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O EXTERMINADOR DE SONETOS Eder Ferreira

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O EXTERMINADOR DE SONETOS

Eder Ferreira

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Eder Ferreira

O EXTERMINADOR DE SONETOS

2º Edição

2011

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Editora: Clube de Autores

Edição, diagramação e revisão final: Eder Ferreira

Capa: Eder Ferreira

Eder Ferreira. 2011. Todos os direitos reservados

Contato: [email protected]

Ferreira, Eder O Exterminador de Sonetos – 2ª Edição: Eder Ferreira; Siqueira Campos – 2011

1. Literatura. 2. Literatura nacional. 3. Poesias. 4. Sonetos

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APRESENTAÇÃO

Foi-se o tempo em que o soneto desfrutava de uma fama

incomensurável. Não que nos dias de hoje ele esteja em

extinção, mas seu legado é, de certa forma, mais pobre do que

em outras eras.

Nessa época, onde a própria poesia perdeu força, o soneto

tenta, com todas as suas forças, se manter vivo, e os sonetistas,

afoitos defensores e entusiastas, se desdobram para manter o

soneto no panteão poético.

Esta obra não pode ser vista apenas como mais um livro

de sonetos, já que nem isso ela é. Não sigo regras, não sigo

convenções, não sigo fórmulas. Sigo, sim, meu coração. Talvez

seja disso que o soneto esteja precisando.

Eder Ferreira

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SOBRE O AUTOR

Nascido em 27 de dezembro de

1980, na cidade de Siqueira Campos,

no estado do Paraná, Éder Carlos

Ferreira sempre se interessou pelo

universo dos livros. Desde muito cedo,

demonstrou interesse em áreas tão

diversas como romance, ficção

científica, poesia, filosofia, contos, dentre vários outros temas

recorrentes na literatura. Apesar de ter se formado em

licenciatura na disciplina de matemática, de ser funcionário

público municipal em sua cidade natal, e de exercer a função

de professor de informática e secretariado, nunca se desviou da

paixão pelos livros. Tem dois livros publicados, "Uma

Verdadeira Prosa - Contos & Minicontos" e "Palavras Vazias",

além de dois livretos (com menos de 50 páginas), "Crônicas de

um Cronista Crônico" e "Além do que os olhos podem ver".

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SUMÁRIO

Soneto de Introdução I .................... 15

Soneto de Introdução II .................... 16

Dedicatória .................... 17

Aventura poética .................... 18

O Exterminador de Sonetos ....................19

O poema perfeito .................... 20

A nuvem .................... 21

Sinestesia .................... 22

Sonetóide trovadoristico-

poetrixzado-haikaidológico .................... 23

Cosmos .................... 24

Invencionice .................... 25

Como escrever um Soneto .................... 26

Acidez .................... 27

Contemplação .................... 28

A rosa assassina .................... 29

Altar .................... 30

Copo de cerveja .................... 31

Soneto com uma só rima .................... 32

Ego perverso .................... 33

Microsoneto .................... 34

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Coma .................... 35

Soneto de desorganização .................... 36

Máscara negra .................... 37

Ciclo infinito .................... 38

Musicalidade .................... 39

Releitura .................... 40

Diálogo gramatical .................... 41

As dores do mundo .................... 42

Soneto de Ruptura .................... 43

Tempo esgotado .................... 44

Poesia eterna .................... 45

Inverso .................... 46

Soneto de falta de inspiração .................... 47

A Árvore da Vida .................... 48

Heroísmo .................... 49

Nas Trevas .................... 50

Eterno .................... 51

Uma palavra .................... 52

A Máquina .................... 53

Soneto modernista .................... 54

Sanguinolência .................... 55

Enterro de mágoas .................... 56

Mitologia .................... 57

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Pedagogia Selvagem .................... 58

Espectros carentes .................... 59

Vida eterna .................... 60

Correntes da miséria .................... 61

Musa .................... 62

Sonetificação .......... 63

Sexologia .......... 64

Face oculta .......... 65

Ao amor ou ao ódio .......... 66

Pecados mortais .......... 67

Vozes humanas .......... 68

Chacais .......... 69

A última noite de um poeta .......... 70

Sombras na parede .......... 71

Sintético .......... 72

Mãos do destino .......... 73

Alienígena .......... 74

Artista do céu .......... 75

Almas explosivas .......... 76

Nostalgia .......... 77

Tributo I .................... 78

Tributo II .................... 79

Tributo II .................... 80

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O último soneto.................... 81

...o fim! .................... 82

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SONETOS

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Soneto de Introdução I

Eis que esse livro tem seu inicio E para introduzi-lo, venho agora Em versos (nada mais propício...)

Espalha-los pelo mundo afora

E nessa introdução, irei ressaltar Da forma mais simples e sintética

Minha maneira de escrever e recitar Essa obra tão literária e poética

Portanto, leitor, preste muita atenção

Nas palavras que vem do coração Mesmo que pareçam meio melosas

Poesia á assim mesmo, rasa, abstrata

E com sua loucura a vida retrata Usando as palavras mais honrosas

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Soneto de Introdução II

Continuando, pois, essa introdução

Venho, nessas frases poderosíssimas Escrever sobre a majestosa inspiração

A mãe de todas as artes belíssimas

Ela, que magnífica sempre aparece Seja em um soneto, trova ou proesia E em suas estrofes e rimas agradece

Seus admiradores, com muita cortesia

Mesmo quando a arte não lhe convém, Com seu lirismo puro, com seu talento, Com todo seu poético ardor, ela vem

Cantarolando, declamando, recitando... Aos ouvidos ávidos, a noite, ao relento

Matar a dor de quem está amando...

