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O estado das aves comuns em Portugal 2011: Relatório do projeto Censo de Aves Comuns Lisboa, Março 2013

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O estado das aves comuns em Portugal 2011: Relatório do projeto Censo de Aves Comuns

Lisboa, Março 2013

2 O estado das Aves Comuns em Portugal 2011

O estado das aves comuns em Portugal 2011: Relatório do projeto Censo de Aves Comuns

Lisboa, Março 2013

Faísca

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Trabalhar para o estudo e conservação das aves e seus habitats, promovendo um desenvolvimento que garanta a viabilidade do património natural para usufruto das gerações futuras.

A SPEA – Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves é uma organização não governamental de ambiente que trabalha para a conservação das aves e dos seus habitats em Portugal. Como associação sem fins lucrativos, depende do apoio dos sócios e de diversas entidades para concretizar as suas acções. Faz parte de uma rede mundial de organizações de ambiente, a BirdLife International, que actua em mais de 100 países e tem como objectivo a preservação da diversidade biológica através da conservação das aves, dos seus habitats e da promoção do uso sustentável dos recursos naturais. www.spea.pt www.facebook.com/spea.Birdlife https://twitter.com/spea_birdlife

O estado das aves comuns em Portugal 2011: Relatório do projeto Censo de Aves Comuns.

Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves, 2013

Direção Nacional: Clara Ferreira, José Manuel Monteiro, Michael Armelin, Adelino Gouveia, José Paulo Monteiro, Jaime Ramos

Direção Executiva da SPEA: Luís Costa

Coordenação do Programa Terrestre da SPEA: Domingos Leitão

Coordenação Interina do projeto: Domingos Leitão

Gestão e análise de dados: Ana Meirinho

Coordenação regional (2012): Julieta Costa (Região Norte); Ana Isabel Leal (Região Centro); Ana Teresa Marques (Região Sul); Ana Isabel Fagundes (Madeira); Hugo Sampaio (Açores).

Agradecimentos: O Censo de Aves Comuns é um projeto que deve a sua existência a um trabalho quase inteiramente voluntário, sendo de destacar o esforço dos cerca de 200 colaboradores que asseguraram a recolha de dados de campo entre 2004 e 2011 (em anexo), por todo o país, pelo que este relatório se destina especialmente a eles. É ainda de referir que uma parte significativa da gestão deste projeto se deve também a um trabalho exclusivamente voluntário, nomeadamente as Coordenações Regionais do Centro e do Sul.

É devido um agradecimento aos vários elementos que voluntariamente contribuíram no passado para a gestão deste projeto, a nível da sua coordenação nacional (Gonçalo Elias e Ricardo Martins) e regional (António Pereira, Henk Feith, João Pina, Carlos Santos, Ricardo Ceia e Rui Pedroso).

Agradece-se também aos vários ornitólogos (externos à equipa de coordenação do CAC, em 2007) que contribuíram com parecer sobre a associação entre as espécies e os principais habitats, para a decisão da lista de espécies a incluir em cada indicador de aves comuns (Helder Costa, António Severo, Henk Feith, Carlos Pereira, Gonçalo Elias, Miguel Lecoq, Rui Rufino, Ricardo Tomé, Luís Gordinho e Carlos Pacheco).

Um agradecimento também é devido às entidades que ao longo deste tempo contribuíram com financiamento ou outros tipos de apoio: RSPB, Celpa, Ministério da Agricultura, do Desenvolvimento Rural e das Pescas, EBCC, BirdLife, CSO e SEO.

Finalmente, é devido também um agradecimento aos vários voluntários e estagiários que na sede da SPEA deram o seu valioso contributo para a introdução dos dados na base do projeto.

Citação: Meirinho, A., Leal, A., Marques, A.T., Fagundes, A.I., Sampaio, H., Costa, J. & Leitão, D. 2013. O estado das aves comuns em Portugal 2011: Relatório do projeto Censo de Aves Comuns. Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves, Lisboa (relatório não publicado).

4 O estado das Aves Comuns em Portugal 2011

ÍNDICE

RESUMO 05

1. INTRODUÇÃO 06 2. MÉTODOS 07 2.1 Amostragem de quadrículas e recolha de dados 07 2.2 Análise dos dados 07 2.2.1 Portugal Continental 07 2.2.2 Madeira 09 2.2.3 Açores 09 3. RESULTADOS 10 3.1 Análises Gerais 10 3.1.1 Esforço de amostragem 10 3.1.2 Espécies mais representadas 12 3.1.3 Riqueza específica 13 3.2 Análise de tendências populacionais 15 3.2.1 Portugal Continental 15 3.2.2 Madeira 20 3.2.3 Açores 22 4. CONSIDERAÇÕES FINAIS 23 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 25 ANEXOS 26

A – Lista de voluntários do projeto Censo de Aves Comuns 26

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RESUMO

O presente relatório visa dar a conhecer os resultados do Censo de Aves Comuns relativo ao período de 2004 a 2011, em Portugal Continental, Madeira e Açores, bem como o cálculo do Índice de Aves Comuns (IAC) e respectivos índices por habitats para Portugal Continental.

• Os índices foram calculados utilizando um método standard desenvolvido para o Pan-European Common Bird Monitoring Scheme e outros programas nacionais na Europa.

• Ao longo dos anos em estudo, foram realizadas observações em 137 quadrículas em Portugal Continental, 12 na Madeira e 21 nos Açores, em que foram identificadas aproximadamente 240, 50 e 35 espécies de aves respectivamente.

• Em termos de tendências, em Portugal Continental, a rola-turca foi a única espécie que registou um aumento acentuado. A pega e a gralha-preta, duas espécies cinegéticas, que recentemente foram incluídas no calendário venatório, mantêm tendências populacionais positivas em 2011, sendo ainda cedo para tirar conclusões acerca desta medida.

