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Page 1: O ensino-aprendizagem como investigação:

O ENSINO-APRENDIZAGEM COMO INVESTIGAÇÃO: A ABORDAGEM

FÍLMICA COMO INSTRUMENTO DESENCADEADOR DE PESQUISA ESCOLAR

Emily Soares Pereira (Faculdade de Ciências Biológicas e Ambientais da UFGD – bolsista

CAPES do programa PIBID)

Kátia Pontin Richter (Faculdade de Ciências Biológicas e Ambientais da UFGD – bolsista

CAPES do programa PIBID)

Joseana Stecca Farezim Knapp (Faculdade de Ciências Biológicas e Ambientais da UFGD

Fabiano Antunes (Faculdade de Ciências Biológicas e Ambientais da UFGD

RESUMO

Neste trabalho será relatada uma experiência vivenciada pelos bolsistas do Programa

Institucional de Bolsas de iniciação à Docência (PIBID), em sala de aula após a utilização do

filme ‘Uma chance para viver’. Com a utilização do filme a qual envolvia aspectos de

pesquisa, buscamos trabalhar com os alunos atitudes e procedimentos que caracterizam a

cientificidade de um trabalho e que poderia ser importante não só na formação de futuros

cientistas, mas também, da cidadania. Visando a iniciação à docência o projeto PIBID propõe

oportunidade de intensificar e qualificar o processo de formação e iniciação à docência

através de participação em pesquisas, planejando e executando metodologias inovadoras.

INTRODUÇÃO

O trabalho trata de algumas experiências adquiridas no decorrer das atividades

realizadas no âmbito do Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência (PIBID),

subprojeto de Biologia, desenvolvido pela Universidade Federal da Grande Dourados

(UFGD) realizado em uma escola pública no interior do Mato Grosso do Sul, atendendo à

educação básica.

Com o PIBID nós graduandos pudemos ter uma interação maior entre a

universidade e a escola, oferecendo uma participação de experiências e de práticas

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pedagógicas além de incentivar as escolas públicas a participar no processo de formação do

licenciando na educação.

É de grande importância que o graduando em licenciatura tenha uma inclusão no

contexto escolar logo nos primeiros anos, para que a iniciação a docência ocorra antes mesmo

que ele realize os estágios, desta forma facilitando ainda mais seus estágios e sua experiência

como educador.

Através do Projeto “Cinema na Escola” pudemos ter oportunidades de intensificar

e qualificar o processo de formação e iniciação à docência, a partir de planejamento e

execução de metodologias inovadoras. Uma das estratégias por nós desenvolvidas tratou de

abordar um importante aspecto da Ciência, mencionado em muitos livros didáticos como o

“método científico”. Partindo de situações exibidas em um filme comercial, a qual envolvia

aspectos de pesquisa, buscamos trabalhar com os alunos atitudes e procedimentos que

caracterizam a cientificidade de um trabalho e que poderia ser importante não só na formação

de futuros cientistas mas, também, da cidadania.

A UTILIZAÇÃO DE FILMES COMERCIAIS EM SALA DE AULA

Neste subprojeto, lançamos mão da utilização de filmes comerciais como recurso

didático desencadeador de interações entre alunos e professores no intuito de auxiliar no

processo ensino-aprendizagem em aulas de Biologia.

Os filmes podem ser grandes ferramentas como recursos didáticos em sala de

aula, pois com eles podemos desencadear reflexões críticas de cada participante em sala de

aula, na medida em que ele fornece informações, conteúdo, imagens, que proporcionam uma

maneira interativa de exemplificar conceitos.

No entanto, segundo Krasilchik (2005, p. 63), os dados disponíveis na literatura

indicam que os recursos audiovisuais no ensino de Biologia são pouco ou mal utilizados.

Nesse sentido Mandarino (2002) propõem que o vídeo só deve ser utilizado como estratégia

quando for adequado, quando puder contribuir significativamente para o desenvolvimento do

trabalho.

