o design de efeitos especiais no cinema...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos...

119
UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI CLAUDIO YUTAKA SUETU O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA DISSERTAÇÃO DE MESTRADO MESTRADO EM DESIGN PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU São Paulo, 2010

Upload: others

Post on 03-Jul-2020

4 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI

CLAUDIO YUTAKA SUETU

O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

MESTRADO EM DESIGN

PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO STRICTO SENSU

São Paulo, 2010

Page 2: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

1

UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI

CLAUDIO YUTAKA SUETU

O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação Stricto Sensu em Design –

Mestrado, da Universidade Anhembi Morumbi,

como requisito parcial para a obtenção do

título de Mestre em Design.

Orientadora: Profª. Drª. Luisa A. Paraguai Donati

São Paulo, 2010

Page 3: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

2

UNIVERSIDADE ANHEMBI MORUMBI

CLAUDIO YUTAKA SUETU

O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA

DISSERTAÇÃO DE MESTRADO

Dissertação apresentada ao Programa de Pós-

Graduação Stricto Sensu em Design –

Mestrado, da Universidade Anhembi Morumbi,

como requisito parcial para a obtenção do

título de Mestre em Design.

Profª. Drª. Luisa A. Paraguai Donati Orientadora

Mestrado em Design Anhembi Morumbi

Banca:

Prof. Dr. Vicente Gosciola

Profa. Dra. Míriam Cristina Carlos Silva

Profa. Dra. Rachel Zuanon

São Paulo, 2010

Page 4: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

3

Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução total ou parcial do trabalho

sem autorização da universidade, do autor e do orientador.

CLAUDIO YUTAKA SUETU

Formado em Comunicação Social – Rádio e TV pela

Escola de Comunicações e Artes da Universidade de São

Paulo. Produtor audiovisual, atualmente é coordenador

acadêmico na Universidade Anhembi Morumbi, no curso

de Rádio e TV (Escola de Comunicação).

S942d Suetu, Claudio Yutaka O design de efeitos especiais no cinema / Claudio Yutaka Suetu – 2010. 118f.: il.; 30 cm. Orientadora: Profª. Drª. Luisa A. Paraguai Donati Dissertação (Mestrado em Design) - Universidade Anhembi Morumbi, São Paulo, 2010. Bibliografia: f.106-118. 1. Design de produção. 2. Efeitos especiais. 3. Cinema. 4. Linguagem cinematográfica. 5. Direção de arte. I. Título.

CDD 741.6

Page 5: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

4

Dedicatória:

Dedico aos meus pais, pela força, incentivo e

carinho durante todo o período desta dissertação.

Page 6: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

5

Agradecimentos

Ao profs. João Garção e Josiane Tonelotto pelo apoio e incentivo;

À profa. Luisa Paraguai, por ter aceitado o desafio de me orientar;

Ao prof. Mauro Baptista, pelas primeiras orientações;

Aos profs. Jofre Silva e Elizabeth Wada, pelo voto de confiança;

Aos meus amigos, professores do curso de Rádio e TV.

Page 7: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

6

RESUMO

A presente dissertação apresenta possibilidades de atuação do designer no

cinema, por meio do estudo do design de efeitos especiais, como atividade

conectada ao design de produção de um filme. Dessa forma, são objetos da

pesquisa a conceituação da linguagem cinematográfica, a história dos efeitos

especiais, a relação entre arte e design na produção audiovisual, bem como os

aspectos de construção e os processos de intervenção da imagem. O método de

análise envolve o estudo de caso de três filmes que materializam distintamente o

uso do efeito especial como elemento de linguagem: O Livro de Cabeceira (1996),

de Peter Greenaway; Rebobine Por Favor (2008), de Michel Gondry e Kill Bill

(2003), de Quentin Tarantino. Tais análises identificam também elementos do

design presentes nas obras, relacionando-os com o conceito visual do filme. Nosso

objetivo é aproximar a área de efeitos especiais no campo do design, classificando-

a como atividade criativa e projetual, para além dos atributos exclusivamente

técnico-operacionais.

Palavras-chave: design de produção, efeitos especiais, cinema, linguagem

cinematográfica, direção de arte

Page 8: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

7

ABSTRACT

This paper presents designer’s performance possibilities in a film by studying

special effects design. Thus, the objects of research are: the concept of film

language, the history of special effects, the relationship between art and design of

a film, as well as aspects of construction and intervention processes of the

image. The analysis method involves a case study of three films that embody

distinctly the use of special effects as part of language: The Pillow Book (1996,

Peter Greenaway); Be Kind Rewind (2003, Michel Gondry) and Kill Bill (2003,

Quentin Tarantino). Such analysis also identifies design elements, linking them

with the visual concept of the film. Our goal is to approach the special effects

department in the design field, classifying it as a creative and project-oriented

activity, beyond the purely technical-operational attributes.

Key words: production design, special effects, cinema, film language, art direction

Page 9: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

8

SUMÁRIO

LISTA DE IMAGENS E ILUSTRAÇÕES.................................................................................. 9

INTRODUÇÃO.......................................................................................................................... 11

1 OS EFEITOS ESPECIAIS E A LINGUAGEM CINEMATOGRÁFICA ........................ 17

1.1 A LINGUAGEM CINEMATOGRÁFICA: RELAÇÕES ENTRE DESIGN E ARTE ............................ 18 1.2 DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS: O DESIGN DE PRODUÇÃO + DIREÇÃO DE ARTE................. 27 1.3 PANORAMA HISTÓRICO DOS EFEITOS ESPECIAIS ............................................................. 36

2 ASPECTOS CONSTRUTIVOS DA IMAGEM ................................................................ 52

2.1 A IMAGEM STILL.......................................................................................................... 53 2.2 A IMAGEM EM MOVIMENTO .......................................................................................... 57 2.3 INTERVENÇÕES NA IMAGEM.......................................................................................... 59

2.3.1 Camadas e composições.......................................................................................... 63

3 REBOBINE POR FAVOR, KILL BILL E O LIVRO DE CABECEIRA:

EXPERIMENTAÇÕES E DESCONSTRUÇÕES DA LINGUAGEM ..................................... 73

3.1 MICHEL GONDRY: REBOBINE FOR FAVOR..................................................................... 73 3.2 QUENTIN TARANTINO: KILL BILL - PARTE I .................................................................. 86 3.3 PETER GREENAWAY: O LIVRO DE CABECEIRA............................................................... 94

CONCLUSÃO...........................................................................................................................102

REFERÊNCIAS........................................................................................................................106

FILMOGRAFIA..........................................................................................................................112

Page 10: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

9

LISTA DE IMAGENS E ILUSTRAÇÕES

FIGURA 1: CENA DO FILME QUERO SER GRANDE (BIG, 1988). ............................................. 23

FIGURA 2: O PERSONAGEM CURINGA EM BATMAN (1989) EM THE DARK KNIGHT (2008). ........ 24

FIGURA 3: CENA DE ABERTURA DE SWEENEY TODD (2007), DE TIM BURTON........................... 30

FIGURA 4: TIPOGRAFIA UTILIZADA NA ABERTURA DO FILME ROMEO + JULIET (1996) ................. 30

FIGURA 5 – CENA DO FILME JURASSIC PARK (1993)........................................................... 32

FIGURA 6 – FENACISTOSCÓPIO ..................................................................................... 36

FIGURA 7 – TAUMATRÓPIO.......................................................................................... 36

FIGURA 8 - KINEÓGRAFO............................................................................................. 36

FIGURA 9 - LANTERNA MÁGICA..................................................................................... 37

FIGURA 10 – PHANTASMAGORIA .................................................................................. 37

FIGURA 11: QUADRO DO FILME LE VOYAGE DANS LA LUNE (1902)....................................... 39

FIGURA 12: QUADRO DO FILME LE MÉLOMANE (1903). .................................................... 39

FIGURA 13: QUADRO DO FILME L'HOMME A LA TETE EN CAOUTCHOUC (1901)........................ 39

FIGURA 14: EFEITOS COM MÁSCARAS E DUPLA EXPOSIÇÃO................................................... 40

FIGURA 15: ESQUEMA DE MONTAGEM DO PROCESSO SCHÜFFTAN......................................... 41

FIGURA 16: RESULTADO FINAL DO EFEITO SCHÜFFTAN ........................................................ 41

FIGURA 18: ESQUEMA DO FUNCIONAMENTO DO GLASS PAINTING.......................................... 42

FIGURA 19: COMPOSIÇÃO FINAL NO FILME THE GOLDEN VOYAGE OF SINBAD (1974) ................ 43

FIGURA 20: PROJEÇÃO TRASEIRA EM UMA CENA DE PERSEGUIÇÃO. ........................................ 44

FIGURA 21: ESQUEMA DE PROJEÇÃO TRASEIRA PARA CENAS DENTRO DE VEÍCULOS..................... 44

FIGURA 22: CENA DO FILME SUPERMAN (1978), UTILIZANDO PROJEÇÃO FRONTAL.................... 45

FIGURA 23: MODELO BÁSICO DE PROJEÇÃO FRONTAL ......................................................... 45

FIGURA 24: COMPOSIÇÃO VISUAL DO FILME OUTUBRO (1928), DE EISENSTEIN........................ 55

FIGURA 25: CENA DA PATINAÇÃO DE CARLITOS EM TEMPOS MODERNOS (1936) ..................... 56

FIGURA 26: EXEMPLO DE COMPOSIÇÃO UTILIZANDO UMA MINIATURA EM PRIMEIRO PLANO......... 56

FIGURA 27: NARRATIVA TEMPORAL NÃO-LINEAR NO FILME BACK TO THE FUTURE (1985) .......... 60

FIGURA 28: RECRIAÇÃO DO AMBIENTE EM 2001 – A SPACE ODYSSEY (1968) ......................... 60

FIGURA 29: COMPOSIÇÃO DE DZIGA VERTOV EM CHELOVEK S. KINO-APPARATOM (1929)......... 61

FIGURA 30: USO DA PROFUNDIDADE DE CAMPO EM CITIZEN KANE (1941).............................. 62

FIGURA 31: COMPOSIÇÃO COM FUSÃO DE IMAGENS E ENCADEAMENTO SIMULTÂNEO DE TELAS..... 62

FIGURA 32: DUPLA EXPOSIÇÃO NO FILME NOSFERATU (1922) ............................................. 65

FIGURA 33: COMPOSIÇÃO DE TELAS EM THE PILLOW BOOK (1996) ...................................... 65

FIGURA 34: EXEMPLO DE SPLIT SCREEN EM TIMECODE (2000) ............................................. 68

FIGURA 35: EXEMPLO DE SPLIT SCREEN ILUSTRATIVO. ........................................................ 68

FIGURA 36: EXEMPLO DE COMPOSIÇÃO EM CAMADAS ........................................................ 69

FIGURA 37: ESQUEMA DE COMPOSIÇÃO DE UM CHROMA-KEY............................................... 71

Page 11: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

10

FIGURA 38: LA SCIENCE DES RÊVES (2006) .................................................................... 74

FIGURA 39: CENAS DE MATRIX (1999) E MATRIX - BAIXO ORÇAMENTO (2006)...................... 75

FIGURA 40: FILMES “SUECADOS” EM REBOBINE, POR FAVOR (2008) .................................... 76

FIGURA 41: CENA DE ABERTURA DE REBOBINE, POR FAVOR (2008) ...................................... 79

FIGURA 42: CARROS FEITOS DE PAPELÃO EM REBOBINE, POR FAVOR (2008)........................... 80

FIGURA 43: SEQUÊNCIA DO EFEITO DE SOBREPOSIÇÃO EM REBOBINE, POR FAVOR(2008).......... 80

FIGURA 44: MIKE E JERRY VESTIDOS DE CAÇA-FANTASMAS EM REBOBINE, POR FAVOR (2008).... 81

FIGURA 45: MONSTRO DE MARSHMALLOW EM REBOBINE, POR FAVOR (2008)........................ 81

FIGURA 46: MÁSCARAS XEROCADAS EM REBOBINE, POR FAVOR (2008)................................. 82

FIGURA 47: “SUECAGEM” DE DIVERSOS FILMES EM REBOBINE, POR FAVOR (2008) .................. 84

FIGURA 48: INTERFERÊNCIA NA CÂMERA EM REBOBINE, POR FAVOR (2008)........................... 85

FIGURA 49: CENA DE ABERTURA DE KILL BILL – PARTE I (2003) ........................................... 89

FIGURA 50: SEQUÊNCIA DO LANÇAMENTO DA FACA EM KILL BILL – PARTE I (2003) .................. 90

FIGURA 51: SEQUÊNCIA DO TIRO EM KILL BILL – PARTE I (2003) .......................................... 90

FIGURA 52: PRÓTESE EM LÁTEX EM KILL BILL – PARTE I (2003) ........................................... 91

FIGURA 53: FLASHBACK EM KILL BILL – PARTE I (2003) ..................................................... 92

FIGURA 54: A HISTÓRIA DE O-REN ISHII EM KILL BILL – PARTE I (2003) ................................. 93

FIGURA 55: BRUCE LEE EM JOGO DA MORTE E A NOIVA (B) EM KILL BILL (2003)..................... 93

FIGURA 56: A EVOLUÇÃO DO FETICHE DE NAGIKO EM O LIVRO DE CABECEIRA (1996)................ 96

FIGURA 57: “DOES IT MAKE SENSE?”DE APRIL GREIMAN................................................... 98

FIGURA 58: COMPOSIÇÃO DE TELAS EM O LIVRO DE CABECEIRA (1996)................................. 99

FIGURA 59: CAMADAS EM O LIVRO DE CABECEIRA (1996) ............................................... 100

Page 12: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

11

Introdução

O objetivo deste estudo é compreender os efeitos especiais no campo do

design como um dos elementos constitutivos da linguagem cinematográfica,

inseridos no contexto do design de produção de um filme.

No cinema, o design é mal interpretado, ou melhor, tem uma interpretação

limitada, genérica. Este é, portanto, um momento oportuno de trazer à tona essa

discussão e a área de efeitos especiais parece ser a mais carente nesse aspecto,

além de ser a que mais sofre com o tecnicismo. Ela é, portanto, o objeto de estudo

ideal, na medida em que constitui um bom exemplo dos resultados que podem ser

obtidos ao alinhar os conceitos de design à realização cinematográfica.

Vale a pena lembrar que a edição ou montagem fílmica, por exemplo, não

era muito entendida ou valorizada até o aparecimento de estudos mais

aprofundados, a partir pesquisadores e realizadores como Kuleshov, Vertov,

Pudovkin, Eisenstein e outros. Nos dias de hoje isso acontece com relação ao

estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-

los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”, pode ser de grande

valia para o reconhecimento dessa área no meio acadêmico.

Também representados pela sigla SFX (special effects), os efeitos especiais

constituem um campo de ação extremamente amplo e rico em possibilidades. Eles

podem atuar diretamente no set1, como nas cenas de explosões e pirotecnias em

geral; podem ser construídos pela manipulação do filme na edição ou pós-

produção, como os efeitos de recorte e mascaramento, e podem ser recriados

totalmente, por meio da construção de personagens e locações tridimensionais

em computador. São técnicas de ilusionismo que, muitas vezes, tiram proveito das

características óticas ou limitações das lentes, com uso de miniaturas, engenhocas

1 Set é denominação genérica para o local (locação) ou estúdio em que ocorre a captação

(filmagem), na etapa de produção do filme.

Page 13: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

12

eletrônicas ou grandes maquinários para criar a atmosfera demandada pelo filme.

Pode-se dizer que uma de suas funções primárias é a persuasão do público, a fim

de fazê-lo acreditar na história.

Os SFX são tão antigos quanto a própria narrativa cinematográfica. Foram

descobertos nos experimentos de Georges Méliès, já no final do século XIX, e

aperfeiçoados nos projetos de Fritz Lang, nos anos de 1920. A partir de 1970

ressurgiram como elemento de impacto nos filmes de ficção científica, ação e

aventura, como Tubarão (Jaws, 1975) e Caçadores da Arca Perdida (Raiders of the

Lost Ark, 1981), ambos de Steven Spielberg. De fato, segundo Pinteau (2004), o

renascimento da indústria cinematográfica norte-americana nesse período se dá,

em especial, devido ao protagonismo dos efeitos especiais na produção dos filmes

voltados ao grande público.

A popularização dos efeitos pela indústria de Hollywood fomentou o

desenvolvimento tecnológico, inicialmente baseado em sistemas analógicos e,

algumas décadas depois, nos digitais. Essa proliferação dos SFX gerou também

certa banalização, dando início aos chamados “filmes de efeitos”, nos quais a

narrativa fica em segundo plano, e a ênfase é dada, principalmente, às cenas com

explosões, perseguições e grandes acidentes.

Por outro lado, no Brasil, o Neorrealismo Italiano2 e o cinema moderno

francês, em especial a Nouvelle Vague3 foram fonte de inspiração para críticos e

2 O Neorrealismo Italiano surgiu no final da II Guerra Mundial. No cinema, buscava-se um enfoque

realista das histórias, evitando o uso de estúdios, efeitos especiais e outras manipulações no filme.

Os principais diretores desse movimento foram Roberto Rosselini, Vittorio De Sica e Lucchino

Visconti.

3 Nouvelle Vague foi um movimento iniciado no cinema francês por jovens cineastas como uma

forma de protesto e também busca de novos padrões estéticos e narrativos, em oposição,

principalmente, às convenções da indústria cinematográfica norte-americana. Esse movimento

influenciou (e ainda influencia) gerações de cineastas e foi, juntamente com o Neorrealismo

italiano, uma das bases iniciais do Cinema Novo no Brasil, encabeçado pelo cineasta Glauber Rocha.

Os principais cineastas da Nouvelle Vague foram: Claude Chabrol, Jean-Luc Godard e François

Truffaut.

Page 14: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

13

realizadores. O Cinema Novo4 brasileiro, embasado nesses movimentos, surgiu nos

anos de 1950, politicamente alinhado contra o imperialismo norte-americano,

desprezando a produção cinematográfica de Hollywood (Rocha, 2004). É nesse

contexto histórico e político que as ficções científicas e os filmes de efeito são

classificados como uma categoria irrelevante da produção cinematográfica

nacional. A criação de efeitos especiais era percebida como uma forma cara e

comercial, que não contribuía muito para a construção do cinema em nosso país.

Rejeitava-se até mesmo as filmagens feitas em estúdio, segundo Rocha (2004):

Um diretor que acredita na realidade, que pretende filmar um fato – falo do cinema de ficção – no local em que se passou a verdadeira ação, com ou sem atores, mas dentro de uma cenografia viva, captando ou não esse som, mas captando o som fundamental desse lugar, o som que mais representa, as cores e os elementos, está fazendo um filme de verdade. É um diretor que acredita na realidade e não na imagem, que não vai para o estúdio fazer uma imagem forjada, num cenário forjado, acrescentando na imagem dados de alienação, porque todos esses dados estetizantes são dados de alienação (Ibidem, p.42).

Assim, os efeitos especiais também eram percebidos como elementos dos

filmes de mercado e não constitutivos de uma obra autoral. Talvez por esse motivo

ainda sejam vistos no cinema brasileiro apenas como um conjunto de tarefas

operacionais e técnicas. Ainda não estão no mesmo patamar de importância, em

termos de reconhecimento enquanto linguagem, que a Direção de Fotografia, por

exemplo.

Pensar sobre um sistema de criação, no qual a organização dos efeitos

especiais ocorre a partir do design pode facilitar os procedimentos e as etapas não

tão claras na maioria dos projetos. Faltam processos mais definidos, atividades

projetuais, formação especializada e metodologia consistente. Assim, a

possibilidade de discutir os procedimentos atuais de geração de efeitos especiais,

4 O Cinema Novo, surgido nos anos de 1950, alinhava-se contra as grandes produções cinematográficas norte-americanas e as chanchadas, defendendo um cinema de baixo custo, politizado e que refletisse a realidade do país. Alguns dos cineastas de destaque desse movimento foram: Glauber Rocha, Nelson Pereira dos Santos, Cacá Diegues, Rogério Sganzerla, Ruy Guerra, Joaquim Pedro de Andrade e Leon Hirszman.

Page 15: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

14

contrapondo-os com as propostas e soluções oferecidas pelo design é o grande

desafio deste trabalho. Pretende-se defender o design de efeitos especiais como

um campo do design, ampliando também suas possibilidades como recurso

estético do cinema.

Quanto à metodologia adotada, buscou-se entender, por meio da análise

bibliográfica, o conceito específico de efeitos especiais, isto é, quais são os

elementos técnicos, de linguagem ou projetuais que os caracterizam. Um ponto

importante foi a análise dos efeitos especiais como expressão das novas

tecnologias e do design, feita a partir do estudo de textos que relacionam o design

e a produção audiovisual. Foram também escolhidos três filmes que

representassem o universo criativo que poderia ser abarcado pelo design de

efeitos especiais, ou seja, obras nas quais poderíamos identificar um projeto claro

e bem definido na orientação da construção de tais efeitos.

No primeiro capítulo são discutidos os aspectos que caracterizam a

linguagem cinematográfica, bem como a relação entre arte e design na construção

de filmes. A seguir, os efeitos especiais são apresentados a partir de uma

perspectiva histórica e dos processos e técnicas que os constituem.

Na área de linguagem cinematográfica foram consultados os autores Jacques

Aumont (1994), Vilém Flusser (2008), Lev Manovich (2007), Juan Droguett (2004) e

Donis A. Dondis (2003). Para a análise entre arte e design no cinema, boa parte das

referências vieram dos estudos de Luiz Antônio Coelho (2008), em sua análise dos

conceitos-chave para o design e Bernhard Bürdek (2005), Gui Bonsiepe (1997) e

Richard Hollis (2001), nas definições relacionadas especificamente ao design. Para

os conceitos ligados à arte, Debrix e Stephenson (1969), Anatol Rosenfeld (2002) e

Lucimar Frange (2003) foram as referências utilizadas.

Especificamente nas áreas de direção de arte e design de produção para

cinema foram consultados Charles Tashiro (1998), Vincent Lo Brutto (2002),

Michael Rizzo (2005) e Mauro Baptista (2006). A base teórica para a história do

Page 16: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

15

cinema, em especial nos anos de 1960 e 1970, foram os autores David Cook

(2002), Fernando Mascarello (2006) e o trio Thomas Elsaesser, Alexander Horwath

e Noel King (2004). Para o estudo das características do cinema clássico foi

adotada a definição de David Bordwell e Kristin Thompson (2003). Na reconstrução

da história dos efeitos especiais foram de fundamental importância os autores

Pascal Pinteau (2004), Richard Rickitt e Jay Harryhausen (2007).

No segundo capítulo são reconhecidos e analisados alguns elementos de

linguagem determinantes para criação da identidade visual de um filme. Tais

elementos são abordados a partir de três perspectivas diferentes: do frame ou

imagem estática, da imagem em movimento e das intervenções imagéticas

realizadas em ambas as situações anteriores para a construção do universo

ficcional representado pelo filme.

São fundamentais para essa análise as contribuições de Susan Sontag (2004),

Marcel Martin (2007), além de retomarmos alguns dos autores já citados, como

Flusser (2002), Debrix e Stephenson (1969). Na parte relacionada às intervenções

na imagem, temos em especial as contribuições de Vicente Gosciola (2003) e Luiz

Leocádio da Nova (2009). No estudo das camadas e composições, acrescentam-se

os autores Hélio Jorge de Carvalho (1999) e Bruno Munari (2006).

