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O ESTUDO DA RAZÃO E PROPORÇÃO VIA RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS
Adriana Martins de Campos1
Angela Sacamoto2
RESUMO
Este trabalho refere-se ao relato de experiência de algumas atividades que estão relacionadas ao Programa de Desenvolvimento Educacional – PDE implementadas no Colégio Estadual “Antonio Garcez Novaes” da cidade de Arapongas no ano de 2011. A Resolução de Problemas foi a estratégia metodológica utilizada para o ensino dos conteúdos Razão e Proporção. Utilizando esta metodologia os alunos tiveram a oportunidade de trabalhar em grupos, trocar ideias, criar estratégias, formular conjecturas obtendo suas próprias conclusões. Esta estratégia proporcionou, também, a reflexão, o envolvimento e a participação dos alunos. Além disto, constatou-se a contribuição desta estratégia na formalização e construção de conceitos de Razão e Proporção.
Palavras-chave: Resolução de Problemas, Razão e Proporção
ABSTRACT
This article refers to the experience reports of some activities which are related to the Educational Development Program - PDE implemented in the State College "Antonio Garcez Novaes" from Arapongas city in 2011. The Troubleshooting was the methodological approach to the teaching of Ratio and Proportion content. The students had the opportunity to work in groups, exchange ideas, develop strategies, and formulate conjectures getting to their own conclusions through the usage of this methodology. This strategy also promoted reflection, involvement and participation of students. Moreover, we confirmed the contribution of this strategy in formalizing and constructing Ratio and Proportion concepts.
Keywords: Troubleshooting; Ratio; Proportion
1 Professora PDE 2010 2 Professora do Departamento de Matemática – UEL – Londrina - PR
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1 INTRODUÇÃO
Este artigo é o resultado de um trabalho desenvolvido no Programa de
Desenvolvimento Educacional (PDE), no qual apresenta uma proposta de ensino
utilizando como alternativa pedagógica a Resolução de Problemas com os alunos da
6ª série (7º ano) do Ensino Fundamental do Colégio Estadual Antonio Garcez
Novaes para trabalhar os conteúdos Razão e Proporção. A seguir, apresenta-se a
estrutura desta pesquisa que é composta por: um referencial teórico fundamentando
o trabalho; aspectos metodológicos; e, dados e análises relatando o que foi feito.
Quanto ao dados, estes foram coletados à partir de doze atividades que foram
desenvolvidas durante o período de agosto a novembro de 2011, tendo como base
a utilização de problemas cotidianos e curiosidades. Buscou-se, com essa
metodologia, despertar maior interesse e participação dos alunos. Dessas
atividades, selecionamos quatro para serem relatadas: Bolo de chocolate, Ampliação
e redução de figuras, Curiosidade sobre os animais e Corrida de fórmula 1.
Durante a implementação foi apresentado a quinze professores da rede
pública no Grupo de Trabalho em Rede (GTR), o Projeto, o Caderno Pedagógico e
os resultados que estavam sendo obtidos. Houve discussão, interação e sugestões
entre os participantes e o tutor, o que contribuiu para o enriquecimento nas práticas
em sala de aula.
Nesta proposta constatou-se que a tendência metodológica - Resolução de
Problemas - é uma estratégia pedagógica capaz de contribuir no ensino da
Matemática, podendo tornar as aulas de Matemática mais dinâmicas e atraentes. Os
problemas tendem despertar nos alunos questionamentos, elaboração de ideias e
construção de conhecimentos. A tentativa de descobrir a solução para problemas
estimula o raciocínio e abre novos caminhos para aprender Matemática.
2 REFERENCIAL TEÓRICO
2.1 RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS
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A Resolução de Problemas é uma das estratégias metodológicas em
Educação Matemática que, a partir da década de 70, vem ganhando espaço como
metodologia de ensino.
Durante muitos anos, resolver problemas consistia apenas em aplicar os
conteúdos aprendidos. O professor explicava o conteúdo e o aluno exercitava o que
havia aprendido. Nesta visão de ensino, o aluno é um ser passivo, que aprende por
repetição e memorização.
