o futebol amador no vale do são francisco

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Foto: Acervo de Paulo Mandinga O futebol amador no Vale do São Francisco: de envolvente ao esquecimento nos dias atuais Um passado de triunfos, um presente com pouco prestígio e um futuro incerto. O futebol amador nas cidades de Juazeiro, Petrolina e Curaçá pode está com os dias contados. Por Luciano Lugori, Raianne Guimarães e Mário Alves (T) Time do Veneza de 1956, onde atuou Paulo Mandinga Campos de várzea, futebol amador charmoso que envolvia o público e os jogadores, assim eram as tardes de domingo na cidade de Juazeiro da Bahia nas décadas de 20 até início dos anos 90. O futebol é tido como cultura, pois consegue unir inúmeros povos, oferece alegria, paixão e possui um lado social, representando assim a identidade de uma nação. O brasileiro por si só já é entusiasmado, mas quem viveu na cidade de Juazeiro nesse período relembra com saudosismo a grandiosidade que era a prática do futebol amador na região baiana. Esta tida como um celeiro de craques, que alcançou dimensão no cenário nacional durante o decorrer desses anos. Não se sabe ao certo a origem do futebol, mas, acredita-se que tenha surgido em 1863, na cidade de Ashbourne na Inglaterra, praticado pela classe operária no horário livre ao trabalho, conquistados no movimento operário sindical. No Brasil, Charles Miller - paulistano do Brás - foi morar na Inglaterra e retornando ao seu país de origem em 1894, trouxe a primeira bola e regras futebolísticas para esse. O primeiro jogo foi realizado em 15 de abril de 1895 entre funcionários

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Breve história do esporte nas cidades de Curaçá, Juazeiro e Petrolina

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Page 1: O futebol amador no Vale do São Francisco

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O futebol amador no Vale do São Francisco: de envolvente ao esquecimento nos dias atuais Um passado de triunfos, um presente com pouco prestígio e um futuro incerto. O futebol amador nas cidades de Juazeiro, Petrolina e Curaçá pode está com os dias contados.

Por Luciano Lugori, Raianne Guimarães e Mário Alves (T)

Time do Veneza de 1956, onde atuou Paulo Mandinga

Campos de várzea, futebol amador charmoso que envolvia o público e os

jogadores, assim eram as tardes de domingo na cidade de Juazeiro da Bahia nas décadas

de 20 até início dos anos 90. O futebol é tido como cultura, pois consegue unir inúmeros

povos, oferece alegria, paixão e possui um lado social, representando assim a identidade

de uma nação.

O brasileiro por si só já é entusiasmado, mas quem viveu na cidade de Juazeiro

nesse período relembra com saudosismo a grandiosidade que era a prática do futebol

amador na região baiana. Esta tida como um celeiro de craques, que alcançou dimensão

no cenário nacional durante o decorrer desses anos.

Não se sabe ao certo a origem do futebol, mas, acredita-se que tenha surgido em

1863, na cidade de Ashbourne na Inglaterra, praticado pela classe operária no horário

livre ao trabalho, conquistados no movimento operário sindical.

No Brasil, Charles Miller - paulistano do Brás - foi morar na Inglaterra e

retornando ao seu país de origem em 1894, trouxe a primeira bola e regras futebolísticas

para esse. O primeiro jogo foi realizado em 15 de abril de 1895 entre funcionários

Page 2: O futebol amador no Vale do São Francisco

ingleses de empresas inglesas. Funcionários da Companhia de Gás contra Companhia

Ferroviária São Paulo Railway.

Na cidade de Juazeiro quem trouxe a primeira bola foi o juazeirense Adolfo

Bonfim, nascendo o futebol na urbe entre 1915 e 1920. Não existia teatro, cinema,

então, a prática do futebol amador era uma busca pela diversão no fim de semana, pois

os jogos eram realizados no domingo. A cidade em dia de jogo ficava mobilizada, era

realmente um espetáculo esportivo, com direito a torcida organizada feminina.

