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X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.1 

 

 

 

 

    O conceito de limite sob a perspectiva da transposição didática    

 

Resumo Este  artigo  é  um  recorte  bibliográfico  da  pesquisa “Coordenação de Registros de Representação e o Processo de Mediação  Docente:  conceito  de  limite  em  cursos  de Engenharia”.  Para  tanto,  apoiamo‐nos  na  Teoria  da Transposição Didática, proposta por Chevallard e, em uma abordagem histórica do conceito de limite, que fundamenta os  conceitos  do  Cálculo.  Entende‐se  o  conceito  de  limite como  um  saber  científico  que  é  transformado, posteriormente, em um saber a ensinar, produzido na, e a partir  da  intervenção  docente.  As  abordagens,  teórica  e histórica possibilitam a análise do conceito de limite em um Livro  de  Cálculo  (ANTON,  2000),  parte  empírica  da pesquisa, buscando  identificar como esse saber científico é apresentado na  introdução do  conceito de  limite,  levando em conta a necessidade, ou não, deste conceito no ensino de  Cálculo  para  cursos  de  Engenharia.  Concluímos  que  é necessária esta transformação entre os saberes, científico e a  ensinar,  para  que  se  produza  um  saber  aprendido  com significado. Para tanto é preciso que o docente se aproprie do  saber  científico  e  do  saber  a  ensinar  estabelecendo significado ao aprendizado. A partir desta perspectiva todo conceito  a  ensinar  terá  um  significado  no  processo  de ensino.  Palavras‐chave: Transposição Didática; Ensino Superior; Engenharia; Educação Matemática; Limite.  

 Raquel Taís Breunig 

Universidade Regional do Noroeste  do Estado do Rio Grande do Sul [email protected] 

  

Cátia Maria Nehring Universidade Regional do Noroeste  do Estado do Rio Grande do Sul 

[email protected]   

 

 

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O conceito de limite sob a perspectiva da transposição didática  Raquel Taís Breunig ‐ Cátia Maria Nehring 

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Introdução 

A problemática da aprendizagem e do ensino de Matemática no Ensino Superior 

tem  instigado  pesquisadores  a  aprofundar  seus  estudos  nesta  área.  É  considerando, 

principalmente, investigações já realizadas, a partir de uma revisão de literatura, que nos 

remetem a problematizar e entender as dificuldades de aprendizagem, e o motivo destas, 

enfrentadas pelos discentes, bem como, metodologias de ensino, que auxiliem o docente 

de  Matemática  a  melhorar  sua  prática  docente  no  Ensino  Superior.  Algumas  destas 

pesquisas  têm  seu  foco  centrado  na  aprendizagem  de  Matemática  nos  cursos  de 

Engenharia, no entanto, poucas estão focadas na prática docente. 

Além  disso,  é  instigante  questionar  de  que  forma  ocorre  a  transição  do  saber 

científico para o saber a ensinar, no processo de ensino dos conceitos matemáticos. Estas 

questões  contribuem  para  o  desenvolvimento  deste  artigo  que  tem  como  foco  o 

processo  de  transição  do  saber  científico  ao  saber  a  ensinar,  considerando, 

especificamente, o conceito de limite. 

O  presente  artigo  se  desenvolve  levando  em  conta  este  conceito,  pois  está 

vinculado  ao  Projeto  de  Pesquisa  “Coordenação  de  Registros  de  Representação  e  o 

Processo de Mediação Docente: conceito de  limite em cursos de Engenharia”. O projeto de 

pesquisa tem como foco  identificar quais os Registros de Representação propostos por 

um docente e quais as  coordenações e  tratamentos articulados pelos discentes de um 

curso de Engenharia, seus limites e possibilidades à elaboração conceitual, considerando 

o  ensino  na  disciplina  de  Cálculo  I.  Para  a  realização  da  pesquisa,  é  necessário 

compreendermos  o  processo  de  mediação  do  docente  de  Matemática  nas  aulas  de 

Cálculo I, podendo estar relacionado com o processo de transição do saber científico ao 

saber a ensinar. Por este motivo, inicialmente neste trabalho, propomos uma discussão e 

compreensão da Teoria de Transposição Didática, que trata exatamente da transição do 

saber científico ao saber a ensinar, conceituando cada um destes saberes e a perspectiva 

histórica do conceito de limite. 

O  conceito  de  limite  constitui  a  base  do  desenvolvimento  do  Cálculo, 

especificamente,  da  derivada,  portanto,  o  entendimento  do  processo  histórico  é 

fundamental  para  compreendermos  o  ensino.  A  partir  destes  dois  entendimentos  foi 

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O conceito de limite sob a perspectiva da transposição didática  Raquel Taís Breunig ‐ Cátia Maria Nehring 

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realizada  a  análise  de  um  livro  de  Cálculo,  utilizado  como  referência  de  docentes  da 

disciplina de Cálculo  I de uma  instituição de ensino superior, visando  identificar como o 

saber científico é apresentado na  introdução de  limite. Esta análise  tem como objetivo 

identificar a necessidade, ou não, do conceito de limite no processo de ensino a discentes 

de cursos de Engenharia. 

