o evangelho e a diversidade das culturas (1)

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O Evangelho e a Diversidade Das Culturas

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Mensagens Bblicas e Ambientes Culturais

O Evangelho

e a

Diversidade das Culturas

MENSAGENS BBLICAS e AMBIENTES CULTURAIS

Em nossa preparao para o servio missionrio somos bem treinados na Bblia e na mensagem missionria. Todo missionrio, quando atende ao chamado, sabe da disposio interior que teve para aceitar ao chamado de Deus para sua vida, tem suas experincias pessoais em quantas coisas deixou, dos relacionamentos familiares e sociais que vai deixar de desfrutar, de sua casa, da qual abriu mo, da vida em dependncia de Deus que ter que ter daqui para frente para o seu sustento dirio, para sua sade, enfim... O missionrio aquele que decidiu deixar tudo para trs para partir rumo a um povo totalmente novo e um universo cheio de desafios... Tudo isto, por amor a Jesus e pelo desejo de que a salvao em Cristo seja conhecida de outros povos.

Quando partimos, achamos que, assim que aprendermos a lngua do pas, podemos pregar e as pessoas vo-nos entender. um choque quando isso no ocorre. um choque quando percebemos na prtica que a comunicao eficaz em outra cultura muito mais difcil do que imaginamos. Mas que precisamos fazer para melhor isso?

H um abismo entre ns e aqueles a quem vamos servir. H ainda um abismo maior entre o contexto histrico e cultural da Bblia e a vida contempornea. Como unir esses abismos, tornando possvel e eficiente a comunicao transcultural e histrica do evangelho?

claro que precisamos entender o evangelho em seu ambiente histrico e cultural. Sem isso, no h mensagem. Tambm precisamos de um claro entendimento de ns mesmos e do povo a quem servimos em contextos histricos e culturais distintos. Sem isso, estamos em perigo de proclamar uma mensagem desprovida de significado e relevncia.

A MISSO DE DEUS - O que fundamental?

Uma teologia de misses deve iniciar com Deus e no com os homens. Deve iniciar com a histria da criao, da queda e da redeno que Deus providenciou para sua criao. Deve incluir a revelao que Deus faz de si mesmo ao homem, a encarnao de Jesus Cristo na histria, a salvao concedida por meio de sua morte e ressurreio e o senhorio absoluto de Cristo sobre toda a criao. A histria da humanidade primeiramente, e acima de tudo, a histria da misso de Deus para redimir os pecadores que buscam a salvao, a histria de Jesus, que veio como missionrio, e a histria do Esprito de Deus, que atua nos corao daqueles que o ouvem.

nesse contexto da atividade de Deus neste mundo e atravs da histria que devemos entender nossa tarefa. Esse conceito parece muito bvio, mas no . Quando nos deparamos com o ambiente de outras naes, tanta complexidade, tantas necessidades, podemos, facilmente nos perder do que nosso objetivo final. O pargrafo anterior descreve toda nossa misso em uma nao, junto a outro povo e eu at sugiro a voc que imprima ela em letras grandes e cole no seu espelho para ler todos os dias, para que em meio a tantas questes para voc tenha uma bssola sempre apontado a sua direo.

AS ESCRITURAS AUTORIZADAS

A Bblia um registro completo e autorizado da auto-revelao de Deus aos homens. Ela a Palavra de Deus, e ns nos voltamos para ela no somente a fim de ouvir a mensagem salvadora de Deus, mas tambm para ver como Ele atua na histria da humanidade, e atravs dela para alcanar seus objetivos. As Escrituras so o padro pelo qual medimos toda verdade e retido, todas as teologias e toda a moral.

Porque a Bblia a Palavra de Deus, ela deve ser nossa mensagem para um mundo perdido. Nossa tarefa central comunic-la s pessoas para que compreendam e reajam segundo o seu padro. Podemos estar envolvidos em muitas coisas programas de pregao, ensino, aconselhamento, cura, crescimento - mas elas no sero partes verdadeiras das misses crists se no estiverem enraizadas na Palavra e no derem expresso ao evangelho. Dar testemunho do evangelho por meio da proclamao da Palavra o cerne da tarefa missionria.

A revelao de Deus sempre dada aos homens dentro de contextos histricos e culturais especficos. Consequentemente para compreender as Escrituras, devemos relacion-las ao tempo e ao contexto em que so entregues. At mesmo Cristo veio como um indivduo especfico dentro da cultura judaica de dois mil anos atrs.

Cristocentrismo

As Escrituras devem ser entendidas luz de Jesus Cristo. Ele o centro para o qual toda a revelao se direciona. O Antigo Testamento encontra sua plenitude nEle e o Novo Testamento d testemunho dEle. Como Filho de Deus, Ele a sua perfeita representao.

O ministrio do Esprito Santo

O trabalho missionrio no pode se entendido parte da atuao permanente do Esprito Santo na vida de seu povo e naqueles que ouvem o evangelho. Ele prepara nossos coraes para receber e responder mensagem da redeno.

Isto tambm pode parecer to bvio, mas no . Voc perceber que aps adentrar uma nova cultura, no meio de um povo com tantas necessidades, at mesmo de subsistncia, to bsicas, a nossa natureza humana carnal, independente de Deus ter a tendncia de se levantar e comeamos a fazer coisas, a ajudar o povo, a querer resultados (inclusive somos pressionados pela igreja e pelos mantenedores a apresentar resultados, as pessoas querem nmeros e nossa vaidade tambm quer muito estes nmeros), mas precisamos estar muito solidificados na necessidade da atuao permanente do Esprito Santo em primeiro lugar em nossas vidas, como missionrios e assim, em consequncia desta dependncia, deste relacionamento ntimo do missionrio, cultivado dia a dia em horas se derramando diante dEle, veremos a atuao do Esprito Santo na vida do povo trazendo frutos reais e no apenas estatsticas milagrosas.

Oua bem: Voc ser tentado todos os dias a agir independente do Esprito Santo e a confiar no seu brao, na sua fora, na fora da Igreja na vida do povo. Esteja vacinando contra isto!

O REINO DE DEUS

Reino de Deus foi a mensagem central de Cristo. Um Deus que ainda trabalha na criao e na histria para redimir o mundo para Si. O alcance da misso de Deus no somente o seu reinado no cu, mas tambm o seu reinado na Terra. Embora isso tenha que ver com o destino eterno da humanidade, tambm trata do seu bem-estar na Terra com paz, justia, liberdade, sade, proviso e retido.

Por que este entendimento importante? Jesus disse que veio trazer vida e vida em abundncia. No cremos que fomos chamados para evangelizar e pronto. Voc, como missionrio, deve ter a viso de que Jesus veio trazer vida com dignidade para todos os seus FILHOS. Filhos de Deus, devem viver nesta Terra como filhos de Deus. Esta a mensagem que pregamos e esta a nossa responsabilidade como missionrios.

No vamos para as naes fazer obras sociais, cremos nos Atos de Justia, que so, inclusive a vestimenta dos santos que sero vencedores, mas precisamos atuar junto ao povo que alcanamos com responsabilidade de nos preocuparmos com sua dignidade e condio de vida. Entristece-nos quando vemos missionrios que proclamam nmeros de 100 igrejas, 200 igrejas, mas se isto for observado de perto, trata-se de um povo que apenas ouviu uma pregao do evangelho, at aceitou Jesus, mas foi abandonado transformando-se apenas em estatsticas.

Missionrios precisam entender que seu chamado para a implantao do Reino de Deus. No que tenhamos que adotar todos e no avanar enquanto aquele povo no tiver moradia, alimentao, estudo e profisso com dignidade. No! Mas precisamos ter a viso da implantao do REINO de DEUS; em trabalhar no povo a viso de que Jesus tem uma vida abundante para eles, claro que dentro de sua realidade, mas Ele tem. E ns missionrios estaremos ali, sensveis para o que o Esprito Santo queira nos usar para trazer esta dignidade de vida ao povo ao qual estamos servindo e prontos para sermos facilitadores para a abertura de escolas, pequenos negcios, cursos profissionalizantes, estrutura de atendimento mdico, etc.

A IGREJA

Em misses, precisamos de uma forte teologia da igreja como um organismo, uma comunidade dos fiis; pois a igreja a comunidade dentro da qual a tarefa missionria deve ser entendida. Misses no primeiramente uma responsabilidade individual, tarefa da igreja como um todo. O evangelho nos chama a ver as pessoas como seres humanos, e qualquer ao missionria eficaz comea pela construo de relacionamentos, no de programas.

Por exemplo, podemos ver pessoas famintas e apresent-las agricultura moderna, ou levar hospitais aos doentes, ou construir escolas para os analfabetos. Mas ao faz-los, com frequncia desprezamos o fato de que esses fatores esto inter-relacionados que o conhecimento pode evitar doenas e ajudar as pessoas a cultivar alimentos, e que alimentao e sade daquelas pessoas so necessrias para que elas estudem. Porm, fracassamos por no ver que a fome, a doena e a ignorncia tm suas razes no pecado do homem. Tambm deixamos de ver como elas conduzem a mais pecado.

Por isso, a viso da implantao da comunidade dos fiis fundamental, independente de qual estrutura ela ter: se numa construo de palha, alvenaria ou numa casa de algum, ou nos subterrneos... Estamos nas naes para implantar a viso da Igreja. Igreja como o Corpo de Cristo aqui na Terra, corpo que nunca formado por um sozinho, mas por alguns, se relacionando, em comunho, em adorao, em crescimento.

Mas tambm no nos deixamos levar pela viso missionria do Ocidente, porque crescemos em uma sociedade que separa religio e cincia, entre sobrenatural e natural. Essa distino grega, no bblica e ela separa o esprito humano do seu corpo e faz uma distino clara entre evangelizao e preocupao social. E tambm um perigo que nos ronda e vemos na prtica que muito missionrios evanglicos se acham ministrando em uma ou em outra dessas esferas. Os mdicos, professores e agricultores sempre se encontram lidando com necessidades fsicas enquanto os pregadores limitam sua preocupao salvao eterna. No seja assim no nosso meio! Queremos contribuir para a edificao da viso missionria com viso da implantao do Reino de Deus que se expressa nos relacionamentos da Vida da Igreja.

POR QUE ESTUDAR ANTROPOLOGIA e CONTEXTUALIZAO?

Antropologia , literalmente, o estudo do homem. A antropologia cultural procura explicar a raa humana atravs do estudo das suas culturas. Enfim, o estudo de gente, morando em comunidades, procurando satisfazer as necessidades bsicas de maneiras diferentes. Isso faz com que a antropologia cultural se torne um instrumento eficaz nas mos do ao obreiro transcultural bem preparado.

O papel da antropologia cultural no trabalho missionrio transcultural de ajudar o missionrio e a compreender pessoas com costumes bem diferentes. A antropologia ajuda o obreiro transcultural a se adaptar a uma cultura diferente. Ela tambm facilita a comunicao do evangelho em um novo contexto cultural. Alm disso, ela ajuda no estabelecimento de grupos de relacionamentos em um outro contexto cultural.

