o crowdfunding e a produção cultural no rio de janeiro

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1 Faculdades Integradas Helio Alonso Departamento de Comunicação Social Habilitação em Relações Públicas O Crowdfunding e a Produção Cultural no Rio de Janeiro Por: Flavia de Almeida Valentim Trabalho realizado para obtenção do grau de bacharel em Comunicação Social, habilitação em Relações Públicas, sob a orientação da Profª. Ms. Maria Helena Carmo dos Santos. Rio de Janeiro 2011/2

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Page 1: O crowdfunding e a produção cultural no Rio de Janeiro

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Faculdades Integradas Helio Alonso Departamento de Comunicação Social

Habilitação em Relações Públicas

O Crowdfunding e a Produção Cultural no Rio de Jane iro

Por:

Flavia de Almeida Valentim

Trabalho realizado para obtenção do grau de bacharel em Comunicação Social, habilitação em Relações Públicas, sob a orientação da Profª. Ms. Maria Helena Carmo dos Santos.

Rio de Janeiro 2011/2

Page 2: O crowdfunding e a produção cultural no Rio de Janeiro

2

Resumo: Esta monografia é uma reflexão sobre o crowdfunding,

destacando sua atuação no cenário cultural carioca.

Palavras-chaves : Crowdfunding – financiamento colaborativo – cultura digital no Rio de Janeiro

Page 3: O crowdfunding e a produção cultural no Rio de Janeiro

3

Agradecimento Schuabb, Ort, Rodrigo Maia,

Dona Jô, Andrea Dutra, Prima, Bruno Rodrigues, Suhett, Mayra e Ivana, por me ajudarem nas etapas do trabalho

para desenvolver meus devaneios.

Page 4: O crowdfunding e a produção cultural no Rio de Janeiro

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO .............................................................................................. 05

2 O SURGIMENTO ......................................................................................... 08 2.1 O conceito de crowdfunding .................................................................. 08 2.2 A plataforma americana Kickstarter ...................................................... 10

3 CROWDFUNDING NO CONCEITO DE REDE ............................................ 13

4 PANORAMA DAS PLATAFORMAS NO BRASIL ........................................ 16 4.1 Principais plataformas de crowdfunding................................................. 18 4.1.1 Vakinha.......................................................................................... 18 4.1.2 Catarse.......................................................................................... 19 4.1.3 Queremos...................................................................................... 20 4.1.4 Movere......................................................................................... . 20 4.1.5 Embolacha................................................................................... . 21 4.1.6 Benfeitoria...................................................................................... 21

5 RELACIONAMENTO E MARKETING NAS PLATAFORMAS ...................... 23 5.1 Aproximação dos nichos de mercado ....................................................... 23 5.2 Crowdfunding no posicionamento de marca ............................................. 24 5.2.1 Empresas apostam na visibilidade.................................................... 24 5.2.2 Porta de entrada para novas ações ...... ........................................... 25 5.2.3 Estilo como instrumento de atração .... ............................................. 26

6 CONVERGÊNCIA MOBILIZA AUTORES E APOIADORES......................... 28 6.1 Plataformas pela democratização das mídias ........................................ 28 6.2 Mobilização dos fãs ..................................................................................30

7 CROWDFUNDING NA CADEIA PRODUTIVA DA ECONOMIA ................. 32

CONSIDERAÇÕES FINAIS ..............................................................................36

BIBLIOGRAFIA ................................................................................................ 37

Page 5: O crowdfunding e a produção cultural no Rio de Janeiro

5

INTRODUÇÃO

Toda vez que surge uma nova ferramenta de interação na Internet, faça as

apostas: Será moda passageira? Ou veio para ficar, até que outra mais aperfeiçoada

a substitua? O fascínio sobre o poder que a rede tem de unir pessoas e interesses

comuns, além território nacional, despertou usuários no final de década de 90. No

bate-papo do ICQ, a escolha randômica permite que aleatoriamente qualquer

usuário entre no seu perfil e converse com quem está conectado. Lembrava o

“amigo por correspondência” do Penpals dos anos 80, quando cartas eram trocadas

com pessoas de vários lugares do mundo.

A caixa do correio das residências, com suas cartas seladas, dava lugar aos

chats e aos fóruns de troca de conhecimento virtuais. O MSN e os blogs passaram a

substituir a dinâmica do ICQ e dos fóruns. A confiança na interatividade aumentou, e

passamos a oferecer objetos reais de desejo via Mercado Livre, através dos leilões,

já apontando a vocação mercadológica reservada aos nichos de usuários na rede. A

febre do “quem dá mais” e o produto entregue em casa com segurança pelo

vendedor-usuário foi uma das combinações que deram início à percepção de que na

Internet se pode confiar - e contar, principalmente, com a confiança das pessoas que

dividem o mesmo interesse que o seu.

Esses são alguns dos exemplos que fizeram pensar que a interatividade vale

a pena e que, como na vida real, confiança e mobilização não são construídos de

uma hora para outra. Com o tempo, as redes sociais como o Second Life, You Tube

e Orkut perceberam que também poderiam ser lucrativas. Vender espaços para

patrocínio em suas páginas ou ambiente ajuda a fomentar a brincadeira.

No livro The Crowdunfing Revolution: Social Networking Meets Venture

Financing (2010), os autores Kevin Lawton e Dan Marom destacam que somos dois

bilhões de usuários agrupados na rede no mundo inteiro. No Brasil, o acesso à

Internet atingiu 77,8 milhões de pessoas no segundo trimestre de 2011, segundo o

Ibope Nielsen Online. Estamos organizados via Twitter e Facebook, por exemplo,

onde cada comentário postado por um usuário é uma reafirmação de uma

identidade e consequentemente do nicho. Hoje, a escala da interatividade é maior:

os interesses dos usuários se organizam em multidões de nichos.

Destaque para uma nova forma de relação que tem chamado a atenção pelas

características de reunir um pouco de todas essas forças: o conceito das

Page 6: O crowdfunding e a produção cultural no Rio de Janeiro

6

plataformas de crowdfunding. O diferencial é que as ferramentas que abraçam a

causa dependem financeiramente dos seus próprios usuários. Com o crowdfunding,

não precisamos esperar que produtores do entretenimento adivinhem nossos

desejos. Basta o usuário (em geral um artista) divulgar seu projeto através de um

desses sites, e contar com amigos ou estranhos, que se identificam com os mesmos

objetivos, para arrecadar investimento suficiente para bancar o desejo.

Por isso não se pode ignorar os sites de crowdfunding, principalmente no

Brasil. Artistas com seus seguidores restritos de fãs estão conseguindo realizar seus

projetos com a “vaquinha online” (como o crowdfunding é entendido a grosso modo).

Eles têm a opção de não depender de gravadoras e nem de empresas para

patrocínio. Com isso, para o mercado cultural independente, há de certa forma uma

possibilidade de transformação. Apurando com as fontes, elas se mostram bastante

satisfeitas por auto-realizar um trabalho. Uma simples saída para um problema – a

falta de apoio.

No Brasil, onde o incentivo à cultura é escasso, essas plataformas também

funcionam como vitrine. No Rio de Janeiro, em especial, o crowdfunding está

concentrado – mais um fato curioso. Seria a descoberta de uma brecha para

reaquecer uma cidade desassistida culturalmente? Surgiram para suprir a carência

de um mercado independente carioca, principalmente desses artistas que nunca

tiveram apoio?

No crowdfunding há plataformas que, na realização de shows inéditos, na

produção de um novo CD, ou documentário, mobilizam um público cativo. É uma

possibilidade de comunicação dirigida que poderia compensar para as grandes

produtoras, mas elas nunca pensaram lucrativamente nesses públicos. São artistas

de samba do circuito da Lapa e bandas de garagem do rock alternativo, cujos

números de seguidores não atraíam até ontem o mercado e nem a grande mídia.

Esse é um momento onde essa pequena revolução no mercado carioca faz

repensar novos posicionamentos de marketing das empresas. Não é pela

quantidade que as plataformas de crowdfunding estão ganhando os holofotes, mas

sim pela qualidade do público, exigente e seguidor fiel de seus gostos, disposto a

contribuir financeiramente com quantias consideráveis para realizar desejos.

Para analisar essa tendência, a monografia está dividida nos capítulos: O

surgimento; Crowdfunding no conceito de rede; Panorama das plataformas no Brasil;

Page 7: O crowdfunding e a produção cultural no Rio de Janeiro

7

Relacionamento e marketing nas plataformas; Convergência mobiliza autores e

apoiadores, e Crowdfunding na cadeia produtiva da economia.

