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“O FLUXO DE MIGRANTES PERNAMBUCANOS NO MUNICÍPIO DE CUBATÃO/SP NOS ANOS 1970-1990” Eduardo Antonio Garcia Argañaraz Universidade Estadual de Campinas [email protected] INTRODUÇÃO Os fluxos migratórios, tema principal deste trabalho, são caracterizados por serem complexos e diversificados processos sociais que compreendem uma população e duas porções de território envolvidas em um processo de crescimento econômico desigual. Procuro iniciar seu entendimento da forma mais básica e mecânica possível: um fluxo migratório de uma determinada população se dá entre duas (ou mais) porções de território, diferenciadas como uma região marcada por fatores de expulsão de capital humano, e outra marcada pelos fatores de atração. Paul Singer (1976) coloca a criação de desigualdades regionais “como o motor principal das migrações internas que acompanham a industrialização nos moldes capitalistas” (p. 223). Historicamente essa industrialização se caracteriza por dois importantes fatores: uma grande concentração – tanto de capitais quanto espacial – da atividade industrial, bem como uma demanda por um numeroso exército de reserva, principal fator de atração para as áreas receptoras de migrantes. Este exército de reserva para a atividade industrial brasileira foi criado, sobretudo, com base nas migrações internas.Estas dependentes dos fatores de expulsão, caracterizados, segundo Singer como “fatores de estagnação” e “fatores de mudança”. O autor define sua ação sobre as populações da seguinte maneira: “os fatores de mudança criam uma espécie de desemprego tecnológico na área rural, sendo a dimensão deste desemprego uma função do aumento da produtividade do trabalho agrícola e da sua especialização, ao passo que os fatores de estagnação produzem um fluxo de emigração cujo volume depende da taxa de crescimento vegetativo da população em economia de subsistência em confronto com sua disponibilidade de terra.” (SINGER, 1976, p. 227)

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“O FLUXO DE MIGRANTES PERNAMBUCANOS NO MUNICÍPIO DE CUBATÃO/SP NOS ANOS 1970-1990”

Eduardo Antonio Garcia Argañaraz Universidade Estadual de Campinas

[email protected]

INTRODUÇÃO

Os fluxos migratórios, tema principal deste trabalho, são caracterizados por

serem complexos e diversificados processos sociais que compreendem uma população e

duas porções de território envolvidas em um processo de crescimento econômico

desigual. Procuro iniciar seu entendimento da forma mais básica e mecânica possível:

um fluxo migratório de uma determinada população se dá entre duas (ou mais) porções

de território, diferenciadas como uma região marcada por fatores de expulsão de capital

humano, e outra marcada pelos fatores de atração.

Paul Singer (1976) coloca a criação de desigualdades regionais “como o

motor principal das migrações internas que acompanham a industrialização nos moldes

capitalistas” (p. 223). Historicamente essa industrialização se caracteriza por dois

importantes fatores: uma grande concentração – tanto de capitais quanto espacial – da

atividade industrial, bem como uma demanda por um numeroso exército de reserva,

principal fator de atração para as áreas receptoras de migrantes.

Este exército de reserva para a atividade industrial brasileira foi criado,

sobretudo, com base nas migrações internas.Estas dependentes dos fatores de expulsão,

caracterizados, segundo Singer como “fatores de estagnação” e “fatores de mudança”. O

autor define sua ação sobre as populações da seguinte maneira:

“os fatores de mudança criam uma espécie de desemprego tecnológico na área rural, sendo a dimensão deste desemprego uma função do aumento da produtividade do trabalho agrícola e da sua especialização, ao passo que os fatores de estagnação produzem um fluxo de emigração cujo volume depende da taxa de crescimento vegetativo da população em economia de subsistência em confronto com sua disponibilidade de terra.” (SINGER, 1976, p. 227)

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Pensando-se o fluxo migratório Nordeste-Sudeste, deve-se ter em mente que

este se trata de um processo de migração interno, que tem como origem o

desenvolvimento concentrado característico do território brasileiro.

George Martine (1995) traduz em palavras este processo de atração-expulsão

ao afirmar que “a população costuma deslocar-se e fixar-se em determinadas

localidades, ou regiões, em função das mudanças na configuração espacial do

dinamismo econômico. O fortalecimento da atividade econômica numa determinada

região gera emprego e atrai migrantes; a estagnação inicia o processo contrário e acaba

expulsando a população” (MARTINE p. 61).

