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1 O Ensino Religioso nas Escolas : Formação Moral ou Doutrinação? Prof. Dr. Thomé Eliziário Tavares Filho (*) RESUMO Este trabalho faz uma abordagem sobre o contexto histórico da Educação Religiosa no Brasil em várias épocas, além de abordar os aspectos legais, filosóficos e pedagógicos. Com este estudo, será possível observar como o assunto é tratado na Lei 9394/96 Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional e na Constituição Federal e quais as polêmicas surgidas em torno dele. A questão da formação do professor que atua nessa área não poderia ser esquecida, pois é de suma importância sabermos se o profissional é apto ou não para tal trabalho. A escolha do tema serviu para o aprofundamento dos meus conhecimentos e para passar um pouco da pedagogia de Jesus, tão moderna e atual. Através dessa pedagogia, Jesus conduzia seus discípulos à reflexão, fazendo com que se tornassem pessoas críticas. Os professores de hoje também precisam preocupar- se com a criticidade de seus alunos e, por isso, é importante que estejam bem preparados para tal. Jesus foi um grande professor de religião, pois buscava a formação moral e ética do ser humano, sem abandonar o lado religioso. Com os nossos professores, não pode ser diferente, deve focar na formação do indivíduo como um todo, levando em conta todas as dúvidas de seus alunos. Palavras Chaves: Religião. Escola. Ensino. -------------------- (* ) O autor tem formação em Filosofia, Teologia e Psicanálise Clínica. É pós-graduado em nível Lato Senso de especialização em Filosofia Clínica e Psicopedagogia. É pos- graduado em nível Strictu Senso com Mestrado e Doutorado em Psicologia.

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O Ensino Religioso nas Escolas :Formação Moral ou Doutrinação?

Prof. Dr. Thomé Eliziário Tavares Filho (*)

RESUMO

Este trabalho faz uma abordagem sobre o contexto histórico da Educação Religiosa noBrasil em várias épocas, além de abordar os aspectos legais, filosóficos e pedagógicos.Com este estudo, será possível observar como o assunto é tratado na Lei 9394/96 – Leide Diretrizes e Bases da Educação Nacional e na Constituição Federal e quais aspolêmicas surgidas em torno dele. A questão da formação do professor que atua nessaárea não poderia ser esquecida, pois é de suma importância sabermos se o profissional éapto ou não para tal trabalho. A escolha do tema serviu para o aprofundamento dosmeus conhecimentos e para passar um pouco da pedagogia de Jesus, tão moderna eatual. Através dessa pedagogia, Jesus conduzia seus discípulos à reflexão, fazendo comque se tornassem pessoas críticas. Os professores de hoje também precisam preocupar-se com a criticidade de seus alunos e, por isso, é importante que estejam bempreparados para tal. Jesus foi um grande professor de religião, pois buscava aformação moral e ética do ser humano, sem abandonar o lado religioso. Com os nossosprofessores, não pode ser diferente, deve focar na formação do indivíduo como um todo,levando em conta todas as dúvidas de seus alunos.

Palavras Chaves:Religião. Escola. Ensino.

--------------------(* ) O autor tem formação em Filosofia, Teologia e Psicanálise Clínica. É pós-graduadoem nível Lato Senso de especialização em Filosofia Clínica e Psicopedagogia. É pos-graduado em nível Strictu Senso com Mestrado e Doutorado em Psicologia.

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INTRODUÇÃO

Falar sobre ensino religioso é muito fascinante e instigador. Saber comose deu o início deste ensino no Brasil e o seu desenvolvimento é de extrema importânciapara o estudo e seu aperfeiçoamento.

A questão religiosa sempre esteve presente em minha vida, pois achonecessário que o ser humano tenha preceitos éticos e morais a serem seguidos. Mesmopensando dessa forma, questiono-me há bastante tempo sobre o ensino religioso, se écorreto ministrá-lo, se as escolas foram feitas para determinado tipo de assunto.

Segundo Dora Incontri, “Educação é toda influência exercida por umespírito sobre outro, no sentido de despertar um processo de evolução. Essa influêncialeva o educando a promover autonomamente o seu aprendizado moral e intelectual.Trata-se de um processo sem qualquer forma de coação, pois o educador apela para avontade do educando e conquista-lhe a adesão voluntária para uma ação deaperfeiçoamento”.

Para que essa evolução aconteça, não é necessário falar de religião deforma direta, pois dentro de uma classe há crianças de vários credos. Falara da moral, doconvívio diário com outras pessoas e em família é uma forma muito mais ética detrabalhar algum assunto que venha lembrar religião.

Como podemos ver, a educação não existe para impor condições ao serhumano e sim para ajudá-lo em sua evolução.

Jesus, em momento algum, teve a intenção de implantar umadeterminada religião, mas soube, através de seus exemplos, mostrar aos homens o que éa verdadeira moral e passou mensagens de amor a quem quisesse recebê-las.

A escola pode trabalhar a parte moral, ética e pode com isso contribuirpara o surgimento de alguns questionamentos do aluno, pois este, como qualquer serhumano, vive em busca de respostas para sua existência e sobre o sentido da vida.

Com a abordagem sobre o contexto histórico do ensino religioso noBrasil, aspectos legais, filosóficos e pedagógicos, interferências doutrinárias e o ensinoreligioso nas escolas, passaremos a entender um pouco mais deste assunto tão polêmicomas que ao mesmo tempo nos desperta medo e uma grande vontade de saber cada vezmais.

Para entendermos bem o funcionamento do Ensino Religioso, faz-senecessário sabermos o significado da palavra religião e qual a sua finalidade.

A palavra religião vem do latim: religio, formada pelo prefixo re (outravez, de novo) e o verbo ligare (ligar, unir, vincular). A religião é um vínculo.

A passagem do sagrado à religião determina as finalidades principais daexperiência religiosa e da instituição social religiosa. Dentre essas finalidades,destacamos:

• proteger os seres humanos contra o medo da Natureza, nela encontrando forçasbenéficas, contrapostas às maléficas e destruidoras;• dar aos humanos um acesso à verdade do mundo, encontrando explicações para aorigem, a forma, a vida e a morte de todos os seres e dos próprios humanos;• oferecer aos humanos a esperança de vida após a morte, seja sob a forma dereencarnação perene, seja sob a forma de reencarnação purificadora, seja sob a forma daimortalidade individual, que permite o retorno do homem ao convívio direto com a

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divindade, seja sob a forma de fusão do espírito do morto no seio da divindade. Asreligiões da salvação, tanto as do tipo judaico-cristão quanto as de tipo oriental,prometem aos seres humanos libertá-los da pena e da dor da existência terrena;• oferecer consolo aos aflitos, dando-lhes uma explicação para a dor, seja física oupsíquica;• garantir o respeito às normas, às regras e aos valores da moralidade estabelecida pelasociedade. Em geral, os valores morais são estabelecidos pela própria religião, sob aforma de mandamentos divinos, isto é, a religião reelabora as relações sociais existentescomo regras, normas, expressões da vontade dos deuses ou de Deus, garantindo aobrigatoriedade da obediência a elas, sob pena de sanções sobrenaturais.

1. O CONTEXTO HISTÓRICO DO ENSINO RELIGIOSO NO BRASIL

A inclusão do Ensino Religioso na nova LDB, Lei 9.394/96, ganhou umadimensão inesperada neste mundo de hoje. É considerada como parte integrante daeducação a necessidade de investigarmos a nossa história, como este assunto foiabordado em outras épocas, a fim de podermos situá-lo melhor nos dias de hoje. Diantedisto, é preciso voltar à história da educação no Brasil.

