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O ENSINO DA TABUADA: DO TRADICIONAL AO LÚDICO
Jeferson Kotokovski de Morais Rua – Capitão Amin Mosse, 18 – Bloco G1 Alto Boqueirão – Curitiba – Pr Telefone – (41) 9149-8683 Email – [email protected]
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artigo “O ENSINO DA TABUADA: DO TRADICIONAL AO LÚDICO” à revista
Tuiuti: Ciência e Cultura, caso ele venha a ser publicado.
Também declaram que tal artigo é original, não está submetido à apreciação de outro
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O autor abaixo assinado assume a responsabilidade pela veracidade das informações
contidas no referido artigo.
Curitiba, 12 de dezembro de 2011.
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Jeferson Kotokovski de Morais
O ENSINO DA TABUADA: DO TRADICIONAL AO LÚDICO
Jeferson Kotokovski de Morais
Paulo Cesar Tavares de Souza (Orientador)
RESUMO
Este trabalho visa oportunizar a reflexão sobre a trajetória do ensino da
Matemática no decorrer da História, enfatizando exclusivamente a tabuada,
que há tempos vem sendo trabalhada como um conjunto de números a serem
decorados. Destacam-se então, formas diferenciadas para auxiliar no ensino
da tabuada, dando ênfase à utilização de materiais manipuláveis para a
formação de conceitos e o uso de jogos para trabalhar, fixar e melhorar a
compreensão deste conteúdo e, assim, contribuindo para que a aprendizagem
da Matemática seja mais efetiva.
Palavras-chave: Matemática, tabuada, jogos, aprendizagem.
ABSTRACT
This work aims at to oportunizar the reflection on the trajectory of the education
of the Mathematics in elapsing of History, being emphasized exclusively the
arithmetic table, that has times comes being worked as a set of numbers to be
decorated. Differentiated forms are distinguished then, to assist in the education
of the arithmetic table, being given emphasis to the use of manipulable
materials for the formation of concepts and the use of games to work, to fix and
to improve the understanding of this content and, thus, contributing so that the
learning of the Mathematics is more effective.
Keywords: mathematics, math facts, games, learning.
INTRODUÇÃO
Um importante objetivo da Matemática é facilitar a vida do ser humano,
sendo uma ferramenta para compreender, comparar, agir sobre grandezas,
quantidades e espaços. O homem pré-histórico entendia muito bem disso. Mas
com o passar do tempo ao sistematizar a matemática como ciência a ser
ensinada e aprendida, as dificuldades começaram a surgir, a relação ciência e
realidade passou a se dissociar. É necessário destacar que essa ruptura
chegou à educação, devido a tendências pedagógicas direcionadas por
diferentes momentos políticos na História.
Por este motivo, a memorização mecânica e a transmissão
inquestionável de conteúdos estiveram presentes em boa parte da História da
Educação. É nesse contexto, que se pode encontrar como um dos
encaminhamentos metodológicos a decoreba da tabuada. Se pensar-se em
quantas vezes foi utilizada a palmatória para castigar alunos que não tinham a
tabuada na “ponta da língua” ficar-se-ia horrorizado. Mas será que faz sentido o
simples fato de decorar uma “tábua” de números que não se percebe relação
entre eles?
Os anos se passaram, mas ainda nos dias de hoje encontram-se
profissionais criteriosamente conservadores, somente mascarando
metodologias, mas utilizando princípios puramente tradicionais. Por isso, a
necessidade de destacar-se outras possibilidades para auxiliar o aluno a
incorporar o conhecimento. Os jogos são meios prazerosos, envolventes e
enriquecedores de conhecimento. Podem ser importantes instrumentos para
ensinar e fixar conceitos e aplicações. A tabuada, que muitas vezes tem
causado pânico em alunos e professores, por não perceberem resultados no
processo ensino – aprendizagem, pode ter seu trabalho muito enriquecida com
jogos e a manipulação de materiais concretos.