Mas qual outra variável podemos adicionar a esta estagnação

econômicaapontada por George Martine? A primeira, e mais importante, seria um

crescimento demográfico importante da região Nordeste ao longo do século XX que, em

conjunto com a concentração fundiária, característica do pobre dinamismo econômico

da região em questão, leva a formação do que o supracitado autor chama de migrantes-

em-potencial (MARTINE, 1995), este excedente demográfico sendo então uma

superpopulação relativa que não pode mais ser absorvida pelo setor primário naquela

região (CORRÊA, 1989).

Este padrão é uma constante histórica brasileira tão importante que chega a

ser uma instituição social e geográfica brasileira (e até uma política de Estado em alguns

momentos da história), criando um fluxo contínuo até os dias de hoje, embora este tenha

perdido muito de seu valor absoluto nas últimas décadas.

A MIGRAÇÃO DE NORDESTINOS PARA SÃO PAULO

Durante o século XIX e começo do século XX, o Estado de São Paulo

viu sua economia crescer com base na atividade cafeeira. Com extensas faixas de terra

desocupadas, de solos férteis e clima ameno favorável ao cultivo do valioso grão, os

fazendeiros paulistas foram capazes de erguer um verdadeiro complexo agroexportador,

tornando esta região a maior produtora nacional de café e, consequentemente a mais rica

do país.

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Com a crise financeira de 1929, e o início do fim do ciclo do café no

Brasil, a economia paulista ruma para uma economia industrial, valendo-se

principalmente da estrutura financeira e de transportes herdadas do complexo

agroexportador cafeeiro.

Uma análise feita por Wilson Cano (1998) do Produto Interno Bruto do

ano de 1939, com base em dados do IBGE, nos permite ter uma ideia do volume da

concentração econômica que havia em São Paulo: De um PIB de cerca de 44 bilhões de

reais (em Reais do ano de 1999); destes, segundo Cano (1998), 31,2% correspondiam

ao PIB paulista. Para fins comparativos, o PIB de todo o Nordeste brasileiro

correspondia a menos de 17% do PIB nacional, enquanto a fatia correspondente a Minas

Gerais estava na casa dos 10%.

A concentração era ainda maior (embora ainda seja até os dias de hoje) se

for levado em conta apenas o PIB industrial, do qual 36,4% correspondiam a São Paulo;

8% a Minas Gerais; e somente 12,1% correspondiam a toda a região Nordeste do Brasil

(CANO, 1998). Essa atividade industrial estava limitada aos grandes centros produtores

dos Estados.

Uma vez evidenciado o diferencial econômico entre São Paulo e a região

que compreende o Nordeste brasileiro e o Norte do Estado de Minas Gerais, fica

evidente a caracterização de São Paulo como polo de atração de migrantes, dado o

dinamismo de sua economia.

Migrantes que voltavam para visitar a família no Nordeste contavam

histórias da prosperidade econômica em comparação com a miséria enfrentada na região

pobre de onde vinham. Nas palavras de um migrante: “Quando eles voltaram, estavam

com a boca cheia de ouro... Eles davam risada e você via o ouro clarear” (FONTES, P. -

2008 – p. 44).

Porém a migração não era um fenômeno meramente espontâneo

decorrente de um gritante diferencial econômico.Este também passa a ser uma estratégia

de Estado, conforme evidenciado por Paiva (2004) e Fontes (2008), ao descreverem

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com riqueza de dados e detalhes como o governo de São Paulo estabelecia contratos

com empresas particulares (como a Cia. Itaquerê, a F. Sodré Filho, e a Cia. de

Agricultura, Imigração e Colonização) e agências estatais (destaca-se o Departamento

de Terras, Colonização e Imigração e a Inspetoria de Trabalhadores Migrantes, ligadas à

Secretaria de Agricultura).

Estas agenciavam trabalhadores rurais para trabalhar em São Paulo;

primeiro nas lavouras de café, depois na florescente indústria paulista, estabelecida

definitivamente como principal atividade econômica do Estado no período pós Segunda

Guerra Mundial, num fluxo que Paiva (2004) descreve como Rural-Rural-Urbano. O

autor também dá destaque à uma política de nacionalização da mão-de-obra promovida

pelo governo federal, que visava conter a entrada no país de trabalhadores estrangeiros,

muitos dos quais tinham filiações políticas ditas “subversivas” (PAIVA, 2004, p. 35).