1.1- O ensino religioso na época da colonização

Desde o descobrimento, o Brasil passou a ser utilizado pelos portuguesescomo mero “instrumento” de seus próprios interesses. A carta de Pero Vaz de Caminhamostra que, no início, Portugal nutria o desejo de encontrar ouro no Brasil. Pôr causadisso, foram organizadas várias expedições, não obtendo resultados.

Mais tarde, os portugueses perceberam a necessidade política depreservar a posse do Brasil, que encontrava-se ameaçada por estrangeiros. Mas Portugaltinha em vista que o processo de colonização precisava de bases econômicas quejustificassem o empreendimento, ou seja, a colonização precisava dar lucros àmetrópole.

A simples extração do pau-brasil, que foi marca nos primeiros tempos,não se constituía em uma atividade sólida, por ser nômade e predatória. Essacaracterística não permitia a formação de povoamentos necessários à ocupação e defesada terra contra invasões estrangeiras.

A solução histórica encontrada foi a agromanufatura açucareira. Comessa iniciativa, Portugal inaugurava uma nova fase da colonização, representada pelaprodução agrícola de um gênero tropical (o açúcar) destinado à exportação.

Em 154, chega ao Brasil, o primeiro Governador Geral, Tomé de Souza,e juntos com ele, quatro padres e dois irmãos jesuítas, chefiados por Manoel daNóbrega.

Luiz A. de Mattos, diz que “dele dependeria (...) o êxito da arrojadaempresa colonizadora; pois que, somente pela aculturação sistemática e intensiva doelemento indígena aos valores espirituais e morais da civilização ocidental e cristã é quea colonização portuguesa poderia lançar raízes definitivas (...).

Com estes poucos fatos percebe-se que a organização escolar no Brasil-Colônia era estreitamente ligada à política colonizadora dos portugueses.

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A Ordem dos Jesuítas ou Companhia de Jesus, foi fundada em 1534 pelomilitar espanhol Inácio de Loyola. Sobretudo a partir de 1540, quando a Ordem foioficialmente aprovada pela Igreja, os jesuítas assumiram decididamente a defesa docristianismo católico, como “soldados” obedientes às ordens da Contra-Reforma. Nocombate ao Protestantismo, os jesuítas pretendiam utilizar a arma da conquistaespiritual: a educação.

Os jesuítas pretendiam desenvolver no Brasil a catequização dos índios,que tinha como meta convertê-los ao cristianismo católico. Esse trabalho exigia apenetração dos missionários jesuítas para o interior, em direção aos locais onde seencontravam as tribos indígenas.

Os padres avançaram pelo sertão, fundando as missões a partir de 1610.Essas missões ou aldeamentos, eram destinados ao ensino catequético. O ensinojesuítico afastava os alunos do questionamento da realidade imediata da colônia.Incutia-lhes a idéia de que o mundo civilizado era o mundo europeu. Adequava-se àsdiretrizes básicas do sistema colonial.

Em todos os níveis (humanidade, filosofia e teologia) estiverampresentes os colégios e seminários jesuítas, dos quais os mais destacados foram o deTodos os Santos, na Bahia, e o de São Sebastião, no Rio de Janeiro. Eram em númerode 17 nos meados do século XVIII. Paralelamente, dada a tradição da aristocracia ruralde possuir em seu seio pelo menos um filho letrado e outro padre, este último,regressando à casa grande como capelão, exercia as funções de mestre-escola, ensinavaàs crianças a leitura e os rudimentos da doutrina cristã.

As reformas empreendidas pelo Marquês de Pombal inserem-se nocontexto histórico do despotismo esclarecido. O objetivo geral era recuperar o atraso dePortugal em relação ao avanço do capitalismo.

O Marquês de Pombal, que atribuía à Companhia de Jesusresponsabilidade pelo conservadorismo cultural, expulsou os jesuítas do reino português(1759). Ele traçou como novos objetivos educacionais: abrir o conteúdo do ensino àsciências experimentais, tornando-o mais prático e utilitário; despertar um maior númerode interessados no ensino superior; diminuir a influência da Igreja no setor educacional..

A estrutura educacional jesuítica sobreviveu à expulsão da Companhiade Jesus. As reformas pombalinas não produziram efeitos práticos.

Maria José Garcia Werebe traça um rápido balanço da educação colonial,referindo-se à pedagogia jesuítica e a reforma educacional pombalina.

2. A HERANÇA EDUCACIONAL DO BRASIL COLÔNIA

A educação formal e anticientífica, a cargo dos jesuítas, influiu, sem dúvida, napéssima administração do país, no mau aproveitamento de nossas terras e riquezas. Se,de um lado, tínhamos a capacidade de uma metrópole mala administrada com vista aoslucros imediatos, de outro, não contávamos, no Brasil, com uma elite capaz de se opor aesta política e de preconizar medidas mais justas, amplamente conhecidas na Europadaquela época. Os inconvenientes do ensino jesuíta, encontravam-se, principalmente, nofato de que sua preocupação não era propriamente a educação, mas a difusão de umcredo religioso. A orientação do ensino caracterizava-se, assim, pelo dogmatismo e pelaabstração, afastando os jovens dos verdadeiros problemas brasileiros.

Quando os jesuítas foram expulsos do Brasil, a obra que pretendiam realizarestava praticamente consolidada: o país estava reunido em torno de uma mesma fé, sobuma mesma coroa.

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Contudo, as conseqüências de sua expulsão foram, de imediato, desastrosas nocampo educacional: suprimiu-se um ensino pouco eficiente que não foi substituído porum outro, melhor organizado. Portugal, que jamais gastara um real com odesenvolvimento e a manutenção do ensino na colônia, manteve a mesma política emrelação à educação brasileira.

Um ensino precário foi assegurado, de maneira irregular, por outras ordensreligiosas e por leigos. A unidade administrativa escolar não foi alcançada, por falta debases materiais e culturais. O Diretor de Estudos, que deveria ser a autoridade supremado ensino, foi mais uma figura formal do que prática.O ensino de nível médio, desaparecendo como sistema, foi substituído, de maneirairregular, pelas aulas régias, cuja única vantagem, com a quebra da uniformidadedogmática dos colégios jesuítas, foi a introdução de novas matérias, até entãocompletamente ignoradas: línguas vivas, matemática, física, ciências naturais, etc.

O maior benefício que o Brasil teve, com a reforma pombalina, recebeu-o deforma indireta, por intermédio da Universidade de Coimbra, inteiramente renovada, emmoldes mais científicos e onde estudou uma importante elite brasileira que viria, bemcedo, desempenhar papel de destaque nos movimentos políticos do país, até levá-lo àindependência.

Esta elite intelectual, formada em centros europeus, principalmente em Coimbra,em contato com as idéias liberais que circulavam nestes centros, influenciados pelaindependência dos estados Unidos e pela revolução francesa, voltava ao Brasil comdisposições de trabalhar pela libertação nacional. Distanciada, porém, do povo,vinculada aos interesses das classes a que pertenciam, não tinha condições de promovermovimentos libertadores de grande alcance, com apoio e repercussão populares.

2.2- O ensino religioso na época da República

Alguns anos depois das transformações políticas, a educação nacionalrecebe uma grande influência positiva, uma perceptível marca.

Com o grande crescimento e de forma rápida da camada média e suaparticipação em alguns segmentos da vida pública, como atividades culturais e mesmoreligiosas, criaram condições de expressão de seus interesses mais amplos como o departicipação no aparelho do Estado.