MATEMÁTICA, UMA CIÊNCIA HISTORICAMENTE CONSTRUÍDA
A palavra Matemática é de origem grega e significa “o que se pode aprender”,
foi criada a fim de contar e resolver problemas dos mais simples aos mais complexos,
iniciados por problemas de ordem prática da Matemática e posteriormente vinculados
a outras disciplinas.
Os primeiros indícios da Matemática, segundo MIORIM (1998, p.5), “surgiram
no período Paleolítico, devido às necessidades da época”. Neste período o homem
vivia da caça da pesca e da coleta de sementes, mas com o passar dos tempos, foi
percebendo que seria necessária a invenção de outros recursos ou métodos que
contribuíssem para resolver seus problemas no controle da fabricação de seus
produtos.
“Segundo, as nossas primeiras concepções de número e forma datam de tempos tão remotos como os do começo da Idade da Pedra, o Paleolítico. Durante as centenas de milhares de anos, ou mais, deste período, os homens viviam em cavernas, em condições pouco diferentes das dos animais, e as suas principais energias eram orientadas para o processo elementar de recolher alimentos onde fosse possível encontrá-los. Eles faziam instrumentos para caçar e pescar, desenvolviam linguagem para comunicarem uns com os outros”. (STRUIK,1992 ).
Ainda segundo MIORIM (1998, p. 5), o conceito de número surgiu
nesta época, provavelmente, da necessidade de estimar quantidades, sejam
elas de alimentos, animais ou pessoas. Seu desenvolvimento aconteceu de
forma muito lenta, primeiramente, percebendo as diferenças dos objetos, para
posteriormente, chegar a representação das quantidades por meio de objetos
concretos e abstratos.
“[...] A Matemática originalmente surgiu como parte da vida
diária do homem, e se há validade no principio biológico da
sobrevivência dos mais aptos à persistência da raça humana
provavelmente tem relação com o desenvolvimento de conceitos
matemáticos.” (BOYER 1974, p.15).
Muito tempo depois, com a separação entre o trabalho de organização
e de execução, ou seja, a separação de trabalho manual e intelectual inicia-se
a Educação com o objetivo de ensinar novas técnicas e novos instrumentos
aos filhos dos organizadores, passando a ter um tratamento especial: “É o
início da Educação intencional, sistemática, organizada, e sapiencial. Em
princípio, apenas como complementação aos conhecimentos práticos das
técnicas, mas em seguida, como a única forma de educação das classes
dirigentes.” (MIORIM, 1998, p. 8).
Neste período, com novos agrupamentos nas aldeias, surgiram as
grandes cidades. Também nesta época, as classes já eram divididas entre uma
minoria que governava e uma maioria que obedecia. Foi a partir dessa classe
dos governantes que surgiu a necessidade de registrar quantidades, somar e
calcular os lucros obtidos pelas transações de comércio realizadas.
Eis que surgiram então, as primeiras noções Matemáticas, com símbolos
em formas de desenhos e traços que possibilitavam o controle na contagem e
os registros, iniciando o processo de escrita. A contagem dos objetos e registro
dos lucros era realizada com outros elementos que eram as técnicas digitais e
corporais existentes desde o período primitivo.
Com o aperfeiçoamento dos cálculos, o sistema de registro para as
quantidades evoluiu, até que foi implantado o sistema de numeração. Devido à
dificuldade de operar com ábacos, surgiu então, a necessidade de um
especialista que soubesse lidar com esse instrumento, mas nessa época era
permitido somente aos sacerdotes-governantes.
Os Jesuítas implantaram escolas de “ler e escrever”, que foram sendo
ampliadas em escolas elementares e seminários, espalhando-se pelo território,
onde a meta era mais a formação da disciplina moral e da dominação, do que a
transmissão de conhecimento, e por isso contava com o apoio de Portugal.
O método de ensino empregado pelos Jesuítas consistia no Ratio
Studiorum, que foi enviado de Roma para “uniformizar” a organização dos
colégios, sendo composto por cinco partes principais: debates dos assuntos,
memorização, expressão e repetição das lições. “Depois de 1599, aplicou-se
Ratio Studiorum em todos os colégios brasileiros e os estudos dividiram-se em
inferiores e superiores. Os inferiores eram: gramática (latim), humanidades e
retórica. Os estudos superiores eram: teologia, filosofia e matemática”.