No terceiro capítulo, a produção de efeitos é analisada em três filmes:

Rebobine Por Favor (Be Kind, Rewind, 2008), de Michel Gondry; Kill Bill (2003), de

Quentin Tarantino e Livro de Cabeceira (The Pillow Book, 1996), de Peter

Greenaway. Nesses três exemplos serão abordados os diferentes usos dos efeitos

especiais como elementos projetuais da linguagem do filme.

Em Rebobine, Por Favor (2008), utilizam-se alguns dos conceitos ligados à

gambiarra, descritos por Rodrigo Boufleur (2003). Há também aspectos da

bricolagem, discutidos por Maria Cecília Loschiavo dos Santos (2003), contrapondo

com o conceito de projeto, defendido por André Villas-Boas (2003). Em Kill Bill

(2003) são utilizados Elizabeth Gonçalves e Denis Porto Renó (2009), Maria Teresa

Page 17: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

16

Denser (2008), Patrick McGee (2007) e Ana Vicentini Azevedo (2006). Para a

análise de Livro de Cabeceira (1996), além de Nova (2009), Gosciola (2003),

Carvalho (1999) e Manovich (2007), temos Randolph de Souza (2009) que traz os

aspectos da colagem e Rick Poynor (2003).

É importante salientar que os termos relacionados à linguagem

cinematográfica ou fílmica aqui utilizados, enfatizam a análise visual da obra.

Embora o som tenha papel fundamental na construção, significação e impacto das

cenas, não será tratado de forma aprofundada.

Page 18: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

17

1 Os efeitos especiais e a linguagem cinematográfica

Para entender como os efeitos especiais podem contribuir com o conceito

visual de um filme é preciso uma compreensão mais clara do significado da

linguagem cinematográfica e das relações entre design e arte. Por esse motivo é

fundamental conhecer o papel do design de produção5 e da direção de arte na

materialização dessa linguagem.

É importante explicar aqui que a função de direção de arte em um filme é

muito diferente daquela aplicada na área gráfica, no design ou na publicidade, por

exemplo, embora a denominação seja a mesma. A direção de arte no cinema está

ligada à supervisão e gerência de três departamentos básicos: figurino,

maquiagem e cenografia. Desse modo, as tarefas do diretor de arte em uma

agência de publicidade têm um paralelo mais próximo, no cinema, às

responsabilidades delegadas ao designer de produção.

Ao discutirmos arte e design, abordaremos também o papel do design de

efeitos especiais na construção do filme, quais os seus principais objetivos e como

ele pode dialogar com as demais áreas, a fim de obter um efeito que esteja

afinado com a proposta da direção.

Com esses elementos, pretende-se traçar uma linha conceitual norteadora,

partindo da definição básica de linguagem, para transpô-la ao cinema. Depois será

feita a análise de como a direção de arte e o design de produção contribuem para

a construção do conceito visual do filme e de que modo o design de efeitos

especiais pode colaborar com a aplicação desse conceito.

5 Entende-se por design de produção no cinema a área responsável pelo projeto e/ou

planejamento estético do filme. Essa definição, no entanto, pode variar de autor para autor ou ter

atribuições diferentes, dependendo do país em que se aplica.

Page 19: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

18

Por fim, será apresentada uma perspectiva histórica dos efeitos especiais,

com destaque para algumas das principais técnicas e realizadores que

revolucionaram a área em cada período.

1.1 A linguagem cinematográfica: relações entre design e arte

Segundo Aumont (1994), o conceito de linguagem cinematográfica surgiu

com os primeiros teóricos do cinema, em especial Ricciotto Canudo e Louis Delluc,

para definir um novo meio de expressão, considerado, na época, universal e

distinto da linguagem verbal. O autor destaca diversos movimentos entre

intelectuais e cineastas, russos e franceses, no sentido de criar uma gramática

cinematográfica, que adequasse “a linguagem do filme ao uso de ‘bons autores’”,

permitindo a “aquisição de um ‘bom estilo cinematográfico’, ou de um ‘estilo

harmonioso’” (AUMONT, 1994, p.166). Ramos (2005), porém, questiona esse tipo

de abordagem:

Um filme específico oferece um texto ou um discurso; um grupo de filmes, idem. A analogia da linguagem é atraente porque permite aos críticos a aplicação de protocolos de interpretação literária. (...) A maior parte dos acadêmicos da área de cinema continua a sentir um certo desconforto com a análise dos aspectos visuais e sonoros dos filmes, preferindo, em lugar deles, os aspectos que se ajustam ao comentário literário tradicional – trama, personagens e diálogos (RAMOS, 2005, p.49).

Percebe-se aqui uma primeira tensão no que diz respeito ao entendimento

do conceito de linguagem cinematográfica. Por um lado, procura-se compará-la à

linguagem verbal ou escrita, utilizando os mesmos parâmetros aplicados ao léxico

na compreensão do filme, por outro, existem teóricos que reivindicam ao cinema

uma linguagem própria, fundamentada principalmente na geração de significado a

partir das imagens em movimento, mas ainda em desenvolvimento. Quanto a isso,

Flusser (2008) mostra-se pessimista, ao afirmar que demoraram séculos, desde o

surgimento da escrita, para que o ser humano aprendesse a narrar e que, do

Page 20: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

19

mesmo modo, ainda vai levar muito tempo para que descubramos o que é filmar

ou fotografar.

Arnheim (2005) entende que a insegurança em relação ao entendimento da

obra visual é fruto de nossa educação, focada nas palavras e não na compreensão

e expressão por meio do audiovisual. Esse desconforto, gerado pela relação

dominante do discurso verbal sobre o visual, pode ser observado em muitas obras

e autores contemporâneos como Peter Greenaway, que aborda o tema no filme O

Livro de Cabeceira (The Pillow Book, 1996). Para Manovich (2007), a questão já

começa na hora de interagir com a interface: o livro ou a revista são objetos

sólidos, criados a partir de páginas separadas, de modo que as ações envolvem a

navegação linear de uma página à outra, podendo haver marcação de páginas

individuais ou o uso do índice; por outro lado, no caso do cinema, sua interface

física envolve a organização específica da arquitetura de uma sala de projeção,

sendo que “a sua metáfora é uma janela aberta para um espaço virtual em 3D”

(MANOVICH, 2001, p.83). Na verdade, a linguagem cinematográfica desenvolve-se

a partir dessa costura entre as linguagens escrita, oral, musical e visual.

Para Droguett (2004), a linguagem cinematográfica pode ser analisada

também pela perspectiva da sintaxe visual: “o ângulo, a câmera, a linha e o

contorno acrescidos da cor e dos gradientes tonais” (DROGUETT, 2004, p.91). O

autor acrescenta que a linguagem visual, flexível e complexa, tem maior

maleabilidade do que a linguagem verbal, opinião corroborada por Dondis (2003),

ao afirmar que a característica dominante da sintaxe visual é a complexidade. A

autora utiliza o termo “alfabetização visual”, mas afirma que tentar estabelecer

uma relação entre a inteligência visual e a linguagem verbal é inútil. Além disso,

distancia-se da idéia simplista de que a linguagem é meramente uma técnica

aplicada. Segundo Dondis (2003, p.27), “a habilidade técnica para o manuseio do

equipamento não é suficiente”, a autora afirma que a capacidade intelectual para

criar e compreender mensagens visuais é necessidade vital para quem deseja

atuar no campo da comunicação.

Page 21: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

20

No entanto, o estudo da linguagem ou da sintaxe visual cinematográfica

perpassa a análise da imagem congelada ou frame: é preciso entender a relação

entre os planos, estabelecida na etapa de edição ou montagem do filme. De

acordo com Eisenstein (2002b, p.16) “a justaposição de dois planos isolados

através de sua união não parece a soma de um plano mais outro plano, mas o

produto”. Para o autor, esse produto tem um resultado qualitativamente diferente

de cada um dos planos originais. Esse conceito também é conhecido como

montagem dialética ou intelectual de Eisenstein. Carrière (2006, p.16) concorda

com a idéia de que a relação entre os planos é um dos diferenciais da linguagem

cinematográfica: “foi aí, na relação invisível de uma cena com outra que o cinema

realmente gerou uma nova linguagem”. Percebe-se, então, que a montagem do

filme e mesmo a movimentação da câmera inserem novas variáveis à noção de

sintaxe imagética, e que o próprio conceito de linguagem cinematográfica,

segundo as definições apresentadas, transita entre diferentes princípios e teorias.

Em uma definição mais próxima ao design, Coelho (2008, p.41) afirma que a

linguagem surge da “combinação de associações e referências, com base em

código e repertório partilhados por sujeitos de um grupo social e histórico,

gerando informação e comunicação”. Aqui, acrescenta-se à discussão a questão do

“contrato invisível” entre pessoas de um mesmo grupo, estipulando normas e

chegando a um consenso para a validação eficaz da inteligibilidade e

comunicabilidade inerentes a uma linguagem convencionada. Para Royo (2008),

existe um ciclo, de modo que as tecnologias de comunicação servem à cultura de

uma época por meio da linguagem, que é configurada pelo design, condicionado,

por sua vez, pela cultura. É uma cadeia imbricada de influências e referências, mas

tendo o design como um dos motores dessa mudança.

De acordo com Bürdek (2005), a vida da maioria das pessoas seria

inimaginável sem o design. Ele nos acompanha o dia todo nas mais diversas

atividades, como: trabalho, lazer, educação, serviços ligados à saúde, esportes,

transporte de pessoas e bens, setor público, etc. Todas essas situações contêm

Page 22: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

21

objetos do design. Ele pode estar muito próximo, como na moda, ou distante,

como nas viagens espaciais. Para o autor, o design determina não apenas a

existência, mas também a natureza, ou a essência, de algo. Essa essência

manifesta-se pelos símbolos utilizados por cada grupo social. Porém, para Flusser

(2008), o ser humano perdeu o contato direto com os símbolos e, por esse motivo,

criou os sistemas de códigos como uma forma de superar o abismo entre ele e o

mundo. Uma dessas materializações do código é o próprio design.

Bürdek (2005) afirma que nossa comunicação com outras pessoas se dá por

meio de produtos, que definem também os grupos sociais aos quais pertencemos,

marcando o nosso lugar individual na sociedade. Flusser (2008) acrescenta que

esses produtos não precisam ser necessariamente objetos materiais, ou seja, é

possível a aplicação do design em softwares, por exemplo. De qualquer modo, a

comunicação é sempre de modo a atender as necessidades ou expectativas de

alguém. Para Hollis (2001) essas expectativas são atendidas na aplicação das três

funções básicas do design: identificar (dizer o que é determinada coisa e de onde

ela veio), informar/instruir (relacionando duas coisas de acordo com a direção,

posição e escala) e apresentar/promover (no caso do design gráfico significa

prender a atenção, tornando a imagem inesquecível). No caso do cinema, a

execução dessas funções passa invariavelmente pela direção de arte e pelo design

de produção.

Design de produção e direção de arte são dois termos que definem áreas

específicas da realização de um filme e que, curiosamente, destacam já em suas

respectivas nomenclaturas, dois conceitos importantes para o estudo da

linguagem cinematográfica: design e arte. Por esse motivo é de suma importância

entender de que modo essas duas áreas completam-se e/ou tensionam-se na

realização cinematográfica e como, dessa sinergia e/ou conflito, é construída a

linguagem visual do filme.

Abordando o conceito de arte, Rosenfeld (2002, p.208) acredita que “através

da manifestação sensorial e individual, a arte faz transparecer uma dimensão mais

Page 23: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

22

profunda, que é de ordem espiritual”. Já Debrix e Stephenson (1969, p.17)

definem a arte como o “processo pelo qual o artista utiliza sua experiência,

intuição ou inspiração (...) para criar belos e autênticos objetos artísticos que (...)

imitam a realidade”. Frange (2003) considera que arte é algo intimamente ligado a

uma exteriorização do sujeito em diferentes níveis, criando uma pessoalidade e

uma coletividade, conectadas por um único discurso visual, relacionado a muitos

outros. A partir desses extratos, percebe-se um aspecto muito forte, presente em

várias definições aplicadas à arte: ela tem como ponto de partida a materialização

de algo que está no sujeito.

Quanto ao design, nota-se que em diversas situações há um equívoco ou

simplificação de seu significado. Denis (2000) afirma que o significado da palavra

design não é simplesmente desenhar, ela tem raízes na língua inglesa e no latim,

em ambas com pelo menos dois sentidos distintos: designar (planejar) e estruturar

(desenhar). Segundo Coelho (2008, p.187), a função geral do design é “dar forma a

artefatos, considerando um projeto previamente elaborado com uma finalidade

objetiva específica”, considerando-se o processo de fabricação, a função, o uso

definido pelas pessoas, o mercado, a utilidade determinada pelo projeto e a

qualidade formal. Cada área, no entanto, adapta o conceito e recria significados

para o design. Neste ponto cabe um pequeno esclarecimento: é preciso perceber

as diferenças entre o design para um filme e o design do próprio filme. Para

compreendermos essa afirmação a obra cinematográfica precisa ser analisada a

partir de duas perspectivas distintas: a composição dos elementos que uma cena

contém (como a cenografia, o figurino e a maquiagem) e a concepção da obra

como um todo.

Uma vez que a maioria dos filmes contêm cenários e personagens, tais

elementos podem ser concebidos por diversas áreas do design, como, por

exemplo, o design de interiores da casa do protagonista. Esse microcosmo do

design para um filme atua como um elemento da direção de arte. A produção de

objetos é outra área da produção cinematográfica que conta com a formação do

Page 24: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

23

designer para propor cenários mais significativos para a construção da narrativa.

Há também o vestuário que apresenta visualmente o perfil do personagem ao

elaborar gostos e preferências, comportamentos e gestualidades específicos.

Entende-se os personagens como o centro desse microcosmo - cenário, objetos,

figurino e maquiagem articulam-se para compor o universo de significação de cada

enredo. O filme Quero Ser Grande (Big, 1988), por exemplo, conta a história de

um menino que tem seu desejo atendido e acorda em um corpo de adulto,

interpretado por Tom Hanks. Em uma das sequências ele ganha muito dinheiro,

compra uma cobertura e passa a mobiliá-la de acordo com a concepção infantil do

que seria ideal para o seu novo lar: uma máquina de refrigerantes na sala, cama

elástica e muitos brinquedos (figura 1).

Figura 1: a decoração ideal do apartamento na visão de um garoto de 13 anos. Imagens do filme

Quero Ser Grande (Big, 1988).

Fonte: <blog.designpublic.com>

Há, no entanto, outro fator que influencia o aspecto visual de um filme: o

conceito ou linha estética adotada para a obra, ou seja, o design do filme. Todo o

projeto de um filme, e não apenas elementos específicos, pode ser objeto da ação

do designer. Por exemplo, as escolhas cromáticas do filme O Fabuloso Destino de

Amélie Poulain (Le Fabuleux Destin d'Amélie Poulain, 2001) destacam uma paleta

entre o vermelho e o verde. O uso dessas cores, então, passa a definir a cenografia

e o figurino, não mais por uma necessidade do personagem, mas pela escolha

estética, em última instância, do diretor. Esse é o macrocosmo, definido pela visão

ou conceito estético do diretor, influenciado ou não pela direção de arte e pelo

design de produção.

Page 25: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

24

Um exemplo característico é o personagem Curinga, dos quadrinhos do

Batman. Pensando nas adaptações para o Cinema, temos duas linhas estéticas

bem distintas nos filmes Batman (1989) e Batman – O Cavaleiro das Trevas (Dark

Knight, 2008). Na primeira versão, o personagem é interpretado por Jack

Nicholson e na segunda, por Heath Ledger. Observando apenas o figurino

podemos perceber que conceitos diferentes são atribuídos ao mesmo personagem

a partir da visão que os respectivos diretores tiveram da obra. Na versão mais

recente, o Curinga aparece com vestuário menos colorido, rosto mais cinza,

maquiagem borrada e visual bem deteriorado (figura 2).

Figura 2: à esquerda o personagem Curinga, interpretado por Jack Nicholson (Batman, 1989) e o mesmo personagem, por Heath Ledger (The Dark Knight, 2008). Fonte: <www.nydailynews.com>

Entende-se, assim, a relação entre arte e design na obra cinematográfica não

como campos do conhecimento separados, mas como um exercício de

interdependência materializada em uma série de ações projetuais; a ação do

designer pode manifestar-se desde a criação até a finalização de um filme visando

construir uma obra estética que deve comunicar.

Page 26: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

25

Flusser (2008) critica a burguesia moderna que, segundo ele, foi responsável

pela separação das artes e das técnicas, dividindo a cultura em dois ramos

distintos: “por um lado, o ramo científico, quantificável, ‘duro’; e por outro o ramo

estético, qualificador, ‘brando’” (FLUSSER, 2008, p.183). O resultado disso pode ser

observado na afirmação de Bonsiepe (1997) de que o design é visto na América

Latina com um certo preconceito, como se fosse apenas cosmética, limitado a

adicionar elementos decorativos aos projetos advindos da engenharia. Esse ponto

de vista também é compartilhado por muitos realizadores no cinema, que

compreendem o design de produção apenas como a elaboração de adornos para

cenários e personagens, e o design de efeitos especiais como simples pirotecnia.

Tanto arte como design são determinados por processos criativos, mas

apresentam diferenças no ponto de partida. Pelo diagrama lógico de Bonsiepe

(1997) o início do design está no desejo do usuário (em realizar uma ação efetiva),

já para Debrix e Stephenson (1969), a gênese do processo artístico encontra-se no

desejo do artista em expressar-se. Dessa forma, entende-se que a realização

cinematográfica, em seu aspecto multifacetado, abarca tanto a criação artística,

como a do design.

É na etapa de produção que se configuram mais intensamente os processos

do design. Se o cinema de arte tem como objetivo a expressão de um artista para

um determinado público, para Flusser (2008) o design no cinema visa iludir,

persuadir e convencer o espectador, não de uma idéia em si, mas da realidade que

ele presencia. Segundo o autor:

A palavra design nasceu nessa brecha, como uma espécie de ponte entre esses dois mundos. E isso foi possível porque essa palavra exprime a conexão interna entre técnica e arte. Por isso o design significa aproximadamente aquele lugar em que a arte e a técnica (...) caminham juntas (FLUSSER, 2008, p.184).

O design atua na função de materialização e legitimação da realidade

proposta pela obra fílmica ficcional ou documental. Para Tashiro (1988, p.XIV) “o

design de um filme trabalha a partir da diferença entre o mundo físico, tal como é,

Page 27: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

26

e as necessidades de uma narrativa específica”. Como conseguimos acreditar que

o super-homem pode voar? Foram os processos e técnicas ligados aos efeitos

especiais, que permitiram essa ilusão. Flusser (2008) defende que o ponto de

encontro entre o design e a arte situa-se no campo do ilusionismo.

A realização cinematográfica finaliza-se quando a obra é apresentada

publicamente, nas salas de exibição. Esse processo tem origem na intenção e nos

desejos de um criador, materializado essencialmente nas figuras do diretor e do

roteirista, que pretende transmitir uma mensagem a um determinado público.

Dessa forma, o cinema de autor, definido primeiramente por Truffaut (2006) como

uma das bases da Nouvelle Vague, teria mais elementos que o identificam como

obra artística do que um filme comercial. No entanto, essa separação, na prática,

não é tão simples assim. Onde se enquadraria, por exemplo, Kill Bill (2003) de

Quentin Tarantino? Não apresenta esse filme uma forte pessoalidade (filme de

autor)? Não faz ele inter-relações culturais, sociais e no âmbito do próprio

universo cinematográfico? No entanto, Kill Bill teve uma ampla campanha de

divulgação, criação de produtos de consumo conexos e muitos efeitos especiais,

como um blockbuster6.

6 Blockbuster é um conceito difundido a partir dos anos de 1970 para denominar filmes feitos para

o mercado, extremamente competitivos e com grande apelo para o público. São os filmes de

grandes bilheterias e, geralmente, contam com um orçamento bastante alto.

Page 28: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

27

1.2 Design de efeitos especiais:

o design de produção + direção de arte

Na prática cinematográfica duas funções específicas respondem pela

materialização e construção da linguagem visual: o design de produção e a direção

de arte, e neste item pretende-se apontar a partir de alguns autores como estas

ações convergem mais do que competem para o desenvolvimento do projeto

fílmico.

Conforme já foi dito anteriormente, a direção de arte do filme engloba

genericamente os três principais departamentos relacionados à criação visual:

cenografia, figurino e maquiagem. Lo Brutto (2002) considera que o diretor de arte

atua mais durante a produção, como um assistente executivo do designer, além de

lidar com as questões diárias e práticas da realização, com a equipe e com os

fornecedores. Na perspectiva de Rizzo (2005), no entanto, o diretor de arte lidera

o departamento e relaciona-se com os outros setores, supervisionando a

fabricação dos cenários e controlando o orçamento, por exemplo. O autor ainda

afirma que, embora a inventividade do diretor de arte seja essencial para dar

suporte ao conceito criativo do designer, a totalidade do design, no que diz

respeito à sua concepção e responsabilidades, pertence somente a este.

O título de designer de produção, surgiu nos Estados Unidos nos anos de

1930, mais especificamente quando David O. Selznick, produtor do filme E o Vento

Levou (Gone With The Wind, 1939) homenageou Cameron Menzies, seu diretor de

arte, com essa função nos créditos, por acreditar que ele havia ido além de suas

atribuições, chegando a co-dirigir algumas cenas.

De modo geral, design de produção coordena a direção de arte e é

responsável por todos os departamentos que lidam com a mise-en-scène7 de um

7 Mise-en-scène é um termo francês que significa, literalmente, colocar ou inserir algo na cena. No

cinema, a expressão é utilizada para referir-se ao design de uma cena e, de forma geral, diz

respeito a tudo o que aparece no enquadramento: atores, cenário, figurino, objetos de cena e

mesmo a iluminação.

Page 29: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

28

filme. O designer participa da elaboração de todo o aspecto visual, de modo a

delinear uma identidade consistente para o filme. Para Lo Brutto (2002), o design

de produção fica no topo do departamento de arte sendo também responsável

pelo ambiente físico, estúdios e locações, supervisionando o trabalho de figurino e

maquiagem e coordenando a construção dos ambientes do filme. O designer de

produção reporta ao produtor do filme pelas questões físicas, como a construção

do cenário, e responde artisticamente ao diretor, a fim de validar o potencial

criativo do roteiro. Segundo o autor, “o designer de produção busca a intenção e o

potencial visual do filme, de modo que possa ser consolidado no ambiente físico”

(LO BRUTTO, 2002, p.34).

Rizzo (2005, p.21) afirma que “embora os termos ‘designer de produção’ e

‘diretor de arte’ sejam constantemente usados em substituição um ao outro, não

são intercambiáveis ou sinônimos”. Percebe-se que, mesmo nos Estados Unidos,

onde essas funções estão mais delineadas, há alguma confusão quanto aos papéis

empenhados. Por exemplo, a quem cabe supervisionar o local das filmagens? O

papel do designer de produção é predominante apenas na pré-produção?

Quando essas funções são aplicadas no Brasil, a dificuldade torna-se ainda

maior. Para Baptista (2006), ainda há muita confusão na designação das funções e

no uso correto dos termos em nosso país: “no Brasil, mesmo que se faça design,

ainda costuma-se falar de direção de arte” (BAPTISTA, 2006, p.12).

