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ESTUDO
Câmara dos Deputados Praça dos Três Poderes Consultoria Legislativa Anexo III - Térreo Brasília - DF
O DESAFIO DA APLICAÇÃO
DA LEI DOS RESÍDUOS SÓLIDOS
Suely Mara Vaz Guimarães de Araújo Consultora Legislativa da Área XI
Meio Ambiente e Direito Ambiental, Desenvolvimento Urbano e Regional
ESTUDO
SETEMBRO/2013
2
SUMÁRIO
1. A GESTÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS E A LEI Nº 12.305/2010............................... 3
2. OS ATOS REGULAMENTARES ................................................................................... 5
3. OS ENTES COLEGIADOS ........................................................................................... 18
4. O PLANO NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS ................................................... 21
5. A APLICAÇÃO DA LOGÍSTICA REVERSA ............................................................. 28
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS ......................................................................................... 30
REFERÊNCIAS/PÁGINAS ELETRÔNICAS DE INTERESSE ..................................... 32
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3
O DESAFIO DA APLICAÇÃO
DA LEI DOS RESÍDUOS SÓLIDOS
Suely Mara Vaz Guimarães de Araújo
1. A GESTÃO DOS RESÍDUOS SÓLIDOS E A LEI Nº 12.305/20101
A gestão dos resíduos sólidos coloca-se entre as atribuições comuns
de União, Estados, Distrito Federal e Municípios2
, mas é entendida no País como tarefa
sobretudo das municipalidades, que controlam os serviços de limpeza urbana e manejo de
resíduos sólidos urbanos, considerados historicamente como de predominante interesse
local3
.
O governo federal, até pouco tempo atrás, dedicava pouca atenção a
esse assunto. Há registros de algumas iniciativas, com recursos escassos4
. A atenção do
governo central sempre esteve mais direcionada aos serviços de água e esgoto do que à
gestão dos resíduos sólidos. Sequer há dados consistentes sobre a real situação dos resíduos
sólidos no Brasil (ARAÚJO; JURAS, 2011, p. 22-25). Na esfera da legislação, não havia, até
2010, lei de aplicação nacional com regras sobre a gestão dos resíduos sólidos5
.
O processo legislativo que gerou a Lei nº 12.305/2010, que trata da
Política Nacional de Resíduos Sólidos, iniciou-se em 1989, com uma proposta no Senado
Federal dispondo exclusivamente sobre os resíduos hospitalares. Encaminhado à Câmara
dos Deputados em 1991, ao longo dos anos foram apensadas mais de 150 proposições
legislativas no processo6
.
1
Os comentários desta primeira seção introdutória são oriundos da tese de doutorado da autora. Ver:
ARAÚJO, Suely M. V. G. Política Ambiental no Brasil no Período 1992-2012: Um Estudo Comparado das
Agendas Verde e Marrom. Tese (doutorado em ciência política) – Instituto de Ciência Política, Universidade
de Brasília, Brasília. 2013. Disponível em: http://www.researchgate.net/profile/Suely_Araujo/
2
Ver o art. 23, caput, incisos VI e IX, da Constituição Federal.
3
Ver o art. 30, caput, inciso V, da Constituição Federal.
4
Programa Brasil Joga Limpo, relativo ao Plano Plurianual (PPA) 2000-2003 e Programa Resíduos Sólidos
Urbanos, incluso no PPA 2004-2007 e no PPA 2008-2011.
5
As normas urbanísticas e ambientais estão no âmbito da legislação concorrente (art. 24 da Constituição
Federal) e podem ser editadas pelas diferentes esferas de governo.
6
Ver o processo do PLS nº 354/1989 no Senado Federal e do PL nº 203/1991 e apensos na Câmara dos
Deputados.
4
Esses projetos de lei dispunham sobre questões variadas relativas à
gestão dos resíduos sólidos, desde as mais abrangentes, com propostas de uma política
nacional, até as específicas sobre pilhas e baterias, pneus usados, embalagens, reciclagem,
importação de resíduos e outros tópicos. Entre os assuntos que geraram maior polêmica no
processo, destacam-se a responsabilidade pós-consumo do setor produtivo, a possibilidade
ou não de importação de resíduos e a incineração.
Pela lógica da responsabilidade pós-consumo, os fabricantes de
produtos e embalagens devem responsabilizar-se pelo ciclo integral daquilo que colocam no
mercado e seus efeitos sobre o meio ambiente. Concretamente, o fabricante passa a ter de
assegurar o recolhimento de determinados produtos e embalagens após o uso pelo
consumidor e, cabe destacar, garantir também a destinação ambientalmente correta do que
recolher. As normas sobre a responsabilidade pós-consumo por vezes envolvem
expressamente os comerciantes e os próprios consumidores, como forma de viabilizar a
logística reversa, o sistema de retorno aos fabricantes.
Por muitos anos, representantes do setor empresarial externaram
restrições à inserção em lei da responsabilidade pós-consumo e da logística reversa. O
consenso técnico e político nesse assunto específico foi viabilizado mediante a construção
do conceito de responsabilidade compartilhada pelo ciclo de vida dos produtos. A partir
desse conceito, entende-se que as obrigações nesse sentido não se esgotam na
responsabilidade pós-consumo do setor produtivo, e englobam fabricantes, importadores,
distribuidores e comerciantes, assim como os consumidores e os titulares dos serviços
públicos de limpeza urbana e de manejo dos resíduos sólidos.
Um elemento interessante presente na Lei nº 12.305/2010, pouco
divulgado, é a possibilidade de que fabricantes, importadores, distribuidores e comerciantes
participem das ações previstas no plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos,
mediante acordos ou termos de compromisso firmados com o município, no caso de
produtos ainda não inclusos no esquema da logística reversa7
. A responsabilidade pós-
consumo, assim, é mais ampla do que os sistemas de logística reversa.
Deve ser dito que, até a aprovação da Lei nº 12.305/2010, as poucas
normas de cunho nacional específicas sobre a gestão dos resíduos sólidos encontravam-se
essencialmente em resoluções do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), em sua
maior parte com problemas graves de eficácia em sua aplicação. Além delas, havia as
disposições sobre os serviços de limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos urbanos
constantes da Lei nº 11.445/2007 (Lei do Saneamento Básico).
7
Ver o art. 31, caput, inciso IV, da Lei nº 12.305/2010.
5
Enquanto etapa de formulação da política pública, a Lei nº
12.305/2010 pode ser considerada uma mudança paradigmática, especialmente em face da
situação anterior de quase ausência de normas legais sobre o tema que tivessem aplicação
nacional. Estruturou-se um arcabouço legal novo e amplo para essa área de políticas
públicas. A lei aprovada inclui a base normativa de planos de gestão de resíduos a serem
formulados e implementados pelas diferentes esferas de governo, a lista de empreendedores
sujeitos a planos de gerenciamento de resíduos sólidos no âmbito do licenciamento
ambiental, normas específicas sobre os resíduos perigosos, regras básicas sobre a
responsabilidade pós-consumo e a logística reversa e outras.
A etapa de implementação da lei ainda dá seus passos iniciais. De
toda forma, como o próprio texto da Lei nº 12.305/2010 inclui exigências a curto prazo,
como a elaboração dos planos de resíduos sólidos pelos entes federados e a eliminação, até
agosto de 2014, dos muitos “lixões” existentes no País, já se podem analisar os esforços em
curso e parte dos desafios que se apresentam para o poder público e os diferentes atores
privados que têm tarefas estabelecidas quanto à Política Nacional de Resíduos Sólidos. Este
trabalho intenta trazer contribuições nessa linha.
São analisados, na sequência: a regulamentação da Lei
nº 12.305/2010, com foco, principalmente, no Decreto nº 7.404/2010; a conformação, as
tarefas e os primeiros resultados do trabalho dos entes colegiados criados pelo governo
federal para a aplicação da lei; o primeiro Plano Nacional de Resíduos Sólidos e a aplicação
da logística reversa, e efetuadas as considerações finais.