O alicerce do Brasil que se tem hoje, provavelmente, teve sua origem naRepública Nova, inclusive a aspirações à uma escola pública de qualidade, queatendesse ás necessidades populares e que ajudasse a eliminar as desigualdades sociais.Durante a República Nova, os católicos conseguiram reintroduzir a educação religiosanas escolas públicas, de caráter interconfessional. Contudo, percebemos que, desdeaquela época, essa polêmica ficou acesa e que a nova forma, como o artigo 33, da novaLei 9394/96 foi redigido, deixa claro que o ensino religioso só permanece na escolapública até hoje é somente para atender interesses políticos, já que a intençãomaterialista impressa na lei não dá lugar a disciplinas como religião, filosofia, arte eoutras que ajudem o aluno a questionar-se e a valorizar-se como cidadão consciente.

Com a Proclamação da República, o Brasil, que desde a administração dametrópole até 1889, não tinha mais que 12 dioceses, entrou num período de maiorexpansão religiosa do catolicismo.

Já a Constituição de 1946 voltou à figura de que “a educação é umdireito de todos”, tornando-se uma constituição mais liberal e democrática. Já o ensinoreligioso foi um dos pontos mais polêmicos desta nova lei, pois tiveram muitos pontos

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que levaram a vários questionamentos, como por exemplo, a matrícula para o ensinoreligioso que era facultativa nos estabelecimentos confessionais tornando-sequestionável a relação entre o Estado e a Igreja Católica. Daí surgem dois embates: oprimeiro é que a República separou o Estado da Igreja; então o ensino religiosoministrado em escolas privadas seria um retrocesso e agravando-se mais por termos umpaís com um vasto número de religiões e seitas, mas também seria uma contradição Teruma República com uma Igreja livre de um Estado.

E no término dos anos 50 que se sucederam ao final da crise brasileira, aIgreja estava dividida entre os bispos conservadores e progressistas e a ACB (AçãoCatólica Brasileira), que assim dificultavam o progresso e a organização da Igreja. Noentanto, o rompimento da integração entre a base social da Igreja com o populismo sedesenvolveu em virtude da crise de nossa sociedade.

2.3- O ensino religioso na época da ditadura militar

Com o golpe militar de 1964, rompeu-se o diálogo do Governo com asclasse trabalhadoras e populares. Abandonou-se a política nacionalista-reformista parase adotar um modelo de desenvolvimento que poderia ser chamado de tecnoburocrático-capitalista-dependente. Esse modelo baseava-se na tríplice aliança das multinacionais,das empresas estatais e da burguesia local. Por sua vez, essa tríplice aliança caracteriza-se pela promoção de um modelo de desenvolvimento marcado pela modernização desetores de infra-estrutura econômica, pela concentração de renda nas classes altas e pelamarginalização social das classes populares trabalhadoras.

No plano estritamente político, o movimento militar de 1964 montou umamplo esquema de mudanças de nossas instituições, que esfacelaram a vida democráticae lançaram o País no autoritarismo. O regime militar promoveu forte repressão policialcontra várias entidades de bases populares (sindicatos, União Nacional dos Estudantes,movimentos de inspiração socialista, etc); extinguiu todos os partidos políticos,instituindo o bipartidarismo (ARENA, partido do Governo e MDB, partido reunindo asoposições) e exerceu severa censura às atividades culturais e aos meios de comunicaçãode massa.

A Igreja brasileira ante a essa nova situação, modificou seucomportamento. Houve uma constante repressão sobre ela, que gerou vários conflitoscom o regime militar, que a influenciou contra o projeto da burguesia brasileira e omodelo de dominação de exploração em massa levando assim a formação de uma Igrejapelas bases, que significou o engajamento das classes dominadas para a criação dasCEBS (Comunidades Eclesiais de Base). Com isso, segundo GONZAGA:

“... a Igreja tomou conhecimento de seu papel...” e do “...reconhecimentoefetivo da importância da Igreja no processo político da democracia no país.”Principalmente na ditadura “...”.

Em relação à educação, nessa época houve uma ampliação de oferta devagas nas escolas públicas que se revestiu de um caráter meramente quantitativo,através da diminuição da jornada escolar e do aumento de anos que comprometeram aqualidade do ensino. Em 1971 foi promulgada a lei 5692 que regulamentou o ensino deprimeiro e segundo graus. Essa lei estruturou o ensino, ampliou a obrigatoriedadeescolar de quatro para oito anos e manteve as matérias obrigatórias tais como EducaçãoFísica, Educação Artística, Educação Moral e Cívica, Educação Religiosa e Programade Saúde.

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4. ASPECTOS LEGAIS DO ENSINO RELIGIOSO

A educação brasileira, ao longo de sua história, apresenta umamultiplicidade de leis, decretos, pareceres, resoluções, portarias. Merecem destaque asLeis de Diretrizes e Bases da Educação Nacional: 5540/68, 4024/71 e 5692/71 quejuntas, se complementam numa tentativa de reformar toda a organização escolarbrasileira. Tais leis norteiam uma política educacional atual e reflete ambiguidade nasidéias liberais. A inspiração liberal na Lei 4024/71 deu lugar a tendências tecnicistas nasLeis 5540/68 e 5692/71 resultantes das características do grupo que ascendeu ao poderem 1964, ou seja, militares e tecnocratas. As idéias liberais dão ênfase à qualidade doensino, enquanto os tecnicistas privilegiam a quantidade. As primeiras favorecem asaspirações individuais ao invés das necessidades sociais, a cultura em geral, enquantoque a Segunda privilegia a formação profissional e a relação com o mercado. Aorganização escolar brasileira vem refletindo com relativa fidelidade até os dias atuaisas tendências dominantes da relação da escola com o mercado.

A partir do momento, que aparentemente, se consegue libertar de umregime político autoritário e que a sociedade continua reivindicando os direitos que lhessão concedidos, a partir de uma constituição elaborada em 1988, de acordo com ideaisdemocráticos, nada mais justo do que se pretender também para a educação, asubstituição de leis que só favorecem a sociedade, do ponto de vista dos interesses daclasse dominante.

4.1- O ensino religioso na Constituição Federal

Ultimamente, religiosos de todos os matizes conservadores, parecem terencontrado a solução para se deter a onda de violência e desagregação moral em quevive a sociedade brasileira: o ensino dos valores religiosos pelo Estado. Soluçãosimplista, fruto de uma mentalidade eivada, de irracionalismo, mas que oculta em seubojo um desejo inconfessável, pôr enquanto: a transformação da sociedade brasileiranuma espécie de Estado submisso à Religião, nos moldes do Irã, Afeganistão, e tantosoutros modelos.

Na realidade, há duas semelhanças entre a visão religiosa que predominae oprime as sociedades islâmicas e a visão religiosa dos setores conservadores nasociedade brasileira: a primeira é a de que a leitura religiosa desses grupos é de caráterfundamentalista; a segunda é a de que ambas tem como prerrogativa a mescla entreEstado e religião.

E estes grupos têm conseguido burlar nossa tradição republicana daseparação Igreja-Estado: podemos perceber isto no preâmbulo da Constituição de 1988:

“Nós, representantes do povo brasileiro, reunidos emAssembléia Nacional Constituinte para instituir umEstado Democrático, destinado a assegurar o exercíciodos direitos sociais e individuais, a liberdade, asegurança, o bem-estar, o desenvolvimento, a igualdadee a justiça como valores supremos de uma sociedadefraterna, pluralista e sem preconceitos, fundada naharmonia social e comprometida, na ordem interna e

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internacional, com a solução pacífica das controvérsias,PROMULGADA SOB A PROTEÇÃO DE DEUS, aseguinte CONSTITUIÇÃO DA REPÚBLICAFEDERATIVA DO BRASIL.”

