o espaco do direito novos rumos 2003

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  • 7/30/2019 o Espaco Do Direito Novos Rumos 2003

    1/16

    ESCOLjpE FRANKURtATRIBUIO TEORIA

    R E V I S T A T R I M E S T R A L - A N O 1 8 , N 3 9 - 2 0 0 3 - R $ 10 00

    Novos RUMOSINSTITUTO ASTROJILDO PEREIRA - INSTITUTO DE PROJETOS E PESQUISAS SOCIAIS E TECNOLGICAS

    B i

    i 4L

    0 ESPAO DO DIREITO NA

    ONTOLOGIA DE LUKCSCsaba Yarga

    A CRISE D a M U p g ^ OTRABALHO |4A |XALIDAD|

    Gran Therborn

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    ESPAO DD DIREITO NA

    ONTOLOGIA DE LUKACS*

    ( Csaba Varg^")

    LU K CS E OS

    PROBLEMAS JURDICOS

    O fato pouco conhecido queGeorg Lukcs obteve sua primeiragraduao em cincias polticas e

    ju r di ca s. Ap s seus es tu dos emBudapeste - e a esse respeito sabemosapenas que ele foi aluno de GyulaPikler, que desfrutou de uma repu-tao considervel por seus estudosem filosofia do direito, psicologia eetnologia obteve doutoramento emcincias polticas na University o f .Kolozsvdr, na Transilvnia, em 1906. Esses estudoslevaram-no amizade com Bdog Soml, a qualperdurou por mais de dez anos. Esse contato

    comeou porque foi para Soml, um filsofo dodireito e burgus progressista, que Lukcs escreveusua tese, cujo ttulo e texto permanecem desco-nhecidos at hoje. Eles se encontraram e mantiveramfrequente correspondncia, o que levou Lukcs aestar entre aqueles que auxiliaram a publicao emLeipzig do Juristische Grundlehre,' de Soml,trabalho que apenas tempos depois lhe trouxereconhecimento.

    Os anos passados em Heidelberg, antes e

    depois da Primeira Guerra Mundial, levaram-no a

    novas amizades. Acima de tudo,pode-se pensar em Max Weber, quetambm produziu grandes estudos nasociologia do direito e estimulouLukcs em sua ambio por umacadeira na Universidade de Heidel-berg. Outros vm mente, comoEmil Lask, Georg Jellinek e HansKelsen, todos j tendo demonstradointeresse pelo direito e escrito seusgrandes trabalhos, pioneiros tanto nodireito constitucional quanto nafilosofia e teoria do direito. Co nt udo,

    sua amizade mais pr xi ma foi com Gu st avRadbruch, cujas aulas ele assistiu como amigo.Seus debates sobre as premissas da filosofia dodireito de Radbruch, que estavam se estruturandocomo um sistema, tiveram tal impacto que estededicou-lhe seu primeiro estudo, Grundziige der

    Rechtsphiloophie,1 pois foi Lukcs quem o encorajoua public-lo.3

    Essa lista de nomes por si s suficiente parasugerir que Lukcs, no estgio mais sensvel de suaformao intelectual, estava apto a compreender,por fontes diretas, o conceito neokantiano do direitomode rno , a partir de amizades e debates em

    Traduzido dc "The Place ofLaw in Lukcs' Ontology",

    publicado cm Hungarian Studies on Gyrgy Lukcs, Vol. II.

    organizado por Lszl Ills, Farkas Jzsef, Mikls Szabolcsi e

    Istvn Szerdahelyi (Budapesre: Akadmiai Kiad, 1993), pp.

    563-77. A verso em ingls do presente texto pode ser

    encontrada no Centro de Documentao Lukcs da Universi-

    dade Federal de Alagoas. Traduo de Srgio Coutinho:

    Pesquisador snior do Instituto de Cincias Jurdicas e

    Administrativas da Academia Hngara dc Cincias, em

    Budapeste. Hans Ktsen GtaSv Raifcfuch

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    Heidelberg. sabido que todos essescontatos amigveis cessaram comoresultado da mudana intelectual deLukcs em 1918. Mas isso no impedeque a base das concepes tericas deLukcs sobre o direito continue sendo,at o fim, esse crculo de intelectuais de

    Heidelberg, dentre os quais a influnciade Wilhelm Windelband e HeinrichRickert foi to marcante. Se pensarmosnos primeiros estudos, como os escritos no perodode Histria e conscincia de classe ou A destruio darazo, ou a Ontologia surgem os mesmos nomes, osmesmos trabalhos, sem dvida as mesmas citaes,sempre que o direito discutido. De fato, pode-seafirmar que, com o decurso do tempo, o interessede Lukcs pelo direito no apenas no se reduziu,como tambm tornou-se mais claro e mais clssico:

    Radbruch e Soml caam no esquecimento para elek medida que compreendia os trabalhos maisrecentes de Weber e Kelsen, visando obter uma idiamais abrangente do direito de acordo com sua baseinicial de conhecimento e experincia (a nicaexceo relevante talvez seja A destruio da razo,na qual, por razes polticas e ideolgicasconvincentes, ele no teve alternativa a no ser tomarconhecimento das exposies de Carl Schmitt sobrea filosofia do direito). De modo geral, essas so asinfluncias e os limites da cultura jurdica de Lukcs.

    Como observao complementar, pode-se destacarque a sua biblioteca pessoal era incrivelmente ricae diversificada, mas era notvel a falta de outrosvolumes jurdicos. Nem mesmo continha os estudoshngaros contemporneos, que ele certamenterecebera como membro da Academia.

    O presente estudo esboa gradativamente asquestes sobre que forma de relao, dc fato, Lukcs

    manteve com os problemasjurdicos. Em sntese,

    possvel afirmar que ele noestudou direito por suavontade. perceptvel queescolheu estudar cinciaspolticas e jurdicas porfalta de algo melhor, o queera comum em seu tempo.Mesmo no seu relaciona-mento com Soml, pode-se supor que o fator domi-

    nante era a atrao pelo pensador daburguesia radical, assim como, cm:Radbruch, no era tanto 0 jurista quedespertava sua ateno, mas o pacifistaconsciente em tempos de guerra, em quea conscincia social era extraordinaria-mente bem desenvolvida. E durante os

    anos de Heidelberg esses filsofos dodireito no eram personagens isoladas,mas situavam-se num crculo de filso-

    fos, socilogos, historiadores, entre outros pes-quisadores de grande relevncia. Podem serincludos entre essas pessoas Marie-Luise Gotheinou Ernst Troeltsch.

    Para ser breve, Lukcs no tinha grandeinteresse pelo direito enquanto direito. deconhecimento geral que em seu trabalho no campoda crtica literria tambm no era tanto a criaoliterria em si que o interessava, mas seudesenvolvimento poltico-social ou, mais pre-cisamente, a imagem desse desenvolvimentopresente no trabalho criativo.4 Na maioria dosestudos de Lukcs, o direito tem de fato um papelmeramente ilustrativo. Em geral, trata-se apenas deretornar, por exemplo, oposio neokantiana damoralidade pura legalidade pura, de acordo coma qual ele sempre assinala a necessidade detranscender essa oposio, mas, na ausncia dequalquer anlise detalhada, dificilmente apresentamais que uma soluo meramente ilustrativa.Mesmo assim, quando considerou til, ele fez usodo direito.

