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TREM DA HISTÓRIA – Fidel segue para a comemoração do 2º aniversário da invasão do palácio de Fulgencio Batista por universitários, quando 27 jovens foram mortos ALIÁS EDIÇÃO ESPECIAL OS 50 ANOS DA REVOLUÇÃO CUBANA Próxima parada: quem arrisca dizer? Por pressão externa ou moto próprio, Cuba terá de cruzar a ponte que separa passado e futuro Mauricio Font analisa a transição política e o desafio de um novo modelo econômico. Anthony DePalma mostra como El Comandante controla a própria imagem. Leonardo Padura discute o mito da sociedade homogênea. Daniel Erikson fala da “inimizade íntima” que liga os EUA à ilha rebelde. Félix Sautié Mederos trata do retorno à religiosidade. E Sérgio Augusto revisita a jogatina pré-revolucionária. Paraondevaio ExpressoFidel AP-13/3/1959 %HermesFileInfo:J-1:20081228: O ESTADO DE S. PAULO DOMINGO 28 DE DEZEMBRO DE 2008 7 8 9 10 11 12

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Page 1: O ESTADO DE S. PAULO28 DE DEZEMBRO DE 2008 … · sia, em 1917, e a da China, em 1949,passaram por transições ... ma, em novembro de 1956, e o ˜nalde1961,masseguramente atéa épocadasaídadeChede

TREMDA HISTÓRIA – Fidel seguepara a comemoração do 2º

aniversário da invasão do paláciode Fulgencio Batista por

universitários, quando 27 jovensforammortos

ALIÁS EDIÇÃOESPECIAL

OS50ANOSDAREVOLUÇÃOCUBANA

Próximaparada: quemarrisca dizer? Por pressão externa oumotopróprio, Cuba terá decruzar a ponte que separa passado e futuro Mauricio Font analisa a transição política e odesa�odeumnovomodeloeconômico. AnthonyDePalma mostra como El Comandantecontrola aprópria imagem. LeonardoPadura discuteomitoda sociedadehomogênea.DanielErikson falada“inimizadeíntima”queligaosEUAàilharebelde. FélixSautiéMederostrata do retorno à religiosidade. E SérgioAugusto revisita a jogatinapré-revolucionária.

ParaondevaioExpressoFidel

AP-13/3/1959

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O ESTADO DE S. PAULODOMINGO28 DE DEZEMBRO DE 2008

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Nas trilhas da

Mauricio Font*

Asduasgrandesrevoluçõesso-cialistas do século 20, a daRús-sia, em 1917, e a da China, em1949, passaram por transiçõesque alteraram fundamental-mente, ou mesmo subverte-ram, suas missões originais. Oque anda deixando os especia-listas intrigados é o fato de aRevolução Cubana não ter se-guido esse caminho. De fato, osocialismocubanoresistenota-velmente mesmo a reformasmoderadas como as adotadasporMoscou ePequim.

Cubaoptoupeloretornoàor-todoxia em meados da décadade 80, nummomento em que aUnião Soviética adotava a pe-restroikaeaglasnosteoschine-sescomeçavamaabriraecono-mia para investidores interna-cionais. Fidel Castro sentiu-seplenamente justi�cadoquandoas reformas de Gorbachev fo-ramseguidaspelocolapsodore-gimeeporumatransformação,por vezes caótica, da União So-viética e da Europa Oriental,queacabaria emumregimepo-lítico-econômico baseado emmercadosepolíticascompetiti-vos.Reformasimportantes,em-bora limitadas e no �mbastan-te abrandadas, só ocorreriamem Cuba entre 1993 e 1995, empleno “período especial”, a difí-cil crise que se seguiu ao colap-sodosocialismonaUniãoSovié-tica e na Europa Oriental. En-tretanto, por que não aprendercom as experiências graduais,mas em geral bem-sucedidas,de Deng Xiaoping no campo domercadonocontextodeumgo-verno de partido único?

