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XVII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica, XIII Encontro Latino Americano de Pós- Graduação e III Encontro de Iniciação à Docência Universidade do Vale do Paraíba 1 O ENSINO DA DISCIPLINA DE MÚSICA NAS ESCOLAS PARTICULARES DE SÃO JOSÉ DOS CAMPOS Arline Priscila de Oliveira, Luis Fernando de Oliveira, Mayra Diniz Vallim n UNIVAP Universidade do Vale do Paraíba, FEA - Faculdade de Educação e Artes, Rua Tertuliano Delphin Jr, 181, [email protected], [email protected], [email protected]. Resumo Este estudo tem como objetivo descrever a cronologia dos fatos históricos relativos à música na educação, de verificar a legislação vigente para a institucionalização do ensino da música nas escolas e as dificuldades encontradas para inseri-la nos currículos escolares. Constitui-se em uma pesquisa bibliográfica e em um trabalho de campo, realizado a partir de observações, entrevistas e conversas informais com gestores e professores de cinco instituições particulares do município de São José dos Campos. A base teórica está vinculada a partir dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs-BRASIL, 2000), e dos pressupostos de Gadotti (1997), Joly (2004), e Tavares (2008). Apesar da riqueza de produção bibliográfica, os dados levantados na pesquisa de campo apontam para uma realidade onde a presença do ensino de música é ausente na maioria dessas escolas. Um reflexo das contradições e ambiguidades nas quais essa disciplina se insere. Palavras-chave: Música, Educação, Escola e Legislação. Área do Conhecimento: Ciências Humanas (Educação) Introdução Nesta pesquisa, decidiu-se verificar a realidade do ensino da música nas escolas particulares de São José dos Campos, devido à sua importância em instâncias escolares. Construiu-se o embasamento teórico a partir dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs- BRASIL, 2000) e dos pressupostos de Gadotti (1997), Joly (2004), e Tavares (2008), dentre outros autores. Este estudo tem como objetivo descrever a cronologia dos fatos históricos relativos à música na educação, verificar a legislação vigente para a institucionalização do ensino da música nas escolas e as dificuldades encontradas para inseri- la nos currículos escolares. Metodologia Este trabalho constitui-se em uma pesquisa bibliográfica, realizada em acervos de bibliotecas locais, e uma pesquisa de campo, que aconteceu em cinco escolas da rede particular de ensino de São José dos Campos, estado de São Paulo. Em relação à pesquisa bibliográfica, é fundamental ancorar-se na legislação e na cronologia dos fatos referentes ao assunto tratado neste estudo. Segundo o dicionário Michaelis, a pesquisa bibliográfica nada mais é que: Conhecimento dos livros quanto ao seu valor literário e pecuniário. Obras de um autor ou de um ramo de saber humano. Secção de uma publicação periódica, destinada ao registro ou crítica das publicações recentes. Já, em relação ao trabalho de campo, realizado por intermédio de visitas, entrevistas e conversas informais, possibilitou a coleta de dados, cuja análise subsidiou considerações ao ensino da música nas escolas particulares de São José dos Campos, estado de São Paulo. Partindo da problemática como incorporar o ensino de música como área de conhecimento, utilizou-se, nesta pesquisa, a legislação vigente como base para as devidas reflexões, análises e considerações finais. Resultado O estudo central deste trabalho parte da perspectiva de que o ensino de música nas escolas particulares esteja caracterizado como

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XVII Encontro Latino Americano de Iniciação Científica, XIII Encontro Latino Americano de Pós-

Graduação e III Encontro de Iniciação à Docência – Universidade do Vale do Paraíba 1

O ENSINO DA DISCIPLINA DE MÚSICA NAS ESCOLAS PARTICULARES DE

SÃO JOSÉ DOS CAMPOS

Arline Priscila de Oliveira, Luis Fernando de Oliveira, Mayra Diniz Vallimn

UNIVAP – Universidade do Vale do Paraíba, FEA - Faculdade de Educação e Artes, Rua Tertuliano Delphin

Jr, 181, [email protected], [email protected], [email protected].