Page 8: O crowdfunding e a produção cultural no Rio de Janeiro

8

2 O SURGIMENTO

2.1 O conceito de crowdfunding

A motivação entre várias pessoas, a favor de uma causa comum, é uma das

principais características dos sites de crowdfunding. O usuário demonstra apoio a

um movimento social ou contribui financeiramente para a realização de um projeto, a

exemplo das tradicionais ‘vaquinhas’. No livro The Crowdunfing Revolution: Social

Networking Meets Venture Financing, o primeiro e único sobre o assunto, os autores

Lawton e Marom (2010) ressaltam que é difícil definir o termo, mas identificam seu

poder na sociedade:

O espaço do crowdfunding é bastante diversificado, composto de muitos nichos, e compartilha uma grande quantidade de energia das redes sociais. Seja para solicitar doações e criar uma base de fãs para uma aventura de vela ao redor do mundo, a pré-vender cópias de um livro, ou para financiar uma empresa iniciante para retorno de capital, de alguma forma o crowdfunding torna isso disponível. Quanto mais abrangente, ele conversa com seu grandioso potencial para o impacto econômico e social. Da mesma forma que as redes sociais mudaram a forma como alocamos tempo, crowdfunding vai mudar a forma como alocamos capital.1

O conceito deriva de crowdsourcing - desenvolvedores voluntários se

debruçam no estudo de códigos abertos, viabilizando, por exemplo, o software livre,

que apresenta vantagens:

Os principais efeitos da adoção generalizada de software aberto podem-se resumir num aspecto fundamental: o software aberto permite deslocar a criação de valor acrescentado para mais perto do utilizador final. Pelo contrário, o uso de software proprietário, normalmente de um fabricante estrangeiro, tende apenas a criar situações de distribuição e revenda, em que a maior parte do valor vai para o fabricante, e em que há uma grande dependência dos intervenientes locais em relação àquele2

De acordo com a comunidade BR-Linux.org, para uma licença ou software

ser considerado Código Aberto pela Open Source Initiative deve atender a critérios

que incluem itens como Livre Redistribuição, Permissão de Trabalhos Derivados e

Distribuição da Licença.

1Edição e-book de LAWTON,K.; MARROM, D., The Crowdunfing Revolution: Social Networking Meets Venture Financing, p.1. Os trechos do livro são de livre tradução. 2CASTELLS, Manuel; CARDOSO, Gustavo (Orgs.). A Sociedade em Rede: do conhecimento à ação política; Conferência. Belém(Por): Imprensa Nacional, 2005. Livro organizado a partir de Conferência promovida pelo então Presidente da República de Portugal, Jorge Sampaio, em 4 e 5 de mar. 2005, no Centro Cultural de Belém. Disponível em: < http://www.egov.ufsc.br/portal/conteudo/sociedade-em-rede-do-conhecimento-%C3%A0-ac%C3%A7%C3%A3o-pol%C3%ADtica>

Page 9: O crowdfunding e a produção cultural no Rio de Janeiro

9

O crowdsourcing não só é uma alternativa diante de licenças de custo alto,

como também uma forma de personalizar serviços, de acordo com Anderson (2006)

porque

(...) Apenas a produção colaborativa é capaz de ir tão longe na Cauda Longa. E, no caso de autosserviço, o trabalho está sendo feito pelos indivíduos mais interessados em seus resultados, e que conhecem melhor as próprias necessidades.3

A comunidade Crowdfunding Wiki registra que a palavra crowdfunding foi

cunhada em 2006 pelo empresário Michael Sullivan, um dos editores da

comunidade. O empresário identifica uma variedade de propósitos para o

crowdfunding: “desde amenizar desastres com apoio de mutirões, até o jornalismo

colaborativo cidadão, passando por artistas em busca de apoio de seus fãs.”

Lawton e Marom (2010) sinalizam a transformação do conceito de

crowdfunding ao longo dos anos, desde a criação de Sullivan: “Crowdfunding está

crescendo rápido e, em algumas áreas, integrando e mesclando com métodos

convencionais de financiamento.” Tanto no Brasil, como nos Estados Unidos,

organizações privadas e públicas começam a apostar na viabilização de parcerias

com as plataformas.

Os investimentos nas plataformas geram produtos e mobilizam clientes e, por

isso, chamam a atenção do mercado. Lawton e Marom (2010) observam que “dada

a dimensão das mudanças sócio-econômicas que já encontrou a partir de novas

formas de conectividade, um conjunto de mudanças profundas está por vir. Esta é a

revolução crowdfunding”.

No V Simpósio Nacional ABCiber, em artigo científico, os autores Cocate e

Pernissa afirmam que o sistema de mobilizar multidões já é um fenômeno que tem

ocorrido há uma década:

Vale ressaltar que o sistema abordado neste texto não se trata de uma novidade, segundo o autor Jeff Howe, autor do livro “O poder das multidões: por que a força da coletividade está remodelando o futuro dos negócios”. A arrecadação de financiamentos para campanhas políticas via web começou a partir de 2000. Mas foi em 2008 que a corrida presidencial de Barack Obama ganhou força com o apoio de cerca de $ 272 milhões oriundos de mais de dois milhões de doadores por meio de pequenas quantias. “Assim, a internet acelera e simplifica o processo de encontrar grandes grupos de financiadores potenciais que podem usar o crowdfunding para ingressar nas

3 ANDERSON, C., A Cauda Longa: do mercado de massa para o mercado de nicho, p.217.

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atividades mais inesperadas de nossa cultura, como a música e o cinema” (HOWE, 2009, p. 222).4

2.2 A plataforma americana Kickstarter

O site americano Kickstarter é o que tem mais repercussão no crowdfunding.

Em seu blog corporativo, a organização apresentou seus números no post publicado

em 28 de abril de 2011: em dois anos de existência, a plataforma lançou, no total,

20.371 projetos (43% deles atingiram a meta). Foram U$40 milhões coletados por

projetos de sucesso financiados.5 O gráfico abaixo exibe as categorias dos projetos

ofertados aos financiadores:

O curioso é que os Estados Unidos passam por uma recessão não

presenciada há décadas, e o Kickstarter ainda é o site de referência mundial no

assunto. O sucesso pode estar atrelado à crise, já que o mecanismo é a contribuição

coletiva com cotas que variam de $10 a $500 em grande parte. No crowdfunding, é

possível investir pouco para que um negócio dê certo, aguçando a consciência

individual. 4 “Estudo sobre crowdfunding: fenômeno virtual em que o apoio de uns se torna a força de muitos”. V Simpósio ABCiber 2011. Disponível em:< http://simposio2011.abciber.org/anais/Trabalhos/artigos/Eixo%206/17.E6/226-353-1-RV.pdf>. Acesso em 20 jan. 2012. 5 Informações extraídas do blog, com livre tradução. Disponível em: <http://www.kickstarter.com/blog/happy-birthday-kickstarter>. Acesso em 10 out. 2011.

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O público, então, forma mutirões nas causas de mobilização social a favor da

cidadania, ou com laços e interesses mais estreitos, ligados à natureza particular de

cada projeto. Os fundos arrecadados são para projetos culturais, de entretenimento

e startups (incubadoras de empreendedorismo) – setores que mais encontram

dificuldades no mercado tradicional quando os investimentos tradicionais começam

a se restringir.

Paralelamente, a noção de comunidade na Internet faz parte da cultura

americana por décadas, de acordo com a descrição do início das comunidades on-

line:

As comunidades on-line tiveram origens muito semelhantes às dos movimentos contraculturais e dos modos de vida alternativos que despontaram na esteira da década de 1960. A área da Baía de São Francisco abrigou na década de 1970 o desenvolvimento de várias comunidades on-line que faziam experimentos com comunicação por computadores, (...). Entre os primeiros administradores, hospedeiros e patrocinadores do WELL estavam pessoas que haviam tentado a vida em comunidades rurais, hackers de computadores pessoais, e um grande contingente de deadheads, fãs da banda de rock Grateful Dead.6

No modelo de negócio do Kickstarter, o autor do projeto estipula a quantia

necessária e o prazo para arrecadá-la, em média dois meses. Os doadores só são

cobrados no cartão de crédito no prazo final, caso o projeto alcance a meta

estipulada. A colaboração financeira diferencia o crowdfunding do restante dos

outros sites de contribuição, como cita a reportagem abaixo:

(...) A ideia de pedir a colaboração dos outros não é nova na internet. A Wikipédia é feita assim. O YouTube e o Flickr, também. Mas o Kickstarter leva a ideia um pouco mais longe: as contribuições são feitas em dinheiro. O site, lançado pelos nova-iorquinos Perry Chen, Yancey Strickler e Charles Adler, é uma espécie de vaquinha virtual ou um mercado de mecenas digitais. Quem tem um projeto criativo na cabeça e uma cifra necessária para colocá-lo de pé pode submeter a ideia ao Kickstarter. Se ela passar pelo crivo do trio - todos os descritos no começo desta reportagem foram aprovados -, pronto: é só esperar as doações dos estranhos7

O americano IndieGoGo foi primeiro site de crowdfunding. Os números de

projetos lançados também são significativos, segundo artigo da Universia

Knowledge, da Wharton School, da Universidade de Pensilvânia:

Em 2008, Slava Rubin fundou a IndieGoGo em parceria com Danae Ringelmann e Eric Schnell depois de constatar que não havia um meio

6 CASTELLS, M., A galáxia da internet: reflexões sobre a internet, os negócios e a sociedade, p.48. 7 TEIXEIRA, Jr. Me dá um dinheiro aí. EXAME.COM, 03 nov. 2010. Disponível em: <http://exame.abril.com.br/revista-exame/edicoes/0979/noticias/me-da-um-dinheiro-ai?page=2&slug_name=me-da-um-dinheiro-ai>. Acesso em: 20 set. 2011.

