o crescente valor da reputação corporativa no ambiente mercadológico
DESCRIPTION
comunicação corporativaTRANSCRIPT
-
1
O crescente valor da Reputao Corporativa no ambiente mercadolgico1
Ana Regina Rgo2
Universidade Federal do Piau
RESUMO
Este artigo apresenta o conceito de RC- Reputao Corporativa, seus componentes, linhas e
ferramentas de gesto e valorao da mesma no mundo empresarial, considerando o crescente
interesse sobre o tema na academia, e, sobretudo, a importncia adquirida pela RC no
ambiente corporativo. um artigo cientfico de carter terico-contextual realizado a partir de
pesquisa bibliogrfica. O intuito fornecer subsdios para o fomento do debate em torno dos
rumos que a RC vem tomando no mercado.
PALAVRAS-CHAVE: Reputao Corporativa; Gesto; Valor
Introduo
A propaganda deixou de ser a alma do negcio. A alma agora a Reputao (Mario Rosa, 2006, p.117)
Nas duas ltimas dcadas do sculo XX se comeou a falar com maior nfase em
ativos intangveis e em processos que levam a uma boa reputao corporativa e como esta
pode desempenhar um papel primordial na gerao de valor econmico para a empresa. De
acordo com Villafae (2009, p.2, traduo nossa) [...] a reputao corporativa tem se
convertido para muitos especialistas no ltimo salto crtico dentro da histria do management
empresarial, fazendo com que, a cada ano, mais dirigentes de empresas considerem que a RC
constitui um ativo importante e primordial de suas organizaes. Nesse sentido que o
Global Awareness Tracking 2005 de Accenture divulgou dados que apontam para a RC como
a terceira maior preocupao de 61% dos executivos de empresas situadas em oito dos pases
mais desenvolvidos do mundo. A preocupao com a reputao corporativa somente
1 Trabalho apresentado no GT Processos, Polticas e Estratgias de Comunicao Organizacional do IV Congresso Brasileiro
Cientfico de Comunicao Organizacional e de relaes Pblicas. 2 Jornalista pela UFPI (DRT 1827/97). Mestre em Comunicao e Cultura ECO-UFRJ. Doutora em
Comunicao UMESP-Universidade Metodista de So Paulo com estgio de doutorado na UAB-Universidade
Autnoma de Barcelona. Bolsista CAPES. Ex-Gerente Regional de Marketing e Comunicao da CAIXA
Econmica Federal. Consultora Ad hoc da Coordenadoria de Comunicao do Governo do Piau. Colunista do
site Canal Comum www.canalcomum.com.br. Franqueada Social do Projeto Casa da Criana. Profa. da
Universidade Federal do Piau. Contatos: [email protected] .
-
2
superada pela preocupao com economia global (75%) e pelos problemas relacionados com
a competncia (71%) ( VILLAFAE, 2009, p.2).
Em outro prisma a Economist Intelligence Survey Unit 2004 da
PrincewaterhouseCoopers3 destaca que o risco reputacional a primeira ameaa
valorizao das empresas no mercado. Neste ranking fala-se de 11 riscos principais. O citado
risco reputacional foi considerado por 34% dos responsveis por entidades financeiras de todo
o mundo como a maior ameaa e para 41% como uma ameaa grave (VILLAFAE, 2009,
p.2, traduo nossa).
Mais recentemente, uma pesquisa da Harris Interactive, realizada em 2008, apontou
que 71% dos consumidores norte-americanos classificam a reputao das empresas daquele
pas entre as piores. Foram avaliadas 60 empresas de maior visibilidade atravs de 20 mil
entrevistas online. Entre as top ten esto: _ Google, Johnson & Johnson, Intel, General Mill,
Kraft Foods, Berkshire-Hathaway, 3M, Coca-Cola, Honda e Microsoft. Na outra ponta
Chrysler, General Motors, Ford, Sprint, Comcast, Shell, ExxonMobil e Northwest Airlines.
bom ressaltar que essa edio do Harris Interactive Reputation Quotient foi realizada antes da
crise econmica mundial que teve incio nos Estados Unidos (HSM Management, 2009, n72,
p.13).
Desta forma, foi diante deste panorama de crescente importncia e reconhecimento
que o conceito de reputao foi gradativamente sendo gestado e aprimorado no ambiente
empresarial, buscando englobar todas as variveis intermitentes que influem no processo de
visibilidade da empresa no mercado e na sociedade, j que uma boa reputao no envolve
apenas processos de visibilidade, mas, sobretudo, engloba todos os demais processos
empresariais que se referem s diferentes formas de relacionamento entre a organizao e
stakeholders e que podem interferir na formao da imagem, de modo que a mesma possa ao
longo do tempo influir na consolidao de uma reputao.
