o futebol amador no vale do são francisco
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Breve história do esporte nas cidades de Curaçá, Juazeiro e PetrolinaTRANSCRIPT
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O futebol amador no Vale do São Francisco: de envolvente ao esquecimento nos dias atuais Um passado de triunfos, um presente com pouco prestígio e um futuro incerto. O futebol amador nas cidades de Juazeiro, Petrolina e Curaçá pode está com os dias contados.
Por Luciano Lugori, Raianne Guimarães e Mário Alves (T)
Time do Veneza de 1956, onde atuou Paulo Mandinga
Campos de várzea, futebol amador charmoso que envolvia o público e os
jogadores, assim eram as tardes de domingo na cidade de Juazeiro da Bahia nas décadas
de 20 até início dos anos 90. O futebol é tido como cultura, pois consegue unir inúmeros
povos, oferece alegria, paixão e possui um lado social, representando assim a identidade
de uma nação.
O brasileiro por si só já é entusiasmado, mas quem viveu na cidade de Juazeiro
nesse período relembra com saudosismo a grandiosidade que era a prática do futebol
amador na região baiana. Esta tida como um celeiro de craques, que alcançou dimensão
no cenário nacional durante o decorrer desses anos.
Não se sabe ao certo a origem do futebol, mas, acredita-se que tenha surgido em
1863, na cidade de Ashbourne na Inglaterra, praticado pela classe operária no horário
livre ao trabalho, conquistados no movimento operário sindical.
No Brasil, Charles Miller - paulistano do Brás - foi morar na Inglaterra e
retornando ao seu país de origem em 1894, trouxe a primeira bola e regras futebolísticas
para esse. O primeiro jogo foi realizado em 15 de abril de 1895 entre funcionários
ingleses de empresas inglesas. Funcionários da Companhia de Gás contra Companhia
Ferroviária São Paulo Railway.
Na cidade de Juazeiro quem trouxe a primeira bola foi o juazeirense Adolfo
Bonfim, nascendo o futebol na urbe entre 1915 e 1920. Não existia teatro, cinema,
então, a prática do futebol amador era uma busca pela diversão no fim de semana, pois
os jogos eram realizados no domingo. A cidade em dia de jogo ficava mobilizada, era
realmente um espetáculo esportivo, com direito a torcida organizada feminina.
Em 1919 não havia a organização das agremiações, mas já existia o primeiro
seleto de jogadores, tratava-se do Veneza Foot-Ball Club. “Um pessoal que veio de uma
fazenda chamada Veneza que existe em Curaçá, cujo espaço ficava alagado quando
chovia, se instalou em Juazeiro, e quando choveu na terra das Carrancas, alguém gritou
“a Veneza”. Daí a explicação da origem do nome do time”, lembra o pedagogo e
radialista Toni Martins.
Vale ressaltar ainda, times como Castro Alves, Associação Atlética Juazeirense,
Bahiano, iniciaram a prática do futebol amador na cidade. Depois surgiram Olaria e
América, entre tantos que alegravam os juazeirenses e toda a região. Jogadores como
Caboclinho, Padeirinho, Artur Lima, Dozinho eram considerados craques.
A formação da Liga Desportiva Juazeirense
Para organizar os clubes e cadastrar
jogadores de futebol amador criou-se a
Liga Desportiva Juazeirense (LDJ) em
28 de março de 1923. A LDJ ficou
responsável por promover campeonatos
municipais e intermunicipais, onde
equipes de Curaçá e Petrolina
participavam. José de Meira Cabral foi
o primeiro presidente da LDJ e João
Meirelles de Souza o vice. Vale ressaltar ainda os nomes de Agostinho José Muniz e
Olegário de Assis que também formaram a primeira diretoria.
Prestes há completar 89 anos, a LDJ tinha como objetivo o incentivo a prática da
educação física e aperfeiçoamento estético dos jovens, conforme prevê ata de fundação.
Tinha uma ligação direta com a Federação Baiana de Futebol, para os mais íntimos
FBF, fazendo com que os melhores árbitros de futebol de Salvador apitassem em
Juazeiro. A LDJ era vista como uma das ligas mais bem organizadas dentro da FBF. Os
campeonatos existentes na época eram o interno da Liga, o intermunicipal e tinha o
BaPe, os melhores times de Juazeiro contra os melhores times de Petrolina e era casa
cheia nos estádios das duas cidades.
