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janeiro/2011 | edição 100 | ano IX | www.nossolarcampinas.org.br Edição Especial de Aniversário A revista que se Responsabiliza Doutrinariamente pelos Textos Publicados

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janeiro/2011 | edição 100 | ano IX | www.nossolarcampinas.org.br

O diálogo com os espíritos

Edição Especial de Aniversário

A revista que se

Responsabiliza Doutrinariamente

pelos Textos Publicados

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Editor

Emanuel Cristiano

Depto. Editorial

Jornalista Responsável

Renata Levantesi (mtb 28.765)

Diagramação Percurso Visual Editorações

Imagens ValorPix/Percurso Visual Edit.

Revisão Zilda Nascimento

Administração e Comércio

Elizabeth Cristina S. Silva

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“Nosso Lar”

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O Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar”

responsabiliza-se doutrinariamente pelos

artigos publicados nesta revista.

CAPA4 O diálogo com os espíritos

DIÁLOGO8 Começando o diálogo

10 Durante o diálogo

12 A experíência de Catarino

15 O doutrinador rigorista

19 Surpresa em sessão

21 Diálogo surpreendente

25 O dialogador e o grupo mediúnico

27 Diálogo de Jesus com Nicodemos

sumário

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Após os estudos sobre mediunidade e a leitura de uma página evangélica, conforme as disciplinas do grupo mediú-nico, passamos ao trabalho de vibrações.

Buscávamos beneficiar pessoas cujos nomes estavam anotados em pequeno impresso. Constavam também ida-de e endereço.

Essas informações eram lidas pausadamente, com inter-valo de trinta segundos, tempo para os participantes menta-lizarem o beneficiário, endereçando-lhe vibrações de equi-líbrio e bem estar.

Em seguida entramos na parte mediúnica.Logo se manifestou um Espírito bastante irritado, agressi-

vo mesmo. Dizia, veemente, que pretendia reencarnar “na-quela casa, filho daquela mulher”, só ele e mais ninguém.

Reportava-se a um dos nomes lidos durante as vibra-ções. Tratava-se de uma jovem em início de gestação que vinha sofrendo persistente e perigosa hemorragia.

O manifestante proclamava estar empenhado em pro-vocar o aborto e que seria inútil qualquer interferência.

Um dos doutrinadores começou a falar-lhe.Tentou sensibilizá-lo com palavras mansas e carinhosas,

enfatizando o dever de respeitar os desígnios divinos. Ini-ciante nesse trabalho, não conseguia demover o Espírito, que se mostrava cada vez mais exasperado.

Experiente, o dirigente da reunião veio em seu socorro, iniciando o seguinte diálogo:

– Meu caro amigo, creio que você tem razões ponderá-veis para reencarnar e gosta muito daquela que pretende seja sua futura mãe, não é mesmo?

– Sim, muito! Temos ligações. Retornarei ao convívio dela como filho e não admito que ninguém me passe para trás.

– Louvável e corajosa sua intenção. A experiência na carne é um grande desafio, marcado por sofrimentos e di-ficuldades. Não obstante, como mãe e filho vocês certa-mente estreitarão laços de afinidade. Mas, há um pequeno problema...

– Grande ou pequeno, não importa. Ninguém me im-pedirá!

editorial

EXPErIênCIA

por RIChARD SImoNEttIGRatificante

– Só você mesmo ainda não percebeu que está gerando um impedimento insuperável. Como não ignora, nossa irmã tem certas limitações. Foi extremamente difícil engravidar.

– Sei disso. Conheço a situação em seus mínimos deta-lhes.

– Já imaginou que se ela sofrer um aborto correrá o risco de não mais engravidar, em virtude das complicações que podem surgir?

O médium agitou-se demonstrando a surpresa do es-pírito.

– Ora essa! Não tinha pensado nisso!– Pois é! Pretendendo evitar que seu futuro irmão re-

encarne está fechando a porta da reencarnação para você mesmo.

– Idiota que sou! Trabalho contra mim!– Ainda é tempo. Mude suas disposições. Ao invés de

criar embaraços, ajude nossa irmã. Seja um amigo, um pro-tetor para que tudo corra bem e ela seja preservada, habili-tando-se, mais tarde, a recebê-lo como filho.

O médium chorava copiosamente, extravasando a emo-ção do manifestante que, demonstrando surpreendente transformação, agradecia a interferência do grupo e prome-tia seguir a orientação recebida.

Alguns dias depois tivemos notícia de que haviam cessa-do as hemorragias da jovem, com excelentes perspectivas de uma gestação tranquila.

Essa experiência demonstra como é importante saber conversar com os espíritos que se apresentam nas reu niões mediúnicas.

Em determinadas circunstâncias será ocioso exortá-los a mudarem de rumo simplesmente apelando para os va-lores evangélicos ou alertando-os quanto às suas respon-sabilidades.

Geralmente, empolgados por uma fixação de ideias desajustadas e dominados por sentimentos negativos, situam-se refratários aos apelos da lógica e do bom senso.

Imperioso, nestes casos, “entrar na deles”, como di-zem os jovens. Conquistando sua confiança será mais fácil modificar suas disposições. u

Fonte: Reformador, Novembro/1996.

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Revista FidelidadEspíRita | Janeiro/2011

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Quem se propõe a dialogar com

os espíritos é porque entende

e aceita que eles existem e podem

se comunicar conosco.

assine: (19) 3233-5596

Janeiro/2011 | revista FidelidadESPírITA

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O DIÁLOGO COm OS

por thEREZINhA oLIVEIRA

espíRitosEspíritos são seres inteligentes cria-

dos por Deus e que habitam o univer-so, encarnados ou não.

Há quem pense que o Espírito de-sencarnado não pode comunicar-se e conosco trocar idéias. A esse respeito, os espíritos instrutores responderam a Kardec:

Por que não? Que é o homem, se-não um Espírito aprisionado num cor-po? Por que não há de o Espírito livre se comunicar com o Espírito cativo, como o homem livre com o encarnado (LM 1ª parte, Cap. 1, 5).

Sim, os espíritos, encarnados ou não, nos comunicamos uns com os outros. Estamos sempre em comuni-cação, seja pela transmissão do pensa-mento (telepatia), ou pelas emanações fluídicas, que constantemente emiti-mos e recebemos.

De alguma maneira, todos senti-mos a influência dos espíritos libertos e, assim, podemos dizer que todos somos médiuns. Essa comunicação usual, porém, costuma ocorrer de ma-neira sutil e dela nem sempre chega-mos a tomar consciência.

Nos médiuns, propriamente ditos, a mediunidade fica bem caracteri-zada, por fenômenos ostensivos que ocorrem frequentemente e regular-mente.

É que, nos médiuns, uma condição orgânica enseja a expansão perispiri-tual e, nesse estado, ele retoma suas funções de espírito, vê e ouve o que se passa no plano além (que é invisí-vel aos nossos sentidos corpóreos), e se relaciona com os espíritos libertos da carne.

O médium nos transmite o que percebe do plano espiritual e o que recebe do espírito comunicante. A fi-delidade da transmissão dependerá da maior ou menor aptidão que o mé-dium tenha para perceber e entender a realidade do plano espiritual e o que diz o comunicante.

Não obstante alguns senões no processo da comunicação mediúnica, é através dos médiuns que os espíritos “ressuscitam”, ressurgem espiritual-mente, e se nos manifestam.

a comunicação Dos espíRitos e a BíBlia

Há quem alegue que a Bíblia pro-íbe a comunicação com os mortos. Lembramos, com Jesus: Deus não é Deus de mortos, porque para Ele todos vivem. (Lucas, 20:38). A comunicação mediúnica, portanto, não é com mor-tos, mas com os espíritos imortais que animaram corpos na Terra e, libertos deles, prosseguem vivendo além.

Em O Novo Testamento, nada exis-te a respeito de tal proibição. Pelo con-trário, Jesus utilizou a mediunidade, ensinou-a em teoria e orientou seus discípulos na prática do intercâmbio mediúnico. Tanto assim, que a mediu-nidade era prática usual no Cristianis-mo primitivo, como o atestam escritos dos apóstolos.

No capítulo 12 de sua 1ª carta aos Coríntios, escreve o apóstolo Paulo:

A respeito dos dons espirituais (as faculdades mediúnicas) não quero, irmãos, que sejais ignorantes.

Porque, antes, eram levados peran-te ídolos mudos (estátuas que nada fa-lavam), mas, entrando no movimento cristão, se defrontariam com a prática do intercâmbio com o além (em que, embora invisíveis, os espíritos nos fa-lam) e precisavam saber inicialmente:

• Que os dons são diversos (há dife-rentes tipos de faculdades mediú-nicas) a ensejarem cada qual um tipo de fenômeno, mas o mesmo Deus é quem opera tudo em todos (as manifestações obedecem às leis e aos desígnios divinos);

• Que iriam precisar saber distinguir, entre os espíritos comunicantes, quais eram os bons e quais os maus ou ignorantes, distinção que fariam analisando o que eles dissessem.

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O diálogo com os espíritos através

dos médiuns providencialmente

estabelecido por Deus,

beneficia tanto a encarnados como a desencarnados.

O Evangelista João confirma esta última recomendação, ao aconselhar no capítulo 4 de sua 1ª Epístola:

Amados, não deis crédito a qual-quer espírito; antes, provai os espíritos se procedem de Deus, porque muitos falsos profetas têm saído pelo mundo fora.

o oBjetivo pRoviDencial Do DiáloGo:

Não obstante devamos ter cuida-dos e cautelas ao abrirmos o intercâm-bio com o além, é fora de dúvida que a conversa com os desencarnados, via mediúnica, pode vir a ser muito escla-recedora e benéfica; nem poderia ser diferente, uma vez que ela é desígnio providencial de nosso sábio Criador e amoroso Pai.

Para que o diálogo entre “vivos” e “mortos” se faça realmente proveitoso, é necessário tenhamos algum conheci-mento quanto à natureza dos espíritos comunicantes, a situação em que se encontram no além, e com qual ob-jetivo nos permite Deus que com eles intercambiemos.

Há quem empregue o diálogo com os espíritos para a pesquisa, que busca respeitosamente conhecer a vida no além; outros o fazem por mera curiosi-dade ou interesses vários, nem sempre recomendáveis.

