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UNIVERSIDADE SÃO JUDAS TADEU
ELISA DE MELLO KERR AZEVEDO
O ESPAÇO DA BIBLIOTECA E OS FATORES QUE
IMPACTAM A PRESERVAÇÃO DAS COLEÇÕES
SÃO PAULO
2010
ELISA DE MELLO KERR AZEVEDO
O ESPAÇO DA BIBLIOTECA E OS FATORES QUE
IMPACTAM A PRESERVAÇÃO DAS COLEÇÕES
Dissertação apresentada ao programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Arquitetura e Urbanismo para obtenção do grau de mestre.
ORIENTADOR: Prof. Dr. PAULO DE ASSUNÇÃO
SÃO PAULO 2010
Ficha catalográfica: Elizangela L. de Almeida Ribeiro - CRB 8/6878
Azevedo, Elisa de Mello Kerr
O espaço da biblioteca e os fatores que impactam a preservação das coleções/ Elisa de Mello Kerr Azevedo. - São Paulo, 2010.
174 f. ; 30 cm
Orientador: Paulo de Assunção Dissertação (mestrado) – Universidade São Judas Tadeu, São
Paulo, 2010.
1. Arquitetura de bibliotecas - Conservação e restauração. 2. Espaço (Arquitetura). I. Assunção, Paulo de. II. Universidade São Judas Tadeu, Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Arquitetura e Urbanismo. III. Título CDD – 727.8
ELISA DE MELLO KERR AZEVEDO
O ESPAÇO DA BIBLIOTECA E OS FATORES QUE
IMPACTAM A PRESERVAÇÃO DAS COLEÇÕES
Dissertação apresentada ao programa de Pós-Graduação Stricto Sensu em Arquitetura e Urbanismo para obtenção do grau de mestre.
Aprovada: em _____________________________de 2010.
ORIENTADOR: Prof. Dr. PAULO DE ASSUNÇÃO
DEDICATÓRIA
Ao meu pai e ao meu avô (in memoriam) por terem iluminado o meu caminho. À minha mãe por toda ajuda e compreensão e, principalmente, pelo exemplo de mulher que me orientou para a vida sem esmorecimento. Ao meu amado esposo, Américo, que incansavelmente me apoiou e dedicou seu amor nos momentos difíceis. Aos meus filhos, Sofia e Victor, dois presentes divinos que souberam esperar a realização de meus sonhos, tolerando a minha ausência com amor e paciência. Aos professores Lilian Brando Garcia Mesquita e Fernando Ferrari Düch, por acreditarem em mim.
AGRADECIMENTOS
Ao meu orientador, Professor Dr. Paulo de Assunção, pela gentileza de aceitar-
me e pela condução sábia, ágil, competente e humana com que ajudou-me a realizar
este trabalho, minha eterna gratidão.
A todos os professores do Programa de Arquitetura e Urbanismo que
contribuíram com seus saberes para implementar o espírito de pesquisa que deu
origem à essa dissertação. Muito obrigada.
À minha amiga Dinéia Hypolitto que, pelo seu grande incentivo e apoio, lançou-
me ao desafio hoje concluído, quero ressaltar a minha especial admiração por você.
Muito obrigada.
RESUMO
Esta pesquisa pretende abordar os fatores de ligação e obstáculos existentes entre a
preservação do livro e a arquitetura. Nosso objetivo é apresentar e problematizar alguns
aspectos, que devem ser considerados na elaboração, do projeto arquitetônico de
bibliotecas que contribua para a preservação do livro. Inicialmente, o estudo dessa
relação, chega a nos surpreender com os desdobramentos encontrados, bastante
complexos, para alcançar o objetivo proposto. A análise dos elementos históricos é um
marco cheio de informações valiosas sobre o livro, desde o seu nascedouro, até sua
manutenção, preservação nos dias atuais, e envolvimento com princípios
arquitetônicos. O presente estudo contempla também, com o rigor requerido, o assédio
das pragas em generalidade, como ainda trata do espaço, ambiência e iluminação da
biblioteca, bem como de seu entorno. A identificação dos problemas internos e
externos, com relação ao livro e todo o acervo, é tratada e discutida na composição de
sete capítulos, interligados. Nesse espaço estabeleceu-se uma relação com a
arquitetura, objetivando contribuir para prováveis soluções, para sanar problemas
prejudiciais a conservação do livro e do acervo. Esses elementos, agora apontados,
interagem durante todo o trabalho, onde são desmembrados, através da
instrumentalização dos componentes técnicos, históricos e práticos que deles fazem
parte, nos sete capítulos. A leitura da introdução desse trabalho, poderá esclarecer
ainda um pouco mais, sobre o seu conteúdo.
Palavra Chave: Preservação do Patrimônio Cultural; Arquitetura Bioclimática; Ambiência
da Biblioteca.
ABSTRACT
This research aims to address the factors and obstacles connecting the preservation of
books and architecture. Our goal is to present and discuss some aspects that should be
considered in the preparation of 'architectural design of libraries contributing to the
preservation of the book. Initially, the study of this relationship, comes to amaze us with
the consequences which are, quite complex for us to achieve the objective. The analysis
of historical evidence is a fact full of valuable information about the book from its
beginning until its maintenance, updated preservation and involvement with architectural
principles. This study has also, with the accuracy required, the siege of the pests in
general, but also deals with the space, ambience and lighting of the library, as well as its
surroundings. The identification of internal and external problems with respect to the
book and the entire collection, is treated and discussed in seven chapters,
interconnected. In this space we established a relationship with architecture, aiming to
contribute probable solutions to solve harmful problems for the conservation of books
and the collection. These elements now pointed out, interact throughout the work, where
they are dismembered, through technical components.
Keywords: Preservation of Cultural Heritage; Bioclimatic architecture; Library Ambience.
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO 15
1.CONCEITO E PERCURSO HISTÓRICO DA BIBLIOTECA 23
1.1. BIBLIOTECA E ESPAÇO 24
1.2.O ESPAÇO DE LEITURA 25
1.3. ASPECTOS HISTÓRICOS 32
1.3.1. O PERCURSO DO ESPAÇO DA BIBLIOTECA NA ANTIGUIDADE
32
1.3.2. O ESPAÇO DE LEITURA NA IDADE MÉDIA 49
1.3.3. DIMENSÃO DA LEITURA E DO LIVRO NO PERÍODO COLONIAL
57
1.3.4. REAL GABINETE DE LEITURA PORTUGUÊS 60
1.3.5. A BIBLIOTECA DO MUSEU PAULISTA 67
1.3.6. MIDIATECA PUC-RIO 74
1.3.7. NOVAS BIBLIOTECAS BRASILIANAS: GUITA & JOSÉ MINDLIN E IEB
76
1.3.8. O ESPAÇO DAS BIBLIOTECAS E AS TRANSFORMAÇÕES ADVINDAS DA TECNOLOGIA
80
2. O PROJETO ARQUITETÔNICO E AS COLEÇÕES DAS BIBLIOTECAS 82
2.1. O PAPEL DA BIBLIOTECA NA SOCIEDADE CONTEMPORÂNEA 82
2.2. COMO AS COLEÇÕES SÃO PRESERVADAS 86
3. O ESPAÇO CULTURAL E SEU ENTORNO 92
3.1. A VEGETAÇÃO FACE AO RECINTO DA BIBLIOTECA 97
3.2. A ILUMINAÇÃO VALOR DE CONFORTO NAS BIBLIOTECAS 100
4. ANÁLISE DA LUZ, COMO ELEMENTO DE DETERIORAÇÃO DAS 105
COLEÇÕES
4.1 OS ASPECTOS DA LUZ SOBRE AS COLEÇÕES DAS BIBLIOTECAS 113
4.2. BIBLIOTECA NACIONAL LEONEL MOURA BRIZOLA 115
4.3. A BIBLIOTECA MARIO DE ANDRADE E O PROJETO RETROFIT 117
5. FONTES DE UMIDADE DOS AMBIENTES INTERNOS DA BIBLIOTECA 120
5.1. UMIDADE DAS PAREDES 120
5.2. MUSEU PAULISTA - USP 123
5.3. INSTITUTO DE FILOSOFIA DE CIÊNCIAS SOCIAIS DO RIO DE JANEIRO
125
5.4. BIBLIOTECA DE HUMANIDADES - LA UNIVERSIDAD NACIONAL DE LA PLATA
126
6. CONTROLE DE PRAGAS EM BIBLIOTECA 127
6.1. SEÇÃO DE OBRAS RARAS ASSUERUS HIPPOLYTUS OVERMEER DA BIBLIOTECA DE MANGUINHOS
136
6.2. CONTAMINAÇÃO POR FUNGOS NOS LIVROS DO PAVILHÃO HAITY MOUSSATCHÉ
140
7. O PAPEL DA EDIFICAÇÃO NA CONCEPÇÃO DA BIBLIOTECA 146
CONSIDERAÇÕES FINAIS 159
REFEÊNCIAS BIBLIOGRÁGICAS 163
LISTA DE FIGURAS 171
LISTA DE ILUSTRAÇÕES Figura 01 Rei Assurbanipal durante uma caçada.
33
Figura 02 Mapa de Alexandria
34
Figura 03 Simulação do projeto da biblioteca de Alexandria - arquiteto Deinócrates, século III a.C
36
Figura 04 Provável planta do Mausoléu de Alexandria
37
Figura 05 Busto de Ptolomeu I Soter
38
Figura 06 Estatua de Demétrio Falereu – Nova Biblioteca de Alexandria
39
Figura 07 Projeto estimado do espaço interno da biblioteca de Alexandria
41
Figura 08 Figura 08: Moedas de prata: Ptolomeu III Evérgeta e Ptolemeu IV Filopator.
43
Figura 09 Busto de Cleópatra VII – Berlim
44
Figura 10 Figura 10: Madrasha.
48
Figura 11 São Jerônimo
51
Figura 12 São Jerônimo – Afresco da Igreja de Ognissanti em Florença
52
Figura 13 Codex Gigas - Biblioteca Nacional da Suécia – século XIII
53
Figura 14 Fachada do Real Gabinete Português
62
Figura 15 Vista do primeiro andar da Biblioteca - Colunas sustentando as varandas do Real Gabinete de Leitura Português.
63
Figura 16 Vista - lustre, claraboia e aberturas laterais do teto.
64
Figura 17 Corte longitudinal
65
Foto 18 Ambiente interno do Real Gabinete de Leitura Português - Varandas .
65
Figura 19 Porta de Acessado ao salão de leitura pela rua Luis de Camões.
66
Figura 20
Museu Paulista, São Paulo Brasil. Arquiteto Tommaso Gaudenzio Bezzi, c. 1890.
67
Figura 21 Vista frontal do Museu Paulista.
69
Figura 22 Jardim do Museu Paulista - 1920
70
Figura 23 Jardim do Museu Paulista - 1960
71
Figura 24 Museu Paulista, São Paulo – SP – Brasil. Arquiteto Tommaso Gaudenzio Bezzi, c. 1890.
71
Figura 25 Biblioteca do Museu Paulista, Arquiteto Tommaso Gaudenzio Bezzi.
72
Figura 26 Maquete da Midiateca PUC-RIO, Rio de Janeiro, projeto do arquiteto Ângelo Bucci, em 2006.
74
Figura 27 Acessado ao prédio pela Praça da Reitoria da USP.
78
Figura 28 Acessado ao prédio pela Praça da Reitoria da USP.
78
Figura 29 Acessado ao prédio pela Av. Prof. Luciano Gualberto.
78
Figura 30 Vista das bibliotecas da IEB, à direita, e biblioteca Guita & José Mindlin ao fundo. À esquerda, temos a cafeteria e saída pela Av. Prof. Luciano Gualberto.
79
Figura 31 Vista das bibliotecas da IEB, à direita, e biblioteca Guita & José Mindlin ao fundo. À esquerda, temos a cafeteria e saída pela Av. Prof. Luciano Gualberto.
79
Figura 32 Bibliotecas Brasiliana e IEB, projetadas pelos arquitetos Eduardo de Almeida e Rodrigo Mindlin Loeb, 2008. Corte transversal – praça de Acessado ao café, dois salões de exposições e auditório.
79
Figura 33 Bibliotecas Brasiliana e IEB, projetadas pelos arquitetos Eduardo de Almeida e Rodrigo Mindlin Loeb, 2008.
79
Figura 34 Bibliotecas Brasiliana e IEB, projetadas pelos arquitetos Eduardo de Almeida e Rodrigo Mindlin Loeb, 2008.
80
Figura 35 Espectro da luz visível 111
Figura 36 Vista interna da Biblioteca Nacional de Brasília.
116
Figura 37 Espaço interno da Biblioteca Nacional de Brasília.
116
Figura 38 Fotos do salão de leitura Biblioteca Mario de Andrade
118
Figura 39 Fotos do salão de leitura Biblioteca Mario de Andrade
118
Figura 40 Tabela referente aos dados fornecidos pelo artigo acima em comparação com as ABNT
119
Figura 41 Livro de Ata (1903) da Escola Normal de Campinas, infestado de cupins e brocas.
133
Figura 42 Sessão de obras raras Assuerus Overmeer – 1970.
138
Figura 43 Ambiência do salão de leitura da sessão de obras raras Assuerus Overmeer – 1990.
139
Figura 44 Vista do entorno da nova Biblioteca Central de Manguinhos
141
Figura 45 Vista da entrada da Biblioteca Central de Manguinhos
142
Figura 46 Contaminação do acervo e ambiente por fungos - Biblioteca de Manguinhos – FIOCRUZ.
144
Figura 47 Contaminação do acervo e ambiente por fungos - Biblioteca de Manguinhos – FIOCRUZ.
144
Figura 48 Limpeza dos ambientes - Biblioteca de Manguinhos - – FIOCRUZ- contaminados por fungos – com utilização de aspirador de pó máscaras com filtros especiais.
145
Figura 49 Restauração do acervo do Cartório de São Luiz do Paraitinga – Inundação em janeiro de 2010.
148
Figura 50 Restauração do acervo do Cartório de São Luiz do Paraitinga – Inundação de janeiro de 2010.
148
Figura 51 Prateleiras de livros contaminados por fungos 151
LISTA DE SIGLAS
ABNT - Associação Brasileiras de Normas Básicas
FAU - Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP.
FFLCH - Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP.
FNB – Fundação Biblioteca Nacional
IEB – Instituto de Estudos Brasileiros da universidade são Judas Tadeu
DEPAM/IFHAN – Departamento de Patrimônio Material e Fiscal / Instituto do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional
UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
USP – Universidade de São Paulo
MIP - Manejo Integrado de Pragas
MP – Museu Paulista
UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura
USP – Universidade de São Paulo
UV – Ultravioleta
IV - Infravermelho
15
INTRODUÇÃO
Nas últimas décadas do século XX, o conceito de biblioteca tem se modificado.
Uma biblioteca acolhe em seu acervo uma multiplicidade de conhecimentos que se
propagam de diversas formas. Tal propagação não se dá apenas por meio da palavra
escrita ou oral. Atualmente temos a videoteca, livro digital, fotografias e outras formas
representação que transmitem o conhecimento, favorecendo a pesquisa, conforme a
definição da UNESCO1.
O projeto arquitetônico da biblioteca deve considerar as relações que se
estabelecem em seu interior. Geoffrey Scott2, em um de seus artigos, comenta que o
espaço, induz o indivíduo a um movimento complexo, não apenas corporal, mas
também, das percepções psicológicas que sugestionam diversas interpretações desse
ambiente. Para Geoffrey Scott,
O espaço tem uma importância ainda maior: o arquiteto modela-o como o escultor faz com o barro, desenha-o como obra de arte; tendo enfim, por intermédio do espaço, que suscitar um determinado estado de espírito nos que entram nele. (SCOTT apud ZEVI, 2000:186).
O artista, portanto, tem em suas mãos um volume e precisa entalhar espaços
vazios ao seu redor para dar à sua escultura a forma desejada, enquanto o arquiteto, ao
inverso do escultor, toma em suas mãos um vazio e dá a ele a forma do espaço; um
espaço de interação com seus usuários, o acervo e o conhecimento contido neles.
A importância do arquiteto como construtor da forma é mencionada por Hermes
Hertzberger ao afirmar que o usuário e a forma se reforçam mutuamente e interagem, e
tal relacionamento é análogo ao que existe entre indivíduo e comunidade. Os usuários
se projetam na forma (HERTZBERGER, 1999:170). Por isso o arquiteto, ao projetar
1 Segundo a UNESCO, a biblioteca é uma coleção organizada de documentos de vários tipos, aliada a um conjunto de serviços destinados a facilitar sua utilização, com a finalidade de oferecer informações, propiciar a pesquisa e concorrer para a educação e o lazer. (...) Seja qual for a apresentação material do documento, o que importa é a característica da informação que ele contenha (CRUZ, 2000:11). 2 Segundo Geoffrey Scott, ao referir-se a uma fileira de colunas de uma catedral e os movimentos que o indivíduo faz ao adentrar nele, (...) o espaço nos sugeriu um movimento: uma vez que esta sugestão se fez sentir, tudo o que estiver de acordo com ela parecerá nos ajudar, o que a ela se opõe parecerá importuno e desagradável (SCOTT apud ZEVI, 2000:186).
16
uma biblioteca, deve contemplar, em sua forma, a funcionalidade e seus objetivos,
como também seus usuários, suas percepções e aspirações diante dessa diversidade.
A dinâmica desse espaço, ao abrigar um acervo3 cultural, forma uma ambiência
muito específica e conduz o ser humano ao mesmo fim: a busca do saber. Percorrendo
o caminho do livro, Roger Chartier diz que do rolo antigo ao códex medieval, do livro
impresso ao texto eletrônico, várias rupturas maiores dividem a longa história das
maneiras de ler. Elas colocam em jogo a relação entre o corpo e o livro (CHARTIER,
1999:77), lembrando-se também dos espaços propícios ao desenvolvimento e
elaboração do conhecimento gerado pela relação proporcionada por essa ambiência: o
espaço, o ser humano e o livro. Segala afirma:
No debate contemporâneo, o sentido de patrimônio se alarga. Não é apenas o bem que se herda, mas o bem constituído da consciência de um grupo, um campo de disputas e de negociações, articulando-se estreitamente à memória e às identidade sociais. (SEGALA, 2007:1)
Por esse motivo, torna-se importante entender as relações que se estabelecem
dentro desses ambientes, pois sua continuidade se fortalece quando essas relações
são bem estabelecidas. No entanto, há uma diversidade de fatores internos que se
entrelaçam e influenciam na percepção dos usuários desses espaços.
O livro, sob a égide da arquitetura, será nossa premissa maior. A preservação do
livro na biblioteca e do acervo em geral mexem, de certa forma, com colocações que
envolvem o fazer do arquiteto, não vistas com freqüência pelo leigo, que até mesmo as
ignora.
Consideramos as bibliotecas como um braço da arquitetura. Esse tópico, por si
só, engloba muitas abordagens. Requer aprofundamentos nos estudos, desde as
fundações das bibliotecas, como os movimentos dos anteprojetos e, posteriormente,
dos projetos das edificações propriamente ditas.
3 Adriana G. S. Sarmento diz que (...) o acervo bibliográfico é o suporte que contém as informações necessárias para divulgação da memória histórica, científica e técnica de uma comunidade. (SARMENTO, 2003:1).
17
É comum a visão de pesquisador como alguém enfurnado em livros, bibliotecas, tabelas, computador, mas longe da realidade, que muitas vezes se quer sabe onde fica. Estuda a realidade de tal modo, que não a pisa. (DEMO, 2001:35)
Não estamos no contexto de tais limitações. Optamos pela pesquisa qualitativa,
que a nosso ver, é a que mais se adequaria aos nossos propósitos (...) uma
metodologia de investigação que enfatiza a descrição, a indução, a teoria
fundamentada e o estudo das percepções pessoais. Designamos esta abordagem por
Investigação Qualitativa. (BOGDAM e BIKLEN, 1994:11) A abordagem qualitativa nos
possibilita conhecer o objeto investigado, fornecendo elementos esclarecedores, sem
generalização dos fenômenos. Procura-se desvendar como os sujeitos vêm e explicam
sua ação, numa linha evolutiva, ou seja, as transformações e todos os fatores
associados a elas.
Na investigação qualitativa não se recorre ao uso de questionários. Ainda que se possa, ocasionalmente, recorrer a grelhas de entrevistas pouco estruturadas, é mais típico que a pessoa do próprio investigador, seja o único instrumento, tentando levar os sujeitos a expressar livremente as suas opiniões sobre determinados assuntos. (BIKLEN e BOGDAM, 1994:1).
A presente dissertação consiste em analisar o papel da arquitetura que se
desdobra ao projetar uma biblioteca, como promotora de cultura, por meio do diálogo
estabelecido entre os elementos que a constituem: o espaço, suas funcionalidades e a
influência do ser humano, ou seja, a importância de sua visão de mundo e das
percepções que o espaço em questão promove nesse ser inacabado.
A arquitetura permite a reflexão sobre a relevância do patrimônio cultural para a
comunidade e possibilita discutir as culturas dominantes ao reconhecermos a
importância de nossas manifestações culturais. Como observa Arantes,
Na realidade, aí se percebe que é fundamental a existência de um patrimônio conhecido, de uma memória preservada para que possa definir uma identidade cultural, que a identidade cultural é, sobretudo, um fato cultural e político, que leva inclusive a uma questão muito séria que é a questão de soberania e de autodeterminação. (ARANTES, 1984:62).
18
Todo ser humano possui cultura, pois essa é a relação do homem com o meio
em que vive. Trata de suas crenças, valores, costumes e seu conhecimento intuitivo ou
intelectual, seja este pouco ou muito aprofundado. Nascemos numa cultura e a
reproduzimos - por isso - é necessário ter um bom conhecimento dessa memória
cultural, caso contrário, seremos meros reprodutores de culturas dominantes que não
querem essa transformação. Nesse sentido, Marilena Chauí comenta:
Uma política cultural que idolatre a memória enquanto memória ou que oculte as memórias sob uma única memória oficial está irremediavelmente comprometida com as formas presentes da dominação, herdadas de um passado ignorado. Fadada a repetição e impedida de inovação, tal política cultural é cúmplice do status quo [grifo do autor]. (CHAUÍ, 1992:43)
Ao nascer, o ser humano herda de seus antepassados o fruto da interação com o
meio cultural que eles vivenciaram. Se o indivíduo não conhece tais relações, ele vive
apenas intuitivamente, o que dificulta a busca da transformação, uma vez que esse
indivíduo não sabe como agir e nem o que mudar. Qualquer mudança requer
conhecimento daquilo que se pretende mudar, e é por isso que todo ser humano tem
direito à sua memória cultural. Por esse motivo essa pesquisa Acessadou Marilena
Chauí que ressalta:
Atentar à diferença temporal entre o passado e o presente é atentar à diferença das memórias sociais que contribuem para o presente, é atentar à necessidade de liberar a memória e de explicitá-la para que o presente se compreenda a si mesmo e possa contribuir/ inventar o futuro. (CHAUÍ,1992:43)
Quando falamos em patrimônio cultural, normalmente pensamos em bens e
valores materiais, algo palpável, que se possa ver e que possua um valor monetário. Na
verdade, o patrimônio cultural não abrange apenas esse bem material e físico, mas
também, as manifestações de sua comunidade. Assim, esse patrimônio deixa de ser
estático para fazer parte de um movimento de transformação, que, juntamente com
suas manifestações culturais, reafirma sua identidade grupal.
19
Como bem salienta Françoise Choay,
Esse passado invoca e convoca, de certa forma encantado, não é um passado qualquer: foi localizado e selecionado para fins vitais, na medida em que pode diretamente contribuir para manter e preservar a identidade de uma comunidade, étnica ou religiosa, nacional, tribal ou familiar. (...) É garantia das origens e acalma a inquietude que gera a incerteza dos princípios. (CHOAY, 1999:16)
A memória e as manifestações culturais devem ser preservadas não apenas com
o intuito de cultivar uma lembrança passada, que explica o presente, ou por tradição,
mas sim como memória que, apesar de pertencer ao passado, possui o poder de
manter-se viva. Interage com o presente e induz a refletir o futuro, que daria
prosseguimento a essas comunidades e suas manifestações. A esse respeito, Cássia
Magaldi afirma:
A preservação da continuidade histórica, no meio urbano ou rural, é essencial para a manutenção ou de um quadro de vida que permita ao homem encontrar sua identidade, e provar um sentimento de segurança em face às mudanças brutais da sociedade. (MAGALDI, 1992:22)
Preservar o patrimônio material e conhecer sua identidade é fundamental para o
desenvolvimento da crítica do ser humano. Ao enfatizarmos que o fortalecimento da
identidade cultural estabelece um diálogo com essa memória, que deixa de ter a
conotação de tradição, e atribuímos um novo conceito – o de processo de passagem.
Arantes considera (...) adequada, inclusive, muito mais do que fato, a expressão
‘processo de passagem’, porque é uma relação extremamente dinâmica, envolvendo
homens que são seres incompletos, inacabados, projetos em construção. (ARANTES,
1984:63).
Tendo a arquitetura o objetivo de estabelecer relações entre o espaço concebido,
sua funcionalidade e o usuário, este estudo, depois de feita a análise, poderá contribuir
para futuros projetos que visem a salvaguarda de um acervo museológico ou
documental.
O objetivo desta pesquisa, portanto, é analisar o espaço físico da biblioteca como
salvaguarda de um patrimônio cultural, expondo suas fragilidades e os cuidados
20
necessários ao acondicionamento de seu acervo, com a intenção de prolongar a vida
útil e, também, evitar as intempéries. O estudo expõe os trâmites internos que garantem
a acessibilidade à informação. Para compreensão desse processo, consideram-se, no
estudo, as abordagens de autores como Rogers Chartier, Derek Adie Flower, Lucien
Febvre, Françoise Choay, Otávio Leonídio, Nelson Solano Vianna, William Mitchell,
Lucia Mascaró, Carlos Kirschbaum, Herman Hertzberger, Eduardo Grala Cunha, Tadao
Ando, Esther Higueiras, Dan C. Hazen, Claudia Carvalho entre outros especialistas.
Para melhor compreensão deste estudo, serão analisadas, por meio de pesquisa
bibliográfica, algumas práticas das bibliotecas brasileiras e edifícios históricos, são eles:
Bibliotecas da Fundação Oswaldo Cruz - Manguinhos, Real Gabinete de Leitura
Português, Museu Paulista e outras.
Analisa também, a concepção contemporânea de novas bibliotecas brasileiras.
Estamos considerando, a nova Biblioteca Brasiliana USP (Instituto de Estudos
Brasileiros Biblioteca Brasiliana Guita & José Mindlin) e a Midiateca PUC-RIO.
Como hipótese, o que guiou a pesquisa foi a idéia de que o projeto arquitetônico
da biblioteca é de fundamental importância para garantir a longevidade da obra
impressa. Entendemos que há grande probabilidade do processo de deterioração ser
acelerado, ou não, caso as condições físicas e climáticas do ambiente de guarda do
acervo forem inadequadas.
Em se considerando os elementos acima mencionados, concebemos este
trabalho da maneira descrita abaixo.
No primeiro capítulo, fazemos retrospectiva histórica, da biblioteca, desde no seu
nascedouro – com a Biblioteca de Alexandria – de onde partimos, para, em seguida
tratar das bibliotecas na idade média, traçando o processo de transformação do espaço
da biblioteca até os tempos atuais. Nas reflexões apontamos para o processo que a
preservação do nosso patrimônio cultural, coleções de livros e outros acervos, foram
submetidos, o que possibilitou que eles estivessem disponíveis nos dias de hoje para
consulta.
21
No segundo, tratamos da importância de uma arquitetura que contribua com o
gerenciamento das coleções, em função da aceleração de seu desgaste, quando esses
aspectos são deixados de lado. Enquanto embrião, o projeto arquitônico pode sofrer
inferências condizentes com todo o feito, ou ainda, por desinformação.
No terceiro, analisamos sobre os acervos museológicos e documentais que
sofrem grande influência da edificação que os abriga. Vários são os fatores que
contribuem para a degradação desses objetos, tais como: o clima regional que circunda
a instituição e os microclimas que se formam nos espaços internos das edificações,
provenientes da troca climatológica entre os dois ambientes: externo e interno.
No quarto, fazemos uma análise da luz, como elemento de deterioração das
coleções. Ponderamos como a incidência da luz contribui para a aceleração do
processo de perda da qualidade da obra, ponto importante a ser considerado num
projeto arquitetônico.
No quinto, analisamos as fontes de umidade que influenciam o ambiente interno
dos edifícios. Neste capítulo, destacamos a importância do espaço da biblioteca garantir
condições ideias para preservação do papel, sendo a água/umidade um dos agentes
mais nocivos, que acentuam, o processo de deterioração das obras.
No sexto, o estudo das pragas que podem infestar as bibliotecas, foi alvo de
elaborada pesquisa documental, figurativa, elencando os aspectos relacionados a
questões técnicas, dos profissionais especializados e dos utentes.
No sétimo, apontamos alguns aspectos que podem vir a contribuir no processo
de elaboração de um projeto arquitetônico de bibliotecas, as quais devem ser marcadas
por condições ideais de armazenamento das coleções e cuidados especiais.
O papel do arquiteto, em toda a investigação feita, foi um dado permanente, com
o intuito de promover a interação: Arquiteto – Biblioteca – Livro e Preservação do
patrimônio cultural, sempre que essa necessidade se fez presente.
22
É importante tornar público o que pensamos, tendo em vista ter sido essa a
nossa maneira de atuar. A visita a uma biblioteca nos leva a querer saber mais e mais
sobre o assunto tratado – aqui o livro em questão – e como é preservado. Seria
indevido, de nossa parte, dizer que esgotamos o assunto, empreendemos estudos de
bibliotecas antigas por meio de documentos. Em outros casos tivemos o cuidado de
pesquisar bibliotecas, procurando Diretores de museus, funcionários e demais utentes
das bibliotecas, visitando-os pessoalmente, a fim de ter um conhecimento mais
aprofundado sobre as questões que envolvem o uso do espaço da biblioteca.
A pesquisa é documental. Sua preocupação maior é garantir o bom
funcionamento das bibliotecas, através dos conhecimentos inerentes aos livros, suas
coleções e proteção ambientais. Fotos, citações e tabelas, são fontes de nossas
constatações.
A INVESTIGAÇÃO QUALITATIVA é algo que nos toma por inteiro, confundindo-
se com a nossa pele. Cada pista encontrada e concretizada, nos leva a querer mais. A
narrativa é multifacetada. Mesmo sendo linear, tem seus picos qualitativos, sempre
dentro das oportunidades oferecidas ou captadas. A pesquisa foi prazerosa e
esperamos que a leitura e o bom entendimento de seus resultados, também o sejam.
Pretendeu-se discutir sobre a importância da ambiência que se forma dentro das
bibliotecas, como receptoras e promotoras de cultura. Uma vez que esses locais são
constituídos pelas diversas manifestações culturais de seus frequentadores, esses
espaços são propícios ao desenvolvimento e fortalecimento da memória cultural
coletiva, que ultrapassa os limites arquitetônicos.
23
1. CONCEITO E PERCURSO HISTÓRICO DA BIBLIOTECA
A palavra biblioteca remete ao imaginário do leitor mais sensível a um espaço
onde a ambiência proporciona-lhe relaxamento e prazer. Nesse contexto a
concentração no ato de ler é pura recorrência.
É interessante fazer-se, de um modo geral, busca das origens dos vocábulos,
dependendo, naturalmente, da importância do questionamento que a palavra nos
sugere, dada a significância da proposta do seu uso.
No caso presente, citaremos alguns conceitos da palavra biblioteca extraídos de
documentos fidedignos:
Do gr. Bibliothéke , pelo lat bibliotheca . 1. Coleção pública ao privada de livros e documentos congêneres, organizada para estudo, leitura e consulta. 2. Edifício ou recinto onde se instala essa coleção. 3. Estante ou outro móvel onde se guardam e/ou ordenam livros. 4. Proc. Dados coleção ordenada de modelos ou de rotinas ou sub-rotinas, por meio da qual se podem resolver os problemas e suas partes.
A palavra originária do grego, biblíon ‘livro’ + téké ‘caixa ou depósito’, significa,
segundo o dicionário Houaiss, edifício ou recinto onde ficam depositadas, ordenadas e
catalogadas diversas coleções de livros. O termo expressa, de uma forma, ampla a
idéia de guarda e proteção de livros de uma forma organizada. Seja qual for a
apresentação material do documento, o que importa é a característica da informação
que ele contenha. (CRUZ, 2000:11).
Segundo a UNESCO, a biblioteca é uma coleção organizada de documentos de
vários tipos, aliada a um conjunto de serviços destinados a facilitar sua utilização, com a
finalidade de oferecer informações, propiciar a pesquisa e concorrer para a educação e
o lazer.
Os conceitos aqui descritos dão embasamento teórico para a discussão agora
iniciada.
24
Edson Nery Fonseca, esclarece que a palavra livro indica o material com que se
fabricava o papel na Antiguidade, isto é, a entrecasca de certos vegetais que,
transformada em pasta, adquire a forma laminada (FONSECA, 1992:35). Atualmente, o
livro pode ser definido como uma obra científica, literária etc., ou mesmo como uma
junção de cadernos de papel – impressos ou manuscritos.
1.1. BIBLIOTECA E ESPAÇO
Seguindo nossa linha de raciocínio que tem como ponto de partida a
conceituação dos vocábulos, para posterior acoplamento e análise que se refiram ao
foco desta pesquisa, apenas para reforçar – biblioteca - recorremos a seguinte
definição:
Espaço (Do lat. spatiu .) S.m. 1. Distância entre dois pontos, ou a área ou o volume entre limites determinados. O acidente com o pedestre resultou do estreito espaço da calçada. A casa [biblioteca]4 foi construída num espaço muito pequeno. 2. Lugar mais ou menos bem delimitado, cujo área pode conter algumas coisas: Na casa há espaço para cinco pessoas; O artigo não desenvolve bem o tema por falta de espaço. 3. Extensão indefinida: Falava do passado com os lhos perdidos no espaço, como que revivendo-o. Espaço arquitetônico. Arquit . aquele que é gerado e limitado pelos elementos arquitetônicos, e no qual se manifesta, para quem nele demora, as diferentes dimensões da forma arquitetônica (visual, táctil, auditiva, odorífica). (AURÉLIO, [s.d]:562).
Como se vê, as definições e exemplos da aplicabilidade da palavra espaço são
ricas e abrangentes. Quando falamos em espaço, em se tratando de biblioteca,
mexemos com a parte arquitetônica mais interna do que externa, ou seja, como o
espaço será ocupado. A partir daí poderemos então focar esse espaço,
simbioticamente ligado a palavra biblioteca em seu sentido amplo.
Por outro lado, em seu sentido restrito, tanto a palavra biblioteca como a palavra
espaço pode receber várias conotações e diversidade de materiais a serem agrupados,
que receberão a seu tempo o tratamento requerido.
4 O grifo é nosso.
25
Livro. (Do lat. Libro ) S. m. 1. reunião de folhas ou cadernos, soltos, cozidos, ou por qualquer outra forma presos por algum dos lados, em capa flexível ou rígida. (AURÉLIO, [s.d.]:847).
Entendemos que biblioteca é o cérebro que metaboliza a palavra, fazendo-a
hospedeira da sua primeira e principal finalidade: acolher depósitos de livros. Nos
alongaremos no decorrer deste estudo, tratando de outros materiais que necessitam do
abrigo bibliotecário, detalhando formas e diversidade de elementos, que devem ou
deveriam ser considerados na elaboração de um projeto arquitetônica para biblioteca.
Ambiência. (do fr. ambiance) 1. meio material ou moral onde se vive: meio ambiente: ambiência poluída: ambiência mística. 2. arquit. O espaço, arquitetonicamente organizado e animado que constitui um meio físico e ao mesmo tempo, meio estético ou psicológico, especialmente preparado para o exercício de atividades humanas: ambiente. (AURÉLIO, [s.d.]:82).
A ambiência, portanto é a soma da distribuição harmônica do acervo quer seja
do livro, mobiliário iluminação, conforto visual e térmico e outros que tais.