O quadro anexo ao decreto n° 82.385, de 5 de outubro de 1978, que dispõe

sobre as profissões de artista e de técnico em espetáculos e diversões, descreve a

função da direção de arte no Brasil:

Cria, conceitua, planeja e supervisiona a produção de todos os componentes visuais de um filme ou espetáculo; traduz em formas concretas as relações dramáticas imaginadas pelo Diretor Cinematográfico e sugeridas pelo roteiro; define a construção plástico-emocional de cada cena e de cada personagem dentro do contexto geral do espetáculo; verifica e elege as locações, as texturas, a cor e efeitos visuais desejados, junto ao Diretor Cinematográfico e ao Diretor de Fotografia; define e conceitua o espetáculo estabelecendo as bases sob as

Page 30: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

29

quais trabalharão o Cenógrafo, o Figurinista, o Maquiador, o Técnico de Efeitos Especiais Cênicos, os gráficos e os demais profissionais necessários, supervisionando-os durante as diversas bases de desenvolvimento do projeto (Decreto 82.285/78).

Percebe-se que a lei mescla na descrição da direção de arte, diversas funções

que, em outros países, são atribuídas ao design de produção. Talvez esse seja o

começo da confusão que se faz acerca dessas duas funções correlatas, porém

distintas. Muitas vezes é a experiência prática e diária dos profissionais que ajuda

a entender a demarcação do campo de ação dessa atividade. Linda Berger,

diretora de arte, afirma em entrevista concedida a Rizzo (2005):

Às vezes, certos diretores de arte enfrentam dificuldades para realizar seus trabalhos porque tentam competir com o designer. (...) Só posso ser criativa em minha função se enxergar o projeto através dos olhos do designer. (...) A maior parte do meu trabalho é, então, contar a história por meio da interpretação das visões do designer de produção e do diretor (RIZZO, 2005, p.23-24).

A função exercida pelo designer de produção pode englobar todo o conceito

visual, desde a abertura até os créditos do filme (figura 3), a tipografia utilizada

(figura 4) e a supervisão das áreas coordenadas pela direção de arte, como a

cenografia, o figurino e a maquiagem. Em alguns casos, esse profissional pode

mesmo co-dirigir algumas cenas. O objetivo é potencializar a linguagem

cinematográfica, construindo uma identidade visual consistente, com elementos

predominantes, mas não exclusivos, da concepção do diretor.

Page 31: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

30

Figura 3: cena de abertura de Sweeney Todd – O Barbeiro Demoníaco da Rua Fleet (2007), de Tim

Burton, mostra, por meio de uma animação 3D, o caminho que a carne e o sangue das vítimas do

barbeiro percorre até transformar-se em recheio de empada.

Fonte: <screenmusings.org >

Figura 4: tipografia utilizada na abertura do filme Romeo + Juliet (1996), dirigido por Baz Luhrmann,

destaca a forte religiosidade presente nas duas famílias rivais.

Fonte: <screenmusings.org >

Na realização cinematográfica há uma função multidisciplinar que transita

entre a direção do filme, o design de produção e a direção de arte: a produção de

efeitos especiais. Pulverizados ao longo de todo o processo de criação da obra

fílmica, as equipes de efeitos especiais muitas vezes são tratadas apenas como

agregados técnicos e operacionais. Não raro são autônomos ou empresas

terceirizadas com pouco ou nenhum contato significativo com os departamentos

ligados ao conceito visual da obra.

Mais do que provocar incêndios e explosões, ou criar personagens em

computação gráfica, os efeitos especiais também influenciam a linguagem

cinematográfica. Além disso, validam técnicas que possibilitam de forma segura,

rápida ou mais barata, a reprodução de cenas perigosas, complexas e/ou

dispendiosas.

Page 32: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

31

O chroma-key8, por exemplo, utiliza preferencialmente um tecido verde ou

azul como fundo de uma cena, que pode ser substituído digitalmente (ou por meio

de aparelhagem específica) por qualquer cenário que represente um espaço físico

ou imaginário. Dependendo da situação e dos objetivos da direção, essa técnica

minimiza o custo e o tempo que seriam consumidos pela equipe caso tivessem que

se deslocar para o lugar e realizar a mesma cena.

Se o conceito de design de produção ainda tenta se firmar no Brasil,

mesmo após 70 anos da criação do termo, maiores ainda são os desafios de

reconhecer e valorizar a atividade do designer de efeitos especiais como criativas e

projetuais. Com a migração de boa parte dos efeitos físicos para o mundo digital e

o barateamento da tecnologia para produção desses efeitos, surge no Brasil um

novo campo de ação para esse profissional.

O designer de efeitos especiais opera no desenvolvimento de técnicas

distintas, com base na tecnologia vigente. As técnicas disponíveis em efeitos

especiais são as mais amplas e diversas, embora nem todas tão bem

documentadas ou devidamente analisadas. Na Antiguidade, segundo Coelho

(2008, p.109) o termo técnica significava “um conjunto de regras ou modo de agir

e operar na realização de uma tarefa” e cujo desenvolvimento é possibilitado pelo

avanço da tecnologia, vista como “o conhecimento que antecede a técnica”

(COELHO, 2008, p.111). Um exemplo clássico de mudança de paradigma

tecnológico ocorreu no momento em que o filme Parque dos Dinossauros (Jurassic

Park, 1993) abandonou as miniaturas robotizadas, já produzidas para o filme, para

adotar os modelos feitos em computação gráfica (figura 5), uma vez que eles já

haviam atingido um grau de realismo considerado satisfatório pelo diretor, Steven

Spielberg.

8 Chroma-key é um recurso técnico, ou trucagem, que permite substituir uma cor por outra ou por

uma imagem ou elemento gráfico. Muito utilizado em efeitos especiais, é mais frequente nas cores

azul ou verde.

Page 33: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

32

Figura 5 – cena do filme Jurassic Park, lançado em 1993, já com a inserção dos dinossauros feitos em computador. Fonte: <http://www.jurassicpark.com>

Coelho (2008) afirma que a interface é o elemento que conecta dois

sistemas ou uma pessoa a um sistema. Segundo Royo (2008, p.49), “em qualquer

tipo de comunicação entre um homem e uma máquina está implícito o conceito de

interface”. Essa interconexão, no cinema, ocorre por meio da tela que apresenta a

imagem fílmica como síntese de uma série de etapas. É por esse motivo que o

designer de efeitos especiais tem que elaborar precisamente o resultado desejado,

considerando que entre ele e o público existem muitas intervenções, por exemplo,

a montagem do filme, a correção de cor, a trilha, os efeitos sonoros, a projeção, a

tela e a sala de cinema ou o ambiente em que o filme será exibido.

Um dos desafios apontados pelo design é a compreensão das

possibilidades de uso de um determinado produto. Trazendo para o nosso objeto

de análise, o problema é saber como isso pode se materializar em um filme. Qual

seria a utilidade de uma obra cinematográfica? Essa utilidade materializa-se no

tipo de fruição proposta pelo gênero, por meio da sinopse, publicidade e

expectativa do púbico em relação ao filme. Quando há uma quebra dessa

expectativa ou se a obra fica aquém do esperado, pode surgir uma frustração.

É nesse contexto que o designer de efeitos especiais deve trabalhar. Em

conjunto com as demais funções irá validar a proposta do diretor e o conceito

Page 34: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

33

estético do design de produção. Todo filme, seja ficção científica ou obra

naturalista, trabalha com uma lógica própria, que termina por sustentá-lo e cabe

ao designer criar as estratégias que o farão verossímil.

A questão projetual, aspecto fundamental no design de efeitos especiais,

merece uma análise mais detalhada. Para Coelho (2008, p.219) projetar significa

“construir o problema nas suas derivações mais múltiplas quanto ao seu

significado”, considerando aspectos de produção, uso, impacto ao meio ambiente

e outras possibilidades. Percebe-se, no entanto, que em boa parte dos processos

de criação dos efeitos especiais ainda não há grandes preocupações além do

objetivo imediato, que é a obtenção do efeito em si. Um projeto consistente deve

conter os elementos apontados pelo autor como base principal e imprescindível

na realização de qualquer efeito.

Deve-se estudar o ambiente e avaliar o impacto que uma ação pode trazer,

bem como cuidar da preservação da saúde e integridade dos atores e dublês. É

preciso entender a função do efeito, criado de acordo com a proposta narrativa e

visual do filme, e também utilizar a melhor técnica disponível que ofereça

segurança, otimização de custos e resultados satisfatórios para o público.

Ao projetar um efeito, o designer deve estar ciente de todas essas

necessidades e variáveis envolvidas no processo de construção do filme. O

primeiro passo de seu trabalho é conhecer bem o roteiro, entender como a

história é desenvolvida. A partir daí, deve ter conhecimento da proposta ou visão

do diretor para o filme e como essa proposta está sendo analisada e construída

pelas demais áreas, como a direção de fotografia, direção de arte e design de

produção. Essa pesquisa básica ajudará na compreensão do contexto do efeito em

relação à obra.

A segunda etapa consiste em avaliar os materiais e técnicas que podem ser

utilizados para a realização de tais efeitos, considerando o orçamento previsto

para isso. Nem sempre os efeitos são caros, normalmente é o contrário, pois eles

existem também para baratear ou simplificar a realização de uma cena específica.

Page 35: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

34

Vamos imaginar que se queira fazer a explosão de uma ponte. Se essa for a

única informação, vários problemas podem surgir na realização do efeito, o pior

deles é colocar em risco o ambiente e a vida das pessoas. Se, no entanto, o

designer de efeitos já tiver visto o storyboard9 do filme poderá perceber, por

exemplo, que somente uma parte da ponte fica visível, não sendo necessário

produzi-la por completo. Em seguida, fará suas pesquisas para saber qual o melhor

processo ou técnica para a construção desse efeito.

Imaginando que esse designer tenha escolhido trabalhar com uma

miniatura da ponte outras questões podem surgir. Qual a melhor forma de

explodi-la? Qual tipo de material dará uma impressão mais realista? Como ela

deve ser construída? Haverá miniaturas representando os personagens ou eles

serão inseridos digitalmente na pós-produção? Quais profissionais serão

envolvidos? Qual o custo? Essas e outras questões permitirão projetar a melhor

alternativa, de acordo com a proposta do filme.

Além das questões técnicas apresentadas no parágrafo anterior, o designer

também deverá se preocupar com o impacto visual causado pelo efeito, buscando

entender como ele dialoga com o filme. Deve também pensar na cor do efeito

obtido, no som e em sua dimensão visual, por exemplo, para não ter uma cena

completamente deslocada do contexto do filme.

Após a aprovação do efeito pelo diretor, cabe ao designer cuidar para que o

projeto seja realizado de acordo com as especificações, buscando profissionais

com experiência e conhecimento suficientes para a sua materialização. Ele

também montará o cronograma de desenvolvimento desse efeito, de acordo com

os prazos estipulados para a realização da cena.

No dia da gravação todo o processo deve ser acompanhado para que não

haja falhas. Alguns tipos de efeitos são tão complexos que só podem ser feitos

9 Representação gráfica das cenas do filme, como se fosse uma história em quadrinhos. Mostra, em

especial, os ângulos de câmera, posicionamento dos personagens e uma prévia da dinâmica da

montagem esperada para a cena.

Page 36: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

35

uma ou duas vezes, de modo que, se ocorrer algum erro, haverá um aumento

considerável dos custos, para além do orçamento previamente aprovado.

Terminada a gravação, é na etapa de pós-produção que o designer

acompanhará a finalização do efeito, verificando a correção de cor, aplicação do

efeito sonoro e seu impacto na sequencia fílmica. O trabalho do designer de

efeitos especiais, portanto, começa no roteiro e só termina após a finalização do

filme.

É importante considerar que cada tipo de efeito terá uma demanda,

orçamento e processo diferentes, para os quais o designer deve buscar sempre a

melhor solução, a fim de alcançar o resultado desejado pela direção geral e

esperado pelo público.

Page 37: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

36

1.3 Panorama histórico dos efeitos especiais

O cinema em si já é um efeito especial: uma ilusão que transforma 24 fotos

por segundo em um movimento contínuo de aspecto realista. Essa ilusão, no

entanto, popularizou-se muito antes, em 1829, quando surgiu um dos primeiros

aparelhos que simulavam o movimento contínuo, o fenacistoscópio (figura 6), um

disco com uma animação simplificada, cuja observação podia ser feita por meio de

fendas ou a olho nu. Embora rústico, esse invento despertou grande curiosidade

na época, tornando-se um divertimento indispensável. O interesse do público

mantinha-se graças aos diversos estilos de animações que eram produzidas.

Outro invento mais simples, porém curioso, era o Taumatrópio (figura 7), um

brinquedo da era vitoriana. Podia vir em forma de colar ou preso a outro

brinquedo e consistia em uma chapa metálica, presa pelas extremidades. De um

lado havia um desenho, como uma ave, por exemplo, e do outro uma gaiola. Ao

girar a placa, ambos misturavam-se, formando um terceiro significado, como se as

duas imagens fossem uma só.

Houve também o kineógrafo (figura 8), de 1868, mais conhecido como flip

book ou animação de bloco de notas; os desenhos eram feitos em cada folhinha e

Figura 6 – Fenacistoscópio.

Fonte: North Carolina School of

Science and Mathematics.

Figura 7 – Taumatrópio.

Fonte: <http://de.academic.ru> Figura 8 - Kineógrafo.

Fonte: Educational Technology

Clearinghouse

Page 38: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

37

a animação surgia pela rápida sobreposição das imagens. Por esse motivo, esse

método também é conhecido como “cinema de dedo”.

Um invento importante para o cinema foi a Lanterna Mágica (figura 9), criada

pelo jesuíta Athanasius Kircher (1601-1680). Ela era um dispositivo que projetava

na parede imagens desenhadas em um vidro e colocadas na frente de uma

lanterna. Segundo Carvalho (1999), o grande sucesso alcançado pela Lanterna

Mágica já trazia o princípio de uma nova relação com a imagem, pois “nesse tipo

de espetáculo, elas já eram fragmentos estáticos que ajudavam a compor a

narrativa, muitas vezes combinando-se e intercalando-se com textos que

descreviam os acontecimentos da história” (CARVALHO, 1999, pp. 12-13).

Muitos anos depois, o mágico Robertson (1763-1837) descobriu que, ao

construir um clima favorável, com projeções de imagens de pessoas já falecidas ou

de personalidades históricas em um local cheio de fumaça, poderia criar a ilusão

de que trazia os mortos do além. Essa adaptação da lanterna mágica ficou

conhecida como Phantasmagoria (figura 10).

O cinema foi oficialmente trazido a público em 28 de dezembro de 1895 no

salão do Grand Café, no Boulevard des Capucines, em Paris, por ocasião da

apresentação da primeira projeção cinematográfica, feita pelos irmãos Lumière,

também responsáveis por um dos primeiros truques no cinema: um efeito

realizado no curta Demolição de Um Muro (Démolition D'un Mur, 1896). Nesse

Figura 9 - Lanterna Mágica.

Fonte: Educational Technology Clearinghouse Figura 10 – Phantasmagoria.

Fonte: <http://www.precinemahistory.net>

Page 39: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

38

filme, a derrubada do muro é rodada ao contrário, gerando a impressão de

reconstrução a cada golpe de marreta.

Voltando às primeiras exibições dos irmãos Lumière, em Paris, um dos

presentes era o mágico Georges Méliès, proprietário do Teatro Robert Roudin.

Segundo Pinteau (2004), encantado com a mágica de tal invento, Méliès tentou a

todo custo, mas sem sucesso, obtê-lo. Ele contou, então, com a ajuda de um

engenheiro para criar um protótipo semelhante. A intenção do mágico, de início,

era bem modesta: documentar seus números de ilusionismo. No entanto, um

imprevisto durante uma filmagem externa fez com que ele mudasse sua

perspectiva: ao filmar o movimento de veículos e pessoas na rua, sua máquina

emperrou por alguns segundos; quando foi revelar o negativo, presenciou a

transformação de um carro em movimento em uma carroça. Assim foi descoberto

o primeiro efeito, o stop-action, no qual um objeto transforma-se em outro ou

uma pessoa desaparece diante de nossos olhos. Para produzi-lo, basta

interromper a filmagem, substituir ou remover um objeto ou a pessoa e voltar a

filmar novamente. A ilusão funciona melhor se os demais elementos da cena

permanecerem no mesmo lugar.

Os primeiros efeitos especiais tinham um caráter experimental e não havia

ainda uma preocupação com a linguagem, Méliès, por exemplo, estava mais

interessado em explorar a mágica da técnica (figuras 11, 12 e 13).

Todas as ilusões criadas envolviam efeitos de corte, como o stop-action, já

citado, e manipulações diretas do negativo. Havia também os efeitos de

mascaramento (matte), algo tão avançado que continua a ser utilizado até hoje,

principalmente em composições de cenários. Funciona como uma espécie de

diagramação da cena, em que diversos elementos podem ser montados na

película, expondo partes diferentes do negativo. Pode-se, dessa forma, captar uma

pessoa em um fundo preto, criar uma máscara sobre ela (para evitar sua exposição

novamente) e depois sensibilizar a parte preta com uma imagem de um cenário

qualquer.

Page 40: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

39

No filme Homem com a Cabeça de Borracha (L'homme à la Tête en

Caoutchouc, 1901), Méliès utiliza a técnica da dupla exposição, isto é, a exposição

do negativo duas ou mais vezes, por inteiro ou em áreas demarcadas, gerando

uma composição de imagens em camadas.

Existem várias formas de chegar ao mesmo resultado. Ele pode ter filmado

primeiro a cena, como mostrado a seguir (figura 14-a), ensaiando os intervalos

para coincidirem com a reação da cabeça que ficaria ao centro (figura 14-b).

Depois, pode ter feito marcações no visor para saber onde a área preta estaria

posicionada. Note que a parte preta central não sensibilizará o filme. Dessa forma,

uma nova exposição é possível. Em seguida, controlou bem a área exposta, com o

uso de faixas ou telas para que a próxima imagem gravada nunca ultrapassasse a

Figura 11: quadro do filme Le Voyage Dans la Lune, de Georges Méliès. Fonte: MÉLIÈS, 1902.

Figura 12: quadro do filme Le Mélomane, de Georges Méliès. Fonte: MÉLIÈS, 1903.

Figura 13: quadro do filme L'homme à la Tête en Caoutchouc, de Georges Méliès. Fonte: MÉLIÈS, 1901.

Page 41: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

40

área preta no centro do cenário (figura 14-c). Rebobinando o filme, uma nova

imagem poderia ser gravada na película. A única parte sensibilizada seria o centro,

onde a imagem nunca deveria se sobrepor à moldura criada no cenário anterior,

ou o truque seria revelado (figura 14-d).

Figura 14: Processo de criação de efeito utilizando máscaras e dupla exposição: a) filmagem da

cena com a área mascarada. b) filmagem da pessoa ou objeto em fundo preto com a máscara na

região do pescoço, para deixar somente a cabeça visível. c) resultado da imagem mascarada.

d) resultado final da mesclagem do filme gerado em “a” e do rosto “c”, justapondo os dois

negativos.

Fonte: MÉLIÈS, 1901. Montagem feita pelo autor.

Cerca de 30 anos depois do surgimento do cinema, o cineasta Fritz Lang

também criou e estimulou experimentos com efeitos especiais. Em seu filme

Metrópolis (Metropolis, 1927), o responsável pelos efeitos visuais, Eugen

Schüfftan, criou um sistema de composição de imagens em tempo real utilizando

espelhos, de modo que os atores pudessem ser colocados em cenários imensos, a

partir de miniaturas refletidas. Em sua homenagem, essa técnica passou a ser

conhecida como “Processo Schüfftan” (figuras 15 e 16). Este processo consiste em

a b

c

d

Page 42: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

41

posicionar um vidro com uma área espelhada na frente da câmera, em ângulo de

45 graus. Esse efeito permite colocar na cena, em tempo real (sem a necessidade

de manipular o negativo depois), seres humanos e objetos dentro de miniaturas

de castelos, cavernas, etc.

Entre 1930 e 1960, os efeitos especiais

desenvolveram-se com o aprimoramento dos

efeitos de animação, como em King Kong, de

1933 (figura 17). As animações eram feitas com

bonecos articulados, quadro a quadro. Algum

tempo depois passaram a ser usados também

bonecos e próteses com movimentos mecânicos

ou eletrônicos, também conhecidos como

animatronics.

Figura 15: esquema de montagem do processo Schüfftan.

Fonte: <http://homepage.mac.com/cirquefilm> Figura 16: Resultado final do efeito. Fonte: idem.

Figura 17: cena do filme King Kong, 1933. Fonte: <http://www.logoi.com>

Page 43: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

42

Outro efeito, o glass-painting (figura 18) consistia em colocar um vidro na

frente da câmera e pintá-lo com objetos realistas que pudessem compor com o

cenário. De acordo com Miller (2006), o glass-painting, precursor do processo

Schüfftan, foi inventado em 1905 pelo cinegrafista Norman Dawn, como uma

solução barata e eficaz na criação de cenários complexos e fantásticos. Até hoje

filmes de grande orçamento utilizam essa técnica.

Figura 18: esquema do funcionamento do glass painting. Fonte: <http://www.intralinea.it>

Muitas vezes colocavam-se miniaturas ou placas de madeira ou alumínio

pintadas para criar falsos cenários (figura 19). Esses recursos representam a base

da maioria dos efeitos utilizados em filmes até meados dos anos de 1990. Foram

feitas melhorias na tecnologia, por meio da criação de materiais que

proporcionassem um resultado mais adequado, mas o processo continuou

basicamente o mesmo até o advento dos efeitos digitais.

Resultado final visto pela câmera

Imagem pintada em

vidro, que complementa

a paisagem real.

Page 44: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

43

Figura 19: pintura em duas placas de alumínio e a composição final no filme The Golden Voyage of Sinbad, 1974. Fonte: <http://domingo-lizcano.blogspot.es>

Todos os efeitos que utilizam uma camada de imagem (para representar um

cenário), sobreposta ao filme ou à locação real são designados genericamente de

matte paintings e podem ser obtidos de diversas formas como: pintura em vidro

(glass painting), placas metálicas pintadas, desenhos e colagens feitas no próprio

negativo e mesmo a composição digital, criada na etapa de pós-produção do filme.

Houve também o desenvolvimento das projeções frontais e traseiras, nada

mais que telas onde eram projetados os ambientes em que os atores deveriam

estar. A projeção traseira consistia em posicionar um projetor muito potente atrás

de uma tela que simularia o cenário, o ator apenas ficava na frente dessa tela e a

câmera captava tudo - ator e tela – como um único elemento. Um uso bastante

frequente dessas projeções ocorria nas cenas dentro de veículos em movimento

(figura 20), em especial entre 1950 e 1990. Normalmente isso era feito em estúdio

com um carro parado, tendo ao fundo uma tela onde eram projetadas as imagens

da rua, previamente captadas de um veículo real, conforme o esquema mostrado

a seguir (figura 21).

Page 45: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

44

Figura 20: projeção traseira em uma cena de perseguição no filme Dr. No, de 1962, da série OO7. Fonte: RICKITT & HARRYHAUSEN, 2007.

Figura 21: esquema de produção da projeção traseira para cenas dentro de veículos.

