o ensino universitÁrio no contemporÂneo:...
TRANSCRIPT
Performances Interacionais e Mediações Sociotécnicas Salvador - 10 e 11 de outubro de 2013
O ENSINO UNIVERSITÁRIO NO CONTEMPORÂNEO: EDUCAÇÃO EM TEMPOS
DE SOCIABILIDADES E INTERAÇÕES MEDIADAS PELAS REDES.1
CASTRO, Rodrigo.2
Resumo: A pesquisa constitui-se na análise de um grupo do Site de Rede Social (SRS)
Facebook, possuindo recursos investigativos apoiados no Estudo de Redes Sociais, bem como
na Análise de Redes Sociais (ARS). Objetiva-se problematizar o ensino universitário no
contemporâneo com base nas interações do grupo. Sabe-se que ambientes online não
institucionalizados são vistos como espaços de entretenimento, contudo nossos alunos estão
imersos em um fluxo de informações e saber aproveitar a multiplicidade desses ambientes
tornou-se um processo necessário. Com base nos dados observa-se a quebra dos paradigmas
hierárquicos no ensino, tendo em vista a iniciativa e participação ativa da maioria dos
discentes presentes neste grupo.
Palavras-chave: Sites de Redes Sociais (SRS); Análise de Rede Social (ARS); Facebook;
Educação; Ensino universitário.
Abstract: The research is the analysis of Social Network Site (SNS) Facebook group, having
supported investigative resources in the Study of Social Networks, and the Social Network
Analysis (SNA). Aims problematize the contemporary university education based on group
interactions. Known to that online non-institutionalized environments are seen as
entertainment venues, yet our students are immersed in a information flow and to advantage
the multiplicity of these environments has become a necessary process. Based on the data we
observed the breakdown of hierarchical paradigms in education, in view of the initiative and
active participation of the majority of students present in this group.
Keywords: Social Networking Sites (SNS), Social Network Analysis (SNA), Facebook,
Education, University teaching.
1 SOCIABILIDADES, JUVENTUDES E ENSINO NO CONTEMPORÂNEO
Atualmente observa-se mudanças nos dispositivos tecnológicos (gadgets), em especial
os voltados para as interações através das mídias sociais, junto dessas alterações o modo como
a juventude comunica-se, estuda e procura informações também sofreu modificações. Palfrey
e Gasser (2011, p.15), indicam que os nativos digitais “não apenas encaram a amizade de
maneira diferente de seus pais; eles também se relacionam com a informação de modo
diferente”. Porém, quais clusters3 estão inseridos nessa juventude? Barbosa (2012, p.25), ao
expor a pluralidade do conceito explica a, também, variedade do mesmo, pois estamos
1 Artigo submetido ao Núcleo de Trabalho 4 – Sociabilidade, novas tecnologias, educação e aspectos cognitivos – do Simpósio em tecnologias digitais e sociabilidade – Performances interacionais e mediações sociotécnicas (SIMSOCIAL), de 10 a 11 de outubro de 2013, na Faculdade de Comunicação – UFBA, Salvador, Bahia. 2 Mestrando do Programa de Pós-Graduação em Educação da Faculdade de Educação, , Universidade Federal de Pelotas – FaE/UFPEL. Integrante do grupo de pesquisa Comunicação, Cultura, Tecnologias e Modos de Subjetivação – CoCTec/UFPEL. E-mail: [email protected] 3 Idem nota 8.
Performances Interacionais e Mediações Sociotécnicas Salvador - 10 e 11 de outubro de 2013
falando de “jovens com diferentes redes de pertencimentos, mas essas mesmas redes mudam
o tempo todo”.
Com esses gadgets os discentes contemporâneos encontram-se permeados por redes
com diversas entradas e saídas em uma rapidez informacional sobre-humana. Dentre os
conectores desse fluxo informativo constante encontram-se, por exemplo, feeds dos Really
Simple Syndication (RSS), bancos de dados em wikis e diferentes Sites de Redes Sociais
(SRS). Considerando que os sujeitos percorrerem as redes telemáticas descritas, os mesmos
possuem modos de interação contrários aos ocorrentes nos hierárquicos ambientes virtuais de
aprendizagem (AVA) institucionalizados.
Palfrey e Gasser (2011, p.19), citam a contradição de nossa sociedade, a qual mesmo
admitindo os modos de ser da juventude contemporânea vai contra esses hábitos, “em vez de
preparar os garotos para lidar com um ambiente complexo e explodindo de informações”
estamos institucionalizando ambientes de controle para o ensino no contexto online. Freitas
(2009, p.9), destaca a necessidade dos professores compreenderem o “próprio contexto em
que vivem os seus alunos no qual a informatização já se faz presente”.