1.2. O ESPAÇO DE LEITURA
Como mencionado anteriormente, a biblioteca acolhe em seu acervo uma
diversidade de saberes propagados por diversos meios: impressão em papel, registros
magnéticos, tecnologia digital e outros, conforme definição da UNESCO.
Esses diversos espaços, distintos entre si, formam, juntamente com seu acervo,5
uma ambiência muito específica, que conduz o ser humano ao mesmo fim: a busca do
saber. No entanto, esse conjunto de elementos proporciona ao leitor, enquanto busca o
conhecimento, o poder de transitar concomitantemente entre dois mundos paralelos: o
mundo real e o mundo imaginário.
Em um primeiro momento, este trabalho descreve a transformação que os
espaços da biblioteca e os elementos que a compõem sofreram desde a evolução da 5 De acordo Adriana G. S. Sarmento (2003:1), o acervo bibliográfico é o suporte que contém as informações necessárias para divulgação da memória histórica, científica e técnica de uma comunidade.
26
palavra escrita na Idade Média. Feito isso, discursamos sobre o mundo imaginário, o
irreal, que esse ambiente proporciona ao leitor - e o irreal - que permeia a mente
daqueles que não vivenciaram essa ambiência.
Parafraseando Roger Chartier (1999:115-129) desde a época da biblioteca de
Alexandria, imaginou-se um espaço dedicado a universalização do saber, de
concentração de todos os textos e livros já publicados. Esse desejo fomentou o
aumento do espaço das bibliotecas para abrigar esse crescente patrimônio impresso e
atender ao público que o busca para preencher diversas necessidades particulares ou
coletivas.
A princípio, por volta do século XIII, o leitor apreciava a leitura em um gabinete,
um espaço dedicado a esse momento especial, associado à magnitude do saber - um
ambiente privilegiado - ora privado, ora social, de leitura individualizada ou em voz alta,
para que todos a apreciassem.
O espaço da biblioteca no século XV se transforma em espaço de leitura
solitária. Dentro da dinâmica da vida usos e costumes se alteram. O homem passa a
valorizar o silêncio para melhor compreensão dos textos. Consequentemente, o hábito
da leitura em voz alta, passou a modificar as regras de até então.
No fim do século XIX e início do século XX, a multiplicação e diversificação das
universidades criaram novos hábitos de leitura e, juntamente com ela, cresceu o
número de pesquisadores. A biblioteca assumiu, então, duas funções: a de leitura e a
de pesquisa. Depois vieram as microfilmagens, espaços dedicados aos frágeis
periódicos e às documentações raras ou em estado de risco.
Na virada do século XX, ocorreu outra transformação na concepção da
biblioteca, que deixou de ser um lugar dedicado à pesquisa e leitura e passou a agregar
a função de divulgadora cultural, adquirindo espaços amplos para promover
exposições, cursos, palestras etc.
27
O avanço tecnológico das publicações de livros e textos digitais também
impulsionaram uma renovação no conceito de leitura e pesquisa. Esse advento talvez
tenha sido seja o mais significativo quanto à evolução na concepção do uso da
biblioteca. Um novo espaço a ser planejado. Segundo William J. Mitchell,
Esses efeitos da infra-estrutura mundial de telecomunicações digitais são poderosos e abrangentes, mas isso não quer dizer que eles vão causar a morte da distância, o fim do espaço e a virtualização de praticamente tudo. (MITCHELL, 2002:57)
Em outras palavras, a existência de uma biblioteca virtual não elimina sua
existência no espaço físico para acomodação das obras não virtuais. Esses dois
espaços de leitura devem ser reinventados para melhor servir às necessidades e
propósitos do homem.
Segundo Roger Chartier, (...) a coexistência do livro como o conhecemos e as
novas tecnologias, pode ser regulada pela disposição arquitetural, que deve possibilitar
a convivência em boa harmonia de vários tipos de leitura (CHARTIER, 1999:119). Os
espaços da biblioteca sempre foram modelados conforme o ser humano e sempre se
adaptando à sua evolução. Essa convivência entre os dois espaços referidos, perdurará
por muito tempo, mesmo porque, ainda existem muitas diferenças sociais a serem
vencidas antes que se possa virtualizar todo o conhecimento. Pode ser que a
necessidade de se criarem novos espaços físicos, para acervos bibliográficos, só se
esgote quando todas as distâncias sociais diminuírem.
Contudo, não podemos nos esquecer que esse espaço é utilizado por seres
humanos - que possuem necessidades - e criam relações com o espaço da biblioteca.
O vínculo do indivíduo, com a biblioteca, foi criado ao o leitor uma pessoa que vivencia
a relação com o espaço e o livro (objeto físico ou virtual).
O leitor, ao manusear esse conhecimento, recebe um bilhete de passagem de
ida e volta para uma ilha particular, onde ninguém interfere. Uma ilha utópica onde tudo
acontece de acordo com suas elaborações, onde imaginar não ridiculariza, mas sempre
28
engrandece. Da mesma forma que egressa para viajar em seus sonhos, ou em busca
de respostas, ele pode retornar com as comprovações de seus devaneios.
No entanto, essa ilha não é um privilégio das mocinhas em busca de seu
príncipe encantado, ou dos meninos que satisfazem suas necessidades de poder em
suas lutas heróicas, mas também permeia as mentes brilhantes que, acostumadas à
dialética entre esses dois mundos, conseguem comprovar suas inquietações. E aquilo
que, para muitos, não passa de uma utopia, torna-se real. Em O livro e a leitura no
Brasil, Alessandra El Far explica:
Nos romances as imagens ajudam a retratar as cenas de maior impacto do enredo, nas obras científicas e nos livros de viagens, a fotografia, ajuda a comprovar a existência de fatos e lugares distantes. (El FAR, 1970:36)
Com o surgimento da fotografia, os editores, sabendo desse potencial
imaginativo do ser humano, utilizaram esse veículo de informação, para aguçar ainda
mais a mente das pessoas e conquistar novos leitores.
Em seu livro Uma história da leitura, Alberto Manguel (1997:15-31) comentou
sobre as viagens que deram origem ao livro e como elas foram importantes em cada
momento de sua vida. Descreve cuidadosamente todas as operações mentais que
realizava ao adentrar-se na leitura do livro que estivesse lendo, de tal forma que,
juntamente com o autor, reconstruía a história.
Essa construção é significativa e pessoal. Cada elemento registrado pelo autor é
percebido diferentemente por diferentes leitores. Se a percepção é inerente à vivência
da pessoa, a relação estabelecida entre o livro e o leitor, propicia uma nova abordagem
mental da leitura, formada a partir dos elementos significativos registrados pelo autor.
O ser humano, ao interagir com o conteúdo do livro, amplia sua visão do mundo.
Esse contato provoca reflexão sobre essa nova aquisição, devido às inferências que ele
próprio faz sobre assunto. Essas informações, em constante transformação, são, a
29
priori, cumulativas, até que esse leitor estabeleça uma rede de relações com sua
vivência, suas leituras e todo o conhecimento obtido até aquele momento.
Segundo Roger Chartier , cada leitor, cada expectador, cada ouvinte produz uma
apropriação inventiva da obra ou do texto que recebe. (CHARTIER,1999:19) O texto,
portanto, não se limita apenas à mancha gráfica6. As ideias do autor, delimitadas pelo
próprio layout do documento, ressalta aos olhos de quem – não importa o interesse que
o usuário tenha pela obra – necessita daquela informação. Portanto, o leitor interage
com as informações e se apropria da descrição mental do autor. Agrega a elas suas
vivências e sonhos. Deixa, então, de ser um leitor para ser um coautor ao conceber, em
sua ilha privada, um texto paralelo e imaginário. Nesse lugar secreto ele pode
vislumbrar seus desejos mais profundos e ocultos.
No entanto, existe outra ilha que não pertence ao leitor e é concebida7 por
aqueles que não vivenciaram o universo da leitura. Há temor de sentir-se excluído?
Difícil saber pelo fato de que tais pessoas não se expõem dificultando com isso
eventuais trabalhos de inclusão. Esse estudo não pretende discutir os motivos que
levam tais pessoas a não frequentar esses espaços, apenas relata algumas
percepções, da autora, diante de seus usuários. Segundo Jun Okamoto,
As emoções constituem o ponto focal da atividade do sistema mental. Elas governam nossas escolhas, determinam nossos objetivos e guiam nossas vidas. Somos, na maioria, seus servidores por boa parte de nossas vidas e não temos consciência disso. (OKAMOTO, 2002:100).
Embora fale sobre a criação dos ambientes físicos e o quanto a concepção
desses espaços deve considerar a vivência de seus usuários, esse conceito aplica-se,
também, à ilha imaginária concebida por aqueles que não frequentaram a ambiência
dos leitores em questão.
Pelo simples fato desses elementos não vivenciarem os mesmos ambientes
culturais que os usuários da biblioteca, ficou estabelecida uma divisória imaginária e
6 Mancha gráfica é o espaço delimitado para a impressão do texto. 7 De acordo com o dicionário Houaiss, concebido significa criado, inventado, engendrado.
30
sociocultural, entre eles. Criaram um espaço em suas mentes que só pertence aqueles
que possuem cultura adquirida por meio dos livros e da pesquisa. Um lugar que eles
não ousam adentrar. Atribuíram a essas pessoas um status que muitas vezes elas não
possuem, elevando-as à categoria de esclarecidas e detentoras de conhecimento
supremo.
Segundo Jun Okamoto, a visão do mundo é parcialmente pessoal e em grande
parte social, sendo uma atitude e um sistema de crenças estruturais. (TUAN,1974 apud
OKAMOTO, 2002:31). As experiências sociais e pessoais do ser humano interferiram
em sua percepção. Esse ser estabeleceu suas relações de acordo com o que vivenciou
em determinado ambiente, o que é um fator decisivo para exercer juízo de valores.
Portanto, o ser humano conceitua uma ambiência, fazendo ou não parte dela.
Para Jun Okamoto, o mundo é o conjunto de relações significativas dentro do
qual a pessoa existe. (OKAMOTO, 2002:29). Como recorrência - a relação estabelecida
entre esses dois mundos - é resultante da percepção do indivíduo em relação ao meio a
que não lhe pertenceu.
De acordo com Chartier, o livro indicava autoridade, uma autoridade que
decorria, até na esfera política, do saber que ele carregava. (...) Pela representação do
livro, o poder funda-se sobre uma referência ao saber. (CHARTIER,1999:84). O
frequentador desse ambiente cultural, em muitas situações, ao perceber o status que
lhe era conferido pelos não familiarizados com a leitura, apropriava-se desse status
para assegurar e exercer poderes circunstanciais.
Esse fato pode ser observado em diversas formas de representações desde a
Antiguidade. As primeiras pinturas refletem o poder sagrado, a leitura da Bíblia, o
ensinamento das Sagradas Escrituras. As representações dos livros evoluíram
juntamente com o ser humano, mas continuaram a pertencer a pessoas que detinham o
conhecimento. Pessoas tidas como iluminadas eram retratadas na postura de leitura
reflexiva. Toda evolução do livro e os espaços planejados para ele favoreciam a elite.
31
Parafraseando Chartier, a primeira grande mudança na trajetória do livro ocorreu
no formato da leitura. O rolo da Antiguidade era uma leitura corrente e vertical. O
códex8, sucessor do rolo, adquiriu um formato totalmente novo e muito semelhante ao
livro atual. Curiosamente ambos eram manuscritos. Nas palavras de Chartier, um livro
manuscrito (...) e um livro pós-gutenberg baseiam-se nas mesmas estruturas
fundamentais – as do códex. (CHARTIER,1999:7). Com a imprensa de Gutenberg, o
formato continua igual ao códex, porém sua impressão muda. Sua produção é agilizada
mas a forma de ler prevalece.
Atualmente, em plena era da tecnológica, os livros e textos eletrônicos não
diferem muito da leitura na época da Biblioteca de Alexandria. Essa leitura seqüencial,
esse novo formato, possibilitou ao leitor interferir e escrever diretamente no texto com
mais frequência e facilidade do que em outras épocas.
William Mitchell (2002:161-170) explica que, no caso da produção do livro digital,
vários espaços serão desativados, como o depósito, a distribuidora e a revendedora. O
processo é descrito assim: o autor escreve a obra e a envia à editora; nessa etapa o
livro recebe a formatação gráfica, divulgação e depois será vendido. O comprador
escolhe entre um livro impresso em papel, ou digital com a possibilidade de imprimir em
casa.
Uma biblioteca pode implementar em seu espaço um local de impressão de livros
virtuais, ou mesmo ter um ciberespaço bem planejado, mas isso ainda não garante
essa universalização tão desejada desde sua concepção. Comenta Ana C. A. J. Casco:
Sugiro pensarmos que cultivar (ou educar se preferirem) uma sociedade é uma missão que deve ser norteada pela vontade de diminuir as desigualdades sociais acirradas pela discriminação de Acessado à informação e bens, à fruição dos bens culturais, assim como pela ignorância intencional fabricada por quem detém o conhecimento e faz dele um instrumento de poder. Daí talvez se possa aquilatar a importância da cultura e da educação em operar a invisível revolução de que tanto carecem os povos do Terceiro Mundo. (CASCO, 2005:3).
8 Livros manuscritos anteriores a imprensa.
32
Thomas Morus,9 em seu livro A Utopia, descreve uma sociedade justa e perfeita,
na qual todos desfrutam dos mesmos direitos, como: escola, alimentação, trabalho,
diversão e liberdade. Uma república igualitária, criada pela comunidade e a serviço
dessa comunidade. Em Utopia, nome dessa ilha imaginária, não existem classes
sociais. Diferentes funções são concebidas de acordo com a necessidade da
população.
Quando o homem evoluir para uma sociedade que atenda a todos igualmente,
onde as informações e a tecnologia sejam garantia de massa e não apenas um sonho
utópico, poder-se-á então acreditar numa sociedade justa e na universalização do
saber. A autora permitiu-se a registrar esta divagação pela oportunidade apresentada,
ainda que não seja essa a proposta deste estudo.
1.3. ASPECTOS HISTÓRICOS
1.3.1. O PERCURSO DO ESPAÇO DA BIBLIOTECA NA ANTIGU IDADE
Abordar a importância sociocultural da biblioteca desde a Antiguidade até os dias
de hoje é um trabalho difícil, face às transformações no processo histórico da
humanidade. Para pensar a biblioteca é primordial discutir o papel do livro, o que de
forma ainda pouco abrangente, foi tratado no capítulo anterior.
Visitar a história é passear pelo infinito paupável, graças as bibliotecas
conservadoras do seu acervo. Houve tempo em que as bibliotecas eram consideradas
como depósito de livros. (MARTINS, 2001:71), historiador e crítico da literatura
brasileira diz que, apesar da etimologia da palavra biblioteca comportar também a
definição como depósito de livros, esses espaços bibliotecário a essa definição.
9 MORUS, Thomas. A utopia. Disponível em: <http://www.cfh.ufsc.br/%7Ewfil/utopia.pdf> Acessado em: 05 abr 2008.
33
Esse é o caso da Biblioteca de Assurbanipal, que data aproximadamente de 690
a 627 a.C. Seu acervo era composto por placas de argila com escrita cuneiforme e
registros sistemáticos sobre o cotidiano administrativo imperial, suas crenças e
conquistas. Trata-se de uma época em que ler e escrever era privilégio de algumas
pessoas da aristocracia e dos religiosos.
Como menciona George Jean acerca desse período, saber ler e escrever era,
então, sinônimo de poder e força. Tal saber será sempre um privilégio. (JEAN,
2002:21). No Egito, muitas vezes os escribas eram mais poderosos que o próprio faraó,
que se contentava em ser um deus e se recusava a aprender a dominar a arte da
escrita. Ya desde la más remota antiguedad – Babilonia y Asiria – sus primeros reyes
intentaban coleccionar y conservar las crónicas de sus domínios, escritas en tabletes de
barro. (BRUNET, 1986:61) A mesma autora ao estudar este contexto, afirma que a
primeira biblioteca data de 668-626 a.C. e foi encontrada no palácio de Assurbanipal10 -
veja Figura 01.
Figura 01: Rei Assurbanipal durante uma caçada. Fonte: Disponível em <http:// pt.wikipedia.org> Acessado em 21 de maio de 2010.
Na Grécia, pouco se ouve falar de bibliotecas na Antiguidade. Naquela ocasião,
tinha-se como tradição a leitura e a linguagem oral – o perípato – em locais públicos. Os
autores gregos proclamavam suas ideias e convidavam outros autores, ou o público
presente, a discuti-las. Wilson Martins escreve que Eurípides, Aristóteles e Teofrasto
10 Assurbanipal foi um importante rei dos Assírios. Nasceu no ano de 690 a.C. e morreu em 627 a.C.. Seu reinado ocorreu entre os anos de 668 a.C. a 627 a.C.
34
são citados como possuidores de boas bibliotecas. Aulo Gélio salienta que, na Grécia,
entre 560 e 527 a.C., Pisístrato11, seu soberano, tendo reunido um grande número de
escritos literários e científicos, fundou em Atenas a primeira biblioteca pública. Os
atenienses se entregaram com zelo para enriquecer essa coleção. (MARTINS, 2001:77)
A Biblioteca de Alexandria, como é conhecida, foi concretizada no reinado de
Ptolomeu.I.Soter, sucessor de Alexandre Magno12, o grande conquistador da
Antiguidade. A cidade, fundada em 7 de abril de 331 a.C., no reinado de Alexandre,
localiza-se numa faixa de terra entre a ilha de Faro, cercada pelo mar Mediterrâneo, e o
lago Mareótis do delta egípcio, sendo, portanto, de fácil Acessado pelo rio Nilo, como
ilustra a Figura 02.
Figura 02: Mapa de Alexandria. Fonte: Disponível em <http://www.Khanelkhalili.com.br> Acessado em 22 de abril de 2008.
(1) Racótis: bairro egípcio; (2) Buquíon (atualmente REGIA): bairro grego e seus palácios (parte nobre as cidade); (3) bairro judeu; (4) mar Mediterrâneo; (5) bairro onde foi construída a Biblioteca de Serapeum, conhecida como “Biblioteca Filha”; (6) provável localização da Biblioteca e/ou Museu da Alexandria.
11 Viveu entre 600 a.C. a 527 a.c., foi governador da antiga Atenas entre 546 e 527 a.C.
35
Derik Flower menciona algumas lendas e versões acerca da fundação de
Alexandria, que descrevem o que inspirou o novo rei do Egito a escolher esse local para
sediar a nova cidade, que seria, futuramente, o maior centro econômico e cultural da
Antiguidade. Segundo ele,
Reza a lenda que ele foi inspirado diretamente por Homero. Conta-se que o poeta apareceu a ele em um sonho, recitando versos da Odisseia que tinha a ver com Menelau13 refugiando-se nessa mesma ilha. (...) É claro que existe todo tipo de relatos místicos sobre a fundação de Alexandria, e um deles tem até um tom profético, (...) significando que a nova cidade seria abençoada com tal abundância que para ela convergiria gente de todas as partes do mundo. (FLOWER, 2002:13)
Para Derik Flower o relato mais provável foi a análise, elaborada pelos
conselheiros de Alexandre, da área geográfica da região que atenderia as
necessidades do novo reinado, pois sua localização favoreceria a naval armada, o
comércio em expansão e possuía uma fonte natural de água doce. Para o autor, As
razões que levaram Alexandre Magno a tomar a decisão sobre a localização da cidade
de Alexandria são apenas hipóteses. (FLOWER, 2002:13).
Alexandre confiou a cidade ao renomado arquiteto Deinócrates14, por sua
genialidade em projetos impossíveis de serem realizados em sua época e, logo em
seguida, partiu com seu exército para mais uma conquista. Alexandre acreditava que
Deinócrates seria capaz de conceber uma cidade que contemplasse as exigências que
ele, homem de guerra e culto, pretendia para a cidade, veja Figura 03
Um dos questionamentos de Flower em relação às intenções de Alexandre
acerca dessa nova cidade é se ele já vislumbrava a magnitude da influência
socioeconômica que a nova Alexandria exerceria, em tão pouco tempo, sobre as outras
grandes cidades, tais como Roma, Pérgamo etc.
13 Rei de Esparta, irmão de Agamenon e marido de Helena (de Tróia). Após oito anos no mar, atracou na ilha do Faro, onde Proteu lhe revelou o modo de apaziguar os deuses e assegurar a volta ao lar (FLOWER, 2002:13). 14 Também conhecido por Dinócrates de Rodes - século IV a.C.- foi um arquiteto e urbanista rodiano - consultor técnico de Alexandre III da Macedônia .
36
Flower ressalta essa possibilidade ao analisar sobre a educação que Alexandre
recebera de seu tutor:
Ter Aristóteles como tutor o transformara em um intelectual e em um homem de ação, preocupado tanto com arte e ciência quanto com guerra e política. Por ser um homem de visão, ele teria sentido que a cidade projetada por Deinócrates atrairia inevitavelmente não só comerciantes ricos, mas também eminentes estudiosos, artistas e homens de ciências. (FLOWER, 2002:15).
Figura 03: Simulação do projeto da biblioteca de Alexandria - arquiteto Deinócrates, século III a.C. Fonte: Disponível em <http://lerparacrer.wordpress.com> Acessado em 26 de janeiro de 2009.
Alexandre Magno morreu em 323 a.C., antes mesmo da finalização da cidade.
Com sua morte, seu reino foi repartido entre quatro grandes generais de seu exército.
Dois deles foram os responsáveis pela criação e continuidade da lendária Biblioteca de
Alexandria.
Luciano Canfora (1989) fez uma análise detalhada sobre os estudos realizados
por antigos historiadores, que acreditam ter encontrado a localização exata da
Biblioteca de Alexandria. Entretanto, os relatos dos poetas e filósofos contemporâneos
dessa entidade mostraram-se, com o tempo, imprecisos.
37
No caso da Figura 04 a seguir, o historiador que a desenhou baseou-se nos
textos deixados por Diodoro15. Acreditava-se que a Biblioteca estava situada no
mausoléu. No entanto, não se pode precisar qual o espaço que ocupava dentro do
museu, ou mesmo se foi construída fora do mausoléu, porém dentro do espaço do
palácio. Qualquer afirmativa quanto a sua localização será sem fundamentos, pois, até
os dias de hoje, nenhum estudioso de Alexandria arrisca-se a fazê-lo. Flower afirma que
(...) não existem vestígios nem do Museu nem da Biblioteca, e os arqueólogos só
podem conjecturar sobre onde eles se encontravam. (FLOWER, 2002:54).
Figura 04: Provável planta do Mausoléu de Alexandria, século III a.C Fonte: (CANFORA, 1989:140).
A palavra museu foi empregada pela primeira vez no início do século III a.C., em
Alexandria. Segundo Valente16
A ideia principal do museu é atribuída ao Mouseion de Alexandria, (...) com a principal finalidade de preservação e conhecimento do passado, pelo estudo de sua incalculável coleção. (...) Era, principalmente, uma instituição de ensino e pesquisa. Possuía características religiosas e tornou-se famoso, juntamente com a Biblioteca, pelo público que o frequentava. (VALENTE, 2003:22)
Foram duas as facetas de que se valeram Ptolomeu I Soter17 (Figura 05) a
conceber a Biblioteca de Alexandria - o fortalecimento político de seu reinado - e a
15 Diodoro Sículo ou Diodoro da Sicília - historiador grego que viveu entre 90 a.C. a 30 a.C.. 16 VALENTE, Maria Esther. A conquista do caráter público do museu. In: GOUVEA, Guaracira; MARANDINO, Martha; LEAL, Maria Cristina (Org.). Educação e museu: a construção social do caráter do educativo dos museus de Ciências. Rio de Janeiro: Access, 2003, p. 21-46.
38
expansão do conhecimento. Mas essa façanha não é mérito apenas de Ptolomeu I - o
grande mentor desse espaço cultural foi outro general e amigo do rei que, derrotado e
expulso de seu território, veio a refugiar-se em Alexandria, a convite de Ptolomeu.
Figura 05: Busto de Ptolomeu I Soter Fonte: Disponível em <pt.wikipedia.org> Acessado em 15 de março de 2010.
Dois autores de renome, Flower (2002) e Cânfora (1989) nos brindam com as
seguintes citações:
Demétrio Falereu (...) o levou a sugerir ao rei a criação de um centro de cultura e pesquisa em Alexandria que rivalizaria com os de Atenas, Pérgamo e Cirene. (FLOWER, 2002:25) Demétrio havia recomendado a Ptolomeu construir uma coleção de livros. (CÂNFORA,1989:22)
Ptolomeu I Soter delegou a Demétrio Falereu18 (Figura 06) a responsabilidade
pelo ajuntamento das obras e a organização da biblioteca de Alexandria. No entanto,
segundo Canfora, a estruturação do espaço seguiu o modelo aristotélico a sua
importância para a biblioteca ao descrever que Aristóteles ensinara aos reis do Egito
como se organiza uma biblioteca. (CÂNFORA,1989:22).
17 General macedônio – tornou-se governante do Egito de 323 a.C. a 283 a.C., fundando a Dinastia Ptolemaica. 18 Demétrio Falereu ou de Falero - 350 a.C. - 280 a.C. - um discípulo de Aristóteles.
39
Fazendo breve retorno aos significados de espaço e livro, citamos novamente
Aurélio ([s.d]), quando define esse vocábulo, como:
Um lugar mais ou menos bem delimitado cuja área pode conter alguma coisa (...) sobre o livro cita o livro em rolo forma do livro manuscrito anterior ao códice; tira de papiro e também de pergaminho onde os antigos escreviam e pintavam ilustrações, geralmente em colunas, no sentido da largura e a qual se conservava enrolada numa vaneta (umbílico) e guardada em estojo (capsa). (AURÉLIO, [s.d]:847).
No entanto, para obter os rolos sugeridos por Demétrio, o faraó Ptolomeu I Soter
não poupou esforços econômicos e nem ideias mirabolantes. Demétrio partiu em busca
de livros, coleções e até bibliotecas inteiras. Concomitantemente, o rei expede uma
carta a todo seu território: que lhe fossem enviados todos os rolos de pergaminhos para
serem guardados em sua biblioteca.
Figura 06: Estátua de Demétrio Falereu – Nova Biblioteca de Alexandria. Fonte: Disponível em < http//:pt.wi Kipedia.org> Acessado em 15 de março de 2010.
Outra medida adotada por Ptolomeu foi chamada o fundo dos navios. Todos os
barcos que ancoravam em qualquer porto do Egito eram obrigados a emprestar os rolos
que estivessem nas embarcações, quer fossem de uso pessoal ou coleções, para
40
serem copiados. Os originais ficavam em Alexandria; aos donos cabia-lhes satisfazer-
se com uma cópia. Conforme cita Canfora, já se tinha ideia de que uma boa biblioteca
está relacionada com a quantidade de livros que armazena.
A presença marcante de Aristóteles na formação desse espaço é aludida por
Canfora (1989) quando diz:
Pairava entre aquelas estantes, entre aqueles rolos bem-ordenados, desde que Demétrio ali transportara a ideia do mestre: uma comunidade de doutos isolados do mundo exterior, guarnecida de uma biblioteca completa e um local de culto às Musas. (CÂNFORA, 1989:41)
Durante 75 anos, a Biblioteca de Alexandria cresceu em tamanho e pesquisas.
Três gerações da dinastia dos Ptolomeus se dedicaram a expandir esse centro cultural,
atraindo para si grandes sábios de sua época, como Aristóteles, Euclides, Arquimedes
e outros. Eles vinham de toda parte para desfrutar desse ambiente que favorecia as
pesquisas. Segundo Flower, O resultado foi a formação do que se tornaria a primeira
grande biblioteca e centro de pesquisa internacional. (FLOWER, 2002:25).
Com todo esse crescimento, o espaço concebido pelo arquiteto Deinócrates não
era mais suficiente para abrigar o acervo e os intelectuais que usufruíam do ambiente.
Foi necessário criar um espaço maior para abrigar esse centro cultural e organizar
todas as obras que estavam guardadas nos armazéns e depósitos da região. A
Biblioteca de Alexandria foi preservada dentro do espaço real e criou-se a “biblioteca
filha”, como ficou conhecida a que se localizava no templo da divindade Serápis. Esse
projeto, idealizado por Ptolomeu II Filadelfo, um grande amante dos livros, só se
concretizou com seu filho Ptolomeu III Evergeta, bibliófilo disposto a expandir ainda
mais os domínios das duas bibliotecas.
De acordo com Flower, temos que agradecer também a seus sucessores
imediatos, os três primeiros Ptolomeus, pela criação de seu singular centro do saber.
(FLOWER, 2002:16). Após Alexandre da Macedônia, esses reis alimentavam o mesmo
desejo de dar continuidade à Biblioteca, pois acreditavam que quem detém o
conhecimento detém o poder. Nas palavras de Canfora Assim nasceram bibliotecas
41
reais em todas as capitais helênicas: não apenas como fator de prestígio, mas também
como instrumento de dominação. (CANFORA, 1989:28),
Figura 07: Projeto estimado do espaço interno da biblioteca de Alexandria. Fonte: Disponível em <http//: bibliotecarioanarquista .blogspot.com> Acessado em 29 de janeiro de 2009.
Muitos mitos rodeavam a cidade de Alexandria e sua biblioteca, e um deles se
refere à Septuaginta19. A lenda conta que Demétrio aconselhou o faraó Ptolomeu I
Soter a solicitar, diplomaticamente, aos líderes da comunidade judaica que residiam na
cidade, a tradução do Torá para o grego.
Nesse episódio, sua intenção seria entender bem os valores e preceitos
religiosos daquela cultura para, assim, poder manter o domínio sobre ela. Canfora
afirma que (...) os gregos não dominaram a língua de seus súditos, mas
compreenderam que, para dominá-los, era preciso entendê-los, e que para entendê-los
era necessário traduzir e reunir seus livros. (CÂNFORA, 1989:28)
Para Flower, entretanto, não foi bem assim e, segundo estudos recentes, o Torá
foi traduzido na Palestina, e não em Alexandria, como conta a lenda. Acredita-se que,
19 Nome dos cinco primeiros livros do Antigo Testamento.
42
após a segunda geração de judeus em Alexandria, essa comunidade começou a falar e
ler bem o grego, perdendo, assim, a fluência na língua materna. Essa decisão partiu
dos próprios judeus, e não do faraó. E assim os rabinos decidiram que a solução lógica
era traduzir para o grego o Torá ou Pentateuco. (FLOWER, 2002:86). Portanto, os
próprios judeus sentiram a necessidade da tradução do Torá para conseguir manter
seus valores e tradições religiosas.
Muitos homens inteligentes foram convidados a fundar escolas em Alexandria.
Elas tinham o apoio do faraó e muitos de seus tutores e intelectuais se destacavam e
passavam a ter o privilégio de fazer parte da elite cultural do Museu e da Biblioteca real.
De acordo com Flower, eles passaram a desfrutar do convívio com o faraó. O corpo
administrativo da Biblioteca era da total confiança do rei e eram os encarregados de
assegurar a esses homens alguns privilégios: Acomodações agradáveis, altos salários
e isenção de impostos faziam parte das vantagens de ser membro. (FLOWER, 2002:55)
Mas Canfora também demonstra que aqueles doutos do Museu, que eram
rigorosamente selecionados pelo soberano, protegidos por ele, livres de preocupações
materiais, eram privados da liberdade de ir e vir, pois, quando saíam do Museu,
continuavam no palácio. (CÂNFORA,1989:45). Portanto, essa prisão intelectual era
favorável aos dois interessados nessa ambiência: o rei e os sábios, que podiam
desfrutar da tranquilidade para pesquisar, e a riqueza dos materiais pesquisados que o
espaço proporcionava.
A ascensão desse grande centro cultural, portanto, deve-se aos três primeiros
faraós da dinastia dos Ptolomeus, que proporcionaram a seus sábios o livre Acessado
aos espaços do palácio real, o convívio com o faraó e sua biblioteca, o que sem dúvida
a eles proporcionava estreita relação com o poder. Contudo, com a morte de Ptolomeu
III20 seu sucessor o faraó Ptolomeu IV Filopátor21 (Figura 08), começa o declínio nos
investimentos do centro cultural e a perda dos territórios conquistados por seus
ancestrais.
20 Ptolomeu III Evérgeta – 280 a.C. a 221 a.C. ,foi o terceiro soberano da dinastia ptolomaica. 21 Ptolemeu IV Filopator - 244 a.C a 205 ªC..
43
No século II a.C., o monarca Ptolomeu IV Filopátor adquiriu uma aversão tão
selvagem e irracional aos intelectuais gregos do Museu e da Biblioteca que vários deles
sentiram suas vidas ameaçadas e fugiram (FLOWER, 2002:90). Seus integrantes
deixam de frequentar a biblioteca e o palácio real passando a se encontrar na Biblioteca
Filha (Figura 02), no bairro egípcio, fora dos domínios do palácio. O centro cultural não
acabou, mas perdeu seus privilégios e os investimentos.
Figura 08: Moedas de prata: Ptolomeu III Evérgeta e Ptolemeu IV Filopator. Fonte: Disponíveis em <http://pt.wikipedia.org> Acessado em 15 de março de 2010.
Todo o Egito sofreu infortúnios a partir dessa geração de Ptolomeus. O grande
império egípcio ruiu; todas as terras conquistadas por seus ancestrais já haviam sido
perdidas, e foi preciso pedir auxílio a Roma para que o império Sírio não os dominasse
por completo. Mesmo assim, Alexandria confirma a autenticidade do saber. Flower
escreve que (...) o grande centro do conhecimento continuou a influenciar a cultura
mundial. (FLOWER, 1989:45). Até esse momento, o conhecimento impera sobre todas
as intempéries do homem e prova que esse centro cultural não é efêmero.
Somente com Cleópatra VII (Figura 09), no ano 48 a.C., o centro cultural de
Alexandria ressurge e rememora seus dias de glória, pois a rainha herdou de seus
primeiros antepassados a paixão pelas artes e pela cultura. Cleópatra foi uma mulher
inteligente que seduziu Júlio César, cônsul romano que, indiretamente, reinava sobre o
Egito. Assim, Cleópatra reconquistou o direito de dividir o trono com seu irmão
Ptolomeu XIII.
44
Figura 09: Busto de Cleópatras VII – Berlim Fonte: Disponível em <http://pt.wikipedia.org> Acessado em 15 de março de 2010.
Alexandria devia muitos favores a Roma e, nesse período, Júlio César exerceu
sua influência sobre os dois soberanos. Contudo, o exército egípcio, com apoio da
população, investiu sobre a esquadra armada romana, que, em desvantagem, estava
ancorada no porto. César, para defender o palácio de onde ele e os soberanos egípcios
comandavam o exército romano, mandou que seus súditos ateassem fogo aos barcos
egípcios. Derik Flower descreve o acontecimento:
Pois o fogo (...) espalhou-se pelos estaleiros e armazéns onde estavam guardados muitos dos preciosos códices e papiros, e de lá aparentemente se alastrou para a região de Bruquíon, com seu Museu e Biblioteca, queimando grande parte do que constituía a herança do grande centro cultural. (FLOWER, 2002:108)
Após o ocorrido, Marco Antônio, para agradar sua amante Cleópatra, a
presenteou com 200 mil códices da Biblioteca de Pérgamo22. Mesmo com a morte de
Cleópatra e sua descendência, o centro cultural permanece sendo referência para o
mundo.
22 Pérgamo possuía uma grande biblioteca, criada antes mesmo da Biblioteca de Alexandria, e Flower fala de sua importância na antiguidade: “(...) Que antes fora rival de Alexandria como centro de saber e que [...] em 130 d.C. possuía a segunda maior biblioteca do Mundo Antigo (mesmo Marco Antônio tendo dado a maior parte dela a Cleópatra alguns séculos antes). (FLOWER, 2002:130).
45
A partir desse período, a Biblioteca de Alexandria perde um pouco de sua
diversidade cultural. Com o passar dos anos, o interesse dos estudiosos volta-se ao
estudo da Filosofia e das religiões. Flower as chama de as escolas filosóficas
alexandrinas. (FLOWER, 2002:118). Após o século II, este foco de pesquisa e o
fanatismo religioso atraíram o olhar dos soberanos sobre tais estudiosos e sua
influência sobre a população.
