o fisicalismo

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O FISICALISMO Thomas Nagel. I O propósito deste artigo é examinar porque o fisicalismo não pode ser uma teoria verdadeira 1 . Entendo por fisicalismo a tese de que uma pessoa, com todos seus atributos psicológicos, não é nada além de seu corpo com todos seus atributos físicos. As várias teorias que sustentam este ponto de vista podem ser classificadas de acordo com o tipo de identidade que elas alegam existir entre o mental e o físico 2 . Essas identidades podem ser ilustradas pelo exemplo padrão de um litro de água que é idêntico a um conjunto de moléculas, cada uma contendo 1 átomo de oxigênio e 2 de hidrogênio. Todos os estados da água são estados desse conjunto de moléculas: se a água se encontra em uma determinada garrafa, aquelas moléculas estão na garrafa; se a água está congelada é porque as moléculas estão dispostas numa estrutura de reticulado com forte atração intermolecular e movimento vibratório individual 1 Uma versão preliminar deste trabalho foi apresentada numa reunião da American Philosophical Association em Seattle, em 5 de setembro de 1964. 2 ? Não considerarei aqui nenhum tipo de behaviorismo ou reducionismo. 85 85

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Tradução de artigo do filósofo americano Thomas Nagel no qual ele discute o problema mente-cérebro.

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O FISICALISMO

Thomas Nagel.

I

O propsito deste artigo examinar porque o fisicalismo no pode ser uma teoria verdadeira. Entendo por fisicalismo a tese de que uma pessoa, com todos seus atributos psicolgicos, no nada alm de seu corpo com todos seus atributos fsicos. As vrias teorias que sustentam este ponto de vista podem ser classificadas de acordo com o tipo de identidade que elas alegam existir entre o mental e o fsico. Essas identidades podem ser ilustradas pelo exemplo padro de um litro de gua que idntico a um conjunto de molculas, cada uma contendo 1 tomo de oxignio e 2 de hidrognio.

Todos os estados da gua so estados desse conjunto de molculas: se a gua se encontra em uma determinada garrafa, aquelas molculas esto na garrafa; se a gua est congelada porque as molculas esto dispostas numa estrutura de reticulado com forte atrao intermolecular e movimento vibratrio individual relativamente fraco; se a gua est fervendo porque as molculas tm energia cintica suficiente para produzir uma presso de evaporao igual presso atmosfrica, e assim por diante. Alm de identidades gerais como essas, h identidades especficas. Uma delas a identidade entre esparramar uma certa quantidade de gua e o deslocamento repentino de determinadas molculas - uma identidade que no implica que um determinado esparramo seja sempre idntico quele tipo particular de deslocamento. Em todos esses casos podemos dizer o seguinte: que o esparramar da gua no nada alm do que o deslocamento daquelas molculas; elas so as mesmas ocorrncias.

No trivial que toda teoria fisicalista deva afirmar a identidade de cada pessoa com seu corpo, nem tampouco fcil descrever uma conexo entre esta identidade e a identidade entre estados psicolgicos e fsicos. Contudo, podemos especificar uma gama de vises possveis desta ltima relao. (1) Um fisicalismo radical (e possivelmente implausvel) poderia afirmar a existncia de uma identidade geral entre cada condio psicolgica e sua contrapartida fsica. (2) Uma posio menos radical afirmaria algumas identidades gerais, especialmente no mbito das sensaes, e identidades particulares para todo o resto. (3) Uma posio mais branda ainda no requereria que, mesmo em casos especficos, fosse atribuda uma condio fsica idntica para toda condio psicolgica, principalmente se essa fosse uma condio intensional. (4) A posio mais branda de todas as concebveis no afirmaria sequer qualquer identidade particular, mas no estaria claro se as outras asseres sobre a relao mente-corpo propostas por esta teoria poderiam ser classificadas como fisicalistas.

Tendo a acreditar que uma teoria fisicalista branda do terceiro tipo verdadeira e que qualquer fisicalismo ir sempre derivar identidades gerais ou particulares a partir de alguns estados e eventos. Portanto, at mesmo numa viso branda, precisamos nos defender contra objees possibilidade de identificar qualquer condio psicolgica a uma condio fsica. com tais objees gerais que nos ocuparemos a seguir.

Sustentarei que tais objees fracassam enquanto tentativas de refutao do fisicalismo, mas sustentarei igualmente que elas no caracterizam devidamente a fonte real de descontentamento com esta posio. Esta concluso derivada de meu prprio caso. Eu sempre achei o fisicalismo extremamente repelente. A despeito de minha crena atual de que essa tese verdadeira, este sentimento persiste, e tem sobrevivido refutao dessas objees ao fisicalismo. A origem de tal descontentamento deve residir noutra parte, e farei uma sugesto a respeito disso mais adiante. Primeiro, entretanto, ser necessrio mostrar porque as objees comuns falham, e que tipo de identidade pode existir entre fenmenos fsicos e mentais.

II

Desde que Smart as refutou, supe-se ser desnecessrio discutir as objees que se apoiam na confuso entre identidade de significado e identidade de fato. Devemos nos concentrar, pois, em dois tipos de objeo que ainda parecem ser atuais.