Os SRS vêm gradativamente obtendo notoriedade entre a juventude contemporânea
como ambiente de socialização, no entanto, cresce a busca por diferentes informações nesses
nichos, demonstrando outras apropriações desses ambientes pelos sujeitos. Segundo Castro e
Sperotto (2012, p.8), “o brasileiro é o terceiro maior usuário mundial de redes sociais, atrás
apenas dos EUA e da Rússia”. Em nosso país foi registrado, segundo dados da consultoria
Social Bakers4, a quantia de 71 milhões de usuários no SRS Facebook.
À vista desses dados, o trabalho objetiva problematizar as sociabilidades presentes
nesses ambientes dos quais vem se mostrando fecundo às práticas de ensino universitário.
Como corpus de pesquisa explorar-se-á as interações do grupo de Fundamentos Psicológicos
da Educação5 do curso de matemática licenciatura integralmente presencial - Universidade
Federal de Pelotas (UFPEL), o mesmo encontra-se no SRS Facebook, tendo seu início no
primeiro semestre de 2012.
4http://goo.gl/uy4UK (acesso em 17 de Abr. 2013). 5 Disciplina obrigatória ofertada pela Faculdade de Educação FaE/UFPEL, Departamento de Fundamentos Psicológicos da
Educação, ministrada pela Prof. Dr. Rosária Sperotto.
Performances Interacionais e Mediações Sociotécnicas Salvador - 10 e 11 de outubro de 2013
2 PILARES INVESTIGATIVOS: PARTE I - ANÁLISE DE REDE SOCIAL (ARS)
Segundo Fragoso, Recuero e Amaral (2011, p.115), o estudo de redes sociais é
baseado em premissas da ARS possuindo foco estruturalista, pois “estuda as estruturas
decorrentes das ações e interações entre os atores sociais”. A ARS é conceituada “como uma
metodologia que se aplica ao estudo das relações entre entidades e objetos de qualquer
natureza” (FAZITO, 2002, p.10).
Freeman (2004 apud FRAGOSO; RECUERO; AMARAL, 2011), cita que a ARS
nasce de um conjunto com foco empírico, sistemático, matemático e gráfico. Os gráficos
característicos desse tipo de análise são representados pelos sociogramas, “isto é, diagramas
de redes que permitem a visualização da estrutura que está sendo estudada” (MARTELETO;
SILVA, 2004, p.42).
A ARS tem como foco os laços relacionais, porém não impede o estudo dos atributos
individuais presentes nessas relações (MATHEUS; SILVA, 2005), sendo assim uma análise
que parte deste método pode ser feita da rede como um todo ou de pontos (nós) específicos
desse sistema. A aplicação dada à investigação possui dois focos de análise; A utilização
estática e a dinâmica.
Marteleto (2001), indica que existe uma “teoria das redes sociais”, mas sim o emprego
de múltiplas teorias sociais que necessitam dos dados empíricos e identificações dos
nós/conexões. A própria rede em si, na ARS, não possui um centro de controle, por exemplo,
um nó-professor que desfrute de recursos exclusivos no sistema. “De forma diferente das
instituições, as redes não supõem necessariamente um centro hierárquico e uma organização
vertical, sendo definidas pela multiplicidade quantitativa e qualitativa dos elos entre seus
diferentes membros” (MARTELETO, 2001, p.71).
Inicialmente os pesquisadores trabalhavam com números reduzidos de indivíduos
(nós), pois “como em análises desse tipo o número de conexões possíveis cresce
exponencialmente” havia a necessidade de restringir os grupos estudados. A partir dos anos
70 ocorreu o aumento da capacidade de processamento dos computadores e desenvolvimento
de softwares adequados para o tratamento dos dados (MARTELETO, 2004, p.42).
Atualmente possuímos diversos crawlers6 (FRAGOSO; RECUERO; AMARAL, 2011) que
facilitam a coleta de dados e posterior análise de grandes grupos no contexto online.
6Rastreadores de hipertextos que armazenam dados da web.
Performances Interacionais e Mediações Sociotécnicas Salvador - 10 e 11 de outubro de 2013
Quanto ao uso desse método, Fazito (2002), resume parte da utilização da ARS
quando descreve:
O que a ARS procura fazer é estabelecer um meio objetivo de identificar
conexões (laços ou relações) e pontos (nós ou atores) dentro de um sistema
determinado (uma rede pessoal ou total, por exemplo) e, desse modo, representar
padrões estruturais de relações que podem ser mais ou menos constantes, ou totalmente imprevisíveis e não-lineares. (FAZITO, 2002. p. 3).
Fazito (2002, p.14), diz, ainda, que “a análise de redes sociais começa com a ideia de
que as relações não surgem aleatoriamente, mas estão vinculadas na rede”. Já Fragoso,
Recuero e Amaral (2011), acrescentam a necessidade de balizar as fronteiras da rede que se
pretende pesquisar, bem como denominar de forma clara os componentes da mesma e suas
conexões.