Resumo – Este estudo tem como objetivo descrever a cronologia dos fatos históricos relativos à música

na educação, de verificar a legislação vigente para a institucionalização do ensino da música nas escolas e as dificuldades encontradas para inseri-la nos currículos escolares. Constitui-se em uma pesquisa bibliográfica e em um trabalho de campo, realizado a partir de observações, entrevistas e conversas informais com gestores e professores de cinco instituições particulares do município de São José dos Campos. A base teórica está vinculada a partir dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs-BRASIL, 2000), e dos pressupostos de Gadotti (1997), Joly (2004), e Tavares (2008). Apesar da riqueza de produção bibliográfica, os dados levantados na pesquisa de campo apontam para uma realidade onde a presença do ensino de música é ausente na maioria dessas escolas. Um reflexo das contradições e ambiguidades nas quais essa disciplina se insere.

Palavras-chave: Música, Educação, Escola e Legislação. Área do Conhecimento: Ciências Humanas (Educação) Introdução

Nesta pesquisa, decidiu-se verificar a realidade do ensino da música nas escolas particulares de São José dos Campos, devido à sua importância em instâncias escolares.

Construiu-se o embasamento teórico a partir dos Parâmetros Curriculares Nacionais (PCNs- BRASIL, 2000) e dos pressupostos de Gadotti (1997), Joly (2004), e Tavares (2008), dentre outros autores.

Este estudo tem como objetivo descrever a cronologia dos fatos históricos relativos à música na educação, verificar a legislação vigente para a institucionalização do ensino da música nas escolas e as dificuldades encontradas para inseri-la nos currículos escolares. Metodologia

Este trabalho constitui-se em uma pesquisa bibliográfica, realizada em acervos de bibliotecas locais, e uma pesquisa de campo, que aconteceu em cinco escolas da rede particular de ensino de São José dos Campos, estado de São Paulo.

Em relação à pesquisa bibliográfica, é fundamental ancorar-se na legislação e na

cronologia dos fatos referentes ao assunto tratado neste estudo.

Segundo o dicionário Michaelis, a pesquisa bibliográfica nada mais é que:

Conhecimento dos livros quanto ao seu valor literário e pecuniário. Obras de um autor ou de um ramo de saber humano. Secção de uma publicação periódica, destinada ao registro ou crítica das publicações recentes.

Já, em relação ao trabalho de campo, realizado por intermédio de visitas, entrevistas e conversas informais, possibilitou a coleta de dados, cuja análise subsidiou considerações ao ensino da música nas escolas particulares de São José dos Campos, estado de São Paulo. Partindo da problemática como incorporar o ensino de música como área de conhecimento, utilizou-se, nesta pesquisa, a legislação vigente como base para as devidas reflexões, análises e considerações finais. Resultado O estudo central deste trabalho parte da perspectiva de que o ensino de música nas escolas particulares esteja caracterizado como

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área de conhecimento e, portanto, inserido, no Projeto Pedagógico da escola, de acordo com a legislação brasileira vigente. Acresce-se a essa perspectiva que o gestor possua preparo profissional que lhe garanta, entre outras competências, o domínio do conteúdo e da metodologia de ensino, para ser capaz de entender a realidade da educação musical no Brasil, uma vez que, segundo Fucci:

Quando pensamos na educação musical na realidade escolar, somos legatários desse rico arcabouço filosófico. Nele, e com ele, precisamos nos inspirar para vislumbrar os caminhos e descaminhos que o ensino da música trilhou no Brasil.(FUCCI, 2012).

Ao longo de toda a história, a música sempre esteve presente em relação aos aspectos religiosos, morais e sociais da formação humana. Os índios que aqui habitavam foram os primeiros a manifestar a música brasileira em forma de ritual, como, por exemplo, a prática do canto e da dança. A presença da música no período Colonial e Imperial, trazida para o Brasil em 1549 pelos jesuítas, era determinante na questão religiosa e elitista. Nessa época, em relação ao contexto educacional, a música foi um marco nas escolas religiosas e manteve forte presença na Igreja Católica. Curiosamente, o Padre Anchieta foi um dos primeiros professores de música nas missões, onde, além de se ensinar as necessidades do dia-a-dia, ensinava também a música vocal e instrumental.