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eficiente de levantar fundos para a pesquisa de câncer da medula óssea que vitimara seu pai. Em dois anos, o IndieGoGo, com sede em São Francisco, lançou 12.500 campanhas para o financiamento de filmes, obras sociais, empresas e gravações. Levantou também milhões de dólares para vários projetos em 139 países. "No mundo todo, tem gente apaixonada por uma porção de coisas diferentes", diz Rubin. "Nós ajudamos essas pessoas a financiar seu projeto."8

Pelo pioneirismo, ou pela repercussão pelo mundo, as plataformas

americanas lançam a nova tendência de financiamento. Mesmo que no Brasil, ou em

outros países, o resultado das plataformas não cause tanto impacto na economia, o

crowdfunding gera uma nova interpretação sobre o mercado, principalmente quando

este se relaciona com produção cultural e startups.

8 Você gostaria de contribuir? Sites de crowdfunding transformam fã em patrono das artes. UNIVERSIAKNOWLEDGE@WHARTON, 12 jan. 2011. Disponível em: < http://www.wharton.universia.net/index.cfm?fa=viewArticle&id=1996&language=portuguese>. Acesso em: 05 jan. 2012.

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3 CROWDFUNDING NO CONCEITO DE REDE O crowdfunding transforma o estado da ação: da realidade virtual para a

concretização de um projeto. O que estava no campo das ideias ganha a adesão de

usuários, que juntos, contribuem com quantias em dinheiro em forma de mutirão -

eles são os investidores, os que promovem o financiamento coletivo.

Muitas vezes, o desejo de querer vivenciar a realidade só acontece depois de

se experimentar sensações virtualmente. Essa é uma das hipóteses que pode

sustentar a existência de diversos ambientes de interação na Internet. Na Era da

Informação, é principalmente através da virtualidade que processamos a criação de

significado,

Nesse sentido, vivemos de fato no tipo de cultura que, em meus escritos anteriores, chamei “a cultura da virtualidade real” (Castells, 1996-2000). Ela é virtual porque construída basicamente através de processos de comunicação virtuais, eletronicamente baseados. É real (e não imaginária) porque é nossa realidade fundamental, a base material sobre a qual vivemos nossa existência, construímos nossos sistemas de representação, exercemos nosso trabalho, vinculamo-nos a outras pessoas, obtemos informação, formamos nossas opiniões, atuamos na política e acalentamos nossos sonhos. Essa virtualidade é nossa realidade. É isso que caracteriza a cultura na Era da Informação: é principalmente através da virtualidade que processamos nossa criação de significado. 9

Entender o crowdfunding é primeiramente analisar a estrutura do negócio e

seus desdobramentos. A comunicação, em rede, entre os usuários é o que divulga o

crowdfunding, em sua grande parte. Via redes sociais, os usuários simpatizantes do

projeto iniciam a campanha para comunicar que há uma proposta oferecida pelos

autores do projeto na plataforma de crowdfunding. A partir daí, outros usuários

apoiam a iniciativa e compartilham a informação com seus diversos laços e grupos

de interatividade em rede, ampliando a comunicação.

No crowdfunding, o usuário não apenas reforça ideologias e conceitos do

grupo, como atua como um dos atores sociais no processo em rede:

(...) As redes são montadas pelas escolhas e estratégias de atores sociais, sejam indivíduos, famílias ou grupos sociais. Dessa forma, a grande transformação da sociabilidade em sociedades complexas ocorreu com a substituição de comunidades espaciais por redes como formas fundamentais de sociabilidade. 10

9 CASTELLS, M., A galáxia da internet: reflexões sobre a internet, os negócios e a sociedade, p.167. 10 Ibid, p.106

Page 14: O crowdfunding e a produção cultural no Rio de Janeiro

14

O crowdfunding no Brasil oferece oportunidades, em sua maioria, a projetos

criativos que estão, de algum modo, conectados à rede de relacionamento de

pessoas que se inserem na cultura da classe média jovem brasileira. Essa camada

da sociedade é responsável pela vanguarda na Internet, onde, segundo Lévy (1999)

“a emergência do ciberespaço11 é fruto de um verdadeiro movimento social, com seu

grupo líder (a juventude metropolitana escolarizada), suas palavras de ordem

(interconexão, criação de comunidades virtuais, inteligência coletiva) e suas

aspirações coerentes”.

A contribuição financeira é também uma aposta de pessoas que não faziam

parte anteriormente da rede de relacionamento dos autores do projeto. Cada

indivíduo que compõe o mutirão, arrecadando o montante para o projeto, pretende

experimentar a sensação de recriar, coletivamente, um novo modo, e próprio, de

operar a realidade:

Um grupo humano qualquer só se interessa em constituir-se como comunidade virtual para aproximar-se do ideal do coletivo inteligente, mais imaginativo, mais rápido, mais capaz de aprender e de inventar do que um coletivo inteligentemente gerenciado. O ciberespaço talvez não seja mais do que o indispensável desvio técnico para atingir a inteligência coletiva.12 13

Ao mesmo tempo, o indivíduo imagina ganhar o reconhecimento de sua

comunidade como participante pela concretização dos desejos. Hunt (2010) explica

que “as pessoas estão em redes sociais para se conectar e construir

relacionamentos. Relacionamentos e conexões, com o tempo levam à confiança,

que é a chave para a formação de capital14 ”.

Outra forma de se relacionar com o crowdfunding é financiar projetos que

estão relacionados a assuntos explorados pela mídia, os que remetem a causas

sociais em sua maioria, atraindo perfil de um público engajado, ou que quer se

engajar. Os laços, então, se tornam fortalecidos, gerando cooperação, e confiança

nas transações do crowdfunding. Assim, o indivíduo se relaciona inserido na

cibercultura, entusiasmado com as tendências na rede,

11 Pierre Lévy define o ciberespaço como o espaço de comunicação aberto pela interconexão mundial dos computadores e das memórias dos computadores. 12 LÉVY, P., Cibercultura, p.130. 13 Em sua obra A Inteligência Coletiva. Por uma antropologia do ciberespaço, o autor define o termo Inteligência Coletiva como “uma inteligência distribuída por toda parte, incessantemente valorizada, coordenada em tempo real, que resulta em uma mobilização efetiva das competências.” Ele ressalta que “a coordenação das inteligências em tempo real provoca a intervenção de agenciamentos de comunicação que, além de certo limiar quantitativo, só podem basear-se nas tecnologias digitais da informação”. 14 O autor se refere ao capital social, ou seja, a reputação no virtual.

Page 15: O crowdfunding e a produção cultural no Rio de Janeiro

15

A cibercultura é a expressão da aspiração de construção de um laço social, que não seria fundado nem sobre links territoriais, nem sobre relações institucionais, nem sobre as relações de poder, mas sobre a reunião em torno de centros de interesses comuns, sobre o jogo, sobre o compartilhamento do saber, sobre a aprendizagem cooperativa, sobre processos abertos de colaboração. O apetite para as comunidades virtuais encontra um ideal de relação humana desterritorializada, transversal, livre. As comunidades virtuais são os motores, os atores, a vida diversa e surpreendente do universal por contato.15

Organizado na rede, o poder de decisão se intensifica. Até chegar à

finalidade, que é a de cumprir a meta para que o projeto se torne viável, o

mecanismo do crowdfunding permite que o público defina o que vale ou não ser

apoiado financeiramente. No crowdfunding, se o projeto ainda não organizou seu

público na Internet, é uma oportunidade também de atrair seus nichos.

15 LÉVY, P., Cibercultura, p.130.

Page 16: O crowdfunding e a produção cultural no Rio de Janeiro

16

4 PANORAMA DAS PLATAFORMAS NO BRASIL

A maioria dos sites brasileiros de crowdfunding se inspira no Kickstarter. As

plataformas viabilizam projetos culturais, de entretenimento, exclusivamente em

música, estritamente para a realização de shows, para causas sociais, para startups,

ou para interesses particulares.

Os autores de cada projeto apresentam a proposta ao grupo de cada

plataforma. Quando o projeto é aprovado, os próprios autores produzem um vídeo

ao público-alvo, argumentando a importância da ideia. Os usuários assistem ao

vídeo na página criada especificamente sobre a oferta na plataforma e, logo abaixo,

há um texto sobre o projeto.

No canto inferior da página, há links para redes sociais para difundir a ação

atraindo adeptos. O usuário pode aderir ao perfil do projeto nas redes sociais (via

Facebook, Twitter, ou vídeo do You Tube, por exemplo). Para se tornar um

financiador, o usuário se cadastra na plataforma, criando seu próprio perfil, com

opção de inserir foto e outros dados pessoais, visíveis publicamente, se preferir.

Se o usuário se interessar pelo projeto, escolhe como investir, de acordo com

as cotas estipuladas de participação, que variam de R$10,00 a R$5mil, em média,

em troca de recompensas. São oferecidos produtos ou mix de produtos para cada

valor: CD autografado, camiseta, ingresso para show ou os músicos na sua casa.

Dependendo do site, o dinheiro é debitado antes, ou depois, do projeto concluído.

Caso o projeto não atinja a meta (e o dinheiro foi debitado anteriormente), o usuário

é reembolsado.

Cada plataforma determina um prazo - de dois meses, em média - para o

projeto arrecadar a quantia mínima necessária. Ao atingir a meta, os

administradores das plataformas cobram uma comissão de 5% a 15%. Essa

porcentagem varia por plataformas e cobrem as taxas administrativas. Há sites que

repassam o dinheiro aos autores, debitando do financiador, mesmo quando o projeto

não atinge a meta mínima.