2. OS ATOS REGULAMENTARES
O Decreto nº 7.404/2010, o primeiro regulamento editado para a
Lei nº 12.305/2010, tem 86 artigos e subdivide-se em doze títulos: Disposições Preliminares;
Do Comitê Interministerial da Política Nacional de Resíduos Sólidos; Das
Responsabilidades dos Geradores de Resíduos Sólidos e do Poder Público; Das Diretrizes
Aplicáveis à Gestão e Gerenciamento dos Resíduos Sólidos; Da Participação dos Catadores
de Materiais Recicláveis e Reutilizáveis; Dos Planos de Resíduos Sólidos; Dos Resíduos
Perigosos; Do Sistema Nacional de Informações sobre a Gestão dos Resíduos Sólidos; Da
Educação Ambiental na Gestão dos Resíduos Sólidos; Das Condições de Acesso a Recursos;
Dos Instrumentos Econômicos e Das Disposições Finais.
Foram criados, por esse decreto, dois entes colegiados com tarefas
afetas à aplicação da lei, o Comitê Interministerial da Política Nacional de Resíduos Sólidos
e o Comitê Orientador da Logística Reversa. Ambos são compostos por representantes de
diferentes ministérios, sem a participação de representantes do setor empresarial ou da
6
sociedade civil. Os detalhes sobre a composição e o funcionamento desses entes colegiados
estão na Seção 3 deste estudo.
No Quadro 1, comentam-se os tópicos constantes na Lei
nº 12.305/2010 que foram objeto de regulamentação pelo Decreto nº 7.404/2010.
Complementarmente, na sequência, são analisados aspectos de relevo nesse âmbito, no que
toca a deficiências e lacunas, inclusive do regulamento editado.
Quadro 1 – Análise do regulamento da Lei nº 12.305/2010
DISPOSITIVOS DA
LEI Nº 12.305/2010
DISPOSITIVOS CORRESPONDENTES DO
DECRETO Nº 7.404/2010
COMENTÁRIOS
Título I
Disposições Gerais
Capítulo I
Do Objeto e do Campo de
Aplicação
(arts. 1º e 2º)
Art. 2º
O art. 2º do decreto dispõe sobre
a relação da Política Nacional de
Resíduos Sólidos com outras
políticas públicas.
Capítulo II
Definições
(art. 3º)
- Dispensa regulamentação.
Título II
Da Política Nacional de Resíduos Sólidos
Capítulo I
Disposições Gerais
(arts. 4º e 5º)
- Dispensa regulamentação.
Capítulo II
Dos Princípios e Objetivos
(arts. 6º e 7º)
- Dispensa regulamentação.
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DISPOSITIVOS DA
LEI Nº 12.305/2010
DISPOSITIVOS CORRESPONDENTES DO
DECRETO Nº 7.404/2010
COMENTÁRIOS
Capítulo III
Dos Instrumentos
(art. 8º)
Arts. 71 a 77
O decreto inclui título específico
sobre o Sistema Nacional de
Informações sobre Resíduos
Sólidos (Sinir), estabelecendo o
prazo de dois anos para sua
organização. Contém também
título específico sobre a educação
ambiental na gestão dos resíduos
sólidos.
Arts. 3º e 4º
Os arts. 3º e 4º do decreto
dispõem sobre o Comitê
Interministerial da Política
Nacional de Resíduos Sólidos.
Título III
Das Diretrizes Aplicáveis aos Resíduos Sólidos
Capítulo I
Disposições Preliminares
(arts. 9º a 13)
Arts. 35 a 39
O decreto repete a ordem de
prioridade estabelecida na lei: não
geração, redução, reutilização,
reciclagem, tratamento dos
resíduos sólidos e disposição final
ambientalmente adequada dos
rejeitos. Prevê ato conjunto dos
Ministérios do Meio Ambiente, de
Minas e Energia e das Cidades
sobre a recuperação energética dos
resíduos sólidos urbanos. Traz
disposição sobre os resíduos dos
serviços de transporte, que
observarão normas dos órgãos do
Sisnama e das autoridades
sanitárias.
Capítulo II
Dos Planos de Resíduos Sólidos
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DISPOSITIVOS DA
LEI Nº 12.305/2010
DISPOSITIVOS CORRESPONDENTES DO
DECRETO Nº 7.404/2010
COMENTÁRIOS
Seção I
Disposições Gerais
(art. 14)
Art. 45
O decreto repete a lista de planos
de resíduos constante na lei. Inclui
a previsão de eles serem
disponibilizados via Rede Mundial
de Computadores. Remete o
detalhamento dos planos de
gerenciamento de resíduos, a cargo
de determinados empreendedores,
às normas estabelecidas pelos
órgãos competentes do Sisnama.
Seção II
Do Plano Nacional de Resíduos
Sólidos
(art. 15)
Arts. 46 e 47
O decreto não trata do conteúdo
mínimo do plano nacional,
assumindo que o conteúdo da lei
nesse aspecto dispensa
regulamentação. Acresce o
procedimento de elaboração do
Plano Nacional de Resíduos
Sólidos, tendo em vista assegurar a
participação social requerida na
lei.
Seção III
Dos Planos Estaduais de Resíduos
Sólidos
(arts. 16 e 17)
Arts. 48 e 49
O decreto não trata do conteúdo
mínimo do plano estadual,
assumindo que o conteúdo da lei
nesse aspecto dispensa
regulamentação. Prevê que o
conteúdo dos planos
microrregionais e dos planos de
regiões metropolitanas e
aglomerações urbanas será
estabelecido em conjunto com os
municípios envolvidos. Mencione-
se que o art. 25, § 3º, da
Constituição, prevê lei
complementar estadual para a
instituição de regiões
metropolitanas, aglomerações
urbanas e microrregiões.
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DISPOSITIVOS DA
LEI Nº 12.305/2010
DISPOSITIVOS CORRESPONDENTES DO
DECRETO Nº 7.404/2010
COMENTÁRIOS
Seção IV
Dos Planos Municipais de Gestão
Integrada de Resíduos Sólidos
(arts. 18 e 19)
Arts. 50 a 52
O decreto explicita os passivos
ambientais que demandam
medidas saneadoras, referindo-se a
áreas contaminadas (lixões e
aterros controlados inclusive) e,
também, aos empreendimentos
sujeitos a planos de
gerenciamento. Cabe debater a
capacidade de o município
controlar empreendimentos
licenciados pelos órgãos estaduais
e federais do Sisnama.
Observando demanda expressa da
lei, o decreto detalha o conteúdo
dos planos de municípios com
menos de vinte mil habitantes,
reduzindo pouco as exigências
aplicadas aos demais municípios.
- Arts. 53 e 54
Há no decreto seção específica
dispondo sobre a relação entre os
planos de resíduos sólidos e os
planos de saneamento básico
disciplinados pela Lei
nº 11.445/2007 (Lei do
Saneamento Básico).
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DISPOSITIVOS DA
LEI Nº 12.305/2010
DISPOSITIVOS CORRESPONDENTES DO
DECRETO Nº 7.404/2010
COMENTÁRIOS
Seção V
Do Plano de Gerenciamento de
Resíduos Sólidos
(arts. 20 a 24)
Arts. 55 a 63
O decreto não trata da lista de
geradores sujeitos a plano de
gerenciamento específico,
assumindo que o conteúdo da lei
nesse aspecto dispensa
regulamentação. Acresce previsão
de que empreendimentos
localizados em um único
condomínio, município,
microrregião, região
metropolitana ou aglomeração
urbana, que exerçam atividades
características de um mesmo setor
produtivo e que possuam
mecanismos formalizados de
governança coletiva ou de
cooperação em atividades de
interesse comum, poderão optar
pela apresentação do referido
plano de forma coletiva e
integrada.
Observando demanda expressa da
lei, o decreto especifica a forma de
os responsáveis pelos planos de
gerenciamento repassarem
informações ao Sinir. Explicita
que isso ocorrerá por meio
eletrônico, mas delega ao órgão
coordenador do Sinir o
detalhamento nesse sentido.
O decreto trouxe como
acréscimos disposições sobre
planos relativos às microempresas
e empresas de pequeno porte, bem
como sobre a participação das
associações de catadores nos
planos de gerenciamento. Nesse
último aspecto, o conteúdo não
preenche a demanda de
regulamento constante no art. 21,
§ 3°, da lei.
11
DISPOSITIVOS DA
LEI Nº 12.305/2010
DISPOSITIVOS CORRESPONDENTES DO
DECRETO Nº 7.404/2010
COMENTÁRIOS
Capítulo III
Das Responsabilidades dos
Geradores e do Poder Público
Seção I
Disposições Gerais
(arts. 25 a 29)
Arts. 5º a 8º
Como a lei, o decreto destaca que
a efetividade das ações voltadas a
assegurar a observância da Política
Nacional de Resíduos Sólidos é
tarefa do poder público, do setor
empresarial e da coletividade.
