o enquadramento paisagÍstico como contribuiÇÃo aos estudos da sub-bacia do rio salgado/ce:

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  • 8/3/2019 O ENQUADRAMENTO PAISAGSTICO COMO CONTRIBUIO AOS ESTUDOS DA SUB-BACIA DO RIO SALGADO/CE:

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    121Revista de Geografia. Recife: UFPEDCG/NAPA, v. especial VIII SINAGEO, n. 2, Set. 2010

    O ENQUADRAMENTO PAISAGSTICO COMO CONTRIBUIO AOS ESTUDOSDA SUB-BACIA DO RIO SALGADO/CE: DO DOMNIO MORFOESTRUTURAL

    AOS GEOSSISTEMAS.

    Simone Cardoso Ribeiro, Flavia Jorge de Lima, Mnica dos Santos Maral

    RESUMOPara estabelecer uma metodologia de estudo tendo a paisagem como objeto, necessita-se deuma viso abrangente sobre os fatores definidores desta, tanto aqueles internos, que aconstituem, quanto os externos, que a influenciam de forma direta ou indireta. Desta forma,identificar o contexto geoambiental da paisagem em questo de suma importncia para umainterpretao mais acurada de suas origem e dinmica. A sub-bacia do rio Salgado pode serenquadrada em diversos sistemas de paisagens, de acordo com a escala de estudo. De formageral, est situada em uma rea semi-rida, em terrenos cristalinos e sedimentares daProvncia Borborema, enquanto em escala mais regional, faz parte do DomnioMorfoclimtico das Caatingas. Do ponto de vista das paisagens locais, apresenta vriosDomnios Naturais, delimitados a partir da compartimentao das geoformas: Chapadas echapades, Vales, Serras e Sertes, sendo que cada Domnio se subdivide em unidademenores de acordo com suas caractersticas fsico-biolgicas, os Sistemas Ambientais(Geossistemas). Assim, para classificarmos as paisagens da sub-bacia do rio Salgado,baseando-se em sua dinmica e evoluo para avaliarmos suas potencialidades e limites deuso, de suma importante identificarmos o contexto paisagstico em que ela se enquadra, emescala local, regional e nacional.Palavras-Chave: taxonomia; paisagem integrada; semi-rido nordestino.

    ABSTRACTTo estabilish study methodology and the landscapes as an object he will need acomprehensive viw on the factors determining this, both those internal, that is, as the externalinfluence directly or indirectly. Thus, identifying the geo-environmental context of thelandscape in question is of paramount importance for a more accurate interpretation of theirorigin and dynamics. The sub-basin of the Salt River can be framed in different landscapesystems, according to the scale of study. In general, it is situated in a semi-arid land incrystalline and sedimentary Borborema Province, while more regional scale, is part of theDomain morphoclimatic Caatingas. From the point of view of local landscapes, presents anumber of Natural Areas, defined as the subdivision of landforms: Plateaus and plains,valleys, hills and Hinterlands, each domain is subdivided into smaller units according to their

    physical and biological characteristics, the Environmental Systems (Geosystems). Thus, toclassify the landscapes of the sub-basin of the Salt River, based on its dynamics and evolutionto evaluate its potential and limits of use, it is extremely important to identify the landscapecontext in which it fits, in local, regional and national levelsKeywords: taxonomy; integrated landscape; Northest semi-arid.

    1Profa. Depto. Geocincias - Universidade Regional do Cariri (URCA); Doutoranda em Geografia PPGG/UFRJ, bolsista CNPq. [email protected]. Depto. GeocinciasUniversidade Regional do Cariri (URCA)[email protected]. Depto. Geografia e do Programa de Ps-Graduao em Geografia- Universidade Federal do Rio de

    Janeiro (UFRJ)[email protected]

    mailto:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]:[email protected]
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    Do ponto de vista ocupacional, as reas sertanejas semi-ridas encontram-se

    fracamente povoadas, com cidades pequenas e propriedades rurais predominantemente de

    grande e mdio porte, onde se pratica uma agricultura tradicional e uma pecuria extensiva

    voltada para o abate.

    As bacias hidrogrficas do Estado do Cear apresentam certas caractersticas comuns:

    em geral so temporrios, intimamente ligados pluviosidade; junto aos relevos das serras e

    dos seus sops so mais favorecidas pelas precipitaes mais elevadas e melhor distribudas,

    tendo os cursos dgua sua drenagem assegurada durante quase todo o ano; ao contrrio, junto

    aos relevos aplainados dos sertes os rios secam no fim da estao chuvosa.

    A bacia do rio Jaguaribe a mais extensa e importante do estado do Cear ocupando

    uma rea de aproximadamente 72.000 km2. O aspecto desta bacia o de uma vasta depresso,

    ocupada nas partes mais baixas (100-250m) por glacis sertanejos e bordejada p relevos de

    altitudes superiores a 700 e 800 metros (Jacomine, 1973, p. 14 Levantamento exploratrio

    reconhecimento de solos do Estado do Cear).