Na Casa Espírita, porém, que é templo, hospital de almas e oficina de serviço espiritual, o propósito primor-dial do diálogo é o que Deus provi-dencialmente estabeleceu: esclarecer, consolar e confraternizar os seres hu-manos, encarnados ou não, promo-vendo o seu progresso moral.

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Não esqueçais que o fim essencial, exclusivo do espiritismo, é a vossa me-lhora e que, para o alcançardes, é que os Espíritos têm permissão de vos ini-ciarem na vida futura, oferecendo-vos dela exemplos de que podeis aprovei-tar. (LM 1ª parte, XXVI, 292, 22ª)

poR que atRavés De méDiuns?

Na citação que acabamos de trans-crever, temos a resposta a uma per-gunta que muitos nos fazem:

Por que a comunicação dos desen-carnados através de médiuns? No pla-no espiritual onde estão, não há outros espíritos com os quais poderiam con-versar e serem por eles esclarecidos?

Sim, os espíritos já libertos da carne podem, no além, conversar com a maio-ria dos espíritos que deixam o mundo terreno, para auxiliá-los na chegada e encaminhamento no mundo espiritual. Uma parcela menor dos que desencar-nam é que se comunica conosco, e esse intercâmbio visa, providencialmente, à nossa edificação moral.

A comunicação através de médiuns é necessária, também, para a edifica-ção moral dos desencarnados que têm dificuldade em assimilar os pensamen-tos dos espíritos, porque, explicam os espíritos instrutores:

Os nossos pensamentos não pre-cisam da vestidura da palavra, para serem compreendidos pelos Espíritos e todos os Espíritos percebem os pen-samentos que lhes desejamos transmi-tir, sendo suficiente que lhes dirijamos esses pensamentos e isto em razão de suas faculdades intelectuais.

em pRincípio é assim, mas...

(...) tal pensamento tais e quais Es-píritos o podem compreender, em vir-tude do adiantamento deles, ao passo que, para tais outros, por não desper-tarem nenhuma lembrança, nenhum conhecimento que lhes dormitem no fundo do coração, ou do cérebro, es-ses mesmos pensamentos não lhes são perceptíveis.

Nesses casos, a linguagem do en-carnado lhes será mais acessível, por-que, ao se ligarem ao médium e no decorrer do transe mediúnico, esses espíritos:

• Se desembaraçam de fluidos que os perturbavam e recebem flui-dos bons, passando a desfrutar de maior lucidez e compreensão;

• De certo modo e por algum tempo voltam a se sentir como quando es-tavam encarnados, vendo, ouvindo e percebendo como lhes era habi-tual no corpo;

• O modo como lhes falamos é, en-tão, conhecido e usual para eles e, por isso, entendem melhor o que estamos dizendo.

Assim, o diálogo com os espíritos através dos médiuns providencialmen-te estabelecido por Deus, beneficia tanto a encarnados como a desencar-nados.

o livRo Dos méDiuns

É especialmente nesta obra de Allan Kardec que encontramos a orientação espírita para o trabalho de intercâmbio mediúnico.

Esse livro nos auxilia a bem dire-cionar a atuação dos médiuns e a dos que devam dialogar com os espíritos comunicantes.

Nele aprendemos que o intercâm-bio mediúnico somente deve ser pra-ticado:

• Compropósitoselevados,asseguran-do-nos, assim, de atrair a presença e proteção de bons espíritos;

• Compessoasrazoavelmentesaudá-veis e equilibradas, como o requer o trabalho mediúnico bem orientado;

• Levandoosmédiunsaatuaremcomconhecimento doutrinário, discipli-na e amor, sem o que não se farão bons instrumentos do bem;

• Realizando as reuniões privativa-mente, e não em público, porque o meio também pode, influir no fenô-meno e, em sendo despreparado, a influên cia poderá ser prejudicial.

Aprendemos, também, o que influi numa comunicação:

• Para que uma comunicação sejaboa, preciso é que proceda de um Espírito bom;

• Para que esse bom Espírito a pos-sa transmitir indispensável lhe é um bom instrumento;

• Para que queira transmiti-la, ne-cessário se faz que o fim visado lhe convenha. (LM2ªparte,Cap. XVI,186).

Como vemos, a Doutrina Espírita dispõe de muitas e valiosas informa-ções sobre o diálogo com os espíritos, parte das quais gostaríamos de trans-mitir aos que nos lerem. u

Fonte: OLIVEIRA, Therezinha. ConversandocomosEspíritosnaReuniãoMediúnica.Págs. 5 – 11. Editora Allan Kardec. 2009.

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COmEçAnDO O

Se apesar de assim acolhido, o espíri-to ainda não se decidir a falar, o dialoga-dor insistirá fraternalmente: Estamos ao seu dispor, prontos a ouvi-lo. Ou: Comosesente?Desejaalgumacoisadenós?

Desse fraterno acolhimento inicial, poderá depender a boa vontade que o espírito irá demonstrar para conosco, que ele se disponha a nos dar atenção ou não.

Não é apropriado fazer ao espírito um cumprimento como os que usamos entre nós encarnados: Bom dia, boa tar-de, boa noite, porque o espírito pode não se sentir no tempo indicado, ou nem mesmo fazer sentido para ele a questão de tempo.

Se ao dialogador parecer que há sinais de presença espiritual e envolvi-mento no médium, mas na verdade tal não estiver ocorrendo, com naturalida-de o médium lhe esclarecerá que não está envolvido e com igual naturalidade o dialogador aceitará a informação; em caso de dúvida, poderá orar pedindo a ajuda dos amigos espirituais, para que se defina se a comunicação é necessá-ria, e o médium procurará colaborar.

DeixaR falaR

No começo do diálogo, é preciso que saibamos ouvir o comunicante, para podermos perceber quem é, a que veio, se ignora ou não o seu estado es-piritual, se pode dialogar com clareza, qual a sua história, motivação ou razões para se apresentar em nossa reunião.

Antes desse conhecimento prelimi-nar, não acertaremos no que dizer ao espírito, ou de que modo tratá-lo, para que sinta em nós alguém que lhe seja simpático e lhe possa ser útil, inspiran-do-lhe confiança.

Tendo percebido a situação ou pro-pósito do comunicante, você poderá, então, dirigir a palavra a ele, com con-fiança e o desejo de servir.

o que não DizeR

Não devemos dizer a todos os co-municantes: Você já morreu, ou você desencarnou. Somente diremos ao es-pírito que ele desencarnou, quando percebermos que ele pode aceitar essa realidade com alguma serenidade. De outro modo, ele se afligirá e agitará, por desconhecer como é a vida espiritual em que despertou e não saber o que lhe vai acontecer, e o dialogador preci-sará acalmá-lo e lhe assegurar que está entre amigos, vai ser ajudado e tudo se resolverá. Mas, às vezes, o diálogo nem será mais possível.

E existe, ainda, a possibilidade de que o comunicante ainda não seja um desencarnado, apenas esteja em des-dobramento.

Também não devemos dizer a ele, logo no começo: Você está num pron-to-socorro espiritual, porque pode não entender o que queremos dizer e até se inquietar: Pronto-socorro? Então eu fui acidentado?

Na reunião espírita, em que os par-ticipantes são pessoas conhecedoras da doutrina e conscientes dos objetivos do intercâmbio mediúnico, a preparação do ambiente costuma ser feita pela lei-tura de página na tônica evangélica, se-guida de prece, singela mas fervorosa.

Em seguida, continuam todos em clima de respeito e amor, na expecta-tiva da manifestação dos espíritos, que se fará sob a orientação dos espíritos di-rigentes e segundo as leis da afinidade fluídica e sintonia mental, que regem a ligação de espírito e médium.

Às vezes é o espírito comunican-te que, pela expressão fisionômica e atitude corporal através do médium, começa a dar demonstrações de estar presente e de seu estado de ânimo: normal, sofredor, contrariado, confuso etc. Ou começa a falar, revelando os mais diversos estados de ânimo, como, por exemplo: Onde estou? Ai, que dor! Não quero ficar aqui.

Outras vezes é o médium que dá sinais de estar envolvido (o dialogador atento os percebe), ou começa a dar passividade ao comunicante, permitin-do que ele fale.

as pRimeiRas palavRas

Quer a demonstração inicial seja do espírito ou do médium, o dialoga-dor se aproximará e fará uma saudação simples, cortês, respeitosa, fraterna. Por exemplo: Seja bem-vindo todo aquele que o Senhor nos envia.

DiáloGopor thEREZINhA oLIVEIRA

diálogo

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atRaiR sua atenção

Há espíritos que se apresentam como que sonolentos: Me deixe dormir... mas ele não foi trazido ao nosso ambien-te pelos amigos espirituais para que con-tinue dormindo, pelo contrário, foi para que desperte e se encaminhe na vida do além. Procuremos, pois, atrair sua atenção para o local e o momento: Sabe onde se encontra? Observe o ambiente. Desperte,porquetemosalgoimportanteebompara lhedizer. Sãoalgumasdasformas de fazê-lo sair da sonolência.

Outros sabem que desencarnaram, mas, por assim lhes haver sido ensinado, acreditam: Devo continuar dormindo, até o juízo final. A esses, atraímos sua atenção falando, por exemplo: Jesus não ficou dormindo, mas ressurgiu. A vidacontinua e Deus quer que estejamos ati-vos. Podemos, também, convidar para que observe o ambiente; se ele tiver condições, verá os espíritos em plena atividade, tanto socorristas como socor-ridos. Poderá ocorrer de se lhe apresen-tar alguém que ele acreditava houvesse morrido e, no entanto, vê que continua bem e em atividade. Isso o comove, in-teressa e desperta inteiramente.

Não confundamos o sono enga-noso e improdutivo com aquela sono-lência que o espírito pode sentir após o diálogo, quando já foi socorrido e aliviado pelos socorristas. Neste caso, o sono é benéfico, restaurador e facilitará aos socorristas conduzirem o espírito ao local determinado para ele.

em caso De iDéias fixas

Alguns espíritos estão presos à situa-ção em que desencarnaram, ou a algum problema ou situação que os preocupa e parecem nada ouvir além de seus pró-prios pensamentos, que ficam expres-sando repetidamente.

