o destino após o cais

52
1 O Destino após o Cais O Destino após o Cais Nenna

Upload: universo-nenna

Post on 12-Mar-2016

227 views

Category:

Documents


7 download

DESCRIPTION

ensaio sobre a arte contemporanea na região capixaba. brasil

TRANSCRIPT

Page 1: O Destino após o Cais

1

O Destino após o Cais

O Destino após o Cais

Nenna

Page 2: O Destino após o Cais

2 3

O Destino após o Cais

Page 3: O Destino após o Cais

2 3

O Destino após o Cais

O Destino após o Cais

Nennaoutono 2010

Page 4: O Destino após o Cais

4 5

O Destino após o Cais

Page 5: O Destino após o Cais

4 5

O Destino após o Cais

Revisão e previsão crítica da arte contemporânea na região

capixaba, em três meditações.

para Maurício Salgueiro

Page 6: O Destino após o Cais

6 7

O Destino após o Cais

Na doçura da manhã quase acabadaEu lhes falava cordialmente: - Se abanquem um bocadinhoE havia de contar pra eles os nomes dos nossos peixesOu descreveria Ouro Preto, a entrada de Vitória, MarajóCoisa assim que pusesse um disfarce de festaNo pensamento dessas tempestades de homens. - Mario de Andrade [1]

Page 7: O Destino após o Cais

6 7

O Destino após o Cais

Na doçura da manhã quase acabadaEu lhes falava cordialmente: - Se abanquem um bocadinhoE havia de contar pra eles os nomes dos nossos peixesOu descreveria Ouro Preto, a entrada de Vitória, MarajóCoisa assim que pusesse um disfarce de festaNo pensamento dessas tempestades de homens. - Mario de Andrade [1]

[1] ANDRADE, MÁRIO DE. - Poema “Manhã”, capa do primeiro número da Revista de

Antropofagia - maio de 1928.

Page 8: O Destino após o Cais

8 9

O Destino após o Cais

Page 9: O Destino após o Cais

8 9

O Destino após o Cais

À beira do Caisprimeira meditação

Page 10: O Destino após o Cais

10 11

O Destino após o Cais

I – À beira do Cais

Page 11: O Destino após o Cais

10 11

O Destino após o Cais

Um porto marítimo, simbolicamente, parece estar sempre disponível para um diálogo global. E a cidade portuária de Vitória, capital do estado do Espírito Santo, desenvolveu esse diálogo com entrelinhas ainda não estudadas em profundidade, mas certamente permeado de timidez e complexo de inferioridade nas comparações e na procura de reconhecimento externo. Principalmente nos assuntos de cultura.

Um dos registros mais enigmáticos dessa fragilidade está na profecia/maldição de um viajante francês, o naturalista Auguste de Saint-Hilaire que em 1818 anotou em seu livro de viagens por terras tropicais, pelas lentes de sua visão ainda ‘iluminista’: “as luzes [do conhecimento] e a instrução só penetrarão na província do Espírito Santo com extrema lentidão”. [2]

Mas melhorou muito...

Nesse início da segunda década do século 21, a arte discutida, produzida e principalmente a arte consumida na oferta das galerias, museus e

[2] SAINT-HILAIRE, AUGUSTE – Voyage dans les districtes de diamands et sur le littoral du Brésil – Edition Galimmard, Paris, 1835 - Pag.56 – “les lumières et l’instruction ne pourront pénétrer dans la province du S. Esprit qu’avec une extrême lenteur.”

Page 12: O Destino após o Cais

12 13

O Destino após o Cais

entidades, no estado do Espírito Santo, já pode ser considerada de amplitude global e com poucos vestígios de provincianismo estético e conceitual. Hoje, é exatamente no aspecto do ‘conhecimento’ da arte que se pode considerar uma expansão ampla e positiva. Nas últimas duas décadas a circulação acadêmica no Centro de Artes da Ufes, se não criou um ambiente sofisticado de pensamento, pelo menos atualizou as informações. Com a popularização da internet, que chegou ao estado ainda em 1995 [3], esse conhecimento foi enormemente facilitado e deu um salto qualitativo importante, pois que, como é natural no aprendizado de hoje, quem se interessou tinha um roteiro inicial para mergulhar no universo amplo da ‘navegação digital’, ampliando significativamente o volume de informações.

Essa é a grande transformação no ambiente da arte contemporânea capixaba, na sua aproximação com os códigos globais de conhecimento. Até recentemente, para se manter razoavelmente informado sobre os acontecimentos e conceitos, era necessário despender recursos praticamente

[3] VAZEOS, DEMÉTRIUS – entrevista a Nenna para o site Taru.art.br, 2000 “Na feira de informática lançamos oficialmente a Tropical Net, que começou, se não me engano, no dia 24 de outubro de1995. Nós éramos os únicos, e sabíamos disso, que tínhamos um link de Internet no Espírito Santo para o provedor privado.”