Essa nova visão acarretou as grandes perseguições em Alexandria.
Primeiramente à Biblioteca Mãe atacada e depois a Biblioteca Filha. Entretanto
nenhuma delas pegou fogo. Esses acontecimentos fazem parte dos mitos de
Alexandria, pois nenhum dos historiadores arriscou-se a confirmar tais histórias. Todos
os relatos direcionam para a destruição dos livros, dos quais parte foi saqueada, outra
foi escondida e os demais queimados.
Em 292 d.C. foi ordenado, pelo imperador Diocleciano, a primeira grande queima
de livros das duas bibliotecas, e, segundo Flower: (...) especialmente aqueles
relacionados à religião, medicina esotérica ou alquimia. (FLOWER, 2002:160). Em 391
d.C., o imperador Teodósio ordenou a destruição de todos os lugares de culto pagão.
De acordo com Flower, logo após a destruição da estátua da deusa Serápis,
prosseguiram com a destruição também da Biblioteca Filha, que havia sido o cerne da
sabedoria alexandrina por uns bons quatro séculos. (FLOWER, 2002:181). Os
intelectuais, prevendo o que estava preste a acontecer, retiraram as obras mais
importantes da Biblioteca para que pudessem escondê-las da fúria do imperador do
Egito.
Essa devastação e a retirada dos livros mais importantes impediram que
Alexandria continuasse a ser uma referência cultural, mas o foco de estudos passa a
ser o cristianismo. Flower comenta esse mesmo efeito inquisidor em Antioquia e Roma,
no qual uma série de bibliotecas particulares e públicas foram fechadas por instigação
da Igreja. (FLOWER, 2002:181). Contudo, o grande golpe sobre as bibliotecas ocorreu
com a conquista de Alexandria pelos árabes, quando o general Amr Ibn Al As ordenou a
46
destruição23 de qualquer obra que não fosse o Alcorão. Flower descreve o relato do
historiador Ibn Al-Quifti24: (...) se o que está escrito neles concorda com o Livro de
Deus, eles não são necessários; se discorda, não são desejáveis. Portanto, destrua-
os25.(FLOWER, 2002:191).
Wilson Martins salienta que existem diferenças materialmente, na própria
Antiguidade, entre as bibliotecas minerais , composta de tabletas de argila , e as
bibliotecas vegetais e animais , constituídas de rolos de papiro e pergaminho [grifos do
autor]. (MARTINS, 2001:71).
Mesmo sobre as duas bibliotecas mais conhecidas desse período, Alexandria e
Pérgamo, restam dúvidas sobre a quem era permitido o Acessado a tais informações
contidas em seus manuscritos. Essas bibliotecas, mesmo as da Idade Média, eram
projetadas dentro dos palácios, dos monastérios, dos templos religiosos, das mesquitas
e das sinagogas, e suas portas davam para dentro desses espaços. A maior parte da
população não tinha Acessado a esses lugares, pois muitos deles eram considerados
sagrados.
Segundo Wilson Martins, os romanos foram grandes investidores de bibliotecas
públicas. Júlio Cesar, 100 a 44 a.C., foi o grande idealizador desse projeto.
Intencionada criar bibliotecas semelhantes às de Alexandria, mas sua realização ficou
por conta de Asínio Pólio em 39 d.C. Até o século IV, Roma já havia constituído 28
bibliotecas.
H. A. Innis, ao analisar os projetos arquitetônicos romanos, ressalta:
23 De acordo com Flower, certos historiadores sustentam que a maioria dos livros foi destruída ou escondida muito antes daquele ano fatídico de 642. (FLOWER, 2002:190). 24 Ibn Al-Quifti, um importante historiador árabe, que escreveu a obra Histórias dos sábios, confirma que os livros foram usados como combustível para aquecimento das casas de banhos. 25 Flower questiona essa tão grande destruição relembrando o incêndio no depósito do porto e tudo que já havia se perdido ou escondido durante as perseguições anteriores: parte dos livros pode até ter sido queimada para aquecer os banhos, mas é duvidoso que entre eles estivessem os inestimáveis manuscritos acumulados nas duas grandes bibliotecas de Alexandria durante aqueles seis séculos em que a cidade atraíra para suas praias sábios de todas as nacionalidades. (FLOWER, 2002:191).
47
As bibliotecas foram associadas aos templos como magníficos edifícios públicos, acessíveis e seguros. Augusto construiu duas delas, inclusive a Palatina, cujos livros foram divididos em duas seções (grega e latina). Tibério, Vespasiano, Trajano e Adriano continuaram a prática imperial. (...) Com cerca de 20.000 rolos cada uma, divididos pelas mesmas duas seções. Bibliotecas municipais se espalhavam pelo império’. (MARTINS, 2001:78)
Embora houvesse diversas bibliotecas públicas na Antiguidade, atualmente
existem muitos questionamentos quanto aos critérios adotados para permitir o
Acessado a essas informações. Wilson Martins cita o relato de um leitor da época:
Meu guia me conduziu, através de degraus magníficos, ao templo de mármore branco consagrado ao deus cuja cabeceira está sempre intacta [Apolo]. Aí, todas as criações dos gênios antigos e modernos são postas à disposição dos leitores (...) O guarda desses lugares sagrados expulsou-me. Dirijo-me para outro templo, situados perto de um teatro vizinho; também me foi proibido a entrada. Desse primeiro asilo das belas letras, a Liberdade, que pontifica, não me permitiu atravessar o vestíbulo... (MARTINS, 2001:79)
As leituras feitas até esse momento possibilitam acreditar que todos os livros de
Alexandria e de todo o Império Romano foram destruídos pelos conquistadores árabes.
Também é possível crer que a cultura muçulmana abominava os livros que não fossem
religiosos, conforme cita o autor Alberth Habid Hourani registrou o percurso dos árabes
a partir da morte de Maomé, até o século XX; suas conquistas e declínios desde o
Oriente Médio à parte da Europa. Nesse livro, menciona que os árabes valorizavam e
difundiam a cultura dos povos que conquistavam. As madrasas26 se encarregaram de
preservar, traduzir, transcrever e divulgar diversos estudos, como medicina, astrologia,
alquimia etc. Para o autor,
A filosofia continuou a existir, mas era exercida como uma atividade privada, em grande parte por médicos, com discrições e muitas vezes enfrentando suspeitas.(...) Famílias urbanas que se haviam alfabetizado liam livros. A essa altura, havia um grande volume de obras escritas em árabe para eles lerem, e desenvolveu-se uma espécie de autoconsciência cultural, um estudo e reflexão sobre a cultura acumulada expressa em árabe. (HOURANI, 2001:79).
26 Madrasas ou madrasha: escolas muçulmanas.
48
Figura 10: Madrasha. Fonte: Disponível em <http://www.realhistories.org.uk> Acessado em 30 de janeiro de 2009.
Esses centros culturais árabes eram frequentados por estudantes religiosos e
também por sábios que buscavam o conhecimento e a verdade. Os mosteiros
bizantinos foram guardiões do pensamento helênico. Embora a filosofia grega tenha
perdido o entusiasmo nesse período, os mosteiros e suas bibliotecas protegeram os
livros de diversas culturas e linhas de pensamentos.
As ideias dos filósofos gregos, preservadas no interior desses ambientes até o
século XVI, foram as grandes responsáveis pela transformação final do período
medieval e, ao adentrar no território europeu, precipitaram o Iluminismo, rompendo
definitivamente com a Idade Média.
Duas grandes bibliotecas foram fundadas por soberanos árabes nesse período:
em Bagdá, a “Casa do Saber”, e no Cairo, a “Casa da Cultura”. Esses espaços se
transformaram em ambientes de divulgação cultural, assim como Alexandria. As
bibliotecas se multiplicaram, e Hourani destaca:
As bibliotecas multiplicaram-se (...) muitas mesquitas e madrashas tinham bibliotecas anexas, não apenas para uso dos sábios em seus estudos privados, mas como centros para copiar manuscritos e, assim, transmiti-los adiante. (HOURANI, 2001:208).
49
Não se sabe, de fato, o que aconteceu com os rolos dessas bibliotecas, que
desapareceram. Alguns fragmentos muito importantes reapareceram após a Idade
Média, provavelmente por pertencerem a pequenas bibliotecas particulares ou
confessionais árabes, e não por terem sobrevivido às catástrofes das grandes
bibliotecas situadas nos palácios e centros de poder.
A importância de se estudar a Alexandria não se dá apenas pelo levantamento
histórico dos livros e bibliotecas. Sua relevância está nos moldes de sua concepção e
naquilo que esse espaço cultural promovia aos cidadãos que dela necessitassem. Esse
conceito se perdeu por muito tempo. Atualmente, volta-se a discutir novos modelos de
bibliotecas capazes de promover, divulgar e democratizar a cultura, em ambientes
muito parecidos com os moldes propostos por Aristóteles em Alexandria.
1.3.2. O ESPAÇO DE LEITURA NA IDADE MÉDIA
Da Antiguidade até a Idade Média, as bibliotecas não diferem muito em seu
funcionamento, organização e divulgação do conhecimento adquirido. As diferenças
encontram-se no suporte do registro da informação, e que o homem intencionou
perpetuar.
Assim como as bibliotecas da Antiguidade, suas congêneres do período
medieval possuíam caráter místico – sagrado – e situavam-se, mesmo sendo públicas,
dentro ou anexadas aos templos. Nesse período, são as ordens religiosas que se
responsabilizam por esses espaços e, sendo os monastérios fechados ao público, o
Acessado era permitido a poucas pessoas. Todos os Acessados ao espaço de leitura
se davam pelo interior dos conventos. Wilson Martins nota que:
Os mosteiros e conventos definiram-se, no período medieval como bibliotecas: até arquitetonicamente isso é verdade, sabendo-se, através de ‘Rouveyre’, que, em muitos deles, os armários eram embutidos nas enormes paredes. As mais variadas formas de estantes de leitura existiam nesses conventos para permitir um manuseio cômodo dos grossos in-fólios medievais, inclusive os portáteis, mas nas quais se acorrentavam os livros. (MARTINS, 2001:82).
50
As ordens monásticas foram em parte, responsáveis pela conservação e
propagação das obras clássicas até nossos dias. Como menciona Wilson Martins
(2001:100), (...) todas as grandes abadias possuíam scriptorium,27 oficina de copistas
em que o número de escribas variava, naturalmente, de acordo com a importância do
convento.
Os beneditinos foram os mais dedicados e fervorosos copistas. Seu zelo pela
escrita e a necessidade do conhecimento e da aprendizagem do latim e grego os levou
a reproduzir qualquer tipo de obra escrita nesses idiomas, inclusive as obras
consideradas profanas por seus superiores, nas quais se incluem as clássicas
filosóficas.
Reproduzir uma obra literária não era apenas um trabalho; era um ato piedoso
praticado pelos monges cristãos em busca da regeneração de suas almas
pecaminosas. Mais que um simples trabalho de ordem material, a cópia de manuscritos
assumia foros de exercício espiritual capaz de aprimorar as virtudes e de realçar os
merecimentos sobrenaturais dos monges. (MARTINS, 2001:98).
27 Scriptorium: espaço adjacente à biblioteca, destinado a cópias de manuscritos.
51
Figura 11: São Jerônimo. Fonte:( ARNS, 2007:209).
Na Figura 11 pode-se observar São Jerônimo, em sua devoção diária e
regeneração28 da alma, num scriptorium situado ao lado da biblioteca do mosteiro.
Esses espaços eram destinados à reprodução de manuscritos, e o mobiliário era
projetado para que o ambiente interno se apropriasse das condições externas da
construção de acordo com sua função. Portanto, a mesa do copista era colocada
próxima à janela, de tal forma que a iluminação natural, ao projetar-se no interior da
sala, favorecesse a boa reprodução dos livros. A iluminação desses espaços podia ser
vista ao olhar a sombra do copista projetada na parede (Figura 12), uma indicação de
28 Na Europa medieval, os monges reproduziam livros copiando diligentemente os textos. Esse trabalho se realizava em uma sala do mosteiro denominada scriptorium, idealizada para esse propósito.
52
que o arquiteto aproveitava ao máximo a iluminação natural para favorecer o bom uso e
função do ambiente.
Figura 12 - São Jerônimo. Afresco de Ghirlandaio pintado na parede da Igreja de Ognissanti, em Florença. Fonte: Disponível em <http//:clicrbs.com.br> Acessado em 3 de fevereiro de 2009.
Por ser um ato de regeneração com Deus, a ideologia cristã, nesse período, não
aceitava que seus religiosos tivessem contato com ideologias profanas, mesmo sendo
grande parte dos copistas meros copiadores de textos, pois não sabiam ler. Wilson
Martins transcreve as palavras de abade a seus monges: Escrevei! Uma letra traçada
neste mundo vos resgatará de um pecado no céu. (MARTINS, 2001:99) O simples ato
de manusear a obra considerada pagã era um empecilho à regeneração dessa alma
pecaminosa em busca da santificação.
53
Essas ordens monásticas eram verdadeiras fortalezas, isoladas dos centros
urbanos e localizadas em pontos estratégicos de defesa contra a invasão bárbara que
se instalou no primeiro período da Idade Média. O espaço interno foi projetado para
suprir todas as necessidades dos que adentravam e desfrutavam do ambiente. Nas
palavras de Martins, (...) as abadias de então, Luxeuil, (...) e de Monte Cassino (...)
foram, no seio da barbárie ambiente, os únicos refúgios da civilização. (MARTINS,
2001:84)
Podemos notar que nesse período já se faziam adaptações nos espaços de
leitura para acomodar as coleções e produções de livros.
O aspecto novo do livro (codex e não mais volumen) obrigava a adoção de móveis adaptados às novas circunstancias: armários e estantes, nos quais os livros deitados, às vezes acorrentados, eram confinados a um especialista, conservador da livraria e, simultaneamente, chefe do scriptorium. (SAMARAN, apud MARTINS, 2001:84)
Figura 13: Codex Gigas - Biblioteca Nacional da Suécia – século XIII. Fonte: Disponível em <http://pt.wikipedia.org/wiki/Codex_Gigas> Acessado em 12 de abril de 2010.
Por volta do século IX, surgem as bibliotecas capitulares29 que,
consequentemente, proliferaram por toda Europa. Foi nesse período que a igreja
passou a se responsabilizar pelo ensino popular. Toda obra publicada passava pelo
olhar da Igreja Católica, que tinha a missão de selecionar o conhecimento a ser
29 Ao lado das bibliotecas monásticas propriamente ditas, devemos lembrar as bibliotecas de igrejas, chamadas de capitulares (MARTINS, 2001:86).
54
propagado em suas instituições. Poucos pertenciam à classe privilegiada, que sabia ler
o latim, pois essa era a escrita desse período.
No século XII a Igreja perde o monopólio do ensino e, concomitantemente, a
burguesia conquista a alta sociedade. Com o surgimento do ensino laico, essa nova
classe social, sedenta pela leitura e pelo universo do imaginário, adquire um gosto bem
variado e incomum, acrescentando em seu cotidiano a literatura de distração ou
vulgarização. A ascendência do novo rico medieval despontava para o desejo de
aculturar-se e este não se limitava à leitura erudita.
Por volta do século XIII, o leitor apreciava a leitura em um gabinete, um espaço
dedicado a esse momento especial associado à magnitude do saber. Trata-se de um
ambiente privilegiado, ora privado, ora social, de leitura individualizada ou em voz alta,
para que todos a apreciassem.
Nesse momento da história da humanidade, segundo Georges Jean, os escribas
leigos que já colaboravam com os monges vão, paulatinamente, se organizando em
oficinas e associações, redigindo os documentos oficiais da nova burguesia comercial e
compondo livros. (JEAN, 2002:87). A fim de conquistar e favorecer os novos leitores,
muitos livros passaram a ser publicados na língua materna pelos escribas leigos.
Lucien Febvre e Henri-Jean Martin, na obra O aparecimento do livro, descreve
sobre sua importância na transformação da sociedade ocidental. Com a decadência do
feudalismo e o surgimento da burguesia, floresceu uma sociedade desejosa do saber.
Um novo público surgiu a partir do final do século XIII, paralelamente à transformação
do antigo feudalismo. Ao refletir sobre o contexto medieval, Lucien Febvre destaca:
(...) Tanto por tradição quanto por necessidade, os mosteiros continuarão até muito tarde no século XVI a copiar missais, antifonários, breviários etc. Mas o traço dominante desse novo período que começa com o início do século XIII é que os mosteiros não são mais os únicos produtores de livros, e que quase só os produzem para seu uso. (FEVRE; MARTIN, 1992:26)
55
Principalmente a partir da criação das universidades no final do século XII e
início do século XIII, mestres e estudantes, para aprimorarem o conhecimento
transmitido e apreendido por ambos, utilizam as bibliotecas particulares, monásticas e
capitulares, pois, (...) apesar da importância do ensino oral, os estudantes também
precisavam de um número mínimo de livros (FEBVRE; MARTIN, 1992:27).
A distribuição geográfica das bibliotecas nos centros urbanos e sua proximidade
com as universidades adiaram, a princípio, a instalação de bibliotecas dentro de seus
espaços construtivos. Deve-se lembrar aqui que as primeiras universidades eram um
braço de uma instituição religiosa e, por isso, possuía Acessado a essa biblioteca. No
entanto, tal situação não perdurou, pois, apesar das localizações das bibliotecas ao seu
redor, elas não continham material suficiente para suprir a demanda solicitada por seus
usuários. Portanto, vê-se a possibilidade de incentivar a produção de livros ao redor da
própria universidade. Segundo Lucien Febvre, (...) formou-se, assim, em cada centro
universitário, uma verdadeira corporação de profissionais do livro; clérigos ou bem
frequentemente leigos (...) foram logo considerados como parte da universidade das
quais eram os ‘suppôts’ [grifo do autor]30. (FEBVRE; MARTIN, 1992:27). No século XIV,
as universidades instalaram em seus espaços construtivos bibliotecas especializadas
em diversas áreas do conhecimento.
Nesse período, o livro, embora continuasse caro, tem maior penetração entre os
comerciantes ricos, que começam a solicitar uma grande demanda de pedidos de
manuscritos em papel, substituindo o de pergaminho, possibilitando, assim, a
divulgação do conhecimento e o aumento de publicações.
Enquanto isso, no Oriente Médio, Constantinopla é conquistada pelos turcos em
1453, o que fez que monges de diversas ordens eclesiásticas migrassem, com todos os
seus aparatos, inclusive suas bibliotecas, para a Europa Ocidental. Wilson Martins
considera que (...) o mais célebre desses conventos bizantinos foram o Studion, com a
oficina de copistas e a sua biblioteca, e o claustro de Santa Catarina, junto ao monte
30 Suppôts: funcionário subalterno. (FEBVRE; MARTIN, 1992:27).
56
Sinai. (MARTINS, 2001:87). Afirma também que as bibliotecas que mais influenciaram a
transformação do período medieval foram as bizantinas.
Essas bibliotecas preservaram em seus manuscritos, ditos profanos, o
pensamento helênico, ou seja, qualquer pensamento que não fosse cristão. A
penetração das bibliotecas na Europa Ocidental foi fundamental para provocar uma
revolução intelectual, que a essência da civilização grega propunha ao homem. Martins
corrobora essa colocação, nos ensinando: Se não fossem as bibliotecas do Oriente
Próximo, as de Bizâncio, igualmente mantidas por monges, (...), a contaminação
profana era muito maior e mais fácil. (MARTINS, 2001:87).
Com o invento de Gutenberg, em 1450, novamente imagina-se a
universalização da leitura e do conhecimento, o que não ocorreu. A produção em série
de exemplares do livro minimizou o seu custo em relação aos manuscritos, mais ainda
não era um produto de aquisição popular. Contudo, abriu-se a possibilidade de um
número maior de pessoas adquirir esses livros por existirem mais exemplares à venda
nas editoras e livrarias, o que resultou no aumento de colecionadores e bibliotecas
particulares.
Após o século XV, os hábitos de leitura mudam. O espaço da biblioteca,
acompanhando a evolução do homem, não mais comporta a leitura em voz alta. A
biblioteca continua sendo um espaço público, mas frequentado por pessoas em busca
de leitura silenciosa, do espaço privado e que se deleitavam nesse prazer. Essa
exigência do leitor, mais uma vez, muda a concepção da biblioteca.
Neste termo o renascimento agrícola, comercial e cultural transformou a Europa
com suas ideias humanistas. Esse processo coincide com o movimento da conquistas
marítimas portuguesas. Impulsionou também a descoberta e ocupação do território
brasileiro que, a partir de agora, será focado conforme observação anterior.
57
1.3.3. DIMENSÃO DA LEITURA E DO LIVRO NO PERÍODO C OLONIAL
Para compreendermos de forma adequada o papel da biblioteca no Brasil
Colonial, é de suma importância identificar alguns momentos que registram a função e o
espaço da biblioteca na história.
As primeiras bibliotecas brasileiras surgiram no período colonial, como relata
Moraes, em sua obra Livros e Bibliotecas no Brasil Colonial. No início do século XV,
acontecia no Brasil o mesmo que em Portugal: existiam poucas tipografias;
consequentemente, havia escassez de livros impressos em circulação. No entanto, a
partir dos meados daquele século, com as instalações definitivas das ordens religiosas,
responsáveis pela educação dos filhos dos colonos, é que se organizaram as primeiras
bibliotecas, localizadas dentro dos conventos e ordens religiosas. Quanto às
particulares, não falaremos delas, pois eram muito modestas.
Por não ser a leitura a preocupação maior dos colonizadores que vinham para
esta terra, poucos se preocupavam em aprender a ler. Alguns dos filhos dos colonos,
após completarem os estudos em colégios religiosos brasileiros, eram enviados a
Portugal, com o fim de completar a formação escolar e não há registros de que estes
tenham retornado ao Brasil.
A falta de documentação e pesquisas sobre a entrada dos livros no Brasil, bem
como os ambientes de leituras naquele período, leva Moraes a intuir, com base na
história da colonização e das ordens religiosas que se estabeleceram nessas terras,
que a demanda de livros devia ser insignificante. Os magistrados e funcionários deviam,
porém, possuir livros de leis. Deviam ter trazido de Portugal suas Ordenações
manuelinas e, os eclesiásticos, os livros necessários ao culto. (MORAES, 2006:4).
As bibliotecas brasileiras mais significativas eram, principalmente, a dos jesuítas.
Eles acumularam um rico acervo que abrangia várias áreas do conhecimento,
equivalente aos acervos universitários europeus. No decorrer de 200 anos, esses
58
religiosos colecionaram uma bibliografia de aproximadamente 40.000 livros, distribuídos
entre os colégios que fundaram por todo o território da colônia.
Rubens Borba de Moraes descreve o espaço destinado a essas obras que
pertenciam ao Colégio Jesuítico de Salvador:
O teto da suntuosa sala é ‘uma das jóias da pintura brasileira’. O painel central (...) é, incontestavelmente, uma das belas representações da pintura barrocas no Brasil. Não há dúvida que lembra as esplêndidas salas que os reis e príncipes europeus mandavam construir e decorar para instalar seus gabinets de curiosités [grifos do autor]. (MORAES, 2006:8)
Esses espaços foram projetados para cumprir algumas das funções primordiais
de uma biblioteca pública: permitir o Acessado a informação era uma delas. Moraes
relata que (...) as bibliotecas dos jesuítas não ficavam abertas só para os alunos e
padres, mas para qualquer pessoa que fizesse o pedido competente. (MORAES,
2006:9).
Percebemos então que naquele período a acessibilidade ao livro,
consequentemente à cultura, não era facultada a todos. A expressão “qualquer pessoa
que fizesse o pedido competente” deixa claro que essas bibliotecas jesuíticas não eram
abertas a todo o público de sua região, mas sim, restrita a homens letrados, que não
eram muitos, no período colonial. Tal fato contrariava os conceitos atuais para o
funcionamento das bibliotecas. Posteriormente, ao analisarmos duas bibliotecas em
construção, discutiremos sobre esse tema.
Outro aspecto importante desse espaço é a salvaguarda do acervo. Em cada
biblioteca havia um membro da ordem religiosa, um bom bibliotecário, responsável
pelas obras e sua conservação. No entanto, isso não foi garantia de preservação desse
acervo até os dias de hoje. Em 1759, por ordem do Marquês de Pombal e 1º ministro de
Portugal, os membros da Companhia de Jesus foram expulsos do Brasil. Eles tiveram
todos seus bens confiscados, e suas bibliotecas foram desfalcadas e entulhadas em
depósitos. Como menciona Moraes acerca do destino desses livros, (...) a quase
totalidade foi dilapidada, roubada ou vendida como papel velho a boticários para
59
embrulhar unguentos. O clima úmido e os insetos deram cabo do restante. (MORAES,
2006:10).
Abordando os aspectos espaciais, de salvaguarda dos livros, projetados para
esse fim, diz Moraes que o abandono os destruiu. A magnífica sala da livraria31 dos
jesuítas em Salvador estava, em 1811, em tão mau estado que só depois de restaurada
pôde instalar-se nela a Biblioteca Pública da Bahia. (MORAES, 2006:10).
Outras ordens religiosas formaram um bom acervo bibliográfico até o século XIX.
Em sua pesquisa, Moraes descreve sobre a aquisição de diversas coleções por um
colecionador que deu origem à atual biblioteca da Faculdade de Direito do Largo São
Francisco, em São Paulo32. As bibliotecas reunidas por Lucas Antonio Monteiro de
Barros foram instaladas no convento de São Francisco onde passaram a funcionar os
cursos jurídicos em 1828. (MORAES, 2006:18).
Mas as bibliotecas religiosas não resistiram às deliberações do governo imperial.
A circular de 19 de maio de 1835, do governo imperial, proibindo o noviciado, foi uma
sentença de morte para os conventos. (MORAES, 2006:25). Anteriormente, havia um
bibliotecário para cada biblioteca conventual; agora existe apenas um religioso para
cada convento. Nessa situação, o acervo bibliográfico não é a prioridade. Muitas
bibliotecas se perderam ou foram armazenadas de forma inadequada. Desde as
resoluções do Marquês de Pombal, e também no governo do Brasil Imperial, muitos
livros se perderam. Tais resoluções afetaram todo o território brasileiro. Moraes
salienta:
Os conventos estão vazios, as bibliotecas e os arquivos abandonados por falta de quem cuide deles. A excelente biblioteca dos franciscanos do Rio de Janeiro ficou abandonada, entregue aos cupins e às goteiras no telhado do convento.(...) A falta de gente para cuidar das bibliotecas instaladas em cidades tropicais, onde cuidados constantes são necessários, foi a culpada pela destruição dos acervos dos conventos. (MORAES, 2006:25)
31 Segundo Rubens Borba Moraes, (...) a palavra ‘livreiro’ não significa somente ‘mercador de livros’ [grifo do autor] mas destinava a pessoas que exerciam o ofício de encadernador, dobrador de folhas tipográficas, e até bibliotecário (MORAES, 2006:22). 32 No caso de São Paulo, a biblioteca dos jesuítas passou a integrar o convento São Francisco, atual sede da Faculdade de Direito.
60
Concomitantemente, as bibliotecas particulares do período colonial, pertencentes
a bibliófilos brasileiros ou estrangeiros residentes no Brasil, espalharam-se por todo
território. Diversos profissionais liberais, magistrados, políticos, religiosos, republicanos,
empresários e estudantes buscavam parte de seu conhecimento nos livros. Muitos
deles alimentavam suas ideias iluministas nessas bibliotecas particulares, como
menciona Moraes: enciclopedistas, os ‘filósofos’ [grifo do autor] da ilustração e os
pensadores considerados perigosos pelos governos absolutistas e pela Igreja.
(MORAES, 2006:20).
A primeira biblioteca pública brasileira foi fundada em Salvador em 1811, no
antigo colégio jesuítico. Para que esse sonho fosse realizado, foram necessários
esforços de diversas celebridades políticas e intelectuais de nossa nação, que se
empenharam na captação de recursos e de obras entre eles e a população. Tudo foi
feito com autorização do governo da Bahia e do príncipe regente, que contribuiu
enormemente acatando a solicitação do Conde dos Arcos, governador da Bahia, de
fundação dessa instituição pública e, posteriormente, sob influência do presidente da
Real Biblioteca, autorizando que toda obra duplicada da Real Biblioteca de Portugal,
situada no Rio de Janeiro, fosse doada à Biblioteca Pública da Bahia, conforme
mencionado.
1.3.4. REAL GABINETE DE LEITURA PORTUGUÊS
O Real Gabinete de Leitura Português nasce do sonho de intelectuais
portugueses, que se radicaram no Brasil, com a necessidade de manterem-se ligados à
cultura materna e aos novos pensamentos europeus, logo após a vinda da Família Real
para Brasil colonial, em 1808.
Nesse período a arquitetura e a urbanização da cidade do Rio de Janeiro era
colonial. Aos poucos, com a presença da Corte Real Portuguesa, esse território
começou a se transformar num lugar simbolicamente português. Uma das formas da
61
representação da sociedade lusitana em terras brasileiras foi a arquitetura. Muitas
casas e prédios coloniais foram demolidos, dando lugar as grandes construções.
Vitor Manoel Marques Fonseca em seus estudos sobre as agremiações
lusitanas, no centro da cidade do Rio de Janeiro, relata que a confiabilidade da
instituição estava diretamente ligada a imponência de sua construção ao dizer que:
No caso dos portugueses, os prédios de suas associações proclamavam o orgulho de ser português, os valores de caridade, trabalho e honestidade que caracterizariam seus nacionais, além de assinalarem a origem portuguesa da nação brasileira. (FONSECA, 2006:143).
O Real Gabinete de Leitura Português foi concebido em 1937 no domicílio de um
de seus fundadores até 1987, quando o espaço tornou-se inadequado para hospedar
aquele acervo.
O Gabinete Português de Leitura foi fundado em 1837, mas só ganhou sede própria em 1888 e Além de Macau, agora sob a soberania da República Popular da China, e que até há pouco tempo também era beneficiada com o "depósito legal", o Real Gabinete é a única instituição, fora do território português, que mantém aquele privilégio. (Disponível em < www.realgabinete.com.br> Acessadoem 2009).
O gabinete foi concebido na arquitetura neomanuelina33, que estava em voga em
Portugal - um projeto de Rafael da Silva Castro - 1881. Tratava-se de um movimento
nacionalista, que remontava a originalidade da arquitetura, onde se projetavam as
conquistas portuguesas da expansão marítima.
O reinado de D. Manuel I (1491-1521), no auge da expansão ultramarina portuguesa, assistiu ao florescimento da arquitetura manuelina, que se carateriza pela exuberância plástica, o naturalismo, a robustez, a dinâmica de curvas e o recurso a motivos inspirados na flora marítima e na náutica da época dos Descobrimentos. (ANACLETO, [s.d.]).
33 Arquitetura neomanuelina, segundo o Site do Real Gabinete de Leitura Português, opondo-se ao neogótico manifestava em diversos países da Europa, o neomanuelino representou em Portugal, uma forma de "resistência da identidade nacional. (ANACLETO, [s.d.]). O edifício do Gabinete Português na capital do Império obedecia a uma arquitetura neo-manuelina, ou seja, ilustrativa de uma época áurea em Portugal, em que o próprio rei Dom Manuel ao imprimir nas artes e na cultura um estilo próprio português manifestava o enriquecimento da sociedade durante o século XV, consequência dos descobrimentos e da oposição aos valores medievais. (CHAVES, 2007:4)
62
O gabinete, atualmente, possui um acervo de 350.000 obras e por ter se tornado
um lugar de armazenamento do ‘depósito legal’ de Portugal adquiriu, adjacente ao
prédio, um outro edifício adaptado para esse fim.
Em se tratando da edificação do Real Gabinete de Leitura Português, Fonseca,
faz uma descrição das simbologias de exaltação lusitana e sua importância no contexto
mundial daquele período:
Sua imponência vertical associa a verticalidade à cultura, na medida em que se trata fundamentalmente de uma biblioteca ligada à produção intelectual lusitana, (...) no grande salão de leitura se pode ver, olhando para cima, as estantes plenas de livros, símbolo de pujança intelectual portuguesa. (...) Placa comemorativa dos centenários de Santo Antônio, marcando que Portugal não só aumentou o mundo material pelas descobertas, como também pela cultura e espiritualidade. Sua sede era valorizada pela localização e monumentalidade. Neste sentido, os materiais de sua construção e os elementos decorativos de sua fachada tinham por objetivo proclamar publicamente os valores da associação e mostrar seu sucesso enquanto agremiação. (FONSECA, 2006:143).
Figura 14: Fachada do Real Gabinete Português. Fonte: Disponível em <htpp//:bistrocultural.c om> Acessado em 30 de janeiro 2009.
63
É interessante notar que o Real Gabinete de Leitura Português, segundo Castro
Filho, mesmo sendo sua construção de ferro fundido, bem como suas estantes, com
apenas as prateleiras em Jacarandá da Bahia, não foi isento da infestação de
organismos – xilófagos, traças - em seu acervo. Isso levou os administradores a montar
uma oficina de encadernação e uma equipe de higienização do ambiente, em especial
do acervo ali contido.
É por demais significativo constatar que o entusiasmo e emoção, despertados pelo edifício do Gabinete Português de Leitura, não decorreram do fato de aquele ser, com grande margem de certeza, a primeira obra de estrutura metálica construída no Rio, mas giraram em tomo do “belo estilo manuelino”, patenteado pela sua arquitetura, e da mensagem ideológica que continha. (ANACLETO, [s.d.])
Figura 15: Vista do primeiro andar da Biblioteca - Colunas sustentando as varandas do Real Gabinete de Leitura Português. Foto: Elisa de Mello Kerr Azevedo - 2008
64
Essa construção toda em ferro possuia, em seu salão de leitura, um pé direito de
23,5 metros, 50 estantes de ferro com 152 prateleiras de madeira – previamente tratada
para evitar infestação de cupins - ocupando uma área de 400m². O primeiro e segundo
andar desse ambiente era contornado por varanda34 fundida em ferro e com elementos
vazados- conforme figura 15. O teto possuía clarabóia e aberturas em sua lateral.
Essas características prevalecem em nossos dias – veja figura 16.
Mede o soberbo recinto 20m x 20m e tem, de altura, 23,50m na vertical tirada do pavimento ladrilhado a mosaico à clarabóia de vitrais coloridos que iluminam e cobre toda a sala. Ao centro do salão e desta mesma clarabóia pende o artístico e monumental lustre de ferro e bronze que ilumina todo recinto nas noites de grande solenidade. (CASTRO, 1977:97)
Figura 16: Vista - lustre, claraboia e aberturas laterais do teto. Fonte: Disponível em < www.vivercidades .org.br> Acessado em 30 de janeiro 2009.
A cinco metros do pavimento ladrilhado e em torno de toda sala, assente sobre sólidas colunas de ferro, corre ampla varanda guarnecida de artística grade e a que dão Acessado duas escadas internas, também de ferro. (CASTRO FILHO,1977: 96)
34 Varanda nesse contexto significa andar pouco elevado, entre dois andares altos. (AURELIO,[s.d]:930).
65
Figura 17: Corte longitudinal Fonte: (CASTRO, 1977:68-69)
O arquiteto concebeu em seu projeto a ambiência do espaço, estabelecendo a
relação entre a luz natural que se projeta em seu interior - a luz difusa. Essa luz alcança
o interior do ambiente em função das aberturas proporcionadas: pela clarabóia e as
laterais do teto. Por serem os pisos das varandas, vazados, essa luz difusa também
alcança as prateleiras até certa altura. Necessita apenas de iluminação artificial para
complementar o conforto visual nas partes mais altas das prateiras. A luz artificial é
elemento complementar irradiada pelo lustre no salão de leitura.
Foto 18: Ambiente interno do Real Gabinete de Leitura Português - Varandas Foto: Elisa de Mello Kerr Azevedo – 2008.
66
Igual a altura da primeira, uma segunda e idêntica varanda se ostenta, contornando do mesmo modo toda a sala. A guarnição desta varanda ou galerias, como as colunas que as suportam e os lambrequim que as guarnece, tudo é fundido .(CASTRO: 1977:97).