Acresce, nessa parte, ressalva sobre
as embalagens destinadas à
exportação, que deverão observar
as exigências do país importador.
Seção II
Da Responsabilidade
Compartilhada
(arts. 30 a 36)
Arts. 9º a 34
O decreto tem capítulo específico
sobre a coleta seletiva e vários
dispositivos relativos à logística
reversa. A opção quanto à
logística reversa foi priorizar os
acordos setoriais coordenados pelo
governo federal. Foi criado um
ente colegiado específico para
tratar desse tema, o Comitê
Orientador da Logística Reversa.
O decreto não avançou na
regulamentação direta do tema,
com a ampliação da lista dos
produtos e embalagens sujeitos à
logística reversa, por exemplo.
Arts. 40 a 44
O decreto reúne em um título
específico as disposições sobre a
participação dos catadores na
gestão dos resíduos sólidos, que
constam na lei de forma dispersa.
Fica previsto programa federal
com a finalidade de melhorar as
condições de trabalho e as
oportunidades de inclusão social e
econômica dos catadores. Trata-se
do programa Pró-Catador,
disciplinado pelo Decreto nº
7.405/2010.
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DISPOSITIVOS DA
LEI Nº 12.305/2010
DISPOSITIVOS CORRESPONDENTES DO
DECRETO Nº 7.404/2010
COMENTÁRIOS
Capítulo IV
Dos Resíduos Perigosos
(arts. 37 a 41)
Arts. 64 a 70
O decreto contempla elementos
para a caracterização dos resíduos
como perigosos (art. 64), definidos
no art. 13, caput, inciso II, da lei.
Detalha a previsão de capacidade
técnica e econômica para o
gerenciamento desses resíduos.
Traz normas sobre o Cadastro
Nacional de Operadores de
Resíduos Perigosos, que será
coordenado pelo Ibama. Há
lacunas quanto a demandas de
regulamento presentes na lei
relativas à exigência de seguro no
licenciamento ambiental e ao
repasse de informações ao poder
público municipal.
Arts. 78 e 79
Antes das disposições sobre
instrumentos econômicos, o
decreto contém título relativo às
condições de acesso a recursos
federais. Na verdade, esse
conteúdo já está posto na lei (arts.
16 e 18), juntamente com os
planos estaduais e municipais. Da
mesma forma que na lei, é
destacada a prioridade para
soluções regionalizadas e que
contem com a participação dos
catadores. É acrescida a exigência
de regularidade fiscal perante a
União.
Capítulo V
Dos Instrumentos Econômicos
(arts. 42 a 46)
Arts. 80 e 81
O decreto lista medidas indutoras,
como incentivos fiscais,
financeiros e creditícios, cessão de
terrenos públicos, pagamento por
serviços ambientais (PSA) e
outras, sem detalhá-las. Serão
necessários outros atos normativos
nesse campo, leis inclusive.
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DISPOSITIVOS DA
LEI Nº 12.305/2010
DISPOSITIVOS CORRESPONDENTES DO
DECRETO Nº 7.404/2010
COMENTÁRIOS
Capítulo VI
Das Proibições
(arts. 47 a 49)
Arts. 82 a 85
O decreto alterou o Decreto
nº 6.514/2008, o regulamento da
Lei nº 9.605/1998 (Lei de Crimes
Ambientais), e estabeleceu sanções
administrativas às infrações
relacionadas aos dispositivos da lei
com vedações.
Título IV
Disposições Transitórias e Finais
(arts. 50 a 57)
O decreto não cumpriu a demanda
do art. 56 da lei, de regulamentar a
implantação progressiva da
logística reversa relativa a
lâmpadas fluorescentes, de vapor
de sódio e mercúrio e de luz mista,
e a produtos eletroeletrônicos e
seus componentes. As sanções
administrativas constam nos arts.
84 e 85 do decreto. Os demais
artigos integrantes das disposições
transitórias e finais da lei
dispensam regulamentação.
Fonte: Elaboração da autora.
O Decreto nº 7.404/2010 repete parte do conteúdo da lei em relação
aos planos de resíduos sob responsabilidade do poder público que, em seu conjunto, podem
ser considerados todos planos de gestão, apesar de a Lei nº 12.305/2010 só usar esse termo
no caso do plano municipal. Eles se diferenciam dos planos de gerenciamento de resíduos,
requeridos para determinados geradores, nos termos do art. 20 da Lei nº 12.305/2010.
O § 2° do art. 50 do decreto chama a atenção nesse tópico, pois
atribui ao município a responsabilidade pela identificação e indicação das medidas
saneadoras para os passivos ambientais originados de empreendimentos sujeitos à elaboração
de planos de gerenciamento de resíduos sólidos. Ocorre que “o plano de gerenciamento de
resíduos sólidos é parte integrante do processo de licenciamento ambiental do
empreendimento ou atividade pelo órgão competente do Sisnama, que pode não ser
municipal, mas estadual ou federal” (ARAÚJO; JURAS, 2011, p. 237-238). Resta dúvida
sobre a capacidade de o município controlar esses empreendimentos, em sua maioria
14
licenciados pelos órgãos estaduais do Sisnama8
. A responsabilidade por indicar medidas
saneadoras nesse sentido, em princípio, recai diretamente sobre o próprio órgão licenciador,
federal, estadual ou municipal, por decorrência das normas que disciplinam a emissão das
licenças ambientais.
Além disso, ao estabelecer regras sobre o conteúdo mínimo do plano
municipal de gestão integrada de resíduos sólidos para municípios com população inferior a
vinte mil habitantes, o decreto reduz pouco as exigências em comparação às regras gerais
constantes na lei. Dos dezenove itens listados como integrantes do plano municipal de
gestão integrada, o art. 51 do Decreto nº 7.404/2010 só exclui cinco deles do conteúdo
mínimo do plano para municípios com menos de vinte mil habitantes, a saber:
indicadores de desempenho operacional e ambiental dos serviços
públicos de limpeza urbana e de manejo de resíduos sólidos (inciso
VI do art. 19 da lei);
programas e ações de capacitação técnica voltados para a
implementação e operacionalização do plano (inciso IX do art. 19 da
lei);
mecanismos para a criação de fontes de negócios, emprego e renda,
mediante a valorização dos resíduos sólidos (inciso XII do art. 19 da
lei);
meios a serem utilizados para o controle e a fiscalização, no âmbito
local, da implementação e operacionalização dos planos de
gerenciamento de resíduos sólidos e dos sistemas de logística reversa
(inciso XVI do art. 19 da lei); e
ações preventivas e corretivas a serem praticadas, incluindo
programa de monitoramento (inciso XVII do art. 19 da lei).
Registre-se que há ajustes decorrentes das especificidades desses
municípios com menor população, mesmo sem referência expressa na lei ou no decreto.
Eles não estão obrigados, por exemplo, a elaborar o plano diretor de desenvolvimento
urbano de que trata o § 1º do art. 182 da Constituição. Assim, seu plano de resíduos
somente deverá observar o plano diretor se ele existir.
Consta no Decreto nº 7.404/2010 seção específica dispondo sobre a
relação entre os planos de resíduos sólidos e os planos de saneamento básico disciplinados
pela Lei nº 11.445/2007 (Lei do Saneamento Básico). Em seu art. 19, ela prevê plano de
8
Sobre as atribuições dos órgãos do Sisnama em termos de licenciamento ambiental, ver a Lei Complementar
nº 140/2011.
15
saneamento emitido pelo titular, mas admite a possibilidade de haver plano específico para
cada serviço que integra o conceito de saneamento básico (abastecimento de água potável,
esgotamento sanitário, limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos, e drenagem e manejo
das águas pluviais urbanas). A Lei nº 12.305/2010, por sua vez, estabelece, no § 1º de seu
art. 19, que o plano municipal de gestão integrada de resíduos sólidos pode estar inserido no
plano de saneamento básico, respeitado o conteúdo mínimo. Nesse ponto, o Decreto nº
7.404/2010 vai além das regras sobre o plano municipal e, em seu art. 53, dispõe também
sobre o componente de limpeza urbana e manejo de resíduos sólidos urbanos do Plano
Nacional de Resíduos Sólidos. Em outras palavras, procura articular esse plano nacional
com o Plano Nacional de Saneamento Básico.
