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O FLAUTISTA DE HAMELIN: A LEITURA NA SALA DE AULA DE TRÊS ADAPTAÇÕES SOBRE A LENDA ALEMÃ. JULIANO ANTUNES CARDOSO (UFMS), LUÍS CARLOS DIAS (UFMS - UNIVERSIDADE FEDERAL DE MS), TELMA REGINA FAGUNDES DA SILVA (UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL). Resumo No presente trabalho dissertaremos sobre a recepção feita por alunos do sétimo ano do ensino fundamental, de três versões d’ O flautista de Hamelin, uma narrativa oriunda da tradição oral alemã, do século XIII. Essa lenda tem inspirado muitas versões no decorrer dos tempos, seja na oralidade ou em textos escritos. A lenda narra as aventuras de um misterioso músico que livra a cidade de Hamelin de uma praga de ratos recorrendo apenas ao som de sua flauta, mas, por não receber das autoridades municipais o valor combinado pelo trabalho, com o som da mesma flauta enfeitiça todas as crianças da cidade, levando–as para um lugar desconhecido e de onde nunca mais retornaram. Por meio de questionários, serão abordados o poema de Robert Browning, as adaptações de Paula Mastrobert e de Bráulio Tavares. O primeiro um poema narrativo feito pelo autor inglês, no século XIX, já as outras duas adaptações são contemporâneas e feitas por autores brasileiros. Essa análise procurará relacionar as preferências dos alunos às características estruturais das obras, buscando compreender e demonstrar como os elementos como narrador, espaço, tempo e personagens de cada obra contribuem para a manutenção ou dissipação do mistério, ambigüidade e suspense necessários ao interesse dos alunos. Palavras-chave: Flautista de Hamelin, recepção, literatura infantil. INTRODUÇÃO A Literatura infantil surgiu junto coetâneamente ao conceito de infância, como o possuímos hoje. Por sua vez, esse conceito de infância como uma idade diferenciada, com necessidades e fragilidades próprias é fruto das transformações sociais que se iniciaram no século XVII. Tais transformações moldaram um novo modelo de família, agora formada apenas por pai, mãe e filhos. A descoberta da necessidade de tratamento diferenciado às crianças solidificou uma instituição que antes não tinha tanta importância: a escola. A função da escola era inculcar nas crianças os moldes da sociedade burguesa que se formava, ficando ao cargo da Literatura infantil ser instrumento neste processo. Sobre essa relação intrínseca entre escola e Literatura infantil, são interessantes as palavras de Regina Zilberman (2003 p. 15-6): A aproximação entre instituição e o gênero literário não é fortuita. Sintoma disso é que os primeiros textos para crianças são escritos por pedagogos e professoras, com marcante intuito educativo. E, até hoje, a literatura infantil

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Page 1: O FLAUTISTA DE HAMELIN: A LEITURA NA SALA DE AULA … · o flautista de hamelin: a leitura na sala de aula de trÊs adaptaÇÕes sobre a lenda alemÃ. juliano antunes cardoso (ufms),

O FLAUTISTA DE HAMELIN: A LEITURA NA SALA DE AULA DE TRÊS ADAPTAÇÕES SOBRE A LENDA ALEMÃ. JULIANO ANTUNES CARDOSO (UFMS), LUÍS CARLOS DIAS (UFMS - UNIVERSIDADE FEDERAL DE MS), TELMA REGINA FAGUNDES DA SILVA (UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO DO SUL). Resumo No presente trabalho dissertaremos sobre a recepção feita por alunos do sétimo ano do ensino fundamental, de três versões d’ O flautista de Hamelin, uma narrativa oriunda da tradição oral alemã, do século XIII. Essa lenda tem inspirado muitas versões no decorrer dos tempos, seja na oralidade ou em textos escritos. A lenda narra as aventuras de um misterioso músico que livra a cidade de Hamelin de uma praga de ratos recorrendo apenas ao som de sua flauta, mas, por não receber das autoridades municipais o valor combinado pelo trabalho, com o som da mesma flauta enfeitiça todas as crianças da cidade, levando–as para um lugar desconhecido e de onde nunca mais retornaram. Por meio de questionários, serão abordados o poema de Robert Browning, as adaptações de Paula Mastrobert e de Bráulio Tavares. O primeiro um poema narrativo feito pelo autor inglês, no século XIX, já as outras duas adaptações são contemporâneas e feitas por autores brasileiros. Essa análise procurará relacionar as preferências dos alunos às características estruturais das obras, buscando compreender e demonstrar como os elementos como narrador, espaço, tempo e personagens de cada obra contribuem para a manutenção ou dissipação do mistério, ambigüidade e suspense necessários ao interesse dos alunos. Palavras-chave: Flautista de Hamelin, recepção, literatura infantil.

