o ethos dos polÍticos: anÁlise do conteÚdo presente nos “santinhos polÍticos”

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CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL Artigo científico produzido pelos alunos do curso de Publicidade - 1º semestre de 2010 FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA CENTRO UNIVERSITÁRIO DE VOLTA REDONDA O ETHOS DOS POLÍTICOS: ANÁLISE DO CONTEÚDO PRESENTE NOS “SANTINHOS POLÍTICOS” Aluno: Ana Biatriz Paixão João Paulo C. S. Almeida Katia Regina Simões Ribeiro Professor: Marcel Álvaro de Amorim

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Page 1: O ETHOS DOS POLÍTICOS: ANÁLISE DO CONTEÚDO PRESENTE NOS  “SANTINHOS POLÍTICOS”

CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

Artigo científico produzido pelos alunos do curso de Publicidade - 1º semestre de 2010

 

 

FUNDAÇÃO OSWALDO ARANHA

CENTRO UNIVERSITÁRIO DE VOLTA REDONDA

O ETHOS DOS POLÍTICOS: ANÁLISE DO CONTEÚDO PRESENTE NOS “SANTINHOS POLÍTICOS”

Aluno:

Ana Biatriz Paixão

João Paulo C. S. Almeida

Katia Regina Simões Ribeiro

Professor:

Marcel Álvaro de Amorim

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CURSO DE COMUNICAÇÃO SOCIAL

Artigo científico produzido pelos alunos do curso de Publicidade - 1º semestre de 2010

 

 

VOLTA REDONDA

2010

O ETHOS DOS POLÍTICOS: ANÁLISE DO CONTEÚDO PRESENTE NOS “SANTINHOS POLÍTICOS”

1. INTRODUÇÃO

Na época das eleições são distribuídos vários “santinhos políticos”, um tipo de

propaganda impressa com informações como nome do candidato e seu número

eleitoral, com o objetivo de apresentar aos eleitores a imagem que desejam

transmitir. O nome “santinho” aparentemente vem de uma prática relacionada à

Igreja Católica. Antigamente os padres distribuíam pequenos papéis com imagens

coloridas de santos, que eram chamados, na época, de "santinhos".

Sabemos que, ao falar, estabelecemos um contrato de comunicação com um ou

mais receptores que, ao receber a mensagem, interpreta e constrói uma

determinada imagem do emissor. Segundo Charaudeau no Dicionário de Ánalise do

Discurso (2008, p.220) ethos significa “a imagem de si que o locutor constrói em seu

discurso para excercer uma influência sobre o seu alocutário”.

Deste modo o objetivo do trabalho é analisar como os políticos por meio de seus

“santinhos” desejam construir imagens que acreditam que os favoreçam na hora da

escolha dos eleitores pelo candidato ideal. Com a diversidade de discursos em

“santinhos” será caracterizado o ethos dos políticos em categorias que demonstram

a intenção na construção de determinadas imagens.

Este artigo, num primeiro momento, propõe uma apresentação do conceito de

ethos, para então, no segundo momento, realizar uma análise de textos presentes

em “santinhos” classificando-os em categorias de acordo com os diferentes

discursos utlizados.

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2. FUNDAMENTAÇÃO TEÓRICA

Segundo Roland Barthes (1970, apud MAINGUENEAU, 2002, p.98) a

característica essencial do ethos “são os traços de caráter que o orador deve

mostrar ao auditório (pouco importa sua sinceridade) para causar boa impressão:

são os ares que assume ao se apresentar. […] O orador enuncia uma informação, e

ao mesmo tempo diz: eu sou isto, eu sou aquilo”.

A noção de ethos abrange não somente a propriedade da fala, mas também a

corporalidade e o caráter ligados pelas representações do enunciador. O ethos

refere-se à maneira como o personagem se apresenta tanto fisicamente como seu

posicionamento diante do enunciado, expressando valores, princípios e estilo,

formando um estereótipo para uma boa apresentação de si e sua eficácia perante o

receptor.

O discurso publicitário, de maneira geral, mantém por natureza uma ligação

privilegiada com o ethos, buscando efetivamente persuadir ao associar os produtos

ou serviços que promove aos desejos de seu púbico-alvo, criando uma imagem

positiva e convincente. Em seu conteúdo, a publicidade pode apoiar-se em

estereótipos sedutores para incorporar o que prescreve.

De acordo com Maingueneau, “a qualidade do ethos remete, com efeito, a

imagem desse ‘enunciador’ que, por meio de sua fala, confere a si próprio uma

identidade compatível com o mundo que deverá construir em seu enunciado”. O

emissor por meio do seu discurso deve persuadir e legitimar sua mensagem para

construir a identidade que deseja transmitir aos co-enunciadores.