O Decreto nº 7.404/2010 admite a apresentação do referido plano,
de forma coletiva e integrada, por empreendimentos localizados em um mesmo
condomínio, município, microrregião, região metropolitana ou aglomeração urbana, que
exerçam atividades características de um mesmo setor produtivo e que possuam mecanismos
formalizados de governança coletiva ou de cooperação em atividades de interesse comum.
“Não especifica, todavia, o que vêm a ser tais mecanismos formalizados de governança
coletiva, o que, sem dúvida, dificulta a aplicação do dispositivo” (ARAÚJO; JURAS, 2011,
p. 239).
O decreto admite, também, em seu art. 58, a participação de
catadores nos planos de gerenciamento, quando: houver cooperativas ou associações de
catadores capazes técnica e operacionalmente de realizar o gerenciamento de resíduos
sólidos; a utilização de cooperativas e associações de catadores no gerenciamento dos
resíduos sólidos for economicamente viável; e não houver conflito com a segurança
operacional do empreendimento. O problema é que não era esse o propósito do legislador
ao prever, no art. 21, § 3°, inciso I, da Lei nº 12.305/2010, que o regulamento fixaria as
normas sobre a exigibilidade e o conteúdo do plano de gerenciamento de resíduos sólidos
relativo à atuação de cooperativas de catadores. “O propósito da lei era assegurar que, em
determinadas situações, também as cooperativas de catadores devessem elaborar plano de
gerenciamento de resíduos sólidos” (ARAÚJO; JURAS, 2011, p. 241).
No que se refere aos planos relativos às microempresas e empresas de
pequeno porte que não gerem resíduos perigosos, fica prevista a possibilidade de plano
incluso no plano das empresas com as quais operem de forma integrada, assegurada a
identificação das responsabilidades de cada empreendedor. O regulamento sobre esse
aspecto, contudo, não veio completo. Não se esclarece o que deve ser compreendido como
operar de forma integrada. Além disso, nos termos do art. 62 do Decreto nº 7.404/2010, ato
do Ministério do Meio Ambiente (MMA) ainda terá de definir o conteúdo de formulário
destinado à apresentação desses planos simplificados.
16
O decreto reproduz em seu art. 67 o conteúdo do art. 40 da Lei
nº 12.305/2010, que prevê a possibilidade de se exigir a contratação de seguro de
responsabilidade civil por danos causados ao meio ambiente ou à saúde pública no
licenciamento ambiental de empreendimentos ou atividades que operem com resíduos
perigosos, mas não cumpre a demanda da lei de regras sobre cobertura e limites máximos de
contratação, que considerem o porte da empresa, delegando-as ao Conselho Nacional de
Seguros Privados (CNSP). Também não foi regulamentado o repasse das informações ao
poder público municipal sobre o conteúdo, a implementação e a operacionalização do plano
de gerenciamento de resíduos perigosos de empreendimentos e atividades cujo controle seja
de órgão federal ou estadual do Sisnama e do SNVS.
Sobre os instrumentos econômicos de política ambiental, o Decreto
nº 7.404/2010 “permanece aquém do necessário em termos de medidas efetivas,
autoaplicáveis” (ARAÚJO; JURAS, 2011, p. 248). Praticamente todas as medidas indutoras
citadas no texto do regulamento necessitarão de atos normativos posteriores para sua
aplicação.
Há lacunas importantes quanto a esse aspecto, na verdade, na própria
Lei nº 12.305/2010. Parte das iniciativas governamentais nessa linha terão de ser
estabelecidas por outras leis, como ocorreu com o incentivo fiscal à aquisição de resíduos
sólidos de cooperativas de catadores, tendo em vista a utilização como matérias-primas ou
produtos intermediários na fabricação de seus produtos, incluso na Lei nº 12.375/2010,
fruto de uma medida provisória. Não há justificativa jurídica para que esse e outros
incentivos nessa linha não tenham sido inseridos na própria lei em 2010. Esses incentivos
não integram a lista de matérias cuja iniciativa legislativa é privativa do Presidente da
República, por força do art. 61, § 1º, da Constituição.
O Decreto nº 7.404/2010 traz vários dispositivos voltados a
regulamentar a logística reversa. Considera-se que esse conteúdo merece atenção especial.
Como acima registrado, a opção quanto à logística reversa foi priorizar os acordos setoriais
coordenados pelo governo federal. O decreto não avançou na regulamentação direta do
tema, que poderia ter sido concretizada mediante a ampliação da lista dos produtos e
embalagens sujeitos à logística reversa ou, nos termos do art. 56 da lei, no estabelecimento
de cronograma para a implantação progressiva da logística reversa relativa a lâmpadas
fluorescentes, de vapor de sódio e mercúrio e de luz mista, e a produtos eletroeletrônicos e
seus componentes.
Deve ser percebido que a Lei nº 12.305/2010 não traz previsão de
acordo setorial ou termo de compromisso para os produtos e embalagens referidos nos
incisos I a VI do caput do seu art. 33 – agrotóxicos, seus resíduos e embalagens, assim como
outros produtos cuja embalagem, após o uso, constitua resíduo perigoso; pilhas e baterias;
17
pneus; óleos lubrificantes, seus resíduos e embalagens; lâmpadas fluorescentes, de vapor de
sódio e mercúrio e de luz mista; e produtos eletroeletrônicos e seus componentes. Os
acordos setoriais e termos de compromisso são colocados no texto da lei, juntamente com o
regulamento, para ampliação da lista dos produtos e embalagens submetidos à logística
reversa, consoante o § 1º do art. 33. Por isso, entende-se que, em relação a esse assunto, o
Decreto nº 7.404/2010 criou algum nível de distorção, consideradas as previsões da lei.
De forma geral, avalia-se que, nas disposições sobre os acordos
setoriais, o texto do regulamento assume viés centralizador. Fica expresso, no § 2º do art.
20 do decreto, que os acordos setoriais iniciados pelos fabricantes, importadores,
distribuidores ou comerciantes serão precedidos da apresentação de proposta formal pelos
interessados ao MMA. No art. 21, consta previsão de chamamento pelo MMA nos
procedimentos de iniciativa da União, apontando para a possibilidade de procedimentos de
iniciativa dos outros níveis de governo, mas nos arts. 27, 28 e 29 as referências são apenas ao
ministério.
Deve-se explicar que não há impedimento para que estados e
municípios firmem acordos setoriais ou termos de compromisso sem participação do MMA
ou do Comitê Orientador da Logística Reversa, pois a Lei nº 12.305/2010 faz referência
genérica a poder público no § 1º do art. 33. Além disso, o art. 34 da lei prevê que esses
acordos podem ter abrangência nacional, regional, estadual ou municipal. “O que
necessitará ser observado é o comando legal de que os acordos setoriais (e termos de
compromisso) pactuados em âmbito nacional têm prevalência sobre os firmados em âmbito
regional e estadual, e estes sobre os contratados em âmbito municipal. Os acordos com
menor abrangência geográfica podem ampliar as medidas de proteção ambiental, ou seja, ser
mais rígidos do que aqueles com maior abrangência geográfica” (ARAÚJO; JURAS, 2011,
p. 235).
Por outro lado, o art. 32 do Decreto nº 7.404/2010 condiciona a
celebração de termos de compromisso à ausência de acordo setorial ou regulamento
específico ou à intenção de fixar compromissos e metas mais rígidos em acordos setoriais ou
no regulamento. A Lei nº 12.305/2010 não tem conteúdo que dê sustentação a essa regra
sobre os termos de compromisso. Também é importante lembrar, nesse tópico, as
prerrogativas do Ministério Público de firmar termos de compromisso, com base na Lei nº
7.347/1985 (Lei da Ação Civil Pública).
Cabe dizer que há normas sobre logística reversa anteriores a 2010
que podem ser consideradas recepcionadas pela Lei nº 12.305/2010. É o caso das regras
sobre recolhimento de embalagens de agrotóxicos, presentes na Lei nº 7.802/1990 (Lei dos
Agrotóxicos), alterada pela Lei nº 9.974/2000 e regulamentada pelo Decreto nº 4.074/2002.
As resoluções do Conama sobre pilhas e baterias e sobre pneus, se não editado decreto
18
específico, permanecem válidas como atos regulamentares da Lei nº 12.305/2010. Há outras
resoluções do Conama referentes a resíduos sólidos que podem ser consideradas da mesma
forma, em tudo o que não conflitarem com a lei. Seria necessária uma análise dispositivo a
dispositivo desses atos normativos para conclusões precisas a esse respeito.