As competições do futebol amador eram divididas em duas categorias: o 1º e o
2º quadro. O primeiro quadro era para aproveitar aqueles jogadores novos que vinham
do segundo. Os jogos eram realizados nos campos de várzea do XV de Novembro, da
Leste em Piranga, no campo do Morrão no Castelo Branco (hoje praticamente não
existem mais esses campos), até a construção do Estádio Adauto Moraes.
A LDJ era organizada e auto-sustentável. Segundo o ex-jogador e ex-presidente
da Liga (onde atuou mais de vinte anos em diversas funções), Paulo Santana, mais
conhecido como Paulo Mandinga, a Liga tinha tanto dinheiro que um presidente andava
com talões de cheque distribuindo para o povo.
Quem acreditaria que uma
cidade do interior da Bahia traria o
presidente da Federação
Internacional de Futebol
Associado (FIFA), João
Havelange? Pois é, a Liga
Desportiva de Juazeiro conseguiu
trazê-lo em 1977, devido à
importância do futebol amador da
cidade. Vasco da Gama, Flamengo e Botafogo também estiveram no município para
jogar contra os times amadores de Juazeiro.
A LDJ bancava essas competições e a Prefeitura só dava a cada time um jogo de
camisas e par de chuteiras no início dos torneios. A renda da bilheteria era da Liga, mas
os clubes também tinham participação no lucro. Estes mantidos por empresários
amantes do futebol e pela torcida. “Naquela época existia muitos empresários, como Zé
Gomes, Lulu, grandes torcedores que ajudavam os clubes de Juazeiro, como o Olaria,
Veneza, Carranca. E isso formavam grandes equipes”, diz Silvandro Ribeiro, ex-jogador
do Veneza.
Antigamente por ser amador, os jogadores não recebiam salário, o que existia
era um contrato feito pela Liga. O atleta poderia até ganhar dinheiro, mas sem ser
oficializado. Era uma época em que o futebol amador passou a ser mascarado como
uma espécie de profissionalismo e amador marrom, porque muito jogador tinha contrato
de gaveta com os times, ou seja, ganhavam algo ou os donos dos clubes os empregavam
em suas empresas, mas sem fazer muito alarde. Então, eram funcionários durante a
semana e jogadores representando a empresa em que trabalhavam no domingo.
Os anos passaram e os louros também, conflitos e ostracismo, ou quase isso,
tomaram conta do futebol amador. No final da década de 90 e início dos anos 2000, a
LDJ passou por uma crise, pois o ex-presidente da Liga Antônio Barbosa, o Baé, fez
dívidas que não foram pagas, culminando numa ação Judicial, fazendo com que o dono
da empresa lesada, retirasse geladeira, telefone, ar condicionado e vários equipamentos
existentes na corporação. Depois de Baé, quem ocupou o cargo foi Francisco José, que
administrava o Estádio Adauto Moraes ao mesmo tempo em que geria a LDJ, ele
acabou sendo destituído do cargo pelo desporto (presidentes dos clubes federados à
Liga).
Atualmente a LDJ para a Federação não existe mais. A decadência da Liga, o
surgimento de novos esportes, a falta de interesse público, da mídia, do empresariado e
da população, sem contar no surgimento do profissionalismo fizeram com que o futebol
amador desaparecesse do cenário das conversas dos finais de semana em barzinhos,
apesar de ainda serem realizadas competições amadoras.
Nos dias atuais é a Prefeitura Municipal da cidade quem assume a
responsabilidade para a prática do futebol amador e o utiliza como uma ferramenta para
que os jovens possam fugir das drogas, formar cidadãos e atletas. De acordo com
Gilberto Pacheco, gerente de esportes de Juazeiro, o futebol amador é uma forma de
integração e inserção social, gerando emprego e renda. E, além disso, é um combate a
violência, direcionando as comunidades a prática de atividades esportivas.
Os campeonatos existentes são a Liga Principal, que é o campeonato amador
onde participam oito clubes filiados a LDJ, tem o Campeonato Distrital, que ocorre com
os oito distritos da cidade e o Campeonato Interbairros, que é uma competição entre os
bairros da cidade. Em 2011 o campeão do Interbairros foi o Alto do Cruzeiro e do
Distrital foi à seleção de Itamotinga.