• Relativamente a decréscimos, as duas espécies de picanço são um problema de conservação novo em Portugal Continental. Até aqui apenas o picanço-barreteiro se encontrava em decréscimo moderado. Agora em 2011, também o picanço-real está a diminuir. A rola-brava foi a espécie que registou o decréscimo mais acentuado, diminuindo também no índice europeu, e mantendo-se estável no índice espanhol. A rola-brava tem vindo a regredir um pouco por toda a Europa, principalmente devido à alteração dos habitats por intensificação agrícola, ao uso de herbicidas, à seca nos locais de invernada na África Ocidental e à pressão da caça nos territórios de invernada e de passagem migratória.

• No Arquipélago da Madeira, das 15 espécies estudadas, cinco estão a aumentar e quatro estão em declínio. De salientar o declínio das duas aves de rapina, o peneireiro e a águia-d’asa-redonda, porque são espécies muito sensíveis e que podem ser usadas como bioindicadores do estado do meio.

• Um aumento na cobertura territorial, em termos de número de quadrículas visitadas anualmente, principalmente na região do Norte de Portugal Continental que se encontra sub-amostrada quando comparada com as restantes regiões, trará benefícios aos índices, reduzindo os limites de confiança dos índices populacionais das espécies e aumentando o número de espécies relevantes com dados suficientes para serem incluídas.

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1. INTRODUÇÃO

O Censo de Aves Comuns (abreviadamente designado por CAC) é um programa de monitorização a longo prazo de aves comuns nidificantes e seus habitats, em Portugal. Foi lançado pela SPEA, em 2004, no Continente e na Madeira, tendo iniciado nos Açores em 2007.

Os principais objetivos do projeto CAC são:

- Obter informação sobre as variações populacionais de um vasto conjunto de espécies de aves nidificantes em Portugal e calcular anualmente os respetivos índices específicos, que indicam a variação da abundância relativamente ao ano inicial;

- Criar e divulgar o “Índice de Aves Comuns”, que inclua a generalidade das espécies, bem como a sua atualização anual;

- Calcular índices compostos por grupos de espécies associadas aos principais tipos de habitat em Portugal, nomeadamente agrícola, florestal e outros;

- Contribuir anualmente para o Esquema Pan-Europeu de Monitorização de Aves Comuns (PECBMS), com os dados das tendências populacionais das espécies portuguesas;

- Promover a conservação das aves e dos seus habitats através do envolvimento direto de um grande número de voluntários em projetos decisivos de monitorização de aves.

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2. MÉTODOS

À semelhança do que acontece, em geral, nos cerca de 30 países europeus que possuem esquemas nacionais de monitorização de aves comuns, o CAC funciona numa base de participação voluntária de colaboradores de campo. O método de amostragem do CAC baseia-se largamente no esquema de monitorização de aves comuns espanhol (SACRE), iniciado em 1996 pela Sociedade Espanhola de Ornitologia (SEO).

2.1 Amostragem de quadrículas e recolha de dados

A área de estudo do CAC é o território de Portugal (com exceção das ilhas Desertas e Selvagens, na Madeira) e a unidade de amostragem é, em geral, a quadrícula UTM de 10x10 km. Nos Açores e no Porto Santo - Madeira, dada a fragmentação do território, houve necessidade de realizar alguns ajustes na unidade de amostragem, e agrupar diversas quadrículas a fim de garantir uma área terrestre suficiente para uma correta aplicação da metodologia.

A monitorização da quadrícula envolve duas visitas anuais aos pontos de escuta para realização dos censos. No Continente e na Madeira a primeira visita decorre entre 1 e 30 de abril e a segunda de 1 a 31 de maio. Nos Açores a primeira visita é realizada entre 15 de abril e 15 de maio e a segunda visita de 16 de maio a 15 de junho. Em ambos os casos é respeitado um intervalo mínimo de 4 semanas entre as duas visitas. As visitas são em regra realizadas num único dia (o percurso entre pontos é feito de automóvel), pedindo-se aos observadores para realizarem os censos entre o amanhecer e as primeiras 4 horas da manhã (após o nascer do sol), coincidindo, desta forma, com o período de maior atividade das aves.

Os pontos de escuta têm a duração de 5 minutos, durante os quais é registado o número de indivíduos detectados de cada espécie de ave (quer seja visual ou auditivamente), separando em duas bandas de distância (0-25 m e >25 m).

2.2 Análise dos dados

Todos os dados recolhidos são introduzidos numa base de dados central, online (PortugalAves http://www.worldbirds.org/v3/portugal.php), gerida pela SPEA em conjunto com a RSPB (Royal Society for the Protection of Birds).

2.2.1 Portugal Continental

Após a fase de verificação de dados, o primeiro passo consiste na determinação dos índices anuais para cada espécie. Posteriormente, estes índices específicos podem ser combinados para produzir índices compostos por grupos de espécies (ex. aves florestais ou aves agrícolas), que podem ser utilizados como indicadores.

Índices anuais por espécie

Com esta análise pretende-se obter um valor correspondente a um índice de abundância para cada espécie. Para isso, os dados são uniformizados em relação ao valor 1, que corresponde ao valor de abundância no primeiro ano de amostragem (2004), sendo depois feitas estimativas para cada ano seguinte de amostragem e cálculo dos respetivos intervalos de confiança.

Para cada espécie, em cada quadrícula, e em cada ano, é utilizado para a análise o valor mais alto de abundância das duas visitas à quadrícula. A análise de dados foi realizada utilizando o programa de análise estatística TRIM (Trends and Indices for Monitoring data, van Strien et al. 2004).

Para calcular o índice de abundância parte-se do princípio que as tendências observadas nas quadrículas amostradas são representativas da situação da espécie em Portugal. Contudo, atualmente as quadrículas de amostragem não estão distribuídas uniformemente pelo território. Por exemplo a região de Lisboa e Vale do Tejo está bem representada, acontecendo o inverso na zona Norte do país (Figura 1). Para evitar problemas de sobrevalorização das regiões mais bem representadas no cálculo dos índices, é atribuído um fator de ponderação a cada quadrícula, consoante esteja a Norte ou a Sul.

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Figura 1_Localização das quadrículas CAC monitorizadas entre 2004 e 2011 e limites das regiões Norte/Sul para cálculo dos fatores de ponderação. É apresentado o número de anos em que cada quadrícula amostrada.