Por fim, entende-se que também pode ser considerado regulamento
da lei o Decreto nº 7.405/2010, que dispõe sobre o programa Pró-Catador.
3. OS ENTES COLEGIADOS
O Comitê Interministerial da Política Nacional de Resíduos Sólidos,
criado pelo art. 3º do Decreto nº 7.404/2010, é composto por um representante titular e
um suplente dos seguintes órgãos:
Ministério do Meio Ambiente (coordenador);
Casa Civil da Presidência da República;
Ministério das Cidades;
Ministério do Desenvolvimento Social e Combate à Fome;
Ministério da Saúde;
Ministério de Minas e Energia;
Ministério da Fazenda;
Ministério do Planejamento, Orçamento e Gestão;
Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior;
Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento;
Ministério da Ciência e Tecnologia; e
Secretaria de Relações Institucionais da Presidência da República.
O Comitê Interministerial reúne-se, em caráter ordinário, uma vez a
cada dois meses e, em caráter extraordinário, quando convocado pelo seu coordenador, por
solicitação de um de seus membros. As decisões são tomadas por maioria simples de votos,
presente a maioria absoluta dos membros, assegurado ao presidente, além do voto pessoal, o
de qualidade. A participação no comitê não é remunerada (BRASIL, 2011a).
19
Segundo a página do MMA na Internet, foram criados cinco grupos de
trabalho no âmbito do Comitê Interministerial9
:
GT01 – implementação e acompanhamento dos planos de resíduos
sólidos e elaboração do Sistema Nacional de Informações sobre a
Gestão dos Resíduos Sólidos (Sinir);
GT02 – recuperação energética dos resíduos sólidos urbanos;
GT03 – linhas de financiamento, creditícias e desoneração tributária
de produtos recicláveis e reutilizáveis;
GT04 – resíduos perigosos – plano de gerenciamento de resíduos
perigosos e descontaminação de áreas órfãs; e
GT05 – educação ambiental.
Como o Decreto nº 7.404/2010 e o regimento interno do Comitê
Interministerial falam em grupos técnicos (BRASIL, 2011a), e não em grupos de trabalho,
acredita-se que os GTs acima listados sejam, na verdade, grupos técnicos. Na prática, não
parece haver diferença entre o funcionamento de um grupo de trabalho e de um grupo
técnico, e ambos têm cunho temporário. Recomenda-se, contudo, que se observe a
denominação constante no regulamento.
O art. 33 do Decreto nº 7.404/2010 criou um segundo órgão
colegiado, direcionado apenas à aplicação da logística reversa, o Comitê Orientador para
Implantação de Sistemas de Logística Reversa, integrado por:
Ministro de Estado do Meio Ambiente, na condição de Presidente;
Ministro de Estado da Saúde;
Ministro de Estado do Desenvolvimento, Indústria e Comércio
Exterior;
Ministro de Estado da Agricultura, Pecuária e Abastecimento; e
Ministro de Estado da Fazenda.
Perceba-se que não se fala aqui em representante, mas sim na
participação do próprio titular de cada ministério.
Cabe ao Comitê Orientador, nos termos do art. 34 do Decreto
nº 7.404/2010:
9
Dados disponíveis em: http://www.mma.gov.br/cidades-sustentaveis/residuos-solidos/politica-nacional-de-
residuos-solidos/comite-interministerial-para-acompanhamento. Acesso em: 10 set. 2013.
20
estabelecer a orientação estratégica da implementação de sistemas de
logística reversa;
definir as prioridades e aprovar o cronograma para o lançamento de
editais de chamamento de propostas de acordo setorial para a
implantação de sistemas de logística reversa de iniciativa da União;
fixar cronograma para a implantação dos sistemas de logística
reversa;
aprovar os estudos de viabilidade técnica e econômica relacionados
aos sistemas de logística reversa;
definir as diretrizes metodológicas para avaliação dos impactos
sociais e econômicos dos sistemas de logística reversa;
avaliar a necessidade da revisão dos acordos setoriais, dos
regulamentos e dos termos de compromisso que disciplinam a
logística reversa no âmbito federal;
definir as embalagens que ficam dispensadas, por razões de ordem
técnica ou econômica, da obrigatoriedade de fabricação com
materiais que propiciem a reutilização e reciclagem;
definir a forma de realização da consulta pública relativa a proposta
de implementação de sistemas de logística reversa;
promover estudos e propor medidas de desoneração tributária das
cadeias produtivas sujeitas à logística reversa e a simplificação dos
procedimentos para o cumprimento de obrigações acessórias
relativas à movimentação de produtos e embalagens sujeitos à
logística reversa; e
propor medidas visando incluir nos sistemas de logística reversa os
produtos e embalagens adquiridos diretamente de empresas não
estabelecidas no País, inclusive por meio de comércio eletrônico.
Pode-se questionar se esse segundo comitê era realmente necessário.
Por que razão o Comitê Interministerial da Política Nacional de Resíduos Sólidos não
poderia assumir as tarefas referentes à logística reversa? Além disso, parece não haver
justificativa para a diferença na composição dos dois comitês (ARAÚJO, JURAS, 2011, p.
231). Qual é a razão, por exemplo, de os Ministérios das Cidades, do Desenvolvimento
Social e Combate à Fome e da Ciência e Tecnologia não fazerem parte do Comitê
Orientador da Logística Reversa?
21
Deve ser dito que, além do Comitê Interministerial da Política
Nacional de Resíduos Sólidos e do Comitê Orientador da Logística Reversa, tem atuação
diretamente relacionada à aplicação da Lei nº 12.305/2010 o Comitê Interministerial para
Inclusão Social e Econômica dos Catadores de Materiais Reutilizáveis e Recicláveis. Criado
em setembro de 2003 como Comitê Interministerial da Inclusão Social de Catadores de
Lixo, esse órgão colegiado teve sua denominação alterada pelo Decreto nº 7.405/2010.
Estão em funcionamento, assim, três órgãos colegiados com a tarefa
de guiar, no governo federal, a implementação da Política Nacional de Resíduos Sólidos.
Além deles, há ainda o Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), que permanece
com atribuições normativas sobre o tema, em face de suas competências definidas pela Lei
nº 6.938/1981 (Lei da Política Nacional do Meio Ambiente) e seu regulamento, Decreto nº
99.274/199010
.
Não obstante a Política Nacional de Resíduos Sólidos envolver a
coordenação de ações de vários órgãos federais e dos diferentes níveis da Federação, em
conformação de governança complexa, avalia-se que se deve ponderar se a estrutura de
órgãos colegiados que trabalham no tema pode ser simplificada, por exemplo, mediante a
unificação do Comitê Interministerial da Política Nacional de Resíduos Sólidos e do
Comitê Orientador da Logística Reversa. Acredita-se que a existência de muitas instâncias
de decisão no âmbito do governo federal aumente os custos transacionais e gere dificuldades
para a aplicação eficaz da Lei nº 12.305/2010.
4. O PLANO NACIONAL DE RESÍDUOS SÓLIDOS
Cumprindo determinação da Lei nº 12.305/2010, o governo federal
elaborou o primeiro Plano Nacional de Resíduos Sólidos (PNRS), publicado em agosto de
2012.
Na parte do plano relativa ao diagnóstico da situação dos resíduos
sólidos no País, pode-se destacar, entre outros pontos, que:
de cerca de 183 mil toneladas por dia de resíduos sólidos urbanos
coletados, 94 mil são matéria orgânica e pouco mais de 58 mil,
material seco reciclável (BRASIL, 2012c, p. 10);
alumínio, aço e papel/papelão possuem taxas de reciclagem de mais
de 35%; plástico e vidro alcançam valores próximos a 20% (BRASIL,
2012c, p. 12);
10
Ver o art. 6º, caput, inciso I, e o art. 8º da Lei nº 6.938/1981 e o art. 7º do Decreto nº 99.274/1990.
22
cerca de 37 mil toneladas por dia de resíduos sólidos urbanos são
dispostos em lixões e cerca de 36 mil em aterros controlados11
(BRASIL, 2012c, p. 15)12
;
havia 2.906 lixões, 1.310 aterros controlados e 1.723 aterros
sanitários no País em 2008 (BRASIL, 2012c, p. 16); e
há hoje entre 400 mil e 600 mil catadores de materiais recicláveis
atuando no País (BRASIL, 2012c, p. 25).