O pé direito alto proporciona uma ambiência agradável e permite sua ventilação
natural mesmo sendo o Rio de Janeiro uma cidade quente. Só essa observação nos
induziria a pensar que essa estrutura metálica necessitaria de climatização artificial. De
acordo com a bibliotecária Vera Lúcia Almeida, no verão precisa-se apenas de dois
ventiladores para auxiliar na ventilação.
Figura 19: Porta de Acessado ao salão de leitura pela rua Luis de Camões. Foto: Elisa de Mello Kerr Azevedo - 2008
Apesar do ferro possuir alta condutividade térmica e isso não ser adequado para
a manutenção dos acervos em suporte de papel, as aberturas laterais do teto permitem
que o ar quente, que adentra pelas portas do térreo, formem um túnel de ventilação
conforme a anterior.
67
1.3.5 A BIBLIOTECA DO MUSEU PAULISTA
O mais antigo museu de São Paulo foi concebido, inicialmente, com o propósito
de valorização e glorificação da monarquia e de seu imperador, uma representação do
poder econômico paulista e marco do local do Grito do Ipiranga. Ocorre que, em 1889,
durante a construção desse memorial, houve a queda da monarquia e a implantação do
regime republicano no Brasil. Em decorrência desse fato histórico, o monumento mudou
uma de suas concepções: ao invés de ser um lugar de realização de diversas
cerimônias cívicas, para a celebração da monarquia, passa a abrigar o Museu Público
de História Natural, denominado Museu Paulista. Sua inauguração oficial foi em 7 de
setembro de 1895.
Figura 20 - Museu Paulista, São Paulo Brasil. Arquiteto Tommaso Gaudenzio Bezzi, c. 1890. Fonte: Elisa de Mello Kerr Azevedo – 1994.
Inspirado nos palácios renascentistas europeus, o arquiteto e engenheiro italiano
Tommaso Gaudenzio Bezzi projetou esse edifício-monumento com base na arquitetura
68
eclética35 que estava em voga na Europa no século XIX. Para garantir que a construção
respeitasse todas as suas projeções, Bezzi confeccionou uma maquete, em gesso, com
todos os adornos, ornamentos e detalhes que constavam na planta original. Por meio
desse projeto, Bezzi influenciou, e muito, os novos conceitos arquitetônicos da cidade
de São Paulo a partir do final daquele século.
O responsável pela construção do monumento foi o italiano Luigi Pucci. Toda a
contratação de mão-de-obra, materiais e execução do projeto, foi de sua total
responsabilidade. Precisou ele, superar grandes desafios, uma vez que no Brasil não
existia a mão-de-obra especializada nas técnicas em adornos que o projeto de Bezzi
exigia. Nesse período, as construções brasileiras ainda eram feitas de taipa, o que
levava os pesquisadores a acreditar que os profissionais contratados por Luigi eram
também italianos.
O segundo desafio a ser superado por Pucci era fazer chegar ao sítio do
monumento os materiais necessários à sua construção. Grande parte dos materiais de
alvenaria vinha das fábricas de tijolos de São Caetano. O transporte ao local da obra
era muito difícil. Para facilitar a locomoção dos tijolos e demais materiais necessários ao
bom andamento da obra, estendeu-se um braço de uma das linhas ferroviárias de São
Paulo e criou-se a estação Ipiranga. Como confirma o arquiteto Benedito Lima de
Toledo36, Pucci revelou competência e iniciativa ao encomendar, por exemplo, uma
máquina a vapor para transportar o material da estrada de ferro inglesa até o próprio
canteiro de obra [grifo do autor]. (TOLEDO, 2009). Tudo indica que o restante do trajeto
foi feito em carretas.
35 Ecletismo 3. ARQ tendência artística fundada na exploração e conciliação de estilos do passado, usual esp. A partir de meadosdos sXIX no ocidente. (HOUAISS,2001:1096) 36 Benedito Lima de Toledo é arquiteto da FAU-USP e membro da Academia Paulista de Letras.
69
Figura 21: Vista frontal do Museu Paulista. Fonte> Disponível em < http://www.bbk.ac.uk/ibamuseum/texts/Andermann01.htm> Acessado em 20 junho 2010.
Para melhor representar a importância do momento da proclamação da
Independência do Brasil, foi solicitado, em 1886, ao renomado pintor florentino Pedro
Américo, uma tela especial para o salão nobre do monumento. A obra, denominada de
Independência ou Morte, possuia 7,60 metros de largura por 4,15 metros de altura, e
ficou pronta em 1888; no entanto só foi possível fixá-la em seu lugar de destino em
1894. Trata-se de um quadro imponente que retrata a magnitude daquele momento
para a história do Brasil e de Portugal.
Ao redor desse complexo arquitetônico, anexou-se um grande jardim, o Parque
da Independência. O projeto paisagístico de Arsenius Puttemans inspirou-se nos jardins
europeus de sua época, em especial os do Palácio de Versalles. O jardim sofreu uma
grande reforma em 1922 para a comemoração do centenário da Independência. Foram
incorporados a ele mais 1500m² estendendo-se até ao Monumento à Independência.
70
Figura 22: Jardim do Museu Paulista - 1920 Fonte: Disponível em < http://www.mp.usp.br/historia.html > Acessado em 15 de maio de 2010.
Em 1917, sob a direção de Afonso de Escragnolle Taunay, o museu passou a
ser decorado internamente – decoração esta preservada até os dias de hoje – e
começou a alterar o seu perfil de Museu de História Natural para Museu de Pesquisa
em História. A partir dessa data, foram encomendadas, doadas e compradas diversas
peças para a composição do acervo e decoração interna. Essas peças representavam e
representam ainda, temas históricos, e cotidianos da cultura do povo paulista e por
extensão do brasileiro. As representações eram ilustradas desde a época do
descobrimento do Brasil até meados do século XX.
71
Figura 23 : Jardim do Museu Paulista - 1960 Fonte: Disponível em < http://www.mp.usp.br/historia.html > Acessado em 15 de maio de 2010.
Taunay valorizou o estado de São Paulo, expondo esculturas, pinturas e diversas
peças de personalidades paulista, que muito contribuíram e influenciaram na formação
da nação e da sociedade paulistana. Esse novo perfil só se estabeleceu completamente
no final do século XX.
Figura 24 - Museu Paulista, São Paulo – SP – Brasil. Arquiteto Tommaso Gaudenzio Bezzi, c. 1890. Fonte: Disponível em < http://www.mp.usp.br/historia.html > Acessado em 15 de maio de 2010.
Nesse período, o Museu Paulista agregou mais de 125.000 peças ao seu acervo.
A coleção é destinada a promover a pesquisa e compreensão da formação e
desenvolvimento da sociedade brasileira e às representações artísticas do início
72
daquele século. Todavia, dá ênfase à história de São Paulo, por ter sido esta uma das
cidades que mais se modernizaram no Brasil na virada do século XX, acompanhando o
desenvolvimento das grandes cidades europeias e americanas. A temática do acervo
concentra-se em três linhas de pesquisa: Cotidiano e Sociedade, Universo do Trabalho
e a História do Imaginário.
Para melhor atender às pesquisas científicas ao público, o Museu Paulista
contava com uma vasta biblioteca, fundada em 1895. Essa entidade especializada em
História e Sociedade, integrava-se ao sistema de bibliotecas da USP e privilegiava as
temáticas anteriormente citadas. Para tal, possuia uma equipe interdisciplinar de
profissionais - pesquisadores e especialistas - que promoviam o bom desempenho do
acervo e das exposições permanentes ou temporárias.
Figura 25 - Biblioteca do Museu Paulista, Arquiteto Tommaso Gaudenzio Bezzi. Fonte: Disponível em <http://constancalucas.blog.uol. com.br> Acessado em: 18 de Novembro de 2008.
73
Para acompanhar a concepção contemporânea dos museus internacionais, o
Museu Paulista, preocupado com a divulgação do conhecimento e da multiplicidade
contida em seu acervo, criou a Divisão de Difusão Cultural, que integra diversos órgãos
internos: Assessoria de Imprensa, Cursos e Atividades Culturais, Ação Cultural e
Educativa e Extensão Universitária. Segundo Benedito Lima Toledo, a importância
dessa instituição é comprovada ao se analisar o número de visitantes que recebe no
decorrer do ano:
O Museu Paulista da Universidade de São Paulo, mais conhecido como Museu do Ipiranga, destaca-se, entre muitas outras razões, por ser um dos mais visitados do país. Cerca de 400.000 pessoas por ano ali comparecem guiadas por um sentimento de respeito ou mesmo de veneração. (TOLEDO, 2009:1).
Durante todos esses anos, o Museu Paulista passou por diversas dificuldades.
Muitas delas foram vencidas pelo apoio de empresas que se envolvem com a
preservação de nossa cultura e fazem uma parceria com o Museu, quando necessário.
Como nos alerta Toledo, vários são os departamentos que se preocupam com a falta de
espaços internos do monumento e o ingresso a eles, tais como o metrô, com Acessado
ao Parque da Independência. Um elevador externo foi cogitado para permitir a
acessibilidade dos visitantes com mobilidades reduzidas a todos os espaços destinados
ao público, inclusive banheiros, o que não é possível nos dias de hoje.
Agora se propõe sanar as deficiências observáveis no edifício a começar pela escassa área de exposição do acervo, fato inconcebível segundo os princípios de museologia. Outro inconveniente é a falta de Acessado para pessoas com dificuldade de locomoção aos diferentes andares. Um precário elevador de porta pantográfica não permite sua utilização por esses visitantes. Há somente dois sanitários no subsolo acessíveis por uma única escada. A solução para esses e outros problemas não pode prejudicar a arquitetura do interior do edifício. (TOLEDO, 2009:1)
Com a proclamação da república um novo momento político se abriu para a
Nação, fazendo com que as instituições se modelassem. No decorrer do século XX foi
notada a preocupação com o contexto educacional e cultural que estariam no foco de
debates a partir da década de 1920.
74
1.3.6. MIDIATECA PUC-RIO
Algumas instituições, percebendo seu papel sociocultural, vêm a necessidade de
ampliar seus espaços, visando a contribuir melhor para a transformação da sociedade
local. Como exemplo, é possível citar o projeto arquitetônico da nova biblioteca da
PUC37, localizada na Gávea, ponto nobre da cidade do Rio de Janeiro, cercada pela
exuberante natureza com vista para o Corcovado. Encontramos quatro favelas nas
adjacências onde moram pessoas em grande parte desprovida do privilégio de desfrutar
as ofertas de instituições desse porte.
Figura 26 - Maquete da Midiateca PUC-RIO, Rio de Janeiro, projeto do arquiteto Ângelo Bucci, em 2006. Fonte: (LEONÍDIO; MARTHA, 2007:46).
Otávio Leonídio e Martha comentam:
A construção da Midiateca repercutirá imensamente na vida da cidade do Rio de Janeiro, e não apenas no dia-a-dia na Universidade. (...) O novo edifício deverá ser um marco na vida de uma cidade que, não obstante sua notória vocação cultural, carece enormemente de espaços públicos de leitura. (LEONÍDIO; MARTHA, 2007:34).
O projeto atende a diversas exigências da instituição educacional para a nova
biblioteca. Além das já citadas neste trabalho, tais exigências são, segundo Otávio
37 PUC-RIO Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro.
75
Leonídio e Luiz Fernando Martha: conforto ambiental, racionalização de recursos
energéticos, (...) e o respeito ao preceito de ampla acessibilidade por parte de
portadores de necessidades especiais. (LEONÍDIO; MARTHA, 2007:30).
Tais regras vão ao encontro das necessidades da instituição, que tinha sob sua
guarda um acervo com mais de 245.000 títulos, entre livros e periódicos. A biblioteca
teria que assumir, para esse novo espaço, o compromisso de atender, em média, 3.500
pessoas diariamente, independente de sua formação acadêmica. Atendendo também
às necessidades das comunidades próximas ao complexo da PUC, a Midiateca
desvincular-se-ia do meio acadêmico. Hoje, em parte, esses critérios já são
relativamente atendidos.
Em se tratando do projeto, ele trouxe em seu bojo, a utilização do dobro do
espaço da atual biblioteca da PUC para tal fim. Amplos salões de leitura, auditório,
salas de estudos, espaços para exposições, praça, salas de computadores e o projeto
da Cátedra UNESCO de Leitura PUC-RIO38, integraram a colocação da proposta.
A Cátedra da UNESCO organizaria, dentro da Midiateca, uma biblioteca infanto-
juvenil, o que revela o caráter educativo e transformador da instituição, que, além de
contemplar diversas necessidades do campus da universidade, estaria abrindo um
espaço para ampliar o atendimento à comunidade carente em seu entorno.
O programa de fluxo de circulação liga-se a todo o campus, tendo Acessado à
Vila dos Diretórios39, ao estacionamento e ao prédio principal da instituição,
obedecendo às normas de acessibilidade.
O acolhimento divide-se em duas áreas, uma controlada - para proteção do
acervo - e outra livre. O setor controlado é formado pela recepção, um balcão de
solicitação de livros e documentos e um terraço-espaço para leitura de periódicos. A
38 Criada em 2006 no âmbito de um convenio firmado entre a PUC-RIO e a Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura. (LEONÍDIO; MARTHA, 2007:12). 39 Antiga Vila de Operários que atualmente integra o lugar.
76
segunda área de acolhimento, a não controlada, é composta por uma grande área de
estudos em grupos e individuais.
Outra área importante do projeto é o salão principal. Possui um pé direto alto e
capta grande parte da iluminação natural vinda dos extremos, norte e sul. Essa luz não
incide diretamente sobre o espaço interno; o tratamento que recebe a dissipa pelo
ambiente, tornando-o claro a maior parte do dia. Tanto o teto do salão como piso do
mezanino são de vidro para a ampliação da iluminação natural difusa.
A escolha dos materiais construtivos, com aproveitamento da ventilação natural
fornecida pelo entorno, de modo a poupar a utilização de excessiva de ar condicionado,
privilegia a ventilação pelos mesmos dutos do ar condicionado e propicia o conforto
térmico e acústico para o ambiente, protegendo o acervo e os usuários. Otávio Leonídio
e Luiz Fernando Martha comentam que a Midiateca PUC-RIO:
(...) passará a figurar nitidamente como instituição própria dentro do campus, fazendo valer seu papel de depositária de saberes, ponto de encontro dos estudantes de todos os cursos e universidades aberta para todos na cidade do Rio de Janeiro. . (LEONÍDIO; MARTHA, 2007: 43)
1.3.7 NOVAS BIBLIOTECAS BRASILIANAS: GUITA & JOSÉ M INDLIN E IEB40
A necessidade da ampliação do espaço de acolhimento do acervo da biblioteca
em questão se deu a partir da doação da Coleção Brasiliana José Mindlin, o acervo
particular mais importante do Brasil, que agrega também a biblioteca do bibliófilo
Rubens Borges de Moraes.
Tendo o IEB seu espaço já ocupado com sua crescente coleção, não era
possível agregar mais esse acervo. Surge aqui a necessidade de se conceber um
complexo arquitetônico, contendo duas bibliotecas separadas, mas que estejam ligadas
por especificidades e mantendo-se o objetivo de seus espaços.
40 Instituto de Estudos Brasileiros da Universidade de São Paulo.
77
Pretendemos focar o projeto para a Biblioteca Brasiliana da USP – São Paulo.
Ele foi projetado pelos escritórios de arquitetura Eduardo de Almeida e Rodrigo Mindlin
Loeb, com assessoria da FAU41. A área a ser trabalhada situa-se no território central da
USP, entre os prédios da Reitoria e da FFLCH42. O edifício, atualmente em fase de
construção, terá 20.000m². Suas obras se iniciaram em 2008 e continuam em
andamento.
A coleção Brasiliana Guita e José Mindlin, com 40.000 volumes e títulos, ficará
em uma biblioteca à parte, do acervo da Brasiliana do Instituto de Estudos Brasileiros,
que contém cerca de 140.000 títulos entre livros e periódicos, um arquivo com 400.000
documentos catalogados e uma coleção de artes visuais com 3.000 peças.
O acervo José Mindlin não deve ser separado e distribuído entre os outros livros
da IEB. Um acervo particular tem suas peculiaridades e ideologias, o que não nos
permite sua fragmentação. Assim, pode-se conservar a identidade do colecionador.
Nesse sentido, podemos notar que o acervo de uma biblioteca particular põe à tona o
perfil do seu proprietário:
Pode revelar a personalidade, a profissão, a ideologia, enfim, o modo de ser e de viver de quem a formou como também a sua relação para com ela. Alguns veem a biblioteca apenas como um lugar para a guarda de livros. Outros a consideram um lugar especial, às vezes sagrado, onde os grandes mestres e os candidatos a eles repousam serenamente, aguardando serem consultados, para então abrir as suas janelas brancas com persianas horizontais. (FRANSISCO, 2008)
Houve a preocupação em manter suas instalações no nível do solo e afastadas
do declive, o que minimiza os efeitos maléficos do solo sobre o ambiente interno das
salas de multiuso, reserva técnica e outras áreas de trabalho.
A praça central, um ambiente aberto e bem ventilado, possibilita o Acessado a
duas bibliotecas no mesmo pavimento. Esse recanto possui um café, entrada para o
auditório ponto de encontros, salões para exposições (separados para cada biblioteca)
e comum às duas coleções (Figuras 27 e 28). 41 Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da USP. 42 Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da USP.
78
Figuras 27 e 28: Acessado ao prédio pela Praça da Reitoria da USP. Fonte: Disponíveis em < http://www4.usp.br/arquivos > Acessado em 20 de maio de 2009.
Figura 29 - Acessado ao prédio pela Av. Prof. Luciano Gualberto. Fonte: Disponível em < http://www4.usp.br/arquivos > Acessado em 20 de maio de 2009.
O projeto aproveitou ao máximo a iluminação natural, porém difusa, por meio de
uma tela de proteção, e ambas as bibliotecas são resguardadas de incidência direta da
luz por estarem na direção leste-sul. Um olhar mais atento, aponta para a preocupação
com áreas de treinamentos, de divulgação e ação cultural. Ficou demonstrado critério e
discernimento ao se criar uma área para cursos voltados para o ensino de preservação
e restauro de documentos.
79
Figuras 30 e 31: Vista das bibliotecas da IEB, à direita, e biblioteca Guita & José Mindlin ao fundo. À esquerda, temos a cafeteria e saída pela Av. Prof. Luciano Gualberto. Fonte: Disponíveis em < http://www4.usp.br/arquivos > Acessado em 20 de maio de 2009.
Figura 32: Bibliotecas Brasiliana e IEB, projetadas pelos arquitetos Eduardo de Almeida e Rodrigo Mindlin Loeb, 2008. Corte transversal – praça de Acessado ao café, dois salões de exposições e auditório. Fonte: (PUNTONI, 2007:66-67).
Figura 33: Bibliotecas Brasiliana e IEB, projetadas pelos arquitetos Eduardo de Almeida e Rodrigo Mindlin Loeb, 2008. Fonte: (PUNTONI, 2007:64).
80
Figura 34: Bibliotecas Brasiliana e IEB, projetadas pelos arquitetos Eduardo de Almeida e Rodrigo Mindlin Loeb, 2008. Fonte: Fonte: (PUNTONI, 2007:65).
1.3.8. O ESPAÇO DAS BIBLIOTECAS E AS TRANSFORMAÇÕES ADVINDAS DA
TECNOLOGIA
Com o surgimento da tecnologia, as bibliotecas passaram a absorver esse novo
conceito de armazenamento e divulgação do múltiplo acervo. O advento da tecnologia
não anulou a importância do acervo físico e nem diminuiu a necessidade de preservá-
lo. De fato, deve haver um dialogismo entre as partes, facilitando o Acessado à
informação e à divulgação do conhecimento. Segundo William J. Mitchell,
Esses efeitos da infraestrutura mundial de telecomunicações digitais são poderosos e abrangentes, mas isso não quer dizer que eles vão causar a morte da distância, o fim do espaço e a virtualização de praticamente tudo. (MITCHELL, 2002:57).
As instituições universitárias, PUC-RIO e Brasilianas – USP, tiveram a
preocupação de manter-se à frente com essas tecnologias. Foram criados espaços
dedicados à digitalização de seus acervos, suprindo, assim, o antigo objetivo das
bibliotecas: a universalização do saber. Acreditavam que, assim, poderiam permitir o
Acessado à informação de forma ágil e segura, criando meios de certificar a
autenticidade da obra digitalizada pela instituição.
Otávio Leonídio, ao escrever “que o melhor lugar para se guardar memória e
conhecimento são os livros, e que o melhor lugar para armazená-los e disponibilizá-los
81
são as bibliotecas, mais precisamente as bibliotecas públicas.” (LEONÍDIO, 2007:21)
confirmam essa necessidade de permitir tanto o Acessado físico como o virtual aos
espaços da biblioteca.
Para que isso ocorresse, dever-se-ia agregar novos espaços às bibliotecas. A
virtualização encurta as distâncias, globaliza as informações e, ao contrário do que
muitos pensam, não exime as bibliotecas da presença física do usuário e de
acrescentar novos livros em suas estantes. A disponibilização de computadores para
pesquisas virtuais seriam desejáveis. Não eximiu, entretanto, as bibliotecas de
atentarem para os espaços de trabalho de digitalização das obras que serão oferecidas
para pesquisas virtuais, bem como, de atualização e transferência de mídias, além dos
espaços tradicionais.
No capítulo seguinte, teremos a oportunidade de ampliar os conhecimentos
sobre a contribuição do projeto arquitetônico da biblioteca para a conservação das
coleções.
82
2. O PROJETO ARQUITETÔNICO E AS COLEÇÕES DAS BIBLIO TECAS
Desde a Pré-História, os homens registram as manifestações de seus povos. As
pinturas nas cavernas são uma demonstração da necessidade do ser humano de
imortalizar sua cultura. Esses registros foram preservados por estarem, na medida do
possível, protegidos da ação do tempo. Eram desenhados nas paredes das cavernas,
que serviam de abrigo para a comunidade e, atualmente, esclarecem dúvidas acerca da
cultura nos primórdios da humanidade. Segundo Georges Jean, acredita-se
naturalmente que aqueles que inventaram os primeiros signos escritos queriam
perpetuar rastros de suas lendas. (JEAN, 2002:11)
Georges Jean descreve a trajetória da escrita e dos variados suportes e
equipamentos utilizados pelo homem para tornar possível a continuidade de sua
cultura.
Existem, há milhares de anos, inúmeros meios de transmitir mensagens através de desenhos, sinais, imagens. Entretanto, a escrita só começou a existir a partir do momento em que foi elaborado um conjunto organizado de signos ou símbolos. (JEAN, 2002:12)
Para promover a continuidade da cultura cumulativa, fez-se necessário a
elaboração de espaços específicos, como também, para a diversidade de registros
produzida pelo homem no decorrer de sua história.
Na presente pesquisa, foram abordadas algumas especificidades dos registros,
em suportes compostos de celulose, e das intempéries advindas do clima tropical. Isso
na visão dos responsáveis pela salvaguarda das coleções.
2.1. O PAPEL DA BIBLIOTECA NA SOCIEDADE CONTEMPORÂ NEA
Na verdade, o patrimônio cultural não trata apenas do livro - bem material e físico
- mas também das manifestações perpetuadas por essa forma de registro. Assim, esse
patrimônio deixa de ser estático para fazer parte dos movimentos de transformação,
83
que, juntamente com suas manifestações culturais, reafirmam a continuidade da
história. Choay explica sobre a preservação da memória passada:
Mas esse passado invoca e convoca, de certa forma encantado, não é um passado qualquer: foi localizado e selecionado para fins vitais, na medida em que pode, diretamente contribuir para manter e preservar a identidade de uma comunidade, étnica ou religiosa, nacional, tribal ou familiar. (...) É garantia das origens e acalma a inquietude que gera a incerteza dos princípios. (CHOAY, 1999: 22)
A salvaguarda de documentos protegidas nas bibliotecas é uma das garantias da
continuidade da história. A capacidade de registro do homem é falha e limitada.
Observamos também que a memória coletiva do ser humano, não é capaz de reter todo
conhecimento desejável. Para suprir essa falha foi necessário criar outros meios de
armazenamento. Borges ressalta que o livro é a extensão da memória e da imaginação
(BORGES 1978 apud PUNTONI, 2007:71). Por outro lado, a biblioteca representa uma
das possíveis extensões da memória coletiva dos povos. Consequentemente é
responsável pela preservação do patrimônio cultural materializado em suas coleções.
Otávio Leonídio, analisando o trabalho de Louis I. Kahn, comenta que costumava
definir a prática da arquitetura como o ato ou capacidade de tornar tangível a que
chamava ‘as instituições dos homens’ 43[grifo do autor]. (KAHN apud LEONÍDIO,
2007:18). Para ele, todos os edifícios eram construídos a serviço de uma instituição
social ou política, desde uma assembléia legislativa ou até mesmo uma família. A
colocação feita por Leonídio e Kahn é considerada também em nossos dias, onde não
se excluem as bibliotecas.
Correndo o risco de duplicar uma informação, reforçamos o papel da biblioteca.
Uma das instituições criadas pelos homens, ela é depositária do conhecimento das
idéias, tanto concluídas como em contínua construção, onde não se exclui o abrigo
adequado desse acervo. Isso se dá não apenas pelo valor monetário ou afetivo do
suporte da representação do saber, como um livro manuscrito em pergaminho ou uma
43 Otávio Leonídio apropria-se deste termo usado por Louis I. Kahn ao referir-se a prática da arquitetura. Ver em LEONÍDIO, Otávio. MARTHA, Luiz Fernando. Midiateca da PUC – RIO. São Paulo; Rio de Janeiro, PUC-Rio, 2007. Página 18.
84
encadernação do século XIII com pedrarias, mas sim, por manter viva a memória e a
construção desse conhecimento contido no suporte a serviço dessa instituição.
Ao pensar no edifício que abrigava coleções de livros e afins, devemos
considerar não apenas os objetos a serem preservados, mas também, suas
particularidades e seus usuários. Sobre as dificuldades enfrentadas pelos países
tropicais no tocante à conservação dos objetos museológicos, Marcus Granato ressalta
que:
São afetados pelas condições em que são expostos ou acondicionados. Condições ambientais inadequadas são uma causa séria de deterioração, muitas vezes agravada pelo fato de que os efeitos permanecem invisíveis por um período longo. Quando perceptíveis, esses efeitos já podem ter comprometido a estrutura do objeto. Essas condições são mais críticas em países tropicais, como é o caso do Brasil. (GRANATO, 2007:123).
Estudos recentes mostram que a relação existente entre acervo, edifício,
condições ambientais e usuário são vitais para a durabilidade do acervo. Saulo Güths
acerca dos insetos, diz que eles necessitam de aquecimento no ambiente para ativar
seu metabolismo; assim se reproduzem rapidamente em temperaturas acima de 25ºC e
muito lentamente em temperatura de 15 a 20ºC. (GÜTHS, 2007:32). Isso explica a
deterioração dos livros das bibliotecas confessionais abandonadas no século XIX.
Atualmente, algumas instituições trabalham com uma equipe interdisciplinar de
profissionais para minimizar os efeitos maléficos das condições ambientais sobre o
acervo e que podem trazer problemas de saúde aos usuários.
Há que ser considerada também, a intensidade de luz que penetra nos espaços
do acervo e lugares de consultas. Sobre a luminosidade, Tadao Ando menciona dois
fatores importantes: seria ótimo que a luz entrasse no espaço para dar vida à arte que
está no interior. Hoje em dia, muitos museus têm controles bastante rígidos quanto ao
uso excessivo de luz artificial. (ANDO, 2003:52).
85
A luz artificial, por tempo prolongado, é prejudicial ao acervo, mas também o é a
luz natural, se incidir diretamente sobre os objetos. O equilíbrio é de suma importância
para o espaço considerado entre as duas opções: luz artificial e natural. Entretanto, não
nos preocuparemos com essas colocações tecnológicas por não serem o objeto
primeiro de nossos estudos, neste momento. Mesmo assim, houvemos por bem citar
Ando, a luz natural em demasia é um problema, e por isso imaginamos uma tela
especial para suavizar e distribuir a luz. (ANDO, 2003:53).
A título de sugestão, extraída dos nossos estudos, seria importante que
arquitetos e outros profissionais de preservação em outras áreas se unissem para
discutir os desafios que uma biblioteca pode oferecer em seu projeto. Saulo Güths
ressalta que:
(...) estudos avaliam a influência combinada de temperatura e umidade, mostrando que, quanto mais quente, mais fácil de os fungos começarem a se desenvolver. (...) Tendo mais água absorvida nos objetos, mais os fungos se proliferam. (GÜTHS, 2007:32).
Essa citação nos provoca a sugerir, uma vez mais, que o projeto poderia ocupar-
se dessa colocação.
Outra adição que fazemos ao projeto da biblioteca, é que ele deve contemplar
as necessidades futuras do edifício. O fator econômico pertinente a cada instituição
necessita ser considerado. A parceria com as diversas áreas de interesse recíproco é
que definirá os padrões desejáveis para a concretização do evento.
Ao estudar a conservação preventiva, Ingrid Beck destaca que a equipe:
(...) é multidisciplinar, abrange uma série de conhecimentos bastante complexos, como a climatologia, a ciência e tecnologia dos materiais. É um estudo amplo que, busca melhora das condições de preservação e a ampliação da vida útil dos documentos, para assegurar o Acessado à informação. No Brasil deve-se considerar a necessidade de conviver com os problemas muito específicos do clima e orçamentos limitados. (BECK, 2007:59).
86
Nos impressiona muito quando profissionais de diversas áreas reúnem-se para
ofertar sua contribuição a projetos multidisciplinares. Sentimos como é importante a
parceria, evidenciando os vários saberes, em prol do implemento de determinado
projeto.
2.2. COMO AS COLEÇÕES SÃO PRESERVADAS
Cristina Coelho44 relata a dualidade existente entre o ato de criar uma nova
estrutura em meio às preexistentes, ou mesmo as adaptações do antigo prédio para
abrigar uma nova função. E, cada vez mais os arquitetos devem projetar e intervir na
cidade com o olhar de preservadores e construtores do suporte (abrigo) da cultura.
(COELHO, 2003:29).
Essa citação, ora por nos acolhida, estabelece uma relação harmônica entre o
novo e o antigo, garantindo a transição passado - futuro, por meio dos registros
arquitetônicos preservados no bojo do tecido urbano.
Muitas de nossas coleções bibliográficas encontram-se, atualmente, dentro de
edifícios tombados. Alguns desses prédios foram concebidos para abrigar uma coleção
específica. Outros, adaptados para assumir esse novo papel.
Sendo assim, precisamos seguir procedimentos diferenciados, determinados
pelas estruturas do prédio, que refletirão sobre o acervo cultural ali abrigado. Cristina
Coelho diz que:
O edifício antigo é como um paciente que apresenta sintomas de degradação e/ou patologias que devem ser corretamente diagnosticadas para que soluções que evitem definitivamente, ou retardem bastante, a reincidência do problema possam ser encontradas. (...) Para tanto, a investigação deve considerar todo o universo que envolve o bem cultural, como os fatores climáticos; as características do solo; as edificações do entorno; as intervenções urbanísticas; os atos de vandalismo. (COELHO, 2003:36).
44 Arquiteta especialista em Conservação e Restauro de Edifícios Históricos pelo CECRE/UFBA.
87
Muitos prédios antigos que abrigam acervos frágeis foram tombados pelo
patrimônio histórico. Esses assumem responsabilidades dobradas, uma vez que de sua
preservação dependerá a durabilidade da coleção que acolhem. Portanto, a
compreensão de como os materiais construtivos reagem ao tempo e a topologia do
lugar que o sítio oferece é qualidade sine qua nom para se estabelecer a preservação
de todo o complexo que o abrigo precisa abarcar.
Muitos edifícios antigos foram tombados pelo patrimônio histórico cultural. Nesse
caso - aumentava a complexidade das intervenções - necessárias para reparar os
traumas que a construção estivesse sofrendo. E, qualquer intervenção a ser feita,
deverá ter a aprovação dos órgãos competentes. As diretrizes eram, e ainda são,
regidas pelas cartas patrimoniais, elaboradas em conferências nacionais e
internacionais. Márcia Braga45(2003) discute sobre algumas dessas medidas, como por
exemplo: Carta de Atenas, Carta de Veneza, Conferência de Quito e Carta Européia.
Ressalta que:
A partir de experimentos e reflexões que se desenvolvem ao longo de séculos, hoje temos definidos sobre como e o que preservar, conservar e restaurar. Tomando como princípio o respeito à forma original a diversidade das manifestações culturais. As idéias evoluem e as definições são abrangentes. (BRAGA, 2003:7).
A arquiteta Claudia S. Rodrigues Carvalho46(1998) explica sobre a importância
dos abrigos culturais para a sociedade a qual se destina: “Os museus, os arquivos, as
bibliotecas, entre outras instituições relacionadas com a cultura, têm como principal
tarefa preservar47 toda a herança histórica, científica e arquitetônica para as gerações
futuras. (CARVALHO, 1998:2).
Levando-se em conta tal colocação, o cumprimento dessas premissas permite
que o acervo cumpra sua missão de informar, multiplicar e transformar essa sociedade. 45 Mestre em Conservação do Patrimônio Cultural pela Proarq (1999). Tem experiência na área de Arquitetura e Urbanismo. 46 Diretora Substituta do Centro de Memória e Informação da Fundação Casa de Rui Barbosa desde 2007. 47 Conservação preventiva, segundo Claudia S. R. Carvalho, aplica-se a todos os elementos do patrimônio, em situação de deterioração ativa ou não, visando a protegê-lo de qualquer agressão natural ou humana.
88
Para melhor compreensão do estudo, primeiramente foi exposta a fragilidade do acervo
gráfico, tanto quanto o desgaste em sua composição. Em segundo, a abordagem fica
centrada no edifício, examinando como ele pode corroborar para minimizar o desgaste
dos acervos como um todo.
Explica Dan C. Hazen (1997) que devemos estabelecer critérios do que seja um
trabalho bem definido objetivando a proteção das totalidades das coleções. Isso implica
também em um gerenciamento adequado de tais decisões para medidas de
preservação em massa do acervo aqui tratado.
Dan C. Hazen reforça a reflexão quanto a preservação das coleções, dividindo-a
em três atividades distintas mas interrelacionadas, tais como:
O primeiro tipo concentra-se nos ambientes da biblioteca e nas maneiras de torná-los mais apropriados a seus conteúdos. O segundo incorpora esforços para entender a vida física de documentos através de métodos como desacidificação, restauração, encadernação. O terceiro tipo envolve a transferência de conteúdo intelectual ou informativo de um formato ou matriz para outro. (HAZEN, 1997:4).
Lamentavelmente, nenhuma estratégia poderá impedir que as coleções se
deteriorem com o tempo. Esse é um processo natural de todo objeto composto de
matérias orgânicas. O que se pretende é minimizar a taxa de deterioração do acervo,
ao criar condições ambientais que potencializem a salvaguarda das coleções. Portanto,
faz-se necessário entender os três processos de deterioração de acervo: físico, químico
e mecânico. Para cada um deles existem políticas de intervenção específicas a serem
adotadas.
Melhorias ambientais podem incluir controle de temperatura e umidade, filtros para a purificação do ar, telas e barreiras para minimizar o dano causado pela luz, procedimentos especializados de manutenção e planejamento para desastre, Todas estas atividades afetam grande massas de material e, assim, reduzem a necessidade de escolha entre candidatos individuais à preservação. É por este motivo que controles ambientais aperfeiçoados são normalmente uma opção imediata para a preservação. A maioria destas atividades também se sobrepõe à manutenção do edifício. (HAZEN, 1997:4).
89
Claudia S. R. Carvalho também alerta sobre os diversos conceitos que envolvem
a preservação de bens culturais, ressaltando que a conservação preventiva é uma
delas. Essa conservação não trata o objeto isoladamente, mas sim, as causas de
degradação de todo o acervo. A amplitude da preservação, implica ultrapassar as
fronteiras físicas de todos os elementos que permeiam o objeto alcançando, dos
materiais construtivos e o intercâmbio do entorno com o prédio.