    O exemplo clssico pode ser encontrado noestudo "Reificao e conscincia do proletariado",publicado em Histria e conscincia de classe, em1924.5 Aps o colapso da Repblica Hngara dosConselhos,' que estendeu a mo promessa do queseria o Dia do Julgamento, ele erigiu ummonumento para o movimento, que descreve o

    presente moribundo como uma utopia negativa. Essemomento presente caracterizado pelo anseio deprevisibilidade, razo formal e a alienao dasqualidades humanas e a ruptura dos processosnaturais. A consequncia de tudo isso a reificao

    Para mais informaes sobre a relao entre Lukcs e a Repblica

    Hngara dos Conselhos, ver G. Lukcs, Pensamento vivido:

    autobiografia em dilogo (So Paulo/Viosa: Ad Hominem/UFV,

    1999 (N. do T.).

    Wilhelm WndMamt

    I K I t t I T I , U l l l ' rwwssTsc t *

    Cfia da primeira edio do livros/Ura cons* dtCIBS

    AN O 18 N 39 2 0 0 3 ^ N o v o s RUMOS

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    "(...] odireitoobjetwo moderno

    identificado com o direito

    requerida pela revoluo

    socialisia.".

    no sentido hegeliano, conceito interpre-tado por Lukcs como a alienaocompreendida no sentido marxiano.Assim, o direito objetivo moderno identificado com o direito capitalista, cujatranscendncia requerida pela revoluosocialista. Desse modo, a utopia negativa

    conduz a uma positiva, assim como apercepo dramtica do presente conduz concepo de um socialismo que noreconhece o socialismo em sua estrutura institucio-nal especfica, tecnicamente construda e buro-craticamente dirigida. Esse niilismo jurdico-prticoque Lukcs, partindo de pressupostos ideolgicos,adota em meados da dcada de 1920, concorda com

    a realidade sovitica dotempo, no com os objeti-vos da Repblica Hngara

    dos Conselhos, para cons-truir um sistema jurdico em133 dias, esforo no qualLukcs tomou parte ativacomo um comissrio nogoverno revolucionrio.6

    At que nos preocu-pemos com a contradioentre a lei formal e a coero

    jurdica prtica, pr incpiosextremamente importantespodem ser encontrados naspginas da A destruio darazo, cujo texto foi resul-

    tado do caminho trilhado por Carl Schmitt dasociologia ao fascismo. Ao mesmo tempo, caracterstico dos primeiros pontos de vista crtico-ideolgicos de Lukcs que sua concluso no eracompletamente conduzida por uma lgica baseadaem princpios e conceitos, mas no contexto polticoe ideolgico das atitudes comentadas. Por isso, a

    reao lukacsiana foi diferente quando Schmittformulou uma tese crtica ao neokantismo em geral,7

    e diferiu novamente quando ele usou essa mesmatese em 1934 para justificar a liquidao brutal doSturmabteilung de Ernst Rohm.8

    Assim, a atitude de Lukcs sobre os problemasjurdicos , em essncia, marcada pela busc a dacompreenso do contexto total dominante, domesmo modo que no campo dos eventos socio-polticos a questo do poder que funda-

    cmiS e h m k t

    4

    i

    mentalmente dirige essas relaes. Quandoformula polticas, todavia, ele se insurgecontra o direito, apesar de isso noultrapassar os limites do ocasional.Consequentemente, nessas exposies, odireito sempre surge como uma combi-nao de entes mais poderosos (como um

    instrumento da poltica), e Lukcs estCufSdnfl int ere ssado preci sa men te no con tex to

    dessas maiores entidades e no no mundoe mecanismos especficos do direito.

    Como seu ponto de partida, nem mesmo aexposio da Ontologia do ser social alcana maiorinteresse. Nela, os problemas jurdicos assumemum aspecto radicalmente diferente. Uma questodecisiva na Ontologia consiste no carter damediao social: ela press upe um mecanismoparticular de complexos do ser relativamente

    autnomos e construda de forma indita. Lukcsno poderia encontrar um exemplo melhor do queo direito, pois ele ao mesmo tempo uma estruturaformalmente independente e ainda integradaorganicamente s atividades sociais. Pois o direitono mais aparece apenas em sua subordinaofuncional totalidade dominante (poltica,econmica, etc.), mas precisamente 1) em suanatureza e seus mecanismos internos de acordo comseus prprios postulados normativos; e 2) nacontradio dialtica que rompe com a lgica de

    seus mecanismos particulares no decurso da suaimplementao prtica, e por meio de diversasmanipulaes conduz a solues prticas queresultam em solues comprometidas.

    DA ONTOLOGIA EM GERAL

    A verso final da Ontologia chegou a nossas mosna forma datilografada, corrigida pelo autor. Apesarde o texto estar coeso, ele ainda um fragmento.Os trs volumes no esto organizados em

    sequncia, mas apenas expressam as idias do autorem paralelo. Essa forma de edio no resultadoda concepo original de Lukcs, mas resultado desua morte antes da concluso do trabalho. Por isso,no simplesmente a possibilidade de contradiese mudanas de nfase que nos interessa, mas,principalmente, a circunstncia de que a doenado autor compeliu-o a completar seu manuscritocom tamanha celeridade que ele no teve temposuficiente para administrar seus argumentos e

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    organizar a rede de conceitos e outras relaesconexas num sistema bem construdo. O texto

    integral da verso alem apenas apareceu em

    tradues hngara e italiana (uma edio alem est

    sendo preparada; em ingls foram publicados apenas

    trs captulos, menos que um quinto de todo o

    texto);' por isso, filsofos na Hungria e no mundo

    acadmico, exceto pelo criticismo acadmicoresultante do prprio manuscrito,9 ainda no o

    estudaram com o devido rigor crtico e filolgico.

    Eles apenas ficaram cientes da existncia do texto.

    Para desenvolver a viso do direito na Ontologiaem conjunto com diversas questes basilares, preciso apresentar algumas reflexes metodolgicase definies de categorias que determinamdecisivamente a direo do pensamento de Lukcssobre o direito e seu lugar no seu sistema depensamento. Tendo isso em mente, sou, claro,

    incapaz de aspirar a completude ou consistnciaque, logicamente, suficiente aqui.

    1. De acordo com Lukcs, a relao entre a anl iseontolgica e epistemolgica determinada pelaexistncia social e apenas pode ser concebidacomo um fenmeno se realmente exerceinfluncia em seu desenvolvimento e desem-penha uma funo real. Quando eventos sociaistomam lugar na conscincia dos indivduosativos na sociedade, na mediao das objetiva-es da conscincia sendo reproduzida emsociedade, e com a interao de suas influnciasna organizao, as diversas estruturas,ideologias, etc. da conscincia tm papelimportante, independentemente de serem ouno verdadeiras. A avaliao de fenmenoscomo a reflexo, portanto, a evoluo de suaadequao reflexiva, no conduz compreensoda influncia real que eles exercem. Sem dvida,ocorre o oposto: a anlise das influnciasrecprocas em curso no processo social podenos levar revelao de todos os fatotes da

    conscincia participantes nesses processos, suaverdade ou mentira, mesmo a presuno socialde verdade ou mentira de seus fatos.