Michel Nicolau Netto, mestre e doutorando em Sociologia pela Universidade

Estadual de Campinhas (Unicamp), no artigo “Crowdfunding e a agência da

multidão”, propõe três agentes principais na ordenação do crowdfunding: o promotor

da plataforma, o proponente do projeto e o financiador. De acordo com ele, a

Page 17: O crowdfunding e a produção cultural no Rio de Janeiro

17

multidão a que se refere o crowdfunding tipicamente é o terceiro agente, ou seja, o

financiador.16

Netto argumenta que crowdfunding é uma estratégia de produção. Para ele,

lançar um projeto inicialmente no crowdfunding pode não gerar lucro, mas também

não acarreta em prejuízo, como nas tradicionais produções: na Inglaterra, por

exemplo, mais da metade dos shows não gera o retorno investido17.

O crowdfunding, então, é uma alternativa segura para o autor de um projeto

descobrir se este pode ou não se tornar viável. Ele constata se haverá garantia, ou

insucesso da viabilização de acordo com a porcentagem arrecadada de sua meta

financeira. Os projetos que não contaram com patrocinadores pelas vias de

patrocínio tradicionais puderam, então, ser realizados ao se lançarem nas

ferramentas. A reportagem publica o levantamento sobre as áreas de projetos

realizados no país:

(...) Em levantamento feito pelo GLOBO nos nove principais sites de crowdfunding do Brasil, 67,77% do total investido foi para projetos artísticos, como a produção de filmes e de livros. Os projetos de empreendedorismo, seja para criação de empresas ou de produtos inovadores, ficaram com fatia de 28,83%. Iniciativas de cunho social levaram 3,40% dos recursos.(...) 18

O crowdfunding mudou o mercado de shows de bandas alternativas no Brasil.

“Abriu-se um canal excelente de ajuda entre bandas e fãs, mas por outro lado, é

preciso calibrar as expectativas dos artistas, já que nem sempre o financiamento do

público vai viabilizar grandes projetos”, segundo Rodrigo Ortega, editor de música do

blog Pípula Pop19, criado há sete anos. Com 2.600 seguidores no Twitter e

Facebook, ele reafirma a força do mercado alternativo.

Através do Queremos, Ortega foi um dos financiadores por duas vezes,

recebendo retorno integral nos shows do Belle and Sebastian e do Two Door

Cinema Club. Para ele, o Queremos não só mostrou que o público carioca está

interessado nesses shows que o mercado tradicional não considerava, como provou

que o crowdfunding é uma alternativa viável e mais justa do que a organização de

shows convencional.

16 Disponível em:<http://www.overmundo.com.br/banco/crowdfunding-e-a-agencia-da-multidao>.Acesso em 03 nov.2011. 17 Entrevista concedida por e-mail para mim, em 11/11/2011. 18 SETTI, R.; CRUZ, M.. Modelo de financiamento pela web, 'crowdfunding' avança no Brasil. Mas há barreiras. O GLOBO DIGITAL E MÍDIA, 08 mai. 2011. Disponível em: <http://oglobo.globo.com/tecnologia/modelo-de-financiamento-pela-web-crowdfunding-avanca-no-brasil-mas-ha-barreiras-2773332>. Acesso em: 13 set. 2011 19 Pípula Pop. < http://www.pilulapop.com.br/>. Acessado em 30 jan.2012.

Page 18: O crowdfunding e a produção cultural no Rio de Janeiro

18

Para o público dirigido, o crowdfunding atende às expectativas, mas as

plataformas encontram resistência entre os conservadores, talvez por ser uma ideia

nova e por demandar uma dedicação maior de navegação para se entender o

modelo de negócio. Gabriel Thomaz, vocalista da banda Autoramas observa que

nem todos possuem o mesmo tempo para assimilar novidades com tanta agilidade.

Alguns fãs da banda disseram não concordar com arrecadação de “esmola

eletrônica”. Outros não entenderam bem a proposta ao confundir a plataforma de

crowdfunding com site de votação da melhor banda. “Há internautas que se

comportam como se tivessem ligado a TV para zapear e acabam não prestando

atenção em nenhum programa”, argumenta.

Pensando na relação com os usuários, cada plataforma brasileira apresenta

particularidades em suas propostas, ao adaptarem o crowdfunding à realidade da

Internet no país. A maioria dos sites foi lançada por amigos, que viam no

crowdfunding a solução para desenvolver um mercado mais criativo.

4.1 Principais plataformas de crowdfunding

No Brasil, seis plataformas de crowdfunding se destacam por atingirem, com

mais sucesso, suas metas e por se distinguirem pelo perfil dos projetos e pelo tipo

de oferta aos incentivadores: Vakinha, Catarse, Queremos, Movere, Embolacha,

Benfeitoria.

4.1.1 Vakinha

O primeiro site de crowdfunding brasileiro é o Vakinha, lançado em 2009. A

proposta se distingue das outras plataformas: as vaquinhas, em sua maioria, são

desejos que atendam interesses particulares. Os objetivos vão desde realizar

casamento, tratamento médico para cachorro de estimação, incrementar um

pequeno negócio a reformar a casa. O criador do pedido cadastrado na Vakinha

recebe todo o dinheiro arrecadado pelos usuários que contribuem via boleto,

transferência ou cartão de crédito. Desde o seu lançamento, foram 50mil vaquinhas

realizadas, de acordo com informações em seu perfil no Facebook.

Page 19: O crowdfunding e a produção cultural no Rio de Janeiro

19

4.1.2 Catarse

O Catarse foi a segunda plataforma brasileira de crowdfunding (lançada em

janeiro de 2011) e a primeira de financiamento colaborativo para projetos criativos,

baseada nos moldes do Kickstarter, como hoje se apresenta a maioria dos sites no

Brasil. No modelo de incentivo, os sócios do Catarse selecionam os projetos que

entram no ar. A intenção é divulgar os trabalhos que estejam prontos para ir ao

público:

A gente está de braços abertos para projetos artísticos – Artes Plásticas, Circo, Dança, Filmes, Fotografia, Música, Teatro, etc. – e também para projetos criativos que surjam em campos como Alimentação, Design, Moda, Tecnologia, Jogos, Quadrinhos, Jornalismo, entre vários outros. Não aceitamos projetos de caridade.20

O dinheiro é devolvido para os financiadores, caso o projeto não arrecade a

quantia mínima desejada. Segundo Rodrigo Maia, sócio do Catarse, a plataforma é

uma adaptação do Kickstarter com “jeitinho brasileiro”: única no mundo de código

aberto (pelo menos sete plataformas, no Brasil e no exterior, se utilizam do código),

além de aceitar boleto (que representa boa parcela das arrecadações), transferência

direta e cartão de débito. Em sua opinião, o brasileiro tem receio dos métodos de

pagamento online, e o boleto traz segurança.

Até novembro de 2011 o Catarse reuniu 12mil apoios, levantou 130 projetos

bem sucedidos, arrecadando 1 milhão de reais. A plataforma recentemente bateu

uma série de recordes em crowdfunding brasileiro com a arrecadação para o projeto

"Belo Monte - Anúncio de uma Guerra". O documentário, com entrevistas e imagens

sobre a relação da obra de Belo Monte com a sociedade, passou de 232 para 3mil

apoiadores em apenas um dia, além de 55mil compartilhamentos no Facebook.

O trecho abaixo da reportagem online destaca a plataforma Catarse como o

quarto na lista dos “dez projetos mais legais da Internet do ano”:

O Catarse é a primeira plataforma brasileira de crowdfunding para projetos criativos. Funciona assim: você propõe um projeto e o resto do mundo pode te ajudar com dinheiro. É como se fosse uma compra coletiva ao contrário. Se, ao final do prazo, a arrecadação não atingir a quantia mínima, o dinheiro é devolvido para os doadores.21

20 Em: < http://catarse.me/pt/faq>. Acesso em: 02 set.2011 21 COHEN, O. Destaques de 2011 da SUPER: Os 10 projetos mais legais da internet do ano. SUPER, 14 dez. 2011. Disponível em: <http://super.abril.com.br/blogs/superlistas/destaques-de-2011-da-super-os-10-projetos-digitais-mais-legais-do-ano/ >. Acesso em: 15 dez. 2011.

Page 20: O crowdfunding e a produção cultural no Rio de Janeiro

20

4.1.3 Queremos

Uma turma de amigos fundou o grupo “cariocas empolgados” ao perceber que

muitos shows de bandas, a maioria internacionais, não incluíam o Rio de Janeiro na

turnê. Com a plataforma Queremos, eles viram a solução. Dividem por uma fatia do

público o valor necessário para produção de um evento, garantindo assim a sua

realização - podendo reembolsar integralmente essas pessoas com a arrecadação

da bilheteria, como explicam no site aos usuários.

Com o valor mínimo necessário assegurado, o evento é confirmado e inicia-se

a venda de ingressos normais para o público. Todos que compraram o ingresso-

reembolsável têm direito a um reembolso proporcional à venda de ingressos

regulares, podendo ir de zero até ao valor integral, conforme descrito no site.

O Queremos apresenta, na sua página inicial, o balanço de 15 meses, tempo

de existência do site: “4.374 colaboradores viabilizaram apresentações de 22

bandas, pagando, em média, R$32 por ingresso. Os colaboradores conseguiram

100% de reembolso em 12 shows, indo de graça a esses eventos.”22

A originalidade do projeto transformou o Queremos no projeto de maior

sucesso de crowdfunding no Brasil. O grupo, formado por cinco integrantes, participa

de encontros internacionais conceituados, visto que o negócio é inédito no país e no

exterior, conforme afirma Felipe Constantino, um dos fundadores do Queremos.