INTRODUÇÃO

A Literatura infantil surgiu junto coetâneamente ao conceito de infância,

como o possuímos hoje. Por sua vez, esse conceito de infância como uma idade

diferenciada, com necessidades e fragilidades próprias é fruto das transformações

sociais que se iniciaram no século XVII. Tais transformações moldaram um novo

modelo de família, agora formada apenas por pai, mãe e filhos. A descoberta da

necessidade de tratamento diferenciado às crianças solidificou uma instituição que

antes não tinha tanta importância: a escola.

A função da escola era inculcar nas crianças os moldes da sociedade

burguesa que se formava, ficando ao cargo da Literatura infantil ser instrumento

neste processo. Sobre essa relação intrínseca entre escola e Literatura infantil, são

interessantes as palavras de Regina Zilberman (2003 p. 15-6):

A aproximação entre instituição e o gênero literário não é fortuita. Sintoma disso é que os primeiros textos para crianças são escritos por pedagogos e professoras, com marcante intuito educativo. E, até hoje, a literatura infantil

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permanece como uma colônia da pedagogia, o que lhe causa grandes prejuízos (...)

Uma visão diferente sobre a negatividade do caráter pedagogo da literatura

infantil é dada por Nelly Novaes Coelho (1991, p. 02):

(...) é muito forte em nossa época a reação contra a “vocação pedagógica” da Literatura Infantil e a defesa intransigente de sua qualidade pura de “entretenimento”. Tendência que pende para uma radicalização que só pode ser negativa (...) acreditamos que a Literatura (para crianças ou para adultos) precisa urgentemente ser descoberta, muito menos como mero entretenimento (pois deste se encarregam com mais facilidade os meios de comunicação de massa), e muito mais como uma aventura espiritual que engaje o eu em uma experiência rica de Vida, Inteligência e Emoções.

Contudo, estas duas visões são fatores externos que só interessam,

parafraseando Antonio Candido (1976), quando manifestados internamente na

estrutura e cada obra. Não cabe discutir aqui o mérito do teor pedagógico da

Literatura infantil. Trata-se aqui de uma pesquisa de campo, que aborda a recepção

de três adaptações da lenda do Flautista de Hamelin, oriunda do imaginário popular

alemão, por alunos da 6ª e 7ª do ensino fundamental das E. E. Profa. Olivia Angela

Furlani e Profa. Geracina de Menezes, do Estado de São Paulo. A metodologia

adotada foi a seguinte: Foram escolhidos 9 alunos que se disponibilizaram a ler as

três versões do Flautista; após a leitura eles responderam a um questionário com 9

questões referentes às suas impressões sobre as obras.