Assim é o caso do homem que de-sencarnou de súbito e se manifesta pre-ocupado com os seus negócios; da mãe de filhos pequeninos, inconformada em deixá-los; do acidentado que ainda se sente preso a ferragens ou sob escom-bros; daquele que se sente em dores, como desencarnou.

O dialogador deverá procurar “que-brar” esse monólogo, fazendo pergun-tas oportunas e com interesse fraterno, ou chamando sua atenção para algo diferente. Entrará no “tema” do comu-nicante para, logo, atraí-lo a outros ân-gulos ou assuntos.

Quando não conseguimos fazer isso, apesar de nos esforçarmos, não fique-mos “discutindo” com o espírito, que-rendo que ele modifique sua impressão quanto ao ambiente ou situação em que acredita estar. Levemos a conver-sação para outro rumo, que o acalme e console. Por vezes, os bons espíritos au-xiliam, trazendo desencarnados conhe-cidos dele para o acalmarem. Ou fazem que o comunicante ouça um carro de polícia chegando (se ainda guardava a impressão de estar sendo assaltado), ou veja um veículo parecido com uma ambulância e médicos (se desencarnara acidentado).

quanDo o espíRito fala em outRos iDiomas

Ocasionalmente, espíritos compa-recem se expressando, ou querendo se expressar, em idiomas estrangeiros.

Nem sempre o conseguirá satisfa-toriamente, porque seria preciso o mé-dium também ter conhecimento desse idioma, na presente existência, ou por vivência em encarnações anteriores.

A propósito, o apóstolo Paulo, no capítulo 14 de sua 1ª Carta aos Corín-tios, nos orienta que falar em outras

línguas somente será útil se pudermos compreender o que diz o Espírito.

Não oferecendo o médium condi-ções para que o Espírito fale no idioma que utilizava quando encarnado, pode-remos:

• Solicitaraocomunicantequeapenastransmita o seu pensamento, que é a linguagemespiritual,paraomédiumtransmiti-lo com palavras do nosso idioma;

• Pediraomédiumqueprocurecaptarapenas o pensamento do Espírito e, então, nos transmitir o que o comu-nicante quer dizer;

• Solicitaraajudadosamigosespiritu-ais para que se resolva a dificuldade.

conteR aBusos

Embora o médium espírita seja disci-plinado e comedido ao dar passividade à comunicação dos espíritos, sem ele-var demais a voz nem se agitar, poderá ocorrer de o Espírito precisar se mani-festar mais livremente, desabafar e até gesticular, caso em que não devemos inibir nem impedir de todo essa mani-festação, embora procurando obter al-gum equilíbrio.

Se as comunicações através de um médium forem sempre agitadas, o pro-blema é dele e não dos espíritos.

Em ambos os casos, o dialogador poderá falar em voz baixa ao ouvido do médium, passando a orientação para a conduta adequada e estimulando-o à confiança necessária.

O dialogador conterá, sempre, qual-quer abuso do espírito comunicante, que não respeite a integridade do mé-dium e dos participantes da reunião, bem como a dignidade do recinto, do trabalho espiritual que ali se executa e, ainda, a disciplina do tempo. u

Fonte: OLIVEIRA, Therezinha. ConversandocomosEspíritosnaReuniãoMediúnica.Págs. 39-45. Editora Allan Kardec. 2009.

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1) Emtermosclarose lógicos,numalinguagem acessível a todos ospresentes, procurando que o es-clarecimento também seja bené-fico para outros espíritos necessi-tados presentes, mesmo que nem sempre cheguema semanifestar.Não é raro que, ao procurarmos atender a um comunicante, ele nosdiga:Nãoprecisaexplicar,euestava aqui ao lado ouvindo e já entendi.Vouseguircomeles...

2) Tecendo, quanto possível, co-mentários em torno da doutrina espírita e dos ensinamentos evan-gélicos, mas sem querer mostrarerudição nem dar uma aula de Es-piritismo.

Como já vimos, o tempo de quedispomos na reunião é restrito e oespíritogeralmentenãoestáemcondições de assimilar maioresensinamentos, como seria neces-sário para lhe passarmos princí-pios doutrinários.

Algunsespíritosapegadosaosseuscredos de encarnados, se apavo-ram ao ouvir falar em espíritos ou Espiritismo; outros não aceitam que se fale nem que se mencio-nemDeus,Jesusouidéiasreligio-sas(dequalquerreligião)

3) Aliando ao raciocínio o sentimen-to, a compaixão. Não fique o dia-logadorimpassível,comosefosse

DUrAnTE O

por thEREZINhA oLIVEIRA

DiáloGoDurante todo o atendimento

ao manifestante, o dialogador deve se manter atento, compreensivo, discreto,

e conversará assim:

diálogo

10 assine: (19) 3233-5596Uma publicação do Centro de Estudos Espíritas “Nosso Lar” – Campinas/SP

Janeiro/2011 | Revista FidelidadESPíRita

10 Uma publicação do Centro de Est

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mero assistente dos fatos. Faça apreciação emocional da manifes-tação, vibre com o comunicante, sofra com ele, compreendendo suas dificuldades e temores; mas não o acompanhe nos seus dese-quilíbrios emocionais.

4) Procurando entender e não ven-cer ao comunicante, pois o diálo-gonãoéumadisputa.Estudecomempatia o drama do espírito, para poder compreendê-lo e ajudá-lo.

5) Sem impaciência ou desapreço, mesmo que provocado ao aze-dume ou à hilaridade. Dialoguesem crítica, censura, acusação ou julgamentoanteoqueelerevela.Evite atitudes ou palavras violen-tas, mas não adote a “doçura sis-temática”, querendo ser sempre manso e suave, pois isso anestesia a mente sem renová-la.

6) Evitandosustentar longaspolêmi-cas, que só fazem perder tempo(justamenteoquealgunsespíritosquerem), ou causam irritação em nósounoscomunicantes.

7) Dosando a verdade, para que a franqueza não seja destrutiva, nem fira o espírito que não está em condições de recebê-la, poisveio em busca de socorro, lenitivo e esclarecimento que lhe dessem paz.

8) Sem forçar o comunicante a uma decisão, mas esclarecendo o valor da oportunidade que está tendo para se decidir, o que é importan-te para ele, seu real objetivo como espírito imortal, e sugerindoumaatitude, um caminho.

Por exemplo, aconselhemos mas não exijamos que perdoem aos

diálogo

que foram seus algozes. Nósmesmos ainda não sabemos perdoar falhas menores de nossos semelhantes.

a DuRação Do DiáloGo

O atendimento e diálogo com um espírito, na reunião mediúnica, tem duração variada, depende do esta-do de consciência em que o comu-nicante se encontra, de sua íntima disposição de ânimo, dos propósitos que o trouxeram à reunião.

No caso do espírito que ainda não sabe que desencarnou, alguns poucos minutos de diálogo bastam, às vezes, para que ele desperte, tome alguma consciência de que está sendo ajudado e de que tudo irá ficar bem.

Outras vezes, o diálogo durará mais tempo, ao redor de dez minu-tos, porque não será de desperta-mento do espírito, porque ele já sabe estar desencarnado, mas de acon-selhamento, fazendo que raciocine sobre o porquê de estar na situação em que se encontra e o que deveria fazer para se encaminhar bem.

No caso de obsessores, o diálogo se prolonga, chegando até a vinte mi-nutos, porque se procura conhecer e entender a motivação do espírito para a perseguição que empreende e, então, argumentar demonstrando que lhe conviria modificar sua atitu-de, porque não o beneficia e, pelo contrário, o vem prejudicando e complicará cada vez mais sua situa-ção na vida espiritual.

Que o diálogo nunca demore mais do que o necessário, porque:

• Háoutrosespíritosa serematen-didos e o tempo da reunião é limi-tado;

• Apresençadosespíritosnecessita-dossemprecausaráalgumaimpres-são desagradável, algum desgasteemocional e fluídico para o mé-dium, principalmente nos iniciantes;

• Amáinfluênciadeespíritosobses-soreséespecialmentedesgastantepara o médium, que, depois, pode vir a precisar que o auxiliem na sua recomposição fluídica.

Se necessário que o atendimento fraternocontinue,osamigosespi-rituais trarão o comunicante ou-tras vezes à reunião.

atente paRa isto

1) Não se coloque próximo demaisao médium, nem lhe fale de muito perto e evite tocar no seu corpo, para não lhe causar constrangi-mento, perturbar sua concentra-çãoou,quemsabe,interferirmag-nética e fluidicamente sobre ele.

2) Não descuide da higiene bucal,poisvaifalarpróximodorostodomédium;

3) Não use perfume forte, pois nem todos o apreciam e outros sofrem dealergia;

4) Controle o tom de sua voz.Queseja suficientemente audível, mas não fira os ouvidos do médium, nem atrapalhe outros diálogosacaso em andamento.

5) O atendimento simultâneo, a mais de duas entidades adversárias ou carentes de auxílio, somente será feito se absolutamente necessá-rio e desde que não haja prejuízo para a ordem da reunião. u

Fonte: OLIVEIRA, Therezinha. ConversandocomosEspíritosnaReuniãoMediúnica.Págs. 49 – 53. Editora Allan Kardec. 2009.

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Fez-se conhecer pelo nome de Aquiles, que nenhum dos compo-nentes do círculo conseguiu identi-ficar. No entanto, apesar do anoni-mato, criou um vasto ambiente de simpatia, não pela cultura notável, mas pelo préstimo ativo que de-monstrava. Impressionado o grupo, em vista das intervenções espetacu-lares, não houve mais ensejo para o estudo metódico da Doutrina.

Debalde o verdadeiro orientador espiritual exortou os companheiros, no sentido de renovarem sentimen-tos à luz do Evangelho do Cristo. Ninguém dava ouvidos à solicitação insistente. Em vão movimentou-se o mentor dedicado, provocando a vinda de irmãos esclarecidos, no propósito de modificar a situação. A assembléia não se interessava pelos aspectos elevados, que a nova fé lhe oferecia. Livros edificantes, jornais bem orientados, revistas educativas, eram relegados a plano secundário, como inúteis. A amizade de Aqui-les representava a nota essencial do agrupamento. Todos os componen-tes da sessão costumeira recorriam aos seus bons ofícios, qual se fora ele um semideus. A entidade prestativa

não disseminava maus conselhos, nem menosprezava os princípios no-bres da vida; contudo, subtraía aos amigos invigilantes a oportunidade de caminharem por si mesmos. Par-ticipava de todos os negócios mate-riais dos companheiros. Opinava em casos particulares e problemas ínti-mos. Chamavam-lhe guia e diretor infalível.