3 PILARES INVESTIGATIVOS: PARTE II - ESTUDOS DE REDES SOCIAIS
Na crescente utilização dos SRS em diferentes campos de pesquisa destaca-se a área
do marketing, essa está se tornando eficaz e influente através dos profissionais de Social
Media7. Percebe-se, também, intensa preocupação em aproximar tais estratégias
metodológicas do campo educacional. Silva (2011), destaca algumas possibilidades ao utilizar
a internet em pesquisas na área da educação:
O crescimento e a popularização da internet e o seu uso intensivo no meio
acadêmico, faz desse meio uma excelente oportunidade para o desenvolvimento de
pesquisa no contexto educacional, enfocando a participação dos jovens em redes
sociais, na interação entre seus interlocutores, autoria coletiva em blogs e demais interfaces de comunicação, além dos aplicativos inseridos em dispositivos móveis.
(SILVA, 2011, p.7).
A cibercultura possibilita outros modos de vida e hábitos para os sujeitos ao se
relacionarem através dos SRS, surgindo novas práticas que disseminam discursos produtores
de “verdades”.
Na contemporaneidade, engendramos verdades e somos engendrados por
elas. Para além de uma perspectiva mais certa ou errada sobre a validade ou não da
propriedade intelectual, o importante é destacar que todas essas valorações são
resultado de disputas eminentemente determinadas pela cultura datada no tempo e
fixada geograficamente. E que esta é uma sociedade profundamente marcada pelas
tecnologias da comunicação, pela exaltação do consumo e pelo caráter cada vez mais
fluido do capital. (HENNING, 2013, p.40).
Um SRS fornece estrutura para a propagação desses discursos dos quais somos
engendrados, além de mapear estilos, comportamentos e intercâmbios entre sujeitos, pois “ao
7 A disciplina de social media abrange o estudo do relacionamento e as interações dessas pessoas nas diversas plataformas, a
fim de incluir uma marca ou um produto no diálogo já estipulado. http://goo.gl/n7bnk (acesso em 11de março de 2013).
Performances Interacionais e Mediações Sociotécnicas Salvador - 10 e 11 de outubro de 2013
estudar as estruturas decorrentes das ações e interações entre os atores sociais é possível
compreender elementos a respeito desses grupos e, igualmente, generalizações a seu respeito”
(FRAGOSO; RECUERO; AMARAL 2011, p.115).
Mas o que seria uma rede social? Ou um SRS propriamente dito? Segundo Recuero
(2009), o próprio conceito de rede social é uma metáfora proposta na teoria das pontes de
Konigsberg por Leonard Euler;
Euler, em seu trabalho, demonstrou que cruzar as sete pontes sem jamais
repetir um caminho era impossível. Para tanto ele conectou as quatro partes terrestres
(nós ou pontos) com as sete pontes (arestas ou conexão), mostrando a inexistência da
referida rota e criando o primeiro teorema da teoria dos grafos. (RECUERO, 2009, p.19).
Entendendo a metáfora da rede social é possível compreender metodologias que
estudam à ARS na internet, pois estamos tratando de um modo de interação presente em uma
sociedade que se encontra cada vez mais estruturada como rede (FRAGOSO; RECUERO;
AMARAL, 2011).
Boyd & Ellison (2007) elencaram três requisitos que certificam um ambiente online
como um SRS.
(1) Construir um perfil público ou semi-público dentro de um sistema
limitado, (2) articular uma lista de outros usuários com quem se compartilha uma
conexão, e (3) ver e percorrer a sua lista de conexões e aquelas feitas por outros
dentro do sistema. A natureza e nomenclatura dessas conexões podem variar de site
para site. (BOYD & ELLISON, 2007, p.1).
Já Wellman et al. (1996), indicam que um site ou software é caracterizado como um
ambiente social quando as redes de computadores conectam pessoas e máquinas. Em ambos
os casos, “perfis do Orkut, Weblog, Fotologs etc. são pistas de um ‘eu’ que poderá ser
percebido pelos demais. São construções plurais de um sujeito, representando múltiplas
facetas de sua identidade” (RECUERO, 2009, p.30).
Atualmente o Brasil é o país que mais cresce em número de usuários do Facebook.
“Segundo números do site SocialBakers, 3,6 milhões de brasileiros se cadastraram na rede
social durante os últimos três meses – crescimento de 5,4% em relação ao total de 66 milhões
de usuários”8. Com base nesses dados consegue-se visualizar que os brasileiros participam de
forma ativa no contexto das redes sociais online.
Cabe ressaltar que cada SRS possui especificidades, finalidades e peculiaridades
distintas. Porém, mesmo que cada SRS se diferencie uns dos outros por seus recursos, todos
possuem uma delimitação dos objetos, bem como dados de composição, estruturais e
8 http://goo.gl/ajhdb (acesso em 05 de março de 2013).