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2.2.2. Madeira

A análise dos dados do Arquipélago da Madeira teve como objetivo o cálculo de índices populacionais das espécies de aves mais comuns, que permita também a criação de um indicador das aves comuns da Madeira.

Tendo em conta o fato da comunidade avifaunística da ilha ser bastante diferente e constituída por um leque de espécies muito menor do que a do Continente, foi definido um método de análise muito simplificado relativamente ao descrito anteriormente para Portugal Continental. Tal como para os dados do Continente, foi também utilizada a técnica de regressão log-linear e o software TRIM. No entanto, os dados da Madeira são analisados ao nível do ponto de escuta e não ao nível da quadrícula de 10X10 km. A variável utilizada na análise foi o número máximo de indivíduos de entre as duas visitas, para cada espécie em cada ano e em cada ponto de escuta. Foram incluídos na análise os dados de quadrículas visitadas apenas uma vez, em determinado ano.

2.2.3. Açores

No presente relatório são analisados os dados obtidos até 2011, pelo que estão disponíveis cinco anos de dados para o Arquipélago dos Açores (onde o projeto CAC arrancou em 2007). Desta forma, não é ainda apresentado o método que se pretenderá utilizar em análises posteriores para calcular as tendências populacionais das espécies dos Açores, pelo que são efectuadas apenas comparações dos cinco anos em termos de número médio de indivíduos por pontos de escuta, para cada espécie.

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3. RESULTADOS 3.1 Análises gerais

3.1.1 Esforço de amostragem

Em Portugal Continental, entre 2004 e 2011, o número médio por ano de quadrículas com dados disponíveis para análise é de 67. O número de quadrículas recenseadas tem vindo a aumentar ao longo dos anos (Tabela 1). Em todos os anos em estudo, o número de quadrículas visitadas é superior ao número de quadrículas com dados para análise, uma vez que nem sempre a informação é disponibilizada para análise.

No total, os dados analisados provêm de 170 quadrículas, das quais apenas 22 foram amostradas nos oito anos em estudo, 60 em cinco anos e 106 em três anos. Na Tabela 2 e Figuras 1,2 e 3 pode-se encontrar um resumo do número de quadrículas utilizadas para a análise dos dados, em cada ano de estudo e nas várias regiões do país.

Foram registadas 237 espécies para o Censo de Aves Comuns, em Portugal Continental, durante o período de 2004 a 2011, das quais 64 foram consideradas como espécies adequadas para serem incluídas nos índices.

Para a Madeira foram contabilizadas um total de 53 espécies durante os 8 anos em estudo. Nos Açores apenas foram contabilizadas 36 espécies, entre 2007 e 2011.

O número de quadrículas e pontos visitados, bem como o número de espécies registados por ano

em Portugal Continental, Madeira e Açores podem ser consultados na tabela 1.

Tabela 1_Número de quadrículas, pontos e espécies observadas por ano, para a região de Portugal Continental, Madeira e Açores, no âmbito do projeto Censo de Aves Comuns.

Região 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

Nº quadrículas com dados disponíveis

Continente 59 60 57 71 75 74 76 71

Madeira 10 11 6 5 6 5 6 9

Açores - - - 15 16 11 10 7

Nº de pontos observados com dados disponíveis

Continente 1195 1203 1157 1431 1516 1505 1553 1461

Madeira 198 205 116 92 112 98 117 179

Açores - - - 297 316 225 192 131

Nº de espécies

Continente 168 156 157 170 169 174 175 192

Madeira 36 32 30 26 36 36 35 36

Açores - - - 24 25 28 25 24

Nº médio de espécies por quadrícula (para as 2 visitas)

Continente 46 46 48 47 47 50 50 51

Madeira 16 16 15 14 16 16 16 16

Açores - - - 15 15 16 15 15

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Figura 2_Localização das quadrículas CAC no Arquipélago da Madeira com indicação do número de anos em que cada quadrícula foi amostrada (2004-2011).

Figura 3_Localização das quadrículas CAC no Arquipélago dos Açores com indicação do número de anos em que cada quadrícula foi amostrada (2007-2011).

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3.1.2 Espécies mais representadas

A espécie detetada em maior abundância, em Portugal Continental, foi o pardal-comum Passer domesticus. O número total de aves contabilizadas desta espécie ultrapassou as 70 000, sendo por isso mais do triplo do total registado para qualquer outra espécie (Tabela 2). O pombo-doméstico Columba livia, outra espécie estreitamente ligada à presença humana, também ficou entre as espécies mais abundantes. Quanto às outras espécies que figuram na lista dos 10+, encontramos quatro espécies de granívoros, duas espécies de andorinhas e o melro-preto Turdus merula, bem como o estorninho-preto Sturnus unicolor.

Na Madeira, as espécies mais abundantes são o melro-preto, o canário-da-terra Serinus canaria e a toutinegra-de-barrete Sylvia atricapilla, as três com mais de 4 500 indivíduos observados.

Nos Açores, as espécies mais abundantes foram o pardal-comum, o tentilhão Fringilla coelebs e o canário-da-terra.

Tabela 2_As dez espécies mais abundantes detetadas no CAC entre 2004 e 2011 para Portugal Continental e Madeira e entre 2007 e 2011 para os Açores.