Porém, essa prática não empolga mais tanto o juazeirense, que se acostumou ao
brilho do futebol amador. “O futebol amador é para dar o direito constitucional de lazer,
de prática esportiva, de promoção da saúde, da qualidade de vida do cidadão.”, afirma
Gilberto Pacheco. Atualmente oito times fazem parte da LDJ, são eles: Veneza, Olaria,
XV de Novembro, Carranca, Juazeiro, Barro Vermelho, América e Colonial.
A transição do amador para o profissional
“Hoje o futebol de Juazeiro amador acabou! Ele foi forte até os anos 90, quando entrou
de 95 para cá caiu de vez”, desabafa Mandinga.
Não, o futebol amador não acabou, só está
esquecido e renovado. Apesar de se ter ainda a
prática do futebol amador sub 17 e principal, essa
modalidade nos dias atuais não representa mais a
áurea época de Padeirinho, Caboclinho, pois não
tem alegria, nem a mesma efervescência do
torcedor que ia para o Estádio Adauto Moraes. “Tivemos uma época de ouro no futebol amador de Juazeiro. A equipe do Bahia
vinha aqui e apanhava, Vitória vinha aqui e apanhava. Aqui começaram a surgir grandes
jogadores e, diante disso, começou a se pensar lá fora no grande interesse dos jogadores
de Juazeiro, então, começou a surgir a ideia de fazer um time profissional”, relembra
Mandinga. Muitos jogadores saíram do amador de Juazeiro para despontar em times não
só da Capital baiana, mas para todo o Brasil. Alfredo Futuca foi jogar no Bahia, Louro
foi para o Galícia, Luiz Pereira foi para o São Bento de Sorocaba e tantos outros.
O futebol amador não tinha mais como escapar do profissionalismo, pois o
Brasil aos poucos ia descobrindo que a terra às margens do Rio São Francisco poderia
oferecer muito mais, já que há décadas a cidade revelava jogadores de qualidade, e o faz
até hoje (com menos frequência), porém, com um caráter lucrativo. Nixon Darlanio que
está no Flamengo do Rio de Janeiro e Jean Almeida que foi para o time paulista
Corinthians são as mais novas promessas saídas do celeiro de craques, que ainda é a
cidade de Juazeiro.
O simples trabalhador que jogava por prazer e diversão passou a ser um produto
do futebol. Quem diria que o futebol cujo entretenimento era o principal, virasse um
profissional da bola? Pois isso aconteceu! Os times América, Barro Vermelho,
Carranca, Colonial, Grêmio, Olaria, XV de Novembro e Veneza formaram em 16 de
agosto de 1995 o primeiro time profissional da cidade, o Juazeiro Social Clube.
Com o profissionalismo, o público o tem prestigiado mais do que o amador, com
exceção da equipe do Colonial de Maniçoba que desde 1998 sempre coloca 1.500 a
“Hoje o futebol de Juazeiro amador
acabou! Ele foi forte até os anos 90,
quando entrou de 95 para cá caiu de vez”, desabafa Mandinga.
2.000 torcedores em finais de campeonatos. A falta de investimentos para incentivar a
população a ir ao Adauto Moraes assistir o futebol amador está fazendo com que as
equipes amadoras não recebam praticamente nada pelos jogos.
“Quem mantém as equipes amadoras hoje é o poder público, e quando tira toda
a despesa do jogo: gandula, árbitro, o rapaz da administração do Estádio a gente não
fica com praticamente nada. Para se ter uma ideia tem arrecadações que a gente fica
com vinte reais”, afirma Alfredo Gonçalves, presidente do XV de Novembro.
Outro ponto que fez com que o futebol
amador fosse desvalorizado é que com a ascensão
do profissionalismo, os jogadores preferem ir para
a base de um time em que ele receba salário ou
uma ajuda de custos do que participar de uma competição amadora.
O profissional de Juazeiro surgiu do amador e ainda existem alguns jogadores
saindo do amador para o profissional sem custo nenhum para o time de origem. Alfredo
Gonçalves diz ainda, que atualmente os dirigentes dos clubes amadores estão buscando
uma forma dentro da lei para que possa registrar esses meninos e quando eles forem
para outro clube, a associação amadora possa receber uma parte da venda, mas isso a lei
ainda não permite. A Liga cadastra, porém, esse jogador não fica atrelado ao clube.