O ensino religioso no Brasil, assente no curriculum como disciplina hámais de 70 anos, atualmente se encontra previsto e cimentado no texto constitucionalque, no seu artigo 210, § 1º, litteris, assim dispõe:

Art. 210 – Serão fixados conteúdos mínimos para o ensino fundamental, demaneira a assegurar formação básica comum e respeito aos valores culturais eartísticos, nacionais e regionais.§ 1º - O ensino religioso, de matrícula facultativa, constituirá disciplina doshorários normais das escolas públicas de ensino fundamental. (sem grifo nooriginal)

O estado brasileiro é laico e não é contrário à religião, no entanto o povobrasileiro não é laico, pois na sua grande maioria acredita em uma religião, não sendoexatamente a mesma. Geralmente, o ensino oferecido nas escolas públicas é o católico eisso pode causar confusão na mente dos alunos, pois nem todos compartilham domesmo credo. Se a escola quer realmente ser democrática, a grande maioria dos credosdeve ser oferecidos ou então nenhum, pois há muitas outras formas de trabalhar a moral,a ética, entre outros.

Os credos gozam, entre a sociedade, de favores, isenções, imunidades.Cerca-os o respeito público, envolve-os a proteção da lei. Garantem-lhes os poderesconstituídos, a liberdade de culto, de tribuna, de imprensa. Facultam-lhe o ensino nasescolas, mantêm-lhes a independência, asseguram-lhes a expansão, consentem-lhe adivulgação, a propaganda dos seus princípios. Por isso é tão difícil abrir qualquerquestionamento sobre ensino religioso nas escolas.

Se voltarmos algumas décadas, veremos que em 1946, foi a primeira vezque apareceu em uma Constituição brasileira a explicitação da educação como um deverdo Estado. Além do ponto de vista pedagógico, o ensino da religião era também vistosob os ângulos ideológico e filosófico. O cristianismo constituía, por sua natureza, omelhor sistema ideológico para servir de base à tarefa de educar para a democracia e areligião representava uma exigência fundamental do espírito humano, que nelaencontrava solução para o angustiante problema da origem da vida, sua finalidade, dosofrimento e de seu sentido. O ensino de religião era mais adequado para orientar umaeducação que se pretendesse ser democrática. Em 1967, os primeiros choques do regimemilitar com a Igreja permitiam antever o engajamento desta na luta pelorestabelecimento do regime democrático. Ao regime militar não restava alternativasenão buscar outras formas de legitimação. Houve uma reintrodução da Educação Morale Cívica nas escolas. De acordo com alguns políticos, a adequada orientação religiosaexerce um papel dificilmente substituível na educação integral do ser humano.

4.2- O ensino religioso na LDB

De acordo com a Constituição da República Federativa do Brasil, aeducação é direito de todos, como afirma em seu artigo 205:

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Art.205- A educação, direito de todos e dever do Estado e da família, será promovida eincentivada com a colaboração da sociedade, visando ao pleno desenvolvimento dapessoa, seu preparo para o exercício da cidadania e sua qualificação para o trabalho.

Como podemos perceber, o cidadão deve ser completamente beneficiadoatravés da educação, exercendo sua cidadania e desenvolvendo-se.

Em 20 de dezembro de 1996 é promulgada a Lei 9394/96 – Lei deDiretrizes e Bases da Educação Nacional.

A LDB age de forma conjunta com o texto constitucional e essaintegração normativa com a Constituição gera, para a Lei de Diretrizes e Bases, algumaslimitações e características, conforme afirmam Souza e Silva:

1) A LDB não pode divergir filosófica e doutrinariamente do que estatui aConstituição, no que diz respeito aos princípios guiadores da educação brasileira.

2) A LDB não pode, nem acrescentar, nem omitir, no seu texto, algo não consagradoexpressamente na Constituição.

3) A LDB não pode conter minúcias, nem normas de regulamentação casuística,devendo sua linguagem primar pela clareza, pela generalidade e pela síntese. Nãofora ela uma lei de diretrizes! Sendo, como é, uma lei de âmbito nacional ecompondo-se, como se compõe o Brasil, de uma variedade incontestável desituações as mais diversas e contrastantes, se não for genérica e abrangente nasregras que contém, não servirá todos os sistemas de ensino do País, como é do seudever. Ademais, estando a educação sujeita, o tempo todo, a mutações dinâmicas esucessivas, se o texto de sua lei básica não for sintético e amplo, com vistas àestabilidade normativa, a lei de hoje poderá ser inútil amanhã.

4) A LDB deve regular a vida das redes escolares, no que diz respeito ao ensinoformal, ficando fora de seu alcance todas as manifestações de ensino livre e daqueletipo de curso que funciona sob a supervisão de órgãos outros, que não os daadministração superior dos sistemas de ensino.

A primeira Lei de Diretrizes e Bases (4024/61) foi mais rica ao conceituar aeducação, como processo formativo da infância e da juventude. Levou em conta os fins(liberdade e ideais de solidariedade humana) e os hegemonizou em relação aos meios(processos formais e informais de educar). A lei atual (nº9394/96) prefere darproeminência aos meios, sociologizando o conceito, que se empobreceu em suasdimensões filosóficas. Eis o texto integral do artigo 1º da Lei 4024/61:

“Artigo 1º - A educação nacional, inspirada nos princípios da liberdade e osideais de solidariedade humana, tem por fim:a) a compreensão dos direitos e deveres da pessoas humana, do cidadão, do Estado, da

família e dos grupos que compõem a comunidade;b) o respeito à dignidade e às liberdades fundamentais do homem;c) o fortalecimento da unidade nacional e da solidariedade internacional;d) o desenvolvimento integral da personalidade humana e sua participação na obra do

bem comum;e) o preparo do indivíduo e da sociedade para o domínio dos recursos científicos e

tecnológicos que lhes permitam utilizar as possibilidades e vencer as dificuldades domeio;

f) a preservação e a expansão do patrimônio cultural;g) a condenação a qualquer tratamento desigual por motivo de convicção filosófica ou

religiosa, bem como a quaisquer preconceitos de classe ou raça.

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Por não se tratar de dispositivo auto-aplicável, carecendo, pois, deregulamentação em legislação extravagante, o texto constitucional foirecepcionado pela Lei 9394, de 20 de dezembro de 1996 que, estabelecendo asnovas diretrizes e bases para a educação nacional, assim estatuiu com pertinênciaao ensino religioso:

Art.33- O ensino religioso, de matrícula facultativa, constitui disciplina dos horáriosnormais das escolas públicas de ensino fundamental, sendo oferecido, sem ônus para oscofres públicos, de acordo com as preferências manifestadas pelos alunos ou por seusresponsáveis, em caráter:

]- confessional, de acordo com a opção religiosa do aluno ou de seu responsável,ministrado pelos professores ou orientadores religiosos preparados e credenciados pelasrespectivas igrejas ou entidades religiosas; ou]]- interconfessional, resultante de acordo entre as diversas entidades religiosas, que seresponsabilizarão pela elaboração do respectivo programa.