Ao estudarmos antropologia cultural, estamos nos munindo de meios que nos auxiliaro a compreender o homem e tudo que o envolve, a fim de podermos entender melhor a suas atitudes e crenas, e assim, anunciarmos o Evangelho com mais eficcia. O homem, no importando a cultura, deve sentir que o Evangelho vai fazer parte dele, e no lhe roubar o que tem por preciso: os valores adquiridos, passados de gerao em gerao.

Por exemplo: H uma analogia entre as leis culturais e as leis fsicas. Se ignorarmos alguma lei, as consequncias no tardam.

Ex.1: Um missionrio construiu uma canoa, utilizando para este fim, ferro velho. Ferro no flutua, e consequentemente a canoa afundou.

Ex.2: Um missionrio entre os Kuakiutl no Canada quis homenagear o chefe indgena, portanto deu ao seu filho recm-nascido o nome do chefe. Esse ato foi interpretado pelo chefe como roubo de identidade, e em consequncia disso, o missionrio foi expulso da aldeia.

Aplicao: Deus nem sempre anula as consequncias por violarmos as leis naturais e culturais, mesmo quando a finalidade de servi-lo. O estudo da antropologia no garante que o povo v aceitar o Evangelho. Longe disso. A antropologia cultural apenas facilita a comunicao da mensagem, tornando-a mais fcil de ser entendida.

EVANGELHO E CULTURA

Os missionrios enfrentam muitos dilemas, mas nenhum to difcil quanto aqueles que tratam da relao do evangelho com as culturas humanas.

O primeiro grande conclio da igreja foi convocado para responder s questes que surgiram como resultado da evangelizao feita pela igreja primitiva. As mesmas questes surgem hoje onde quer que as misses crists sejam bem-sucedidas. Enquanto no h convertidos, fcil continuar o trabalho. Podemos pregar, ensinar, radio difundir, distribuir folhetos, sem ter de lidar com os novos convertidos. Mas quando as pessoas se tornam crists em outras culturas, enfrentamos muitas decises. Podem manter vrias esposas? Devem oferecer alimento a seus ancestrais? E o que devem fazer com seus velhos costumes religiosos? Devemos ensinar-lhes nossos rituais ou estes so essencialmente ocidentais? Como missionrios devemos viver como elas? Podemos, em s conscincia, participar de suas msicas e danas, ou elas tm conotaes no- crists?

A maioria dessas questes se refere relao entre o evangelho e as culturas humanas. Por outro lado, o evangelho no pertence a nenhuma cultura. Ele a revelao que Deus faz de Si mesmo e de Seus atos sobre todos.

Por outro lado, o evangelho sempre deve ser entendido e expresso dentro de formas culturais humanas. No h maneira de comunic-lo fora de padres de pensamentos e idiomas humanos. Alm do mais, Deus escolheu homens como o principal meio de se fazer conhecido a outros homens. Mesmo quando escolheu se revelar a ns, Ele o fez de maneira plena tornando-se um homem que viveu dentro do contexto da histria humana e de uma cultura em particular.

Portanto, devemos nos dedicar a entender como lidar com estas questes profundas e de difceis respostas e no termos nunca uma atitude de arrogncia ou independncia, mas aprender com outros que viveram as mesmas questes.

O QUE UMA CULTURA?

Definiremos cultura como os sistemas de ideias, sentimentos, valores e seus padres associados de comportamento e produtos, compartilhados por grupo de pessoas que organiza e regulamenta o que pensa, sente e faz. A cultura se transmite de uma gerao a outra gerao formando sistemas de comportamentos humanos.

Mas no s isso. Cultura o conjunto dos conhecimentos de algum; muitos podem perguntar: Qual a melhor cultura? Existe uma cultura modelo? A resposta : No h uma cultura padro para se comparar e verificar qual a melhor.

No podemos dizer que um civilizado melhor que um indgena. O conceito do que certo e errado para um civilizado diferente para um indgena. Os valores e padres podem ser diferentes, mas no errados, piores ou melhores. Tudo depende do ponto de vista cultural de cada um. O nico padro de comportamento humano a palavra de Deus e esta, respeita a cultura de cada um.

muito comum acharmos que nossa cultura superior s outras, baseando-nos apenas no conceito do que temos, do que nos rodeia e nos comum. O que dificulta muito o nosso relacionamento este sentimento de superioridade para com as outras culturas, causando em ns tanta intolerncia, arrogncia e julgamento para com elas.

E aqui que entramos com um alerta: Voc, que est se preparando para os campos transculturais no faz ideia do que sua cultura te influencia. No faz ideia do quanto seus conceitos e valores so ocidentais, influenciados pela cultura ocidental, pelos valores ocidentais, pela lgica ocidental. Comeando a viver em outra cultura, voc comear a ver o quanto o lgico que assim! No to lgico assim...

Por exemplo:

1. Para algum, na cultura ocidental inconcebvel a ideia de casamento arranjado pelos pais. S aceitamos a ideia de casamento por amor, minha prpria escolha... J muitos orientais acham normal e muito apropriado que os pais escolham o futuro cnjuge porque eles j so mais maduros, sabem o que melhor para os filhos e faro essa escolha sem o envolvimento da paixo que tantas vezes trs problemas no mundo ocidental e que eles aceitam esta deciso e decidem que vo aprender a amar o cnjuge escolhido para eles por seus pais... Qual a melhor maneira? H muita diversidade de opinies e pontos de vista...

2. Um jovem rapaz afego falou o seguinte em entrevista a uma jornalista: Voc no pode chegar aqui e julgar as pessoas como se estivesse na Europa. Eu j viajei para a Europa e h coisas no Ocidente que so muito estranhas para ns: Foi na Europa que eu vi um casal se beijar na rua pela primeira vez na minha vida! Por que no Afeganisto as mulheres fazem o trabalho de casa? Ora, porque os homens vo trabalhar fora para sustentar a famlia e as mulheres ficam em casa educando os filhos. Na Europa seus filhos so educados por babs. No nosso pas, no e eu no vejo nada de errado nisso!

Precisamos estar alertas quanto ao processo que naturalmente acontece no interior de cada um de ns diante de uma nova cultura: Observamos e julgamos as outras culturas a partir da nossa prpria cultura. O natural ficarmos estarrecidos e nos sentirmos, por vezes, agredidos e no nos conformarmos ao observar como as pessoas reagem em outros ambientes tnicos. A nossa tendncia natural ser de julgarmos que a nossa maneira de fazer as coisas melhor e que os demais povos esto equivocados.

O missionrio transcultural aquele que compreende a cultura alheia e a aceita (contextualiza) como seu padro de vida. No critica, nem tenta mostrar que a sua cultura melhor. Simplesmente assume, ou adota como sua, a cultura daqueles a que anuncia Jesus. Desta forma, o povo ouvinte se identificar com o missionrio transcultural, pois no o v como um estrangeiro, mas como um dos seus. Lembrando-se de que ele, o missionrio transcultural, deve sempre levar em conta que ele tambm tem sua prpria cultura e que deve se respeitar e buscar um equilbrio entre absorver a cultura do pas onde est servindo e sua prpria cultura.

No podemos fazer comparaes entre as culturas, pois geralmente a cultura chamada civilizada tem uma maior variedade de escolhas, todas aceitveis dentro desta sociedade. Exemplificando: um indivduo da classe mdia brasileiro pode ser membro de uma igreja evanglica ou de uma igreja catlica, ou de uma igreja budista, etc... ele pode concordar ou no com o governo e dar voz s suas objees. No h impedimento para ele se casar com praticamente qualquer moa do pas. Ele dispe de uma grande variedade de comidas, desde o macarro ao caviar. Ou seja, ele pode ter uma variedade de aes dentro da sua prpria cultura. Ele pode gastar o seu dinheiro com roupas, automveis, esportes e uma srie de outras coisas. Mas numa cultura primitiva, no h muitas escolhas, mas apenas em pescar, caar, plantar, cozinhar, criar filhos, participar de rituais etc... todos agem da mesma maneira que os demais membros da sua sociedade. Quase no h diferena na religio, e os jovens vo aprendendo e aceitando o comportamento dos mais velhos sem question-los, natural irem ficando bem mais limitadas as suas escolhas de comportamentos, pois os modelos de vida so mais fixos, o que os torna mais inflexveis a mudanas. Ser sempre comum o missionrio transcultural ouvir do nativo que est discipulando frases como: No! Assim no pode ser! ou No, no pode fazer diferente! ou No! Se no fizer assim, no vai dar certo!

Precisamos aprender a identificar as diferenas nas culturas, pois h fatores na cultura de cada povo que o leva a uma diversidade tremenda de avaliaes, vejamos em que aspectos:

Valor Tempo

H muita diferena entre o conceito de tempo para um ocidental e um mongol, por exemplo: Certa vez, um missionrio ocidental na Groenlndia sentiu-se chocado pelo fato de os mongis no observarem as horas como os ocidentais. Assim achou-os preguiosos. Pois quando queriam trabalhar, trabalhavam. Quando queriam dormir, dormiam. Quando queriam comer, comiam. Isto a qualquer hora do dia. Quando o missionrio falou-lhes que tal situao era um absurdo, um mongol lhe disse: Absurdo deixar que um aparelhinho no pulso nos indique quando devemos comer, dormir e trabalhar. Ns seguimos nossa natureza. Quando temos fome, comemos, quando temos sono, dormimos e quando temos que sobreviver, trabalhamos.

Decises

Em grupo ou individual. O tipo de deciso ou o processo para tomada de deciso depende da cultura. Na ndia, os pais combinam os casamentos dos filhos, quando estes ainda so crianas. Os noivos no escolhem os pares, mas sim seus pais. J no Ocidente, isto no ocorre, a escolha dos noivos.

Nos pases muulmanos, as mulheres no tomam decises na famlia. J no Ocidente, encontramos mulheres em posies de destaque em diversos ramos da sociedade.

Leis

Dn 6.15; 3,13; 8,11-13. Os textos mostram que uma lei persa no poderia ser alterada, nem pelo prprio rei que a sancionou. A lei tinha de ser cumprida risca. No Ocidente, temos vrias maneiras de burlar a lei. o que chamamos de jeitinho. Um expediente qualquer para no se cumprir a lei estabelecida. J em uma tribo indgena, as leis so ditadas pelos mais velhos. O que dizem obedecido imediatamente pelos mais novos. As leis so constitudas conforme a cultura.

Certa vez, um missionrio ocidental na ndia parou seu carro em um sinal. Quando este abriu, havia uma vaca deitada a sua frente. Ento, ele saiu de seu carro, e comeou a chutar o animal para que sasse do caminho. Por seu desrespeito s leis nativas, quase foi linchado pela populao local. Escapou por pouco, com ajuda de um guarda que, ao ver que era estrangeiro, compreendeu sua situao. Na ndia, segundo suas crenas, as vacas so sagradas e protegidas por leis.

Atitudes

O comportamento humano no ilgico. H uma razo de ser para qualquer atitude humana. Ao muulmano flagrado em ato de roubo, cortam-lhe as mos. Para eles, agindo assim nunca mais pecar por roubar. Alm de ser exemplo para que outros no faam o mesmo.