Desde que assumiram o po-der,em1959,os líderesdaRevo-luçãoCubanaresistiramàspolí-ticas que poderiam ameaçarseu governo, considerando aunidadenacional sobumgover-nocentralizadoumaquestãodesobrevivência. Os reformado-res chineses praticamente eli-minaram as idéias e os antigosdogmasdeMaoTsé-tung–ape-sar de continuarem a se de�nircomo comunistas. E apesar deStalin não ter sido bem-sucedi-do no intento, a era Gorbachevcomeçou a distanciar-se dospaisfundadores,emboraduran-tea transiçãoos líderesdaRús-sianãoseafastassemtotalmen-te de Lenin e mantivessem ex-posto à visitação seu corpo em-balsamado, na Praça Verme-lha.Ao contráriodaRússia edaChina, os pais da RevoluçãoCubanaaindaestãovivos, exer-cendoseuscargos, e comosem-pre sensíveis a possíveis amea-ças à ordem estabelecida. O�-cialmente, Cuba continua com-prometida comas idéias e valo-resdeFidel Castro, cujos edito-riais de primeira página de�-nem os critérios fundamentaisque pautam a organização doEstado e da sociedade cubana.A infalibilidadedeFidelperma-nece umdogmao�cial.

IMUNIDADEÀ TRANSIÇÃOMesmo assim, pode-se indagarquanto às razões da estabilida-depolítica.Aindaquesejadifícilavaliar o grau atual de apoio in-terno,nãohácomonegaraenor-me popularidade de Fidel Cas-tronosestágios iniciaisdarevo-lução e sua constante liderançanos momentos mais cruciais.Morei em Cuba, quando jovem,nostrêsprimeirosanosdarevo-lução, e lembrodas eletrizantestransmissões por ondas curtasdosrebeldes�delistasnaSierraMaestra, o júbilo geral com aqueda do regime de Batista, nodia 1º de janeiro de 1959, e a ex-plosãodepaixão revolucionáriados primeirosmeses da revolu-ção. Os discursos de Fidel pelatelevisão deixavam os cubanosde todas as idades num estadode transe. Amaioria da popula-çãoodiavaaditaduradeBatista

e sua vontade de participar ouapoiarmovimentosdeoposiçãodeveservistamaiscomoummo-vimentonacionalpelademocra-cia. Fidel e os barbudos conse-guiram captar esse sentimentoeapresentar-se comoos líderesfundadores de umanova era napolítica de Cuba que derrotariaa corrupçãoeoutrosmales. Emtermos weberianos, a deles erauma autoridade carismática.Baseados nela, os revolucioná-rios cubanos trataram rapida-mente de consolidar sua posi-ção política. Somente depois,mais precisamente após o fra-casso dos EUA na da Baía dosPorcos, em abril de 1961, eles sedeclarariam socialistas e, maistarde, comunistas.

Issofoinaquelaépoca.Omo-nopóliodopoderedosmeiosdecomunicação ajudou a moldare manter a nova ordem emer-genteemCuba.Foi criadorapi-damente um formidável e e�-cienteaparatodesegurança in-terna, e semdúvida isso in�uiudemaneiradecisivaparaaesta-bilidadepolítica.Oregimeaper-feiçoou uma capacidade sur-preendente de identi�car, der-rotar, reprimir ou neutralizaros inimigos.Emconjunto,essesfatores imunizaram Cuba con-trao avançode toda equalquerpolítica que seus líderes consi-derassem indesejável.

Além disso, a revolução es-tendeu o acesso à assistênciamédica,educaçãoeoutrosbene-fícios básicos da previdência amuitos cubanos aos quais nopassado isso era vedado. Os re-beldes revelaram-se e�cientesem serviços básicos e em áreascomo defesa e Forças Arma-das, esportes, mobilização emmassa,serviçosmédicoseaten-dimentoememergências comofuracõeseoutras ameaçasà se-gurança do povo. O número re-lativamente reduzido de mor-tos nos três furacões da tempo-rada de 2008, a pior emmuitosanos, comprova sua capacida-de de proteger a populaçãocubana comoum todo.