A estratégia Resolução de Problemas tem por objetivo construir conceitos,
ideias e procedimentos matemáticos, além de motivar e estimular a curiosidade,
atraindo, dessa forma, a atenção do aluno.
Segundo Schoenfeld (1997), “A resolução de problemas possibilita
compreender os argumentos matemáticos e ajuda a vê-los como um conhecimento
passível de ser apreendido pelos sujeitos do processo de ensino e aprendizagem”.
(IN PARANÁ, 2008, p.63).
Para Branca, (1997, p.4) “Resolução de Problemas é uma expressão
abrangente que pode significar coisas diferentes para diferentes pessoas ao mesmo
tempo e diferentes coisas para as mesmas pessoas em diferentes ocasiões”.
Branca interpreta a Resolução de Problemas como:
uma meta: o objetivo principal de estudar Matemática é resolver
problemas;
um processo: aplicação de procedimentos, métodos e estratégias na
resolução de problemas;
uma habilidade básica: habilidades que todos os alunos deveriam
conhecer para atuarem em uma sociedade.
Ao longo da história da evolução da Resolução de Problemas encontramos
muitas propostas que contribuíram na maneira de como aplicar esta estratégia em
sala de aula. Polya tornou-se uma referência em Matemática por apresentar um
conjunto de métodos e regras específicos para a resolução de problemas. Para ele,
resolver problemas é uma habilidade que se aprende por prática e imitação.
Segundo Polya (2006), “O problema pode ser modesto, mas se ele desafiar
a curiosidade e puser em jogo as faculdades inventivas, quem o resolver por seus
próprios meios experimentará a tensão e gozará o triunfo da descoberta”.
Polya apresenta quatro etapas para a resolução de problemas:
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compreensão do problema: nesta etapa o aluno tem que compreender
o problema e também querer resolvê-lo;
estabelecimento de um plano: o aluno baseia-se em experiências
anteriores e vivenciadas para resolver o problema. Se o plano não
funcionar, será preciso reformular o plano de resolução;
execução do plano: colocar em prática aquilo que foi estabelecido;
retrospecto: é uma fase importante e instrutiva do trabalho de
resolução. O aluno revisa os procedimentos, buscando possíveis erros,
validando os resultados e sempre que possível aperfeiçoando a
resolução.
Um dos questionamentos mais frequentes dos alunos é: Para que serve este
conteúdo? Ou ainda: Onde vou utilizar no meu dia a dia? Explicar aos alunos o
significado do conteúdo e onde podemos aplicá-lo ajuda a tornar nossas aulas mais
dinâmicas e atraentes. Trabalhando com a Resolução de Problemas estaremos
dando oportunidade aos alunos de como pensar, raciocinar e questionar.
Para Butts (1997, p.48) “Estudar Matemática é resolver problemas.
Consequentemente, cabe aos professores de matemática, em todos os níveis,
ensinar a arte de resolver problemas”.
Na Resolução de Problemas, o professor deve escolher problemas
interessantes e desafiadores para que os alunos sintam-se motivados a resolvê-los
e desenvolvam habilidades matemáticas. Deve criar também, um ambiente de
socialização, cooperação, interação e troca de ideias, mostrando que o importante
são os caminhos na busca da solução e não o resultado final.
Na estratégia Resolução de Problemas, o professor deve estar atento aos
obstáculos que deverão surgir durante a resolução, intervindo quando necessário e
deixando que os alunos utilizem o conhecimento que já possuem para resolvê-los.
Quando necessário o professor auxilia os alunos, questionando-os ou revisando
algum conteúdo. Após a resolução, os alunos apresentam e discutem suas
soluções, cabendo ao professor analisar o grau de dificuldade encontrado por eles,
os métodos de resolução e a possibilidade de apresentar um outro problema.
Diante disso, podemos sugerir que a inclusão de Resolução de Problemas é
uma proposta de trabalho interessante no cotidiano das aulas de Matemática.