 

 

A Teoria da Transposição Didática no Processo de Ensinar 

A  Teoria  da  Transposição  Didática  “[...]  possibilita  analisar  a  trajetória  que  se 

cumpre desde a produção do saber científico até o momento em que este se transforma 

em objeto de ensino,  [...],  transformando‐se, por  fim, em um saber ensinado  (MENEZES, 

2006, p. 69).”. É a partir desta definição teórica, que sequencialmente será feito o estudo 

da Transposição Didática, a fim de compreender a transformação do saber científico a um 

saber  a  ensinar,  foco  da  pesquisa.  Para  tanto,  é  fundamental,  compreender  o  que 

constitui cada um dos saberes, e as contribuições que a compreensão da teoria promove 

ao processo de ensinar Cálculo. 

A Transposição Didática surge a partir da interação entre Pedagogia e Didática, as 

quais  se diferenciam pelo  fato da primeira  ter  como  foco  as  relações  em  sala de  aula 

docente/discente,  e  a  segunda  ter  como  foco  o  objeto  de  ensino,  o  saber,  ou  seja,  a 

relação saber/discente. Portanto, a Transposição Didática considera a relação constante 

entre saber/docente, saber/discente e discente/docente. Estas articulações  remetem ao 

triângulo didático‐pedagógico, enfatizado por Gauthier e Martineau (2001). Esta relação 

se  torna necessária, pois o  trabalho do docente não  se  limita apenas a uma ação, mas 

diversas  ações,  pois  a  prática  docente  é  caracterizada  por  um  “agir  tradicional,  o  agir 

afetivo, o agir instrumental, o agir estratégico, o agir normativo, o agir dramático, o agir 

expressivo e o agir comunicacional” (TARDIF, 1993 apud GAUTHIER E MARTINEAU, 2001, 

p. 64). 

Para  que  o  docente  ensine  os  discentes,  ele  precisa  considerar  as  situações 

didáticas  e  pedagógicas  que  ocorrem  em  sala  de  aula,  ou  seja,  “[...]  a  cognição  e  a 

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O conceito de limite sob a perspectiva da transposição didática  Raquel Taís Breunig ‐ Cátia Maria Nehring 

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aprendizagem são  fenômenos que não pertencem apenas aos atores, mas se  remetem 

também  a  diversos  contextos  particulares.  Por  isso mesmo,  compreender  o  ensino  é, 

portanto, compreender também o contexto de ensino” (GAUTHIER e MARTINEAU, 2001, 

p.66). O docente precisa considerar, ao pensar sua prática docente, o grupo de discentes, 

mas  também,  levar  em  conta,  cada  discente  individualmente. O  discente  também  não 

pode  ser  considerado  individualmente,  pois  “[...]  o  conhecimento  não  se  constrói 

somente  na  cabeça  do  aluno”  (GAUTHIER  e  MARTINEAU,  2011,  p.65).  O  discente 

necessita  da  mediação  do  docente,  que  auxilia  na  relação  saber/discente.  São  estas 

considerações, que permitem entender que o saber  também não pode ser considerado 

individualmente,  pois  sem  a  relação  docente  e  discente,  o  saber  se  torna  algo 

descontextualizado, despersonalizado, e sócio‐culturalmente instituído. 

Para de  fato entender o processo de produção do  saber  a ensinar é necessário 

entender mais  profundamente  o  conceito  de  Transposição  Didática,  que  inicialmente 

pode ser definida como a transformação de um saber a ensinar em um saber ensinado, 

conforme Chevallard (1991 apud LEITE, 2007). Este conceito surgiu a partir da necessidade 

de  adaptar  o  conhecimento  para  posteriormente  ensiná‐lo.  A  teoria  da  Transposição 

Didática  vem  corrigir  um  equívoco  da  reflexão  pedagógica  em  relação  aos  saberes, 

propondo uma nova maneira de pensar a transformação dos saberes. 

Na Transposição Didática “[...] o professor tem o papel de garantir a continuidade 

do  processo,  apresentando  novos  textos  do  saber  e  assegurando  algum  nível  de 

familiaridade nesses conteúdos” (LEITE, 2007, p.54), ou seja, ele precisa utilizar o saber 

científico  como  base  para  o  saber  a  ensinar,  sem  perder  o  sentido  dos  conceitos 

ensinados, tornando‐o mais acessível ao discente, possibilitando a compreensão destes. 