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Dedicatória

Dedico esses versos, primeiramente À consciência primordial, o tal Deus Que mesmo sem saber os planos seus Exalto em dedicar-me inteiramente

Dedico, também, o verso mais puro

A todos àqueles que vivem ao meu lado E que no presente momento, e no futuro

Me desviam de tudo o que é errado

E nessa minha dedicatória poetizada Não poderia me esquecer dos poetas Que, como eu, declamam a revoada

Revoada do tempo, que não há de parar Até que um dia, nas palavras corretas

Alguém, os seus versos, a mim dedicar

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Aventura poética

O que é a tal linguagem poética

Senão um emaranhado de emoções? Tentando imitar a afamada fonética E a voz suave das vãs tentações...

Com suas hipérboles quase irônicas Devaneios, loucuras e inverdades

Que se misturam, frágeis e atônitas Às mentiras da falsa realidade...

É essa linguagem que a todos comove

E talvez, com ela, alguém renove As bases fracas da tímida literatura

Imortalizando em versos finos Volúpias, mágoas e desatinos

Siga poeticamente esta aventura

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O Exterminador de Sonetos

Nestes dias tão aguados

De arte simples, sem encanto Me coloco aqui, no entanto A citar versos deliberados

Esqueço as regras de antemão

Más deixo as rimas bem cunhadas Palavreando as alvoradas

Com ódio, sangue e paixão

E estas rimas sorridentes Alvos pasmos, sem correntes

Que ecoam por entre os guetos

Sentimentos precoces, fingindo Correm, para sempre, fugindo Do Exterminador de Sonetos

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O poema perfeito

Quero, nessa página, algo supremo Um poema mais que perfeito, irreal Só não posso cometer o erro fatal

De ser mal visto; é só o que temo...

Sou um poeta como outro qualquer Apenas acredito em minha literatura E, para qualquer verso que eu fizer Sei os limites da poética conjectura

Escrever um poema exato... será?

Se ninguém ainda o fez, quem o fará? D'onde posso tirar versos tão perfeitos?

Talvez esse poema apareça um dia

E o poeta genial cegamente ria Sem perceber os inerentes defeitos...

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A nuvem

Nuvens de poeira, de cinzas; nuvens rasas

Esvoaçadas nuvens, como a aura de inimigos Que dos pássaros e morcegos, agora amigos

Atrapalham o vôo, no bater de suas asas

Confundem a visão, na fétida e vil cortina Delineadas na escuridão; nas sombras desenhadas

Das asas dos condores, ruflantes, esvoaçadas Consomem as penas, o bico, a língua e a retina

Não há visão, não há vôo, não há mais nada

Só um pedaço de asa, solta, na revoada Pérfida nuvem, maldita, a confundir e a cegar

Na visão humana, também há uma nuvem assim

Que surge a qualquer um; a tu, a nós e a mim Ofuscando os olhos de quem ainda quer amar

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Sinestesia

Vejo o que meus olhos não conseguem ver

Sinto meus dedos tocarem o inexistente Escuto o som de um brilho reluzente

Posso, então, pegar o que nunca pude ter

Coloco-me a sentir o cheiro de minh'alma E o gosto suavizante do ar suavizado

Meus sentidos afoitos, agora unificados Capazes de curar qualquer dor ou trauma

Libero todo o meu ser em puro sentimento

Para experimentar essências ao relento Mesmo que meu corpo ainda seja contido

Imagens, sons, cheiros, gostos e texturas

Voando bem longe, elevando-se às alturas Mostrando a mim mesmo, um novo sentido

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Sonetóide trovadoristico-

poetrixzado-haikaidológico

Mato meus momentos sem sentido Num soneto que de mim agora sai Mescla de trova, poetrix e haikai

Intitulado: “Nas letras estou perdido”

[Trova] Contar sílabas, ninguém merece

Foram nove, das tais poéticas Pelo menos acho (vis heréticas)

Em mim tais coisas não apetecem

[Poetrix] De que vale rimar em concordância

Se nem há regras que me forcem Mas vou forçar, com discordância

[Haikai]

No jardim das letras As sílabas são como flores

Um dia elas murcham

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Cosmos

Átomo; nano-existência complexa Milionésima parte da menor parte Que se renova toda manhã e tarde Nos corpos dessa gente perplexa

Mistério universal, pleno, imenso

Números que mandam e desmandam Leis cosmológicas que comandam

Energia residual; cataclismo intenso

Químico-fisicamente, tão poderosa Peça fundamental de toda existência Com sua força extrema e cautelosa

Onipresente ordenamento elementar (Do Big-Bang, à total convergência) Que faz de mim um “ser molecular”

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Invencionice

Estou sonetificante por escrever Tantos versos e tantas poetilezas

Quiçá as riméticas não sejam coezas Libertináveis, sim, é certo de saber

Invento palavriações inexoráveis

Vocábulos eternófilos, demasiados E, nesses vérsicos tão desolados

Redesposeciono as frases amáveis

Ao reinventar todas essas coisélas Talvez sobre uma inspiracinalização

Que eu consiga furtificar delas

Transpalavriando, na volta ou na ida No caminho da febril inventalização Quem sabe, eu reinvento minha vida

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Como escrever um Soneto

Não escrevo Sonetinhos métricos

Para quê; as letras se desfazem "Cheios de vida..."; prefiro os tétricos

Os poemas (como nós) se refazem

Parnasiano ou (pós-) modernista De versos em versos, uma obra

Experimental, como um Alquimista Mortífero, como veneno de cobra

Poucas páginas, muitas formas Assassinando as belas normas

O bom poema é o que vem de cima

Do céu, d'um plano, do universo afora No mundo da lua; o que vem agora? Sem inspiração! (completo a rima...)