Em 1919 não havia a organização das agremiações, mas já existia o primeiro

seleto de jogadores, tratava-se do Veneza Foot-Ball Club. “Um pessoal que veio de uma

fazenda chamada Veneza que existe em Curaçá, cujo espaço ficava alagado quando

chovia, se instalou em Juazeiro, e quando choveu na terra das Carrancas, alguém gritou

“a Veneza”. Daí a explicação da origem do nome do time”, lembra o pedagogo e

radialista Toni Martins.

Vale ressaltar ainda, times como Castro Alves, Associação Atlética Juazeirense,

Bahiano, iniciaram a prática do futebol amador na cidade. Depois surgiram Olaria e

América, entre tantos que alegravam os juazeirenses e toda a região. Jogadores como

Caboclinho, Padeirinho, Artur Lima, Dozinho eram considerados craques.

A formação da Liga Desportiva Juazeirense

Para organizar os clubes e cadastrar

jogadores de futebol amador criou-se a

Liga Desportiva Juazeirense (LDJ) em

28 de março de 1923. A LDJ ficou

responsável por promover campeonatos

municipais e intermunicipais, onde

equipes de Curaçá e Petrolina

participavam. José de Meira Cabral foi

o primeiro presidente da LDJ e João

Meirelles de Souza o vice. Vale ressaltar ainda os nomes de Agostinho José Muniz e

Olegário de Assis que também formaram a primeira diretoria.

Prestes há completar 89 anos, a LDJ tinha como objetivo o incentivo a prática da

educação física e aperfeiçoamento estético dos jovens, conforme prevê ata de fundação.

Tinha uma ligação direta com a Federação Baiana de Futebol, para os mais íntimos

FBF, fazendo com que os melhores árbitros de futebol de Salvador apitassem em

Page 3: O futebol amador no Vale do São Francisco

Juazeiro. A LDJ era vista como uma das ligas mais bem organizadas dentro da FBF. Os

campeonatos existentes na época eram o interno da Liga, o intermunicipal e tinha o

BaPe, os melhores times de Juazeiro contra os melhores times de Petrolina e era casa

cheia nos estádios das duas cidades.

As competições do futebol amador eram divididas em duas categorias: o 1º e o

2º quadro. O primeiro quadro era para aproveitar aqueles jogadores novos que vinham

do segundo. Os jogos eram realizados nos campos de várzea do XV de Novembro, da

Leste em Piranga, no campo do Morrão no Castelo Branco (hoje praticamente não

existem mais esses campos), até a construção do Estádio Adauto Moraes.

A LDJ era organizada e auto-sustentável. Segundo o ex-jogador e ex-presidente

da Liga (onde atuou mais de vinte anos em diversas funções), Paulo Santana, mais

conhecido como Paulo Mandinga, a Liga tinha tanto dinheiro que um presidente andava

com talões de cheque distribuindo para o povo.

Quem acreditaria que uma

cidade do interior da Bahia traria o

presidente da Federação

Internacional de Futebol

Associado (FIFA), João

Havelange? Pois é, a Liga

Desportiva de Juazeiro conseguiu

trazê-lo em 1977, devido à

importância do futebol amador da

cidade. Vasco da Gama, Flamengo e Botafogo também estiveram no município para

jogar contra os times amadores de Juazeiro.

A LDJ bancava essas competições e a Prefeitura só dava a cada time um jogo de

camisas e par de chuteiras no início dos torneios. A renda da bilheteria era da Liga, mas

os clubes também tinham participação no lucro. Estes mantidos por empresários

amantes do futebol e pela torcida. “Naquela época existia muitos empresários, como Zé

Gomes, Lulu, grandes torcedores que ajudavam os clubes de Juazeiro, como o Olaria,

Veneza, Carranca. E isso formavam grandes equipes”, diz Silvandro Ribeiro, ex-jogador

do Veneza.