O docente precisa entender esta teoria não somente como um processo de preparar uma 

atividade, ou seja, trabalhar na, e dentro da Transposição Didática, mas, que ele também 

faz parte deste processo, no momento em que ele realiza a transformação dos saberes a 

serem  ensinados  na  escola.  Mas  o  que  são  esses  saberes  sob  a  perspectiva  da 

Transposição Didática? 

Conne  (1996) afirma que o saber é algo descontextualizado, despersonalizado e 

coletivo,  mas  que  transforma  as  situações  didáticas  de  ensino.  O  conhecimento  é 

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O conceito de limite sob a perspectiva da transposição didática  Raquel Taís Breunig ‐ Cátia Maria Nehring 

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individual, sendo difícil considerá‐lo individualmente, pois este será transformado em um 

saber  coletivo.  A  partir  disso  pode‐se  entender  que  os  saberes  são  estruturados  pelo 

conhecimento  individual  de  cada  sujeito  que  compõe  o  coletivo.  Neste momento  se 

destaca  o  papel  do  docente,  que  precisa  fazer  com  que  esses  conhecimentos  se 

desenvolvam e assumam a forma dos saberes constituídos. 

“O saber é um conhecimento que controla uma situação e as suas transformações, 

elas próprias  indutoras de conhecimentos. [...], saber é saber colocar‐se em situação de 

mobilizar os próprios conhecimentos para agir (CONNE, 1996, p.238).”. Por este motivo o 

ensino é uma utilização do saber, pois o processo de ensino parte dos saberes científicos 

para o saber a ensinar, e posteriormente, o saber aprendido, no qual se transforma em 

um  conhecimento  individual. Neste processo de  transformação/transposição o  saber  é 

modificado,  mas  ele  continua  sendo  caracterizado  como  saber,  ou  seja,  um  saber 

transposto continua sendo um saber. 

Nesse processo o docente precisa se sentir parte dele, mas para isso, é necessário 

entender o que é a Transposição Didática, ou  seja, que no processo de ensino, não  se 

pode  considerar  como  ator  principal  o  discente,  o  docente  ou  o  saber  e,  além  disso, 

entender o docente  como o gestor do  currículo. Todos devem  ser  considerados  como 

parte do processo de ensino, numa constante interação entre eles. Entender que o saber 

científico  não  pode  ser  modificado,  mas  transformado  em  outro  saber  (a  ensinar, 

ensinado  e  aprendido),  sem perder o  caráter de  saber, ou  seja, um  conceito pode  ser 

modificado,  (re)contextualizado, mas não pode perder  suas  características. Para  isso é 

necessário a mediação do docente e a recontextualização. 

A  transformação dos  saberes aqui proposta,  saber  científico →  saber a ensinar, 

constitui a etapa  inicial de  transformação dos saberes. Conforme Menezes  (2006), esta 

transformação é realizada com a interferência da Noosfera, constituída pela comunidade 

que  estabelece  o  que  deve  ser  ensinado  na  instituição  educativa.  Comunidade  esta, 

constituída  por  didatas,  docentes,  pedagogos,  entidades  sindicais,  autores  de  livros 

didáticos, “Enfim, pessoas [...] que vão elaborar programas, diretrizes curriculares, livros 

didáticos,  etc  (MENEZES,  2006,  p.75‐76).”.  Estes  instrumentos  –  programas,  diretrizes, 

livros didáticos, vão normatizar o que será ensinado, ou seja, o saber a ensinar. É por este 

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O conceito de limite sob a perspectiva da transposição didática  Raquel Taís Breunig ‐ Cátia Maria Nehring 

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motivo que se propõe a compreensão do saber científico, para que, posteriormente, seja 

possível, analisar a transformação do saber científico para o saber a ensinar proposto no 

livro de Cálculo. 

 

 

Conceito de Limite sob a Perspectiva Histórica 

A partir da análise da ementa da disciplina de cálculo, de monitorias orientadas e 

acompanhamento  de  aulas  de  cálculo  I,  podemos  afirmar  que  o  conceito  de  limite 

introduz o estudo da derivada no processo de ensino do cálculo  I. Este processo ocorre 

não  pelo  acaso, mas  sim,  porque  é  a  partir  do  limite  que  se  organiza  a  definição  da 

derivada.  

O processo de constituição do conceito de limite surge historicamente a partir de 

problemas  geométricos,  considerando  a  área  de  regiões  planas  e  a  retas  tangentes  à 

curva.  Estes  problemas  dão  sentido  à  Matemática,  possibilitando  uma  evolução  das 

teorias. Conforme Dieudonné  (1990) esta evolução ocorre, não no sentido de substituir 

teorias ou de formular novas teorias, mas de reformulá‐las, ou seja, é uma reorganização 

dos  teoremas/teorias mais  antigos. De  forma  igualitária,  o  conceito  de  limite  também 

passou por diversas reformulações. 