Neste ponto vlido esclarecer que este artigo um excerto da minha tese de
doutorado que tem como foco o a Comunicao Corporativa e o Marketing Cultural nas
maiores empresas brasileiras e espanholas, tendo como pano de fundo os recursos
incentivados pelos Governos atravs da legislao de iseno fiscal. Naquele ambiente de
pesquisa os estudos sobre Reputao se revelaram importantes no processo de delineamento
das estratgias de Comunicao e de Marketing, o que nos levou a escrever um captulo sobre
o tema, de onde retiramos parte do presente texto. Neste sentido, vamos, inicialmente, abordar
3 PwC/Economist Intelegence Survey Unit, La gestin del riesgo en el sector financiero, jun.-jul., 2004.
-
3
a trajetria do conceito em pauta e de sua aplicabilidade em ambientes diversos, para depois
nos dedicarmos aos componentes da RC e seu processo de gesto, focando ao final, no valor
desta no momento mercadolgico atual. Este , portanto, um artigo cientfico de carter
terico-contextual realizado a partir de pesquisa bibliogrfica.
A Reputao em diversos ambientes
O estudo da reputao no prerrogativa da comunicao ou do marketing, ele
tambm se faz presente no ambiente das cincias econmicas, da administrao, da
sociologia, do direito, da psicologia, dentre outras, e ganha projeo pelo simples fato de que,
qualquer que seja a rea de relacionamento em sociedade, todos os envolvidos necessitam de
noes de credibilidade e confiana que possam reforar os laos de parceria, o compromisso
e a responsabilidade.
Em seu trabalho Bromley (1993) destaca a reputao pessoal e ressalta que
reputaes so, em sntese, sistemas coletivos de crenas e opinies que levam pessoas a ter
determinada opinio sobre outras pessoas ou coisas. Logo, como sistema coletivo, a reputao
se consolida como uma importante ferramenta social de sinalizao e indicao do que pode
ser positivo ou negativo, principalmente, quando no possvel conhecer previamente os
atributos da pessoa com a qual ser necessrio estabelecer um relacionamento. A
consolidao de uma reputao pessoal fruto tanto de experincias primrias entre
indivduos, como a partir de relatos secundrios, quando algum conhece algum porque
outro lhe falou respeito, ou, ainda a partir da experincia coletiva social, na qual os grupos
de maior poder e interesse podem interferir diretamente na criao de uma reputao pessoal
positiva ou negativa ( BROMLEY, 1993, p.25-51).
Mui et al. (2003, p.127) em estudo sobre reputao nas cincias econmicas, da
computao e da biologia propuseram um modelo de tipologia de reputao que acompanha a
formao das diversas reputaes em um sistema de relacionamento social e cujas
denominaes j possuem em si, a prpria definio, assim, teremos em primeiro nvel a
diviso entre reputao individual e de grupos que se sub-dividem posteriormente, como
podemos conferir no diagrama a seguir.
-
4
DIAGRAMA 01- Modelo de Tipologia de Reputao
Fonte: MUI et al, 2003, p.127
Nos ambientes das tecnologias da informao, do comrcio eletrnico e outras
formas de interao pela internet, vrios sistemas de reputao so desenvolvidos como forma
de pontuar a credibilidade e a confiabilidade dos mesmos, e, a confiana dos usurios e
participantes. Na maioria deles, o trip reputao, confiana e reciprocidade acontece como
base de trabalho.
Conte e Paolucci (2000) ao desenvolverem o modelo cognitivo de reputao afirmam
que a imagem e a reputao, apesar de distintas, podem ocorrer de forma sobrepostas, pois a
primeira seria construda a partir da uma crena de um agente em determinado contexto, e, a
segunda, seria uma meta-crena resultado da visibilidade da crena original. Transpondo para
o nosso ambiente empresarial percebemos que imagem e reputao tambm acontecem
sobrepostas, a imagem a partir das experincias particulares entre os stakeholders e as
corporaes, e, a reputao a partir da consolidao das vrias imagens que comunicam os
atributos e ativos intangveis ao longo do tempo (CONTE e PAOLUCCI, 2000, p.76-77).