Performances Interacionais e Mediações Sociotécnicas Salvador - 10 e 11 de outubro de 2013
dinâmicos conceituados de forma comum, denominados dentro do Estudo de Redes Sociais
de propriedades dos dados (FRAGOSO; RECUERO; AMARAL, 2011).
Dentro da delimitação dos elementos possuímos dois conceitos: Ator (nó) e conexão
(aresta). O primeiro pode ser representado por um perfil ou mesmo um dispositivo, neste caso
“não são atores sociais, mas representações dos atores sociais” (RECUERO, 2009, p.30).
Segundo a autora os nós presentes na rede social atuam “modelando” as estruturas sociais
através das interações.
Já o segundo pode ser “um link, uma quantidade de comentários, comentários
recíprocos, ‘amigos’ do sistema etc.” (FRAGOSO; RECUERO; AMARAL, 2011, p.119). De
forma geral as conexões são trocas sociais (comunicações e/ou interações) que dão o
movimento a rede, sendo o principal foco de estudos dos SRS, pois caracterizam-se como o
processo comunicacional propriamente dito, do mesmo modo que são as matérias primas das
relações e laços sociais (RECUERO, 2009).
Nota-se que até a própria comunicação entre os sujeitos reconfigura-se no ciberespaço,
podendo ser síncrona, como se estivéssemos conversando com alguém em tempo real e no
mesmo ambiente offline, ou ainda assíncrona, quando mandamos um e-mail ou deixamos uma
mensagem para alguém que irá verificar após algum tempo.
Quanto aos dados de composição, os mesmos tendem a ser utilizados por
pesquisadores que priorizem os estudos qualitativos. Dentre eles temos os laços sociais; são
os vínculos estabelecidos entre dois ou mais nós, podendo ser classificados como fortes ou
fracos, variando conforme a magnitude e intimidade entre os atores. Mesmo a maioria das
pesquisas, principalmente as ligada ao consumo, deterem suas investigações nas relações
presente nos laços fortes, Recuero (2009, p.41) destaca o valor dos laços fracos, pois “são eles
que conectam os grupos, constituídos de laços fortes, entre si”.
Também temos, ainda dentro dos dados de composição, o capital social; Segundo
Fragoso, Recuero e Amaral (2011), podendo ser entendido como um conjunto de valores
criado pelos usuários de um SRS. As autoras denominam como os recursos de um
determinado grupo, usufruídos por todos e baseado na reciprocidade. O capital social se da
através das interações, porém, não é a interação em si, o mesmo é baseado em três pilares;
relações sociais, reciprocidade e conteúdo (RECUERO, 2009).
Podemos, assim, perceber que a construção de capital social não é
inteiramente emergente, mas também uma consequência da apropriação social das ferramentas de comunicação na internet. (RECUERO, 2009.
p.115).
Performances Interacionais e Mediações Sociotécnicas Salvador - 10 e 11 de outubro de 2013
Como o próprio nome já diz, os dados de estrutura descrevem a estruturação de uma
rede social na internet. Dentre eles tem-se o grau de conexão, densidade, centralidade e a
centralização. Todos esses conceitos delimitam o desenho de uma rede social (grafo ou
sociograma), onde as linhas simulam conexões e os pontos representem os atores presentes no
sistema.
Um grafo é, assim, a representação de uma rede, constituída de nós e
arestas que conectam esses nós [...] Essa representação de rede pode ser
utilizada como metáfora para diversos sistemas. Um conglomerado de rotas
de voo e seus respectivos aeroportos, por exemplo, pode ser representado
como um grafo. (RECUERO, 2009. p.20).
Quanto ao grau de conexão, esse configura-se como a quantidade de conexões de um
certo ator. “É, assim, também uma descrição de quantos nós compõe a vizinhança de um
determinado nó” (FRAGOSO; RECUERO; AMARAL, 2011. p.124). A densidade é a
“medida que descreve o grau de conexão de uma determinada rede” (FRAGOSO;
RECUERO; AMARAL, 2011, p.125). Quanto maior for à quantidade de conexões, mais
clusterizado9 será o grafo representado. A centralidade tem relação com a quantidade de
conexões de um determinado nó, quanto mais conexões, mais central em relação ao grafo esse
ator se encontrará. Esse conceito refere-se, também, à medida de popularidade de um nó, uma
vez que o alto nível de conexão indica um número elevado de interações com o mesmo. Por
fim a centralização é o nível de centralidade de um grafo.
Dentro dos dados dinâmicos evidencia-se o funcionamento da rede, pois os SRS
oportunizam intercâmbios entre os atores através das conexões. As autoras citam os
comportamentos emergentes como um dos resultados dessas interações, bem como a
constituição de mundos pequenos10
e/ ou clusters11
. (FRAGOSO; RECUERO; AMARAL,
2011).