Arquimedes (287‐212 a.C.), em suas pesquisas já se deparou com a necessidade de 

um  novo  conceito,  que  veio  a  se  tornar mais  tarde,  o  conceito  de  limite,  ou  seja,  as 

tangentes de uma curva. Este desafio não  foi enfrentado apenas por Arquimedes, mas 

também  por  Fermat,  em  meados  do  século  XVI.  No  entanto,  o  conceito  de  limite 

apareceu com clareza em meados do século XVII, e impôs‐se apenas oitenta anos depois 

(DIEUDONNÉ,  1990).  Conforme  Caraça  (1998),  nesta  mesma  época,  Kepler  também 

enfrentou dificuldades, e a necessidade de um novo conceito, pois ao estudar as órbitas 

planetárias se deparou com a condição de que os planetas não se moviam naturalmente, 

tendo  como  preocupação/problema,  o  movimento.  Surge  então  a  necessidade  de 

encontrar leis que permitam prever resultados de experiências, de observações. A busca 

por uma explicação matemática que permita e “[...] dê conta da  infinidade de estados 

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O conceito de limite sob a perspectiva da transposição didática  Raquel Taís Breunig ‐ Cátia Maria Nehring 

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possíveis entre dois estados quaisquer; de natureza a permitir‐nos trabalhar, não só com 

estados  determinados,  mas  com  a  infinidade  das  possibilidades  entre  dois  estados 

(CARAÇA, 1998, p. 206).” Neste momento não havia a necessidade de uma representação 

numérica, mas sim de uma representação algébrica que possibilitava a representação de 

qualquer número de um conjunto numérico, ou seja, uma variável. 

A partir deste entendimento é possível iniciarmos o entendimento do conceito de 

limite,  relacionado  estreitamente  a  ideia  de  variável. O  importante  ao  se  considerar  a 

variável é o  fato de um  conjunto possuir  finito ou  infinito de valores. Se a variável  for 

considerada um conjunto de apenas um elemento, ela passa a ser uma constante, e  isso 

não satisfaz as necessidades do problema  (COSTA,  1981). Além disso, a variável precisa 

representar,  especificamente,  uma  infinidade  de  valores  muito  pequenos,  e  que 

pertençam  à  vizinhança  de  um  ponto  específico.  Percebe‐se  que  neste  momento  a 

variável está extremamente  ligada à noção de  infinito, e é a partir deste entendimento, 

que surge o conceito de infinitésimo, nome atribuído  

[...]  a  toda  variável  representativa  de  um  conjunto  de  pontos pertencentes  à  vizinhança  da  origem  quando  nessa  variável considerarmos  sucessivamente  valores  , , … , , …tais que  | |  para todos os valores de   e todo o  0 (CARAÇA, 1998, p. 207).  

Esta definição permitiu a determinação de várias outras definições de infinitésimo. 

Estas diversas definições sofreram modificações para então, chegar a definição formal de 

limite,  que  é  baseada  diretamente  no  conceito  de  infinitésimo.  Conforme  Caraça  a 

definição inicial de limite ficou assim estabelecida: “dizemos que   tem por limite L se   

é vizinho de L quando n é vizinho de  infinito.” (1998, p. 217), ou seja, L é o resultado da 

interdependência dos termos da sucessão  . Esta é a primeira definição de limite, a qual 

deu  origem  a  outras  definições  que  contribuíram  para  a  evolução  do  conceito, 

considerando  as  diferentes  concepções  do  limite, mantendo  sempre  sua  característica 

inicial, ou seja, o infinito como um elemento ativo de construção. 

Todo este processo não ocorreu de forma simples, ou seja, para se determinar a 

definição de limite, existiu um longo período de dúvidas, reorganizações, convergências, 

retomadas, tais como, as  indeterminações, expressões que não têm sentido, como, por 

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O conceito de limite sob a perspectiva da transposição didática  Raquel Taís Breunig ‐ Cátia Maria Nehring 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.8 

 

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exemplo,  .  “Mas  o  acostumar  progressivo  a  este  gênero  de  raciocínios  e  a  sua 

fecundidade  incontestável  levam, por volta do fim do século, a codificá‐los  introduzindo 

notações  gerais  e  algoritmos  que  permitem  manejá‐los  (limites)  comodamente 

(DIEUDONNÉ, 1990, p. 76).”. Tem‐se então a atual definição geral de limite, 

Seja  I um  intervalo aberto ao qual pertence o número real a. Seja f uma função definida para  ∈ . Dizemos que o limite de f(x), quando x tende a a, é L e escrevemos  lim

→, se para todo  0, existir 

0 tal que se 0 | |  então | |  (IEZZI, 2005, p. 23).  

