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Page 1: O Cultivo do Cacaueiro no Estado do Pará Estado do... · O Cultivo do Cacaueiro no Estado do Pará Fernando Antonio Teixeira Mendes1 Jay Wallace da Silva e Mota2 INTRODUÇÃO A cacauicultura

O Cultivo do Cacaueiro no Estado do Pará

Fernando Antonio Teixeira Mendes1 Jay Wallace da Silva e Mota2

INTRODUÇÃO

A cacauicultura brasileira está distribuída nas regiões nordeste (Bahia), sudeste (Espírito Santo), Centro-Oeste (Mato Grosso) e Norte (Pará, Rondônia e Amazonas). Segundo dados do IBGE/SIDRA/LSPA, a produção brasileira de cacau para o ano de 2016 está estimada em 254.497 toneladas, das quais o estado do Pará se responsabilizará por aproximadamente 105.051t (41,3%) cuja área destinada à colheita totalizará 123.175 hectares de um total plantado de 165.863 hectares. Essa área é cultivada por cerca de 22 mil produtores, o que assegura ao estado do Pará a segunda posição em importância no cenário nacional dessa atividade agrícola.

A cacauicultura paraense é explorada basicamente por pequenos produtores e estabelecidos, predominantemente, em solos de média a alta fertilidade, destacando-se como uma das mais competitivas do mundo, principalmente quando se considera a produtividade média (910 kg/ha) e o baixo custo de produção da lavoura (US$ 900,00/t), observados no Território da Transamazônica3, zona que concentra 77% da produção estadual.

A crescente demanda por plantio de novas áreas de cacau, associada a uma progressiva produção, propiciará à cacauicultura do Pará tirar melhor proveito das reconhecidas qualidades intrínsecas das amêndoas produzidas (maior teor de gordura e ponto de fusão), garantindo maior participação em novos blends, acessando de forma mais competitiva o tradicional e conservador mercado internacional de cacau.

Tal desempenho, associado às características francamente preservacionistas da produção de cacau em sistemas agroflorestais, elege a cacauicultura como uma das mais interessantes alternativas agrícolas para o desenvolvimento rural sustentável no estado do Pará, sendo, atualmente, discutida a sua inclusão como espécie para composição da reserva legal das propriedades agrícolas na Amazônia.

O alcance desse cenário poderá ser perseguido tanto pelo incremento da produtividade, como da expansão da área cultivada. No que diz respeito à produtividade, grandes avanços podem ser obtidos no desenvolvimento de híbridos mais produtivos e tolerantes à vassoura-de-bruxa, podridão parda e, ainda, a ameaças iminentes como a monília (Moniliophthora roreri), cada vez mais próxima dos cacauais amazônicos na seleção. Esse esforço, facilitado pela ampla variabilidade disponível nas coleções de germoplasma da CEPLAC, estabelecidas na Estação de Recursos Genéticos do Cacau “José Haroldo” (ERJOH), em Marituba-PA, requer investimentos em pesquisas capazes de viabilizar, em médio e longo prazos, o lançamento de novos híbridos

1 Eng. Agrônomo. Chefe do Centro de Pesquisa do Cacau no Estado do Pará – [email protected]

2 Eng. Agrônomo. Superintendente da Ceplac no Estado do Pará – [email protected]

3 Altamira, Anapu, Brasil Novo, Medicilândia, Uruará, Placas, Rurópolis, Vitória do Xingu, Senador José Porfírio e Pacajá,

perfazendo um total de 240.297 km2.

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ou clones, baseados em genótipos já identificados como produtivos e/ou portadores de fontes alternativas de resistência à vassoura-de-bruxa.

Quanto à expansão da área cultivada, a forte demanda por sementes híbridas para novos plantios (em média 15 milhões por ano), associada à disponibilidade de mais de um milhão de hectares de solos de média a alta fertilidade nas regiões cacaueiras da Transamazônica e Sul do Pará, por si só, já garantem o espaço para expansão. Mais que isso, uma demanda potencial e ambientalmente mais correta, está nas áreas alteradas do estado do Pará, propiciando a esse ambiente sua recuperação em bases economicamente viável, além de contribuir para contenção no avanço de utilização de mata primária, propiciando o aparecimento da “floresta produtiva”.