(HANSEN, 2001, p.17). O ensino da Matemática – essa ciência vã - conforme
ARANHA (1996, p.94), sofria restrições entre os ciclos, e ocupava-se com
exercícios de erudição e retórica.
Em 1572, no curso de Artes do Colégio da Bahia, iniciou-se um estudo
mais sistemático da Matemática sendo feito juntamente com a Lógica, Física,
Metafísica e Ética, mas não se tem registros sobre a Matemática que era
ministrada.
Já no século XVII, nos colégios da metrópole evidenciam-se alguns
estudos da geometria Euclidiana e Trigonometria, mas poucos brasileiros
conseguem ir até Portugal concluir seus estudos, porém, apenas uma minoria
tinha acesso aos cursos secundários.
Outro fato importante que ocorreu na história da educação e marcou os
estudos da Matemática, foi a Reforma de Marques de Pombal, no século XVIII.
Durante o período colonial, os reflexos do ensino da Matemática no
Brasil, surgiram após essa Reforma, que visava implantar medidas para
avançar o capitalismo de Portugal.
Com a reforma pombalina, a educação jesuítica foi desmantelada, pois
a Companhia de Jesus criada pelos padres estava sendo acusada de ser um
“império cristão”, então, os Jesuítas foram proibidos de continuar a lecionar e
as escolas por eles construídas foram fechadas.
Em virtude desta reforma, alguns brasileiros puderam estudar em
Portugal, onde foi criado, na Universidade de Coimbra, um curso de
Matemática que visava a formação dos acadêmicos com uma sólida base para
os futuros estudos de engenharia militar, navegação e arquitetura naval.
Merecendo destaque a um curso de Matemática com duração de quatro anos
que foi criado em 1772, na Universidade de Coimbra, onde os jovens puderam
ter maior contato com obras de Descartes, Newton e Leibniz. As disciplinas
ensinadas no curso consistiam em geometria (incluía estudos de aritmética e
trigonometria plana), álgebra e astronomia. A Matemática assumiu grande
importância na estrutura da Universidade, pois se tornou ferramenta dos
demais cursos, sendo criado até um observatório astronômico para os
matemáticos.
Neste período valorizava-se fortemente o empirismo nos estudos,
então a Matemática ensinada, principalmente no Brasil servia para satisfazer
os propósitos da metrópole.
Em 1808, o ensino da Matemática teve seu início propriamente dito,
com a vinda da família Real para o Brasil, pois vieram juntamente com a corte
muitos professores da Academia Real da Marinha. O início da educação
superior de Matemática no Brasil marcou-se com a criação da Academia Real
Militar em 1810.
DAMAZIO (1996), afirma que esse marco histórico é acompanhado
pela preocupação em ter a mesma qualidade de ensino existente na Europa.
Durante o Império, os militares foram os principais responsáveis pelo
ensino da Matemática na educação superior e isto trouxe reflexos
consideráveis para as séries anteriores.
Em 1859, depois da expulsão dos Jesuítas, surgiram as chamadas
“aulas régias”, que eram aulas avulsas. Nesse período, dois grandes
problemas foram observados: (1) professores não capacitados ou mal
preparados, que segundo AZEVEDO (1976 apud MIORIM, 1998, p.83),
“mostravam não só uma espessa ignorância das matérias que ensinavam, mas
uma ausência absoluta de censo pedagógico”; (2) essas disciplinas eram
pouco ofertadas e pouco frequentadas, o que também dificultava o
desenvolvimento do ensino da Matemática, embora, essas aulas tenham
levado a introdução das disciplinas matemáticas como a aritmética, a álgebra e
a geometria.