    A sub-bacia hidrogrfica do rio Salgado, afluente da Bacia do rio Jaguaribe, est

    situada na poro sudeste do Estado do Cear, Nordeste brasileiro, inscrita num

    macropolgono cujas coordenadas abrangem 600 a 750 de latitude Sul e 3830 a 3945 de

    longitude Oeste. Com uma rea drenada de 12.865 km, correspondente a 8,25% do territrio

    estadual (COGERH, 2007), composta por 23 municpios: Ic, Cedro, Umari, Baixio,

    Ipaumirim, Vrzea Alegre, Lavras da Mangabeira, Granjeiro, Aurora, Caririau, Barro,

    Juazeiro do Norte, Crato, Misso Velha, Barbalha, Jardim, Penaforte, Milagres, Abaiara,

    Mauriti, Brejo Santo,Porteiras e Jati, e conta com uma populao estimada em de 850.000

    pessoas (COGERH, 2007).

    O rio Salgado, com extenso de 308 km, tem suas nascentes na chapada do Araripe,

    na divisa dos estados de Cear e Pernambuco, e em seu curso rene drenagens originadas nas

    terras altas nos limites do Cear com Pernambuco, Paraba e Rio Grande do Norte tendo comoprincipais afluentes os rios Batateiras, Granjeiro, Riacho do Saco, Riacho Lobo, rio Cars,

    Riacho So Jos, rio Misso Velha, Riacho dos Porcos, Riacho do Cuncas, Riacho Olho

    Dgua, Riacho Rosrio e Riacho So Miguel. Seus terrenos so formados 85% de rochas

    cristalinas e 15% de rochas sedimentares, estando os melhores aqferos localizados na Bacia

    Sedimentar do Araripe (COGERH, 2007).

    Tem suas reas em sua maioria utilizadas para a agropecuria onde se destaca a prtica

    de sequeiro; as tcnicas de preparao do solo nesta sub-bacia so rudimentares, destacando-se as coivaras e queimadas, deixando o solo empobrecido. Fazem parte desta paisagem

    http://pt.wikipedia.org/wiki/Ic%C3%B3http://pt.wikipedia.org/wiki/Cedrohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Umarihttp://pt.wikipedia.org/wiki/Baixiohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Ipaumirimhttp://pt.wikipedia.org/wiki/V%C3%A1rzea_Alegrehttp://pt.wikipedia.org/wiki/Lavras_da_Mangabeirahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Granjeirohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Aurorahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Cariria%C3%A7uhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Barrohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Juazeiro_do_Nortehttp://pt.wikipedia.org/wiki/Cratohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Miss%C3%A3o_Velhahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Barbalhahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Jardim_%28Cear%C3%A1%29http://pt.wikipedia.org/wiki/Penafortehttp://pt.wikipedia.org/wiki/Milagreshttp://pt.wikipedia.org/wiki/Abaiarahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Mauritihttp://pt.wikipedia.org/wiki/Brejo_Santohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Porteirashttp://pt.wikipedia.org/wiki/Jatihttp://pt.wikipedia.org/wiki/Rio_Batateirashttp://pt.wikipedia.org/wiki/Rio_Granjeirohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Riacho_do_Sacohttp://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Riacho_Lobo&action=edithttp://pt.wikipedia.org/wiki/Rio_Car%C3%A1shttp://pt.wikipedia.org/wiki/Riacho_S%C3%A3o_Jos%C3%A9http://pt.wikipedia.org/wiki/Rio_Miss%C3%A3o_Velhahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Riacho_dos_Porcoshttp://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Riacho_do_Cuncas&action=edithttp://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Riacho_Olho_D%E2%80%99%C3%A1gua&action=edithttp://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Riacho_Olho_D%E2%80%99%C3%A1gua&action=edithttp://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Riacho_Olho_D%E2%80%99%C3%A1gua&action=edithttp://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Riacho_Ros%C3%A1rio&action=edithttp://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Riacho_S%C3%A3o_Miguel&action=edithttp://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Riacho_S%C3%A3o_Miguel&action=edithttp://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Riacho_Ros%C3%A1rio&action=edithttp://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Riacho_Olho_D%E2%80%99%C3%A1gua&action=edithttp://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Riacho_Olho_D%E2%80%99%C3%A1gua&action=edithttp://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Riacho_do_Cuncas&action=edithttp://pt.wikipedia.org/wiki/Riacho_dos_Porcoshttp://pt.wikipedia.org/wiki/Rio_Miss%C3%A3o_Velhahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Riacho_S%C3%A3o_Jos%C3%A9http://pt.wikipedia.org/wiki/Rio_Car%C3%A1shttp://pt.wikipedia.org/w/index.php?title=Riacho_Lobo&action=edithttp://pt.wikipedia.org/wiki/Riacho_do_Sacohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Rio_Granjeirohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Rio_Batateirashttp://pt.wikipedia.org/wiki/Jatihttp://pt.wikipedia.org/wiki/Porteirashttp://pt.wikipedia.org/wiki/Brejo_Santohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Mauritihttp://pt.wikipedia.org/wiki/Abaiarahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Milagreshttp://pt.wikipedia.org/wiki/Penafortehttp://pt.wikipedia.org/wiki/Jardim_%28Cear%C3%A1%29http://pt.wikipedia.org/wiki/Barbalhahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Miss%C3%A3o_Velhahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Cratohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Juazeiro_do_Nortehttp://pt.wikipedia.org/wiki/Barrohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Cariria%C3%A7uhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Aurorahttp://pt.wikipedia.org/wiki/Granjeirohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Lavras_da_Mangabeirahttp://pt.wikipedia.org/wiki/V%C3%A1rzea_Alegrehttp://pt.wikipedia.org/wiki/Ipaumirimhttp://pt.wikipedia.org/wiki/Baixiohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Umarihttp://pt.wikipedia.org/wiki/Cedrohttp://pt.wikipedia.org/wiki/Ic%C3%B3
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    tambm grandes espaos com plantaes de cana-de-acar em reas do vale do Cariri,