A primeira que o fisicalismo viola a lei de Leibniz, que requer que se duas coisas so idnticas, elas devem ter todas suas propriedades no-intensionais e no-modais em comum. Afirma-se que impresses sensoriais, dores, pensamentos, etc... tm vrias propriedades que os estados cerebrais no tm e vice-versa. Mais adiante proporei uma modificao da lei de Leibniz, porque no acredito que ela, em sua forma estrita, governe a relao postulada pela tese da identidade. Neste ponto, entretanto, a tese pode ser defendida sem recurso a tais mtodos, atravs de uma verso um tanto modificada de um argumento utilizado por Smart e, mais recentemente, por U.T. Place.

Ao invs de identificar pensamentos, sensaes, iluses e coisas do gnero com processos cerebrais, eu proponho identificar a sensao de uma pessoa com o fato de seu corpo estar num estado fsico ou submetido a um processo fsico. Note que ambos termos dessa identidade so do mesmo tipo lgico, isto (usando uma terminologia neutra) um sujeito possuindo certos atributos. Os sujeitos so a pessoa e seu corpo (no seu crebro), e os atributos so condies psicolgicas, acontecimentos, etc. e condies fsicas. O termo psicolgico da identidade deve ser a pessoa tendo uma dor em sua canela ao invs da dor em si, porque embora seja inegvel que dores existam e que as pessoas as tenham, tambm claro que isso descreve uma condio de uma identidade, a pessoa, e no uma relao entre duas entidades, uma pessoa e uma dor. Para que dores existam necessrio pessoas para t-las. Isto me parece perfeitamente bvio, a despeito das sugestes inocentes da nossa linguagem em favor do contrrio.

Assim, ns devemos olhar a atribuio de propriedades sensao simplesmente como parte de especificao de um estado psicolgico que est sendo atribudo pessoa. Quando afirmamos que uma pessoa tem uma sensao de uma certa descrio B, isto no deve ser interpretado como afirmando a existncia de um X e um Y tal que X uma pessoa e Y uma sensao e B(Y), e X tem Y. Ao invs, devemos interpretar como afirmando a existncia de uma nica coisa, X, tal que X uma pessoa, e alm do mais C(X), onde C o atributo "tem uma sensao de descrio B". A especificao deste atributo obtida em parte pela atribuio de propriedades sensao; mas isso s parte da atribuio de estados psicolgicos pessoa. Esta posio me parece atraente independentemente do fisicalismo, e pode ser estendida a outros estados psicolgicos diferentes das sensaes. Qualquer atribuio de propriedades a eles deve ser considerada simplesmente como parte da atribuio de outros atributos pessoa que os tem - como especificao daqueles atributos.

Eu me afasto de Smart ao fazer o lado da identidade uma condio do corpo, ao invs de uma condio do crebro, porque me parece duvidoso que algo sem um corpo do tipo convencional pudesse ser sujeito de estados psicolgicos. No pretendo sugerir que a presena de uma sensao particular tenha que depender da condio de qualquer parte do corpo fora do crebro. Tornando o termo fsico da identidade igual a um estado corporal e no a um estado cerebral, isso implica, simplesmente, que o crebro est num corpo. Identificar a dor de uma pessoa com um crebro estando num estado X iria implicar, por outro lado, que se o crebro de um indivduo pudesse estar naquele estado enquanto o resto do corpo estivesse destrudo, ele ainda estaria no estado psicolgico correspondente.

Dado que os termos da identidade esto assim especificados, nada nos obriga a identificar uma sensao ou uma dor ou um pensamento com algo fsico, e isso desfaz numerosas objees. Pois, embora, eu possa ter uma impresso visual cujos atributos de forma e cor correspondem precisamente queles que caracterizam a "Monalisa", o meu ter a impresso sensorial no possui aqueles atributos, e no h portanto nenhuma causa para se preocupar com o fato de que nada em meu crebro se parea com a "Monalisa". Dadas as nossas especificaes do lado psicolgico da identidade, o que requerido no lado fsico diminui consideravelmente. Os equivalentes fsicos da impresso auditiva podem ser silenciosos, os da impresso olfativa inodoros e assim por diante.

O mais importante que podemos nos ver livres de objees recalcitrantes desse tipo, que tem a ver com a localizao. Processos cerebrais so localizados no crebro, mas uma dor pode ser localizada na canela e um pensamento, definitivamente, no tem localizao. Se os dois lados da identidade no so uma sensao e um processo cerebral, mas o meu ter uma certa sensao ou pensamento e meu corpo estando num determinado estado fsico, ento eles estaro ambos no mesmo lugar, isto , onde eu e meu corpo porventura estivermos. importante que o lado fsico da identidade no seja um processo cerebral, mas ao contrrio, meu corpo estando naquele estado especificado como "tendo o processo relevante acontecendo no crebro". Tal estado no est localizado no crebro; ele foi localizado to precisamente como pode ser quando ns somos avisados da localizao precisa daquilo do qual ele um estado - isto , meu corpo. O mesmo verdadeiro quando eu tenho uma sensao: aquilo est se processando onde quer que eu venha a estar naquela hora, e sua localizao no pode ser especificada mais precisamente do que pode a minha prpria. (Isto , mesmo se uma dor estiver localizada na minha canela direita, eu estou tendo aquela dor em minha sala na universidade). A localizao de sensaes corporais uma coisa muito diferente da localizao de verrugas. uma localizao de fenmeno, e deve ser considerada como um trao de um atributo psicolgico possudo pelo todo da pessoa, ao invs da localizao de um evento que acontece numa parte dela.