No plano nacional, são estabelecidas diretrizes e estratégias,
direcionadas não apenas ao governo federal, mas também às outras esferas governamentais,
bem como aos demais envolvidos na implementação da lei.
No que se refere ao tema dos resíduos sólidos urbanos, são
abordados os seguintes tópicos: (i) disposição final ambientalmente adequada de rejeitos;
(ii) redução da geração de resíduos sólidos urbanos; (iii) redução dos resíduos sólidos
urbanos secos dispostos em aterros sanitários e inclusão de catadores de materiais
reutilizáveis e recicláveis; e (iv) redução de resíduos sólidos urbanos úmidos dispostos em
aterros sanitários e tratamento e recuperação de gases em aterros sanitários.
No tópico “disposição final ambientalmente adequada de rejeitos”,
cabe destacar a primeira diretriz – eliminar os lixões e aterros controlados e promover a
disposição final ambientalmente adequada de rejeitos –, que contempla as seguintes
estratégias:
estratégia 1: aportar recursos visando contribuir para o
encerramento dos lixões e aterros controlados em todos os
municípios do território nacional;
estratégia 2: aportar recursos visando à elaboração de projetos e à
implantação de unidades de aterros sanitários, atendendo aos
critérios de prioridade da Política Nacional de Resíduos Sólidos e
dos seus programas;
11
Nos aterros controlados, o único cuidado tomado é que os rejeitos são recobertos periodicamente com terra.
Eles não são considerados uma forma adequada de disposição final. Os aterros sanitários requerem projeto
prévio e cuidados quanto à impermeabilização prévia do solo, confinamento dos rejeitos, controle de gases e
outros aspectos técnicos.
12
Esses dados usam informações do IBGE, que elabora periodicamente a Pesquisa Nacional de Saneamento
Básico. Como essa pesquisa é organizada com base em sistema autodeclaratório, reunindo informações
fornecidas pelas próprias prefeituras municipais e pelas empresas prestadoras de serviços de saneamento,
acredita-se que esses números estejam subestimados. Com a implementação do Sinir, previsto pela Lei nº
12.305/2010 e regulamentado no Decreto nº 7.404/2010, as informações nesse campo tenderão a ganhar maior
consistência.
23
estratégia 3: aportar recursos destinados à capacitação técnica de
gestores das três esferas de governo;
estratégia 4: aportar recursos voltados para o desenvolvimento
institucional, principalmente no que se refere à elaboração de planos
de resíduos sólidos por parte dos demais entes federados e consórcios
públicos, e implementação de sistemas de informação integrados ao
Sinir e no fortalecimento dos consórcios públicos constituídos;
estratégia 5: fomentar, junto aos órgãos integrantes do Sisnama, a
informatização de dados e a padronização de procedimentos que
permitam maior transparência e agilidade, quando couber, nos
processos de licenciamento ambiental;
estratégia 6: aportar recursos, com dignidade e remuneração do
trabalho dos catadores, em especial os oriundos de lixões e aterros
controlados, dotando-os de infraestrutura, capacitação e assistência
técnica;
estratégia 7: definir normas técnicas para encerramento de lixões e
aterros controlados.
No mesmo tópico, constam três outras diretrizes, que também se
subdividem em um conjunto de estratégias:
diretriz 2 – recuperar os lixões e aterros controlados,
compreendendo a avaliação das suas condições ambientais
(estabilidade, contaminação do solo, águas superficiais e
subterrâneas, migração de gases para áreas externas à massa de
resíduos etc.);
diretriz 3 – criar índice nacional de avaliação da qualidade dos
aterros sanitários (IQAS); e
diretriz 4 – desenvolver tecnologias para reduzir a disposição final
em aterros sanitários.
No tópico “redução da geração de resíduos sólidos urbanos”, só há
uma diretriz, a de reduzir a atual geração per capita de resíduos sólidos urbanos para o
patamar de 2008 (equivalente a uma taxa média nacional de 1,1 kg/habitante/dia), buscando
sua contínua redução e considerando a média de geração per capita de cada região do País e as
especificidades locais.
Entre as estratégias listadas, constam: promover ações visando a
mudança no setor varejista quanto à inserção de práticas de sustentabilidade nas suas
24
operações e o seu papel na promoção do consumo sustentável; consolidar a Agenda
Ambiental na Administração Pública (A3P) como marco referencial de responsabilidade
socioambiental nas atividades administrativas das três esferas de governo, incluindo as
administrações direta e indireta; promover a inserção de critérios ambientais nas licitações
públicas, com prioridade nas aquisições de produtos reutilizáveis; desenvolver programas de
conscientização no uso de materiais e recursos dentro dos órgãos governamentais, visando à
gestão adequada dos resíduos gerados e à melhoria da qualidade de vida no ambiente de
trabalho; conceber e pôr em prática iniciativas de educação ambiental para o consumo
sustentável, em consonância com a Política Nacional de Educação Ambiental (PNEA)13
, e
outras.
No tópico “redução dos resíduos sólidos urbanos secos dispostos em
aterros sanitários e inclusão de catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis”, colocam-se
duas diretrizes: promover a redução progressiva dos resíduos recicláveis secos dispostos em
aterros sanitários com base na caracterização nacional (composição gravimétrica) a ser
realizada em 2013, de acordo com as metas estabelecidas no Plano Nacional de Resíduos
Sólidos; e qualificação e fortalecimento da organização para a inclusão socioeconômica de,
no mínimo, 600 mil catadores de materiais reutilizáveis e recicláveis organizados em
cooperativas e outras formas associativas, por meio da criação de linhas de financiamento,
incluindo a construção e difusão de conhecimento entre seus membros, com apoio de
outros programas sociais para os seus familiares. Como nos dois tópicos anteriores, essas
duas diretrizes também estão divididas em um conjunto de estratégias.
Por fim, no tópico “redução de resíduos sólidos urbanos úmidos
dispostos em aterros sanitários e tratamento e recuperação de gases em aterros sanitários”,
tem-se a diretriz de induzir a compostagem, o aproveitamento energético do biogás gerado
ou em biodigestores ou em aterros sanitários, e o desenvolvimento de outras tecnologias
visando à geração de energia a partir da parcela úmida de resíduos sólidos urbanos coletados,
com a elaboração de estudos prévios de avaliação técnico-econômica e ambiental, observada,
primeiramente, a ordem de prioridade estabelecida no caput do art. 9º da Lei nº
12.305/2010. Há estratégias como: implementar melhorias na segregação da parcela úmida
dos resíduos sólidos urbanos (domiciliares e comerciais, feiras, Ceasas, grandes geradores e
outros), de forma a propiciar a obtenção de uma fração orgânica de melhor qualidade,
otimizando o seu aproveitamento, seja para utilização de composto para fins agrícolas e de
jardinagem, seja para fins de geração de energia; disponibilizar recursos financeiros e
incentivos fiscais especificamente voltados para a implantação de novas unidades de
compostagem e biodigestão ou modernização/ ampliação das existentes, e outras.
13
Ver a Lei nº 9.795/1999.
25
No tema “qualificação da gestão dos resíduos sólidos”, há duas
diretrizes:
fortalecer a gestão dos serviços públicos de limpeza urbana e de
manejo de resíduos sólidos urbanos, por meio dos seguintes
instrumentos: planos estaduais, microrregionais, intermunicipais e
municipais; estudos de regionalização e constituição de consórcios
públicos; institucionalização de instrumento apropriado de cobrança
específica para os serviços de limpeza urbana e manejo de resíduos
sólidos urbanos; e gestão participativa dos serviços de limpeza
urbana e manejo de resíduos urbanos; e
implantar a regionalização da gestão de resíduos sólidos urbanos,
mediante a instituição de microrregiões de resíduos sólidos em cada
estado, dimensionadas para abranger pelo menos quinhentos mil
habitantes ou, não sendo possível, com o número de habitantes que
melhor reflita escala adequada de gestão.
No tema “resíduos de serviços de saúde”, constam duas: fortalecer a
gestão dos resíduos de serviços de saúde e minimizar o uso do mercúrio nos serviços de
saúde.
No tema “resíduos de portos, aeroportos e postos de fronteiras”, há
apenas uma diretriz, a de fortalecer a gestão dos resíduos sólidos de portos, aeroportos,
terminais alfandegários, rodoviários e ferroviários e passagens de fronteira, como nos
demais casos, detalhada em um conjunto de estratégias.