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Acidez

Na cáustica vivência do poderoso ácido Ninguém mergulha em sua vil corrosão

Num toque único, acelera a reação Da efervescência, surge o plácido

O básico silêncio, a alquímica paz

Sulfúrico, Iodídrico, bórico Em qualquer melodrama teórico

Na alcalina terra, fúnebre, jaz

Meu corpo esfria, perante o mistério Depósito radioativo, (vão) cemitério

Derreto, só, sob o olhar estático

Será esse ácido poderoso o bastante Para queimar o ódio deteriorante

Que reage em meu peito pragmático?

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Contemplação

Sou um visionário; vigia, vigilante... Um contemplador, observador nato

Sigo vendo, com minha visão delirante Cada evento, cada cena e cada fato

Olho para a terra e para o céu

Tentando ver algo mais vistoso À noite, observo o enegrecido véu De dia, vislumbro o chão terroso

E, quando me pego a contemplar

Vejo os amantes que não puderam se amar Que nunca se entregaram aos carinhos

Acima, o céu chora... suavemente

Abaixo, a terra grita... austeramente Contemplando-se, um ao outro, sozinhos

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A rosa assassina

Novamente, o cravo brigou com a rosa

E mais uma vez a espancou, covardemente Da forma mais violenta e desonrosa

Destruiu suas pétalas... cravo indolente

Isso aconteceu por que o cravo a traiu Com a linda tulipa, atrás duma moita

O relacionamento tão bonito ruiu Quando a rosa descobriu afoita

Mas, ela tomou uma drástica atitude

E, à noite, no total silêncio e quietude Com um espinho, o cravo ela matou

Agora, a rosa é a flor mais temida

Com sua face desolada e carcomida Tudo graças a um amor que a magoou

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Altar

Prostrado de joelhos em meu altar pessoal

Me vejo orando, em lamúrias pobres De certa forma, uma oração nobre

Relatando meus erros, em toque divinal

De pecados em pecados, monto meu retrato Relutante em me declarar com ardor Visto que sou um mórbido pecador

Sujeito-me ao martírio de meu contrato

Pacto selado! Acorrentado e desolado Enxugo meu rosto cheio de lágrimas Sigo o sonho, de um dia ser exaltado

E, fugindo da vil maldade humana

Ouvindo minha voz e minhas lastimas Mergulho na luz que meu altar emana

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Copo de cerveja

Transparência cheia de conteúdo

Olho pelo vidro amarelado Na cevada líquida, extasiado Tomo um gole, sempre mudo

O álcool que se adentra em mim Já esteve em algum belo campo Colhido, transformou-se tanto

Agora sou eu seu triste fim

Dentro de um mero copo Fixo minha mente, em foco

Vidro frágil, como minh'alma

Sempre e agora, bebo esse karma Esta delícia em forma de sarna

Que me estressa e também acalma

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Soneto com uma só rima

Da forma mais resplandecente

Escrevo esse poema tão envolvente Dando-me o direito, deliberadamente

De rimar, cada verso, igualmente

Sei que parece meio indecente Liberar-me da rima inerente

E redigir um poema, solenemente Criando palavras, desajustadamente

Eis que, nesse poema, profundamente Me entrego de corpo, alma e mente

No caminho árduo, displicente

Nesses poucos versos, sobriamente Mostro meu dom, poeticamente

Como a luz duma estrela cadente

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Ego perverso

Meu ego se faz de vítima, e somente Ás vezes se coloca a me contemplar

E não casualmente, a me torturar Deleitando sobre meu corpo doente

Meu cérebro, cansado de pensar E de buscar soluções inexistentes Olhando essas tristezas aparentes

Não mais tolera; flui lento e devagar

Minha sorte, já sem fôlego de seguir Adiante, em frente, em sentido reto

Não me faz valente na hora de ir

Minhas dúvidas, insolentes questões Prendem-se, ao subirem, lá no teto Para precipitarem em vis emoções

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Microsoneto

Ao olhar no microscópio Aparece-me uma bactéria

Que se alimenta só de ópio Desvairada viva matéria!

E, como um ser unicelular

Da maneira mais etérea Escrevo um soneto similar!

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Coma

Na longínqua distância entre a mente

E a contemplação da epífise materialista Surge um tempo e um espaço inerente A tudo o que a inteligência conquista

Intelectual processo bem organizável Que a existência projetada nos mostra Da imagem, da ilusão mais confiável

Contemplativamente a quem se prostra

Cerebral, neural, astral, quase desumano O tempo se esconde em um mês, ou ano No epicentro da Hipófise descontrolada

E nesses espaços atemporais relapsos Surgida entre explosões e colapsos

Encontra-se essa mente despedaçada

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Soneto de desorganização

Que poema é esse, sem nenhuma estética?

É um soneto, ou uma loucura sem fim?