    2. A anlise ontolgica no engloba simplesmente

    a busca por conexes, mas o reconhecimento

    de que essas conexes apenas podem sercompreendidas quando esto inseridas na

    totalidade dominante, como elementos do

    cerne. Pois o mundo no pode ser construdo

    seno por um conjunto de componentes

    constituintes; para isso, precisamente a

    totalidade, o movimento total scio-histrico,

    que fornece inteligncia investigativa a basepara sua separao em componentes e para a

    demonstrao de sua particularidade. Lukcs

    critica essa concepo, pois o discurso

    metodolgico visando anlise da totalidade

    acompanha toda a fase marxista da carreira de

    Lukcs. Para citar a formulao poderosa dadana Ontologia:

    O contexto total do com-

    plexo em questo precede

    aos indivduos que o cons-

    tituem. Eles apenas podemser compreendidos na inte-

    rao concreta com o com-

    plexo do ser que envol-

    vido, enquanto seria ftil

    tentarmos teoricamente re-

    construir a complexidade

    prpria do ser de seus

    cons t i tu in te s . 1 0

    Referncias bibliogrficas dessas e de outra s obras de G. Lukc spodem ser encontradas no Centro de Documentao Lukcsda Universidade Federal de Alagoas (N. doT.).

    3. A anlise da totalidadetorna possvel a interpre-

    tao historicamenteconcreta e dialtica dascategorias particulares,ao procurar separar os componentes parti-culares do movimento da totalidade dasinfluncias recprocas que nela tomam lugar e,assim, determinar a posio e funo queocupam na totalidade; ainda, determinar aqualidade especfica de seu movimento. Isto ,para Lukcs, a esperana e a possibilidade dotertium datur, a terceira possibilidade de umaboa oportunidade entre duas ms, que evitaforar todos os processos sociais camasodmica de uma hierarquia abstrata, e querecusa plenamente a considerao do marxismovulgar que esfora-se por substituir a anlisefilosfica dialtica por uma construo mecnicabaseada em algumas categorias fundamentais.

    4. A afirmao de que a ontologia dos complexosexplica a realidade, o complexo total, como umcomplexo formado por complexos uma das

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    consisteem complexos

    que so por sua vez

    complexes de complexos

    parciais".

    5.

    categorias mais importantes no estudo deLukcs. Essa novidade em anlise , de longe,uma extenso que surge apenas para substituira categoria marxiana das relaes sociais. Mas,se prestarmos a devida ateno, transparece queno uma questo de reforma. O complexototal consiste em complexos que so por suavez complexos de complexos parciais. Assim, arealidade formada por influncias recprocasnas quais a qualidade dos complexos particulares derivada da sua autonomia relativa, mas cuja

    direo e parmetros sofixados pela interao dessasestruturas como se encon-tram no complexo total.Percebe-se que aqui lidamoscom a questo da expressoontolgica da anlise datotalidade, uma expresso na

    qual a realidade no outraseno a totalidade concretado movimento dos com-plexos parciais como seencontram em certo mo-mento. Infelizmente, Lukcsno forneceu uma definioda categoria "complexo";nem se preocupou em se-

    par-lo teoricamente das relaes sociais. Semadentrar s suas anlises em detalhes,

    necessrio, entretanto, mencionar as carac-tersticas seguintes: a ontologia dos complexostem sua base na dialtica de interaes inseridasna totalidade; sua existncia caracterizada pelasua continuidade irreversivelmente emprogresso; elas adotam todas as objetivaesproduzidas no curso da prxis social humana,do mesmo modo que todos os sujeitos que nopodem ser separados desta e efetivam ereproduzem as objetivaes emquesto; ou, em outras palavras,

    caractersticas e definies quedificilmente encontram-se na cate-goria das relaes sociais com rigorconceituai.

    Ao retornar a Marx, Lukcs afirmaque as categorias nada mais so queformas de certa existncia, deter-minaes da existncia; e a existncia idntica continuidade irreversivel-

    mente em progresso. Nas palavras de Lukcs:"a existncia composta pelas infinitas relaesrecprocas de complexos continuamente emprogresso, relaes que, tanto em suas partesquanto nas totalidades (relativas) resultam emprocessos concretos, irreversveis"."

    Lukcs atribui fundamental importncia ao

    fenmeno da socializao, uma vez que aexistncia, essencialmente, significa auto-reproduo e, uma vez que isso ocorre cadavez mais sob condies que no se encontramna natureza, mas so trazidas pelos prprioshomens no decurso da prxis social. Issosignifica que, na reproduo da existnciasocial, relaes puramente sociais, mediaes,e determinaes tm prioridade crescente.Complexos sociais tornam-se estruturas maisintrincadas, assim como sua autonomia relativa

    continua a se expandir, a particularidade de suasfunes torna-se mais acentuada e suasinteraes recprocas levam a snteses, criandoconexes de natureza cada vez mais composta,que no apenas aumentam o poder coercitivosocial, mas despertam a fora de consequnciasimprevistas.

    evidente, com base na categoria da mediao,que espcie de processos a socializao acelera.A matriz uma categoria extraordinariamentegenrica no trabalho de Lukcs. Em geral, pode-

    se afirmar que a mediao um mdiumcontnuo no qual a interao dos complexos seefetiva. Quando se fala em socializao e nasinteraes recprocas que se tornam maiscomplexas, preciso pensar em sua rede comosendo to intrincada que o que est mediandotorna-se tambm mediado. Numa existnciasocial mais avanada, a mediao to mediadaque no apenas faz com que determinaes

    extremas e unidirecionais cedam a suadialtica, mas uma variedade de formas

    intermedirias mediem de tal modo que,no processo, elas mesmas sero media-das em suas interaes recprocas comoutros complexos.

    8. Lukcs percebeu o modelo de todaatividade humana na estrutura ontol-gica do trabalho. No trabalho, eleformulou a possibilidade de transferirda existncia natural para a existncia

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    social, precisamente por meio darelao dialtica e mutuamentedependente de processos teleo-lgicos e puramente causais. "Porum lado, a teleologia apenaspossvel sob o domnio da causa-lidade, enquanto, por outro lado,novos objetos, formas e conexessurgem na sociedade apenas comouma consequncia de projeesteleolgicas."'2 Como demons-trado pelo exemplo da roda, aprojeo teleolgica apta a proje ta r narealidade novas conexes que no so dadas eno podem ser espontaneamente desenvolvidasa partir de si, e que ento realizam-se porprogressos causais em movimento, de tal modoque, de acordo com as atividades especficas,eles tendem a exceder a projeo original e, nofim, produzem mais que, ou algo diferente, doque era a inteno original. Se considerarmoso ato do trabalho do ponto de vista da mediaoe socializao, imediatamente perceptvelquais mudanas universais significativas sotrazidas pelo desenvolvimento que Lukcs tinhaem mente. No ato elementar do trabalho, oprojeto ontolgico imediatamente relacionadocom a atividade realizada. Portanto, com asocializao, todas as demais mediaes passama ser conexas entre si, de modo mais claro coma formao de estruturas puramente sociais(econmica, religiosa, moral, jurdica, etc.), e,assim, o objeto desses projetos particulares um outro projeto, que por sua vez est apenasmediando a srie de prolongamentos entre oato do trabalho e sua real implementao.

    A RELEVNCIA DA CDNTOLOC3IA

    PARA D PENSAMENTO JURDICO

    MARXISTA

    O significado da concepo do direito naOntologia apenas pode ser realmente avaliado seexaminado de acordo com o que prova sua utilidadeno desenvolvimento atual do pensamento jurdicomarxista.