No meio corporativo tendo como foco os processos de fidelizao e prospeco de
clientes e mercados, de um lado, e, de outro, a sustentabilidade empresarial em ambiente
mercadolgico extremamente competitivo, o estudo da reputao tambm se faz importante,
sobretudo, para o processo de otimizao de relaes comerciais intercambiveis. Somente a
REPUTAO
RREEPPUUTTAAOO
IINNDDIIVVIIDDUUAALL RREEPPUUTTAAOO DDEE
GGRRUUPPOOSS
REPUTAO INDIVIDUAL
INDIRETA
REPUTAO INDIVIDUAL
DIRETA
REPUTAO OBSERVADA
REPUTAO DERIVADA DA ANTERIOR
REPUTAO DERIVADA DO GRUPO
REPUTAO PROPAGADA
REPUTAO INTERAO
-
5
consolidao de uma reputao slida e credvel cria laos de confiana com os pblicos de
interesse, e, provoca nesses pblicos atitudes de reciprocidade, por identificao e/ou
pertencimento, que leva as pessoas a desejarem uma associao com os atributos positivos
comunicados por inmeros ativos intangveis que compem a reputao.
Martins (2006, p.6-9) apresenta a escala de reputao corporativa da Manchester
Business School que se desenvolve tendo como premissa as sete dimenses elencadas abaixo,
e, esclarece que a escala mantm os mesmos itens de avaliao para identidade e imagem, o
que permite ao gestor detectar problemas passveis de repercusso na reputao.
DIAGRAMA 02- Escala de Reputao Corporativa
PERSONALIDADE
Sinceridade Competncia Sofisticao Rudggeness
Entusiasmo Arrogncia Simplicidade
Fonte: MARTINS, 2006, p.6
Frombun e Rindova (apud ALMEIDA, 2005, p.120) apresentam a RC como uma
[...] representao coletiva das aes e resultados da organizao, por meio da qual se
demonstra sua habilidade em gerar valores para os mltiplos stakeholders.
Villafae (2009) considera ainda que a reputao expressa uma nova mentalidade
empresarial, uma nova forma de pensar os negcios que procura harmonizar o que se
considerava at o momento como a principal razo existencial das empresas, ou seja, [...] o
retorno do investimento e a maximizao do lucro, com outras lgicas, que sem excluir a
anterior, se fazem no somente compatveis com ela, mas se convertem em condio sine qua
non para a mesma, quer dizer, para a preservao do lucro econmico (VILLAFAE, 2009,
s/p, traduo nossa). Neste sentido, para este autor, as idias que melhor expressam essa
evoluo racional so a tica e a sustentabilidade.
De todo modo, o processo constituinte de uma reputao seja ela positiva ou
negativa, passa pelo gerenciamento da visibilidade empresarial, ou pessoal, em outro mbito.
O que a empresa , compe sua identidade, que de modo mais claro, se forma a partir dos
seus componentes fsicos, administrativos, histricos, culturais, visuais, estticos, dentre
outros, e toma forma ao se projetar para seus pblicos de interesse atravs de um contato ou
experincia. neste momento, que a imagem comea a se formar, e partir de ento, ela se
fortificar tendendo para um lado ou para o outro, conforme forem evoluindo as experincias
-
6
individuais ou coletivas que se efetivem entre a empresa e seus stakeholders. A reflexividade
pblica de uma organizao pode se apresentar em forma de uma reputao corporativa
respeitvel e consolidada e, portanto, positiva e de difcil abalo. Pode ainda ser frgil e logo,
necessitar de reforo constante e gerenciamento vigilante, esse tipo de RC, normalmente
envolve empresas que trabalham em reas de interesse e conflitos sociais, culturais ou
ambientais. A RC pode ainda ser completamente negativa, mas de reverso possvel, referente
a empresas que possuem uma atuao tmida no mercado e que no se comunicam bem, o que
pode ser revertido a partir de um plano estratgico de gesto da reputao. E, por ltimo
existem as reputaes negativas e de difcil reverso, quando so concernentes s empresas
com atuao antitica e perniciosa sociedade e que atuam em reas de conflito, muitas vezes
comunicando valores e condutas que no possuem.
Como bem enfatizam Fombrun e Shanley (apud ALMEIDA, 2005, p.121) a
consolidao da RC se efetiva a partir dos stakeholders atravs do relacionamento que estes
mantm com as organizaes, e, das informaes que emanam a partir de seus interesses, que
so distintos entre si, e definem como estes pblicos lidam com as empresas. Nesse
ambiente complexo de informaes, observadores tentam distinguir o que define as
organizaes, o que persiste ao longo do tempo atravs das vrias interaes e o que
distintivo de uma organizao em relao outra (RINDOVA E FOMBRUN apud
ALMEIDA, 2005, p.121).