Page 13: O Destino após o Cais

12 13

O Destino após o Cais

proibitivos a alunos de arte de menor poder aquisitivo, já que revistas importadas e mesmo as nacionais tinham que ser adquiridas no Rio de Janeiro ou São Paulo, custavam muito e praticamente não estavam disponíveis em bibliotecas locais. Hoje uma pequena lanhouse, local muito popular de acesso à internet, pode ser suficiente para se acompanhar eventos, conceitos e informações com uma facilidade até então inexistente.

Fora da universidade e do ambiente digital, outro ponto de destaque no desenvolvimento do conhecimento tem sido os seminários internacionais que agregam o pensamento filosófico ao processo de reflexão sobre arte, realizados pelo Museu Vale, anualmente, desde 2006. E, mais timidamente, também as palestras no Museu de Arte do Espírito Santo e na Ufes.

Sobre os seminários destaquei, em crônica de 2007, para o site Taru: “Organização impecável, material de acompanhamento e outros impressos de alta qualidade. Passei pelo lounge onde os mais descolados e jovens bonitos se esparramavam nos sofás de olho no monitor com a falação e me acomodei no salão principal. Ambiente desenhado com elegância, agradável, onde mais monitores colocavam conforto no ver e ouvir o desenrolar

Page 14: O Destino após o Cais

14 15

O Destino após o Cais

das reflexões. O ar refrigerado e o mar, após o blindex, espalhavam frescor no ar. Em alguns momentos, senti alguma dispersão no entra e sai de pessoas, nos diálogos sussurrados, mas nada que prejudicasse seriamente os interessados absortos. É bom ver e sentir o métier reunido para pensar...” [4]

Na adição desse conhecimento ao consumo, exigindo, por assim dizer, uma demanda qualitativa, um novo patamar foi estabelecido pela interação mais eficiente com as ofertas de mostras estruturadas com padrão internacional, permitindo uma proximidade maior com a produção global e quebrando a mítica do objeto distante. As obras estudadas pularam dos livros, e das telas do computador, para um espaço real mais próximo.

Com uma oferta significativa, moldada pela dinâmica financeira que permeia o estado desde a virada do século, recebemos eventos relevantes internacionalmente e que já se tornaram rotina na programação cultural da Grande Vitória, por onde circularam e circulam ícones da história como Camille Claudel, Joseph Beuys, Andy Warhol, Lygia Clark, Hélio Oiticica, Rembrandt e mais uma dezena, pelo menos, de artistas em atividade com prestígio internacional.[4] NENNA – “Seminários cosmopolitas’ – site Taru.art.br, 2000

Page 15: O Destino após o Cais

14 15

O Destino após o Cais

Dentro desse panorama, a produção ‘capixaba’, ainda que tenha pouca repercussão e baixa significância, e praticamente nenhuma relevância fora de sua região, já transita dentro dos conceitos de ‘aldeia mcluhiana’, com a maioria dos artistas relativamente bem informados sobre a produção de outras regiões e países. Hoje, temos uma quantidade muito boa de artistas dedicados às linguagens contemporâneas, se considerarmos a dimensão populacional da região. Se, no início dos anos 70, praticamente não existia um ambiente propício, já no final do século as edições das mostras “Quanto Mais Arte Melhor” realizadas no Centro de Artes da Ufes, contavam com centenas de participantes. Com conhecimento, o talento ficou menos complexo de ser desenvolvido. Quase tudo muito positivo, mas se formos um pouco mais exigentes, é possível detectar que continuamos a acompanhar a história, sem ‘fazer história’. O que na verdade revelaria a própria história cultural da região com suas dependências de reconhecimento externo.

Mas o vagar do tempo aponta para outras possibilidades.

Page 16: O Destino após o Cais

16 17

O Destino após o Cais

E é nessa direção que vamos levar o barco numa segunda meditação, navegando pela superfície dos quarenta anos históricos, desde a introdução dos conceitos contemporâneos da arte produzida no Espírito Santo, até hoje.

Como bem lembra o provérbio africano: “Quem não sabe pra onde ir, deve ao menos saber de onde veio”.

Page 17: O Destino após o Cais

16 17

O Destino após o Cais

Page 18: O Destino após o Cais

18 19

O Destino após o Cais

Page 19: O Destino após o Cais

18 19

O Destino após o Cais

Tempo Expandidosegunda meditação

Page 20: O Destino após o Cais

20 21

O Destino após o Cais

II – Tempo Expandido

Page 21: O Destino após o Cais

20 21

O Destino após o Cais

A utilização de práticas contemporâneas, na arte produzida no Espírito Santo, tem início com a realização do ‘Estilingue Gigante’, em julho de 1970, quando ficou explicitado o momento de ruptura e expansão para outras possibilidades numa arte que até então vivia em um universo desatualizado das práticas universais. [5]

Naquele início dos anos 70 o ambiente de produção e consumo cultural era incipiente, se restringindo a pouco mais de uma dúzia de jovens divididos entre a luta política e as provocações da contracultura. Antes, as manifestações artísticas nos anos 60, como em todo o mundo ocidental, estiveram ativas, mas foram reprimidas violentamente no Brasil pela ditadura militar pós 64.

