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__________________________________________________________________________________________ 1 O EMPREENDEDORISMO SOCIAL SOB O ENFOQUE DA GESTÃO DOS STAKEHOLDERS Jéssica Rodrigues dos Santos 1 Viviane Lucas de Souza Candido 2 Yeda Maria Pereira Pavão 3 Resumo: Diante do interesse e contemporaneidade do tema, esse artigo pretende identificar as influências e implicações entre a teoria dos stakeholders e às práticas do empreendedorismo social em seu processo de gestão. Este estudo justifica-se pela mediação entre os debates decorrentes e produzidos na academia, das temáticas que abrangem a teoria dos stakeholders e o empreendedorismo social, bem como ao processo de gestão que as envolve. Sob o âmbito da revisão teórica, este estudo revelou que o desenvolvimento de uma organização social depende essencialmente do apoio dos stakeholders, como meio de captação de recursos indispensáveis para sua sobrevivência. Assim, o levantamento de dados da pesquisa se utilizará de estudo descritivo e explicativo, embasado em pesquisas bibliográficas. Objetiva- se com o delineamento da pesquisa, contribuir cientificamente com a disseminação do assunto na academia, bem como, subsidiar os processos teóricos e práticos da gestão de empreendimentos sociais. Palavras-chave: Stakeholders. Empreendedorismo social. Empreendedor social. Gestão social. 1. Introdução Os ecos da sociedade emanam em diferentes órgãos e instituições, cada vez mais, por medidas que respondam e correspondam as suas mais diversificadas necessidades. Sob esse enfoque, aponta-se a demanda pela interação com os chamados stakeholders na incorporação do negócio. Freeman (1984) considera stakeholders como qualquer grupo ou indivíduo que possa afetar ou ser afetado pelo cumprimento do objetivo de uma corporação, em que inclui funcionários, clientes, governo, fornecedores, acionistas, bancos, ambientalistas, e outros grupos que poderão influenciar a empresa. Diante dessa abrangência, revela-se a importância de incentivar e entender o funcionamento de negócios que internalizam uma preocupação com a sociedade e o ambiente e que visam à transformação social (LAVILLE, 1997). Neste sentido, se tem como foco, as empresas que exercem práticas direcionadas à própria sociedade em que estão inseridas, propendendo os stakeholders como fonte de desenvolvimento, inovação, captação de recursos, bem como na elaboração de distintas estratégias. Evidencia-se, sobretudo, a importância de se entender o empreendedorismo no âmbito social e acadêmico, para Shane e Venkataraman (2000), o empreendedorismo é definido como o estudo das fontes das oportunidades para criar algo novo e o processo de descoberta, 1 Graduanda do Curso de Administração da Universidade Estadual do Paraná-Campus de Campo Mourão. [email protected] 2 Graduanda do Curso de Administração da Universidade Estadual do Paraná-Campus de Campo Mourão. [email protected] 3 Professora Dra. em Administração e Turismo da Universidade Estadual do Paraná-Campus de Campo Mourão. [email protected]

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O EMPREENDEDORISMO SOCIAL SOB O ENFOQUE DA GESTÃO DOS STAKEHOLDERS

Jéssica Rodrigues dos Santos 1 Viviane Lucas de Souza Candido 2

Yeda Maria Pereira Pavão3 Resumo: Diante do interesse e contemporaneidade do tema, esse artigo pretende identificar as influências e implicações entre a teoria dos stakeholders e às práticas do empreendedorismo social em seu processo de gestão. Este estudo justifica-se pela mediação entre os debates decorrentes e produzidos na academia, das temáticas que abrangem a teoria dos stakeholders e o empreendedorismo social, bem como ao processo de gestão que as envolve. Sob o âmbito da revisão teórica, este estudo revelou que o desenvolvimento de uma organização social depende essencialmente do apoio dos stakeholders, como meio de captação de recursos indispensáveis para sua sobrevivência. Assim, o levantamento de dados da pesquisa se utilizará de estudo descritivo e explicativo, embasado em pesquisas bibliográficas. Objetiva-se com o delineamento da pesquisa, contribuir cientificamente com a disseminação do assunto na academia, bem como, subsidiar os processos teóricos e práticos da gestão de empreendimentos sociais. Palavras-chave: Stakeholders. Empreendedorismo social. Empreendedor social. Gestão social. 1. Introdução