Talvez seja fruto de uma louca dialética Mas, não é nada de mais, não para mim... É apenas um soneto, como outro qualquer

Com versos normais, só meio elitista Apenas diferente; ou para quem quiser,

Um poema ultra-mega-hiper-modernista!

Sei que pode até parecer um insulto Contra todas as regras tão valorizadas

Digam de tudo! (Exceto que é inculto...)

São só algumas palavras irracionais

Meio esquisitas, mas bem intencionadas

Confrontando essas leis convencionais...

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Máscara negra

Escondo todos meus medos sob ela A máscara negra, pronta a me salvar Em sua escuridão, no frio que gela Deleito-me em sua sombra circular

Máscara escura... profundamente... Onde qualquer brilho é ofuscado

Na noite mágica, estática e envolvente Finjo também ser um mascarado

Óh, máscara! Máscara afagável...

Faça de ti a pele de meu rosto E oculte esta minha face inconsolável

Mas, ao ocultar-me, virá o ardor Sentirá o eterno e amargo gosto

Que consome a boca dum pecador

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Ciclo infinito

...e na imensidão, permaneço viajando! Deleitando-me pelo universo grandioso Descobrindo o vão mistério miraculoso

O tempo e o espaço desarranjando!

Infinitamente, no ciclo envolvente Na Via Látea percorro as vielas

Com as nebulosas danço, e com elas Me completo sempiternamente

No ciclo perfeito, do fim ao começo Pela eterna via, sem nenhum tropeço Sigo, no caminho da universalização

Na circunferência circunscrita circular Metafisicamente, na geometria linear Retorno ao início; e na imensidão...

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Musicalidade

Simples sonata, simbólica, musical D'onde vem o som tão envolvente? Vem de um instrumento reluzente Ou de um canto celeste-angelical?

Eleva-se o volume, a nota, o tom... Da lira bem feita, que enfeita o ar

Que nos ouvidos ávidos, põe-se a soar Um maestro, um talento, um dom...

Vem, esse som, d'uma nuvem, vem

Encantar-me, agora, nesses instantes Fazer-me ouvir os cânticos do além

Canta o instrumentista, toca o cantor Tocando os sentimentos angustiantes Cantando as angustias do lírico amor

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40

Releitura

Leio o soneto, o soneto releio

Relendo o soneto, o soneto eu leio Releio e leio, leio e releio

Lendo o soneto, o soneto que veio

E relendo o soneto, aquele mesmo Que li e reli, o soneto que lia

Leio o soneto, mesmo que a esmo Vi o soneto, o soneto que eu via

Veio o soneto, o que li a esmo

Que mesmo lendo, voltei a reler Vi, reli, li, lendo assim mesmo

E ao ler tanto esse soneto (o que li!) Retomei a leitura... recomecei a ler

O mesmo soneto que eu li, (vi!) e reli...

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Diálogo gramatical

A virgula olhou para o ponto e falou: - Porque és mais poderoso que eu?

O ponto, com outra pergunta, respondeu: - Quem te disse que mais forte eu sou?

A virgula, triste, falou novamente:

- Foi a exclamação, com aquela afobação. - Não acredite! - respondeu ele então.

E o ponto foi resolver isso, rapidamente:

- Tu disseste que sou mais forte que a pobre virgula - disse o ponto - e agora, a coitada, só deseja a morte!

- Tu não gosta de ser mais forte, então? -

Disse a exclamação - não seja tonto! E o ponto virou uma interrogação.

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As dores do mundo

Pobre mundo, sofrido; gemendo... Com a boca seca, mundo desolado Para sempre, agora e no passado Segue a sina; as dores contendo...

Alegrias, emoções; desgraças, aflições... Perversos sinais, reles vícios culposos

Falsos contentamentos, sempre amorosos Que se entregam a todas as tentações

Miseráveis sentimentalismos capitais... Moedas que compram a vida e a morte

Orações fervorosas, pecados carnais

Nesse pedaço de mundo, e em cada parte No prazer, na dor, no azar e na sorte

Vive o evoluído, o sapiente, o covarde...

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Soneto de Ruptura

Não obstante, mais uma vez cá estou Nas entrelinhas dum mero poemeto

Execrando as juras que enfim prometo Exagerando no que digo e no que sou

Alimentando a descrença nesta febre Que regurgita cada boca poetizada Tais logros que na poesia execrada Me fazem como uma fugitiva lebre

Não rio desses infortúnios regrados

Onde sílabas são medidas ao extremo Já que meus sonhos são bem fixados

Somente observo, como um ser alado

Nada me afugentará, nada temo Pois as letras me querem ao seu lado

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Tempo esgotado

O tempo não para, só passa devagar

Arrastando-se perene, pela eternidade Ocultando a mentira, enganando a verdade Na montaria temporal, sempre a galopar

Tão solene, só, em recato, desolado

Um relógio quebrado, tênue, perpétuo Desfragmentado no silêncio, quieto

Seu advento já foi cronometrado

Os ponteiros, inertes, logo paralisam Segundos, minutos, horas, enfim

As cicatrizes óbvias não cauterizam

Ser atemporal, desses tempos devassos Já sinto pulsar aqui dentro de mim

Como o relógio, meu coração em pedaços

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Poesia eterna

Meu lápis quebrou, não posso escrever Sou um poeta morto-vivo, sem sossego

Vivo eternamente, em meu solene apego Relutante em viajar, nego em perecer

Assoviando, pleno, entre erros e acertos Uso meu talento em forma de sinfonia Cantarolando alto, em minha poesia