No tema “resíduos industriais”, estão postas quatro diretrizes:
eliminar completamente os resíduos sólidos industriais destinados de
maneira inadequada ao meio ambiente;
criar, até 2014, condições especiais para que micro, pequenas e
médias empresas possam adequar-se aos objetivos da Política
Nacional de Resíduos Sólidos;
incentivar o fortalecimento do gerenciamento de resíduos sólidos nas
indústrias; e
fomentar a destinação adequada dos resíduos da agroindústria para
compostagem, biodigestão ou outras tecnologias apropriadas.
No tema “resíduos agrossilvopastoris”, há seis diretrizes:
inventariar, a partir do censo agropecuário de 2015, os resíduos
agrossilvopastoris;
26
fomentar pesquisa, desenvolvimento e inovação de tecnologias para
o aproveitamento e destinação de resíduos agrossilvopastoris,
considerando o caráter estratégico da busca de manter o carbono na
forma orgânica;
destinar adequadamente os resíduos agrossilvopastoris por
compostagem, biodigestão ou outras tecnologias;
fomentar o desenvolvimento e a inovação de tecnologias para o
aproveitamento de resíduos sólidos de mineração na produção
agrossilvopastoril;
segregar os resíduos recicláveis secos no meio rural e destiná-los
adequadamente, em concordância com a destinação dos resíduos
urbanos; e
fomentar a ampliação e implementação da logística reversa para as
categorias de resíduos agrossilvopastoris que não possam ter solução
técnica adequada no local onde são gerados.
No tema “resíduos da mineração”, são estabelecidas duas diretrizes:
compatibilizar o Plano Nacional de Resíduos Sólidos e o Plano Nacional de Mineração 2030
e desenvolver tecnologias para aproveitamento de resíduos da mineração.
Por fim, no tema “resíduos da construção civil (RCC)”, constam
quatro diretrizes:
eliminar as áreas irregulares de disposição final de RCC (“bota-fora”)
em todo o território nacional;
implantar áreas de transbordo e triagem, de reciclagem e de
reservação adequada de RCC em todo o território nacional;
realização de inventário de resíduos de construção civil; e
incremento das atividades de reutilização e reciclagem dos RCC nos
empreendimentos públicos e privados em todo o território nacional.
Quando detalha as metas, o Plano Nacional de Resíduos Sólidos
destaca que o alcance delas “não depende apenas de um cenário econômico favorável,
estando atrelado também ao envolvimento e atuação dos três níveis de governo, da
sociedade e da iniciativa privada” (BRASIL, 2011c, p. 83). Já se sabia que parte relevante das
metas não seria alcançada, pelo menos na fase inicial de implantação da lei.
Como já referido, a Lei nº 12.305/2010, em seu art. 54, deu o prazo
de quatro anos para que se assegure disposição final ambientalmente adequada dos rejeitos.
27
Nas metas do Plano Nacional de Resíduos Sólidos, assume-se esse prazo para a eliminação
total dos lixões até 2014 (BRASIL, 2012c, p. 84). Na prática, o prazo implica a vedação de
disposição de rejeitos nesses locais. A eliminação dos lixões abrange, também, a reabilitação
dessas áreas, para o quê o plano nacional estabeleceu as metas apresentadas na Tabela 1.
Tabela 1 – Metas para áreas de lixões reabilitadas (%)
Região 2015 2019 2023 2027 2031
Norte 5 20 45 65 90
Nordeste 5 20 45 65 90
Sul 10 20 50 75 100
Sudeste 10 20 50 75 100
Centro-Oeste 8 20 45 65 90
Brasil 5 20 45 65 90
Fonte: Plano Nacional de Resíduos Sólidos (BRASIL, 2012c, p. 84).
As metas para redução dos resíduos recicláveis secos dispostos em
aterro, com base na caracterização nacional em 2013, estão apresentadas na Tabela 2.
Tabela 2 – Metas para redução dos resíduos recicláveis secos dispostos em aterros (%)
Região 2015 2019 2023 2027 2031
Norte 10 13 15 17 20
Nordeste 12 16 19 22 25
Sul 43 50 53 58 60
Sudeste 30 37 42 45 50
Centro-Oeste 13 15 18 21 25
Brasil 22 28 34 40 45
Fonte: Plano Nacional de Resíduos Sólidos (BRASIL, 2012c, p. 84).
28
Constam no plano nacional detalhamentos de metas referentes a
vários tópicos, derivados das diretrizes e estratégias anteriormente estabelecidas: redução do
percentual de resíduos úmidos em aterros; recuperação de gases em aterros; inclusão e
fortalecimento de 600 mil catadores, e outras. Trabalha-se com o ideal de 100% dos planos
de gestão requeridos pela lei finalizados no primeiro marco temporal (2015).
O plano também inclui conteúdo, embora sucinto, sobre programas
e ações do governo federal. Identifica-se o conteúdo relacionado ao tema no Plano
Plurianual (PPA) 2012-2016, centrado no programa temático Resíduos Sólidos. Fala-se,
também, no programa temático Saneamento Básico. Além disso, assumem-se como
prioritárias quanto à logística reversa, para aplicação a partir de 2013, as seguintes cadeias
produtivas: embalagens de óleos lubrificantes; equipamentos eletroeletrônicos; embalagens
em geral; lâmpadas fluorescentes, de vapor de sódio e mistas; e descarte de medicamentos.
Em relação a todas elas, fica prevista abordagem via acordo envolvendo importadores,
fabricantes, comerciantes, distribuidores, cidadãos e titulares pelos serviços municipais de
limpeza e manejo dos resíduos sólidos urbanos (BRASIL, 2012c, p. 99).
5. A APLICAÇÃO DA LOGÍSTICA REVERSA
O Comitê Orientador da Logística Reversa, instalado em 17 fev.
2011, possui um Grupo Técnico de Assessoramento (GTA). O GTA, por sua vez, tem
cinco Grupos Técnicos Temáticos (GTT), referentes a cadeias produtivas consideradas
prioritárias, a saber14
:
GTT01 – descarte de medicamentos, coordenado pelo Ministério da
Saúde, tendo por objetivo elaborar uma proposta de logística reversa
para os resíduos de medicamentos, para subsidiar a elaboração do
edital de chamamento para acordo setorial;
GTT02 – embalagens em geral, coordenado pelo Ministério do Meio
Ambiente, tendo por objetivo elaborar proposta de modelagem da
logística reversa para embalagens em geral (excluídas as embalagens
de agrotóxicos e óleos lubrificantes) e subsídios para elaboração do
edital de chamamento para acordo setorial;
GTT03 – embalagens de óleos lubrificantes e seus resíduos,
coordenado pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e
Abastecimento, tendo por objetivo elaborar proposta de
14
Dados disponíveis em: http://www.mma.gov.br/cidades-sustentaveis/residuos-solidos/instrumentos-da-
politica-de-residuos/comite-orientador-logistica-reversa. Acesso em: 09 set. 2013.
29
modelagem da logística reversa e subsídios para elaboração do edital
de chamamento para acordo setorial;
GTT4 – eletroeletrônicos, coordenado pelo Ministério do
Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, tendo por
objetivo definir as informações complementares ao plano de
gerenciamento de resíduos sólidos perigosos e definir e avaliar
mecanismos específicos voltados para a descontaminação de áreas
órfãs; e
GTT05 – lâmpadas fluorescentes, de vapor de sódio e mercúrio e de
luz mista, coordenado pelo Ministério do Meio Ambiente, tendo por
objetivo elaborar proposta de modelagem da logística reversa e
subsídios para elaboração do edital de chamamento para acordo
setorial.
Datado de dezembro de 2011, o primeiro edital de chamamento para
acordo setorial publicado pelo MMA foi o relativo a embalagens plásticas usadas de óleos
lubrificantes (BRASIL, 2011b). As embalagens metálicas usadas de óleos lubrificantes, os
filtros usados de óleos lubrificantes e as estopas e similares serão objeto de editais de
chamamento para acordos setoriais específicos. Ficam estabelecidas no edital metas de
implantação progressiva do sistema de logística reversa com abrangência nacional, quais
sejam: até 2014, 70% dos municípios nas regiões Sul, Sudeste e Nordeste (à exceção dos
Estados do Piauí e Maranhão); e, até 2016, 100% dos municípios dessas mesmas regiões do
País. As metas quantitativas de recolhimento são: até 2016, crescimento do percentual da
coleta de embalagens plásticas para até 60% do segmento abrangido por esse acordo, do total
nessas mesmas regiões do País; e, nas demais regiões do País, as metas pactuadas com os
signatários.