No Brasil, os conservatórios chegaram, primeiramente, ao Rio de Janeiro, em 1841, e, posteriormente, ao estado de São Paulo, em 1906.

Tendo em seus quadros funcionários especializados, os conservatórios, além de formarem excelentes pianistas, artistas ofereceram ao Brasil muitos professores de pianos que procuravam continuar o aprendizado em aulas particulares, sendo este mais um marco, da educação musical no Brasil.

Agindo de maneira rigorosa e técnica, os conservatórios, desde o tempo Colonial, eram vistos pelos grandes fazendeiros como contexto ideal para a educação de suas filhas, pois enxergavam na música a maneira clássica de doutrina-las e caracterizá-las como moças de boa família.

A música nas escolas no período de 1840 -1889, vinda de uma herança religiosa com os mestres imigrantes, marcou uma época em que a ópera se fazia presente na elite do Rio de Janeiro. As músicas indígenas e africanas adentraram, vagarosamente, nas classes populares, sem, entretanto, atingir as salas de aula.

Após a dissolução da Assembleia Constituinte (1823), em meio a uma crise política e a volta de Dom João VI a Portugal, Dom Pedro, sob pressões portuguesas, apressou em declarar a separação do Brasil de Portugal e criar uma estrutura educativa no Brasil, espécie de escola normal na Corte, voltada aos militares e demais cidadãos interessados.

A elaboração de uma constituição, outorgada em 1824, pelo imperador Pedro I, prevê aos cidadãos a existência de um Colégio e Universidades que ensinem Ciências, Belas Letras e Artes,.

Em 1827, consta na redação da Lei de Instrução Elementar a presença de escolas em todas as cidades, vilas e lugares mais populosos, oportunizando a organização da instrução pública no Brasil, ficando ao encargo das províncias a preparação dos professores.

A criação de escolas primárias em todas as cidades, vilas e povoados, e escolas secundárias nas cidades e nas vilas mais populosas foram escassas e os professores eram mal remunerados. Não havia uma escola de boa qualidade, porém, havia uma escola mais descentralizada e ágil.

O ensino da música continuava voltado para a elite e era oferecido pelo Colégio Pedro II, em 1838. Constava na grade curricular como disciplina, o ensino da música vocal, durante os oito anos de escolaridade. O que não aconteceu na rede pública, como relata Rita Fucci – Amato:

A música não se fez presente pela Lei de Instrução Elementar de 1827, que tratava das escolas de ‘primeiras letras’ onde se praticava o ensino mútuo.

Com o decreto nº 1331-A, de 17 de fevereiro de 1854, regulamenta-se o ensino de música no país e inicia-se a orientação da atividade docente. No ano seguinte elabora-se outro decreto, com a exigência da realização de concurso público para a contratação de professores de música e sua presença nas 1ª e 2ª classes, nas quais se ofereciam, conforme decreto nº 981, de 8 de novembro de 1890, exercícios de canto e noções de música. Vale destacar o currículo e suas disciplinas trabalhadas nos quatros anos do ensino normal. Eram: leitura, escrita e caligrafia, moral prática, educação cívica, geografia geral, cosmografia, geografia do Brasil, noções de física, química e história natural (higiene), História do Brasil e leitura sobre a vida de grandes homens, leitura de música e canto, exercícios ginásticos e militares e trabalhos manuais, apropriados à idade e sexo.

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Como se pode observar, a discussão sobre o ensino da música encontra-se presente ao longo do tempo, amparada por dispositivos constitucionais, e, incansavelmente, colocada na pauta dos temas importantes de estudo de muitos educadores e colaboradores dessa área de conhecimento.