Os alentos serenos em breves concertos

Livre de qualquer tênue reticência Ressuscito páginas, mortas, na ausência

Das frases rústicas, faço as modernas

Cintilando meu lápis; brilho letrado O pobre lápis, que agora quebrado

Se faz meu amigo, nessas noites eternas

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Inverso

Olho no espelho e lhe pergunto

De onde vem meu reflexo pálido? Sem resposta, mudo de assunto

Vejo, então, minha sombra torta

Contra a luz, no chão árido E lhe pergunto se é viva ou morta

Pensamentos sórdidos, perplexos

Que loucura é essa, afinal? Conversa enlouquecida, banal

Entre um Homem e seus reflexos?

Se em seus sonhos o Homem está perdido Na maldade, no caos e na destruição

Olhando no espelho do coração Que sonhos terá o Homem invertido?

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Soneto de falta de inspiração

Sem saber o porquê, escrevo esse poema Sem direção; sem começo, meio e fim E, talvez, não por orgulho, é para mim

O que melhor se apega a esse tema

Que tema, se ainda não foi esclarecida Para tu, leitor, a temática desse soneto? Pois bem, eu sei, é um erro que cometo

Mas, até o final, não será esquecida

Leia com atenção essas linhas estranhas Que tirei lá de minhas internas entranhas

Forçando (eu sei) a rima de vez em quando

Recito versos, glorificando a gramática... Ops! Me lembrei daquela maldita temática Logo agora que o poema esta acabando...

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A Árvore da Vida

Cresce, aceleradamente, a ávida semente

Transforma-se, logo, em uma grande planta Cheia de espinhos; mas que logo encanta Aqueles, que a árvore olham, fixamente

Com seus frutos coloridos e suculentos Folhagens verdes, vermelhas e amarelas As fortes raízes, donde apegam-se a elas As raízes d'outros troncos tão opulentos

Cresce, cresce... mais, mais, e muito mais... A arvore, em sua ganância, nunca, jamais Deixará que algo lhe interrompa em vão

Alcança, então, o tamanho máximo possível E, como nunca poderá chegar ao inatingível Desaba, tão rápido quanto cresceu, ao chão

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Heroísmo

Que dirá o que sou, senão um louco Por transgredir regras sem sentido

Dirá me vendo fraco, abatido Definhando, lento, pouco a pouco

Heroicamente, ergo a espada Solto um brado, ordeiro sinal

No alto de minha coragem fatal Aerofóbico, desço a escada

Más não é o medo que me derrota

Nem mesmo as pedras em minha rota Guerreiro que sou, sigo o caminho

São as vítimas desse mundo fútil

Que atrapalham meu destino inútil Salvo a todos, más pereço sozinho

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Nas Trevas

Estou eu, preso, louco, relutante Neste veio de mortandade fria

Sujando os pesadelos de quem me cria Entre cegos, tetro, delirante

Na eminência lisa, a pensar forte Descubro mistérios eloqüentes

Acreditando em sonhos ardentes Versos proclamados, cheiro de morte

E, certo, como se fosse de contra-senso Me desespero em falso, sempre tenso Nos semblantes, me deleito, esvaído

Em plena loucura, um pueril torto

Inerente, dilacero meu corpo Escaveirado, me sinto traído

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Eterno

Oriundo de antigas eras, aqui estou eu Viajante da longínqua linha temporal Inebriado por terem me dado o aval

Para observar o cosmos em seu apogeu

Vi perplexo cada transformação astral Melancólico pelas insanidades soltas Por esse mar onde a Terra é envolta

Girando em falso entre o bem e o mal

Nasci numa época de pouquíssima luz E pude perceber claramente que faz jus Essa escuridão que segue a humanidade

Sou eterno em minha louca existência Mas, como eu, também faz resistência Esse vicio tão humano pela maldade

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Uma palavra

Mundo

Destrutível Incompatível

Imundo

Sonho Indecente Decadente Enfadonho

Liberdade Falsidade

Mídia

Compaixão Enganação

Perfídia

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A Máquina

O cheiro metálico se espalhando No ar inebriante; puro, amargo O som latente; infinito, largo

Eterna moda, vai girando

Energia pura, magnética Inconseqüente movimentação

Age, ao pressionar de um botão Dinâmica, ágil, cinética

Engrenada, a máquina vivente

Moderna, velada amargura Em concreta arte, de alma ausente

Parafusos frouxos, deturpação

Na existência elétrica, não se cura Condenada a auto-destruição

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Soneto modernista

Vangloriando o legado Andradino

Nas austeras poetizações... Sigo o formado Petrarquiano

Sem nenhum lampejo rimático

Invento palavras absurdas Machadinamente, converso contigo

O leitor iliterário... Canibal devorador de versos

Se Camões, Bocage e tantos outros

Fizeram dessas rimas suas vidas Quem sou eu para irrompê-los?

Visto a camisa modernista

Para (nesta rima intrometida!) Escrever um poema maniqueísta...

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Sanguinolência

Sangue escuro; plasmática sangria

Que sangra agora este plasma grudento A grudar os pecados do advento

Ser corporal, cadavérico, que esfria

O sangue antigo, novo, velho, eterno Afagável, o fluxo sanguinolento, mágico Correndo, pelo venoso aurículo trágico Sedento, vampírico, sugante, materno...