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2.2 RAZÃO E PROPORÇÃO
No papiro de Rhind de 1650 a.C, um dos documentos da antiguidade,
mostra que naquela época já se utilizavam manipulações equivalentes à conhecida
“regra de três”. Entretanto, foi na China antiga que primeiramente ocorreu o uso
metódico da regra de três, tendo alcançado posteriormente a Arábia através da
Índia. Somente no fim do século XlV foram reconhecidas as ligações com as
proporções (GIOVANNI JUNIOR, José Ruy; CASTRUCCI, Benedicto, 2009).
No ensino tradicional, costuma-se definir razão como quociente da divisão
de dois números e proporção como igualdade entre duas razões. Estas definições
têm suas origens com os matemáticos gregos antes de Cristo, pois naquela época
eles não utilizavam as equações e também contornavam as dificuldades
relacionadas com os números irracionais.
Geraldo Ávila (1986, p.2) diz que, dispondo dos números reais (racionais e
irracionais) podemos:
[...] medir todas as grandezas e, em conseqüência, podemos sempre definir a razão de duas delas como o quociente de suas medidas. E não precisamos mais usar a superada teoria geométrica das proporções, muito menos os resquícios que dela ficaram na terminologia, na notação e, sobretudo, na maneira de apresentar fatos, como os problemas de “regra de três”. Estes podem ser ensinados no contexto algébrico de resolução de equações, com a dupla vantagem da simplificação e da unificação do ensino da Matemática. Seria até mais próprio que falássemos em variáveis
proporcionais em vez de grandezas proporcionais.
O ensino da proporcionalidade tem se constituído num conjunto de regras e
métodos, que é transmitido via memorização e repetição de exercícios, levando o
aluno a uma aprendizagem mecânica.
A aprendizagem da Matemática consiste em criar estratégias que possibilitam ao aluno atribuir sentido e construir significado às idéias matemáticas de modo a tornar-se capaz de estabelecer relações, justificar, analisar, discutir e criar. Desse modo, supera o ensino baseado apenas em desenvolver habilidades, como calcular e resolver problemas ou fixar conceitos pela memorização ou listas de exercícios (PARANÁ, 2008 p. 45).
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Ignorar os conhecimentos que os alunos possuem não deve ser a postura de
nenhum professor ao introduzir novos conceitos, e lembrar-se dessa assertiva é
essencial para o professor que introduz o estudo da proporcionalidade. Deste modo,
é necessário organizar esses conhecimentos, promovendo ações que favoreçam a
construção de conceitos e a formalização destes conteúdos através da aplicação
dos mesmos nos diversos campos da Matemática.
3 ASPECTOS METODOLÓGICOS
A implementação do projeto ocorreu no Colégio Estadual “Antonio Garcez
Novaes” com uma turma de trinta e oito alunos no período vespertino de agosto a
novembro de 2011. As atividades foram realizadas em período regular de aulas, pois
os conteúdos Razão e Proporção fazem parte do currículo da 6ª série (7º ano) do
Ensino Fundamental.
A Resolução de Problemas foi a estratégia pedagógica utilizada nesta
intervenção, para atender as dificuldades diagnosticadas.
Para realização deste trabalho foram realizadas muitas leituras e revisões
bibliográficas sobre Educação Matemática, Tendências em Educação Matemática,
Resolução de Problemas, Razão e Proporção.
Inicialmente, os alunos tiveram uma explicação sobre a implementação do
projeto e também foi proposto um contrato didático na tentativa de manter a
disciplina durante o desenvolvimento do trabalho.
As atividades foram realizadas em grupos de três e quatro alunos. No
decorrer das aulas ocorreram algumas mudanças promovendo uma melhor
interação entre os alunos.
Os problemas propostos focaram temas do dia a dia e curiosidades,
promovendo discussões, envolvimento e participação dos alunos. Houve momentos
para revisão de conteúdos como frações, bem como para apresentação de conteúdo
novo, porcentagem. “Algumas atividades foram realizadas fora da sala de aula como
por exemplo a preparação do bolo que ocorreu no laboratório, a atividade “Bolo de
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Chocolate” e a confecção de um painel na entrada do Colégio expondo a descoberta
sobre proporcionalidade na atividade “Curiosidade sobre os animais”.