Comenta a arquiteta sobre as dificuldades em manter o acervo em boas
condições, em virtude do estado de conservação dos edifícios de salvaguarda cultural:
Muitos, no entanto, apresentam situações ou condições inadequadas que põem em risco a preservação de seus acervos. As condições inadequadas vão desde a localização – áreas poluídas, sem segurança e sujeitas a desastre naturais – até características arquitetônicas dos edifícios que contribuem para uma iluminação nociva e para o estabelecimento de níveis impróprios de temperatura e umidade, favorecendo os ataques biológicos. (CARVALHO, 1998:2).
O arquiteto Fernando Rodriguez Romo48 (1999:1) alerta para a importância do
edifício como abrigo de acervos museológicos. O desempenho do edifício quanto a sua
função de salvaguarda das coleções, dependerá do vinculo estabelecido entre o clima
externo e os microclimas adequados a função dos diversos ambientes da instituição.
Cuando queremos crear condiciones físico-ambientales propicias para una función, es a través del edificio que lo logramos; conforma el contenedor, la envolvente capaz de favorecer un medio ambiente interior, reflejado en parámetros por los cuales apreciamos y medimos la mayor o menor eficiencia de nuestra acción. Cada función tiene sus propias exigencias que pueden ser tan estrictas como se requiera. Para el caso de inmuebles utilizados como museos, construidos para ese uso o adaptados, las condiciones físico-ambientales a obtener están dirigidas a mostrar colecciones bajo unas condiciones muy estrictas que permitan la conservación, reduciendo al mínimo el deterioro que inevitablemente el medio ocasiona. (ROMO, 1999:1).
O desenho do prédio com a função bibliotecária, pressupõe o uso de barreiras
contra o que lhe é desfavorável – clima, topologia, luz e outros. Se o arquiteto não se
valer dos benefícios favoráveis, que a região oferece - o que lhe é dado – pela
48 Fernando Rodríguez Romo arquiteto especialista em Conservação Preventiva em Museus – Colômbia.
90
natureza, para favorecer os espaços internos do acervo e seus utentes, a empreitada
torna-se onerosa à instituição, por necessitar a mobilização de recursos internos.
Segundo Fernando R. Romo:
El edificio como envolvente de los espacios donde se desarrollam las funciones, es el vinculo entre o clima exterior y aquel buscado el interior; de su buen deseño y adequación, depende que se cumpra sus funciones con eficiencia y economia o pro contrario, resulte poco funcional y costosa su operación. (ROMO, 1999:3).
Como foi visto, benefícios e dificuldades são a interface da mesma moeda. Esse
edifício, por ser um invólucro do acervo, deve ser concebido de tal forma, que
estabeleça um consenso entre o ambiente de armazenamento das coleções e o de
transformação cultural. Por outro lado, o desperdício das condições desfavoráveis,
mantendo a edificação, dentro da precariedade em que se encontra é um desrespeito a
seus clientes usuais ou privilegiados. A ambiência desfavorável – não faz parceria com
seus usuários. Segundo Carvalho, a existência de uma ou mais coleções só se
concretiza se for compartilhada com a sociedade.
Objetos num museu são afetados pelas condições de guarda e exposição. Condições ambientais inadequadas também são causas de sérios danos. Um dos principais aspectos para a sobrevivência de uma coleção é a manutenção das áreas de exposição e guarda em condições ambientais estáveis. Para isso é vital que o edifício que abriga coleções apresente um bom estado de conservação e manutenção. (CARVALHO, 1997:4).
Para o sucesso dessa jornada é imprescindível que o arquiteto e toda a equipe
ligada ao projeto da biblioteca estabeleça um programa de gerenciamento, que permeie
todas as esferas, que evolvam sua preservação. O trabalho em equipe é fácil de ser
falado mas difícil de ser executado. O gestor nessa questão é figura de relevo. Pela sua
coordenação a equipe poderá e deverá estabelecer critérios bem definidos, quanto as
especificidades do acervo e do local, que justifiquem investimentos maiores na
intervenção do prédio, caso seja necessário. Consequentemente, gastos maiores serão
evitados posteriormente.
Objetos num museu são afetados pelas condições de guarda e exposição. Condições ambientais inadequadas também são causas de
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sérios danos. Um dos principais aspectos para a sobrevivência de uma coleção é a manutenção das áreas de exposição e guarda em condições ambientais estáveis. Para isso é vital que o edifício que abriga coleções apresente um bom estado de conservação e manutenção. (CARVALHO, 1997:4).
José Almino de Alencar, presidente da Fundação Casa de Rui Barbosa49,
comenta que ao longo da existência de uma instituição o olhar para a preservação e os
valores atribuídos a coleção se transforma.
Esse processo contínuo e multidisciplinar, que agrega diferentes conhecimentos,
se apresenta de diversas formas e deve repercutir na sociedade.
Neste evoluir, destacam-se: a adoção de medidas de preservação preventiva e corretiva adequadas aos respectivos suportes, com o apoio de laboratórios técnicos e conservadores especializados em arquitetura, museologia e técnicas gráficas; o Plano de Conservação Preventiva do Museu Casa de Rui Barbosa, que orienta as intervenções do Museu, visando à preservação do conjunto edifício-acervo, orientação multidisciplinar para a conservação do jardim histórico; e ainda processos e rotinas próprios, definidos por comissão intersetorial para preservação dos acervos documentais. (ALENCAR, 2007:5).
Em seguida, trataremos da importância do entorno da edificação: vegetação,
lagos, topologia, condições climáticas e outros para a preservação das coleções.
49 Fundação Museu Casa de Rui Barbosa possui uma biblioteca com aproximadamente 30.000 volumes.
92
3. O ESPAÇO CULTURAL E SEU ENTORNO
Os acervos museológicos e documentais sofrem grande influência da edificação
que os abriga. Vários são os fatores que contribuem para a degradação desses objetos.
Podemos citar, de imediato, o clima regional que circunda a instituição e os microclimas
que se formam nos espaços internos das edificações, provenientes da troca
climatológica entre os dois ambientes: externo e interno.
Neste capítulo serão discutidas as relações estabelecidas entre o espaço
construído, a topologia do lugar e o clima tropical. Para que isso seja possível, os
responsáveis pelo projeto devem estudar detalhadamente a vegetação, a iluminação, a
refrigeração ou ventilação do sítio, a umidade relativa do ar e o clima local. Tudo isso
para que se possa controlar satisfatoriamente seus espaços internos, uma vez que
estão intrinsecamente ligados.
O lugar de um acervo bibliográfico depende do microclima ideal de cada
ambiente de guarda ou circulação desses objetos no edifício. Por ser também um lugar
de acolhida do ser humano, para a busca de conhecimento por meio dessas obras,
adequar essa ambiência ao conforto requerido, visando o bem-estar do homem e a
conservação dessas obras é, no mínimo, desejável.
O professor Nelson Solano Vianna, destaca a importância do conforto ambiental
para os projetos arquitetônicos: O controle do ambiente não é a totalidade da
arquitetura, mas deve ser parte da ordenação básica de qualquer projeto. O arquiteto
deve fazer do controle da luz, do som, e do calor um problema seu. (VIANNA, 2007:3).
Para ele, a arquitetura deve moldar o espaço e entender os atributos locais da
natureza que, no cotidiano do ser humano, interferem em seu juízo sobre o lugar,
estabelecendo uma relação de bem-estar. Portanto, o arquiteto deve considerar o
sistema sensorial e os efeitos psicológicos que os microclimas despertam ou estimulam
no homem ao adentrar o espaço construído.
93
O conceito de “conforto”, aplicado neste contexto, pode ser entendido como a avaliação das exigências humanas, pois está baseado no princípio de quanto maior for o esforço da adaptação do indivíduo, maior será sua sensação de desconforto. Do ponto de vista fisiológico, o indivíduo dispõe de sistemas de percepção da luz, do som e do calor, que apesar de complexos são facilmente compreensíveis. (VIANNA, 2007:3)
No livro Urbanismo Bioclimático encontra-se um estudo detalhado sobre a
importância de se estabelecer acordos, diretrizes e legislações sobre a urbanização das
cidades, em detrimento da má utilização dos recursos que a natureza oferece e suas
consequências a longo prazo. Segundo a autora, Ester Higueras50:
La ciudad bioclimática no es exclusivamente la suma de edificios que incorporen técnicas de acondicionamiento pasivo.” Seu objetivo principal é minimizar los impactos negativos sobre el aire, el água e el suelo y, además, usar de um modo inteligente las energias disponibles , de tal forma que se estabeleça um equilíbrio e se compreenda a interação existente entre homem e natureza. (HIGUERAS, 2007:13).
Em concordância com esse tema, o arquiteto Eduardo Grala da Cunha
(2006:13), discute diversas técnicas a serem aplicadas em construções sociais com
melhor aproveitamento das características climáticas regionais. Tendo como foco
melhor aproveitamento da energia elétrica afirmou que o efeito do consumo de energia
elétrica no aquecimento global é um dos motivos mais importantes para se adotar
políticas de redução de consumo de energia elétrica. (CUNHA, 2006:13).
Um elemento importante que Ester Higueras desenvolveu em seu estudo é a
interdisciplinaridade que se estabelece entre arquitetos e profissionais de outras áreas
de conhecimento.
A pertinência ao incluir o trabalho da autora Ester Higueras sobre Urbanismo
Bioclimático nessa pesquisa, referente a bibliotecas públicas brasileiras, se dá pela
dificuldade burocrática que temos para nos permitir aproveitar ao máximo os recursos
naturais, prevenir futuros problemas e minimizar os custos com manutenção do próprio
prédio e seus equipamentos.
50 Prof.ª Dr.ª Ester Higueras é arquiteta e integra o corpo docente da Escola Superior de Arquitetura de Madri, Espanha.
94
Sabe-se que a burocracia brasileira dificulta, em muitos casos, a aprovação de
verbas emergenciais para solucionar questões que surgem com o tempo em
determinadas instituições. Atualmente, os projetos não podem evitar as catástrofes,
mas podem minimizar suas consequências se forem concebidos de acordo com as
condições que a região lhes oferece e, assim, corrigir suas imperfeições.
Facilitar a los profisionales relacionados con el diseño urbano y la ordenación del território una metodología eficaz para que puedan integrar, en todas las escalas del planeamiento, los objetivos del desarrollo sostenible e puedan lograr uns ordeneciones residenciales integradas con inteligencia en su entorno, que comporten un menor consumo energético y porporcionen una mayor calidad de vida para sus habitantes. (HIGUERAS, 2007:13)
Ester Higueras relata pesquisas experimentais realizadas em diversas ruas e
avenidas de Madri, onde se constata a formação de diferentes ilhas térmicas noturnas,
que variam mais no inverno. Em um projeto de biblioteca, o microclima que se forma ao
seu redor, é motivo de preocupação: Em cualquier zona edificada deben tenerse en
cuenta dos condiciones de carácter general: la presiencia de la isla térmica de calor, (...)
la generación de turbulencias o cambio del regimen general de vientos con respecto a
las zonas del entorno. (HIGUERAS, 2007:117).
Uma das observações de Ester Higueras com relação aos projetos urbanistas é
o fato de se realizarem, antes mesmo da concepção do projeto, poucos estudos sobre o
meio ambiente em que será inserido, o que provavelmente provocará distúrbios
ambientais futuros e, consequentemente, desperdício do potencial energético que a
própria natureza fornece ao lugar, e que propiciaria uma melhor qualidade de vida para
a cidade.
No es frecuente estudiar la localización, las espécies y el porte de los árboles y la vegetación em los estúdios y planes sobre el suelo urbano. Pero son éstos los elementos más completos para adptar y proteger los espacios libres, mantener el equilíbrio del ecosistema urbano y favorecer la composición atmosférica, la velocidad del aire, la humedad ambiental y la radiación solar. (HIGUERAS, 2007:83).
O clima faz parte do lugar, assim como os seres vivos, os minerais, as condições
geográficas e as mudanças climáticas e geográficas naturais ou consequentes da ação
95
do homem. Em busca de uma melhor qualidade de vida, a humanidade, de forma
inconsequente e pragmática, tem modificado de maneira drástica, seu território.
É preciso que a sociedade reflita sobre suas ações. Essa transição é lenta e
envolve princípios de cidadania. Ao apropriar-se dos elementos que o lugar lhe oferece
e, de forma inteligente, projetar para a própria preservação da humanidade, é preservar
a si mesmo.
O urbanismo bioclimático tem, portanto, o objetivo de preservar o meio ambiente
para que o homem usufrua dos espaços ocupados com responsabilidade. Já a
arquitetura bioclimática visa propiciar conforto ambiental ao espaço interno da
edificação, aproveitando ao máximo os recursos naturais circundantes. Ambos
concebem projetos que pensam na continuidade do ser humano. É o que nos explica
Ester Higueras (2007), ao afirmar que o urbanismo bioclimático debe adecuar los
trazados urbanos a las condiciones singulares del clima y el território, entendiendo que
cada situación geográfica debe generar un urbanismo característico y deferenciado con
respecto a otros lugares. (HIGUERAS, 2007:15).
No caso de bibliotecas, é pertinente aproveitar os recursos naturais do entorno e
conciliar as necessidades específicas do acervo com as do ser humano, o que nem
sempre é possível. Entretanto, são diversos os fatores que a equipe responsável pelo
projeto construtivo deve considerar durante o anteprojeto. Juntamente com outras
pessoas de áreas afins, definiriam a ambiência interna, respeitando o programa de
necessidades da instituição.
Alguns questionamentos que podem ser levantados são: Qual o clima da região?
A radiação solar? A vegetação do entorno? A vegetação natural será preservada ou
não? Caso não seja preservada, qual será o critério de escolha para a nova vegetação,
ou será sem vegetação? Como aproveitar os ventos para arejar e manter os ambientes
salubres aos acervos e aos usuários da biblioteca? Qual o índice de umidade local por
estação climática? O subsolo poderá exercer alguma influência não desejada nos
espaços internos, ou mesmo sobre os materiais usados na edificação do prédio? Como
96
controlar a condensação da umidade interna que está diretamente ligada ao clima e ao
espaço externo? O levantamento de tantas arguições nada mais são do que uma
tentativa de colocar o imaginário como se fazendo figura integrante do anteprojeto,
ainda que em fantasia.
Há de se considerar o que Esther Higueras menciona a respeito do entorno do
lugar: la atmosfera de las cidades es diferente de su entorno circundante, está llena de
contaminantes que condicionan la temperatura, el movimento del aire, la baja humedad
ambiental y la presencia de los gases que provocan el efecto invernero. (HIGUERAS,
2007:14).
Este trabalho não pretende discutir o pensamentos filosóficos que permeiam a
arte e arquitetura ou sua forma e função. Entretanto, é pertinente, nesse momento,
retornar ao filósofo Platão. Ele descreve a arquitetura como uma arte simbólica da
representação do poder cívico de uma nação e afirma que a imponência das
construções educa o povo que as contempla. Sobre esse pensamento, o autor Maurício
Puls explica que a obra é um modelo de comportamento que o homem tende a imitar.
(PULS, 2006:99). No sentido educacional, a biblioteca tem a função de preservar e
divulgar a informação para a própria preservação e evolução da sociedade.
A biblioteca tem por missão indireta, através de sua edificação, informar ao
homem a importância de sua própria preservação. Estabelece assim, relações eficazes
com o lugar a que pertence. Ela é um edifício concebido para abrigar acervos
museológicos, bibliográficos, iconográficos e outros, como temos tido oportunidade de
pontuar. O projeto da biblioteca só terá sentido se concebido preocupando-se com a
preservação do próprio homem, e este apenas sobrevive em um ambiente salutar.
Devemos mais é procurar aqueles dentre os artistas cuja boa natureza habilitou a seguir os vestígios da natureza do belo e do perfeito, a fim de que os jovens, tal como os habitantes de um lugar saudável, tirem proveito de tudo, de onde quer que algo lhes impressione os olhos ou os ouvidos, procedente de obras belas, como uma brisa salutar de regiões sadias, que logo desde a infância, insensivelmente, os tenha levado a imitar, a apreciar e estar de harmonia com a razão formosa. (PLATÃO apud PULS 2006:99)
97
Cada item favorável ou desfavorável, poderia dar origem a estudos mais
profundos e até mesmo sendo objeto de uma dissertação acadêmica. Entretanto, ainda
que de forma não muito abrangente, lidaremos com alguns aspectos inerentes ao
assunto ora tratado, mesmo de forma relativamente parcial.
3.1. A VEGETAÇÃO FACE AO RECINTO DA BIBLIOTECA
De acordo com Ester Higueras, a vegetação possui diversas propriedades que
garantem a qualidade de vida local, ao afirmar que influye en la cantidad y en la calidad
del agua, mantiene los micro climas locales, filtra la atmosfera, actúa como atenuante
del ruído. (HIGUERAS, 2007:82). Também considera relevante o estudo detalhado do
paisagismo local. Juntamente com a definição do projeto, do qual a vegetação é parte
integrante, em alguns casos, talvez seja necessário mudar ou acrescentar espécies
vegetais que possibilitem um melhor aproveitamento desses recursos naturais. Como
exemplo, Higueras (2007) cita o uso de árvores caducifólias51 para melhor captação da
radiação solar durante algumas estações climáticas.
A vida urbana despeja nos ares diversos agentes contaminantes que são
prejudiciais a todas as esferas do meio ambiente. A poluição atmosférica é expandida
pela dinâmica e trajetória dos ventos e das mudanças climáticas, que se movimentam
de tal forma, que levam esses poluentes para dentro dos ambientes, até mesmo
transladando-os de um país ao outro. A relevância de se entender a climatologia local é
estabelecer diretrizes, juntamente com um paisagismo inteligente, que adapte a
vegetação às condições climáticas e atmosféricas, a favor do ser humano e,
consequentemente, do meio ambiente.
A diversidade das espécies vegetais, por possuírem características diferentes,
não pode deixar de ser considerada. Para que o Urbanismo Bioclimático seja funcional,
exigir-se-á escolher a espécie vegetal adequada a cada projeto e lugar. Critérios, de
acordo com o clima, condições atmosféricas e a vegetação, contribuem para que a
51 Segundo o dicionário Houaiss, caducifólia é a “vegetação que perde a folhagem em determinada época do ano, geralmente na estação seca ou inverno”.
98
combinação desses elementos, forjem a melhoria do meio ambiente, ou pelo menos,
estabilize sua condição.
De acordo com Ester Higueras (2007), as plantas possuem capacidades
diferentes. Algumas espécies são eficazes em filtrar o ar contaminado produzido pelas
indústrias e a vida urbana, eliminando da atmosfera alguns desses poluentes derivados
do petróleo (ácidos e óleos).
Outras espécies vegetais são capazes de absorver e transformar alguns ácidos
que são despejados na atmosfera ou neutralizá-los. Há também espécimes, que
contribuem para a limpeza do ar, ao fixarem em suas folhas partículas de sujidade
(diversos tipos de poeiras), evitando, assim, que circulem pelo ar e sejam transportadas
de uma parte a outra. Entretanto, existem espécies que não toleram essa agressão
ambiental, pois necessitam de ar limpo para seu bom desenvolvimento.
A vegetação pode, também, assumir a função de brises para os edifícios e para
diversos espaços públicos abertos. As árvores perenes são as que mais contribuem
para esse aspecto construtivo, mas, segundo Ester Higueras (2007) é bom que se
combinem espécies perenes e caducifólias, considerando que em períodos muito
quentes, ambas possuem folhas que amenizam os efeitos térmicos, filtrando a
iluminação direta, proveniente da radiação solar. Entretanto, as árvores caducifólias,
durante o outono e inverno, e épocas mais frias, permitem a penetração dos raios
solares na cidade, intensificando naturalmente o aquecimento local e permitindo maior
iluminação.
Outro fator de impacto a ser considerado acerca da vegetação é o efeito que ela
causa na umidade relativa do ar. As plantas são capazes de transpirar a umidade que
captam do solo, contribuindo, assim, para a elevação da umidade da atmosfera.
Consequentemente, ameniza a ilha térmica, que se forma ao redor das construções em
determinadas estações do ano. Ester Higueras explica que:
99
Por su funcíon fisiológica, durante a fotosíntesis, las espécies vegetales liberan humedad al ambiente; esta humedad procede del água que há sido sustraída por sus raíces. (…) En verano, la temperatura ambiente en torno de la vegetacíon se reduce en una cantidad equivalente al calor latente preciso para evaporar el agua transpirada. (HIGUERAS, 2007:84).
Um bom exemplo dessas diferenças é compararmos as necessidades de uma
biblioteca em Brasília, Distrito Federal, e outra em Manaus, Amazônia. Ambas possuem
acervos compostos por papel (celulose) que, para ser bem conservado, deve ser
acondicionado num ambiente com umidade relativa entre 30 e 50%. No entanto, a
região de Manaus apresenta uma umidade relativa do ar entre 80 e 90%52. Brasília
possui essa umidade relativa, abaixo de 15%53, em determinadas épocas do ano. Nos
dois casos, utilizar um bom projeto paisagístico ao redor do prédio, não só embeleza o
edifício, como minimiza os efeitos maléficos que a ambivalência da umidade possam
causar. Dessa forma, a ambiência interna e externa insatisfatórias, por conta da
instabilidade climática, contempla as necessidades do organismo humano.
No caso de Manaus, deve-se ter o cuidado de projetar com uma menor
quantidade de árvores altas e frondosas, pois estas são capazes de liberar mais
umidade no ar do que as outras. Provavelmente, um projeto que contemple arvoredos e
gramas ao redor do prédio seja o mais indicado. Este parágrafo trata apenas da
umidade do ar, desconsiderando, nesse momento, a necessidade de sombra que as
instalações dessa região geográfica do Brasil necessitam. Para cada lugar há uma
vegetação adequada, para, por exemplo, aumentar, conservar ou diminuir a umidade do
ar.
52 “O clima é equatorial úmido, com temperatura média anual de 26,7o C, variando entre 23,3e 31,4ºC. A umidade relativa do ar oscila na casa de 80% e a média de precipitação anual é de 2.286 mm. A região possui duas estações distintas: a chuvosa (inverno), de dezembro a maio; e a seca (verão ou menos chuvosa), de junho a novembro, época de sol intenso e temperatura média acima de 35ºC. Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Disponível em: <http://www.suframa.gov. br/zfm_turismo_manaus.cfm>. Acessado em: 18 de julho de 2009. 53 O nível de umidade do ar em Brasília está um pouco mais alto na tarde de hoje, depois de ter registrado recorde na semana passada com apenas 10% de umidade relativa do ar. FOLHA ONLINE,12/08/2002. Umidade do ar em Brasília melhora, mas a seca continua. Caderno Cotidiano. Disponível em: <http://www1.folha.uol.com.br/folha/cotidiano/ult95u56809.shtml>. Acessado em: 18 de julho de 2009.
100
Em Brasília, no entanto, talvez seja apropriado arborizar com espécies grandes
de folhagens perenes ao redor das construções para elevar a umidade relativa do ar
(URA). Outro recurso de que se pode lançar mão é o espelho d’água ao redor do
edifício para umidificar a área do entorno da biblioteca.
Para se estabelecer o microclima adequado aos espaços dedicados à reserva
técnica do acervo e às áreas de tratamento dessas obras, deve-se escolher
cuidadosamente a vegetação circundante, quer no prédio ou nos espaços internos
dedicados ao acervo. De acordo com o microclima, externo do sítio, é que se formará o
microclima dentro do edifício. Afirma Ester Higueras, quanto às diversas espécies
vegetais existentes: (...) no todas las espécies aportan la misma cantidad de al médio
ambiente. En general, las espécies más frondosas son las que más agua evaporan en
comparación con las otras. (HIGUERAS, 2007:84).
A interferência do profissional de arquitetura é absolutamente desejável. O
universo das plantas, ornamentais, medicinais ou não, é objeto de grande interesse,
conduzindo a pesquisa ao infinito, dada a oferta da natureza, onde, num espectro maior
podemos considerar a nossa floresta Amazônica.
3.2. A ILUMINAÇÃO VALOR DE CONFORTO NAS BIBLIOTECAS
Gustavo Avilés, em sua entrevista concedida a revista Lume Arquitetura, define
iluminação da seguinte forma: a luz é um material construtivo, é um material estrutural
da arquitetura. Age como elemento de carga, união, separação e transformação dos
espaços. E vai além pelo poder de transformar ou agir sobre as sensações e a alma
humana. (AVILÉS, 2007:10). Para o arquiteto, a iluminação tem por primeiro objetivo a
interação de todos os sentidos do ser humano e acomodá-lo ao espaço, dando-lhe a
sensação de conforto, de acordo com a sua função.
O papel interativo da iluminação e a ambiência proporcionam a pessoa uma
sensação que transcende o espaço físico. A dicotomia existente - claro e escuro - bem
101
como a presença ou ausência da luz, direciona o homem para o desejo de frutificar seu
pensamento.
Si este elemento puede curar diversas enfermedades y hacer crecer nuestras cosechas… debe usarse con absoluta creatividad y responsabilidad para generar un futuro brillante colmado de ideas progresivas, ideas que cambien la manera de pensar y sentir através del uso equilibrado de iluminación natural y artificial. (AVILÉS, 2007)
A radiação solar é parte da constituição psicofisiológica do ser humano. Sua
ausência, por tempo prolongado, é insalubre ao organismo e reflete na sanidade mental
do indivíduo. Contudo, sua exposição por tempo prolongado e sua absorção de forma
inadequada, ou seja, sem os filtros necessários para bloquear os raios indesejáveis ao
organismo, pode torna-se fonte de doenças degenerativas. Faz-se necessário
estabelecer uma relação entre iluminância solar e artificial, materiais construtivos e brises, que contribuam para um ambiente de acolhimento saudável ao homem.
Para Nelson Solano Vianna, o arquiteto, nos espaços que possuem iluminação
natural, só deve utilizar a luz artificial, caso a natural não atinja os níveis adequados ou
em sua ausência. Para esses casos, é pertinente pesquisar e entender a funcionalidade
do espaço que se pretende manter iluminado. Tal medida, evitaria desperdício
energético.
Hoje em dia, com o agravamento da crise energética, é inconcebível realizar um projeto sem considerar a iluminação natural, lateral ou zenital como a primeira alternativa para as melhores soluções. A iluminação artificial deve aparecer no período diurno apenas como complemento da luz natural [grifo do autor]. (VIANNA, 2001:13).
A arquiteta Lúcia Mascaró54, dialoga com outros arquitetos sobre a ineficiência
da iluminação urbana, seja natural ou artificial, em detrimento das necessidades
fisiológicas do ser humano. Para ela, tanto a escassez como o excesso de iluminação,
provocam incômodos físicopsicológicos nas pessoas que necessitam transitar, morar ou
trabalhar no local. Afirma que é competência dos urbanistas a iluminação de ruas e 54 Dr.ª Arquiteta da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e da Universidade para o Desenvolvimento da Região do Estado do Pantanal (UNIDERP).
102
avenidas das cidades, (...) parques, praças e jardins privados de recuo frontal do lote.
(MASCARÓ,2006:5). Nesse sentido, Carlos Kirschbaum55 compartilha de suas ideias
ao escrever sobre a importância de se estabelecer (...) inter-relação da iluminação com
a segurança pública e no trânsito, a contaminação ambiental. (KIRSCHBAUM,
2006:22).
Essa deficiência do tecido urbano corrobora para a poluição visual, a sensação
de desconforto e insegurança. Consequentemente, acarreta o aumento da utilização do
veículo ou transporte público, até mesmo para pequenas distâncias. Para Carlos
Kirschbaum, a contribuição da iluminação pública à segurança da cidade se manifesta,
principalmente, ao garantir a segurança do trânsito de veículos e pedestres e apoiar a
ordem e a segurança pública. (KIRSCHBAUM, 2006:16).
Os autores Gustavo Avilés e Carlos discutem alguns conceitos sobre a
iluminação, e ambos falam da luz, como elemento arquitetônico capaz de valorizar o
ambiente. Com isso fica estabelecida uma relação de segurança com o usuário, (...)
agregando-lhes valores adicionais, como objeto de apreciação em si, criando
atmosferas, valorizando e destacando lugares, edifícios e vias de circulação
(KIRSCHBAUM, 2006:16).
A biblioteca é um espaço sociocultural a serviço da comunidade. Tem, por sua
vez, a missão de divulgar e permitir a acessibilidade ao conhecimento contido em seu
acervo. Ao longo desse estudo temos abordado o papel da biblioteca em sentido amplo
e restrito. Em sentido amplo os poderes públicos seriam cúmplices nas medidas já
apontadas. Em sentido restrito, a parceria entre usuários e gestores da biblioteca, pede
um posicionamento. O papel da iluminação urbana ao redor de uma biblioteca pública é
garantir a acessibilidade a essa casa do saber, minimizando a insegurança do cidadão
em seu translado, mantendo o equilíbrio entre iluminação artificial e natural.
55 Dr. Carlos Kirschbaum da Univerdidad Nacional de Tucumán (UNT) e Consejo Nacional de Investigaciones Científicas Y Técnicas – Argentina. .
103
A contribuição da iluminação pública à segurança da cidade se manifesta, principalmente, ao garantir a segurança do trânsito de veículos e pedestres e apoiar a ordem e a segurança pública. È necessário destacar que a eficácia da iluminação na segurança, tanto no trânsito como pública, facilita-se através da existência de condições básicas de bem-estar, de educação e regulamentações. (KIRSCHBAUM, 2006:22).
Outra discussão a ser considerada pelos arquitetos nas vias públicas, que dão
Acessado ao lugar, é a sua arborização. As árvores podem contribuir para a
permeabilização das vias no período das chuvas, umidificar o local nas secas, filtrar o ar
poluído (algumas espécies) e, nesse caso, minimizar o efeito da insolação a que ficam
expostas as pessoas em seu translado. Em épocas ensolaradas, a sombra produzida
pela vegetação oferece abrigo ao homem, protegendo-o dos malefícios dos raios
ultravioleta. Por decorrência, gera a sensação de conforto térmico. Como pontua Juan
Luís Mascaró:
(...) a iluminação pública é imprescindível para a vida urbana, mas deve ser projetada em harmonia com a vegetação existente como uma contribuição à não desertificação e uma resposta ao conjunto de necessidades que o habitat impõe para a sua sobrevivência. (MASCARÓ; MASCARÓ, 2006:141).
Entretanto, se a espécie arbórea em vias de circulação, no período da noite,
ofuscar a iluminação pública, o lugar não oferecerá segurança ao pedestre e
desestimulará sua frequência. A adequação da iluminação com as espécies vegetais a
serem plantadas nas avenidas, ruas, praças etc, compõem o jogo de sombra e luz
nesses espaços, que são também combinados para oferecer segurança e bem-estar.
O embelezamento dessa união produz uma ambiência agradável para as pessoas que
utilizam tal espaço, como também, desperta o desejo de retorno. Caso contrário, como
esclarece Juan Luís Mascaró (2006:142) a escolha ou preservação da espécie errada
de vegetação, essa inadequação e falta de critério, contribui para o avesso do que foi
acima considerado.
(...) Provoca diversos inconvenientes, principalmente nos casos em que a falta de harmonia com a infra-estrutura e com a edificação e pela falta de manutenção adequada, tanto do ponto de vista fitossanitário quanto formal, assim como pela falta de conhecimento sobre a conveniência de qual espécie plantar em determinado climas locais e microclimas. (MASCARÓ; MASCARÓ, 2006:142).
104
El recorrido del sol en la bóveda celeste estabelece unos conducionentes básicas en el deseño y consiguiente bienestar de cualquier elemento urbano. Los movimentos de rotación de la tierra delimitan anualmente situaciones urbanas mas favorables para determinados usos que otras, influyendo en la zonificación de acuerdo con el soleamiento de la ciudad. También condicionan los deseños de las fachadas de los edificios, y determinan muchos factores de la red de espacios libres y zonas verdes de la ciudad. (HIGUERAS, 2007:85)
Ester Higueras também considera importante traçar a carta solar56 da localidade.
O percurso que o sol faz sobre a área a ser planejada, estabelece a relação entre os
efeitos da radiação solar - sobre o volume construído - e a área ao redor. Ao contemplar
tais enumerações - quesitos de valor - o êxito de um bom planejamento urbano estaria
garantido.
Após esse estudo, definem-se estratégias condizentes com a redução de custos
energéticos, apropriando-se dessa radiação, que incide sobre a superfície, com maior
eficiência. Nas palavras de Higueras, en una situación urbana, son muchos los factores
que hay que conciderar para mejorar el soleamiento. (HIGUERAS, 2007:86). Nesse
caso, a autora se refere à direção e à superfície das ruas, avenidas e a altura dos
prédios − quanto mais alta a edificação, maior será a sua sombra − reflexo ou absorção
da luz solar.
Quando a relação homem-clima-arquitetura for novamente encarada com os elos inseparáveis, o clima e a natureza serão, sem dúvida, sempre lembrados como fatores essenciais a cada intervenção nossa, a Arquitetura será novamente a verdadeira, bela e boa Arquitetura e, acima de tudo, o Homem será novamente respeitado. Não mais existirão absurdos como os que hoje existem e nós estaremos mais próximos de encontrar uma forma de viver mais digna e humana. (VIANNA, 2001:14)
Para que se usufrua dos benefícios da vegetação, do clima, do solo, da radiação
solar e dos ventos, deve-se pensar em um projeto arquitetônico, acoplado ao
paisagístico, condizente com a topologia e a vegetação recorrentes. Tudo indica que os
resultados benéficos ao homem, e não apenas visuais ou artísticos, se farão sentir.
56 Carta Solar é o percurso que o sol faz em uma determinada latitude. Trata-se do resultado da projeção dos raios solares sobre um cilindro tangente à abóboda celeste.
105
4. ANÁLISE DA LUZ, COMO ELEMENTO de DETERIORAÇÃO DA S COLEÇÕES
A arquitetura vernacular é um exemplo de urbanismo bioclimático: ao apropriar-
se da topologia do lugar e de suas condições climáticas, concebendo um assentamento
que potencializasse os elementos favoráveis ao homem e minimizassem os fatores
desagradáveis. Isso estabelece um desejado equilíbrio entre o homem e o meio a que
pertence.
Marta Adriana Bustos Romero mostra um exemplo dessa arquitetura, ao citar
abrigos dos pueblos situados em desfiladeiros.
Os pueblos são formados por habitações construídas por grossas paredes de barro ou pedras, dispostas em grupos de um modo cuidadoso, compactas, de vários andares, de teto plano horizontal, em escadas e amontoadas. Tais grupos possuem um caráter aditivo e é através de sua complexa arquitetura comunitária, muito diferente dos abrigos individuais, que expressam uma vida social altamente organizada. Mesmo que a forma varie, o grupo se dispõe sempre ao redor de um espaço aberto, também de forma variável, de preferência quadrada. (ROMERO, 1988:56).
Nesse assentamento é observado que: a orientação dos ventos, o Acessado
controlado do sol - a inércia térmica que irradia calor a noite para as habitações, os
terraços voltados para o sul para melhor aproveitamento do sol de inverno e sombra no
verão.
A cultura pueblos fica caracterizada pelos seus estreitos laços com seu entorno; a que lhe permite se situar numa posição de equilíbrio ecológico auto regulador com ele. (ROMERO, 1988:59).
A luz natural, segundo Sigfrido Garziano Jr.57 (2004) deve ser explorada ao
máximo, em uma edificação, visando a redução do consumo energético. O autor explica
que após a Revolução Industrial e suas novas jornadas de trabalho, passou-se a
ampliar o uso da iluminação artificial. Consequentemente, passado esse período, com
57 Sigfrido Francisco Carlos Giardino Graziano Junior, graduado em arquitetura pela UFSC – especialista em Engenharia de segurança do trabalho e mestre em ergonomia.
106
as novas tecnologias, exigências do mercado construtivo e os novos conceitos para a
arquitetura, os projetos passaram a usar a luz artificial em detrimento da luz natural -
sendo essa quase que eliminada em alguns casos.
O arquiteto também ressalta que os povos antigos utilizavam a luz artificial
apenas para suprir a falta da natural.