As três adaptações desta lenda são: O Flautista de manto malhado de

HamelinO Flautista misterioso e os ratos de Hamelin (2006), de Bráulio Tavares; e

O Flautista de Hamelin (2000), de Paula Mastroberti. A obra de Browning foi

lançada em 1849 sob forma de poema narrativo e ganha versão brasileira na

tradução de Alípio Correia de Franca Neto. Já as outras duas adaptações são obras

brasileiras contemporâneas[1] (1993), de Robert Browning;

SÍNTESE DA LENDA E DAS ADAPTAÇÕES

A lenda do flautista de Hamelin tem sido contada e recontada de diversas

maneiras através dos tempos. O interessante é que ela remonta do século XIII,

logo, já existia muito antes da própria Literatura infantil. Nesta lenda conta-se que

certa vez a cidade de Hamelin (Alemanha) padecia sob uma incontrolável praga de

ratos. Eis que então misteriosamente surgiu um flautista e prometeu livrá-la dos

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ratos com o encantamento do som de sua flauta. Firma-se então um acordo entre

o flautista e os poderosos da cidade. Após o flautista ter cumprido o prometido, os

poderosos não o pagam e ele se vinga roubando as crianças da cidade com mesmo

encantamento que usara com os ratos.

O Flautista de manto malhado em Hamelin.

Escrito em 1849, pelo poeta e dramaturgo inglês Robert Browning (1812 -

1889), essa versão é feita sob forma de poema narrativo. Esta obra se divide em

quinze estrofes de números de versos irregulares. O texto apresenta rimas e

métricas também irregulares. Por meio de uma analepse o narrador heterodiegético

insere o leitor de chofre no tempo da praga de ratos que assolava Hamelin,

especificamente no dia 22 de julho de 1376. É neste dia que se dá a chegada do

flautista na cidade e se desenvolve todos os fatos cruciais da narrativa. Na verdade,

da chegada do flautista ao seqüestro das crianças não se passam muito mais que

uma hora. Após o desenrolar desses fatos o narrador vai retornando ao tempo

presente da narração, enquanto vai dando mais força a lenda.

Com exceção da analepse do começo e da retomada ao presente da

narração do final da narrativa, o narrador praticamente se porta como um narrador

homodiegético. O tempo verbal utilizado é o presente, pois o narrador privilegia a

cena, mostrando a história como se ele acontecesse naquele momento. Talvez pela

formação de Browning, percebe-se nesta adaptação traços teatrais. Seriam então

sete cenas ou atos: A praga dos ratos: na qual se mostraria os padecimentos da

cidade; o clamor da população: a população pede providencias por partes dos

poderosos da cidade; Reunião/ Flautista:o trabalho: aqui o flautista vai pra praça

pública e começa seu encantamento; rápido êxtase: a população delira com o feito

do flautista; quebra do contrato: os poderosos se recusam a pagar o combinado ao

flautista; vingança do Flautista: o flautista seqüestra as crianças. nesta cena há

uma reunião entre os poderosos da cidade e surge então o flautista;

Dessa concisão que vem a força da obra de Browning: o movimento que o

autor da à história. Ela não deixa que o leitor se enfastie, captando assim a

essência da lenda, tal qual fizeram os irmãos Grimm, mas, no caso de Browning,

com muito mais labor artístico.

O flautista misterioso e os ratos de Hamelin

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O livro O flautista misterioso e os ratos de Hamelin, de Braulio Tavares, foi

escrito em 2006 sob a forma de cordel com 109 estrofes de seis versos. A

literatura de cordel é atrativa por ser um tipo de narrativa popular e da tradição

oral. Composto em sextilhas de versos em redondilha maior ou menor, de

impressão barata, e com capas em xilografia, a Literatura de cordel costuma

transformar em ficção episódios históricos e casos populares misturando o real e

fantástico.

O narrador heterodiegético narra os fatos em 1ª pessoa. Embora os

discursos diretos sejam indicados por aspas e não travessão o qual o aluno está

habituado nesta série, não é o que dificulta a compreensão e o aluno assimila

instintivamente. Todas as personagens são planas, embora haja no flautista algum

mistério. O tempo da diegese dura aproximadamente uns 10 dias demonstrados

desde a infestação dos ratos até o sumiço das crianças.

Há certa conotação religiosa nesta versão, pois a chegada do flautista parece

ser uma providência Divina ao clamor do povo. Nesta versão não há seqüestro, pois

quando o flautista faz o serviço e não é pago ele volta à praça pública

profundamente triste. Eis que as crianças começam a cercá-lo e, em meio às

danças e o som da sua flauta, todos vão embora.