Antigamente por ser amador, os jogadores não recebiam salário, o que existia

era um contrato feito pela Liga. O atleta poderia até ganhar dinheiro, mas sem ser

oficializado. Era uma época em que o futebol amador passou a ser mascarado como

Page 4: O futebol amador no Vale do São Francisco

uma espécie de profissionalismo e amador marrom, porque muito jogador tinha contrato

de gaveta com os times, ou seja, ganhavam algo ou os donos dos clubes os empregavam

em suas empresas, mas sem fazer muito alarde. Então, eram funcionários durante a

semana e jogadores representando a empresa em que trabalhavam no domingo.

Os anos passaram e os louros também, conflitos e ostracismo, ou quase isso,

tomaram conta do futebol amador. No final da década de 90 e início dos anos 2000, a

LDJ passou por uma crise, pois o ex-presidente da Liga Antônio Barbosa, o Baé, fez

dívidas que não foram pagas, culminando numa ação Judicial, fazendo com que o dono

da empresa lesada, retirasse geladeira, telefone, ar condicionado e vários equipamentos

existentes na corporação. Depois de Baé, quem ocupou o cargo foi Francisco José, que

administrava o Estádio Adauto Moraes ao mesmo tempo em que geria a LDJ, ele

acabou sendo destituído do cargo pelo desporto (presidentes dos clubes federados à

Liga).

Atualmente a LDJ para a Federação não existe mais. A decadência da Liga, o

surgimento de novos esportes, a falta de interesse público, da mídia, do empresariado e

da população, sem contar no surgimento do profissionalismo fizeram com que o futebol

amador desaparecesse do cenário das conversas dos finais de semana em barzinhos,

apesar de ainda serem realizadas competições amadoras.

Nos dias atuais é a Prefeitura Municipal da cidade quem assume a

responsabilidade para a prática do futebol amador e o utiliza como uma ferramenta para

que os jovens possam fugir das drogas, formar cidadãos e atletas. De acordo com

Gilberto Pacheco, gerente de esportes de Juazeiro, o futebol amador é uma forma de

integração e inserção social, gerando emprego e renda. E, além disso, é um combate a

violência, direcionando as comunidades a prática de atividades esportivas.

Os campeonatos existentes são a Liga Principal, que é o campeonato amador

onde participam oito clubes filiados a LDJ, tem o Campeonato Distrital, que ocorre com

os oito distritos da cidade e o Campeonato Interbairros, que é uma competição entre os

bairros da cidade. Em 2011 o campeão do Interbairros foi o Alto do Cruzeiro e do

Distrital foi à seleção de Itamotinga.

Porém, essa prática não empolga mais tanto o juazeirense, que se acostumou ao

brilho do futebol amador. “O futebol amador é para dar o direito constitucional de lazer,

de prática esportiva, de promoção da saúde, da qualidade de vida do cidadão.”, afirma

Gilberto Pacheco. Atualmente oito times fazem parte da LDJ, são eles: Veneza, Olaria,

XV de Novembro, Carranca, Juazeiro, Barro Vermelho, América e Colonial.

Page 5: O futebol amador no Vale do São Francisco

A transição do amador para o profissional

“Hoje o futebol de Juazeiro amador acabou! Ele foi forte até os anos 90, quando entrou

de 95 para cá caiu de vez”, desabafa Mandinga.

Não, o futebol amador não acabou, só está

esquecido e renovado. Apesar de se ter ainda a

prática do futebol amador sub 17 e principal, essa

modalidade nos dias atuais não representa mais a

áurea época de Padeirinho, Caboclinho, pois não

tem alegria, nem a mesma efervescência do

torcedor que ia para o Estádio Adauto Moraes. “Tivemos uma época de ouro no futebol amador de Juazeiro. A equipe do Bahia

vinha aqui e apanhava, Vitória vinha aqui e apanhava. Aqui começaram a surgir grandes

jogadores e, diante disso, começou a se pensar lá fora no grande interesse dos jogadores

de Juazeiro, então, começou a surgir a ideia de fazer um time profissional”, relembra

Mandinga. Muitos jogadores saíram do amador de Juazeiro para despontar em times não

só da Capital baiana, mas para todo o Brasil. Alfredo Futuca foi jogar no Bahia, Louro

foi para o Galícia, Luiz Pereira foi para o São Bento de Sorocaba e tantos outros.