Por outro lado, bom ressaltar que a reputao compe um capital exposto a
constantes riscos, pois quanto maior a visibilidade da companhia e de seus gestores, maior o
risco; que pode se transformar em prejuzos para a reputao e para a sustentabilidade
econmica organizacional, sobretudo, quando os pblicos de interesse perdem a f na
companhia, em seus gestores, e, em seus produtos e servios ( FOMBRUN, NIELSEN e
TRAD., 2007, p.73).
Componentes da Reputao Corporativa
Os ingredientes da RC so os mesmos que integram a identidade e a imagem de uma
organizao, a saber: em se tratando de identidade, compe-se de histria, infra-estrutura,
pontos de venda, governana, misso, viso, tica empresarial, cultura organizacional, clima
tico, atendimento, poltica funcional, poltica de preos, qualidade dos produtos e servios,
solidez mercadolgica, processo de responsabilidade social, atuao junto comunidade com
-
7
intervenes no meio ambiente e na rea cultural, dentre outros tpicos. No que concerne
imagem, entram os diferentes pontos de vista dos stakeholders para com a organizao, que se
formam de acordo com suas experincias individuais ou coletivas.
Deste modo, qu, para que uma empresa possua grande credibilidade no mercado
necessrio no somente que trabalhe a sua imagem divulgando aes de RSC ou de
intervenes ambientais, mas que possua uma atuao pr-ativa em todos os seus setores,
tanto em relao ao ambiente interno, quanto ao externo, sem desconsiderar o que Kotler
(1999, p.18-20) denomina de macro-ambiente do marketing e que engloba as foras
econmicas, a demografia, a poltica, a cultura, a tecnologia e a natureza.
De nada adianta uma grande campanha publicitria que visa melhorar a imagem e a
RC de uma empresa em determinado mercado, atravs da divulgao de suas aes de RSC-
Responsabilidade Social Corporativa, ou de matrias jornalsticas na mdia divulgando sua
estabilidade e solidez econmica; se um cliente ao chegar ao ponto de venda for mal atendido
ao tentar trocar um produto que veio com defeito; ou ainda, se seus operrios no cho de
fbrica no receberem salrio condizente com o que realizam, nem tiverem seus direitos
respeitados.
Deste modo que percebemos que reputao se consolida com a cristalizao das
imagens percebidas pelos pblicos com os quais a organizao se relaciona, podendo tender,
como j afirmamos anteriormente, para um lado extremamente positivo, ou para outro
extremamente negativo, depende muito da gesto empresarial estratgica e de sua
aplicabilidade na prtica.
No que concerne s dimenses da reputao corporativa Martn de Castro (2008,
p.58) nos fala que tambm no h um consenso sobre estas entre os pesquisadores do tema.
Dollinger, Golden y Saxton (1997) propem as seguintes dimenses: _ (i) reputao
executiva, (ii) reputao dos produtos e (iii) reputao financeira, enquanto que Quevedo
(2001) prope duas dimenses, uma a partir dos stakeholders internos e outra focado nos
externos (MARTN DE CASTRO, 2008, p.58-59). Este autor, no entanto, aprofundou os
estudos das dimenses e props dois principais eixos para estas, um primeiro embasado no
negcio e outro focado no ambiente social.
-
8
QUADRO 01- Dimenses da Reputao Corporativa
REPUTAO NECOGIAL REPUTAO SOCIAL
Reputao Executiva Reputao diante da sociedade e do meio-
ambiente
Reputao de produtos e servios Reputao diante dos investidores
Reputao na inovao
Reputao financeira
Reputao trabalho
Fonte: MARTN DE CASTRO, 2008, p.60, traduo nossa
Em complemento, Martn de Castro (2008, p.32-35) considera seis principais
caractersticas da reputao corporativa, a comear pela multidimensionalidade j que a RC
como visto, comporta mltiplas dimenses e abarca a diversidade e a heterogeneidade dos
stakeholders. A complexidade social seria a segunda peculiaridade da RC, pois esta avaliada
por diferentes grupos de interesse cujo peso no processo de avaliao varivel conforme for
o lugar e a atuao organizacional. O terceiro ponto destacvel que a RC ,
invariavelmente, um processo de acumulao lenta, pois se consolida somente aps um longo
perodo. A quarta caracterstica considera que a RC sujeita a condies histricas nicas o
que [...] implica que o resultado seja especfico para cada empresa e, portanto, dificilmente
replicvel para as demais (MARTN DE CASTRO, 2008, p.35, traduo nossa). Em quinto
lugar, este autor coloca como caracterstica o fato da RC ser de difcil manipulao por parte
da prpria empresa, e, por ltimo, cita o carter tcito.