Os ecos da sociedade emanam em diferentes órgãos e instituições, cada vez mais, por

medidas que respondam e correspondam as suas mais diversificadas necessidades. Sob esse enfoque, aponta-se a demanda pela interação com os chamados stakeholders na incorporação do negócio. Freeman (1984) considera stakeholders como qualquer grupo ou indivíduo que possa afetar ou ser afetado pelo cumprimento do objetivo de uma corporação, em que inclui funcionários, clientes, governo, fornecedores, acionistas, bancos, ambientalistas, e outros grupos que poderão influenciar a empresa.

Diante dessa abrangência, revela-se a importância de incentivar e entender o funcionamento de negócios que internalizam uma preocupação com a sociedade e o ambiente e que visam à transformação social (LAVILLE, 1997). Neste sentido, se tem como foco, as empresas que exercem práticas direcionadas à própria sociedade em que estão inseridas, propendendo os stakeholders como fonte de desenvolvimento, inovação, captação de recursos, bem como na elaboração de distintas estratégias.

Evidencia-se, sobretudo, a importância de se entender o empreendedorismo no âmbito social e acadêmico, para Shane e Venkataraman (2000), o empreendedorismo é definido como o estudo das fontes das oportunidades para criar algo novo e o processo de descoberta,

1 Graduanda do Curso de Administração da Universidade Estadual do Paraná-Campus de Campo Mourão. [email protected] 2 Graduanda do Curso de Administração da Universidade Estadual do Paraná-Campus de Campo Mourão. [email protected] 3 Professora Dra. em Administração e Turismo da Universidade Estadual do Paraná-Campus de Campo Mourão. [email protected]

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exploração e avaliação, por parte dos indivíduos que as descobrem, avaliando e explorando essas coisas novas, usando diversos meios para se atingir um fim.

Na visão de Dornelas (2003), o empreendedorismo descreve-se como um processo em que os indivíduos são diferenciados, são apaixonados pelo que fazem, não se contentam em ser mais um na multidão deixando um legado. Assim, “o empreendedor é a pessoa que consegue fazer as coisas acontecerem, pois é dotado de sensibilidade para os negócios, tino financeiro e capacidade de identificar oportunidades” (CHIAVENATO, 2005, p. 5)

A isso, Mancini e Yonemoto (2014, p.3) delineiam que “a figura empreendedora esta fortemente ligada ao ambiente empresarial, todavia há inúmeras possibilidades de empreender, sendo que dentre essas a atuação do empreendedor social vem emergindo uma vez que a busca pelo desenvolvimento humano, social e sustentável, ou seja, a redução das desigualdades existentes na sociedade tem sido tema amplamente discutido pelos governos e cidadãos”.

Do mesmo modo, Barbieri e Silva (2010; 2011) argumentam que a educação social, é importante para uma ampla gama de profissionais que podem ter influência direta sobre o meio ambiente, dentre eles, administradores.

Sob esse enfoque, Campos et. al., (2012, p.65) se embasam em Robinson (2006) para enfatizarem que, o empreendedorismo social é uma forte ferramenta para solucionar problemas emergentes da sociedade, sob um perspectiva douradora e sustentável.

À luz dessa menção, Santos e Galleli (2013) acreditam que o curso de Administração no âmbito universitário, é o curso que poderá proporcionar mais avanços nesse contexto, [...] dando “estímulo à inovação e o crescimento econômico” (SANTOS, GALLELI, 2013, p. 154).

Assim, verifica-se que as organizações que executam práticas sociais e socioambientais por parte de políticas públicas e de produções científicas na academia, assim como, a preocupação de pessoas na sociedade que contribuem de diversas formas com a gestão de negócios deste gênero.

Considerando a intensificação do interesse no entendimento do comportamento dos stakeholders nas organizações sociais, assim como, as perspectivas teóricas que embasam esse estudo para explicar as relações e interações entre essas temáticas, intenta-se a partir deste estudo investigar as principais influências dos stakeholders nos processos práticos do empreendedorismo social.