Dentro das apropriações feitas pelos atores, Recuero (2009) destaca o aparecimento
frequente de comportamentos emergentes nesses ambientes, tais como a construção de
identidades nas comunidades do Orkut12
, sendo assim uma “forma de construir uma
perspectiva de quem se é no sistema” (RECUERO, 2009, p.91).
9 A palavra clusterizado é uma derivação da palavra em inglês “cluster”. Em português significa “grupo”. (Fragoso, Recuero e Amaral, 2011). 10 O conceito de mundo pequeno tem relação com a teoria dos graus de separação. Milgram (1956) é a referência em experimentação desse estudo. (Recuero, 2009). 11 Idem nota 8. 12 A palavra ‘comunidade’ se refere a um recurso presente no SRS Orkut e não a uma vertente teórica específica que descreva
o conceito de comunidade. (www.orkut.com.br).
Performances Interacionais e Mediações Sociotécnicas Salvador - 10 e 11 de outubro de 2013
Esse uso é um indicativo de comportamento emergente, característico dos
sistemas complexos. Mais do que isso, esses comportamentos indicam que as
ferramentas estão sendo utilizadas pelos atores sociais e essas apropriações são
espalhadas pelas redes sociais anexas. (RECUERO, 2009. p.91).
Dessa forma as redes sociais online “são quase sempre, mutantes e tendem a
apresentar comportamentos criativos, inesperados e emergentes” (RECUERO, 2009, p.92).
Ressalto a existência de muitas subdivisões dos conceitos aqui descritos, da mesma maneira,
inúmeros outros que não foram expostos no presente trabalho.
4 GRUPO DO SRS FACEBOOK: DESENHANDO OS ENTORNOS DE PESQUISA
O corpus da pesquisa foi o SRS Facebook, sendo o foco da mesma o grupo (Fechado)
criado para a disciplina de Fundamentos Psicológicos da Educação realizada no primeiro
semestre de 2012, possuindo a seguinte descrição:
Este Grupo é um espaço de discussão, reflexão e construção de conhecimento
de forma coletiva e conectada. A disciplina de FPE visa estudar aspectos psicológicos – cognitivos, afetivos e sociais – disponibilizando subsídios para problematizar,
entender e intervir nos processos educacionais de sua futura prática profissional. A
abordagem desses aspectos psicológicos será realizada a partir de sua interface com as
outras áreas de conhecimento, historicamente contextualizados (Definição presente no
Grupo do SRS Facebook destinado a disciplina).
Destaca-se que o adjetivo “grupo” não está relacionado ao conceito de grupo presente
na ARS, e sim a qualificação que o SRS Facebook da a esta ferramenta que cria
“comunidades” agregadoras de usuários ao redor de uma temática específica. O grupo
constitui-se de trinta nós, desses; vinte alunos, três professores, três mestrandos e quatro
usuários convidados, entre eles pesquisadores e bolsistas de graduação.
Analisando a multiplicidade de usuários presente do grupo podemos caracterizar a
rede como sendo do tipo modo-mais-alto, isto é, a mesma possui mais de um conjunto de
atores (nós). Como o grupo foi criado para uma disciplina especifica podemos caracteriza-lo
como uma rede de filiação, uma vez que possuímos usuários interessados em participar de
discussões referentes à temática dos estudos presentes na disciplina.
5 METODOLOGIA: DESENHANDO OS PROCESSOS DE PESQUISA
A disciplina realizou-se durante o primeiro semestre de 2012, logo no início da mesma
foi criado o grupo no SRS Facebook e adicionado os alunos, sendo assim a interação começou
juntamente com a disciplina. Entretanto a coleta de dados deu-se no final do semestre, através
do aplicativo Netvizz v0.6, conectado diretamente ao SRS Facebook gerando um arquivo
Performances Interacionais e Mediações Sociotécnicas Salvador - 10 e 11 de outubro de 2013
GDF, um formato de texto simples, das relações (estruturais e dinâmicas) do grupo.
Posteriormente o arquivo foi transcrito utilizando um software de análise gráfica.
O software utilizado para transcrever os dados em sociogramas (grafos) foi o Gephi
0.8.1 beta, licenciado duplamente sobre a Common Development and Distribution License
(CDDL) e a General Public License (GNU) versão 2, o qual se caracteriza como “an
interactive visualization and exploration platform for all kinds of networks and complex
systems, dynamic and hierarchical graphs13
”. Suas aplicações compreendem as análises
exploratórias de dados, links, ARS e redes biológicas.
Os limites que compreendem nossa análise são de dois tipos: Rede inteira e rede ego.