AS REGIÕES PRODUTORAS NO ESTADO DO PARÁ Polo da Transamazônica

Está é a região cacaueira mais importante do estado do Pará. Localizada na parte central, tendo na rodovia BR-230 o eixo de leste a oeste de quase 700 km na exuberante floresta Amazônica, a desenhar a mais promissora região cacaueira do Brasil. Toda a faixa da Transamazônica, onde fica o município de Medicilândia, maior produtor de cacau do país, apresenta solos de terra roxa, considerada a mais fértil do mundo, além de condições climáticas e pluviométricas bastante satisfatórias.

O desempenho da cacauicultura nos seis municípios (Pacajá, Anapu, Vitória do Xingu, Brasil Novo, Medicilândia e Uruará) atendidos pelo Polo da Transamazônica estima que a região dispõe de aproximadamente 11000 cacauicultores, que em 2015 produziram mais de 80000 toneladas de cacau, obtendo uma produtividade média de 1050 kg/ha, segundo dados oficias da Ceplac.

Polo do Médio Amazonas

O cacaueiro no Médio Amazonas, antes denominado de polo Trombetas, teve o seu estabelecimento a partir dos estudos preliminares feitos pela Ceplac nos municípios de Óbidos, Oriximiná e Alenquer, para os quais foi comprovada a existência de terras com boa fertilidade natural. Essa evidência ensejou a seleção de três zonas de excelentes condições para o cultivo do cacaueiro: Rio Branco/Mamiá, São Pedro/Ferrugem e Curuá/Maicuru, com a disponibilidade para o plantio de até 35 mil hectares de cacaueiros.

Outra característica importante na formatação desse Polo foi a sua proximidade do mercado e a facilidade de transporte, através da navegação fluvial (Rio Amazonas e seus afluentes), o que assegurava a sua potencialidade.

Ao que se denominou no início de Polo Trombetas, incorporou-se os municípios de Monte Alegre, Santarém, Itaituba, Rurópolis, Trairão e em 1997 o recém-criado município de Placas (uma subdivisão do município de Uruará).

O desempenho da cacauicultura nos sete municípios (Alenquer, Santarém, Placas, Rurópolis, Trairão, Itaituba, Monte Alegre) atendidos pelo Polo do Médio Amazonas estima que a região dispõe de aproximadamente 3000 cacauicultores, que em 2015 produziram mais de 8600 mil

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toneladas de cacau, obtendo uma produtividade média de 640 kg/ha, segundo dados oficias da Ceplac.

Polo da Bragantina

Muito embora esse Polo tenha a denominação de uma microrregião do Estado, sua área de atuação extrapola seus limites territoriais. É formado pelos municípios de Santa Isabel do Pará, Castanhal, Tomé-Açu, Acará, Cametá, Mocajuba, Limoeiro do Ajuru, Novo Repartimento, Tucumã e São Felix do Xingu. Sua extensão preconiza uma variação muito grande do clima entre os municípios atendidos.

Na parte mais ao nordeste e na região das ilhas (influência do rio Tocantins), verifica-se certa uniformidade do clima; principalmente quanto à temperatura – mantém-se uma média sem variações expressivas - e precipitação pluviométrica – as chuvas são bem distribuídas durante todo o ano. Na parte sul do Polo (Tucumã e São Félix do Xingu), percebe-se a distinção de dois períodos; um seco e outro chuvoso.

Na região das ilhas prevalecem os solos hidromórficos, já que a maioria dos plantios está sob influência das várzeas, beneficiando-se dos enriquecimentos aluviais decorrentes das enchentes e vazantes que ocorrem em intervalos de seis horas. No nordeste do Estado, verifica-se a presença de solos do tipo latossolo, pobres quimicamente, cuja necessidade de adubação é inconteste. No sul do Pará encontram-se solos de elevada fertilidade (terra roxa estruturada), numa área superior a um milhão de hectares.

Este polo apresenta as três características para a expansão da cacauicultura: áreas tradicionais (Cametá e Mocajuba), áreas com pimentais decadentes (Tomé-Açu e Acará) e área com solos de alta fertilidade (Tucumã e São Félix do Xingu).