Sob esse aspecto, este artigo é justificado, com a intenção de analisar e discutir sob a percepção de alguns autores, como ocorrem as relações entre os stakeholders e de que modo estes se apresentam nos empreendimentos sociais.

O estudo estrutura-se inicialmente, além dessa sessão, por uma revisão bibliográfica sobre a teoria dos stakeholders, assim como das abordagens do empreendedorismo e empreendedores sociais, seguindo para a metodologia utilizada na elaboração do estudo. Para encerramento, apresentam-se as discussões e análises dos dados observados com o estudo e as considerações finais, dando conclusão à pesquisa realizada.

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2. Referencial Teórico. 2.1. As organizações sociais sob a ótica dos stakeholders.

Verifica-se que os autores, criam, recriam e ampliam denominações para seus

construtos sob variadas formas. O apelo científico sobre compreender a organização e seu ambiente também se encontra às pessoas tratadas conjuntamente no âmbito das organizações, e as implicações de suas ações, também serviram de inspiração para distintos autores (PAVÃO, ROSSETTO, 2014, p.2).

Sobre esse enfoque, esse artigo busca tratar, dentre outras coisas, do termo stakeholder, palavra mencionada pela primeira vez num memorando interno do SRI - Stanford Research Institute em 1963, referindo-se “àquele grupo cujo suporte faltando, a organização deixaria de existir” (CORADINI et.al., 2010, p. 2). .

A disseminação do termo stakeholder teve seu início no final dos anos de 1980 tendo como precursor do estudo R. Edward Freeman, que dedicou estudos e lançou sua obra Strategic Management: a Stakeholder Approach, publicado em 1984 acerca do assunto, onde define o termo stakeholders, como sendo qualquer grupo ou indivíduo que pode afetar ou ser afetado pelo cumprimento do objetivo de uma corporação em que inclui funcionários, clientes, governo, fornecedores, acionistas, bancos, ambientalistas, e outros grupos que poderão ajudar ou prejudicar a empresa (FREEMAN, 1984).

Hitt (2002) conota stakeholders como os indivíduos e grupos capazes de afetar e de serem afetados pelos resultados estratégicos alcançados (CORADINI et.al., 2010, p. 4). Pelo fato das organizações possuírem um relacionamento de dependência com esse grupo, num período indeterminado.

Diante disso, Freeman (1984), indaga que para desenvolver estratégias, a organização deveria buscar resposta a três perguntas básicas sobre seus stakeholders: Quem são eles? (seu perfil, atributos e características de comportamento); O que eles querem? (referem-se aos seus interesses e metas); Como eles tentarão atingir suas metas e satisfazer seus interesses? (essa questão é relativa aos meios para se alcançar os fins) (SCHIAVONI et. al. 2013, p.3).

À luz dessa menção, é necessário que as organizações tratem com mais atenção as “demandas de seus ambientes e as demandas dos stakeholders que apoiam sua manutenção e desenvolvimento, buscando um equilíbrio em seus relacionamentos com esses diversos stakeholders” (SCHIAVONI et. al. 2013, p.3), pois, “os estudos de stakeholders têm passado por evoluções, sobretudo nas últimas duas décadas, com uma forte conotação gerencial e até mesmo com evoluções no campo social” (COSTA; AMÂNCIO-VIEIRA; CARMONA, 2011, p. 2).

Para Oliveira (2008) na gestão sustentada em stakeholders, a atenção deverá estar voltada simultaneamente tanto para os diversos stakeholders, quanto para as políticas gerais e responsabilidade social nas tomadas de decisões. Essa necessidade de atenção simultânea é fruto dos múltiplos objetivos, os quais deverão ser integrados pelo gestor, que deverá considerar sempre a responsabilidade social da empresa.

Para tanto, no que se refere às organizações ou empreendimentos sociais acredita-se que aumentando o valor da empresa perante a sociedade, aumenta-se também o valor das ações da mesma a partir da contribuição e relação da organização com stakeholders em potencial.

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Referente às organizações sociais, como aponta Martins et. al. (2014) os stakeholders agem especificamente como facilitadores e meios ativos para obtenção de recursos, sendo necessário a elaboração estruturalizada de um mapa dos stakeholders, a fim de, facilitar a definição e implantação eficiente e eficaz de estratégias de relacionamento que promovam a sua sustentabilidade e/ou sobrevivência de empresas do gênero.