Optou-se por fazer a análise das duas formas, para isso vamos avaliar a dinâmica do grupo
como um todo e, também, isolar alguns nós (atores/egos) para descrever determinados
fenômenos de clusterização14
, bem como destacar o aparecimento de díades e tríades15
.
Apresentamos no próximo tópico a descrição da rede analisada e a problematização de
algumas dinâmicas, sociabilidades e aspectos cognitivos percebidos no grupo.
6 SOCIABILIDADES MEDIADAS PELA REDE: PISTAS DE UMA [NOVA] FORMA
DE INTERAÇÃO NO ENSINO
O grupo possui trinta nós, totalizando 184 conexões, sendo essas ligações entre os nós
contempladas através de 125 postagens16
com uma média de 22 a 25 visualizações cada uma,
ou seja, mais da metade do número de usuários presentes no grupo. O sociograma do grupo
possui diâmetro17
igual a três, densidade dirigida de 0,211 e não dirigido de 0,423. Há 29 nós
fortemente ligados e um nó fracamente ligado. A qualidade e a intensidade das conexões no
presente trabalho referem-se diretamente a participação nas atividades do grupo.
Um nó (ator/usuário) não participou ativamente dos eventos estabelecidos através da
rede, em contrapartida 29 usuários participaram. Essa participação ocorreu por meio de
postagens de conteúdos, comentários nesses posts18
ou comunicados referentes à aula
presencial (offline), e ainda, apenas visualizando algum informe/conteúdo presente no grupo.
A figura 1 contém o sociograma onde é possível visualizar os nós e as conexões da rede como
um todo. Esse tipo de visualização do grupo demonstra graficamente as dimensões
13 Descrição mais detalhada do programa em http://gephi.org/ (acesso em 20 de outubro de 2012). 14 Formação de pequenas redes dentro da rede maior, outrora chamado de cliques. 15 Unidades de análise entre dois e três atores respectivamente. 16 Todas as coletas de dados foram feitas em 15/10/2012, porém o grupo segue em funcionamento. 17 Quão separados estão os dois nós mais distantes. 18 Postagens.
Performances Interacionais e Mediações Sociotécnicas Salvador - 10 e 11 de outubro de 2013
anteriormente estudadas de forma qualitativa por alguns autores19
. Dessa forma, podemos de
fato ver os intercâmbios que ocorrem quando aliamos as interações mediadas pela rede
telemática com o ensino, isto é, realizamos uma apropriação de forma pedagógica dos
recursos constituintes de um SRS.
Figura 1: Sociograma com a interação do grupo como um todo.
Para aprofundar a análise realizar-se-á o isolamento de determinados nós (egos),
partindo desses como chave para o entendimento de algumas sociabilidades. Utilizou-se o
grau de conexão igual a um, quer dizer, foi avaliado ego e amigos de ego sem levar em conta
os laços que amigos de ego possuem com os demais nós da rede. Na ARS possuímos dois
tipos de conexões; indegree, caracterizada pelas conexões que um nó recebe e outdegree,
sendo as conexões que o mesmo faz.
Ao realizar esse tipo de análise estamos criando redes menores, ou seja, uma série de
clusters que juntos formam a rede principal (grupo). Na figura 2 encontra-se em destaque o nó
A, possuindo número de indegree igual a 5 e de outdegree de 17, totalizando 22 conexões. O
total de conexões outdegree explica-se pelo nó A ser a professora responsável pela disciplina,
logo o atributo20
deste nó é o de propor as atividades para os demais usuários presentes no
grupo.
Mesmo o nó A sendo a professora responsável pela disciplina evidencia-se que o
mesmo não possui conexão com todos os nós presentes na rede. Dentro de um SRS a
hierarquização tende a diminuir, ou não ocorrer, pois tanto professores quanto alunos podem
iniciar uma discussão através de uma postagem, bem como ter suas dúvidas solucionadas com
o auxílio de seus pares. A principal diferença entre o AVA e os SRS é justamente essa
19 Pierre Lévy, Andre Lemos, Felix Guattari e Gilles Deleuze são alguns exemplos de estudiosos das teorias de rede e seus impactos na sociedade. 20 Característica individual.
Performances Interacionais e Mediações Sociotécnicas Salvador - 10 e 11 de outubro de 2013
liberdade de adição de conteúdos. A postagem de arquivos nos ambientes institucionalizados
é compartimentalizada em grandes tópicos, normalmente de encargo exclusivo do professor.
Sabe-se que os alunos possuem meios de adicionar conteúdos nos AVA, contudo as
dinâmicas em um SRS possibilitam múltiplas formas de postagens e são permeadas por outros
modos de sociabilidades. Enquanto navega-se no SRS Facebook os usuários mantém contato
com inúmeras informações advindas de amigos, Fan Pages e grupos, essas podem vir a ser
relevantes para a discussão iniciada/futura em sala de aula. O aluno por estar no mesmo
ambiente onde está se relacionando constantemente com essas diferentes fontes
informacionais, pode vir a compartilhar esses conteúdos de forma síncrona com os colegas, e
esses agregarem-se aos tópicos de discussão online e/ou offline da disciplina.