O Flautista de Hamelin

A adaptação em prosa O Flautista de Hamelin, realizada por Paula

Mastroberti e publicada em 2000, conta a história de Antônia, a filha do prefeito,

menina gorducha e comilona que estava prestes a completar 15 anos. Na pacata

cidade de Hamelin, a vida transcorria normal, salvo a presença de um rapaz que

tocava flauta e que segundo o prefeito tratava-se de um “artista vagabundo”.

Antonia tinha sonhos infestados de ratos e exatamente no dia do aniversário surge

a praga na cidade.

Fato é que a administração pública de Hamelin não cuidara adequadamente

do lixo e dos entulhos e ainda que tudo parecesse bonito, “por baixo de tudo,

Hamelin apodrecia” (MASTROBERTI, 2000, p.30). Em meio ao caos da cidade, o

flautista persistia em tocar sua flauta, agora com melodias mais tristes, as quais

soavam como bálsamo para aquele que viam a arte como fuga da tragédia. Antônia

tomada de coragem começou a ver o flautista diariamente. Essa proximidade levou

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ambos a descobrirem o amor que assim como a arte, “tem o dom igual de criar

uma condição de felicidade” (2000, p. 34).

O som apaixonado que saia da flauta parecia atrair os ratos que passaram a

seguir o flautista. Perplexo com o poder da sua música, o músico escondeu-se no

sótão. Local onde consumou seu amor com Antônia. O prefeito, pressionado pela

população para tirar a cidade da situação catastrófica, pede ao flautista que salve a

cidade e em troca ele teria o direito de viver em Hamelin como cidadão.

O flautista cumpre sua parte no acordo: tocou canções compostas para

Antônia, até que todos os ratos que o seguiam entrassem no rio e se afogassem. O

prefeito requer para si os méritos daquela vitória e engaja-se na campanha para

governador. Depois de dois meses o flautista retorna à Hamelin e é recebido com

vigoroso discurso de Antônia, a qual chama a atenção dos moradores para a dívida

de gratidão com o mesmo. O pai fica atônito com a atitude da filha, principalmente

quando percebe que ela está grávida.

Depois, tem conversa definitiva com o flautista e ordena-lhe que saia da

cidade e não volte nunca mais. Os jovens organizaram uma fuga-protesto e saem

da cidade, levando também as crianças. O prefeito acusado de intolerante e tirano

é deposto de seu cargo. Passaram-se alguns meses e Antônia retorna à cidade com

seu filho e outros jovens e crianças. A relação com seu pai foi restabelecida e ela

tornou-se a primeira prefeita da cidade de Hamelin.

DISCUSSÃO SOBRE OS DADOS DO QUESTIONÁRIO

Analisando o questionário ANEXO 1, podemos ver, primeiramente, a

dificuldade dos alunos em reconhecer as características estruturais das obras. Nota-

se isso nas respostas das questões 5 e 6, nas quais nem todos os alunos

conseguiram identificar quem narra a história e também quais são as personagens

principais.

Essas dificuldades de interpretação parecem afetar o gosto dos alunos, pois há

claramente uma relação entre entendimento/preferência. Ou seja, como poderemos

ver adiante, os alunos preferiram as obras que melhor entenderam. Na questão 2,

quando os alunos são questionados sobre quais obras eles entenderam melhor, o

cordel obteve 5 votos, a narrativa 3 e o poema apenas 1.

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O fato de tanto a lenda alemã quanto o cordel terem suas raízes na

oralidade parece ter ajudado no aproveitamento da primeira pelo segundo. Essa

consonância se reflete na simplicidade de linguagem, tornando o livro de Bráulio

Tavares mais acessível aos alunos desta faixa etária. Embora o poema narrativo

também tenha suas raízes na oralidade européia, o poema de Bowning tem a

linguagem bem mais rebuscada e complexa. Essa facilidade de linguagem do cordel

contribuiu para que ele tenha sido o preferido, em detrimento do poema narrativo,

apesar de ambos terem diegese parecida e estrutura em verso.