O  limite  permite  resolver  problemas  antigos,  apresentado  em  pesquisas  de 

grandes  matemáticos,  podendo‐se  destacar  Newton  e  Leibniz,  no  século  XVII,  que 

utilizaram a definição de  limite para determinar a velocidade e aceleração de móvel, ou 

seja,  a  taxa  de  variação,  e  ainda,  as  tangentes  às  curvas.  Vale  destacar  que  a  taxa  de 

variação é a derivada. 

Conforme Dieudonné  (1990) o  limite da expressão   define 

uma nova função  , ou   (definido por Leibniz), mais tarde escrito como  ′  o 

limite de  , que determina a derivada num ponto x da função 

.  Temos então  a  seguinte definição:  “Seja  f uma  função definida em um  intervalo 

aberto I e   um elemento de I. Chama‐se derivada de f no ponto   o limite  lim→

 

(IEZZI,  2005,  p.  127).”.  Ao  calcularmos  a  derivada  de  uma  função  no  ponto  , 

determinamos o coeficiente angular da reta tangente à curva no ponto. Problema inicial, 

para o qual foi elaborado o conceito de limite. É a partir da definição de derivada de uma 

função,  num  ponto  genérico  ∈ ,  que  foram  calculadas  as  derivadas  das  funções 

elementares, ou seja, a partir deste processo é que foram definidos os teoremas/regras 

de derivação, que facilitam o desenvolvimento da derivada de uma função, ou seja, não 

sendo  necessário  recorrer  à  definição.  Leibniz  foi  responsável  e  rigoroso  com  a 

simbologia das diferenciais e estabeleceu  regras de derivação. Para  Leibniz, diferencial 

“[...] era uma diferença entre dois valores infinitamente próximos de uma variável (IEZZI, 

2005,  p.  143).”  Ainda  no  século  XIX,  os  matemáticos  Cauchy  e  Weierstrass  foram 

responsáveis pela estruturação lógica do cálculo. 

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O conceito de limite sob a perspectiva da transposição didática  Raquel Taís Breunig ‐ Cátia Maria Nehring 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.9 

 

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A  partir  deste  histórico  do  conceito  de  Limite,  pode‐se  perceber  que  este  é 

resultado  de  uma  longa  evolução  teórica  de  conceitos  matemáticos.  Essa 

evolução/desenvolvimento  da Matemática  ocorre  graças  aos  problemas  colocados  aos 

matemáticos, ou seja, “[...], esta fonte indispensável nunca se esgotou desde que a teoria 

existe,  quer  se  trate  de  problemas  colocados  pelas  aplicações  das matemáticas  ou  de 

uma evolução <<interna>> [...] (DIEUDONNÉ, 1990, p.176)”. 

 

Transformação do Saber Científico para Saber a Ensinar – análise de um livro de Cálculo 

Conforme  Leite  (2007),  na  Transposição  Didática,  o  docente  precisa  garantir  a 

continuidade do processo de transformação dos saberes, principalmente no que tange ao 

movimento do saber científico ao saber a ensinar, pois é a partir deste processo que se 

constituem  os  saberes  ensinados  e  aprendidos.  Portanto,  é  importante  haver  uma 

coerência,  uma  familiaridade  entre  o  conceito  apresentado  cientificamente  e 

didaticamente. Diante disso, propõe‐se a partir de agora, uma relação entre a discussão 

histórica do conceito de  limite (saber científico) e uma proposta deste conceito em um 

Livro  Didático  (saber  a  ensinar),  considerando  o  estudo  e  o  entendimento  da 

Transposição Didática. Busca‐se identificar de que forma ocorre a transformação do saber 

científico, que é a  referência para este processo, para o saber a ensinar, estando estes 

interligados, qual é a aproximação existente entre a história e o ensino. Ou  seja, partir 

desta  discussão,  tem‐se  o  intuito  de  identificar/perceber  quais  as  contribuições  da 

Transposição Didática para o ensino de  limite em uma disciplina de Cálculo  I, a partir da 

análise do livro de Cálculo (ANTON, 2000), utilizado como referência básica por docentes 

de  Cálculo  I  de  uma  instituição  de  ensino  superior.  A  análise  teve  como  foco  a 

identificação da forma que o saber a ensinar é apresentado nos conteúdos relacionados 

ao conceito de  limite no  livro, ou seja, qual é a  relação ou distanciamento com o saber 

científico. 