Além disso, torna-se essencial para constituição e funcionamento de uma organização social, o estudo do ambiente externo e específico pelo qual pretende se instalar o empreendimento no mercado, sendo por sua vez influenciado pelos stakeholders que mantem relação com a empresa, como conceitua Oliveira (2013, p. 26) o ambiente externo é “[...] conjunto de todos os fatores que, dentro de um limite específico, se possa conceber como tendo alguma influência sobre a operação do sistema”.

Não obstante, Contim et. al. (2004) embasam seu estudo na discussão de gestão de responsabilidade social e o desenvolvimento sustentável e investimentos, focando elementos centrais, como o mercado de capitais e a geração de valor para o acionista, os resultados demonstraram que as empresas não são somente vistas como agentes econômicos, mas também como agentes sociais, com participação e influência sobre a comunidade (CORADINI et.al., 2010, p. 8).

A comunidade é, segundo Sousa e Almeida (2006, p. 29), “o stakeholder que respalda a legalidade e a moralidade operacional da empresa. Porém, [...] suas demandas são mais passivas e indiretas”. “A expectativa da comunidade é que a empresa opere de forma ética e com responsabilidade social. Por isso o gestor, além de agir com ética, deve mostrar-se ético. Pois, perdendo a credibilidade diante da comunidade, dificilmente a recuperará” (SILVA; GARCIA, 2011, p.8).

Os stakeholders são essenciais em algumas empresas, por sua relevância Mitchell, Agle e Wood (1995), classificou-os em como poder legitimidade e urgência, de acordo com o exposto Pavão et. al. (2012) declara que:

“Para o primeiro atributo, a organização se utiliza do poder de o stakeholders influenciar a organização; a legitimidade é uma percepção generalizada, construída a partir de um sistema de normas, de valores, de crenças e de definições, intrínsecos nos indivíduos, na organização e na sociedade. A urgência é o grau com o qual os stakeholders reivindicam atenção” (PAVÃO et.al. 2012, p.25).

A autora constata ainda que, “o ambiente munificente se caracteriza como aquele

capaz de suportar a operação e o desenvolvimento sustentável da organização, associado ao grau de abundância ou escassez dos recursos” (PAVÃO, 2012, p.25). Sem recursos os empreendimentos sociais recorrem às parcerias com diversos stakeholders, e fortifica as relações já existentes, visando sempre que o ambiente geral da organização esteja voltado para a sustentabilidade e a sociedade.

Diante do exposto, mensura-se a capacidade de gestão dos stakeholders em organizações sociais, e o seu desempenho perante as mesmas, considerando fortes, as influências que os stakeholders exercem na execução do empreendedorismo social.

2.2 Empreendedorismo social e o perfil dos empreendedores sociais.

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Em um contexto social, onde é confiado ao Estado cumprir com as funções públicas

essenciais, há por muitas vezes a dificuldade de suprir as necessidades básicas e emergentes de um determinado grupo da sociedade.

“Diante dessa carência social eminente, surge o setor, denominado terceiro setor que congrega as organizações que prestam serviços públicos, produzem e comercializam bens e serviços, mas não são estatais e não visam lucro” (SILVA et. al. 2011, p.2).

Segundo Fernandes et. al. (2004), faz-se necessário uma nova relação, mais harmoniosa entre o ser humano e o meio ambiente que o cerca, surgindo juntamente com o terceiro setor, a gestão voltada para o âmbito social.

Como descreve Filho (2002, p.10) “O termo terceiro setor é herdeiro de uma tradição anglo saxônica, particularmente impregnada pela ideia de filantropia. Essa abordagem identifica o terceiro setor ao universo das organizações sem fins lucrativos”.

Atualmente no Brasil, uma das correntes mais influentes é a do terceiro setor, termo frequentemente utilizado para caracterizar as organizações que atuam no domínio social (FERNANDES, 1994; FISHER; FALCONER, 1998; SALAMON, 1998).

Posto isso, sob os teores de Santos e Galleli (2013, p.72) com base nos preceitos de Austin; Stevenson; Wei-Skillern (2006):

A noção de empreendedorismo social emergiu rapidamente na sociedade e o interesse nesta nova forma de organização social mostra-se crescente. O empreendedorismo social tornou-se um fenômeno global que impacta a sociedade por empregar abordagens inovadoras na resolução de problemas sociais, provenientes tanto do setor privado quanto do sem fins lucrativos.