O outro tipo de objeo que eu deverei discutir que o fisicalismo falha em dar conta da privacidade ou da subjetividade dos fenmenos. Esta objeo muito importante, mas difcil de ser formulada precisamente.

H um sentido trivial no qual um estado psicolgico privado para seu possuidor, isto , desde que ele seja seu, ele no pode ser de mais ningum. O mesmo vale para para cortes de cabelo ou, ainda neste campo, para condies fisiolgicas. Sua trivialidade se evidencia quando olhamos pensamentos e sensaes como condies da pessoa e no como coisas s quais a pessoa est relacionada. Quando vemos que o que era descrito como se fosse uma relao entre duas coisas na verdade a condio de uma das coisas, no nos surpreende que apenas uma pessoa possa estar na condio atribuda a uma dada sensao ou pensamento. Neste sentido, estados corporais so to privados para seus possuidores como os estados mentais com os quais eles podem ser igualados.

A objeo do acesso ao privado algumas vezes expressa epistemologicamente. A privacidade de cortes de cabelo desinteressante porque neste caso falta uma conexo entre posse e conhecimento que est presente no caso das dores. Considere a seguinte afirmao da objeo da privacidade. "Quando eu estou num estado psicolgico - por exemplo, quando eu tenho uma certa sensao - logicamente impossvel que eu possa errar em saber que eu estou num tal estado. Isto, entretanto, no verdadeiro para qualquer estado corporal. Assim nenhum estado psicolgico idntico a um estado corporal". Desta maneira, eu acredito que a primeira clusula desta objeo - isto , a tese da incorrigibilidade - falsa, mas eu no tenho que basear meu ataque negando-a, pois mesmo que a tese da incorrigibilidade fosse verdadeira ela no implicaria no fato de que o fisicalismo deveria ser descartado.

Se o estado X idntico ao estado Y no se segue pela lei de Leibniz que se eu sei que estou no estado X ento eu sei que eu estou no estado Y, dado que o contexto intensional. Dessa maneira, tampouco segue que "Se eu estou no estado X ento eu sei que estou no estado X" que se eu estou no estado Y eu sei que estou no estado Y. Tudo o que se segue que se eu estou no estado Y eu sei que estou no estado X. Alm disso essa conexo no uma conexo necessria, dado que apenas uma das premissas - a tese da incorrigibilidade - necessria. A outra premissa - que X idntico a Y - contingente tornando-a, conseqente contingente.

Poderamos falar mais coisas sobre a objeo do acesso especial, mas ainda no encontrei uma verso dela que fosse bem sucedida. Discutiremos mais frente uma interpretao um tanto diferente da afirmao de que os estados mentais so subjetivos.

III

Consideremos agora a natureza da identidade que o fisicalismo defende. Eventos, estados de coisas, condies, psicolgicas e no-psicolgicas, podem ser idnticas num sentido perfeitamente correto e que obedea lei de Leibniz da mesma maneira que o faz a identidade entre o nico cavalo de Berkeley e o maior mamfero de Berkeley. Tais identidades entre eventos podem ser devidas identidade das duas coisas referidas em suas descries - por exemplo, eu sendo coiceado pelo nico cavalo de Berkeley e eu sendo coiceado pelo maior maior mamfero de Berkeley - ou podem no ser - como, por exemplo, o afundamento do Titanic e o maior desastre marinho em tempo de paz. Se elas se derem tanto entre coisas, como entre eventos ou condies, devo me referir a elas como identidades estritas.

Estamos interessados, entretanto, em identidades de um tipo diferente - entre eventos psicolgicos e eventos fsicos, ou entre a fervura da gua e a atividade das molculas. Cham-las-ei de identidades tericas, e irei me deter, no momento, em suas aplicaes a eventos e atributos, ao invs de coisas, embora elas se apliquem para coisas tambm. uma relao mais fraca do que a identidade estrita, e a posse comum de atributos causais e condicionais crucial para o seu estabelecimento. Identidades estritas so, provavelmente, estabelecidas de outras formas, e podemos inferir a identidade de todos atributos causais e condicionais. Assim, se ser coiceado pelo nico cavalo de Berkeley causou-me uma perna quebrada, ento ser coiceado pelo maior mamfero de Berkeley tem o mesmo efeito, dado que eles so a mesma criatura; e se for verdade que eu no seria coiceado pelo nico cavalo de Berkeley caso eu tivesse ficado em minha sala naquela tarde, ento segue-se que se eu tivesse ficado em minha sala eu no teria sido coiceado pelo maior mamfero de Berkeley.