Figura 2: Sociograma contendo a análise da interação partindo do nó (ego) A.
No sociograma presente na figura 3 apresenta-se uma dinâmica semelhante ao
sociograma da figura 2, entretanto ao isolarmos o nó B visualizamos um número de indegree
de 11 e outdegree de 2, obtendo um total de 13 conexões. Durante a disciplina a professora
contou com o apoio de três mestrandos que estavam em processo de docência orientada, dessa
forma um deles ficou responsável pelo apoio técnico dos dispositivos utilizados. Podemos
identificar as relações de busca por ajuda técnica através das postagens no grupo, bem como o
próprio sociograma (figura 3) demonstra essas interações com o número de indegree
direcionado ao nó B (mestrando). As interações dos outros dois mestrandos mantiveram o
mesmo comportamento.
A figura 4 exemplifica uma das comunicações que os alunos mantiveram com o nó B.
A busca por auxílio toma outras formas quanto ao tempo nas interações mediadas pela rede
Performances Interacionais e Mediações Sociotécnicas Salvador - 10 e 11 de outubro de 2013
telemática. Além do caráter síncrono que a resposta pode ter, ocorre à participação de todos os
integrantes do grupo, logo o tempo de solução de dúvidas e comentários a respeito da
aula/conteúdos pode ser abreviado e também participativo. A sala de aula e a execução da
mesma perdem as paredes (Sibilia, 2012) e as balizas de um ou mais períodos, dando lugar às
ondas da rede e a possibilidade de aprendizagem contínua.
Figura 3: Sociograma contendo a análise da interação partindo do nó (ego) B.
Figura 4: Exemplo de comunicação entre alunos e nó B presente no Grupo.
O próximo sociograma (figura 5) demonstra uma das interações de um aluno usuário
do grupo. Ao isolar o nó C obtemos um número de indegree igual a 13 e outdegree de 9,
totalizando 22 conexões. O aluno representado pelo nó C aparece como o mais participativo
(dentre o conjunto de alunos) nas dinâmicas propostas pela professora, igualmente, através de
suas postagens, trouxe discussões sobre o conteúdo trabalhado em sala de aula. O total de
indegree indica que uma parte significativa de amigos de ego (colegas do aluno representado
Performances Interacionais e Mediações Sociotécnicas Salvador - 10 e 11 de outubro de 2013
pelo nó C) interagira com o mesmo, rompendo com a estrutura hierarquizada de domínio
exclusivo do professor.
Evidenciou-se certa multiplicidade nas interações que envolvem o nó C, tanto foram
discutidos temas referentes aos conteúdos vistos em aula, como iniciados debates e relações
mais íntimas entre os detentores de laços fortes (neste caso colegas que já eram amigos no
SRS e/ou pessoalmente).
As interações online pós-aula, fora do tempo e espaço proposto na ementa da
disciplina, ampliam os ditos durante a aula presencial e otimizam as discussões, pois tem-se a
possibilidade de suceder diferentes afetos através dos sentidos acionados nas exposições
visuais e sonoras (vídeos, músicas e/ou esquemas dinâmicos) presente nas postagens,
contemplando métodos colaborativos de construção do conhecimentos que ultrapassam o uso
utilitarista de uma tecnologia. A figura 6 indica uma das postagens realizada pelo nó C.
Figura 5: Sociograma contendo a análise da interação partindo do nó (ego) C.
Performances Interacionais e Mediações Sociotécnicas Salvador - 10 e 11 de outubro de 2013
Figura 6: Exemplo de comunicação dos outros alunos e nó C presente no Grupo.
Presenciou-se outro fator motivador para o uso dos grupos do SRS Facebook no
contexto de ensino universitário ao analisar a interação entre o nó C e um dos mestrandos em
docência orientada (figura 6), tendo em vista que essa demonstra a possibilidade dos alunos
manterem-se atualizados sobre as dinâmicas realizadas nas aulas das quais não estavam
presentes. Atualmente o brasileiro passa em média 8 horas e 5 minutos por mês conectado aos
SRS21
, esses dados, aliados aos achados no presente trabalho, demonstram a necessidade de
apropriação de um ambiente social fecundo para as práticas de ensino no contexto
universitário.
7 CONCLUSÃO: NOTAS E FECHAMENTOS DE PESQUISA
Dentro do recorte apresentado isolou-se apenas alguns dados para este trabalho, porém
existem outras particularidades dentro neste caso. A etapa matemática e gráfica ajuda o
professor/pesquisador das instituições de ensino superior, a quantificar e compreender a
estrutura e as dinâmicas presentes nas sociabilidades online.