O ensino da Matemática seguiu sem maiores modificações até o início
do século XX, época em que o Brasil ainda era um país essencialmente
agrícola, e a maior parte de sua população não tinha acesso à educação, nem
mesmo a elementar. As escolas eram subdivididas em estudos primários e
secundários, o ensino gratuito nas escolas primárias, visava o domínio de
operações necessárias à vida prática utilitária, já o ensino secundário, em geral
pago, destinava-se às elites, pois preparava para os cursos superiores.
O ensino da Matemática superior restringia-se a um número
insignificante de alunos pertencentes às classes sociais mais altas. Pode-se
perceber que além da divisão de classes sociais, as escolas fomentavam certa
dualidade curricular, pois o ensino para a maior parte da população ficava
restrito ao cotidiano e sua praticidade, enquanto que para a elite o ensino
priorizava técnicas operatórias mais elaboradas.
Baseada nas idéias iluministas, a Pedagogia Tradicional foi a base da
educação por mais de quatro séculos, mantendo suas influências até o dia de
hoje. Neste período, vive-se um momento de exaltação da razão e da
liberdade, a inversão e/ou superação da fé pela razão, da crença pela ciência.
Para “garantir” a aprendizagem, essa tendência propunha cinco passos
formais: preparação – revisão do conteúdo anterior; apresentação – o mestre
repassa o novo conhecimento; assimilação – o aluno faz ligação do novo com o
velho, percebendo semelhanças e diferenças; generalização – o aluno constrói
concepções abstratas a partir de suas experiências; aplicações – através de
exercícios o aluno aplica o que aprendeu. Este método está baseado em um
caráter “magistrocêntrico”, isto é, cabia ao professor, que tinha toda autoridade,
detinha todo o conhecimento, transmitir aos alunos. Segundo LIBÂNEO (1994,
p.55) “os conteúdos, os procedimentos didáticos, a relação professor-aluno não
têm qualquer relação com o cotidiano do aluno e muito menos com as
realidades sociais.
É a predominância da palavra do professor, das regras impostas, do
cultivo exclusivamente intelectual.
A abordagem tradicional do ensino parte do pressuposto de que a
inteligência é uma faculdade que torna o homem capaz de armazenar
informações, das mais simples às mais complexas. Nessa perspectiva é
preciso decompor a realidade a ser estudada com o objetivo de simplificar o
patrimônio de conhecimento a ser transmitido ao aluno que, por sua vez, deve
armazenar tão somente os resultados do processo. Desse modo, na escola
tradicional o conhecimento humano possui um caráter cumulativo, que deve ser
adquirido pelo indivíduo pela transmissão dos conhecimentos a ser realizada
na instituição escolar (MIZUKAMI, 1986). “O professor sabe a lição e deve
transmiti-la ao aluno. É função do professor adestrar o aluno...” (DAMAZIO,
1996, p. 76)
Acontecimentos como a Primeira Guerra Mundial, expansão industrial e
a crise de 1929, trouxeram mudanças significativas especialmente para o
campo educacional, pois se necessitava de mão de obra mais preparada para
o mercado de trabalho. Surgem muitas propostas para reformular o ensino,
influenciadas principalmente pelo Movimento da Escola Nova que pregava a
inclusão de situações da vida real, em especial no ensino da Matemática.
E assim, o ensino da matemática foi passando por várias fases, várias
reformas, por vários problemas e avanços, adequando-se as correntes
pedagógicas das diferentes épocas.
Por volta de 1930, passou pelo Movimento da Escola Nova, que tentou
transformar as aulas em práticas integradas a situações do cotidiano do aluno.
As idéias do Movimento da Escola Nova receberam muitas críticas,
principalmente de professores que defendiam os rigores e demonstrações da
Matemática formal. As críticas ao ensino se tornavam cada vez mais
freqüentes, e grupos se formavam para discutir novos métodos de ensino e
reorganização nas estruturas curriculares. Porém, embora o Movimento da
Escola Nova tenha provocado discussões educacionais no país, a educação
ainda estava diretamente ligada ao ensino tradicional.