Destarte a lucidez do texto regulamentador, que promova uma amplareforma do ensino religioso no sistema educacional, ao proibir que os cofres públicoscusteassem a despesa da disciplina, a Lei em comento, após sete meses de efervescênciano orbe jurídico, veio de ser modificada, segundo Demerval Saviani (in Da nova LDBao novo plano nacional de educação: pôr uma outra política educacional.Campinas,1999, apud Álvaro Chrispino), em função dos interesses corporativos deum segmento da sociedade, abrindo-se mais uma válvula para drenagem dos jásabidamente escassos recursos públicos desviados de sua função de garantir a cadabrasileiro o acesso aos conhecimentos de base científica indispensáveis à inserçãoativa na sociedade contemporânea, independente de professar uma ou nenhumareligião. E tal modificação operacionalizou-se através da Lei 9475, de 22.07.17, que ab-rogando o artigo 33 da Lei 9394/96, deu-lhe nova redaçãop, de seguinte teor:

Art.33- O ensino religioso, de matrícula facultativa, é parte integrante da formaçãobásica do cidadão e constitui disciplina dos horários normais das escolas públicas deensino fundamental, assegurado o respeito à diversidade cultural religiosa do Brasil,vedadas quaisquer formas de proselitismo.§ 1º- Os sistemas de ensino regulamentarão os procedimentos para a definição dosconteúdos do ensino religioso e estabelecerão as normas para a habilitação e admissãodos professores.§ 2º- Os sistemas de ensino ouvirão entidade civil, constituídas pelas diferentesdenominações religiosas, para a definição dos conteúdos de ensino religioso.

O ensino religioso é tratado no artigo 33, sendo mantida a sua naturezafacultativa, para o aluno, como na legislação anterior.

De novidade na matéria, temos o preenchimento da lacuna deixada naLei 5692/71 e que tanta polêmica gerou nos sistemas de ensino: remunerar ou não oprofessor de ensino religioso. A presente Lei não deixa dúvida: o ensino religioso deveser oferecido, sem ônus para os cofres públicos.

Na prática, esse dispositivo fará uma grande diferença, já que os sistemasde ensino, em sua grande maioria, remuneram as aulas de ensino religioso no mesmopatamar que o fazem com os demais componentes curriculares. Em muitos sistemas, são

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os professores de outras disciplinas que lecionam ensino religioso, completando a cargahorária de trabalho e, desde que tenham o necessário credenciamento para fazê-lo.Agora, isso não será mais possível. Não pode haver remuneração do poder público paraos que ministram aulas de ensino religioso. É o que diz a Lei.

5. ASPECTOS FILOSÓFICOS DO ENSINO RELIGIOSO

O educando é um produto da cultura. É o herdeiro de um legado culturaldesde o nascer, e vai sendo modelado por essa herança. Esse espólio cultural éconstituído pelo acervo dos modos de ser de um povo: seus costumes, tradições, leis,artes, lendas, folclores, instituições, etc. É um modo de viver coletivo, não individual erelativo a determinada época. Essa cultura, assim difundida e assimilada pelo educando,prepondera sobre seu ser tanto individual quanto social: é o postulado culturalista. Oeducando, predisposto a essa herança, tanto mais receptivo à educação será quanto maisessa educação estiver de acordo com o meio cultural.

Não se pode subtrair o educando de sua dimensão religiosa. DesterradoDeus da área da educação, dificilmente o educando tomará consciência de sua origemdivina e de seu fim último, balizas determinantes do seu extensíssimo roteiro formativo.Deus é o nexo essencial, pela sua perfeição e bondade em graus infinitos, que imprime ànota da simples existência do Espírito seu alto sentido educativo.

6. ASPECTOS PEDAGÓGICOS DO ENSINO RELIGIOSO

A educação deve atingir a totalidade da natureza humana, desenvolvendoharmoniosamente todas as suas faculdades e o Ensino Religioso deve ser um dos meiosda educação, no entanto, ela não pode deixar de ser essencialmente religiosa.

O Ensino Religioso também necessita de uma didática, com objetivos,conteúdos e princípios que orientem a prática pedagógica dos profissionais do EnsinoReligioso. E.VIESSER relata que a didática perpassa vários caminhos da educação. Oprocesso didático do Ensino Religioso implica em vincular seus objetivos, conteúdos,relação ensino-aprendizagem aos múltiplos processos sociais nos quais estão implicadasas dimensões políticas, ideológicas, éticas, religiosas e pedagógicas, que formulam essesobjetivos, conteúdos e metodologias, conforme a dependência ou interdependência nocontexto histórico.

Para que o Ensino Religioso se torne uma disciplina integrada com osistema educacional é necessário que se observem os seguintes fatores que o autorFigueiredo cita em seu livro:

• ensino religioso deve fazer parte integrante do projeto educativo, em vista dodesenvolvimento harmônico da consciência;• ensino religioso como processo de cooperação mútua na busca de transcendência;• ensino religioso como estado de harmonia com a natureza interior e exterior;• ensino religioso como ação educativa interdisciplinar;

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• ética, coerência em todas as relações.O Ensino Religioso deve ser baseado na experiência direta, não

intelectualizante, mas ter a sabedoria da vida, trabalhar os valores, as atitudes, asestruturas sociais e políticas.

Essa formação religiosa não pode sucumbir ao dogmatismo nem sercatequética. Deve, sim, ser conduzida por apelos à razão do educando com respaldo nodesenvolvimento progressivo do seu senso crítico.

6.1- A finalidade pedagógica do ensino religioso

Todo ensino tem uma finalidade e com o Ensino Religioso não édiferente.

Deve visar-se à motivação do educando para amar a Deus de toda a suaalma e ao próximo como a si mesmo.

A educação religiosa deve ter por fim também despertar na criança toda avontade de ajudar as pessoas que encontram-se em aflições, que estejam passando pordificuldades de qualquer ordem. A criança que traz dentro de si um sentimento dessagrandeza, transforma-se num homem de bem e disposto a ajudar a quem precisar.

Tratando da educação do sentimento, denominada por ele de filética,RENÉ HUBERT esclarece: “A pedagogia das ordens religiosas atribuiu […] a maiorimportância ao desenvolvimento normal da consciência afetiva da qual dependiaessencialmente, aos seus olhos, o destino sobrenatural do ser.

Noutra passagem, em que orienta a formação dos sentimentos sociais, omesmo pedagogo complementa: “nem sequer as lições de bondade exerceram qualquerinfluência sobre as crianças antes de chegarem à pré-puberdade, porque em geral nãotêm nem experiência, nem imaginação do sofrimento, ou se o conhecem, consideram-nocomo um elemento da natureza das coisas e nem lhes ocorre apiedarem-se dele. Bemdiferente é o que ocorre com a expansão das disposições afetivas que acompanham apuberdade. Então, é quando o educador pode trabalhar utilmente ampliando ossentimentos de simpatia, que todavia não tratam de fixar-se, iluminando-os sobre arealidade da dor e da miséria, ativando-os pelo cumprimento de atitudes suscetíveis dealiviar estas realidades. A puberdade é a idade em que tendo já pouco a pouco sedesvanecido o egocentrismo, os demais começam a existir verdadeiramente e pôr simesmos aos olhos do adolescente. A imaginação afetiva consiste então na capacidadede pôr-se no lugar deles, de sofrer com eles e ainda por eles. Este é o momento emque a revelação das grandes tristezas sociais pode comover mais profundamente asensibilidade posta a nu. O importante é que esta impregnação pelo conhecimento dador seja suficientemente forte, suficientemente prolongada durante todo o período daadolescência, como para manter-se como um traço essencial da estrutura moral doadulto. Graças a essas condições, adquire-se a virtude da generosidade e se forjamoshomens de coração.