No Brasil, a educação musical passa a crescer como prática sistemática e metódica, no estilo europeu, conduzida pelo projeto de Villa-Lobos. Conhecido como uma das grandes figuras da música brasileira, Heitor Villa–Lobos, compositor e marco nas salas de concerto do mundo todo, destaca-se no Brasil com o canto orfeônico, em um trabalho sistematizado na educação musical. Com Villa-Lobos, a educação musical brasileira apresenta-se com música folclórica, choros e os poemas sinfônicos, os quais são as mais fortes expressões e a vitalidade de ritmos que ecoavam no musical brasileiro. Contando com intelectuais, como Cândido Portinari, Cecília Meireles e Lourenço Filho, Heitor Villa-Lobos conseguiu colocar, nesse momento da história, a prática de suas ideias a favor dos serviços educacionais. A obrigatoriedade do ensino orfeônico contribuiu para a criação da cadeira de música e canto orfeônicos no Instituto de Educação do Rio de Janeiro e do Conservatório Nacional de Canto Orfeônico filiado ao ministério da Educação e Saúde, com a finalidade de formar professores capacitados para o ensino dessa disciplina. Em 1967, o Conservatório Nacional de Canto Orfeônico passa a ser denominado Instituto Villa-Lobos, ainda vinculado ao governo federal, filiado ao Ministério da Educação e Cultura (MEC). Sem dúvida, o canto orfeônico foi a principal ferramenta para a musicalização como referência teórica e prática. Envolvido pela sua principal finalidade em despertar nos educadores o interesse pela arte em geral, Villa-Lobos desenvolveu, no seu projeto de canto orfeônico, a organização da prática em escolas, formação e apresentações orfeônicas e composição e organização de canções voltadas ao processo de ensino aprendizagem. Em toda sistemática, o material didático utilizava-se do guia - práticos solfejos -, e do canto orfeônico com fundo nacionalista e patriótico. Guiado por uma música verdadeiramente brasileira, Heitor Villa-Lobos foi reconhecido internacionalmente e ainda é muito presente por usar de ritmos e inspirações ligadas ao folclore nacional. Sua educação musical buscava sempre o ideário nacionalista, estabelecendo, historicamente, a função social da música.

É necessário ressaltar que Villa-Lobos foi o grande responsável por um admirável projeto de

educação musical realizado no Brasil, revelando importantes ensinamentos quando se busca novas alternativas para estruturação do ensino musical nas escolas.

O ensino do canto orfeônico inserido por Villa-Lobos perdurou até 1961, quando a Lei de Diretrizes e Base da Educação Nacional (LDBEN), nº 4024, de 1961, substitui o canto orfeônico pela disciplina “educação musical”.

A Lei 9.394/96 deixa implícito o ensino da educação musical como parte da disciplina de arte.

Já, em relação aos Parâmetros Curriculares Nacionais, estes não contribuem para definir como o ensino de música deve ser trabalhado em sala de aula.

A Lei nº 11.769/08 aponta que, a partir de 2012, o ensino de educação musical deveria estar presente na grade curricular das escolas de Ensino Fundamental, atendendo aos diversos contextos encontrados no preparo e desenvolvimento educacional do país.

Com a obrigatoriedade do ensino de música, as escolas tiveram três anos para se adaptar e implantar tal ensino que garantisse o conhecimento e desenvolvimento dos alunos com professores específicos e locais adequados, exigindo das universidades os cursos de licenciatura em música, e/ou educação musical.

As dificuldades em relação aos materiais pedagógicos e em suas adequações exigem pesquisas e reflexões, assim como quanto à formação de professores para atuar como docente no ensino fundamental. Acreditou-se que três anos seria o período necessário ao cumprimento do que se estabeleceu na Lei, e para que a reinserção da música no ensino fundamental se fizesse realmente presente, com as suas características, a sua beleza e os seus objetivos, conforme as palavras de Villa-Lobos:

Tenho uma grande fé nas crianças. Acho que delas tudo se pode esperar. Por isso é tão essencial educá-las. É preciso dar-lhes uma educação primária de senso ético, como iniciação para futura vida artística. Um povo que sabe cantar está a um passo da felicidade; é preciso ensinar o mundo inteiro cantar. (1987, p.13).