Fonte: RICKITT & HARRYHAUSEN, 2007.

A projeção frontal (figura 22) deriva diretamente do processo Schüfftan, pois

trabalha com a captura de duas imagens diferentes a partir de uma projeção a 45°

em relação à câmera. Rickitt e Harryhausen (2007) descrevem o seu

a) projetor de alto brilho

c) resultado final visto pela câmera

b) tela translúcida

Page 46: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

45

funcionamento (figura 23): a câmera (figura 23-a) capta, na verdade, a imagem da

tela semirreflexiva (figura 23-c); o cenário de fundo é emitido pelo projetor (figura

23-b), atinge a tela (figura 23-c), que reflete metade da luz para o fundo (figura 23-

d), composto por uma película altamente reflexiva; uma luz extra é direcionada

apenas no ator, a fim de eliminar os resíduos da imagem de fundo que possam

estar sobre ele. O resultado final (figura 23-e) é a integração do personagem com o

cenário falso.

Figura 22: cena do filme Superman, de 1978, utilizando o sistema de projeção frontal. Fonte: RICKITT & HARRYHAUSEN, 2007.

Figura 23: modelo básico de projeção frontal. Fonte: RICKITT & HARRYHAUSEN, 2007.

c) tela

semirreflexiva

e) resultado final

b) projetor

a) câmera

ESQUEMA DE FUNCIONAMENTO

DA PROJEÇÃO FRONTAL

d) película reflexiva

Page 47: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

46

Todos esses recursos formaram a base da criação dos efeitos especiais,

muitos deles já manipulados de forma a dialogar com a estética do filme, outros

apenas para causar impacto, chamando a atenção do público. Estes últimos dariam

origem, alguns anos mais tarde, aos “filmes de efeitos”, que proliferaram após a

grande crise do cinema americano na segunda metade do século XX, ocasionada

por um colapso econômico devido aos filmes com orçamentos altíssimos, que nem

sempre eram recuperados na bilheteria.

A respeito dessa crise, Cook (2002) observa que, no final dos anos de 1960, o

complexo industrial do cinema norte-americano entrou em colapso, acumulando

perdas de milhões de dólares a cada período e sofrendo processos por formação

de trustes. Os grandes estúdios começaram a passar por um período de grave

recessão, de modo que empresas como Fox, Universal e Paramount ficaram com

sérios problemas econômicos. Para Bordwell e Thompson (2003), grandes perdas

financeiras como a produzida pelo filme Cleópatra (Cleopatra, 1963), dirigido por

Joseph Mankiewics, desencorajaram os grandes estúdios a assumirem o risco de

investir em projetos caros.

Um dos fatores que motivaram o declínio da audiência no cinema foi o

próprio surgimento da TV e sua rápida expansão, obrigando a indústria

cinematográfica a gerar novidades, como o alargamento do formato da tela

(conhecido como cinemascope) ou, mais recentemente, o investimento no filme

3D, para diferenciar-se da televisão, até então, bidimensional.

Segundo Cook (2002), esse cenário crítico não favorecia os grandes, lentos e

pesados exércitos dos maiores estúdios de Hollywood, mas sim as pequenas

milícias, mais rápidas, ágeis e flexíveis: as produtoras independentes. Hollywood

precisava de novos projetos: os antigos esquemas e tramas já não dialogavam

mais com os interesses do público. Por esse motivo os novos talentos e produtores

independentes foram, pela primeira vez na história do cinema americano, tão bem

aceitos e assimilados rapidamente ao sistema, dando início a uma fase que ficou

conhecida como a Nova Hollywood.

Page 48: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

47

Para os autores Elsaesser, Horwath e King (2004), as produções da Nova

Hollywood passaram a abordar temas relacionados às drogas, motocicletas e

Rock’n Roll, como o filme Sem Destino (Easy Rider, 1969), dirigido por Dennis

Hopper. Em geral substituía-se o herói clássico por um anti-herói, como em Uma

Rajada de Balas (Bonnie and Clyde, 1967), dirigido por Arthur Penn. Embora tais

mudanças atraíssem o público jovem, isso ainda não representava muito em

termos de bilheteria. Houve, então, uma mudança no sentido original desse

movimento, segundo Mascarello (2006)

A Nova Hollywood caracteriza-se por uma surpreendente mutação: depois de ser utilizado, em um primeiro momento, em referência ao chamado American Art Film de final dos anos 1960 e começo dos 1970, praticado por cineastas que se afastavam do clássico para dialogar com o modernismo europeu (Robert Altman, Arthur Penn, Francis Ford Coppola, Martin Scorsese, entre outros), o termo Nova Hollywood passa a designar, a seguir, exatamente a produção mainstream que, começando em 1975, decreta o esvaziamento do ciclo do "cinema de arte americano": o blockbuster à Lucas e Spielberg (MASCARELLO, 2006, p.336).

A mudança, fomentada pelos grandes estúdios, com a possibilidade de altos

ganhos em bilheteria e produtos conexos, trouxe uma nova geração de cineastas.

Dois filmes são considerados marcos dessa época: Tubarão (Jaws, 1975), de Steven

Spielberg e Guerra nas Estrelas (Star Wars, 1977), de George Lucas (ELSAESSER,

HORWATH e KING, 2004).

Segundo Mascarello (2006), nesse período há um grande aumento da

produção de efeitos especiais, mudando o foco da linguagem, que antes estava no

personagem, para a narrativa. Desse modo, são os efeitos, a trilha e o ritmo do

filme que se tornam responsáveis pela captura da atenção do espectador. Além

disso, os personagens ficam cada vez mais performáticos e unidimensionais, isto é,

mais estereotipados.

Page 49: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

48

Considerando o cinema como uma indústria, percebemos que a expressão

autoral quase sempre vem em segundo plano, depois da bilheteria. O blockbuster,

então, é um filme que visa essencialmente o lucro, podendo até conter uma boa

história, mas que deve ser, antes de qualquer coisa, rentável, como afirma

Mascarello (2006).

É com a idéia de blockbuster que o cinema americano ultrapassa

definitivamente as telas, criando uma rede de produtos e atrações relacionadas ao

filme, de modo a ampliar o seu alcance e a repercussão, bem como aumentar os

lucros (ELSAESSER, HORWATH e KING, 2004). É nesse cenário que a TV e o vídeo

passam a ser aliados na divulgação e distribuição do filme. Ainda com relação ao

planejamento de marketing vinculado especificamente ao design de produção,

Baptista (2006, p.12), observa que os “blockbusters são acompanhados de vários

outros produtos (jogos, bonecos, cartazes, videoclipes, making of) que também

devem ter o mesmo conceito unitário de design de produção”.

Surge também a definição do filme high concept, projetado para não dar

prejuízo, mesmo quando arrecadar pouca bilheteria. Isso ocorre porque os

produtos de consumo lançados com a marca do filme sustentam uma receita que

pode compensar eventuais perdas. Nos high concepts há o total predomínio dos

aspectos econômicos sobre a construção formal fílmica, prevalecendo a criação de

ícones e imagens para o marketing, bem como de produtos conexos

(MASCARELLO, 2006).

Uma característica desse período é a busca pela perfeição técnica, por meio

de engenhosa maquinaria, cenografia imponente e bonecos mecânicos

(animatronics). É a partir desse período que ocorre uma vinculação fortíssima

entre os grandes estúdios de Hollywood e o mercado, fortalecendo paralelamente

a indústria dos efeitos especiais. No entanto, a banalização dos efeitos especiais e

a espetacularização passam a ser vertentes comuns que norteiam boa parte das

produções para o grande público.

Page 50: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

49

Antes, no início da Nova Hollywood, buscava-se um cinema de autor, focado

na expressão artística e visão estética de um diretor. Procura-se mais um cinema

de público, feito para entretenimento das massas (ELSAESSER, HORWATH e KING,

2004). É nessa busca que se popularizaram os filmes “de ação”, como Rambo:

Programado para Matar (First Blood, 1982) e Comando para Matar (Commando,

1985). Esses filmes, também conhecidos como “filmes de efeitos”, apresentam

marcadamente algumas características do cinema clássico, descritas por Bordwell

e Thompson (1985):

O protagonista é um misto de herói ou deus da mitologia grega com o

cavaleiro idealizado da Idade Média. Ele tem objetivos claros e bem definidos, mas

é, no entanto, uma figura supra-humana, capaz de feitos não apenas admiráveis,

mas também impossíveis, como saltar de um prédio sem se machucar, enfrentar

uma múmia assassina e sobreviver ao fogo.

As tramas são objetivas, lineares e lógicas, com um contexto bem definido,

linguagem redundante, sempre rumo a um clímax majestoso: a luta entre o bem e

o mal, prolongada ao máximo, ou o sacrifício supremo do herói. Nesse caso, não

raro, o clímax não só é o ápice da trama, mas também um show de efeitos

pirotécnicos.

Uso abusivo de efeitos especiais de impacto ao longo do filme, com uma

preferência para grandes sequências de pirotecnia (explosões, tiros e incêndios

gigantescos). Há também perseguições (algumas com veículos sofisticados) e lutas

mirabolantes.

Tecnicamente, segundo Pinteau (2004), Rickitt e Harryhousen (2007), os

efeitos especiais podem ser divididos em:

Mecânicos: são aqueles feitos por meio de aparelhagem, como os cabos

que fazem os atores voarem, popularizados nos filmes chineses.

Pirotécnicos: estão relacionados com a produção ou simulação de

incêndios, explosões e efeitos de tiro, entre outros.

Page 51: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

50

Óticos: são aqueles que utilizam em seu favor as peculiaridades de cada

tipo de objetiva. Por exemplo, uma miniatura colocada perto da câmera,

sem a referência da perspectiva, pode parecer muito maior do que um

prédio.

Composições: são as combinações de planos inteiros ou mascarados

(matte). Funcionam quase sempre como uma espécie de colagem. Os

efeitos de chroma-key, já mencionados, pertencem a esta categoria.

Também adicionam transparências a uma camada.

Maquiagem de efeitos: envolve envelhecimento, criação de cicatrizes,

ferimentos e próteses.

Animatronics: são bonecos e objetos articulados, como, por exemplo, uma

máscara de gorila cujas expressões faciais são controladas remotamente.

Digitais (pós-produção): podem simular todos os anteriores e ainda criar

novos objetos e personagens. A tecnologia atual permite uma fidelidade

muito grande entre o objeto tridimensional digital e o físico.

Sobre a composição digital Manovich (2001) afirma que, atualmente, ela é

responsável pela criação de um número cada vez maior de imagens em

movimento, como os jogos de computador, mundos virtuais, noticiários de

televisão e os efeitos especiais no cinema. Para o autor, essas imagens,

construídas por meio de composição apresentam, na maioria das vezes, um

mundo tridimensional falso, porque “independentemente de um compositor que

cria um espaço totalmente em 3D a partir de elementos diferentes (...) ou apenas

adiciona alguns elementos para um filme live-action (Jurassic Park, por exemplo), o

resultado da imagem em movimento mostra algo que não existe na realidade”

(MANOVICH, 2001, p.137).

Page 52: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

51

Este capítulo apresentou as relações históricas dos efeitos especiais, bem

como sua participação na linguagem, indústria e economia do cinema: vistos como

experimentação no início do cinema, passaram a ser explorados como linguagem

pelos cineastas russos e alemães nos anos de 1910 e 1920; foram ignorados pelo

Neorrealismo italiano e a Nouvelle Vague francesa e ressurgiram nos anos de 1970

como peça fundamental dos blockbusters, na indústria cinematográfica americana.

Page 53: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

52

2 Aspectos construtivos da imagem

Ao estudar a imagem fixa ou still aproximamos o cinema da sua origem que

é a fotografia. Nessa abordagem, interessam-nos especificamente as construções

dentro de cada frame, a distribuição dos elementos na tela e os efeitos do próprio

enquadramento. A análise da imagem em movimento mostrará como a

manipulação do tempo pelo movimento de câmera e pela montagem podem

influenciar no sentido das imagens estáticas, agregando-lhes significado. Por fim,

as intervenções realizadas na imagem, seja ela estática ou em movimento, nos

interessam, em especial, pelo modo como destacam elementos relevantes para a

construção da linguagem de uma obra cinematográfica. Tais intervenções são

realizadas em grande parte - mas não exclusivamente – na pós-produção. São elas

que abarcam boa parte dos recursos possibilitados pelos efeitos especiais.

Manovich (2001) também adota um padrão similar de classificação,

tomando como base a evolução da tela. O primeiro tipo de tela seria a clássica,

aquela retangular, que contém imagens em escala diferente do original, uma

janela para outra realidade, como uma pintura. O segundo tipo são as telas

dinâmicas, que contêm todas as características da clássica, mas nelas há a

mudança de imagens ao longo do tempo como, por exemplo, no cinema. O

terceiro tipo é a tela do computador, que desafia a estabilidade das outras duas,

mostrando não apenas uma imagem ou a sequência delas, mas a coexistência de

janelas num mesmo espaço o que, segundo o autor, “é um princípio fundamental

da GUI [interface gráfica computacional] moderna. Nenhuma janela domina

completamente a atenção do telespectador” (MANOVICH, 2001, p.100).

A seguir descrevemos, mais criticamente, alguns elementos da linguagem

cinematográfica, partindo da imagem fixa, também conhecida como quadro ou

frame. É importante destacar que a aplicação dos conceitos da sintaxe visual,

analisando o ponto, a linha e a distribuição dos elementos no quadro, não descarta

Page 54: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

53

a compreensão de que estes também constituem uma ação temporal. Para Debrix

e Stephenson (1969) a composição no cinema é dinâmica, diferente da existente

na fotografia, “tanto o movimento dentro do plano, como o movimento criado

pelas mudanças de plano para plano dão lugar a considerações de dinâmicas

desconhecidas numa composição estática” (DEBRIX e STEPHENSON, 1969, p.84).

2.1 A imagem Still

Sontag (2004) afirma que as fotos são fragmentos que mudam de acordo

com o contexto que são vistas, de modo que a realidade, representada pela

câmera, oculta mais do que revela. A autora as resume em “uma fina fatia de

espaço, bem como de tempo” (SONTAG, 2004, p.33). Para Flusser (2002) a imagem

nasce da abstração, da interpretação de um mundo tridimensional, por meio de

um sistema bidimensional. Essa abstração decorre da imaginação, isto é, a

anuência do espectador de que aquela ilusão é uma realidade plausível.

O enquadramento de uma cena, de acordo com Martin (2007, p.35), é a

“maneira como o diretor decupa e eventualmente organiza o fragmento de

realidade apresentado à objetiva, que irá assim aparecer na tela”. Ainda segundo o

autor, essa consciência do enquadramento surgiu a partir do momento em que se

percebeu que era possível: deixar elementos fora do enquadramento (como, por

exemplo, um diálogo que mostra apenas a imagem de quem está ouvindo); exibir

um detalhe significativo ou simbólico (como uma gota de suor escorrendo do rosto

de um réu, dando o sentido de nervosismo ou tensão); compor arbitrariamente o

enquadramento (como um vidro de veneno em primeiro plano, com uma pessoa

desfalecida ao fundo, criando uma relação entre esses dois elementos); modificar

o ponto de vista (mais adiante abordaremos esse aspecto quando falarmos sobre

os ângulos de captação da imagem); criar a ilusão da terceira dimensão por meio

da perspectiva (como um personagem que vem do fundo do cenário em direção a

câmera).

Page 55: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

54

Planos abertos, segundo Martin (2007) são mais impessoais, tendem a

expressar o vazio ou o contexto da cena (mostrar o lugar onde ela se passa),

enquanto que os planos mais fechados, como o close, quando aplicados a um

personagem, tendem a destacar mais o lado dramático e a tensão. De modo geral,

um dissocia o espectador da cena, enquanto o outro o associa emocionalmente.

Martin (2007) explica que os pioneiros do cinema mantinham a câmera

estática, capturando a cena de um ângulo só. A revolução na linguagem

cinematográfica ocorreu no momento em que surgiu a idéia de deslocar a câmera

para uma posição diferente, em uma mesma cena, a fim de obter outro ponto de

vista. Debrix e Stephenson (1969, p.40) destacam ainda a câmera subjetiva,

quando “em casos apropriados, ângulos de filmagem podem ser usados para

expressar subjetivamente como são as coisas vistas através dos olhos de um

personagem no filme”.

Quanto ao ângulo vertical, podemos ter a câmera que registra a pessoa de

cima para baixo, denominada de plongée (mergulho, em francês), construindo

relações de poder, denotando insignificância ou opressão. O ângulo oposto,

contra-plongée, que mostra de baixo para cima, cria o sentido de imponência,

superioridade e força.

Há também os enquadramentos em ângulos oblíquos ou inclinados, como

no filme Outubro (Octyabr, 1928) que causam desconforto ou estranhamento pela

instabilidade da construção visual (figura 24), de acordo com os elementos da

sintaxe visual10, descrita por Dondis (2003). Martin (2007) acrescenta que essa

técnica pode também materializar inquietação ou desequilíbrio do próprio

personagem.

10

Segundo Donis A. Dondis (2003), os elementos básicos da comunicação visual são: ponto, linha,

forma, direção, tom, cor, textura, escala, dimensão e movimento.

Page 56: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

55

Figura 24: composição visual do filme Outubro (Octyabr, 1928). Fonte: < http://counterlightsrantsandblather1.blogspot.com>

A perspectiva e a profundidade de campo são os elementos diretamente

responsáveis pela criação da ilusão de tridimensionalidade na tela bidimensional

do cinema. O conceito matemático relacionado à perspectiva diz que enxergamos

as dimensões de um objeto na proporção inversa de sua distância, isto é, quanto

mais distantes da câmera, menores eles ficam. É importante destacar como esse

fundamento contribuiu para a criação de diversos efeitos especiais como as

composições com miniaturas, matte painting e o efeito Schüfftan, já abordados

(figura 26).

Há também as perspectivas simuladas ou forçadas, muito utilizadas desde

os primeiros filmes como truques para efeitos especiais audaciosos, como os de

Tempos Modernos (Modern Times, 1936) em que Carlitos patina à beira de um vão

entre dois andares de uma loja de departamentos (figura 25). A imagem do andar

de baixo é, na verdade, apenas uma pintura, não representando risco nenhum

para o ator.

Page 57: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

56

Figura 25: cena da patinação de Carlitos na loja de departamentos. Fonte: Tempos Modernos, 1936.

Figura 26: exemplo de composição utilizando uma miniatura em primeiro plano.

Fonte: RICKITT & HARRYHAUSEN, 2007.

Resultado final

Atores e cenário em escala natural. Perceba que foi construída só uma parte do cenário

Miniatura em primeiro plano

Page 58: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

57

2.2 A imagem em movimento

Existem dois tipos de movimentos que afetam a imagem cinematográfica:

o movimento da câmera em si e o fluxo de movimento criado artificialmente na

montagem. O primeiro é visível, objetivo e identificável na captação, enquanto o

segundo gera um fluxo de significados reconfigurados a cada mudança de plano.

Um é caracterizado pelo deslocamento no espaço, o outro, construído no tempo.

De modo geral os movimentos de câmera podem ser executados em um ou

mais eixos, tendo como ponto referencial a base da câmera. No primeiro caso, ela

permanece fixa no mesmo local, mudando apenas o ângulo (por exemplo, nas

panorâmicas). O movimento pode ocorrer também em dois eixos, quando a

câmera desloca-se para outra posição (travelling). Ambos podem ser feitos nas

direções vertical e horizontal. A panorâmica tem, geralmente, o objetivo de

contextualizar ou descrever a cena, mostrando uma área maior que a abarcada

pelo enquadramento fixo, de acordo com Martin (2007). Há também os

movimentos mais complexos, realizados com gruas e trilhos nas mais diferentes

posições e com câmeras instaladas em veículos ou aeronaves.

Travelling é o nome genérico dado a toda filmagem realizada por meio do

deslocamento de câmera. O nome vem de trilho em inglês, pois as primeiras

câmeras eram muito pesadas e utilizavam-se esses suportes para realizar seu

deslocamento de um ponto a outro na cena. De acordo com Martin (2007), o

travelling surgiu quando um dos operadores de imagens dos irmãos Lumière

colocou uma câmera sobre uma gôndola em Veneza para captar imagens do canal.

Outro elemento do movimento é a montagem em si. Martin (2007, p.132)

a define como “organização dos planos de um filme em certas condições”. Para o

autor a montagem pode assumir duas perspectivas distintas: narrativa e

expressiva. A montagem narrativa, de acordo com Martin (ibidem) é aquela em

que a organização temporal dos planos cria uma sequência lógica que ajuda a

contar a história do filme. Já a montagem expressiva não tenta contar uma

Page 59: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

58

história, ela é uma justaposição de planos que produzem um efeito específico,

desencadeado pelo choque de imagens ao longo de um determinado tempo. O

objetivo dessa montagem é despertar uma idéia ou sentimento. A essência da

montagem expressiva foi descoberta por Eisenstein, quando elaborou o conceito

que delinearia a montagem por atrações ou montagem dialética11. Para Debrix e

Stephenson (1969):

Não se percebe a imagem isolada e nem ela funciona por si

mesma; os planos individuais adquirem vida pelo seu contexto.

Assim, em cada filme, há enriquecimento de significado através

de associação mental, mas esse enriquecimento é obtido

predominantemente por montagem (DEBRIX E STEPHENSON,

1969, p.125).

Há também as ligações ou transições, isto é, o modo como um plano

conecta-se com outro. Normalmente essa conexão é feita pelo corte seco, isto é,

sem nenhuma transição explícita entre eles. Martin (2007) compara essas ligações

à pontuação no sistema escrito, embora ressalte que não há uma correspondência

significativa entre esses dois sistemas. Outro tipo de transição entre planos é a

fusão, que é o aparecimento ou desaparecimento gradual de uma imagem,

mesclando-se a outra ou a um fundo preto. Quando uma imagem desaparece,

escurecendo gradualmente, tal efeito é conhecido como fade out, quando ela, ao

contrário, surge gradualmente a partir do fundo preto, denomina-se fade in. A

fusão entre imagens (uma aparece na medida em que a outra se esvai) significa

para Martin (ibidem) uma passagem de tempo, em boa parte dos casos. Há

também o chamado “chicote”, que “consiste em passar de uma imagem a outra

por meio de uma transição muito rápida, efetuada sobre um fundo neutro”

(IBIDEM, p.88); esta é uma ligação dinâmica entre planos, muito usada em cenas

11

Esse tipo de montagem diferencia-se por buscar não uma construção linear narrativa da história,

mas a criação de uma idéia ou conceito a partir do conflito gerado entre imagens sobrepostas ou

exibidas em uma sequência específica.

Page 60: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

59

de ação, como no filme Kill Bill (2003), quando a Noiva atira uma faca na

personagem Vernita Green, na cozinha.

Por fim, há as janelas, íris e transições tridimensionais12 (como uma

imagem que entra em um cubo que gira e dele sai a outra cena). Existe uma

grande variedade dessas transições, sendo que cada uma acrescenta um sentido

específico na relação entre os planos. Por exemplo, uma das características visuais

dos filmes da franquia13 Guerra nas Estrelas (Star Wars) de George Lucas são as

transições do tipo wipe em que um plano é substituído por outro por meio de uma

espécie de varredura na tela em direções diferentes; uma em especial, a clockwise

wipe troca uma imagem por outra simulando o ponteiro de um relógio.