Ritos

Os ritos variam entre os povos e de regio para regio. Os homens ocidentais apertam-se as mos ao se cumprimentarem, enquanto as mulheres apertam as mos e/ou do beijinhos nas faces umas das outras. J no oriente, os homens se cumprimentam curvando-se para frente. No mundo muulmano, o cumprimento se faz curvando a cabea ligeiramente para frente, enquanto a mo direita movimenta-se desde o ventre, passando pelo queixo e pela testa. J em alguns pases da frica quando se estende a mo para cumprimentar, a outra acompanha o brao, se no se fizer isto falta de respeito.

Para os muulmanos no se cumprimenta outra pessoa com a mo esquerda. Para eles, tal atitude uma afronta e desonra, por ser esta mo usada para fazerem a higiene pessoal. A mo esquerda tida como imunda.

Costumes

Os costumes so prticas comuns, passadas de gerao em gerao a determinado grupo ou pessoas. Na maioria das vezes, no conhecida a razo exata de tais procedimentos, sendo praticados apenas porque foram ensinados por seus antepassados.

No Brasil, costuma-se oferecer um cafezinho aos visitantes. J no norte de Portugal, serve-se um copo de vinho verde, juntamente com alguns petiscos como queijo, salpico, presunto, etc. Em algumas tribos indgenas do Brasil, oferece-se um bebida base de mandioca, ou milho, cujo processo de fabricao causa repugnncia a qualquer visitante estranho. As mulheres mastigam a mandioca ou milho e depois cospem-no para dentro de uma vasilha que, depois de fermentar, transforma-se numa apetitosa bebida (para eles, claro).

Lnguas

Existem milhares de lnguas em todo o mundo. Em cada uma delas, milhes de palavras com significados e gramticas complexas que deixa qualquer um surpreso. H na prpria lngua portuguesa, diferenas e ambiguidades drsticas. Por exemplo: rapariga em Portugal o mesmo que moa, menina, mida. J no Brasil, o termo rapariga est relacionado, em algumas regies, mulher de vida promscua. Agora imaginemos o significado de saudades. Ns dizemos: Estou com saudades de voc. No ingls se diz: I am missing you, que traduzindo literalmente significa: Eu estou sentindo falta de voc. No existe a palavra saudades.

O italiano usa a palavra tchau tanto na chegada como na sada. Ns a usamos apenas quando nos despedimos.

Na Papua Nova Guin, missionrios traduziram papel como folha de bananeira. Eles tiveram dificuldades para traduzir a palavra perdo pois no haviam encontrado tal palavra na lngua do povo. Certo dia, ao inaugurar uma cabana, os ndios se abraam em uma grande roda em volta da construo, cantando alegremente. Os missionrios descobriram que aquele abrao significava perdo. Ento traduziram 'perdo' como abrao. Quando queriam dizer-lhe: Deus nos perdoou. Diziam-lhes: Deus nos abraou.

As lnguas esto em constante mutao. Estas mutaes podem sofrer influncia de outras lnguas, como no Brasil. comum usarmos palavras com influncia estrangeira, por exemplo: hora do rush = rush hour do ingls = Hora de ponta do portugus.

O missionrio transcultural deve levar em conta o significado das palavras quando desejar se comunicar com seus ouvintes, para no incorrer no erro de ser mal compreendido.

Crenas

Um sistema de crenas pode formar uma religio. O homem por natureza um ser religioso, ainda que o negue, como o ateu. Mas as crenas podem ser a chave para se alcanar um povo. Vejamos o exemplo dos dubos, tribo nigeriana que acredita que seus antepassados eram habitantes das estrelas e que vieram do espao milhares de anos atrs. No sistema de crenas dos dubous, Ham o deus do Universo, e Hogo e Nomo, seus filhos. Hogo representa o ser humano espalhando caos para todo o lado. Nomo, segundo filho de Ham, o mensageiro do cu. Nomo desceu numa arca e, quando aterrou, as pedras foram esmagadas e as pessoas ficaram albinas pelo poder da luz proveniente da nuvem de poeira. A arca foi rebocada para um grande lago porque o lar de Nomo a gua. Dai ensinou aos homens os princpios da vida, matou Hogo, seu irmo catico, e regressou finalmente ao cu.

Veja que riqueza de dados disposio de um missionrio bem equipado, para aplicar o Evangelho a esta tribo que vive prxima a Timbuctu, na Nigria, frica. As crenas tanto podem ser a chave para a evangelizao de um povo, como tambm uma barreira. Tudo depende de como se aplicam as verdades bblicas. Por isso fundamental ao missionrio que quer frutos, ter a disposio para conhecer e estudar os diferentes aspectos da cultura do povo ao qual foi servir, porque em todas as culturas, Deus estabeleceu o que chamamos de fatores redentivos, ou seja, fatos, valores, ritos na cultura que podem ser uma ponte entre a cultura e verdades bblicas, para que, na apresentao do evangelho, ns os missionrios, o faamos a partir da cultura e no colocando o evangelho como algo absolutamente novo e fora da cultura.

COMO FUNCIONA A CULTURA

Para sabermos como funciona uma cultura, no basta fazermos uma descrio do que observamos do comportamento humano naquela sociedade. necessrio que entendamos o porque dos acontecimentos a lgica da cultura. Podemos observar uma aliana de ouro, usada no dedo anular da mo direita de uma pessoa antes do casamento e na mo esquerda depois do casamento. Mas qual o significado desse anel? Qual a sua funo? Quando entendemos que aquele anel um smbolo de um compromisso assumido entre duas pessoas perante a sociedade, saberemos que houve uma unio de duas pessoas, consequentemente de duas famlias, pelos laos do matrimonio. Quando entendermos isso, ento estaremos entendendo como funciona uma cultura, por exemplo. E esse um dos hbitos que devemos cultivar e que deve nos fascinar: Procurar entender a lgica da outra cultura.

DIMENSES DA CULTURA

Cultura se relaciona com ideias, sentimentos e valores. Essas so as trs dimenses bsicas da cultura.

1 - A dimenso de Ideias: Este aspecto da cultura se relaciona ao conhecimento compartilhado pelos membros de um grupo ou uma sociedade. Sem o conhecimento compartilhado, fica impossvel a comunicao e a vida em comunidades. O conhecimento fornece o contedo de conceitos de uma cultura. Rene as experincias das pessoas em categorias e organiza essas categorias em sistemas maiores de conhecimento.

O conhecimento tambm diz s pessoas o que existe e o que no existe. Ele inclui os pressupostos e as crenas que temos sobre a realidade, a natureza do mundo e como ele funciona.

Embora o registro impresso seja excelente para armazenar conhecimento, ele no o nico meio. Frequentemente rotulamos quem no sabe ler de analfabetos e, portanto, ignorantes. O fato que as sociedades no-alfabetizadas possuem um grande nmero de conhecimento e o armazena de outras maneiras. Elas utilizam histrias, poemas, canes, provrbios, enigmas e outras formas de tradio oral que so facilmente lembradas. Tambm encenam peas, danas e rituais que podem ser vistos.

Esta distino entre sociedades de tradio oral e sociedades alfabetizadas e as formas que armazenam e transmitem informaes de importncia vital para os missionrios. Uma vez que geralmente os missionrios so pessoas instrudas, com frequncia interpretam mal as sociedades de tradio oral e suas formas de comunicao. Por consequncia, geralmente concluem que a maneira mais eficaz de implantar igrejas no campo missionrio ensinar as pessoas a ler e escrever.

Enquanto a alfabetizao e a educao so importantes em longo prazo, particularmente na preparao de lderes nativos de alto nvel, elas no so de forma alguma a nica ou nem mesmo a maneira mais eficaz de implantar igrejas em sociedades de tradio oral. As pessoas no precisam aprender a ler para se tornarem cristos ou crescer na f. Por exemplo, P.Y. Luke e J. B. Carmen (1968) verificaram que os cristos no sul da ndia armazenam suas crenas em canes. Na igreja e em casa, eles sempre cantam de cor dez versos de uma cano e quinze de outra. Observamos que na maioria das aldeias no continente africano, as canes crists so muito simples e devem trazer contedo doutrinrio para que os nativos absorvam a doutrina bblica, diferente das canes crists ocidentais que so cheias de conceitos subjetivos e palavras de adorao simplesmente. Povos tambm utilizam encenaes apresentadas em praa pblica. Embora os aldees indianos se cansem rapidamente de uma pregao e vo embora, ficam quase a noite toda vendo um espetculo at o final. Os cristos em outras partes do mundo tm feito uso eficaz de trovas, danas, provrbios e outros mtodos orais para comunicar o evangelho.

2- A dimenso de Sentimentos: Cultura tambm engloba os sentimentos das pessoas suas atitudes, noes de beleza, preferncias alimentares e de vesturios, seus gostos pessoais e a maneira com que se alegram ou sofrem.

3 - A dimenso de Valores: Toda cultura tambm possui valores pelos quais as relaes humanas so julgadas morais ou imorais. Algumas ocupaes so consideradas nobres e outras, inferiores; algumas maneiras mesa so apropriadas e outras, inaceitveis e precisamos estar abertos ao relativismo do que temos como certo ou melhor.

O evangelho em todas as trs dimenses. Em seu trabalho, os missionrios devem ter em mente as trs dimenses de cultura porque o evangelho se relaciona com todas elas. No nvel de ideias, se refere ao conhecimento e verdade, com entendimento e aceitao da informao bblica e teolgica e com o conhecimento de Deus. neste nvel que nos preocupamos com as questes de verdade e ortodoxia.

O evangelho tambm inclui os sentimentos. Sentimos temor e mistrio na presena de Deus, culpa ou vergonha pelos nossos pecados, felicidade pela nossa salvao e conforto na comunho com o povo de Deus.

Finalmente, o evangelho tem que ver com valores e fidelidade. Jesus proclamou as boas novas do Reino de Deus, o qual governa com retido. Suas leis so contrastantes com as dos reinos terrestres, e sua perfeio julga nossos pecados culturais. Jesus tambm nos chama a segui-lo. Ser cristo prestar fidelidade total a Ele. Qualquer outra coisa idolatria.

As trs dimenses culturais so essenciais na converso. Precisamos saber que Jesus o Filho de Deus, mas s o conhecimento no suficiente. At mesmo satans tem de reconhecer a divindade de Cristo. Ns precisamos tambm dos sentimentos de afeio e de obedincia a Cristo. Mas os sentimentos tambm no so suficientes. Tanto o conhecimento como os sentimentos devem nos levar adorao e submisso, obedincia e a seguir Jesus como Senhor de nossas vidas.

Ao levar o evangelho e iniciar o processo de discipulado precisamos ter em mente ensinar os novos convertidos a trilhar um caminho de expor ao evangelho as suas ideias, sentimentos e valores, pois todas as dimenses da sua cultura devem ser afetadas pela nova vida em Cristo.

O RELATIVISMO CULTURAL

Em decorrncia dos estudos antropolgicos efetuados at o momento presente, alguns antroplogos esto dizendo que h relativismo cultural. Se os esquims matam os velhos que no podem trabalhar, por que no podemos fazer o mesmo tambm? Se pode haver liberdade sexual em algumas tribos da frica, por que no podemos ter tambm? Tudo relativo. Se os esquims no exigem fidelidade de suas esposas, mas pelo contrrio, acham gentil emprestar a esposa para servir sexualmente um visitante, por que devemos exigir fidelidade? Na Austrlia no existe a cultura dos filhos cuidarem dos pais quando ficam velhos, eles naturalmente so conduzidos a asilos e voc no conseguiria convencer um australiano de que o jeito brasileiro de lidar com os velhos melhor...A Bblia tem muito a dizer sobre isso. Deus conhece os diferentes valores de cada cultura. Ele reconhece tambm as oportunidades de cada povo, a revelao que este tem recebido de Deus.