As idéias são importantes,sim. E nenhuma foi e continuamaise�cazdopontodevistapo-lítico que as acusações dos líde-res cubanos aos Estados Uni-dos por tudo que vai mal emCuba. Tiveram nisso um suces-so fenomenal,e,mais importan-te, convenceram muitos cuba-nos de que os EUA constituemuma ameaça permanente à so-berania nacional e à própria es-sênciadaidentidadecubana.Fi-del Castro teve pleno êxito emmostrarosEUAcomoumaenti-dade imperialista que ameaçaCubaeahumanidade.Oregimetambém trabalhou de todos os

modospara convencer os cuba-nos de que seus líderes são osúnicos e verdadeiros defenso-res do nacionalismo de Cuba.Nessa perspectiva, Fidel é ogrande líder da nação cubana.

OCONTEXTOGLOBALA famosa entrevista com FidelCastro na primeira página doNew York Times em 1957 ensi-nou ao líder do exército rebeldedaSierraMaestraqueelepode-ria usar a mídia internacionalpara cultivar sua imagem. Nu-ma época em que se pensavaqueestivessemmortosouderro-tados, o artigo de Herbert Ma-thewsmostrouumaimagemmí-tica de Fidel e seus guerrilhei-ros. Por ummomento, a simpa-tiaeoapoioexternostornaram-seumadimensãoimportantedaRevolução Cubana. Quatro �l-mes feitos recentemente sobre

CheGuevaracomorebeldeem-blemático do século 20, faça-nha que não teve iguais entreos líderes da Revolução Russaou da Chinesa, mostram o po-der,emescalamundial,do sim-bolismo dos rebeldes. Retros-pectivamente, os poucos anosentre a chegada do iate Gran-ma, em novembro de 1956, e o�nal de 1961,mas seguramenteaté a época da saída de Che deCuba, em 1965, produziram asimagens duradouras dos jo-vens e fotogênicos rebeldes.

Fidel, Che e os barbudos daSierra Maestra arrebataramos corações e asmentes dos la-tino-americanos e de umgran-de número de pessoas em todoo mundo. Eles exploraram oapelo romântico da juventudeque lutava por seus ideais, dis-posta a ações corajosas e agrandes riscos na busca de ummundomelhor.Poucoscontes-taram sua visão do con�itocomopoderosovizinhoaonor-te como uma luta entre Davi eGolias. Um mundo repleto dedesigualdades os consideravaosímbolodaesperançadosdes-possuídos e oprimidos.

Durantemuitos anos os líde-res cubanos souberam usar ha-bilmente sua reputação, cora-gemecapacidadeparaconquis-tar o vital apoio internacional.Os soviéticos forneceram umaajuda de cerca de US$ 65 bi-lhões à Revolução Cubana até1990. As aliançasmilitares e es-tratégicas com os socialistaspermitiramqueCubaempreen-desse importantes campanhasmilitares em Angola e na Etió-pia.No início dadécadade 60, aCuba revolucionária apoiava osguerrilheiros de esquerda na

América Latina, no Congo e emoutraspartesdomundo.Eviden-temente, os cubanos superesti-mavam seu poder. O próprioChe ousou considerar-se um lí-der revolucionário na África, eentãoempreendeuumatentati-vadesastradaefataldetransfor-mar a América do Sul numaSierra Maestra. A morte, em1967, consolidousua imagemde�gura emblemática emártir darebeldia idealista.