    prximo Chapada do Araripe, ocupados por plancies aluviais A criao de gado na regio,

    que teve inicio na poca do Brasil colnia, feita de forma extensiva e no levou em

    considerao a fragilidade da Caatinga, principal ecossistema da regio, utilizando-se de

    mtodos ambientalmente degradadores para sua expanso e reproduo.

    Diante deste quadro de rigor e instabilidade climticos, associados a solos susceptveis

    a eroso devido a pouca espessura e falta de uma cobertura vegetal mais densa em grande

    parte do seu territrio, alm de uma ocupao predatria, aes pblicas de gesto territorial

    tem sido efetivadas na regio, sendo canalizadas prioritariamente em relao aos recursos

    hdricos.

    ENQUADRAMENTO PAISAGSTICO

    Para estabelecer uma metodologia de estudo tendo a paisagem como objeto, necessita-

    se de uma viso abrangente sobre os fatores definidores desta, tanto aqueles internos, que a

    constituem, quanto os externos, que a influenciam de forma direta ou indireta. Desta forma,

    identificar o contexto geoambiental da paisagem em questo de suma importncia para uma

    interpretao mais acurada de suas origem e dinmica.

    Assim, o enquadramento paisagstico, isto , a contextualizao da paisagem-alvo dos

    estudos em vrias escalas de anlise, leva a uma melhor compreenso das relaes intrnsecas

    entres seus elementos e fatores de formao.

    Como salienta Troll, (apud Soares,2000, p.26 grifo meu), a paisagem refere-se,

    geralmente, s formas da Terra de uma regio, em conjunto, ou superfcie da Terra e seus

    habitats associados, em escalas que vo desde poucos hectares at muitos quilmetros

    quadrados. So reas espaciais heterogneas. Sua estrutura, funo e mudanas dependem

    da escala em que os elementos da natureza e da sociedade esto atuando num mesmo espao.

    A escala de investigao para classificao dos arranjos espaciais desempenha

    imprescindvel papel na hierarquizao dimensional da rea em que se est trabalhando.

    A sub-bacia do rio Salgado pode ser enquadrada em diversos sistemas de paisagens, de

    acordo com a escala de estudo. De forma geral, est situada em uma rea basicamente semi-

    rida, em terrenos cristalinos e sedimentares da Provncia Borborema, enquanto em escala

    mais regional, faz parte do Domnio Morfoclmtico das Caatingas. Do ponto de vista das

    paisagens locais, apresenta vrios Domnios Naturais, delimitados a partir dacompartimentao das geoformas: Chapadas e chapades, Vales, Serras e Sertes, sendo que

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    cada Domnio se subdivide em unidade menores de acordo com suas caractersticas fsico-

    biolgicas, os Sistemas Ambientais (Geossistemas) e estes, em unidades mais especficas

    ainda, de acordo com a dinmica ambiental e o uso e ocupao do solo, os Sub-sistemas

    Ambientais (Geofcies).

    1 Ordem de Grandeza: Morfoestrutura - Provncia Borborema: Bacia Sedimentar do

    Araripe e Depresso Sertaneja (Perifrica).

    O territrio cearense tem sua compartimentao topogrfica, decorrente basicamente

    de eventos naturais que se verificaram no Perodo Pleistocnico, sem dvida o de maior

    significado para anlise dos fatos geomorfolgicos. Esta compartimentao, com relevos

    desenvolvidos em terrenos do embasamento cristalino, ou em reas de capeamentos

    sedimentares, decorre de um jogo de influncias em que participam a estrutura geolgica ao

    lado dos fatores paleoclimticos e eustticos, alm da dinmica morfogentica atual (Souza,

    1979).