Em Lucas 12:48 diz: Mas aquele que no a conhece e pratica coisas merecedoras de castigo, receber poucos acoites. A quem muito foi dado, muito ser exigido; e a quem muito foi confiado, muito mais ser pedido.

Paulo tambm sabia que os valores de cada cultura eram diferentes e que alguns costumes eram relativos e outros no. Ele exigiu que Timteo se circuncidasse e deixou Tito sem circunciso. No foi incoerncia na conduta do apstolo, mas um reconhecimento bblico de que h nveis de valores de uma cultura para outra e mesmo dentro de uma cultura. A Bblia deixa muitos costumes e regras em aberto para que a prpria pessoa, dentro de sua respectiva cultura, escolha o melhor. Outros mandamentos so fixos para todas as pessoas na face da Terra. A Bblia diz que no podemos matar, nem por ato, nem por pensamento e nem com palavras e em todas as culturas isto pecado. A Bblia tambm probe a vaidade, que um sentimento intimo manifestado de maneiras diferentes em cada cultura. E assim por diante. H outros atos que so meros costumes e, portanto, deixados livre deciso de cada um, sem que a Bblia regulamente.

Talvez o discernimento sobre esses atos seja uma das tarefas mais difceis e mais importantes do missionrio. Mas fundamental que o missionrio desenvolva esta capacidade de avaliar, de fato, o que relativo e o que absoluto nas culturas. E isto no tarefa simples que acontecer automaticamente, mas sim, na medida em que o missionrio desenvolver alguns hbitos como:

1 Aprender a buscar na Palavra o que a Bblia realmente ensina sobre tais coisas para que seus posicionamentos sejam sempre embasados na Palavra. Mas no nos referimos a apenas pegar uma concordncia e ler todos os versculos sobre aquele tema, mas a ler, meditar, ir e vir, avaliar profundamente o que a Palavra diz.

2 - Decidir desenvolver o hbito de analisar a sua prpria cultura para poder compreender as razes bsicas das suas prprias reaes e pensamentos e no continuar a viver automaticamente como fazia no seu prprio pas tendo com bvios seus costumes e valores.

3 - Dispor-se a conhecer a cultura dentro da qual vai trabalhar, para poder transmitir o verdadeiro ensino da Palavra de Deus, separando-o das prticas de sua prpria cultura.

Aqui entra o sair da gaiola. Um hbito que o missionrio deve desenvolver desde o incio : Estar com o povo. Comer com as pessoas, participar de suas celebraes de casamento, aniversrios, funerais, visitar os nativos, andar no meio deles. Pois o pior hbito (mas que muito comum entre os missionrios) temer o povo, ou acomodar-se sua gaiolinha da sua casa que lhe trs bem estar, segurana e a tranquilidade de estar no seu mundo. O missionrio precisa se misturar com o povo e gastar tempo com isto.

Costumes

Geralmente, so prticas observadas e transmitidas de gerao em gerao. Os costumes podem sofrer alteraes atravs dos tempos. Por exemplo, no mundo ocidental, casar-se de branco padro. Este costume sofreu alteraes. Antigamente, s se casavam de branco as virgens. Hoje isto no relevante, j no se observa este costume, prevalecendo apenas o gosto da noiva. Precisamos ento, desenvolver o hbito de discernir o que so meros costumes.

O PROCESSO NA VIDA DO MISSIONRIO

No processo de adaptao transcultural, o missionrio passar por dois fenmenos:

1. Aculturao o processo de um individuo perder seus valores culturais que lhe so familiares.

2. Enculturao o processo de um individuo assumir valores culturais alheios aos que lhe so familiares.

A aculturao e a enculturao so fenmenos que andam juntos: Na medida em h perda de cultura, h ganho de outra cultura.

Quando um missionrio se dispe a servir a Deus em outra cultura fundamental que ele j saia com essa disposio para esse processo e se abra para a cultura do povo a que vai servir. Pois temos de levar a palavra do Senhor a outros povos e no a nossa cultura e nossos costumes e estarmos dispostos a respeitar a cultura alheia, sabendo que o bvio para ns, pode soar como absurdo para eles. E termos esta atitude interior de que passaremos por este processo de transculturao e estarmos abertos a isto, pois infelizmente, muitos missionrios que saem dos seus pases cheios de paixo por atender ao chamado, acabam desenvolvendo ojeriza ao povo ao qual foi servir, chamando-os de estpidos, estpidos o tempo todo e se enclausurando dentro da sua ilha nativa, que a sua prpria casa ou comunidades.

O EVANGELHO x A CULTURA

Primeiro, o evangelho deve ser separado de todas as culturas humanas. Ele revelao divina, no especulao humana. Uma vez que no pertence a nenhuma cultura, pode ser expresso adequadamente em todas elas.

No diferenciar entre evangelho e culturas humanas tem sido uma das grandes fraquezas das misses crists modernas. Os missionrios com muita frequncia comparam as boas novas com sua prpria herana cultural. Isso os tem levado a condenar a maioria dos costumes locais e a impor seus prprios costumes aos convertidos. Consequentemente, o evangelho tem sido visto como algo estrangeiro de maneira geral e como ocidental em particular. As pessoas o tem rejeitado no porque rejeitem o senhorio de Cristo, mas porque a converso geralmente significa negar sua herana cultural e seus laos sociais.

Um segundo perigo em comparar o evangelho cultura tem sido justificar o imperialismo ocidental. Os cristos do incio dos Estados Unidos acreditavam que Deus havia abenoado seu pas de maneira especial e que eles eram o povo escolhido de Deus. O pietismo e o patriotismo se misturaram. Os partidos polticos e o governo nacional utilizaram os sentimentos e os smbolos cristos em benefcios prprios. Quando a religio utilizada para justificar prticas polticas e culturais, ela religio civil.

Um terceiro perigo na comparao do evangelho com a cultura tem sido um sentido crescente de relativismo com respeito ao pecado. Todas as culturas tm suas prprias definies do que pecado. Como as culturas mudam, suas ideias de pecado tambm mudam. Por exemplo, calas compridas para as mulheres j foi pecado no Ocidente. Hoje elas so amplamente aceitas.

O Evangelho na Cultura

Embora o evangelho seja diferente das culturas humanas, ele sempre deve ser expresso em formas culturais. Os homens no podem receb-lo fora de seus idiomas, smbolos e rituais. Se as pessoas devem ouvir e crer no evangelho, ele precisa ser apresentado em formas culturais.

No nvel de ideias, as pessoas devem entender a verdade do evangelho. No nvel dos sentimentos, devem experimentar o temor e o amor a Deus. E no nvel de valores, o evangelho deve desafi-las a responder f. Ns nos referimos a esse processo de traduo do evangelho para uma cultura, a fim de que as pessoas o entendam e respondam a ele, como contextualizao. Toda comunicao autntica do evangelho em misses deve ser padronizada a partir da comunicao bblica e deve procurar fazer com que as boas novas sejam entendidas pelas pessoas dentro de suas prprias culturas.

Todas as culturas podem servir adequadamente como veculos de comunicao do evangelho. Se no fosse assim, as pessoas teriam de mudar de cultura para se tornarem crists. E isto deve ser respeitado e o missionrio ter humildade de se adaptar cultura e deixar o povo expressar livremente o evangelho dentro de sua prpria cultura. Por exemplo: triste quando vemos vdeos feitos por missionrios em que as crianas africanas aparecem alinhadas numa fila cantando as canes ocidentais... aos meus olhos ficam parecendo verdadeiros ETs ao contrrio de cantar suas msicas num estilo afro, com suas danas...

O Evangelho em relao cultura

O evangelho prope mudanas para todas as culturas. Assim como a vinda de Cristo foi a condenao da nossa natureza pecaminosa, da mesma forma o Reino de Deus julga todas as culturas.

Nem tudo na cultura humana condenvel. Os seres humanos so criados imagem de Deus e, como tais, criam culturas, que tem muito de positivo e utilizvel pelos cristos. Toda cultura oferece uma medida de ordem que torna a vida possvel e significativa.

Todavia, por causa do pecado do homem, todas as culturas tambm possuem estruturas e prticas pecaminosas. Entre elas esto escravido, discriminao, opresso, explorao e guerra. O evangelho as condena, assim como julga os pecados dos indivduos.

Uma teologia verdadeiramente autctone deve no s reforar os valores positivos da cultura na qual est sendo formulada, mas tambm deve desafiar aqueles aspectos que expressam as formas demonacas e desumanizadoras do pecado.

Cabe ao missionrio buscar uma dependncia do Esprito Santo para ter olhos para ver todos os aspectos positivos da cultura do povo onde ele est servindo, pois toda cultura tem seus aspectos positivos e procurar se esforar para absorv-los para si e vivenciar aquele aspecto cultural no seu dia a dia de relacionamento com o povo nativo.

AS DIFERENAS CULTURAIS E O MISSIONRIO

Todo missionrio sente a emoo da viagem e o romantismo de cenrios estrangeiros. Provamos comidas exticas, andamos de riquixs e compramos cobertas finamente bordadas no bazar. Passeamos hesitantes em templos e assistimos aos devotos oferecerem sacrifcios a deuses estranhos. Exatamente como achvamos que seria!

Ento, chega realidade. A constatao de que tudo isso o nosso lar. Aqui nossos filhos iro crescer como filhos da terra. E devemos nos tornar um com essas pessoas que falam uma lngua ininteligvel e tem maneiras bem diferentes, antes que possamos efetivamente compartilhar com elas as boas novas do evangelho. De repente, as coisas que pareciam romnticas e emocionantes tornam-se estranhas e ameaadoras. Surgem as perguntas. Podemos de fato fazer nossa essa cultura? Podemos realmente nos identificar com essas pessoas e implantar uma igreja entre elas? Sobreviveremos? Quando ocorre essa mudana, estamos diante de uma das preocupaes centrais de todos os novos missionrios: o problema das diferenas culturais.

CHOQUE CULTURAL

Todos ns ficamos emocionados e um pouco temeroso quando entramos em uma nova cultura. Ao aterrissarmos em uma cidade estranha, no exterior, nossa satisfao ainda grande. Estamos cansados do voo, mas h a emoo dos novos lugares e dos diferentes costumes. Estamos de fato ali. Mal podemos acreditar!

Paramos em um restaurante e pedimos o almoo. Mas quando chega, reconhecemos apenas metade dele como alimento. A outra metade no parece comestvel parecem vermes ou at mesmo formigas. Famintos, paramos no mercado e pedimos algumas laranjas, mas a mulher na banca no nos entende. De repente, constatamos que todas aquelas pessoas no falam a nossa lngua. Desesperados para comer alguma coisa, apontamos como crianas para nossa boca e para o estmago e depois para as laranjas. Quando a vendedora finalmente entende e nos d as frutas, enfrentamos outro problema. Como iremos pagar? No podemos entend-la, e as novas moedas no fazem sentido para ns. Finalmente, em desespero, oferecemos as moedas e deixamos que ela pegue o que quiser. Temos a certeza de que estamos sendo enganados.