O poeta e pintor Carlos Chenier, que se aventurou na análise da arte local, como crítico do jornal A Gazeta (de meados dos anos 70 até 1989), ao fazer um resumo e análise da década de 70 descreve: “Nos idos dos anos 60, os movimentos culturais da

[5] LOPES, ALMERINDA DA SILVA – “Nenna e a vanguarda capixaba” – ensaio crítico

apresentado no “XIV Encontro Nacional de Pesquisadores em Artes Plásticas”, Universidade

Federal de Goiânia, outubro 2005.

Page 22: O Destino após o Cais

22 23

O Destino após o Cais

cidade eram mais motivados pelo romantismo político. Aqui se desenvolveu poesia, cinema, artes plásticas, etc. Com a criação do Museu de Arte Moderna, chegou-se a três mostras de nível nacional com participação de delegações de nove estados. E de repente, não mais que de repente, a mão governamental tolhe tudo. Qualquer associação, agrupamento, tentativa era considerada uma tentativa de subversão. E aos olhos dos censores sempre vigilantes contra os perigos da democracia, a juventude, foi, após 1969, cada dia mais sendo colocada nas esquinas, sem voz, sem cor e nem mistérios. Iniciou-se a década sob um signo apenas: o do terror oficial. No ano de 1970, há a primeira tentativa de libertação. Um rapaz magro e pensante, saído da Universidade, mas não tocado pelos movimentos anteriores, faz, em uma bela manhã, a Praia do Canto, acordar um pouco assustada. Uma árvore foi cimentada [sic.] durante a noite e o artista registra então um enorme estilingue à beira-mar. Atílio Gomes Ferreira se insurgia, talvez de uma maneira inconsciente ou talvez na mais ampla lucidez, contra o status-quo vigente e nesse primeiro protesto o primeiro gesto de que havia luz para vir, mesmo no fundo do corredor.” [6]

Até o final daquela década, as linguagens predominantes na cidade de Vitória ainda eram,

[6] CHENIER, CARLOS – “Os anos 80 serão dos jovens” – A Gazeta, 1980

Page 23: O Destino após o Cais

22 23

O Destino após o Cais

quando muito ‘avançadas’, as ligadas diretamente ao modernismo. Poucas foram as atuações praticadas com um repertório contemporâneo. Destacamos, de memória [7], já que não localizei nenhuma documentação disponível, uma instalação feita por Guilherme Minassa, escritor e interessado em arte, na Galeria Hilal, em 1972. Consistia de uma mesa de jantar em que os alimentos eram pó de minério da Companhia Vale do Rio Doce, numa das primeiras manifestações de cunho social/ecológico. Pouco depois, o jovem Pedro Philho, inicialmente pintor, fez uma intervenção urbana no centro de Vitória, com arame farpado tensionando o foco no assassinato de uma adolescente, assunto que foi notícia nacional. Pedro Philho morre também de forma dramática, ainda muito jovem, atingido por um tiro, dizem, de bala perdida. Era preto e homossexual, filho de uma funcionária da antiga Escola de Belas Artes. Escola depois transformada no Centro de Artes da Ufes.

Até meados dos anos 70, a ‘cidade presépio’, Vitória, mantinha um cotidiano arrastado na brisa, com exposições em espaços improvisados e os cursos do Centro de Artes, apelidados de ‘espera marido’.[7] No desenvolvimento deste ensaio crítico, grande parte das informações são frutos

de minha observação e participação no processo analisado, como artista e pensador. É

inevitável, graças a pouca documentação do período.

Page 24: O Destino após o Cais

24 25

O Destino após o Cais

Com o início de implantação dos grandes projetos industriais [CST, Aracruz Celulose] e ampliações na Vale tivemos a primeira onda de desenvolvimento e a consequente migração de profissionais qualificados, ligados à construção dos empreendimentos, e mais exigentes culturalmente. Muitos deles hoje no sistema de poder do estado, que aqui construíram família e se estabeleceram.

Ainda fruto das mudanças impactadas pelos grandes projetos, surgiria, finalmente, em l976, o primeiro ‘cubo branco’ na cidade. Se pretendendo ‘moderna’ e batizada equivocadamente de Centro de Artes Homero Massena, é o espaço em que toda uma geração se mostrou, pela primeira vez com condições, senão ótimas, pelo menos razoáveis. Na hoje ainda ativa, rebatizada Galeria Homero Massena, aconteceram as mais importantes mostras da década, com as individuais de artistas hoje em primeiro plano, como Lando, Ronaldo Barbosa, Hilal, Hélio Coelho, além dos visitantes Frans Krajcberg, Sebastião Salgado, Paulo Herkenhoff, e tantos outros.