O futebol amador não tinha mais como escapar do profissionalismo, pois o

Brasil aos poucos ia descobrindo que a terra às margens do Rio São Francisco poderia

oferecer muito mais, já que há décadas a cidade revelava jogadores de qualidade, e o faz

até hoje (com menos frequência), porém, com um caráter lucrativo. Nixon Darlanio que

está no Flamengo do Rio de Janeiro e Jean Almeida que foi para o time paulista

Corinthians são as mais novas promessas saídas do celeiro de craques, que ainda é a

cidade de Juazeiro.

O simples trabalhador que jogava por prazer e diversão passou a ser um produto

do futebol. Quem diria que o futebol cujo entretenimento era o principal, virasse um

profissional da bola? Pois isso aconteceu! Os times América, Barro Vermelho,

Carranca, Colonial, Grêmio, Olaria, XV de Novembro e Veneza formaram em 16 de

agosto de 1995 o primeiro time profissional da cidade, o Juazeiro Social Clube.

Com o profissionalismo, o público o tem prestigiado mais do que o amador, com

exceção da equipe do Colonial de Maniçoba que desde 1998 sempre coloca 1.500 a

“Hoje o futebol de Juazeiro amador

acabou! Ele foi forte até os anos 90,

quando entrou de 95 para cá caiu de vez”, desabafa Mandinga.

Page 6: O futebol amador no Vale do São Francisco

2.000 torcedores em finais de campeonatos. A falta de investimentos para incentivar a

população a ir ao Adauto Moraes assistir o futebol amador está fazendo com que as

equipes amadoras não recebam praticamente nada pelos jogos.

“Quem mantém as equipes amadoras hoje é o poder público, e quando tira toda

a despesa do jogo: gandula, árbitro, o rapaz da administração do Estádio a gente não

fica com praticamente nada. Para se ter uma ideia tem arrecadações que a gente fica

com vinte reais”, afirma Alfredo Gonçalves, presidente do XV de Novembro.

Outro ponto que fez com que o futebol

amador fosse desvalorizado é que com a ascensão

do profissionalismo, os jogadores preferem ir para

a base de um time em que ele receba salário ou

uma ajuda de custos do que participar de uma competição amadora.

O profissional de Juazeiro surgiu do amador e ainda existem alguns jogadores

saindo do amador para o profissional sem custo nenhum para o time de origem. Alfredo

Gonçalves diz ainda, que atualmente os dirigentes dos clubes amadores estão buscando

uma forma dentro da lei para que possa registrar esses meninos e quando eles forem

para outro clube, a associação amadora possa receber uma parte da venda, mas isso a lei

ainda não permite. A Liga cadastra, porém, esse jogador não fica atrelado ao clube.

Com o profissionalismo pensou-se em agregar o bem estar, o lazer, e ser um

campo que rendesse aos jogadores e aos clubes fins lucrativos, porém, fizeram essa

transformação sem uma base, e por isso, pelo menos um dos clubes profissionais todo

ano luta para não ser rebaixado no Campeonato Baiano.

Para que o futebol amador seja mais praticado e o público volte a se encantar,

teria que ter mais campos disponíveis e adequados para treinos dos clubes profissionais

e porque não amadores. Uma maior organização, incentivo moral e financeiro da

Prefeitura, dos empresários e da população, pois nem tudo é de responsabilidade do

setor público também deveriam ser pensados. “A questão financeira dos clubes e da

própria Liga é o principal motivo para não se realizar um número maior de

campeonatos”, alerta Josival Barbosa, presidente da LDJ.