Via-se, porém, que Catarino Boa-ventura assumira grande responsabi-lidade na situação algo confusa, por-quanto, na qualidade de orientador encarnado, perdia-se frequentemen-te em questões e perguntas ociosas.

Os legítimos instrutores, em se-melhante regime de leviandade do-entia, aliada a forte preguiça mental, afastaram-se discretamente, pouco a pouco.

E Aquiles, parecendo menino bondoso e desajuizado, espécie de criadito diligente e humilde, con-tinuou prestante aos trabalhos de qualquer natureza. Fortemente liga-do a Catarino, por vigorosos laços magnéticos, não se sabia qual dos dois era mais leviano, no capítulo sagrado da responsabilidade indivi-dual.

A EXPErIênCIA DE

No início dos trabalhos

psíquicos, presididos

por Catarino Boaventura, surgiu

certa entidade revelando singular carinho e trazendo

cooperação interessante,

que imprimia novo estímulo à tela viva de cada reunião.

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cataRinopor humBERto DE CAmPoS / ChICo XAVIER

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Na residência dos Boaventuras, não se tentava solução de problema algum sem audiência do colaborador invisível.

O chefe da família jamais se can-sava de interrogações e consultas. Frequentemente repetiam-se enten-dimentos deste jaez:

– Meu irmão, que nos diz relati-vamente ao meu projeto de socieda-de comercial com os Morais e Silva?

– Referes-te ao projeto da fábrica de doces? – indagava o Espírito, de-monstrando bondade fraternal.

– Isso mesmo. – Espera. Estudarei detidamente

o assunto. Daí a minutos, regressava Aquiles informando :

– É inconveniente o negócio. Mo-rais e Silva não é homem de boas intenções. Não possui capital sufi-ciente e pretende lançar emprésti-mo fraudulento em casa bancária. Aceitar-lhe a companhia constituirá erro grave.

Catarino não fazia valer as razões nobres da vida, que mandam alijar intrigas e esclarecer intrigantes, no mecanismo das relações usuais, e, olhos vivazes, agradecia :

– Ainda bem, Aquiles, que tive tua cooperação desinteressada. Obriga-do, amigo. Amanhã tomarei provi-dências indispensáveis, compelindo o malandro a desembaraçar o caminho.

No dia imediato, desfaziam-se os projetos, sem motivos justos. O qua-dro das oportunidades de trabalho surgia diariamente, mas o comuni-cante, instado pelo companheiro, destacava sempre as dificuldades e impedimentos. Se observava pesso-as, comen tava-lhes os defeitos; se examinava situações, expunha as zo-nas vulneráveis.

– Que me ordenas hoje, irmão? – perguntava Aquiles, zeloso.

– Faço questão que te fixes no caso, trazendo informes detalhados e francos.

– Queres conhecer os obstáculos existentes?

– Sim, preciso me mostres o lado obscuro, a fim de agir em confiança perfeita.

E, em todas as situações, obede-cia o emissário, cegamente.

O menor problema era conside-rado com esse critério de relevo à sombra, com esquecimento das pro-babilidades de luz.

Enquanto passava o tempo, cres-ciam as demonstrações de preguiça mental. Aquiles parecia alimentar-se dos fluidos magnéticos de Catarino, e este, a seu turno, revelava-se cada vez mais dependente do companheiro es-piritual. E tão enredada ficou a famí-lia Boaventura, no temor das pessoas e situações, que o dono da casa foi compelido a colocar-se em modesta condição de representante de várias instituições comerciais, para que não faltasse o pão cotidiano.

Todas as noites, porém, reunia-se o grupinho, reincidindo o dirigente da sessão nas perguntas invariáveis.

– Aquiles, concordas comigo rela-tivamente à viagem de amanhã?

– Perfeitamente – respondia in-corporado à médium -, aquele bairro é futuroso e rico. Visitei-o ontem à noite, conforme determinaste, e pos-so dizer que o volume de negócios é dos mais promissores.

Catarino agradecia, solícito, e, feita a viagem inicial, recomeçava na sessão imediata :

– Terminando as atividades atu-ais, tenciono visitar a cidade a que nos referimos a semana passada.

Desejaria, meu irmão, que trouxes-ses informações exatas, para saber se serei bem ou mal sucedido.

Aquiles prometia esforçar-se e, vindo a noite, opinava :

– Não convém tentar o plano formulado. A cidade é pequena e pobre, o jogo dos interesses ali pre-dominantes não oferece oportuni-dades lucrativas. A população vive de produtos agrícolas, mas, dada a incerteza da colheita, vários estabe-lecimentos comerciais se aproximam da falência.

– Agradeço-te, amado guia – fa-lava o diretor da reunião extrema-mente sensibilizado -, encontro em ti meu apoio diário.

E não satisfeito com a incúria pró-pria, Catarino fazia ativa propaganda dos méritos de Aquiles. Nunca mais se referiu aos mentores sábios que costumavam cooperar nas reuniões doutro tempo, trazendo exortações sérias e estímulos preciosos ao estu-do das grandes leis da vida.

Preferia o mensageiro que lhe obedecia às ordens caprichosas. Afeiçoados, vizinhos e conhecidos vinham pressurosos associar-se-lhe à atitude negativa. Aquiles atendia as mais estranhas consultas, tornando -se respeitado qual figura miraculosa.

Mas, com o correr inflexível do tempo, Catarino Boaventura acabou entregando o corpo à terra.

Qual não foi, porém, a surpresa que teve, quando, ao entrar em con-tacto direto com o plano espiritual, divisou lado a lado o comunicante das sessões terrestres! Uma figura comum, sem qualquer expressão notável que o tornasse digno de ve-neração. O antigo diretor da reunião estava perplexo. Na cegueira espiri-tual em que se envolvera no mundo,

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Fonte: XAVIER, Francisco Cândido. ReportagensdeAlém-Túmulo.Págs. 119 – 125. Feb. 1997.

diálogo

presumia no amigo obediente qua-lidades excepcionais de condutor. Aquiles, todavia, aproximou-se hu-mildemente e perguntou :

– Ainda bem que te encontro, meu velho amigo! Quais são as tuas ordens, agora?

– Ordens? – indagou Catarino, aterrado – pois não és nosso guia e orientador?

– Não tanto assim – explicou o interpelado, designaram-me para co-operar em tuas atividades na Terra e, desde então, trabalhando exclusiva-mente a teu mando, não tenho outra preocupação senão obedecer-te.

– Não te encontras, acaso, em permanente comunicação com aqueles que te designaram? – per-guntou o recém-desencarnado an-sioso de auxílios novos.

– Fui ajudar-te, comprome tendo-me a não cessar o intercâmbio com esse amigo generoso que me acolheu e proporcionou trabalho nas tuas reuniões, esclareceu o cooperador humilde, no entanto, davas-me tan-tas preocupações e tantos encargos sobre pessoas, negócios, vilas e bair-ros diferentes, que, quando tentei receber novas instruções, não mais achei o caminho. Sentindo-me só, tratei de unir-me mais e mais contigo e acreditei dever esperar-te, já que me prendeste tanto em tua própria senda.

Catarino experimentou a surpre-sa angustiosa de quem encontra o fundo do abismo. Somente aí, com-preendeu que os ignorantes não per-manecem exclusivamente na Terra e que o pobre Aquiles não passava de servo confiante da indolência que

lhe assinalara a última experiência terrestre.

Movimentando-se tardiamente, inclinou o companheiro a meditar na gravidade da situação e, à maneira de bandeirantes da sombra, puseram-se a caminho, das trevas para a luz. A jornada penosa realizava-se à custa de lágrimas e desenganos. Quanto tempo durou a procura de uma voz abençoada que lhes ensinasse a saí-da do labirinto imprevisto? Não po-deriam responder.

Chegou, todavia, o momento em que Boaventura sentiu a presença de generoso amigo ao lado de ambos. Bradou o reconhecimento que lhe vibrava no coração, quis ajoelhar, os-cular os pés do mensageiro que lhes vinha ao encontro. Não pôde, contu-do, fixar o emissário, mas a voz que os cercava ergueu-se brandamente e fez-se ouvir com emoção:

– Catarino, Jesus nunca desampa-ra os que se propõem firmemente à retificação. Reconheces, agora, que a vida em todo plano da Natureza pede esforço, trabalho, compreen-são. Como pudeste acreditar que Deus ligasse a esfera visível à invi-sível, na Terra, tão-só para subtrair o homem aos problemas e labores necessários? Cada dia, no mundo, levava-te ao coração abundante ce-leiro de oportunidades que nunca soubeste aproveitar. Aprendeste que os desencarnados são igualmen-te trabalhadores e nem sempre são missionários iluminados e redimidos. Quando a Providência permitiu que se encontrassem os irmãos de uma e outra esfera, não foi para esta-belecer inércia e sim desenvolver,

mais intensamente, a cooperação, a fraternidade e o espírito de servi-ço. Uns e outros são portadores de necessidades e problemas próprios, que a diligência e o amor recíprocos podem resolver. Entretanto, trans-formaste o pobre Aquiles em muleta dos teus aleijões mentais. Fugiste aos problemas, abandonaste o trabalho, renunciaste às possibilidades que o Senhor do Universo depositou em teus caminhos!...

Calando-se a voz por momentos, Boaventura implorou, afogado em pranto:

– Dai-me um guia por amor de Deus!...

– Um guia? – perguntou o men-tor invisível para quê? De que modo caminharás neste plano, se não qui-seste aprender a caminhar nas estra-das do Globo? Não posso atender-te agora ao desejo; todavia, Jesus não te deixará ao desamparo... Vamos, segue-me! Regressarás à Terra para aprender que desencarnados e en-carnados têm realizações que pre-cisam efetuar conjuntamente. Não desdenhes o desenvolvimento das faculdades próprias! Vamos, Cata-rino, e não esqueças nunca que a dificuldade, a luta, o obstáculo e o sofrimento são guias preciosos que ninguém poderá dispensar na mar-cha para Deus.