Mas se nos faltam bases como essas, devemos estabelecer identidade de atributos condicionais independentemente, e isso depende da descoberta de leis gerais a partir das quais os condicionais particulares se seguem. Nossa base para acreditar que um determinado litro de gua fervendo o mesmo evento que um conjunto de molculas se comportando de um certo modo a base que podemos ter para acreditar que todas as causas e os efeitos de um evento so tambm causas e efeitos do outro, e que todas proposies verdadeiras sobre as condies, sob as quais um evento no ocorreria, ou sobre o que aconteceria se no tivesse acontecido, ou sobre o que teria acontecido se ele tivesse continuado, e assim por diante, so tambm verdades sobre o outro.

Isto mais do que mera conjuno constante, na verdade, um forte requisito para a identidade. Entretanto, mais branda que a verso usual da lei de Leibniz na qual no se requer posse por cada termo de todos atributos do outro. Ela no requer que o evento molecular complexo que podemos identificar com o fato de eu ser coiceado por um cavalo de Berkeley seja caracterizado independentemente como ridculo - por exemplo, se no contexto o ltimo evento era ridculo e se o primeiro no pode ser dito ridculo, ele carece de um atributo que o ltimo possua. Existem alguns atributos de cuja posse comum se segue a identidade, e outros que, ou os atributos no importam ou que no podemos decidir o que lhes atribumos a um dos termos sem primeiro decidir se a identidade em questo vlida.

Para tornar isso preciso, introduzirei a noo de atribuio independente. Existem alguns atributos tais como ser quente ou frio, ou fervente ou ofensivo, que no podem ser imputados a um conjunto de molculas per se. Pode ser que tais atributos possam ser imputados a um conjunto de molculas, mas tal atribuio independente, para seu significado, de sua atribuio primeira a algo de tipo diferente, como um volume de gua ou uma pessoa, com as quais as molculas so idnticas. Tais atributos no so imputveis independentemente s molculas, embora eles possam ser imputveis dependentemente. De forma similar, a propriedade de ter 83 trilhes de membros no independentemente imputvel a uma quantidade de gua, embora ela possa ser possuda por um conjunto de molculas de H2O. Existe entretanto, em tais casos, uma classe de atributos que so imputveis independentemente a ambos os termos e a condio para identidade terica pode ser expressa da seguinte forma: que os dois termos devem possuir ou carecer em comum de todos aqueles atributos que podem ser imputveis independentemente para cada um deles individualmente - com o requisito de que nada , por este critrio idntico a uma outra coisa da qual ele distinto pelo mesmo critrio. De fato, isto ir servir como uma condio para identidade em geral; uma identidade estrita ir ser simplesmente aquela entre termos suficientemente similares em tipo para permitir uma imputao independente, a ambos, de todos os mesmos atributos e ir incluir casos como o afundamento do Titanic sendo o maior desastre marinho ocorrido em tempo de paz, ou a estrela da manh sendo a estrela da tarde. As identidades que caracterizei como tericas se do entre categorias de descrio suficientemente diferentes para proibir imputao independente, a ambos os termos, de todos os mesmos atributos, embora, como eu tenho observado, tais atribuies podem ser significativas como conseqncia da identidade. A questo que surge naturalmente : em que grau identidades tericas particulares dependem das gerais? Nos exemplos que eu dei sobre o caso da gua, a dependncia bvia. Nestes casos as identidades particulares tinham sido simplesmente instncias das gerais, que so conseqncias da mesma teoria que d conta da posse comum de atributos relevantes nos casos particulares. Agora, existe um sentido tcnico pelo qual toda identidade terica particular deve ser uma instncia de uma identidade geral, mas nem todos os casos precisam ser como o da gua. Embora seja essencial que identidades particulares devam decorrer de leis gerais ou de uma teoria geral, isto no nos impede de distinguir entre casos nos quais, por exemplo, a contrapartida molecular de um fenmeno macroscpico sempre a mesma, e aqueles nos quais ela varia de instncia para instncia. A posse comum de atributos condicionais pode se seguir, para um caso particular, de leis gerais, sem ser verdade que h uma correlao geral entre fenmenos macroscpicos e microscpicos desse tipo. Por exemplo, pode se seguir de leis gerais que outros tipos de fenmenos microscpicos, diferentes do apresentado neste caso, compartilhem tambm as propriedades condicionais necessrias.

O sentido tcnico no qual at em tais casos a identidade particular deve ser uma instncia de uma geral que ela deve ser olhada como uma instncia da identidade entre o fenmeno macroscpico e a disjuno de todos aqueles fenmenos microscpicos que esto associados a ele da maneira descrita, via leis gerais. Pois suponha que ns tenhamos um tipo de fenmeno macroscpico A e dois tipos de fenmenos microscpicos B e C assim associados a ele. Suponha que numa ocasio, casos particulares de A e B estejam ocorrendo na mesma hora e lugar etc., e suponha que est garantido que, uma vez que se seguem de leis gerais, eles tm, tambm todos seus atributos condicionais em comum; A, neste caso, idntico a B no sentido especificado. Eles, entretanto, no tm em comum o atributo condicional F(X), definido da seguinte maneira: "Se C e no B, ento X". Isto , F(A) mas no F(B). Portanto, ns devemos identificar, at neste caso, a ocorrncia de A com a ocorrncia da disjuno B ou C. Entretanto, isto no nos exime, de ter que apresentar como um sentido subsidirio da identidade, para casos particulares, aquele no qual A B porque a disjuno B ou C que justamente idntica a A , de fato, satisfeita por B. Existe, claro, uma gama de casos entre os dois tipos descritos, casos nos quais os disjuntos na identidade geral consistem de conjunes que ultrapassam para um grau inferior ou superior, e isso complica a questo consideravelmente. Contudo, podemos, a despeito da tecnicalidade, fazer uma diferenciao, grosso modo, entre identidades particulares que so num sentido estrito instncias de identidades gerais e aquelas que no so - isto , que so instncias apenas de identidades gerais radicalmente disjuntivas. Daqui por diante, quando eu me referir identidades gerais estarei excluindo essa ltima classe.