Em novembro de 2011, o Queremos se apresentou no evento Futures of

Entertainment, no Massachusetts Institute of Technology (MIT), na mesa Creating

with the Crowd: Crowdsourcing for Funding, Producing and Circulating Media

Content. Em fevereiro de 2011, eles levaram sua experiência para o evento TED X

Rio.

4.1.4 Movere A plataforma foi lançada no início de 2011. O Movere incentiva, além de

projetos culturais, trabalhos de outras áreas como gastronomia, design, moda, jogos,

saúde, esporte, educação, dentre outras. As pessoas recebem em troca

recompensas únicas e especiais, de acordo com o site. Se a meta não for atingida, o

dinheiro volta para quem incentivou.

22 Disponível na página principal da plataforma: http://www.queremos.com.br/. Acesso em 11 fev.2012.

Page 21: O crowdfunding e a produção cultural no Rio de Janeiro

21

Vanessa Oliveira, sócia da plataforma, ressalta valores como confiança e

trabalho em conjunto com as produções independentes e boa articulação com

parcerias com instituições de diversas naturezas para o crescimento da plataforma e

do crowdfunding no Brasil.

4.1.5 Embolacha A ferramenta de financiamento colaborativo é exclusiva para projetos de

música, e a quantia investida pelo financiador é debitada da conta se o projeto

atingir a meta de 100%. Foram realizados projetos de bandas alternativas, como

Móveis Coloniais de Acaju (DF), Letuce, Autoramas, Rabotnik e Mig Martins.

Paulo Monte, sócio da plataforma, acredita no poder democrático desse tipo de

ferramenta. Um dos objetivos do Embolacha, de acordo com ele, é continuar

trabalhando para fortalecer e consolidar o modelo de financiamento colaborativo

como uma opção inteligente e viável pra cadeia produtiva da musica brasileira:

(...) a Bolacha é um selo independente, que trabalha com artistas independentes, e por isso seus maiores empecilhos tinham uma causa: dinheiro. (..) A empresa inscreveu o projeto em um edital da Finep, do Ministério da Ciência e Tecnologia, aprovado no final de 2009. De lá para cá, ele cresceu e mudou. A ideia inicial – custear só a produção de discos – foi ampliada para qualquer criação artística. (...)23

A plataforma foi uma alternativa para a empresa Bolacha Discos, de

distribuição e produção de conteúdo musical. Para ser desenvolvido, o site contou

com o apoio financeiro da Finep e do Ministério da Ciência e Tecnologia com

recursos do FNDCT.

4.1.6 Benfeitoria A plataforma Benfeitoria é a única do mundo que não cobra comissão. As

colaborações e recompensas – definidas em uma das páginas do site como “sistema

envolvente de micro-patrocínios” – também são realizadas através de consultorias,

doação de materiais e voluntariado:

As transações na benfeitoria são consideradas doações (em caso de recompensa simbólica, como agradecimentos e créditos em um livro), pré-venda (em caso de recompensas não simbólicas para contribuições financeiras, como a entrega do livro a ser viabilizado) ou troca (em caso de recompensas não financeiras para pedidos não financeiros). Também não é

23 DIAS, T. Sonho Viável. ESTADÃO.COM.BR, 15 mai. 2011. Disponível em: <http://blogs.estadao.com.br/link/tag/letuce/ >. Acesso em: 11 nov. 2011.

Page 22: O crowdfunding e a produção cultural no Rio de Janeiro

22

permitido nenhuma recompensa que envolva sorte, como sorteios e rifas, pois eles teriam que ter a aprovação da Caixa Econômica Federal.24

A plataforma arrecadou R$300mil em 2011 em projetos de impacto positivo

(foi fundada em maio do mesmo ano), de acordo com dados de seu perfil no

Facebook. Os fundadores, um casal de jovens com experiência de 15 anos em

marketing e no mercado multinacional, resolveu sair da empresa para aplicar o

conhecimento em iniciativas que podem se transformar em ações. Na equipe,

contam com mais dois integrantes.

24 Em: <http://www.benfeitoria.com/index.php?t=pagina&a=visualiza&cd=10>. Acesso em: 02 set.2011.

Page 23: O crowdfunding e a produção cultural no Rio de Janeiro

23

5 RELACIONAMENTO E MARKETING NAS PLATAFORMAS 5.1 Aproximação dos nichos de mercado

O crowdfunding concentra nichos, pois a estrutura se adequa às

necessidades deles. A rede permite mapear o comportamento dos pequenos

segmentos, antes mesmo de um projeto ter sua página criada na plataforma. E

conhecer os nichos de antemão pode estreitar o relacionamento com o potencial

cliente: o autor do projeto sabe quem atingir, e o financiador investe para adquirir

seu produto customizado. Agradar um nicho requer descobrir seus gostos mais

particulares. O nicho é um dos níveis de decomposição de mercado, no marketing

de segmentos:

Um nicho é um grupo definido mais estritamente, um mercado pequeno cujas necessidades não estão sendo totalmente satisfeitas. Em geral, os profissionais de marketing identificam nichos subdividindo um segmento ou definindo um grupo que procura por um mix de benefícios distintos. Por exemplo, o segmento de fumantes inclui aqueles que estão tentando parar de fumar e aqueles que não se preocupam com isso.25

No crowdfunding, produtores independentes vivenciam um papel que antes

pertencia somente a uma parcela mínima de atores no mercado tradicional de

patrocínio e apoio. Eles atendem diretamente seu público, já identificados em nichos

na Internet:

Cada vez mais o mercado de massa se converte em massa de nichos. Essa massa de nichos sempre existiu, mas, com a queda do custo de acessá-la – para que consumidores encontrem produtos de nicho e produtos de nicho encontrem consumidores -, ela, de repente, se transformou em força cultural e econômica a ser considerada. O novo mercado de nichos não está substituindo o tradicional mercado de hits, apenas; pela primeira vez, os dois estão dividindo o palco.26

Na Teoria da Cauda Longa, de Anderson (2006), a sociedade está “se

afastando do foco em alguns hits relativamente pouco numerosos (produtos e

mercados da tendência dominante), no topo da curva da demanda, e avançando em

direção a uma grande quantidade de nichos na parte inferior ou na cauda da curva

da demanda”.

25 KOTLER, P., Administração de Marketing, p.279. 26 ANDERSON, C., A Cauda Longa: do mercado de massa para o mercado de nicho, p.6.

Page 24: O crowdfunding e a produção cultural no Rio de Janeiro

24

Os nichos ganham contornos cada vez mais definidos. Por não depender

exclusivamente da relação tradicional de mercado, vão disputando espaço na mídia.

Como resultado, têm a oportunidade de reforçar cada vez mais sua identidade via

crowdfunding.

5.2 Crowdfunding no posicionamento de marca

5.2.1 Empresas apostam na visibilidade

Empresas físicas tradicionais analisam as novas formas de interação e

identificam o comportamento de seu público-alvo na Internet. Consequentemente,

elas apostam na nova tendência - o crowdfunding - como mais um meio de

relacionamento e encantamento da marca.

A loja virtual da livraria Saraiva possui uma parceria com a plataforma

Vakinha. Quando o usuário acessa a página de um produto no site da Saraiva, ele

tem a opção de clicar no aplicativo que leva à plataforma e gerar a vaquinha do

produto.27

A loja de roupas Cantão contribuiu como apoiador de dois projetos nos sites

Embolacha e Queremos. Rick Yates, gerente de marca/branding revela que os

retornos são imateriais, de posicionamento de marca. No caso do Cantão, é um

reforço do DNA da marca:

O Cantão é uma marca comportamental e desde o seu nascimento, em 1968, se relaciona com projetos e profissionais da área cultural e artística. O crowdfunding tem sido uma ótima ferramenta para viabilizar projetos bacanas através da iniciativa privada e individual, o que nos aproxima do público-alvo.28

Castells (2003) observa que “a atividade empresarial, como dimensão

essencial da cultura da Internet, chega com uma nova distorção histórica: cria

dinheiro a partir de idéias, e mercadoria a partir de dinheiro, tornando tanto o capital

quanto a produção dependentes do poder da mente. ”Criamos meios de nos inserir,

às vezes involuntariamente, na nova tendência, a começar pela cultura do

entretenimento, como nota Jenkins (2010):

27 O vídeo publicitário explica o funcionamento da parceria: < http://vimeo.com/26776637>. Acesso em: 11 fev. 2012. 28 Entrevista concedida por e-mail para mim, através da assessoria de imprensa da Cantão, em 02/01/2012.

Page 25: O crowdfunding e a produção cultural no Rio de Janeiro

25

Neste momento estamos aprendendo a aplicar as novas habilidades de participação por meio de nossa relação com o entretenimento comercial – ou, mais precisamente, neste momento, alguns grupos de usuários pioneiros estão testando o terreno e delineando direções que muitos de nós tenderemos a seguir. Essas habilidades estão sendo aplicadas primeiro à cultura popular por várias razões: por um lado, porque os riscos são baixos; por outro, porque brincar com cultura popular é muito mais divertido do que brincar com questões sérias. 29

Não são somente as empresas que estão desbravando a nova possibilidade

de relacionamento com o público. Os autores dos projetos lançados nas plataformas

também viram a chance de desdobrar ações após visibilidade no crowdfunding.