E Boaventura, de mãos dadas com Aquiles, por sua vez perplexo, seguiu, cambaleando, a grande luz que rompia as sombras, voltando ao mesmo lugar donde viera, a fim de recomeçar a lição da vida. u

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Palavra vigorosa e inflamada,

o pregador espiritista

alongava-se na exposição

de sempre:

O DOUTrInADOr

por humBERto DE CAmPoS / ChICo XAVIER

RiGoRista– Nunca haverá acordo entre o

mundo e nós outros. Fujamos desta Babilônia incendiada, onde a perdi-ção corrompe o caráter e perverte as melhores energias. Neste pântano terrível, as víboras peçonhentas do crime rastejam em todas as direções. Salvaguardemo-nos, à distância, das sombras densas do pecado. Obser-vai o abismo sob vossos pés! Trevas por todos os lados... Nas mais ínfimas estradas, a visão invariável de poeira e lama, pedras e espinhos, desencoraja o viajor anteriormente dominado de idealismo e esperança. Revelemos nossa repugnância, diante do mundo criminoso e perdido. Recordemos os santos magnânimos que iluminaram o quadro das civilizações, nos dias mais escuros. Todos eles fugiram ao Planeta perverso! É que, neste lamaçal imen-so, as melhores aspirações do Espírito se perdem na borrasca do mal, longe de Deus!...

Macário Barroso era, assim, rigoris-ta e implacável.

Dirigindo considerável agrupamen-to espiritista, sua atitude desconcer-tante alcançava a comunidade inteira, dilatando preocupações e tristezas e fazendo escassear alegrias. As jovens colaboradoras, nos seus trabalhos de difusão doutrinária, não deveriam ma-nifestar os júbilos próprios da mocida-de cheia de sonhos e as gargalhadas infantis, chilreios de pássaros felizes nos galhos fartos da vida, considerados por Macário como impulsos inconve-nientes da meninice, requisitando re-preensões ásperas.

– Não concordo com traço algum que nos recorde as perdições do mun-do. Simplifiquemos tudo, combatamos a falsidade de certos princípios que es-cancaram a porta aos pecados mise-ráveis.

Não reconhecia, porém, o orien-tador, que simplicidade não significa

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violência, e que os enganos de con-cepção tanto podem permanecer na-quele que se atira à irreflexão, como no homem que deseja amadurecer o fruto quando a fronde verde apenas oferece flores tenras.

Macário, todavia, apresentava fe-nômeno singular. Extremista de opi-nião, impressionava favoravelmente a quantos lhe ouvissem pareceres, por-que, no fundo, era homem devotado e sincero. Não concedia a si mesmo ne-nhum entretenimento, nenhum prazer. Sacrificara-se quase totalmente aos princípios de que se tornara emérito pregador. Revelava gestos de profunda nobreza aos companheiros na fé, e a sinceridade é sempre sedutora, onde quer que permaneça. Por isso mesmo, a psicologia de sua individualidade bri-lhante apresentava situações de enor-me complexidade. É que o prestigio-so orientador não sabia identificar as necessidades alheias senão através dos prismas que lhe eram peculiares. No seu modo de observar, todos os casos deveriam estar afinados pelas caracte-rísticas do que lhe era próprio. Porque guardava escabrosas impressões do passado individual, em virtude de ex-periências cruéis na luta humana, cria-ra padrão exclusivo e errôneo para jul-gar os outros. Pintava a negro qualquer paisagem do mundo, condenava seu tempo, não tolerava os amigos que se

decidissem ao trabalho da coletivida-de em ambientes até agora estranhos à expressão religiosa, quais a Política, a Ciência, a autoridade administrativa e o círculo das Finanças. Compreendia à sua maneira que Jesus não poderia partilhar trabalhos diferentes da ativi-dade puramente mística em si mesma, e se algum companheiro manifestava propósitos de cooperar nesses setores, Macário exibia profunda admiração e observava;

– Não concordo. Semelhante atitu-de é o escândalo da volta ao mundo, que deveremos detestar.

Se, em plena rua, alguém lhe mos-trasse uma casa de esporte ou algum recanto de alegria popular, Barroso afastava-se intencionalmente, baixava os olhos e tomava outro rumo, escla-recendo:

– São remanescentes de Sodoma e Gomorra, redutos do crime, que o fogo consumirá algum dia.

Furtava-se deliberadamente a toda palestra em que houvesse preocupa-ção, embora correta, pelos problemas da vida social, e fugia à conversação onde o bom humor estivesse ameni-zando as agruras do caminho comum dos homens.

Apesar de bondoso e sincero, iso-lou-se aos poucos, afastando-se de amigos, de companheiros e de afei-ções. Cheio de preocupações salvacio-

nistas, era sempre fecundo em apelos, conselhos e advertências, onde quer que estivesse, sem a necessária sele-ção de valores, lugares e situações. O que definia, no entanto, como inten-ção regeneradora, não era mais que a imposição das idéias próprias, com o esquecimento de que, para beneficiar com proveito, deveria dirigir-se à esfe-ra mental de cada um dos irmãos na luta, sem obrigá-los a procurar o plano em que se mantinha.

Debalde a carinhosa mãe lhe ob-servou os perigos da situação. Inu-tilmente os amigos solicitaram-no à transformação precisa. Macário foi im-placável. Preferiu a solidão, a necessi-dade, o abandono. Declarava-se ame-drontado do mundo, onde a bagagem de seus erros se tornara volumosa e exigia que todos os companheiros ex-teriorizassem receios iguais aos dele. Via monstros em todos os recantos, perversão nas alegrias mais inocentes.

E foi assim, rígido e inflexível, sem ceder absolutamente a ninguém, que o bondoso doutrinador regressou à es-fera espiritual.

Desprendera-se da zona carnal, quase sozinho, como preferira viver, no radicalismo dos princípios pessoais.

Muita gente passou a catalogá-lo na relação dos santos, tais os supos-tos sacrifícios que Barroso revelara na existência terrestre, os quais, na reali-

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dade, não passavam de imposições de sua personalidade intransigente. Toda-via, enquanto reduzido grupo erigia ao desencarnado um mundo de homena-gens, o doutrinador passou às surpre-sas inesperadas na esfera diferente de ação. Fundamente desapontado, não encontrou a paisagem que aguardava. Achou-se sem ninguém, exclusiva-mente sozinho. Que região era aquela constituída de montanha gelada? Con-templava a distância os vales que a neblina convertia em quadros cinzen-tos e indefiníveis. Frio cortante dilace-rava-lhe o coração. Como interpretar a novidade constrangedora? O pobre amigo chorou amargamente, implo-rando elucidações da Providência Di-vina. Não fora combatente implacável dos erros e mentiras de seu ambiente e de sua época?

Decorrido muito tempo na expec-tativa dolorosa, foi visitado por bene-volente emissário que lhe estendeu auxílios carinhosos.

– Ah! meu amigo! que fiz por mere-cer tamanhas flagelações? – perguntou Macário, após agradecer-lhe a presen-ça amorosa – cumpri meus deveres, não olvidei obrigações assumidas...

O mensageiro contemplou-o afe-tuosamente e falou, tomando-lhe as mãos num gesto paternal:

– Ó meu filho, quanto lastimo o teu desentendimento. Não posso ne-

gar-te o esforço e a boa-vontade, en-tretanto...

– A que incompreensão vos referis? – interrogou o ex-doutrinador contur-bado – acaso não me afastei do mun-do para servir a Deus?

A bondosa entidade fixou um ges-to significativo e esclareceu:

– Esta simples afirmativa demons-tra o teu engano fatal. Como poderia o servo atender ao senhor que lhe contratou a atividade, abandonando a zona de serviço confiada ao seu esfor-ço? Reconhecendo a Terra integrada na criação de Deus, como cumprir os desígnios do Pai, fugindo-lhe aos ser-viços?

Enquanto Macário denunciava in-traduzível angústia no pranto que lhe borbulhava dos olhos, o amigo conti-nuava:

– Muitas vezes procurei resti tuir-te o coração ao verdadeiro caminho, falando-te através de familiares e ami-gos prudentes, mas cristalizaste os ra-ciocínios, cerrando as portas do plano mental aos meus apelos.

– É que o mundo sempre me pare-ceu insondável abismo, de crimes sem conta... nunca pude contemplá-lo sem mágoa e condenação – exprimiu-se o recém-desencarnado, lacrimoso.

– Procedeste qual homem tirâni-co que intenta violentar quantos lhe cruzam os caminhos, obrigando-os a

partilhar o resgate das dívidas que lhe são próprias. Por estares endividado com a Terra, pretendeste doutrinar orgulhosamente, impondo aos outros inquietações e pesares que te perten-cem ainda. Por que tamanha aversão à escola benfeitora? Acaso, meu filho, não te alimentavas do mundo, não te vestias dele? Não foi o mundo que te ministrou os primeiros conhecimentos, que te proporcionou a bênção do cor-po, a possibilidade de renovação indi-vidual, o reencontro de afeições divi-nas? Desejarias insultar a Terra, porque te concedeu a dedicação dos pais, o templo da reencarnação, a tepidez do lar, o olhar amigo dos que te amam? Recebeste com abundância as inspira-ções de ordem superior, mas preferiste a solidão com a teimosia de quem não sabe renunciar aos caprichos próprios. Pregaste a palavra em nome de Jesus, convocando os ouvintes a receberem imposições, olvidando que o Mestre Divino não esperou pelas criaturas, na esfera de sua glória, mas veio até nós, ajudando-nos a cada um.

Valendo-se da pausa intencional que o mensageiro imprimira à alocu-ção, clamou Barroso, desalentado:

– Amedrontavam-me os antros de perdição!...

– Por que pavor e não piedade? – inquiriu o sábio, serenamente. – Não te interessavas pelos enfermos do cor-

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po? Como desprezar cheio de asco injusto os doentes da alma? Não te aproximavas carinhosamente dos mu-tilados físicos? Por que a repugnância para com os aleijados espirituais? Não há lugares desprezíveis para o cristão fiel, porque, em toda parte, é possível praticar o bem com Jesus.

Macário, muito triste, arregalava os olhos. Começara a entender a amarga situação. Tentando, porém, a derra-deira justificativa, exclamou:

– Seduzia-me a lembrança dos santos...