Rank

Portugal Continental Madeira Açores

Espécie Nº. de Indivíduos

Espécie Nº. de Indivíduos

Espécie Nº. de Indivíduos

1 Pardal-comum Passer domesticus

71 112 Melro-preto Turdus merula

7 399 Pardal-comum Passer domesticus

11 421

2 Andorinha-das-chaminés Hirundo rustica

20 581 Canário-da-terra Serinus canaria 5 772 Tentilhão-comum

Fringilla coelebs 9 619

3 Pombo-doméstico Columba livia 19 496

Toutinegra-de-barrete Sylvia atricapilla 4 886

Canário-da-terra Serinus canaria 6 831

4 Chamariz Serinus serinus

18 634 Gaivota-de-patas-amarelas Larus michahellis

3 574 Melro-preto Turdus merula

6 209

5 Melro-preto Turdus merula 17 453 Pombo-doméstico

Columba livia 3 428 Pombo-doméstico Columba livia 5 832

6 Andorinha-dos-beirais Delichon urbicum 16 978

Tentilhão-comum Fringilla coelebs 2 368

Gaivota-de-patas-amarelas Larus michahellis

3 638

7 Pintassilgo Carduelis carduelis 15 539 Pisco-de-peito-ruivo

Erithacus rubecula 1 754 Estorninho-comum Sturnus vulgaris 3 439

8 Trigueirão Emberiza calandra

15 259 Pardal-espanhol Passer hispaniolensis

1 710 Toutinegra-de-barrete Sylvia atricapilla

2 636

9 Estorninho-preto Sturnus unicolor 14 755

Álveola-cinzenta Motacilla cinerea 1 262

Pisco-de-peito-ruivo Erithacus rubecula 1 850

10 Verdilhão Carduelis chloris 13 671 Bis-bis

Regulus madeirensis 1 182 Álveola-cinzenta Motacilla cinerea 1 550

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3.1.3 Riqueza específica

Em Portugal Continental, as quadrículas com maior riqueza específica (nº médio de espécies/ano) correspondem às zonas de influência mediterrânica: o interior norte e centro e a região a sul do Tejo (Figura 4).

Figura 4_Riqueza específica (nº. médio de espécies/ano) nas quadrículas amostradas em Portugal Continental (entre 2004 e 2011).

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Na Madeira, a Ilha do Porto Santo foi a que obteve um maior número de espécies observadas (20 espécies identificadas, em média, para os anos em estudo). As quadrículas na região Norte obtiveram valores de riqueza específica inferiores às quadrículas no resto do arquipélago (Figura 5).

Figura 5_Riqueza específica (nº. médio de espécies/ano) nas quadrículas amostradas na Madeira (entre 2004 e 2011).

O Arquipélago dos Açores tem uma situação geográfica própria, com 9 ilhas muito distanciadas entre si, o que faz com que se observem muitas diferenças no número de espécies detectadas, de ilha para ilha. A região mais pobre em termos de riqueza específica de aves é o Grupo Ocidental (Flores e Corvo), onde apenas se detetaram 11 e 13 espécies de aves respetivamente, bem como a Ilha de Santa Maria, com 11 espécies. A ilha mais rica em termos de número de espécies de aves detetadas foi São Miguel, com 19 espécies observadas em algumas das unidades de amostragem (Figura 6).

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Figura 6_Riqueza específica (nº. médio de espécies/ano) nas quadrículas amostradas nos Açores (entre 2007 e 2011).

3.2 Análise de Tendências Populacionais

3.2.1 Portugal Continental

Nas Tabelas 3, 4, e 5 é apresentada a classificação da tendência populacional de cada espécie resultante da análise efectuada no software TRIM. Esta classificação inclui seis níveis diferentes (“Aumento acentuado”, “Aumento moderado”, “Estável”, “Decréscimo moderado”, “Decréscimo acentuado” e “Incerta”), incorporando fatores como o erro associado ao cálculo de cada tendência e a “coerência” da sua variação ao longo dos anos. As tendências são classificadas como “Incertas” quando não é possível tirar conclusões acerca da sua evolução no período estudado. Como se pode verificar nas tabelas seguintes, para muitas das espécies não existe uma correspondência direta entre o que mostram os índices e a classificação da tendência populacional, pelo que se deve entender esta classificação como uma informação essencial para a interpretação da variação dos índices.

Das 23 espécies de habitats agrícolas, a maioria (10 espécies) apresentam populações estáveis (Tabela 3). Das restantes, cinco espécies apresentam aumentos populacionais, três apresentam decréscimos e para as restantes cinco a tendência populacional ainda é incerta. A cotovia-de-poupa Galerida cristata, andorinha-das-chaminés Hirundo rustica, andorinha-dos-beirais Delichon urbicum, pega Pica pica e escrevedeira Emberiza cirlus evidenciaram aumentos nos valores de índice populacional, enquanto o abelharuco Merops apiaster, o picanço-real Lanius meridionalis e a milheirinha Serinus serinus mostram uma tendência de decréscimo.

16 O estado das Aves Comuns em Portugal 2011

Tabela 3_Variação dos índices entre 2004 e 2011, expressos em percentagem, para as espécies de aves comuns de Zonas Agrícolas, em Portugal Continental (os valores positivos indicam aumentos populacionais e os negativos indicam decréscimos). É apresentada a classificação da tendência populacional de cada espécie, resultante da análise efetuada no software TRIM.

Nome Científico Nome Comum Variação do Índice 2004-2011 (%)

Classificação da Tendência

Bubulcus ibis Carraceiro 25 Incerta

Ciconia ciconia Cegonha-branca -4 Estável

Milvus migrans Milhafre-preto -12 Incerta

Falco tinnunculus Peneireiro 18 Estável

Coturnix coturnix Codorniz 1 Estável

Athene noctua Mocho-galego 1 Incerta

Merops apiaster Abelharuco -6 Declínio moderado

Upupa epops Poupa -17 Estável

Galerida cristata Cotovia-de-poupa 65 Aumento acentuado

Hirundo rustica Andorinha-das-chaminés 30 Aumento moderado

Delichon urbicum Andorinha-dos-beirais 86 Aumento moderado

Saxicola torquata Cartaxo 5 Estável

Cisticola juncidis Fuinha-dos-juncos -16 Estável

Lanius meridionalis Picanço-real -26 Declínio moderado

Pica pica Pega 107 Aumento moderado

Sturnus unicolor Estorninho-preto 15 Incerta

Passer domesticus Pardal-comum 5 Estável

Serinus serinus Milheirinha -20 Declínio moderado

Carduelis chloris Verdilhão -6 Estável

Carduelis carduelis Pintassilgo -21 Estável

Carduelis cannabina Pintarroxo -22 Incerta

Emberiza cirlus Escrevedeira 69 Aumento moderado

Emberiza calandra Trigueirão 23 Estável

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Tendo em consideração as 20 espécies de habitats florestais (Tabela 4), observou-se que a maioria (nove espécies) apresenta uma tendência populacional estável desde 2004. Duas das espécies apresentam aumentos populacionais, outras duas apresentam decréscimos e para as restantes sete a tendência ainda é incerta. A toutinegra-de-barrete e o chapim-azul Parus major evidenciaram um aumento moderado no índice, enquanto que o picanço-barreteiro Lanius senator registou um decréscimo moderado e a rola-brava Streptopelia turtur continua a mostrar um dramático decréscimo acentuado. Tabela 4_Variação dos índices entre 2004 e 2011, expressos em percentagem, para as de aves comuns de Zonas Florestais em Portugal Continental (os valores positivos indicam aumentos populacionais e os negativos indicam decréscimos). É apresentada a classificação da tendência populacional de cada espécie, resultante da análise efetuada no software TRIM.