Espectral, sanguíneo, o pulso latente Do corpo e da alma, da vida corrente Cortante, a navalha... o mal, o trauma

Ao entrar a lâmina da covardia plena

Encontra este sangue a dor mais serena Escorre, no sangue, um pouco da alma

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Enterro de mágoas

Pobre homem, o insípido coveiro A enterrar corpos, no chão mortal

Destino cruel, fatídico, fatal Muito diferente do seresteiro

Esse sim, dança, canta e declama

Poesias, anedotas, cantigas ao luar Pelas ruas, emoções ávidas a recitar

As mágoas, dos ouvintes, ele derrama

Vidas opostas, que assim se fazem Sentimentos ambíguos, a si, trazem

Ambos na vida, sem rumo, sem norte

Não tão diferentes esses homens são Se um enterra as mágoas do coração O outro enterra as mágoas da morte

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Mitologia

Brilha o olhar claro da pérfida Sereia A fitar o Minotauro, preso, temerário No labirinto, guardando o relicário

Do semideus decaído, que ali vagueia

Realçada a beleza do eterno grego O súbito grito das sonatas Harpias Sob o eclipse, no clamor dos dias A relíquia perdida; o fogo negro

E Ícaro voando, no ruflar das asas

A Atena plena, protegendo as casas Assessorada pelo Hades benigno

Essa relíquia é a liberdade humana

Concedida pelo grande deus da gana Pisoteada pelo Hércules maligno

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Pedagogia Selvagem

Discípulos Ferais! Brutais ativistas...

Defendam sua caça e seu legado Na pele escamosa impregnado

O selvagem discurso construtivista

Evolutivos Sapiens devoradores... Com cérebros e presas; À Guerra! Arranhando os sentidos da Terra

As formas, as superfícies, os odores...

O Leviatã poderoso, no mar atroz Nada forte (ferozmente!) e veloz Na sapiência rígida da calmaria

E neste meio aquoso, irregular

Surge sempre um monstro a nadar No oceano plausível da sabedoria

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Espectros carentes

Nas lembranças mórbidas, aluadas Sombrias, mortíferas, recorrentes Momentâneos espectros carentes Atormentando vidas desalmadas

No sistema lúdico, destrutivo

Conectado ao meu ego perverso Encontro minha alma ao reverso

Presa em meu corpo introspectivo

Lamentando esse devaneio sagaz Na lápide estagnada onde jaz

O fantasma de minha consciência

Me destruo aos poucos e eternamente Semelhante ao descaso de tanta gente

Fingindo um momento de carência

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Vida eterna

Que homem, insolente, e tão ousado Saberá, no futuro, a grande sepultura

Que se eleva, e o eleva, solene, a altura Dos céus, a subir alto, glorioso, alado?

Nem os anjos, com seus corpos ínfimos

Ou os demônios, escravos insolentes Recebem de seus mestres, quando doentes

Alívio aos seus desejos mais íntimos

Donde vêm, então, este sonho louco De alçar-se, de subir mais um pouco

E alcançar, sublime, as hastes do céu?

O Homem, em sua cega ancia de poder Engolirá seco, nesta ancia, ao morrer

Sentirá, na cova, o gosto amargo do fel

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Correntes da miséria

Quantas almas estão ainda presas

No calabouço angustiante, sofrível? Sentindo este cheiro tão horrível

De lágrimas, lamentos e tristezas...

Escravidão, servidão, enganação... Momentos de prazer e liberdade Enforcados pela insana maldade

Como um réu em sua condenação

Sem mais pecados, sem mais culpa Servas da boca suja que as insulta

Aos grilhões, abandonadas as traças

A ferros, escravas dessa vã miséria Tendo que se sujeitar a face séria

De quem só se liberou por trapaças

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Musa

Como já dizia o grande Modernista

Amar não passa de um simples verbo E, na idealização que ainda conservo

Sobra uma idéia Clássica ou Humanista

Se os Realistas só pisaram no sentimento E os Parnasianos só pensaram na arte

Talvez ainda não seja muito tarde Para um novo e triunfal renascimento

Mas, as musas já não existem mais

E a inspiração perdeu-se, para jamais Voltar a brilhar, reluzente, douradora

Se não há nenhuma musa esperançosa

Escrevo eu, uma poesia amorosa Pois tenho minha musa inspiradora

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Sonetificação

Entre palavras soltas e inacabadas

Formam-se, aos poucos, alguns versos Meio clássicos, modernos, simbólicos...

Ou um soneto, daqueles, bem feitos!

Cheios de riminhas, regrinhas, coisinhas... “Poema romântico, coisa de mulher...” Uma trova consignada, pura estética...

Bem escrita, declamada... O que quiser...

Mas logo esses versos se transformam E viram pérolas literárias deslumbrantes Com o tempo, obras de arte de tornam...

Não importando a temática, sempre serão (Apaixonados, tristonhos ou angustiantes)

Filhos de um inspiradíssimo coração...