A partir da necessidade de segurança nas cavernas e cuidados com rebanhos, o homem primitivo já utilizava fontes artificiais de luz, através do fogo, e fazia aproveitamento da luz natural, através do conhecimento da trajetória do sol. Há um desenvolvimento milenar sobre formas de se utilizar luz, já dos povos primitivos da Europa, países nórdicos, Ásia, América pré-colombiana, e entre outras culturas. (GARZIANO,2004:30).
A luz é essencial em qualquer edificação. Em todos os tempos e espaços o
homem interagiu com a luz e, a iluminação, foi o diferencial para estabelecer o cotidiano
laboral do ser humano. Ela é um elemento básico no desenvolvimento da sociedade
desde os primórdios da humanidade. Nessa interação existente entre o homem - a luz e
o espaço - é desejável que os arquitetos hajam por bem explorar esse potencial. Nelson
Vianna e Joana Gonçalves mencionam que:
O homem é um ser totalmente dependente da luz, pois cerca de 70% da percepção humana é visual. Ela faz parte de sua vida e de seu dia-a-dia, do seu modo de habitar. Desde que nasce, o homem esta sendo submetido ao ritmo da natureza, da existência da noite e do dia, elementos que são condições necessárias para que ele se sinta pertencente ao próprio tempo. (GONÇALVES, 2001:27).
No caso das bibliotecas, seu uso nos espaços internos, precisa levar em conta
alguns elementos básicos. Como a luz se comporta nas superfícies do ambiente
interno, o efeito da luz sobre as coleções, a edificação e os efeitos dela sobre seus
materiais construtivos, é exemplo a ser considerado na arquitetura. Quanto ao
ambiente iluminado, Sergio Antônio Brondani explica que:
Para se perceber um espaço, necessita-se receber as imagens do mesmo. O que ocorre através do sistema visual e com a presença da
107
luz. Os olhos reagem à presença da luz, e o nervo ótico transmite ao cérebro os impulsos luminosos recebidos. (BRONDANI, 2006:37)
A iluminação nos espaços internos deve priorizar suas funções ao estabelecer
uma ambiência favorável ao seu bom desempenho. Para tal, faz-se necessário
compreender o que é luz, seu comportamento e seus diferentes aspectos. Segundo o
Manual luminotécnico prático da OSRAM:
Uma fonte de radiação emite ondas eletromagnéticas. Elas possuem diferentes comprimentos, e o olho humano é sensível a somente alguns. Luz é, portanto, a radiação eletromagnética capaz de produzir uma sensação visual (...). A sensibilidade visual para a luz varia não só de acordo com o comprimento de onda da radiação, mas também com a luminosidade. (OSRAM, [s.a.]:2)
Se o arquiteto for considerar a iluminação, somente para favorecer o conforte
visual dos usuários, o projeto levaria em conta apenas a luz visível. Sendo o requisito
básico da visão, a luz dá forma e cor aos objetos e estabelece uma relação entre os
espaços. (BRONDANI, 2006:45). O autor, em seu trabalho sobre a luz artificial,
estabelece a relação existente entre a psicologia e engenharia - a sombra e a luz – bem
como a forma e a função dela nesses espaços. Para tal existe uma ambiência espacial
que pede a boa observação pelo projetista:
Há muito tempo, que já não se considera a visão apenas um simples registro do estímulo da luz; ela é um processo seletivo e criativo, onde os estímulos ambientais são organizados em estruturas fluentes as quais fornecem sinais significativos ao órgão apropriado. (BRONDANI, 2006:35).
Por repetitivo que pareça precisamos ainda colocar a evidência do bom
funcionamento da biblioteca. Para tanto, espaço, vegetação, luz e outros, necessitam
ser agregados a ela como um todo. Isso é critério requerido para que a biblioteca possa
bem desempenhar sua função cognitiva e de provocação ao usuário. A continuidade e o
alcance de seus objetivos, tanto quanto de sua existência, não podem ser uma leitura à
parte desse contexto. Este trabalho não explora os aspetos psicológicos do
frequentadores da biblioteca, sua menção é válida, para que se possa entender o
porquê de se estabelecer um bom projeto luminotécnico.
108
Essa dicotomia, existente em bibliotecas, museus e arquivos é percebida quando
o arquiteto concebe o espaço para satisfazer as necessidades de conforto pessoal,
preservando as coleções sob a guarda do edifício e também, minimizando a
deterioração. Fernando Romo salienta que:
La arquitectura se vale de varios recursos para manejar la entrada de la luz solar de acuerdo a las necesidades establecidas por el clima y la función del edificio. Destacamos que para ninguna variante climática se elimina completamente la entrada de la luz solar o se facilita del todo, en cualquier caso es necesario que en mayor o menor medida penetre la luz solar o al menos, la luz diurna. (ROMO, 1995:8)
Leandro Barreto nos alerta sobre a complexidade que implica estabelecer o
equilíbrio quanto a luminosidade dos espaços internos e externos, dos edifícios
tombados pelo patrimônio histórico nacional, e abrigam as coleções museológicas ou
documentais, sejam elas nas áreas de exposição, pesquisa, manuseio ou
armazenamento.
O trabalho de preservação de bens culturais é extremamente complexo e demanda conhecimento científico, fundamentação histórica e sensibilidade estética. Ao longo dos anos a evolução nos saberes de cada área citada, implicou logicamente em mudanças nas intervenções propostas. (BARRETO, 2004:7)
Essa complexidade se dá também para edifícios novos que abrigam coleções
com suportes orgânicos, devido a sua fragilidade frente aos raios luminosos. Segundo
Barreto a iluminação deve proteger - o acervo e o edifício da deterioração - favorecendo
os utentes.
Para edifícios de bibliotecas, em muitos espaços, a luz deve ser evitada ao
máximo devido aos danos que os raios ultravioletas e os infravermelhos podem causar
aos materiais orgânicos do qual as obras são compostas. Por isso, o arquiteto
consciente, pesquisa quais os efeitos da luz sobre os materiais, de acordo com as
variantes do espectro da luz solar e artificial.
Conviene saber que el espectro de la luz solar contiene además de la luz visible, dos frecuencias de luz invisibles entre otras, que son la ultravioleta y la infrarroja; la primera tiene propiedades higienizantes al eliminar toda una serie de microorganismos patógenos y deteriorantes
109
pero por otro lado, causa deterioro y daña la composición de algunos materiales; la luz infrarroja a su vez, es la que produce calor. (ROMO, 1995:8).
Norma Cassares e Yara Petrella58 fizeram um estudo sobre as reações
fotoquímicas59 que a luz radiante provoca sobre os acervos museológicos, arquivísticos
e bibliográficos. Afirmam que não se pode desprezar o poder que a incidência da luz
ultravioleta e infravermelha exercem sobre as moléculas desses compostos orgânicos.
O processo fotoquímico é gerado principalmente pela ação da ultravioleta, por ser uma fonte poderosa de energia. A ação fotoquímica é o processo no qual uma molécula sofre uma mudança na sua estrutura química, por exemplo, por meio de energia de ativação provocada pela absorção de um fóton de energia da luz. Os fótons emitidos chocam-se com as moléculas dos objetos expostos, e se a energia tiver potência suficiente, produzirá danos químicos irreversíveis. Como o próprio termo diz – “reação fotoquímica" é aquela que ocorre com a absorção de luz. (CASSARES; PETRELLA, 2003: 180).
Mas todos especialistas em conservação de acervos orgânicos concordam que
os raios ultravioletas são os mais nocivos por terem mais energias e quanto mais
energia as células recebem, mais rápido ocorrem as reações fotoquímicas. Alerta
Sherelyn Ogden que:
A luz acelera a deterioração dos acervos de bibliotecas e arquivos, atuando como catalisador da oxigenação. Ela induz ao enfraquecimento e ao enrijecimento das folhas de celulose, e pode provocar a descoloração, o amarelecimento do papel. Também provoca o esmaecimento ou a mudança de cor das tintas, alterando a legibilidade e/ou a aparência dos documentos e das fotografias, obras de artes e encadernações. Qualquer exposição a luz, mesmo por um breve período de tempo, causa danos, e esses danos são cumulativos e irreversível. (OGDEN, 1997:4).
A arquitetura de bibliotecas tem por objetivo proteger as coleções e garantir o Acessado
as informações. A concepção do projeto precisa considerar a fragilidade dos materiais e pensar
no espaço. Ao direcionar a luz natural, é de se esperar a obtenção da máxima eficiência
luminosa. Porém, não se pode negligenciar a potencialidade das reações químicas
provocadas por raios ultravioleta - UV. O que mais deteriora o acervo e,
58 Arquiteta (FAUSP), Mestre e Doutora pela (FAUSP) na área de conservação e restauração do patrimônio histórico; técnica em conservação e restauração do Museu Paulista – USP de São Paulo e docente na PUC-SP. 59 “Ramo da físico-química que estuda a influencia das radiações eletromagnéticas sobre as reações químicas.” (HOUAISS, 2001:1385).
110
consequentemente diminuem seu tempo de vida, são esses raios, que impossibilitam o
Acessado a obra.
A elevação dos níveis de iluminação numa exposição para pôr em maior evidência o valor de uma obra, ou pela justificativa da estética da exposição, é totalmente equivocada e tem conseqüências nefastas para a conservação das pinturas. (CASSARES; PETRELLA, 2003: 182).
Como vimos, a luz ultravioleta deteriora o acervo, mas a luz infravermelha
também é muito prejudicial a compostos argânicos. Causa danos aos vernizes e as
pigmentações das obras de arte, assim como, as capas dos livros e ao papel e mancha
gráfica - desbotamento. O que difere a luz infravermelha da ultravioleta – é a frequência
– a ultravioleta é mais curta e a infravermelha possui uma frequência mais longa.
Ambas são prejudiciais ao acervo bibliográfico e museológico, cada qual causa danos
deferentes, porém irreverssíveis e cumulativos. Salientam as especialistas:
Analisando as frequências de ondas do espectro, concluímos que partindo do ultravioleta para o infravermelho, o comprimento de onda vai do mais curto, que é a radiação mais energética, para o mais longo, menos energética. De onde concluímos que a radiação ultravioleta é a mais nociva dentro do espectro óptico, mas que não significa que é a única. (CASSARES; PETRELLA, 2003: 180).
Leandro Barreto salienta que os projetos luminotécnicos para edifícios tombados
pelo DEPAM/IFHAN ou acervos culturais, requerem profissionais especializados na
área de conservação e restauração. Para tal, faz-se necessário que o projetista
conheça os efeitos da radiação sobre a diversidade dos materiais contidos no espaço
em questão.
Toda a concepção luminotécnica deve nortear-se pela preservação do acervo, respeitando-se os níveis de iluminamento recomendados por normas internacionais e nacionais, bem como devem ser eliminadas ou reduzidas a níveis aceitáveis as radiações na faixa do ultravioleta (UV) e infravermelho (IV). (BARRETO: 2004:10).
Barreto ressalta também que se as normas estabelecidas pelo DEPAM/IFHAM
não forem respeitadas e o projeto não primar pela preservação dos acervos, estes
sofrerão grandes danos. Portanto os (...) projetos luminotécnicos destinados tanto ao
interior quanto ao exterior de monumentos e edificações tombadas requerem estudos
111
específicos e formação profissional condizente com o desafio proposto. (BARRETO,
2004:10). Essas normas se aplicam a qualquer acervo bibliográfico por ser o papel
extremamente frágil tanto a radiação visível quanto a invisível.
Os papeis, as capas das encadernações, os pigmentos e tintas, as emulsões
fotográficas e muitos outros materiais orgânicos que compõem essas coleções, são
sensíveis a luz. Ogden: A luz é uma forma de energia eletromagnética chamada
radiação. A luz visível, que se constitui da radiação que enxergamos, fica perto do
centro do espectro eletromagnético. (OGDEN, 1997:9). Observe a luz visível no
espectro da Figura 35.
Figura 35: Espectro da luz visível Fonte: Manual Luminotécinico Prático OSRAM.[s.d.].p.2
Sergio Antônio Brondani60 explica:
Luz é a parcela da radiação eletromagnética compreendida entre os comprimentos de onda de 380 a 780 nm, sendo a faixa do espectro que o olho humano consegue perceber. Dependendo do comprimento de onda será a cor da luz percebida pelo olho humano. (BRONDANI, 2006:45)
Dois são os aspectos que o projetista deve considerar em projetos de bibliotecas
a respeito da luz não visível. Primeiramente como a luz pode provocar uma reação
fotoquímica? Em segundo, quais os raios luminosos prejudiciais ao acervo? Com base
60 A percepção da luz artificial no interior de ambientes fechados. Tese de doutorado em Engenharia de produção – Universidade Federal de Santa Catarina – Florianópolis – 2006.
112
nas possíveis respostas, o arquiteto tem como controlar a intensidade das radiações,
incorporando essas informações ao projeto.
A luz é uma forma de energia que ao atingir a superfície de uma matéria poderá
ser refletida, transmitida ou refratada, dispersa ou absorvida. No caso das coleções de
bibliotecas a energia da luz é absorvida e desencadeia uma série de reações químicas.
A luz UV ativa as reações químicas provocando a quebra das moléculas, ou seja,
dividido-as em moléculas menores. A resistência do papel se dá quanto maior for o
entrelaçamento das fibras de celulose. Se por algum motivo a molécula da celulose se
dividir, as fibras se encurtam, o papel se enfraquece e a trama desse composto torna o
papel quebradiço. De acordo com Sherelyn Ogden:
A energia em excesso pode aparecer na forma de calor ou de luz; pode romper ligações químicas dentro da molécula (isto criará moléculas menores e, no caso do papel, o enfraquecerá), pode causar uma redistribuição de átomos dentro da molécula; ou pode ser transferida para outra molécula. (OGDEN, 1997:10).
Os raios ultravioletas não causam dano direto à celulose. As reações químicas
são desencadeadas entre as outras partículas que compõem o papel. A UV também
reage a sujidade, ou seja, os poluentes que se acomodam sobre o papel. Essas
reações químicas ao reagirem com o oxigênio desencadeiam o processo denominado
oxidação.
Uma das reações fotoquímicas primárias é a oxidação, muito freqüente e nociva para todos os materiais. Nela a molécula “excitada" transfere sua energia para um oxigênio que reage com outras moléculas, iniciando assim um complexo processo de degradação. . (CASSARES; PETRELLA, 2003:182).
Os arquitetos também precisam ater-se ao exercício de minimizar o contato das
coleções com a luz infravermelha. Ela ativa as reações químicas por meio do calor que
emite, acelerando as reações químicas e, consequentemente, precipitando a
deterioração do objeto. O efeito de contração e dilatação, também quebra as moléculas
de celulose, tornando o papel quebradiço. De acordo com Cassares e Petrella:
113
A camada pictórica sobre esta base também é igualmente sensível à ação do infravermelho, que provoca a elevação de temperatura que, somada à umidade relativa acabam por produzir dilatação e contração desses materiais, surgindo assim os craquelados. (CASSARES; PETRELLA, 2003:182).
Os corpos possuem energia radiante. Essa energia é emitida dos corpos ao seu
redor e imediatamente absorvida por eles. Em todo espaço há troca de calor. Essa
energia térmica é transmitida do corpo mais quente para o mais frio. Os objetos das
coleções estão constantemente realizando troca térmica com os outros corpos que se
encontram no ambiente. Por isso, o processo de deterioração das coleções pode ser
minimizado, mas não impede a salvaguarda por completo. Claudia Carvalho afirma:
O calor é a forma usual de designar a energia térmica ou interna, presente em todos os corpos. Que se manifesta por meio do movimento molecular e está relacionada com a temperatura dos corpos. A energia interna de todos os corpos é transformada parcialmente em ondas eletromagnéticas, o que significa que o espaço que nos rodeia contém sempre energia radiante. (CARVALHO, 1997:12).
A arquitetura desempenha um papel importante na proteção das coleções
bibliográficas. O invólucro das coleções pode estabelecer uma relação estável com a
ambiência externa e interna, proporcionando conforto térmico e visual ao utente.
4.1 OS ASPECTOS DA LUZ SOBRE AS COLEÇÕES DAS BIBLIO TECAS
O sol é uma fonte de luz natural61 e de grande intensidade. Possui uma dinâmica
que a torna variável no decorrer do dia, ao longo do ano, de acordo com o clima, a
atmosfera e poluição local, altitude e latitude. Lúcia Mascaró alerta sobre a luz solar:
Apenas metade de sua energia radiante recebida pela superfície é visível. O espectro de energia solar varia de ondas curtas (ultra-violeta) a ondas longas (infravermelho) e toda essa energia radiante produz calor quando absorvida, o que causa evaporação, condensação, condução de calor, radiação, reflexão, etc. (MASCARÓ, 1983:36).
61 De acordo com a ABNT projeto: 02:135.02 – 001 - A luz natural admitida no interior das edificações consiste em luz proveniente diretamente do sol; luz difundida na atmosfera (abóboda celeste) e luz no entorno.
114
O uso da luz solar diretamente nos ambientes internos, em muitos casos, torna-
se inapropriado, em função de sua intensidade e variação. Mascaró: Isso faz com que a
luz solar não seja considerada adequada para a iluminação natural, particularmente
onde sua presença é habitual (climas tropicais e seu entorno). (MASCARÓ, 1983:36).
Contudo, para minimizar os efeitos da luz direta, ela pode ser explorada como luz difusa
e complementada com a luz artificial.
A combinação da luz difusa com a luz artificial, nos ambientes internos, para
valorizar a realização das tarefas e proteger a acervo, propiciam maior eficiência
energética. A relação dessa eficiência com as necessidades funcionais da instituição,
torna o projeto mais complexo. Isso exigirá do arquiteto, maior conhecimento sobre os
materiais construtivos, e sua interação com a luz radiante. Vianna e Gonçalves:
Para a arquitetura, a radiação solar se torna uma das variáveis de maior impacto, já que vai determinar a quanto será necessário se proteger ou se expor às condições naturais do tempo. Ela é a causa de todos os fenômenos climáticos e tem efeito decisivo na vida das pessoas. Sua força efetiva é determinada pela energia radiante do sol, radiação pela superfície da terra e perda de energia pela evaporação e radiação atmosféricas, que compreendem o balanço térmico da Terra. (VIANNA, GONÇALVES, 2001:12).
Como podemos ver, tendo em vista a citação acima, o que está em questão é o
equilíbrio dos elementos. O projetista de edifícios de bibliotecas deve valer-se da ABNT
NBR 5413 – Associação Brasileira de Normas Técnicas.
Diferente da luz solar (luz natural) que proporciona a noção de tempo, a luz elétrica (luz artificial) nos torna independentes, isto é, oferece autonomia para realizações de tarefas a qualquer momento. Considerar as características das lâmpadas e luminárias é requisito para obter-se uma boa iluminação artificial. Bem explorada, pode transformar os ambientes, criando um “clima” diferenciado aos usuários. (BRONDANI, 2006:46).
É importante ater-se as variedades de materiais utilizados em construções de
edifícios. Cada um deles se apropria do ambiente ao seu redor diferentemente.
Portanto, para que o edifício estabeleça uma relação harmoniosa entre o meio interno e
externo da biblioteca, faz-se necessário que o arquiteto conheça as variantes existentes
115
entre o clima local, a topologia do lugar, a radiação solar, as sombras do entorno e
outros. Seus efeitos ao entrarem em contato com os materiais de construção, não
podem ser ignorados.
Para isso é exigido dele um conhecimento amplo que abrange desde aspectos psico- perceptivos até aqueles técnicos, como a caracterização de materiais e componentes (ex. vidros e janelas) e dos sistemas de iluminação (solução – conjunto). (VIANNA, GONÇALVES, 2007: 6-7).
A título de ilustração relataremos o sucedido na Biblioteca Nacional de Brasília.
4.2. BIBLIOTECA NACIONAL LEONEL MOURA BRIZOLA
A Biblioteca Nacional Leonel Moura Brizola, normalmente chamada de Biblioteca
Nacional de Brasília, teve como projetistas, os arquitetos Lúcio Costa e Oscar
Niemeyer. Foi idealizada na década de 60. Talvez em função de intervenções
provavelmente políticas, ou de outro teor, o projeto foi alterado algumas vezes e as
obras iniciadas em 2004, concluídas em 2006 e a biblioteca inaugurada em dezembro
de 2008.
Antonio Miranda62, diretor da Biblioteca Nacional de Brasília, relata que o atraso
na abertura da biblioteca ao público, se deu em função de desacertos, técnicos e
burocráticos. O empecilho referente a implantação de barreiras adequadas ao bloqueio
da luz direta sobre o prédio, foi, sem dúvida, o resultante pelo prolongamento de sua
abertura. Segundo Miranda: O sol invade os salões da biblioteca o tempo todo e
impede que se instalem estantes e mesas para leitura, assim também computadores e
outros equipamentos. (MIRANDA, 2008:219).
Dá para inferir que a incidência da luz direta do sol sobre a edificação,
proporcionava o aumento da temperatura e ofuscamento da visão nos espaços
internos. Salienta também, que na BNB, o edifício não dava garantia de Acessado a
todos. Os leitores portadores de mobilidades reduzidas enfrentariam grande dificuldade
62 Professor da Universidade de Brasília é Doutor em Ciências da Informação, membro da Comissão Especial do Conjunto Cultural da República e diretor da Biblioteca Nacional Leonel Moura Brizola.
116
para acessar a informação e acomodar-se no espaço requerido. Escadas e rampas
também não foram contempladas, todo Acessado deveria ser percorrido por
elevadores.
O detalhamento desse espaço, dentro das normas, gerou, sem dúvida o atraso
da entrega da biblioteca ao público. A contratação de um profissional da arquitetura
contribuiu para a melhoria da ocupação dessa biblioteca. Miranda ressalta:
Estão sendo levantadas as especificidades técnicas e os preços para a abertura de editais para compra de materiais como filtros de luz, correção de rampas para portadores de deficiências físicas, colocação de portas de vidros, etc., quando não for de responsabilidade da construtora. (MIRANDA, 2008:219).
As Figuras 36 e 37 mostram as soluções incrementadas pela arquiteta.
Figura 36: Vista interna da Biblioteca Nacional de Brasília. Fonte: Moreno Barros – 2009.
Figura 37: Espaço interno da Biblioteca Nacional de Brasília. Fonte: Moreno Barros – 2009.
117
Ainda como ilustração, passamos a considerar os mesmos valores colocados
neste texto, com referência a luminosidade, apreciando um projeto luminotécnico já
experimentado na Biblioteca Municipal Mario de Andrade em São Paulo.
4.3 A BIBLIOTECA MARIO DE ANDRADE E O PROJETO RETROFIT63
A Biblioteca Municipal Mário de Andrade é uma das mais tradicionais instituições
de pesquisa do Brasil. Um projeto do arquiteto Jacques Pilon, encomendado pelo
próprio Mario de Andrade, inaugurado em 1942. Logo torna-se um marco na vida
cultural da cidade de São Paulo e referência arquitetônica do Vale do Anhangabaú.
Atualmente, seus acervos e o prédio passam por uma grande intervenção, que, não
sendo esse tópico esclarecedor para o presente momento deixamos de abordá-lo.
Cabe nesse capítulo relatar o projeto luminotécnico64 realizado na biblioteca em
questão, em 2003. Para tanto, um minucioso levantamento das suas instalações, das
deficiências e dos gastos energéticos até aquele período, foi realizado. A reestruturação
da iluminação desses espaços adequou-se as exigências da NBR 5413/ABNT.
Segundo os especialistas:
A importância da luz numa biblioteca é fundamental para o bem–estar dos usuários e, acima de tudo, para propiciar a realização das atividades inerentes a ela, ou seja, leitura e pesquisa, sem implicar em esforço da atividade visual. (CARDOSO;PINTO;NETO, 2004/2005:14).
Para que fossem contemplados todos os ambientes do edifício, os profissionais
realizaram um diagnostico, baseado nos levantamentos dos espaços físicos,
distribuição das luminárias e lâmpadas, bem como medições de iluminância dos
espaços internos da biblioteca. O diagnóstico é fundamental para que se possa intervir
num espaço ocupado de forma eficiente de acordo com sua função. Vale ressaltar que:
63 Retrofit: esse termo é utilizado quando se moderniza um espaço ou equipamento considerado ultrapassado. 64 Este projeto é fruto da monografia realizada em 2002. SATO, Andrea Mayumi; CARDOSO, Carmen; BAHIENSE, Gisele; FERRARESI, Marcelo; PINTO, Sandra Regina “. “Retrofit da iluminação artificial da Biblioteca Mário de Andrade: a luz e o espaço de ler”. Para a programa de Arquitetura e Urbanismo da FAU-USP – São Paulo. Posteriormente executado pela Ecoluz e patrocinado pela AES Eletropaulo.
118
Foi elaborado um projeto luminotécnico para todos os ambientes internos da Biblioteca, incluindo as áreas administrativas, o acervo, as áreas de leitura e pesquisa, os ambientes destinados aos diversos serviços e sanitários. A proposta de intervenção objetivou a economia de energia aliada às seguintes premissas: • eficientização do sistema de iluminação artificial a partir da instalação de lâmpadas e luminárias eficientes; • conforto visual dos usuários a partir de uma iluminação uniforme e que atingisse os níveis necessários à realização das atividades desenvolvidas nos diversos ambientes; • valorização do edifício, eliminando áreas de penumbra e destacando os elementos construtivos. (CARDOSO; PINTO; NETO, 2004/2005:15).
Figura 38 e 39: Fotos do salão de leitura da Biblioteca Mario de Andrade. A foto da esquerda é anterior ao projeto Retrofit, e a foto da direita é posterior Fonte: Sandra Regina Pinto
Ao observar as imagens acima percebe-se que o simples fato de substituir as
lâmpadas do teto por luminárias mais próximas das mesas, mesmo com a redução do
número de lâmpadas, aumentou e uniformizou a iluminação da sala de leitura,
associada a iluminação natural do recinto
Optou-se por rebaixar as luminárias, devido ao elevado pé-direito, através de pendentes metálicos. As luminárias antigas, sem aletas e com quatro lâmpadas de 40W cada, localizadas junto ao teto, foram substituídas por novas, aletadas e com duas lâmpadas de 32W cada. O rebaixamento das luminárias possibilitou o aumento do nível de iluminância no plano de trabalho e favoreceu o serviço de limpeza e troca de elementos queimados e/ou danificados, não sendo mais necessário o uso de andaimes como o habitual. (CARDOSO; PINTO; NETO, 2004/2005:18).
119
Diagnosticado Realizado NBR 5413/ABNT Sala de leitura 150 500 300 500 750 Recinto de estantes 100 300 200 300 500
Figura 40:Tabela referente aos dados fornecidos pelo artigo acima em comparação com as ABNT de Iluminância interior .
Como é fácil observar, através da tabela acima, dir-se-ia que prevaleceu o bom
senso, uma vez que entre o que foi diagnosticado e, da mesma forma, realizado, está
também de acordo com a NBR 5413/ABNT. Vale dizer que, ao bom senso uniu-se o
procedimento técnico. De toda forma, isso não é garantia de sucesso, mas é um bom
começo, para eventuais reformulações.
120
5. FONTES DE UMIDADE DOS AMBIENTES INTERNOS DA BIBL IOTECA
Várias são as fontes que influenciam a umidade do ambiente interno dos
edifícios. A arquitetura de bibliotecas, com olhar na preservação de seu acervo, deve
compreender quais são essas fontes, que desequilibram a ambiência dos espaços das
coleções e, consequentemente, corroboram com a deterioração do acervo.
Existen muchos edificios históricos destinados a museos con graves problemas de deterioro que se encuentran en regiones con clima húmedos, en donde el termino medio de humedad relativa anual supera ampliamente el 80%. (VALENTÍN; GARCIA, 1999:87).
Passamos agora a compreensão de alguns fatores, silenciosos, que podem
acelerar a deterioração do acervo.
5.1. UMIDADE DAS PAREDES
A construção e todos seus materiais são muito importantes para que se consiga
estabilizar a atmosfera interna do edifício. Afirma Fernando Henrique:
A humidade em paredes constitui uma das acções mais gravosas e simultaneamente mais correntes que afectam os edifícios, provocando um grande desconforto nos seus ocupantes e contribuindo para uma acelerada deterioração dos materiais. (HENRIQUE, 2001:[s.p]).
Portanto, conhecer as condições do terreno quanto a presença de umidade, será
o diferencial, na escolha do tratamento adequado a ele e aos materiais construtivos.
Tais medidas, evitarão futuramente, manifestações patológicas na edificação que
poderá interferir na preservação do acervo.
As fontes de umidade são inúmeras, citando-se como exemplos às chuvas, lagos, rios, limpezas aquosas, infiltrações por janelas, paredes e tetos defeituosos e, finalizando, a transpiração do corpo humano. (SPINELLI, 1997:25).
Fernando M. A. Henrique (2001) explica que a umidade no edifício se manifesta
de diversas maneiras. Alerta sobre as dificuldades de seu diagnóstico, sendo que, uma
121
manifestação pode desencadear outras. Suas fontes mais comuns são: umidade da
construção, do terreno, das precipitações, por condensação, fenômenos higroscópicos
e causas fortuitas.
A umidade da construção é decorrente da água utilizada no preparo dos
materiais para a construção do prédio e das precipitações que molham essas
construções antes de receberem o acabamento. Contudo, essa umidade evapora com o
tempo e, durante o processo de secagem das paredes evaporam externa e
internamente.
O terreno onde será construída a biblioteca pode conter umidade proveniente do
solo. As paredes das construções podem ser alimentadas por águas freáticas, por
águas superficiais, águas pluviais, etc. Fernando Henrique declara: com efeito, a
maioria dos materiais de construção utilizados, quer no presente, quer no passado, tem
capilaridades por vezes elevadas, dando origem a que a humidade possa migrar
através deles. (HENRIQUE, 2001:3). Em posse dessas informações o construtor poderá
definir a melhor barreira que impeça que essa água migre pelas paredes.
A umidade por precipitação é decorrente da ação da água sobre a parede. A
energia cinética das gotas de água pode provocar penetração direta, sempre que haja
incidência dessas gotas nas fissuras ou juntas mal dedadas das paredes. (NAPPI,
1995:341). Essa umidade também se manifesta quando a chuva contínua forma uma
cortina de água sobre a parede. Nesses casos a água é absorvida por capilaridade,
devido a porosidade do material. Salienta Fernando Henrique:
A penetração da água da chuva nas paredes é um fenômeno normal que não apresenta se aqueles elementos tiverem sido concebidos para resistirem a este tipo de acções, impedindo que a água infiltrada atinja os parâmetros interiores ou os materiais de isolamento térmico, como é o caso, por exemplo, das paredes duplas. (HENRIQUE, 2001:14)
A umidade por condensação é originária da atmosfera e esta diretamente
ligada a temperatura. Esse fenômeno ocorre quando uma massa de ar, numa dada
temperatura, entra em contato com uma superfície mais fria ou vice versa. A camada
122
de ar do ambiente interno, mais próxima a uma superfície mais fria, provoca a formação
de uma camada de gotículas de água na superfície interna do espaço.
A condensação deste vapor acontece normalmente ao amanhecer, no interior das edificações junto ao parâmetros internos das paredes externas, pois essas faces, de modo geral, têm temperatura inferior a do ar ambiente. Este fato dá origem ao aumento da umidade relativa do ar na camada de contato com a parede, o que provoca estas condensações. (NAPPI, 1995:342)
A umidade por higroscopicidade , é o tipo de umidade que acontece em função
dos sais solúveis em água. Podem ser encontrados: em vários tipos de materiais de
construção, solo, atmosfera e lençol freático. A maioria desses sais higroscópicos e sua
dissolução ocorrem quando a umidade relativa do ar se encontra acima de 65 - 75%.
Posteriormente, quando a umidade baixa, os sais voltam a cristalizar, caracterizando o
fenômeno conhecido, no Brasil, por eflorescência.
A existência desses sais no interior das paredes não é, em circunstancia correntes, particularmente gravosa. No entanto, se as paredes forem humedecidas os sais dissolvidos acompanharão as migrações da água até ás superfícies onde cristalizarão designadamente sob a forma de eflorescência (...). (HENRIQUE,2001:37).
A pertinência de se considerar esses aspectos na construção da biblioteca, ou na
adaptação de um espaço destinado a guarda de coleções, compostas de papel,
acontece pelo vapor que essas paredes emitem, enquanto secam, ou mesmo, quanto
atingem estágio de saturação em sua superfície. Esse vapor influenciará no ambiente
interno e afetará as coleções. Salienta Fernando Henrique:
As condições ambientais dum determino espaço podem variar bastante e várias vezes ao longo de um único dia, propiciando dessa forma a ocorrência de diversos ciclos de dissolução e cristalização dos sais, os quais vão exercendo paulatinamente uma ação de deterioração que pode originar anomálias de grande significado. (HENRIQUE, 2001:37).
Fernando Henrique também alerta sobre a umidade devida a causas fortuitas .
Essas são proporcionadas pela falta de manutenção do prédio e se manifestam em
períodos sazonais. São mais fácies de serem solucionadas, bastando ser realizado o
conserto.
123
Citaremos abaixo - três bibliotecas - como exemplo da influência de umidade em
paredes e o entorno do edifício, assim como, sua relação com a ambiência interna da
biblioteca.
5.2. MUSEU PAULISTA - USP
Yara Petrella (2008) documentou diversas intervenções realizadas no edifício do
Museu Paulista, que acarretaram sucessivos fenômenos de umidade, em suas paredes.
Esses procedimentos interromperam o intercâmbio que existia entre os espaços
internos do prédio e o ambiente estabelecido pelo seu entorno. Resultou desse
episódio, a formação de microclimas, desfavorável ao bom desempenho do edifício.
Corroborou, dessa maneira, para sua deterioração e, consequentemente, afetou as
coleções do museu. Os fenômenos observados, incidem sobre toda a edificação,
principalmente nos ambientes que utilizam o subsolo do prédio.
É importante estudar intervenções anteriores, para que se possa entender como
a estrutura do prédio funciona, e estabelecer uma boa relação entre coleção, edifício e
usuários.
O tipo de tinta empregada na pintura do edifício, sem dúvida, é resultado do desenvolvimento tecnológico baseado em pesquisas científicas. A tecnologia empregada em sua fabricação permitiu torná-la altamente resistente á intempéries. Contudo, essa tinta, ao criar uma película polimétrica não permeável, constituiu-se numa enorme barreira à evaporação da umidade, que deveria ocorrer sem dificuldades. (PETRELLA, 2008:212).
O estudo do comportamento do edifício, face ao microclima que se estabelece
em seu entorno, é de máxima importância. Para a compreensão do intercambio entre
espaço externo e interno da edificação, o arquiteto necessita estar consciente das
medidas a serem tomas, considerando-se os materiais construtivos, favorecendo a
ambiência desejável em instituições de pesquisa. Yara Petrella documentou :
124
No entorno da fachada sul, além de menor insolação, com a proximidade da vegetação do parque, é formado um microclima diferente da face norte. Como as paredes da fachada sul não recebem o sol, o ambiente é mais escuro, e mais úmido criando assim condições para a proliferação de microorganismos. (PETRELLA, 2008:296).
Esses microorganismos e umidade, migram para o interior do edifício,
aumentando a possibilidade de haver uma proliferação no ambiente interno da
biblioteca.
O Museu Paulista foi projetado, originalmente, com um porão, que propiciava a
ventilação e evaporação das paredes, de maneira natural. Com o passar do tempo,
surgiu a necessidade de ampliar o espaço, acrescentando outros, como por exemplo, o
banheiro para o público. Essas modificações alteraram a funcionalidade do porão,
transformando-o em salas e banheiros. Para tal, fecharam-se alguns arcos, que davam
passagem ao ar que circulava na longitudinal do prédio. Relata Yara Petrella:
O porão, ou região do embasamento do edifício, era constituído de alvenaria de pedra e de tijolos, sem revestimento, por onde a umidade ascendente pudesse caminhar para a superfície e evaporar livremente, com a ventilação permanente. Havia uma grande circulação de ar, (...) de ponta a ponta do edifício. (PETRELLA, 2008:196).
Muitas instituições culturais necessitam de reformas e ampliação de seus
espaços que se adequem as novas funções, mas, deve-se ater a criterioso estudo do
edifício, para que essas intervenções não favoreçam fenômenos que, com o tempo,
possam a vir a deteriorar a própria edificação. Como recorrência, enquadram-se os
acervos que estão sob a guarda das referidas instituições. Algumas alterações desse
tipo atingiram as paredes do Museu, produzindo fenômenos indesejáveis.