    Hoje, quase uma banalidade afirmar que apreparao intelectual das revolues socialistas nose dedicou elaborao de uma teoria genuina-mente jurdica do marxismo. O cerne de uma

    revoluo a ciso de poder, e isso como pode ser constatado, por exemplo,em O Estado e a revoluo, de Lnin eem sua palestra "Sobre o Estado"13

    apenas conduz ao aumento dos pro-blemas relativos ao Estado. Ao mesmotempo, o estgio ascendente da revo-luo vitoriosa estimulou um grandenmero de idias e, por isso, certautopia. O primeiro soviete esforou-secom base na teoria do direito de P.

    Stutshka, M. Reisner e E. B. Pashu-kanis'4 cada um seguido pelo outro de tal modoque primeiro, na esperana do desvanecer do direito,eles o aniquilaram; ento, eles avaliaram-no comoum fenmeno de transio, o resqucio burgus parexcellence; eventualm ente, eles reconhece ram aexistncia simultnea do socialismo e do direito,

    apesar de apenas compreenderem isso como umaespcie de associao forada. Com a consolidaoda revoluo socialista tornou-se evidentementenecessrio transcender esses conceitos e situar afundao terica da constituio e das leis dosocialismo. Como resultado da peculiaridadehistrica do desenvolvimento sovitico, essa tarefacoincidiu com a ascenso ao poder de Stlin e osmtodos e estruturas determinados pela crtica tardiado par t ido ao "culto dapersonalidade" e tornou-se a

    expresso heterognea des-sas duas tendncias. Essesso os termos do que al i teratura contemporneachama de socialismo jur-dico.15 To logo a essnciaseja compreendida, no seultrapassam as formulaestericas da poltica jurdicaconsequente, cuja base foi acent ra l idade do aparato

    legal, desenvolvido para aimplementao prtica de decises polticas tambmcentralizadas. Foi feita, ento, uma distinoconceituai restrita e institucional entre fazer leis eaplicar leis, e a descrio do fenmeno jurdico esua atividade paradoxalmente reduzida a conceitosexclusivamente formais de validade, legalidade eordem, nada segundo o ponto de vista sociolgico.

    O primeiro esforo crtico ao normativismo deA. Y. Vyshinsky16 partiu de A. Stalgevitsh.17 Com a

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    integrao das relaes jurdicas n>conceito de direito decorrente do XXCongresso do Partido Comunista daUnio Sovitica, os estudos de S. F.Ketshekian e A. Piontkovski precisamser mencionados.18 Mesmo assim, umlongo perodo se passou at que houvessequalquer progresso no campo terico,

    e isso no ocorreu at o reconhecimentodo ponto de vista sociolgico, por umlado," e a renovao scio-terica dafilosofia marxista do direito, por outro.20 AnOrty Vynlwisky

    Por fim, pode-se afirmar que a Ontologia deLukcs surgiu no melhor momento para odesenvolvimento da teoria jurdica marxista. Elafornece as bases filosficas e metodolgicas eacrescenta tendncias que eram, at aquelemomento, latentes nos esforos, previamente

    mencionados, em progresso.

    o DIREITO NA 7 NTULOG/A

    A anlise do direito na Ontologia assinala umespectro de problemas incri-velmente extenso e rami-ficado, como pode ser vistona diversidade de refe-rncias cruzadas e anlisesinterconexas, mas muito

    coerentemente com base nocaptulo presente no volumeOs mais importantes pro-blemas, referente "Repro-duo". ' A seguir ser feitauma introduo s maisimportantes entre essasanlises sobre certas ques-tes fundamentais.

    1. Para Lukcs, das conclu-ses, a de que o direito ,

    acima de tudo, uma categoria prtica, e, porisso, precisa ser considerado em princpioontologicamente e no epistemologicamente, a mais genrica de todas. Na anlise final, i aprpria prxis que se encontra sob julgamento.

    2.

    Tradues desse captulo e dos captulos "Do trabalho" e "Da

    ideologia" podem ser encontradas no Centro de Documentao

    Lukcs da Universidade Federal de Alagoas (N. T.J.

    To logo seja compreendido o direito,

    qualquer questo que surja e qualquer

    concepo apreendida precisa responder

    pergunta: Isso prova que ele funciona?Se a resposta for afirmativa, na anlise

    onto lgica , o critrio para que um

    fenmeno seja qualificado como jurdico

    no pode ser puramente interno, definido

    pelo prprio direito. Em outras palavras,

    a questo, "o que jurdico?" no

    respondida, numa anlise final, pela suarecepo legal como fato jurdico, mas

    pela sua realizao prtica como tal.

    A realizao prtica do direito e o significado

    da socializao so mais eloquentementedestacados pela dialtica do uso da fora como

    um dos meios para a part icular izao da

    mediao pelo direito. Em outras palavras, de

    acordo com Lukcs, a organizao jurdica dasociedade representa a admisso de uma

    contradio segundo a qual a garantia ltimade integridade social invariavelmente a fora,

    apesar de ser impossvel que a sociedade se

    baseie exclusivamente nessas consideraes.

    Para essa acepo, o direito o rnedium da

    homogeneizao de interesses divergentes, que

    auxiliam a presena constante da coero a

    tornar-se uma "possibilidade predominan-temente latente".21

    Essa contradio social est expressa na

    ambiguidade interna da construo do prprio

    direito. As normas jurdicas so formuladas detal modo que, caso no sejam observadas,

    formalmente, sanes devem-se seguir. Em

    contraste com esse projeto formal, na prtica,

    as normas podem ser mantidas apenas enquanto

    perdurar a necessidade de essas sanes serem

    aplicadas, mesmo que excepcionalmente, contrauma mera frao da sociedade. Assim, a coero

    necessria. Mas quando impossvel garantir-se isoladamente, ela serve como uma garantia

    final. Ao mesmo tempo, a garantia final pode

    ser aplicada cont ra apenas um a min ori a

    insignificante.

    A consequncia paradoxal desse fe nme no que

    o direito pode apenas exercer qualquer

    influncia sobre todos se suas normas so, pelo

    menos superficialmente, observadas "volunta-

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    riamente" pela maioria. Tal maioria sob"observncia voluntria" do direito, de qualquerforma, apenas possvel enquanto um nmerode outros fatores institucionais e ideolgicosque se movem na mesma direo do direitotambm exercem influncia. Isso tem duasconsequncias para generalizao terica. Em

    primeiro lugar, o deempenho da funo demediao do complexo jurdico de modo algum independente do complexo total. Em segundolugar, o que o ponto de vista estritamente

    jurdico inclina-se a considerar uma "observaojur dica", como efeitos prticos e realizao dodireito, , na maioria dos casos, nada alm deuma sntese do movimento complexo total,incluindo uma ampla variedade de influnciasno-jurdicas (polticas, econmicas, religiosas,morais, etc.). Isto , uma sntese cuja aparncia

    jur dica, superficialmente, insere-se no direito.Desse modo, o grande nmero de hipteses decomportamento avaliadas como sendo positivasdo ponto de vista jurdico no podem sercomparadas com qualquer aumento dainfluncia jurdica.

    3. Co m base no mtodo da Ontologia, o complexoju r di co , na sua existncia social , precisa serobservado como um processo irreversivelmenteem progresso. O ato de fazer leis, de umimportante veculo para funes independentes,torna-se um sinal inevitvel de socializao, masno pode alterar a posio que ocupa dentrodo complexo jurdico. A relao entre fazer eaplicar o direito sempre historicamente econcretamente determinada; contudo, umequilbrio entre ambos precisa ser sempreprocurado. Sua relao baseada na dialticade uma unidade contraditria, que tambminclui, como seus componentes inevitveis,objetivao jurdica e sua finalidade prtica.Isso sinnimo da assertiva de que, ontolo-

    gicamente, o ato de fazer leis no pode serisolado da sua aplicao, pois a atividade realdo direito continua sendo o meio para aefetividade do complexo jurdico. No esforoprtico de influncia, fazer leis tambmdesempenha um papel de mediao. Sua tarefaprimordial assegurar que a soluo jurdicados conflitos sociais se efetive, por meio doscanais adequados, alcanando os mximosestgios possveis e desejveis.