Para tornar as coisas piores, as crianas ao redor ficam rindo de ns, obviamente se divertindo com essas pessoas ricas e educadas que no conseguem falar uma lngua que at mesmo crianas de trs anos de idade conhecem bem. Estamos zangados intimamente e queremos dizer-lhes o quanto somos instrudos, mas isso de nada vale. Nossa instruo aqui de pouca utilidade para ns. E assim vamos entrando no famoso Choque Cultural.

Causas do Choque Cultural

O que causa esse desconforto psicolgico quando entramos em uma nova cultura? Como poderamos suspeitar, no o cenrio de pobreza e sujeira. Nem o medo de doenas, embora quem esteja passando pelo choque cultural se preocupe muito com a limpeza e a sade. O choque cultural a desorientao que vivemos quando todos os mapas e diretrizes culturais que aprendemos quando crianas no funcionam mais. Despidos de nossa maneira normal de lidar com a vida, ficamos confusos, amedrontados e zangados. Raramente sabemos o que aconteceu de errado, muito menos o que fazer a respeito. O choque cultural atinge a maioria das pessoas que vai fundo em novas culturas.Quais so alguns dos sintomas e causas, e como a doena progride?

Choque Lingustico

O primeiro choque que geralmente experimentamos em uma nova cultura a nossa incapacidade de comunicao. Desde a nossa mais tenra infncia, conversamos, gesticulamos, escrevemos e conversamos mais um pouco at que no nos apercebemos mais dos processos de comunicao. Eles se tornam quase automticos.

De repente, como estranhos em um novo mundo, somos privados de nossos principais meios de interao com as outras pessoas. Como crianas, lutamos para dizer at mesmo as coisas mais simples e constantemente estamos cometendo erros.

Mesmo aps semanas de estudo (o missionrio) incapaz de discutir muito mais do que o preo de meio quilo de batatas. Ele incapaz de mostrar sua instruo e inteligncia, os smbolos que lhes deram status e segurana em casa. Ele encontra pessoas inteligentes e estudadas, mas responde s perguntas delas como uma criana ou um idiota porque no capaz de fazer nada melhor...

O aprendiz de uma lngua tem a sensao estranha de que as pessoas esto rindo dele pelas costas e esto. Seus estudos so cansativos, entediantes, frustrantes. Nada parece acontecer de maneira lgica ou sem problemas porque a lgica identificada com os modos familiares de falar e pensar. Ela se baseia na tradio lingustica e acadmica.

Muitos missionrios no exterior que comearam a aprender uma lngua acabaram por rejeit-la. Algumas vezes, o padro de rejeio significa cada vez menos estudo e o desenvolvimento de cada vez mais contatos na sua lngua nativa. Algumas vezes, significa doena, doena fsica verdadeira.

O choque lingustico pode colocar as pessoas num crculo vicioso incapazes de aprender e incapazes de se arranjar sem aprender. Alguns nunca aprendem o idioma local e trabalham vida afora utilizando-se de intrpretes s vezes por quarenta anos ou mais!

Antes de avanarmos para os outros pontos do choque cultural, vamos gastar um pouco mais de tempo com a importncia da adaptao lingustica. Investir no aprendizado da lngua fundamental. Sem isto, voc no entrar, de fato, na cultura e no estabelecer relacionamentos. Claro, que voc deve considerar a sua capacitao natural de aprendizado de lnguas. Se voc do tipo que aprende, ento invista em aprender a lngua, os dialetos, etc. Mas no mnimo, a lngua me, bsica do pas o missionrio precisa enfrentar como seu maior desafio e gastar tempo com isto. Mas, eu o alerto, voc ser muito tentado a se acomodar. Principalmente se voc no for um missionrio desbravador, ou seja, destes que vo para o campo apenas com sua famlia e vivero sozinhos no meio de um povo, mas estaro sendo enviados para se unir a uma comunidade de missionrios j existentes. Se este segundo, o seu caso, voc ser muito tentado a se enclausurar no meio da sua comunidade brasileira e ali viver.

Para vencer na adaptao lingustica, passo alguns conselhos a seguir:

1. No faa da sua moradia seu lugar de refgio, mas transite entre o povo local.

2. Busque uma pessoa nativa com quem voc vai se relacionar e decida com ela que seu relacionamento ser na lngua nativa e gaste tempo com isto.

3. Gaste tempo com as crianas nativas. Crianas so, no perodo inicial, timas interlocutoras. Pea que lhe corrijam.

4. No transforme seu cnjuge em seu intrprete local. Normalmente, um dos dois desenvolver mais fluncia na lngua e o outro tende a descansar no companheiro. Esta atitude ser desastrosa, pois logo trar um descompasso na adaptao transcultural do casal.

5. No tenha medo de errar. Aceite que os nativos vo rir de voc. Ria Tambm.

6. No seu plano de estudo, nossa sugesto que, num primeiro momento, voc dedique 3 horas dirias para o estudo da lngua.

7. Desenvolva o hbito de raciocinar na nova lngua e no em formular pensamentos na sua lngua nativa e traduzir.

Mudanas na Rotina

Outra frustrao que enfrentamos no choque cultural a mudana na nossa rotina diria. Em nossa cultura materna, desempenhamos com eficincia tarefas como comprar, cozinhar, ir ao banco, lavar roupa, ir ao correio, ao dentista e o lazer. Em um ambiente novo, at as tarefas mais simples tomam uma grande soma de energia fsica e tempo. Muito mais tempo.

A vida durante o primeiro ano (6 meses at 1 ano) em uma nova cultura geralmente uma luta pela simples sobrevivncia. Todo o nosso tempo parece ser gasto em cozinhar, lavar roupas, fazer compras ou consertar ou adaptar nossa casa. No sobra tempo para trabalharmos naquilo que viemos fazer. A frustrao aumenta medida que os meses passam e no podemos ensinar, pregar, aconselhar ou traduzir a Bblia. E no h muito que possamos fazer contra isso.

Mudanas nos Relacionamentos

A vida humana est centrada nos relacionamentos com parentes, amigos, colegas de trabalho, chefes, caixas de banco, balconistas e at mesmo estranhos. Por meio deles, ganhamos nossa identidade dentro de uma sociedade e nossa autoimagem. Quando nossa percepo de ns mesmos entra em conflito com as imagens que os outros tm de ns, trabalhamos desesperadamente para mudar o que esto pensando. Se isso falhar, somos forados a mudar a ideia que temos de ns mesmos. Pouco de ns podem sustentar suas crenas ou o sentido de valor sem o reforo constante dos outros.

Manter relacionamentos em nossa prpria cultura, na qual entendemos o que est acontecendo, j difcil bastante. Em outra cultura, a tarefa parece quase inexequvel. Nossos cnjuges e filhos tm seus prprios problemas de ajustamento a uma nova lngua e cultura e precisam de ateno extra justamente no momento em que estamos clamando por ajuda. Eles nos deixam nervosos (e ns a eles) porque fomos atirados juntos em situaes estressantes, com poucos relacionamentos de fora que nos deem apoio. Outros missionrios, se estiverem por perto, geralmente so de pouca ajuda porque esto ocupados e parecem to bem ajustados que ficamos com medo de admitir nossas fraquezas a eles. Afinal de contas, ns agora somos missionrios. obvio que a culpa nossa, porque somos incapazes de nos ajustar com facilidade a uma nova cultura. Ento nos distanciamos, com medo de compartilhar nossas mais profundas ansiedades.

Fazer amizade com as pessoas locais ainda mais estressante. Mal podemos falar sua lngua e no entendemos as nuanas sutis de seus relacionamentos. Seu humor nos escapa, e o nosso os faz franzir as sobrancelhas. Para vivenciar isto, tente contar uma simples piada tido como muito boa no Brasil e espere a reao dos nativos e ver. Tentar ouvi-los em atividades sociais normais esgota nossas energias. Ate mesmo ir igreja, o que no incio nos entusiasmava pela novidade, se torna tedioso e contribui muito pouco para o nosso sustento espiritual. Estamos solitrios e no temos ningum com quem compartilhar as dvidas que temos sobre ns mesmos.

Alm de tudo isso est a nossa perda de identidade como adultos importantes na sociedade. Em nossa prpria cultura, sabemos quem somos, porque temos cargos, diplomas e participao em diferentes grupos. No novo ambiente nossa velha identidade se vai.

Outro choque ter serviais em casa. Geralmente eles so necessrios para aquecer a gua de lavar, matar e depenar galinhas e outras tarefas que no Ocidente poderamos fazer com a ajuda de eletrodomsticos e de alimentos pr-cozidos. Alm disso, logo verificamos que no teramos tempo de sobra para trabalhar se eles no estivessem conosco. E somos criticados se no dermos trabalho a eles. Mas como nos relacionamos com empregados? Como cristos, queremos ser igualitrios, assim os convidamos para comer conosco. No entanto, isso entra em conflito com o pensamento local sobre a posio dos empregados na casa, e os deixa constrangidos. Tendo em vista primarmos tambm pela privacidade em nossa casa, a presena dos empregados considerada uma invaso.

At mesmo a participao na vida local pode ser traumtica. Quando tentamos fazer algumas das atividades locais ou participar de alguns dos estranhos esportes, somos vagarosos e desajeitados e nosso desempenho como o de crianas. Tambm temos a tendncia de ver algum significado religioso perigoso em toda atividade que temos dvida.

Numa cultura nova, muito de nosso velho conhecimento intil, se no enganoso. Quando apontamos alguma coisa com o dedo, as pessoas ficam ofendidas por que fizemos um sinal obsceno. Oferecemos ajuda e ficamos quietos se as pessoas a rejeitam. S depois aprendemos que em muitas sociedades as pessoas deve sempre recusar a primeira oferta, e que devemos reiter-la. O resultado muitas vezes constrangimento e confuso.

Quando nosso conhecimento nos desaponta repetidamente, ficamos desesperados, pois nossa vida parece estar saindo do controle. A longo prazo, a sensao de falta de significados surgida pela confuso que pode ser a consequncia mais perigosa do choque cultural. Parece que perdemos nosso controle sobre a realidade.

Desorientao Emocional e de Avaliao

O choque cultural tambm implica desorientao emocional e avaliadora. No nvel emocional, enfrentamos privao e confuso. A msica que ouvimos geralmente soa dissonante, a comida, tem tempero estranho, e o entretenimento ininteligvel. Temos o desejo de ouvir msica conhecida, comer comida familiar, assistir as notcias da televiso e sair para o tipo de entretenimento que tnhamos em casa. Muito tempo depois de entendermos os significados na nova lngua, suas nuanas emocionais mais sutis como humor, a irnica, o sarcasmo, a poesia e o duplo sentido nos escapam.

Tambm enfrentamos sentimentos de frustrao que surgem do ambiente transcultural. Depois do entusiasmo inicial de estarmos no estrangeiro, temos saudade de casa e comeamos a nos desagradar daquilo que no familiar. Ns nos sentimos culpados porque no podemos viver segundo nossas prprias expectativas. Ficamos zangados porque ningum nos disse que seria dessa maneira e porque fazemos to pouco progresso na adaptao nova cultura.