Nome Científico Nome Comum Variação do Índice 2004-2011 (%)

Classificação da Tendência

Columba palumbus Pombo-torcaz 99 Incerta

Streptopelia turtur Rola-brava -49 Decréscimo acentuado

Cuculus canorus Cuco -3 Estável

Picus viridis Peto-real 18 Incerta

Dendrocopos major Pica-pau-malhado 4 Estável

Lullula arborea Cotovia-dos-bosques -16 Estável

Troglodytes troglodytes Carriça 4 Estável

Erithacus rubecula Pisco-de-peito-ruivo 5 Estável

Sylvia atricapilla Toutinegra-de-barrete 59 Aumento moderado

Aegithalos caudatus Chapim-rabilongo 0 Incerta

Parus cristatus Chapim-de-poupa -29 Incerta

Parus ater Chapim-carvoeiro 77 Incerta

Parus caeruleus Chapim-azul 24 Aumento moderado

Parus major Chapim-real 12 Estável

Sitta europaea Trepadeira-azul 3 Incerta

Certhia brachydactyla Trepadeira -9 Estável

Oriolus oriolus Papa-figos -9 Estável

Lanius senator Picanço-barreteiro -38 Decréscimo moderado

Garrulus glandarius Gaio 41 Incerta

Fringilla coelebs Tentilhão 13 Estável

18 O estado das Aves Comuns em Portugal 2011

Em relação às restantes 21 espécies (Tabela 5), observou-se que cinco apresentam populações estáveis, quatro apresentam aumentos populacionais, apenas uma apresenta um decréscimo populacional e para as restantes onze (maioria) a tendência ainda é incerta. A toutinegra-dos-valados Sylvia melanocephala encontra-se em declínio, enquanto a rola-turca Streptopelia decaocto, a alvéola-branca Motacilla alba, o rabirruivo Phoenicurus ochruros e a gralha-preta Corvus corone registaram um aumento populacional. De salientar a rola-turca que continua a registar um aumento acentuado desde 2004.

Tabela 5_Variação dos índices entre 2004 e 2011, expressos em percentagem, para as espécies de aves comuns de Outros Habitats em Portugal Continental (os valores positivos indicam aumentos populacionais e os negativos indicam decréscimos). É apresentada a classificação da tendência populacional de cada espécie, resultante da análise efetuada no software TRIM.

Nome Científico Nome Comum Variação do Índice 2004-2011 (%)

Classificação da Tendência

Egretta garzetta Garça-branca 8 Incerta

Ardea cinerea Garça-real 59 Incerta

Anas platyrhynchos Pato-real 40 Incerta

Elanus caeruleus Peneireiro-cinzento 43 Incerta

Buteo buteo Águia-d’asa-redonda 0 Estável

Hieraaetus pennatus Águia-calçada 119 Incerta

Gallinula chloropus Galinha-d’água -16 Incerta

Streptopelia decaocto Rola-turca 105 Aumento acentuado

Apus apus Andorinhão-preto 46 Incerta

Hirundo daurica Andorinha-dáurica 54 Incerta

Motacilla cinerea Alvéola-cinzenta 1 Incerta

Motacilla alba Alvéola-branca 51 Aumento moderado

Luscinia megarhynchos Rouxinol 15 Estável

Phoenicurus ochruros Rabirruivo 123 Aumento moderado

Turdus merula Melro-preto 8 Estável

Cettia cetti Rouxinol-bravo -7 Estável

Hippolais polyglotta Felosa-poliglota -5 Incerta

Sylvia melanocephala Toutinegra-dos-valados -21 Declínio moderado

Cyanopica cyanus Charneco 12 Estável

Corvus corone Gralha-preta 37 Aumento moderado

Passer montanus Pardal-montês -37 Incerta

Foram selecionadas oito espécies que estão ou estiveram recentemente sob a atenção do público para exemplificar a representação gráfica da sua variação temporal ao longo dos anos de amostragem (Figura 7).

A rola-turca foi a única espécie que registou um aumento acentuado em Portugal continental. É uma espécie que colonizou recentemente o nosso território (Equipa Atlas 2008) e que se adaptou muito bem aos meios urbanos e peri-urbanos.

A pega e a gralha-preta são duas espécies cinegéticas, que recentemente foram incluídas no calendário venatório. Tem havido alguma apreensão do público relativamente ao impacto desta medida sobre as suas populações. Pensamos que ainda é cedo para tirar conclusões, mas em 2011 ambas espécies continuavam com tendências populacionais positivas.

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O peneireiro-comum e o melro foram objeto de atenção mediática recente, por razões diferentes. O melro porque a tutela tentou colocar esta espécie no calendário venatório, com a argumentação de que as suas populações aumentavam e causavam prejuízo nos pomares. Como se verifica, as populações de melro encontram-se estáveis desde 2004. O peneireiro-comum protagonizou o evento de observação do mundo natural mais mediático de 2012, quando milhares de pessoas acompanharam online o desenrolar de uma postura desta espécie nas varandas de um prédio na região de Lisboa. As populações deste pequeno falcão encontram-se estáveis, para gáudio dos fãs desta espécie por todo o país.

As duas espécies de picanço são um problema de conservação novo. Até aqui apenas o picanço-barreteiro se encontrava em decréscimo moderado. Agora em 2011, também o picanço-real está a diminuir. São espécies de meios agro-florestais, muito sensíveis à intensificação agrícola e florestal, sendo por isso indicadores da qualidade do meio. Algo se passa nos meios rurais e agro-florestais de Portugal e Espanha, que está a causar a diminuição destas duas espécies.