O desempenho da cacauicultura nos oito municípios estima que a região dispõe de aproximadamente 6500 cacauicultores, que em 2015 produziram 13200 mil toneladas de cacau, obtendo uma produtividade média de 727 kg/ha, segundo dados oficias da Ceplac.

O Acompanhamento Sistemático da Produção

A CEPLAC no estado do Pará, seguindo uma diretriz nacional, mantém o projeto “Previsão de Safra de Cacau” sobre o qual estão abrigados as responsabilidade de fazer o acompanhamento da produção de cacau. No cumprimento desse trabalho, atualmente, são 41 pontos de coleta de dados abrangendo dez municípios produtores de cacau do estado do Pará (mapa ao lado) dentre os quais, sete estão entre os mais importantes, considerando a sua participação relativa.

Basicamente, a partir de uma equipe de 18 extensionistas de campo devidamente treinados, a estratégia utilizada na metodologia aplicada é a de, durante três vezes por anos, acompanhar o desenvolvimento da frutificação nesses pontos focais (amostra), fazendo as correções pertinentes em cada um desses momentos, para informar aos interessados as possibilidades de produção de cacau do estado do Pará. As informações sobre a produção abrangem o ano civil (janeiro a dezembro) e em 2015 o cacau paraense contribuiu com 109.100 toneladas para a produção mundial e, com as coletas de dados já

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realizadas na última semana de março de 2016, espera-se um crescimento na ordem de 10%, revelando um expectativa preliminar de 120 mil toneladas. Os números finais somente serão revelados em novembro, quando a última prospecção de campo já terá sido realizada.

Considerações Finais A área plantada com cacaueiros no mundo, considerando os sessenta países listados pela FAO como plantadores de cacau, já está próxima dos nove milhões de hectares (FAO, 2012)4 e, ao longo das duas últimas décadas, a ampliação foi de pouco mais de 2,5 milhões hectares – revelando uma taxa geométrica de crescimento em torno de 2% -, ou seja: à medida que o tempo passa é menor o número de áreas novas plantadas. Evidentemente, uma das causas está relacionada à impossibilidade de inclusão de novas áreas livres para plantio naqueles países que estão atingindo (ou já atingiram) o limite das suas áreas propícias para tal. Como já referido no início desse texto, o estado do Pará tem 165.863 hectares hectares plantado, dos quais 123.175 mil hectares estão em produção. Portanto, a possibilidade de expansão da cacauicultura brasileira encontra no estado do Pará possibilidades reais, pois tem no seu ambiente a favorabilidade requerida, quais sejam: a grande disponibilidade de solos de média a alta fertilidade em áreas já alteradas, tanto na região da Transamazônica, como na nova fronteira que se estabelece no Sul do Pará5; a grande disposição e interesse do Governo Federal em conter a pressão por desmatamentos e expansão da pecuária na Amazônia, incentivando a exploração de áreas alteradas através de cultivos perenes consorciáveis com essências florestais - o cacau é uma delas; e a grande demanda atual por novos plantios pelo produtores rurais de todo o estado do Pará.

Como resultado, a demanda por novos plantios, que se situava normalmente em torno de 3 a 4 mil ha/ano, tem girado, nos últimos anos, em torno de 12 a 15 mil hectares, ainda reprimida por contemplar apenas a intenção registrada nos escritórios locais da CEPLAC, a qual obedece a um teto em função da disponibilidade de sementes, além de não levar em conta a demanda de polos não alcançados pela Assistência Técnica.

Do ponto de vista brasileiro é fundamental, e indispensável, que se tome uma decisão de política agrícola no que diz respeito à cacauicultura. O Brasil possui know how suficiente para liderar os pontos mais expressivos da cadeia produtiva do cacau. Assim, já é tempo para que um Programa audacioso de expansão da cacauicultura no estado do Pará, seja implementado com a parceria Institucional e da sociedade civil interessada, sem desconsiderar a necessidade de se preparar toda a infraestrutura requerida para dar consequência a mais esse desafio da cacauicultura nacional.

4 www.fao.org/statistics

5 Notadamente nos municípios de São Félix do Xingu, Tucumã, Ourilândia do Norte, Água Azul e Cumaru do Norte