Desta forma o vídeo pode servir de apoio a um bom professor, atraindo atenção

dos alunos e fazendo com que aproxime o seu cotidiano a sala de aula. O vídeo, de uma forma

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geral, está ligado a cabeça dos alunos como um contexto de lazer, de distração, descanso, e

não a um conteúdo de aula. Por este motivo o professor que irá se servir da utilização de

filmes comercias em suas aulas, deve saber aproveitar explorando essa expectativa positiva

dos alunos para poder atraí-los e desta forma mostrar o conteúdo de assuntos pedagógicos de

uma forma diferenciada, prestando sempre atenção nas pontes que irão ligar o conteúdo ao

filme relatado.

Em cada filme e atividades trabalhadas procuramos aproveitar ao máximo a

experiência de sermos professores e possibilitamos que os alunos pudessem refletir acerca de

temas tão importantes na formação de sua cidadania.

O ENSINO-APRENDIZAGEM COMO INVESTIGAÇÃO

De acordo com Rosito (2008) é imprescindível que no processo de ensino-

aprendizagem haja incentivo de atitudes como a curiosidade, de respeito à diversidade de

opiniões, à persistência na busca e compreensão das informações. Tais conteúdos diferem dos

conceituais, mas não deixam de ser importantes conteúdos de ensino e que podem ser

aprendidos. Para Silva e Zanon (2000), as atividades práticas podem assumir uma importância

fundamental na promoção de aprendizagens significativas em ciências e, por isso,

consideramos importante valorizar propostas alternativas de ensino que demonstre essa

potencialidade da experimentação: a de ajudar os alunos a aprender por meio do

estabelecimento de inter-relações entre os saberes teóricos e práticos inerentes aos processos

do conhecimento escolar em ciências.

A partir do conhecimento já adquirido pelos alunos e aquele trazido pelo professor

é possível propiciar atividades teórico-práticas que extrapolam conteúdos conceituais e

colaboram para fomentar atitudes e procedimentos importantes para uma melhor participação

cidadã.

No senso comum, quando se fala sobre o trabalho de um cientista, é frequente se

abordar o método científico como uma maneira segura de se chegar a resultados, a

descobertas verdadeiras. Há um grande respeito pela metodologia cientifica. O que é

“provado” cientificamente tem credibilidade. O método científico é interpretado como um

procedimento definido, testado, confiável, para se chegar ao conhecimento científico: consiste

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em compilar “fatos” através de observação e experimentação e experimentação cuidadosa e

em derivar, posteriormente, leis e teorias a partir desses fatos mediante algum processo lógico.

Trabalhar cientificamente é seguir cuidadosamente, disciplinarmente, o método científico.

Enfim, não há uma receita, uma sequência de passos a priori que garanta alcançar

a verdade. Muitas vezes, o cientista procede por tentativas, vai numa direção, volta, mede

novamente, abandona certas hipóteses porque não tem equipamento adequado, faz uso da

intuição, dá “chutes”, se deprime, se entusiasma, se apega a uma teoria. Enfim, fazer ciência é

uma atividade humana, e conceber o método científico como uma sequência rigorosa de

passos que o cientista segue é conceber de maneira errônea a atividade cientifica.

ENCAMINHAMENTO METODOLÓGICO

Para o desenvolvimento do projeto, realizamos reuniões preliminares do grupo de

bolsistas, professores supervisores e professor coordenador, onde foram discutidas e

planejadas as ações, tendo em vista os objetivos de ensinar conceitos ligados ao conteúdo

científico e também o desenvolvimento pessoal em busca de uma formação cidadã.

Então, organizamos nossas atividades em momentos de a) planejamento de ações;

b) exposição e discussão do filme escolhido; c) atividades pós filme; d) reflexão sobre as

ações desenvolvidas, no viés schöniano (SCHÖN, 2000).

Para exemplificar nossas atividades, abordaremos neste texto uma sequência

didática que focou a questão da investigação científica e possibilidades de investigação

escolar orientada.

O filme “Uma chance para viver” foi escolhido entre os bolsistas por apresentar

uma história baseada em fatos reais e que proporcionaria uma maneira interativa de ver os

conceitos de método e experimentação cientifica e ainda mostraria aos alunos que há

possibilidades de se tornar um estudante pesquisador, fazendo da pesquisa instrumento de

construção do saber, e não apenas utilizá-la como profissão, e ainda entender que a ciência

não é algo pronto e acabado, e sim algo que é construído.