A estratégia era simples: a ITM possuía dois escritórios em Minas

Gerais, um em Montes Claros e outro em Pirapora, ambos terminais da E. F. Central do

Brasil, onde os migrantes que desciam o São Francisco em barcos à vapor eram

selecionados e lhes eram dadas passagens para São Paulo, onde eram alojados na

Hospedaria dos Imigrantes. Ali chegando, os trabalhadores e suas famílias passavam

por um processo de triagem e realocação para as fazendas de café no interior paulista,

fazendo uso da extensa malha ferroviária existente na época para ligar as áreas

produtoras de café à capital paulista.

A estratégia foi tão eficiente que o número de migrantes chega na casa

dos 400 mil no período compreendido entre 1941 e 1949, com o importante dado de,

naquele ano, ter sido inaugurada a estrada Rio-Bahia, que serviria como um novo

corredor de migração.

Paiva (2004) evidencia este quadro econômico do Nordeste ao levantar,

mediante pesquisa de processos da Secretaria de Agricultura, que uma das exigências

feitas para que os trabalhadores pudessem ser encaminhados à Hospedaria dos

Imigrantes, era a “autorização do prefeito permitindo a saída dos respectivos do

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município” (PAIVA, 2004, p. 127), que seria concedida uma vez que sua migração não

fosse danosa à economia local.

Porém, conforme o autor demonstra, essas autorizações raramente eram

negadas, uma vez que o Nordeste brasileiro sofria com secas, além do baixo dinamismo

da economia local.

As ações dos órgãos que promoviam este aliciamento de migrantes em

Estados mais pobres cessaram a partir dos anos 50.Porém estes não deixaram de migrar

à São Paulo, o que demonstra que o fluxo, num primeiro momento institucionalizado,

passa a ser espontâneo quando as possibilidades de melhora de vida se tornam evidentes

para os moradores das áreas de expulsão. Evidência da importância que teve o volume

da migração para São Paulo, é o fato de que durante os anos de 1960 e 1970, esses

fluxos contribuíram para 56,6% do crescimento na Região Metropolitana de São Paulo.

CUBATÃO E OS MIGRANTES

O município de Cubatão localiza-se na Região Metropolitana da Baixada

Santista (que ainda inclui os municípios de Santos, São Vicente, Guarujá, Praia Grande,

Peruíbe, Bertioga, Mongaguá e Itanhaém), no sopé da Serra do Mar paulista, a cerca de

50 quilômetros da capital.É hoje um tradicional (e importante) centro de produção

industrial brasileira, sobretudo na indústria de base (petroquímica e siderurgia,

basicamente) e lar de uma população de aproximadamente 125 mil habitantes segundo

estimativa do IBGE para o ano de 2013.

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Localização de Cubatão em São Paulo.

Disponível em: <http://goo.gl/vo7piD>

Porém este não foi sempre o retrato da cidade de Cubatão. Até os anos

30, a principal atividade econômica do município (então um distrito de Santos) era a

bananicultura, mesmo tendo em seu território empresas industriais como a Costa Moniz

(1912), Companhia de Anili

Papel (1922), que faziam da cidade o terceiro PIB industrial do Estado de São Paulo

(COUTO, 2003).

Joaquim Miguel Couto destaca as condições dadas para a mudança no

paradigma econômico na cidade da seg

“Uma das chaves para entender o crescimento industrial de Cubatão é a água. Esta substância é a responsável básica por tudo que se criou em Cubatão através dos tempos. Constitui o seu principal bem natural e a razão fundamental da instalaçãogrande Usina Hidrelétrica Henry Borden (construída pela empresa canadense divisor da história industrial de Cubatão. Seu papel indutor no processo de industrialização paulista ainda merece um melhor r

Localização de Cubatão em São Paulo. Fonte: Wikipedia. Acesso em 30/06/2014.