    De acordo com Souza (1979), o relevo cearense engloba compartimentos bastante

    diferenciados, que se justificam por mecanismos genticos complexos. Porm, h

    prevalecncia das superfcies rebaixadas do serto recobertas por caatingas, que

    compreendendo extensas depresses perifricas de bordos de bacias sedimentares em contato

    com rochas do escudo cristalino, se estendem no sentido dos fundos dos vales ou se dirigem

    para o litoral atravs de declives suavemente inclinados. Estas depresses que atestam os

    efeitos pronunciados dos processos erosivos a que estiveram submetidas no Pleistoceno, so

    constantemente interrompidas pelo surgimento de formas residuais elevadas que constituem

    os relevos serranos.

    A rea da sub-bacia do rio Salgado est inserida na Provncia Borborema, entidade

    tectnica Neoproterozica (Brasiliana Pan-Africana), parcialmente encoberta porsedimentos Fanerozicos de bacias interiores e marginais do Nordeste brasileiro.

    Em relao estruturao geolgica, a rea de estudo encontra-se em regio de falhas

    da Provncia da Borborema, originadas durante a Reativao Wealdeniana, ou seja, antes da

    separao dos continentes da Amrica do Sul e da frica, provocando basculamentos que

    resultaram em altos (Horsts) e baixos (Grabens) estruturais.

    A compartimentao do relevo feita com base na distribuio dos domnios

    estruturais, em que se considerem desde os elementos geotectnicos at as influncias

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    litolgicas. Os domnios estruturais exercem sua influncia com base na macrodiviso das

    reas cratnicas do embasamento cristalino e na bacia sedimentar do Araripe.

    A evidncia morfoestrutual de maior nitidez na rea representada pela Chapada do

    Araripe, na bacia do mesmo nome, mantida pelas rochas da Formao Exu. O entorno da

    chapada constitudo por formaes sedimentares sotopostas camada mantenedora.

    A chapada do Araripe e os patamares de entorno so constitudos por formaes

    cretceas integrantes do Grupo Araripe, que sobrepem as rochas siluro-devoniana da

    Formao Cariri. Como afirma MontAlverne (1996) a Bacia Sedimentar do Araripe, est

    encravada na Provncia Borborema, no domnio do Sistema de Dobramento Pianc-Alto

    Brgida, e corresponde a uma bacia de evoluo policclica, em cujo arcabouo

    estratigrfico podem ser distinguidas quatro seqncias tectono-sedimentares limitadas por

    discordncias regionais ou por hiatos paleontologicamente definidos: a Seqncia Gama de

    idade siluro-devoniana (?); a Seqncia Pr-Rifte, de idade neo-jurssica (?); a Seqncia

    Rifte, de idade neocomiana e a Seqncia Ps-Rifte de idade aptiana-albiana(Ponte e

    Appi,1992 apudMontAlverne, 1996).

    Ainda segundo o autor, estruturalmente, o segmento mesozico da bacia (que se

    formou do Jurssico Superior ao Cretceo Mdio) formado por dois compartimentos

    estruturais superpostos: o inferior, correspondente s bacias do tipo rifte, que se encontram

    encravadas em depresses estruturais do embasamento pr-cambriano, e foram originadas do

    tectonismo eocretceo; e o superior, correspondente cobertura mesocretcica que recobre

    aquelas bacias de rifte.

    Segundo Ponte e Ponte Filho (1996), a origem e evoluo da Bacia Sedimentar do

    Araripe relaciona-se com a fragmentao do paleo-continente de Gondwana e a abertura do

    oceano Atlntico Sul.

    No Neojurssico, durante a evoluo pr-rifte, formou-se uma calha de estriamento

    longa e estreita, desde o sul da Bahia, na regio de Almada at o sul do Cear, limitada peloLineamento da Paraba. No Eocretceo, no estgio sin-rifte, o sistema de riftes sul-atlntico

    progrediu de sul para norte at a Zona Transversal de Dobramentos do Nordeste, que resistiu

    fortemente ao seu progresso. Como conseqncia, o Lineamento de Pernambuco, no limite

    sul do referido obstculo , atuou como uma megazona de transferncia, acomodando os

    esforos diferenciais.

    Estes esforos extensionais, com direo geral NW-SE, se propagaram at as regies

    interiores da Provncia Borborema, causando a reativao de antigos falhamentos pr-cambrianos: aqueles de direo NE-SW, como falhas normais, extensionais e aqueles de

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    direo E-W e NW-SE, como falhas transferentes. Este processo foi responsvel pela

    formao das pequenas bacias, tipo rifte, do interior do Nordeste, inclusive a zona de riftes

    neocomianos do Araripe, que abortaram ainda no estgio de grabens juvenis assimtricos.