Em virtude dos primeiros Congressos Nacionais de Ensino de
Matemática, na década de 50, o processo de ensino e aprendizagem passou a
ser discutido com mais intensidade no Brasil, o que contribuiu como Movimento
da Matemática Moderna, que começou a se preocupar com novos métodos de
ensino.
No Brasil, o Movimento da Matemática Moderna deu grande ênfase aos
livros didáticos que foram de grande influência na educação.
A década de 70 foi marcada pelo período pós-guerra que constatava
uma defasagem do progresso científico tecnológico da sociedade, o que levou
a reformulações no ensino, para formar cientistas. O ensino que deveria ser
inovador buscava a mera aplicação de conteúdos sem levar em consideração à
elaboração do conhecimento.
Com o passar dos anos, a Matemática no Brasil foi conquistando um
lugar importante nas escolas. A cada evolução ocorria uma inovação nos
conceitos até que estes foram divididos por séries, para facilitar o entendimento
por parte dos alunos. Atrelados a estas inovações, estavam os modos de ver e
conceber o ensino de Matemática. (FIORENTINI, 1995).
Vale destacar que estes diferentes modos de compreender a
Matemática e o seu processo de aprendizagem tinham como objetivo principal
melhorar a qualidade do ensino como instrumento necessário ao exercício da
cidadania.
Para tanto, cabe ao professor, um melhor planejamento de suas aulas
abrindo espaço para que o aluno expresse suas dificuldades, e divida com o
professor suas insatisfações e até seu desinteresse em função de não gostar
ou de não entender a Matemática.
A influência da Escola Tradicional ainda está muito presente no ensino
nos dias atuais. “Faz-se, portanto, necessário que haja comunicação entre o
professor e o aluno é preciso que se substitua o monólogo tradicional de
nossas salas de aulas pelo diálogo". O diálogo, a troca de informações em sala
de aula, são fatores importantes para que aconteça a aprendizagem, pois são
fortes aliados para que se superem situações de dúvidas ou incertezas frente
ao ensino da Matemática.
Atualmente, o processo de ensino aprendizagem da Matemática, está
relacionado com propostas pedagógicas inseridas nas concepções
relacionadas à História da Matemática, Modelagem Matemática,
Etnomatemática, Resolução de Problemas, Jogos e Informática Aplicada a
Educação Matemática, entre outras.
Neste contexto, destacam-se os Jogos como um recurso que pode
auxiliar no reforço e dinamismo da Matemática, ampliando as possibilidades de
oportunizar o conhecimento ao aluno.
A IMPORTÂNCIA DOS JOGOS NO DESENVOLVIMENTO DO RACIOCÍNIO
LÓGICO-MATEMÁTICO
A inteligência lógico-matemática se manifesta através da facilidade para
o cálculo, na capacidade de se perceber a geometria nos espaços, na
satisfação de criar e solucionar problemas lógicos e perceber que toda a
natureza está a associada a símbolos matemáticos. Ensinar matemática é
desenvolver o raciocínio lógico, estimular o pensamento independente, a
criatividade e a capacidade de resolver problemas. O uso de jogos e
curiosidades no ensino da Matemática tem o objetivo de fazer com que o aluno,
além de apreciar e desejar envolver-se mais nesta área do conhecimento
possa despertar os três aspectos: o caráter lúdico, o desenvolvimento de
técnicas intelectuais e a formação de relações sociais. Devemos usá-los não
como meros instrumentos recreativos na aprendizagem, mas como
facilitadores, colaborando para trabalhar os bloqueios que os alunos
apresentam em relação a alguns conteúdos matemáticos.
A Educação Tradicional teve sua contribuição para sua época, porém,
certamente não era a melhor forma de fazer um ser humano aprender, ou seja,
pela mera repetição. Muitos anos se passaram e muitas vezes ainda
presenciam-se a reprodução deste mesmo estilo de ensinar. Em alguns casos,
o que limita o professor para inovar a sua prática é a própria escassez em sua
formação, ou seja, acaba repassando a forma com que foi ensinado. SKINNER
faz uma interessante observação quando diz que “o professor a quem foi dito
que deve desenvolver o raciocínio não sabe realmente o que fazer”. Assim,
segue desenvolvendo os conteúdos programáticos previstos, ano após ano e,
mesmo utilizando formas de abordagem interessantes com relação à finalidade
anunciada ele “nunca saberá se conseguiu ou não realizar a tarefa”.