Disponível em: <http://goo.gl/vo7piD>

não foi sempre o retrato da cidade de Cubatão. Até os anos

30, a principal atividade econômica do município (então um distrito de Santos) era a

bananicultura, mesmo tendo em seu território empresas industriais como a Costa Moniz

(1912), Companhia de Anilinas e Produtos Químicos (1916) e Companhia Santista de

Papel (1922), que faziam da cidade o terceiro PIB industrial do Estado de São Paulo

Joaquim Miguel Couto destaca as condições dadas para a mudança no

paradigma econômico na cidade da seguinte maneira:

“Uma das chaves para entender o crescimento industrial de Cubatão é a água. Esta substância é a responsável básica por tudo que se criou em Cubatão através dos tempos. Constitui o seu principal bem natural e a razão fundamental da instalaçãogrande Usina Hidrelétrica Henry Borden (construída pela empresa canadense Light and Power, em 1926). A Henry Borden é o marco divisor da história industrial de Cubatão. Seu papel indutor no processo de industrialização paulista ainda merece um melhor reconhecimento.”

não foi sempre o retrato da cidade de Cubatão. Até os anos

30, a principal atividade econômica do município (então um distrito de Santos) era a

bananicultura, mesmo tendo em seu território empresas industriais como a Costa Moniz

nas e Produtos Químicos (1916) e Companhia Santista de

Papel (1922), que faziam da cidade o terceiro PIB industrial do Estado de São Paulo

Joaquim Miguel Couto destaca as condições dadas para a mudança no

“Uma das chaves para entender o crescimento industrial de Cubatão é a água. Esta substância é a responsável básica por tudo que se criou em Cubatão através dos tempos. Constitui o seu principal bem natural e a razão fundamental da instalação da grande Usina Hidrelétrica Henry Borden (construída pela empresa

, em 1926). A Henry Borden é o marco divisor da história industrial de Cubatão. Seu papel indutor no processo de industrialização paulista ainda merece um melhor

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(COUTO, J. M., 2003, p. 4)

A Usina Henry Bordendeu o pontapé inicial para a transformação total do

município em área industrial.Foi no momento a maior usina hidrelétrica do país, sendo

idealizada a partir do racionamento de energia pelo qual passava a capital no ano de

1925, decorrente do aumento do consumo advindo do crescimento do polo industrial

paulistano.

A construção da usina foi ali planejada para aproveitar a queda natural da

encosta da Serra do Mar e utilizar as águas do planalto para gerar a energia necessária

para atender à demanda da crescente indústria paulista.Já no ano de 1946, precisou

passar por uma série de ampliações, demonstrando o rápido crescimento da demanda

por energia elétrica no Estado, culminando na construção de sua famosa usina

subterrânea em 1961, que dobrou a capacidade da Henry Borden em produzir energia

elétrica.

É importante ter em mente o contexto nacional no qual se coloca

Cubatão, para entender a alta concentração de investimentos, entre obras viárias e

plantas industriais, neste pequeno pedaço do território nacional. Cubatão localiza-se no

meio do caminho entre o maior porto do país, em Santos, e a cidade mais rica do país,

São Paulo. Daí seu posicionamento estratégico para a construção de rodovias como a

Anchieta (a primeira pista inaugurada em 1947) e a Imigrantes (inaugurada no ano de

1976), que ligam o litoral à capital paulista.Além da Refinaria Presidente Bernardes de

Cubatão (no ano de 1950), na época a maior refinaria brasileira;e de grandes plantas

industrias como a Companhia Siderúrgica Paulista (COSIPA) (construída nos anos

1970), a Cia. Brasileira de Estireno, a Ultrafértil, entre tantas outras, que passaram por

diversos planos de desenvolvimento nacional, como o plano SALTE no governo Dutra,

o Plano de Metas de Juscelino Kubitschek, e o II PND da ditadura militar (COUTO,

2003).

O rápido e concentrado crescimento do volume de investimentos em

Cubatão, sobretudo por parte do poder público tornou o município um ponto de intenso

dinamismo econômico, o que por si só o tornava um importante ponto de atração de

migrantes, sobretudo no segundo período de sua industrialização, posterior à construção

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da Usina Henry Borden, que serviu como principal fator de atração para a RPBC, que

desencadeou a instalação de uma série de estabelecimentos industriais petroquímicos no

município.

CONCLUSÃO

Neste trabalho pretende-se avaliar o fluxo de migrantes Pernambucanos

que se estabeleceram no município de Cubatão no período compreendido entre 1970 e

1991. Para tanto será feito uso de levantamento bibliográfico relacionado ao tema, além

levar a cabo entrevistas qualitativas com representantes da comunidade pernambucana

em Cubatão, de forma a adquirir, a partir do olhar do migrante, as informações

necessárias para determinar as etapas do fluxo migratório, seus impactos, bem como o

cenário do município na época de seu auge, quando chegava ao município a maior parte

dos migrantes que construiriam o pólo industrial.