Nos debates públicos, nas reuniões de condomínios, nas negociações

comerciais, nas relações de sedução, nas entrevistas que determinam a escolha de

um candidato para um cargo, nos diálogos entre professor e alunos, na conversa

entre amigos, nos comícios eleitorais e em todas as declarações em que a imagem

do locutor implica riscos concretos, traz a importância de um ethos minuciosamente

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construído, para que o mesmo consiga atingir de forma eficaz os objetivos

estabelecidos pela campanha do enunciador, garantido o sucesso da oratória.

Segundo Gouveia (2009, p. 876) “a noção de estratégia pressupõe que o

enunciador organiza seu pensamento e encena determinada intenção com o objetivo

de produzir efeitos de persuasão ou de sedução sobre o interpretante”.

Em um discurso político, por exemplo, o candidato de um partido pode falar a

seus eleitores como homem bondoso, amigo do povo, honesto, experiente, caridoso

etc. É nesse contexto que a noção de ethos adquire, para Ruth Amossy (apud

MAINGUENEAU, p. 16), toda sua importância. O autor a relaciona à noção de tom,

que substitui com vantagens a de voz, à medida que remete tanto à escrita quanto à

fala. Por sua vez, o tom se apóia sobre uma “dupla figura do enunciador, a de um

caráter e de uma corporalidade”.

A questão do caráter e da moral do enunciador não faz com que ele seja

impedido de construir uma imagem pelo seu discurso. Os “caracteres oratórios” ou

imagem produzida pela mensagem, a ser distinguido dos caracteres reais.

Distinguimos caracteres oratórios de caracteres reais. Isso não apresenta dificuldades, pois, quer alguém efetivamente honesto, quer seja piedoso, religioso, modesto, justo, fácil no convívio com o mundo, ou, ao contrário, quer seja corrompido, [...], aqui está o que chamamos caracteres reais. Mas um homem parecer isso ou aquilo pelo discurso, isso se chama caracteres oratórios, quer ele seja tal como pareça ser, quer pareça mesmo sem o ser. Pois pode-se mostrar algo sem sê-lo; e pode-se não parecer tal, e ainda assim o ser; pois isso depende da maneira como se fala. (GILBERT apud LE GUERN, 1977, p. 284).

No gênero textual analisado neste artigo, “santinhos políticos”, texto e imagem,

evidencia-se com clareza que a construção da imagem está diretamente relacionada

com o posicionamento que o candidato pretende construir perante aos seus

possíveis eleitores. Quando o enunciador escolhe o direcionamento de sua

campanha, evidentemente, o “santinho” integrará um conjunto de ações que

pretende colocar em prática para conseguir persuadir e mostrar uma imagem

condizente com sua proposta atingindo o coletivo.

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3. ANÁLISE DO CORPUS

Já dito em exaustão que uma imagem vale mais que mil palavras. O sorriso, o

estilo da roupa, a expressão, as cores utilizadas, a conteúdo da mensagem, o

posicionamento construído na imagem, a postura que se propõe a ter, fazem grande

diferença no atual cenário em que se encontra a sociedade.

Para traduzir um pouco do que os políticos fazem ao produzir imagens em suas

campanhas, Maquiavel diz sobre o “ser” e o “parecer” no jogo político: “Poucos vêem

o que somos, mas todos vêem o que aparentamos” (Cf. MAQUIAVEL, 2000).

Com a banalização da fotografia e do cinema e a pluralidade dos canais de

comunicação, no século XX, não há política nem político sem imagens. Tanto nas

ditaduras quanto nas democracias contemporâneas, imagens foram e continuam

sendo manipuladas, ou cuidadosamente elaboradas, para criar ou destruir projetos

políticos.

As imagens, frases e textos sempre terão diversas interpretações no cotidiano, e

se tratando de política essa crítica se abre em um leque de opiniões muito mais

abrangentes. Por esse motivo, esse artigo se propõe a analisar “santinhos políticos”

existentes e mostrar as significações que a imagem e o conteúdo desejam transmitir.

Ao analisar o corpus coletado na internet, em sites de busca, de “santinhos

políticos” utilizados em campanhas eleitorais passadas, observa-se que é possível

classificar os ethe em determinadas categorias. Abaixo mostraremos três categorias

que tiveram destaque na pesquisa diante a infinidade de posicionamentos que os

candidatos se propõem.

O irônico

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candidatos a vereador “Palhaço Pirilampo” e “Palhaço” apresentam-se com o

estereótipo de palhaço para ironizar a política.

O primeiro usa o rosto maquiado e o nariz de plástico vermelho, o que

representa uma imagem tradicional de palhaço. A expressão “Para fazer política

séria” é usada para indicar que até um palhaço, que é uma figura engraçada, é mais

sério do que os políticos.