    Aps esse evento seguiu-se um perodo de soerguimento crustal que propiciou uma

    fase de severa eroso quando foi esculpida a superfcie paleotopogrfica da Discordncia Pr-

    aptiana, sobre a qual foram depositados, no Mesocretceo, os estratos da Tectono-sequncia

    Ps-Rifte.

    Os setores da Depresso Sertaneja (Perifrica) desenvolvem-se em rochas do

    embasamento cristalino, que so indistintamente truncadas por superfcies de eroso. De

    acordo com o comportamento geomorfolgico das rochas, as feies de dissecao assumem

    aspectos diferenciados. H tambm parcelas muito significativas de superfcies pedimentadas

    que se expem como amplas rampas de eroso, que tem caimento topogrfico para o fundo

    dos vales. Como afirma Souza (1979, p.80-81), a Depresso Sertaneja do Cear representa

    uma superfcie embutida, entre planaltos cristalinos e/ou sedimentares, com nveis

    altimtricos variveis entre 100 - 350 m, com topografia expressivamente aplainada ou

    ligeiramente ondulada e recoberta por caatingas de porte e flora bastante diferenciveis,

    conforme a localizao. Pela extenso que a caracteriza, a depresso sertaneja apresenta

    acentuadas mudanas de natureza litolgica e edfica. No obstante as nuances observadas

    quanto s rochas, nota-se como um todo, o desenvolvimento de uma superfcie de eroso que

    truncando os mais diferenciados tipos de rochas, enseja a elaborao de um vasto

    aplainamento desenvolvido por processos de pediplanao engendrados pelas condies de

    semi-aridez mais rigorosas..

    A dinmica morfogentica das depresses sertanejas esto estreitamente

    correlacionadas com os condicionantes climticos e com o carter caduciflio do revestimento

    florstico. A acentuada amplitude diuturna das temperaturas o principal fator que conduz

    desagregao fsica das rochas.As chuvas torrenciais, por outro lado, tm papel decisivo no processo de remoo

    daquele material alterado. O revestimento florstico pouco contribui para deter os efeitos das

    enxurradas sertanejas e o material superficial por ocasio da estao chuvosa, vai aos poucos

    sendo removido pela ao do lenol de escoamento e pelo lenol concentrado (eroso hdrica

    laminar). Disso resulta a menor profundidade dos solos e a ocorrncia de pavimento desrtico

    (cho pedregoso) pela pequena capacidade transportadora do lenol de escoamento.

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    As aes de eroso diferencial, associadas a eventos tectnicos pretritos, justificam a

    ocorrncia de nveis residuais elevados em rochas do embasamento cristalino que compem

    os macios e cristas residuais.

    Concordando com Souza (1979, p.81) pelo que representa no quadro espacial

    cearense, o conhecimento adequado da dinmica ambiental sertaneja, constitui condio

    prioritria para se chegar a proposies racionais para a poltica de planejamento agrcola

    do Estado.

    2 Ordem de Grandeza: Zonalidade do clima

    De modo geral, o clima da Regio Nordeste caracteriza-se pela ocorrncia de dois

    perodos definidos, um mais longo, seco, intercalado por um pluvial curto e irregular, que

    pode no acontecer. Possui temperaturas elevadas - com a mdia para o ms mais frio sempre

    acima de 18o C, devido s suas baixas latitudes (FIBGE, 1977)

    As chuvas no interior nordestino, e conseqentemente na rea em foco, so

    determinadas pelas oscilaes da Convergncia Intertropical (CIT). A Convergncia

    Intertropical - rea de encontro dos Alsios dos dois Hemisfrios latitudinais - acompanha os

    deslocamentos do Equador trmico e tem sua posio meridional extrema aproximadamente

    no incio do outono, poca em que o anticiclone do Atlntico Sul atinge sua mnima presso.

    Sendo zona de forte conveco, consegue transpor as barreiras orogrficas e penetrar no

    interior (porm, j com sua umidade reduzida). Alm da ZCIT, outros sistemas atmosfricos

    atuam entre fevereiro e maio, quais sejam, Vrtices Ciclnicos de Ar Superior (VCAS),

    Frentes Frias, Linhas de Instabilidade, Sistemas Convectivos de Meso-escala e Oscilao 30-

    60 dias. Desta forma, a estao chuvosa do Serto nordestino, assim como em vrios pontos

    de seu litoral norte, ocorre na seqncia vero-outono e determinada pelas ondulaes da

    CIT a noroeste, aliada s penetraes das correntes perturbadas de oeste-noroeste(FUNCEME, 1990)

    No Cear, as chuvas mais significativas iniciam-se em dezembro e podem estender-se at

    junho ou julho, dependendo das condies ocenicas e atmosfricas atuantes. Com efeito, os

    postos pluviomtricos de Barbalha, Crato, Juazeiro do Norte e Misso Velha, com perodo de

    observao de at 74 anos, acusam uma precipitao mdia anual, da ordem de 1.033 mm;

    para toda a Regio do Cariri, a mdia de 920 mm/ano (MMA, 1999).

