o filtro dos sonhos no templo das á-guas. uma vivencia de

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1 O Filtro dos Sonhos no Templo das Águas. Uma Vivencia de Transcendência VIRGÍNIA SEDREZ AMARAL Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à escola de Biodanza Rolando Toro de Pelotas, como requisito parcial da formação Docente em Biodanza para obtenção do título de Facilitador. Orientador: Nilza Quadros. 2012 Banca Examinadora: ____________________________________ Nilza Quadros (orientadora) _____________________________________ Myrthes Gonzales

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Page 1: o filtro dos sonhos no templo das á-guas. uma vivencia de

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O Filtro dos Sonhos no Templo das Águas.

Uma Vivencia de Transcendência

VIRGÍNIA SEDREZ AMARAL

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado à

escola de Biodanza Rolando Toro de Pelotas,

como requisito parcial da formação Docente

em Biodanza para obtenção do título de

Facilitador.

Orientador: Nilza Quadros.

2012

Banca Examinadora:

____________________________________

Nilza Quadros (orientadora)

_____________________________________

Myrthes Gonzales

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2

Dedicatória

Dedico este trabalho ao Templo das Águas por me mostrar a importância de

construir tantas teias, ao grande amigo Marco Gottinari pela sensibilidade e intuição

nesta trajetória de musica e natureza, a Marta Gottinari que hoje se tornado uma irmã;

Dedico em especial a todas as pessoas que se deixam encantar por esta forma saudável

de viver na natureza.

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Agradecimentos

Agradeço a minha família que tem participado desta trajetória comigo;

Em especial as minhas sobrinhas pelo carinho e amorosidade;

Agradeço a todos os colegas e amigos da Escola de Pelotas, da Frater,que hoje

considero minha segunda familia;

A Myrthes pelo estimulo, dedicação e amizade;

A Nilza Quadros e Fram que me auxiliaram a desenvolver este trabalho e me ajudaram

a concretizá-lo;

Aos Amigos Marco e Marta Gottinari pela amizade e ensinamentos;

Agradeço a Fernanda Tomiello por suas fotos e trabalho;

Agradeço a Rolando Toro grande mestre e criador do sistema biodanza;

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Semente e o Barro

Marco Gottinari

Coloque a semente no barro

O barro pra proteger e

Depois ofereça pra terra

Que acolhe com todo prazer

E fica a pequena espera

E acorda quando chover

As vezes ouvir o silencio

Pode ser fundamental

O avesso do fim recomeço

Viver é ser natural

Se jogue inteiro no barro

O barro pra proteger

Você também é semente

E acorda quando entender

Que na vida não é diferente

Só acorda quem renascer

Viver ganha um colorido

Quando se sabe amar

Se traz um anjo adormecido

é hora de acorda

Se jogue inteiro no barro

O barro faz renascer

Você também é semente e acorda quando

entender que a vida não é diferente

Só acorda quem renascer

Pois tudo faz parte do mesmo modo de ser..

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SUMÁRIO:

1. Introdução 08

2. Definições: Biodanza, Princípio biocêntrico e linha de 09

Trancendencia

3. Vivência da Virginia: contando histórias 10

4. O Templo das Águas 12

5. A integração com Biodanza 14

5.1. A chegada de Eventos de Biodanza no Templo das Águas

e o começo das reformas na propriedade. 15

6. Desenrolando os fios, vivencia de transcendência 15

6.1. O filtro dos sonhos 19

6.2. Vivência de transcendência 21

7. Eventos de Biodanza 23

7.1. As cartas do caminho sagrado 23

7.2. O carnaval 25

7.3. Artemis 26

7.4. Argila 28

7.5. Hestia 29

7.6. Vivencia do momento 31

8. Marco Gottinari; Uma Visão Biocêntrica 32

9. Benfeitorias e fontes de renda no Templo das Águas 34

10. Conclusão 37

11. Anexos 39

12. Referencias 55

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Lista de imagens

Imagem 01 Virginia Sedrez, Marta Gottinari no Templo das Águas. Fotografia Fram

Amaral (capa).

Imagem 02 Templo das Águas. O desenrolar dos fios. 31-12-04. Fotografia: Fram

Amaral. 10

Imagem 03 Marco Gottinari com amigos em nossa primeira visita ao Templo das

Águas.

Atividade de desenrolar os fios. 31-12- 04. Fotografia: Fram Amaral.

11

Imagem 04 Marco Gottinari no desenrolar dos fios. 31-12-04. Fotografia: Fram Amaral. 11

Imagem 05 Fotografias: exemplos de filtros dos sonhos. 12

Imagem 06 Domo ou Cúpula. Geodésica. Templo das Águas. Fotografia Fernanda

Tomiello. 15

Imagem 07 Cartaz do evento. 17

Imagem 08 Cartaz do evento. 19

Imagem 09 Virgínia no túnel de pedras Evento Ártemis. Fotografia Myrthes. 2010. 20

Imagem 10 Cartaz do evento. 22

Imagem 11 Fotografia: Grupo participante da atividade no Templo das Águas. 23

Imagem 12 Cartaz do evento. 24

Imagem 13 Chuveiros quentes construídos nas ruínas do galpão. 2008. 28

Imagem 14 e 15

Fotografias. Sala janela com vitral e detalhe deste. Fonte: Fernanda

Tomiello. 35

Imagem 16 Fotografia: Marco Gottinari no telhado da casa há observar o galpão após o

incêndio. 36

Imagem17 Fotografia. Galpão. Colônia São Manoel. Pelotas, RS. Fonte: Fernanda

Tomiello, 2009.

36

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Imagem 18 Fotografia Panorâmica da fachada leste. Templo das Águas. Colônia São

Manoel. Pelotas, RS. Fonte: Fernanda Tomiello, 2008. 37

Imagem 19 Templo das Águas fachada sul: parede descascada e gateiras. Colônia São

Manoel. Pelotas, RS. Fonte: Fernanda Tomiello, 2009. 38

Imagem 20 Marco Gottinari a observar o galpão após incêndio, 2003. 38

Imagem 21 Show no Sete ao entardecer. 2010. 42

Imagem 22 Banheiro seco. Templo das Águas e Desenho ao lado projeto. 43

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1. INTRODUÇÃO

“O instinto é uma conduta inata, hereditária, que não requer aprendizagem e que se

desencadeia frente a estímulos específicos. Sua finalidade biológica é a prevenção da espécie.”

Rolando Toro

“Para ser um filho da terra é preciso ser a terra”.

Marco Gottinari

Neste trabalho de conclusão de curso é relatada a interferência benéfica da

biodanza® em minha vida e no espaço Templo das Águas. Também exponho aqui as

conseqüências geradas na família Gottinari, através dos trabalhos de biodanza®

desenvolvidos na propriedade ao longo dos últimos anos.

Através da sugestão de, Myrthes Gonzalez, (diretora da escola de formação

Rolando Toro de Pelotas) com muita emoção percebi “que este é meu chão”. Relato

minha intolerância em relação ao campo (ambiente mais rude e afastado da cidade)

desde minha infância até os dias atuais e a transformação que ocorreu em minha forma

de pensar sobre este aspecto após conhecer o espaço Templo das Águas. E assim como

em um desenrolar de emaranhados de fios surgiram os filtros dos sonhos: uma atividade

realizada no local.

Conto um pouco da trajetória de vida de Marco Gottinari e família, homem

de origem humilde que saiu do campo para a cidade e retornou ao campo, saindo de

uma agricultura convencional para integrar a terra organicamente e hoje desenvolve o

turismo rural. Com muito amor e carinho fui acolhida, o que me possibilitou uma

passagem fantástica para um mundo novo. Uma história de vida das mais lindas que

conheci.

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Foco também como a biodanza® está ajudando na restauração estrutural da

residência e cito os trabalhos efetuados no local. Incluo como anexo o trabalho que a

Universidade federal de Pelotas desenvolveu junto a seus alunos do curso de arquitetura

com a casa, depoimentos de algumas amigas e reportagens sobre eventos de Marco

Gottinari.

Hoje a biodanza® em conjunto a outras iniciativas tais como consumo

consciente, agricultura agro-florestal e orgânica, cursos profissionalizantes, visitação de

escolas locais e turismo, a casa e os proprietários estão se reerguendo, sempre com

muita alegria e humildade. A biodanza® tem ingressado na casa através de maratonas

vivenciais nà natureza e no salão. Sempre sonhei em divulgar trabalhos na biodanza®,

mas trabalhar com as pessoas em um local paradisíaco está sendo muito importante pra

meu desenvolvimento; a localidade é por si só muito acolhedora e nutritiva. Trago para

este texto minha vivência dentro deste trabalho com a biodanza®.

2. Definição de Biodanza®; Principio Biocêntrico e Linha de

Transcendência.

“A biodanza®; é um caminho vivencial para o

desenvolvimento humano, desde que o ser humano nasce

tem todo o potencial genético único qual sua expressão

diferenciada se permitida através do desenvolvimento das

linhas de vivência”.

“A linha da transcendência que é capacidade sentir-se

parte de um todo maior, uma unidade psicossomática que

tem a capacidade de incluir em si unidades maiores e

dentro dessa diversidade, permanecem como uma

unidade” (LEMOS, 2005, P.10).

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“No Templo das Águas, toda a forma de vida é respeitada”.

Marco Gottinari

“O Principio Biocentrico se inspira na intuição do

universo organizado em função da vida e consiste em

uma proposta de reformulação de nossos valores culturais

que tomam como referencial o respeito à vida. O

Principio Biocentrico, se propõem em potencializar á

vida e a expressão de seus poderes evolutivos.

biodanza® é deste ponto de vista, uma poesia do vivente,

fundada nas leis universais que conservam e permitem a

evolução da vida. Todas as ações da biodanza® se

orientam em ressonância com o fenômeno profundo e

comovedor da vida. O Principio Biocentrico põe seus

interesses em um universo compreendido como um

sistema vivo. O reino da vida envolve muito mais que os

vegetais, animais e o homem. Tudo que existe, da pedra

até o pensamento mais sutil, faz parte do sistema vivo

prodigioso. Segundo o principio Biocentrico, o universo

existe por que a vida existe, e não o contrário”. (Qui, 07

de agosto de 2008. 20h08min. Marcelo Toro)1.

3. Vivências da Virgínia: contando histórias

Fiz uma formação secundária em eletro técnica em Pelotas e durante quinze anos

trabalhei com eletrificação rural, levando luz ao interior do estado do Rio Grande do sul

e do Paraná. Projeto de eletrificação rural da ETFPEL, vinculado ao governo do estado.

Em minha família éramos quatro, três irmãos e o pai trabalhando na área de

eletrificação rural. Neste tempo percebi a precariedade do campo e o descaso de nossos

governantes.