No nvel dos valores, nos zangamos com o que parece ser uma falta de moral: a ausncia de roupa adequada, a insensibilidade aos pobres e o que para ns obviamente roubo, engano e suborno.

Precisamos conhecer as tendncias que os missionrios costumam ter para, de forma, no saudvel sair deste quadro. H aqueles que se apegam s suas comunidades nativas e se enclausuram. H outros que buscam nas frias em lugares prximos ou fins de semana constantes em hotis de luxo a sua compensao e outros que passam a desenvolver comportamentos desequilibrados do tipo: aumentar tudo, tudo muuuuito terrvel, sou muuuuuito sofredor e se transformam em pessoas no confiveis na avaliao que fazem dos fatos no campo.

Sintomas do Choque Cultural

Esses choques iniciais podem parecer ruins, mas no so srios. O problema real do choque cultural a distoro psicolgica que surge sem ser percebida enquanto pensamos que estamos funcionando normalmente. Ela muda nossa percepo da realidade e debilita nosso corpo.

Quais so os sintomas dessa molstia transcultural?

1. O Estresse Crescente

Todos ns vivemos com estresse. Na verdade, sem ele aproveitaramos ou obteramos muito pouca da vida. Porm, em demasia pode ser destrutivo.

2. Doena Fsica

Uma consequncia do estresse alto a doena fsica. Entre as doenas mais comuns causadas pelo estresse prolongado esto dores de cabea crnicas, lceras, dor nas costas, presso sangunea alta, ataques cardacos e fadiga crnica.

O estresse emocional cria um desequilbrio qumico que resulta no mau funcionamento de glndulas e de outros rgos. O corpo ento fica incapaz de oferecer resistncia aos germes que normalmente so combatidos. Uma vez que a mente, por um processo inconsciente, tende a passar a dor, a culpa e a tristeza para o corpo, achamos mais fcil cair adoentados fisicamente do que em angstia mental. Para comear, quando estamos fisicamente doentes recebemos compaixo, que uma forma de amor. Mas a pessoa que sofre angstia ou depresso provavelmente ser orientada a sair dessa ou a se conter.

3. Depresso Psicolgica e Espiritual

A consequncia mais sria do estresse geralmente so a depresso e o sentimento de fracasso. Quando estamos desprevenidos, no somos capazes de lidar com os problemas de viver em uma nova cultura. Ficamos oprimidos por ter de enfrentar constantemente situaes confusas e a tenso de aprender uma nova forma de vida. H pouco tempo para o lazer afinal de contas, correto que os missionrios descansem quando h tanto que fazer? Nossos sistemas de apoios se foram. Somos parte de uma comunidade de missionrios constituda por estranhos com grande fora de vontade, a quem no ousamos admitir nossas fraquezas, e pode no haver ningum que desempenhe o papel de um pastor quando falharmos.

Tambm pende sobre ns a espada das expectativas irreais. A imagem que o povo faz do missionrio a de um pioneiro forte que sofre grandes privaes um santo que nunca peca, um excelente pregador, mdico ou profissional autnomo que supera todos os obstculos. Em resumo, uma pessoa criativa, corajosa, sensvel e sempre triunfante.

Quando somos jovens e cruzamos o oceano, quase acreditamos que podemos ser assim. No de surpreender ento que enfrentemos depresso, em geral grave, quando descobrimos que ainda somos demasiadamente humanos.

Infelizmente, se achamos que estamos fracassando, trabalhamos mais arduamente para manter a autoestima. Mas isso s multiplica nosso problema, porque o medo do fracasso consome nossas energias. Vencidos, conclumos que a culpa nossa e no servimos para o trabalho de Deus.

Algumas vezes, colocamos mscaras para disfarar nossas fraquezas. Por um tempo podemos enganar os outros, at ns mesmos, mas, a longo prazo descobrimos que essa auto imagem no tem valor.

O ciclo do Choque cultural

Quando estamos em choque cultural um consolo saber que somos seres humanos normais e que, no momento certo, os traumas de adaptao a uma nova cultura iro terminar. Alm disso, saber como o choque cultural progride pode nos ajudar a lidar com ele e transform-lo numa experincia positiva que nos prepara para o nosso futuro ministrio.

Estes so conceitos comumente aceitos dos passos que normalmente aprendemos para vivermos num ambiente cultural novo:

1. O Estgio de Turista

Nossa primeira reao a uma nova cultural a fascinao. Vivemos em hotis, com outros missionrios ou em casas no to diferentes daquelas a que estvamos acostumados, e nos relacionamos com pessoas do pas que sabem falar nossa lngua e so amveis conosco como estrangeiros. Gastamos dias explorando os novos sons e cenrios e nos retiramos noite pra lugares parcialmente isolados da estranha cultura l fora.

Dependendo das circunstncias, esse estgio de lua de mel pode durar desde umas poucas semanas at vrios meses. Os turistas comuns voltam antes que essa fase termine e retornam para casa para contar histrias sobre as maneiras exticas das pessoas. Mas como missionrios, viemos para ficar, o que significa que devemos comear a difcil jornada de nos tornar membros de uma nova cultura.

2. O Desencanto

O estgio de turista termina quando samos da condio de visitantes para nos tornarmos membros da cultura. Isso ocorre quando montamos nossa prpria casa, assumimos responsabilidades e comeamos a participar da comunidade local. nesse momento que surgem as frustraes e ansiedades. Temos problemas com a lngua e com as compras, atribulaes com o transporte e confuses com as mnimas coisas. Ficamos preocupados com a limpeza da gua potvel, com a comida e a cama e temerosos de ser enganados ou roubados. Tambm nos sentimos abandonados. Aqueles que nos receberam to calorosamente voltaram para o seu trabalho e agora parecem indiferentes aos nossos problemas. As pessoas no nosso pas continuam com sua vida (que agora nos parece to maravilhosamente civilizada), frequentando aqueles cultos que antes nos passavam como normais, mas que agora vemos o quanto eram cheios de uno, comendo a melhor comida do mundo, numa temperatura que hoje lhe lembra o cu...

O resultado o desencanto. Aquela cultura estranha no mais emocionante. Agora, parece escrutvel e impossvel de ser aprendida. Nossa resposta normal a hostilidade porque a segurana da nossa vida est ameaada. Encontramos erros na cultura e a comparamos, desfavoravelmente, com a nossa. Criticamos as pessoas e vemos todo acontecimento como prova de sua preguia e inferioridade, desenvolvendo esteretipos que caricaturam de forma negativa o pas anfitrio. Ns nos retiramos da cultura e nos refugiamos em crculos pequenos e amigos estrangeiros ou ficamos em nossa casa, onde tentamos recriar a cultura de nossa terra natal.

Esse estgio marca a crise na doena. A maneira com reagimos a ela determina se ficaremos ou no e como vamos finalmente nos adaptar nova cultura. Durante esse perodo, a maioria dos missionrios classificada abaixo da linha e volta para casa. Olhamos a correspondncia e falamos das coisas que faremos quando retornarmos para casa. Escrevemos cartas de demisso, mas no enviamos. Afinal de contas, o que os nossos amigos ou a igreja diriam se voltssemos?

No entanto, tambm est acontecendo outro processo durante esse estgio, algo que ns dificilmente percebemos. Estamos aprendendo a viver na nova cultura. Comeamos a perceber que podemos aprender a fazer compras numa nova lngua, utilizando a moeda local. medida que fazemos amigos entre as pessoas, comeamos a ter dias melhores. Com uma palavra de encorajamento dos missionrios mais velhos e lderes locais, a maioria de ns joga fora suas cartas de demisso e comea a longa tarefa de aprender a lngua e de se ajustar nova cultura. Aqueles que no conseguem fazer essa transio devem voltar antes de ter um colapso nervoso. Porque isto possvel.

3. Resoluo

A restaurao do humor sempre marca o incio da recuperao. Comeamos a rir da nossa condio e fazemos piadas sobre as pessoas em vez de critic-las. Comeamos a nos simpatizar com os outros que pensam ser piores que ns. Embora ainda possamos tomar uma atitude de superioridade, comeamos a aprender as novas maneiras culturais.

Nesse estgio, a maneira como nos relacionamos com as pessoas e a cultura particularmente crucial porque os padres de adaptao que formamos aqui tendem a permanecer conosco. Se desenvolvermos atitudes positivas de simpatia e aceitao das pessoas que nos recebem, estabelecemos os fundamentos para o aprendizado de sua cultura e nos tornamos como um deles. Por outro lado, se permanecemos negativos e indiferentes, as chances so de que permaneamos estrangeiros e nunca nos identifiquemos com a populao local. E uma vez que somos modelos do evangelho para essas pessoas, o prprio evangelho lhes parecer distante e estrangeiro.

Na verdade, os nossos primeiros meses so cruciais para moldar a nossa reao por toda a vida com uma cultura; tambm o momento que estamos mais adaptveis a ela. Temos poucos preconceitos do que devemos fazer e um forte idealismo que nos motivou a vir. Tendo em vista que ainda no estabelecemos rotinas confortveis que nos escondem o que est acontecendo, nesse estgio temos o desejo de nos identificar intimamente com as pessoas e fazer de sua cultura a nossa. Assim, o choque cultural no simplesmente uma experincia para suportar.

4. A Adaptao

O estgio final do choque cultural ocorre quando nos sentimos confortveis na nova cultura. Aprendemos o suficiente para funcionarmos de maneira eficiente em nosso novo ambiente sem sentimentos de ansiedade. No s aceitamos a comida, os vesturios e os costumes locais, mas, na verdade, comeamos a simpatizar com eles. Temos estima pela amizade das pessoas e comeamos a nos sentir construtivos em nosso trabalho. Se pensarmos sobre isso, verificaremos que vamos sentir saudades do pas e de sua gente quando partimos.

Podemos nos ajustar nova cultura de diversas maneiras:

1. Podemos manter nossa distncia e construir um gueto ocidental de onde nos arrancamos para fazer nosso trabalho.

2. Podemos buscar rejeitar nosso passado e tentar ser nativos.

3. Podemos nos identificar com a cultura e trabalhar por algum tipo de integrao com a nossa.

Estas escolhas afetaro nosso ministrio no pas e veremos isto mais frente.

Aprendendo a Adaptar-se a Novas Culturas

Mas o choque cultural tambm depende dos mtodos utilizados para lidar com as diferenas culturais. Podemos aprender mtodos que nos ajudem a minimizar as tenses de adaptao a uma nova cultura e que podem, na verdade, torn-la uma experincia emocionante de crescimento. Podemos nos identificar com as pessoas de maneira que tornaro nosso ministrio mais eficaz. Estes conselhos podem ser extremamente teis para o novo missionrio, pois aps anos de experincia em misses podemos ver como a falta de observao deles trouxe consequncias terrveis na vida de pessoas que to prontamente atenderam ao chamado, mas que entraram por caminhos de amargura ou mesmo desequilbrio quase irreversveis.

Eis algumas sugestes a seguir:

1. Reconhecendo nossas ansiedades

O primeiro caminho para minimizar o choque cultural reconhecer nossas ansiedades. perfeitamente normal termos medo de situaes novas por causa das incertezas que elas trazem. O medo uma resposta humana importante que nos faz reagir a perigos imediatos e especficos. No entanto, a longo prazo, o medo pode se transformar em ansiedade um sentimento de desconforto e receio de algum perigo vago, incerto. Em certo sentido, o medo de algumas incertezas que enfrentamos em novos ambientes. essa ansiedade, no os medos especficos, o componente mais perigoso do choque cultural.