6.2- A formação do professor

Dentro desta discussão, o fato da formação do professor não pode serignorada.

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A cada ano são formados novos professores e a realidade das salas deaula exigirá dos mesmos uma formação que leve em conta os problemas relacionadosaos níveis religiosos, morais, políticos e sociais.

Uma vez inserido no universo escolar, o professor vê-se tomado por umespaço onde existem diferentes grupos sociais e religiosos e é necessário que aprenda alidar com essa nova realidade.

É indispensável que o professor tenha sólida formação religiosa em cursode formação e que ostente livre e consciente aceitação do princípio da existência deDeus.

Os valores religiosos, políticos e sociais, que os professores administramem sala de aula, giram de uma certa forma em torno de sua própria formação domagistério, apoio para gestão do que é pessoal e do que é relativo ao trabalho com acriança.

Os professores precisam buscar sempre a atualização e precisam Ter emmente e conscientizarem-se que a religião só pode ser boa e verdadeira na medida emque sirva à humanidade, na medida em que, em suas doutrinas de fé, em seus ritos einstituições, promova a identidade, o sentido e sentimento de valor das pessoas.

Essa sensibilidade pôr parte do educador, faz-se necessária para que adisciplina de Ensino Religioso não seja desviada de seu real sentido e para que essedesvio não aconteça, o educador deve ter também a capacidade de relacionar o político-social com o projeto de Deus e ser comprometido com a formação de um mundomelhor.

7. INTERFERÊNCIAS DOUTRINÁRIAS NO ENSINO RELIGIOSO

O Ensino Religioso não deve ser confundido com doutrina. Um professorjamais deve impor o seu credo aos alunos, pois a certeza da presença de Jesus, conformesua promessa de que, quando dois ou mais se reunissem em seu nome, Ele estariapresente, basta para inspirar reverência íntima e atitude condizente com relação aosalunos. Assim, se o professor deseja uma boa aula, é preciso fazer sua parte, oferecersua quota, sem impor o seu credo. Agir como se Jesus estivesse ali, porque Eleefetivamente está.

7.1- O Ensino Religioso e o Vaticano II

A religião é um dos elementos da existência humana. Todo ser humanovive na busca das grandes respostas existenciais sobre o sentido da vida; no entanto, areligião vem dar as respostas que a ciência moderna não é capaz de responder. Só quedefinir religião é um pouco difícil porque os comportamentos religiosos são diferentes;para identificar o comportamento religioso existente em qualquer sociedade, não énecessário dar uma definição de religião.

No entanto, a religião não está desligada dos interesses e dasnecessidades do ser humano, mas faz parte inerente da formação total da pessoa. É nesteponto que a educação e a religião se encontram.

A Igreja, que é governada atualmente pelo Papa Bento XVI, tem o deverde administrá-la através da inspiração do Espírito Santo. No século IX, a Igreja estavapassando por uma grande crise de fé, que também atingiu a sociedade da época.

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Quando o Papa João XXIII anunciou a sua intenção de reunir umConselho Ecumênico, houve um espanto geral, mas essa idéia não era tão nova assim,como poderia parecer à primeira vista. De 1869 a 1870 houve o Concílio VaticanoPrimeiro, que ficou incompleto porque teve que ser interrompido devido à guerrafranco-alemã.

O Papa João XXIII (1958-1963) resolveu reformular as normas da Igreja.Este Concílio foi diferente dos outros, pois trouxe muitas inovações, com um carátermais otimista, no qual este foi o ponto de partida para a renovação geral da Igreja emtodo o mundo.

O Concílio Vaticano II tinha como objetivo elaborar um documento quepudesse abranger todas as partes da sociedade para uma busca total de Deus e atualizara Igreja dentro de sua época, com os costumes e mentalidade que estavam evoluindomuito rapidamente.

O alcance do Concílio Vaticano II foi muito grande, isto sem perder o contatocom a tradição e muito menos com a Sagrada Escritura. A abertura equilibrada dosdocumentos conciliares pode ser percebido em alguns traços marcante como relata D.Estêvão Bittencourt,

“... pode-se dizer que o Concílio Vaticano II foi uma das mais significativas realizações da Igrejanos tempos modernos, portadora de amplas conseqüências...”

Portanto, os ensinamentos do Concílio não se constituem como umsistema orgânico e completo da doutrina católica. Ele é uma continuidade dedocumentos que foram se estruturando à medida que se chegavam às conclusõesdefinitivas.

Este documento é formado de :• 4 Constituições Dogmáticas: Lumen Gentium (LG – sobre a Igreja),

Dei Verbum (DV – sobre a revelação divina), Gaudium et Spes (GS – sobre a DoutrinaPatoral) e Sacrosanctum Concilium (SC – sobre a Liturgia)

• 9 decretos: Unitatis Redintegratio (sobre o ecumenismo), OrientaliumEcclesiarum (sobre as igrejas orientais), Ad Gentes (sobre a atividade missionária),Christus Dominus (sobre os bispos), Presbyterorum Ordinis (sobre os mistérios da vidados presbíteros), Perfectae Caritatis (sobre os leigos), Optatam Totius (sobre aformação sacerdotal), Apostlicam Actuositatem (sobre o apostolado), Inter Mirifica(sobre os meios de comunicação).

• 3 declarações: Gravissimun Educationes (sobre a educação cristã),Dignitatis Humana (sobre a liberdade religiosa), Nostra Aetate (sobre as religiões nãocristãs).

Todos esses documentos não foram um aglomerado de leis que devamser cumpridas sem que se faça uma reflexão sobre a Igreja, porém, todos reunidosformam um corpo de doutrina e de leis que deve proporcionar a ela uma renovação.

O documento do Vaticano II também reserva uma parte para a educaçãoque está inserida na Declaração Gravissima Educationes sobre a Educação Cristã. OConselho Ecumênico Sagrado considerou com cuidado como a educação éextremamente importante para a vida do homem.

O Concílio fala exclusivamente sobre a educação e sua importância paraa formação do ser humano, mas principalmente em relação ao ensino religioso. Ele trazalgumas considerações importante, tais como:

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1504 “Os homens todos de qualquer raça, condição social e idade emvirtude da dignidade sua pessoa, gozam do direito inalienável à educação”

1507 “A tarefa de ministrar a educação, embora seja primordialmentecompetência da família necessidade dos auxílios de toda a sociedade. Assim,além dos direitos dos pais e das pessoas, a quem estes confiam parte da tarefaeducacional, existem certos deveres e direitos que competem à sociedade civil...”

1508 “Por uma razão bem especial, cabe à Igreja o dever de educar. Nãosó porque deve ser reconhecida como sociedade humana capaz de transmitir aeducação”.

1509 “No cumprimento de sua tarefa educacional, a Igreja se interessapor todos os subsídios aptos, mas cuida dos que são próprios. Entre estes figura,em primeiro lugar, a formação catequética.”

1510 “Entre todos os instrumentos da educação possui a escolaimportância peculiar. É por força de sua missão que ela aperfeiçoa, com desveloininterrupto as faculdades intelectuais... faz participar no patrimônio dacultura...promover o sentido dos valores, propaga a vida profissional, faz nascerrelações de amizade entre alunos de índole e condição diversas e assim favorecea disposição mútua de se compreenderem.”

1512 “O poder público, a quem cabe proteger e defender as liberdadesdos cidadãos, cuidando da justiça distributiva na de providenciar que ossubsídios públicos sejam de tal sorte distribuídos, que os pais possam escolhercom verdadeira liberdade as escolas para seus filhos seguindo suasconsciências.”