2.3 Intervenções na imagem

Sobre as imagens já captadas podem ser realizadas diferentes

intervenções, geralmente construídas na etapa de pós-produção do filme. É nessa

categoria que os efeitos especiais atuam com mais vigor, construindo composições

e máscaras, a partir de novas camadas e possibilidades abertas pelo avanço

tecnológico digital.

No estudo dessas intervenções, Gosciola (2003, p.104-105) enumera os

seguintes tipos de narrativa: não-lineares; por desconstrução espacial e por

sobreposição de ações, telas ou encadeamento de telas em projeção

12

Transições são as animações ou efeitos utilizados na edição do filme na passagem de uma cena

para outra.

13 Franquia é o termo utilizado para caracterizar filmes que por questões da narrativa (história ou

roteiro muito longo) ou por estratégia comercial, são lançados em partes interdependentes que,

juntas, completam o sentido da história. Algumas continuações, como De Volta Para o Futuro (Back

To The Future, 1985) ou Rambo embora composta por filmes com histórias independentes também

são consideradas franquias.

Page 61: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

60

A narrativa temporal não-linear ocorre quando há uma relação entre

personagens históricos de períodos diversos, como no filme De Volta Para o Futuro

(Back To The Future, 1985). Nessa narrativa encontramos alguém fora de seu

tempo, um visitante ou remanescente de outra época (figura 27). Ela é

característica dos filmes em que há algum tipo de viagem temporal ou

congelamento do personagem por longo período.

Figura 27: exemplo de narrativa temporal não-linear no filme Back To The Future (1985), dirigido por Robert Zemeckis. O protagonista volta aos anos de 1960 e muda a história da sua família. Fonte: <www.imdb.com>

Na narrativa por desconstrução espacial a Lei da Gravidade e a

continuidade espacial são contestadas, como em 2001 - Uma Odisséia no Espaço

(2001- A Space Odyssey, 1968). Nesse modelo, o ambiente não segue as mesmas

leis da Física às quais estamos submetidos, podendo criar sua própria lógica.

Figura 28: recriação do ambiente em 2001 – A Space Odyssey (1968). Fonte: <www.imdb.com>

Page 62: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

61

Por fim, a narrativa simultânea por sobreposição de ações, representa

todas as formas de composição física das imagens, misturando ou dividindo-as em

múltiplas telas. Segundo Gosciola (2003), esse tipo de narrativa pode ocorrer em

três situações: sobreposição de ações, sobreposição de telas e encadeamento de

telas com projeção simultânea.

A sobreposição de ações pode ocorrer por meio de trucagem (efeitos), isto

é, através da composição de imagens estáticas e em movimento como, por

exemplo, em Um Homem Com Uma Câmera (Chelovek S. Kino-Apparatom, 1929),

de Dziga Vertov (figura 29). Ela ocorre também quando se trabalham diferentes

planos no mesmo quadro, ou seja, vários elementos narrativos ocorrem na mesma

cena, mas em profundidades de campo diferentes. Um exemplo clássico desse uso

está no filme Cidadão Kane (Citizen Kane, 1941), dirigido por Orson Welles (figura

30).

Figura 29: exemplo de composição criada por Dziga Vertov em Chelovek S. Kino-

Apparatom, 1929.

Fonte: <www.moma.org>

Page 63: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

62

Figura 30: uso da profundidade de campo em Citizen Kane (1941). Fonte: < www.takegreatpictures.com>

Nas sobreposições de telas temos composições que utilizam pequenas

janelas (retangulares ou não) sobre uma mesma imagem (figura 31-a). Essa

narrativa lembra a função PIP (Picture-in-Picture), de alguns televisores, onde há

uma pequena tela mostrando um canal diferente daquele que está sendo

assistido. Já no encadeamento de telas em projeção simultânea temos diversas

telas que dividem o espaço da janela cinematográfica (figura 31-b). Essas

composições serão analisadas mais adiante.

Figura 31: à esquerda composição com fusão de imagens e sobreposição de telas no filme The Pillow Book (1996). Ao lado, um exemplo de encadeamento simultâneo de telas, em Mean Girls (2004) Fonte: <2.bp.blogspot.com>

a b

Page 64: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

63

2.3.1 Camadas e composições

O cinema é, por excelência, a arte de compor em camadas. Muitas vezes

elas estão visíveis, durante um efeito de transição ou na dupla exposição, no

entanto, a maior parte delas ocorre na produção do filme, criando um conjunto

tão homogêneo que passam despercebidas do grande público. É justamente no

design de efeitos especiais que a habilidade para construir, compor e harmonizar

camadas é mais requerida.

Segundo Manovich (2001), a composição digital permite o controle da

transparência das camadas individuais, combinando potencialmente um número

ilimitado delas. Embora, em algumas situações, as camadas possam ser

combinadas em tempo real e automaticamente (tecnologia de cenários virtuais),

em geral, o tempo de operação é demorado e de difícil construção.

Ao invés de juntar imagens a partir de duas fontes de vídeo,

podemos agora compor um número ilimitado de camadas. Uma

cena pode ser constituída de dezenas, centenas ou milhares de

camadas de imagem. Estas imagens podem ter diferentes

origens: o filme rodado no local, cenários gerados por

computador ou atores virtuais, pinturas matte digitais, imagens

de arquivo, e assim por diante (MANOVICH, 2001, p.143).

Chegamos, então, a uma subdivisão natural das camadas em um filme: as

visíveis e as invisíveis. As camadas visíveis são aquelas imediatamente perceptíveis

ao assistirmos uma determinada cena. Os créditos iniciais de um filme, por

exemplo, estão em camadas visivelmente distintas, na maioria dos casos. Outro

exemplo são as janelas sobrepostas, já vistas anteriormente.

As camadas invisíveis, por sua vez, existem apenas na sua criação: uma vez

prontas, desaparecem. Um exemplo bem característico é o chroma-key, em que

um personagem pode ser inserido artificialmente em outro ambiente, conforme

Page 65: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

64

veremos adiante. Embora a criação desse efeito envolva no mínimo duas camadas

(a imagem do personagem e o fundo colorido que será substituído por uma

paisagem), uma vez concluído o processo, há a impressão de que o personagem

está de fato em outro local.

Percebe-se que o conceito de camada visível, na maior parte dos casos,

dialoga com a ruptura ou desconstrução da narrativa clássica, enquanto que a

invisível alinha-se a ela. Isto é, um filme que apresenta visualmente a existência

das camadas é, muitas vezes, metalinguístico, revelando a manipulação a que está

submetido. Em uma narrativa clássica, como a do cinema norte-americano do

início do século XX, isso não era aceito, pois quebrava o ilusionismo criado para

imergir o espectador na história. Preferia-se, então, o uso de camadas invisíveis,

que ajudassem a convencer o público de que as cenas apresentadas poderiam de

fato existir, de acordo com lógica daquele naquele universo criado.

Para existirem os efeitos visíveis de camada em tela cheia, é preciso que

haja alguma transparência. Entendemos a criação desse efeito como uma mistura

de diferentes planos sobrepostos, produtos de um jogo entre o enquadramento

realizado e o nível de transparência de cada camada. A dupla exposição ocorre

basicamente quando uma imagem é sobreposta à outra, de modo que possamos

ver ambas misturadas (figura 32). Debrix e Stephenson (1969) comparam a dupla

exposição às composições com camadas semitransparentes das artes gráficas. Os

autores citam alguns dos usos desse efeito no cinema para transmitir idéias como:

mostrar fantasmas ou elementos sobrenaturais, sugestão de pensamento, sonho

ou introdução de uma metáfora visual. É importante destacar que os autores

consideravam dupla exposição tudo o que gerasse mais de uma exposição de um

negativo, fosse da imagem toda ou apenas de uma parte dela, como em uma

divisão de telas. Aqui, entende-se tal efeito apenas como a exposição do frame

completo, deixando para outro tópico o estudo das composições, máscaras e

divisões de telas.

Page 66: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

65

Figura 32: dupla exposição no filme Nosferatu, 1922. Fonte: <http://www.thenorthphase.co.uk>

Figura 33: composição de telas em The Pillow Book, 1996. Fonte: <http://www.offscreen.com>

Há também as camadas visíveis, unidas por meio de uma espécie de

colagem, como no filme O Livro de Cabeceira (The Pillow Book, 1996) de

Greenaway (figura 33). Nesses casos ocorre a sobreposição de fragmentos ou telas

menores. A respeito da projeção de significado, percebe-se que a composição por

camadas é semelhante à fotomontagem, definida por Carvalho (1999) como a

composição de imagens que combina elementos visuais, fragmentos, de forma a

organizá-los e conjugá-los em um mesmo suporte. O autor destaca que, como

consequencia do processo, “os significados das imagens são deslocados de seus

contextos originais e reestruturados segundo as novas relações plásticas e

associações estabelecidas entre os vários fragmentos” (CARVALHO, 1999, p.6).

Manovich (2001), no entanto, considera a composição dentro de um plano como

uma categoria ligada à montagem.

Vou fazer uma distinção entre duas técnicas básicas. A primeira

técnica é a montagem temporal: realidades distintas formam

momentos consecutivos no tempo. A segunda técnica é a

montagem dentro de uma tomada. É o oposto da primeira:

realidades distintas formam partes dependentes em uma única

imagem. Exemplos de montagens dentro de uma tomada

Page 67: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

66

incluem a sobreposição de algumas imagens e múltiplas telas

usadas pelos cineastas de vanguarda na década de 1920, por

exemplo, imagens sobrepostas [em Um Homem Com Uma

Câmera] de Vertov e uma tela de três partes em Napoleão, de

Abel Gance, 1927 (MANOVICH, 2001, p. 9).

Munari (2006) afirma que conviver com a multiplicidade de telas não é

novidade. Mesmo quando estamos dirigindo já nos acostumamos a ver a imagem

do retrovisor do carro como elemento que compõe a paisagem visual. Outro

exemplo citado pelo autor é o de um televisor ligado em um bar, que atua como

“um meio que transporta imagens em movimento para um ambiente que está

cheio de imagens em movimento”, concluindo que “a simultaneidade de imagens

e sons é já (e infelizmente) um mundo do qual não podemos mais nos afastar”

(MUNARI, 2006, p. 41). Fica evidente que o autor refere-se a uma possível

poluição sonora e visual, inerentes ao mundo contemporâneo, porém essa

multiplicidade de sons e imagens acompanha o ser humano desde as primeiras

feiras livres, festividades antigas e apresentações teatrais.

A outra composição, em geral mais organizada, que também trabalha com

camadas é a divisão ou encadeamento de telas (split screen), como no filme

Timecode (2000) de Mike Figgis:

O espectador fica atento para apenas uma das partes,

deslocando o seu olhar para cada parte, de acordo com o seu

interesse ou na medida em que o sinal de áudio de cada uma

das partes se faz mais alto. Dessa forma, o centro dramático de

cada momento, o instante fundamental que dá sentido para a

continuidade das próximas cenas apresentadas nas quatro

partes da tela, acontece na tela que tem o som mais destacado,

especialmente o dos diálogos (GOSCIOLA, 2003, p.119).

Page 68: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

67

A divisão da tela representa uma quebra da realidade imposta pelo

enquadramento tradicional. Em alguns casos evoca a idéia de voyeurismo, como

se estivéssemos espiando através de diversas câmeras de segurança. As imagens

que compõem as várias telas podem ser totalmente diferentes, abordar situações

similares ou constituir parte de um mesmo material original. Em cada um dos

casos a relação do espectador com essas construções visuais será diferente.

Acerca do último exemplo, Nova (2009) explica que:

A idéia de exibir ao mesmo tempo, numa mesma tela, vários

filmes editados a partir de um mesmo conjunto de imagens

propõe fugir da narrativa linear para criar múltiplas leituras

individuais resultantes da estimulação das múltiplas memórias

que cada conjunto é capaz de despertar em cada espectador.

Isso porque nossas lembranças são multidimensionais e o

pensamento é capaz de realizar ações rápidas vinculadas à

memória de cada um (NOVA, 2009, p.57).

Em filmes como Timecode (2000) usa-se o split screen como parte da

narrativa, buscando múltiplos desdobramentos de uma ou mais histórias (figura

34), isso pode criar uma série de expectativas no público, como a de que as

situações mostradas simultaneamente possam se relacionar em algum momento

do filme. Há casos, porém, como em certos vídeos institucionais ou filmes

publicitários, em que o diretor procura apenas ângulos diferentes que ilustrem a

cena, pessoa ou objeto, inseridos em uma tela subdividida (figura 35), sem a

preocupação em criar um encadeamento narrativo.

Gosciola (2003) explica o split screen, no caso do filme Timecode, como

narrativas paralelas que ocorrem ao mesmo tempo e em telas contíguas. Para o

autor, essa configuração permite uma navegação alternada do espectador, ora

focando em uma história, ora em outra. Neste caso, o que mais se destaca são as

possibilidades narrativas e até interativas permitidas por esse recurso. Entretanto,

em alguns casos, como em O Livro de Cabeceira (The Pillow Book, 1996), de

Page 69: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

68

Greenaway, a divisão de telas é usada para realçar pontos de vista, não de um

objeto ou pessoa, mas de séries de procedimentos e tarefas que são executadas.

Figura 34: exemplo de split screen em Timecode (2000) como função narrativa. Fonte: <http://www.mondobhz.com.br>

Figura 35: exemplo de split screen ilustrativo. Fonte:<http://minnesota.publicradio.org>

O segundo tipo de camadas são as invisíveis, ou seja, aquelas existentes no

processo de realização do filme, mas desaparecem na versão final. Conforme visto

no capítulo anterior, percebe-se que desde o início do cinema já havia

experimentações ligadas ao caráter ilusionista da composição. Um bom exemplo é

o Homem com a Cabeça de Borracha (L'homme à la Tête en Caoutchouc, 1901), de

Méliès. Pelo processo descrito anteriormente, percebe-se claramente o uso de

camadas para criar a ilusão de que existe de fato uma cabeça gigante no ambiente.

Embora saibamos que é uma trucagem, deixamo-nos levar pelo realismo da

imagem. O mesmo ocorre quando vemos uma cena de Guerra nas Estrelas ou de

Indiana Jones, não percebemos que os cenários são muitas vezes apenas pinturas

ou composições com miniaturas, pois eles nos levam a acreditar na existência real

e na grandiosidade de uma determinada locação ou de uma batalha espacial.

Um tipo de camada invisível muito utilizada antes dos efeitos digitais eram

as projeções frontais e traseiras (quando o ator fica na frente de uma tela em que

está sendo projetado o cenário), já abordadas anteriormente. Percebe-se que elas

Page 70: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

69

relacionam diferentes camadas, só que em tempo real. O brilho e o contraste do

fundo devem ser ajustados de modo a dar veracidade à cena.

Outro exemplo clássico, já citado, é o matte painting em que os elementos

pintados ou colados harmonizam-se com a cena que está atrás do vidro, no filme

digital ou no próprio negativo, gerando um cenário uniforme. Esses suportes

podem ser considerados camadas, do mesmo modo que os layers (camadas) de

um programa como o Photoshop14. No lugar da pintura ou colagem podem ser

usadas miniaturas que, próximas à lente, ganham uma proporção ainda maior.

Esse tipo de efeito é uma mistura das propriedades das camadas com a

perspectiva bidimensional de uma câmera convencional.

Figura 36: composição em três camadas: plano de fundo (a), plano da ação (b) e primeiro plano (c) ao lado, o resultado final (d). Fonte: RICKITT & HARRYHAUSEN, 2007.

O processo de construção da cena anterior (figura 36) passa por, pelo

menos, três fases distintas. Inicialmente temos a imagem do veículo, que pode ser

captada em um fundo colorido (chroma-key), dessa forma é possível separar

apenas o objeto, deixando todo o restante à sua volta transparente. Essa

14

Programa utilizado para a edição, correção e aplicação de efeitos em fotos e figuras.

a) imagem de fundo (floresta)

b) imagem do veículo

c) imagem em primeiro plano (árvores)

Resultado final da composição, simulando o veículo flutuando sobre a floresta.

Page 71: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

70

transparência revelará qualquer imagem que esteja posicionada na camada de

baixo, que neste caso é uma floresta. Para dar mais realismo à cena, colocou-se

uma terceira camada, na frente daquela em que está o veículo, para simular

árvores passando na frente dele. Isso dá uma ilusão de perspectiva muito forte e

traz mais realismo à cena. No final, a cena do veículo sobrevoando a floresta torna-

se crível, dentro do contexto proposto pelo filme.

O chroma-key (figura 37), apesar de ser um efeito de recorte cromático

(substituição de uma cor uniforme por uma imagem) nada mais é do que uma

máscara mais refinada. Nesse caso, existem basicamente duas camadas: a cena

capturada e a camada colorida, que será trocada por um cenário real ou virtual.

Hoje, essa técnica é considerada a base fundamental para muitos outros tipos de

composições, como a criação de “pessoas invisíveis”: quando uma parte do corpo

é coberta com pano ou tinta da mesma cor que o fundo, ela desaparece após a

aplicação do efeito. Vale lembrar, no entanto, que isso não é novidade, pois Méliès

já fazia montagens até mais ousadas apenas com o uso de máscaras em fundo

preto, aplicadas diretamente no negativo, além do uso da dupla exposição.

O chroma-key também é muito utilizado nas operações de motion tracking

(rastreamento de movimento), executadas sobre um cenário. Nessa técnica, o

fundo colorido é coberto por um grid composto de pequenas bolinhas mais claras,

que serão lidas pelo software de composição como marcações espaciais. Quando o

fundo for trocado por uma paisagem, por exemplo, o software lerá as posições

relativas de cada ponto e calculará o movimento correspondente que deverá ser

feito no cenário virtual.

Page 72: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

71

Figura 37: esquema de composição de um chroma-key. A base do cenário era posicionada longe da tela para que ela pudesse ser iluminada separadamente e o refletor emitia luz laranja para facilitar o recorte. Abaixo, três sequencias de imagens representando respectivamente: a visão da câmera, o cenário que será inserido e a composição final. Fonte: RICKITT e HARRYHAUSEN, 2007.

A profundidade de campo também é uma composição em camada, criada

por meio do enquadramento. Gosciola (2003) afirma que, de modo semelhante à

divisão de telas, a profundidade de campo também permite ao espectador

navegar pelos diferentes planos narrativos. Um divisor de águas na utilização

desse efeito foi o filme Cidadão Kane (Citizen Kane, 1941), de Orson Welles; antes

dele, segundo o autor “a maioria dos espectadores era mais motivada a ver quase

que as mesmas imagens em uma tela de cinema e, principalmente, na mesma

sequencia” (GOSCIOLA, 2003, p.116).

Nos filmes digitais, a imagem e os efeitos formam-se através dos pixels,

que têm a mesma função dos grãos de prata na película. Isso não representa

apenas uma diferença de suporte, mas uma grande revolução, uma vez que, no

a) câmera b) luz para o personagem

d) tela azul (chroma-key)

c) luz de fundo

Page 73: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

72

universo digital, os bits podem tomar formas diversas e serem organizados de

modos infinitos. Com o avanço da computação gráfica, os CGI (Computer

Generated Imagery) são capazes de reproduzir todos os efeitos já citados e muito

mais. Pode-se, por exemplo, colocar um helicóptero virtual em uma cena já

filmada, recriar personagens com altíssima fidelidade e desenvolver cenários

inteiros.

Todos os elementos citados neste capítulo apresentam apenas uma fração

do gigantesco potencial da linguagem cinematográfica. Entende-se que o papel do

design de efeitos especiais é justamente o de criar novas possibilidades para a

materialização de muitos desses elementos e, em especial, para as intervenções

realizadas nas imagens.

Analisaremos, a seguir, três filmes significativos no uso dos efeitos

especiais para além do adorno ou da pirotecnia. Buscaremos identificar e

relacionar os efeitos utilizados às propostas de linguagem e conceitos visuais de

cada diretor.

Page 74: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

73

3 Rebobine Por Favor, Kill Bill e O Livro de Cabeceira:

experimentações e desconstruções da linguagem

Nos três exemplos de filmes a seguir, traçaremos um panorama das

possibilidades de uso dos efeitos especiais como recursos de design, fruto de um

projeto bem definido, alinhado ao conceito visual adotado pelos respectivos

diretores. Rebobine Por Favor recria e parodia os efeitos das grandes produções de

Hollywood; Kill Bill resgata elementos de linguagem de outras referências e os

transpõe em sua narrativa, nesse sentido o efeito especial surge como elemento

que mimetiza esse referencial; O Livro de Cabeceira traz o efeito como quebra de

um padrão, desde a desconstrução da uniformidade da tela até a criação de

camadas e transparências. Os efeitos utilizados por Greenaway são

essencialmente construídos na montagem e finalização do filme, diferente de

Tarantino e Gondry que criaram seus efeitos na etapa de produção (captação) do

filme.

Com relação ao processo criativo, Greenaway faz experimentações durante a

edição do filme, criando camadas e transparências para trazer diferentes

interpretações da cena, desconstruindo os padrões clássicos. Tarantino cria, a

partir de referências muito pessoais, um movimento de retomada dos filmes “B”,

bem como a hibridização de gêneros. Gondry, por sua vez, trabalha a

metalinguagem e a desmistificação do glamour que cerca as produções de efeitos

dos grandes estúdios.

3.1 Michel Gondry: Rebobine For Favor

Desde 1987, Michel Gondry dirigiu cerca de 70 videoclipes de artistas como

Björk, Rolling Stones e Paul McCartney. No entanto, atraiu a atenção de Hollywood

após dirigir dois filmes escritos por Charlie Kaufman: Natureza Quase Humana

Page 75: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

74

(Human Nature, 2001) e Brilho Eterno de Uma Mente Sem Lembranças (Eternal

Sunshine of the Spotless Mind, 2004). Este último ganhou o Oscar de melhor

roteiro original em 2005.

A partir desses filmes, Gondry entrou em uma fase mais metalinguística,

quando realizou Sonhando Acordado (La Science des Rêves, 2006) e Rebobine, Por

Favor (Be Kind, Rewind, 2008).

Em Sonhando Acordado, os pensamentos do protagonista são literalmente

revelados quando o diretor mostra o personagem dentro de sua própria mente,

caracterizada como uma emissora de TV improvisada, feita de papelão e caixas de

ovos (figura 38). Em relação a esse filme, Gondry (2008), afirma que havia uma

aproximação mais intimista com o tema, colocando em cena muito do que

vivenciava diariamente: “minha imaginação está muito ligada a como me sinto. Na

filmagem (...) isso foi mais evidente, porque eu falava de emoções e frustrações

que vivia no set. A pessoa que provocava algumas dessas emoções estava

envolvida na filmagem, era quem fazia os bonecos que aparecem no filme [Lauri

Faggioni]” (GONDRY, 2008, p.1).

Figura 38: mente do protagonista, representada em um ambiente físico, o estúdio de TV

improvisado. La Science Des Rêves, 2006.

Fonte: <http://wtflicks.com/the-science-of-sleep>.

Page 76: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

75

Em Rebobine, Por Favor (2008) Gondry passa a explorar mais abertamente,

não apenas a relação do povo americano com o cinema de efeitos, mas também a

questão de como esse mesmo público apodera-se do blockbuster e cria a sua

própria linguagem.