O  Livro  Didático  de  Anton  (2000)  possui  um  capítulo  exclusivo  ao  estudo  do 

conceito de  limite,  intitulado  “Limites  e Continuidade”,  no qual, de  início  enfatiza que 

“[...] o conceito de limite é o alicerce sobre o qual todos os outros conceitos do cálculo estão 

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O conceito de limite sob a perspectiva da transposição didática  Raquel Taís Breunig ‐ Cátia Maria Nehring 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.10 

 

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baseados (ANTON, 2000, p. 112)”. A partir desta posição, situa que o cálculo está baseado 

nas  ideias da  reta  tangente,  área  e  velocidade  instantânea,  indicando  intuitivamente  a 

necessidade de limite para resolver os problemas relacionados a estas ideias. O autor faz 

relação  à  construção  histórica  do  limite,  considerando  sua  constituição  a  partir  de 

situações  problemas,  levando  em  conta  o  cálculo  de  áreas  planas  e  retas  tangentes  à 

curva. 

Considerando  o  estudo  da  reta  tangente,  ou  secante  a  uma  curva  em  um 

determinado ponto, movendo‐a para que exista um único ponto comum entre a reta e a 

curva, a reta acaba por se localizar em uma posição limite, desencadeando o conceito de 

limite. O estudo da área de diferentes curvas sugere o  termo aproximação, para  tanto, 

pode‐se  considerar  a  construção  de  vários  retângulos  sobre  a  curva,  e  somar  a  área 

destes, definindo, portanto, a área da curva. Repetindo o processo de aproximação com 

maior quantidade de retângulos,  infinitamente menores, preenchendo todos os espaços 

vazios  na  curva,  a  aproximação  ficará mais  próxima  do  valor  exato  da  área  da  curva, 

portanto, “Isto sugere que podemos definir a área sob a curva como sendo o valor limite 

destas aproximações.” (ANTON, 2000, p. 113). Relacionando as velocidades  instantâneas 

ao conceito de  limite, o autor destaca a fórmula que possibilita determinar a velocidade 

média de uma partícula. No entanto o que interessa nesta situação é a velocidade em um 

tempo específico. Para  tanto,  sugere que, em um curto período de  tempo, existe uma 

velocidade sem muita variação, portanto, quanto mais próximo estiver o tempo final do 

inicial, melhor  será  a  aproximação. A partir disto, define‐se uma  reta  tangente que  irá 

tender à uma  inclinação da reta tangente à curva, em um ponto no qual o tempo final e 

inicial são muito próximos, definindo a velocidade  instantânea de uma partícula em um 

tempo  determinado.  Podemos  verificar  nestas  situações  a  relação  do  autor  com  o 

contexto histórico de limite, considerando os termos aproximação e infinitésimo, termos 

que caracterizam a definição formal do  limite. Estes termos matemáticos são evidentes, 

por  exemplo,  quando  o  autor  realiza  a  seguinte  discussão  acerca  da  velocidade 

instantânea, considerando que 

[...]  quanto  mais  perto  fica  t1  de  t0,  melhor  será  a  aproximação. Entretanto, à medida que t1 fica cada vez mais próximo de t0, a inclinação da  reta secante  [...]  irá  tender à  inclinação da  reta  tangente à curva no 

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O conceito de limite sob a perspectiva da transposição didática  Raquel Taís Breunig ‐ Cátia Maria Nehring 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.11 

 

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instante t = t0; isto sugere que podemos definir a velocidade instantânea da partícula no instante t = t0 como sendo a inclinação da reta tangente à curva,  posição  versus  tempo,  naquele  ponto.  Deste modo,  assim  que soubermos como calcular as inclinações das retas tangentes, teremos um método para calcular as velocidades instantâneas (ANTON, 2000, p. 114).  

A partir destas  situações e discussões,  considerando a explicitação de  situações 

problemas, o autor se concentra apenas no estudo do conceito de  limite e situa que “O 

uso  básico  do  limite  é  descrever  como  uma  função  se  comporta  quando  a  variável 

independente  tende a um dado valor.”  (ANTON, 2000, p.  114). A partir disto, propõe o 

estudo  de  uma  função  do  segundo  grau  a  partir  da  análise  do  registro  gráfico, 

considerando  valores  próximos  de  um  determinado  x.  Neste  enfatiza  várias  vezes  a 

palavra proximidade, para então, definir que o “‘limite de  ² 1 é 3 quando x tende a 

2 por qualquer um dos  lados’, e escrevemos  lim→

1 3”  (Idem,  ibidem). Esta 

discussão possibilita uma ideia informal de limite, considerando valores muito próximos a 

constante a, mas não iguais a ela, definindo então o registro algébrico (lim→

) e da 

língua materna (o limite de f(x) quando x tende a a é L). 

São propostos então, vários exemplos, considerando esta mesma  sequência, no 

entanto,  substituindo  a  análise  gráfica  da  função,  por  uma  análise  numérica, 

considerando  a  construção de uma  tabela, na qual  são definidos  valores diferenciados 

para  x, mas muito  próximos  de  a.  Para  facilitar  a  análise  do  Limite,  o  autor  propõe  o 

tratamento algébrico da função, e a seguir, a análise gráfica para verificar se o limite está 

correto,  justificando  que,  a  partir  do  tratamento  algébrico,  mas  principalmente  o 

numérico, pode conduzir a conclusões incorretas, devido a erros de arredondamento. 