Os alunos foram avaliados de acordo com os seguintes critérios:
Participação e desempenho nos grupos;
Apresentação de trabalhos pela equipe;
Relatório escrito após a realização de cada atividade.
4 RELATO DAS ATIVIDADES
Bolo de Chocolate3
A primeira atividade proposta (Bolo de Chocolate) foi realizada ao longo de
três aulas para o desenvolvimento do conteúdo de proporcionalidade. Ela foi
delineada a partir da leitura de uma receita de bolo de chocolate, seguida de
perguntas que visavam desenvolver nos alunos a capacidade de identificar se duas
grandezas são proporcionais ou não, como pode ser observado a seguir:
Observe atentamente a receita deste bolo de chocolate:
Fotografia: Autora
3 Atividade adaptada do livro didático Novo Praticando Matemática – volume 2 (ANDRINI, Álvaro;
VASCONCELLOS, Maria José, p. 29-31, 2006).
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Bolo de Chocolate
Ingredientes:
2 ovos
1 xícara de achocolatado
3 xícaras de farinha de trigo
2 xícaras de açúcar
1 xícara de óleo
1 xícara de água fervente
1 colher (chá) de bicarbonato
1 colher rasa (sopa) de fermento em pó
Preparo:
Bata as claras em neve e acrescente os ingredientes batendo-os na seguinte
ordem: açúcar, gemas, óleo, farinha, achocolatado, bicarbonato, fermento em pó e
por último a água fervente. Leve ao forno em forma untada por aproximadamente 45
minutos.
Responda:
a) Complete a tabela escrevendo a quantidade de ingredientes
necessários para adaptar as demais receitas à receita original:
Ingredientes Meia receita Uma receita
e meia
Dobrando a
receita
Ovos
Achocolatado
Farinha de trigo
Açúcar
Óleo
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Água fervente
Bicarbonato
Fermento em pó
Tempo de
cozimento
b) O que você observou após completar a tabela?
Antes da leitura e resolução das questões propostas, lançaram-se
questionamentos orais sobre os alunos que auxiliavam algum familiar no preparo de
algum tipo de receita, como bolos, tortas, etc. Foram poucos os alunos que
responderam que ajudavam os pais, alguns justificaram que a mãe raramente faz
um bolo por falta de tempo. Outra informação solicitada foi quanto a posse ou não
de um livro ou caderno de receitas em casa e, constatou-se que a maioria o possuía.
Após estes breves questionamentos, foi mostrado a eles um bolo de chocolate feito
com a receita que a professora havia colocado no quadro.
O bolo estava cortado em 21 pedaços. Perguntou-se, então, aos alunos se
da maneira como o bolo havia sido fatiado seria possível distribuir um pedaço para
cada um. Logo disseram que não, então foi questionado o que deveríamos modificar
na receita para que fosse possível todos comerem um pedaço do mesmo tamanho e
o bolo mantivesse o mesmo padrão de sabor.
Observou-se que os alunos que ajudam no preparo de receitas em casa
foram os primeiros a responder relatando que era necessário apenas dobrar todos
os ingredientes do bolo. Uma das alunas comentou que quando recebem visitas em
casa sua mãe sempre aumenta a receita. Com a ajuda dos alunos, ao lado da
receita original, foi escrito o dobro da receita no quadro. Em seguida, eles foram
levados ao laboratório para que pudessem “por a mão na massa”, ou seja, preparar
o bolo com a receita dobrada. Os ingredientes estavam todos à mesa e foi solicitado
a um aluno que lesse o modo de preparo do bolo.
Foi interessante, pois a maioria queria ajudar. No entanto, como eram 38
alunos ao todo, seria complicado que todos participassem. Deste modo, foram
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escolhidos aleatoriamente alguns alunos para desenvolverem as seguintes tarefas:
medir os ingredientes, manusear a batedeira, untar a assadeira, ir à cozinha para
pedir à cozinheira que ligasse o forno para pré aquecer e os demais foram
incumbidos de observar se os ingredientes estavam sendo medidos corretamente.