O filme aponta para o contexto da difusão de vídeos pela Internet,

promovida em especial pela rápida expansão do site You Tube, criado em 2005. A

partir dele, mais pessoas passaram a divulgar suas produções audiovisuais,

amadoras e profissionais. Surgiram ondas de vídeos caseiros que satirizavam

filmes ou que reproduziam suas cenas com a maior fidelidade possível, porém a

baixo custo, como Matrix: Baixo Orçamento (2006), produzido por alunos do curso

de Audiovisual da Escola de Comunicações e Artes da USP (figura 39-b).

Gondry pensa, então, em abordar essa profusão de filmes amadores segundo

a sua própria perspectiva. “É um tipo de utopia. Imaginei como seria se as pessoas

fizessem filmes caseiros usando o que estivesse disponível na vizinhança, criando

sua própria história e dividindo-a com a comunidade” (GONDRY, 2008, p.1).

Figura 39: à esquerda (a), cena original do filme Matrix, de 1999, e ao lado (b), sua reprodução

em “Matrix - Baixo Orçamento”, feito por estudantes de Audiovisual da ECA/USP em 2006.

Fonte: <http://www.youtube.com>. Diagramação feita pelo autor.

Tanto em Rebobine Por Favor, quanto em Sonhando Acordado, Gondry não

parece estar preocupado com a perfeição estética do cinema clássico, mas sim

com a perfeição metalinguística de cada cena. Por meio das engenhocas e cenários

improvisados, ele desconstrói o glamour do know-how hollywoodiano.

a b

Page 77: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

76

Em Rebobine, Por Favor, Gondry inventa um neologismo: o conceito de

sweded films ou “filmes suecados” (figura 40), quando um dos protagonistas

mente que as versões dos filmes haviam sido feitas na Suécia, para justificar aos

clientes a demora na entrega dos produtos, quando, na verdade, eles precisavam

era de mais tempo para gravá-los. Isso gerou uma onda no YouTube com vários

“filmes suecados”, feitos por internautas do mundo todo.

Figura 40: filmes “suecados” pelos personagens Jerry e Mike.

Fonte: Rebobine, Por Favor, 2008.

O filme Rebobine Por Favor, conta a história de dois amigos, Jerry e Mike.

Após um acidente em uma estação de energia, um deles fica magnetizado e

inutiliza involuntariamente todas as fitas VHS da locadora em que o outro

trabalha. Para solucionar o problema, eles têm a idéia de regravar os filmes com

recursos próprios e muito improviso, temendo que o dono do local descubra o

prejuízo causado. Curiosamente são esses filmes caseiros, feitos pela e para a

comunidade, que acabam salvando o estabelecimento da falência. Existe também

uma história paralela, que é a lenda sobre as origens de Fats Waller, famoso

pianista de Jazz norte-americano dos anos de 1920 e 1930, mostrada em forma de

documentário.

Page 78: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

77

O objetivo dos protagonistas é recriar diferentes tipos de efeitos especiais,

mas, sem dinheiro, precisam valer-se de muita criatividade para conseguir o

melhor resultado utilizando apenas uma velha câmera VHS. Os efeitos criados são

como improvisos e gambiarras. Dessa forma, toda a linguagem visual do filme é

baseada na recriação rudimentar e empírica das grandes produções de Hollywood.

De acordo com Boufleur (2003, p.26), o uso informal do termo gambiarra,

“muitas vezes reflete idéias como ‘adaptação’, ‘improvisação’, ‘dar um jeito’,

‘conserto’ ou ‘remendo’”.

A prática da gambiarra envolve sempre uma intervenção alternativa, o que também poderíamos definir como uma “técnica” de re-apropriação material: uma maneira de usar ou constituir artefatos, através de uma atitude de diferenciação, improvisação, adaptação, ajuste, transformação ou adequação necessária sobre um recurso material disponível, muitas vezes com o objetivo de solucionar uma necessidade específica (Ibidem, p.25).

Aqui, o conceito de gambiarra assemelha-se ao processo de bricolagem,

técnica semelhante à colagem, mas que se diferencia pela incorporação do

improviso, ao empregar os materiais disponíveis em determinada circunstância. O

termo "deriva do francês bricoleur; bricolador, que significa uma pessoa que faz

vários tipos de trabalhos manuais" (SOUZA, 2009, p.20). Para Santos (2003, p.75) a

gambiarra “é uma prática de resistência criativa (...), num contexto de severa falta

de recursos. É um anti-design movido exclusivamente pela necessidade vital de

sobreviver”.

Em todas as cenas que remetem a outros filmes o objeto passa por uma

alteração de sua função ou significado original, tornando-se componente de um

todo mais complexo, que é a cena que se constrói. Caixas de papelão, fotos e

pedaços de marshmallow tornam-se extrato de um filme famoso. Tal efeito é

possível com a ajuda generosa da imaginação do espectador e da licença poética

dada ao diretor. Retomandoo conceito de bricolagem, podemos relacioná-lo

Page 79: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

78

também à fotomontagem que, segundo Carvalho (1999, p.56) “aproveita o

conteúdo de significação existente em cada fragmento, adaptando e

reorganizando este conteúdo dentro de um novo contexto”. Villas-Boas (2003),

porém, contesta essa prática como uma ação legítima do design:

A acepção de que é possível fazer design sem a consciência do design perde sentido diante da constatação da atividade projetual como fundadora da própria noção de prática do design. Um cartaz feito por um feirante para promover oferta de laranjas ou uma faixa em formulário contínuo feita em computador por um executivo que quer demonstrar sua gratidão à secretária, comemorando o aniversário desta, não são produtos de design gráfico, independentemente da eficácia que tais produtos possam ter. Um feirante ou um executivo não tornam-se designers gráficos (...) apenas porque conseguiram realizar peças gráficas a partir de experiências empíricas (VILLAS-BOAS, 2003, p.21).

Mas é assim, de forma totalmente empírica, que os dois protagonistas

trabalham nas reconstruções dos filmes. Uma das histórias contadas pelo dono da

locadora de vídeos é a lenda do músico Fats Waller. Ele dizia que o famoso pianista

de Jazz havia nascido em seu bairro. Para recontar essa história, os amigos Jerry e

Mike fazem uma espécie de documentário de época, dramatizando algumas

passagens.

As cenas desse documentário estão espalhadas pelo filme, em especial na

abertura e no encerramento. Percebe-se o esforço dos protagonistas para

convencer o espectador sobre a veracidade dos fatos, recriando toda a

ambientação dos anos de 1930. Conforme Carrière (2006):

A “verdade” de uma foto ou de um cinejornal, ou de qualquer outro tipo de relato, é, obviamente, bastante relativa, porque nós só vemos o que a câmera vê, só ouvimos o que nos dizem (CARRIÈRE, 2006, p. 55).

Page 80: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

79

O filme dialoga com a verdade documental, exposta por Carrière, utilizando

de modo instintivo e amador os recursos persuasivos dos noticiários. As cenas

desse documentário remetem aos filmes antigos, trazendo o aspecto visual da

película envelhecida, o figurino e o ambiente recriado pela cenografia.

Já na primeira imagem vemos uma animação feita de forma bem artesanal,

com um pincel atômico desenhando sobre um mapa (figura 41-a), enquanto o

narrador afirma que a capital do Jazz é Passaic e não o Harlem, onde Fats Waller

realmente viveu.

As cenas seguintes mostram Fats na cidade. Há, propositalmente, inúmeros

erros de continuidade e efeitos rudimentares. O filme assume a textura e o estilo

dos anos de 1930, recriando-os de forma artesanal, com fios pendurados e uma

espécie de ventilador em frente à lente, para simular o efeito da película passando

(figura 41-b).

Figura 41: (a) cena de abertura mostrando o mapa feito de forma rudimentar. Ao lado, (b) um

exemplo da textura utilizada no documentário que narra a lenda de Fats Waller.

Fonte: Rebobine, Por Favor, 2008. Diagramação feita pelo autor.

Esse documentário foi construído não apenas com cenários falsos, mas

também com carros antigos de papelão (figura 42-a). Existe também uma

miniatura de trem bastante rudimentar, com neve falsa sendo jogada

desordenadamente nos vagões (figura 42-b).

a b

Page 81: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

80

Figura 42: carros feitos de papelão (a) e uma miniatura de trem (b).

Fonte: Rebobine, Por Favor, 2008. Diagramação feita pelo autor.

Na morte de Fats Waller o efeito utilizado é semelhante aos criados por

Méliès. A imagem de Waller na cama é substituída por uma foto no mesmo ângulo

e, por meio de uma sobreposição, uma estrela de papel, puxada por um barbante,

sai de sua cabeça (figura 43). Vale enfatizar que os efeitos utilizados são

exatamente aqueles que uma câmera de vídeo VHS de 1990 podia realizar.

Figura 43: sequência do efeito de sobreposição utilizado na cena da morte de Fats Waller.

Fonte: Rebobine, Por Favor, 2008 (vide filmografia). Diagramação feita pelo autor.

Voltando ao filme, os amigos decidem regravar as histórias depois que as

fitas são desmagnetizadas. A primeira história a ser contada é a do filme Os Caça-

Fantasmas (Ghostbusters, 1984). Mike e Jerry envolvem-se em papel alumínio e

vão até a biblioteca para fazer uma parte das filmagens (figura 44-a). As locações

são na vizinhança e todos os efeitos, créditos e trilha são criados sem pós-

produção (figura 44-b).

a b

Page 82: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

81

Figura 44: Mike e Jerry vestidos de caça-fantasmas em roupa de papel alumínio (a). À direita,

ambos fazendo um “comercial” de TV para divulgar os seus serviços (b).

Fonte: Rebobine, Por Favor, 2008. Diagramação feita pelo autor.

Para a sequência do ataque do monstro gigante à cidade, clímax do filme Os

Caça-Fantasmas, eles usam um boneco de palito com marshmallows espetados e

os prédios são caixas de papelão pintadas (figura 45-a). A multidão fugindo

desesperadamente é representada apenas por uma foto (figura 45-b).

Figura 45: Monstro de marshmallow (a) e a multidão desesperada, representada por uma foto

(b), na reconstrução do filme Caça-Fantasmas, 1984.

Fonte: Rebobine, Por Favor, 2008 (vide filmografia). Diagramação feita pelo autor.

Um recurso presente em diversas cenas de Rebobine, Por Favor são as

referências aos filmes originais para criar o tom de paródia. A última cena relatada,

por exemplo, pareceria apenas uma brincadeira infantil, se não tivéssemos o

conhecimento ou a memória das cenas do filme original. É a prática do styling às

avessas e com outros propósitos.

a

b

a b

Page 83: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

82

Segundo Coelho (2008), o styling surgiu nos anos de 1930, nos Estados

Unidos, para estimular o consumo devido à Grande Depressão; essa prática

consistia no “tratamento superficial da estética de um objeto no recurso de

aplicação de ornamentos, isto é, novas embalagens para velhos produtos”

(COELHO, 2008, p.36). Neste filme de Gondry uma nova roupagem é dada aos

filmes já consagrados, mas a intenção não é estimular o consumo, no entanto é

curioso perceber que é isso que acaba acontecendo, pois a comunidade passa a se

interessar por esses filmes “suecados”.

Para fazer uma cena que se passa à noite, só que durante o dia, os

protagonistas invertem as cores da imagem por meio de um recurso muito comum

em câmeras caseiras. A idéia parece não funcionar porque o rostos ficam com as

cores invertidas também (figura 46-a). Para solucionar o problema, eles fazem

uma cópia xerográfica invertida dos seus rostos (figura 46-b) e usam o resultado

como uma máscara (figuras 46-c e 46-d).

Figura 46: os amigos descobrem que podem filmar de dia como se fosse noite, invertendo as

cores da câmera, mas o rosto fica esquisito (a). Para resolver isso, tiram uma cópia negativa de

seus rostos (b) e usam-nas como máscaras (c), gerando um efeito ainda mais estranho (d).

Fonte: Rebobine, Por Favor, 2008. Diagramação feita pelo autor.

a

b

c

d

Page 84: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

83

O que surpreende é que esse tipo de efeito não era empregado

originalmente na caracterização de um ambiente noturno no cinema, para isso

utilizava-se um filtro azul chamado “Noite Americana” na lente. Debrix e

Stephenson (1969) destacam o uso da imagem com cores invertidas para mostrar

elementos irreais e bizarros. No entanto, esse é um recurso que, dentro do

universo apresentado e da linguagem adotada em Rebobine, Por Favor, torna-se,

apesar de grotesco, perfeitamente aceitável.

Em Rebobine Por Favor, há ainda outros pequenos extratos do making of de

alguns dos filmes “suecados”, como nos exemplos a seguir:

Para recriar a armadura do Robocop (1987) os protagonistas utilizam pedaços de

ferro-velho, um secador de cabelos e um capacete colocado ao contrário (figura

47-a).

Na representação de Os Donos da Rua (Boyz N The Hood, 1991), usa-se um boneco

com uma pizza atrás da cabeça, simulando uma poça de sangue (figura 47-b), ela

surge após um tiro, representado por uma bombinha que explode ao lado desse

mesmo boneco.

Na paródia de 2001: Uma Odisséia no Espaço (2001: A Space Odyssey, 1968)

utiliza-se també, o efeito de inverter as cores da câmera. O cenário é feito de

pneus empilhados e uma geladeira velha que representa o monólito (figura 47-c) o

céu estrelado é representado por uma lona.

As cenas de Rei Leão (Lion King, 1994) são feitas com bonecos de papelão

manipulados pelos protagonistas e o fundo é um edredom estampado estendido

(figura 47-d).

Percebe-se o esmero dos personagens em recriar os efeitos, não só pela

caracterização do ambiente e personagens, mas também buscando mimetizar os

enquadramentos e sequência narrativa dos filmes originais.

Page 85: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

84

Figura 47: “suecagem” dos filmes: Robocop (a), Os Donos da Rua (b), 2001: Uma Odisséia no

Espaço (c) e Rei Leão (d).

Fonte: Rebobine, Por Favor, 2008. Diagramação feita pelo autor.

Por fim, outro ponto interessante é o modo como o diretor trabalha a

linguagem da câmera. Em grande parte do filme ela segue o padrão do cinema

clássico norte-americano, como uma observadora distante e imparcial. Há, no

entanto, cenas em que assume um comportamento diferente, inserindo-se na

a b

c

d

Page 86: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

85

história. Por exemplo, depois que Jerry é eletrocutado (figura 48-a) e fica

magnetizado, quando passa próximo à câmera, a imagem desestabiliza, como se

tivesse um problema de sintonia (figura 48-b). A câmera torna-se um personagem

e passa a ser afetada pela narrativa, deixando de ser apenas uma observadora

externa.

Figura 48: depois de ser eletrocutado (a), toda vez que Jerry passa pela câmera ela dá um sinal de

interferência (b). Fonte: Rebobine, Por Favor, 2008. Diagramação feita pelo autor.

a b

Page 87: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

86

3.2 Quentin Tarantino: Kill Bill - Parte I

Tarantino é conhecido por seu método próprio de compor com estilos e

gêneros diferentes na criação de seus filmes, usando como referência, em geral, os

filmes “B”15, westerns e os exploitations16. Em Kill Bill (2003), por exemplo, existem

referências aos filmes de Kung-Fu chineses e mangás japoneses. Ele trabalha na

recuperação de uma determinada estética ligada a certos movimentos, localizados

na periferia do cinema mainstream, em especial da década de 1970.

O estranhamento causado pelos seus filmes surge ao vermos renascer uma

estética considerada já ultrapassada. Segundo Coelho (2008), a estética pertence a

um determinado período histórico, como uma convenção humana ligada àquela

época específica. Isto é, ela define (e é definida) por um grupo de pessoas em

determinado tempo, mas logo se torna ultrapassada por algo novo, que pode até

ser o mesmo, apenas com uma roupagem diferente.

Na visão de Gonçalves e Renó (2009), Kill Bill possui aspectos narrativos do

hipertexto. De acordo com os autores:

Representa o rompimento de uma estética onde a continuidade narrativa ou a linguagem visual seguia um padrão do começo ao fim de uma obra. Oferece uma miscigenação de linguagens, como ocorre nos ambientes ciberespaciais, em que o objetivo final é a transmissão de mensagens, independente das ferramentas para tanto (GONÇALVES e RENÓ, 2009, p.14).

15

A origem dos filmes “B” está ligada à época de ouro do cinema norte-americano, em especial

entre os anos de 1930 e 1950. O termo refere-se aos filmes que costumavam passar em sessões

duplas, geralmente depois de um filme de maior destaque do estúdio. Nem sempre essas

realizações eram de baixo orçamento e havia unidades de produção exclusivas e pequenos estúdios

especializados em filmes desse tipo. Atualmente, o senso comum caracteriza o filme “B” como

sendo de segunda linha ou exclusivamente de baixo orçamento, o que não é totalmente correto, se

observarmos a utilização inicial dessa nomenclatura.

16 Exploitation films eram as produções de baixo orçamento, geralmente com temas polêmicos

e/ou sensacionalistas, que exploravam exaustivamente cenas de sexo, nudez, violência e

escatologia. Surgidos em meados de 1920, popularizaram-se nos anos de 1960 e 1970. Alguns dos

diretores ligados a esse gênero foram John Carpenter, Roger Corman, George Romero e Ed Wood.

Page 88: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

87

Já Denser (2008), acredita em uma colagem de estilos, mais ligada ao

grafismo. Segundo a autora, “Tarantino traz para o cinema uma releitura da

colagem encontrada na Pop Art” (DENSER, 2008, p. 95), pois identifica nesse

movimento a exploração de elementos da cultura de massa representada pelo

cinema, quadrinhos, propaganda, mídia gráfica e design.

Embora trabalhe com orçamentos de blockbuster, Tarantino esmera-se para

alcançar a estética dos filmes “B”, caracterizados pelo uso de cenários e figurinos

remanescentes de outras produções, efeitos especiais realizados no próprio set de

filmagem e ausência de atores de peso, ou o star system17, em geral.

Um dos gêneros preferidos do diretor é o dos filmes exploitation das décadas

de 1950 à 1970, os quais, de acordo com Baptista (2006, p.14) eram “realizados

fora do circuito dos grandes estúdios por companhias independentes, com o

propósito de obter lucros rápidos”, exibidos “em drive-ins e salas pouco

respeitáveis, tentavam atrair um público juvenil oferecendo mais sexo e violência

que as produções de Hollywood”.

Outro ponto de referência para Tarantino são os Westerns, tanto que um dos

agradecimentos póstumos nos créditos de Kill Bill vai para o diretor Sérgio Leone.

Segundo McGee (2007) uma das mais interessantes reconstruções dos Westerns

não é um Western: é Kill Bill, que “remodela os elementos do Western clássico de

Hollywood (...) de forma complexa que sugere a alegoria apropriada para a era da

globalização” (MCGEE, 2007, p. 263).

Acerca da absorção do gênero Western pelo filme de Tarantino, Azevedo

(2006) detalha os aspectos narrativos que aproximam um do outro:

17 O star system foi um sistema adotado pelos grandes estúdios de Hollywood, a partir de 1920,

para criar e promover astros e estrelas, a fim de que trouxessem mais público para os filmes. O

foco estava mais na imagem e no carisma passado pelos atores do que no talento ou conhecimento

da arte dramática.

Page 89: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

88

Das estéticas ocidentais, tem-se, em um plano bastante evidente, a presença do faroeste, especialmente em sua versão spaghetti, ou seja, o estilo paródico desenvolvido pelo cinema italiano sobre o clássico gênero americano. Este também se faz presente através de citações – de que tanto faz uso o diretor americano – de filmes ou personagens como The Lone Ranger (o cavaleiro solitário), esse herói de coloratura épica, que percorre as terras norte-americanas em sua busca por ‘fazer justiça’, significante mote da figura do vingador (AZEVEDO, 2006, p.44).

Azevedo (2006) compara o estilo de Tarantino em Kill Bill a um estilete que

perfura vários estilos, produzindo uma espécie de “orgia estética”. Cita como

exemplo a violência e o grafismo herdados dos mangás e as coreografias das lutas

dos filmes chineses das décadas de 1970 e 1980.

Assistimos à bela Noiva matar, um por um, os membros da gang assassina (e seus possíveis seguidores), em atos da mais aguda agressividade – braços cortados, pernas e cabeças decepadas, sangue, vísceras, corpos perfurados e mutilados. Imagens fantasísticas ou “reais” de castração vão-se repetindo ao longo da execução do projeto de vingança até chegar ao termo final: Bill. (IBIDEM, p. 50)

Já na primeira cena, somente com planos fechados e descolorida, podemos

perceber elementos do hiperrealismo de Tarantino no rosto ensanguentado da

Noiva antes de levar um tiro de Bill (figura 49-a). O tiro tem um som

extremamente forte, e o sangue espalha-se pelo assoalho. Esse é o cartão de

visitas do diretor. Nenhuma imagem violenta será escondida do público. Essa cena

é uma clara referência visual ao fime Três Homens em Conflito (The Good, The Bad

and The Ugly, 1966), de Sérgio Leone, quando a arma é apontada para Clint

Eastwood, caído no chão (figura 49-b).

Page 90: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

89

Figura 49: (a) cena de abertura de Kill Bill – Parte I, 2003. No detalhe (b), o filme Três Homens

em Conflito (The Good, The Bad and The Ugly, 1966).

Fonte: <http://www.tarantino.info>. Diagramação feita pelo autor.

O filme é dividido de forma bastante peculiar, em capítulos, porém fora da

ordem cronológica, o que, de certa forma, também é uma marca registrada do

diretor. Essa ousadia narrativa é indício também de um domínio cada vez maior da

linguagem cinematográfica. Isso ocorre na medida em que novos elementos são

descobertos e experimentados. Acerca da narrativa, Azevedo(2006) traça uma

comparação:

A estória se desenrola nos passos estilísticos que evocam a estrutura de um romance, dividido em capítulos, ou mesmo em “cantos”, se atentarmos para as dimensões grandiloquentes, épicas, que dão cor e som aos feitos da protagonista. (...) Nessa perspectiva, Kill Bill pode ser visto como uma ruidosa e estonteante paródia de vários estilos da cultura popular contemporânea. (AZEVEDO, 2006, p. 45).

Na primeira parte, no confronto entre a Noiva e Vernita Green, Tarantino usa

a decupagem dos filmes de ação chineses, com movimentos coordenados e o uso

do efeito sonoro como elemento de intensificação do apelo visual.

Quando a Noiva atira a faca em Vernita há apenas um corte em movimento,

conhecido como “chicote” (vide capítulo anterior), de modo que a outra atriz já

estava com a faca posicionada no peito. A sensação de continuidade desse efeito

é, no entanto, perfeita (figura 50).

a

b

Page 91: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

90

Figura 50: Sequência do lançamento da faca. A transição é feita por um corte em movimento (c).

Fonte: Kill Bill – Parte I, 2003. Diagramação feita pelo autor.

Quando a Noiva desperta no hospital, sua primeira lembrança é o tiro que

levou de Bill. Essa cena é feita em planos extremamente próximos (macro), na qual

a bala saindo do revólver é mostrada de vários ângulos, inclusive de dentro da

arma (figura 51).

Figura 51: Sequência do tiro.

Fonte: Kill Bill – Parte I, 2003 Diagramação feita pelo autor.

a b

c d

I II

III IV

V VI

Page 92: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

91

Para essa cena foi feito o mock-up18 desses elementos, a fim de que

pudessem ser filmados de perto, numa simulação do que seria um tiro captado em

baixíssima velocidade. É importante notar que Tarantino não quis usar

computação gráfica, mantendo-se fiel às convenções (ou limitações) dos antigos

filmes “B”.