Como podemos lidar com a ansiedade quando nem sequer sabemos qual o nosso inimigo? Uma maneira localizar ansiedades especficas, reconhecendo-as, para que possamos lidar com elas. Quando olhamos conscientemente para os nossos receios, verificamos que muitos deles so infundados. Outros, podem ser eliminados mudando nosso estilo de vida, uma vez que deixaremos a maioria deles, se aprendermos como viver na nova cultura.

muito til saber que somos normais quando nos sentimos ansiosos e que podemos aprender maneiras de lidar com as ansiedades em vez de disfar-las e esperar que desapaream.

2. Aprendendo a nova Cultura

Aprender uma nova cultura tambm pode ser uma provao terrvel ou uma experincia nova emocionante. A diferena sempre est na atitude que temos com a nova situao. Se temos medo do desconhecido, teremos a tendncia de nos refugiar em pequenos crculos de amigos constitudos em sua grande maioria de colegas missionrios e cristos locais. Tentaremos reconstruir o melhor que pudermos uma ilha de cultura ocidental onde possamos viver. O resultado uma comunidade crist pequena muito isolada do mundo em torno dela. Nela podemos conduzir nosso trabalho missionrio dentro de um mnimo de deslocamento, mas com o mnimo de testemunho para as pessoas ao nosso redor.

Por outro lado, podemos nos aventurar a aprender a nova cultura. A principio, isso aumenta nossas ansiedades, mas logo aprendemos que o risco vale a pena. Como o nosso reconhecimento da cultura cresce, nossos medos do desconhecido diminuem. Alm do mais, verificamos que estudar uma cultura estranha e conhecer pessoas novas pode ser uma experincia emocionante e satisfatria. Descobrimos que muitos querem nossa amizade e ficam encantados quando fazemos o esforo mais simples para aprender com eles. Ficam todos prontos para serem nossos professores culturais se desejarmos ser alunos honestos.

Aprendemos melhor uma cultura nos envolvendo com ela. Embora ler sobre tudo o que pudermos acerca de uma cultura antes de chegarmos ajude, no h substituto para a nossa participao na vida das pessoas. Por exemplo, em vez de fazermos compras de mantimentos para uma semana, podemos ir loja todos os dias e comprar alguns poucos itens de cada vez. Podemo-nos sentar com as pessoas no caf ou ficar com elas na praa. Podemos convid-las para vir a nossa casa afinal de contas, elas esto curiosas com a nossa cultura como ns estamos com a delas e aceitar convites para visit-las. Veremos que as amizades e oportunidades de participar da cultura local se multiplicam rapidamente se gastarmos tempo nos relacionando com as pessoas em um nvel pessoal.

importante que entremos em uma cultura imediatamente, antes de estabelecermos rotinas que nos isole das pessoas. melhor mergulhar em uma nova cultura e experimentar a vida com as pessoas locais do que primeiro estabelecer nossa vida em um territrio estrangeiro de onde samos s para fazer o nosso trabalho. Desde o primeiro dia importante desenvolver muitos relacionamentos significativos com as pessoas do lugar.

O interessante que aprender uma nova cultura tambm um meio importante de evangelizao. Encontramos sempre mais oportunidades de testemunhar aos no-cristos quando entramos na cultura como aprendizes do que em papis missionrios mais formais. Enquanto estudamos as pessoas, elas se tornam interessadas em ns, em nossa vida. Sendo seus alunos, no somos uma ameaa para elas.

3. Desenvolvendo a Confiana

Aprender uma nova cultura e gostar de seus hbitos no suficiente. Podemos fazer isso e ainda permanecer como estrangeiros para quem as pessoas olham desconfiadas. Um passo muito importante ao entrar em uma nova cultura desenvolver a confiana. S que quando as pessoas confiarem em ns que ouviro o que temos para dizer. Achamos difcil julgar quando podemos confiar em uma pessoa. Nem sabemos como convencer os outros de que somos dignos de confiana. Portanto, h uma grande dose de desconfiana mtua quando um estranho chega na cidade, particularmente quando estrangeiro. Os relacionamentos no servio missionrio devem ter prioridade sobre a tarefa, principalmente no incio. A confiana na mensagem depende primeiro da confiana no mensageiro.

O desenvolvimento da confiana tem incio no interesse e na aceitao daqueles entre os quais serviremos. Temos as nossas razes para vir para o ministrio, mas elas so de pouco valor para as pessoas. Elas tm seus prprios motivos para quererem se relacionar. Muito depois de uma relao ter sido estabelecida, as pessoas continuaro o relacionamento por sua prpria conta, como amizade ou companheirismo.

Nosso interesse nos outros deve ser genuno. As pessoas logo percebem e se ressentem profundamente de estarmos desenvolvendo relacionamentos simplesmente para alcanarmos nossos objetivos, porque essa uma forma sutil de manipulao. Elas se sentem usadas.

Nenhuma tarefa mais importante nos primeiros anos de ministrio em uma nova cultura do que o desenvolvimento de relacionamentos de confiana com as pessoas. Sem elas, as pessoas no ouviro o evangelho, nem ns seremos aceitos em suas vidas e comunidades.

4. Lidando com o Estresse

Outra maneira de lidar com o choque cultural reduzir estresse sempre que possvel. Quando nos mudamos para situaes novas, vivemos uma grande tenso; portanto, precisamos monitorar nossos sentimentos para ver se ns ou outros membros de nossa famlia esto ficando tensos, irritados, inflexveis e prontos para explodir a qualquer minuto. O que podemos ento fazer para reduzir o estresse antes que ele se torne destrutivo?

a. Estabelea metas realistas. Uma maneira importante de reduzir o estresse estabelecer metas realistas. Deus pode nos usar em seu trabalho se estivermos fsica e espiritualmente sadios. Precisamos medir nosso progresso mais pelo que ns estamos nos tornando do que pelo que fazemos. Precisamos nos lembrar de que somos humanos. Devemos dar tempo a ns e a nossas famlias para lazer, exerccios e recreao, para leitura e crescimento pessoal e para nossa vida devocional. Devemos evitar o esgotamento a curto prazo e viver de tal maneira que tenhamos um ministrio longo.

H uma segunda razo por que devemos estabelecer objetivos realistas durante os primeiros anos de nosso ministrio, que fato de que simplesmente no podemos produzir no mesmo nvel em situaes estranhas nossa cultura.

b. Aprenda a no se levar a srio demais. Uma segunda maneira de lidar com o estresse olhar de uma perspectiva correta. natural auto perceber-se como o centro da atividade e considerar o tempo presente como de maior importncia. No entanto, isso tem grande impacto sobre tudo que fazemos, preenchendo cada momento com muita tenso.

Precisamos ver as oportunidades momentneas dentro da perspectiva de todo o nosso ministrio. No comparecer ao encontro de amanh, que aparece to crucial para ns agora, muito provavelmente ser esquecido cinco anos depois. Por outro lado, gastar tempo aprendendo a lngua e visitando as pessoas, que hoje nos parecem fora do trabalho, pode, retrospectivamente, ser a aquisio mais significativa do inicio do nosso ministrio.

Da mesma forma, precisamos ver nosso trabalho dentro de um amplo ministrio, que inclui nossos colegas locais e missionrios. Nenhuma pessoa chamada para carregar sozinha toda a responsabilidade do trabalho. Podemos ser necessrios, mas no somos indispensveis. Essa constatao nos livra de um falso senso de nossa importncia.

O humor um grande remdio para o sentimento excessivo de valor prprio e tambm um sinal de segurana interna e autoestima. Precisamos rir dos nossos erros com as pessoas. Cometemos muitos deles ao aprender uma nova cultura, e em geral so muito engraados.

5. Cuide de si mesmo. H momentos em situaes transculturais que, no importa o quanto nos esforcemos, o nosso nvel de estresse aumenta. At nosso esforo para reduzir a tenso produz mais tenso. Somos simplesmente recarregados com toda a situao querendo nos livrar dela. Algumas vezes, precisamos nos tratar e sair de nosso envolvimento com a nova cultura. Podemos ler um bom livro, sair com a famlia para uma viagem, tirar alguns dias de folga ou mesmo passar uma noite num bom hotel.

Aprender uma nova cultura sempre acarreta estresse, o que essencial para o crescimento. O que precisamos no evitar o estresse, mas control-lo.

6. Reparta a carga. Paulo nos aconselha a levar a carga uns dos outros e isso particularmente apropriado nos servio missionrio. O missionrio precisa estar preocupado com a carga dos outros, particularmente da esposa e dos filhos. Isso pode ajudar a evitar o egocentrismo como subproduto do alto estresse.

H uma tendncia frequente de sentirmos que agora somos lderes e, portanto, no precisamos mais de ningum nos pastorear. Nada menos verdadeiro.

O MISSIONRIO IDENTIFICADO

Agora estamos ajustados nossa nova cultura. Sobrevivemos ao choque cultural.

Sabemos o suficiente da lngua para comearmos nosso trabalho e fizemos amigos entre as pessoas. Estabelecemos nossa casa e nos firmamos numa rotina. Os problemas srios de lidar com as diferenas culturais se foram - ou pelo menos pensamos assim.

Na verdade, nesse ponto, nossa adaptao nova cultura est apenas comeando. Sabemos o suficiente para exercer nosso trabalho e conduzirmos nossa vida diria com um mnimo de estresse. Mas tambm estamos cientes de que h muito mais que aprender sobre a cultura, se realmente quisermos entend-la e nela entrar. E temos uma vaga sensao de que j nos atracamos com questes profundas surgidas pelo fato de que as culturas organizam o mundo de maneiras diferentes. A verdade que agora estamos prontos para assumir a difcil tarefa de aprender a saber e a se identificar com a cultura. Em outras palavras, devemos nos tornar missionrios identificados e lidar com questes teolgicas surgidas das diferenas culturais.

Identificando-se com a nova cultura

Como j vimos, as culturas tem trs dimenses conhecimento, sentimentos e valores. H impedimentos ao longo de cada uma delas medida que procuramos nos tornar participantes plenos de uma sociedade. Quais so eles e como super-los?

Mal-entendidos Transculturais

A primeira barreira para entrar completamente em outra cultura a questo do mal-entendido. Como o termo denota, eles tm que ver com um bloqueio cognitivo, a ausncia de conhecimento e entendimento da nova cultura, que gera confuso.

Os mal-entendidos geralmente so engraados, mas podem ter pequenas consequncias srias. Na ndia, se comermos com a mo esquerda, isso engraado para as pessoas, porque utilizam essa mo apenas para o trabalho sujo. Podemos estender nossa mo para cumprimentar algum no Japo e verificar que a pessoa se curva graciosamente.