Nosanos80, edepoisnos90,a “solidariedade internaciona-lista” cubana por meio de cam-panhas militares não foi maispossível. Os líderes de Havanamudaram para um novo inter-nacionalismoquesebaseavanoenvio de organizações médicas

eserviçospro�ssionaisaoexte-rior. Na viradado século, quan-do a Venezuela deu uma consi-derável guinada para a esquer-da com Hugo Chávez, Cuba ci-mentou esse papel. A incansá-velcampanhaideológicaqueta-chavaosEstadosUnidosdepo-tência imperialistaserviuaore-gime para obter o apoio de ad-versários dos EUA como a Ve-nezuela,mas tambémdaChinae agora da Rússia. Mais umavez,oapoio internacional foies-sencial para sustentar a econo-mia cubana. Na América Lati-na, Cuba conseguiu ser admiti-danoGrupodoRio enoMerco-sul, assim como nas estruturasalternativas criadas sob a lide-rança venezuelana.

CRISE EMUDANÇAA doença que levou Fidel Cas-tro a se afastar do poder, emjulhode2006,ea transferênciatemporáriadopoderparaRaúlCastro, formalizadaemfeverei-ro de 2008 com a eleição desteparapresidente,pareceusinali-zar a possibilidade de umamu-dança estrutural em Cuba. Narealidade, uma série de impor-tantes mudanças vinha ocor-rendo desde a década de 90.Embora freqüentemente me-nosprezadas comomedidas deadaptação, de pequena escala,parapreservarosistemaatual,essasmedidas – a liberalizaçãodasmoedas fortes edas remes-sas, permitindo a abertura depequenas empresas – tiveram

COMBATENTES– Daesq. paradir., Raúl Castro, JuanAlmeida, Fidel, RamiroValdéz eCiroRedondoGarcía emSierraMaestra: líderes

NA AMÉRICA LATINA,CUBA CONSEGUIU SERADMITIDA NO GRUPODORIOENO MERCOSUL

ÍCONE– CheGuevara em1964, na sededaONU, emNovaYork: retratadoemquatro �lmes recentes

Em 1º de janeiro de 1959, Fidel Castro e seus seguidores chegavam à vitória contra aditaduradeFulgencioBatista,numadasrevoluçõesdemaiorimpactodoséculo20.ComaderrotadesuastropasemYaguajayeSantaClara,Batistadecidiudeixaropaísemplenoréveillon, fugindoparaaRepúblicaDominicana.Fidel,quecontrolavaSantiagodeCuba,determinou então que as colunas de Che Guevara e Camilo Cienfuegos marchassem

AP-29/12/1964

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DOMINGO, 28 DE DEZEMBRO DE 2008 ALIÁS J3O ESTADO DE S. PAULO ALIÁS J3

revolução

um efeito cumulativo. Na se-gunda metade dos anos 90, Fi-del Castro assinalou o �m doprocessodereforma.Asmobili-zações de massa em torno docaso Elián González e a “bata-lha de idéias” voltaram a dire-cionar a atenção nacional paraamobilização coletivaemdefe-sa do regime centralizado con-trolado pelo Estado, mais umavez justi�cado pela batalha danação cubana contra os EUAimperialistas. Nesse contexto,aascensãodeRaúlCastroàpre-sidência fezcomquemuitoses-perassem uma aceleração doprocessode reforma.Em2007,Raúlfaloudanecessidadedere-formas estruturais. No iníciode2008, foramanunciadospas-sos relativamente tímidos. Onovo chefe de Estado imple-mentou algumas reformas –permitindo a ampliação da ati-vidadeagrícolaprivada,acom-pra de celulares e computado-res pessoais.

Mas o presidente Raúl Cas-tro está semovendocomgran-decautela.Suaeleiçãoemfeve-reiro de 2008 incluiu a escolhapara o cargo de vice-presiden-tedeumlinha-durapertencen-teàvelha-guarda, lealaoproje-to revolucionário tradicional.Emjulhodesteano,onovopre-sidente, de 75 anos, reduziuaparentemente as perspecti-vas de mudança, embora seugoverno continue pressionan-do por um projeto de lei quesubstitua a escala salarial ba-seada no igualitarismo por ou-tra baseada na produtividadee no mérito. A hesitação deRaúl provavelmente decorreem grande parte da constantepressão da linha dura.