Detive-me em identidades entre estados, eventos e atributos porque , geralmente, nestes termos que o fisicalismo concebido; mas, se tambm faz parte do fisicalismo sustentar que as pessoas so seus corpos, torna-se apropriado perguntarmos sobre a relao entre identidade terica entre coisas e a identidade terica de seus atributos. Infelizmente no tenho uma resposta generalizada para essa pergunta. O caso da identidade estrita no apresenta nenhum problema, pois, a todo atributo de um termo estritamente idntico ao atributo correspondente do outro; e em nosso exemplo-padro de identidade terica, cada atributo da gua parece ser idntico teoricamente a alguns atributos das molculas, mas no vice-versa. Isto pode ser uma condio (assimtrica) para a identidade terica entre coisas. No est claro, porm, se a identidade de coisas deve sempre estar to estreitamente ligada identidade de seus atributos. Por exemplo, poderia ser que tudo que pudssemos explicar nos termos da gua e seus atributos pudesse ser explicado em termos de um amontoado de molculas e seus atributos, mas que os dois sistemas de explicao fossem to diferentes em estrutura que seria impossvel achar um nico atributo das molculas que explicasse todas e somente todas aquelas coisas explicadas por um atributo particular da gua.

Se isso verdadeiro ou no para o caso da gua, a possibilidade tem uma relevncia bvia para o fisicalismo. Poder-se-ia definir um critrio "flexvel" de identidade terica que fosse satisfeito em tal caso, e isto poderia, por sua vez, dar sentido a uma identificao de pessoas com seus corpos o que no dependeria sequer da descoberta de uma nica contrapartida fsica para qualquer evento ou condio psicolgica. Contudo, prefiro me abster de uma investigao do assunto; esta discusso genrica sobre identidade deve ser vista apenas como algo programtico.

IV

Contudo, esta discusso permite-nos dizer algumas coisas sobre a tese do fisicalismo. Em primeiro lugar, as bases para aceit-lo viro de maiores conhecimentos de (a) uma explicao de eventos mentais e (b) da explicao fisiolgica de acontecimentos que esses eventos mentais, por sua vez, explicam. Em segundo lugar, tendo em vista a condio de imputabilidade independente, o fisicalismo no precisa ser ameaado pela dificuldade de que embora a raiva possa ser, por exemplo, justificada, no faz nenhum sentido dizer isto de um estado fsico com o qual ns pudssemos identific-la. Terceiro, no se requer identidades gerais em todos nveis; isto , no precisa haver, nem para todas as pessoas ou mesmo para cada indivduo, um estado idntico inteno de votar nos Republicanos na prxima eleio, ou ter uma dor de barriga, para que o fisicalismo seja verdadeiro. Parece provvel que haver identidades gerais grosso modo para estados no-intensionais, tais como ter certa sensao ou impresses sensoriais, desde que a causa fsica destas sejam plenamente uniformes. Mas pode-se estar praticamente certo de que estados mentais intensionais, apesar de serem idnticos a algum estado fsico em cada caso particular, no tero nenhuma contrapartida fsica geral, porque tanto as causas como os efeitos de uma dada crena, desejo ou intenso so extremamente variadas em diferentes ocasies at para o mesmo indivduo, para no falar em pessoas distintas. Algum poderia facilmente esperar encontrar um equivalente geral, em termos moleculares, de um prdio ruindo ou de uma ponte insegura - e mesmo assim cada instncia de tal evento ou circunstncia ser idntica a algum fenmeno microscpico.

A relao entre estados mentais intensionais e estados fsicos pode ser mais complicada do que isto. Pois, se eles forem disposicionais no sentido clssico, ento o fisicalismo requerer apenas que os eventos e os estados resultantes das disposies sejam idnticos a estados e eventos fsicos. No requerido que eles sejam idnticos a qualquer estado fsico independente adicional, existente at mesmo quando a disposio no est se exercendo. (Na verdade, no acredito que as disposies operem de acordo com o modelo Ryleano clssico, e isto ir afetar mais adiante o modo pelo qual a tese da identidade se aplica a estados mentais disposicionais; mas no cabe aqui discutir essa questo).