A rola-brava foi a espécie que registou o decréscimo mais acentuado, diminuindo também no índice europeu, realizado pelo PECBMS (EBCC 2011) e mantendo-se estável no índice espanhol, realizado pelo Programa SACRE (SEO 2011). A rola-brava tem vindo a regredir um pouco por toda a Europa, principalmente devido à alteração dos habitats por intensificação agrícola, ao uso de herbicidas, à seca nos locais de invernada na África Ocidental e à pressão da caça nos territórios de invernada e de passagem migratória (Tucker & Heath 1994). A SPEA tem trabalhado para que a administração tome medidas eficazes de proteção desta espécie, no sentido de reverter esta tendência regressiva. É urgente uma melhor gestão da caça à rola, que passa por conhecer as estatísticas da caça, proteger os refúgios mais importantes, e em última instância suspender a caça.

Figura 7_ Representação gráfica das tendências populacionais para oito espécies, em Portugal Continental, com tendências populacionais diferentes. Três exemplos de espécies que estão a aumentar: rola-turca Streptopelia decaocto, pega Pica pica e gralha-preta Corvus corone. Dois exemplos de espécies com populações estáveis: peneireiro Falco tinnunculus e melro-preto Turdus merula. Três exemplos de espécies que estão a diminuir: picanço-barreteiro Lanius senator, picanço-real Lanius meridionalis e rola-brava Streptopelia turtur.

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2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

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Pica pica

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Falcotinnunculus

Turdusmerula

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Laniusmeridionalis

Streptopeliaturtur

20 O estado das Aves Comuns em Portugal 2011

3.2.2 Madeira

A Tabela 6 mostra a tendência de cada uma das espécies para a região da Madeira. Das 15 espécies estudadas, cinco estão a aumentar e quatro estão em declínio. De salientar o declínio das duas aves de rapina, o peneireiro Falco tinnunculus e a águia-d’asa-redonda Buteo buteo, porque são espécies muito sensíveis e que podem ser usadas como bioindicadores do estado do meio.

Tabela 6_Variação dos índices entre 2004 e 2011, expressos em percentagem, para as espécies que compõem o Índice de Aves Comuns da Madeira (IACM) (os valores positivos indicam aumentos populacionais e os negativos indicam decréscimos). É apresentada a classificação da tendência populacional de cada espécie, resultante da análise efectuada no software TRIM.

Nome Científico Nome Comum Variação do Índice 2004-2011 (%)

Classificação da Tendência

Buteo buteo Águia-d’asa-redonda -42 Declínio moderado

Falco tinnunculus Peneireiro -60 Declínio acentuado

Coturnix coturnix Codorniz 4 Incerta

Upupa epops Poupa -67 Incerta

Anthus berthelotii Corre-caminhos -55 Declínio acentuado

Motacilla cinerea Álveola-cinzenta 2 Incerta

Erithacus rubecula Pisco-de-peito-ruivo 53 Aumento moderado

Turdus merula Melro-preto 45 Aumento moderado

Sylvia atricapilla Toutinegra-de-barrete 74 Aumento acentuado

Regulus maderensis Bis-bis 21 Aumento moderado

Passer hispaniolensis Pardal-espanhol 7 Incerta

Fringilla coelebs Tentilhão 120 Aumento acentuado

Serinus canaria Canário-da-terra 10 Estável

Carduelis chloris Verdilhão -54 Declínio moderado

Carduelis carduelis Pintassilgo 44 Incerta

A Figura 8 evidencia os índices específicos de três espécies a destacar: a toutinegra-de-barrete que registou um aumento acentuado; o bis-bis Regulus maderensis com um aumento moderado e o peneireiro, com um declínio acentuado.

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Figura 8_ Representação gráfica das tendências populacionais para 3 espécies, na Madeira: toutinegra-de-barrete Sylvia atricapilla, bis-bis Regulus maderensis e peneireiro Falco tinnunculus.

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2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

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o Falcotinnunculus

Sylviaatricapilla

Regulusmaderensis

22 O estado das Aves Comuns em Portugal 2011

3.2.3 Açores

Para o Arquipélago dos Açores estão disponíveis cinco anos de dados, de 2007 a 2011. Não foi ainda definido o método que se pretenderá utilizar em análises posteriores para calcular as tendências populacionais das espécies dos Açores, pelo que são efetuadas apenas comparações dos cinco anos em termos de número médio de indivíduos por espécie e por ponto de escuta (Tabela 7) para as 10 espécies com maior número de indivíduos no geral dos anos em estudo.

Tabela 7_ Número médio de indivíduos registados, por ponto e por visita, para os anos de 2007 a 2011, no arquipélago dos Açores.

Nome Científico Nome Comum 2007 2008 2009 2010 2011

Passer domesticus Pardal-comum 4,87 5,56 6,01 6,01 6,48

Fringilla coelebs Tentilhão 4,74 4,80 4,71 3,88 5,68

Serinus canaria Canário-da-terra 2,86 3,78 4,30 2,50 2,93

Turdus merula Melro-preto 3,48 3,38 2,63 1,99 3,23

Columba livia Pombo-das-rochas 2,12 3,05 2,73 3,27 4,00

Larus michahellis Gaivota-de-patas-amarelas 1,33 1,83 1,18 2,80 2,61

Sturnus vulgaris Estorninho-malhado 1,44 1,65 1,60 1,87 2,36

Sylvia atricapilla Toutinegra-de-barrete 1,32 1,43 1,50 0,88 1,07

Erithacus rubecula Pisco-de-peito-ruivo 1,01 1,07 0,87 0,68 0,58

Motacilla cinerea Alvéola-cinzenta 1,02 0,69 0,60 0,55 0,87

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4. CONSIDERAÇÕES FINAIS

O Censo de Aves Comuns decorre desde 2004 em Portugal Continental e Madeira e desde 2007 nos Açores. Em geral, este programa tem vindo a crescer e conta atualmente com o apoio regular de mais de uma centena de colaboradores voluntários. Apesar dos dados de campo serem recolhidos por voluntários, a validade científica do conjunto dos resultados obtidos é inquestionável. Para isso, contribuem muito a utilização de metodologias de campo e de análise de dados adequadas aos objetivos do projeto, bem como o bom nível de experiência da grande maioria dos colaboradores na identificação de aves e recolha deste tipo de dados.