Com o profissionalismo pensou-se em agregar o bem estar, o lazer, e ser um
campo que rendesse aos jogadores e aos clubes fins lucrativos, porém, fizeram essa
transformação sem uma base, e por isso, pelo menos um dos clubes profissionais todo
ano luta para não ser rebaixado no Campeonato Baiano.
Para que o futebol amador seja mais praticado e o público volte a se encantar,
teria que ter mais campos disponíveis e adequados para treinos dos clubes profissionais
e porque não amadores. Uma maior organização, incentivo moral e financeiro da
Prefeitura, dos empresários e da população, pois nem tudo é de responsabilidade do
setor público também deveriam ser pensados. “A questão financeira dos clubes e da
própria Liga é o principal motivo para não se realizar um número maior de
campeonatos”, alerta Josival Barbosa, presidente da LDJ.
O futebol amador poderia ser uma base maior para os times profissionais, para
que cada vez mais apareçam bons jogadores. E para isso acontecer, as competições
amadoras deve diminuir a categoria de sub 17 para sub 12 ou 15, já que de acordo com
Janílson Britto, auxiliar técnico do Juazeiro Social Clube e ex-jogador amador e
profissional, tem surgido muito pouco jogador vindo da base.
“Quem mantém as equipes amadoras hoje é o poder
público”, Alfredo Gonçalves
No dia 15 de fevereiro de 2012 vai ter eleição presidencial da LDJ, para quem
sabe modificar o cenário de “esquecimento” em que se encontra o futebol amador de
Juazeiro.
Por onde andam os craques do futebol amador?
Bartolomeu Britto Monteiro, o popular Caboclinho
O futebol juazeirense fica mais triste, pois morreu neste último dia 19 aos 78 anos de
idade, Caboclinho, um dos maiores craques considerados pelos torcedores que o viram
jogar. Com passagens pelo América de Petrolina, Olaria, Veneza, Fluísco, Seleção de
Juazeiro e depois como treinador do Carranca, Caboclinho fez história no futebol
amador da cidade. Bartolomeu Brito Monteiro, seu nome de batismo, começou a jogar
em 1945 com 12 anos e foi campeão com essa idade. Aposentado pela Companhia de
Navegação do São Francisco, empresa que o fazia jogar no time do Olaria, ele
acreditava que falta base no futebol profissional, e por isso que os times da cidade não
têm consistência nos campeonatos. Foi como treinador que Caboclinho teve uma de
suas maiores glórias, pois, o lateral juazeirense Daniel Alves passou por sua escolinha
e acabou se tornando um ídolo mundialmente conhecido.
Muitos juazeirenses também devem sentir saudades de ver em campo José Pereira de
Lima ou simplesmente Padeirinho. Ele começou sua carreira com 17 anos em 1937, e
jogou até 71. Atuou contra o Vitória, Bahia e Galícia. Para Padeirinho a época mais
forte do futebol amador foi de 39 a 42 com Veneza e Olaria, este último foi o que ele
mais atuou, sendo tricampeão nos anos de 56, 57 e 58. “Naquele tempo os jogadores
eram melhores do que hoje”, afirma Padeirinho no auge dos seus 94 anos. Na
reinauguração do Estádio Adauto Moraes, em 14 de Janeiro de 2012, eles deixaram as
marcas de seus pés na “calçada dos craques”, ficando eternizados no Estádio.
O futebol amador em Petrolina
O futebol em Petrolina no final da década de 40 era bastante praticado nos
bairros, muitos torneios eram realizados e cada time possuía sua torcida apaixonada.
Como esses campeonatos tornavam-se cada vez mais disputados e atraíam muitos
torcedores aos jogos, sentiu-se a necessidade de criar uma instituição que pudesse
organizar o futebol amador na cidade. Nasceu assim a Liga Desportiva Petrolinense
(LDP) em 1948, onde Januário Alves, arrebatado pelo futebol foi o fundador. A Liga
teve um papel importante para a difusão do esporte.