    Ontologicamente, uma

    lei pode ser estimada

    pela extenso com que

    ela conduz a influncia

    prtica. Se pensarmos

    em princpios clssicos

    do regulamento jurdico

    (nullum crimen sine legeno direito penal ou a

    competncia parlamen-

    tar para criar impostos),

    ou se pensarmos na

    questo dos direitos humanos, que se tem

    ex pa nd id o atualmente, bvio que seria

    superest i mada a impor tnci a de normas

    escritas. E ainda podemos subestimar a verdade

    da garantia de que pode ser ontologicamente

    avaliada e preenchida uma finalidade real apenas

    no complexo jurdico, quando suas normas seefetivam.

    Tambm uma consequncia dessa comple-xidade do direito que, quando se fala no carterde classe e na continuidade do direito comosuperestrutura, uma simplificao inadmis-svel considerar o complexo jurdico no emsua atividade, mas apenas em suas estruturasnormativas.

    4. Tradici onalme nte, a literatura marxista consi-

    dera o direito, o sistema de estruturas norma-tivas, principalmente, como reflexo das relaessociais. Assim, de qualquer modo, permanecerobscuro ou no uma questo de reflexo emsentido epistemolgico.

    Lukcs examinou cada elemento objetivo dacompreenso da realidade, apesar dessacompreenso no corresponder, para ele, aoprojeto teleolgico. Em vez disso, eis umaquesto, como ele defende, de "duas formasheterogneas de anlise da realidade".22 A

    heterogeneidade significa incongruncia; e comincongruncia, como no exemplo de Marx daincongruncia entre relaes de propriedade eseu conceito jurdico, a congruncia , emprincpio, impossvel.23

    A posio firme de Lukcs no impede que cadaatividade da conscincia expresse umareciprocidade viva com a realidade. Se dareflexo faz-se uma categoria geral quetranscende o sentido epistemolgico, ento est

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    apenas sendo definida a viso social de mundo(Weltanschauung) materi alist a, que, com aexistncia e a conscincia, definem exatamenteo momento predominante, mas no so capazesde especificar a natureza peculiar e a satisfaodas estruturas da conscincia. Nesse sentidomais genrico, pode-se compreender a projeo

    teleolgica, assim como a estrutura jurdico-normativa, como um reflexo. No entanto, preciso acrescentar que a particularidadeontolgica dessas formas de reflexo precisamente a de que elas no podem sercompreendidas epistemologicamente.

    O carter criativo da lei revelado imedia-tamente na norma indi-vidual. Com seu objetivo, anorma projeta na realidadeuma conexo que no foi

    dada em si nem pode espon-taneamente ser em si desen-volvida. Em segundo lugar,o objetivo apenas se apre-senta na norma jurdica sobuma forma latente. Nadefinio da conduta que olegislador considera instru-mental e apropriada paraalcanar a finalidade emquesto, no mais ser

    formulada. Em terceirolugar, a norma jurdica devedefinir essa conduta e, comessa base, fazer a qualifi-

    cao dos elementos reais irrefutveis daconduta, descrevendo assim a condutainstrumental em sua aparncia e de tal modoque se possa discernir da norma os fatos emestudo. Esta unilateralidade leva ao oposto dalegalidade e da moralidade, possibilidade dasano jurdica ser associada a hipocrisia

    extrema.24

    Em quarto lugar, a descrio de umaconduta instrumental torna-se uma normajurdica quando o legislador impe uma sanoao seu cumprimento ou descumprimento.

    Normas jurdicas, pois, no existem indepen-

    dentes umas das outras; mas so organizadasentre si num sistema. A criao de um sistema

    livre de contradies assume, quando a norma

    individual promulgada, maior compreenso

    por sua interpretao como um componente

    do sistema e compartilha seu esprito. Nesse

    momento do sistema, desempenham um papel

    importante as consideraes pu ram ent e

    prticas, maquiadas por tradies acadmicas.

    "uma manipulao abstrata e conceituai

    homogeneizante [...] da realidade", a consu-

    mao do que, em certo momento, "no se

    sustenta na realidade social, mas apenas navontade da classe dirigente em organizar a

    prxis social segundo suas intenes".25

    Caso seja necessrio resumir a anlise de Lukcsdas mudanas histricas da concepo jurdica

    dos fatos," ser necessria a seguinte concluso:

    o conceito jurdico uma fico da realidade.

    Em essncia, a questo de qual satisfao

    algum atribui a algum conceito jurdico algo

    alcanado por conveno. No se pode trat-lo

    como uma concepo cientfica por ser, em si,um reflexo da realidade. Deve, sim, ser visto

    como uma idia convencional, como um valor

    de um sistema de valores produzido por uma

    construo conceituai, que se reflete por si

    mesmo, as consideraes tericas e prticas

    ocultam sua emergncia, no a realidade

    exterior. Em outras palavras, nas transformaes

    histricas da concepo jurdica no odiscurso de uma reflexo epistemolgica

    adequada que decisivo, mas que esse

    conceito, organizado num contexto de um dado

    sistema como um instrumento prtico,

    esperado para contribuir com a funo real do

    complexo jurdico.

    5. Todo com ple xo, qua ndo est a serv io da

    regulao social, exige uma contradio interna

    especfica em seu mecanismo. Como um

    instrumento de mediao e em sua relao com

    outros complexos, pode obviamente desem-penhar apenas um papel instrumental e

    subordinado. Ao mesmo tempo, sua tarefa de

    mediao precisa de esforos formais paraadequar suas prprias leis no processo. Isto ,

    "as tarefas sociais requerem para seu preen-

    chimento um sistema cujos critrios, pelo

    menos em sentido formal, no derivem da

    prpria atividade nem da sua fundaomaterial, mas que seja especfica, interna e

    imanente".27 Essa a consequ ncia tcnico-

    organizacional do que foi denominado uma

    incongruncia no item 4.

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    O requisito formalmente elaborado para um

    sistema especfico tem ampliada a sua nfase

    em outras reas de regulao social fora do

    direito. Isso comum: os confli tos mais

    polarizados de interesses sociais so, numa

    anlise final, resolvidos pelo direito, pelo uso

    da coero institucionalizada, por uma

    mediao executada por um aparato extraor-dinariamente ramificado de acordo com normas

    jurdicas. Quando o direito analisado ontolo-

    gicamente, no se pode ignorar a questo de

    como sua operao real pode ser conciliada

    com a satisfao de seu sistema particular, com

    o princpio da legalidade e princpios gerais de

    direito.

    O dilema da funo e regulao jurdica no uma afirmao extrema da questo; ela decorreda quintessncia do prprio direito. Inciden-

    talmente, sugerida pela anlise da totalidade.Por isso preciso reconhecer, ao mesmo tempo,a determinao vinda do complexo total e daheterogeneidade do complexo jurdico em suadeterminao interna.