Segundo o Vaticano II, o Estado tem a obrigatoriedade de favorecer atodo cidadão a liberdade e a igualdade de seus direitos. O último deve também oferecerescolas de dualidade. A escola deve oferecer um espaço precioso para as crianças ejovens tomarem consciência de sua dimensão como verdadeiros cidadãos, conhecedoresde seus direitos e deveres:

1513 “Aliás é dever do Estado criar condições para que todos possamchegar a participar de modo vantajoso na cultura e se prepararem decididamente paraque se deslumbrem dos deveres e direitos civis. O mesmo Estado deverá, pois,salvaguardar o direito das crianças à uma adequada educação escolar.”

1515 “... incumbe de empenhar-se a fundo pela educação moral ereligiosa de todos os seus filhos.”

1516 “Enaltece por isso a Igreja aquelas autoridades e sociedades civisque em vista do pluralismo da sociedade moderna e com o fim de cuidarem da devidaliberdade religiosa, ajudam as famílias para que a educação dos filhos possa transmitir-se em todas as escolas segundo os princípios morais e religiosos dos familiares.”

Tendo em vista que a Educação Religiosa deve ser plural e acompanharcontextos nos quais os indivíduos estão inseridos, ela pode contribuir na formação do

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ser humano em sua totalidade. Neste sentido, o aspecto ético torna-se fundamental, umavez que só existe na relação que estabelece com o outro.

Para entender o pluralismo, faz-se necessário penetrar na história dohomem e da mulher, entrar em contextos sociais e culturais bem concretos e mergulharem realidades existenciais bem determinadas.

A educação, como relata o Vaticano II, deve acontecer nas experiênciashumanas de hoje, que interpeladas e vividas na fé, remetem o transcendente. E atravésda família e com a ajuda da escola possam juntamente com esta pluralidade transmitiruma educação com princípios morais e éticos, principalmente religiosos.

A religião e a educação não podem possibilitar tudo, mas elas podemabrir e proporcionar um conhecimento crítico e transmitir uma dimensão mais profunda,um horizonte interpretativo mais abrangente da injustiça. A religião e a educaçãoconseguem introduzir os valores mais elevados, vitais para o ser humano.

7.2- A CNBB e o Ensino Religioso

A sigla CNBB significa Conselho Nacional dos Bispos do Brasil. Elasurgiu antes do Concílio Vaticano II, em 1952, fundada por D.Hélder Câmara. Nessemomento, inaugurou-se uma nova fase na vida na Igreja do Brasil. Este organismoeclesial deu um grande suporte para a ampliação e fortalecimento do Concílio VaticanoII.

A CNBB nasceu no contexto de uma Igreja que estava direcionada paraos novos movimentos da sociedade.

Ela utilizou de diversas formas para se organizar e auxiliar a sociedade euma delas foi o planejamento pastoral para articular todas as pastorais em nível nacionale regional, sempre partindo das Igrejas locais, garantindo a presença da sociedade emum processo de formação. A ação evangelizadora da Igreja se inspira nas missões deJesus Cristo, que nos levam a refletir sobre os caminhos de hoje. Ela realiza sua missãoevangelizadora em todo o mundo.

A Igreja aborda algumas questões da modernidade, o individualismo, opluralismo cultural e religioso, as contradições sociais e principalmente sobre aeducação.

A educação, como foi dito, também está relacionada com a Igreja, e, noBrasil, a CNBB também trazendo algumas contribuições para o Ensino Religioso.

Apesar de ser uma meta de todos os níveis da sociedade (Igreja eEstado), ainda há muito por fazer, pois existem atualmente milhões de crianças eadolescentes que não chegam a frequentar a escola e os índices de repetência e evasãoescolar ainda estão muito elevados.

Entretanto, por parte da Igreja há uma tentativa de superação da situaçãoque a educação brasileira está enfrentando. Esta teve sempre viva a consciência de quelhe cabe educar, pois em nosso país os educadores cristãos acham-se sempre presentes,desde o início da história de nossa educação, na qual exerceu grandes influências.

Há uma grande preocupação em estabelecer a identidade do ensinoreligioso escolar, distinto do ensino catequético, principalmente nas escolas da redeoficial, frente ao pluralismo de crenças dos alunos, das famílias e dos professores.Existe também uma busca da precisão nos seus objetivos, métodos, conteúdos elinguagem que tenham um referencial básico, para que os temas propostos não sejamapresentados de forma vaga, neutra, mas, sobretudo com o objetivo de atender àpluralidade de religiões.

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Entretanto, em uma grande parte das escolas católicas, o ensino religiosotem uma dimensão antropológica, na qual visa dar ao aluno uma formação básica, sociale religiosa cristã, não se limitando a aulas sistemáticas, mas perpassando toda atividadeeducativa da escola.

O Papa João Paulo II lembrava que a educação tem sua raiz maisprofunda em Deus, enquanto a ação educadora humana está intimamente ligada ao paique ama e educa seu filho.

Podemos assim dizer que o ensino religioso é uma prática evangelizadoraque deve ser sempre um processo que integra fé e vida, em nível social e pessoal e aprática educativa se encarrega sempre para o caminho da fraternidade. Por isso, toda aação educadora deve provir de uma viva espiritualidade que tem como fonte no próprioDeus-educador. Assim, no educador, fé e serviço devem caminhar juntos.

Esta ação educadora deve “humanizar e personalizar o homem, paranele criar o lugar onde possa revelar-se e ser escuta da Boa Nova, ou seja, odesígnio salvífico do Pai em Cristo e na Igreja.”

Diante disto, a evangelização e a educação não podem perder asesperanças e as virtudes da vida humana, mas continuar o trabalho à luz da verdade.Portanto, a educação deve buscar uma postura crítica, procurando voltar aos princípiosculturais e normas da integração social para criar uma sociedade justa e fraterna, mas oprincipal é tornar o educando um sujeito com o carisma fraterno para que possa ajudar asua sociedade.

Conclui-se então que, em qualquer trabalho educativo cristão, emqualquer meio social, deve ser revisto a partir do lugar dos interesses sociais dos gruposhistoricamente colocados à margem da vida social, econômica, política, cultural ereligiosa. E o grande desafio da educação religiosa é unir fé, cultura e vida.

7.3- A proposta ecumênicaA questão da ética religiosa sempre permaneceu como uma questão

desafiadora em todos os tempos. O ser humano busca sem cessar, compreender atravésda religião, três indagações fundamentais: de onde veio?- a questão da origem; o que fazaqui?- a razão de sua existência terrena; e para onde vai?- o fim último de tudo.

Podemos falar em religião, se entendemos esta realidade como crença naexistência de força ou forças sobrenaturais criadoras do universo. Essa crença revela-seatravés de uma doutrina e de um ritual próprio, constituindo-se num sistema religioso.

Cada pessoa crê em um determinado sistema religioso, mas isso não émotivo para que passem a desentender-se.

O compromisso ecumênico pertence a todos, pois ele é essencial para aunidade de todas as religiões. Uma formação ecumênica é indispensável para o serhumano, para que ele saiba respeitar a religião do outro. Ao encaminhar o ensinoreligioso para um diálogo inter-religioso está naturalmente aberto, para objetivosmaiores na existência humana.

À escola cabe conduzir a discussão sobre um conjunto de valores que oser humano deve ter para uma sobrevivência digna.