Com a entidade, os times filiavam-se para garantir o direito de participar do
campeonato amador. Times como: Palmeiras Esporte Clube, equipe mais antiga da
cidade e fundada em 1949, América Futebol Clube, Caiano Sport Clube, Ferroviária
Esporte Clube, Náutico Esporte Clube, 1º de Maio Esporte Clube, Petrolina Social
Futebol Clube, travaram grandes duelos nos campeonatos.
Não tendo outros esportes e por ser tão popular, o futebol era umas das
principais atrações da cidade. O ex-jogador da década de 60, Ederaldo Barbosa,
conhecido por Dedé das Pedrinhas, relembra como as pessoas reagiam em época de
campeonato. “A cidade respirava futebol no sábado, domingo e na segunda. A Praça
Dom Malan era o nosso ponto de discussão sobre futebol”, acrescenta Dedé.
Antes da construção do estádio Paulo Coelho, os jogos amadores eram
realizados no campo do colégio Dom Bosco. A cada ano a rivalidade aumentava ainda
mais. Os torcedores eram fiéis e apaixonados pelos seus times. Em dia de clássico, a
cidade praticamente parava. Amantes do bom futebol, imprensa e empresários se
amontoavam para garantir seu lugar no campo. Mesmo em dia que não era clássico, os
torcedores de outras equipes assistiam às partidas, pois segundo o atual Presidente da
LDP e ex-jogador, Luciano Alves, “o futebol era tão bonito de ser assistido que valia a
pena a gente sair de casa para ver qualquer jogo”.
Os times amadores da cidade possuíam uma estrutura aproximada dos times
profissionais de hoje. Treinavam, se concentravam, recebiam gratificações, tudo pelo
amor que o esporte oferecia. Todos os jogadores tinham como o futebol uma forma de
renda extra, mas com amor e diversão em primeiro plano. As empresas que tinham
jogadores como funcionários os liberavam mais cedo para os treinamentos e
concentrações.
Por muito tempo a Liga organiza campeonatos amadores, mas foi nas décadas de
80 e 90 que a safra de jogadores teve maior destaque no cenário nacional e mundial. Os
atletas tinham mais visibilidade e eram contratados pelos clubes profissionais. Com o
passar do tempo, o profissionalismo acabou se instalando no lugar do futebol amador e
os torcedores passavam a freqüentar menos o estádio. “Sem dúvida o profissionalismo
tomou o brilho e a paixão do futebol na região”, afirma o presidente da LDP.
Hoje com o avanço desenfreado das contratações futebolísticas, os campeonatos
amadores passam por uma grande crise. Segundo Alves, os atletas da atualidade
esqueceram do amor pelo futebol e passaram a pensar primeiramente na parte
financeira. “Acabou a época da paixão pelo esporte mais popular do Brasil, o dinheiro
subiu para a cabeça dos nossos jogadores”, ressalta o presidente.
Após 6 anos sem haver o campeonato amador em Petrolina, a LDP buscou
resgatar a história dos grandes clubes. Em 2011, dois times tradicionais disputaram a
final do torneio, onde o Palmeiras se sagrou campeão e o Caiano vice. Os jogos
aconteceram no estádio Paulo Coelho, e mesmo sem a cobrança do ingresso os
torcedores não freqüentaram as partidas como nas décadas passadas.
O futebol amador já foi a principal atração na cidade petrolinense. Se algo não
for feito para que ele volte a ser novamente uma tradição, talvez a bela história que esse
esporte trilhou passe a ficar apenas na memória daqueles que o vivenciaram.
Curaçá Futebol Clube: breve histórico do esporte na cidade
O futebol em Curaçá existe há muitos anos, no entanto, a precariedade de
informações e escassez de registros fez com que a historia do esporte na cidade seja
ainda uma página em branco, ou, apenas alguns rabiscos em atas que resistiram ao
tempo. O professor Paulo Cezar Dias Torres afirma que o desporto chegou à cidade
através do seu pai, Durval dos Santos Torres, conhecido como Durval Gato, que nos
idos dos anos 30 participou da fundação times tradicionais de Juazeiro. “Durval foi um
dos responsáveis pelo nascimento do futebol aqui na cidade, deu idéias e ajudar a
formar clubes. Uma prova disso e de reconhecimento do seu esforço é o que Estádio
Municipal leva o seu nome”, conta Paulo Cézar.