Como consequência, as paredes internas e os tetos do embasamento e os tetos, perderam a permeabilidade à água ou ao vapor e a evaporação por meio da ventilação permanente e livre, como era concebido originalmente. (PETRELLA, 2008:196).
Outro episodio que ocorreu nesta instituição, foi a infiltração do telhado, acima da
claraboia da escadaria central, provocando a umidade das paredes internas. Isso
125
desencadeou outros fenômenos e acelerou a deterioração dos frisos ornamentais e
pinturas da Sanca do salão central do edifício. Segundo Yara Petrella:
Na clarabóia havia vidros rachados e o material de calefação e fixações dos vidros à estrutura metálica, estavam bem deterioradas e não cumpria mais sua função. Estes danos causavam goteiras sobre a escadaria principal e infiltrações nas paredes ao seu redor, proveniente das águas de chuva. (PETRELLA, 2008:214).
Somente após a restabelecimento do telhado e da cloraboia foi possível realizar
a restauração das pinturas da Sanca e seus frisos.
5.3. INSTITUTO DE FILOSOFIA DE CIÊNCIAS SOCIAIS DO RIO DE JANEIRO
A biblioteca do Instituto de Filosofia de Ciências Sociais do Rio de
Janeiro,acometida por uma proliferação de fungos, solicitou um parecer técnico à
museóloga e restauradora Ingrid Beck. Em suas observações, a museóloga
primeiramente analisou os materiais construtivos do período da edificação e as
condições ambientais e geográficas da região onde se encontrava: um prédio antigo,
que tem as fundações em solo originalmente pantanoso, onde as paredes trazem a
umidade para cima, por capilaridade. (BECK, 2007:56). Após essa análise podemos
intuir quais condicionantes externas ao prédio, em contato com as soluções para seu
espaço interno, favoreceram a proliferação de micro-organismos em alguns deles.
Nesse caso, para solucionar os problemas causados pela umidade e
temperatura elevada nos espaços internos do prédio, a equipe anterior optou por um
sistema de refrigeração. Tal decisão foi pautada apenas na ambiência interna,
desconsiderando a influência do entorno sobre a edificação. Isso, consequentemente,
reagindo com as condições oferecidas pelo solo e pela construção, favoreceu a
condensação nas paredes internas. Ingrid Beck conta que, (...) quando ligavam o
sistema de refrigeração, as paredes suavam e, em continuidade, formavam colônias de
microorganismos nos dutos de ventilação, nas paredes e nos próprios livros, tornando o
ambiente insalubre ao acervo e aos usuários. (BECK, 2007:56). Foi necessário mudar o
126
sistema de refrigeração por outro - circulador - de ar. Instalações antigas devem ser
monitoradas e analisadas antes de ser incorporado qualquer equipamento novo para
solucionar problemas.
5.4. BIBLIOTECA DE HUMANIDADES - LA UNIVERSIDAD NAC IONAL DE LA
PLATA
Mónica G. Pénne nos fala sobre os inconvenientes causados pela infiltração
ocorrida na sala de leitura da biblioteca central da Universidad Nacional de La Plata. A
água penetrava no interior do prédio pelas janelas e vidros quebrados.
Hasta hace poco tiempo atrás, el mayor inconveniente se suscitaba por una filtración de la calle. Luego de que los alumnos recién recibidos realizaban el ritual del enchastre , el personal de limpieza retiraba las sobras mediante el empleo de una manguera potente. El agua se infiltraba y llegaba a las paredes laterales y techo de un sector de la Sala de Lectura . También se debe cuidar cuando se limpian los vidrios, dado que algunos están quebrados y, si la persona de limpieza no se da cuenta, el agua penetra a raudales en la biblioteca. [grifo do autor] (PÉNNE, 1998:3)
O perigo dessas infiltrações, mesmo que percebidas rapidamente, podem causar
um incidente. Procura-se, consequentemente, baixar a umidade relativa do ar e dos
objetos que compõe o acervo. Até que se retirem as obras, se esse for o caso, os
materiais higroscópicos, já absorveram essa umidade. O processo de baixá-la é
demorado e coloca todo o acervo em risco.
127
6. CONTROLE DE PRAGAS EM BIBLIOTECA
Dependendo do sítio, a umidade e temperatura são impostas ao edifício pelo
clima da região, ou pela limpeza dos espaços internos. A falta de manutenção e de
observação dos problemas que o tempo proporciona ao edifício, ou mesmo a própria
presença do homem no ambiente, altera a umidade e temperara interna do espaço
construído. O pesquisador Spinelli Junior ressalta:
A umidade e a temperatura são fatores climáticos que contribuem significativamente para a deterioração de material bibliográfico. A umidade representa o vapor d’água contido na atmosfera circunvizinha ao acervo bibliográfico e é resultante da combinação de fenômenos de evaporação e condensação da água. Esses fenômenos estão diretamente relacionados com as variações de temperatura ambiental. (SPINELLI, 1997:45).
Faz parte do programa de necessidades da biblioteca o controle de pragas. A
primeira barreira a ser estabelecida contra a entrada dos organismos nocivos ou sua
proliferação é o próprio edifício. Ressalta Michael Trinkley:
O edifício da biblioteca é a linha de frente da preservação, protegendo as coleções de danos causados por temperatura, luz, tempestade, água, incêndios, pregas e uma ampla gama de estragos. É portanto, essencial que os bibliotecários compreendam como incorporar questões relativas à preservação ao programa de construção de bibliotecas. (TRINKLEY, 1997:3).
As instituições que adotaram medidas preventivas contra infestações de pragas,
integram a sua metodologia Manejo Integrado de Pragas (MIP). O MIP considera as
possibilidades econômicas, disponibilidade de recursos humanos, a arquitetura e a
estrutura predial e seu entorno, com o objetivo de chegar à solução mais econômica e
eficaz com um mínimo de intervenção. (SCHÄFER,[s.d]) Para Stephan, a melhor
maneira de se evitar o alastramento das pragas é que o abrigo do acervo também
ofereça segurança a elas e sua proliferação; para tal deve-se manter o ambiente do
acervo em condições inóspitas a elas e criar barreiras físicas para impedir sua entrada
no edifício.
Na fabricação, ou montagem dos livros, encontram-se outros materiais, além da
celulose, que muitas vezes são mais atrativos aos insetos que a própria celulose.
128
Shelelyn Ogdem (1997) explica que as gomas de amido, muito utilizadas nas
encadernações, o couro e pergaminhos, que são proteínas, e o material têxtil utilizado,
interna e externamente nas encadernações, tanto estruturalmente como para
decoração exercem a mesma atração para os insetos. Aqui se incluem ainda os tecidos
de linho, raiom e algodão.
Os organismos daninhos se alimentam, realmente, destes materiais, mas para
sua sobrevivência no ambiente, é necessária a presença de umidade relativa e
temperatura elevada.
O edifício deve estabelecer políticas preservativas para evitar a entrada de
roedores em seu interior. Uma das maneiras de se evitar a proximidade de roedores na
áreas de periculosidade para o acervo, é manter qualquer espaço de alimentação dos
usuários, distantes das áreas de armazenamento. Esses organismos entram no edifício
em busca de restos de alimentação dos utentes. A situação é crítica, porque, qualquer
tratamento dos espaços com inseticidas é danoso ao acervo e aos usuários. E muitos
casos os organismo adquirem resistência aos inseticidas. Os roedores – ratos – quando
penetram nas barreiras dos edifícios e chegam até a área de reservas dos acervos,
fazem um grande estrago nas coleções.
Esses espaços normalmente são fechados, com pouca movimentação e baixa
luminosidade. Os três elementos aqui considerados, favorecem o ataque em grande
escala, pois esses animais roem grande quantidade de material em pouco tempo.
Sendo roedores por excelência, atacam qualquer coisa que se lhes apresentem. São
responsáveis por alguns acidentes com o acervo, como por exemplo, o fogo.
A periculosidade dos roedores é bastante significativa. Além da ação sobre o material documental, os roedores podem atacar o revestimento isolante dos condutores elétricos, favorecendo a instalação de sinistros. A admissão de roedores nos acervos se dá devido à presença de resíduos de alimentos, hábito que deve ser desencorajado junto aos funcionários e usuários dos acervos. (SPINELLI, 1997:28).
Os espaços destinados ao armazenamento das coleções torna-se uma das
preocupações dos responsáveis, pela diversidade dos materiais, que se encontram nos
129
seus acervos. As pragas podem se instalar nesses ambientes sem que seja detectada
sua presença imediatamente. Em suas coleções algumas peças ficam longos períodos
sem ser manuseadas, o que favorece a proliferação desses insetos ou
microorganismos, principalmente porque quando se instalam dentro do livro, podem
ultrapassar o seu limite e infestar uma prateleira e/ou a coleção inteira, sem sequer
serem percebidos.
Este nível de infestação é o mais difícil de detectar, pois muitas vezes não pode ser observado imediatamente ou externamente, já que o ataque é mais ativo de dentro para fora como em livros, cestas, têxteis; no verso como em telas, obras emolduradas e tapeçarias e nas áreas menos visíveis, como no fundo de prateleiras e gavetas. (FRONER; SOUZA, 2008:3).
Os ambientes desfavoráveis podem abrigar vários ciclos de vida dos
microorganismos e insetos que se instalam dentro dos objetos do acervo. Devido a
fragilidade do material de que é composto o acervo, sua deterioração por esses
organismos é muito rápida e, caso o espaço já tenha sofrido uma infestação,
aconselha-se um mapeamento físico das coleções e do espaço onde houve a
infestação. Os agentes biológicos geralmente são introduzidos em coleções, arquivos e
museus através do ambiente externo ou a partir do contato com outros materiais
infestados trazidos de outros edifícios. (FRONER; SOUZA, 2008:3). Essa investigação
por meio do mapeamento facilitará o reconhecimento da área onde houve essa
infestação, facilitando o saneamento e possibilitando deixar o espaço em alerta.
Para que os insetos não se procriem de modo contínuo, faz-se necessário
entender o ciclo de reprodução de cada um e estabelecer, principalmente em espaços
de reservas sem muito movimento, uma atmosfera hostil aos predadores. Ao se
conhecer o estágio em que se encontra pode-se quantificar o estrago realizado nas
coleções e o que o invólucro, edifício, está envolvido nesse processo.
130
Considerando que os insetos passam por metamorfose durante seu ciclo de vida - que pode incluir estágios sob a forma de ovo, larva, pupa e ninfa, antes da idade adulta -, é importante verificar em qual dessas fases as atividades metabólicas são mais daninhas. (FRONER; SOUZA 2008:7).
Os danos causados por infestação em coleções bibliográficas varia de acordo
com o tipo de organismo e o tempo em que ele permaneceu dentro do invólucro de seu
alimento - os livros ou blocos de livros na estanteria. Pode-se ressaltar que algumas
espécies de insetos fazem túneis dentro dos documentos em que se instalaram e
transformam aquele ambiente no seu habitat, causando danos com suas secreções e
excrementos. A estudiosa Sherelyn Ogden salienta que: O dano acarretado pelos
insetos não provém unicamente de seus hábitos alimentares; as peças também podem
ser danificadas pelas secreções e atividades de abrir túneis e fazer ninhos. (OGDEN,
1997:03).
Há outros microorganismos que podem causar inconvenientes nesses espaços,
muitas vezes fechados, que se acumulam e reproduzem pela dificuldade de se manter
o lugar totalmente higienizado - é o caso dos fungos e bactérias:
Aqueles considerados mais prejudiciais aos acervos de material orgânico são os agentes que causam danos a partir de suas atividades de alimentação. Contudo, excrementos, corpos em decomposição (insetos mortos), casulos, ninhos e teias também promovem a degradação dos materiais. (FRONER; SOUZA 2008: 3)
Os edifícios de bibliotecas, em clima tropical úmidos, acolhem em seus
ambientes internos um material propício ao ataque de organismos degenerativos
conhecidos por xilófagos. São eles: baratas, falsas traças, brocas de livros, piolhos de
livros, cupins, fungos e ácaros. A preocupação primeira é evitar o Acessado desses
seres indesejáveis ao acervo, pois são distintos os habitats e formas de ingresso no
edifício. Quando um inseto invade um local e permanece nele, é porque encontrou
subsistência, e isso, uma biblioteca oferece-lhe em abundância. No entanto, ele só se
apropriará desse ambiente se a atmosfera interna do lugar for favorável a sua
proliferação.
131
A própria característica do papel, sua aspereza, o formato do livro e seu
armazenamento impossibilitam a limpeza completa do lugar que é frequentado por
insetos. Normalmente estes depositam suas secreções e dejetos e os humanos
contribuem com a escamação da pele, fios de cabelo que caem pelo chão, propiciando
assim, o desenvolvimento de ácaros, que, em alta concentração, tornam-se maléficos
aos utentes do espaço.
As baratas – Blattoideas – escondem-se em fendas e frestas de paredes e
batentes de portas, assoalhos, ralos, esgotos, lixos, etc. Podem viver até dois anos
camufladas em seu esconderijo, saindo para se alimentar na ausência de luz, ou a
noite, pois têm hábitos noturnos. Além dos danos por alimentação, as baratas causam
manchas pelo seu vômito, depósito de fezes e secreções das glândulas abdominais.
(FRONER; SOUZA, 2008:10). Elas se alimentam de colas e tecidos das encadernações
e papéis gomados.
Traça de livros - Tisanuros - é uma espécie que gosta de lugares úmidos e
quentes e esconde-se em batentes de portas, janelas, assoalhos de madeira das
edificações e na superfície dos documentos e livros. Alimentam-se de papéis gomados,
da cola das lombadas e das etiquetas dos livros. No caso dos documentos, elas gostam
da cola dos selos, que comprovam sua autenticidade.
Os piolhos de livros – Corrodentia – segundo Dione Seripierri65 o nome
corrodentia dado aos insetos desta ordem, vem do vocábulo latino que significa
“corroer”. Alimentam-se de microorganismos (fungos) corroendo toda superfície onde
existe este tipo de matéria. (SERIPIERRI, 1998: 07). É um inseto muito pequeno que
vive entre as páginas do livro. Em fase adulta medem aproximadamente 1,0 mm (um
milímetro) e vivem em locais úmidos. Os piolhos de livros alimentam-se de fungos
desenvolvidos no papel, de modo que sua presença, normalmente, indica a existência
de umidade na área de armazenagem. (OGDEM, 1997:3) Esse detalhe é, também, um
indicativo da proliferação de fungos.
65 Bibliotecária chefe do Museu de Zoologia – USP – São Paulo
132
Os cupins – Térmitas - são insetos que têm como base de sua alimentação a
celulose. Com a chegada das estações quentes e úmidas os reprodutores - alados -
saem em revoadas para formar novas colônias. Apesar de existirem milhares de
espécies de cupins, poucas atacam acervos com suporte em papel. Antônio Tadeu de
Lelis66 salienta:
(...) algumas espécies de cupins ditos subterrâneos, podem constituir colônias acima ou mesmo fora do contato com o solo. É o que acontece com a principal praga de nossos maiores centros urbanos, o Coptotermes havilandi (Rhinotermitidae), cujo ninho é freqüentemente encontrado em espaços perdidos das edificações, muitas vezes nos pavimentos superiores e sem qualquer ligação com o solo. (...) Os cupins são insetos predominantemente tropicais e, portanto, climas quentes e úmidos, como os do Brasil, são favoráveis a esses insetos; (LELIS, 2000:83).
O entorno do edifício da biblioteca pode abrigar uma infinidade de insetos e
dentre eles estão as brocas de livros – Coleópteras. Em sua fase adulta os besouros
levantam voos em direção as aberturas dos prédios e preferencialmente se instalam em
móveis e madeiramentos úmidos. Mas também infestam os livros e em pouco tempo
destroem grande parte do acervo sem que sejam notados. Depositam seus ovos nas
superfícies do dorso do livro, ou em orifícios já existentes. Quando os ovos eclodem, as
lavras perfuram galerias pelo livro adentro, e lá se alimentam da celulose e do couro
mais macio. Alguns especialistas afirmam que esses insetos Na fase adulta que pode
variar de 7 a 30 dias os besouros não se alimentam. (...). O tempo de vida da lavra é
extenso ultrapassando 12 meses. (SERIPIERRE,1995:3). Seus ataques acontecem em
livros mais antigos, descartando as encadernações modernas com capas plastificadas e
colas sintéticas.
Considerando a Biologia da broca-do-livro Tricorynus herbarius (Gorham)
(Coleoptera: Anobiidae) em duas dietas diferentes, os autores fazem um experimento e
constatam que as larvas viveram em média de quatro a seis meses dependendo do tipo
de papel. Os adultos se alimentam da celulose. Neste sentido a broca é conhecida,
66 Prof. Dr. Antônio Tadeu de Lelis, biólogo, especializado em cupins, formado pela Universidade de São Paulo – USP, e Mestre e Doutor pela Universidade de Borgonha, na França.
133
principalmente, como praga de livros, mas também se alimenta de grãos armazenados,
sementes e madeiras podendo se adaptar a várias situações alimentares. (SILVA;
ANJOS; SERRÃO, 2004).
Os autores também observaram que essas lavras em meio a celulose vivem
menos que se alimentam de grãos. Constataram que o índice de mortalidade dessas
lavras é maior do que as da mesma espécie, em meio aos grãos. Essa pesquisa
deslustra a capacidade desses organismos em adaptar-se em ambientes escassos em
alimentação. As encadernações possuem amido em sua constituição, mas em pouca
quantidade. Nesse caso, alimentar-se de celulose, parece ser uma adaptação,
considerando que as lavras vivem mais em outro habitat.
FIGURA 41: Livro de Ata (1903) da Escola Normal de Campinas, infestado de cupins e brocas. Fonte: Disponível em <http://www.unicamp.br> Acessado em 10 de junho de 2010.
Outros problemas afetam os acervos de bibliotecas, como os fungos.
Vulgarmente conhecidos por mofo - são outros agentes biológicos que em condições
favoráveis se proliferam rapidamente por toda a área. Os fungos não só acarretam
males ao material bibliográfico, como também ao próprio homem, causando-lhe febre,
processos inflamatórios das cordas vocais e da garganta, conjuntivite, otites e micoses
diversificadas. (GONÇALVES, 1989:165). Eles se propagam, de um ambiente a outro,
atingindo as instalações físicas do edifício e, em alguns casos, podendo se caracterizar
134
como a Síndrome do Edifício Doente67. Algumas espécies encontradas em acervos
culturais são tóxicas – como é o caso do Aspergillus fumigatus68.
Especialistas em Sistema de Gestão da Universidade Federal Fluminense ao
estudar sobre o bem estar dos funcionários, no desempenho de suas funções, em
ambientes internos com ventilação e climatização artificiais revelam:
(...) os ocupantes desses recintos apresentavam um alto percentual de sintomas persistentes, de menor ou maior gravidade, tais como: alergia, dor de cabeça, irritação nos olhos e das mucosas, dores de garganta, tonturas, náuseas e fadiga em geral, não atribuíveis a fatores pessoais de sensibilidade ou doença, e que desaparecem pouco tempo depois da saída do recinto, ficando evidente que os sintomas estavam relacionados com as condições ambientais do local em questão. Estes problemas caracterizam o que se convencionou designar como “Síndrome do Edifício Doente” definida pela Organização Mundial de Saúde. (TEIXEIRA; BRIONIZIO; PEREIRA; MAINIER, [s.d.]:4).
Esses microorganismos estão por toda parte, e existem milhões de espécies,
mas apenas uma pequena parcela é prejudicial ao homem e ao acervo cultural. Não há
como evitar sua entrada em um ambiente, nem tampouco sua permanência, apenas
controlar sua proliferação. O mofo se alimenta de matéria orgânica em decomposição,
por isso é denominado de decompositor da natureza e incapaz de produzir seu próprio
alimento. Para que isso ocorra, ele secreta uma enzima que enfraquece e altera sua cor
no material do livro. (OGDEN,1997). Sua presença é também chamariz para outras
espécies, como relata Jayme Spinelli Junior:
67 A Síndrome do Edifício Doente (SED) refere-se à relação entre causa e efeito das condições ambientais observadas em áreas internas, com reduzida renovação de ar, e os vários níveis de agressão à saúde de seus ocupantes através de fontes poluentes de origem física, química e / ou-microbiológica.-Disponível-em: <http://www.inmetro.gov.br/consumidor/produtos/QualidadedoAr.asp> acesso em 30 de abril de 2010. 68 Aspergillus fumigatus: Dependendo da forma de manifestação do fungo no ser humano, as respostas, alterações estruturais e funcionais serão diferentes. Os esporos de Aspergillus estão distribuídos amplamente no meio ambiente, especialmente em locais contendo matéria orgânica em decomposição. A Aspergilose Broncopulmonar Alérgica (ABPA) pode manifestar-se, inicialmente, como asma brônquica, clinicamente semelhante a outras formas de asma.
135
Os fungos são vegetais desclorofilados, portanto, incapazes de realizar fotossíntese. Desse modo, necessitam instalar-se sobre matérias que lhe possibilitem obter os nutrientes numa forma pré-elaborada, isto é, de fácil assimilação. (...) O desenvolvimento dos fungos é afetado por diversos fatores, dos quais destacam-se a luz, pH, natureza do material constitutivo dos documentos e a presença de outros microorganismos. (SPINELLI, 1997:29).
O mofo, no estágio de dormência, não é prejudicial ao acervo bibliográfico e nem
mesmo aos utentes da biblioteca. Torna-se prejudicial quando passa do estágio de
dormência para o estágio ativo e para que isso seja possível, basta que o ambiente seja
propício ao seu desenvolvimento. Em ambos estágios, ele pode ser transportado a
outros ambientes, pelo ar, insetos, circulação dos materiais e só se manifestará se
esse novo espaço oferecer algumas características especiais: alto índice de umidade e
calor. Nessas condições sua disseminação ocorre aceleradamente. (OGDEN,1997).
Embora algumas espécies se desenvolvam em ambientes frios e secos, não se tem
registro dessas espécies em bibliotecas brasileiras.
O estágio de dormência pode ser determinado por um fator externo (exógena) - o
ambiente - ou imposta pela própria colônia (endógena). A dormência exógena ocorre
quando as condições ambientais passam a ser desfavoráveis ao seu desenvolvimento –
por exemplo, o ressecamento do ambiente. A endógena é uma defesa que ocorre
quando a colônia atinge um determinado estágio e deve descansar. Os fungos podem
tornar-se dormentes mesmo sob condições favoráveis a seu desenvolvimento.
(OGDEN,1997:13). Isso não representa que a colônia está extinta, mas está apenas
inativa. Em ambos os casos a colônia pode voltar a manifestar-se e novamente infestar
o ambiente.
Lois Olcott Price recomenda, em casos extremos, que o documento infectado por
mofo seja exposto, durante um pequeno espaço de tempo, aos raios ultravioleta.
Ressalta que a exposição à essa luz:
(...) é danosa a maioria dos materiais de bibliotecas, arquivos e museus, mas pode ser utilizada como um tratamento razoável para eclosões pequenas e localizadas. A exposição solar também ajuda na secagem. (...) O mofo ativo normalmente muda de cor e se neutraliza em 10 minutos. A exposição não deve exceder a 30 minutos.(PRICE, 1997:24).
136
A iluminação, seja solar ou artificial, em muitos casos, também é utilizada na
arquitetura para manter a salubridade dos espaços internos e manter os fungos em
estágio de dormência. Mas não se aplica a edifícios de bibliotecas e arquivos. A luz
ultravioleta, em contato direto com materiais arquivísticos e documentais, os prejudica,
por serem sensíveis a essa luz. Assim sendo, tal recomendação acima só se aplica a
momentos pontuais, bem como sobre controle direto e visual do responsável pelo
objeto. Dessa forma, no caso dos acervos bibliográficos, essa luz corrobora para o
efeito contrário, ou seja, é mais um agente de deterioração do acervo e deve ser
evitada nos ambientes de armazenamento.
Cabe ao arquiteto, como gestor de suas criações, fortalecer o vínculo natural
existente entre seu traço artístico, de embelezamento e seu fazer engenhoso. O outro
lado, trás à tona a sobrecarga de cuidar para que objetos inanimados – os livros –
possam correr o risco de morte, devorados pelo que não se vê – as pragas. Tais
considerações levam-nos a crer que, a arquitetura, mais do que nunca, seria a salvação
dos tesouros livrescos, artísticos e artesanais, usando a força da sua titulação e
qualificação dedicada a preservação de tais bens.
6.1. SEÇÃO DE OBRAS RARAS ASSUERUS HIPPOLYTUS OVERM EER DA
BIBLIOTECA DE MANGUINHOS
A biblioteca da Fundação Instituto Oswaldo Cruz, criado em 1909, reúne a maior
coleção sobre assuntos biomédicos do Brasil, estimada em aproximadamente 800.000
volumes. Em 1995 foi inaugurada a nova biblioteca de Manguinhos. Quase todo o
acervo foi transferido para o novo prédio, exceto o de obras raras, que continuou
ocupando algumas salas do Pavilhão Mourisco.
Nesse ínterim, o pavilhão entrou em reforma - sob a supervisão do Patrimônio
Histórico e Artístico Nacional (IPHAN). Nesse intervalo de tempo a coleção de obras
raras foi se acomodando naquele espaço, sendo transferida sempre que necessário,
para o bom andamento da obra.
137
No período de três anos (1996 -1999) o edifício recebeu intervenções e a
coleção deslocou-se por vários ambientes não climatizados, não favorecendo, assim,
suas especificidades. Posteriormente as obras retornaram para seu lugar, mas,
acomodadas de forma inapropriada, ocasionando diversos inconvenientes a coleção.
As bibliotecárias Rejane Ramos Machado e Eliane Coutinho, no artigo sobre a
desinfestação de brocas no acervo de obras raras, e também de cupins no teto da
mesma sala que acabará de receber diversas intervenções, revela:
Ocorrendo vários remanejamentos do acervo para locais não apropriados e a conseqüente dispersão das coleções. Em 1999 a coleção, composta de setenta mil volumes, retornou à sala 301, porém armazenada de forma compactada, sem ventilação e apresentando dificuldade no seu manuseio. As condições inadequadas de armazenamento durante todo este período contribuíram para a criação de microclima apropriado a proliferação de insetos. (MACHADO; COUTINHO, 2003:62).
Ao se tratar de obras raras, os infortúnios aumentam em função da metodologia
que deve ser elaborada. Dela, depende o alcance do objetivo, que é, em última análise,
o de realizar a desinfestação sem causar danos aos usuários69 e as obras. Partindo da
análise do que se pretende, por especialistas, acrescentam-se os custos com a
operação, o tempo de realização e o espaço para deslocamento dos livros durante esse
processo, e principalmente, o tempo em que essas obras não poderão ser consultadas.
As bibliotecárias Jeorgina G. Rodrigues e Heloísa H. F. de Alcantara, sobre a
organização do espaço da Biblioteca Assuerus Hippolytus Overmeer:
No ambiente da Biblioteca, destacam-se os móveis em imbuía castanho escuro e as luminárias de ferro fundido e bronze, com acessórios em opalina lilás fabricadas na Alemanha. O assoalho forma desenhos geométricos em diferentes tons de madeira e nas paredes e no teto ressaltam-se os ornamentos em gesso branco. (RODRIGUES; ALCANTARA, ca. 2006:2)
69 “Os representantes dos setores de Controle de Vetores e de Saúde do Trabalhador da Instituição foram consultados sobre as possíveis consequências do uso do argônio ao meio ambiente a à saúde das pessoas. Após fornecimento da ficha técnica deste gás ao setor de Saúde do Trabalhador, este recomendou seu uso em ambientes ventilados e manuseado por especialistas.” (MACHADO; COUTINHO, 2003:67)
138
Algumas medidas preventivas já foram tomadas na concepção da biblioteca no
interior do Castelo Mourisco, por ocasião de sua construção. As obras, separadas do
salão de leitura por uma porta ornamentada com vitrais, ficam guardadas em um
conjunto de estantes de aço, à prova de fogo e insetos, disposto em quatro andares,
fabricado e instalado, em 1913, pela Library Bureau de New York. (BORTOLETTO;
SANT'ANNA, 2002:4). É práxis recomendar estantes de ferro para evitar infestação de
insetos e facilitar a limpeza das estantes. O metal não absorve e nem libera umidade,
mas não é uma medida isolada, deve ser acompanhada de outras, tipo: espaço para
acomodar todo o acervo, vistoria, climatização do ambiente e etc.
Figura 42: Sessão de obras raras Assuerus Overmeer – 1970. Fonte: (BORTOLETTO; SANT'ANNA, 2002:12)
A biblioteca conta com um salão de leitura e uma ala onde fica guardado o acervo. (...) Dentre muitos aspectos chamam atenção as paredes e o teto trabalhados em gesso branco, as estalactites dos arcos suspensos do teto, (...). O mobiliário de época é em madeira castanho-escura e está presente na grande mesa retangular do salão de leitura, onde as revistas eram expostas semanalmente, nas oito mesinhas destinadas a consulta dos leitores, nos dois armários longos divididos em pequenos compartimentos onde ficavam armazenadas as revistas recém-chegadas e nos dois balcões usados para atendimento. (BORTOLETTO; SANT'ANNA, 2002:4)
139
Figura 43: Ambiência do salão de leitura da sessão de obras raras Assuerus Overmeer – 1990. Fonte: (BORTOLETTO; SANT'ANNA, 2002:13)
A importância de se pontuar a infestação de cupins no teto, se deve ao fato de
lembrar, como foi citado acima, que esses insetos estão, em muitos casos, fora do
prédio. Uma vez instalados podem proliferar no ambiente. Percebemos na Figura 43
que na sala existem vários lugares para seu habitat. Faz-se necessário expandir o
tratamento para os arredores do edifício. É incrível notar como, um trabalho
aparentemente simples, requer do arquiteto a máxima atenção quanto à concepção do
edifício em suas reformas. Se porventura o entorno não for tratado, os cupins retornam,
por outras vias de Acessado ao local onde encontram meios de se alimentar.
140
O pavilhão Mourisco é administrado pelo Departamento de Patrimônio Histórico da FIOCRUZ, que providenciou o tratamento do ataque de cupins ao teto do salão de leitura e foi o responsável pelo acompanhamento da obra de restauração do “bow-window”. Quanto à infestação por brocas no acervo raro, coube à Biblioteca de Maguinhos buscar soluções para o problema. (MACHADO; COUTINHO, 2003:62)
A infestação de cupins no teto de gesso do salão de leitura, da seção de obras
raras, ficou sob a responsabilidade dos profissionais do Departamento de Patrimônio da
própria instituição, que segue orientações do IPHAN. Cristina Coelho (2003) salienta o
que de certa forma já foi dito, que devido a complexidade na elaboração do projeto de
intervenção, assim como todos os significados históricos que a instituição representa
junto a comunidade, considerando ainda a adequação desses espaços, a intervenção
deve ser realizada por uma equipe interdisciplinar, respeitando as diretrizes
determinadas pelo DEPAM/IFHAN.
6.2. CONTAMINAÇÃO POR FUNGOS NOS LIVROS DO PAVILHÃO HAI TY
MOUSSATCHÉ
A Biblioteca Central de Manguinhos no possui um acervo de aproximadamente
1.000.000 de títulos, Incluindo 7.300 títulos de periódicos científicos da área biomédica,
dos quais 887 títulos são correntes, 156.000 volumes de monografias, entre livros
científicos, dissertações e teses, anais de congressos, etc. (Disponível em
<www.fiocruz.br > Acessado em 18 de janeiro de 2010)
Até 1981 essa biblioteca ficou abrigada no castelo Mourisco. A biblioteca foi
transferida porque o piso que do castelo começou a ceder em função do peso do
acervo. (STRAUSZ, 2001:34). O setor de obras raras com 70.000 títulos continuou no
Castelo.
141
Figura 44: Vista do entorno da nova Biblioteca Central de Manguinhos Fonte: Disponível em <http://picasaweb .google.com> Acessado em 12 de junho de 2010.
Em 1995 a maior coleção de Ciências Biomédicas da América Latina, ganhou
sede própria, concebida com os princípios de preservação do acervo, acessibilidade,
segurança, climatização etc.
A biblioteca foi inaugurada em 1995 após a conclusão do Pavilhão Haity
Moussatché. Um prédio construído especificamente para abrigar a Biblioteca e,
posteriormente alterado para acomodar também, as instalações do Centro de
informação Científica e Tecnológica.
A área em volta é totalmente arborizada e o terreno, que foi uma depressão natural, recebeu aterro para as fundações. Além de 5.600 m²
de área útil, existe no interior do prédio um jardim interno. Esse jardim, devido às portas laterais ficarem abertas, proporcionava um aumento de umidade relativa do ar no prédio, principalmente no primeiro andar. (STRAUSZ, 2001:47)
Maria Cristina Strausz realizou uma pesquisa sobre contaminação por fungos
nessa biblioteca. Seu foco de pesquisa foi a síndrome do edifício doente. Entretanto as
informações que levantou são propícias a esse estudo. Veremos como a biblioteca foi
contaminada.
Primeiramente podemos observar que o terreno no qual a biblioteca foi
assentada havia sido aterrado. Isso não seria um problema, caso o projeto
contemplasse em sua concepção a impermeabilização de toda a área, inclusive o
jardim interno e ao redor do edifício.
142
Uma das falhas do projeto apontado no relatório da assessoria microbiológica diz respeito à presença do jardim interno, o que também favoreceu o aparecimento e a colonização de fungos no ambiente da biblioteca. Posteriormente foi detectado que apesar do edifício ter sido construído sobre um terreno pantanoso, somente parte do solo foi impermeabilizada, sobre a qual foram construídos o edifício principal e a central de ar condicionado, porém, o terreno sob os jardins que circundam os prédios e sob o jardim interno, não recebeu impermeabilização. A impermeabilização sob o jardim interno foi feita após o acidente, de acordo com recomendações do relatório. (STRAUSZ, 2001:51).
O projeto de climatização para o edifício não previu o acréscimo de equipamento
gerador de calor no interior do prédio. Foi relatado desconforto térmico dos funcionários
em condições de temperatura abaixo de 20º C e acima de 25º C. (STRAUSZ, 2001:41).
Ou seja, após as alterações no uso das salas, o projeto não fez novos cálculos para o
dimensionamento do ar condicionado, tornando esses equipamentos inadequados a
conservação do acervo e ao conforto dos usuários. Ressalta a autor:
Foi prevista a instalação de um sistema de ar condicionado no edifício como um todo, (...) em função das péssimas condições climáticas da cidade do Rio de Janeiro para guarda e conservação de documentos (calor e umidade intensos ). Foi recomendado que a temperatura do prédio fosse mantida entre 22 a 24ºC ( temperatura de conforto térmico), embora o ideal para a conservação do papel seria entre 16 e 19ºC. (STRAUSZ, 2001:50).
Figura 45: Vista da entrada da Biblioteca Central de Manguinhos Fonte: Disponível em <http://www.fiocruz.br> Acessado em 15 de junho 2010.
143
A constante oscilação de temperatura, na área de armazenagem do acervo,
aliada a umidade relativa do ar - variando de 70 a 100% - as chuvas sazonais e a falta
de calhas que permitiu que essas águas escorressem pelas paredes, infiltrando-se
pelas janelas. Pontuamos ainda, a falta de drenagem das águas superficiais, a
incidência de luz solar diretamente sobre as salas e, o fato de o ar condicionado ser
desligado no período noturno. Isso produzia a condensação de vapor de água dentro
dos armazéns. Todos esses elementos juntos, propiciaram um grande afloramento de
fungos no período de 31 de dezembro de 1996 a 4 de janeiro de 1997.
