupos de outros locais (Pas-choarelli et al., 2010a), o que demonstra o carter plural

    e interativo do design, visto o contato prximo entreos programas de ps-graduao, parte dele obtido emeventos dessa natureza.

    Todos esses aspectos se somam ao ensino de nvel su-perior, ao permitir ao aluno ingresso nos meios cientcosainda durante a graduao. As perspectivas so de cres-cimento para o envolvimento acadmico e, consequente-

    mente, da produo e da qualicao cientcas. precisodestacar tambm que o envolvimento em grupos de pes-quisa e extenso tambm fortalece a viso social do aluno,pois muitas vezes projetos ou pesquisas so realizados emcontato direto com comunidades, ou ao menos oferecemem seus resultados benefcios diretos populao.

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    Figura2

    Totaldeartigosporediod

    oCIPED.

    AdaptadodePasch

    oarellietal.(2010b).

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    Aspectos sociais

    necessrio que o design assuma uma postura ticaperante sua produo e suas relaes com o mundo. Umareviso dos valores da prosso deve ser realizada diaria-mente, de modo que se considerem questes relativas aomeio ambiente, sociedade, economia, e como todosesses fatores moldam o comportamento e as necessidadeshumanas. As mudanas tecnolgicas devem ser acompa-nhadas de perto para que produtos de qualidade e dura-bilidade superior sejam projetados.

    Os avanos tecnolgicos recentes nos processos deproduo, novos materiais e miniaturizao tm am-pliado consideravelmente o horizonte de concepo dosprodutos. Surgiram muitos produtos eletrnicos com umainnidade de funes, e tambm novas formas de inte-rao que intensicaram o debate nas reas psicolgicase cognitivas que envolvem o ser humano em um mundoartificial. No contexto apresentado cabe ao designerencontrar uma maneira de aliar tecnologia a cultura,buscando atuar como intrprete entre a produo dessestipos de produto e os usurios (Landim, 2007).

    Os prximos anos reservam um avano ainda maiorpara a tecnologia, possivelmente com o uso da nanoenge-

    nharia e de uma realidade virtual com mais possibilidadesde aplicao. Porm, cabe ao designer desenvolver pro-dutos que proporcionem objetividade, potencial de uso,segurana e satisfao ao usurio (Dormer, 1995). Mesmosendo aliado da tecnologia, o designer no deve esquecer ocomponente humano dessas relaes. Alm disso, uma desuas atribuies promover o uso de tecnologias que redu-

    zam o impacto das atividades humanas no meio ambiente.Com isso, espera-se que o design se torne cada vez

    mais especco, e que seus prossionais se preocupem

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    com a relao crescente entre os usurios e os produtos.Espera-se que cada vez mais seja incisivo o debate sobre omodo como os designers podem ajudar as pessoas a aceitarnovas tecnologias sem terem de disfarar o novo com umestilo do passado. Alm disso, a cincia dos materiais e atecnologia da informao apresentam uma cultura em queas preferncias dos usurios se tornam mais complexas,menos materiais e mais espirituais (Dormer, 1995).

    Com o despontar de novas tecnologias surgem muitosatritos na interface humana. V-se uma proliferao derecursos em aparelhos eletrnicos, muitas vezes utilizadosapenas como ferramenta de vendas, j que os usurios no outilizam. A subutilizao de equipamentos cada vez maisfrequente. Os computadores, por exemplo, tm recursosde hardware e software que raramente so utilizados plena-mente. Alm disso, em geral, os sistemas computacionaisso complexos e pouco intuitivos.

    Os desaos para o design, no curto prazo, tendem a semanter ou a se ampliar medida que sero mantidas as di-ferenas entre os grupos de consumidores. Vrias geraesdiferentes ou grupos com graus diferentes de instruo efamiliaridade com sistemas e objetos de alta tecnologiarepresentam um desao capacidade do design de tornaracessveis as funcionalidades dos produtos. Atualmente j

    se percebe um hiato entre a gerao mais jovem, familiari-zada com o uso de computadores, e a anterior, que emboratenha algum contato, continua a no obter o domnio daferramenta (Dormer, 1995).

    O design deve ser capaz de conceber transies entrenveis de complexidade que sejam lgicos e que facilitema compreenso dos usurios. A expectativa que o design

    seja um importante colaborador na obteno do aumentoda qualidade de vida, em detrimento de aspectos comer-ciais. No m do sculo XX, o design se caracterizava como

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    ferramenta comercial. No futuro deve ser utilizado paracriar um ambiente desejvel, onde as pessoas tenham maisescolhas. A comunicao e os transportes rpidos tendem atornar tudo muito instantneo e acessvel, tornandoa ligao pessoal um fator de ainda maior importncia(Landim, 2007).