1 Informações retiradas:http://www. biodanza®.org/index.php?option=com_

content&view=article&id=53&Itemid=61&lang=pt

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Sempre detestei a vida rural, considerando-a precária e injusta. Tudo que via

me causava dor e nunca entendi como podiam viver daquela forma. Saber que muitas

pessoas adoravam aquela vida me deixava “maluca”. Minha família é de origem rural,

mãe e pai nascidos e criados no campo, e vieram para a cidade para estudar. Cresci indo

ao campo, pois além de ir visitar os meus avôs desde que nasci minha família adquiriu

uma propriedade rural no interior de Piratini. Que é a paixão de toda família onde

atualmente, minha mãe esta residindo.

Passar as férias no campo com a minha família se tornava infernal, pois

nunca me senti a vontade no campo, o que ocasionou o meu isolamento. Sentia diversas

dificuldades como alergias a plantas como aroeira e figueiras; intolerância a alguns

alimentos como leite e carne e também aos cheiros, inclusive o cheiro de mata nativa

queimada (fogão a lenha, fogueira) processo este que somente após ingressar na

biodanza® consegui perceber. Meu processo de crescimento pessoal junto há

biodanza® passa por toda esta trajetória de ir além, de superar os meus limites sem me

agredir.

Conheci a biodanza® em 2003, estava em processo de recuperação de

depressão e síndrome de pânico, já estava trabalhando como terapeuta voluntária

reikiana em uma instituição terapêutica, fazia ioga duas vezes por semana, sentia-me

curada, embora ainda não fosse além de três quadras de minha casa.

A equipe de terapeutas da instituição que eu freqüentava foi presenteada

com um convite para conhecer a biodanza®. Uma aula fantástica, iniciação em quatro

módulos. Um final de semana inteiro me olhando, recebendo atenção e carinho assim

pude ver a ver a minha alegria voltar e me senti viva e com vontade. Não lembrava mais

o sabor dos alimentos o cheiro e o toque.

Aquele primeiro encontro já trouxe conseqüências viscerais, meu corpo se

aqueceu e vibrou. A biodanza® me devolveu a disposição para andar na rua. "Na

biodanza® o processo de integração atua mediante a estimulação da função primordial

de conexão com a vida, que permite a cada individuo integrar-se a si mesmo, á espécie e

ao universo" (TORO, 2002, p. 34).

Os relatos verbais de meus colegas participantes das atividades foram

fascinantes, pessoas que considerei velhas demais estavam entrando para a faculdade,

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procurando emprego e se dedicando á encontrar parceiros para o resto da vida, dizendo

sim pra si mesmos. E eu? Onde eu estive todos estes anos? Aos quarenta e dois anos,

desempregada sem propósito e me achando velha.

Estava fora do mercado de trabalho convencional quando fui convidada por

Myrthes a ingressar na escola de biodanza®, percebi então que era isso que queria e

precisava trabalhar (ingressei para a escola de formação, dois meses após conhecê-la).

Com iniciativa procurei emprego em uma farmácia local, onde fiquei trabalhando por

mais de um ano, até conseguir me fortalecer e ter uma renda maior para que pudesse

custear a escola de biodanza®. A partir de 2004, tudo começou a “andar sozinho” na

minha vida, visto que para mim, havia parado de agosto de 2000 a 2003. Não percebi o

que aconteceu, não senti o tempo passar, mas percebo hoje que durante mais de dois

anos fiquei isolada dentro de casa sem sair.

Em 2005, já na escola de facilitadores, fui convidada, para acampar no final

de ano com minha sobrinha e seus amigos no Templo das Águas, local dito por eles,

como o paraíso que eu jamais esqueceria. Na época, ainda tinha muito medo do campo,

e por isso pedi para ficar na residência. Já estava sentindo necessidade de grupo e não

queria dormir em barraca. Assim, fui acolhida com muito carinho pelos proprietários do

local, que inclusive me cederam á cama de um de seus filhos. Era final da semana, uma

sexta feira. Instalamo-nos devagar, com a noite chegando. A aproximação se deu

através de um violão e do aconchego ao redor do fogo. Não havia conhecido a

propriedade ainda, escutava apenas o barulho da água nas pedras, mas até então não

havia saído de perto da casa. Só queria mesmo era dormir cedo, tinha uma sensação de

arrependimento. Parece que a noite é muito longa no campo e dormir cedo parecia

amenizar a ansiedade e o desespero.

4. O Templo das Águas

Marco Gottinari utiliza um termo para se referir a casa: "intuitiva".

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O Templo das Águas é uma propriedade rural distante 45 km do município

de Pelotas, de propriedade da família Gottinari, que em 2003, sofreu grande incêndio2.

Todo o maquinário e benfeitorias da propriedade foram queimados. A família ficou, na

época, com uma grande divida bancária, pois acabara de fazer um empréstimo e a casa

não estava segurada.

Conheci a família Gottinari pouco tempo depois de terem sofrido esse

incidente, e a família que havia perdido quase tudo estava se reinventando, ainda que

sofrendo o abandono de quem está no meio rural. Embora com poucas posses, sempre

lutavam pelo melhor saindo de uma agricultura convencional para o turismo colonial.

É uma família composta por dois filhos adolescentes, Marta Gottinari, uma

mulher de muita fibra nascida e criada na cidade, e Marco Gottinari, um músico e artista

nato, nascido e criado no meio rural.

Marta Gottinari me explicou que o nome Templo das Águas nasceu das

cinzas da alta fogueira do incêndio ocorrido em 2004, o qual interrompeu o ciclo de

agricultura predatória e mecanicista, dando liberdade para que em todo lugar se faça um

templo. Um reencontro com a „Grande Mãe’. Foram as suas águas que abrandaram suas

chamas. Templo das Águas é isso: um recomeço, um novo ciclo.

“A deformidade do espírito ocidental culminou, no

século que passou, com os maiores atentados que a

história conhece contra a vida humana. A patologia do

Eu, caracterizada pela cisão entre à natureza e a cultura,

com uma valorização excessiva da cultura em detrimento

da natureza, e do predomínio exacerbado da razão sobre

o instinto, foi reforçada até um limite nunca antes

alcançado. Esta patologia é sustentada pelas instituições

estatais e pelas ideologias políticas e educativas; é

consentida por muitos dos intelectuais e pensadores de

nossa época” (TORO, 2002, p. 13).

2 Informação contida em anexo um: TOMIELLO, Fernanda. Templo das Águas: Influência da

Permacultura na estrutura espacial de uma propriedade rural.

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5. A integração com a biodanza®

“A base conceitual da biodanza® provém de uma

meditação sobre a vida, do desejo de renascer de nossos

gestos despedaçados, de nossa vazia e estéril estrutura

repressão; provém, com certeza, da nostalgia do amor.”

(TORO, 2002, p. 13).

Percebo que já estava à procura de uma luz, disposta a sair daquela situação de

depressão, que, hoje sei, não era minha, pois não nasci deprimida. Conheci a biodanza®

através dos trabalhos como voluntária na casa da irmã Assunta. Esta irmã conta com mais de

quinze casas de cura em Pelotas e região, onde são oferecidos reiki, massagem, acupuntura,

fitoterápicos, homeopatia, banhos-haitianos de ervas medicinais e outras propostas de cura.

São cobrados preços irrisórios, no nível de trocas ou até mesmo gratuitamente. Foi assim que

participei pela primeira vez, da biodanza®, oferecida por um facilitador da Cidade.

No ano de 2000, a morte de dois dos meus irmãos estagnou-me totalmente e eu

não via razão de viver. Percebo, hoje, que durante seis meses fiz o que não gostava, morei

onde não queria e tentei dar o que não tinha. Faltou energia e disposição para continuar a

viver! Esta falta, carência, me fez parar. Estava cansada e tudo que precisava era encontrar um

lugar onde eu pudesse ser eu mesma, autêntica, para recuperar e fortalecer minha identidade

perdida.

Comecei a participar de grupo semanal de biodanza® e também de maratonas de

final de semana. Conhecer a Myrthes e reconhecer a visão dela me fascinou. Com muita

maestria, Myrthes me encorajou a tomar posse daquilo que gosto. Comecei a convidar pessoas

a ingressarem na biodanza®, tornando possível trazer mais vezes essa atividade para Pelotas.

5.1. A chegada de Eventos de biodanza® no Templo das Águas e o começo das

reformas na propriedade.

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No ano de 2007, Myrthes, eu e mais duas amigas, fomos conhecer algumas

propriedades de Pelotas, no meio rural, onde pudesse haver uma estrutura que

comportassem os encontros de biodanza®. Andamos por alguns espaços na colônia e

acabamos chegando ao Templo das Águas. Myrthes entrou, permitiu-se encantar,

embora com os olhos de diretora e percebendo o quanto ainda precisava ser feito até que

pudéssemos fazer um trabalho maior por lá.

Após uma conversa com os proprietários, ficou acordado o que

precisaríamos para tornar o lugar adequado para o primeiro encontro. Sugerimos

benfeitorias como: mais banho quente, reforma do piso do salão da frente e maiores

possibilidades de acomodações (dormitórios). Naquele momento acertamos, então, os

detalhes e as reformas a serem feitas no local para nosso primeiro encontro.

A biodanza® entrou no Templo a partir desta visita de Myrthes. Fizemos

então o cartaz para o evento das Cartas do Caminho Sagrado, quinze dias de convite e

lá estávamos nós, vinte oito pessoas querendo se trabalhar na natureza.

6. Desenrolando os fios, vivência de transcendência.

“A biodanza® é, por isso, uma ampla transgressão dos

valores culturais contemporâneos, das imposições de

alienação da sociedade de consumo e das ideologias

totalitárias. Propõe-se a restaurar no ser humano, o

vínculo original com a espécie como totalidade biológica

e com o universo, como totalidade cósmica” (TORO,

2002, p. 13).

“Retornar as origens e se permitir a intuir as coisas, deixar o universo

conversar contigo para que tu possas saber o que plantar e o que fazer.”

Marco Gotinari.

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Fiquei encantada com o carinho com que fomos recepcionados no Templo

das Águas, em 2004. Nosso ser não é apenas feito de profissões e status, somos seres de

coração pulsante. Na simplicidade, este lugar nos mostra que com humildade e de pés

no chão, podemos ser todos iguais.

A casa tem salas amplas, arejadas, paredes largas, pé direito alto e janelas

grandes. Tudo muito amplo. Ainda hoje não sei explicar o que me chamou no sótão da

propriedade, mas fui subindo as escadas, e hoje vejo até como mórbido o medo que

senti. Era um local sombrio, haviam morcegos instalados, forte odor, poeira, muita coisa

abandonada, guardada, móveis antigos e utensílios não usados mais ou para eternos

consertos.