O futebol amador poderia ser uma base maior para os times profissionais, para

que cada vez mais apareçam bons jogadores. E para isso acontecer, as competições

amadoras deve diminuir a categoria de sub 17 para sub 12 ou 15, já que de acordo com

Janílson Britto, auxiliar técnico do Juazeiro Social Clube e ex-jogador amador e

profissional, tem surgido muito pouco jogador vindo da base.

“Quem mantém as equipes amadoras hoje é o poder

público”, Alfredo Gonçalves

Page 7: O futebol amador no Vale do São Francisco

No dia 15 de fevereiro de 2012 vai ter eleição presidencial da LDJ, para quem

sabe modificar o cenário de “esquecimento” em que se encontra o futebol amador de

Juazeiro.

Por onde andam os craques do futebol amador?

Bartolomeu Britto Monteiro, o popular Caboclinho

O futebol juazeirense fica mais triste, pois morreu neste último dia 19 aos 78 anos de

idade, Caboclinho, um dos maiores craques considerados pelos torcedores que o viram

jogar. Com passagens pelo América de Petrolina, Olaria, Veneza, Fluísco, Seleção de

Juazeiro e depois como treinador do Carranca, Caboclinho fez história no futebol

amador da cidade. Bartolomeu Brito Monteiro, seu nome de batismo, começou a jogar

em 1945 com 12 anos e foi campeão com essa idade. Aposentado pela Companhia de

Navegação do São Francisco, empresa que o fazia jogar no time do Olaria, ele

acreditava que falta base no futebol profissional, e por isso que os times da cidade não

têm consistência nos campeonatos. Foi como treinador que Caboclinho teve uma de

suas maiores glórias, pois, o lateral juazeirense Daniel Alves passou por sua escolinha

e acabou se tornando um ídolo mundialmente conhecido.

Muitos juazeirenses também devem sentir saudades de ver em campo José Pereira de

Lima ou simplesmente Padeirinho. Ele começou sua carreira com 17 anos em 1937, e

jogou até 71. Atuou contra o Vitória, Bahia e Galícia. Para Padeirinho a época mais

forte do futebol amador foi de 39 a 42 com Veneza e Olaria, este último foi o que ele

mais atuou, sendo tricampeão nos anos de 56, 57 e 58. “Naquele tempo os jogadores

eram melhores do que hoje”, afirma Padeirinho no auge dos seus 94 anos. Na

reinauguração do Estádio Adauto Moraes, em 14 de Janeiro de 2012, eles deixaram as

marcas de seus pés na “calçada dos craques”, ficando eternizados no Estádio.

Page 8: O futebol amador no Vale do São Francisco

O futebol amador em Petrolina

O futebol em Petrolina no final da década de 40 era bastante praticado nos

bairros, muitos torneios eram realizados e cada time possuía sua torcida apaixonada.

Como esses campeonatos tornavam-se cada vez mais disputados e atraíam muitos

torcedores aos jogos, sentiu-se a necessidade de criar uma instituição que pudesse

organizar o futebol amador na cidade. Nasceu assim a Liga Desportiva Petrolinense

(LDP) em 1948, onde Januário Alves, arrebatado pelo futebol foi o fundador. A Liga

teve um papel importante para a difusão do esporte.

Com a entidade, os times filiavam-se para garantir o direito de participar do

campeonato amador. Times como: Palmeiras Esporte Clube, equipe mais antiga da

cidade e fundada em 1949, América Futebol Clube, Caiano Sport Clube, Ferroviária

Esporte Clube, Náutico Esporte Clube, 1º de Maio Esporte Clube, Petrolina Social

Futebol Clube, travaram grandes duelos nos campeonatos.

Não tendo outros esportes e por ser tão popular, o futebol era umas das

principais atrações da cidade. O ex-jogador da década de 60, Ederaldo Barbosa,

conhecido por Dedé das Pedrinhas, relembra como as pessoas reagiam em época de

campeonato. “A cidade respirava futebol no sábado, domingo e na segunda. A Praça

Dom Malan era o nosso ponto de discussão sobre futebol”, acrescenta Dedé.