No plano político nacional, se fechou um ciclo com a anistia de 1979. A arte internacional, reverberada no Rio de Janeiro, no final da década,

Page 25: O Destino após o Cais

24 25

O Destino após o Cais

assinalava a saturação das vanguardas, a falência de algumas utopias e a emergência das teses pós-modernistas, germinadas na Bienal de Veneza de 1980, com curadoria de Achille Bonito Oliva, que dizia no texto publicado no catálogo geral da Bienal: “A nova arte se abebera no mais fundo de uma reserva inesgotável, onde abstrato e figurativo, vanguarda e tradição, vivem no cruzamento de uma pluralidade de reencontros.” [8]

Pós-modernidade na periferia

Nos anos 80, com o estabelecimento dos paradigmas da pós-modernidade e o esvaziamento das posições políticas e estéticas que predominavam desde os anos 60, parecia surgir uma possibilidade nova no universo capixaba, com o retorno ostensivo de valorização da pintura como forma praticamente única de representação artística, naquele momento. E os donos de galeria praticamente substituindo os críticos na legitimação da importância das obras.

[8] ACHILLE BENITO OLIVA - Citado por Roberto Pontual – Palestra na Ufes, 1988

– documento em vídeo disponível em www.nenna.com/videos

Page 26: O Destino após o Cais

26 27

O Destino após o Cais

Neste contexto surge a primeira galeria de notoriedade nacional para a comercialização da arte, a Usina de Arte, de iniciativa do empresário Marcio Espíndula, que trouxe a Vitória grandes personalidades nacionais e figuras de destaque naquele momento como Adriano de Aquino, Mira Schendel, Loio Pérsio, Iberê Camargo, Frans Krajcberg, Fajardo, Franz Weissman, Hilton Berredo, Jorge Guinle Filho, Leonilson... E realizou também mostras bem produzidas com artistas locais, como César Cola e Hilal, além de ciclos de palestra em parceria com o Centro de Artes da Ufes, tendo como convidados palestrantes, entre outros, Thomas Cohn e Marcus Lontra. O primeiro, na época o principal galerista do Rio de Janeiro e o segundo, um dos criadores da mostra ‘Geração 80’.

Fechada ainda na década de 80, foi uma preciosa oportunidade que os artistas locais e espectadores tiveram para ver obras que, de outra forma, dificilmente seriam mostradas em Vitória. Um desfile de alguns dos mais importantes e inovadores artistas contemporâneos em atividade no Brasil.

Dessa iniciativa, o empresário iniciou um relacionamento de amizade, com o escultor Frans

Page 27: O Destino após o Cais

26 27

O Destino após o Cais

Krajcberg, que resultou na primeira tentativa de se criar um organismo internacional que transitasse no universo da arte contemporânea:

Ao analisar a arte da década de 80, para o jornal A Gazeta, no período que substituí o crítico Carlos Chenier, recém-falecido, afirmei: “O grande destaque da década de 80 não foi nenhuma exposição, mas sim o fato do escultor Frans Krajcberg, artista reconhecido internacionalmente como um dos grandes inventores dentro da arte universal, ter desejado doar todo o seu acervo ao povo do Espírito Santo. Estaria incluído nesta doação até mesmo o belíssimo atelier que o escultor possui em Nova Viçosa. Aquele que tem uma casa em cima da árvore. E, pasmem, uma invejável coleção de trabalhos de outros artistas com os quais conviveu, que inclui, entre outros, Chagall, Braque, Klee, etc.

A finalidade da doação seria criar um espaço dinâmico de convivência artística, envolvendo exposições, cursos, bibliotecas, salas de projeção de cinema e vídeo, auditório, etc. Só o nome de Krajcberg viabilizaria – com ajuda internacional – a construção e manutenção desse importantíssimo empreendimento. Também alguns dos principais artistas brasileiros, amigos do escultor, já se comprometeram a doar obras para a fundação. São pérolas e dólares... para um projeto que tem como base filosófica

Page 28: O Destino após o Cais

28 29

O Destino após o Cais

fazer uma ponte entre a arte e a natureza, característica essencial da obra de Krajcberg, e um belo símbolo para um estado que teve sua natureza arrasada. Apesar dos entendimentos estarem se arrastando lentamente, existe algum progresso.” [9] Roberto Pontual, o destacado crítico de arte, na época residindo em Paris, foi convidado a conceituar a instituição e propôs que ela se tornasse uma “ponte entre a arte e a ecologia”, como afirmou no encontro com artistas, no Centro de Artes da Ufes, em 1988. [10] Mas, apesar de lançada com grande pompa e presença de personalidades de destaque nacional como José Mindlin, Tomie Othake e Gilberto Chateaubriand entre outros, o projeto da Fundação Krajcberg foi um fracasso que resultou numa denuncia do Ministério Público que até recentemente criou grandes transtornos para o escultor, como ele afirmou em entrevista para a revista Y, em 1994: “– Na verdade, vou colocar um ponto final. Eu estou me aborrecendo muito. Eu não sabia que alguém que se oferece para fazer um movimento cultural, oferece todos os seus

[9] NENNA - “Anos 80 – Artes Plásticas - No Caminho da Erudição” - Caderno Dois - A