Durante os primeiros três anos do projeto observou-se um aumento no número de quadrículas recenseadas em Portugal Continental, no entanto, estes valores estabilizaram à volta das 73 quadrículas. Observa-se, no entanto, um desequilíbrio na amostra do país em termos de quadrículas recenseadas. O Sul e litoral do país apresentam um maior número de quadrículas que o Norte e interior.

Em oposição ao crescimento do número de quadrículas recenseadas em Portugal Continental, na Madeira registou-se um maior número de quadrículas nos primeiros anos pelo que estabilizou nas 5-6 quadrículas por ano desde 2006. Estes valores, apesar de inferiores ao ano padrão, são bons do ponto de vista de percentagem de cobertura, uma vez que é feita uma amostragem entre 40 a 50 % da Ilha da Madeira com apenas 5 a 6 quadrículas. Em 2011 verificou-se um novo aumento de quadrículas recenseadas na Madeira.

Nos Açores, a dispersão das ilhas do Arquipélago dificulta uma boa representação em todas as ilhas. Em 2007 (ano padrão para os Açores) foram realizadas 15 quadrículas, mas decresceram a partir de 2009.

Um esforço deverá ser feito para promover o aumento da amostragem em anos futuros. O aumento da cobertura territorial, principalmente em Portugal Continental, contribuirá para o aumento da robustez dos dados (reduzindo o erro associado ao cálculo dos índices) e também para o aumento do número de espécies que podem integrar os indicadores. Esse esforço necessita de fundos, que são difíceis de encontrar. Fundos que permitam dar mais apoio aos voluntários, a nível de formação e comunicação.

Em termos de abundância relativa, observou-se que a espécie mais abundante foi o pardal-comum para Portugal Continental e Açores e o melro-preto para a Madeira.

Em Portugal Continental foram observadas 237 espécies diferentes, com uma média anual de 48 espécies por quadrícula. Ao observar a distribuição da riqueza específica constata-se que o interior Norte e Centro e o Sul de Portugal Continental são as regiões com maior número médio de espécies por quadrícula.

Na Madeira, ao contrário do que seria de esperar, o maior número de espécies identificadas ocorreu na ilha de Porto Santo, onde se esperaria encontrar um menor número de aves devido à sua menor área. A quadrícula de Porto Santo foi a que apresentou um maior número de aves identificadas: 20 espécies (valor médio de 2004 a 2011), apesar da média no Arquipélago da Madeira ser de 15 espécies por quadrícula.

Nos Açores a riqueza específica atinge níveis mais altos nas ilhas com maior área: São Miguel, Pico e Terceira. No Grupo Ocidental, Flores e Corvo, o número de espécies observadas é mais reduzido, por serem as ilhas mais remotas do arquipélago.

No que diz respeito às tendências populacionais, existem já muitas espécies que apresentam tendências bem definidas e classificadas pelo modelo estatístico. Algumas espécies apresentam populações com tendências incertas. Ou seja, necessitamos de mais anos para que possamos ter certezas sobre a evolução das populações dessas espécies.

No entanto, ao fim de oito anos de CAC, já é possível ter a certeza sobre a evolução populacional de algumas espécies. Infelizmente, temos que adicionar à situação extremamente preocupante da rola-brava, dois novos alertas. Trata-se da regressão das duas espécies de picanço em Portugal Continental, e da regressão das duas espécies de ave de rapina ainda comuns na Madeira. São

24 O estado das Aves Comuns em Portugal 2011

situações que merecem ser estudadas mais em pormenor, para saber as causas dos declínios e desenhadas medidas de conservação.

O Censo de Aves Comuns é já uma ferramenta de enorme valor a nível nacional e internacional. A SPEA tem fornecido indicadores de biodiversidade, com base nos dados CAC, para a Estratégia Nacional de Desenvolvimento Sustentável 2005-2015 e para o Plano Estratégico Nacional para o Desenvolvimento Rural 2007-2013, através da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), pelo Instituto Nacional de Estatística (INE) e pelo Ministério da Agricultura. O CAC está integrado no Esquema Pan-Europeu de Monitorização de Aves Comuns (PECBMS), coordenado pela Birdlife International e pelo European Bird Census Council (EBCC). Este facto significa que os dados do CAC, obtidos em Portugal, estão também a contribuir anualmente para o indicador de aves selvagens da União Europeia.

Infelizmente a importância do CAC para as entidades oficiais foi, de algum modo, posta em causa pela crise económica. Desde 2011 que a SPEA não tem qualquer tipo de apoio das entidades oficiais para o CAC, tornando-se assim muito difícil gerir convenientemente o projeto e o imenso volume de dados que envolve, bem como comunicar e divulgar os resultados e dar apoio e formação aos voluntários de campo. Necessitamos urgentemente de algum apoio financeiro para o CAC, para que possa ser sustentável e para que possamos dar mais apoio aos colaboradores e candidatos a colaboradores.

Por último, é de assinalar o excelente trabalho desenvolvido por todos os voluntários envolvidos na execução do CAC, e a importância do seu trabalho para a monitorização das aves comuns em Portugal e na Europa. Obrigado a todos!

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

Equipa Atlas, 2008. Atlas das aves nidificantes em Portugal (1999–2005). Instituto da Conservação da Natureza e Biodiversidade, Sociedade Portuguesa para o Estudo das Aves, Parque Natural da Madeira e Secretaria Regional do Ambiente e do Mar. Assírio & Alvim, Lisboa. BirdLife International, 2004. Birds in Europe: population estimates, trends and conservation status. Cambridge, UK: BirdLife International. (BirdLife Conservation Series No. 12).