    As massas midas provenientes do litoral chegam regio do Cariri pela calha do rioJaguaribe, ao norte. Ao encontrarem o obstculo da Chapada, essas massas ascendem,

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    resfriando-se e precipitam-se (Nimer, 1989). Adotando-se como referncia as estaes de

    CAMPOS SALES/CE, BARBALHA/CE e PIO IX/PI (MMA, 1999), dentro dos tipos

    climticos de Kppen, podemos identificar, como predominante na rea da sub-bacia do rio

    Salgado, a classe climtica BSWh, isto , clima semi -rido, com curta estao chuvosa no

    vero-outono, estando sob a ao das chuvas provenientes de deslocamentos da Massa

    Equatorial-Norte, que tem seu maior deslocamento para o Sul no outono (mximos

    pluviomtricos nessa estao e mnimos na primavera), apresentando temperatura superior a

    18oC no ms mais frio.

    No Vale do Cariri, e em especial no alto da chapada do Araripe, h queda de

    temperatura e aumento da precipitao, indicando que ali o clima seria classificado em AW,

    ou seja, clima tropical chuvoso, com a estao chuvosa no outono. De acordo com os dados

    da Sudene (Jacomine, 1973), pode-se classificar o Cariri como pertencente a classe Amw,

    devido a seus ndices de umidade. Esta classe caracteriza-se por tem o ms mais seco com

    precipitao abaixo de 60mm, ou seja, uma seca atenuada, sendo o clima um intermedirio

    entre o Aw(tropical chuvoso) e o Af (tropical mido).

    A classificao climtica de Kppen-Geiger, mais conhecida por classificao de

    Kppen foi proposta em 1900 pelo climatologista alemo Wladimir Kppen e aperfeioada

    vrias vezes com a colaborao de Rudolf Geiger at a publicao da ltima verso em 1936.

    A classificao baseada no pressuposto de que a vegetao natural de cada grande regio da

    Terra essencialmente uma expresso do clima nela prevalecente. Na determinao dos tipos

    climticos de Kppen-Geiger so considerados a sazonalidade e os valores mdios anuais e

    mensais da temperatura do ar e da precipitao.

    A classificao de Gaussen (Jacomine, 1973), utilizada para determinao das regies

    bioclimticas, relaciona ritmo das temperaturas e precipitaes durante o ano utilizando

    mdias mensais e considerando os estados favorveis e desfavorveis para a vegetao.

    Fundamenta-se na determinao do perodo seco e ndice xeotrmico. Nesta classificao,temos na rea de estudo os tipos:

    a) 4aThTropical quente de seca acentuada, com seca de inverno e ndice xerotrmico entre

    150 e 200, com 7 a 8 meses secos no ano, nas reas da Depresso Sertaneja da sub-bacia do

    rio Salgado. resultado do predomnio da Massa Equatorial Atlntica (mEa) que estvel. A

    curta estao chuvosa conseqncia das penetraes da Massa Equatorial Continental (mEc)

    e das descidas da FIT (Frente Intertropical). A vegetao da rea desta modalidade climtica

    a caatinga hiperxerfila apresentando todas as variaes possveis quanto ao porte e adensidade;

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    b) 4BTh - Tropical quente de seca mdia, com seca de inverno, ndice xerotrmico entre 100 e

    150, com 5 a 6 meses secos no ano, nas encostas da chapada do Araripe e no Cariri. A

    vegetao desta rea caracterstica das regies mais midas, predominando formaes

    arbreas. A formao florestal tem as caractersticas de uma floresta subcaduciflia;

    3 Ordem de Grandeza: Domnio Morfoclimtico - Domnio das Superfcies Pediplanadas

    Interplanlticas e Intermontanas Semi-ridas cobertas por Caatingas.

    Existem grandes relaes entre os diversos tipos de clima e relevo existente no Brasil,

    sejam elas de vegetao, de solo, etc. Segundo AbSber, (...) as paisagens so frutos de

    uma evoluo integrada complexa (...) participando de sua constituio uma ossatura

    rochosa bsica, uma roupagem de produtos de intemperismo e solos, determinadas

    coberturas vegetais, e uma fisiologia especfica, relacionada com a dinmica climtica e

    ecolgica. No se pode compreender os complexos regionais, em termos de Geomorfologia,

    sem avaliar a realidade paisagstica e ecolgica global da reas.(AbSber, 1970, p. 24-25)

    O autor supracitado (1970; 1974) fez uma classificao dessas paisagens chamando-as

    de Domnios Morfoclimticos, os quais correspondem a conjuntos regionais de paisagens

    fruto de combinaes de fatos geomrficos, climticos, hidrolgicos e pedolgicos, cujas

    reas cores esto relacionadas a regies climato-botnicas, reas geopedolgicas e

    provncias fitogeogrficas e regies hidrolgicas parcialmente bem definidas(AbSber,

    1970, p. 20).