Até o presente momento foram realizadas algumas entrevistas, durante as

quais, o município de Surubim, no agreste pernambucano, é mencionado por alguns dos

migrantes entrevistados como um local de origem de muitos dos pernambucanos que

foram a cidade em busca de emprego, tendo em vista a seca, principal fator de expulsão

que tornava a economia da cidade virtualmente morta.

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Localização de Surubim em Pernambuco.

Disponível em: <http://goo.gl/OHNb3u>

No período determinado (1970

de 1980 e 1991 do IBGE

encontra-se no Estado de São Paulo, chama a atenção que o percentual de migrantes

pernambucanos no município é muito superior

Estados, e esse volume não encontra paralelo em nenhuma outra cidade da região no

período, o que diferencia es

na Baixada Santista inteira.

Localização de Surubim em Pernambuco. Fonte: Wikipedia. Acesso em 30/06/2014.

Disponível em: <http://goo.gl/OHNb3u>

No período determinado (1970-1991), baseando-se nos dados dos

do IBGE, e desconsiderando os migrantes cuja residência anterior

se no Estado de São Paulo, chama a atenção que o percentual de migrantes

pernambucanos no município é muito superior ao de migrantes vindos de outr

esse volume não encontra paralelo em nenhuma outra cidade da região no

período, o que diferencia este como um fenômenoobservado somente em Cubatão, e não

na Baixada Santista inteira.

se nos dados dos censos

, e desconsiderando os migrantes cuja residência anterior

se no Estado de São Paulo, chama a atenção que o percentual de migrantes

de migrantes vindos de outros

esse volume não encontra paralelo em nenhuma outra cidade da região no

te como um fenômenoobservado somente em Cubatão, e não

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Tabela disponível em: JAKOB, 2003

Dados do IBGE, retirados do Censo d

habitantes da cidade (26,38% da população) naturais da região nordeste, sendo os

pernambucanos 11.912 (10,03% da população do município), o que ratifica

importância para deste que é

não é possível pelos meios atuais quantificar o número de de

Pernambuco, o que evidenciaria ainda mais a relevância

territorial do município da população pernambucano

importância deste estudo para a história de Cubatão.

Tabela disponível em: JAKOB, 2003

Dados do IBGE, retirados do Censo do ano de 2010, dão conta de 31.324

habitantes da cidade (26,38% da população) naturais da região nordeste, sendo os

pernambucanos 11.912 (10,03% da população do município), o que ratifica

deste que é o maior grupo migrante em Cubatão. Vale r

não é possível pelos meios atuais quantificar o número de descendentes dos naturais de

o que evidenciaria ainda mais a relevância na história e formação

territorial do município da população pernambucano-cubatense, o que just

importância deste estudo para a história de Cubatão.

o ano de 2010, dão conta de 31.324

habitantes da cidade (26,38% da população) naturais da região nordeste, sendo os

pernambucanos 11.912 (10,03% da população do município), o que ratifica sua

Vale ressaltar que

scendentes dos naturais de

na história e formação

cubatense, o que justifica a

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Apesar da contratação desses trabalhadores não se dar por indicação, a

atuação de uma rede social de Pernambucanos (de estrutura similar àquela observada

por Sueli Castro Gomes (2007) quando estudou os carregadores Piauienses do

CEAGESP, onde os migrantes estabelecidos no local receptor auxiliam os novos

migrantes a conseguir emprego, moradia, e se adaptar à nova realidade em que se

encontram) é a hipótese mais forte para explicar o volume desse fluxo.

Alguns dos migrantes entrevistados contam que, em sua cidade de origem, ir

à Cubatão buscar emprego na construção civil foi atividade comum por muitos anos,

sobretudo na época da construção da COSIPA, durante os anos 70, dado a já citada

estagnação econômica que era o principal fator de expulsão destes.

Os resultados preliminares parecem caminhar para uma conclusão que não os

contradiz, porém ainda cabe realizar um maior número de entrevistas de forma a

confirmar Surubim e arredores como o maior ponto de expulsão de migrantes, e

identificar outros locais de origem dessa população, além de dar maior vida ao cenário

que pretende-se reproduzir nas páginas desta monografia.

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