Melo Neto e Froes (2002) esclarecem que o empreendedorismo social foi se formando

e alastrando com o objetivo de prover meios de melhoria de comunidades, as quais são viabilizadas por ações voltadas para o desenvolvimento humano, social e sustentável.

“O empreendedorismo social é diferenciado também por preocupar-se com o desenvolvimento de comunidades locais objetivando provocar impacto social e permitir a avaliação de resultados” (SOUZA et.al., 2014, p.4), “seu papel se aproxima do papel do Estado, pois atuam como centros redistribuidores de recursos, com vistas a diminuir as desigualdades sociais [...] predominam formas de regulação baseadas na reciprocidade, tais como, o dom e o voluntariado que, por sua vez, são indissociáveis das relações pessoais presentes na esfera comunitária” (ANDION, 2005, p. 84).

A isso, Tachizawa (2007), afirma acerca do empreendedorismo social que: “o pensamento se expandiu e tornou-se mais abrangente incorporando outros fatores importantes como a preservação do meio ambiente, a valorização do colaborador como parte integrante da empresa e, também, a preocupação em criar medidas que proporcionem qualidade de vida dentro da organização” (TACHIZAWA, 2007, p. 36).

A ação social que o empreendedor realiza, possui ligação direta com suas experiências, sua cultura e princípios, como expõe Max Weber (in LUGO MORIN, 2005) a AÇÃO SOCIAL tem orientação subjetiva. O indivíduo age conforme sua consciência individual, alicerçada em seus valores (VASCONCELOS, LEZANA, 2012, p. 1004).

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Segundo Sarkar (2010, p. 39) “os empreendedores sociais são indivíduos que têm soluções de inovação para problemas sociais. São ambiciosos e persistentes, enfrentam os maiores problemas sociais e oferecem alterações a larga escala”.

Essa forma de empreender consiste basicamente em resolver problemas da comunidade a partir da aplicação de ideias inovadoras que busquem melhorias e desenvolvimento local, cabendo ao empreendedor desmistificar o conceito de “herói” e adotar uma imagem de “fazedor” perante a sociedade, diante desse pensamento, Nicholls (2006, 2010) completa que:

O aumento das crises humanitárias e ambientais, assim como a presença de instituições e programas que falham em atender a necessidades sociais emergentes, ressalta a importância de iniciativas socialmente empreendedoras e da aplicação de novos modelos que criem valor social e ambiental (NICHOLLS, 2006; 2010).

Ainda no mesmo aspecto Bornstein (2007) expõe:

O empreendedorismo social não é sobre algumas pessoas extraordinárias salvando o dia para todo mundo. No seu nível mais profundo, trata-se de revelar possibilidades que estão atualmente invisíveis e liberar a capacidade dentro de cada pessoa para remodelar uma parte do mundo. Ele não requer uma educação de elite, o que exige é uma bagagem. O acervo de conhecimento no empreendedorismo social vem, em primeira mão, do engajamento com o mundo (BORNSTEIN, 2007, p.19-20).

Sob esse enfoque, encontram-se inúmeras distinções que explicam o conceito do

empreendedor social, dentre elas Sarkar explica que: “Os empreendedores nos negócios transformam a economia ao deslocarem os recursos para áreas que ainda não são servidas. Os empreendedores sociais partilham muitas das mesmas qualidades, mas o seu primeiro efeito vai para as atividades que geram mudanças sociais” (SARKAR, 2010, p. 39).

Todavia, o empreendedor social exprime suas ideias e ações por meio da criação de

uma organização, como indaga Andion (2005), acerca do assunto: “É necessário que a organização consiga produzir com a sua ação uma transformação social, interna e externamente. Internamente, isso ocorre por meio da apropriação do projeto social por parte de todos os atores envolvidos, especialmente os usuários, o que é crucial para a instauração de uma gestão interna mais democrática. [...] Externamente, a transformação depende de uma ação da organização junto à sociedade mais ampla. É necessário, para tanto, que a organização atue como agente mobilizador da consciência cidadã de seus membros e da comunidade em que atua, não se preocupando somente com suas questões internas (corporativismo), mas enxergando o seu papel enquanto espaço público inserido numa coletividade mais ampla” (ANDION, 2005, p. 84).