“Como a água que brota de uma fonte a vivência surge com espontaneidade

e frescor; possui a qualidade do original. A vivência não esta sob o controle da

consciência: pode ser evocada, mas não dirigida pela vontade” (TORO, 2002, p. 31).

Ao caminhar pelo sótão, observei em um canto, um emaranhado de fios que

me chamou atenção, talvez por que faço trabalhos artesanais, como tricô e crochê, e, ao

perguntar a Marta Gottinari para que serviam aqueles fios e ela explicou-me que eram

sobras de sua antiga malharia. Perguntei se gostaria de uma blusa ou alguma outra peça

de roupa, ela concordou. E assim tudo começou a se desenrolar.

Naquela manhã de sábado, estávamos em seis pessoas rindo e brincando com

os fios, indo e vindo, (imagem 02 e 03) com o objetivo de desenrolar os fios para que

fossem reutilizados (até então não havíamos pensado na elaboração dos filtros dos

sonhos). Assim a manhã se fez, animada e alegre. Almoçamos e seguimos à tarde. Já

havíamos feito vários rolinhos das linhas, quando meus amigos foram aos banhos de

cachoeira, saíram para fazer trilhas, e, sem coragem para ir, fiquei na volta da casa.

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Imagem 02: Templo das Águas. O desenrolar dos fios. 31-12-04. Imagem: Fram Amaral.

Imagem 03: Marco Gottinari com amigos em nossa primeira visita ao Templo das Águas.

Atividade de desenrolar os fios. 31-12- 04. Imagem: Fram Amaral.

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À noite, enquanto conversávamos, escutando o violão gostoso de Marco,

percebi vários arcos expostos em pregos nas paredes, perguntei aos proprietários o que

eram e para que serviam. A informação que recebi foi: eram apenas uns cipós, mas nada

com grandes projetos, perguntei se alguém sabia fazer filtro dos sonhos, já havíamos

escutado falar, inclusive uma amiga já havia tentado nos ensinar, mas na prática,

ninguém sabia muito. Fui dormir com aqueles arcos e os fios no pensamento.

No domingo, ultimo dia, peguei um arco e alguns fios e comecei a fazer

meu primeiro protótipo de filtro dos sonhos, um emaranhado de nós. Conforme o povo

foi acordando, foi entrando na história, e, começamos todos juntos a nos influenciar

motivados por algo novo, o filtro. Por volta de dez da manhã já havíamos

confeccionado vários filtros e, percebendo a falta de adornos, como penas e sementes,

fomos à busca deles em um galinheiro próximo, na propriedade de uma vizinha.

Conseguimos as penas e o Marco se encarregou de obter as sementes. Depois de

confeccionados, os filtros foram expostos na varanda da casa para possível venda. E,

para nossa surpresa, os próximos visitantes em excursão compraram todos. E, assim, os

filtros dos sonhos tornaram-se mais uma fonte de renda para a família.

Imagem 04: Marco Gottinari no desenrolar dos fios. 31-12-04.

Imagem: Fram Amaral.

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Na hora de voltar para a cidade, apesar dos laços de amizade já feitos,

acreditava que jamais retornaria ao local, conhecendo minha intolerância ao campo,

mas, para minha surpresa, em menos de dois meses já havia convidado amigas para

nossa primeira oficina de filtro dos sonhos no local. Pesquisei material contando a

história dos filtros e Marta Gottinari, começou a contar a lenda dos filtros, enquanto

fazíamos os nossos filtros dos sonhos nas proximidades da cachoeira.

6.1. Filtro dos Sonhos

Filtro dos Sonhos: "Dreamcatcher"

O filtro3 ou teia do sonho são mandalas de cura de origem nativa norte-

americana. O tempo de nossos sonhos é influenciado por boas e más energias. A função

do filtro dos sonhos é a de afastar as energias intrusas e incorretas que, presas na teia, se

dissipam com os primeiros raios do sol.

Os filtros dos sonhos4 são artefatos xamânicos, criados a partir de aros orgânicos

trançados por teias de linhas. Originalmente, eram feitos com galhos de sabugueiro, bem

decorados com objetos simbólicos, como: penas, sementes e pedras preciosas. Originário da

tribo dos Ojibwa e durante movimentos indígenas dos anos sessenta e setenta foram adotados

por índios norte americanos de diversas nações. Passaram a ser vistos como um símbolo da

unidade entre várias nações indígenas, e como um símbolo geral de identificação com as

primeiras culturas nativas.

Existem várias lendas de origem, de acordo com cada tribo e também diferentes

formas de tecer um Filtro dos Sonhos, que é uma mandala. O Circulo representa, o círculo da

3 Informações retiradas do site: http://www.terramistica.com.br/index.phpadd

=Artigos&file=article&sid=254 4 Informações retiradas do site: http://hardsakura.blogspot.com.br/2012/04/dreamcatcher.html

Imagem 05: Imagens: exemplos de filtros dos sonhos.

Page 20: o filtro dos sonhos no templo das á-guas. uma vivencia de

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vida, as rodas, ou círculos, representam a totalidade. Sendo o círculo o símbolo do sol, do céu

e da Eternidade. No simbolismo ancestral o círculo é o símbolo do espaço infinito, sem

começo e sem fim. Conta uma velha lenda dos nativos norte-americanos, que um velho índio

ao fazer uma busca da Visão no topo de uma montanha, lhe apareceu Iktomi, a aranha, e

comunicou-se em língua sagrada.

A aranha pegou um aro de cipó e começou a tecer uma teia com cabelo de cavalo

e as enfeitou com as oferendas recebidas, enquanto tecia, o espírito da aranha falou sobre os

ciclos da vida, do nascimento a morte e das boas e más forças que atuam sobre nós em cada

uma dessas fases. Ela dizia: se você trabalhar com forças boas, será guiado na direção certa e

entrará em harmonia com à natureza. Do contrário, irá para a direção que causará dor e

infortúnios. No final, a aranha deu ao velho índio o aro de cipó com uma teia no centro

dizendo-lhe: no centro está a teia que representa a vida. Use-a para ajudar seu povo a alcançar

seus objetivos, fazendo bom uso de suas idéias, sonhos e visões. Eles vêm de um lugar

chamado espírito do mundo, que se ocupa com o ar da noite, com os sonhos bons e ruins.

Qualquer que seja a representação simbólica, em qualquer era ou cultura, um círculo de poder,

serve como um espelho. Onde podemos ver o reflexo do universo e o grande tudo, que

contém a totalidade, trabalhando para o entendimento dos mistérios da vida, do cosmos, e das

leis naturais.

Em minha visão biocêntrica, o arco que é utilizado na produção dos filtros

representa a roda da vida, sem começo e sem fim, o circulo da vida. Os fios da teia

representam nossos sonhos da alma, nosso caminhar, nossa expressão, que tecemos com

nosso livre arbítrio, conforme o tema abordado. O centro da teia é o grande mistério, o

criador, a força que abrange o universo inteiro. É divino que há em nós, o vazio o espírito

criador. Os adornos, penas e sementes representam o ar, a respiração, a criatividade e a

liberdade.

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6.2. Vivência de transcendência

Com a frequência das idas ao Templo das Águas, adquiri confiança e

comecei a me afastar da casa, caminhando pelo campo, fazendo trilhas. Assim, acabei

conhecendo o Domo ou Cúpula geodésica.5 Com um novo grupo entramos na cúpula,

fizemos então todos juntos, respiração dançante, sentindo o frescor do sol e a brisa

suave, segmentares de ombro e pescoço, com o propósito de dissolvermos as tensões e

nos livrarmos das cargas do dia a dia. À natureza se abriu para nós nesse momento.

Percebo que, quando estou em grupo, me fortaleço. E, ali, já estava sendo chamada a

facilitar, um sentimento único de vinculo com a natureza. Retornamos para a cidade

com a certeza de estarmos totalmente energizados.

Cúpulas geodésicas ou domos geodésicos são estruturas cuja invenção é

atribuída a Richard Buckminster Füller. Estas cúpulas apresentam extraordinária resistência e

leveza. A sua estrutura consiste em barras de qualquer material, e o domo pode ser feito em

qualquer dimensão, desde que o tamanho das suas barras seja calculado corretamente, e no

Templo das Águas está localizado no ponto mais alto, para aproveitar a sua energia. Sua

resistência deve-se ao formato esférico e aos triângulos que compõem sua estrutura. Qualquer

força aplicada no domo se distribui igualmente até sua base, assim como os arcos na

engenharia e arquitetura. (imagem 06) e me encantei com a energia do local. Este foi mais um

atrativo turístico introduzido à propriedade, criado a partir do estudo da cultura Maia.

A energia dentro desta cúpula é diferente, e o incrível é que ali é um dos

poucos locais na propriedade em que os celulares funcionam, devido à altura do terreno.

5 Informações retiradas do site: http://pt.wikipedia.org/wiki/C%C3%BApula_geod%C3%A9sica

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Quando fazíamos o trajeto de retorno para a cidade, deparei- me com o que

chamei de portal, na ponte de ferro, onde até hoje só passa um carro por vez. Percebi

duas formas de claridade e, se olhasse bem, conseguia ver um convite à passagem.

Sempre me considerei lúcida e, naquele momento, reconhecer que podia haver encanto

fora das páginas dos livros, ou até mesmo fora da telinha da televisão, parecia irreal.

Descemos do carro e caminhamos até o centro da ponte. Considerei este um

portal Mágico. Senti que poderia brincar com o que chamei de tempo, a ida e a vinda.

Olhar para o lado direito e ver um mundo, observar o lado esquerdo e ver outro. Um rio

com suas águas agitadas transitando embaixo daquela ponte; fiquei brincando com

minha visão, fechando um olho, fechando o outro. O que mais me fascinou é que

quando nominei o local de Portal, e contei o que estava acontecendo as minhas colegas

de retorno, elas também sentiram o mesmo. E se aquilo era maluquice, eu não estava

sozinha.

A partir desta data, sempre antes de atravessar a ponte, faço um ritual de

entrada. Procuro deixar na cidade o que é da cidade, e após sacudir o corpo faço a

passagem na ponte com maior leveza e suavidade.

A cada retorno ao local, fico imaginando um jeito da propriedade nunca

perder a sua originalidade, e que os proprietários jamais se sintam invadidos. Assim,

com respeito, esta linda semente hoje segue germinando. Reconheço nosso consumo

desnecessário na cidade, estamos consumindo exageradamente produtos

Imagem 06: Domo ou Cúpula. Geodésica. Templo das Águas. Imagem Fernanda Tomiello.