    Domnio se expressa pela grande continuidade espacial dos tipos de elementos

    interados, homogeneizando paisagens. Morfoclimtico devido s caractersticas

    morfolgicas e climticas encontradas nos diferentes domnios. Em cada um desses sistemas,

    so encontrados aspectos, histrias, culturas e economias diferenciadas, desenvolvendo

    condies mpares tanto quanto aos aspectos fisiogrficos, quanto aos scio-ambientais.Assim, os domnios morfoclimticos brasileiros so definidos a partir das

    caractersticas climticas, botnicas, pedolgicas, hidrolgicas e fitogeogrficas; aspectos com

    os quais possvel demarcar seis regies de domnio morfoclimtico.

    A sub-bacia do rio Salgado insere-se no Domnio das Caatingas ou das Superfcies

    Pediplanadas Interplanlticas e Intermontanas Semi-ridas cobertas por Vegetao de

    Caatinga. Corresponde regio da Depresso Sertaneja Nordestina, com clima quente e semi-

    rido e tpica vegetao de caatinga formada por cactceas, bromeliceas e rvores. No

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    131Revista de Geografia. Recife: UFPEDCG/NAPA, v. especial VIII SINAGEO, n. 2, Set. 2010

    domnio da caatinga, aparecem os inselbergs, ou morros residuais, resultantes do processo de

    pediplanao em clima semi-rido.

    Situado no Nordeste brasileiro, o Domnio Morfoclimtico das Caatingas, com uma

    extenso de aproximadamente 850.000 km, inclui o Estado do Cear e partes dos Estados da

    Bahia, de Sergipe, de Alagoas, de Pernambuco, da Paraba, do Rio Grande do Norte e do

    Piau.

    Aumentando a escala, em nvel estadual, encontramos paisagens nitidamente

    diferenciadas. A sub-bacia do rio Salgado est inserida na Mesorregio Sul Cearense, a qual

    apresenta panorama geoambiental bastante heterogneo, desde planuras semi-ridas em

    terrenos cristalinos cobertos de caatinga hiperxerfila at escarpas sedimentares sub-midas

    com vegetao de floresta tropical. Estas diferenciaes foram estudadas pela Fundao

    Cearense de Meteorologia e Recursos Hdricos FUNCEME, de forma a organizar um

    mapeamento destes aspectos para planejamento regional. Esta a base de dados mais

    detalhada feita at hoje sobre a rea em estudo.

    O Zoneamento Geoambiental do Estado do Cear Mesorregio do Sul Cearense

    (FUNCEME, 2006), visa elaborao do diagnstico geoambiental do meio fsico-bitico

    com base em aplicao de metodologia geossistmica, delimitou sistemas e subsistemas

    ambientais a partir da interpretao digital de imagens orbitais acompanhada de trabalho de

    campo. Assim, os conjuntos ambientais foram hierarquizados em Domnios Naturais,

    Sistemas Ambientais (geossistemas) e Sub-sistemas Ambientais (geofcies), privilegiando as

    snteses e correlaes interdisciplinares e no estudos setoriais e estanques. Os dados

    levantados nestes estudos so aqui priorizados, por serem os mais recentes, nesta escala.

    4 Ordem de Grandeza: Domnios Naturais

    Delimitados a partir da compartimentao das geoformas, a rea drenada pela sub-bacia do rio Salgado apresenta quatro domnios naturais: Chapadas e chapades, Vales, Serras

    e Sertes (FUNCEME, 2006).

    Cada Domnio acima referido se subdivide em unidade menores de acordo com suas

    caractersticas fsico-biolgicas, os Sistemas Ambientais (Geossistemas) e estes, em unidades

    mais especficas ainda, de acordo com a dinmica ambiental e o uso e ocupao do solo, os

    Sub-sistemas Ambientais (Geofcies).

    Os Sistemas e Sub-sistemas Ambientais so delimitados em funo de combinaesmtuas especficas entre as variveis abiticas e biticas. Destacando-se as diversidades

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    132Revista de Geografia. Recife: UFPEDCG/NAPA, v. especial VIII SINAGEO, n. 2, Set. 2010

    internas dos sistemas, so delimitadas as unidades elementares contidas em um mesmo

    sistema de relaes. Tais sistemas e subsistemas ambientais so resultantes do agrupamento

    de reas dotadas de condies especficas quanto s relaes mtuas entre os fatores do

    potencial ecolgico (fatores abiticos) e aqueles da explorao biolgica, compostos

    essencialmente pelo mosaico de solos e pela cobertura vegetal.