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Sexologia

No fluxo esgotante da perfeita simetria

Dos corpos semicarnais, paralisados No tempo, na alcova, seres endeusados

A breve tempestade flui a calmaria

Mentes ligadas em sanguínea perfeição Ardentes sonhos louvados, pecaminosos

Sentidos confusos, arrepios porosos De Adão e Eva, à mera fornicação

O súbito, o púlpito, a mescla de dor Com o prazer latente, alimentado Da beleza honrosa, à morte da flor

Algemas; cárcere; símbolo retido

O chicote letal, o sentimento açoitado No tronco ruge o amor pervertido

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Face oculta

Lua branca, de prata, iluminada Que faz toda noite sua viagem Livre, a contemplar a paisagem

Brilhante, mágica, quão afamada

Ao redor de tudo para sempre gira No vazio longínquo, exorbitante Aparece sempre, a todo estante

mostrando uma face; nunca de vira

Talvez por isso seja tão majestosa Em sua viagem, tão bela, formosa Sem nunca se mostrar inteiramente

Invejo-te muito, senhora enluarada

Pois gostaria de ocultar na madrugada meus erros, como fazes eternamente

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Ao amor ou ao ódio

Ecoou o grito desesperado da esperança

E, ao soar, suas ondas curtas de alongaram Imitando os gritos dos que não amaram Mas, no ódio, encontraram a vingança

Retaliação essa que se fez merecida

Quando a voz da loucura pairou no ar E, todo aquele que não pôde amar Viu perplexo o reflexo de sua vida

Que entre lágrimas alguém ouça meu canto

Pois nem o amor e o ódio podem resistir Ao sentimento que nasce de um pranto

E que, ao chorar à vida, eu possa dizer,

Ao amor ou ao ódio, ou a quem me ouvir: - Amando ou odiando, ainda posso viver...

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Pecados mortais

No cemitério que habita em meu coração

A vida e a morte se fazem vis crianças Pendendo uma noutra, como uma balança Sobre o peso de um pecado sem perdão

Nesta terra sempre fria, deito em minha cova Na escura e inerte noite que se refaz em mim Procurando um inicio mais próximo do fim

Recitando uma necromantica e vil trova

A loucura que me abrasa, no túmulo atroz Vem como uma seta, pungente, mortal, veloz

Libertando meus devaneios sepultados

Já morto, meio vivo, metade semi-humano Canto um lamento singelo, porém profano

Na esperança amarga de esquecer meus pecados

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Vozes humanas

Somente um barulho... nítidas vozes

me cercam, em eco, em sons triunfais. Convergem em mim, como setas velozes só ouço um som; sonatas descomunais

São gritos da noite, percalços sonoros Fragmentos audíveis em êxtase puro

que se adentram em meus eloquentes poros e me fazem um vil ouvidor obscuro

Estas vozes, estes sons, são mágoas que viajam pelos ares, pelas águas

e acabam se voltando sempre em mim

Vozes que escapam de malditas bocas Surgindo de becos, mórbidas, loucas

Tortura audível, meu sangue, meu fim

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Chacais

Derrubei meus muros de concreto tosco

E despi-me de infortúnios desejáveis Para entregar-me a pecados amáveis

E a algum sentimentalismo fosco

Suprimi meus desejos mais que reais Na bravura dum horror mais corrompido

Dum medo vão, detestável, reprimido Para fugir de humanizados chacais

Na verdade, tirei minha carapuça

Olhei para minh’alma sempre convulsa E vi-me num espelho; um pobre plebeu

E o que nunca veria, então percebi

Com os olhos da alma, finalmente vi O pior dentre todos os chacais era eu

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A última noite de um poeta

Sob o sol da noite quente, que queima

Sob a lua de prata pura, sem valor Sobe uma angústia, sem sentir dor Desce uma tristeza que ainda teima

São madrugadas, escuras e silenciosas Onde minha pena se faz solene escrava

E na frieza da letárgica e vil palavra Sou um autor sem letras pretensiosas

A solidão, descrevo em um vil soneto

Em minha pele, grudado, um manto preto Se misturando à sombra que me domina

E nesta noite, na qual me peguei a ler Os últimos escritos, filhos de meu ser O conto de minha vida enfim termina

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Sombras na parede

Na fria e inerte parede branca Onde a escuridão gélida fica

A brisa sórdida e mórbida brinca Um riso rijo, da parede arranca

E nesta lisa e patética muralha

Onde lágrimas jorram na fria noite A solidão se faz como um açoite

A penumbra se torna uma mortalha

Movo minhas mãos, olho na parede Vejo sombras se movendo, numa rede

Entrelaçadas, emoções e tristezas

Crio figuras, seres solitários Vis, sombrios, escuros, arbitrários

Reflexos de minhas vãs estranhezas

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Sintético

Roboticamente falando, eu

em minha mecânica existência Apaziguo minha vil paciência

sonhando em ter o que não é meu

A cinza visão de meus olhos de vidro e minha voz tão áspera e tremida

Fazem de mim uma máquina ferida Um ser de lata, frio e denegrido

A estranheza dessa minha imagem

(Um LED, um botão, uma engrenagem) me faz sentir um elétrico trauma

Nenhuma das três leis podem fazer

com que eu tenha o que não posso ter Meu lado humano, meu ego, minh’alma

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Mãos do destino

Nos calos de minhas mãos tão servis O frio cai como se fosse pura neve Calejando, gélida, assim, de leve

Desgastando-as como um pó de giz

Mãos sujas, ásperas, de tanta surra Esperançosas em descansar um dia De tanto encararem a vil noite fria Que, eterna, me cai como uma luva

Mãos que apalparam belíssimos corpos

Agora só levantam vazios copos Cheios de uma aleivosa vaidade

Embriagado, de mãos tão vazias

Tento agarrar o que me sobra de dias Socando o que me resta de sanidade

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Alienígena

Voo, por este universo afora, vou Em busca de um sinal inteligente De uma prova óbvia, contundente

Para explicar o que vejo e o que sou

Mando um sinal ao céu, a procura Não sei do que, nem importa o que seja

Num alento qualquer talvez eu veja Uma saída para essa infinita tortura

Quem sou eu? Filho da Terra, da lua...