5.2.2 Porta de entrada para novas ações

Vanessa Oliveira, sócia da plataforma Movere, cita a campanha do grupo de

samba carioca Sururu na Roda como exemplo de propaganda de marketing30. Após

arrecadar R$39mil para gravação de CD em homenagem ao centenário de Nelson

Cavaquinho, pelo Movere, o grupo musical manteve o relacionamento estreito com o

público, através do desdobramento de outras ações, estimuladas por terceiros. Uma

empresa de telefonia celular ofereceu aplicativo para iPhone do grupo. Uma pessoa

física investiu na recompensa de R$5mil para ter o show do Sururu na Roda, e

presenteou uma instituição. O grupo, assim, reafirma sua imagem no cenário

musical carioca.

Oliveira também enfatiza outro caso: o projeto Fanzine Kapta - que consistiu

em disponibilizar a publicação em versão para iPad - não alcançou a meta, mas

ganhou projeção na mídia com a campanha. Como resultado, uma empresa

incentivou a iniciativa para desenvolver o projeto. Por isso Rodrigo Maia, sócio da

plataforma Catarse, explica que, para gerar uma série de conhecimentos na

sociedade, o que as plataformas precisam são de pequenos pontos, ou pequenos

núcleos que se formam, e não de 1 milhão de pessoas.31

O comportamento que o crowdfunding tem gerado nos nichos vai ao encontro

de Castells (2003), quando ressalta que “a Internet tende a aumentar a exposição a

outras fontes de informação”. O autor descreve que “Di Maggio, Hargittai, Neuman e

29 JENKINS, H., Cultura da Convergência, p.313. 30 Declaração feita durante palestra no evento “Observatório Criativo – Economia criativa: compartilhamento de ideias sobre cultura”, realizado em 13/12/2011, no Centro Cultural da Justiça Federal. 31 Idem.

Page 26: O crowdfunding e a produção cultural no Rio de Janeiro

26

Robinson (2001) relatam resultados de levantamentos de participação pública que

mostram que usuários da Internet (após o controle das demais variáveis)

freqüentavam mais eventos de arte, liam mais literatura, viam mais filmes, assistiam

mais esportes e praticavam mais esportes que não-usuários”.

Ao agradar o público-alvo, o crowdfunding e outros formatos virtuais de

aproximação de comunidades online de usuários segmentados - como blogs e redes

sociais – modificam então a visão de mercado.

5.2.3 Estilo como instrumento de atração

A criatividade é um dos pontos-chave para um projeto se tornar bem-sucedido

na Internet. Oliveira observa que um dos pontos do crowdfunding é se divertir

fazendo, criando as alternativas de recompensas de um projeto, por exemplo32. Ao

analisar seus elementos, o crowdfunding se apresenta como ferramenta que agrega

desejo ao entretenimento, através da linguagem: estilo de redação informal e

descontraído; imagens e vídeos do(s) autor (es) em seu cenário, vendendo seus

projetos como um sonho desejado, através de narrativa que remete à emoção;

recompensas materiais aos apoiadores com objetos que se relacionam ao tema,

reforçando laços. Proporciona ao financiador a sensação de pertencimento ao grupo

quando ele se cadastra na plataforma criando seu perfil, com opção de inserir foto e

outros dados pessoais, visíveis publicamente, se preferir.

Em 09/11/11, em sua página principal, o site Queremos divulgou o resultado

do projeto da época - um festival em parceria com uma loja de roupas para mulheres

jovens:

E (enfim!) ontem rolou o primeiro dia do nosso Festival com o Queremos no Circo. E foi bem além da música. Quem passou por lá conferiu uma mistura bacana de arte, moda, comportamento e festa! Logo na entrada do espaço “EU QUERO”, intervenções de grafite do amigo Airá – um beijo! ♥. Nossa kombi trouxe uma seleção especial de camisas FARM + Queremos – com os pôsteres dos shows que rolaram – da Lust For Life, Cds da LAB – com as melhores bandas de todos os festivais – a Lomography distribuindo filmes pra quem quisesse fotografar na hora!Numa parceria com o Mola, os artistas cariocas Denne, Felipe Bardy e Flávio Lazarino transformaram o palco externo numa grande instalação (re)utilizando caixotes, pôsteres e

32 Declaração feita durante palestra no evento “Observatório Criativo – Economia criativa: compartilhamento de ideias sobre cultura”, realizado em 13/12/2011, no Centro Cultural da Justiça Federal.

Page 27: O crowdfunding e a produção cultural no Rio de Janeiro

27

fios de algodão, representando cordas de instrumentos musicais e a matéria prima de nossa moda (morremos!).33

Segundo análise do webwriter Bruno Rodrigues, o sucesso de uma ação em

crowdfunding depende, antes de mais nada, da credibilidade do projeto proposto, e

isso não está ligado apenas ao projeto, por si só. O jornalista enfatiza que uma das

etapas primordiais é a comunicação, seja entre empreendedores e investidores, seja

entre empreendedores e players envolvidos na concretização do projeto:

Para o investidor, encontrar os detalhes sobre o projeto é fundamental e, neste processo, a arquitetura da informação do website é decisiva: informação não localizada é investidor a menos, não há dúvida. Todo formato de conteúdo disponível, seja texto, vídeo, gráfico ou áudio, deve ser bem pensado para que nenhuma das mensagens gere ruído, a 'chuva ácida' da comunicação. Além disso, a forma como a informação é disponibilizada e como onde ela é disposta não somente reforçam a credibilidade, como são elementos primordiais para persuadir o visitante a investir no projeto - o que se almeja, afinal de contas.34

A forma de abordagem nas páginas das redes sociais (criadas pelos autores

do projeto) também incentiva o engajamento de mais pessoas. Os especialistas em

crowdfunding também sugerem aos autores divulgar o projeto nas redes sociais e,

se necessário, por filipetas e e-mail, dependendo do público-alvo, antes até de a

campanha ser lançada no crowdfunding. São estratégias paralelas elaboradas de

acordo com perfil do público, ajudando a sustentar a fase de campanha.

33 A página foi acessada na data mencionada, em 09/11/2011. Para se ter uma ideia do festival, consulte a página disponível em: <http://queremos.com.br/show/22-Eu-Quero-Festival!> 34 Entrevista concedida por e-mail para mim, em 09/11/2011.

Page 28: O crowdfunding e a produção cultural no Rio de Janeiro

28

6 CONVERGÊNCIA MOBILIZA AUTORES E APOIADORES

6.1 Plataformas pela democratização das mídias

Com a convergência das mídias, qualquer internauta grava arquivos em vídeo

ou imagem, via celular, para inseri-los em alguma plataforma de interatividade

virtual. Pelo aparelho, inclusive, pode-se navegar em ferramentas de colaboração e

de compartilhamento, como You Tube, Vimeo, My Space e Facebook.

O download grátis de arquivos em MP3 e MP4 pelo usuário muda a relação

das produtoras diante do mercado, e transfere o poder para o internauta,

principalmente sobre o que ele quer ouvir. Como exemplo de uma das possibilidades

de compartilhamento, o usuário transfere suas músicas preferidas para seu aparelho

celular, via bluetooth, e desse modo pode divulgar o trabalho do artista em qualquer

lugar.

A presença desses novos instrumentos para se comunicar é um indício da

aceleração da economia do virtual. Lévy (1996) aponta que a “economia

contemporânea é uma economia da desterritorialização ou da virtualização, quando

o volume de negócios cresce no turismo e na indústria que fabricam veículos,

fazendo viajar signos e coisas”:

Os meios de comunicação eletrônicos e digitais não substituíram o transporte físico, muito pelo contrário: comunicação e transporte, como já sublinhamos, fazem parte da mesma onda de virtualização geral. Pois ao setor da desterritorialização física, cumpre evidentemente acrescentar as telecomunicações, a informática, os meios de comunicação, que são outros setores ascendentes da economia do virtual. O ensino e a formação, bem como as indústrias da diversão, trabalhando para a heterogênese dos espíritos, não produzem outra coisa senão o virtual. Quanto ao poderoso setor da saúde – medicina e farmácia -, como vimos num capítulo precedente, ele virtualiza os corpos. 35

A aplicabilidade tecnológica cada vez mais acelerada, mais desenvolvida e

mais acessível facilita a convergência das mídias. Diante disso, muito da

mobilização e adesão ao crowdfunding é resultado da economia da virtualização. A

plataforma apresenta, de modo geral, fácil usabilidade, desde a produção do vídeo

pelos autores do projeto, até o mecanismo da arrecadação de dinheiro pelo mutirão

de pessoas para que a realização do projeto seja viável. O consumidor, então, não

35 LÉVY, P., O que é o virtual?, p.51.

Page 29: O crowdfunding e a produção cultural no Rio de Janeiro

29

precisa mais esperar pelo lançamento de um produto por uma grande produtora

para que tudo aconteça.

O cantor tem a chance de ser seu próprio produtor, mostrando qualidade no

seu trabalho, sem depender de gravadoras. A oportunidade de conhecer de perto

seu público e de ouvir seus anseios permite adaptar o trabalho de acordo com a

opinião direta de fãs, porque os dispositivos estão ao alcance das mãos. Assim, se

transformam em instrumentos de grande poder de divulgação. A produção e a

distribuição da informação se inserem no tripé de forças, guiadas pela emoção e

pela democratização:

A propaganda boca a boca amplificada é a manifestação da terceira força da Cauda Longa: explorar o sentimento dos consumidores para ligar oferta e demanda. A primeira força, democratização de produção, povoa a cauda. A segunda força, democratização da distribuição, disponibiliza todas as ofertas. Mas isso não é suficiente. Só quando essa terceira força, que ajuda as pessoas a encontrar o que querem nessa nova superabundância de variedades, entra em ação é que o potencial do mercado da Cauda Longa é de fato liberado.36

Os amigos de Mariana Leporace, por serem os principais divulgadores de um

espetáculo inédito da cantora de MPB (a proposta do projeto foi apresentada via

crowdfunding), foram os responsáveis pela lotação da casa no dia do show.