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industrializados; ir ao campo sem levar refrigerantes, biscoitos e produtos embalados

em demasia, também é uma forma de respeito.

“Na biodanza® o processo de integração atua mediante a

estimulação da função primordial de conexão com vida,

que permite a cada individuo integrar-se a si mesmo à

espécie e ao universo. A integração a si consiste em

resgatar a unidade psicofísica a integração ao semelhante

consiste em resgatar o vinculo original com a espécie

como totalidade cósmica a integração com universo

consiste em resgatar o vinculo primordial que une o

homem à natureza e em reconhecer-se como parte de uma

totalidade maior, o cosmo.” (TORO, 2002, p. 34).

7. Eventos de biodanza®

7.1. As cartas do caminho sagrado

O terceiro evento organizado por mim na cidade de Pelotas foi o primeiro a

ser realizado no Templo das Águas. Mulheres e homens se integraram em um desafio de

se entregar ao mais maravilhoso dos seres, à natureza. Facilitado por Myrthes, em

novembro 2008.

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Nosso trabalho com as cartas já começa com a chegada ao local. Percebi

que estava adorando recepcionar, mesmo quem nunca havia visto antes. E o encontro se

fez, com muita alegria na chegada do ônibus, vindo de Porto Alegre, um panelaço de

sopa quentinha, feito em fogão à lenha estava a nos esperar. Mesmo em época de calor

no campo é sempre mais frio á noite. O tempo quente favoreceu pra que todos os

trabalhos diurnos fossem feitos junto à natureza.

Qualquer caminho pode ser escolhido, estão todos abertos. Minha vivência

passa por ser a terra. Na tarde percebo uma situação, em que sou elogiada por ser quem

sou e por ser como sou. Assim, aprendo o quanto é importante elogiar e qualificar,

gestos e palavras simples, mas que foi um grande reforço a minha identidade, e a cada

agradecimento mais me valorizava.

Fui convidada a ensinar viver, um pedido simples, apenas a liberdade. As

vivências continuavam e até que chegou meu momento e a visão ilimitada me

informava que sou a terra e que deveria me assumir e falar como a terra está. Sentia

integrada, fazendo parte. Rolando diz que "o saber com certeza, que não somos seres

isolados, mas que participam do movimento unificante do cosmos basta para deslocar

nossa escala de valores" (TORO. Apostila transcendência, p. 8).

Imagem 07: Cartaz do evento.

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“Neste momento me vejo sufocada, como a terra, meus rios estão infestados

de sacos plásticos, o planeta inteiro não consegue respirar, esta me faltando ar” _Parem

de usar sacos plásticos, parem de jogar lixo na terra. “Preciso de ar”. Desespero total!

Assim, aprendo o quanto são importantes os elogios, as qualificações, o

reforço à identidade. A cada agradecimento me fortaleço. O acolhimento do grupo e as

palavras doces de minha facilitadora me fazem receber o retorno, que, a partir daquela

data, algumas pessoas passariam a se mobilizar para modificar seu comportamento com

relação aos resíduos gerados, destinando cada tipo a seu destino correto. Apenas separar

o que é orgânico do reaproveitavel. Neste momento percebo que ainda temos muito a

fazer. O que estamos fazendo com nosso planeta?

7.2. O carnaval

Em fevereiro de 2009, nos organizamos pra um novo encontro, o carnaval,

a proposta era de não se fazer nada, apenas aproveitar o local. Mas na realidade tudo

aconteceu sem planejamento prévio. No local éramos Reikianos, Massagistas,

Biodanceiros e Magos da Terra. Umas trinta pessoas oferecendo seus préstimos e

ajudando com muito amor a manter organizada a casa. Tudo prazerosamente. Quatro

dias de integração, fluidez total. Na noite, biodanza® com toda a turma. Na manhã

seguinte, com a chuva da noite anterior, ficamos impedidos dos banhos, resolvemos

então fazer oficinas: de pão, sabonete, óleos essenciais e massagens. E à noite show do

Marco Gottiari e mais apresentações de talentos espontâneos.

No carnaval todos os eventos organizados no Templo das Águas são por

uma moeda maravilhosa, a troca, todos com algo a oferecer e algo a receber. Somente

um lugar especial para juntar tanto com tanto prazer. Neste encontro me vi agendando

os eventos alem de calcular cada arquétipo maia. Todos nós temos algo a oferecer e eu

ofereci a organização. A cada ano inovamos e a inovação do ultimo foi feira de trocas,

onde roupas e acessórios foram trocados, percebi o quanto ainda guardo o que não uso,

peça por peça,e as trocas se fizeram independente do valor comercial. Mais um

sucesso!Reciclamos peças, resignificamos usos!No Templo das Águas todas as

atividades propostas são valorizadas.

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Fui além dos meus limites, pela primeira vez acreditei no Divino: cai da

cachoeira a uma altura de quatro metros e nada aconteceu, sai sem nenhum arranhão. Só

a sensação de milagre e de perceber o susto de quem assistiu. Desta vez aprendi uma

linda lição, acreditar no poder da natureza e perceber que temos muitos limites.

Devemos respeitar à natureza

7.3 Artemis

No mês de março de 2009, Myrthes traz a Pelotas mais um encontro

inesquecível, Artemis, encontro dedicado às mulheres.

Virgem e defensora da pureza, era também protetora das parturientes e

estava ligada a ritos de fecundidade; embora sendo em essência uma deusa caçadora,

encarnava as forças da natureza e tutelava as ninfas, os animais selvagens e o mundo

vegetal. Cultuava as áreas rurais. Na ática enfatizou seu caráter de "senhora das feras",

na ilha de Eubéia foi considerado protetora dos rebanhos e no Peloponeso reconheceu

seu domínio sobre o reino vegetal e ela foi associada á água vivificante.

E apesar dessa imagem protetora, Ártemis exibia facetas cruéis: matou o

caçador Órion, condenou á morte da ninfa Calisto por deixar-se seduzir por Zeus; e com

Apolo, exterminou os filhos de Níobe e Anfião, para vingar suposta afronta. Suas

ocupações principais eram a caça e a dança, no que se fazia acompanhar das ninfas6.

6 Informação retirada do site: www. wikipedia.org/wiki/Ártemis

Imagem 08: Cartaz do evento.

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Neste encontro no ano de 2009, trabalhamos como na antiguidade, com

bastidores e bordados. Saber quem é esta mulher selvagem que esta dentro e fora de

todas nós é importante, mas me ver como esta mulher é fascinante.

Sobre minha orientação confeccionamos filtros dos sonhos, buscando

internamente o despertar das habilidades através da arte, do belo, da compreensão do ser

e sua totalidade de vida. Ampliamos nossa percepção para compreender uma nova visão

do ser e estar no mundo com beleza e sabedoria.

Minha vivência se dá quando no processo de tecer os filtros, alguns tiveram

de serem desmanchados, pontos soltos, frouxos, arreganhados, isso foi dolorido, me

senti desmanchando um sonho, e que direito eu tenho de desmanchar os sonhos de

alguém? Na noite fui dormir cedo com este pensamento. Gosto de concretizar sonhos

em conjunto, e o ato de ter que corrigir foi um processo doloroso.

Uma das vivências que mais me marcou, foi ao retornar ao túnel ferroviário,

nas proximidades da propriedade e hoje desativado, o túnel funcionou durante dez anos

com passagem de trem, hoje esta sendo usado como ponto turístico e, onde todas nós

fomos batizadas, pela água que sai das paredes desta, e caminhamos em direção ao

nosso animal, nossa essência. Quando estava caminhando do de pés descalços, sentia

agilidade e, após sentar nas pedras, via-me no teto olhando para baixo, eu era uma

aranha, uma linda e grande aranha, fiquei uns minutos quieta nos cantos até começar a

Imagem 09. Virgínia no túnel de pedras Evento Ártemis. Imagem

Myrthes. 2010.

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me mover, com muita agilidade. Chegamos ao outro lado e observei mais de uma vez

teias, muita teias de aranhas, que eram galhos das árvores entrelaçados. Onde foi parar

meu pânico de aranha? Como perceber e me sentir tão à vontade?

Quem me vê no Templo das Águas não consegue imaginar que só ali ando

de pés descalços. A Myrthes inclusive chamou minha atenção ao me dizer que quem

não gosta de campo, não consegue andar descalça. Na despedida, mulheres lindas e

sorridentes, felizes, entrando no ônibus com seus filtros.

Aprendi nesta maratona a importância de abrir o coração, de deixar a voz

interior falar, de me entregar e ter a certeza de que muito mais vem, basta abrir a porta.

E assim estava feito, a porta da frente da casa, do Templo das Águas, já estava aberta,

junto ás janelas, a recepção aos visitantes que antes era feita pela porta dos fundos, não

é mais. Perceber-me recepcionando e despedindo-me é algo que vai alem de palavras.

Assim me sinto mais forte e começo a perceber o valor de abraços.

7.4. Argila

Também no ano de 2009 foi realizada a maratona de biodanza® e Argila;

que é um processo de radicalização de de linhas de vivência em biodanza®. Esta

formação propõe oferecer ao facilitador a compreensão de como utilizar este elemento

no contexto da biodanza® e suas possibilidades dentro de todas as linhas de vivência.

Para uma formação que possibilitasse um potente aprendizado sobre o tema, optamos

por realizá-la em dois encontros longos. O primeiro encontro foi com Dorli Signor,

criador da extensão de biodanza® e Argila. O segundo encontro foi com Cristina

Beraldo, facilitadora brasileira radicada na Itália que há muitos anos pesquisa a

utilização da argila como indutor do transe. 7

Este trabalho fez parte de nosso programa de formação permanente, o que

visa oferecer temáticas para que os facilitadores formados em Escolas da IBFF; possam

desenvolver e aprofundar temas relativos à teoria e vivência da biodanza®.

7 Informações retiradas do site: http://www. biodanza®.com.br/index_arquivos/Page3063.htm

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Houve necessidade de abertura do sótão da casa, para melhor acomodação

de todos. E então, o sótão estava aberto também! Já estamos dormindo na parte de cima

da casa.

A música, semente e o barro foi um pedido de Cristina Beraldo, uma

composição elaborada por Marco Gottinari na noite anterior ao trabalho realizado.

Marco conseguiu “receber” a canção com muita destreza e sintonia.

Neste encontro também aconteceu um plantio de sementes de árvores

nativas, em uma atividade em conjunto. As sementes eram encapsuladas no barro com

intuito de proteção para futura germinação (para impedir que fossem consumidas por

animais). A metodologia consiste em criar um invólucro para semente com a argila.

Assim ao jogá-la na terra quando vem à chuva a argila se dissolve e a semente geminada

floresce.