(...) com a solicitação de inspeção urgente, devido às grandes proporções do evento, que se traduzia em um ambiente úmido e carregado, onde os móveis, estantes, computadores, telefones, enfim, tudo estava coberto de branco. Foi então determinada a interdição do acervo ao público e a reorganização do trabalho da biblioteca, a fim de se reduzir ao mínimo a exposição ocupacional. (STRAUSZ, 2001:35)
As soluções propostas pela equipe da Fundação Oswaldo Cruz para evitar novas
contaminações e que se concretizaram no período de dois anos foram: controle
ininterrupto da refrigeração dos armazéns da biblioteca para proteger acervos e
usuários, instalação de desumidificadores, monitoramento da temperatura e URA, e
ainda, filtro de ar e refrigeração e para bloqueio da incidência de luz solar direto de
acordo com ABNT: NBR 12538:199270; NBR 5461:199171 e NBR 16401/2008 72.
70 ABNT - NBR 12538 - Grandezas e unidades de termodinâmica. Exemplo: observando as características térmicas dos materiais construtivos; o coeficiente de sombreamento; emitância; irradiância e outros que são considerados no projeto 02:135.07-001:2003. 71 ABNT BNT 5461:1991 - Esta Norma estabelece conceitos e define termos relacionados com a Iluminação Natural e o Ambiente Construído. 72 ABNT NBR 16401/2008 Instalações de Ar Condicionado – Sistemas Centrais e Unitários
144
Figura 46 e 47: Contaminação do acervo e ambiente por fungos - Biblioteca de Manguinhos Fonte: (STRAUSZ, 2001:36 e 39).
As imagens acima registram a contaminação por fungos em todo o ambiente.
En un clima cálido y húmedo el moho crecerá en la zona afectada por al agua en unas 48 horas. En cualquier clima se puede esperar la aparicion de moho en unas 48 horas cuando hay áreas de escasa ventilación que se hayan vuelto cálidos y húmedas (...) El dejar tales materiales durante más de 48 horas con temperaturas encima de 70º F (21ª C) y una humedad relativa del 60% sin una buena circulación de aire, resultará, casi con seguridad, en uno fuorte crescimento de moho y collevará inos altos costos de recuperación y restauración. (MERRIT, 1993:5)
145
Figura 48: Limpeza dos ambientes - Biblioteca de Manguinhos - contaminados por fungos – com utilização de aspirador de pó máscars com filtros especiais. Fonte: (STRAUSZ, 2001:44).
A solução imediata, com relação ao acervo, foi sua interdição. Depois, foram
abertas todas as janelas dos ambientes contaminados, para permitir a ventilação e
troca de ar com o exterior do prédio. Em seguida, foi providenciada a aquisição de
equipamentos de proteção individual para os funcionários executarem a limpeza, que
iniciou pela higienização do chão e superfícies. (STRAUSZ: 2001:43). Para que se
juntasse a equipe foi contratada, em caráter de emergência, uma equipe de pessoas
treinadas para realizar a limpeza das superfícies do ambiente e higienização do acervo.
146
7. O PAPEL DA EDIFICAÇÃO NA CONCEPÇÃO DA BIBLIOTECA
Nos capítulos anteriores trabalhamos com as especificidades dos acervos de
salvaguarda da biblioteca. Apontamos também, os fatores ambientais desfavoráveis as
coleções e ao edifício. Neste momento, trataremos das condições ideais para a
preservação do acervo. Para contemplar essas necessidades, faz-se necessário, a
presença consciente, do arquiteto e outros profissionais de áreas afins. Juntos devem
estabelecer atmosfera aceitável ao acervo, usuários e edifício.
Temos, então, uma inversão de valores e prioridades. O acervo da biblioteca, até
aqui, foi abordado em função de criar barreiras para os itens já considerados, em
defesa do acervo. Agora ao contrario, prejudicará o utente, por tempo limitado, em
função de condicionantes que possam conter os elementos agressores.
É plausível considerar no orçamento, medidas que contemplem as necessidades
financeiras da instituição. O conforto térmico desfrutado pelo usuário até então, será
relativamente prejudicado em prol da preservação do acervo. Para tanto há que ser
considerado também, o conforto do usuário, como já dissemos, mesmo prejudicado,
possa gozar o seu conforto relativo pelo andamento concomitante das obras
necessárias, também já apontadas.
O edifício construído deve possibilitar, ao gestor da instituição, estabelecer
diretrizes adequadas a manutenção da biblioteca, após sua inauguração. Muitas das
questões de preservação possuem mais de uma solução e a biblioteca deve obter o
aconselhamento profissional de arquitetos, engenheiros e consultores de preservação.
(TRINCKLEY, 1997:3).
147
A Fundação Biblioteca Nacional, ao considerar a importância da preservação73
da informação contida em seu acervo, atua em três frentes que segundo Jayme Junior
Spinelli, são os prédios, as coleções e o acervo.
Com referência aos edifícios, a FBN estabeleceu diretrizes que podem evitar ou
minimizar acidentes com as coleções, como por exemplo: incêndios, inundações,
infiltrações etc. Essas diretrizes podem servir de informação ao arquiteto que terá a
missão de projetar uma biblioteca e incluir, em sua concepção, os elementos
necessários para evitar quaisquer sinistros que ponham em risco todo o acervo
documental. Nesse contexto a preocupação está focada nos seguintes aspectos:
� a política de tombamento do prédio sede pelo IPHAN; � as condições estruturais e arquitetônicas do prédio sede; � a otimização da ocupação dos espaços físicos que o compõem; � o contingente operacional e flutuante em ação no prédio sede; � o aumento sistemático da carga elétrica; � as condições de trânsito e escape do prédio sede em caso de sinistro; � as instalações de equipamentos e instrumentos de combate a incêndio; � as condições de segurança contra roubos e vandalismos; � a atuação da Coordenadoria da Brigada Contra Incêndio (...); � a manutenção quanto à limpeza de calhas e do pára-raios no telhado do prédio; � a assessoria de especialista em incêndio e explosão do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro; � na criação de uma equipe de funcionários da Biblioteca, com treinamento específico, que atuarão como brigadistas; brigada diurna (...) inclusive com instruções de procedimentos para salvaguarda de obras contra inundações. (...) em conjunto com a Coordenadoria da Brigada Contra Incêndio; � a execução de exercícios de escape de pessoal do prédio, como elemento antipânico em caso real. (SPINELLI, 2006:2).
73 Segundo Jayme Spinelli “Atualmente é entendida em seu sentido mais amplo, abrangendo todas as ações que se destinam a salvaguardar e a recuperar as condições físicas dos suportes que contém informações, com vistas a permanência destes materiais para as futuras gerações.”
148
Figura 49: Restauração do acervo do Cartório de São Luiz do Paraitinga – Inundação em janeiro de 2010. Fonte: Disponível em <http://www.arpensp.org.br> Acessado em 15 de junho de 2010.
Outro aspecto importante para a FBN quanto as coleções e que deve ser
considerado ainda no projeto é o ambiente de armazenamento do acervo. Ressalta
Spinelli que:
As ações de preservação das coleções visam o monitoramento dos seguintes aspectos: - as condições de ambientação das áreas de guarda de acervos; - as condições de limpeza destas áreas; - as condições de armazenamento dos livros e documentos em suas áreas de guarda; - as normas para cessão de obras para exposições nacionais e internacionais. (SPINELLI, 2006:2).
Figura 50: Restauração do acervo do Cartório de São Luiz do Paraitinga – Inundação de janeiro de 2010. Fonte: Disponível em <http://www.arpensp.org.br> Acessado em 15 de junho de 2010.
149
Ao se pensar um projeto arquitetônico de bibliotecas é necessário levar em
consideração o bem-estar dos utentes. Entretanto, nas bibliotecas em que o acervo já é
predominantemente uma concentração de alimentos aos microrganismos, a atenção
quanto aos microclimas dos espaços internos da instituição, deve ser redobrada. Essa
atitude, sem dúvida, contribuirá para que a ambiência interna e externa da edificação,
favoreçam o resguardo do acervo.
Como visto anteriormente, Cristina Strausz relata em seu estudo sobre acidentes
com fungos na biblioteca de manguinho:
As mudanças arquitetônicas ocorridas a partir do final dos anos 70 nos países desenvolvidos, no sentido de conservação de energia através de uma melhor eficiência nos sistemas de refrigeração e aquecimento, gerou os chamados prédios selados, onde o microclima artificial tornou-se gerador de novos poluentes do ar interior. Porém, esta síndrome também foi observada em edifícios que são ventilados naturalmente. (STRAUSZ, 2001:27)
A equipe poderá analisar as condições climáticas do lugar e definir se os
ambientes internos da biblioteca devem ou não ser selados. Essa decisão deve ser
tomada junto a uma equipe interdisciplinar.
Projetar o ambiente urbano visando ao conforto ambiental e à qualidade do ar pressupõe a adoção de soluções arquitetônicas capazes de aproveitar as condições climáticas externas favoráveis e minimizar as desfavoráveis. (LYRA, 2007:25)
Essas decisões precisam de análise criteriosa, para que após sua ocupação, o
gestor do espaço possa fornecer segurança, conforto e bem-estar aos seus utentes.
Assim, o gestor ambiental deve conhecer o teor destes documentos institucionais do Ministério da Saúde e procurar garantir que o programa de controle de qualidade ambiental seja executado por profissional especializado, com domínio e conhecimento da ciência e dentro das exigências técnicas das normas. (TEIXEIRA; BRIONIZIO; PEREIRA; MAINIER, [s.d.]:4).
Existe uma grande associação entre conforto ambiental e sintomas entre
trabalhadores expostos a ambientes lacrados, que fazem uso de equipamentos
150
mecânicos para estabelecer o conforto térmico, analisando as especificidades do
entorno. As instituições localizadas em centros urbanos, são mais suscetíveis a
proliferação de fungos. Os dutos do ar condicionado, fazem circular a poluição
atmosférica que se encontra ao redor.
No meio urbano, a localização relativa, a orientação e as relações entre alturas, comprimentos e larguras dos edifícios, de acordo com a direção dos ventos dominantes e insolação, são de fundamental importância para o bom aproveitamento de recursos naturais e o menor consumo de energia elétrica para suprir deficiências de conforto ambiental. (SOUZA, 2006:9)
Na arquitetura de bibliotecas o bom desempenho bioclimático pode ser
estabelecido de maneiras diversas em cada ambiente da edificação. No caso da
biblioteca pode-se estabelecer algumas áreas zeladas para acomodar acervos
específicos. Outras áreas, como as de consulta e de trabalhos administrativos podem
fazer uso da ventilação natural. Em ambos os casos é necessário o conhecimento das
variações climáticas, da orientação dos ventos e assim também da insolação e radiação
solar.
O vento é importante para renovação do ar e para conforto térmico em regiões com clima quente-úmido. Em lugares com clima tropical de altitude (quente-úmido no verão e quente-seco no inverno), buscando sustentabilidade e conforto térmico, o espaço urbano deve permitir a ventilação no interior dos edifícios na estação quente-úmida, quando a temperatura externa não for maior do que a interna e , controle da ventilação na estação quente-seca. (SOUZA, 2006:9).
151
Figura 51: Prateleiras de livros contaminados por fungos - Biblioteca Central de Manguinhos. Fonte: (STRAUZS, 2001: 37)
A arquitetura como objeto de abrigo das coleções bibliográficas e das pessoas
que vêem em busca desse conhecimento, deve levar em conta as Normas Brasileira de
Regulamentação - NBR 15220 aprovada em de 29 de abril de 2005 - Desempenho
Térmico das Edificações. Nela há várias aferições a serem feitas para que a edificação
e todos os elementos complementares possam estabelecer um ambiente que siga os
padrões nacionais e internacionais para o acervo, mantendo a área seca e temperatura
baixa, para evitar a proliferação de fungos. No obstante es conocido que los sistemas
de climatización son difilcilmente sostenibles, económica y tecnicamente, a nível local.
(VALENTÍN e GARCIA, 2001:87)
Uma ventilação natural seria sempre a opção melhor para conservar a ambiência
climatizada. O uso do ar condicionado é benéfico ao usuário e ao acervo, quando em
152
funcionamento. Por economia de energia elétrica verificamos que muitas bibliotecas
têm por hábito a quebra dessa ambiência, desligando o aparelho em finais de semana.
Esse episódio traz mais malefícios do que benefícios ao acervo. Recomendado
seria que os equipamentos funcionassem de maneira ininterrupta. A economia aparente
redobra os prejuízos do que já foi aplicado desde a iniciação do prédio, como seu
funcionamento posterior. Não é, portanto, essa medida simplista, age de forma contraria
ao objetivo de manutenção e preservação do acervo. A mesma assertiva se aplica a
manutenção dos aparelhos que, da mesma forma, uma vez quebrados, interromperiam
o clima da ambiência.
El uso de sistemas de ventilação pasiva, com alternativa al aire acondicionado y como tratamento de biodeterioro, se está aplicando com resultados astisfactorios em museos y archivos ubicados principalmente em países de clima húmedos y cálidos que precisam um método seguro y de bajo costo para conservar sus fondos y colecciones. (VALENTÍN e GARCIA, 2001: 90)
Caso o projeto do edifício opte pelo uso de ar condicionado nas áreas de
reservas, principalmente na região norte do Brasil, onde usuários e acervos sofrem com
a instabilidade do calor extremo e de alta umidade. Para manter o ambiente interno
estável, é necessário seguir as normas da ABNT NBR 16401/2008 Instalações de Ar
Condicionado – Sistemas Centrais e Unitários publicada em setembro de 2008.
Em se tratando de bibliotecas, deve-se considerar que o volume de materiais
orgânicos atrativos a microorganismos é grande. Isso exige dos projetistas maior
cuidado ao adequar a ventilação do espaço. Certamente, dessa forma, outros
ambientes não estarão sujeitos a contaminação, em períodos posteriores ao término
dos trabalhos.
A NBR 16401 estabelece parâmetros básicos e os requisitos mínimos de projeto para sistemas de arcondicionado centrais e unitários. (...) só tem validade para sistemas novos, instalações novas ou parte de instalações existentes que são objetos de reformas, não se aplicando de modo retroativo em instalações existentes.( JOHNSON CONTROL , 2010:1)
153
Ao conceber uma biblioteca o arquiteto deve considerar que a grande massa de
material armazenado em seu interior é favorável a proliferação de fungos e partículas
poluentes. Em tais circunstâncias a climatização mecânica deve ser contemplada,
cuidadosamente, no projeto da biblioteca.
Há outros elementos a serem considerados pelo arquiteto que explicam o
funcionamento do ar condicionado e sua interação com a qualidade do ar interno.
Explicam Teixeira, Brionizio, Pereira e Mainier, também quais as doenças que se
desenvolvem nesses espaços fechados e riscos observados nas edificações. Isso,
muitas vezes, acarreta aumento da concentração de poluentes específicos na Síndrome
do Edifício Doente.
Se houver um péssimo dimensionamento do ar condicionado central e dos filtros de ar, bem como a manutenção do sistema, resultará em um ar não renovado suficientemente, contribuindo para o aumento da concentração de poluentes químicos e biológicos do ar interno, devido a baixa taxa de renovação do ar. (TEIXEIRA; BRIONIZIO; PEREIRA; MAINIER, [s.d.]:4).
Umidade relativa do ar e temperatura se relacionam de forma contraria. Quando
um elemento está em alta o outro está em baixa. Esse movimento é contínuo e quando
a diferença é para baixo fica criada a condensação, prejudicando o acervo.
Recomenda-se que a temperatura do ambiente seja estável para manter a umidade
relativa sob controle.
A umidade é a quantidade de vapor d´água contida na atmosfera. O ar a uma determinada temperatura possui um limite para a quantidade de vapor d´água que pode conter, e quando atinge esse limite, fica saturado. Quanto à temperatura e à umidade, a recomendação de consenso é manter a temperatura estável, no máximo 21ºC, e a umidade relativa também estável, entre um mínimo de 30% e um máximo de 50%. (CARVALHO, 1996:6 e 9)
A iluminação dos espaços internos da biblioteca deve seguir as normas técnicas
da ABNT NBR 5413/1982 Iluminância de interiores. Essa exigência é para todos os
espaços nela contidos, especialmente nos de leitura e administrativos. Tal medida
favoreceria o utente, no que se refere ao bom conforto visual.
154
Lembramos aqui que a norma, mencionada acima, estabelece manter a
iluminância entre 200 e 500 lux para espaços destinados a armazenamento das obras.
As coleções orgânicas devem ser expostas o mínimo possível a esse tipo de radiação.
Portanto, entre preservadores, é unânime o consenso de que as estanterias e áreas de
armazenamentos sejam expostos a 55 lux. Apenas, quando necessário, seria permitido
o uso de 150 lux.
As recomendações geralmente aceitas afirmam que os níveis para materiais sensíveis à luz, inclusive o papel, não devem exceder 55 lux (footcandles). Para os matérias menos sensíveis à luz, permite-se um máximo de 165 lux (quinze footcandles). (TRINCKLEY, 1997:12)
O controle da luz é impositivo no caso das coleções orgânicas, como já vimos em
capítulos anteriores. Aqui não pretendemos estabelecer quais materiais devem ou não
ser usados no projeto arquitetônico de uma biblioteca. Apenas esclarecemos o quanto é
importante estabelecer as barreiras contra os efeitos indesejáveis, como por exemplo -
filtros contra radiação ultravioleta e infravermelho. Lembrando que nossas políticas e
gestões desses patrimônios são morosas e requerem atenção dobrada para que tais
equipamentos mantenham sua eficiência.
Recomendamos ao que diz Michael Trinckley (1997) quanto a procedimentos
para que se realize a barreira contra sinistros. A partir do óbvio, o autor faz algumas
recomendações, tais como: em caso de incêndio dirigir o fluxo da água para contê-lo,
usando chaves hidráulicas, Acessado rápido a vários pontos do encanamento que, sem
dúvida, estará de acordo com as normas e outros detalhes, que seriam melhor
exemplificados, por meio da leitura de Trinckley.
A prevenção contra o ataque desses insetos começa na planificação do terreno a
ser construído. Essa é a primeira barreira a ser feita contra esses invasores. Outro
cuidado a ser tomado na fase de construção é a limpeza e de todo madeiramento ao
redor do terreno e também a remoção das tábuas utilizada nas fundações e obras do
prédio.
155
Normalmente não só o acervo gráfico deve ser submetido a tratamento, mas toda a construção. (...) O tratamento prévio do solo, a limpeza prévia do terreno (remoção de madeira) (...) Ainda que na construção é aconselhável utilizar madeira naturalmente resistente ou previa e adequadamente tratada. (LELIS, 1995: 7).
Uma das formas dos térmitas ultrapassarem o concreto e chegarem no interior
dos edifícios é por meio no madeiramento encostado ou dentro do concreto, que lhes
fornece a umidade necessária para a sobrevivência e da colônia.
Os cuidados na planificação do terreno – investigar e tratar a terra - antes do
início da construção é a melhor prevenção contra o ataque desses insetos. Essa é a
primeira barreira a ser construída contra tais invasores. Outro cuidado a ser tomado na
fase de construção é a limpeza. Todo o madeiramento ao redor do terreno deve ser
limpo, como também a remoção das tábuas utilizadas nas fundações e obras do prédio.
Normalmente não só o acervo gráfico deve ser submetido a tratamento, mas toda a construção. (...) O tratamento prévio do solo, a limpeza prévia do terreno (remoção de madeira) (...) Ainda que na construção é aconselhável utilizar madeira naturalmente resistente ou previa e adequadamente tratada. (LELIS, 1995:7).
Cabe exemplificar a infestação que houve no Museu de Arte Sacra de Salvador –
Bahia - antigo convento de Santa Tereza. Construído em 1696 e diagnosticado e
desinfestado por um grupo de especialistas em agentes deterioradores de madeira -
brocas-de-madeira e cupins. O diagnóstico realizado no Museu de Arte Sacra
abrangeu: a edificação (componentes de madeira estruturais e não estruturais); a área
em torno da edificação (jardins, esteacionamento e pequenas edificações); e uma
amostra do acervo incorporado e móvel. (BRAZOLIN; LELIS; LOPEZ; GUIMARÃES,
1994:2). Vale ressaltar aqui apenas os pontos referentes à edificação do prédio. A
química e especialista em celulose e papel, Norma Cianflone Cassares, alerta sobre
essa espécie de xilófagos:
Os cupins percorrem áreas internas de alvenaria, tubulações, conduítes de instalações elétricas, rodapés, batentes de portas e janelas etc., muitas vezes fora do alcance de nossos olhos. Chegam aos acervos em ataques massivos, através de estantes coladas às paredes, caixas de interruptores de luz, assoalhos etc. “Com muita frequência, quando os cupins atacam o acervo, já estão instalados em todo o prédio. (CASSARES, 2000:25).
156
No Museu de Arte Sacra, constatou-se a presença de várias colônias de quatro
espécies de cupins, o que demandou tratamentos distintos para cada uma delas. No
caso das colônias de cupins-de-solo, os especialistas esbarraram nas dificuldades em
perfurar uma edificação tombada pelo patrimônio histórico e, os arborícolas, são
capazes de transpor a barreira química protetora. Ou seja, qualquer tratamento
posterior a construção é danoso ao patrimônio material pelas dificuldades que se
encontram no local para se estabelecer uma barreira química entre o solo e o edifício e
assim evitar novos ataques. Os insetos infestaram intensamente as peças de madeira
da edificação, sendo os cupins-de-solo e os arborícolas os que causaram os maiores
danos nas peças estruturais, demonstrando também que foram utilizadas espécies de
madeira susceptíveis ao ataque desses insetos. (BRAZOLIN; LELIS; LOPEZ;
GUIMARÃES, 1994:13).
As brocas e cupins encontradas no Museu de Arte Sacra chegaram as
edificações e infestaram o acervo por meio do madeiramento utilizados na estrutura da
casa. As madeiras infectadas, segundo a investigação, também eram suscetíveis ao
ataque desses insetos e serviram de túneis umidificados para seu deslocamento entre o
local de nidificação da colônia e a fonte de alimento. Algumas dessas colônias se
localizavam abaixo do jardim e nas árvores. Encontraram, também, uma manifestação
de fungos em algumas madeiras, como relatam os especialistas:
A ocorrência de fungos apodrecedores foi pequena e, normalmente, relacionada a pontos de vazamento/ infiltração de água. Foi observado que os detalhes construtivos da edificação, tais como paredes espessas, sistemas de calhas e beirais largos, não favoreceram o acúmulo de água e, conseqüentemente, dificultaram o apodrecimento das madeiras. (BRAZOLIN, LELIS, LOPEZ, GUIMARÃES, 1994:11).
Deve-se exterminar, sempre que possível, a colônia toda. Eliminar apenas a
rainha não significa que destruiu a colônia. Algumas espécies e principalmente as que
se adaptam ao meio urbano elegem um novo casal real74 para dar continuidade a
74 Profº Drº Antônio Tadeu de Lelis no período em que estudava na França descobriu que os cupins por serem insetos extremamente sociais e primam pela sobrevivência da colônia, na falta do casal real, elege outro casal para substituí-los e assim garantir a continuidade de colônia ou o que restou dela, por isto o nome rainha de substituição.
157
colônia. Por esta razão, o tratamento de uma área construída infestada de cupins,
torna-se mais complexo.
Entra aqui, uma vez mais, o arquiteto, a quem caberia a preocupação de, já no
início da construção do edifício, trabalhar com madeiras pré-tratadas:
Finalmente, mas não a última, é que os insetos formam o grupo animal com maior capacidade de adaptação aos mais diversos ambientes. Portanto, espécies hoje úteis ou inofensivas podem tornar-se prejudiciais em função de uma incorreta intervenção do homem na natureza. Para evitar o ataque de cupins, brocas de madeira ou de outros organismos xilófagos, o emprego de madeira preservada é a recomendação básica. Entretanto, o uso de madeira preservada no Brasil é ainda bastante limitado e, particularmente no caso da construção civil e mobiliário não há especificações técnicas para madeira preservada nesses casos. Além disso, a preservação é um processo geralmente adotado no final do beneficiamento da madeira e, se quisermos evitar que até lá ela não sofra ataque de organismos xilófagos, outros procedimentos devem ser adotados. Se considerarmos todos os insetos xilófagos anteriormente mencionados, a prevenção contra eles exige medidas que vão desde a árvore viva até o produto final, uma vez que há diferentes espécies, particularmente de brocas, atacando a madeira nas diferentes fases do seu beneficiamento. (LELIS, 2000: 84 e 86).
O projeto arquitetônico da biblioteca deve contemplar o máximo possível a
preservação do acervo a que se destina. E essa preservação tem início, segundo
Antonio Tadeu de Lelis, na escolha dos materiais construtivos para que o prédio não
seja um veículo de entrada de organismos indesejados ao acervo, bem como dos
microorganismos, que, ao contaminar o acervo, possam atingir os seus utentes. O
arquiteto consciente e reflexivo carrega consigo a responsabilidade de conhecer
perfeitamente a origem do madeiramento descartável durante a obra e, também, aquele
de uso definitivo – telhados, batentes, portas, etc. Esse é um agir preventivo, uma vez
que evitará a infestação do prédio, posteriormente a sua desinfestação, poupando a
tanto os usuários do espaço, quanto seu acervo, do contato nocivo com produtos
químicos agressivos.
158
Assim, o controle dos insetos xilófagos exige como primeira tarefa a análise da situação nos diferentes ambientes: mata, serraria, marcenaria, fábrica de móveis e, se houver algum problema, diagnosticá-lo corretamente, verificando o tipo de inseto e o conjunto de condições que estão favorecendo sua presença. Com o diagnóstico pronto e em função das limitações impostas, podemos então buscar dentre os diferentes procedimentos aquele ou aqueles que oferecem o melhor resultado com o menor risco para a madeira e usuários. (LELIS, 2000:89).
O projetista do espaço a ser construído, reformado, ou mesmo adaptado, deve
adotar uma postura interdisciplinar, concebendo uma equipe com os profissionais das
áreas de climatização ambiental, preservadores e corpo administrativo da instituição.
Esse grupo de especialistas pode avaliar cuidadosamente as necessidades internas do
ambiente, de acordo com as normas previamente estabelecidas em nossa legislação, e
contemplar todas as necessidades do acervo e dos usuários do edifício.
159
CONSIDERAÇÕES FINAIS
A arquitetura é pouco conhecida, no que concerne a sua abrangência de
encargos e detalhes, tal qual ela é. Para o vulgo, arquiteto é aquele profissional que
cuida da beleza da casa e dos jardins. É claro que nunca pertenceremos a esse tipo de
consumidor.
Surpreendeu-nos, entretanto, quando, ao nos interessarmos pela conservação
do livro nas bibliotecas, tal assunto poderia ser tão abrangente como foi. Existiu a
paixão, sim, propulsora da investigação e constatação de fatos – com o apoio teórico
requerido – para trilharmos os caminhos apontados pela investigação propriamente dita.
O trabalho permitiu que tivéssemos acesso aos problemas que envolvem a
preservação dos livros e a concepção de um projeto arquitetônico.
O projeto arquitetônico, no nosso entendimento, alicerçado no apoio teórico
requerido, deve ser criado, com um olhar minucioso em cada uma das especificidades
dos materiais da coleção, para que possa contemplar as políticas de preservação da
memória cultural pertencente ao invólucro.
Identificamos a relação existente entre acervo – edifício e sua importância para a
durabilidade dessas coleções. Constou-se também a pertinência de diversos olhares e
saberes na concepção do projeto arquitetônico da biblioteca, para que juntos definam o
melhor para o acervo e usuários.
Cada instituição, bem como o acervo, possui suas particularidades; no entanto,
todos necessitam de cuidados quanto à luminosidade, umidade e temperatura. Para
isso, é necessário manter os espaços internos dentro de uma área de conforto que
satisfaça aos usuários e a coleção de guarda.
Discutimos a importância do projeto arquitetônico da biblioteca considerar a
topologia de lugar, suas condições climáticas e outros fatores que, futuramente,
160
incidirão sobre a edificação. Incorporando em sua concepção os princípios da
arquitetura bioclimática.
Uma biblioteca pode valer-se dos benefícios do entorno, da climatologia regional
e local, dos elementos naturais que lhe são dados e eliminar os elementos
desfavoráveis. Desta forma, o arquiteto poderá estabelecer, juntamente com os
gestores do estabelecimento, uma equipe interdisciplinar que tenha o olhar no fim
maior da instituições – a salvaguarda do saber contido nos acervos bibliográficos.
Analisamos, também, os efeitos da luz sobre as edificações, sua incidência sobre
as coleções e as fragilidades que impõe ao livro. Constata-se que a arquitetura pode e
muito estabelecer barreiras contra os efeitos danosos que tal provoca ao acervo.
A luz ultravioleta pode ser totalmente eliminada até mesmo em ambientes de
leitura, já que a mesma não interfere na visibilidade do ser humano. O estudo do
comportamento da luz sobre os objetos e o espaço construído pode colaborar muito
para a longevidade das coleções em questão.
Estudamos sobre a umidade das paredes e sua influência no espaço de
armazenamento das coleções. É mister conhecer os materiais construtivos e suas
funcionalidades, para que se possa estabelecer um bom intercâmbio entre ambiente
interno e externo.
Prédios antigos destinados a acervos bibliográficos devem se adequar as novas
funcionalidades e necessidades de ocupação. A ampliação dos espaços ou criação de
novos deve respeitar as especificidades de cada construção e ser reavaliados com
base em estudos referentes ao período de sua concepção, materiais construtivos e o
sítio ao qual está inserido.
Ora, essas construções, muitas vezes, são tombadas pelo patrimônio histórico.
Portanto, cabe responsabilidade redobrada do arquiteto responsável por reformas
nesses edifícios, seja para adequações aos novos tempos ou sua manutenção para
161
melhor cumprir sua missão de salvagarda de uma coleção bibliotecária. É sabido que a
condição das paredes da biblioteca muito contribuirá para a longividade das coleções.
Analisamos questões referentes às patologias das construções, que abrigam
acervos frágeis em seu interior. Quais os tipos de umidades, existentes em suas
paredes, que podem migram para o interior do edifício, alterando a umidade relativa do
ar dos ambientes internos da edificação.
Percebemos a complexidades das construções ao estudarmos sobre fundações
permeáveis ou não, capilaridade, infiltrações sazonais, evaporação das paredes e
outras variáveis, que em muitos casos são previsíveis e podem ser evitados ou mesmo
contornados.
Observamos a ambiência que se estabelece na área de armazenamento das
coleções e que são favoráveis ao desenvolvimento de microorganismo e outros insetos.
Percebemos a responsabilidade do arquiteto, ao conceber o edifício, ao criar o
ambiente interno de reserva, considerando os fatores ambientais e contemplando as
necessidades do acervo e usuários.
A arquitetura, indubitavelmente, traz para si todas as responsabilidades, ao
assumir projetos de edificação, assim como a edificação propriamente dita. Embora, por
vezes, não tenhamos mencionado isso com todas as letras, parece-nos óbvia essa
colocação. Podemos, nesta oportunidade, abordar problemas de pragas. A intenção,
entretanto, é detalhar a vida secreta dos organismos que atacam os acervos, quer para
conhecê-los, contratacá-los ou mesmo evitá-los. Alimentamos a esperança de que
esse estudo possa ser um tributo à própria arquitetura, uma vez que discrimina o
mundo quase inatingível das pragas, para melhor conhecer a sua rede vital.
Por fim, descrevemos as condições ideais para a preservação do acervo e
sugerimos alguns procedimentos construtivos que estabelecem uma ambiência
favorável a utentes e coleções, levando em conta a ventilação, iluminação e outros
fatores que podem ser previstos no seu entorno, ou mesmo estabelecendo as barreiras
necessárias no projeto para evitar surpresas desfavoráveis adivindas do sítio.
162
Nessas considerações, esperamos haver alcançado – ainda que em parte – os
objetivos propostos. Apenas como reforço, vale salientar que o nosso assunto
encontra-se longe de ser concluso. É nosso desejo haver contribuído para, por esse
instrumento, despertar a curiosidade e a implementação desses estudos, oferecidos à
sociedade como contribuição parcial para melhorar o estado das bibliotecas presentes,
passadas e futuras, com o empenho da arquitetura para tal fim. Assim, o debate está
posto.
163
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Foto 18 Ambiente interno do Real Gabinete de Leitura Português - Varandas Foto: Elisa de Mello Kerr Azevedo – 2008.
Figura 19 Porta de Acessado ao salão de leitura pela rua Luis de Camões. Foto: Elisa de Mello Kerr Azevedo – 2008
Figura 20
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Figura 28 Acessado ao prédio pela Praça da Reitoria da USP. Fonte: Disponíveis em < http://www4.usp.br/arquivos > Acessado em 20 de maio de 2009.
Figura 29 Acessado ao prédio pela Av. Prof. Luciano Gualberto. Fonte: Disponível em < http://www4.usp.br/arquivos > Acessado em 20 de maio de 2009.
Figura 30 Vista das bibliotecas da IEB, à direita, e biblioteca Guita & José Mindlin ao fundo. À esquerda, temos a cafeteria e saída pela Av. Prof. Luciano Gualberto. Fonte: Disponíveis em < http://www4.usp.br/arquivos > Acessado em 20 de maio de 2009.
Figura 31 Vista das bibliotecas da IEB, à direita, e biblioteca Guita & José Mindlin ao fundo. À esquerda, temos a cafeteria e saída pela Av. Prof. Luciano Gualberto. Fonte: Disponíveis em < http://www4.usp.br/arquivos > Acessado em 20 de maio de 2009.
Figura 32 Bibliotecas Brasiliana e IEB, projetadas pelos arquitetos Eduardo de Almeida e Rodrigo Mindlin Loeb, 2008. Corte transversal – praça de Acessado ao café, dois salões de exposições e auditório. Fonte: (PUNTONI, 2007:66-67).
Figura 33 Bibliotecas Brasiliana e IEB, projetadas pelos arquitetos Eduardo de Almeida e Rodrigo Mindlin Loeb, 2008. Fonte: (PUNTONI, 2007:64).
Figura 34 Bibliotecas Brasiliana e IEB, projetadas pelos arquitetos Eduardo de Almeida e Rodrigo Mindlin Loeb, 2008. Fonte: (PUNTONI, 2007:65).
Figura 35 Espectro da luz visível Fonte: Manual Luminotécinico Prático OSRAM.[s.d.].p.2
Figura 36 Vista interna da Biblioteca Nacional de Brasília. Fonte: Moreno Barros – 2009.
Figura 37 Espaço interno da Biblioteca Nacional de Brasília.
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Fonte: Moreno Barros – 2009.
Figura 40 Tabela referente aos dados fornecidos pelo artigo acima em comparação com as ABNT de Iluminância interior .
Figura 41 Livro de Ata (1903) da Escola Normal de Campinas, infestado de cupins e brocas. Fonte: Disponível em <http://www.unicamp.br> Acessado em 10 de junho de 2010.
Figura 42 Sessão de obras raras Assuerus Overmeer – 1970. Fonte: (BORTOLETTO; SANT'ANNA, 2002:12)
Figura 43 Ambiência do salão de leitura da sessão de obras raras Assuerus Overmeer – 1990. Fonte: (BORTOLETTO; SANT'ANNA, 2002:13)
Figura 44 Vista do entorno da nova Biblioteca Central de Manguinhos Fonte: Disponível em <http://picasaweb.google.com> Acessado em 12 de junho de 2010.
Figura 45 Vista da entrada da Biblioteca Central de Manguinhos Fonte: Disponível em <http://www.fiocruz.br> Acessado em 15 de junho 2010.
Figura 46 Contaminação do acervo e ambiente por fungos - Biblioteca de Manguinhos Fonte: (STRAUSZ, 2001:36 e 39).
Figura 47 Contaminação do acervo e ambiente por fungos - Biblioteca de Manguinhos Fonte: (STRAUSZ, 2001:36 e 39).
Figura 48 Limpeza dos ambientes - Biblioteca de Manguinhos - contaminados por fungos – com utilização de aspirador de pó máscars com filtros especiais. Fonte: (STRAUSZ, 2001:44).
Figura 49 Restauração do acervo do Cartório de São Luiz do Paraitinga – Inundação em janeiro de 2010. Fonte: Disponível em <http://www.arpensp.org.br> Acessado em 15 de junho de 2010.
Figura 50 Restauração do acervo do Cartório de São Luiz do Paraitinga – Inundação d janeiro de 2010. Fonte: Disponível em <http://www.arpensp.org.br> Acessado em 15 de junho de 2010.