Casaqui (2014, p. 071) indaga ainda que “o empreendedorismo social surge como

perspectiva para aliar a prática de negócios, com a devida profissionalização de seus quadros, com a devoção a uma causa social, que será o mote para a retórica da renúncia às benesses do capitalismo e suas recompensas individuais, para a recompensa na realização de algo que

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inclui a resolução ou a amenização de um problema social, que considera o outro na perspectiva de sucesso pessoal”. 3 Metodologia da pesquisa.

De forma abrangente, os procedimentos metodológicos do exposto estudo buscam evidenciar quais as relações que os chamados stakeholders influem sob os aspectos e práticas do empreendedorismo social, assim como, da gestão socioambiental direcionada às micro e pequenas empresas, verificando perante a produção teórica como se dá esse processo.

Por meio das ideias dos pesquisadores que abordam sobre as temáticas de interesse no estudo, tem-se o objetivo de entender como ocorre o processo crítico, o caminho seguido pelos mesmos para alcançar respostas sobre a problemática de relacionar temas específicos, sobre um fato relativamente atual.

Para isso, no âmbito da atividade cientifica, a pesquisa se refere ao processo inquiridor de fenômenos, cabendo ao pesquisador compreendê-los e explicá-los, como descreve Alyrio (2009) a pesquisa cientifica supõe, no sentido mais amplo, uma convergência de teoria com fenômenos particulares; um conjunto de atividades orientadas para a busca de um determinado conhecimento ou resposta, sendo que para realizá-la é necessário seguir um método ordenado de ideias, próprio de técnicas específicas buscando resultados significativos.

À luz dessa menção, pode-se entender o fundamento da pesquisa na busca dos conhecimentos, como indaga Cervo e Bervian (2003, p.63) “a pesquisa é uma atividade voltada para a solução de problemas, através do emprego de processos científicos”. Diante disso, Houaiss (2004) interpreta o método de pesquisa como sendo, um procedimento organizado, lógico e sistemático de pesquisa, instrução, investigação, que deve ser elaborado seguindo uma metodologia especifica de organização das ideias que cabe ao pesquisador definir. A isso Chizzotti (2001) afirma que:

“a coleta de dados não é um processo acumulativo e linear cuja frequência, controlada e mensurada, autoriza pesquisador, exterior à realidade estudada e dela distanciado, a estabelecer leis e prever fatos” (CHIZZOTTI, 2001, p.98).

A natureza do estudo caracteriza-se como explicativa e descritiva utilizando como

procedimento técnico a bibliografia, constituída principalmente de publicações em periódicos, revistas, monografias, internet e artigos científicos, com o objetivo de colocar o autor em contato com materiais já elaborados específicos do tema que se pretende estudar. A isso Prodanov e Freitas (2013) descrevem as etapas de como ocorre o processo do estudo bibliográfico:

“1) Escolha do tema; 2) Levantamento bibliográfico preliminar; 3) formulação do problema; 4) Elaboração do plano provisório do assunto; 5) Busca das fontes; 6) Leitura do material; 7) Fichamento; 8) Organização Lógica do assunto; 9) Redação do texto” (PRODANOV, FREITAS; 2013, p.55).

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Sob esse enfoque Gil (2008) indaga que: “A principal vantagem da pesquisa bibliográfica reside no fato de permitir ao investigador a cobertura de uma gama de fenômenos muito mais ampla do que aquela que poderia pesquisar diretamente. Esta vantagem se torna particularmente importante quando o problema de pesquisa requer dados muito dispersos pelo espaço. [...] A pesquisa bibliográfica também é indispensável nos estudos históricos. Em muitas situações, não há outra maneira de conhecer os fatos passados senão com base em dados secundários” (GIL, 2008, P.50).

Do mesmo modo, Barros e Lehfeld (1986), asseveram acerca da pesquisa descritiva

caracterizando-a como aquela com que o pesquisador observa, registra, analisa e correlacionam fatos ou fenômenos.