Neste trabalho será relatada uma experiência vivenciada em sala de aula após a

utilização do em que propusemos aos alunos uma questão para que pudéssemos trabalhar

dentro de um enfoque investigativo, a qual era:

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Por que o ovo fica duro quando cozido, ao contrário de outros alimentos que amolecem?Após

a discussão entre grupo de alunos das práticas cada grupo teve que criar suas hipóteses e

ideias do porque aquele fenômeno ocorria e apresentar para todos da sala, mas sempre

lembrando-os, que as hipóteses são provisórias e sujeitas a comprovações.

Schön fundamenta seu trabalho na teoria da investigação de John Dewey, na qual

é enfatizada a aprendizagem através do fazer. Não se pode ensinar ao estudante aquilo que é

necessário ele saber, porém, pode-se instruir. E foi através deste pensamento, que elaboramos

a prática que envolve a aglutinação das proteínas do ovo, e esperávamos que através de

pesquisas e hipóteses os alunos respondessem que com a temperatura elevada, rompem-se as

ligações entre as moléculas de aminoácidos, os compostos orgânicos que formam as

proteínas, deixando o ovo duro. O licenciando acompanhava todas as perguntas ocorridas e

instigava-os com mais perguntas chaves para a resolução da pratica, como: O que é

desnaturação proteica?, Quais os agentes responsáveis por esse processo?, e Porque quando

uma proteína é desnaturada ela perde a sua função?.

O aluno deverá sempre explicitar sua maneira de pensar e o professor deverá

sempre estar atento ao que vem explícito em suas elaborações e em suas incursões sobre o

conhecimento em construção (SCHMITZ; CARVALHO,1992).

Mesmo antes da prática ocorrer e mesmo conhecendo o verdadeiro significado

do método cientifico, o víamos como uma maneira segura de se chegar a resultados e

descobertas, interpretávamo-nos como um procedimento definido, testado, confiável, para se

chegar ao conhecimento cientifico mediante algum processo lógico. Após discussões para a

elaboração da ação do PIBID na escola, percebemos que não existe uma sequência tão bem

definida de etapas que caracteriza o método cientifico, nem é uma sequência que conduz a

uma descoberta ou a um resultado. Pensando assim, procuramos estimular os alunos a

observar com interesse e atenção, não somente a prática amostrada, mas tudo a sua volta,

levando duvidas e problemas para o grupo, analisando e relembrando o que já se sabia do

assunto e ainda sugerir respostas e soluções, baseadas no que recordou, sem esquecer que as

hipóteses são provisórias e sujeitas a comprovação e revisão.

Page 6: O ensino-aprendizagem como investigação:

RESULTADOS E DISCUSSÕES

Foi bem notável o interesse e a instigação dos alunos pelos processos acometidos

nas práticas e seus respectivos resultados. O índice de aproveitamento da aula foi excelente, e

todos os alunos participaram com muita disposição. Ao explicarmos os procedimentos que

compunham dada prática, eles também se interessavam em aprendê-los, mas não deixando de

lado a curiosidade que tinham em saber os reais motivos por aquele evento estar daquela

maneira.

Ao apresentar a prática, em um primeiro momento os alunos não tinham ideia de

que eram as proteínas do ovo que desnaturavam e o endurecia, e arriscavam na hipótese de

haver algo que mudava de forma, talvez alguma substância presente, ou até mesmo alguma

molécula, porém, não sabiam explicar o que, mas tinham a certeza que a transformação brusca

nos estados físicos do ovo ocorria por causa da alta temperatura na qual o ovo era submetido,

e então o licenciando responsável começou a instigá-los, e inicialmente perguntou a eles qual

a constituição do ovo e se eles achavam que havia alguma molécula responsável pelo

processo, qual era ela? A partir de então, os alunos conseguiam relacionar alguns

conhecimentos prévios com as pesquisas realizadas em sala. Outras dicas surgiram, pois eles

por mais esforçados que fossem, não conseguiam de maneira significativa, relacionar os

assuntos associados as proteínas, então a monitora explicou as formas das proteínas e como

ocorria o processo de desnaturação e renaturação, e a partir de então, as buscas por respostas

mais concretas ficaram mais fáceis para o grupo de alunos e logo a hipótese que esperávamos

foi elaborada e posteriormente apresentada.