Gazeta - 04 janeiro de 1990.[10] ROBERTO PONTUAL - Palestra na Ufes, 1988 – documento em vídeo disponível em

www.nenna.com/videos

Page 29: O Destino após o Cais

28 29

O Destino após o Cais

trabalhos, vira criminoso, vira fugitivo. Eu tenho em cima de mim, processos de coisas absurdas. Quatro processos, e acho que vão aumentar ainda mais. Mas não tem um processo do ponto de vista cultural, que se preocupe em continuar com a fundação. Não tem nenhum. Primeiro se interessam pelo dinheiro, que eu nem sei o que foi feito. Mas agora eu vou saber. O diretor é o responsável, ele cuidava de tudo. Que eu nem sabia o que estava sendo feito e agora quero que se esclareça tudo. Que não é possível eu ver tanta coisa que está acontecendo aqui em Vitória.(...) Já estou arrumando minha mala, para ir pra cadeia... Vitória também não compreendeu a importância dessa fundação e não vai compreender tão cedo. E por isto estou te falando: é a última entrevista que estou dando aqui em Vitória. Eu tenho mil coisas mais importantes para fazer, do que me chatear aqui em Vitória. É injusto. A palavra fundação não quero nem mais ouvir. E ponto final!”.[11]

Terminava um sonho, uma possibilidade de um diálogo internacional como anunciara anos antes o escultor em entrevista ao jornalista James Brooks, do New York Times: “Aqui vai ser um centro mesmo planetário, sobre todos os assuntos e aspectos que temos sobre o planeta. Vai ser regional, nacional e planetário.” [12][11] FRANS KRAJCBERG – entrevista a Nenna – Revista Y, outubro de 1995.

[12] FRANS KRAJCBERG - entrevista a James Brooks, NY Times – registrada em vídeo

por Nenna, 1993, disponível em www.nenna.com/videos

Page 30: O Destino após o Cais

30 31

O Destino após o Cais

Ainda na década de 80, em paralelo, a comunidade cultural recebeu a intervenção intensa e demolidora do ‘Balão Mágico’, grupo iconoclasta, de base anarquista, formado dentro da Ufes, que reuniu estudantes de comunicação e artes, aglutinados espontaneamente em torno da professora Telma Guimarães, numa luta contra o ensino naquela escola, que teimava em manter seus dogmas reacionários. Utilizando os benefícios da recém-introduzida e popularizada tecnologia de vídeo e diálogo com outras áreas como dança e música, além de intervenções de caráter político e anarquista, o grupo esteve ativo na mesma época do ‘Geração 80’, que tanto destaque teve na mídia e história da arte, aglutinados no Parque Lage a partir de um texto do Roberto Pontual. É oportuno fazer uma comparação entre os dois movimentos. Como testemunha dos dois processos, posso considerar que as intervenções do Balão estavam mais radicalmente envolvidas com a ‘verdade’ das iniciativas do que o grupo reunido no Rio, que estavam aglutinados mais motivados pela procura de um espaço dentro do sistema. E assim chegamos ao final dos anos 80.

Page 31: O Destino após o Cais

30 31

O Destino após o Cais

Circulação global

“Enfim, cosmopolita. Esse é o caminho inevitável que a arte produzida no Espírito Santo deverá seguir nesta nova década. O fluxo de informação universal, tremendamente facilitado pela tecnologia – mesmo que o país continue paupérrimo-, fará com que essa tendência já identificável no final dos anos 80 se intensifique nas mãos e mentes dos novos artistas que deverão surgir e na continuidade do trabalho de um número já importante que atua em sintonia com o que se faz em Nova Iorque ou Nova Déli.” [13]

Assim iniciei, em janeiro de 1990, uma análise para o jornal A Gazeta, sobre a arte produzida na década anterior. E assim foi... No início dos 90, o primeiro sinal desse novo panorama fica evidente na mostra ‘Instalação Porto 91’, organizada pela curadora Neusa Mendes, reunindo artistas locais e de outros estados em um dos armazéns do Porto de Vitória e que também analisei para o jornal A Gazeta: “O nosso meio artístico/intelectual segue seu caminho rumo ao cosmopolitismo. Continua assim na música, vídeo,

[13 NENNA - “Anos 80 – Artes Plásticas - No Caminho da Erudição” - Caderno Dois - A

Gazeta - 04 janeiro de 1990.

Page 32: O Destino após o Cais

32 33

O Destino após o Cais

cinema, etc, evidenciando um comportamento que se aproveita das facilidades tecnológicas e possibilidades de produção para criar um contraponto não ‘provinciano’ às influencias e poderio externo. Ou seja: não apenas ‘acompanhar’ a história, mas também ‘fazer’ a história”. Dentro dessa perspectiva, a Instalação no Armazém 3, no Porto de Vitória, injetou uma enorme quantidade de energia no circuito local, retirando um pouco da poeira e do mofo que insistem em permanecer nos cérebros menos arejados de alguns de nossos produtores e espectadores. [...] No objetivo explícito dos organizadores, de confrontar a produção local com a de outros centros, deu empate. Ou melhor, ganhamos todos. Só faltou a Lygia Pape. Que venha a Instalação 93. O porto está aberto.” [14]