Existe ainda outro ponto: muitos predicados intensionais no apenas atribuem uma condio a uma pessoa, mas tm implicaes sobre o resto do mundo e sobre sua relao com o mundo. O fisicalismo no ir, claro, requerer que estes sejam simplesmente idnticos aos estados do corpo de uma pessoa, concebido estritamente. Um caso bvio o do conhecimento, que implica no somente na verdade do que conhecido, mas tambm numa relao entre a coisa e o sujeito cognoscente. Intenes, pensamentos e desejos podem tambm implicar num contexto, numa relao com as coisas fora da pessoa. A tese de que todos estados de uma pessoa so estados de seu corpo requer uma concepo ampla do que constitui um estado - na qual deve-se admitir atributos relacionais. Isto no algo especfico dos estados mentais: caracterstico de atributos intensionais onde quer que eles ocorram. Que um aviso diga que pescar proibido no consiste simplesmente em ter uma certa distribuio geomtrica de tinta preta sobre a sua superfcie; embora neste caso no estejamos tentados a negar que o aviso um pedao de madeira com tinta sobre ele, ou postular uma substncia no-corprea que o sujeito dos atributos intensionais do aviso.

Contudo, mesmo com todas essas qualificaes, pode ser um exagero esperar uma contrapartida fsica para cada fenmeno psicolgico particular. Assim, embora possa ocorrer que o que explica e explicado por uma sensao particular possa tambm explicar e ser explicado por uma condio neurolgica particular, pode igualmente ocorrer que isto no seja exatamente verdadeiro para uma inteno. Ao contrrio, possvel que as vrias conexes que traamos entre causas e efeitos via inteno possam ser compreendidas em termos de muitas condies fsicas diferentes, algumas das quais tambm explicam conexes que ns, num discurso psicologizante, estabelecemos via outros estados que no a inteno, e nenhum subconjunto desses estados, prprios ou imprprios, pudessem dar conta de todas e somente todas aquelas conexes que a inteno explica. Por esta razo, um fisicalismo completo teria de recorrer a um critrio para identidade entre coisas no dependente da identidade de seus atributos - um critrio do tipo daquele examinado no final da seo anterior.

Obviamente qualquer teoria fisicalista, enquanto oposta tese pura e simplesmente filosfica do fisicalismo, ser extraordinariamente complexa. Estamos ainda muito longe de ter uma teoria fsica de como os seres humanos funcionam e no sabemos se as evidncias empricas disponveis apontam para a possibilidade de que os avanos da neurologia possam descobrir algo neste sentido. Minha preocupao at agora foi apenas refutar a posio filosfica de que uma identidade entre fsico e mental seja impossvel e que nenhuma informao futura pudesse se constituir numa evidncia em favor dela.

V

Mesmo que tenhamos respondido a todas as objees-padro, acredito que ainda permanece uma outra fonte para a convico filosfica de que o fisicalismo impossvel. Ela se expressa como um sentimento de que h uma distino fundamental entre o objetivo e o subjetivo que no pode ser resolvida. Objees relativas a privacidade e ao acesso especial representam tentativas de express-lo, mas falham em faz-lo: este sentimento permanece mesmo aps descartarmos tais objees. O sentimento que eu (e portanto qualquer "eu") no posso ser um mero objeto fsico, porque possuo meus estados mentais: eu sou o sujeito deles, de um modo tal que nenhum objeto fsico pode ser sujeito de seus atributos. Eu tenho um tipo de internalidade que as coisas fsicas no tm; assim, alm da conexo que todos meus estados mentais reconhecidamente tm com meu corpo, eles so tambm meus - isto , eles tm um certo self como sujeito, sendo mais do que meros atributos de um objeto. Se qualquer estado mental deve ter um self como sujeito, ele no pode ser idntico a um mero atributo de algum objeto como um corpo, e o self do qual ele seu sujeito no pode ser um corpo.

Por que dever-se-ia pensar que o fato de eu ter uma certa sensao - estar num determinado estado mental - no pode consistir meramente num objeto possuindo certo atributo? Isto poderia ser colocado da seguinte maneira:

Estados do meu corpo, estados fsicos so reconhecidamente estados fsicos de mim mesmo, mas isto no se deve ao fato de que eles so estados deste corpo mas porque alm disto, este o meu corpo. Ser o meu corpo consiste em ter uma certa relao, possivelmente causal, com o sujeito de meus estados mentais, isto conduz, naturalmente, concluso de que eu, o sujeito de meus estados mentais, sou alguma coisa a mais - talvez uma substncia mental. Meus estados fsicos so somente derivadamente meus, uma vez que eles so estados de um corpo que meu em virtude de estar relacionados de maneira apropriada com meus estados psicolgicos. Mas isto possvel somente se estes estados psicolgicos forem meus num sentido original e no meramente derivativo; assim, o sujeito deles no pode ser o corpo que derivadamente meu. O sentimento de que o fisicalismo no leva em conta a subjetividade essencial dos estados psicolgicos o sentimento de que em nenhum lugar da descrio do estado do corpo humano poderia haver espao para um equivalente do fato de que eu (ou qualquer self) e no apenas aquele corpo, sou o sujeito daqueles estados.