(SKINNER). MICOTTI (1999, p. 154) afirma que “educar é a principal função da
escola, mas as variações no modo de ensinar determinam diferenças nos
resultados obtidos”. O ato de ensinar, não significa mais transmitir informações,
porém, muitos professores ainda acreditam obter melhores resultados com o
ensino tradicional. Há quem diga que antes, com o ensino tradicional, a escola
era mais eficiente e criticam as reformas e os novos métodos de avaliação.
Durante muito tempo confundiu-se “ensinar” com “transmitir” e nesse
contexto o aluno era um agente passivo da aprendizagem e o professor um
transmissor não obrigatoriamente presente nas necessidades dos alunos.
Acreditava-se que toda aprendizagem decorria pelas intensas repetições e que
os alunos que não aprendiam eram responsáveis por essa deficiência e,
portanto, merecedores do castigo de reprovação. Atualmente, após vários
estudos sobre o caso, percebe-se esta idéia tão absurda e sabe-se que não
existe ensino sem que ocorra aprendizagem, e esta não acontece senão pela
transformação, pela ação facilitadora do professor do processo de busca do
conhecimento.
A idéia de um ensino despertado pelo interesse do aluno acabou
transformando o sentido do que se entende por material pedagógico e cada
estudante passou a ser um desafio do processo ensino-aprendizagem, suas
experiências e descobertas, o motor de seu progresso e o professor um
gerador de situações estimuladoras eficazes. MACEDO (1994) acredita que a
formação de professores numa proposta construtivista é possível levando-se
em consideração quatro pontos, que ele considera fundamentais: Primeiro: é
importante para o professor tomar consciência do que faz ou pensa a respeito
de sua prática pedagógica. Segundo, ter uma visão crítica das atividades e
procedimentos na sala de aula e dos valores culturais de sua função docente.
Terceiro, adotar uma postura de pesquisador e não apenas de transmissor.
Quarto, ter um melhor conhecimento dos conteúdos escolares e das
características de aprendizagem de seus alunos. (MACEDO, 1994. p.59).
DUARTE (1987), afirma que a aprendizagem matemática fundamental
em técnicas de reprodução e memorização momentânea, já não satisfaz mais
as necessidades da sociedade em geral.
É nesse contexto que o jogo ganha um espaço como a ferramenta ideal
da aprendizagem na medida em que propõe estímulo ao interesse do aluno. O
jogo ajuda a construir novas descobertas, desenvolve e enriquece a
personalidade e simboliza um instrumento pedagógico que leva o professor à
condição de condutor, estimulador e avaliador da aprendizagem.
Segundo MALBA TAHAN, 1968, “para que os jogos produzam os efeitos
desejados é preciso que sejam de certa forma, dirigidos pelos educadores”.
Os Parâmetros Curriculares Nacionais, que simbolizam uma proposta
que visa orientar, de maneira coerente as políticas educacionais existentes e
que contribuem para a melhoria com eficiência da atualização e qualidade da
educação, apóia-se em princípios construtivistas e em um modelo de
aprendizagem que reconhece a participação construtiva do aluno, a
intervenção do professor nesse processo e a escola como espaço de formação
e informação em que a aprendizagem de conteúdos e o desenvolvimento de
habilidades operatórias favoreçam a inserção do aluno na sociedade que o
cerca e, progressivamente, em universo cultural mais amplo. Para que essa
orientação se transforme em uma realidade concreta é essencial a interação do
sujeito com o objeto a ser conhecido e, assim, à multiplicidade na proposta de
jogos se concretiza e materializa essas interações. Os jogos se prestam à
multidisciplinaridade e, dessa forma, viabilizam a atuação do próprio aluno na
tarefa de construir significados sobre os conteúdos de sua aprendizagem e
explorar de forma significativa os temas transversais.