Gesto da Reputao Corporativa
Concordamos com Almeida (2005, p.120) e Villafae (2004, p.138) quando afirmam
que a o gerenciamento da RC se tornou essencial e estratgico para as empresas que desejam
se manter competitivas em um mercado aberto e global, principalmente, porque uma
organizao de reputao consolidada e credvel pode obter no apenas maiores ganhos
financeiros, a partir de uma maior aceitao de seus produtos e servios, o que pode acarretar,
inclusive, em avano na parcela de mercado; mas, tambm, porque pode ganhar em influncia
estratgica formando alianas com outras empresas do mesmo mercado ou em outros, visando
fortalecer a sua cadeia produtiva e ampliar seu mbito de atuao.
-
9
Neste cenrio que se desenvolveram alguns sistemas de gerenciamento da RC.
Alguns autores iniciam o processo de gesto da reputao considerando a face mais visvel
da organizao, ou seja, a sua imagem no mercado, como a empresa percebida pelos seus
diversos pblicos de interesse. Villafae ( 2005, p.14) apresenta o seguinte modelo de Gesto
da Imagem:
QUADRO 02-Modelo de Gesto da Imagem
ETAPAS OBJETIVOS INSTRUMENTOS
Definio da estratgia de
Imagem
Analisar a imagem atual da
Empresa
Auditoria de Imagem
Configurao da
personalidade pblica
Adaptar a personalidade
corporativa a estratgia de
Imagem
PG de Marca
Identidade visual
Mgico
PI Cultura
Gesto da Comunicao Controlar a Imagem atravs
da comunicao
PC Corporativa
PC Interna
Fonte: VILLAFAE, 2005, p.14
Todavia, a gesto da reputao envolve no somente a imagem, mas todos os
processos que podem proporcionar ganhos ou prejuzos para uma organizao.
Neste contexto que Almeida (2005, p.121) observa que as investigaes relativas
RC possuem uma dualidade, ou seja, provm de duas fontes principais, que consideram a
reputao corporativa por dois ngulos,
De um lado, considerada como um recurso prprio, que pode ser
gerenciado pelas organizaes e, por outro, como sendo as percepes
de observadores, sobre as quais as organizaes tm controle limitado.
Evidencia-se que h dois tipos de atores envolvidos em sua formao:
a organizao e os observadores e, uma das conseqncias desta
dualidade para as organizaes a impossibilidade de saber, de forma
clara e precisa, at onde a reputao est sendo criada e gerenciada
atravs de aes de comunicao e Marketing, polticas formais,
qualidade de produtos e servios, dentre outros aspectos, e quais as
influncias e interferncias de outras fontes de informao e de inter-
relao de atores sociais (ALMEIDA, 2005, p.121).
-
10
O Reputation Institute desenvolveu na dcada passada um projeto denominado
Projeto Global de Quociente de Reputao, que permite analisar seis dimenses da RC, quais
sejam: apelo emocional, viso e liderana, produtos e servios, ambiente de trabalho,
desempenho financeiro e responsabilidade social. No que concerne ao apelo emocional se
analisa a percepo dos indivduos quanto ao sentimento deles em relao s empresas. Na
dimenso produtos e servios a anlise recai sobre a qualidade, a inovao, valor e a
credibilidade dos mesmos. O desempenho financeiro avaliado a partir dos resultados,
perspectivas e riscos, enquanto que a viso e liderana so avaliadas a partir do processo de
gesto e de sua viso e capacidade em aproveitar as oportunidades mercadolgicas. O
ambiente de trabalho avaliado como um todo, envolvendo a qualidade dos empregados e a
relao entre a empresa e os funcionrios. Por ltimo, responsabilidade social se avalia por
meio da percepo da postura da empresa frente ao ambiente social, cultural e ecolgico (
FOMBRUN E GALDBERG apud ALMEIDA, 2005, p.126). No diagrama a seguir podemos
conferir o Quociente de Reputao :
DIAGRAMA 04 Mensurao e Reputao
Fonte: Reputation Institute apud ALMEIDA, 2005, p.126
Na Espanha o MERCO- Monitor Empresarial de Reputao Corporativa
desenvolvido por Villafae avalia as empresas, lderes, marcas, pessoas e at mesmo cidades.
Seu mtodo inclui uma tripla avaliao a partir de pblicos diversos, como os executivos, os
-
11
experts, e, o pblico em geral. Mas h tambm critrios definidos internamente pelo prprio
MERCO que influem no processo.