No entanto, antes que se alongas-se em considerações novas, o mensa-geiro acrescentou:

– Não conheces, todavia, os santos de Júpiter ou Saturno. Tens notícias apenas dos que se glorificaram na Ter-ra. Forçoso, pois, é reconhecer que, do mundo que detestaste, saíram os Simão Pedro e os Paulo de Tarso que

tanto admiras. Deste modo, claro está que o mundo somente será perverso para quem o fixe nutrindo intenções ou reminiscências dessa natureza.

Macário Barroso experimentou tremendo choque. Entendera, enfim, o equívoco ruinoso de suas antigas concepções, caindo em amargurado silêncio.

Daí a instantes, o emissário ende-reçava-lhe um gesto de adeus.

– Oh! amado benfeitor! – suplicou o infeliz, banhado em lágrimas – por quanto tempo ficarei aqui, abandona-do neste monte gelado?

– Esta montanha – esclareceu a generosa entidade – deve representar profundo símbolo ao teu coração.

Não basta subir ao tope da cultura e do conhecimento intelectual; é preciso que haja sol de compreensão e amor que ilumine e aqueça a culminância.

Emocionado, Barroso suplicou ainda:

– Abençoado amigo, mensagei-ro do Altíssimo, ensinai-me a reparar meus erros, para redenção de minha pobre alma! Auxiliai-me, não me ne-gueis vossas mãos!...

O benfeitor, prestes a partir, diri giu-lhe significativo olhar e acrescentou:

– Tens bastante conhecimento para compreender a magnanimidade de Nosso Pai. Tua questão, Macário, é com o mundo. Antigamente erraste, enlameando-lhe as estradas; presen-temente renovaste o erro, fugindo-lhe aos serviços. Não tenho outro conse-lho para teu coração além da fórmula de procurares o credor e conhecer a própria conta. Quanto ao mais, meu irmão, confia na bondade do mundo e que Deus te conceda acréscimo de misericórdia no resgate justo. u

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Fonte: XAVIER, Francisco Cândido. ReportagensdeAlém-Túmulo.Págs. 217 – 223. Feb. 1997.

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Estimava o serviço de doutrinação aos desencarnados, era de uma pon-tualidade notável às reuniões, contri-buía de boa-vontade nos serviços de assistência, mas, no trato com o invi-sível, não era bastante cauteloso nas conversações.

Cultivava especialmente as ses-sões práticas, dedicadas às entidades sofredoras e ignorantes, mas preferia realizá-las com grande público, junto do qual se esmerava em demonstrar o verbo enérgico e veemente.

Não se sentia satisfeito por mostrar o caminho ao desviado, dar pão espiri-tual ao faminto de luz, remédio à alma enferma.

Aguinaldo multiplicava perguntas e exigências.

Consolava, sem dúvida, e, na qua-lidade de trabalhador sincero, espa-lhava muitos bens; entretanto, dava-se a longas conversas para estabelecer a procedência dos comunicantes.

Por vezes, as entidades em luta, por motivo de padecimentos incríveis, não podiam prestar esclarecimentos minuciosos, mas o doutrinador recla-mava, rogava, insistia. Quanto mais conhecido o Espírito visitante, mais se desmanchava Limeira nas indagações ociosas. Quando arrancava certas declarações tristes, parecia alegrar-se como o caçador viciado quando apa-nha a presa, e, a pretexto de identi-ficar as almas sofredoras, tendia, sem perceber, para a falta de caridade.

De quando em quando, o respeitá-vel orientador espiritual do grupo uti-lizava o médium Silvares e esclarecia, de maneira direta:

– Aguinaldo, meu amigo, tem cau-tela no campo da identificação dos in-visíveis. Se o necessitado bate à porta, atendamos sem muitas interrogações. Que adianta minudenciar a situação de pobres irmãos nossos, ignorantes e sofredores? Em muitas ocasiões, qual acontece aos doentes graves da Terra, também os desencarnados em dese-quilíbrio não trazem a memória muito clara, perturbados nas inquietações que lhes povoam a mente. Dá-lhes o pão do Cristo e deixa-os passar. Obrigá-los a pormenores informativos, quanto à paisagem que lhes é própria, é intensificar-lhes a dolorosa humilhação. Seria crueldade pedir aos agonizantes certos esclarecimentos de que devem estar seguros aqueles que os assistem. Além do mais, os que ensinam e dou-trinam estão sempre criando imagens mentais diferentes naqueles que ou-vem e aprendem, e torna-se indispen-sável não esquecer que tens numeroso público visível e invisível. A indagação descabida, por vezes, se ajusta à pre-tensão científica na pesquisa intelec-tual, mas aqui, meu amigo, estamos num serviço de iluminação do espírito para a melhoria do sentimento. Não te transformes de missionário do bem no advogado de acusação. Pede ao Mestre Divino te esclareça o entendimento!

SUrPrESA Em

por humBERto DE CAmPoS / ChICo XAVIER

sessãoAquela

mania de Aguinaldo

Limeira raiava pela

imprudência compreensível.

diálogo

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Limeira ouvia, mas não ponderava.Na sessão imediata, referia-se ao

trabalho indagador dos estudiosos eminentes do Espiritismo científico, e, quando algum pobre necessitado se fazia sentir, iniciava o interrogatório crucial.

Mantinha-se inalterada a situação do agrupamento, quando certa noi-te, diante de enorme assistência, em meio dos trabalhos, surgiu uma enti-dade que tomou o médium Silvares, a desfazer-se em convulsivo pranto.

– Diga, meu irmão, falou Aguinal-do, inquieto, diga o que sofre e o que deseja...

– Que sofro, que desejo? – gemeu o infeliz, amarguradamente – não pos-so!... não posso!... Sou um miserável convertido num monstro!...

– Como assim, meu amigo? – tor-nou Limeira, espicaçado pela curiosi-dade.

– Ai! – suspirou a entidade lacrimo-sa – como doem os resultados da hi-pocrisia! Na Terra, enganei as criaturas, mistifiquei os semelhantes, mas, agora, sinto-me diante da própria consciên-cia... não posso iludir a mim mesmo!

– Com que então foi você um hi-pócrita no mundo? – perguntou Limei-ra, com atitude superior – certamen-te, enganou os homens, mascarando propósitos e intenções, e, muito tarde, reconhece que praticou um crime...

– É verdade, é verdade... – clamou o infeliz, soluçando.

Tão comovedoras eram as lágrimas do comunicante infortunado, que toda a assistência chorava, sob forte emo-ção.

Limeira, contudo, desejando impri-mir o máximo efeito ao quadro, mos-trava atitude inquiridora e convincente.

– Continue, meu irmão! – prosse-guiu com autoridade.

E, ao invés de confortá-lo, em nome de Jesus, levantando-lhe a espe-rança caída, o doutrinador insistia:

– Esclareça convenientemente o seu caso, meu irmão! de onde veio? poderá identificar-se?

O desventurado esforçava-se, em vão, para responder. O pranto embar-gava-lhe a voz. Parecendo insensível, Limeira sentenciou:

– Veja, meu amigo, a que estado angustioso foi conduzido pelo hábito

de mentir. O crime da hipocrisia de-terminou suas lágrimas presentes. A morte, que descerra os véus da ilusão, revelou sua verdadeira consciência. Conhece, o irmão, agora, os sofrimen-tos que aguardam os mentirosos, os homem fingidos e todos aqueles que aparentam a verdade e fogem dela, às ocultas, acolhendo-se ao crime. Fale, meu amigo, em que zona da vida ten-tou enganar as leis divinas... Como se chama? Que fez na Terra? Como iludiu o próximo? Possuía você alguma cren-ça religiosa?

Nesse momento, a entidade con-seguiu interromper os soluços e falou:

– Aguinaldo, não me tortures mais com tantas interrogações!...

Escutando a voz, tonalizada em novo característico, o doutrinador es-tremeceu, fez-se lívido e perguntou, espantado:

– Quem é você, meu irmão?O infeliz comunicante, num gesto

supremo, respondeu em tom lastimoso:– Eu sou teu pai!...Viu-se, então, que Limeira deixou

pender a fronte e começou também a chorar. u

diálogo

Fonte: XAVIER, Francisco Candido. PontoseContos. Cap. 9. Feb.

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Certo companheiro

de aprendizado convidou-me a

experimentar praticamente

as lições da escola

iluminativa em que nos

reajustávamos.

DIÁLOGO

por IRmão JACoB / ChICo XAVIER

suRpReenDente

diálogo

Iríamos ao Rio, onde recebêramos valiosas bênçãos da fé. Procuraríamos alguns dos casos de doutrinação e socorro, junto aos quais funcionára-mos, e aplicaríamos, então os princí-pios recebidos.

O orientador a quem expusemos o projeto aprovou-o, com evidente satis-fação, mas considerou que deveríamos seguir em companhia de alguém mais apto que nós, de modo a não perder-mos a semeadura. Indagou sobre as particularidades do empreendimento, e, depois de ouvir-me o colega, quan-to ao que intentava efetuar, comentei o meu objetivo.

Lutara durante muito tempo com perigoso obsessor de um alcoólatra inveterado. Não conseguira demo vê-lo, renová-lo. Gostaria de observar o caso “in loco” e, com as preocupações a que me compelisse, extrairia cer-ta amostra do serviço maior que me aguardava.

O diretor ouviu pacientemente e não apresentou qualquer embargo, recomendando-nos, em seguida, à custódia do Irmão Ornelas, veterano em trabalhos da espécie que preten-díamos atacar.

Em breve, achávamo-nos na cida-de, à noitinha.

O companheiro que nos seguia de perto explicou que inúmeros irmãos de outros círculos, impossibilitados, por

longos decênios, de retomar o corpo terreno, se dedicam a tarefas obscuras e sacrificiais, entre as almas endureci-das ou sofredoras, a fim de conquista-rem, pela abnegação e pelo heroísmo silencioso, a irradiação luminosa que lhes falta. Vastos anos despendem no esforço de renúncia, adquirindo hu-mildade no trato de almas rebeldes e ásperas, quais semeadores buscando a dádiva da flor e do fruto ao contato do chão bruto. Em geral, são homens e mulheres que se desmandaram na au-toridade e no dinheiro, na inteligência ou na beleza, assumindo graves com-promissos morais, que se consagram, depois do sepulcro, por extenso pra-zo, ao gênero de atividade que íamos tentar, em benditas peregrinações de auxílio aos semelhantes, ostentando aflitiva posição de servos apagados e anônimos para melhor atingirem os fins a que se propõem.

ante um espíRito peRseGuiDoR

O alcoólatra, cuja situação me le-vara a diversos serviços de preces e doutrinações nos últimos tempos de minha experiência no corpo, acha va-se num bar suburbano a encharcar-se. Ao lado dele, o temível perseguidor dava expansão a impulsos menos dig-nos. Cada copo cheio era nova taça de venenoso fluido que ele aspirava com estranha volúpia.

