o funk proibidão; viloencia

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O “funk proibidão”: violência, conflito e identidade social no funk da Baixada Santista. Isadora Candian dos Santos Departamento de Antropologia (FFLCH) Universidade de São Paulo 1. Objetivos O objetivo dessa pesquisa é compreender o processo e os motivos do interesse crescente dos jovens nas músicas que exaltam a criminalidade, os conflitos e a violência. Essa pesquisa propõe um exercício de reflexão sobre a relação do funk e do funk “proibidão” com a violência, suas formas de representação e possíveis significados. 2. Métodos/Procedimentos Os métodos adotados foram: pesquisa de campo nas cidades de Santos, São Vicente e Praia Grande; e análise da bibliografia acadêmica a respeito da temática do funk. A pesquisa de campo abrangeu entrevistas com freqüentadores de bailes funk e moradores da região pesquisada, além da observação participante de bailes. Os tópicos que falam sobre violência na bibliografia utilizada, podem ser divididos em dois tipos de focos interligados: os que falam sobre a violência dentro dos bailes funk; e os que falam sobre a violência que as músicas funk refletem em suas letras. 3. Resultados Na pesquisa de campo realizada pode-se observar que: algumas entrevistas indicaram que o aspecto lúdico do funk, mesmo o funk proibidão, é o que faz alguns jovens aprovarem as músicas, independente do tema das letras. Outras entrevistas indicaram que o funk reflete uma realidade das favelas e comunidades que engloba pobreza, discriminação social e violência e por isso a música é tão aceita. No que diz respeito à bibliografia analisada, Hermano Vianna levanta aspectos que ajudam a explicar a construção de uma identidade/identificação nos bailes movida pelas próprias características das festas, além da idéia de que a violência nos bailes parece ser constitutiva do próprio baile. Já Micael Herschmann ressalta que a violência e a competição são elementos estruturadores na sociabilidade juvenil, principalmente nas chamadas “galeras” ou “galeras funk”. A autora Carla dos Santos Mattos destaca o impacto das guerras de facções do crime na rivalidade entre jovens ex-integrantes de “galeras funk”, através do entendimento da categoria “neurose”. E, por fim, o autor Rodrigo Russano defende que o funk proibido representa uma espécie de banditismo romântico, onde os jovens moradores de favelas utilizam o funk proibidão como instrumento de visibilidade social, enquanto que os jovens de classes mais abastadas que gostam de funk proibidão estão exprimindo uma espécie de desejo pelo poder que o crime pode trazer. 4. Conclusões Dentre as reflexões trazidas por essa pesquisa, pode-se destacar que o funk parece fazer parte da construção da identidade de jovens não habitantes de favelas e comunidades pobres, como também de classes mais abastadas. Essa identidade é constituída por diversos valores e experiências, e, dentre eles, as percepções e interpretações existentes sobre a violência e o conflito. Ainda em desenvolvimento, as reflexões que essa pesquisa tem trazido à temática do funk e violência indicam caminhos para uma pesquisa futura de caráter mais amplo. 5. Referências Bibliográficas HERSCHMANN, Micael. Abalando os anos 90 - funk e hip-hop: globalização, violência e estilo cultural. Rio de Janeiro: Rocco, 1997. MATTOS, Carla S., No ritmo neurótico: cultura funk e performances “proibidas” em contexto de violência no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2006, IFCS_UERJ (dissertação de mestrado em Ciências Sociais). RUSSANO, Rodrigo. Bota o fuzil pra cantar! O funk proibido do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2006, CLA_UFRJ (dissertação de mestrado em Música). VIANNA, Hermano. O mundo funk carioca. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1988.

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Page 1: o funk proibidão; viloencia

O “funk proibidão”: violência, conflito e identidade social no funk da Baixada Santista.

Isadora Candian dos Santos Departamento de Antropologia (FFLCH)

Universidade de São Paulo

1. Objetivos O objetivo dessa pesquisa é compreender o processo e os motivos do interesse crescente dos jovens nas músicas que exaltam a criminalidade, os conflitos e a violência. Essa pesquisa propõe um exercício de reflexão sobre a relação do funk e do funk “proibidão” com a violência, suas formas de representação e possíveis significados.

2. Métodos/Procedimentos Os métodos adotados foram: pesquisa de campo nas cidades de Santos, São Vicente e Praia Grande; e análise da bibliografia acadêmica a respeito da temática do funk. A pesquisa de campo abrangeu entrevistas com freqüentadores de bailes funk e moradores da região pesquisada, além da observação participante de bailes. Os tópicos que falam sobre violência na bibliografia utilizada, podem ser divididos em dois tipos de focos interligados: os que falam sobre a violência dentro dos bailes funk; e os que falam sobre a violência que as músicas funk refletem em suas letras.

3. Resultados Na pesquisa de campo realizada pode-se observar que: algumas entrevistas indicaram que o aspecto lúdico do funk, mesmo o funk proibidão, é o que faz alguns jovens aprovarem as músicas, independente do tema das letras. Outras entrevistas indicaram que o funk reflete uma realidade das favelas e comunidades que engloba pobreza, discriminação social e violência e por isso a música é tão aceita. No que diz respeito à bibliografia analisada, Hermano Vianna levanta aspectos que ajudam a explicar a construção de uma identidade/identificação nos bailes movida pelas próprias características das festas, além da idéia de que a violência nos bailes parece ser constitutiva do próprio baile. Já Micael Herschmann ressalta que a violência e a competição são elementos estruturadores na sociabilidade juvenil,

principalmente nas chamadas “galeras” ou “galeras funk”. A autora Carla dos Santos Mattos destaca o impacto das guerras de facções do crime na rivalidade entre jovens ex-integrantes de “galeras funk”, através do entendimento da categoria “neurose”. E, por fim, o autor Rodrigo Russano defende que o funk proibido representa uma espécie de banditismo romântico, onde os jovens moradores de favelas utilizam o funk proibidão como instrumento de visibilidade social, enquanto que os jovens de classes mais abastadas que gostam de funk proibidão estão exprimindo uma espécie de desejo pelo poder que o crime pode trazer.

4. Conclusões

Dentre as reflexões trazidas por essa pesquisa, pode-se destacar que o funk parece fazer parte da construção da identidade de jovens não só habitantes de favelas e comunidades pobres, como também de classes mais abastadas. Essa identidade é constituída por diversos valores e experiências, e, dentre eles, as percepções e interpretações existentes sobre a violência e o conflito.

Ainda em desenvolvimento, as reflexões que essa pesquisa tem trazido à temática do funk e violência indicam caminhos para uma pesquisa futura de caráter mais amplo.

5. Referências Bibliográficas HERSCHMANN, Micael. Abalando os anos 90 - funk e hip-hop: globalização, violência e estilo cultural. Rio de Janeiro: Rocco, 1997. MATTOS, Carla S., No ritmo neurótico: cultura funk e performances “proibidas” em contexto de violência no Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2006, IFCS_UERJ (dissertação de mestrado em Ciências Sociais). RUSSANO, Rodrigo. Bota o fuzil pra cantar! O funk proibido do Rio de Janeiro. Rio de Janeiro, 2006, CLA_UFRJ (dissertação de mestrado em Música). VIANNA, Hermano. O mundo funk carioca. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1988.