7.5. Hestia

Imagem: 10. Cartaz do evento.

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8

O curso Héstia foi ministrado pela facilitadora Myrthes em julho de 2009,

este encontro foi realizado no dia mais frio do ano, e éramos dezessete mulheres na

residência (Templo das Águas) na beira do fogo. Muita geada pela manhã e á noite.

Dentre as atividades, plantamos mudas de árvores nativas, onde depositamos nestas, ao

plantarmos nossos desejos em suas raízes; sobre a supervisão e orientação de Marta, nos

preparamos à massa e sovamos pão em grupo, colocamos no forno e mais tarde o

comemos, com muita cumplicidade. Na noite Marco faz mais um show na beira do fogo

onde nos mostra o prazer do calor deste calor. O clima favoreceu para que mesmo no

frio nossas falas diurnas se realizaram na rua em frente da casa, no sol. Um encontro

inesquecível.

A reciprocidade expandiu-se de tal forma que Marta e Marco hospedaram-

nos não só na casa, mas também nos seus saberes e nas suas canções.

Hoje quando passo nas trilhas consigo reconhecer as mudas de arvores que

plantamos na época, já crescidas.

8 Imagem retirada do site: www.frater.com.br

Imagem 11: Imagem: Grupo participante da atividade no Templo das Águas.

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7.6. Vivência do momento presente

Salclair Lemos, é Diretor Pedagógico da Escola de biodanza® Sistema

Rolando Toro de Vitória - ES. Didata e Facilitador Titular em biodanza® formado por

Rolando Toro.

Sanclair Lemos assemelham-se Marcos Gottinari nos pensamentos em

relação ao convívio com a natureza. Sanclair ao chegar ao Templo das Águas entregou-

se ao local (ano de 2009). Sanclair facilitou o grupo naturalmente em meio a um

ambiente que parecia sua própria casa. Muito intenso! Trouxe-nos como idéia para o

evento, a proposta de visitarmos nossos limites, sem romper com eles.

“A felicidade não depende do que se sente no momento. Depende de estar

com intensidade no momento. Uma grande dor ou um grande êxtase trazem a

felicidade” (LEMOS, 2007, p.54).

Imagem 12: Cartaz do evento.

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8. Marco Gottinari; Uma Visão Biocentrica

Marco Gottinari proprietário do Templo das Águas descobriu na música e

na Agroecologia, uma forma de viver em harmonia com a natureza. Casado, pai de dois

filhos, ele experimenta novas formas de produzir alimentos saudáveis e preservar à

natureza9.

Marco Gotinari, entre suas novas atividades lançou seu primeiro cd no ano

de 2007. As músicas de Marco falam da natureza, da harmonia, da simplicidade, da

família, deste homem com essência de menino. Hoje já com seu segundo cd lançado,

gravado inteiramente na propriedade, traz consigo o diferencial de ser constituído de

material orgânico. A embalagem é composta de papel reciclado e fibra vegetal, o que

dialoga melhor com a proposta de Marco, de estar mais perto da natureza sem agredi-la.

Os Cd´s são oferecidos na propriedade assim como nos shows onde ele se

apresenta, fazendo música e contando história. Marco e Marta ministram oficinas para

as escolas, como o IFIsul e escolas locais, sobre ecologia natural, integrando crianças e

jovens à natureza, ensinando às novas gerações a importância de cuidar da natureza e da

preservação do meio ambiente. Marta elabora, atualmente, parte de cenografia dos

shows de Marco.

Marco Gotinari tem uma sabedoria intuitiva. Vive numa comunicação

universal, em contato com a terra. O respeito com os animais da propriedade é notado

na chegada, pois os animais são saudáveis, bem tratados e felizes. Neste espaço aprendo

a ver o sorriso de um cachorro dálmata, o Fred, que com muita alegria e infantilidade

nos conduz nas trilhas e nos banhos, encanto também com a alegria de uma égua, guria

como Marco a chama, a melhor cortadora de grama que conheci. Marco conversa com

esta égua, pedindo-lhe que mantenha limpa a área solicitada, e isso é feito com muito

prazer.

Em nossas atividades com biodanza®, o que é é solicitado é executado

com muito carinho. Marco ouve, cria, busca, imagina e junto à natureza, flui, sem

desrespeito. Nunca tinha imaginado que pudesse ver biodanza® fora das salas de aula,

em um local como esta propriedade. Marco vive biocentricamente.

9 Informações retiradas do site: http://www.rbma.org.br/mercadomataatlantica/noticia_2007_03_01.asp

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“A procura de harmonização com à natureza em sua

totalidade é uma função orgânica; ela culmina na

experiência suprema de identificação com o universo. O

impulso místico é visceral, e tal experiência provoca

profundas modificações na homeostase, tanto no nível

orgânico como no nível existencial” (TORO, 2002, p.

91).

Quando conheci a propriedade, Marco ainda trabalhava na agricultura

convencional, também fazia podas para lavouras da região na safra como contratado,

tinha um frigorífico na garagem que era locado para safra de pêssego forma encontrada

até então para conseguir manter a propriedade financeiramente. Aos pouco Marco foi

entrando em conexão com seu maior desejo, a música, história que é contada por ele a

cada show, como vem as músicas e como a propriedade se mantém hoje.

“O sábio torna-se o humilde servidor do movimento da natureza. Para poder

conhecê-la, deve-se respeitar este curso, descrever sua morfologia e escutar suas

secretas palpitações”. (TORO, 2002, p. 91)

As formigas sempre foram uma praga para lavoura e durante muito tempo a

propriedade fez uso de recursos como inseticidas, tentando eliminá-las, hoje Marco têm

uma relação diferenciada com a natureza. Percebendo o que as formigas mais gostam na

horta, ele começou a plantar e colher as mudas para entregar às formigas em suas

trilhas, assim as formigas não invadem mais a horta.

Dos morcegos que estavam alojados no segundo piso, o sótão, a idéia de

Marco era colocar uma tela protetora e deixar aberto aos visitantes Quando perguntei

como ele fez para que os morcegos saíssem do sótão, Gottinari apenas me respondeu

que abriu o teto deixando o espaço nas telhas para que, eles com a luz do dia voltassem

ao seu habitar natural.

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“O Principio Biocêntrico se inspira na intuição de um

universo organizado em função da vida e consiste em

uma proposta de reformulação de nossos valores culturais

que toma como referencial o respeito à vida”. (TORO.

Apostila Inconsciente vital e principio Biocêntrico, p.25).

Marco tem a idéia que tudo que a terra da é para proveito de quem ali está, e

tudo que é vindo dela pode-se comer. Já comi em refeições no Templo das Águas, uma

flor de campo, uma espécie de flor de feijão, azul, bem simples, bonita e nutritiva. No

Templo das Águas o sossego é total, até mesmo o sinal da antena de telefonia celular

não é captado por ali. O telefone que funciona é o convencional da residência. Neste

lugar não existem cercas de arame ou muros, o limite da propriedade se dá pelo Arroio

Pelotas, este fato, por vezes, costuma causar estranhamento em algumas pessoas

habituadas a conviver com grades, alarmes, cadeado e trancas.

Quando saímos em caminhada, para que não nos percamos, informo que o

limite da propriedade é a beira do arroio, contornando-o voltaremos à residência. Faço

esta analogia também conosco, somos seres sem limite, a fronteira são as nossas

crenças. Durante as maratonas a entrada da casa é marcada com taquaras que sinaliza a

atividade, impedindo a entrada de visitantes durante o evento.

9. Benfeitorias na Casa e fontes de renda pós biodanza®

“O artista, por sua vez, tenta revelar as realidades

internas que são, no fundo, as realidades cósmicas. Ele

se torna assim um instrumento eficaz de forças de

organização e de criação que se manifestam e ele de

modo imperativo. O artista coloca-se à prova como

coparticipante da criação universal. Mais que um

inovador que constrói ele é um parturiente ou revelador

de formas e de harmonias ocultas seus trabalho consiste

em transformar o caos em cosmo” (TORO, 2002, P.

91).

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O Templo das Águas é uma propriedade na colônia de Pelotas, a casa é

datada de mais de cento e trinta anos, a construção foi feita de barro e pedras do local,

as paredes são largas, piso de madeira, janelas e portas originais, pé direito

alto,conserva a originalidade da construção.

Para melhor receber quem visita o Templo das Águas, Marco providenciou

quatro chuveiros quentes nas ruínas do galpão, uma idéia muito criativa onde, o local

foi coberto com lona plástica transparente, os canos dos chuveiros foram cobertos por

taquaras, os canos que guiavam a água até os chuveiros foram colocados em espiral em

um caldeirão, e este esquentado no fogo de chão à lenha, mantido aquecido o dia todo

(imagem 13). Banhos especiais e coletivos, que produzem muita alegria, um retorno à

infância. Com o inverno, estes chuveiros foram transferidos para a garagem, onde

também foram instaladas torneiras com tanques de lona transparente, num espaço

também acolhedor.

O assoalho do salão principal e da área de refeição foram trocados. Os

trabalhos de biodanza® fazem com que tanto a casa quanto os proprietários se tornem

mais fortalecidos. Marco Gottinari usa a criatividade até na hora da iluminação, no

refeitório é usado a iluminação do sol, nas refeições diurnas, um espelho é colocado, na

rua, assim o sol ilumina o espelho e este é refletido no teto.

Imagem 13: Chuveiros quentes construídos nas ruínas do galpão. 2008.

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Na rua foram instaladas várias taquaras como canos de água, facilitando,

assim, que o banheiro da residência ficasse liberado. Quando fizemos biodanza® e

argila com Cristina Beraldo, abrimos o segundo piso. Precisávamos de mais espaço. As

paredes e o teto do sótão foram forrados com TNT colorido e colocamos os colchões no

chão, assim a sensação de casa de avó aconteceu: aconchego, respeito e cumplicidade.

Antes o local era utilizado como depósito somente, sendo hoje dormitório coletivo.

Banheiros secos

Foram construídos, na propriedade três banheiros secos, feitos no campo,

próximos da casa, as paredes foram feitas de bambus cortados, revestidos de palha secas

com a porta em curva, ficando totalmente independente. O aviso de ocupado é feito

através de uma bandeirola, que quando erguida mostra estar ocupado, o teto feito de

bambus e arbustos, cobertos por lona. A sensação é de estar no meio do mato, escutando

os passarinhos, não há descarga. Todos os detritos sólidos caem em um recipiente e são

intercalados com camadas de serragem para absorver os odores. Mais tarde estes

detritos serão alimentos para as minhocas, após, adubo para as plantas. (anexos)

Produtos Naturais e Artesanais

Reservamos um espaço, junto ao refeitório, para exposição de artesanatos,

varias peças de roupas e acessórios estando dispostos na casa, em araras, para venda.