Esta possivelmente a fonte de minha inquietao com o fisicalismo. Infelizmente, quaisquer que sejam seus mritos, este no um argumento decisivo contra o fisicalismo nem tampouco contra outras teorias da mente. Neste sentido ele no nos fornece nenhuma razo para alm daquelas que j apresentamos ao discutir as objees-padro para rejeitar o fisicalismo e aceitar o dualismo. Poderamos mostrar que se levarmos at as ltimas conseqncias este tipo de argumento isto nos daria razes igualmente fortes para rejeitar qualquer viso que identifica o sujeito de estados psicolgicos com uma substncia e constri esses estados como atributos dessa substncia. Uma substncia no corprea parece algo seguro pois ao subtrairmos a substncia fsica como candidata a ser o self estaremos to ocupados em achar o sujeito cujos estados so originariamente meus - um sujeito ao qual o corpo fsico pode ser relacionado de tal maneira que se explique como ele pode ser meu - que simplesmente postulamos tal sujeito sem nos perguntar se as mesmas objees no se aplicariam igualmente a ele, ou seja, se haveria uma substncia na qual tais estados poderiam ser de modo no derivativo meus.

Poderamos generalizar este problema da seguinte maneira: considere tudo que pode ser dito sobre o mundo sem empregar nenhuma expresso nominalmente reflexiva. Isto ir incluir a descrio de todos seus contedos fsicos e seus estados, atividades e atributos. Isto incluir tambm uma descrio de todas as pessoas no mundo e suas histrias, memrias, pensamentos, sensaes, percepes, intenes e assim por diante. Desta maneira, eu posso descrever sem reflexivos nominais o mundo inteiro e tudo que est acontecendo nele - isto incluir uma descrio de Thomas Nagel e o que ele est pensando e sentindo. Mas pode restar uma coisa que no posso dizer desta maneira - isto , quais das vrias pessoas no mundo sou eu. At quando tudo que pode ser dito de uma maneira especificada tiver sido dito, e o mundo tiver sido completamente descrito, parece haver um fato que permanece no expresso, e este fato que eu sou Thomas Nagel. Claro que isto no o fato comumente transmitido por estas palavras, quando usadas para informar algum quem o falante - pois isto seria facilmente expressado de outra maneira. o fato de que eu sou o sujeito destas experincias; este corpo o meu corpo, o sujeito ou o centro de meu mundo esta pessoa, Thomas Nagel.

Disto se segue no apenas que uma sensao pertencente a mim no pode consistir simplesmente em ser um atributo de um determinado corpo, segue-se tambm que ela no pode consistir num atributo de uma determinada alma ligada quele corpo, pois nada na especificao dessa alma ir determinar que ela minha, que eu sou aquela pessoa. Se construmos estados psicolgicos como atributos de uma substncia, no importando que substncia tenhamos escolhido, ela pode ser jogada juntamente com o corpo no mundo "objetivo"; seus estados e sua relao com um corpo particular pode ser descrita completamente sem se tocar sobre o fato de que eu sou aquela pessoa. Da resulta que, dados os requisitos que nos conduzem a rejeitar o fisicalismo, a busca pelo self, por uma substncia que sou eu e cuja posse de atributos psicolgicos resulta do fato de ela ser minha, acaba se tornando a busca por algo que no poderia existir. A nica concluso possvel que o self no uma substncia e que um tipo especial de posse que caracteriza a relao entre eu e meus estados psicolgicos no pode ser representada como posse de certos atributos por um sujeito, no importando o que esse sujeito possa ser. A subjetividade do verdadeiro sujeito psicolgico de um tipo diferente daquele do mero sujeito de atributos. E se eu for estender este caso para alm do meu prprio, devo concluir que ter uma sensao particular no consiste em ter um determinado atributo ou estar num determinado estado.

No discutirei as razes para rejeitar esta posio. Minha atitude em relao a ela precisamente o reverso de minha atitude em relao ao fisicalismo, que me repugna embora eu esteja persuadido de sua verdade. claro que as duas teses esto relacionadas, uma vez que o que me incomoda acerca do fisicalismo o pensamento de que no posso ser um mero objeto fsico, no posso nem mesmo ser alguma coisa no mundo e minhas sensaes etc. no podem ser simplesmente atributos de alguma substncia.

Mas se rejeitarmos esta posio (como parece provvel que devamos fazer) e aceitarmos a alternativa de que uma pessoa algo no mundo e que seus estados mentais so estados dessa coisa, ento no h nenhuma razo a priori para que ela no pudesse ser um corpo fsico e esses estados serem estados fsicos. Ficamos assim livres para investigar esta possibilidade e buscar um tipo de entendimento dos estados psicolgicos que nos capacitaro a formular teorias fisicalistas especficas medida em que a neurologia for progredindo.

Traduo de Jos Antnio Finocchio.

Uma verso preliminar deste trabalho foi apresentada numa reunio da American Philosophical Association em Seattle, em 5 de setembro de 1964.

No considerarei aqui nenhum tipo de behaviorismo ou reducionismo.