Inicialmente, Villafae (2004, p.138) considera que para instalao de um modelo de
gesto em uma companhia so necessrias quatro etapas sucessivas. A saber: _ definio da
viso reputacional da companhia; _ diagnstico da reputao da companhia e benchmarking
da competncia; _ execuo do Plano Diretor de reputao corporativa; e, a comunicao da
reputao. Neste sentido, a viso, seria [...] a imagem compartida pelos membros da alta
direo, que identifica os feitos que permitiro a organizao alcanar a liderana em
reputao e os grupos de interesse nos quais ter que se apoiar para lograr
xito(VILLAFAE, 2004, p.138, traduo nossa). Segundo este autor a viso estratgica da
organizao est prxima da viso reputacional, podendo, inclusive, coincidir. Quando isto
acontece, a gesto da reputao pode se converter na estratgia organizacional. No que
concerne ao diagnstico reputacional prope como mtodo complementar, uma auditoria de
reputao focado nos trs pblicos com os quais ele trabalha no processo de avaliao.
DIAGRAMA 05- Auditoria de Reputao
FONTE: VILLAFAE, 2004, p.144, traduo nossa
Auditoria de Reputao
Metodologia
Elites e
Lderes
sociais
Clientes Pblico
-Estudo qualitativo
-Estudo quantitativo
-Entrevista em
profundidade com elites e
lderes sociais:
-Competidores
-Empresariais
-Polticos
-Profissionais
-Terceiro setor
-
- Entrevistas com
responsveis pelas
unidades de negcios
-Focus Group com
intermedirios e
empregados
-Desk Research
-
12
Para o Plano Diretor de RC, Villafae prope quatro componentes. O modelo de
gesto da reputao corporativa o primeiro. O segundo a matriz corporativa de riscos e
oportunidades de reputao, denominada por ele de MACRO. O terceiro item o Monitor de
reputao corporativa e, por ltimo, o guia operativo de gesto reputacional (VILLAFAE,
2004, p.147-150). Dentre estes, vale destacar o Monitor que o instrumento de controle e tem
como objetivo a avaliao contnua das variveis de reputao da empresa, atravs do
conhecimento da evoluo da opinio pblica, como tambm do controle da implantao das
estratgias de gesto da reputao e ainda da avaliao do cumprimento dos objetivos de
reputao (VILLAFAE, 2004, p. 149).
A importncia da comunicao bastante destacada, pois, segundo este autor
participa do princpio axiolgico do qual a [...] a reputao que no se comunica no gera
valor para a empresa (VILLAFAE, 2004, p.151, traduo nossa). Ele prope um plano de
comunicao que possui, por sua vez, uma tripla dimenso, sendo estratgica, instrumental e
operacional e voltada para os atributos que podem dar um posicionamento reputacional para a
organizao ( VILLAFAE, 2004, p.152).
Valor da Reputao
As empresas desde sempre foram compostas de duas faces, uma tangvel e visvel e
de fcil mensurao, outra intangvel, referente ao mundo sensorial e das impresses. Entre os
primeiros, os pontos de venda e seus produtos, por exemplo. Na segunda categoria o
atendimento, a simpatia, a credibilidade, dentre muitos.
Neste cenrio que o mundo dos negcios vem sendo avaliado comumente. A cada
dia se criam novas ferramentas que possam mostrar de forma cada vez mais clara como os
investimentos financeiros podem se reverter em lucros. Muitas destas ferramentas foram
desenvolvidas tendo como base os ativos de mensurao plausvel, no entanto, na atualidade
as pesquisas giram em torno do desenvolvimento de instrumentos que possam mensurar os
intangveis. Essa realidade contribuinte para a causa e os efeitos do processo de valorizao
das empresas. De acordo com KENDRICK (apud HERRERA, 2009, p.2) a valorizao dos
ativos empresariais que antes eram na proporo de 70% tangveis e 30% intangvies, foi
invertida. Atualmente, portanto, as marcas so mais valorizadas pelos seus intangveis do que
pelos primeiros.
Visando otimizar esse processo de avaliao a NIC- Norma Internacional de
Contabilidade de 2005 j explicita a necessidade de se conceituar uniformemente o intangvel
-
13
e diferenciar ativo intangvel de recursos intangveis. Para Herrera ( 2009, p.2) os ativos
intangveis podem ser avaliados contabilmente, logo aparecer nos balanos das empresas.
Estes so uma subcategoria dos recursos intangveis. J estes ltimos, [...] no so avaliveis
contabilmente, porm sim com critrios econmicos financeiros. Atualmente este tipo de
recurso constitui a principal fonte de valor econmico das empresas(HERRERA, 2009, p.2,
traduo nossa).