Se a linguagem foi o motivo do cordel obter “vantagem” em relação ao

poema narrativo, comparando a versão em cordel com a adaptação em prosa de

Paula Mastroberti vemos que o uso de uma linguagem simples por parte de ambas

tornou sua “disputa” mais parelha quanto ao gosto dos alunos. No entanto, foi a

diegese da narrativa de Paula Mastroberti o empecilho ao entendimento dos alunos.

Vemos isso na questão 7 , sobre qual das versões o “conflito” (o problema

apresentado) ficou mais claro. Nesta questão o cordel tem 5 votos, a narrativa 3 e

o poema 1. A explicação pode vir da incompreensão parte dos alunos de 6a série

(10 e 11 anos), dos temas profundos abordados na adaptação de Mastroberti em

referência: a questão ecológica (descaso com lixos e entulhos); a adolescência e

seus conflitos; a efusiva crítica à política vigente, a qual busca interesses próprios;

a guerra pelo poder; o conflito das gerações e a incompreensão pelo mundo da

arte.

Falando sobre as capacidades dos leitores, Nelly Novaes Coelho (1991, p.

04) chama o leitor de 12/13 anos de leitor crítico e o define da seguinte maneira:

Fase de total domínio da leitura, da linguagem escrita, capacidade de reflexão em maior profundidade, podendo ir mais fundo no texto e atingir a visão-de-mundo ali presente... Fase de desenvolvimento do pensamento reflexivo e crítico, empenhados na leitura do mundo, e despertar da consciência crítica em relação às realidades consagradas (...)

Pensando dialeticamente as considerações de Coelho, deve-se ponderar que

as capacidades de leitura dos alunos-leitores são uma soma dos fatores psíquicos

com outros fatores, dentre os quais os fatores sociais, que muito influenciam na

leitura dos indivíduos. Mesmo considerando o leitor de 12/13 anos capaz, a carga

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temática da obra de Mastroberti é, sem dúvida, um complicador na leitura dos

alunos.

Isto por que a autora procurou fazer uma contextualização da lenda aos dias

atuais, entretanto, pecou ao fugir da simplicidade da lenda, colocando muito outros

assuntos em sua história. Sua narrativa se delonga muito em idas e vindas até o

seu desfecho. Há também o fato de sua narração ser feita ora por um narrador

heterodiegético, ora por um narrador autodiegético, no caso, Antonia. Isso pode ter

dificultado ainda mais o entendimento por parte dos alunos. Mas sem dúvida a

grande perda da narrativa é o excesso de temas, sendo cada um, por si só, já

bastante para sustentar a obra.

Vemos por fim que, na questão 3, quando perguntados de qual obra os

alunos mais gostaram, o cordel obteve 6 votos, a narrativa 3 e o poema nenhum.

Esses dados indicam aquilo que tentamos provar até agora: quanto mais entendível

a obra, mais os alunos têm preferência por ela. A coerência dos dados do

questionário apontou para isso.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Dentre as três adaptações levadas à sala de aula, a preferida pelos alunos

foi a literatura de cordel O Flautista misterioso e os ratos de Hamelin, de Bráulio

Tavares. Analisando as respostas dos questionários com os alunos do ensino médio,

pode-se concluir que essa escolha aconteceu principalmente pela simplicidade de

linguagem, clareza e concisão que são próprios do cordel. Bráulio Tavares soube

aplicar essa clareza tanto a estrutura de sua narrativa quanto ao conteúdo de sua

diegese. Pretende-se que essa análise ajude a entender o que é apetecível ao leitor

médio escolarizado na atualidade, além de que o resultado demonstra o quanto a

literatura de cordel, vista como algo regional, pode ser muito utilizada na sala de

aula.

BIBLIOGRAFIA

BROWNING, Robert. O flautista de manto malhado em Hamelin. Trad. Alípio Correia

de Franca Neto. São Paulo: Musa, 1993.