No contexto da pluralidade religiosa pode ser claramente percebidocomo a afirmação da verdade religiosa tem provocado conflitos, desentendimentos e atéguerras entre grupos religiosos e povos, como vemos no Oriente Médio. É notória anecessidade que têm as religiões de se apresentarem como sendo a verdadeira religião.Não raras foram as vezes, na história, em que afirmar a verdade de uma religiãosignificou negar a existência de outras. Os tempos foram mudando e o que se percebe

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nos tempos modernos é uma sede, uma necessidade do entendimento entre as religiões.Com isso, acontece uma significativa mudança na concepção de uma verdadeirareligião. As religiões, por mais diferentes que sejam, são verdadeiras e boas, na medidaem que são humanas, em que não oprimem e nem destroem o humanismo, mas oprotegem.

O processo educativo deve levar em conta também as expressões damodernidade e da pós-modernidade, favorecendo uma visão crítica perante aos valores eos contra-valores que estão dentro desta sociedade capitalista, discriminatória eindividualista. O ensino religioso deve ter como meta a busca do respeito áindividualidade e à liberdade de cada um, incentivando o aluno e dando sentido à suavida e seus valores, valores estes que cada um traz consigo e estabelecem um legítimodiálogo e trocas de experiências para uma maior compreensão da realidade e dareligiosidade do outro.

8. O PEDAGOGO DA HUMANIDADEJesus é o nosso modelo moral por excelência. Veio à Terra para nos

mostrar o caminho da evolução. È Espírito Puro, com o único título que aceitou emvida: o de Mestre, Mestre da humanidade, Pedagogo de nossa educação espiritual.

Se quisermos elevar a nossa compreensão ao exemplo máximo deeducador, temos de meditar na vida e na personalidade de Jesus de Nazaré. Os maioreseducadores foram os que tentaram imitá-lo e seguiram seus ensinamentos. Pestalozzi oamava ternamente, Montessori o cita em cada texto seu, Comenius procurava servi-lo,Bach o louvava pela vida e pela música, Gandhi se inspirava nele.

Por mais que existam pessoas que tentem colocar Jesus no mesmo nívelda humanidade, é indiscutível que ele foi o modelo mais perfeitos de amor, moralidadee sacrifício.

Relembrando as qualidades que consideram-se indispensáveis aoseducadores, vamos encontrá-las em seu grau mais perfeito na personalidade de Jesus.Sua autoridade moral é absoluta, porque já atingiu a perfeição.

Com toda a sua grandeza espiritual, como protetor da humanidade, vem àTerra; e veio, não em poder e glória da Terra, mas na pobreza e na obscuridade. Umpoder que não se impõe, mas convida; que não violente, mas converte e transforma oscorações, acordando-os para a evolução; um poder que não pune o mal, mas sacrifica-sepelo bem, tomando sobre si todas as dores e serviços, para a todos arrastar peloexemplo.

Era humilde, sem fraqueza ou servilismo. Enérgico com os hipócritas,firme com os falsos sábios que conduziam os simples segundo seus interesses, Jesus foipadrão de dignidade. Sua serenidade diante dos algozes é também coragem e nobreza;seu perdão e sua doçura são manifestações de sua infinita superioridade.

Quando se pensa no amor de Jesus pela humanidade, fundamento de suaPedagogia divina, pode-se imaginar que seja um amor difuso, impessoal, em que oshomens sejam vistos como massa. Mas não é assim, pois o amor é sempre uma relaçãode espírito a espírito. As próprias palavras e atitudes de Jesus demonstram que eleconhece cada um de seus pupilos e está sempre disponível à nossa aproximação, aonosso desejo de educação espiritual. Quanto mais ascendermos e nos depurarmos, maisdireto será o nosso contato com sua mente poderosa e seu coração afetuoso.

Jesus não passa no mundo como mestre distante dos alunos, masconhecendo-os a todos, usando com cada um a linguagem doce ou enérgica – massempre amorosa – de quem educa.

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Além de sua Pedagogia divina, em permanente exercício para conosco,detenhamo-nos na didática específica que usou em sua passagem pela Terra.

Jesus não ensinou em cátedras, não fez parte de corporações científicas,não se revestiu de nenhum título terreno e não fundou escolas ou instituições, nemmesmo nelas ensinou. E foi o maior dos mestres. Seu local de ação era a casa de Pedro,eram as praças, os montes, as margens do lago de Genesaré e sua mensagem atingia atodos indistintamente. Ensinava sem nenhum outro instrumento a não ser seus atos deamor, suas palavras simples e sua autoridade divina.

Claro que não devemos por isso menosprezar o que o homem cria parasua instrução e aperfeiçoamento: a escola, a universidade, a Ciência e a pesquisa, aFilosofia e todos os recursos de aprendizagem e progresso. Mas, observando o exemplode Jesus, saberemos que tudo em Educação pode ser acessório, menos o contato com anatureza e a naturalidade no relacionamento.

Tudo o que é simples e verdadeiro é atemporal e as palavras e osensinamentos de Jesus, não tinham apenas o Dom de tocar os homens de seu tempo,mas os homens de todas as épocas. Um ensino é tanto mais profundo e eficaz quantoexpresso de forma mais simples, sintética e bela e que possa ter vários níveis de atuaçãosobre a consciência.

Pouca gente percebe o caráter genial e poético das pregações de Jesus.Ele não foi apenas um homem bom. Tinha uma bondade inteligentíssima, mas de umainteligência superior e não essa inteligência a que costumamos apreciar, cheia desofismas e complexidades inúteis, incapazes de sobreviver no tempo e de tocar asalmas.

Ao impregnarmos o coração da criança com a personalidade sublime doMestre de Nazaré, estaremos lhe entregando a maior chave de sintonia com o Bem, ocaminho mais fácil e suave para o seu aperfeiçoamento.

9. CONCLUSÃOO conhecimento não é algo pronto e acabado, mas algo em movimento,

transformando-se a cada momento.A religião, como a própria palavra diz, é religar, é fazer o ser humano

ligar-se à uma força superior, tirando-o de seu mundo e levando-o para esferas nãoconhecidas. O homem está constantemente em busca de algo superior, que o ajude atrilhar os percalços da vida.

Há uma música, de Marielza Tiscate, que fala dos medos do homem, dorefúgio em si mesmo para proteger-se de eventuais perguntas sem respostas, a busca doamor e da coragem para buscar esse sentimento tão nobre.

ONDAS DA VIDAOndas da vida carregam o barco

Atracado no tempo, não quer navegarNaufraga em si mesmo, temendo os monstros que existem no mar

O monstro da morte consegue sozinhoFazer com que barcos prefiram parar

Mas monstros não existem sequer nas mentiras contadas no marVai, enfrenta as tormentas de além-mar

Iça as velas da coragem par lutarE ir além, estrelas do bem, vão te guiar

Vai, que o Cristo seja a luz em seu vogarQue o risco não te impeça de tentar ganhar o mar

Com o instrumento que se chama amor.

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Podemos concluir que, como na música devemos enfrentar nossos medose monstros existentes, enfrentar as tormentas e descobrir o que há de melhor dentro denós mesmos e de nossos semelhantes.

O mundo de hoje está muito corrido, e não nos resta tempo para nosconhecer ou, ainda, conhecer o outro. Precisamos parar um pouco para refletirmos sobrenossa existência, nossa dúvidas, medos, ansiedades e para nos ligarmos à natureza e àDeus. Dessa forma, encontraremos o equilíbrio tão desejado e esperado para levarmosuma vida mais centrada e em comunhão com o Bem.

10. Referências

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Revista “Pergunte e Responderemos – problemas, questões atuais” nº 405, fevereiro de1996Religião e Ética – CEAD, RJ 1999