Leporace tem 20 anos de carreira e se apresenta nos circuitos culturais pelo Rio de

Janeiro. Ela promoveu o show de lançamento de seu nono CD através da plataforma

Catarse. Leporace vê no crowdfunding uma espécie de “libertação” do mercado – a

viabilização da criação, diretamente do "produtor" ao "consumidor" de maneira

simples:

O crowdfunding desamarra dos demais meios de captação que o mercado oferece, que são ainda muito complexos e muitas vezes inatingíveis para os artistas independentes. A sensação de fazer um show inteiramente bancado por aposta no meu trabalho foi indescritível. As pessoas se sentiram parte do processo e consegui ampliar meu público, porque os amigos que compraram a ideia se encarregaram de divulgar pra outros amigos. Penso que as gravadoras já há algum tempo começaram a perder a função. A internet é uma aliada muito poderosa dos artistas e pode ser considerada a ferramenta fundamental rumo a "independência.37

Via crowdfunding, a cantora criou diversas formas de recompensas para os

financiadores, variando produtos e preços – são alternativas customizadas que

agradam o consumidor. As cotas para patrocinar o projeto variavam de R$10 a

R$2.500, com recompensas acumuladas de acordo com o aumento do valor. Com 36 Ibid, p.115 37 Entrevista concedida por e-mail para mim, em 23/11/2011.

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30

R$10, o apoiador recebia por e-mail o MP3 de uma música do CD "Interior" e um

agradecimento. Com R$30 ele ganhava o CD. Com R$40, levava o ingresso para o

show. Com R$70, ele ganhava o ingresso e o CD. Com R$100, levava dois

ingressos e o CD. Com R$500, foram quatro kits. Cada kit era composto por dois

ingressos, CD e a citação da marca (caso o financiador fosse uma empresa) ou do

nome no off do show. Com R$1.000 ganhava oito kits, além do logo incluído no

material de divulgação. Com R$2.500 o financiador levava dez kits e um pocket

show de voz e violão.

Paulo Monte, sócio do Embolacha, afirma que existe um objetivo comercial

por trás de cada campanha de crowdfunding. Porém, os sites são muito mais do que

simples ferramentas para captação de recursos: as plataformas são espaços para a

experimentação e expansão dos limites artísticos.

A convergência não envolve apenas materiais e serviços produzidos

comercialmente. Ela ocorre também quando as pessoas assumem o controle das

mídias. Jenkins (2008) acrescenta que “entretenimento não é única coisa que flui

pelos múltiplos suportes midiáticos. Nossas vidas, relacionamentos, memórias,

fantasias e desejos também fluem pelos canais de mídia”.

Os novos comportamentos que divulgam a cultura fogem ao controle e às

regras ditados pela tradicional indústria fonográfica. Os virais, por exemplo,

promovem artistas que estavam no anonimato a partir do momento em que fãs

compartilham a informação para outros usuários.

6.2 Mobilização dos fãs

Leonardo Rocha, fã do grupo de rock alternativo carioca Autoramas. Morando

em Contagem, em Minas Gerais, tem seu nome registrado na contracapa do CD da

banda como uma das recompensas oferecidas na campanha para a produção do

disco, via plataforma crowdfunding. Para ele, o mecanismo do crowdfunding é

interessante e inovador porque permitiu sua participação direta no trabalho do artista

preferido, além de o fato de ter seu nome nos agradecimentos.

Rocha ressalta que a realização do projeto também é conseqüência da

credibilidade e do respeito dos Autoramas no meio underground. Ele acompanha o

trabalho do vocalista desde a década de 90, assistindo aos videoclipes pela TV, e

Page 31: O crowdfunding e a produção cultural no Rio de Janeiro

31

afirma que o crowdfunding aumentou seu laço com os músicos. Por isso, pretende

contribuir para as boas idéias sempre que surgirem.

A cooperação dos fãs ganha uma nova forma de relação no processo da

produção, principalmente musical, uma tendência deste novo modo de pensar:

(...) Assim como o estudo da cultura dos fãs nos ajudou a compreender as inovações que ocorrem às margens da indústria midiática, podemos também interpretar as estruturas das comunidades de fãs como a indicação de um novo modo de pensar sobre a cidadania e a colaboração. Os efeitos políticos dessas comunidades de fãs surgem não apenas da produção e circulação de novas idéias (a leitura crítica de textos favoritos), mas também pelo acesso a novas estruturas sociais (inteligência coletiva) e novos modelos de produção cultural (cultura participativa).38

As plataformas talvez não sejam a melhor opção para artistas em início de

carreira, que ainda não construíram um público-base, na opinião de Monte. Segundo

ele, o crowdfunding “é poderoso para artistas independentes ou consagrados que já

tenham um relacionamento definido com seu público consumidor; é um espaço onde

artistas e público se unem para novas experiências e reinventar suas relações.”

As pessoas, quando já agrupadas por afinidades em comum, se comunicam

com mais eficiência ao explicitar seus objetivos, baseadas em referências de signos

e representações. Por isso, é mais fácil, por exemplo, um fã-clube mobilizar mais

pessoas com o mesmo interesse e assim concretizar a proposta de um projeto.

38 JENKINS, H., Cultura da Convergência, p.314.

Page 32: O crowdfunding e a produção cultural no Rio de Janeiro

32

7 CROWDFUNDING NA CADEIA PRODUTIVA DA ECONOMIA

A maioria das plataformas de crowdfunding foi lançada por grupos de amigos,

em sua grande parte, residentes no Rio de Janeiro, ou com algum integrante

carioca, reafirmando a vocação do Estado em fomentar projetos criativos. Três delas

– Movere, Benfeitoria e Embolacha (pela empresa Bolacha Discos) – estão entre os

21 empreendimentos escolhidos pelo Programa Rio Criativo e fazem parte da

Incubadoras de Empreendimentos da Economia Criativa do Estado do Rio de

Janeiro (Incubadoras Rio Criativo), da Secretaria de Estado de Cultura do Rio de

Janeiro.

(...) A iniciativa tem como objetivo estimular a consolidação de empreendimentos criativos no Estado. Entre os serviços oferecidos aos empreendedores selecionados estão consultorias na elaboração de planos de negócios, planejamento estratégico, assessoria jurídica e de imprensa, entre outras. Além disso, os contemplados ganharão um espaço físico nas incubadoras para sediar seus empreendimentos por até 18 meses. (...) O projeto, realizado pela Secretaria de Estado de Cultura do Rio de Janeiro e executado pelo Instituto Gênesis da PUC-Rio, conta com parcerias de Secretaria de Estado de Desenvolvimento Econômico, Secretaria de Estado de Ciência e Tecnologia, Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio de Janeiro – FAPERJ, Junta Comercial do Estado do Rio de Janeiro – JUCERJA, SEBRAE RJ, Prefeitura do Rio, RioFilme e Prefeitura de São João de Meriti.39

O estudo do Sistema Firjan “A Cadeia da Indústria Criativa no Brasil” apresenta

dados dos 12 setores criativos da economia (Arquitetura, Artes Cênicas, Artes

Visuais, Design, Expressões Culturais, Filme & Vídeo, Mercado Editorial, Moda,

Música, Publicidade, Software & Computação e TV & Rádio) e indica o crescimento

da área no Estado:

Em termos nominais, o núcleo da indústria criativa movimentou R$ 93 bilhões na economia brasileira em 2010. No estado do Rio, a importância do núcleo criativo para a economia fluminense (3,5%) continuou maior que na média nacional (2,5%), equivalendo em 2010 a R$ 14,7 bilhões.40

A instituição adota a seguinte definição para o termo “indústria criativa”: os

ciclos de criação, produção e distribuição de bens e serviços que usam criatividade e

capital intelectual como insumos primários. No documento, o Sistema Firjan avalia

39 Disponível em: <http://www.riocriativo.rj.gov.br/pt/institucional.html>. Acesso em: 02 dez. 2011. 40 A Cadeia da Indústria Criativa no Brasil. SISTEMA FIRJAN, out. 2011, p.6. Disponível em: <http://www.firjan.org.br/data/pages/2C908CE9215B0DC40121793A0FCE1E51.htm>. Acesso em: 14 dez. 2011

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que há interdependência entre a indústria e os setores de comércio e serviços na

cadeia da criativa, reconhecendo o poder multiplicador da indústria criativa.

Vanessa Oliveira, sócia da plataforma Movere, acredita que trocar

experiências com outros empreendimentos da incubadora será uma oportunidade de

desenvolver o espírito empreendedor entre empresas de várias áreas, crescendo

juntas.41 A aposta no crowdfunding dentro do Rio Criativo é um aval para o

reconhecimento do valor econômico que as plataformas podem significar ao Estado.

O crowdfunding é uma possibilidade de negócio bastante rentável a longo prazo,

quando as plataformas conseguirem atingir um volume maior de projetos, valores e

participantes, segundo Monte.