    Outro fator que ganha cada vez mais fora a susten-tabilidade. H um crescente interesse da populao porassuntos ambientais e j possvel observar o impactoque isso causa nos crculos empresariais. Cada vez maisempresas descobrem que podem melhorar suas receitaspor meio de uma imagem de responsabilidade social eambiental. Dormer (1995) arma que princpios dessanatureza tendem a proliferar tanto em cursos de design,como de arte, tecnologia e gesto empresarial. Com isso,espera-se que os designers se questionem cada vez maissobre o impacto do seu trabalho no meio ambiente.

    E no somente na concepo dos produtos o designpode contribuir para o futuro. Como destaca Buchanan(2005), o design estar cada vez mais voltado para a ao,para o tempo, para como realizada a interface com osprodutos na vida diria e como isso inuencia o compor-tamento humano. Produtos e sistemas fazem parte do quehoje, de maneira geral, se denomina mundo civilizado e,

    nesse mundo, a comunicao ganha cada vez mais impor-tncia. Como um comunicador de ideias, o designer ter dedesempenhar um papel mais central no contexto no qualos produtos so usados (Dahlstrom, 2006).

    Dormer (1995) tambm chama a ateno para o fatode que o mundo est em uma era de ceticismo. Nessasocasies, segundo ele, as sociedades se vinculam a regras,

    obrigaes e instituies sociais que oferecem garantia decontinuidade e proporcionam servios que atendam a todaa sua complexidade moral. Dormer salienta igualmenteque o estgio atual de desenvolvimento oferece uma ampla

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    gama de produtos e servios aos consumidores que gozamde privilgios nunca antes observados, embora em quan-tidade insuciente ou de maneira desigual.

    Observa-se que, com o desenvolvimento da sociedadecosmopolita, houve um progresso muito acentuado no quediz respeito a benefcios, mas tambm nas preocupaesem escala global. As questes ambientais hoje so pautade reunies com os mais inuentes lderes do planeta, e oavano da tecnologia um tema amplamente discutido emtodo mundo. No entanto, a valorizao do conhecimentotecnolgico deve acontecer sem que ocorra a desvalorizaodo aspecto artstico do design, pois essa relao diz respeito interpretao dos valores culturais de uma sociedade e datransmisso desses valores aos projetos (Bonsiepe, 1983).

    Prtica profissional

    O design no parece ter uma trajetria denida. Elese torna cada vez mais especializado em alguns campos,desenvolvendo competncias especcas, mas ao mesmotempo se torna generalista em outras, com o aparecimentode formas hbridas de prtica. Tambm no ser simples-mente uma atividade encarada como fator econmico,

    cujos resultados sero representados em grficos porespecialistas. O design ser uma ferramenta na obtenodaquilo que as sociedades acreditam ser qualidade de vidanuma base sustentvel, e ser um item indispensvel aosprodutos e servios do cotidiano. Os designers no podemapresentar todas as solues, mas podem fazer parte dodebate (Heskett, 2008).

    Do ponto de vista corporativo, os designers estoganhando espao em cargos executivos com tomadas dedeciso em nveis estratgicos. Com isso, no apenas odesign dos produtos ser alterado, mas tambm o futuro do

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    empreendimento. Com as mudanas decorrentes de novasestruturas administrativas e de produo, espera-se que odesign seja determinante na construo do novo modeloempresarial de base tecnolgica. Assim, o prossional temde ser preparado para atuar no somente em empresas tra-dicionais, mas tambm em setores novos que privilegiama inovao tecnolgica (Rocha, 2005).

    Buchanan (2005) defende que o designer deveria refor-ar seus conhecimentos sobre a construo de um produto,sobre como feita sua produo. Atualmente, o designerest trabalhando em uma clula parte tanto dos proces-sos produtivos como do dia a dia do cliente. No entanto,deveria construir produtos e sistemas que se integrassemnum pensamento holstico sobre todo o processo produtivoe as condies de uso. Dormer (1995) arma inclusive que necessria empatia por parte dos prossionais, de modoque atendam a todo o leque de usurios de um produto,

    independentemente de serem ou no versados nas novastecnologias.

    Embora isso possa ser alcanado de forma consistentepela integrao do design estrutura empresarial, h umatendncia atual que pode causar a extino dos departa-mentos de design. Isso justicado principalmente pelareduo de custos que a contratao de terceiros oferece.