No segundo semestre de2008, três furacões causaramprejuízos de bilhões de dólaresà agricultura, às construções eà infra-estrutura. O governosubstituiu três ministros – daEducação, Investimentos Ex-ternoseAgricultura.Ogeneral

Ulissesdel Toro,quepresidiuàconsolidaçãodosetoraçucarei-ro, foi nomeadopara apasta daAgricultura e seu vice tornou-seoresponsávelpelosetoraçu-careiro.Essasnomeaçõespuse-ram o importante setor nasmãos de um general próximode Raúl, que foi chefe das For-çasArmadasdesde1959econti-nua sendoo general demais al-ta patente de Cuba. Na crisedosanos90,oExército realizoureformasagrícolasqueaumen-taramaofertadealimentos.Co-moCubaimportamaisdameta-de dos alimentos que consomee cultiva apenas 45% da terraagriculturável,areformadose-tor agrícola será prioritária.

Oseconomistasdeforamui-tas vezes de�niram a discus-são da transição em Cuba emtermos das questões normati-vasquesurgemnassociedadespós-comunistas, como a conti-nuação e o alcance da estraté-gia de transição. Por exemplo,osdoisparadigmasda estrutu-ração das mudanças econômi-cas nas sociedades pós-comu-nistas enfatizam uma transi-çãoaceleradaparaumaecono-mia de mercado baseada naconcorrência(privatizações, li-vre trânsitodemercadoriaseamenor intervençãoestatalpos-sível), como na antiga URSS,ouumaestratégiagradual,quecombine a liberalização lentacom uma signi�cativa partici-pação do Estado e os esforçospara impedir os colapsos sistê-micosqueameaçariamempre-gos,aposentadoriaseaestabili-dade da política, como na Chi-naenoVietnã.Naatualdinâmi-ca, parece mais provável emCubaalgomaispróximodaúlti-

ma alternativa. Alguns conti-nuam considerando exagera-das as expectativas demudan-ça, particularmente no que serefereàestabilidadedoregimeno sistema de partido único.No curto prazo, pelomenos, is-so parece mais provável queuma única explosão de refor-mas políticas e econômicas ru-mo a uma transição rápida.

NOVOCAPÍTULOO ano-novo deverá assinalarmuito mais que ummarco his-tórico para a revolução cuba-na, e seguramente trará novosdesa�os e oportunidades. ApossedeBarackObamanapre-sidência, no dia 20 de janeiro,resultaráemsubstanciais alte-rações de conteúdo e tom nasrelações comCuba. O candida-toObamaprometeu liberalizaras viagens e o envio de remes-sas de dinheiro dos cubano-americanos. No contexto de li-nha dura seguido pelo governodeGeorgeW. Bush, isso abriráuma janela de oportunidadesparaanegociaçãodotipodere-laçõesqueCubaeosEUAdeve-rão manter. Se os EUA estãoprestes a ingressar em um pe-ríodo de considerável �exibili-dade na política em relação aCuba, a posição de Cuba é me-noscerta.A�nal, o embargo foiútil para a linha dura. Caracte-rizando-o como um "bloqueio"que con�rma a agressividadeimperialista dos EUA, as auto-ridades cubanas o usaram pa-ra manter sob controle a in-�uência americana e dos cuba-no-americanos.

Além disso, as fenomenaisdisparidadesda renda entre oscubanos da ilha e os que vivem

nosEUAdeverãopreocuparosestrategistascubanosquantoàreação da sociedade cubana aumaavalanchedecubano-ame-ricanos,aoaumentodasremes-sas, ao turismo, e à in�uênciageral dos EUA.

A crise �nanceira global e arecessãoiniciadasem2008con-tribuirãoparadeterioraraposi-ção internacional dos EUA.AmigoseinimigosdosEUAten-tarão usar os respectivos reali-nhamentos globais em benefí-cio próprio, gerando novas op-ções para Cuba. A Venezuelade Hugo Chávez procurarámanter seu recente papel, em-bora a queda dos preços do pe-tróleo devam minar sua posi-ção internacional. China e Rús-sia, mas também o Brasil e ou-trospaíses emergentes,melho-raramou estão planejandome-lhorar as relações com Cuba.Essasmudançaspoderãorefor-çararesistênciacubanaàrefor-ma fundamental. Entretanto, amudança dos EUA na questãoda cooperação internacional emultilateralcriaránovasexpec-tativasedinâmicasqueoscuba-nos levarão em consideração.