É nessa época que começa a frequentar a cidade, com mais assiduidade, o principal personagem do processo posterior, que vai colocar fundamentos e direção objetiva nas iniciativas de fortalecimento da arte local. É o cachoeirense Paulo Herkenhoff, que desenvolveu seu aprendizado e atividades no Rio de Janeiro, mas sempre se mostrou um ativista devoto da causa capixaba na arte. Ainda no início dos anos 80, já tinha sido procurado por ele [logo após a morte de Hélio Oiticica, um

[14] NENNA – “A cidade faz história” – Caderno Dois – A Gazeta, Vitória, 7 setembro

1991

Page 33: O Destino após o Cais

32 33

O Destino após o Cais

dos assuntos da conversa] que me avisou de seu interesse em articular e incentivar a arte produzida no ES, inclusive com a publicação, não concretizada, de um dicionário nos moldes do que Roberto Pontual realizara para a arte nacional.

Esse ativismo só iria se tornar consistente após ser convidado, em 1991, para uma consultoria que resultou, após muitas idas, vindas e indecisões, na viabilização do Museu de Arte do Espírito Santo – Dionísio Del Santo, finalmente inaugurado em dezembro de 1998.

Paulo Herkenhoff, desde então, tem contribuído com sua credibilidade, conhecimento e reconhecimento, nacional e internacional, para o encaminhamento dos desejos e necessidades da arte capixaba. Sustentado por um currículo poderoso, que inclui curadorias que variam da 24ª Bienal de São Paulo ao MAM de Nova Iorque [1999-2002]. Além de ter sido um dos curadores da 9ª Dokumenta de Kassel [1999] e ter dirigido o Museu Nacional de Belas Artes.

É natural que tenha sido, também, um dos pilares da bem sucedida implantação do Museu Vale, criado em 1998, como contrapartida cultural

Page 34: O Destino após o Cais

34 35

O Destino após o Cais

aos graves problemas de poluição atmosférica que a empresa causa na Grande Vitória. Nascido Museu Ferroviário Vale do Rio Doce, estruturado e desde então dirigido pelo professor e curador Ronaldo Barbosa, apresenta uma estratégia definida: fortalecer nacionalmente o nome do museu com mostras de qualidade internacional [o que realmente aconteceu/acontece] e aproveitar esse ‘reconhecimento’ para colocar na vitrine talentos locais [o que pouco se viu].

No final de 99, também a Casa Porto das Artes, criação da curadora Tereza Norma, numa ação da Prefeitura de Vitória, se posicionou como um centro de lançamento de novos talentos, principalmente com o Salão do Mar, origem da atual Bienal do Mar.

Conjunções do Novo Milênio

A mudança de milênio colocou o poder do sistema de cultura regional sob comando direto de profissionais oriundos do métier das artes plásticas: Na Secretaria Municipal de Cultura de Vitória, Luciana Veloso, ex-marchand e dona de

Page 35: O Destino após o Cais

34 35

O Destino após o Cais

galeria; na Universidade Federal, a escultora e professora Rosana Paste, no comando da Secretaria de Promoção e Difusão Cultural; na Secretaria de Estado da Cultura a artista e curadora Neusa Mendes e, finalmente, o mais poderoso – pelos recursos financeiros da instituição e liberdade distante da burocracia estatal – Ronaldo Barbosa no Museu da Vale. Essa situação inédita promoveu uma rápida disseminação de possibilidades para artistas, curadores e outros e profissionais ligados ao métier, pois a quantidade de eventos de qualidade tomou outra dimensão. No município, com o esvaziamento da Casa Porto, a principal atividade dedicada à produção contemporânea foram as edições do antigo Salão do Mar, nascido em 1999 e ‘promovido’ em 2008; a Bienal do Mar, inovando ao levar o evento para a rua, através de intervenções de artistas selecionados, como registra a coordenadora do evento, Maria Helena Lindenberg, no catalogo da 8ª Bienal do Mar: “Se já em 2006 o salão procurava o caminho provocativo das artes contemporâneas mais afinadas com o cenário cultural do Brasil e do mundo, em 2008 essa aposta tornou-se explícita. As alterações conceituais

Page 36: O Destino após o Cais

36 37

O Destino após o Cais

foram expostas no edital de seleção. Doze projetos de intervenção urbana de caráter efêmero ou temporário foram escolhidos e premiados. [...] São obras que dialogam com a complexidade, a dinâmica e a fluidez do espaço público e seus usuários. Trabalhos que ao tramar essa rede entre cidade, arte e comunidade, participam da trama e da rede maior da contemporaneidade.”[15] Este período fortaleceu a relação da arte contemporânea com a comunidade capixaba se permitindo navegar pelas sutilezas, impactos e estranhezas pertinentes às manifestações e linguagens.

Mas a conclusão a que chegamos é de que, se a promoção de mostras oriundas de outros centros é sensacional, principalmente no Museu Vale, a arte capixaba, produzida aqui, pouco circula fora do estado.