    Traduzido para a linguagem jurdica, isso umrequisito contraditrio que encontra expressona dualidade da legislao acima analisada. Ditode outro modo: o direito visa realizar o objetivosociopoltico original de tal modo que, no

    processo, ele se realiza, por meio de sua prpriainstrumentalidade e de seu projeto teleolgico;para a observao da norma jurdica umrequisito formal e oficial feito pelo prpriodireito.

    Mas no pode ser esquecido que esse umprincpio que apenas se concretiza no complexo

    jurdico. De um lado, socialmente desejvel,mas, por outro, de significado puramenteinstrumental na relao entre o processo total eo complexo jurdico. Ontologicamente, isso

    significa que o princpio da norma jurdica notem efeito determinante, mas mediador. No casode situaes extremas, o sistema particular depreenchimento incrustado no contexto jurdicono pode prevenir o processo total de eventuaisrupturas de princpios jurdicos para reforardeterminaes diretamente sociais. A obser-vao de princpios jurdicos depende, ento,daquilo que funcione como suporte ao processosocial total. Com essa definio basilar, a

    questo de qual degrau do complexo jurdicotenha sido atingido pode apenas ser consideradacomo fator subsidirio.

    A possibilidade de confronto entre a funo reale o princpio jurdico tambm desperta apossibilidade de ambiguidade em seu reflexoideolgico.

    Lukcs, reconstituindo os passos de MaxWeber, aceita a aparncia histrica do discursoda previsibilidade e o fato de que isso tenhacriado uma racionalidade formal em todas asreas da organizao social. Na Ontologia,diferentemente do que em Histria e conscinciade classe, Lukcs no avalia a racionalidadeformal como um sinal particular do desen-volvimento capitalista. De fato, considerandotudo isso no contexto de socializao, ele chega concluso de que este um componente do

    desenvolvimento, algo que universal e acenapara a transio ao socialismo. A racionalidadeformal adquire uma forma particular deformao e implementao do sistema norma-tivo-jurdico. , primeiramente, necessria pararesguardar o direito como poder regulador,suficiente em si. Em segundo lugar, necessriapara organizar o sistema de normas jurdicasao seu fim lgico. Em terceiro lugar, para satis-fazer seu prprio siste-ma de funcionamento,

    necessrio conceber suaimplementao comouma operao logica-mente determinada.

    Um exame ontolgicodemonstra que tudo isso uma iluso. Mas uma iluso que tem suafonte na essncia onto-lgica do fenmeno,

    pois um discurso socialreal permanece oculto.

    A transio efmera entre iluso e realidadetambm pode ser observada no caso de um dosconceitos constitutivos do direito: a validade.A validade o que nos permite distinguir entreo que seja jurdico e no-jurdico. A racio-nalidade formal tambm formalizou a validade;como resultado, o complexo jurdico tornou-seformalmente diferenciado de todos os outros

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    complexos. A validade deter-mina o que deve ser classificadocomo pertencente ao sistema

    jurdico; sua aceitao como umvalor , assim, um ponto departida natural para qualquerpreocupao com o direito, sejaela terica ou seja prtica. Avalidade apenas um princpioconstitutivo inserido no com-plexo jurdico. Desse modo, eladivide todas as condies ilus-rias e condicionais que foramdefinidas quanto organizaolgica e atividade jurdica. Isso violado pelaprtica de jure invlida de rgos estatais (quede facto nunca reconhecida como prtica

    jurdica pe rm an en te ) do mesm o mo do que violado pela revoluo. Assim, pode ser avaliado

    ontologicamente apenas enquanto est iverassociado com a efetividade no processo realde mediao, ou seja, a efetividade define ocrcu lo no qua l a validade po de ser inteli-givelmente proposta.28

    Em princpio, foi sugerido que o direito, comoobjeto particular, presume seu prprio sujeitoparticular de conservao-implementao-reproduo, de acordo com a profissoqualificada e especializada dos juristas. Os

    ju ri st as tambm possue m, ontologicame ntefalando, uma relao necessariamente ambguacom o direito. Por um lado, operam ereproduzem-no como um sistema de normas e,por outro, so seu instrumento e, na sua prxisprofissional, realizam a ideologia que constituirsua prpria viso jurdica do mundo social.

    Para descrever todo o processo mais uma vez:simultneo socializao, o direito deve emergircomo complexo mediador do ser. Sua auto-nomia relativa deve ser desfeita; os objetivos

    sociais a que ele serve devem ser analisadostendo em vista a realizao de seus prpriosprojetos instrumentais. Para esse fim, seusistema particular deve ser formalizado. Por fim,o discurso da norma jurdica deve serdesenvolvido como um princpio internoopera ciona l, garantind o a possibilidad e decontrole formal. Formalmente, assim, o direitosurge como uma estrutura fechada, autofgica,auto-suficiente e que se move de acordo com

    Enosls

    seu prprio trabalho. Em seusprimeiros anos de estudo sobre aquesto, no havia dvida paraLukcs de que isso no apenasdespertara o problema da classi-ficao, mas tambm generalizaradiscrepncias part iculares. Oconflito de classes e a lgicaclassificada so apenas depositadoscomo formas fenomnicas. 2 9 Algica exposta como uma iluso,apesar disso apenas afet-la emfuno da determinao. No ailogicidade nem uma alogicidade da

    realidade que surge por trs da iluso lgica.Primeiro, no direito, a consistncia sistemticae lgica no um requisito descoberto, mas realmente um anseio mxima efetividade.Segundo, se sua auto-a firmao en co nt ra

    obstculos, isso apenas significa que oscontextos tomam a frente em vez de aspectosapenas formais. Terceiro, a lgica particular dodireito no eliminada aqui, desde que elaexercite uma funo final de controle.30

    O rigor ontolgico de Lukcs assusta modostradicionais de pensar porque retm o direito,na anlise final, como um objeto da ao emvez de seu diretor:

    A operao do direito positivo baseia-se no seguinte

    mtodo: manipular um redemoinho de contradies,de tal modo que o resu lta do no apena s um siste ma

    uni fica do, mas alg o que capaz de regul ar pra ti-

    camente ocorrncias sociais contraditrias e que tende

    ao mximo, e tambm mover-se flexivelmente entre

    1...) plos antagnicos visando produzir e influenciar

    decises da prxis social, mais favorveis para esta

    sociedade em qualquer tempo dado, no curso de

    mudanas constantes de equilbrio numa regulao

    social que se transforma lentamente. claro que isso

    requer uma tcnica especialmente manipuladora, e

    explicao suficiente do fato de que tal complexo

    pod e apenas repr odu zir- se se a sociedade co nt in ua -

    mente produz os respectivos especialistas (de juzes e

    advogados a policiais e carcereiros).31

    De acordo com a tradio, a manipulaosignifica uma operao ilegal realizada com ousem o direito. Com Lukcs, todavia, ela torna-se uma categoria carente de qualquer avaliao:significa o mdium prtico que garante aexistncia social do complexo jurdico: suacontinuidade irreversivelmente em progresso.