    Porm, se o design for tomado como um fator diferen-ciador entre empresas, de uma maneira mais profunda esignicativa, ele deve ser cultivado de modo consistentecomo algo capaz de fornecer ideias nicas (Heskett, 2008).Nesse sentido, o departamento de design de uma empresapode oferecer um conhecimento muito mais aprofundadosobre as vrias geraes de um produto ou da empresa em

    si. Por outro lado, os escritrios de design podem oferecerperspectivas novas sobre os produtos de uma empresa.Assim, a interao com esses empreendimentos ou consul-tores externos pode favorecer o desenvolvimento de novos

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    As estratgias privadas sero essenciais ao desenvol-vimento do design. A indstria deve investir na criaoe no na reproduo do que j existe, seja no Brasil ou nomundo. importante tambm trabalhar com a expectativada alterao dos setores produtivos primrio e secundrio,caracterizados pela indstria de base e de bens de consumo,para o setor tercirio, onde os produtos estaro agregadosa pacotes de servios que preencham completamente asnecessidades dos clientes. Independentemente da formade atuao do designer, seja em nvel individual ou emescritrios, essencial manter o contato com outras reaspara oferecer esse tipo de servio.

    preciso ressaltar tambm que as polticas governa-mentais de fomento a indstrias devem ser articuladas spolticas macroeconmicas, pois podem criar condies maisfavorveis ao desenvolvimento da tecnologia e, consequen-temente, do design. Consideramos ainda que a rea est se

    tornando muito ampla e que questes de poltica industrialainda privilegiam especialmente o design de produtos, quedepende diretamente do progresso da indstria e demandamum investimento maior. O design grco, por outro lado,tem se utilizado da popularizao de novas tecnologias e in-terfaces digitais, como publicaes multimdia e na Internet.

    Muitas linhas de pensamento acreditam que, no futuro,

    o usurio quem vai ditar as regras, mas a realidade daprtica econmica deixa claro que, em muitos aspectos,as empresas continuaro mandando. Novas metodologiasde projeto enfatizam o envolvimento do usurio ou de umgrupo de usurios, porm as resolues ainda dependemdo aval do produtor. No haver consentimento em taisnveis a no ser que seja possvel demonstrar a viabilidade

    nanceira dessas metodologias e dos resultados que elasproporcionam. As resolues no sero tomadas pelos de-signers, mas o design ser de vital importncia na expressode seus resultados (Heskett, 2008).

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    Um dos meios pelos quais o design pode ganhar repre-sentatividade pela organizao e a institucionalizao daprosso. No entanto, ainda persiste uma falta de mobili-zao da categoria por uma mudana signicativa do papeldo designer. Isso se deve ausncia de uma viso clara desua prpria posio especca diante de outras categorias, etambm a ignorncia de sua posio relativa na sociedade.Conhecer a histria do design essencial para que o futuroprossional saiba os motivos pelos quais a sua rea foiemancipada e que demandas visava atender. A visualizaodo contexto histrico em paralelo ao contexto atual podefornecer as respostas para a consolidao da prosso e desua cincia (Niemeyer, 2007).

    Da mesma forma, Whiteley (1998) ressalta tambma importncia da perspectiva histrica, sem a qual no seobtm plenamente as questes e os valores da sociedade. preciso conhecer as relaes que permeiam o capitalismo

    tardio, o consumismo e a ps-modernidade. O designerdeve ter conscincia do impacto da prosperidade, do consu-mismo e da questo do estilo de vida como determinantessociais e culturais, no apenas em termos de segmentaode mercado e colocao do produto. Os designers devemser bem informados e capazes de uma reexo crtica, almde serem criativos no projeto. Whiteley ainda ressalta a

    importncia de maior coerncia entre os diversos aspectosda formao, a m de proporcionar uma complementaoou at mesmo um construtivo confronto de competncias.

    Com isso ca claro que o design um subsistema dentrode sistemas econmicos e sociais maiores, e que no fun-ciona de maneira independente desses contextos. So osdesigners que determinam todas as formas das interfaces

    entre o homem e a tecnologia que o cerca no dia a dia.Nesse sentido, um grande desao, cuja presena j pode sersentida, desenvolver o ambiente tecnolgico do futuro,privilegiando o aspecto humano. A necessidade de criar

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    maior compatibilidade entre os sistemas articiais produ-zidos pela criatividade do homem e os sistemas do mundobiolgico, resultantes da evoluo natural (Heskett, 2008).O design deve assumir seu papel como elemento que visaconciliar, facilitar e melhorar a qualidade de vida a partirdos elementos articiais que cercam o ambiente humano.

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    CONCLUSES

    O design uma rea do conhecimento amplamentediscutida nos dias atuais. No tem um campo de atuao

    claramente denido, sua emancipao das artes e da arqui-tetura no ocorreu de forma sbita e, ainda hoje, h quemargumente contra ela. As fronteiras dessas reas aindaso nebulosas e fervorosamente discutidas. No Brasil, aprpria implantao do ensino em design, essencial paraa formao dos futuros prossionais, foi envolta em pro-cessos decisrios nebulosos, que no reetiam as condies

    e as necessidades do pas na poca. Essa postura acaboupor criar um distanciamento entre o ensino do design e omercado, fato que persiste at os dias atuais.