Ainda mantendo como referência o Museu da Vale – principal instituição ligada à arte contemporânea – a ótima coletiva ‘Desiderata’ [em abril de 2002], prometida para seguir um circuito itinerante, não circulou. E, como efeito colateral, ainda fortaleceu a tese de uma imprensa provincial,

[15] MARIA HELENA LINDENBERG – Catálogo da 8ª Bienal do Mar – Vitória, 2008

Page 37: O Destino após o Cais

36 37

O Destino após o Cais

registrada, por Janaína de Assis, no site Taru:

“Desiderata acontece no momento certo. Já não agüentávamos mais esperar pelo dia em que capixabas brilhariam no Museu Ferroviário, um lugar tão querido e do qual se vê uma Vitória tão linda. O porto em funcionamento, as luzinhas do Centro. Aquilo tudo é muito nosso para não ser ocupado com as nossas coisas.

Agora eu compreendi a estratégia da direção do museu, que em suas mostras anteriores desenhou uma trajetória representativa da produção nacional, permitiu respaldo ao espaço e preparou um ótimo cenário para os artistas locais. A única coisa chata foi abrir as páginas dos jornais dos dias seguintes e dar de cara com o destaque que a presença do primeiro filho PHC ganhou nas linhas dos nossos colunistas. Os cadernos de cultura não cobriram o motivo essencial da mostra, apenas o social. É uma burrice sem justificativa, que só serve para nos colocar na triste posição de colônia. Mas não se preocupem pois se o provincianismo ainda impera na nossa imprensa, ele já abandonou as artes há muito tempo.” [16]

Outra coletiva de muito boa qualidade, uma das mais consistentes, toda estruturada com equipe local e fundamentada em diálogo com a obra do

[ 16] JANAINA DE ASSIS - “A mais desejada” – site Taru.art.br , 01 maio 2002

Page 38: O Destino após o Cais

38 39

O Destino após o Cais

capixaba, que viveu e desenvolveu sua obra no Rio de Janeiro, Dionísio Del Santo, viria a acontecer no final de 2008: ‘1 + 7 Arte Contemporânea no Espírito Santo’ também ficou restrita ao estado. Antes, em 2005, o museu já havia reunido obras de Homero Massena, Levino Fanzeres e Lando sobre o tema ‘Paisagens e itinerários da arte’.

A única circulação da produção local realizada pelo Museu Vale foi a individual de Hilal Sami Hilal, em 2007. Artista de biografia bem comportada, uma obra importante e isenta de polêmicas, foi escolhido como uma espécie de ‘espelho’ absolutista da arte capixaba pelo sistema de poder local. Mostrada no Rio, Belo Horizonte e São Paulo com destaque na mídia, mas com pouca ressonância crítica, é certamente o maior investimento num artista regional já feito pelo Museu. E pelo governo estadual, já que foi o único representante nas comemorações do ano do Brasil na França, em 2008. Talvez merecido, mas injusto com outros artistas de trajetória também significativa. Já a capixaba radicada na Alemanha, Rosi Ludovico, com menos apoio e uma divulgação discreta, foi outra a emplacar uma individual, em 2009, no importante espaço do museu. Convenhamos: é pouco, para um período que ultrapassa uma

Page 39: O Destino após o Cais

38 39

O Destino após o Cais

década, e se considerarmos a quantidade de talentos disponíveis e capazes de ocupar aquele espaço com eficiência.

A liberdade que a arte contemporânea carrega, em sua essência, permite que os julgamentos sobre qualidade, pertinência e outros quesitos sejam destituídos de parâmetros mensuráveis, o que permite também a manipulação de importância, troca de influência e favores.

Ao chegarmos ao tempo presente, podemos acrescentar, entre outras deficiências do ambiente regional, a falta de políticas de formação de acervo com aquisições pelas instituições, que deveriam traçar um percurso de nossa formação e aventuras no universo contemporâneo. Também destacamos a inexistência de crítica especializada, fomentadora de discussões e desenvolvimento.

Então, no que me parece ser um caminho já sinalizado, ainda vamos continuar, por muito tempo, sendo considerados ‘bons’ consumidores [no sentido de conhecimento e passividade crítica] de arte produzida em outras paragens com maior poder, mas tão cedo não seremos considerados artistas capazes o suficiente para sermos reverenciados nos

Page 40: O Destino após o Cais

40 41

O Destino após o Cais

nossos espaços institucionais mais poderosos, nem em espaços de instituições de outros centros, que trabalham numa via de mão-única em direção aos consumidores de arte no Espírito Santo.