A resposta cubana aos desa-�os e às oportunidades do mo-mentoatual seráumamudançahistóricaquedeterminaráodes-tino da sociedade e da revolu-ção do país nos próximos anos.A dinâmica da política internainteragindocomocomplexodo-mínio internacional, que estáemconstante evolução, in�uiránas escolhas fatais dos líderescubanos. No curto prazo, os re-formadoresdeverãoganhares-paçoemrelaçãoaosdefensoresda linhadura.Masasprincipaismudanças di�cilmente serãoviáveisenquantoFidelgozardeumasaúde razoável.Neste sen-tido,pressupõe-sequeadoençade Fidel continuará cobrandoseu preço, que Raúl Castro ecompanhia consolidarão suaposição e que a transformaçãodo contexto internacional am-pliará o alcance das escolhascom que eles se defrontam. Nomédioprazo,a inevitáveltransi-çãodaliderançadepoisdamor-te de Fidel e dos envelhecidosrebeldesdaSierraMaestrapro-porcionará o contexto para ade�nição de uma linha políticapós-castrista e de uma revisãodomodelo econômico. O pontocrucial será o que os jovenscubanos escolherão fazer como legado de Fidel, incluindo oprofundonacionalismocontidonessa herança.

O caminho russo ou o chinêsparecemmuitoimprováveispa-raCuba.Masesteéseguramen-te um momento de inovação etransformação. A alteração dadinâmica internacional, depoisdoiníciode2009,contribuirápa-ra de�nir como a sociedadecubana responderá aos desa-

�os e tomará as decisões maisimportantesaode�nir seu futu-ro. Uma questão cada vez maisinteressanteéopapelqueoBra-sileoutrospaísesdaregiãoopta-rãopordesempenharnessacon-juntura tão crítica.

*MauricioFont,cubanoradicadonosEUA,édiretordoBildnerCen-terforWesternHemisphereStu-dieseprofessordesociologianaUniversidadedaCidadedeNovaYork.Éautorde CubanCounter-

points eTransformingBrazil:ARe-formErainPerspective (ambospelaRowman&Little�eld)

26/7/1953– FidelCastrocoman-daataquefrustradocontraoQuar-telMoncada,emSantiagodeCuba.15/5/1955– Anistiado,Fideldei-

xaaprisão;emjulho,segueparaoexílionoMéxico,ondeconheceriaErnestoCheGuevara.25/11/1956– Fideleumgrupo

deseguidorespartemnonavioGranmarumoaCuba.Nodesem-barque,naPraiaLasColoradas,a2dedezembro,sãoatacadospelasforçasdoditadorFulgencioBatista.Fidelescapaeserefugia,comseuirmãoRaúleChe,emSierraMaes-tra; láorganizariaaguerrilhaqueiriatomaropoder.1/1/1959– Comasúltimasderro-

tas in�igidaspelosrebeldesasuastropas,BatistafogedopaíseosguerrilheiroscastristasaschegamvitoriososaHavana.20/10/1960– OsEUAdecretam

embargoàsexportaçõesdeCuba,quepassaadependerdocomérciocomaUniãoSoviética .3/1/1961– EUArompemrela-

çõesdiplomáticascomailha.17-19/4– Fracassaainvasãoda

BaíadosPorcosporexiladoscuba-nosapoiadospelosEUA;oobjetivoeraderrubarFidel.27/2/1962– Umaviãoamerica-

nodeespionageméabatidoaoso-brevoarailhaeseupilotomorre.22/10– Emdiscurso transmiti-

dopelo rádioepelaTV,opresiden-teamericano, JohnKennedy,de-nunciaapresençademísseis so-viéticosemCuba.Doisdiasde-pois começaobloqueionaval àilhapara impedira chegadadenovosmísseis.28/10– OlídersoviéticoNikita