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ou infelizes, exercendo determinada censura sobre as palavras rudes ou inconvenientes que desejam pronun-ciar. Estaria naquele instante com um obsessor, frente a frente. Deveria preparar-me para demonstrar-lhe os melhores sentimentos do meu cora-ção, porque, da parte dele, me daria a conhecer as notas mais íntimas da própria cons ciência.

aBeiRamo-nos Da Dupla lamentável

O verdugo fitava um copo vizi-nho, ao jeito do magnetizador inte-ressado na presa. Era uma triste figu-ra de vampiro que provocaria gestos de pavor nas pessoas em derredor, se lhe pudessem fixar a máscara dia-bólica.

Voltando-se para nós e sentin do-nos a observação calma, ao que me pareceu concentrou-se para melhor resistir-nos, sorriu escarninho e, deten-do-se de modo especial sobre mim, gargalhou franco.

A princípio, molestei-me.Experimentei mal-estar intraduzível.O Espírito endurecido a envol ver-

se em sombria nebulosa arremessava contra mim forças envolventes e per-turbantes.

Ornelas sacudiu-me os ombros vi-gorosamente e disse:

– Vejo-lhe a inexperiência. Não tema. Centralize a vontade e reaja com todas as energias de que dispõe. Prepare-se para ouvir e falar com sere-nidade. Suas condições psíquicas virão à superfície do rosto e do verbo. Não se deixe abater. Ajudá-lo-ei.

A advertência calou-me conso-ladoramente no íntimo, embora, na realidade, não conseguisse sofrear, o receio, em face da agressividade do perseguidor, que se unia a mim com expressões provocadoras.

diálogo

Aproximamo-nos sem perda de tempo.

Antes de qualquer entendimento, Ornelas advertiu-me que, fora dos laços físicos, o socorro dos Espíritos transviados exige outros recursos, além das armas verbais. Achávamo -nos, ali, esclareceu prestimoso, sem o elemento controlador da mediu-nidade. Quando o instrumento en-carnado jaz nas trevas da ignorância,

a entidade em desequilíbrio absor-ve-lhe o aparelho completamente, raiando pela possessão absoluta e, então, verificamos nos círculos ter-restres a exata reprodução da alma desorientada e desguarnecida de razão, oferecendo extensas mostras de loucura. A maioria dos médiuns, porém, ainda mesmo quando sonâm-bulos puros, de algum modo con-trolam os comunicantes irrequietos

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DiáloGo suRpReeDente

Diante do temível algoz e sob a sua zona de influência sem o concur-so de um médium, qual se verificava nas doutrinações de outro tempo, tive o impulso de adiar a experiência. Não seria melhor que eu me fortalecesse mais?

Ornelas, no entanto, com o olhar severo, impediu-me o recuo, e, pou-sando a destra sobre minha fronte, aconselhou-me a prosseguir, prome-tendo inspirar-me nas observações convenientes.

Mantive-me seguro e fixei deste-merosamente o obsessor. Perceben-do-me a decisão, o infeliz recolheu os punhos cerrados com que me afronta-va; colérico.

Entrementes, a colaboração mag-nética de Ornelas me alimentava, cau-sando-me grande reconforto.

Foi assim o meu primeiro diálogo, após a morte, com um Espírito desvia-do do bem:

– Meu irmão – disse-lhe emocio-nado -, não se resolve a libertar nosso amigo doente, já de si mesmo tão mi-serável?

– E você, nem mesmo depois de “morto” desiste de me apoquentar? – revidou o obsessor, raivoso.

– Sim, não desisto porque quero ser seu amigo e desejo trazer-lhe o es-pírito para a luz.

– Mas não lhe vejo luz alguma. Como quer você me dar o que não tem?...

A alegação chocou-me e, por pou-co, não fugi ao entendimento; con-tudo, a mão vigorosa de Ornelas me amparava e respondi:

– Trabalharei sinceramente no bem até que a Vontade do Senhor me ilu-mine a alma.

O perverso interlocutor riu-se, des-respeitoso, e prosseguiu:

– Por que insiste? Não adiantará nada...

– Fora da caridade não há salvação – retruquei, confiante. – Não julga ser nosso dever auxiliar o companheiro de mente enfermiça, ainda ligado ao cor-po terrestre? Não lhe conhece a famí-lia respeitável e sofredora?

– Ora, Jacob – falou-me, contun-dente -, você se refere à caridade com tanta segurança...

– Como não? Que será de nós sem a prática do bem?

– Ao que me consta – exclamou sarcasticamente –, você na Terra dava grande preferência ao dinheiro, estimava profundamente a própria fortuna...

Nas minhas reações de “homem velho” quis dizer-lhe que era mais jus-to amar o próprio dinheiro que os bens alheios; todavia, a expressão fisionô-mica de Ornelas me susteve a frase de autodefesa e, ao invés de proferi-la, acentuei com serenidade:

– Recebi as vantagens materiais hauridas no esforço digno, tal como o mordomo que detém consigo, transi-toriamente, as dádivas do Senhor. O que o Todo-Poderoso me confiou já restitui, de consciência feliz, aos seus sábios desígnios.

O verdugo fez um esgar de ódio e voltou a comentar:

– Não lhe reconheço autorida-de para conselhos. Você foi sempre um homem áspero, indisciplinado, voluntarioso. Muita vez, acabava de apontar-nos o bom caminho para se-guir estrada contrária. Agora quer ser apóstolo...

Marcou um gesto ridículo, a fim de torturar-me e continuou:

– Freqüentemente, após deixar os aparelhos mediúnicos através dos quais trocávamos idéias, eu lhe seguia os passos, discreto, e notava que você não agia de conformidade com os pró-prios ensinos.

Semelhantes frases, ditas à quei-ma-roupa, desconcertavam-me.

Ruborizei-me, envergonhado; to-davia, Ornelas garantiu-me a firmeza de ânimo.

– Sim, concordei, reconheço as mi-nhas fraquezas. Entretanto, sincero é o meu desejo de renovação e melhoria. Não nos santificamos de uma vez e, se todos os pecadores se negarem ao trabalho do bem, sob a alegação de se sentirem maus e ingratos, como po-deríamos aguardar vida melhor para o mundo? Se os espíritos comprometi-dos com a Lei não se resolverem a co-laborar no resgate dos próprios débi-tos, por se reconhecerem endividados, jamais atingiremos a necessária liqui-dação das contas humanas. Compre-endo que não sou um padrão vivo dos conhecimentos evangélicos, confiados à minha alma pela Compaixão Divina. No entanto, creia que não repousarei

diálogo

– Sim, concordei,

reconheço as minhas fraquezas. Entretanto, sincero

é o meu desejo de renovação

e melhoria.

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enquanto não afinar minhas atividades com os ideais redentores que abracei.

O interlocutor não se alegrou com a argumentação. A lealdade de minhas declarações esfriava-lhe a cólera. Escu-tou, amuado, e, assim que o intervalo surgiu espontâneo, considerou menos irônico:

– Seu caso, então, será o do médi-co que deverá restaurar primeiramen-te a si mesmo...

– Não nego semelhante necessida-de – acrescentei, sincero -, tudo farei pelo meu próprio restabelecimento espiritual. No serviço bem sentido e aplicado encontramos a corrigenda de nossos erros e a redenção do passado, por mais deplorável e delituoso.

Acredite que o doente menos egoís-ta providenciará remédio e recurso para si e para os outros. Persistindo em sua atividade você prejudicará a si mesmo...

O desditoso, em crise de desespe-ro, lembrou-me acremente certas fa-lhas da experiência humana, em voz alta. Mas, auxiliado por Ornelas, eu ia encontrando meios de responder sem irritação, construtivamente.

Terminado o longo e desagradá-vel diálogo em que me vi inespera-damente envolvido, aplicamos passes de socorro ao irmão encarnado, que se mantinha em aflitivas condições de enfermidade e embriaguez. Após enorme relutância, o terrível perse-guidor consentiu em que eu orasse, colocando-lhe a cabeça entre as mi-nhas mãos. Supliquei ao Senhor fervo-rosamente que nos amparasse, a ele e a mim, para que ambos pudéssemos melhorar o coração e subir no conhe-cimento e na prática do bem.

Finda minha primeira observação pessoal de serviço, o obsessor fitou -me

de maneira diferente. Pareceu-me não tanto agressivo. Revelava-se disposto a me entender a disposição fraterna. Porque eu esperasse maior soergui-mento, habituado ao imediatismo da luta terrestre, Ornelas despertou-me, exclamando:

– Não aguarde um reajustamento apressado. Se a semente exige tem-po, com o frio e o calor, a chuva e o Sol, para germinar e produzir, por que motivo reclamar a realização de espiritualidade superior, de minuto para outro, no ser eterno? Plantemos e trabalhemos. Os resultados da boa iniciativa pertencem a Deus. Sobra--nos, meu caro, o prazer de servir. Tornaremos à questão na primeira oportunidade.

Admirado com a paciência do companheiro, segui-o sem hesitar.

apontamento salutaR

Quando o colega que nos seguia atendeu à tarefa a que se reservara, Ornelas percebeu a tristeza que me acometera de súbito. Efetivamente, graves reflexões acudiam-me ao pen-samento.

Afinal, quem doutrinara no caso? Seria eu o portador de socorro ao Es-pírito infeliz ou fora o Espírito sofredor quem me beneficiara com a verdade?

Sombrio véu de preocupações des-cera sobre mim.

Como prosseguir? Não ignorava que um grupo de cooperadores deci-didos e fiéis me esperavam o concurso.