Dessa forma, o ensino de música se nos apresenta possível, necessário e estrutura-se a partir da escola, lugar privilegiado e fundamental para a formação da cidadania. Desenvolve-se na perspectiva da construção do conhecimento. Não se trata, portanto, de planejar e dar aula na forma do modelo ultrapassado de repasse de conteúdos ou a volta do canto orfeônico de Villa-Lobos, mas

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alicerça-se na esperança de que a história e o momento atual conferem conhecimentos para o ensino realmente relevante que a música é capaz de desenvolver nos educandos. O que possibilita essa nova realidade é a mudança da legislação; ou seja: a Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB), nº 9.394, de 20 de dezembro, de 1996, alterada pela Lei nº 11.769/08, torna o ensino de música obrigatório na educação básica:

Art. 1º: O art. 26 da Lei n 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a vigorar acrescido do seguinte: § 6º A música deverá ser conteúdo obrigatório, mas não exclusivo, do componente curricular de que trata o § 2º deste artigo. Art. 2º: O Ensino de música será ministrado por professores com formação específica na área. Art. 3º: Os sistemas de ensino terão 3 (três) anos letivos para se adaptarem às exigências estabelecidas nos artigos 1º e 2º desta Lei. Art. 4º: Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. (Brasília, 18 de agosto de 2008; 187º da Independência e 120º da República. Diário Oficial da União - Seção 1 - 19/8/2008, Página 1) (Publicação Original).

No entanto, para que o processo de ensino e aprendizagem da música se torne, de fato, relevante, é necessário que se observem os Parâmetros Curriculares Nacionais (BRASIL, 2000), uma vez que, segundo eles, a Arte é dividida em áreas de quatro modalidades: arte visual, teatro, dança e música.

A partir daí a música passa ter os seus conteúdos divididos em três grupos: 1° Comunicação e expressão em música: interpretação, improvisação e composição; 2° Apreciação significativa em música: escuta, envolvimento e compreensão da linguagem musical; 3° A música como produto cultural e histórico: músicas e sons do mundo. (BRASIL, pp. 78 a 81). Segundo os PCNs (2000), a música está ligada às tradições e culturas de cada época, e atualmente vem se modificando de acordo com as referências musicais das sociedades, nas quais possui diversos meios de escuta. Para uma proposta pedagógica de ensino musical, é necessário abrir espaço para tais diversidades, pois, assim, permite ao aluno condição de avaliar o que se produz, oportunizar a todos o contato com a produção humana e criar hipóteses de afinação, ritmos, e também a percepção de elementos da linguagem. Em sala de aula é importante que o aluno traga a sua própria diversidade musical. Ao professor cabe acolher e contextualizar, de maneira significativa, utilizando como metodologia, atividades que favoreçam o processo da

interpretação, improvisação e composição, considerando as vivências e o meio ambiente do discente. Dessa forma, faz-se possível o contato com a riqueza dos ritmos do Brasil e do mundo por meio da música. Por isso, é de extrema importância o incentivo discente à participação em eventos musicais, desde shows, festivais, apresentações que expõem a cultura popular. Também por meio de apreciação artística a vários movimentos que misturam os sons e ritmos, proporcionando desse modo, ao aluno, sentir e refletir sobre a estética, influências culturais, enfim, valorizar a música em toda a sua história. Discussão

A maioria dos alunos não conhece a linguagem musical, não sabe tocar um instrumento e não tem uma referência diferente daquilo que ouve na mídia. Por esse motivo é que as escolas devem realizar atividades musicais que propiciem a abertura de canais sensoriais, facilitando a expressão de emoções, ampliando a cultura geral para que cada aluno, por meio dessas vivências, possa compreender a linguagem da música. Assim sendo, contribui para a formação integral do discente.

A música e o som, enquanto energia estimulam o movimento interno e externo no homem; impulsionam-no à ação e promovem nele uma multiplicidade de condutas de diferentes qualidade e grau (Gainza,1988, p. 22).