Na segunda etapa da atividade, foram formados grupos de 3 e 4 alunos para
o preenchimento da tabela proposta acima, logo após a leitura da receita
(ingredientes para meia receita, uma receita e meia e dobrando a receita). Ao
iniciarem esta etapa, surgiram então alguns questionamentos quanto à forma de
representar a quantidade de meia xícara e de uma xícara e meia. Constatou-se que
o grupo que apresentou mais dificuldades foi aquele responsável por adequar os
ingredientes para uma receita e meia. Houve questionamentos do grupo tais como:
“Como uma receita e meia? Não estou entendendo...” Um dos alunos chegou até a
pedir licença e explicar para os demais colegas que era só juntar os ingredientes da
receita normal com a metade (meia receita que haviam preenchido na primeira
coluna). Através desta intervenção do próprio colega de sala, os demais alunos
chegaram à conclusão que a explicação estava correta. Um dos grupos representou
3 xícaras como 1/5 e ao serem questionados pela professora/pesquisadora quanto a
esta representação, o grupo argumentou que 1/5 era o mesmo que 1,5 ou seja, 1
xícara e meia.
Pode-se constatar acertos nas decisões tomadas pelo grupo, mas também
puderam ser constatados alguns erros cometidos quando do preenchimento da
tabela no que se referia a coluna que deveria conter as quantidades de uma receita
e meia. Assim, observou-se 2 ½ ovos ao invés de 3 ovos, 3 ½ xícaras de farinha ao
invés de 4 ½ .
Quanto ao tempo de cozimento do bolo a maioria dos grupos, ou aumentou
ou o diminuiu de acordo com o tamanho da receita. Mais uma vez, observou-se que
os alunos que ajudam a mãe na cozinha tiveram maior facilidade de acertaram o
tempo de cozimento.
Quanto à questão “b” (O que você observou após completar a tabela?), os
grupos apresentaram as seguintes conclusões:
_ “Quando tem uma receita normal o dobro dela será 2 vezes a mais.”
_“Que os ingredientes aumentaram, diminuíram e ficaram mais ou menos.”
_ “Que há várias frações.”
_ “Que cada quantidade de bolo requer uma quantidade de ingredientes.”
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_ “Que o bolo leva muito tempo para assar por causa dos ingredientes que
aumentaram.”
_ “Conforme o tamanho do bolo os ingredientes aumentam ou diminuem,
mas o tempo de cozimento não.”
Observou-se, portanto, que em nenhum momento surgiu a palavra
proporcional. Isto provavelmente tenha ocorrido devido ao fato de que eles tinham
noção de proporcionalidade, mas de uma forma popular, não científica.
Ao término desta atividade (Bolo de Chocolate), foram colocados os dois
bolos na mesa da professora. Um cortado em 21 pedaços e o outro cortado em 42
pedaços, que foram distribuídos aos alunos. Além de proporcionar o estudo da
Razão e Proporção via Resolução de Problemas, um dos fatos mais gratificantes,
durante o desenvolvimento desta atividade, foi observar as crianças saborearem o
bolo de chocolate e agradecer pela atividade diferente. Os alunos até chegaram a
sugerir que fizéssemos outras receitas.
Ampliação e redução de figuras4
A segunda atividade proposta (Ampliação e redução de figuras) foi realizada
em duas aulas. Primeiramente foi apresentada uma figura (borboleta) para ser
ampliada e reduzida a partir de uma constante, como descrito a seguir:
Observe o desenho na malha quadriculada:
Imagem: Autora
4 Atividade adaptada do livro didático Matemática: Imenes & Lellis – 7º ano ( IMENES, Marcio Luiz; LELLIS,
Marcelo, p. 140, 2009).
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Reproduza o desenho da malha acima nas malhas quadriculadas a seguir:
Malha 1
Malha 2
Malha 3
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Escreva o que aconteceu com o desenho da:
a) 1ª malha;
b) 2ª malha;
c) 3ª malha;
d) Quais desenhos ficaram melhores e por quê?