Essas  discussões  remetem  à  análise  do  limite  de  uma  função,  considerando  os 

limites  laterais.  Inicialmente o autor formaliza o que são os  limites  laterais e sua relação 

com  os  limites  bilaterais.  Chamamos  a  atenção,  de  que  o  autor,  até  o momento  não 

formalizou o conceito, enfatizando sempre uma ideia geral de um ponto de vista informal 

e considerando alguma situação. A partir dos  limites  laterais, ocorre o primeiro contato 

com  a  continuidade  de  uma  função,  no  qual  o  autor  destaca  as  condições  de 

continuidade. Após esta breve ênfase, é feito o estudo de  limites  infinitos e sua relação 

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X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.12 

 

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com as assíntotas verticais e horizontais das funções, bem como a existência ou não do 

limite infinito. Neste momento são propostas duas definições relacionadas às assíntotas. 

 

Definição de assíntota vertical 

 

 

Fonte: ANTON, 2000, p. 122. 

 

Definição de assíntota horizontal 

 

 

Fonte: ANTON, 2000, p. 123. 

 

A partir das  ideias  iniciais desenvolvidas até o momento, o autor propõe técnicas 

para calcular o  limite de uma  função, utilizando o  tratamento algébrico para encontrar 

limites.  É  proposto  um  “bloco  de  construção”,  no  qual,  a  partir  de  teoremas,  são 

estabelecidos  os  limites  de  funções  básicas,  tais  como,  funções  definidas  por  uma 

constante  ( ),  função  linear  ( )  e  racional  ( 1⁄ ).  Este 

procedimento  possibilita  o  entendimento  e  determinação  de  limites  de  funções mais 

complicadas,  as  quais  são  exemplificadas  e  solucionadas  em  seguida,  considerando  o 

limite  de  funções  polinomiais,  exponenciais,  racionais  e  envolvendo  radicais,  com  a 

variável independente tendendo a uma constante a ou a  ∞ ou  ∞. 

Sabe‐se que até o momento houve, em grande parte, o estudo do saber a ensinar, 

no  qual  o  autor  desencadeia  situações  para,  em  um  novo  item,  então  propor  uma 

discussão  mais  específica  de  limites,  discutindo,  portanto,  a  definição  de  limite  e  a 

importância de compreender o  seu conceito, ou  seja,  relaciona‐se o  saber a ensinar ao 

saber científico. O autor destaca que 

Até aqui, a nossa discussão de limites tem sido baseada na nossa intuição do  significado  dos  valores  de  uma  função  ficarem  cada  vez  mais próximos do valor limitante. Entretanto, este nível de  informalidade não 

2.1.5 DEFINIÇÃO. Uma reta é chamada de assíntota vertical do gráfico de uma função f se f(x) tem a ∞ ou ∞, quando x tende a a pela esquerda ou direita.

2.1.7 DEFINIÇÃO. Uma reta é chamada de assíntota horizontal do gráfico de uma função f se → , quando → ∞ ou → ∞.

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O conceito de limite sob a perspectiva da transposição didática  Raquel Taís Breunig ‐ Cátia Maria Nehring 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.13 

 

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nos  leva  adiante.  Assim,  nossa  meta  nesta  seção  é  definir  limites precisamente.  Do  ponto  de  vista  puramente  matemático,  estas definições  são necessárias para estabelecer  limites  com  toda  certeza e provar  teoremas  sobre  eles.  Contudo,  elas  também  nos  fornecem  um aprofundamento  no  entendimento  do  conceito  de  limite,  tornando possível  visualizar  algumas  das  mais  sutis  propriedades  das  funções (ANTON, 2000, p. 138).  

É  a  partir  desta  discussão  que  Anton  (2000)  busca  sistematizar  o  conceito  de 

limite,  para  tanto,  relaciona  as  linguagens  e  definições  informais  a  uma  linguagem 

matemática, ou seja, busca atribuir significado matemático mais preciso às pré‐definições 

estabelecidas  anteriormente.  Para  formalizar  o  conceito,  é  feito  um  diálogo, 

considerando a análise gráfica e algébrica, de uma  função  f qualquer, em um ponto no 

qual  → .  Retoma‐se  a  necessidade  de  utilizar  aproximações  para  x  cada  vez mais 

próximas de a, este processo possibilita que f(x) aproxime‐se cada vez mais do  limite. A 

partir disso é proposta uma primeira definição considerando o limite bilateral. 

 

Primeira definição de Limite (Bilateral) 

 

 

 

 

 

 

Fonte: ANTON, 2000, p. 139. 