Em diversos momentos do filme a imagem fica descolorida ou tonalizada

com uma cor diferente. Isso remete também aos filmes de luta antigos que

colocavam suas cenas mais violentas sem cor, para não sofrerem represálias da

censura. No caso de Kill Bill, parece que a intenção foi apenas referenciar esses

filmes e não usar os efeitos de cor (ou sua ausência) com os mesmos propósitos

dos seus predecessores.

Ainda no hospital, quando a Noiva

morde o lábio do enfermeiro (figura 52), isso

é feito com uma prótese elástica,

provavelmente de látex, que faz com que o

lábio estique mais do que o normal. Esse

tipo de humor é característico dos filmes de

horror da Itália e dos Estados Unidos nos

quais o diretor inspirou-se. Também há um

pouco do sarcasmo e do exagero da

realidade, ou hiperrealismo19, que é uma das marcas do diretor.

18

Segundo Coelho (2008) mock-ups são modelos de um determinado projeto, feitos na escala 1:1

ou maior (escala de ampliação), feitos para enriquecer detalhes e estudar o objeto, além de

permitir novos tipos de interação com o produto.

19 O hiperrealismo caracteriza-se por apresentar cenas ou fatos que poderiam ser reais, mas com

um contorno de exagero, que pode ser obtido por meio da atuação ou mesmo dos efeitos

especiais. Em muitos filmes de Tarantino, por exemplo, as armas fazem um som muito mais forte

do que o normal e o sangue tem tonalidades mais vivas ou jorra de forma absurda.

Figura 52: prótese em látex.

Fonte: Kill Bill, 2003.

Page 93: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

92

Em algumas passagens do filme a protagonista tem um flashback, que

aparece em tom avermelhado (53-a), precedido por um plano detalhe de seus

olhos e um som característico. Essa linguagem adotada para o flashback foi

herdada de westerns (53-b e 53-c), como A Morte Anda a Cavalo (Death Rides a

Horse, 1967).

Figura 53: (a) cena de Flashback em Kill Bill. Fonte: Kill Bill – Parte I, 2003. No detalhe (b,c), duas imagens em sequência do filme A Morte Anda a Cavalo (Death Rides a Horse, 1967). Fonte: <http://www.tarantino.info>. Diagramação feita pelo autor.

No capítulo três é apresentada a história de O-Ren Ishii. A trajetória dela é

narrada em forma de anime, na qual percebemos alguns elementos de linguagem

como, por exemplo, um exagero visual nas cenas violentas, com muito sangue pelo

cenário e personagens(figura 54-a).

Todos esses elementos presentes no desenho serão resgatados durante o

filme. Um exemplo disso está no capítulo cinco, é feita a decapitação de um chefe

Yakuza com uma espada (figura 54-b), a cena tem a decupagem do anime e o

sangue jorra de forma exagerada e irreal, como foi visto no desenho mostrado

minutos antes. Aqui temos o ponto de encontro da narrativa fílmica com a estética

do desenho japonês. O objetivo não é mais mostrar com realismo, mas

transformar o filme em anime.

a

b

c

Page 94: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

93

Pode-se perceber que Tarantino respeita os parâmetros narrativos das obras

que ele referencia, evitando acrescentar elementos que fujam às regras ou

convenções estabelecidas pelos gêneros específicos utilizados em seus filmes.

Figura 54: A história de O-Ren Ishii contada em forma de anime e uma cena da personagem

decapitando um chefe Yakuza. Kill Bill – Parte I (2003).

Fonte: Kill Bill – Parte I, 2003 (vide filmografia). Diagramação feita pelo autor.

Uma última homenagem aos filmes chineses encontra-se na cena anterior ao

confronto final da Niva e O-Ren Ishii, com o uso de técnicas características como os

cabos de suspensão de atores e a coreografia das lutas. O próprio figurino da

protagonista é muito parecido com o de Bruce Lee (figura 55-a) em seu último

filme, O Jogo da Morte (The Game of Death, 1978).

Figura 55: (a) Bruce Lee em Jogo da Morte (The Game of Death, 1978) e a Noiva (b) em Kill Bill.

Fontes: New York Times People / Kill Bill – Parte I, 2003. Diagramação feita pelo autor.

a b

a b

Page 95: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

94

3.3 Peter Greenaway: O Livro de Cabeceira

Peter Greenaway é um cineasta britânico profundamente influenciado pela

pintura, que é a sua formação original. Dentre seus filmes de maior destaque estão

O Livro de Cabeceira (The Pillow Book, 1996), A Última Tempestade (Prospero’s

Book, 1991) e O Cozinheiro, o Ladrão, sua Mulher e o Amante (The Cook, the Thief,

His Wife & Her Lover, 1989).

Greenaway trabalha com colagens, sobreposições e transparências como

forma de livrar-se da imposição da tela convencional. De acordo com Nova (2009),

o diretor tem um estilo peculiar de trabalhar com a montagem e os efeitos de pós-

produção:

Suas transparências, sua movimentação dos componentes visuais, seus arranjos e molduras, coreografam o quadro de modo a torná-lo também um elemento a mais na encenação fílmica. Por esse caminho, os efeitos especiais são incorporados à dramaturgia da forma criando novas categorias de montagem e alterando o quadro geral dos conflitos visuais, enunciando novos significados para as trucagens cinematográficas. (...) A incorporação das múltiplas camadas, para além de um novo elemento de composição, permitiu a Greenaway expandir os conceitos e as categorias do mise-em-cadre20, dos conflitos dentro do próprio plano, das categorias de montagem, contribuindo inventivamente para ampliar o quadro teórico da dramaturgia da forma elaborado por Eisenstein (NOVA, 2009, p.178).

Segundo Gosciola (2003), a desconstrução (ou narrativa descontínua) já era

um elemento presente desde Eisenstein, que a utilizava como ferramenta para

despertar o senso crítico do público. Para o autor, essa narrativa buscava novas

formas de expressão para o cinema, explorando recursos já conhecidos, somados

à “descontinuidade promovida pela inserção de eventos, de planos e de

20

Conceito difundido por Sergei Eisenstein, que corresponde a uma composição com imagens

interdependentes em uma determinada sequência de montagem (EISENSTEIN, 2002a, p. 15-26).

Page 96: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

95

sonoridades que quebravam a sequencia lógica e cronológica da história”

(GOSCIOLA, 2003, p.110).

É possível comparar a intervenção realizada por Greenaway em seus filmes

aos primeiros experimentos de Dziga Vertov, no início do cinema russo. Gosciola

(2003), afirma que Vertov já experimentava, nos anos de 1920, diversos efeitos de

transição e sobreposição, utilizados até hoje. Para o autor, apesar de Vertov captar

as imagens buscando o maior realismo possível, isto é, sem o uso de atores,

cenários ou efeitos, foi um grande experimentador da montagem, introduzindo

técnicas que lançariam as bases para a desconstrução no cinema. De acordo com

Manovich (2001):

É por isso que Vertov tem uma relevância singular para as novas mídias. Isso prova que é possível transformar "efeitos" em uma linguagem significativamente artística. (...) Nos filmes de Vertov, eles são motivados por um argumento específico, sendo que as novas técnicas para obter imagens e manipulá-las, resumidas por Vertov em sua expressão "kino-olho", podem ser usadas para decodificar o mundo. (...) Assim, nas mãos de Vertov, uma série de dados, normalmente estática e "objetiva", torna-se dinâmica e subjetiva. Mais importante, Vertov é capaz de conseguir algo que designers e artistas das novas mídias ainda têm que aprender - como mesclar dados e narrativa em uma nova forma (MANOVICH, 2001, p.18).

O filme O Livro de Cabeceira conta a saga de Nagiko, filha de um escritor. Em

todos os seus aniversários o pai tem o costume de escrever sobre seu rosto e nuca,

enquanto recita parte do livro Makura no Soshi (ou livro de cabeceira), um clássico

da literatura japonesa, escrito por Sei Shonagon (figura 56-a). O pai é chantageado

por um editor inescrupuloso, que troca serviços prestados por favores sexuais.

Mais tarde, Nagiko casa-se com o sobrinho desse editor. O jovem tem predileção

por arco e flecha, mas despreza o interesse da esposa por livros.

Nagiko foge de casa, após incendiá-la e muda-se para a China, buscando uma

vida nova e um homem que pudesse ser um excelente calígrafo e bom amante,

Page 97: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

96

mas nenhum dos candidatos preenche satisfatoriamente as duas exigências

(figuras 56-b e 56-c).

Em um café, ela conhece Jerome, um escritor americano poliglota por quem se

apaixona. Descobre que Jerome também é amante do mesmo editor que arruinou a

vida de seu pai e tenta, com a ajuda dele, publicar seus escritos, ofertando ao editor

13 livros que seriam escritos no corpo do rapaz. Após uma briga do casal, Jerome é

iludido a tentar simular a própria morte, como em Romeu e Julieta, a fim de

reconquistar Nagiko, no entanto ele acaba morrendo de fato. Sobre seu corpo, ela faz

o 6º livro: o livro do amante (figura 56-d).

Figura 56: a evolução do fetiche de Nagiko por escrever em corpos vem das boas lembranças com

seu pai (A). Depois, ela busca desesperadamente um amante com boa caligrafia que escreva em

seu corpo (B). Finalmente, passa a criar livros no corpo de seu amante, Jerome (C e D).

Fonte: O Livro de Cabeceira, 1996 (vide filmografia). Diagramação feita pelo autor.

a b

c

d

Page 98: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

97

Nagiko descobre que o editor mandou exumar o corpo de Jerome, arrancar

sua pele e transformá-la em páginas de um livro. Para tentar recuperar esse

objeto, ela completa os outros sete poemas em corpos de diferentes pessoas e os

envia ao editor, que se torna obcecado por esse jogo.

Segundo o diretor, a motivação para criar esse filme foi um desconforto em

relação ao domínio da palavra sobre a imagem no cinema:

O Livro de Cabeceira foi um filme feito em 1996 para jogar outra pedra no poço da minha desconfortável sensação de que até hoje não se viu nenhum cinema. O que vimos foram só 105 anos de texto ilustrado. Em praticamente todo filme a que assistimos, podemos ver o diretor seguindo o texto. Ilustrando primeiro as palavras e criando as imagens depois. (...) O que você lembra de um bom filme – e vamos falar apenas de bons filmes – não é a história, mas uma experiência especial e quem sabe única que tem a ver com a atmosfera, ambiência, performance, estilo, uma atitude emocional, gestos, fatos isolados, uma experiência audiovisual específica que não depende da história”. (GREENAWAY, 2001a, p.9)

Greenaway (2007) queixa-se do fato de não haver um cinema baseado em

imagens; explica que o que tivemos até hoje foi um prólogo, resumindo grande

parte das produções em apenas textos ilustrados. O autor afirma que o caminho

para que nos apropriemos e nos emancipemos daquilo que ele chama de “camisa

de força do modelo tradicional” (ibidem, p.7) reside nas possibilidades abertas

pelas novas tecnologias.

Percebe-se que, a partir desse posicionamento, o diretor busca a quebra do

enquadramento imposto pela moldura da tela para gerar novas relações entre

cenas e quadros. Sua linguagem remete à fotomontagem, ora colando e mudando

o lay-out21 das telas, ora alternando a transparência e revelando novas camadas

significativas. Desse modo, para entendermos a linguagem empregada por

21

Lay-out é a composição imagética que resulta das escolhas feitas entre os elementos gráficos

disponíveis (COELHO, 2008, p.148).

Page 99: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

98

Greenaway em suas composições audiovisuais, devemos retornar aos princípios da

fotomontagem e ao próprio conceito de colagem em si.

Segundo Souza (2009), a colagem é um termo de origem francesa (coller)

utilizado inicialmente nas obras cubistas por Georges Braque e Pablo Picasso.

Segundo a autora, a colagem consiste na “composição de vários elementos

distintos, como pedaços de papéis coloridos, revistas, jornais, fotografias ou até

mesmo outras obras de arte” (SOUZA, 2009, p.19).

Greenaway apropria-se da idéia do corpo-livro, para validar o potencial

pictórico dos ideogramas lembrando a intervenção visual no corpo-pixel,

idealizado por April Greiman22 (figura 57). Ela insere dados, imagens e textos sobre

o seu corpo, trabalha camadas e signos das mais diferentes culturas. Enquanto o

corpo de Greiman é desconstruído e reconstruído pela composição de imagens, os

corpos em O Livro de Cabeceira são unidos pelos textos que os definem. Para Royo

(2008) são os símbolos que fazem o ser humano perceber a realidade. Segundo o

autor, vivemos em um universo que não é apenas material, mas também

simbólico.

Figura 57: Composição de April Greiman publicada na revista Design Quarterly, nº 133, sob o

título “Does It Make Sense?”. MIT Press/Walker Art Center, 1987.

Fonte: Idsgn - Design discussions: April Greiman on technology.

22

April Greiman é designer americana, nascida em 1946. Foi uma das primeiras a experimentar

composições baseadas nas novas tecnologias digitais e a incorporar o pixel e os defeitos gerados

pelos computadores como linguagem.

Page 100: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

99

Poynor (2003, p.99) diz que o elemento principal na imagem criada por

Greiman é o seu caráter excessivo, expresso no tamanho do cartaz (0,6m x 1,8m),

nos detalhes e nas grandes quantidades de informações, além da inovação em

utilizar a baixa resolução das imagens na tecnologia digital da época como

elemento de linguagem. O autor afirma que, na opinião de muitos artistas, em

meados dos anos de 1980, “a baixa resolução gráfica dos mapas de bits

representava um retrocesso, no entanto, os primeiros expoentes do desenho em

Macintosh encarregaram-se de aproveitar ao máximo as limitações do

computador” (POYNOR, 2003, p.97).

Para Carvalho (1999), esse tipo de experimentação com a desconstrução do

corpo foi bastante explorado pelos surrealistas por meio de fotomontagens que

interferiam profundamente na estrutura corporal, “submetendo-a a todos os tipos

de combinações, seja através de desmembramentos, hipertrofias, repetições,

multiplicações ou substituições insólitas de suas partes” (CARVALHO, 1999, p. 24).

Assim como Greiman, Greenaway insere janelas, reorganizando as

informações (figura 58). Em muitos casos, as novas janelas indicam o que está por

vir, em outros destacam um determinado elemento e também podem servir como

contraponto ou complemento de uma cena existente.

Figura 58: Na imagem da esquerda, o pequeno quadro no canto superior direito da tela revela as cenas que estão por vir. Ao lado, o quadro na parte inferior central mostra em detalhe os livros que Nagiko carrega, quase que imperceptivelmente, ao fundo da cena. Fonte: O Livro de Cabeceira, 1996. Diagramação feita pelo autor.

a b

Page 101: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

100

Essa colagem visual de Greenaway divide o foco de atenção e pontua

elementos específicos na cena. Uma fragmentação narrativa e pictórica é

constante em Livro de Cabeceira. As composições não são feitas ao acaso e

influenciam na fruição do filme. Carvalho (1999) entende a composição e o corte

como sintomas das incertezas advindas com a pós modernidade:

O gesto do corte, por exemplo, é uma atitude-metáfora da busca de transformar a realidade já estabelecida, funcionando como uma intromissão no acabado, executando uma violentação da integridade da imagem, que por sua vez é a representação da realidade. Toda fotomontagem parece atestar que o sentido de unicidade não é mais possível, num mundo fragmentado pela produção em massa e destruído pela guerra. Não há mais certezas, daí a necessidade de se inventarem novas relações, novos sentidos, construir possibilidades a partir do que restou da desintegração da totalidade (ibidem, p.49)

Figura 59: nessas camadas o ideograma torna-se um elemento estético,

assim como a legenda, que é quase ilegível em alguns momentos.

Fonte: O Livro de Cabeceira, 1996. Diagramação feita pelo autor.

Outro efeito utilizado é a sobreposição de camadas com vários níveis de

transparência (figura 59). Nesse caso, o diretor cria relações e composições únicas

entre texto e imagem. A intenção não é que os textos sejam necessariamente

Page 102: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

101

lidos, tanto que, mesmo quem sabe ler ideogramas, não consegue entender os

escritos nos corpos dos personagens. O texto é mais uma camada, um elemento

da composição, uma rebeldia do autor à palavra que teima em ser lida. De acordo

com Coelho (2008, p.152) “estamos habituados a olhar as palavras em termos da

informação que possuem e raramente, ou quase nunca, observamos a aparência

de uma letra, palavra, linha ou texto”. De fato, para Greenaway (2001b) texto e

imagem na cultura ocidental “são partes de dois tipos diferentes de cultura, (...)

[porém] há um juízo de valor nisso (...) de que, de alguma forma o texto é superior

à imagem devido a nossa educação” (GREENAWAY, 2001b, p.2).

Page 103: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

102

Conclusão

Apesar dos efeitos especiais serem elementos importantes na criação da

linguagem visual cinematográfica, observa-se uma escassez de estudos

acadêmicos sobre o tema. De fato, existe uma literatura produzida sobre o

assunto, mas é quase sempre focada na técnica, permanecendo na

superficialidade dos processos operacionais. Pirotecnias, miniaturas e alguns

efeitos 3D são esmiuçados na sua criação e composição, mas isso raramente é

feito a serviço da linguagem e da estética do filme.

Ainda existe uma certa controvérsia sobre a quem os profissionais de efeitos

especiais devem responder durante a realização cinematográfica. Algumas

produções colocam-na subordinada à direção e outras, ao design de produção ou à

direção de arte. É importante ressaltar que nem sempre a área de efeitos especiais

constitui um departamento ou setor oficialmente reconhecido na hierarquia de

uma equipe de cinema, muitas vezes composta por empresas terceirizadas ou

profissionais autônomos, não raro deslocados do processo e alheios às reais

necessidades do projeto.

Um problema de ordem operacional é a visão completamente fragmentada

que alguns realizadores têm do processo: técnicos de diferentes áreas não se

conversam. Um dos sintomas dessa falta de comunicação pode ser observado

quando os efeitos resultantes sequer dialogam com o filme, gerando uma

sensação de estranheza, de algo fora do lugar ou mesmo um clima diferente

daquele pensado para a cena (por exemplo, um efeito cômico onde deveria haver

impacto dramático). O que pode ter ocorrido, na verdade, é uma série de falhas

desde o projeto. É justamente nesse aspecto que o campo do design potencializa

todo o processo de criação de efeitos especiais, tornando-o parte de um projeto

criativo e integrado.

As etapas de produção dos efeitos especiais também apresentam objetivos

que estão além da estética e de linguagem, como a realização segura de cenas

Page 104: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

103

que, de outro modo, colocariam as pessoas ou o meio ambiente em risco. Por

meio de trucagens, por exemplo, o ator ou o dublê não precisa se expor a um

perigo físico. Outro objetivo significativo é a redução de custos e otimização de

processos, fornecendo soluções mais baratas para a composição de cenários,

personagens e até movimentos de câmera. Isso envolve a pesquisa de materiais

alternativos e o investimento em produção de conhecimento que seja, de fato,

compartilhado pelos profissionais e estudiosos da área.

Assim, o designer de efeitos especiais mapeia e aplica as técnicas

empregadas, contemplando a usabilidade (fruição), a segurança, a ergonomia, o

meio ambiente e a estética para articular a produção fílmica como uma atividade

projetual, aliada à concepção do diretor e ao planejamento dos demais setores.

Pretende-se, desse modo, reconhecer o designer de efeitos especiais como

projetista, criador e realizador e não apenas como um técnico preocupado com as

questões operacionais.

Uma vez que se queira resgatar o sentido original e valorizar o papel do

design de efeitos especiais, é preciso, num primeiro momento, não se contentar

com uma descrição genérica e limitante, entendendo como eles se constroem e

influenciam a obra fílmica.

Percebemos, em todos os exemplos de filmes citados, uma intenção clara

por parte dos diretores de trazer para o campo dos efeitos especiais a expressão

ou materialização dos conceitos visuais, da linguagem adotada e dos padrões

buscados, mantendo essa coerência do começo ao fim. Eles sintetizam algumas

das múltiplas formas que o designer de efeitos especiais tem à disposição para

contribuir com a narrativa visual.

Em Rebobine, Por Favor (Be Kind, Rewind, 2008) Gondry elabora o projeto

visual do filme como uma reconstrução improvisada dos efeitos especiais das

grandes produções de Hollywood. Assim, seu projeto de efeitos especiais é

fundamentado justamente na bricolagem e nas gambiarras inventadas pelos

Page 105: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

104

personagens para fazer referência a outras produções. É nesse aparente e

despretensioso improviso que o autor cria ícones e caricaturas dos efeitos mais

consagrados do cinema.

Em Kill Bill (2003), o projeto de Tarantino é a reconstrução do clima e

ambientação dos filmes de Kung-fu, inspirados pelos westerns. Nesse sentido,

percebe-se uma intensa pesquisa referencial como elemento fundamental do

processo de criação dos efeitos. A forma como trabalha o hibridismo da linguagem

inserindo, por exemplo, um anime no meio do filme, configura a linha estética

proposta pelo diretor. A escolha de Tarantino, neste projeto, em não utilizar

efeitos de pós-produção ou elementos de computação gráfica coloca-o na

contramão de outras produções contemporâneas.

Já em Livro de Cabeceira (The Pillow Book, 1996), Greenaway projeta seu

filme como um livro de recortes e transparências. Todos os seus efeitos têm um

propósito, complementando ou dialogando com a narrativa. Entre os filmes

analisados, esse extrapola intensamente as convenções básicas da tela

cinematográfica, sobrepondo janelas e camadas. Desse modo, os efeitos especiais,

como elementos de pós-produção, foram projetados para atuarem em relação à

tela da mesma maneira que os ideogramas e palavras constroem-se no corpo dos

personagens: não para serem lidos, mas para serem percebidos como

interferências que evocam a atenção, desconstroem e surpreendem, tirando o

público de sua zona de conforto.

Efeitos especiais são, antes de tudo, formas de contar a história. Devem

conduzir o avanço da narrativa e não ser apenas uma pausa lúdica. O efeito que

aparece como um remendo no filme, fugindo da proposta estética, acaba por

enfraquecer todo o conjunto, quebrando a imersão do espectador em relação à

trama.

Parece ser uma solução natural atrelar os efeitos especiais ao design de

produção, uma vez que esta área é a responsável por todo o conceito visual

Page 106: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

105

relacionado à constituição da mise-èn-scene. Os efeitos especiais provêm de

fontes técnicas e estéticas e este resultado poderá ser observado no filme pronto.

No entanto, o desafio de articular o design no cinema torna-se um pouco mais

complexo na prática, pois nem todos os cineastas e profissionais da área

entendem os processos envolvidos, como as atividades projetuais e as

contribuições do design para a realização do filme.

Page 107: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

106

Referências

Bibliografia

ARNHEIM, R. Arte e percepção visual: uma psicologia da visão criadora. São

Paulo: Pioneira, 2005.

AUMONT, J. A estética do filme. Campinas: Papirus, 1994.

AZEVEDO, A. A vingança é um prato que se come frio: interfaces entre estilo e

pulsão. Revista de Letras (São Paulo), v. 46, p. 31-57, 2006.