Ao trabalhar com a música nas escolas, propicia-se ao aluno melhorias em relação a seu aspecto físico, psíquico e mental, além de promover o alívio de tensões, auxiliar na superação de dificuldades de fala, de linguagem, bem como nos processos de expressão e comunicação.

A música, utilizada de maneira planejada, torna-se um dos elementos formadores do indivíduo, possibilitando-lhe o seu desenvolvimento intelectual, a interação no ambiente social e a transmissão de ideias e sentimentos. Como alternativa didática, a música desperta o interesse do aluno que gradativamente vai se envolvendo livremente. A partir daí o processo de ensino e aprendizagem passa a ser construído.

Nas escolas privadas raramente são encontrados profissionais habilitados ao ensino de música. O ideal seria que as aulas fossem ministradas por professores licenciados ou especialistas em música, pois, segundo a diretora

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regional da Associação Brasileira de Ensino Musical (ABEM), Sônia Albano:

Um profissional não habilitado pode propiciar um ensino superficial, afinal, não será capaz de aplicar o conhecimento de maneira eficiente e consequentemente não terá condições de avaliar o aluno. Porém isso não significa que a música não deve ser trabalhada de maneira interdisciplinar e transversal, o professor deve e até mesmo pode utilizar a música em sala, apenas não pode dar a aula de música de fato. Tudo isso porque, não é fácil ministrar um ensino musical de qualidade e ministrar uma sala de aula de aproximadamente 40 alunos, diferentemente de ensinar apenas alguns alunos em um conservatório, pois é preciso ter didática, não basta apenas ser músico, e é por esse motivo que existem os famosos cursos de capacitação do professores.

O ensino de música, sendo reconhecido como área de conhecimento, oportuniza ao aluno dos anos iniciais criar e produzir música a partir do momento em que entra em contato com o material sonoro explorado. Esse conhecimento não é uma mera informação de conteúdos, portanto, para aquele que cria, a apreciação é a sua fonte de inspiração.

Admirando a música, a criança é capaz de se identificar com elementos já adquiridos, relacionando-os com os novos para facilitar o acesso a diferentes sonoridades para o processo da criação. Desse modo, participará com mais autonomia em suas autorias.

Para que haja contextualização da música é preciso que o aluno reconheça os tipos de músicas, a sonoridade e a instrumentação, enriquecendo o seu relacionamento com esse universo. Considerando os avanços e os recuos do ensino de música ao longo da história do Brasil, especialmente a partir da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional nº 9.394/96, no que se refere ao ensino musical, cabe adequar essas orientações ao projeto pedagógico, procurando concretizá-las. Delinear um caminho para promover e viabilizar, de forma competente, o conhecimento histórico produzido pela humanidade. Ao ocupar seu espaço de autonomia para realizar o seu trabalho, a escola faz mais do que adotar as diretrizes gerais formuladas para o sistema escolar como um todo. Com seu projeto, o caminho escolhido tem a sua marca e assume feição própria, adquire “personalidade”, uma vez que:

Cada escola é resultado de um processo de desenvolvimento de suas próprias contradições. Não existem duas escolas iguais. [...] a pluralidade de projetos pedagógicos faz parte da história da

educação de nossa época. (GADOTTI, 1997, p. 33).