Para Gil (1986), as pesquisas descritivas têm como objetivo principal a descrição das características de determinada população ou fenômeno ou, ainda, o estabelecimento de relações e interações entre as variáveis.

A pesquisa descritiva “expõe características de determinada população ou de determinado fenômeno. Pode também estabelecer correlações entre variáveis e definir sua natureza. Não tem compromisso em explicar os fenômenos que descreve, embora sirva de base para tal explicação” (VERGARA, 2004, p. 47).

Já a pesquisa explicativa (ou causal) busca identificar os fatores que contribuem para a ocorrência de determinado fenômeno, deste modo, visa a explicar a razão dos acontecimentos (GIL, 2007; VERGARA 2004), a isso:

“pode-se dizer que o conhecimento científico está assentado nos resultados oferecidos pelos estudos explicativos. Isto não significa, porém, que as pesquisas exploratórias e descritivas tenham menos valor, porque quase sempre constituem etapa prévia indispensável para que se possam obter explicações científicas. Uma pesquisa explicativa pode ser a continuação de outra descritiva, posto que a identificação dos fatores que determinam um fenômeno exige que este esteja suficientemente descrito e detalhado” (GIL, 2008, p.29).

Para tanto, a pesquisa independente têm como âncora a literatura existente na área:

livros; artigos de periódicos nacionais e publicações por meio eletrônico (digital) ou impresso. Ademais, o estudo enseja o apontamento de aspectos como: identificar de que forma

os stakeholders interagem com as organizações sociais e quais as influências geradas por meio dessa interação, e entender, como ocorre e se caracteriza a vertente do empreendedorismo denominada social.

4 Análise e Discussões:

Na presente pesquisa, foram observadas evidências que permitissem uma investigação

mais completa sobre o relacionamento entre o empreendedorismo, vertente social e o perfil do potencial empreendedor, verificando o impacto destes construtos sobre o desempenho das firmas, assim como o relacionamento destas com os stakeholders.

Inicialmente observou-se que, de acordo com os expostos no referencial teórico, afirma-se as fortes influencias que os chamados stakeholders apresentam em organizações

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sociais atuando ativa e diretamente como captador de recursos e como parcerias necessárias para a concretização do negocio.

Como nos coloca Freeman (1984), os stakeholdres afetam e são afetados pelo grupo de indivíduos que fazem parte de uma corporação, como funcionários, gerentes, e a própria comunidade que a cerca. Como cita Coradini (2010), as empresas não são somente agentes econômicos, mas também agentes sociais.

Para a realização desse tipo de negócio é extremamente relevante destacar que o empreendedor deve conter algumas características específicas e particulares, tornando a ação possível. Assim, o perfil do potencial empreendedor pode ser visto como uma ferramenta fundamental para que negócios sociais sejam possíveis, e para que os mesmos possuam uma forte relação com o ambiente externo onde se insere, agregando parcerias necessárias para seu negocio.

Em termos gerais, confirmam-se que as hipóteses de investigação aqui delineadas coerentes com as pesquisas já elaboradas na literatura sobre a capacidade de gestão dos stakeholders e sua atuação nas estratégias organizacionais, inovação e o perfil do potencial empreendedor.

5. Considerações finais

Inicialmente ao buscar identificar as influências e implicações entre a teoria dos stakeholders e às práticas do empreendedorismo social em seu processo de gestão, pode-se observar que distintos autores corroboram no sentido da prática social e socioambiental estar voltada para o empreendedorismo social.

Neste sentido, nota-se que a prática social se torna necessária diante do momento econômico que passa o país, necessitando de políticas públicas voltadas para o terceiro setor, não podendo fechar os olhos ao que se passa ao lado em nosso dia-a-dia.

Assim, vários autores pesquisados demonstram a necessidade de aliar-se o comercial (que gera riqueza) em conjunto com o social e o socioambiental (que gera empreendedorismo social e transformação do ambiente em que vivemos), aliado as políticas públicas já existentes.

Para futuras pesquisas sugere-se complementar os estudos de artigos, periódicos, publicações, aliado com uma entrevista com empresas, tabulação de dados e posterior análise de resultados obtidos, em corporações que já realizam práticas sociais e socioambientais visando o empreendedorismo social e que tenham parcerias com stakeholders.

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