Estou perdido, como uma fera nua Longe de seu ambiente campestre

E ao procurar uma razão para viver

Confronto a verdade, de só poder ser Um Alien humano, um Extraterrestre

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Artista do céu

Risco o grande céu com meu dedo Desenho belas e cintilantes estrelas

Sem culpa alguma, sem nenhum medo Na esperança de, talvez, um dia tê-las

Apago os quasares, crio nebulosas Pinto de vermelho os aglomerados Desviando as distâncias numerosas Dos tempos e espaços acelerados

A aquarela celeste, a azulada pintura Plagiando e recriando as constelações Do leste ao oeste, a galáctica moldura

Misturando as tintas nesse negro gel

Retas, sentimentos, curvas e emoções Torno-me o astronômico artista do céu

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Almas explosivas

A quimera em teu olhar me fez assim

Um louco a sonhar em falso e em pranto Calejado e castigado, mas que no entanto

Despede-se a cada madrugada do fim

Imortal, em minha caminhada sangrenta Na escuridão que perpetuou em meu ser Olho para teus olhos, e posso então ver

O brilho refletido, que sempre te afugenta

Esta luz que sai de tua branca retina Surge de uma misteriosa e vil sina

De não podermos nos tocar na eternidade

Como um grande sol, irradio minha loucura E, como uma eterna e irresistível fagulha

Queimo esse amor, em forma de insanidade

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Nostalgia

Tempos velhos... momentos eternos D’onde surgem as letras garrafais

Que centram-se, e fixam-se aos anais Do passado ao futuro... tempos modernos

Vem daí a ideia, no tempo infindável

A dialética da poesia desgarrada Da nostálgica inércia sempre atada

À liberdade mais amável e detestável

Volta a rima, o soneto, a poesia... A brancura dos versos e dos temas

Sem qualquer santificação ou heresia

Em toda obra, todo sinal, todo lugar Muito além de quaisquer lemas

Sempre haverá um louco a rimar

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Tributo I

No trêmulo rio do tempo incansável Surge o mestre das letras, o senhor

O parnasiano perfeito, o insuperável Declarando à poesia todo seu amor

O ouvinte das estrelas e do impossível Debruçava-se na janela para vivenciar

Toda noite, sua obra intransponível Que nunca, em seus versos, a de acabar

O poeta erudito, de febril literatura Amante fiel da sublime conjectura

E das pérolas poéticas que construía

Através dos tempos, e sempre mais Não a de se apagar, nunca, jamais O brilho estrelado de sua maestria

A Olavo Bilac

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Tributo II

Talvez os violões chorem eternamente Ou, talvez, enlouqueçam de uma vez Como a Monja, em sua negra avidez

Pervertida pela Múmia... solenemente

Se o poeta enlouquecer, maldita sorte Terá que satisfazer seu sonho amável

Para ser, como nos versos, Invulnerável Cantando, bem alto, a Música da Morte

Na liberdade negra de sua inteligência Confundida, muitas vezes, com destino Resta uma dose de talento e opulência

Se a loucura espreitou-lhe no derradeiro

Terá a sorte de no eterno confino Ser afagado pelo Cristo verdadeiro

A Cruz e Souza

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Tributo III

Assisti, agora, o formidável, o enterro Não da quimera, mas daquele verme

Aquele, que nos versos, no cerne Vangloria-se, feroz, no funesto aterro

E, agonizante, o filósofo me contou

Que morcegos não mais lhe incomodam Só voam, voam... giram, giram e rodam

E, que apenas um (o do tempo) lhe atacou...

Mas, mesmo que seja velha a sua obra Algum verso perdido, sei que sobra

No caos, nos descontroles e desarranjos

Seu lirismo necrófilo ninguém esqueceu Apenas, talvez, alguém não o entendeu

Pois a de enlouquecer até mesmo os anjos

A Augusto dos Anjos

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O último soneto

Soneto branco... soneto feio... soneto vil... Dentre as páginas acaloradas, a epopéia

De sinopses americanas e formas européias Da rima portuguesa ao poético Brasil...

Um soneto, uma poesia, uma trova...

Mesmices rimadas, com sentido duvidoso Das mãos do insano escritor ocioso

Surge uma imprudente lira nova

Leia e desfrute. Veja que "cousa" linda O último soneto que vem agora

A rimar em falso, na ida e na vinda

Forçando essas rimas sem luxúrias Na bravura poética, logo aflora

O temerário Soneto das injúrias...

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...o fim!

Caro leitor, esse é o último poema

Nessa obra lírica, tão literária Letras soltas; forma arbitrária

Uma rima, um verso, um dilema

Lembranças, amores e devaneios Saltitando pelas páginas afora

Vivendo o ontem, o amanhã e o agora Libertando, de súbito, seus anseios

Más, não tardio, o tempo se vai

Como a alma de um corpo se esvai - “Fazer o que, a vida é assim...”

Numa mescla de alegria e tristeza

Fecho os trabalhos dessa obra coeza Decretando, determinantemente, o fim!

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