Um dado evidente da análise deste trabalho é a quebra da hierarquia nos processos de
ensino universitário, uma vez que as interações mediadas pela rede telemática (grupo)
possibilitaram aos alunos atuarem de forma colaborativa através das postagens de
informações e conteúdos previstos, ou que foram trabalhados em aula. Nessas postagens
21http://goo.gl/n7xF1 (acesso em 9 de Abr. 2013).
Performances Interacionais e Mediações Sociotécnicas Salvador - 10 e 11 de outubro de 2013
ocorreu a possibilidade de inserção de comentários acionadores de (novos) debates sobre o
material, estendendo assim as discussões dos momentos offline (aula).
Salienta-se a precisão do professor/pesquisador realizar backups22
do material que
considera importante dentro da sua atividade/intervenção, pois o grupo criado para a
disciplina manteve-se fora do ar por alguns dias. Da mesma forma, torna-se necessário que as
instituições acadêmicas voltem seus olhares para essas sociabilidades, utilizando seus recursos
para, além de contemplar os modos de ser e desejos das juventudes contemporâneas, otimizar
os processos de ensino e aspectos cognitivos envolvidos nesses sistemas (Arruda, 2009).
Referências
ARRUDA, Eucidio. Relações entre tecnologias digitais e educação: perspectivas para a
compreensão da aprendizagem escolar contemporânea. In: Cibercultura e formação de
professores. Autêntica, 2009. p.13-22.
BARBOSA, Lívia. Juventudes e Gerações no Brasil Contemporâneo. 1 ed. Porto Alegre:
Sulina, 2012. 375p.
BOYD, Danah, & ELLISON, Nicole: Social network sites: Definition, history,
and scholarship. Disponível em: <http://goo.gl/1zLo8> Acesso em: 09 de abr. 2013.
CASTELLS, Manuel. A era da informação: Economia, Sociedade e Cultura. 3.ed. Volume I:
A Sociedade em Rede. São Paulo: Editora Paz e Terra S. A., 2000. 617p.
CASTRO, Rodrigo e SPEROTTO, Rosária. Cibercultura e comportamentos contemporâneos:
Possibilidades de outras formas metodológicas de pesquisa em educação. Anais do VI
Simpósio Nacional da Associação Brasileira de Pesquisadores em Cibercultura. Novo
Hamburgo, 2012. p.1-13.
FAZITO, Dimitri. A Análise de Redes Sociais (ARS) e a Migração: mito e realidade. Anais
do XIII Encontro da Associação Brasileira de Estudos Populacionais. Ouro Preto, 2002.
p. 1-25.
FRAGOSO, Suely. et al. Métodos de pesquisa para internet. Porto Alegre: Sulina, 2011. 239p.
FREITAS, Maria. Cibercultura e formação de professores. 1ed. Belo Horizonte: Autêntica,
2009. 119p.
MARTELETO, Regina e SILVA, Antonio. Redes e capital social: o enfoque da informação
para o desenvolvimento local. Ci. Inf., Brasília, v. 33, n. 3, p.41-49, set./dez. 2004.
22 Cópia de segurança.
Performances Interacionais e Mediações Sociotécnicas Salvador - 10 e 11 de outubro de 2013
MARTELETO, Regina e SILVA, Antonio. Análise de Redes Sociais – aplicação nos estudos
de transferência da informação. Ci. Inf., Brasília, v. 30, n. 1, p. 71-81, jan./abr. 2001.
MATHEUS, Renato e SILVA, Antonio. Fundamentação teórica para a análise de redes com
ênfase na Análise de Redes Sociais. Disponível em:
<http://www.rfmatheus.com.br/doc/fundamentacaoarsv0.55.pdf> Acesso em 7 de Abr. 2013.
RODEGHIERO, Carolina.Violência na Internet: Um estudo do cyberbullying no Facebook.
2012. 152f. Dissertação (Mestrado em Letras, área de concentração Lingüística Aplicada)
Universidade Católica de Pelotas - UCPEL. Pelotas.
PALFREY, Jonh. Nascidos na era digital: entendendo a primeira geração de nativos digitais.
1 ed. Porto Alegre: Artemed, 2011. 352p.
SIBILIA, Paula. Redes ou paredes: a escola em tempos de dispersão. 1.ed. Rio de Janeiro:
Contraponto, 2008. 222p.
WELLMAN, Barry. et al. Computer networks as social networks: collaborative work,
telework, and virtual community. Disponível
em:<http://www.wuala.com/nappan/Documents/Wellman%20et.al.%20(1996)%20%20Comp
uter%20Networks%20as%20Social%20Networks..%20Collaborat
ve%20Work,%20Telework,%20and%20Virtual%20Community.pdf?lang=pt>. Acesso em:
20 mar. 2013.