Durante anos o futebol ainda engatinhava em terras curaçaenses e somente no
final dos anos 50 e início dos anos 60 começa a se firmar como uma realidade com o
surgimento de times de maneira mais organizada, com destaque para as equipes do
Cruzeiro e do Independente, que além de jogar entre si, disputavam partidas em cidades
vizinhas, como Uauá e Santa Maria da Boa Vista. Um dos registros fotográficos mais
antigos data de 1964, trata-se de um esquadrão do antigo Ginásio Municipal de Curaçá.
“O time do colégio era muito forte, tinha grandes atletas e chegou a jogar vários
amistosos contra times de outros municípios”, revela Bendito Franco de Andrade,
popular Dito de Joatan.
Primeiro Time do Ginásio Municipal de Curaçá em 1964
No ano de 1967 foi realizada uma reunião com atletas e dirigentes a fim de
restaurar a então Liga Desportiva Municipal de Curaçá, a LDMC, que logo passou a ser
denominada Liga Esportiva Curaçaense (LEC). A preocupação para tal organização era
justificada pelo avanço e maior valorização do futebol na cidade. Nos anos 70, houve
um aumento do número de times, o que despertou interesse de Liga em organizar as
disputas em forma de torneios e campeonatos. Vasco, Flameguinho, Nacional, Santos,
Internacional, Bahia, eram os clubes que figuravam no cenário do futebol amador
Curaçaense.
Na década de 80 a rivalidade e as disputas estavam cada vez mais acirradas.
Clubes iam surgindo, torcidas se organizavam e se amontoavam à beira do campo para
torcer e vibrar com as grandes jogadas e belos gols. Os campeonatos eram mais
competitivos, as taças e troféus bem mais cobiçados. Cobreloa, Bambuí, Catauense,
Botafogo, e tantos outros times, fizeram parte de uma década cheia de emoção. Nos
anos 90 começa o declínio do esporte na cidade, por vários fatores, entre eles, o
envelhecimento daqueles que iniciaram a história curaçaense, pois muitos partiram e
levaram consigo a esperança da continuidade e alegria dos velhos campeonatos.
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Os últimos dez anos serviram para apagar o brilho do futebol amador na cidade.
A falta de organização da Liga Desportiva Curaçaense, a atual LDC, a falta de incentivo
e de políticas públicas municipais voltadas para o esporte fizeram com que o
campeonato deixasse de ser organizado. Em conseqüência disso, clubes tradicionais
perderam a vontade de competir, muitos sequer existem mais, lideranças esportivas
mergulharam na falta de interesse. Muitos atletas atribuem a culpa ao governo
municipal que abandonou o Estádio Municipal e o entregou ao descaso. “Desde o ano
de 2007 não houve mais uma preocupação para organizar competições, isto porque o
Estádio entrou em numa reforma que até hoje não foi concluída”, lamenta Miranda
Alves Nunes, atleta que atuou por diversos clubes.
Copa Anísio Pinheiro: integração do futebol intermunicipal
Em 1997, o presidente da Liga Desportiva
Juazeirense, Carlos Humberto, teve a ideia de
organizar um campeonato que envolvesse clubes
baianos das cidades vizinhas Curaçá, Juazeiro, Uauá,
Sento Sé e Petrolina, de Pernambuco. Depois de
alguns meses reunindo-se com os dirigentes locais
para discutir a forma da disputa, regulamentos,
cadastro de clubes e atletas, o torneio acabou
acontecendo no segundo semestre. Como a intenção era integrar as Ligas, as partidas
aconteceram no sistema de ida e volta, com jogos em todos as cidades participantes. A final na
copa aconteceu no dia 2 novembro de 1997 tendo se sagrado campeã a equipe do Barro
Vermelho. A escolha do nome: Anísio Pinheiro foi um esportista juazeirense que prestou
inúmeros serviços a Liga Desportiva Juazeirense (LDJ), tendo seu nome ligado à história do
esporte em Juazeiro. De sua família originaram diversos jogadores que se destacaram no
cenário futebolístico da Bahia, cita-se o exemplo de Louro, que saiu da cidade para atuar no
Galícia, time da capital baiana. O torneio foi organizado pela LDJ com apoio de comerciantes
locais e existiu em edição única.
Carteirinha de identificação dos atletas