Porm, algumas vezes, os mal-entendidos so mais srios. Dar a um indiano um presente com a mo esquerda um insulto grave, pior que esbofete-lo. Igualmente grave olhar na comida da pessoa de uma casta elevada quando ela estiver comendo. Um casal americano foi convidado para o Casamento de uma alta casta brmane. Aps a cerimnia, os estrangeiros foram os primeiros a serem servidos na festa porque comiam carne e no podiam comer com os brmanes ritualmente puros. Aps a refeio, a mulher americana foi agradecer anfitri a hospitalidade e a encontrou na cozinha. A ocidental no percebeu que, uma vez que sua presena como uma pessoa impura na cozinha corrompia toda a comida preparada para os convidados brmanes, a pobre anfitri precisaria cozinhar tudo de novo para o festejo deles!

Superando os mal-entendidos. H dois tipos de mal-entendidos que precisamos superar: o que temos sobre as pessoas e suas culturas e aquele que elas tm sobre ns. Para superar o primeiro, devemos entrar na nova cultura como aprendizes. Precisamos fazer do estudo da cultura uma de nossas principais preocupaes durante o nosso ministrio missionrio porque s ento estaremos aptos a comunicar o evangelho de maneira que as pessoas o entendam.

Nossa tentao nesse caso pensar que, porque somos portadores das boas novas, viemos para lecionar. No entanto, como professores, acabamos sempre fechando as portas ao aprendizado que poderamos obter sobre as pessoas, seus costumes e crenas. Com essa atitude de superioridade, dificultamos tambm a aceitao das pessoas em relao a ns e mensagem que trazemos.

Viso interna e externa.

Ao aprender outra cultura e compartilhar a nossa, logo ficamos cientes de que h mais de uma maneira de olhar uma cultura. Primeiro todos ns aprendemos a ver nossa prpria cultura pelo lado de dentro. Crescemos nela e a consideramos como a nica maneira correta de ver a realidade. Os antroplogos se referem a essa perspectiva como uma viso endmica de cultura. Precisamos entender as pessoas e como elas pensam a fim de traduzirmos o evangelho conforme seus padres de entendimento. Tambm precisamos compreender as Escrituras dentro do seu contexto cultural para que possamos traduzi-las para a cultura local sem perder sua mensagem divina.

Etnocentrismo

No nvel cognitivo, a confuso transcultural gera mal-entendidos, mas no nvel afetivo gera o etnocentrismo,que o sentimento de superioridade da sua cultura em relao a outras. Elas tm a sensao de que sua cultura civilizada e que as outras so primitivas e atrasadas. Essa reao tem que ver com atitudes, no com entendimentos.

A raiz do etnocentrismo a nossa tendncia de reagir maneira das outras pessoas utilizando nossos prprios pressupostos afetivos e reforar essas respostas com profundos sentimentos de aprovao ou desaprovao.

As pessoas amam suas culturas. Precisamos aprender a gostar de outra cultura e aprender a no reclamar das reas que no gostamos.

A soluo para o etnocentrismo a empatia. Precisamos ter considerao com as outras culturas e suas maneiras. Mas nossos sentimentos de superioridade e nossas atitudes negativas em relao a costumes estranhos vo mais fundos e no so facilmente eliminados. Um jeito de superar o etnocentrismo sermos aprendizes na cultura para a qual vamos, porque o nosso egocentrismo geralmente est enraizado na nossa ignorncia sobre os outros.

Outro modo dispor-se a descobrir e reconhecer todos os aspectos positivos das outras culturas. Toda cultura tem valores positivos, precisamos nos dispor a reconhec-los.

Uma terceira maneira de superar o etnocentrismo evitar criar esteretipos das pessoas de outras culturas, em vez de enxerg-las como seres humanos como ns. O reconhecimento de nossa humanidade comum une as diferenas que nos dividem.

Finalmente, precisamos nos lembrar de que as pessoas amam suas prprias culturas e se desejarmos alcan-las devemos faz-lo dentro do contexto das suas culturas.

PATOLOGIAS DESENVOLVIDAS POR MISISONRIOS QUE NO SE ENTREGAM AO PROCESSO DE ADAPTAO:

muito comum vermos nos campos missionrios, homens e mulheres chamados, que , de fato, ouviram a voz de Deus chamando-os para o campo missionrio, pessoas que deixaram tudo e se dispuseram a servir a um novo povo com todo o seu corao, mas que, devido falta de orientao sobre como lidar com o processo de adaptao transcultural ou que resistiram ao processo que estamos lhes expondo, acabam desenvolvendo certos comportamentos totalmente patolgicos no campo. So eles:

1. Ojeriza ao povo e tudo o que diz respeito sua cultura. Ficam presos no etnocentrismo, ou seja, no conseguem mais ver os pontos positivos do povo a que foram servir, sentem-se superiores e desenvolvem ojeriza, ascuo a tudo o que diz respeito cultura. Travam no processo de aprendizado da lngua, rejeitam a comida, os costumes.

2. Desenvolver a patologia de superlativar tudo e passam a ser pessoas pouco confiveis, pois sua tica ficou deturpada. Tudo muuuuuito sofrimento, tudo muuuuito difcil, muuuuuuito cansado, muuuuuito terrvel e acabam entrando nesta ilha de sofrimento.

3. Vivem para servir ao povo, mas criam ilhas nativas nas quais se fecham e se tornam profissionais do campo missionrio. Saem, vo l, servem ao povo e trancam-se de novo.

4. Servem ao povo, andam no meio deles, mas fecham-se na sua cultura superior e querem tornar os nativos como eles em termos culturais o mximo que for possvel.

5. Desenvolvem neuras, doenas.

Muitos destes missionrios voltam frustrados com relatrios negativos sobre o povo e muitos at continuam vivendo no pas, servindo o povo, mas de uma forma cheia de patologias, sem, de fato, desfrutarem da vida abundante que Jesus tem para seus ministrios. Portant, entregue-se ao processo de adaptao transcultural.

RELATIVISMO CULTURAL

Os julgamentos prematuros geralmente so errados. Alm do mais, eles fecham a porta para o entendimentos e a comunicao futuros. Qual ento a resposta?

medida que os antroplogos aprenderam a entender e a valorizar outras culturas, passaram a respeitar sua integridade como modo vivel de organizao da vida humana. Algumas se despontaram em reas como a tecnologia. Outras, na dos vnculos familiares. Mas todos fazem o trabalho, ou seja, todos tornam a vida possvel e mais ou menos significativa. Desse reconhecimento da integridade de todas as culturas emergiu o conceito do relativismo cultural: a crena de que todas as culturas so igualmente boas que nenhuma cultura tem o direito de julgar as outras.

A posio do relativismo cultural muito atraente. Ele mostra alto respeito por outras pessoas e suas culturas e evita erros de etnocentrismo e julgamento prematuro. Tambm lida com questes filosficas difceis como a verdade e a moralidade, contendo o julgamento e confirmando o certo em cada cultura com o objetivo de justificar suas prprias respostas.

No entanto, o preo que pagamos ao adotar o relativismo cultural total a perda de coisas como a verdade e a justia. Se todas as explicaes da realidade so igualmente vlidas, no podemos mais falar de erros, e se todo comportamento justificado segundo seu contexto cultural, no podemos mais falar de pecado. No h ento, a necessidade do evangelho e nenhuma razo para misses.

Que alternativa ns temos? Como podemos evitar os erros de julgamento prematuro e etnocentrismo e ainda afirma a verdade e a justia?

Alm do relativismo

A partir de que bases, ento, podemos julgar outras culturas sem ser etnocntricos? Como indivduos, temos o direito de fazer julgamentos com respeito a ns mesmos e isso inclui julgar outras culturas. Mas esses julgamentos devem ser bem informados. Precisamos aprender a respeitar outras culturas antes de julg-las. Nossa tendncia fazer julgamentos prematuros com base na ignorncia e no etnocentrismo.

Ento, o que nos livra de interpretar as Escrituras segundo o nosso ponto de vista cultural e impor muitas de nossas prprias normas culturais sobre as pessoas?

1 - Precisamos reconhecer que somos tendenciosos quando interpretamos as Escrituras e, depois, ficar abertos correo. Tambm precisamos deixar o evangelho atuar na vida dos novos cristos e, atravs deles, na cultura a que pertencem, reconhecendo que o mesmo Esprito Santo que nos conduz est trabalhando neles e os levando verdade.

2 - Precisamos estudar tanto os valores da cultura a que ministramos como os da nossa prpria cultura. Por esse procedimento, podemos desenvolver uma estrutura que nos permite comparar e avaliar as duas. O processo de buscar entender genuinamente outro sistema de valores caminha juntamente com a ruptura da perspectiva mono cultural e permite que apreciemos o que bom nos outros sistemas e sejamos mais crticos em relao ao nosso.

Rejeio

Uma soluo para viver dois mundos rejeitar um deles. Isso mais fcil de ser feito rejeitando a cultura na qual estamos ministrando. bvio que no podemos fazer isso abandonando a sociedade afinal de contas viemos aqui para ser missionrios. Mas podemos faz-lo de maneira mais sutil. Podemos discriminar a cultura primitiva sem que, no caso, necessitemos lev-las to a srio. Podemos reconstruir nossa prpria cultura dentro de nossas casas e grupos de estrangeiros, criando ilhas de segurana em um mar de alienados. Essas duas abordagens fecham as portas para a comunicao do evangelho com significado para as pessoas. Por outro lado, as pessoas logo sabem que realmente no as amamos. Por outro, o evangelho se veste com roupa estrangeira.

Uma segunda solua o rejeitar nossa prpria cultura e virarmos nativos. De certa maneira, isso parece ideal. No fomos chamados para nos identificar plenamente com as pessoas por causa do evangelho? Por muitas razes, essa abordagem geralmente falha.

H um sentido no qual no importa quanto tentemos, nunca poderemos realmente virar nativos. No nascemos como pginas em branco em que a nova cultuar pode ser escrita. Nossas vidas j esto totalmente marcadas com a escrita da nossa infncia e juventude. Negar o inicio da nossa vida suprimir muito de quem realmente somos. Com o tempo, essa supresso gera doenas, raiva e dio e exploses mentais. A identificao com outras culturas no pode vir atravs da negao de algumas partes de ns mesmos.

Terceiro, por mais que tentamos as pessoas sempre sabero que somos estrangeiros.

Compartimentao

Outra soluo para o problema de viver em dois mundos a compartimentao. Ao escolher essa opo, nos adaptamos em qualquer cultura que estivermos, mas separamos as diferentes culturas na nossa mente. Por exemplo, na frica, agimos e pensamos como africanos. Nos Estados Unidos, agimos e pensamos como norte-americanos. E mantemos os dois mundos separados.

Todas as pessoas biculturais utilizam a compartimentao, e geralmente ela oferece a soluo mais simples e imediata para viver em mundos culturais diferentes.

No entanto, se levada muito longe, a compartimentao pode ter srias consequncias. Primeiro, um missionrios em particular pode ser acusado de hipocrisia e duplicidade. medida que as pessoas em uma cultura no nos veem no outro ambiente, este perigo pequeno. Mas, essa barreira acaba caindo. Os nossos compatriotas leem nossos relatrios e artigos que escrevemos para as nossas igrejas me e nos veem na companhia de visitantes estrangeiros e funcionrios do governo. Se notarem uma mudana muito grande em nos, suspeitam que estamos num jogo duplo e nos identificando com eles no por causa do nosso amor por eles, mas para alcanar os nossos prprios objetivos.

Segundo, a compartimentao no lida com as tenses internas que enfrentamos quando vivemos em d