KrucheveKennedyfechamacordoeoKremlinautorizaaretiradadosmísseis.3/10/1965– Fidel lêempúblicoa

cartaemqueCherenunciavaaoscargosquedetinhanogoverno.8/10/1967– Cheécapturadoe

mortonodiaseguintenaBolívia.17-22/12/1975– Realiza-seoI

CongressodoPartidoComunistadeCuba;Fidelécon�rmadonocar-godesecretário-gerale,noanose-guinte,torna-sechefedoEstado.2-5/4/1989– Olídersoviético

MikhailGorbachevvisitaa ilha.29/08/1990– Diantedocolapso

daURSSedasdi�culdadeseconô-micasdeledecorrentes,Fideldecre-taoPeríodoEspecialEmTempodePaz, impondorestriçõesaoconsu-modegasolinaedeeletricidade.24/09/1992– Congressoameri-

canoaprovaaLeiTorricelli,queproíbepor180dias ,apartirdasaí-dadeCuba,aentradaemportosamericanosdenaviosquehajamancoradonailha.12/3/1996– OpresidenteBill

ClintonaprovaaLeiHelms-Burton,queimpõesançõesapaíseseem-presasquenegociaremcomCuba.18/3/2003– Inicia-seumaonda

derepressãocontraaadissidência;75opositoressãocondenadosapenasdeaté28anosdeprisão.31/7/2006- Obrigadoasesub-

meteraumacirurgia intestinal,Fi-del,entãocom79anos,passaprovi-soriamenteache�adogovernoaseuirmãoRaúl,de75.19/02/2008– FidelCastro re-

nunciaeRaúlCastroassumeache-�adanação.

População: 11.423.952 (2008)

Distribuiçãourbana/rural:76%/24% (2005)

Gruposétnicos :51% mestiços,37% brancos, 11% negros,1% outros

Religião: 40% católicos, 30%semreligião, 17% ‘santería’ecultosafricanos, 7% ateus, 2%protestantes, 4% outros

Expectativadevida :77,3anos(2008*)

Mortalidadeinfantil:6mortesacada 1.000recém-nascidos(2008**)

PIBgastocomEducação:8,7% (2000-2001***)

PIBemgastosmilitares:4% (2003****)

(*)Brasil,72,7anos,EUA,78,1,Alemanha,79,1,Suécia,80,7; (**)Brasil,27,EUA,6,Alemanha,4,Suécia,3; (***)Brasil,4%,EUA,4,9%,Alemanha,4,8%,Suécia,7,7%;(****)Brasil,1,8%,EUA,3,7%,Alemanha,1,5%,Suécia,1,8%.

Fontes: ONU,FAO,UnescoeUnitedStatesCensusBureau.

consideraramaunidade nacionalumaquestãodesobrevivência

CADEIRAVAZIA– NaAssembléiaNacional, o lugar deFidel émantidodesocupado, ao ladododeRaúl

DEOLHONOTIGREASIÁTICO– Fidel recebeopresidente chinêsHu Jintao

AVENTURACASTRISTA

sobreHavana,ondeacabariamnãoencontrandoresistência. ElComandante entrariaemtriunfo na capital somente no dia 8. Para todos os efeitos, omovimento castrista lutaraapenasparaderrubarumregimecorruptoeantidemocrático.Mas logoFidelanunciariaque Cuba se tornara socialista. Meio século de apego cristalizado ao comunismo levahojeàquestãodecomoopaís,agoragovernadoporRaúlCastro,desenharáoseufuturo

A ILHA CONTADACuba em números

INTERNATIONAL NEWS PHOTOS-3/7/1958 ENRIQUE DE LA OSA/REUTERS

JUVENTUD REBELDE/REUTERS