Os projetos encontrados no crowdfunding possuem abrangência nacional,

mas é visível a adesão da cultura carioca. Como exemplo, dois blocos de Carnaval

de rua do Rio de Janeiro conseguiram bater a meta estipulada para o desfile, via

crowdfunding: Fogo e Paixão e Toca Rauuul. Na opinião de Monte, a cidade do Rio

de Janeiro sempre teve vocação natural para a cultura desde os tempos da Corte

Portuguesa, ditando moda para o Brasil e exterior, além de ser um pólo de produção

e consumo de bens culturais.42

O Estrombo é mais um projeto que pode afirmar a vocação carioca. Lançado

em dezembro de 2010, contribui para o desenvolvimento de novas negociações para

a música, com comercialização através do uso de novas tecnologias. Ele pretende

fomentar a economia criativa voltada para o Estado, para desenvolver

especificamente o mercado musical. “É uma parceria do Fundo Multilateral de

Investimentos do Banco Interamericano de Desenvolvimento (Fomin/BID), Sebrae,

Fundação Getulio Vargas (Centro de Tecnologia e Sociedade) e Facebook.”43

Heliana Marinho, diretora do Estrombo e gerente da área de Economia

Criativa do Sebrae/RJ, ressalta que a utopia se recoloca nas redes e resgata a

comunicabilidade e prazer de fazer as coisas, diferente do processo metódico

tradicional de se fazer cultura. Ela ressalta que alguns segmentos não percebem

que podem virar negócio.44 Muitos artistas não se relacionam com o mercado por

não dominar as leis de incentivo culturais e por terem dificuldades de escrever

41 Entrevista concedida por telefone, para mim, em 24/01/2012. 42 Entrevista concedida por e-mail para mim, em 09/01/2012. 43 Informações extraídas de: < http://estrombo.com.br/o-que-e-o-estrombo>. Acesso em: 31 jan.2012. 44 Declaração durante palestra no evento “Observatório Criativo – Economia criativa: compartilhamento de ideias sobre cultura”, realizado em 13/12/2011, no Centro Cultural da Justiça Federal.

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projetos. Por isso, um dos objetivos do Estrombo, como descreve o site do projeto, é

dar apoio à cadeia produtiva da música, desde artistas, produtores, casas de shows,

lan houses, DJs, fotógrafos, estúdios, escolas, webradios, jornalistas, artistas

gráficos, figurinistas, técnicos de som e luz, cenógrafos e game designers. Está

estruturado para ser desenvolvido em três vertentes: capacitação, realização de

estudos e participação mais ativa no mercado.45

Dentro da realidade do crowdfunding ao contexto brasileiro, os criadores do

crowdfunding fazem adaptações, como, por exemplo, no atendimento aos autores

dos projetos. Rodrigo Maia, sócio do Catarse, enfatiza que as plataformas dedicam

“extrema atenção aos proponentes, e também aos apoiadores. Prezamos o afeto, a

proximidade e/ou aproximação – somos mais parceiros dos realizadores do que

prestadores de serviços.”

Com recursos públicos e de instituições privadas, há uma possibilidade do

fortalecimento da microeconomia do Estado. “Toda e qualquer iniciativa que

incentive a produção de bens culturais e a inserção de novos agentes dentro da

cadeia produtiva da música ajuda a reaquecer a cidade e tornar o meio ambiente

mais favorável,” na opinião do produtor independente Alê Barreto.46 O crowdfunding

é mais um recurso para os artistas, reconhecido pelo Estrombo, ao citar o modelo da

plataforma Queremos:

(...) Já não é raro artistas distribuindo músicas gratuitamente, sabendo que isso desperta o interesse do público e cativa novos ouvintes, aumentando o público pagante em shows. Nesse cenário, surgem iniciativas que dialogam criativamente com as novas tecnologias digitais. (...) O crowdfunding é um recurso usado de muitas maneiras na realização de shows. No Rio de Janeiro, um dos projetos mais bem-sucedidos é o Queremos, que trouxe mais de 20 bandas internacionais para tocar na cidade.47

Maia ressalta que as plataformas de crowdfunding hoje no Brasil não são

sustentáveis. Os sócios do Catarse, ao longo de 2011, investiram recursos próprios,

sem retorno. Tudo que os projetos geraram em 2011 são o capital de giro atual. No

Catarse, ele elabora com os sócios uma série de modelos de receita adicionais que

entram em ação em 2012 para potencializar os projetos. Ele explica que, se

subissem as taxas de administração, ficaria muito pesado para os projetos, já que é

uma carga incluir o custo logístico de entrega de recompensas:

45 Trecho disponível em: <http://estrombo.com.br/video-estrombo-mapeamento-cultural-do-estado-do-rio-heliana-marinho-sebraerj>. Acesso em 01 fev. 2012 46 Entrevista concedida por e-mail, para mim, em 05/01/2012. Alê Barreto é administrador, produtor, autor do livro Aprenda a Organizar um Show e gestor do conteúdo do blog Produtor Cultural Independente. 47 Em: <http://estrombo.com.br/tag/queremos>. Acesso em: 30 jan. 2011.

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O Catarse não tem fins lucrativos. É uma empresa privada, mas seguimos preceitos de negócios sociais, o chamado setor 2 e meio, numa alusão a um intermédio entre o terceiro setor e empresas. Isso não quer dizer que não possamos ter bons salários, mas todo o nosso lucro (excedente) é devolvido pra re-alimentar a roda. Mas isto ainda não ocorre, e quando ocorrer, é porque cumprimos nossa missão. O Catarse será, neste momento, algo bem mais aberto do que é hoje.48

No apoio à prática do negócio, os Estados Unidos começam a se preocupar

com uma regulamentação de leis para o crowdfunding. Como uma das mudanças,

os EUA pretendem incentivar a participação de empresas no crowdfunding. Maia

avalia a questão como ponto favorável para o Brasil:

Seria como se, ao invés de um empreendedor procurar investidores de Venture Capital, ou Anjos investidores, pudesse mobilizar estes recursos através do crowdfunding. A diferença para o modelo que vemos hoje é que este apoiador passa a ter participação na empresa/empreendimento que ele apoia. Os EUA estão aprovando esta medida, e acreditamos que o Brasil siga no rastro. A importância disso é que teríamos um artifício para aquecer o mercado de micro-empreendimentos e fortalecer a cultura empreendedora no Brasil.49

Ao acompanharem de perto o mercado, alinhado às necessidades do Rio de

Janeiro, as plataformas de crowdfunding podem ser grandes aliadas para maior

afirmação da cultura carioca independente. Se contar com parcerias de empresas

físicas da indústria criativa é também trocar experiências em comum, isso pode

significar um caminho mais curto na identificação das urgências da sociedade.

Agora, se assiste a um fortalecimento da cultura no Estado, haja vista o

aumento do número de casas de shows, além do ressurgimento de movimentos

culturais. Nos preparativos para a Copa do Mundo de 2014 e para as Olimpíadas de

2016, os segmentos culturais começam a despertar o interesse de um público que

deseja conhecer os costumes da região, atraindo novos investidores.

48 Entrevista concedida por e-mail, para mim, em 11/01/2012. 49 Idem.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Os adeptos do crowdfunding vêem nas plataformas uma inovação na forma

de relacionamento entre as pessoas, baseada em pilares como os da confiança e do

mutirão. As iniciativas dos projetos são inéditas e, por isso redobram o entusiasmo

dos envolvidos. Se combinadas com processos de negócio do mercado tradicional,

as atividades das plataformas podem se transformar em uma sólida estratégia para

novos empreendimentos.

Quando amarramos aos projetos um discurso carregado de identidade

emocional, com afinidades e objetividade, podemos, sim, concretizar propostas – o

crowdfunding tem comprovado isso. Mas hoje, os projetos concluídos em

plataformas brasileiras não chegam ao sucesso dos números que as plataformas

dos Estados Unidos apresentam. Este país já se preocupa com meios para facilitar

as transações no crowdfunding (a praticidade americana de adaptar a realidade ao

ciberespaço não é novidade para ninguém).

Se há a impressão de que o crowdfunding está apenas “engatinhando” no

nosso país, há de se analisar profundamente todo o processo de negócio das

plataformas para prosseguir com segurança, e os idealizadores começam a agir

nessa direção. Eles se relacionam com empreendedores de diversas esferas da

sociedade, estudando o impacto e várias possibilidades de inserção do

crowdfunding no mercado, além de aprimorarem fluxos para se tornarem eficazes na

relação com os atores, diretos e indiretos da cadeia produtiva na qual os

empreendimentos de crowdfunding se inserem.

A Internet reserva a sensação de que não há limites para se testar

experiências, e isso pode ser usado a favor ou contra, uma vez que, quem aposta no

crowdfunding sabe que todo cuidado é pouco na manutenção da preservação dos

ideais, ao se pensar em expansão.

A produção cultural Rio de Janeiro domina a prática do improviso e, por isso,

se identifica com o crowdfunding. Essa é uma chance de os produtores se

integrarem mais no mercado, carente pela falta de leis de incentivos. Os produtores

independentes cariocas saem na frente ao conquistarem apoio dos órgãos públicos

e privados em prol do desenvolvimento da economia, aproveitando o momento de

mostrar e desenvolver a riqueza cultural carioca, na busca pela valorização do

patrimônio imaterial.

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