Para a realização desta atividade, a figura (borboleta) foi desenhada no
quadro, na malha quadriculada e foi solicitado aos alunos que numerassem as linhas
e colunas para facilitar a visualização de cada parte do desenho na reprodução da
figura. Constatou-se já nesta primeira etapa da atividade que alguns alunos tiveram
dificuldades, pois se esqueciam de olhar a numeração das linhas e colunas.
Na reprodução da 2ª malha os alunos perceberam que o desenho estava
ficando deformado, pois a malha não era quadrada e sim retangular.
Alguns alunos perceberam que a primeira e a terceira malha eram a
ampliação e redução da figura e na segunda malha a figura perdeu a forma original.
Ao término do desenvolvimento desta primeira etapa, surgiram as seguintes
respostas dos grupos sobre o que aconteceu em cada malha:
1ª malha:
_ “ Aumentou e também esticou.”
_ “Ficou grande e parecida com a original.”
_ “Ficou maior, o desenho é igual, mas o tamanho não.”
2ª malha:
_ “É mais largo porque os quadradinhos são retangulares.”
_ “Ficou estranho.”
_ “Ficou comprido.”
_ “Alargou.”
_ “Ela esticou dos lados.”
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_ “O desenho não ficou igual.”
_ “O desenho ficou deformado.”
3ª malha:
_ “O desenho ficou pequeno.”
_ “É parecido com o original.”
_ “Diminuiu.” (a maioria)
Quais desenhos ficaram melhores e por quê?
_ “Malhas 1 e 3, porque a malha 2 foi feita de retângulos.”
_ “O da malha 1 e da malha 3 porque elas não ficaram desiguais como por
exemplo a 2, ela ficou como se estivesse esticada.”
_ “1 e 3 porque elas são normais, a única diferença é que uma é pequena e
a outra é grande.”
_ “1 e 3 apesar da 3 ter ficado menor, mas parecida com a original.”
_ “A malha 1, porque os quadrados eram maiores e mais fáceis de realizar o
desenho e a malha 3 também.
_ “A 1ª e a 3ª porque elas são quadradas e a 2ª é retangular.
Apenas um grupo não respondeu como os demais:
_ “A 1ª e a 2ª porque foi mais fácil e ficou mais bonito.”
Através da análise das respostas formuladas pelos grupos e apresentadas
acima, conclui-se que, com a realização desta atividade, os alunos perceberam que
os desenhos ficam parecidos com o original se forem aumentados ou reduzidos na
mesma proporção, e que, quando isto não ocorre o desenho fica deformado,
diferente do original.
Após os grupos terem relatado suas conclusões, a professora/pesquisadora
chamou a atenção para o fato de que as caricaturas servem como exemplo de
imagens não proporcionais que dão destaque a uma determinada característica
física de uma pessoa.
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Curiosidade sobre os animais5
Para realização da terceira atividade (Curiosidade sobre os animais) foram
utilizadas três aulas. A atividade foi introduzida através da leitura do texto a seguir:
Os animais são curiosos pelas suas interessantes dietas e padrões de
alimentação. Veja a seguir algumas informações sobre a quantidade de comida que
diferentes animais comem normalmente:
o urso polar macho pode pesar mais do que 680 kg e poderá comer
cerca de 68 kg durante uma refeição de 30 minutos, isto significa que
ele necessita em torno de 11 kg diários, já que faz suas refeições a
cada seis dias;
um morcego pesa cerca de 28g e poderá comer 28 gramas de comida
por dia;
a abelha rainha pesa cerca de 0,113 grama mas poderá comer cerca
de 9 gramas de comida por dia quando está pondo ovos;
em média, um tigre pesa cerca de 227 kg e pode comer cerca de 35 kg
de carne numa única refeição. Em compensação, os tigres esperam
vários dias para atacar um animal e fazer uma nova refeição, então ele
utiliza, em média, 6,4 kg de comida para manter sua energia corporal;
em média um hâmster fêmea pesa cerca de 100g e consome cerca de
11g de comida por dia;
um elefante normalmente pesa 4,1 toneladas e come cerca de 180 kg
de comida por dia;
em média um beija-flor pesa cerca de 3,1g e deve comer cerca de 10
minutos durante um dia. O beija-flor deverá consumir aproximadamente
2g de comida por dia.