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    Engcls, em sua carta para Conrad Schmidt,escrita em 27 de outubro de 1890, j percebiaa possibilidade de um antagonismo entre aeconomia e o direito, a situao crtica na quala economia e o direito confrontam-se e na quala questo de qual deles ser temporariamentesubordinado ao outro algo de total determi-nao.32 Com Lukcs, o elemento novo no oreconhecimento da possibilidade desseantagonismo, mas a sequncia ininterrupta denveis intermedirios desse antagonismo comoa caracterstica ontolgica do mecanismo

    jurdico. Se gund o o autor, a vida .prtica dodireito a contnua manipulao prtica dosistema normativo, que primeiro reformaconceitualmente confli tos sociais e entotransforma-os em conflitos jurdicos para, emseguida, cumprindo os requisitos formais dosprincpios jurdicos, reduzi-los a conflitos

    ilusrios. Para isso no necessrio ser umprofissional espetacular na rotina jurdica. Emcasos especficos, isso pode ser negligenciado,at irreconhecvel. Assume no mais do que odesejvel pela mediao do movimento socialpor uma objetivao esttica. Os componentesdo processo podem ainda acrescentar mudanassignificativas na direo. Como acentuaLukcs: "Naturalmente, em certos estgiosprimitivos, o desvio pode ser mnimo, mas quase certo que todo o desenvolvimento

    humano depende desse deslocamento m-nimo."33

    A crtica de Marx e Engels viso jurdica demundo em A ideologia aleme em outras obras34

    foi dirigida autonomia alegada do complexojurdico e demonstrou a superioridade dadete rmin ao total. Co mo uma crticaideolgica, cumpriu sua finalidade, mesmo nofornecendo uma explicao ontolgica. Aparticularidade do problema conciliada

    concluso de que o complexo jurdico noapenas desenvolve sua autonomia relativa, mas,em virtude de sua formalizao, institucionalizaprincpios operacionais e ideologia profissionalcorrespondentes que permitem ao complexo

    jurdico parecer autnomo. De out ro modo: amisso da profisso jurdica reconhecer eresolver conflitos sociais reais. Ao mesmotempo, todavia, isso deve ser expresso no emsua diversidade dialtica e fluxo constante, mas

    nos conceitos jurdicos restritos a sua validade

    legal e sob costumes homogneos. No tarefa

    dos juristas refletir a realidade em sua

    diversidade, mas avali-la como a realizao ou

    no-realizao de um dos fatos predefinidos que

    constituem um caso. Assim, sua ideologia

    profissional convida-os a filtrar a realidade

    segundo seu sistema especfico e influenci-lamantendo-a de acordo

    com os princpios ope-

    racionais do sistema.

    Ao mesmo tempo, ojur is ta plenamenteciente do status on to -lgico de sua prpriaexistncia e sabe quesua ideologia sugereiluses e requisitos que

    no podem ser verifi-cados epistemologica-mente. Uma espcie deconscincia ambguadecorre do que pode ser chamado duplosentido: no consiste em encobrir a ambi-guidade, mas a cincia de si que torna o juristaalgum que tem conscincia e influncia ativanos processos sociais. A origem dessereconhecimento consiste em que a raiz daquesto no se encontra na ideologia profis-

    sional, mas na contradio in terna dosinstrumentos disposio do jurista. Essa arazo pot que ele deve estar a servio tanto dasociedade quanto do direito: servir ao direitode tal modo que esteja simultaneamenteservindo sociedade.35

    LIES PARA UMA TEORIA

    M A R X I S TA

    Na obra da vida de Lukcs, a anlise ontolgica

    do fenmeno jurdico deve sua cor especfica a duascircunstncias. Lukcs possua uma erudio

    jurdica definida, que o tornou capaz de perceber omecanismo interno do mundo jurdico. Alm disso,obteve sua erudio sem ter contato direto com acarreira jurdica. Ele no foi em qualquer momentoinfluenciado pela ideologia da profisso de jurista,nem foi afetado pelos requisitos da poltica oficial,ele permanecia capaz de analisar o d i re i torigorosamente e com o afastamento e a objetividade

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    do pensador que estava no exterior, mas ainda

    sensvel aos seus problemas. Assim, a anlise total

    da Ontologia veio com impulsos que fizeram-no ver

    o direito no atravs dos filtros dos elementos

    normativos da estrutura jurdica, mas na realizao

    prtica e funcional.

    Em sntese, os diversos argumentos na obra de

    Lukcs sobre o pensamento jurdico marxistapodem ser reduzidos a uma questo: devida adistino feita entre a teoria jurdica marxista, aqual visa ser uma teoria do direito genrica,sociocientfica, e a teoria marxista do direito, quemilita pela providncia ao direito em sociedadessocialistas de uma fundamentao terica de acordocom requisitos sociais e princpios de polticalegislativa? Suponho que a nica resposta que possaser formulada de acordo com o mtodo lukacsianoseja que a teoria jurdica marxista pode apenas

    tornar-se uma teoria geral do direito: 1) se estimaro presente como um produto transitrio e particulardo desenvolvimento (viso histrica); 2) se constatara variedade de argumentos jurdicos socialistas nocontinente europeu como uma entre tantasalternativas de desenvolvimento, como historica-

    mente e concretamentedecorrente de condies epeculiaridades dos respec-tivos pases e dos mpetosinternacionais do passado e

    do presente sob presso detudo que devem desenvolver(anlise comparativa); e,finalmente, 3) se descrevemo movimento real do direitoe suas atividades, e no seusprincpios puramente dese-

    jados e/ou normatizados(anlise sociolgica).

    Na ausncia de quais-quer teses diferentes, no

    garantido que a avaliao dodireito segundo o complexo

    total e sua anlise inserido no complexo jurdicocond uza a uma sntese terica ade qu ad a. Emconsequncia de restries profissionais eideolgicas, fcil que resulte no numa teoria dodireito, mas numa teoria de uma espcie de direitoque v qualquer divergncia do que seja aceito comopretendido no como a caracterstica objetiva de

    atividades reais, mas como uma imprudncia que,cr-se, possa ser eliminada pelo riscar da caneta. 36

    N O TAS

    1 Felix Somb, Jurittiche Grundlehre (Leipzig, 1917).2 Gustav Radbruch, Grundziige der RechtsphiUssophie (Leipzig,

    1914) .3 Cf. Csaba Varga: "Beitrge zu den Beziehungen zwischcn

    Gustav radbruch und Georg Lukcs", Archiv fur Rechts und

    Sozialphilosophie, LXVII, 1981, 2.4 Cf. no contexto do caso em estudo, Mikls Lack: "Politica,

    kultra, realizmus - Lukcs Georg a 100% idszakban"(Policies, Cultu re, Realism - Ge or g Lukics in the Period of th ePeriodical 100%) 0j Irs, XIII, 1978, 2, pp. 87 e 93.

    5 Geo rg Lukcs: History and Class Consciousness: Studies in MarxistDialectics (London and Cambridge: Mas, 1971).

    6 Cf. Csaba Varga: "Lukcs 's History and Class Consciousness

    and its Dramatized Concept ion of Law: a Contribu tion to t heDevelopment of Marxist Legal Thinking", em Conceptionscontemporaines de droit, P Trappe (ed.) (Wiesbaden, 1982)

    [Archiv fiir Rechts und Sozialphilosophie. Supplemenra, Vol. 1,Part 2.)

    7 Carl Schmitt: Politische Theologie (21 ed. Munique/Leipzig:

    1934), pp. 11 ss., por um lado, e Carl Schmitt: Positionenund Begriffe (Hamburg, 1940), pp. 200 ss, por outro.

    8 Georg Lukcs, Die Zerstorung der Vemunfi, cap. VI, seo 5

    (Neuwied, 1962).9 Cf. Ferenc Fehr, Agnes Heller, Gyrgy Mrkus and Mihly

    Vajda: "Notes on Lukics's Ontoog y", em Telos nD 29, outono,

    1976.10 Georg Lukcs, Zur Ontologie dei gesellschaftlichen Seins - Die

    Arbeit (Neuwied und Dramstadt, 1973, pp. 63-64.