Em julho de 2012, foi publicado edital de chamamento de acordo
setorial para a implementação de sistema de logística reversa de lâmpadas fluorescentes, de
vapor de sódio e mercúrio e de luz mista (BRASIL, 2012a). Os resíduos abrangidos são os
referentes às lâmpadas de descarga em baixa ou alta pressão que contenham mercúrio, tais
como fluorescentes compactas e tubulares, de luz mista, a vapor de mercúrio, a vapor de
sódio, a vapor metálico e lâmpadas de aplicação especial. Fica estabelecida no edital a meta
de atingir, até 2017, o recolhimento e a destinação final ambientalmente adequada de 20%
da quantidade de lâmpadas objeto do acordo e que foram colocadas no mercado nacional no
ano de 2011.
Também em julho de 2012, foi publicado edital de chamamento de
acordo setorial para a implementação de sistema de logística reversa de embalagens em geral
(BRASIL, 2012b). São abrangidas as embalagens que compõem a fração seca dos resíduos
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sólidos urbanos ou equiparáveis, exceto aquelas classificadas como perigosas. Não estão
inclusas as embalagens de óleos lubrificantes, de produtos agrotóxicos e medicamentos,
objeto de regras e pactuações específicas. Fica expressa no edital previsão de adequação às
metas nesse sentido estabelecidas no Plano Nacional de Resíduos Sólidos, a saber: redução
dos resíduos recicláveis secos dispostos em aterro, com base na caracterização nacional em
2013, de: 22% em 2015; 28% em 2019; 34% em 2023; 40% em 2027; e 45% em 2031.
Em fevereiro de 2013, o MMA publicou edital de chamamento de
acordo setorial para a implantação de sistema de logística reversa de produtos eletrônicos e
seus componentes (BRASIL, 2013). Os resíduos abrangidos nesse edital são os oriundos de
produtos eletroeletrônicos de uso doméstico e seus componentes, cujo funcionamento
depende de correntes elétricas com tensão nominal não superior a 220 volts. Há prioridade
para acordo setorial de abrangência nacional.
Esses acordos setoriais estão em andamento no âmbito do MMA.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
De forma geral, entende-se que o Plano Nacional de Resíduos
Sólidos não contempla o instrumental necessário para viabilizar a transformação de suas
diretrizes, estratégias e metas em realidade. Sabe-se que os recursos orçamentários para esse
campo de políticas públicas são restritos, sujeitos a contingenciamentos frequentes, e que as
responsabilidades de concretizar a lei são compartilhadas entre os entes federados e
diferentes atores privados também.
A tarefa, com certeza, não é apenas da União, mas o governo federal
não pode atuar apenas no plano normativo e na coordenação de acordos setoriais referentes
à logística reversa. Mesmo nesses dois aspectos, o ritmo de aplicação da Lei nº 12.305/2010
está aquém do esperado. Mostrou-se que há lacunas nas demandas expressas de
regulamentação da lei. Parte dessas lacunas deriva da própria opção de priorizar, na logística
reversa, acordos setoriais de escala nacional, no lugar da edição de atos regulamentares. A
negociação desses acordos setoriais não é tarefa simples.
Há vantagens e desvantagens na escolha desse caminho,
essencialmente negociado. Talvez esteja faltando um pouco de força do Leviatã na aplicação
da logística reversa. Quando se gerou a regra geral de retorno das embalagens de agrotóxicos
há anos atrás, houve oposição dos setor empresarial, mas se conseguiu estabelecer as
31
determinações nesse sentido mediante lei15
. O setor empresarial adaptou-se às regras sobre
essas embalagens e, hoje, essa experiência é considerada bem sucedida16
.
Outra questão a ser analisada é que a Lei nº 12.305/2010 traz regras
sobre os planos estaduais e municipais de resíduos redigidas de forma inter-relacionada com
a perspectiva de repasse de recursos federais. Se a União não tiver recursos a repassar, os
governos estaduais e municipais se sentirão desobrigados a elaborar esses planos.
Essa situação de ausência de recursos federais pode gerar
consequências bastante negativas em termos da gestão dos resíduos sólidos. Os prefeitos
podem, por exemplo, passar a optar por soluções simplistas, e com efeitos ambientais
negativos que necessitam atenção, especialmente a contratação de equipamentos de
incineração de resíduos mediante parcerias público-privadas, para cumprir a determinação
de eliminação dos lixões até 2014, ao invés de elaborar e executar planos tecnicamente
consistentes de gestão.
Esses problemas necessitam ser explicitados e amplamente debatidos
por toda a sociedade. Isso já vem ocorrendo ao longo de 2013, no âmbito do processo da IV
Conferência Nacional de Meio Ambiente (CNMA), que tem os resíduos sólidos como tema
central. A Câmara dos Deputados tem atuado como parceira desse processo, com o apoio à
etapa virtual da conferência por meio da Comissão de Meio Ambiente e Desenvolvimento
Sustentável (CMADS) e do e-Democracia.
A concretização dos avanços normativos presentes na Lei
nº 12.305/2010 precisa ser transformada em uma demanda das autoridades e dos cidadãos,
em um desafio coletivo. Uma mudança paradigmática não pode ficar restrita ao texto da lei.
Sequer poderá ser considerada uma verdadeira mudança.
15
Ver a Lei nº 9.974/2000, que alterou a Lei nº 7.802/1989 (Lei dos Agrotóxicos).
16
Foi criada em 2001, pelo empresariado, uma organização não governamental para assegurar a aplicação das
normas nesse sentido, o Instituto Nacional de Processamento de Embalagens Vazias (InpEV). O InpEV possui
entre seus associados 94 empresas fabricantes de defensivos agrícolas. Ver:
http://www.inpev.org.br/institucional/associados/associados.asp. Acesso em: 10 ago. 2013.
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REFERÊNCIAS
ARAÚJO, Suely M. V. G.; JURAS, Ilidia A. G. M. Comentários à Lei dos
Resíduos Sólidos. São Paulo: Pillares, 2011.
BRASIL. Ministério do Meio Ambiente. Portaria nº 177 de 30/05/2011. Aprova
Regimento Interno para o Comitê Interministerial da Política Nacional de Resíduos
Sólidos.
---. Ministério do Meio Ambiente. Edital nº 01/2011. Brasília, 2011. Chamamento
para a elaboração de acordo setorial para a implementação de sistema de logística reversa de
embalagens plásticas usadas de óleos lubrificantes. Disponível em:
http://www.mma.gov.br/editais-e-chamadas-p%C3%BAblicas/item/8554.
---. Ministério do Meio Ambiente. Edital nº 01/2012. Brasília, 2012. Chamamento
para a elaboração de acordo setorial para a implementação de sistema de logística reversa de
lâmpadas fluorescentes, de vapor de sódio e mercúrio e de luz mista. Disponível em:
http://www.mma.gov.br/editais-e-chamadas-p%C3%BAblicas/item/8554.
---. Ministério do Meio Ambiente. Edital nº 02/2012. Brasília, 2012. Chamamento
para a elaboração de acordo setorial para a implementação de sistema de logística reversa de
embalagens em geral. Disponível em: http://www.mma.gov.br/editais-e-chamadas-
p%C3%BAblicas/item/8554.
---. Ministério do Meio Ambiente. Plano Nacional de Resíduos Sólidos. Brasília,
2012. Disponível em: http://www.sinir.gov.br/web/guest/plano-nacional-de-residuos-
solidos.
---. Ministério do Meio Ambiente. Edital nº 01/2013. Brasília, 2013. Chamamento
para a elaboração de acordo setorial para a implantação de sistema de logística reversa de
produtos eletroeletrônicos e seus componentes. Disponível em:
http://www.mma.gov.br/editais-e-chamadas-p%C3%BAblicas/item/8554.
PÁGINAS ELETRÔNICAS DE INTERESSE
http://www.sinir.gov.br/web/guest/documentos.
http://www.mma.gov.br/cidades-sustentaveis/residuos-solidos.
http://www.conferenciameioambiente.gov.br/.
http://edemocracia.camara.gov.br/web/conferencia-virtual-do-meio-
ambiente/inicio#.Ui8WitK-qFY.