Antes da construção do estádio Paulo Coelho, os jogos amadores eram

realizados no campo do colégio Dom Bosco. A cada ano a rivalidade aumentava ainda

mais. Os torcedores eram fiéis e apaixonados pelos seus times. Em dia de clássico, a

cidade praticamente parava. Amantes do bom futebol, imprensa e empresários se

amontoavam para garantir seu lugar no campo. Mesmo em dia que não era clássico, os

torcedores de outras equipes assistiam às partidas, pois segundo o atual Presidente da

LDP e ex-jogador, Luciano Alves, “o futebol era tão bonito de ser assistido que valia a

pena a gente sair de casa para ver qualquer jogo”.

Os times amadores da cidade possuíam uma estrutura aproximada dos times

profissionais de hoje. Treinavam, se concentravam, recebiam gratificações, tudo pelo

amor que o esporte oferecia. Todos os jogadores tinham como o futebol uma forma de

renda extra, mas com amor e diversão em primeiro plano. As empresas que tinham

jogadores como funcionários os liberavam mais cedo para os treinamentos e

concentrações.

Page 9: O futebol amador no Vale do São Francisco

Por muito tempo a Liga organiza campeonatos amadores, mas foi nas décadas de

80 e 90 que a safra de jogadores teve maior destaque no cenário nacional e mundial. Os

atletas tinham mais visibilidade e eram contratados pelos clubes profissionais. Com o

passar do tempo, o profissionalismo acabou se instalando no lugar do futebol amador e

os torcedores passavam a freqüentar menos o estádio. “Sem dúvida o profissionalismo

tomou o brilho e a paixão do futebol na região”, afirma o presidente da LDP.

Hoje com o avanço desenfreado das contratações futebolísticas, os campeonatos

amadores passam por uma grande crise. Segundo Alves, os atletas da atualidade

esqueceram do amor pelo futebol e passaram a pensar primeiramente na parte

financeira. “Acabou a época da paixão pelo esporte mais popular do Brasil, o dinheiro

subiu para a cabeça dos nossos jogadores”, ressalta o presidente.

Após 6 anos sem haver o campeonato amador em Petrolina, a LDP buscou

resgatar a história dos grandes clubes. Em 2011, dois times tradicionais disputaram a

final do torneio, onde o Palmeiras se sagrou campeão e o Caiano vice. Os jogos

aconteceram no estádio Paulo Coelho, e mesmo sem a cobrança do ingresso os

torcedores não freqüentaram as partidas como nas décadas passadas.

O futebol amador já foi a principal atração na cidade petrolinense. Se algo não

for feito para que ele volte a ser novamente uma tradição, talvez a bela história que esse

esporte trilhou passe a ficar apenas na memória daqueles que o vivenciaram.

Curaçá Futebol Clube: breve histórico do esporte na cidade

O futebol em Curaçá existe há muitos anos, no entanto, a precariedade de

informações e escassez de registros fez com que a historia do esporte na cidade seja

ainda uma página em branco, ou, apenas alguns rabiscos em atas que resistiram ao

tempo. O professor Paulo Cezar Dias Torres afirma que o desporto chegou à cidade

através do seu pai, Durval dos Santos Torres, conhecido como Durval Gato, que nos

idos dos anos 30 participou da fundação times tradicionais de Juazeiro. “Durval foi um

dos responsáveis pelo nascimento do futebol aqui na cidade, deu idéias e ajudar a

formar clubes. Uma prova disso e de reconhecimento do seu esforço é o que Estádio

Municipal leva o seu nome”, conta Paulo Cézar.

Durante anos o futebol ainda engatinhava em terras curaçaenses e somente no

final dos anos 50 e início dos anos 60 começa a se firmar como uma realidade com o

surgimento de times de maneira mais organizada, com destaque para as equipes do

Page 10: O futebol amador no Vale do São Francisco

Cruzeiro e do Independente, que além de jogar entre si, disputavam partidas em cidades

vizinhas, como Uauá e Santa Maria da Boa Vista. Um dos registros fotográficos mais

antigos data de 1964, trata-se de um esquadrão do antigo Ginásio Municipal de Curaçá.