CANDIDO, Antonio. Literatura e sociedade. 5 ed. revista. São Paulo: Editora

Nacional, 1976.

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COELHO, Nelly N. Literatura Infantil: teoria, análise, didática. São Paulo: Ática,

1991.

Contos de Grimm. Clássicos da infância. São Paulo: Círculo do Livro, 1989.

FRIEDMAN, Norman. O ponto de vista na ficção: O desenvolvimento de um conceito

crítico. Tradução de Fábio Fonseca de Melo. Revista USP, São Paulo, n. 53, p. 166-

182, 2002.

GENETTE, Gerard. O Discurso da Narrativa. Trad. Fernando Cabral Martins. Lisboa:

Arcádia, s.d.

MOISÉS, Massaud. Dicionário de Termos Literários. São Paulo: Editora Cultrix, 1974

MASTROBERTI, Paula. O flautista de Hamelin. Porto Alegre: Mercado Aberto, 2000.

REIS, Carlos e LOPES, Ana Cristina. Dicionário de Teoria da Narrativa. São Paulo:

Editora Ática,1988.

TAVARES, Braulio. O flautista misterioso e os ratos de Hamelin: literatura de cordel.

São Paulo: Editora 34, 2006

ZILBERMAN, Regina. A literatura infantil na escola. 11 ed. rev., atual. e ampl. São

Paulo: Global, 2003.

WEGE, Débora da Cruz. ; MOTA, Joilson Garcia ; CARDOSO, J. A. ; MELO, Samuel

Carlos . O FLAUTISTA DE HAMELIN: DO FIM DO MISTÉRIO AO COMEÇO DA

EXPLICAÇÃO. In: CIELL CONGRESSO INTERNACIONAL DE ESTUDOS LITERÁRIOS E

LINGÜÍSTICOS, 2008, Três Lagoas - MS. IDENTIDADES: CONSIDERAÇÕES SOBRE

A EXPERIÊNCIA, 2008. p. 268-271

[1] Este trabalho parte das bases lançadas por outro, intitulado O FLAUTISTA DE HAMELIN: DO FIM DO MISTÉRIO AO COMEÇO DA EXPLICAÇÃO, produzido pelos então acadêmicos Débora da Cruz Wege, Joilson Garcia Mota, Samuel Carlos Melo e Juliano Antunes Cardoso.

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TABULAÇÃO DE DADOS

1) Você leu as três versões do Flautista de Hamelin?

R: Sim

2) Qual você entendeu mais facilmente?

Poema narrativo Cordel Narrativa

1 voto 5 votos 3 votos

3) De qual versão você mais gostou?

Poema narrativo Cordel Narrativa

0 voto 6 votos 3 votos

4) Qual a verão que contém mais suspense e mistério?

Poema narrativo Cordel Narrativa 4 votos 0 Votos 5 votos 5) Quem conta a história em cada uma das versões?

Poema narrativo Cordel Narrativa Flautista (2 votos) Caçador de ratos Flautista (2 votos) Robert Browning Literatura de cordel Paula Mastroberti Um observador Observador (2 votos) Antônia Narrador narrador Narrador 1ª pessoa (3

votos) Narrador 3ª pessoa Flautista Narrador 3ª pessoa 6) Quem são os personagens principais?

Poema narrativo Cordel Narrativa Flautista (3 votos) Prefeito (2 votos) Antônia (2 votos) Crianças Flautista (2 votos) Prefeito Prefeito Ratos (2 votos) Flautista (2 votos) Ratos (2 votos) Crianças (3 votos) Crianças (2 votos) Rei Ratos (2 votos) Crianças 7) Em qual das versões o “conflito” (o problema apresentado) ficou mais

claro?

Poema narrativo (1 votos) Cordel (5 votos) Narrativa (3 votos)

8) Escolha uma personagem que mais chamou a sua atenção.

Flautista (6 votos) Antônia (3 votos)

Você acredita que o Flautista de Hamelin é “do bem” ou “do mal”. Por quê?

Bem (8 votos) Mal (1 voto)