Dentre estas há roupas que confecciono em tricô, crochê, bordado, costura e tingidos. A

cada peça vendida é entregue trinta por cento do valor para a casa, isso, durante o ano

ajuda bastante nas despesas. Percebo que após ingressar na biodanza® minha

criatividade aumentou, me tornei mais ágil. Além das oficinas de filtro dos sonhos que a

Marta proporciona a quem chega, também temos filtros dos sonhos prontos para venda.

Os filtros dos sonhos estão cada vez mais criativos. Continuo tento idéias, me disponho

a novos aprendizados. Ao observar algumas casas pela cidade percebo um grande

numero de filtros dos sonhos expostos, quando há oportunidade pergunto de onde é este

filtro dos sonhos? A resposta na maioria das vezes é do Templo das Águas, “aprendi a

fazer o filtro dos sonhos lá.”

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No local também estão sendo produzidas ervas de chá. As quais que são

armazenadas e vendidas, assim como frutas,que à natureza provê, com amora e butiá.

As polpas das frutas são congeladas e embaladas em porções individuais, prontas para

consumo. Cabendo, aos proprietários apenas, o manejo. Também há produção de tortas

artesanais integrais, que são recheadas com frutas locais. Estas são vendidas através de

encomendas para eventos como aniversários e outros.

10. CONCLUSÃO

“Retornar às origens e se permitir a intuir as coisas, deixar o universo

conversar contigo para que tu possas saber o que plantar e o que fazer”.

Marco Gottinari

Templo, do latim Templum, é uma estrutura arquitetônica dedicada ao

serviço religioso. O termo também pode ser usado em sentido figurado. Neste sentido, é

o reflexo do mundo divino, a habitação de Deus sobre a terra, o lugar da Presença Real.

É o resumo do macrocosmo e também a imagem do microcosmo: “o corpo é o templo

do Espírito Santo” (I, coríntios, 6, 19) 10

.

Tecer os filtros no Templo das Águas nasceu a partir de minhas vivências

pessoais, que se confirmam a cada nova idéia. Percebo este lugar crescer junto comigo

após o incêndio que ocorreu em 2003, no galpão da propriedade.

Tecer minha vida é como no filtro é considerar o arco como sendo o meu

circulo da vida, onde escolho os meus sonhos e desato meus nós, ao tramar os fios.

Escolher os adornos é uma forma bem gostosa de estar no momento presente. Considero

10

Informações reiradas do site: http://pt.wikipedia.org/wiki/Templo

Page 38: o filtro dos sonhos no templo das á-guas. uma vivencia de

38

este processo como um permitir-se a perceber o grande mistério e deixar fluir. Utilizo o

filtro dos sonhos em minha vida, também, como um desafio. Sempre que desejo algo,

faço um filtro dos sonhos, assim, num um processo meditativo, percebo o que me

impede ou que me fortalece para a atividade.

Quando escolhi este tema, minha idéia era demonstrar o que costumamos

dizer na área terapêutica, muda você que o mundo muda. Na rede de interações percebo

que a teia da vida se move conforme nossas ações.

A biodanza® e a natureza me fizeram forte, criativa, vital e amorosa para

ir além da percepção e superar a força do ego para fazer parte desta grande unidade.

Este sentimento de vinculação com natureza me mostrou que não estou isolada,

participo desta dança cósmica e mágica, a Vida.

A biodanza® me ensina a vincular-me com o essencial, com o hoje, com o

agora, com tudo o que existe. Assim tenho me superado.

Faço uma analogia, das reformas da casa e do meu eu em movimento, por

que vejo muita sincronicidade nisso. Quando restauramos o assoalho da sala da frente

da propriedade, em nosso primeiro encontro de biodanza®®, na propriedade, foi que

comecei a tomar posse de meus desejos e com isso integrar a biodanza® com mais força

em Pelotas. Resignifiquei meus desejos e com isso percebi meus limites. Em

biodanza® não propomos ultrapassar nossos limites, mas sim que nos

aproximamos dele, para assim expandi-lo. A cada ida ao Templo das Águas, hoje o

freqüentando- o mais assiduamente, vivencio esta experiência.

Quando abrimos a porta da frente da casa, percebi meu coração se abrir

também, vi minha alegria voltar, a alegria da chegada e partida, me tornei mais

receptiva assim como a casa. E sigo mantendo até hoje alegria de ter meus braços

abertos a quem chega e parte.

Aprendi a me vincular com o que considero essencial, com o agora e com

tudo que está sob minha percepção, me superando a cada dia. Minha identificação com

as ruínas do galpão, local que o fogo queimou, passa pela exposição de minhas dores,

passa por entrar em contato com meu passado e resignificá-lo. Não tenho como mudá-

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lo, mas posso sim dar carinho a este sentimento. A depressão me mostrou a morte, e a

biodanza® me mostra a vida, precisei parar e mudar minha forma egóica de ver o

mundo.

No Templo das Águas é assim, uma casa antiga, centenária, ampla, sem

fronteiras, com muitas possibilidades, que requer muito cuidado, carinho, respeito e que

com muito espaço acolhe. Na biodanza® também me observo assim, simples, ampla,

sem fronteiras, sabendo de minhas fragilidades, e, vou em frente.

Concluo meu trabalho ao dizer que a biodanza® trouxe muitos benefícios a

minha vida e ao Templo das Águas, assim como também pode trazer para nossa

sociedade tão carente e necessitada. Cada ato de amor é um exemplo

11. Anexos

Trabalho feito pela universidade federal de Pelotas. A propriedade da

família Gottinari. Pesquisa feita por alunos da UFPEL, Curso de Arquitetura, FAURB11

.

TOMIELLO, Fernanda, SILVA, Karen Melo da., AGRELLO, Marta Rickes.,

HYPOLITO, Bárbara de Bárbara.Templo das Águas: Influência da permacultura na

estrutura espacial de uma propriedade rural In: XIX. Congresso de Iniciação Científica e

XII Encontro de pós Graduação, 2010, Pelotas.

a. A história do local

Segundo Marco, a propriedade passou a ser da sua família por volta de

1887, quando foi adquirida por Carlos Mayer, que teriam vindo de São Lourenço. A

11 Informações retiradas do site: http://www.ufpel.edu.br/cic/2010/cd/pdf/SA/SA_01452.pdf

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filha de Carlos Mayer, Olga, casou-se com Germano Marshendorf, um alemão que,

segundo ele, participou da Primeira Guerra Mundial e em seguida veio para o Brasil.

A filha de Olga e Germano é a mãe de Marco, que, por sua vez, carrega o

sobrenome da mãe e do pai: Marshendorf e Gottinari, respectivamente, quando Carlos

Mayer adquiriu a propriedade já havia duas pequenas construções no local: uma

pequena residência que consistia numa única peça e um moinho. Ambos pertenciam à

família Mackedanz. Carlos Mayer fez com que o moinho continuasse funcionando e,

além disso, passou a trabalhar com serralheria e carpintaria: fabricando caixões,

carrocerias e processando madeira para as construções da propriedade. Marco relata que

o piso de madeira da residência onde vive hoje com sua família fora feito dentro da

própria propriedade, quando ainda se trabalhava com a serralheria.

Com a chegada de Germano Marshendorf, houve uma mudança significativa

em termos de produção de energia. Anteriormente, o moinho era movido por rodas

d‟água, um processo considerado lento. Germano introduziu um sistema de turbinas,

muito mais ágil. Em meados dos anos 1970, quando o pai de Marco Gottinari passou a

administrar a propriedade, deu início à produção de pêssego e, pouco a pouco, as

atividades com as quais se trabalhava anteriormente foram sendo deixadas de lado.

Marco Gottinari nasceu e cresceu nesta propriedade onde trabalhou até os

vinte e cinco anos com seus pais, na agricultura. Posteriormente casou-se e mudou-se

para a cidade de Santa Maria – RS e sete anos depois, casado e já com dois filhos,

Marco recebeu uma proposta de seus pais: voltar para Pelotas, para morar onde havia

nascido e tomar conta da propriedade, caso contrário ela seria vendida. Ele decidiu

voltar. Após se restabelecer na propriedade com sua família, continuou trabalhando por

alguns anos com agricultura convencional, na produção de hortifrutigranjeiros.

Em 2004, um incêndio mudou o rumo da sua vida e da sua família,

alterando a trajetória da propriedade. Em poucas horas o moinho que existia a mais de

cem anos foi destruído pelas chamas, juntamente com os implementos agrícolas

utilizados na lavoura, móveis e objetos pessoais. No entanto, este galpão, que foi

moinho e serraria, durante agravação da minissérie A casa das sete mulheres, exibida na

rede globo no ano de 2003, foi eternizado. Após o incêndio a família decidiu abandonar

o sistema convencional de produção e passou a trabalhar com alguns princípios de

Permacultura, desenvolvendo um sistema intitulado por Marco como agricultura

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intuitiva, que consiste em Retornar às origens e se permitir a intuir as coisas, deixar o

universo conversar contigo pra que tu possas saber o que plantar e o que fazer.

Passaram também a trabalhar com turismo, que passou a ser uma fonte de

renda explorando a beleza natural do local, desenvolvendo atividades diversas, contando

aos visitantes um pouco da história do local, transmitindo o conhecimento adquirido, e

também aprendendo com eles.

Na entrevista, Marco afirma que o patrimônio arquitetônico é valorizado na

propriedade e está sendo conservado e restaurado. A residência que havia na

propriedade, quando esta foi adquirida por Carlos Mayer, por sua vez, apresentava um

formato retangular e era coberta com telhas de zinco, o chão era de madeira e as paredes

de alvenaria estrutural. Essa edificação foi sendo ampliada, de acordo com as

necessidades dos moradores e, atualmente, faz parte da residência da família.

As aberturas que aparecem na foto a seguir se abriam para a rua e agora abre

se para outra grande sala, conforme mostra a imagem (14 e 15). No chão, pode-se

observar o desenho do vitral da porta principal, que fica do lado oposto à que se vê na

foto e abre para à frente da residência, voltada para a estrada.

Imagem: 14 e 15. Imagens. Sala janela com vitral e detalhe deste. Fonte: Fernanda Tomiello.

2008.

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Do galpão citado anteriormente, restaram ás paredes, que são mantidas até

hoje. Ele possuía dois pavimentos: no primeiro as paredes são de pedra; no segundo, de

tijolos. A imagem (16) mostra uma vista externa do galpão em 2009 e a figura (17)

mostra a diferença dos materiais das paredes do primeiro e do segundo pavimento.