“O time do colégio era muito forte, tinha grandes atletas e chegou a jogar vários

amistosos contra times de outros municípios”, revela Bendito Franco de Andrade,

popular Dito de Joatan.

Primeiro Time do Ginásio Municipal de Curaçá em 1964

No ano de 1967 foi realizada uma reunião com atletas e dirigentes a fim de

restaurar a então Liga Desportiva Municipal de Curaçá, a LDMC, que logo passou a ser

denominada Liga Esportiva Curaçaense (LEC). A preocupação para tal organização era

justificada pelo avanço e maior valorização do futebol na cidade. Nos anos 70, houve

um aumento do número de times, o que despertou interesse de Liga em organizar as

disputas em forma de torneios e campeonatos. Vasco, Flameguinho, Nacional, Santos,

Internacional, Bahia, eram os clubes que figuravam no cenário do futebol amador

Curaçaense.

Na década de 80 a rivalidade e as disputas estavam cada vez mais acirradas.

Clubes iam surgindo, torcidas se organizavam e se amontoavam à beira do campo para

torcer e vibrar com as grandes jogadas e belos gols. Os campeonatos eram mais

competitivos, as taças e troféus bem mais cobiçados. Cobreloa, Bambuí, Catauense,

Botafogo, e tantos outros times, fizeram parte de uma década cheia de emoção. Nos

anos 90 começa o declínio do esporte na cidade, por vários fatores, entre eles, o

envelhecimento daqueles que iniciaram a história curaçaense, pois muitos partiram e

levaram consigo a esperança da continuidade e alegria dos velhos campeonatos.

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Page 11: O futebol amador no Vale do São Francisco

Os últimos dez anos serviram para apagar o brilho do futebol amador na cidade.

A falta de organização da Liga Desportiva Curaçaense, a atual LDC, a falta de incentivo

e de políticas públicas municipais voltadas para o esporte fizeram com que o

campeonato deixasse de ser organizado. Em conseqüência disso, clubes tradicionais

perderam a vontade de competir, muitos sequer existem mais, lideranças esportivas

mergulharam na falta de interesse. Muitos atletas atribuem a culpa ao governo

municipal que abandonou o Estádio Municipal e o entregou ao descaso. “Desde o ano

de 2007 não houve mais uma preocupação para organizar competições, isto porque o

Estádio entrou em numa reforma que até hoje não foi concluída”, lamenta Miranda

Alves Nunes, atleta que atuou por diversos clubes.

Copa Anísio Pinheiro: integração do futebol intermunicipal

Em 1997, o presidente da Liga Desportiva

Juazeirense, Carlos Humberto, teve a ideia de

organizar um campeonato que envolvesse clubes

baianos das cidades vizinhas Curaçá, Juazeiro, Uauá,

Sento Sé e Petrolina, de Pernambuco. Depois de

alguns meses reunindo-se com os dirigentes locais

para discutir a forma da disputa, regulamentos,

cadastro de clubes e atletas, o torneio acabou

acontecendo no segundo semestre. Como a intenção era integrar as Ligas, as partidas

aconteceram no sistema de ida e volta, com jogos em todos as cidades participantes. A final na

copa aconteceu no dia 2 novembro de 1997 tendo se sagrado campeã a equipe do Barro

Vermelho. A escolha do nome: Anísio Pinheiro foi um esportista juazeirense que prestou

inúmeros serviços a Liga Desportiva Juazeirense (LDJ), tendo seu nome ligado à história do

esporte em Juazeiro. De sua família originaram diversos jogadores que se destacaram no

cenário futebolístico da Bahia, cita-se o exemplo de Louro, que saiu da cidade para atuar no

Galícia, time da capital baiana. O torneio foi organizado pela LDJ com apoio de comerciantes

locais e existiu em edição única.

Carteirinha de identificação dos atletas