EBCC, 2011. Página de internet: Trends of Common Birds in Europe, 2010 update, European Bird Census Council http://www.ebcc.info/index.php?ID=387

Gregory, R.D., van Strien, A., Vorisek, P., Meyling, A.W.G., Noble, D.G., Foppen, R.P.B., Gibbons, D.W., 2005. Developing indicators for European birds. Philosophical Transactions of the Royal Society Biological Sciences 360, 269-288.

SEO, 2011. Página de internet: Tendencias de las poblaciones de aves a escala nacional, SEO/BirdLife http://www.seo.org/media/docs/Tend_nac_sp_98_08.pdf

Tucker, G.M. & Heath, M.F., 1994. Birds in Europe: Their Conservation Status. BirdLife International, Cambridge.

van Strien, A., Annekoek, W. Hagemeijer & T. Verstrael, 2004 - A loglinear Poisson regression method to analyse bird monitoring data. In: Anselin, A. (ed.) Bird Numbers 1995, Proceedings of the International Conference and 13th Meeting of the European Bird Census Council, Pärnu, Estonia. Bird Census News 13 (2000):33-39.

26 O estado das Aves Comuns em Portugal 2011

Anexo A – Lista de voluntários do projeto Censo de Aves Comuns que colaboraram entre 2004 e 2011. Norte

Abel Gomes

Alice Gama

Ana Berliner

António Monteiro

António Pereira

Aurora Santos

Carlos Santos

Carlos Silva

Davide Fernandes

Duarte Bastos

Duarte Calém

Fernando Romão

Helder Silva

Helena Campos

Hugo Sampaio

João Neves

João Petronilho

Jorge Amaral

Jorge Coimbra

Lino Oliveira

Luís Moreira

Luísa Catarino

Luisa Diniz

Malcolm Millais

Marco Nunes

Mário Santos

Nuno Fernandes

Nuno Santos

Paulo Barros

Paulo Belo

Paulo Jacinto

Paulo Travassos

Pedro Guimarães

Ricardo Timóteo

Rui Brito

Rui Ferreira

Rui Pedroso

Teresa Saraiva

Vasco Cruz

Wilson Vinagre Centro

Agostinho Tomás

Alexandra Carvalho

Alexandra Fonseca

Ana Leal

Ana Rita Ferreira

António Rosa

António Xeira

Arnaldo Cruz

Aldair Cruz

Bernard Brookes

Bruno Pinto

Cândida Delgado

Carla Pacheco

Carlos Carvalho

Carlos Pacheco

Carolina Bloise

Cláudio Heitor

David Hurst

Domingos Leitão

Dulce Cardoso

Eurico Correia

Fernando Pereira

Filipe Canário

Gonçalo Elias

Hany Alonzo

Hélder Conceição

Helena Batalha

Henk Feith

Joana Andrade

Joana Santana

João Jara

João Pedro Pina

Jorge Antunes

Jorge Cancela

Jorge Coimbra

José Alberto

José C. Ferreira

José M. Coxo

José Paulo Monteiro

Jovito Boinhas

Júlio Reis

Luís Carreira

Luís Carvalho

Luís Gordinho

Luís Reino

Luís Santos

Luís Silva

Luís Venâncio

Luís Vieira

Manuel Diez Santos

Manuel Matos

Marco Correia

Michael Armelin

Miguel Canaverde

Miguel Gaspar

Miguel Lecoq

Nadine Pires

Paulo Alves

Paulo Catry

Pedro Fernandes

Pedro Lopes

Pedro Loureiro

Pedro Lourenço

Raquel Tavares

Ricardo Correia

Ricardo Tomé

Rita Arnaut Moreira

Rogério M. Pereira

Rui Marcão

Rui Massano

Rui Morgado

Susana Pereira

Susana Rosa

Teresa Catry

Vanda Miravent

Verónica Bogalho

Virgínia P. Castro

Sul

Ana Delgado

Afonso Rocha

Alexandre Leitão

Ana Teresa Marques

Beatriz Estanque

Brian Myer

Bruno Correia

Cristina Cardoso

Carlos Carrapato

Carlos Godinho

Carlos Pereira

Carlos Vilhena

Clive Viney

Colm Moore

Daniel Sobral

David Borralho

David Santos

Elsa Fernandes

Filipa Machado

Filipe Dias

Francisco Conceição

Francisco Maia

Francisco Pereira

Frank McClintock

Georg Schreier

Helder Costa

Israel Silva

Ivo Coelho

João C. Rodrigues

João Carvalho

João Guilherme

João Rodrigues

João Tiago Tavares

John Burton

Jose Eduardo

José M. Pereira

José Rodrigues

Leila Duarte

Luís Costa

Marcial Felgueiras

Mário Carmo

Michael Armelin

Miguel Braga

Miguel Capelo

Miguel Gaspar

Miguel Mendes

Nuno Martins

Nuno Matamouros

Paulo Pinto

Pedro Grilo

Pedro Pereira

Pedro Rocha

Pedro Salgueiro

Ricardo Belo

Ricardo Martins

Ruben Rodrigues

Rui Lourenço

Rui Rebelo

Rui Rufino

Sónia Antunes

Sérgio Elias

Simon Wates

Susana Reis

Teresa Saraiva

Thys Valkenburg

Tiago Carvalho

Vítor Azevedo

Xavier Pita

Madeira

André Ferreira

Cátia Freitas

Cátia Gouveia

Célio Quintal

Gonçalo Silva

Isabel Fagundes

João Clode

João Nunes

João Perdigão

Jorge Ferreira

Juliana Barroso

Marta Nunes

Pedro Augusto

Pedro Sepúlveda

Renato Nunes

Ricardo Rocha

27

Açores

Carina Cardoso

Carla Silva

Carlos Pereira

Carlos Silva

Cecília Melo

Décio Leal

Hugo Laborda

Jaime Braga Bairos

Luís Aguiar

Luís Bettencourt

Márcia Santos

Marlene Nóia

Michael Simas

Miguel Fontes

Patrícia Pedro

Pedro Domingos

Pedro Reis Rodrigues

Pedro Tavares

Rafaela Anjos

Ricardo Ceia

Rita Melo

Rui Botelho

Sandra Mealha

Sandra Parejo

Susana Ázera

Valter Medeiros

Verónica Neves

Muito Obrigado a todos pela colaboração!