    A popularidade que o design vem alcanando nosltimos tempos acaba por evidenciar uma crescente cons-cientizao de sua importncia, em termos econmicos,estratgicos ou ambientais. No entanto, em alguns casos,

    h uma banalizao do termo, com seu uso indiscriminadopara indicar toda e qualquer atividade de cunho esttico,gerando algumas anomalias como hair design efood design.Casos como esse so comuns e tendem a se multiplicar

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    na medida em que os meios de comunicao, mesmo noscasos aplicveis como o do design automotivo, ressaltam odesign apenas como fator determinante da beleza do auto-mvel, enquanto a engenharia e outras reas contemplamdesempenho e tecnologia.

    A consolidao profissional do design depende doposicionamento da categoria diante da sociedade, dosoutros prossionais e do mercado. Deve-se enfatizar aodesigner, ainda na sua formao, a conscincia de suascompetncias e seu papel em cada um desses aspectos. Aautocrtica essencial ao designer, tanto na concepo denovos produtos como em relao ao seu posicionamentodentro de contextos mais amplos de outras prosses e dasociedade. A regulamentao da prosso um passo im-portante para denir os patamares sobre os quais o futuroda prosso ser construdo.

    Ser necessria uma mobilizao da categoria que inte-

    gre os seus aspectos cientcos, sociais, econmicos e prti-cos. A considerao de todos os interesses reais por trs daatividade essencial, pois sem eles todas as manifestaesso puramente ideolgicas. No se podem mascarar fatorespolticos, econmicos e sociais com intenes artsticasou estticas. Embora a interdisciplinaridade observadana atuao do designer seja uma de suas caractersticas

    mais evidentes, para criar produtos ecientes necess-rio conhecer todo o contexto de inovaes tecnolgicas,econmicas e de processos produtivos.

    Alm disso, a conscincia de que se est projetandoem benefcio do homem primordial e requer intera-o com reas das cincias humanas e sociais, comoPsicologia, Sociologia e Antropologia. O avano no

    conhecimento e na prtica do design depende direta ouindiretamente dos avanos obtidos em diversas outrasreas do conhecimento. No futuro, espera-se que essaconscincia no se perca em meio s milhares de funes

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    incompreensveis e inteis de sistemas que se tornamcada vez mais complexos.

    Os designers tm e tero ao seu alcance a capacidadede demonstrar, tanto na forma como nos materiais e nosprocessos utilizados na concepo de um produto, que osobjetos tm um impacto no mundo, seja social ou ambien-tal. importante considerar aspectos ergonmicos, queprivilegiem e facilitem o uso por usurios com as mais di-versas capacidades fsicas ou mentais; os impactos sociais,inseridos na conjuntura capitalista do estilo de vida atual; etambm os ambientais, que promovam o desenvolvimentosustentvel. Embora esses objetivos j faam parte daconduta do design atual, espera-se que ganhem cada vezmais peso no ensino e na prtica do design, possibilitando aformao de prossionais mais conscientes e responsveis,social e ambientalmente.

    Hoje j possvel observar grande movimentao no

    que concerne a esses aspectos. Nunca houve tanto empe-nho em enfatizar a necessidade de mudana nos padresatuais de estilo de vida, ainda que se caminhe a passos len-tos, em consonncia com a presso comercial e econmicaque no abre mo de seus lucros. A aplicao de novaspolticas e prticas comerciais fundamental para denirque papel ter o design no futuro, como funcionar no as-

    pecto operacional e para deixar claras suas competncias. preciso salientar que as mudanas devem ser equilibradaspelo reconhecimento de que elas sejam cautelosas e basea-das no em modismos, mas no conhecimento cientco.

    No se pode prever exatamente o que vai ocorrer,mas novas tecnologias, novos mercados e novas formasde organizao comercial e social esto mudando funda-

    mentalmente o mundo e, com isso, novas teorias e prti-cas de design tero de surgir ou se adaptar a essas novascircunstncias. O design ter um papel importantssimonesse novo mundo e, sendo tratado com a devida seriedade

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    e utilizado com responsabilidade, poder se tornar efeti-vamente a base da congurao do ambiente tecnolgico,contribuindo para a melhoria da qualidade de vida dosseres humanos e de outras espcies do planeta.

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    SOBRE O LIVRO

    Formato: 12 x 21 cmMancha: 20 x 40,4 paicas

    Tipologia: Horley Old Style 10,5/14Papel: Offset 75 g/m2 (miolo)

    Carto Supremo 250 g/m2 (capa)1 edio: 2012

    EQUIPE DE REALIZAO

    Coordenao GeralKalima Editores

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