    '1 Georg Lukcs: A trsadalmi Ut ontoUgijrl, vol. III (The

    Ontoogy of Social Being) (Budapeste, 1976), p. 172.12 H. H. Holz, I. Kofler and W. Abendroth, Conversations with

    Lukcs (Londres, 1974), p. 77.15 Para primeiro, cf. Lnin,, Selected Works (Moscou, 1971);

    para o segundo, "ogosurdarsive" [palestra para a UniversidadeSverdlovski, 11 de junho de 1919], cm V. I. Linin, Sotshineniya,vol. 29 (41 ed. Moscou, 1950) [em outros idiomas, http://

    www.marxists.org/archive/lenin/works/index.htm].14 Para uma seleo representativa de seus estudos, cf. Soviet Legal

    Philosophy, J. Hazard (ed.) (Cambridge: Mass, 1951), assimcomo E. B. Pashukanis: Selecled Writingl on Marxism and

    Law, P. Beirne and R. Sha rlet (Lond res, 1980).1 s Cf. Im re Szab: "The Noti on of Law", Acta Jurdica Academiae

    Scientiarum Hungaricae, XVIII, 1976, 3-4, pp. 267 e ss.

    16 Para sua obra terica, cf. A. Vyshinsky: "The FundamentalTasks of the Science of Soviet Socialist Law" (1938), em SovietLegal Philosophy, J. Hazard (ed.), assim como A. Vyshinsky:

    The Law of the Soviet State, J. Hazard (ed.) (Nov a York,1948) .

    17 A. K. Stalgevitsh: "K oprosy o ponyatii prava", em Sovetskoe

    Gosudarsivo i Pravo, 7, 1948.18 S. F. Ketshekyan: "Normi prava i pravootnosheniya", cm

    Sovetskoe Gosudarsivo i Pravo, 2, 1955; 1, 1956.19 Cf. , an tes de tudo, Klmn Kulcsr: Ajogszociolgiaproblmdi

    (Problemas of the Sociology of Law) (Budapeste, 1960).

    N o v o s RUMOS Q ANO 18 - N 39 20 03

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    Cf. I. Szab: Les Fondements de la Thorie du Droit (Budapeste,1973); V. Peschka, Grundprobleme der modernen Rechtsphilo-sophie (Budapeste, 1974).

    Geor g Lukics, A trsadalmi ltontolgidjrL vol. II (Buda peste,

    1976), pp. 223 e 274.

    Lukcs, Zur Ontologie des gesellschaftlichen Seins, cit., p. 36.

    Georg Lukcs, Marx 's Basic Ontological Principies (Londres,

    1978), p. 125.

    Georg Lukcs, A trsadalmi lt ontolgijrl, vol. II, cit.,p. 213.

    Ibid., p. 218.

    Cf. Csaba Varga, "Chose juridique et rification en droit:con tri but ion la thorie marxiste sur la base de 1'Ont olo gie deLukcs", em Archives de Philosophie du Droit, tomo 25, Paris,1980, seo II.

    Lukcs, Marx's Basic Ontological Principies, cit., pp. 126-127.Cf. Csaba Varga, "Geltung des Rechts - Wirksamkeit desRechts", em Die gesellchaftliche Wirksamkeit sozialistischen

    Rechts: Probleme ihrer Begriffshestimmung und Messung, hrsg.

    K. A. Molln au (Berlim, 1 978).

    Georg Lukcs, A trsadalmi lt ontolgijrl, vol. II, cit., p.

    220.Cf. Csaba Varga, "Law and its Approach as a System", Acta

    Jurdica Academiae Scientiarum Hungaricae, XXI, 1979, 3-4,e, como reimpresso, Informatica e diritto, VII, 1981, 2-3

    [Informatica e diritto pode ser encontrado no Centro deDocumentao Lukcs da Universidade Federal de Alagoas].Georg Lukcs, A trsadalmi lt ontolgijrl,vo\. II, cit., pp.225- 226 .

    K. Marx e F. Engels, Selected Works in One Volume (Londres:1968), pp. 686 ss [cf. http:/www.marxists.org].

    33 Holz, Kofler and Abaendroth, Conversation with Lukcs, cit.,p. 18.

    34 K. Marx and F. Engels, "The German Ideology", em K. Marxe F. Engels, Collected Works, vol. III (Moscou, 1975), p. 91,assim como F. Engels, "Juristen - Sozial ismus", em Die Neue

    Zeit, 2, 1887, agora em K. Marx and F. Engels, Werke, vol. 21(Berlim, 1979), pp. 491 ss. [www.marxisrs.org].

    3 5 Cf. Csaba Varga, "Recht und Rechts verwirk lichu ng:

    Juristisches Weltbild, Subsumption und Manipulation", emArchiv fur Rechts - undSozialphilosophie, LXX, 1984,2 e, sobmais abrangente perspectiva histrica e terica, Csaba Varga,"Logic of Law and Judicial Activity: a Gap Between Ideais,Reality and Future Perspectives", em Legal Development andComparative Law, Z. Pteri and V. Lamm (eds.) (Budapeste,1982).

    36 Para a anlise do autor sobre a interpretao de Lukcs numcontexto jurdico, uma espcie de sntese dada em seu ThePlace of Law in Lukcs' World Concept (Budapeste, 1985).Sobre a Ontologia, suas publicaes anteriores incluem "TheConcept of Law in Lukcs' Ontology", Rechtstheorie, X (1979)3 e "Towards a Sociological Concept of Law: an Analysis ofLukcs' Ontology", em InternationalJournal ofthe Sociology of

    Law, IX, 1 981 ,2, o presente ensaio sendo u ma verso revisadado anterior. Quanto base do pensamento metodolgicolukacsiano, sem qualquer anlise textual, uma exposiosistemtica encontra-se no ensaio "Towards the OntologicalFoundation of Law: Some Theses on the Basis of Lukcs'Ontology", em Rivista Internazionale di Filosofia dei Diritto,LX, 1983, e tambm Filosofiadelderechoy problemas de filosofiasocial: Memoria dei X Congreso Mundial Ordin rio d e Filosofiadei Derecho y Filosofia Social, coord. J. L. Curiel B., vol. X,Mxico, 1984.

    ANO 18 39 20 03 ^ N o v o s RUMOS

  • 7/30/2019 o Espaco Do Direito Novos Rumos 2003

    16/16

    N E S T A E D I OO ESPAO DO DIREITO NA ONTOLOGIADE LUKCSCsaba Varga

    BALANO HISTRICO DO SOCIALISMO EO MOMENTO ATUALGilmar Mauro, Luiz Bernardo Perics

    A CRISE DO MUNDO DO TRABALHO E AATUAL 1DADE DE GR AM SC I

    Marcos Del Roio, Edilene da Cruz Silva

    ADAM SMITH E AS BASES METAFSICAS DAECONOMIA POLTICAFrancisco Jos Soares Teixeira

    ESTETICISMO E OBSOLESCNCIA.PRINCPIOS NORTEADORES DA CULTURAD O C O N S U M OFtima Cabral

    HISTRIA DO MARXISMO NO BRASIL, VOL.V: PARTIDOS E ORGANIZAES DOS ANOS1920 AOS 1960

    Maria Izabel Lagoa

    Encarte i

    A ESCOLA DE FRANKFURT. CO NTR IB UI O f TEORIA CRTICA - PARTE IGran Therborn

    Off-reprint (2005)