Page 41: O Destino após o Cais

40 41

O Destino após o Cais

Page 42: O Destino após o Cais

42 43

O Destino após o Cais

Page 43: O Destino após o Cais

42 43

O Destino após o Cais

Um Cais das Artesterceira meditação

Page 44: O Destino após o Cais

44 45

O Destino após o Cais

III – Um Cais das Artes

Page 45: O Destino após o Cais

44 45

O Destino após o Cais

O anúncio de criação do ‘Cais das Artes’, instituição que começa a ser construída neste momento, tem todos os méritos e possibilidades de significar um novo momento na produção e consumo de arte no Espírito Santo. Divulgado como um empreendimento que pretende inserir Vitória no circuito nacional das grandes exposições e espetáculos, a construção terá um museu em condições técnicas e estruturais de receber mostras grandiosas, com área total de 3.000 m², além de um teatro de 1.300 lugares. A escolha do arquiteto Paulo Mendes da Rocha para projetar o Cais das Artes, tem um significado importante, no sentido de reconhecimento do talento do principal arquiteto nascido no Espírito Santo, que até então não conseguira emplacar uma obra na sua terra natal: “É um projeto que, para mim, tem um encanto e uma sedução muito especiais, pois nasci lá. A casa do meu avô era quase em cima do porto, junto do parque Moscoso.” [17]

[17] “Mendes da Rocha constrói em Vitória” – entrevista a Silas Martí - Folha de São Paulo

– Ilustrada – 10 agosto 2009

Page 46: O Destino após o Cais

46 47

O Destino após o Cais

Paulo Mendes, além de outros projetos pensados e não realizados para Vitória, já tinha sido requisitado, no início dos anos 90, para fazer um projeto alternativo para a Fundação Krajcberg, na Ufes, num momento em que a construção do projeto do arquiteto Claudio Bernardes, que ocuparia a área da residência oficial do governo do estado na Praia da Costa, se mostrou inviável.

Nascido em Vitória, Mendes da Rocha teve sua formação profissional, e principal área de ação, na cidade de São Paulo onde realizou obras como o Museu Brasileiro da Escultura e intervenções arquitetônicas para a Estação da Luz, Museu da Língua Portuguesa, e ampliação da Pinacoteca de São Paulo, entre muitos outros projetos igualmente importantes. Enfim, uma personalidade da arquitetura, vencedor do Prêmio Pritzker 2006.

Será a primeira grande obra de arquitetura modernista no Espírito Santo. Um projeto muito interessante, bem solucionado em relação ao seu entorno paisagístico, mas que infelizmente – exatamente por suas características ‘modernistas’ – carrega agregado um sentimento de ‘passado’, mesmo que pensado para um projeto ‘contemporâneo’.

Page 47: O Destino após o Cais

46 47

O Destino após o Cais

O futuro próximo acena com uma construção bonita, funcional e preparada para grandes mostras, com tecnologia aceitável na circulação de coleções de instituições de todo o mundo. E ainda com um teatro e outras estruturas de convivência que permitem antever bons momentos culturais envolvidos pela beleza da paisagem próxima.

Um orgulho para o capixaba carente. Mas com a obra nasce uma questão fundamental: qual será a participação da produção local, ainda hoje – como tentamos permear na estrutura deste ensaio – colocada em segundo plano?

A primeira sinalização, com o início oficial da construção, é que essa situação de inferioridade psíquico-provinciana deverá ter continuidade. É simbólica, nesse sentido, a escolha de uma escultura de Amílcar de Castro para marcar o evento. É um escultor de trajetória digna e reconhecimento merecido, mas se considerarmos que nesse momento o principal escultor capixaba, morador do Rio de Janeiro, Mauricio Salgueiro completa 80 anos, porque não juntar os dois exemplos? Que são distintos na estética, referências e conceitos, mas ligados em sua essência à arte moderna. Já que pretendemos continuar na modernidade, porque

Page 48: O Destino após o Cais

48 49

O Destino após o Cais

não abrir espaço para iluminar outro artista, também de reconhecimento merecido, que aqui lecionou, realizou mostras e construiu a célebre escultura ‘A Mãe’, de grande impacto na comunidade local quando instalada na Praça Costa Pereira, no início dos anos 70. Se o destino a ser percorrido não for ajustado, certamente teremos mais um grande período de consumo com modos provincianos e uma produção com poucas possibilidades de realizar uma arte capaz de estabelecer um diálogo digno com outros ‘portos’ de centros irradiadores.

Voltando ao mestre Mendes da Rocha, na mesma entrevista para a Folha de São Paulo: “Eu nunca saí de Vitória, não é? Do ponto de vista da minha formação, essa cidade sempre teve uma importância grande. Quem nasce num porto de mar, tem uma educação peculiar.

Há uma visão das virtudes da natureza, dos seus fenômenos, mas também das engenhosidades humanas. Um porto atrai e abriga inexoravelmente catraieiros, estaleiros, máquinas, ligações especiais com o tempo, com os horários...Quem nasce num porto de mar tem tudo para ser sábio. Acostuma-se a ver a natureza não como uma simples

Page 49: O Destino após o Cais

48 49

O Destino após o Cais

paisagem, mas sim como um conjunto de fenômenos. Se o outro diz que é doce morrer no mar, nós, entretanto, achamos que não convém [risos].”

Eu diria: o que convém menos ainda é morrer na praia.

Page 50: O Destino após o Cais

50 51

O Destino após o Cais

Page 51: O Destino após o Cais

50 51

O Destino após o Cais

NennaBarra do Jucu, 25 de março de 2010

Page 52: O Destino após o Cais

52