O RACIOCÍNIO MULTIPLICATIVO E APLICAÇÃO DA TABUADA
O número elevado de estudantes reprovados e com dificuldade na
apropriação dos conceitos matemáticos tornou-se uma preocupação para os
pais e educadores de matemática. Desta forma, percebemos que as
dificuldades de aprendizagem e a conseqüente reprovação estão intimamente
ligadas ao processo de ensinar e aprender (ARAÚJO, 2005).
Como dito anteriormente, as marcas da Escola Tradicional ainda são
muito presentes nos dias de hoje. E a “decoreba” da tabuada é uma evidência
disso. A aprendizagem sem significado, que faz com que o aluno,
mecanicamente, tente lembrar-se de números soltos e insignificantes para sua
realidade, pois, ao menos que lhe oportunizado saber que a multiplicação é
decorrência das repetidas adições, ou seja, repetição de parcelas iguais. A
multiplicação foi criada para facilitar e agilizar os cálculos para o ser humano.
Repensar o ensino do princípio multiplicativo é importantíssimo, pois
muitos dos alunos, inclusive nos dias de hoje, sentem muita dificuldade em
aprender, compreender e empregar a tabuada.
Muitos investigadores sugerem que sejam trabalhados, desde o primeiro
ano da educação básica, com os problemas aditivos e subtrativos, problemas
multiplicativos e de divisão. Defendendo que uma forma de minimizar a
dificuldade na aprendizagem, que os alunos sentem, é começar, desde cedo, a
resolver problemas relacionados com o cotidiano, sugerindo a idéia de realizar
operações.
O início do trabalho que envolva o raciocínio multiplicativo pode estar
associado a elementos simples, do cotidiano escolar e vivência do aluno para
se repetir quantidades. Este é o princípio, a constituição de conceitos
multiplicativos. São diversos os exemplos que podem ser usados:
Quantos “quadradinhos” há nessa barra de chocolate (Figura 1)?
FIGURA 1: Barra de chocolate
FONTE: http://www.chocablog.com/reviews/ms-organic-fairtrade-milk-chocolate-with-rose
Ao desenvolver está atividade, é esperado que o aluno perceba que,
contando os “pedacinhos” de chocolate, tem-se: 4 + 4 + 4 + 4 + 4 + 4 = 4 X 6
Outro questionamento que pode ser feito para uma criança, fazendo uso
de objetos de seu cotidiano está representado na figura seguinte (Figura 2),
onde são colocadas notas de dinheiro para que o aluno transforme o raciocínio
aditivo em um raciocínio multiplicativo. Por exemplo, pode ser aresentada a
seguinte pergunta: Júlia tem em sua carteira 6 notas de R$2,00. Quanto
dinheiro Júlia tem?
FIGURA 2: Notas
FONTE: http://www.webdesignerbrasil.com/outros-valores.html
Outro exemplo é destacado na sequência: Felipe tem uma caixa de lápis
de cor com 12 lápis. Se mais 5 crianças tem uma caixa de lápis de cor assim
como a dele, quantos lápis teriam juntos?
12 – Felipe
12+12+12+12+12 = amigos de Felipe
12 X (5+1) = 12X 6 = 72
FIGURA 3: Caixas de lápis de cor
FONTE: http://www.bigbrinde.com/index.php?cPath=37
DO TRADICIONAL AO LÚDICO NA APRENDIZAGEM DA TABUADA
As brincadeiras e os jogos são as formas mais originais que a criança
tem de se relacionar e se apropriar do mundo. É brincando que ela se relaciona
com as pessoas e objetos ao seu redor, aprendendo todo o tempo com as
experiências que pode ter. (VOLPATO, 2002, p. 100)
Os jogos são formas lúdicas de atrair a atenção dos alunos. Assim, são
citados alguns exemplos de jogos que auxiliam na aprendizagem da tabuada:
DOMINÓ DA TABUADA
Quantidade de participantes: 4 (máximo)
Número de peças para cada participante: 7 (distribuídas aleatoriamente).