Segundo o Centro de Pesquisas para

Educação e Cultura (CENPEC, 1996, p. 3), projeto é a palavra que se usa para significar uma intenção, um propósito de ação, uma proposta para resolver um problema, alcançar um fim determinado. A escola é lugar de realização de projeto educativo, uma vez que precisa organizar todas as suas ações em torno da educação de seus alunos. A formulação do projeto escolar não começa de uma só vez, ele não nasce pronto. É muitas vezes o ponto de chegada de um processo que se inicia com um pequeno grupo, com algumas propostas bem simples, e que se amplia, ganhando corpo e consistência. Nesse trajeto, ao definir intenções, identificar e analisar as dificuldades que vão se apresentando, os envolvidos – professores, alunos, pais e comunidade – devem apontar metas e objetivos comuns, vislumbrando pistas para melhorar a própria atuação. Desse modo, tece-se, no coletivo, o projeto que será o fio articulador para o trabalho da escola, na direção dos objetivos almejados. A sociedade está marcada por vários desafios: desemprego, desigualdade social, destruição, desespero e intolerância. É preciso fazer uma reflexão do perfil daquele que está incorporado no processo da educação formal - o professor -, com o intuito de traçar linhas gerais sobre esse profissional integrante e integrador do processo de transformação da sociedade. Antes de se pensar em transformação, é necessário verificar a formação do educador. A escola, considerada lugar de construção das relações humanas é, portanto, humanizadora. O professor – aquele que trabalha a arte e a ciência da educação – precisa construir uma prática que comporte uma dimensão teórica e vice-versa. Cabe, pois, buscar nas habilidades e competências necessárias ao ofício docente, a construção do perfil desse profissional. Ao construir esse perfil, faz-se necessário projetar, entre tantas, a tríade relação das competências: técnica, política e ética. A essas considerações acrescem-se o domínio de conteúdos relativos ao seu objeto de estudo, com informações e conhecimentos necessários à construção de outros conteúdos elaborados e presentes nos currículos institucionalizados. Em nível acadêmico, pressupõe-se a competência técnica a se caracterizar pela capacidade do saber e do ensinar, do pensar e do fazer. Já a competência política - na sua essência etimológica: “polis”, significa relacionamento, contato humano, agrupamento -, compõe outro

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componente dessa tríade relação. Trata-se de uma característica do processo educacional na sua totalidade. Educa-se quando há a relação entre sujeitos socioculturais, com papéis e funções diferentes e complementares. Comparado aos demais docentes, o professor de ensino de música, de modo especial, é muito mais que um simples transmissor de conhecimentos e de habilidades. Ele contribui para a formação integral do indivíduo, faz com que, por intermédio da música, o aluno promova a sociabilidade e expressividade, induzindo o sentido de parceria e cooperação

Conclusão

Durante a realização desta pesquisa, constatou-se a realidade da presença do ensino de música como um reflexo das contradições e ambiguidades nas quais essa disciplina aparece. Ao levantarem-se os dados históricos sobre a música no Brasil, pretendeu-se verificar que tendências do passado influenciaram a sua concepção atual, distinguindo-a nas diferentes épocas, segundo a legislação em vigor.

Nesta reflexão, abordou-se o ensino de música como área de conhecimento, a sua relação ao inserir-se no projeto pedagógico da instituição e a sua contribuição na educação.

Abordou-se, também, o papel do professor de música, a sua formação e o seu preparo profissional. Refletindo sobre quem é, como atua em sala de aula e como é a sua experiência no cotidiano das escolas.

Este estudo possibilitou refletir a importância da música como parte do currículo escolar, assim como um instrumento didático de significativo potencial para a motivação dos alunos.

Há ainda muito estudo para se aprofundar nesta temática, uma vez compreendido que o ensino de música é um vir a ser nas Instituições escolares particulares. Entretanto, é cabível afirmar que, dado o momento histórico concretizado por meio da legislação vigente, espera-se haver mais contribuições para o aprofundamento das questões didáticas e metodológicas, relativas ao processo de ensino e aprendizagem da música nas instâncias escolares.

Em relação ao objetivo desta pesquisa, conclui-se que houve consecução, uma vez descrita a cronologia dos fatos históricos relativos à música na educação, verificando a legislação vigente para a institucionalização do ensino da música nas escolas, e as dificuldades encontradas para inseri-la nos currículos escolares.

Referências

BRASIL. Secretaria de Educação

Fundamental. Parâmetros Curriculares

Nacionais. Brasília/São José dos Campos:

MEC/SEF/UNIVAP, 2000. CENPEC - Centro de Pesquisas para Educação e Cultura. A Escola e sua Função Social. Coleção Raízes e Asas, Vol. 1, 4, 5 e 6. São Paulo: CENPEC, 1996.

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VEIGA, Ilma Passos Alencastro (org.). Projeto político-pedagógico da escola: uma construção possível. Campinas: Papirus, 1995.

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