    A paisagem encerra o resultado da combinao dinmica e instvel de elementos

    fsicos, biolgico e antrpicos que, reagindo dialeticamente uns sobre os outros, fazem dessa

    paisagem um conjunto nico e indissocivel em perptua evoluo (Bertrand, 1969 in

    FUNCEME, 2006).

    Sob esse aspecto, a concepo de paisagem assume significado na delimitao dos

    subsistemas, devido exposio de padres uniformes ou relativamente homogneos,

    perceptveis nas imagens orbitais.

    5 Ordem de Grandeza: Sistemas Ambientais (Geossistemas)

    Como afirma Going (1997), paisagem pode ser entendida como um complexo

    geograficamente, funcionalmente e historicamente inter-relacionado de ecossistemas, e para

    seu planejamento e manejo, necessrio se faz entender os modelos ambientais, para os quais o

    mapeamento das condies geomorfolgicas, hidrolgicas e climticas so cruciais. A fim de

    garantir a sustentabilidade da paisagem, as mltiplas e interdependentes funes de seus

    ecossistemas devem ser cuidadosamente identificados em macro, meso e micro escala.

    Assim, delimitados a partir da estrutura e dinmica da natureza, foram encontrados cinco

    geossistemas.

    Chapada do Araripe e Patamares do entorno Cp: Paisagem caracterizada por vastas

    extenses planas (Chapada) e encostas de mdia a alta declividades, em terrenos sedimentares

    do Grupo Araripe, recobertas por vegetao arbreo-arbustiva (matas mida e Seca)Vales midos Vu: Paisagem que acompanha os cursos dgua perenes no Vale do Cariri,

    onde a umidade advinda dos exutrios da Chapada do Araripe, condicionavam originalmente

    vegetao ciliar de porte mdio a alto, e hoje encontra-se utilizada por agricultura irrigada, em

    especial cana-de-acar.

    Vales secos e alvolos Vs: Caracteriza-se pela semi-aridez do clima e intermitncia dos

    cursos dgua, encontrando-se carnaubais e agricultura de subsistncia.

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    Macios e cristas residuais Mr: Macios residuais resultantes de eroso diferencial e serras

    rebaixadas por processos erosivos semi-ridos, esculpidos em rochas do embasamento

    cristalino aflorante, cobertos de caatingas.

    Sertes da Depresso Perifrica Meridional do Cear Sm: Paisagens aplainadas em reas do

    embasamento cristalino em clima semi-rido, cobertas por caatingas.

    CONCLUSES

    As paisagens so resultado de interaes intrnsecas entre seus componentes, e

    qualquer modificao em algum destes elementos, em qualidade ou intensidade, originar

    transformaes na paisagem, mais drsticas quanto maiores as mudanas ocorridas.

    Blos (1992) diz que, na definio de paisagem, existem trs elementos fundamentais:

    as caractersticas do geossistema que a define; o tamanho referido a uma escala espacial e o

    perodo de tempo considerado na escala temporal.

    Neste estudo fizemos uma aproximao na identificao das paisagens relacionadas

    sub-bacia do rio Salgado em diversas escalas espaciais, importantes para a compreenso da

    dinmica de sua paisagem especfica.

    As paisagens da sub-bacia do rio Salgado apresentam-se variadas, uma vez que seus

    elementos constituintes so bastante diferenciados, comeando pelas litologia e estrutura

    cristalina e fortemente heterognea e falhada nas reas do Serto, e sedimentares, com

    estratificao plana-paralela com vastas reas de afloramento homogneas na bacia

    Sedimentar do Araripe.

    Destas litologias e estruturas combinadas com os climas semi-rido na maior parte

    da rea, e sub-mido no Cariri advm uma multiplicidade de solos e formas de relevo, os

    quais condicionam tipos de vegetao tambm diferentes, apesar do domnio das caatingas em

    grande parte da rea, devido ao dficit hdrico.Como afirma Troll (1997, p. 4-5), a diferenciao do espao no mundo permite uma

    diviso de paisagens numa escala muito reduzida, cujas unidades denominam-se pequenas

    paisagens ou paisagens parciais. Existe, em conseqncia, um escalonamento dimensional,

    uma hierarquia de paisagens de diferentes dimenses(...) Ao definir paisagens cada vez

    menores, sempre se chega a um nvel em que o espao se apresenta como um quebra-cabea

    cujas peas nunca aparecem de forma independente, sendo que, em grande nmero,

    constituem associaes individuais mnimas caracterizadas por uma configurao e uamlocalizao determinadas.

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    Assim, para classificarmos as paisagens da sub-bacia do rio Salgado, baseando-se em

    sua dinmica e evoluo para avaliarmos suas potencialidades e limites de uso, de suma

    importante identificarmos o contexto paisagstico em que ela se enquadra, em escala local,

    regional e nacional.

    REFERNCIAS

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