(Caderno de Teoria e Prática 1 – Matemática na alimentação e nos
impostos – PDE/GESTAR ll – p.16)
Ao término da leitura, a seguinte atividade foi proposta para a turma:
5 Atividade adaptada do Programa Gestão da Aprendizagem Escolar – GESTAR II Matemática: Caderno de
Teoria e Prática 1 – TP1: matemática na alimentação e nos impostos (BRASIL, Ministério de Educação Básica p.17 – 21, 2008).
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Tabela 1
De acordo com as informações do texto complete a tabela:
Animais menores
Peso
Quantidade de comida ingerida diariamente
Morcego
Hâmster
Beija-flor
Abelha rainha
Animais maiores
Urso polar
Tigre
Elefante
Observando a tabela e comparando o peso do animal com a quantidade de
comida, responda as seguintes perguntas:
a) Qual animal consome mais alimento? Justifique.
b) Qual animal consome menos alimento? Justifique.
c) Comparando o seu “peso” e a quantidade de comida que você ingere
diariamente, com qual desses animais você se assemelha?
Observou-se que os alunos se interessaram pelas informações do texto, o
que contribuiu para a realização das atividades propostas.
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Passou-se, então, para próximo passo, que consistiu em questionar os
alunos da seguinte forma:
Preenchida a tabela 1, responda:
a) Qual animal consome mais alimento?
b) Qual animal consome menos alimento?
c) Comparando o seu “peso” e a quantidade de comida que você ingere
diariamente, com qual desses animais você se assemelha?
Pelas respostas obtidas, observou-se que eles não conseguiram relacionar a
proporcionalidade do “peso” com a quantidade de comida ingerida, pois
responderam ser o elefante o animal que comia mais e a abelha o que comia
menos.
Sendo assim, como próximo passo, a professora/pesquisadora antes de
propor o preenchimento da tabela 2 (exposta abaixo) pelos grupos, apresentou o
conteúdo porcentagem e a utilização da calculadora para possibilitar os cálculos
necessários para o seu preenchimento.
Tabela 2
Vamos calcular qual porcentagem representa um dia de alimentação de
cada animal a partir do seu peso.
Animal Peso/médio Comida/dia Porcentual
Morcego 28g 28g x100 = 100%
Hâmster
Beija-flor
Abelha rainha
Urso polar
Tigre
Elefante
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Ao preencherem a tabela 2, os alunos ficaram surpresos ao perceberem que
a abelha comia aproximadamente 7964,6% em relação ao seu “peso”.
Finalizando esta etapa, com o valor da porcentagem, ficou “claro” para a
maioria dos alunos que o tamanho e o peso do animal não são proporcionais à
quantidade de comida que ingerem. Foi sugerido pelos alunos que fosse calculada a
quantidade de comida ingerida por uma pessoa se comesse como uma abelha (o
“peso” x 7 964,6%).
Para encerrar a atividade foi confeccionado um painel na entrada do Colégio
com o título: Alunos do Colégio Estadual Antonio Garcez Novaes descobrem que
uma abelha rainha come mais que um elefante, após fazerem um estudo sobre
proporcionalidade.
No painel constava o texto: Curiosidade sobre os animais e desenhos dos
mesmos; um cartaz com os dados da tabela 2 (animal, peso/médio, comida/dia e
porcentual); e, a frase: “Se uma pessoa adulta “pesando” 60 kg comesse na mesma
proporção que uma abelha rainha quando está pondo ovos, esse adulto comeria
aproximadamente 4778,76 kg em um único dia”.
Observou-se que a confecção do cartaz, além de mostrar uma descoberta,
valorizou o trabalho dos alunos, pois houve elogio de professores e pais de alunos.