Procedimento: Seguindo uma ordem de jogada, os participantes vão
encaixando as peças de acordo com as respostas ou multiplicações que
aparecem nas peças. Se o participante, na sua vez de jogar, não tiver peças
para encaixar irá “passar” sua vez para o próximo jogador.
Os oponentes não podem mostrar suas peças aos demais. Vencerá o
participante que encaixar todas da suas peças.
A Figura 4 é um exemplo para construção do jogo “Dominó da Tabuada”:
FIGURA 4: Dominó da Tabuada
FONTE: http://ludicoepedagogico.blogspot.com/2010/12/domino-da-tabuada.html
A sequência de fotos da figura 5 mostra o jogo “Dominó da Tabuada”:
FIGURA 5: Dominó da Tabuada
BINGO DA TABUADA
Outra atividade a ser destacada é o bingo da Tabuada. Neste jogo, cada
aluno receberá uma cartela ou quantas forem estabelecidas e também alguns
marcadores que poderão ser pedrinhas, grãos de feijão, milho, etc. O professor
ou outro aluno iniciará a brincadeira retirando um número do globo. Os alunos
deverão encontrar na cartela a multiplicação que tem como resultado o número
citado. Poderá haver casos em que haja mais de uma multiplicação. Exemplo:
24 = 3 x 8, 6 x 4, etc. Será o vencedor aquele que completar sua cartela
primeiro.
A sequência de fotos da figura 6 mostra jogo “Bingo da Tabuada” com
exemplos de cartelas.
FIGURA 6: Bingo da Tabuada
BOLICHE DA TABUADA
A figura 7 mostra pinos de boliche adequados ao jogo “Boliche da
Tabuada”, que também pode ser construído utilizando-se de garrafas
descartáveis. A sequência de fotos da figura 7 mostra jogo Boliche da
Tabuada.
FIGURA 7: BOLICHE DA TABUADA
Todos os pinos foram preparados de modo que os números possam ser
escolhidos obtendo assim multiplicações de parcelas diferentes. Veja a
sequência de fotos na figura 8.
FIGURA 8: BOLICHE DA TABUADA
Inicialmente (figura 8) tem-se um pino com o número 5. Girando o
“mostrador de parcelas” obtém-se os números 6 e 7 respectivamente.
Com 10 pinos ou garrafas descartáveis, previamente preparadas, todas
destacando o mesmo número (soma de parcelas iguais), dar início aos
arremessos de bola. À medida que os pinos forem sendo derrubados, como
mostra a figura 9, o aluno deverá realizar os cálculos para, então, dar a
resposta da pontuação que atingiu. A intenção é aliar a habilidade em derrubar
garrafas com a capacidade de calcular os resultados das multiplicações. O
vencedor será aquele que obtiver a maior pontuação.
FIGURA 9: Pinos derrubados
CONCLUSÃO
Analisando a história da Matemática, bem como seus avanços e
aplicabilidade, percebe-se a necessidade de repensar formas de ensinar,
buscando alcançar com diferentes estratégias um número maior de aprendizes.
Os jogos são estratégias que estimulam a atenção, concentração, a
aplicação e reflexão de diferentes estratégias, oportunizam o cálculo mental e
por sua vez também auxiliam no processo de memorização. Além disso, muito
se aprende também com relação ao respeito às regras, honestidade,
humildade e diversos outros valores que se busca desenvolver ao interagir
socialmente de forma harmônica.
Neste artigo, constam três alternativas de jogos que buscam viabilizar
este trabalho com o intuito de fortalecer a aprendizagem da multiplicação,
especificamente, a tabuada, com objetividade e de forma divertida.
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FUNDAMENTAL. Parâmetros Curriculares Nacionais: matemática. Brasília:
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DAMAZIO, A. . Ensino da matemática: retrospectiva histórica. Revista de
Ciências Humanas, Criciúma, v.2, n.2 , p.73-88, jul./dez./1996.
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