Todas as identidades cujos termos so universais na forma sero chamadas gerais , mesmo que sua especificao envolva referencia a elementos particulares. Assim, A gua H2O " , "Para a gua ser gelada preciso que suas molculas estejam na condio F" e "Para esta gua ser gelada preciso que suas molculas estejam na condio F"so todas identidades gerais. Por outro lado, "Para que esta gua (agora) esteja gelada preciso que suas molculas (agora) estejam na condio F" uma identidade particular.

A seo II constitui uma tentativa de refutar algumas objees correntes e a III contm uma discusso geral da identidade cujos resultados so aplicados ao fisicalismo na seo IV.

J.J.C. Smart, "Sensations and Brain Processes", Philosophical Review, LXVIII (1959), 141-156, reeditado em The Philosophy of Mind ed. por V.C. Chappell (Englewood Cliffs 1962). Veja-se tambm o livro de Smart, Philosophy and Scientific Realism (London, 1963) e seu artigo "Materialism", Journal of Philosophy, LX (1963), 651-662 para discusses mais detalhadas da tese da identidade.

U.T. Place Is Consciousness a Brain Process", British Journal of Psychology 47 (1956). Minha formulao do lado fsico da identidade difere da de Smart, e no aceito seu reducionismo psicolgico.

Pode-se, alternativamente, tornar esta uma condio da pessoa de tal maneira que os dois atributos identificados teriam, garantidamente, o mesmo sujeito. No saberia dizer como tal mudana afetaria o argumento.

Veja-se Norman Malcolm, "Scientific Materialism and the Identity Theory"em Dialogue III (1964), 124-125.

Veja-se Malcolm, op.cit, pp. 118-120. Veja-se tambm Jerome Shaffer "Could Mental States Be Brain Processes?", Journal of Philosophy LVIII (1961). Shaffer considera que a dificuldade pode ser superada, mas isto depende da possibilidade de uma mudana no nosso conceito de estado mental, a qual daria sentido idia de que eles podem ter localizao.

Veja-se Kurt Baier, "Smart on Sensations" e J.J.C. Smart, "Brain Processes and Incorrigibility",Australasian Journal of Philosophy, 40 (1962). Esta vista como uma sria dificuldade por Smart e outros defensores do fisicalismo. Veja-se Armstrong, D. M. Is Introspective Knowledge Incorrigible?",Philosophical Review, LXXXII (1963), 418-419. Por outro lado, Hilary Putnam argumenta que todos os problemas acerca de privacidade e acesso especial que podem ser levantados no que diz respeito a pessoas podem ser formulados para as mquinas. Veja-se seu artigo "Minds and Machines"em Dimensions of Mind, editado por Sidney Hook (New York, 1960).

preciso notar que se dois estados mentais esto necessariamente conectados, esta conexo deve ser retratada ao nvel dos estados fsicos com os quais os identificamos. Embora a conexo entre estados fsicos no precise ser uma conexo necessria, esta seria uma caracterstica desejvel numa teoria fisicalista, e de fato, parece estar presente no exemplo da gua e das molculas: o fato da gua estar gelada necessariamente inclui o fato de ela estar fria, e a especificao de um estado molecular que constitui o fato de ela estar gelada implica que as molculas tero uma energia cintica baixa - o que significa exatamente o mesmo que dizer que a gua est fria.

Seguindo Hilary Putnam, op.cit que diz que o ""em questo aquele da identificao teortica. A palavra "identidade"para estes casos muito forte, mas adota-la-ei por uma questo de convenincia.

Um atributo, para nossos propsitos, ser dado por qualquer esquema sentencial contendo uma varivel livre (em todas suas ocorrncias) onde ela pode ser uma varivel recaindo sobre objetos, eventos e assim por diante.

Esta qualificao leva em considerao casos problemticos tais como eu sou a raiz quadrada de 2, pois embora possa ocorrer que compartilhemos todos os atributos que podem ser independentemente imputados a cada um de ns, compartilho tais atributos com a raiz quadrada de 3, cujos atributos claramente contradizem aqueles da raiz quadrada de 2.

Um tratamento completo teria de incluir a discusso da relao no -simtrica "...consiste de..."que distinta da identidade. Um evento macroscpico, (a gua congelar-se, por exemplo) pode ser idntico com um evento microscpico A descrito em termos gerais (energia cintica mdia, ordenao espacial e coisas similares ) e ao mesmo tempo consiste de uma coleo muito especifica B de eventos microscpicos com os quais ela no idntica, pois se uma delas (o movimento de uma molcula especfica) fosse diferente, aquele complexo de eventos microscpicos no teria ocorrido, embora A e o evento macroscpico tivessem ocorrido. (Possivelmente em tais casos a ocorrncia de B implica a ocorrncia de A , mas nada alm disto precisa ser dito acerca da relao entre os dois). O mesmo conceito se aplica a relao entre a Segunda Grande Guerra e uma imensa coleo de aes e eventos no qual ela consistiu, ou entre a Torre Eiffel e os parafusos e rebites que a compem.

Ou seja, expresses funcionando como nominalmente reflexivas. Tais palavras perdem sua funo em citaes e em certos casos de oratio (or cogitatio) obliqua : por exemplo, "John Smith pensa que ele Napoleo".

Veja-se Wittgenstein, Tractatus, 5.64.

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