Corrida de Fórmula 16
A última atividade (Corrida de fórmula 1), proposta foi realizada em duas
aulas. Cabe ressaltar, que na ocasião, os alunos ainda não tinham o conhecimento
da grandeza inversamente proporcional.
Primeiramente apresentou-se o seguinte problema para a turma:
Ao participar de um treino de Fórmula 1, o competidor Sebastiano Bettel fez
o percurso em 17 segundos, imprimindo velocidade média de 210 km/h. Se a
velocidade média de seu adversário Mewis Ramilton foi de 238 km/h, qual foi o
tempo gasto por ele no percurso?
6 Atividade adaptada do livro didático A conquista da matemática – 7º ano (GIOVANNI JUNIOR, José Ruy;
CASTRUCCI, Benedicto, p. 283, 2009).
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Os alunos resolveram o problema utilizando a regra de três, como grandeza
diretamente proporcional, obtendo como resultado 19,26 segundos. Após alguns
questionamentos por parte da professora/pesquisadora foi solicitado que lessem
novamente o problema e o resultado por eles apresentado. Então, os alunos foram
capazes de perceber que o resultado não estava correto, uma vez que aumentando
a velocidade, o tempo seria reduzido. Eles foram capazes de chegar à conclusão de
que a grandeza envolvida não era diretamente proporcional, pois para ser
diretamente proporcional deveria aumentar uma e a outra também, ou, diminuir uma
e outra também.
Após muitos cálculos e discussões um dos grupos chegou ao resultado
correto resolvendo da seguinte maneira:
17 210
X 238
238 : 17 = 14
210 : 14 = 15
Os comentários apresentados por este grupo acerca do desenvolvimento
dos cálculos acima apresentados foram os seguintes:
“Esse problema não é diretamente proporcional porque ele aumentou a
velocidade e diminuiu o tempo. Então em vez de multiplicar em cruz nós dividimos
em cruz para chegar ao resultado.”
5 CONSIDERAÇÕES FINAIS
Utilizar a estratégia metodológica Resolução de Problemas foi uma
experiência gratificante, pois demonstrou que os alunos sentem-se motivados e que
são capazes de formularem hipóteses, utilizando conhecimentos do dia a dia,
fazendo tentativas e comparações e validando seus resultados. O trabalho em grupo
contribuiu para troca de ideias, para despertar o interesse em ajudar os colegas que
apresentavam dificuldades e para o sentimento de satisfação ao encontrarem um
caminho diferente para solucionar um problema.
Na realização das atividades observou-se a importância em explorar as
experiências vivenciadas pelos alunos, demonstrando que a Matemática está
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presente em nosso cotidiano. Faz-se, imprescindível, consequentemente, o
refinamento e formalização do saber “comum” por parte do professor para que tais
saberes sejam aplicados nos diversos campos da Matemática.
É importante ressaltar, como professora/pesquisadora, que as atividades
mais interessantes foram aquelas que, de imediato, todos os alunos responderam de
forma incorreta. Alguns destes “erros” levaram os alunos a formularem hipóteses e
descobrirem sozinhos onde erraram após terem resolvido o exercício seguinte, sem
que houvesse a intervenção direta da professora. Em outros “erros” houve apenas
um pequeno alerta por parte da professora, fazendo com que os alunos fizessem a
leitura novamente e descobrissem por si só que o resultado não estava correto.
Além disto, o delineamento das atividades para serem desenvolvidas em
grupo foi aprovado pela maioria dos alunos, pois oportunizou um maior
entrosamento entre professor e alunos, propiciando aos mesmos exporem as suas
ideias, participando da construção de seu próprio conhecimento.
REFERÊNCIAS
ANDRINI, Álvaro; VASCONCELLOS, Maria José. Novo Praticando Matemática,
volume 2. São Paulo: Brasil, 2006, p. 29-31.
ÁVILA, Geraldo. Revista do Professor de Matemática, nº 8, 1º semestre de 1986,
p. 2.
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