O segundo está vestindo um figurino que nos faz associar diretamente à imagem

do palhaço utilizando a expressão “O mais sério dos Candidatos” para se mostrar

superior aos concorrentes por sua seriedade, mesmo contrariando a imagem que

transmite por meio de seu vestuário.

A Sexy

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

No contexto acima nos deparamos com a figura de uma candidata que pretende

passar por meio de seus atributos físicos uma imagem de sexy e vulgar, envolvendo

a sensualidade. Utiliza-se de suas curvas para chamar atenção com a exposição de

seu corpo com o intuito de atingir determinado público.

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Percebe-se com seu “santinho político” que a candidata em nenhum momento

usa expressões de comprometimento para ser uma vereadora séria, honesta e

preocupadas com os valores do povo.

O aproveitador

Nesse “santinho politíco” o candidato utiliza sua deficiência para formar um

discurso para se promover e se diferenciar dos outros candidatos, aproveitando-se

de sua condição para formar uma imagem de honesto.

O texto presente no santinho “O candidato que não passa a perna no eleitor” é

uma composição de uma expressão popular muito usada, para transmitir o sentido

de traição quando um engana o outro, o conhecido “passar a perna”. Aproveitando

de sua condição física, o candidato demonstra sua incapacidade em passar a perna

em alguém, fazendo com que os eleitores se sintam sensibilizados.

O “santinho político” possui um viés de humor negro que pode ser vista por

alguns de forma negativa, causando um impacto e gerando um desconforto ao

perceber que estamos zombando de um deficiente físico. Enquanto para outros essa

associação pode ser vista como engraçada e divertida.

O homem do povo

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A construção do “santinho político” de Gabeira mostra por meio de sua foto a

mensagem que o candidato pretende passar para o povo, dispensando um discurso

textual.

Com a expressão sorridente e seus braços simulando um abraço faz com que o

candidato transmita uma sensação de que se for eleito, o povo estaria acolhido. Sua

foto forma uma imagem positiva lhe dando credibilidade e honestidade.

O “santinho político” de Gabeira traz uma harmonia em sua composição,

utilizando cores da bandeira brasileira mostrando de forma acentuada sua

nacionalidade. No centro da foto traz o escrito “Rio” com um coração substituindo o

“O” para mostrar e afirmar seu amor pela cidade que pretende ser prefeito para

assim sensibilizar e persuadir seus eleitores.

4. CONCLUSÃO

Toda vez que alguém comunica algo, implícita ou explicitamente, mostra sua

identidade, real ou que se pretende construir, por meio de sua fala, escrita, pose,

estilo, comportamento. Independente da sinceridade ou não, o orador deve se dirigir

ao receptor de maneira que lhe cause uma boa impressão.

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Refletir sobre a forma que nos enunciamos, implica na observação de uma série

de fatores, como a seleção do que se vai falar e a forma de como se vai enunciar,

para que se consiga produzir de maneira eficaz uma imagem condizente com o que

o orador pretende. O comportamento e o texto utilizado pelo enunciador deverão

conter marcas lingüísticas que irão dar ao enunciado a imagem desejada, como a de

uma pessoa honesta, lutadora, forte, determinada, por exemplo.

A opção de trabalho com o gênero “textos e imagens de santinhos políticos”,

possibilita claramente o entendimento da importância da construção de uma imagem

e da percepção de que sempre procuramos construir uma imagem perante um

receptor. Os “santinhos políticos” passam a ser um instrumento de formação de

imagem para os políticos, pois integram um conjunto de ações que um candidato

pretende colocar em prática para conseguir persuadir e construir uma imagem

condizente com sua proposta de campanha atingindo o coletivo.

5. REFERÊNCIA BIBLIOGRÁFICA

BARTHES, 1970 apud MANGUENEAU, Dominique. Análise de textos de

comunicação. São Paulo: Contexto, 2002.

CHARAUDEAU, Patrick, MAINGUENEAU, Dominique. Dicionário de analise do

discurso. São Paulo: Contexto, 2008.

GOUVÊA, Maria Aparecida Rocha. O ethos dos motoristas: análise dos textos no

suporte parabrisa de automóvel. Cadernos do CNLF, Vol. XIII, N° 04, 2009.

MAINGUENEAU, 1984 apud AMOSSY, Ruth. Da noção retórica de ethos à análise

do discurso. Disponível em:

<http://www.americanas.com.br/produtos/manuais/833282.pdf>. Acesso em: 10 jun.

2010.

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MAQUIAVEL, Nicolau. O Príncipe. São Paulo: Martin Claret, 2000.