O galpão ficou sem uso por alguns anos e, em 2009, o primeiro pavimento

voltou a ser utilizado. Este pavimento divide-se em dois ambientes: um deles recebeu

chuveiros aquecidos por um sistema de energia solar ou calor do fogo, conforme a

Imagem: 16. Imagem: Marco Gottinari no telhado da casa há observar o galpão após o incêndio.

Imagem: 17: Imagem. Galpão. Colônia São Manoel. Pelotas, RS. Fonte: Fernanda Tomiello, 2009.

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imagem anterior (13), esses chuveiros são utilizado ocasionalmente pelos turistas. No

outro ambiente são realizadas diversas atividades, como oficinas de escultura, por

exemplo. Ele serve também como cenário para se ouvir um Pouco da história da

propriedade ao visitá-la.

A utilização de materiais e técnicas diferentes das encontradas na construção

acaba por descaracterizar o galpão, mas resignifica o espaço dando a ele uma nova

função. Além disso, as intervenções têm sido pensadas de maneira que possam ser

desfeitas sem causar maiores danos à estrutura e a linguagem arquitetônica existente na

propriedade. Ao observar a residência atualmente pode-se ver uma relação relação clara

e lógica entre as aberturas, a continuidade do telhado e a semelhança e diferenças nas

texturas. Na imagem (18), a segunda, terceira e quarta abertura (da esquerda para a

direita) são da antiga casa. As demais foram inseridas posteriormente respeitando o

alinhamento e as dimensões das pré-existentes.

A cobertura também foi unificada e as telhas de zinco substituídas por telhas

de cimento. As gateiras da fachada sul da casa indicam que ela foi construída alguns

centímetros acima do solo e não é necessária uma prospecção para concluir que a

residência já teve ao menos duas cores diferentes (imagem 19)

Imagem 18: Imagem Panorâmica da fachada leste. Templo das Águas. Colônia São Manoel. Pelotas, RS.

Fonte: Fernanda Tomiello, 2008.

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Imagem 19: Templo das Águas fachada sul: parede descascada e gateiras. Colônia São Manoel.

Pelotas,RS.

Fonte: Fernanda Tomiello, 2009.

Em 2002 veio o convite de alugar a propriedade para a Rede Globo fazer a

gravação da Casa das Sete mulheres, minissérie que foi gravada no galpão, onde foi

refeita toda fiação elétrica para iluminação e o galpão na resiste, após a saída do elenco

fica toda fiação e este galpão sofre um incêndio, afetando tudo, todo maquinário,

construção, implementos agrícolas, tudo perdido, inclusive mudas de arvores nativas,

que seriam replantadas no local (todo material perdido havia sido financiado e a divida

esta até hoje sobre estes).

Imagem: 20. Marco Gottinari a observar o galpão após incêndio, 2003.

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Dois galpões seculares nos quais foi gravada parte da série A Casa das Sete

Mulheres sucumbiram ao fogo, na madrugada de ontem, em Pelotas. O incêndio começou por

volta das duas horas e só foi controlado ao amanhecer, depois da chegada do corpo dos

bombeiros.

Os galpões fazem parte de um sítio situado na localidade Colônia Maciel, distante

45 quilômetros de Pelotas. O dono da propriedade, Marco Gottinari, estava sozinho em casa

quando o fogo começou.“Acordei com uns estouros, achei até que tinha alguma festa nos

vizinhos. Quando cheguei nos fundos, vi as chamas se aproximando da casa” - diz Gottinari.

Sozinho, o agricultor tentou apagar o fogo usando baldes com água. Assustados com as

labaredas, deze vizinhos correram em socorro de Gottinari. Como as chamas estavam muito

altas e ameaçava atingir o telhado da casa, o produtor abriu espaço entre as telhas e despejava

água de cima do sobrado. Embaixo, amigos retiravam móveis e eletrodomésticos do salão

principal.

Um caminhão de bombeiros, oriundo de Pelotas, foi acionado por volta das 3h,

mas chegou ao local às 5h. A demora foi causada pela estrada de chão que teve de percorrer.

Os dois galpões estavam praticamente destruídos. Sobraram apenas as paredes de concreto,

rachadas pelo calor, e vários equipamentos de serralheria, retorcidos pelo fogo. Os telhados

foram consumidos. Um trator e peças de uma antiga roda-d'água, que há trinta anos fornecia

energia elétrica para as famílias da região, também foram destruídos. As construções tinham

pelo menos cento e cinquenta anos.

O maior prejuízo para Gottinari, porém, foi à queima de trinta mil mudas de

espécies nativas da região. O agricultor mantinha uma estufa ao lado dos dois galpões, onde

começava um projeto de reflorestamento das margens do Arroio Pelotas, que corta a

propriedade. Parece que isso aconteceu para me testar. Pois agora vou mais além, vou plantar

cem mil mudas - planeja Gottinari.

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b. Reportagens

O pequeno agricultor do interior de Pelotas, Marco Gottinari, descobriu na

música e na agroecologia uma forma de viver em harmonia com à natureza, Casado e

pai de dois filhos, ele experimenta novas formas de produzir alimentos saudáveis e

preservar à natureza.

Sistemas de irrigação por infiltração, criação de mudas de árvores frutíferas

nativas e o trabalho com turismo rural na sua propriedade de sete hectares convivem

com o violão e a poesia. Filho de pequenos agricultores, Marco Gottinari sempre

conviveu com a música em sua casa.

Ele conta que, antes, trabalhava com agricultura convencional, utilizando

maquinário pesado e defensivo químico. Sua transição para a agricultura ecológica

ocorreu após um incêndio no seu galpão, no final de 2003, que destruiu os

equipamentos que utilizava para trabalhar na lavoura. Dentro desse galpão, eu tinha

tratores, canos de irrigação, sombrites, enfim, o material básico para eu trabalhar na

agricultura convencional. A diferença para a agricultura convencional para a agricultura

ecológica já está aí. Hoje, eu trabalho só com uma enxada, para fazer alguns lugares.

Não preciso mexer muito na terra, não lavro mais. Apesar de cansar mais,

isso me dá muito mais prazer. Antes, eu trabalhava com muito mais máquinas, não

encontrava prazer em trabalhar, e jamais encontraria na agricultura convencional. A

agricultura convencional cobra, e não te dá retorno que não seja material conta. Foi

assim que Marco transformou uma tragédia numa forma de levar uma vida mais

saudável e feliz. "A partir deste momento é que eu comecei a trabalhar efetivamente

com a agricultura ecológica e com a música. E hoje, também, com o turismo. E as

coisas vão se aglomerando, num caminho só", diz. Marco pretende lançar em abril o seu

primeiro CD, que leva o nome de Interior. Cada pessoa que adquire o disco é convidada

para participar, no final do ano, de um plantio coletivo de árvores às margens do Arroio

Pelotas, que sofre o desmatamento da mata ciliar. Marco promete plantar dez mudas de

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árvores nativas para cada CD vendido. O músico agricultor explica porque o seu

primeiro disco vai se chamar "Interior".

Por eu estar diretamente ligado à natureza, naturalmente a música fala muito

disso. Fala muito de natureza, e de amor, esse amor universal. O CD chama-se 'Interior',

tentando mostrar um duplo sentido. “O Interior da colônia que é o lugar onde eu moro,

mas me refiro principalmente ao nosso interior esta busca que temos que fazer a cada

momento e que está dentro de nós, então, o CD se chama „Interior‟ por isso também”,

explica. A poesia e o trabalho na terra vão dando a Marco Gottinari a consciência de

que o respeito à natureza é a saída para a humanidade.

A agricultura convencional com seus agrotóxicos e transgênicos estão

deixando o mundo doente. "O que a gente comenta muito, eu e minha mulher, é que nós

vivemos num mundo doente". A essência para nos mantermos vivo, é a alimentação,

nós já começamos a comer errado, beber, manter vícios. Eu vejo a agricultura

convencional como um grande engano para quem trabalha nela. Eu trabalhei nela e não

tive lucro nenhum, porque na hora de fechar o caixa nunca tive lucro. Precisamos dos

Bancos de novamente, para fazer outra safra, e assim é uma roda, diz. Sementes de

milho crioulo, experiências com arroz ecológico, mudas de pitangueira e araçá. É assim

que Marco e sua família encontram a saída - ou a entrada, como ele costuma dizer.

"Mas a reviravolta está acontecendo também. Assim como eu, várias

pessoas estão entrando, buscando uma alimentação melhor, cobrando da própria

agricultura uma produção com mais qualidade, que tenha mais essência, e não

tecnologia. A minha visão sobre a agricultura convencional é muito preocupante, por

isso que eu saí dela. Eu não quero participar desse engano, e dessa forma de levar a

doença às pessoas. Se o povo está doente hoje, a agricultura infelizmente é o grande

pavio para essas doenças todas".12

12 Informações retiradas do site: Http://www.rbma.org.br/mercadomataatlantica/noticia_2007_03_01.asp

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Marco Gottinari no Sete ao Entardecer

Tópico(s): Fábrica Cultural, Sete ao Entardecer, Teatro.

Publicado em: 14 de julho de 2010. Por. E- Cult.

Todo o talento do intérprete Marco Gottinari poderá ser apreciado nesta

próxima segunda-feira (19), na Fábrica Cultural, quando acontece mais uma edição do

Projeto Sete ao Entardecer. Velho conhecido do palco do Theatro Sete de Abril,

Gottinari volta à cena, agora na Fábrica Cultural para interpretar alguns de seus grandes

sucessos compilados no CD denominado “Interior”.13

Marco Gottinari, agricultor e músico, conseguiu em seu trabalho, aliar duas

grandes paixões: a música e a consciência ecológica, como formas de viver bem com à

natureza. Deste espírito preservacionista surgiu o trabalho denominado “Interior”, que

conta com letras autorais de Gottinari e a participação dos músicos Daniel Zanottelli

(sax e flauta), Renato Gervini (percussão), Miguel Tejera (baixo), Eduardo Varella

(teclados), e Leonardo Oxley (cordas), além da participação especial de Carlos Ferreira

(violões). Segundo o próprio autor, “Interior” a que ele se refere como título de seu

primeiro CD diz respeito a vários interiores: “Como sou muito ligado à terra, moro no

13

Informações retiradas do site: http://www.ecult.com.br/noticias/marco-gottinari-e-a-proxima-atracao-

do-sete-ao-entardecer

Imagem: 21: Show no Sete ao entardecer. 2010.