E como bem acrescenta Villafae (apud Herrera, 2009, p.2) os recursos intangveis se
referem ao desenvolvimento de capacidades especiais que podem dar uma vantagem
competitiva a uma empresa. Uma vantagem que se torne sustentvel com o tempo.
O panorama de competitividade e sustentabilidade econmica aliado ao cenrio de
disputas por posies cada vez distintivas no ambiente corporativo levam as empresas a
adotar condutas lineares em suas reas de atuao, inclusive no que concerne a RSC visando
manuteno de uma boa RC, que pode se converter em benefcios inclusive de ordem
financeira. Como bem observa Fombrum (apud HERRERA, 2009, p.3) o gerenciamento de
RC envolve a estratgia, as operaes e os resultados das empresas, mas tambm as emoes,
as impresses boas ou ms que pode proporcionar a gesto dos sentimentos de credibilidade
entre o pblico e as organizaes. Este autor bem ressalta que as empresas de melhor RC
possuem, comumente, um valor quatro vezes maior que seus concorrentes no mesmo
mercado. Destacando deste modo, que existe uma relao direta entre RC e o valor de
mercado. No quadro abaixo acompanhamos as empresas que possuem melhor RC segundo o
Institute Reputation dos Estados Unidos, nos anos de 2007 e 2008.Empresa Pas
QUADRO 03- Ranking de Reputao
EMPRESA PAS RANKING 2007 RANKING 2008
TOYOTA JAPO 6 1
GOOGLE EUA Novo 2
IKEA ESPANHA 2 3
FERRERO
ROCHER
ITALIA 7 4
JOHNSON &
JOHNSON
EUA 35 5
TATA GROUP INDIA 124 6
KRAFT FOODS EUA 15 7
NOVO NORDISK DINAMARCA 32 8
GRUPO BIMBO MXICO 59 9
MIGROS SUIA 71 10
Fonte: Institute Reputation apud HERRERA, 2009, p.3
-
14
Anualmente o MERCO- Monitor Empresarial de Reputao Corporativa da Espanha
divulga o ranking das empresas com melhor reputao junto aos diferentes pblicos daquele
pas. O destaque na edio de 2008 que apresentamos abaixo foi na qualidade, na tica e na
responsabilidade social e como podemos visualizar no prximo quadro, o resultado das
percepes dos diferentes stakeholders em relao RC das empresas avaliadas diverge
bastante, de modo que nenhuma delas consegue se destacar, ao mesmo tempo, em todos os
pblicos participantes do processo.
QUADRO 04- Ranking de Reputao MERCO
EMPREGADOS UNIVERSITRIOS ESCOLAS
DE
NEGCIOS
POPULAO
EM GERAL
RESPONSAVEIS
RRHH
La Caixa Microsoft Microsoft REPSOL YPF Microsoft
Caja Madrid BBVA Google La Caixa La Caixa
Microsoft IBM Mercadona Telefnica Accenture
Fonte: Indicador MERCO 2008 apud HERRERA, 2009
CONCLUSES
Concluindo, vale ressaltar que tomando como base os itens que compem o IRC-
ndice de Reputao Corporativa do Reputation Institute que, por sua vez, expem recursos e
ativos tangveis e intangveis a partir da viso dos mltiplos stakeholders que os avaliam a
partir de suas experincias com as marcas, seus produtos e servios, que percebemos que o
valor da RC, como dito na introduo do presente texto, cresce potencialmente a cada ano e a
tendncia vigente que a Reputao venha a se incorporar cada vez mais, aos ativos e influir
no valor mercadolgico. Em 2009, a Petrobras, considerada a maior empresa brasileira,
apareceu entre vrios rankings em posio de destaque. No ranking do prprio Reputation
Institute figurou como a 4 empresa mais respeitada do mundo4, na classificao da Ernest &
Yong surge como a 8 maior empresa do mundo quando se considera o valor de mercado. Nos
demais rankings, como o das revistas EXAME e ISTO Dinheiro, aonde os critrios de
4 A pesquisa do Reputation Institute foi realizada nos trs primeiros meses de 2009 e abrangeu 32 pases. A
metodologia utilizada foi a RepTrak desenvolvida pelo prprio Instituto. Foram realizadas 75 mil avaliaes com
consumidores. A classificao de Reputao realizada anualmente pelo RI desde 2006 e engloba as 200
maiores empresas do mundo. 2009 Global Reputation Pulse. The Worlds Reputable Companies: Global Section. Disponvel em: . Acesso em: 22 set. 2009
-
15
anlise incluem, desde o desempenho financeiro s aes de RSC-Responsabilidade Social
Corporativa, a Petrobras tambm se destacou entre as primeiras companhias, em vrias
categorias analisadas, muito embora, na anlise da Brand Finance que avalia o valor da
marca, a Petrobras figurou, no mesmo ano, na 235 posio, destoando das posies de
destaque constatadas pelas outras instituies aqui mencionadas ( RGO, 2010, p.399-411).