BAPTISTA, M. A. (Org.); MASCARELLO, F. (Org.). Cinema mundial contemporâneo,

1ª ed. Campinas: Papirus, 2008. v. 1.

BAPTISTA, M. A. O design de produção em Jackie Brown, de Quentin Tarantino.

Revista Design em Foco, Salvador, v.3, n.2, p.9-19, jul./dez. 2006.

________________ . O design de produção no cinema contemporâneo. In:

Design, arte e tecnologia, São Paulo: Edições Rosari, PUC-RIO e Universidade

Anhembi Morumbi, 2005.

BONSIEPE, G. Design: do material ao digital. Florianópolis: FIESC/IEL, 1997.

BORDWELL, D. & THOMPSON, K. Film art – an introduction. 7ª ed. New York:

McGraw-Hill, 2003.

______________. The Classical Hollywood Cinema: film style & mode of

production to 1960. Columbia: Columbia University Press, 1985.

BRASIL. Decreto no 82.385, de 24 de outubro de 1978. Dispõe sobre as profissões

de artista e de técnico em espetáculos de diversões, e dá outras providências.

Page 108: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

107

Diário Oficial da União. Distrito Federal. Seção 1. p. 16.259. Publicado em 06 de

outubro de 1978.

BOUFLEUR, R. A questão da gambiarra: formas alternativas de desenvolver

artefatos e suas relações com o design de produtos. 2006. Dissertação

(mestrado). FAU-USP, 2006.

BÜRDEK, B. Design: history, theory and practice of product design. Basel:

Birkhäuser – Publishers for Architecture, 2005.

CARRIÈRE, J. C. A linguagem secreta do cinema. Rio de Janeiro: Nova Fronteira,

2006.

CARVALHO, H.J.P. Da fotomontagem às poéticas digitais. Dissertação (mestrado).

Campinas: Unicamp, 1999.

COELHO, L. (org). Conceitos-chave em design. Rio de Janeiro: PUC-Rio, Novas

Idéias, 2008.

COOK, D. Lost illusions: american cinema in the shadow of Watergate and

Vietnam. California: University of California Press, 2002.

DEBRIX, J. R.; STEPHENSON, R. O cinema como arte. Rio de Janeiro: Zahar Editores,

1969.

DENIS, R. C. História do design. São Paulo: Edgard Blücher, 2000.

DENSER, M. T. O pensamento gráfico no cinema: a construção e a representação

da imagem cinematográfica. 2008. Tese (Doutorado em Semiótica) – PUC-SP. São

Paulo, 2008.

DONDIS, D. A. Sintaxe da linguagem visual. São Paulo: Martins Fontes, 2003.

DROGUETT, J. Sonhar de olhos abertos. São Paulo: Arte & Ciência, 2004.

Page 109: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

108

EISENSTEIN, S. A forma do filme. Traduzido por Tereza Ottoni. Rio de Janeiro:

Jorge Zahar, 2002a.

___________. O sentido do filme. Traduzido por Tereza Ottoni. Rio de Janeiro:

Jorge Zahar, 2002b.

ELSAESSER, T.; HORWATH, A.; KING, N. Film studies - the last great american

picture show - New Hollywood Cinema in the 1970s. Amsterdam: Amsterdam

University Press, 2004.

FIELDING, R. Technique of special effects cinematography. London: Focal Press,

1997.

FLUSSER, V. Filosofia da caixa preta: ensaios para uma futura filosofia da

fotografia. Rio de Janeiro: Relume Dumará, 2002.

__________. O mundo codificado: por uma filosofia do design e da comunicação.

São Paulo: Cosac Naify, 2008.

FRANGE, L. B. P. Arte e seu ensino, uma questão ou várias questões? In:

BARBOSA, A. M. (org.). Inquietações e mudanças no ensino da arte. São Paulo:

Cortez, 2003.

GARCIA, W. Introdução ao cinema intertexual de Peter Greenaway. São Paulo:

Annablume, 2000. v. 1. 107 p.

GONÇALVES, E. M.; RENÓ, D. P. La intertextualidad en el cine: una opción de

hibridismo de lenguaje. In: 5º Congreso Internacional de Teoría y Análisis

Cinematográfico, 2009, Morelia. Memorias del Quinto Congreso Internacional de

Teoría y Análisis Cinematográfico, 2009. v. 1. p. 1-17

GONDRY, M. Diretor francês Michel Gondry comenta filmes de sua carreira.

Disponível em <http://www1.folha.uol.com.br/folha/ilustrada/...

...ult90u367481.shtml> , acessado em 25 de agosto de 2010. São Paulo: Ilustrada -

Page 110: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

109

Folha de São Paulo. Entrevista concedida a Marco Aurélio Canônico em 28 de

janeiro de 2008.

GOSCIOLA, V. Roteiro para as novas mídias – do game à TV interativa. São Paulo:

SENAC, 2003.

GREENAWAY, P. Cinema: 105 anos de texto ilustrado. Tradução por Myriam Ávila.

In: Aletria – Revista de Estudos de Literatura. Belo Horizonte: UFMG, 2001a. p.9-

12.

_____________. Cinema of ideas: an interview with Peter Greenaway.

Rotterdam: CFK, 2001b. Entrevista concedida a Henk Oosterling.

_____________. Ao novo cinema de Greenaway. In: Sessões do Imaginário. Porto

Alegre: PUCRS, 2007. Entrevista concedida a Eduardo Portanova Barros. p. 5-7.

HASELBECK, S.; ROBERTS, P .Kill Bill references guide. Disponível em:

http://www.tarantino.info/wiki/index.php/Kill_Bill_References_Guide/tarantino.

Acesso em: 02 de jul. 2010.

HOLLIS, R. Design gráfico: uma história concisa. São Paulo: Martins Fontes, 2001.

LO BRUTTO, V. The filmmaker’s guide to production design. New York: Allworth

Press, 2002.

MACHADO, A. Pré-cinemas & pós-cinemas. Campinas: Papirus, 2002.

MANGUEL, A. Lendo imagens: uma história de amor e ódio. Traduzido por Rubens

Figueiredo, Rousara Eichemberg e Cláudia Strauch. São Paulo: Cia das Letras, 2001.

MANOVICH, L. A era da infoestética. São Paulo: Trópico, 2007. Entrevista

concedida a Cícero Inácio da Silva. Disponível em <http://pphp.uol.com.br/...

...tropico/html/textos/2928,1.shl>, acessado em 01 de setembro de 2010.

Page 111: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

110

_____________. The language of new media. Cambridge, MA: The MIT Press,

2001.

MARTIN, M. A linguagem cinematográfica. São Paulo: Brasiliense, 2007

MASCARELLO, F. (org.). História do cinema mundial. São Paulo: Papirus, 2006.

MCGEE, P. From Shane to Kill Bill: rethinking the Western. New Jersey (US):

Wiley-Blackwell, 2007.

MILLER, R. Special effects: an introduction to movie magic. Minneapolis: Twenty-

First Century Books, 2006.

MUNARI, B. Design e comunicação visual. São Paulo: Martins Fontes, 2006.

NOVA, J. L. L. A dramaturgia da forma das trucagens eletrônicas digitais em Peter

Greenaway. Tese (Doutorado em Ciências da Comunicação) – ECA/USP. São Paulo,

2009.

PINTEAU, P. Special effects: an oral history. New York: Harry N. Abrahams Inc.,

2004.

POYNOR, R. No más normas – diseño gráfico y posmoderno. Barcelona: Editorial

Gustavo Gili, 2003.

RAFFAELLI, R. O livro de cabeceira: o livrocorpo. Cadernos de Pesquisa

Interdisciplinar em Ciências Humanas. v. 75. Florianópolis: UFSC, 2005. p. 2-24.

RAMOS, F. Teoria contemporânea do cinema. v.1. São Paulo: Senac, 2005.

RICKITT, R.; HARRYHAUSEN, R. Special effects – the history and technique. New

York: ST Martin Press, 2007.

RIZZO, M. Art direction handbook for film. Oxford: Focal Press, 2005.

Page 112: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

111

ROCHA, G. A revolução do Cinema Novo. São Paulo: Cosac Naify, 2004.

ROSENFELD, A. Cinema: arte e indústria. São Paulo: Perspectiva, 2002.

ROYO, J. Design digital. São Paulo: Edições Rosari, 2008.

SANTOS, M. C. L. As cidades de plástico e papelão. Tese (livre-docência). São

Paulo: FAU-USP, 2003.

SONTAG, S. Sobre fotografia. São Paulo: Companhia das Letras, 2004.

SOUZA, R. A. A estética do mashup. Dissertação (mestrado). São Paulo: PUC-SP,

2009.

TASHIRO, C. S. Pretty Pictures – production design and the history film. Texas:

University of Texas Press, 1988.

TRUFFAUT, F. Uma certa tendência do cinema francês. In: O prazer dos olhos:

escritos sobre cinema. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2006. pp. 257-276.

VILLAS-BOAS, A. O que é [e o que nunca foi] design gráfico. Rio de Janeiro: 2AB

Editora, 2003.

Page 113: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

112

Filmografia

007 CONTRA O SATÂNICO DR. NO. Dr. No. Dirigido por Terence Young. Eon

Productions. Inglaterra, 1962. São Paulo: Fox Home Entertainment, 2006. DVD,

109 min. Dolby digital 5.1.

2001: UMA ODISSÉIA NO ESPAÇO. 2001: A Space Odyssey. Dirigido por Stanley

Kubrick. MGM. Estados Unidos e Inglaterra, 1968. São Paulo: Warner Home Vídeo,

2001. DVD, 148 min. Colorido. Dolby digital 5.1 e 2.0.

BATMAN. Batman. Dirigido por Tim Burton. Warner Bros. Pictures. Estados Unidos

e Inglaterra, 1989. São Paulo: Warner Home Vídeo, 1990. DVD, 126 min. Colorido.

Dolby digital 2.0.

BATMAN – O CAVALEIRO DAS TREVAS. The Dark Knight. Dirigido por Christopher

Nolan. Warner Bros. Pictures. Estados Unidos e Inglaterra, 2008. São Paulo:

Warner Home Vídeo, 2008. DVD, 126 min. Colorido. Dolby digital 5.1 e 2.0.

BRILHO ETERNO DE UMA MENTE SEM LEMBRANÇAS. Eternal Sunshine Of The

Spotless Mind. Dirigido por Michel Gondry. Focus Features. Estados Unidos, 2004.

São Paulo: Universal Home Vídeo, 2007. DVD, 108 min. Colorido. Dolby digital 5.1

e 2.0.

CAÇA-FANTASMAS, OS. Ghostbusters. Dirigido por Ivan Reitman. Columbia

Pictures. Estados Unidos, 1984. São Paulo: Sony Pictures, 2005. DVD, 105 min.

Colorido. Dolby digital 2.0.

CAÇADORES DA ARCA PERDIDA. Raiders Of The Lost Ark. Dirigido por Steven

Spielberg. Paramount Pictures. Estados Unidos, 1981. São Paulo: CIC Vídeo, 1981.

VHS, 115 min. Colorido. Estéreo.

Page 114: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

113

CIDADÃO KANE. Citizen Kane. Dirigido por Orson Welles. RKO Radio Pictures e

Mercury Productions. Estados Unidos, 1941. São Paulo: Warner Home Vídeo,

2001. DVD, 119 min. Preto e branco. Mono.

CLEÓPATRA. Cleopatra. Dirigido por Joseph L. Mankiewicz, Rouben Mamoulian e

Darryl F. Zanuck. 20th Century Fox. Inglaterra, Estados Unidos e Suíça, 1963. São

Paulo: Silver Screen, 2007. DVD, 192 min. Colorido. Estéreo.

COMANDO PARA MATAR. Commando. Dirigido por Mark Lester. 20th Century Fox.

Estados Unidos, 1985. São Paulo: Fox Home Entertainment, 2001. DVD, 90 min.

Colorido. Dolby digital 2.0.

DE VOLTA PARA O FUTURO. Back To The Future. Dirigido por Robert Zemeckis.

Universal Pictures, Amblin Entertainment e U-Drive Productions. Estados Unidos,

1985. São Paulo: Universal/ Microservice, 2002. DVD, 115 min. Colorido. Áudio 5.1.

DEMOLIÇÃO DE UM MURO. Démolition D'un Mur. Dirigido por Louis Lumière.

França, 1896. In: Os Irmãos Lumière - primeiros filmes. São Paulo: Cinemax, 1996.

DVD, 61 min. Preto e branco. Silencioso.

DONOS DA RUA, OS. Boyz N The Hood. Dirigido por John Singleton. Columbia

Pictures. Estados Unidos, 1991. São Paulo: LK-Tel. VHS, 112 min. Colorido. Estéreo.

E O VENTO LEVOU. Gone With The Wind. Dirigido por Victor Fleming, George

Cukor e Sam Wood. Warner Bros. Pictures. Estados Unidos, 1939. Warner Home

Vídeo, 2003. DVD, 233 min. Colorido. Mono e Dolby Digital 5.1.

FABULOSO DESTINO DE AMÉLIE POULAIN, O. Le Fabuleux Destin D'Amélie Poulain.

Dirigido por Jean-Pierre Jeunet. UGC e Claudie Ossard Productions. França, 2001.

São Paulo: Lumière, 2002. DVD, 122 min. Colorido. Dolby digital 5.1 e 2.0.

GOKE: BODY SNATCHER FROM HELL. Kyuketsuki Gokemidoro. Dirigido por Hajime

Sato. Shôchiku Eiga. Japão, 1968. VHS (NTSC), 84 min. Colorido. Estéreo.

Page 115: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

114

GUERRA NAS ESTRELAS (Episódio IV). Star Wars. Dirigido por George Lucas. 20th

Century Fox. Estados Unidos, 1977. São Paulo: Fox Home Entertainment, 2004.

DVD, 125 min. Colorido. Dolby digital 5.1 e 2.0.

HOMEM COM A CABEÇA DE BORRACHA. L'homme à La Tête En Caoutchouc.

Dirigido por Georges Méliès. França, 1901. In: Uma Sessão Méliès. São Paulo : Cult

Classics, 2010. DVD, 60 min. Preto e branco. Dolby digital 2.0.

HOMEM COM UMA CÂMERA, UM. Chelovek S. Kino-Apparatom. Dirigido por Dziga

Vertov. VUFKU. União Soviética, 1929. São Paulo: Continental Home Vídeo (ano

não informado). DVD, 68 min. Preto e branco. Silencioso.

JOGO DA MORTE, O. The Game Of Death. Dirigido por Robert Clouse. 20h Century

Fox. Estados Unidos, 1979. São Paulo: Wonder Multimídia. DVD, 95 min., Colorido.

Dolby Digital 2.0 Mono.

KILL BILL (vol.1). Kill Bill. Dirigido por Quentin Tarantino. Miramax Films. Estados

Unidos, 2003. São Paulo: Imagem Filmes, 2004. DVD (NTSC), 247 min. Colorido.

Dolby 2.0

KING KONG. King Kong. Dirigido por Merian C. Cooper e Ernest B. Schoedsack.

RKO Radio Pictures. Estados Unidos, 1933. São Paulo: Microservice (data não

informada). DVD, 104 min. Preto e branco. Mono.

LADY SNOWBLOOD. Shurayukihime. Dirigido por Toshiya Fujita. Toho Film. Japão,

1973. North Carolina (US): Animeigo, 2004. DVD, 186 min. Colorido. Estéreo.

LIVRO DE CABECEIRA. The Pillow Book. Dirigido por Peter Greenaway. Studio

Canal, Alpha Films e Kasander & Wigman Productions. França, Inglaterra, Holanda

e Luxemburgo, 1996. São Paulo: Spectra Nova, 2001. DVD, 120 min. Colorido.

Dolby digital 5.1 e 2.0.

Page 116: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

115

MATRIX. The Matrix. Dirigido por Andy Wachowski e Lana Wachowski. Warner

Bros. Pictures. Estados Unidos, 1999. São Paulo: Warner Home Vídeo, 2003. DVD,

135 min. Colorido. Dolby digital 5.1 e 2.0.

MATRIX: BAIXO ORÇAMENTO. Dirigido por Bruno Nicko, Eric Honda, Jotagá

Crema, Max Röhrig e Pedro Drozza. ECA/USP. Brasil, 2006. Disponível em:

<http://www.youtube.com/watch?gl=BR&v=13UGT47zHYA>. Acesso em: 25 de

junho de 2010.

MELÓMANO, O. Le Mélomane. Dirigido por Georges Méliès. França, 1903. In : uma

sessão Méliès. São Paulo : Cult Classics, 2010. DVD, 60 min. Preto e branco. Dolby

digital 2.0.

MENINAS MALVADAS. Mean Girls. Dirigido por Mark Waters. Paramount Pictures.

Estados Unidos e Canadá, 2004. São Paulo: Paramount, 2004. DVD, 97 min.

Colorido. Dolby digital 2.0.

METRÓPOLIS. Metropolis. Dirigido por Fritz Lang. Universum Films. Alemanha,

1927. São Paulo: Continental Home Vídeo, 2004. Edição especial restaurada. DVD,

124 min. Monocromático. Dolby Digital 5.1 e 2.0.

MORTE ANDA A CAVALO, A. Da Uomo a Uomo. Dirigido por Giulio Petroni. PEC.

Itália, 1967. Fortaleza: Ocean Pictures do Brasil, 2006. DVD, 114 min. Colorido.

Estéreo.

NOVAS VIAGENS DE SIMBAD, AS. The Golden Voyage Of Sinbad. Dirigido por

Gordon Hessler. Columbia Pictures. Estados Unidos, 1974. São Paulo: Columbia

Home Vídeo, 2000. DVD, 105 min. Colorido. Dolby digital 2.0.

NOSFERATU. Nosferatu, Eine Symphonie Des Grauens. Dirigido por Friedrich W.

Murnau. Jofa-Atelier Berlin Johannisthal e Prana Film GMBH. Alemanha, 1922. São

Paulo: Van Blad, 2003. DVD, 81 min. Preto e branco. Silencioso.

Page 117: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

116

OUTUBRO. Oktyabr. Dirigido por Sergei Eisenstein. Sovkino. União Soviética, 1928.

São Paulo: Continental Home Vídeo (ano não informado). DVD, 74 min. Preto e

branco. Dolby digital 2.0 (trilha sonora).

PARQUE DOS DINOSSAUROS, O. Jurassic Park. Dirigido por Steven Spielberg.

Universal Pictures e Amblin Entertainment. Estados Unidos, 1993. São Paulo:

Universal Home Vídeo, 2006. DVD, 126 min. Colorido. Dolby digital 5.1.

QUERO SER GRANDE. Big. Dirigido por Penny Marshall. Gracie Filmes e 20th

Century Fox. Estados Unidos, 1988. São Paulo: 20th Century Fox Home Vídeo,

2001. DVD, 104 min. Colorido. Estéreo.

RAJADA DE BALAS, UMA. Bonnie And Clyde. Dirigido por Arthur Penn. Warner

Bros., Seven Arts. Estados Unidos, 1967. São Paulo: Warner Home Vídeo, 2000.

DVD, 111 min. Colorido. Dolby digital 2.0.

RAMBO: PROGRAMADO PARA MATAR. First Blood. Dirigido por Ted Kotcheff.

Anabasis N.V. e Elcajo Productions. Estados Unidos, 1982. São Paulo: Universal

Home Vídeo, 2004. DVD, 90 min. Colorido. Dolby digital 5.1 e 2.0.

REBOBINE, POR FAVOR. Be Kind, Rewind. Dirigido por Michel Gondry. New Line

Cinema. Estados Unidos, 2008. São Paulo: Europa Filmes, 2009. DVD, 100 min.

Colorido. Dolby digital 2.0.

REI LEÃO, O. The Lion King. Dirigido por Roger Allers e Robert Minkoff. Walt

Disney Feature Animation. Estados Unidos, 1994. São Paulo: Disney, 2005. DVD, 89

min. Colorido. Dolby digital 5.1 e 2.0.

ROBOCOP, O POLICIAL DO FUTURO. Robocop. Dirigido por Paul Verhoeven. Orion

Pictures. Estados Unidos, 1987. São Paulo: Flashstar Home Vídeo. DVD, 103 min.

Colorido. Dolby digital 2.0.

Page 118: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

117

ROMEU + JULIETA. Romeo + Juliet. Dirigido por Baz Luhrmann. 20th Century Fox

Pictures e Bazmark Films. Estados Unidos, 1996. São Paulo: 20th Century Fox

Home Vídeo, 2001. DVD, 120 min. Colorido. Dolby digital 5.1 e 2.0.

SEM DESTINO. Easy Rider. Dirigido por Dennis Hopper. Columbia Pictures. Estados

Unidos, 1969. São Paulo: Sony Pictures, 2005. DVD, 95 min. Colorido. Dolby digital

2.0.

SONHANDO ACORDADO. La Science Des Rêves. Dirigido por Michel Gondry.

Partizan Films, Gaumónt e France 3 Cinéma. França e Itália, 2006. São Paulo:

Warner Home Vídeo, 2007. DVD, 106 min. Colorido. Dolby digital 5.1 e 2.0.

SUPERMAN – O FILME. Superman. Dirigido por Richard Donner. Alexander Salkind,

Dovemead Films, Film Export A. G. e International Film Production. Estados Unidos

e Inglaterra, 1978. São Paulo: Warner Home Vídeo, 2003. DVD, 154 min. Colorido.

Dolby Digital 5.1.

SWEENEY TODD – O BARBEIRO DEMONÍACO DA RUA FLEET. Sweeney Todd: The

Demon Barber Of Fleet Street. Dirigido por Tim Burton. Pinewood Studios. Estados

Unidos e Inglaterra, 2007. São Paulo: Warner Home Vídeo, 2008. DVD, 116 min.

Colorido. Dolby Digital 5.1.

TEMPOS MODERNOS. Modern Times. Dirigido por Charles Chaplin. Charles Chaplin

Productions. Estados Unidos, 1936. São Paulo: Continental, (ano não informado).

DVD, 86 min. Preto e branco. Estéreo 2.0.

TIMECODE. Timecode. Dirigido por Mike Figgis. Screen Gems e Red Mullet

Productions. Estados Unidos, 2000. São Paulo: Columbia Home Vídeo, 2001. DVD,

97 min. Colorido. Dolby Digital 2.0.

TRÊS HOMENS EM CONFLITO. The Good, The Bad And The Ugly. Dirigido por Sergio

Leone. Arturo González Produccíon Cinematografica, Constantin Films e PEA.

Page 119: O DESIGN DE EFEITOS ESPECIAIS NO CINEMA...estudo do potencial estético-narrativo dos efeitos especiais. Deste modo, analisá-los como linguagem, e não apenas como “técnicas soltas”,

118

Espanha, Alemanha Ocidental e Itália, 1966. São Paulo: MGM Home

Entertainment, 2005. DVD, 163 min. Colorido. Dolby digital 2.0.

TUBARÃO. Jaws. Dirigido por Steven Spielberg. Universal Studios. Estados Unidos,

1975. São Paulo: Columbia Tristar Pictures, 2000. DVD, 124 min. Colorido. Dolby

digital 5.1 e 2.0.

VIAGEM À LUA. Le Voyage Dans La Lune. Dirigido por Georges Méliès. França,

1902. In: uma sessão Méliès. São Paulo : Cult Classics, 2010. DVD, 60 min. Preto e

branco. Dolby digital 2.0.