Nesse processo de interação entre licenciandos e alunos, procurávamos estimular

aqueles alunos a observar não só aqueles eventos, mas o mundo, com interesse e atenção,

fazendo com que suas duvidas se inter-relacionassem com os conhecimentos prévios,

fazendo-os relembrar os conhecimentos já adquiridos, e assim o sucesso daquela atividade,

fosse concluída.

“Uma prática com caráter de design é passível de ser aprendida, mas não de ser

ensinada, por métodos de sala de aula. E quando os estudantes são ajudados a aprender a

projetar, as intervenções mais úteis a eles são mais como uma instrução do que um ensino,

como em uma aula prática reflexiva.” (SCHÖN, 2000, p.123)

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Alguns alunos relataram dificuldades na elaboração das hipóteses a partir das

observações feitas, mas quando encontravam um caminho mais óbvio para se testar, deixavam

de lado qualquer reclamação e discutiam entre eles uma nova sugestão para a prática. E essas

situações ocorriam com todos os alunos participantes, nas duas salas e com todas as práticas,

pois quando a vontade de abandonar a atividade ocorria, lá estavam os licenciandos

novamente, com dedicação e instigando-os novamente com novas questões e novas hipóteses.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os filmes são excelentes ferramentas didático-pedagógicas disponíveis para os

professores, que serve de grande auxílio no momento de estarem em regência dentro da sala

de aula, e como as escolas possuem mesmo que bem limitado alguns recursos audiovisuais,

fica a critério de cada docente explorá-lo da melhor forma possível, mas é preciso que o

professor esteja em constante pesquisa e leitura, para conseguir fazer análises críticas e

debates de obras cinematográficas com seus alunos, criando assim um gancho entre os

assuntos relatados no filme, e os conteúdos a serem tratados nas aulas.

Após o filme ser passado, procuramos com a prática da desnaturação das proteínas

do ovo observada pelos alunos, apresentar a produção de conhecimento cientifico como uma

atividade, essencialmente humana (com todas as implicações que isso possa ter) caracterizada

por uma permanente interação entre pensar, sentir e fazer, e que eles mesmos, já tinham o

resultado, bastava identificar os fatores para que aquele procedimento específico desse certo.

Assim, o conhecimento científico, passa a ser tomado como algo passível de mera

transmissão, de revelação e não como conhecimento a ser elaborado.

O Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência – PIBID, sem dúvida,

constitui-se numa das alternativas potenciais para fortalecer a formação inicial, considerando

as conexões entre os saberes que se constroem na universidade e os saberes que

cotidianamente são produzidos nas unidades escolares. É interessante lembrar que estamos na

busca de uma mudança na educação, tentando trazer metodologias diferenciadas em cada

conteúdo abordado. Nesta busca, criamos diversas situações didáticas que a nosso ver são

inovações em relação à escola tradicional.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

KRASILCHIC, M. Prática de ensino de biologia. São Paulo: Editora da Universidade de

São Paulo, 2004.

MANDARINO, M. C. Freire. Organizando o trabalho com vídeo em sala de aula. Revista

Eletrônica em Ciências Humanas. Ano 01, n.1, 2002.

ROSITO, B. A. O ensino de Ciências e a experimentação. In: MORAES, R. Construtivismo

e ensino de ciências: reflexões epistemológicas. 3.ed. Porto Alegre, Ed. EDIPUCRS, p.195-

208, 2008.

SCHÖN, D. Educando o profissional reflexivo. Porto Alegre: Artmed, 2000.

SHIMITZ, R.C; CARVALHO, A.M.P. História da Ciência: Investigando como usá-la num

curso de segundo grau. Florianópolis, dez, 1992.

SILVA, L. H; ZANON, L. B. A experimentação no ensino de Ciências. In:Ensino de

Ciências: Fundamentos e Abordagens. Vieira Gráfica e Editora Ltda. p. 120 a 153, 2000.