Deste rpido exemplo, vale ponderar a posio que a RC- Reputao Corporativa vem
alcanando em nvel de importncia para o mercado mundial, sobretudo, para as empresas de
capital aberto, cuja transparncia item primordial do processo de sustentabilidade, em todos
os nveis conhecidos e avaliados.
REFERNCIAS
NGEL, Miguel Alcal. Reputacion Corporativa fundamentos conceptuales. DELLOITE. Disponvel em www.mindvalue.com/reputacion.pdf acesso em 14 ago 2009.
ALMEIDA, Ana Luisa C. Reputao organizacional: a importncia de parmetros para o seu gerenciamento.
IN: Revista Brasileira de Comunicao Organizacional e Relaes Pblicas. Ano 2, n 2, 1 sem 2005, p.116-
133.
ARGENTI, Paul A., FORMAN, Janis. The Power of Corporate Communication- Crafting the Voice and
Image of Your Business. Nova York: Ed. McGraw-Hill Trade, 2002.
BROMLEY, Denis Basil. Reputation, Image and Impression Management. John Wiley & Sons Ltd. England,
1993.
CONTE, Rosaria; PAOLUCCI, Mario.Reputation in Artificials Societies: Social Beliefs for Social Order.
Kluwer Academic Publishers. 2002.
DAVIES, Gary, CHUM, Rosa, SILVA, Rui V. da., ROPER, Stuart. Corporate Reputation and Competitiveness.
Nova York: Routledge, 2002.
FOMBRUN, Charles J. NIELSEN, Kasper Ulf e TRAD, Nicolas G. The two faces of reputation risk:
anticipating downside losses while exploiting upside gains. IN: ORGANICOM, ano 4, n7, 2 semestre 2007,
p. 70-83.
GUARDA, Ramn. Arte y empresa: el beneficio de compartir valores. IN: Arte, Empresa y Sociedad: ms all
del patrocionio de la cultura. Bilbao-Espanha: Edita Grupo Xabide, 2004.
HERRERA, Ral Echenique.El valor de la Reputacin Corporativa del siglo XXI. Disponvel em
http://api.ning.com/files/CCa.../ValordelaReputacin.pdf acesso em 14 ago 2009.
HERRERO, Emlio Filho. Balanced Scorecard e a Gesto Estratgica. Rio de Janeiro: Elsevier, 2005. 7 ed.
HSM Management. n 72 jan-fev. 2009.
MARTN, Gregorio de Castro. Reputacion Empresarial y Ventaja Competitiva. Madrid: ESIC Editorial,
2008.
MARTINS, Daniel Raposo. Escala da Reputao Corporativa-MBS. Disponvel em:
www.reddircom.org/textos/reputao.pdf , acesso em 20 jan 2007.
MORGAN, Gareth. Imagens da organizao. So Paulo: Atlas, 2000.
MUI, Lik; MOHTASHEMI, Mojdeh; HALBERSTADT, Ari. Evaluating Reputation in Multi-agents System.
In: Proceedings of the Workshop on Trust, Reputation and Security: Theories and Pratices. Fist International
Joint Conference on Autonomous, Agents and Multi-agents System (AAMAS, 2002).Springer-Verlag Berlin
Heilderberg, p.12-137, 2003.
PwC/ECONOMIST Intelegence Survey Unit. La gestin del riesgo en el sector financiero, jun.-jul., 2004.
RGO, Ana Regina. Comunicao Corporativa, Marketing e Poltica Cultural Brasil e Espanha. Tese. So Bernardo do Campo-SP: UMESP. Barcelona-ES: UAB. CAPES, 2010, 714 p.
-
16
VILLAFAE, Justo. La Gestin Profesional de la Imagen Corporativa. Instituto Tecnolgico de Monterrey,
Mexico-DF, 2005. Disponvel em www.villafane.com, acesso em 16 ago 2009.
______.La Reputacion Corporativa como expression de una nueva racionalidade empresarial. Disponvel em
www.lacocletera.com/myfiles/...estrategica/Justo%20Villafane.pdf acesso em 14 ago 2009.
______.La Buena Reputacin. Madrid: Ediciones Piramide. 2003.