O companheiro mais experiente, compreendendo quanto se passava dentro de mim, aproximou-se en-quanto regressávamos ao domicílio, em plena noite, e falou com cativante inflexão de bondade:

– Jacob, em toda parte seremos defrontados pela própria consciência. Se louvamos nossos amigos pelo in-centivo e pelo júbilo que nos propor-cionam, agradeçamos aos nossos ad-versários gratuitos a ousadia com que nos demonstram as nossas necessida-des. Os que nos amam destacam-nos as qualidades excelentes do serviço já feito, na individualidade impere-cível, e aqueles que nos desestimam indicam, com franqueza rude, as im-perfeições que ainda conservamos conosco. Os afeiçoados e simpatizan-tes silenciam a respeito das sombras que nos rodeiam, mas os contendores e desafetos as desvendam em nosso proveito, quando encontramos sufi-ciente serenidade para buscar os in-teresses do Senhor e não os nossos. Na sua capacidade de tolerar as ob-servações amargas reside a base da própria iluminação. O progresso é obra de esforço mútuo. O irmão per-turbado beneficiou-se extensamente com o seu concurso valioso e, grada-tivamente, fixará nele mesmo a es-mola recebida. Porém, não é razoável que você venha a perder sua parte. Guarde o ensinamento, medite-o e conserve-lhe o valor. É provável que você agora se sinta afrontado e ferido; todavia, os dias correrão sobre os dias e concluirá, mais tarde, que não lhe falo sem razão sólida.

O conselho refrigerou-me a alma dilacerada. Pela primeira vez, com-preendi que assim como chega um momento em que os juízes do mun-do são julgados pelas obras que rea-lizaram, surge também o minuto em que os doutrinadores da Terra são doutrinados pelos serviços que dei-xaram de fazer. u

Fonte: XAVIER, Francisco Cândido. Voltei. Págs. 168 – 177. Feb. 2001.

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diálogo

O DIALOGADOr E O

• Autoridademoral, que se adquire pela boa conduta, dentro do me-lhor que sabemos e podemos;

• Fé, que é a convicção quanto às realidades espirituais, pelo conhe-cimento e experiência sobre elas; e

• Amor pelos semelhantes, sem o que não se conseguirá alcançá-los no campo dos sentimentos.

A preparação de companheiros, para a tarefa de dialogar com os espí-ritos, se fará ensejando-lhes o conhe-cimento doutrinário, estimulando-os à conduta cristã e ao sentimento fra-terno, mas, também, proporcionando -lhes oportunidade de estagiar com os dialogadores em serviço, para ganhar alguma experiência, antes de se colo-car no trabalho efetivo.

Quando o dialogador novato não estiver se saindo bem num diálogo, o dirigente poderá lhe transmitir alguma orientação, falando em voz baixa, ao seu ouvido.

Quanto ao decorrer da conversa-ção, não existe modelo para orientar o dialogador, porque os espíritos va-riam muito no seu grau de evolução, em suas situações no mundo espiritual e durante o momento do intercâmbio. O dialogador procurará, com seu co-nhecimento doutrinário e fraternida-de, tratá-los como se apresentem e conforme o que precisem.

GRupo meDiÚnico por thEREZINhA oLIVEIRA

(*) – O Centro Espírita “Allan Kardec”, de Campinas-SP.

No movimento espírita ainda é cor-rente a denominação de doutrinador para quem, no grupo mediúnico, faz o diálogo com as entidades comunican-tes. Essa denominação talvez não seja a melhor, pois em uma conversação de apenas alguns minutos (como sói ser o diálogo na reunião mediúnica), não se chega a “doutrinar” espírito ne-nhum. Passar uma doutrina, expondo seus princípios e sobre eles argumen-tando convincentemente, requereria tempo bem maior.

André Luiz, no livro Desobsessão, psicografado por Francisco C. Xavier, propôs a expressão médium esclarece-dor, porque para essa pessoa converge a assistência e atua ção dos orientadores espirituais, durante o atendimento aos espíritos que se apresentam na reunião.

Temos dado preferência, em nossa Casa,* por consenso geral de seus cola-boradores, à denominação de dialoga-dor, procurando colocar nessa função companheiros que tenham habilitação para tanto.

as qualiDaDes necessáRias ao DialoGaDoR

A habilitação para ser um dialoga-dor compreende, em princípio:

• Conhecimento doutrinário espíri-ta, para saber entender e atender cada comunicante, dentro do seu grau de evolução e necessidade no momento;

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Qualidades também desejáveis ao dialogador para lidar com médiuns e os manifestantes, são:

• Paciência,sensibilidadeetato, para ouvir e procurar entender o comu-nicante;

• Vigilânciaem todos os momentos, para não se desviar da conduta e objetivos visados no diálogo;

observação: Que não aconteça, por exemplo, de o dialogador se escan-dalizar ou se indispor intimamente, por-que o comunicante se revele criminoso, estuprador, homossexual, prostituta ou pedófilo; até a indisposição para quem foi um político é prejudicial, porque se o espírito captar nosso pensamento ou sentimento contrário, poderá reagir mal, ficando prejudicada a oportuni-dade de se realizar um bom diálogo. Quando o dialogador, nesses casos, não acolhe com respeito e fraternida-de o comunicante, corno deveria fazer, muitas vezes os amigos espirituais reti-ram de imediato o espírito comunican-te, e o transe rnediúnico se interrompe.

• Humildade, para não se colocar acima do comunicante, nem se al-terar ante suas eventuais acusações e agressividade;

• Prudência, para não provocar rea-ção desnecessária no comunican-te, nem precipitar seus relatos ou acontecimentos;

• Energia serena, para, quando ne-cessário, coibir excessos do comu-nicante que possam colocar em perigo a segurança dos presentes ou desrespeitar a dignidade do am-biente.

A mediunidade não é indispensável paraatarefadodialogador.Se possuir faculdades mediúnicas, poderá em-pregar as que não lhe tirem a lucidez necessária à conversação, como a vi-dência e a audição.

Não esqueçamos de que, antes de verbalizarmos os ensinamentos doutri-nários e evangélicos para os espíritos, devemos procurar aplicá-los em nossa própria vida.

os Benefícios Do DialoGaDoR

Jesus nos aconselha a granjear ami-gos com as riquezas da iniquidade, as situações de que ora desfrutamos na Terra, mesmo sem merecer, para que, quando elas nos faltarem, quando de-sencarnarmos, eles nos recebam nos tabernáculos eternos, em seus cora-ções.

Ao dialogar com os espíritos, com sinceridade e amor fraterno, cada atendimento que fizermos será uma semeadura de que resultará para nós, de imediato ou no futuro, amigos na vida espiritual.

a influência Do GRupo no DiáloGo

É inegável que cada participante influi no ambiente da reunião, tanto fluídica como espiritualmente, por tudo quanto pensa, sente e faz no seu decorrer.

Por isso, na formação do grupo me-diúnico, deve-se, também, ter o cuida-do de fazer, previamente, a instrução e preparação doutrinária e moral de seus participantes.

Todos precisam:

• Saber manter a elevação de pen-samento e a correção de atitudes, sempre, mas de modo especial du-rante a reunião;

• Não se deixarem adormecer, nem desviar a atenção dos objetivos da reunião, concorrendo, pelos bons pensamentos e orações, para a sus-tentação do ambiente fluídico e es-piritual;

• Durante o diálogo, conservarem simpatia para com o comunicante e solidariedade para com o dialo-gador, não querendo fazer diálogo paralelo ao dele, nem mesmo em pensamento, pois será interferir pre-judicialmente.

Consciente e bem preparado para assim agir, o grupo será o meio ideal e o sustentáculo necessário, para que o diálogo fraterno beneficie encarnados e desencarnados com as bênçãos da luz e do amor. u

Fonte: OLIVEIRA, Therezinha. ConversandocomosEspíritosnaReuniãoMediúnica.Págs. 31 – 35. Editora Allan Kardec. 2009.

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diálogo

Ora, entre os fariseus, havia um ho-mem chamado Nicodemos, principal dos judeus, que veio à noite ter com Jesuselhedisse:

– Mestre, sabemos que vieste da partedeDeus,porqueninguémpode-ria fazer os sinais que tu fazes, se Deus não estivesse com ele.–Emverdade,emverdadetedigo:

NinguémpodeveroreinodeDeussenão nascer de novo.–Comopodenascerumhomemjá

velho? Pode tornar a entrar no ventre desuamãe,paranascerpelasegundavez?–Emverdade,emverdadetedigo:

Se um homem não nasce da água edo espírito, não pode entrar no reino de Deus. O que é nascido da carne é carne e o que nascido do espírito é es-pírito.–Comopodeistofazer-se?–Poisé!ÉmestreemIsraeleigno-

ras estas coisas?Digo-teemverdadequenãodize-

mos senão do que temos visto, entre-tanto, não aceitais o nosso testemu-nho. Mas, se não me credes quando

O DIÁLOGO DEjesus com nicoDemos

(Jo 3:1-12)por thEREZINhA oLIVEIRA

vos falo das coisas da Terra, como me crereis quando vos fale das coisas do Céu?

Neste diálogo, Jesus ensina teori-camente a reencarnação. Nicodemos pensou no mesmo corpo nascendo de novo (o que não é possível). Jesus corrigiu esse erro: “o que é nascido da carne é carne”, o corpo segue a lei natural da decomposição da ma-téria; reafirmou que para “entrar no reino de Deus” (alcançar planos es-pirituais elevados) há necessidade de renascer tanto da água (símbolo da matéria) como do espírito: ou seja, reencarnar no mundo material, mas também renovar-se intimamente, progredir. Usou o ar (pneuma, sím-bolo do elemento espiritual) como comparação para explicar que sen-timos a presença e manifestação do Espírito reencarnado, através do seu novo corpo, mas não podemos identificar de onde veio (o passado é providencialmente esquecido) nem apontar-lhe um futuro (vai depender do livre-arbítrio). u

Fonte: OLIVEIRA, Therezinha. Iniciação ao Espiritismo. Págs. 94-95.

CEAK. Campinas/SP. 2004.

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Revista FidelidadEspíRita | Janeiro/2011

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Assistência Espiritual: Passes 4ª Feira 14h00 - 14h40 ininterrupto Aberto ao público

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Assistência Espiritual: Passes Domingo 09h00 - 09h40 ininterrupto Aberto ao público

Palestras Públicas Domingo 10h00 - 11h00 ininterrupto Aberto ao público

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