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meio rural, prá mim interior é interior da colônia, o lugar onde moro, mas pode ser

também o interior de cada um de nós, nossa essência, o que trazemos por dentro”,

explica o músico.

c. Banheiros Secos

O Banheiro Seco ou Compostável foi criado para promover o uso racional

da água e, ao mesmo tempo, aproveitar os resíduos sólidos como adubo orgânico,

evitando a contaminação do meio ambiente. "Existem vários “modelos” de banheiro

seco, uns mais simples, outros mais complexos. O Sanitário compostável desenvolvido

pelo Instituto de Permacultura e Ecovilas do Cerrado (IPEC), em Pirenópolis, GO, foi

batizado de “Húmus Sapiens14

Nesse sistema, em vez de encanamentos hidráulicos para levar os dejetos

para bem longe e com um consumo considerável de água. Temos duas câmaras de

compostagem que armazenam os resíduos até que eles se transformem em composto

orgânico. Daí ele é retirado e levado para o minhocário, onde as minhocas fazer seu

14 Informação retirada do site: www.http://banheirosecoecologico.blogspot.com.br/

Imagem 22: Banheiro seco. Templo das Águas e Desenho ao lado projeto.

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trabalho e vira húmus, ou seja, um adubo orgânico de alta qualidade para ser usado na

agricultura.

c. Depoimentos

Solicitei a alguns colegas de biodanza® um favor, perguntei a eles gostariam

contribuir com meu trabalho de conclusão de curso, com um depoimento sobre o

espaço e as atividades lá executadas.

Estou fazendo minha monografia da biodanza®, e meu tema é o filtro dos

sonhos no Templo das Águas, (influencia exercida por estas atividades em minha vida e

cura) e vocês fazem parte desta história.

1.

Oi Virginia, há três dias sonhei com o templo, que tinha muita gente, tipo no

carnaval, e pensei, só pode ser coisas boas em minha vida. Pois tudo que sonhei e vivi,

com vocês naquele lugar é indescritível. Não sei se conseguirei ajudar por que tenho

dificuldades para expressar, mas sempre indico a todos que conheçam o templo, um dos

melhores lugares que já conheci. Além da beleza natural, repleto de natureza, há uma

aura, uma energia vibrante, que paira em todos os ambientes e das pessoas que aportam

por aí. Sem falar no Marco e na Marta que completam o local com suas luzes e canções

que mais parecem orações de anjos. E a ti só tenho muito a agradecer pelo o que

sabemos que vivênciamos. Como diz Pablo Neruda: Confesso que vivi.

Muitos beijos Mary. Facilitadora de biodanza® (EBTRP).

2.

Bom dia!!!!!!

Bom que podemos participar do teu trabalho. Meu 1º contato com o Templo

foi no trabalho das cartas do caminho sagrado. Aconchego, energia, respeito à

natureza...essas foram as primeiras impressões.....No segundo contato foi com a

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maratona de argila com a Cristina Beraldo....esta foi uma conexão grandiosa...com o

lugar e com as pessoas...o vínculo com a lugar, com a Marta e com o Marco já estava

instalada na pele como uma tatuagem...foi mágico... Prepararam o lugar para o

verdadeiro deleite... E o 3º contato foi no carnaval......sem roteiro.....sem

pressa.....liberdade e êxtase foi o que encontrei no Templo....dias quentes com o sol,com

a calor humano e com as vivências. É um lugar que me sinto a vontade e em completa

sintonia com o universo...me sinto parte de algo muito maior. Lá pode-se vivênciar o

poder que a biodanza® nos ensina.....todos somos um...todos fazem parte deste vasto

universo. Me sinto privilegiada por fazer parte do universo da biodanza® e do

universo do Templo....... Linda cortesã....espero que meu pequeno relato ajude....

Abraços e beijos carinhosos.

Lili (Liliana Garbin, facilitadora da biodanza® da escola Zélia Vilarin).

3.

Ana Maria (final de formação da EBRTP).

Conheci o templo e você junto com a descoberta da Héstia e da possibilidade de

ver a beleza feminina, sentir o calor humano, compartilhar desapegos e construir meus

sonhos junto com os de outras mulheres. Tudo isto aquecido pelo fogo interno e pelo calor da

Marta e do Marco e ter o privilegio de passar "o dia fora do tempo" do Calendário Maia em

um lugar que é outra dimensão neste Universo, iluminar a noite com tochas e plantar na terra

as intenções, escutando o pulsar da mãe terra e sentir o calor que do seu centro

emana. Eu me senti penetrar em uma dimensão até então desconhecida: Eu pude me ver

através dos olhos de outras mulheres e me abrir para que isto se refletisse e foi muito humano

para mim.

Quando te vi chegar como uma piorra, um tsunami de alegria á preencher os espaços

pensei: UAU que maravilha!!!

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Voltando ao Templo...

"Momento presente" no Templo das Águas, com o Sanclair: Momentos de intensa

expansão da percepção da natureza, das pessoas, de mim mesma, de cada movimento

respiratório, do ego, do amor, enfim, recuperar o valor intrinseco de viver para se abrir

para o Universo... Aceitar o que é como é...

4.

O Encontro de Carnaval foi maravilhoso, sem igual. Aquela cachoeira é

demais e tudo o mais também foi muito marcante. Trouxe comigo o CD do Marco e

quanto mais escuto mais eu gosto. Ele deveria ser (re) conhecido como cantor, autor,

suas músicas são muito lindas e o pessoal que o acompanha, de gabarito!

Aquele casal é estupendo, assim como a casa, o astral. Bjs

Alcione, (participante de curso regular)

5.

Oi Virginia.

É muito prazeroso poder contribuir para o teu trabalho sendo a biodanza® e

o Templo das Águas dois temas maravilhosos em minha vida. O Templo das Águas

significa muito para uma pessoa como eu que nunca fui chegada a campo e coisas do

tipo, e me vejo convidada para um evento de biodanza® nesse local. Logo quando lá

cheguei me senti muito diferente aquele lugar reúne todas as coisas que tua alma ou a

minha no caso busca, o contato com a Mãe Terra. O ar divino que inspiramos. Nossa

essência não resiste e se une a essa energia divina dà natureza juntamente com a

simplicidade do lindo casal, Marta e Marco. O sabor do que degustamos ali é mágico

também. Agradeço a oportunidade de ter me presenteado com este encontro

maravilhoso que é Templo, recomendo este paraíso divino com suas trilhas e cascatas

mágicas que nos despertam e nos fazem sentir a nossa mais pura beleza.

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Ok Virginia, te desejo muita Luz e Paz na nossa caminhada, amiga querida.

Simone Nogueira.

6.

Vórtices e portais no Templo das Águas

Oi Virgínia! Conforme te prometi estou te enviando o relato das sensações que

vivenciei em alguns lugares do Templo das Águas.

Na primeira vez que lá estive, fui caminhar em direção à cachoeira e me deparei

com aquele arco formado por plantas trepadeiras. Tive a forte sensação de que estava

frente a um portal, entrando em outra dimensão, num território encantado e sagrado.

Logo percebi que para entrar nesta dimensão, eu deveria me curvar, numa clara alusão

de reverencia a algo sagrado. Quando transpus o portal senti uma paz indescritível, um

bem estar inominável, realmente parecia estar numa outra dimensão. Depois em pé à

beira da cachoeira minha consciência se expandiu e eu me senti como que se fosse o

próprio ambiente que me rodeava.

Em outra oportunidade, deitado sobre uma pedra muito grande à beira do riacho,

eu vivenciei uma conexão mais ampla. A sensação era a de que um vórtice ou fluxo

muito forte, de uma espécie de energia, me conectasse instantaneamente a um lugar

muito distante sem perder o contato com o lugar onde eu estava deitado. Eu era o

próprio fluxo e podia estar instantaneamente em qualquer lugar dele, sem que isto

despendesse algum tempo. O espaço era infinito, mas o tempo era nulo, não existia.

Nas ruínas, onde ficava uma espécie de engenho, acho eu, senti a presença

sofrida de entidades ainda ligadas àquele lugar. Não vi nada, mas senti o peso do

sofrimento dos que ali viveram em algum momento, como que se o lugar ainda

estivesse ativo.

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Estas foram às sensações que mais me impressionaram, mas o lugar todo tem

uma atmosfera muito especial.

Um beijão e um bioabraço do teu amigo.

Jorge. Concluindo escola de formação em biodanza®

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12. Referencias

GONÇALVES, Elisa. Poéticas da Vida. Revista latino-americana de Educação

Biocêntrica. João Pessoa. PB: Ed. UFP. 2007.

REDFIELD, Janes. A Profecia Celestina: uma aventurada nova era. RJ: Ed.

Objetiva. 1993.

SIGNOR, Dorli. Fenomenologia das Emoções. biodanza® com Argila. Santa Maria,

RS: Ed. Pallotti, 2000.

SIGNOR, Dorli. O Barronauta. O livro vermelho. biodanza® com Argila. Santa

Maria, RS: Ed. Pallotti, 2002.

TOMIELLO, Fernanda, SILVA, Karen M. AGRELLO, Marta Rickes., HYPOLITO,

Bárbara de Bárbara.Templo das Águas: Influência da permacultura na estrutura espacial

de uma propriedade rural In: XIX. Congresso de Iniciação Científica e XII Encontro de

pós Graduação, 2010, Pelotas.

TORO, Rolando. biodanza®. São Paulo: Ed. Olavobras, 2005.

TORO, Rolando. Apostila: Inconsciente Vital e princípio Biocêntrico.

TORO, Rolando. Apostila: Transcendência.

Sites consultados:

http://www.wikipédia. http://pt.wikipedia.org/wiki/H%C3%A9stia

http://www.frater.com.br

http://www.ecult.com.br/noticias/marco-gottinari-e-a-proxima-atracao-do-sete-ao-

entardecer

http://letras.mus.br/marco-gottinari/

Page 56: o filtro dos sonhos no templo das á-guas. uma vivencia de

56

http://www.3milenio.inf.br/061/_arte61a.htm

https://picasaweb.google.com/113516778330062415141/THAUIITemploDasÁguas200

91#5345145617738814482

http://hardsakura.blogspot.com.br/2012/04/dreamcatcher.htmltp:

http://www.pensamentobiocentrico.com.br/content/edicoes/_biocentrico_03.pdf

http://www.rbma.org.br/mercadomataatlantica/noticia_2007_03_01.asp

http://www.ufpel.edu.br/cic/2010/cd/pdf/SA/SA_01452.pdf

http://www. biodanza®.com.br/index_arquivos/Page3063.htm

http:// biodanza®qui.blogspot.com.br/p/silvia-eick.html

http://www.terramistica.com.br/index.php?add=Artigos&file=article&sid=254

http://pt.wikipedia.org/wiki/C%C3%BApula_geod%C3%A9sica

http://sincronariodapaz.org/

http://pt.wikipedia.org/wiki/Templo