 

No  entanto,  esta  definição  não  é  conveniente,  ao  se  considerar  os  valores 

aproximados definidos à direita e à esquerda de a,  levando em conta a possibilidade de 

que  os  valores  podem  estar  distantes  de  a  com  intervalos  diferentes.  Para  que  este 

intervalo  seja equivalente em ambos os  lados de a, é considerado um número positivo 

2.3.1 LIMITE (PRIMEIRA DEFINIÇÃO PRELIMINAR). Seja f(x) uma função definida em todo x de algum intervalo aberto que contenha o número a, com a possível exceção de que f(x) não precisa estar definida em a. Escreveremos

lim→

se dado qualquer número 0, pudermos encontrar um intervalo aberto 0, 1 que contenha o ponto a de modo que f(x) satisfaz

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X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.14 

 

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qualquer  ,  o  qual  possibilita  considerar  o  intervalo  , ,  sugerindo  a 

reformulação da primeira definição para uma segunda. 

 

Primeira definição de Limite (Bilateral) 

 

 

 

 

 

 

Fonte: ANTON, 2000, p. 140. 

 

Alterando  as  condições  da  definição  anterior,    para 

| |   e,  que  x  está  situado  no  intervalo  , , mas  ,  para  0

| | , tem‐se a versão final da definição de limite. 

 

Primeira definição de Limite (Bilateral) 

 

 

 

 

 

Fonte: ANTON, 2000, p. 140. 

 

De  acordo  com  o  autor,  esta  definição  possibilita  desencadear  as  demais 

definições complementares de limite, considerando os limites laterais, valores diferentes 

2.3.3 DEFINIÇÃO DE LIMITE (VERSÃO FINAL). Seja f(x) definida em todo x que está em algum intervalo aberto que contenha o número a, com a possível exceção que f(x) não precisa estar definida em . Escreveremos

lim→

2.3.2 LIMITE (SEGUNDA DEFINIÇÃO PRELIMINAR). Seja f(x) definida em todo x em algum intervalo aberto contendo o número a, com a possível exceção de que f(x) não precisa estar definida em . Escreveremos

lim→

se dado qualquer número 0, pudermos achar um número 0, tal que f(x) satisfaz

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O conceito de limite sob a perspectiva da transposição didática  Raquel Taís Breunig ‐ Cátia Maria Nehring 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.15 

 

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para  , se  → ∞ ou  → ∞ e, para  limites  infinitos. Este estudo proposto por Anton 

(2000) possui em sua sequência a proposta de provar as definições de forma numérica e 

gráfica. A partir deste processo, nas demais  seções,  é discutida  a  aplicação de  limites, 

considerando o estudo de continuidade de uma função, bem como, o uso de ambos na 

resolução de situações problemas, enfatizando a contextualização do conceito. 

A  partir  do  desencadear  dessa  discussão,  considerando  a  análise  do  livro  de 

cálculo, especificamente a formalização e definição do conceito de limite e a constituição 

do  saber  científico,  fica  perceptível  a  preocupação  do  autor  em manter  fidelidade  ao 

saber científico. Este procedimento vai possibilitando a construção do conceito a partir 

de  investigações  sem  perder  a  essência/foco  do  conceito.  Além  disso,  o  autor  busca 

trabalhar  com  ideias  intuitivas,  relacionando  ao  contexto histórico do  conceito, porém 

somente na introdução ao estudo de limite. Da mesma forma que a organização do saber 

científico,  a  importância  da  variável,  considerando  um  conjunto  finito  ou  infinito  de 

números,  é  enfatizada  na  proposta  do  saber  a  ensinar.  As  discussões  do  autor, 

considerando  os  termos  aproximação  e  tendência  a  valores  infinitos,  bem  como  os 

limites  laterais,  levando  em  conta  a  definição  das  assíntotas  horizontal  e  vertical, 

explicitadas  anteriormente,  possibilitam  a  relação  com  o  saber  científico,  no  qual  a 

variável precisa representar, especificamente, uma infinidade de valores muito pequenos, 

pertencentes  ou  muito  próximos  de  um  ponto  específico.  Porém  neste  momento 

percebe‐se um distanciamento entre o saber a ensinar e o saber científico, pois diferente 

do  contexto  histórico,  e  constituição  do  conceito  pelos matemáticos,  o  autor  não  se 

remete  ao  estudo  dos  infinitésimos,  que,  conforme  Caraça  (1998)  está  intimamente 

ligado à noção de infinito e fundamenta o estudo e constituição do conceito de limite. 

As  definições  de  limite  apresentadas  por  Anton  (2000)  demonstram  que  a 

constituição do  conceito, perpassou uma  reestruturação e organização do pensamento 

matemático, até estabelecer a definição atual do conceito. Comparando a definição atual 

do conceito, proposta pelo autor do Livro de Cálculo e a definição do saber científico, 

Seja  I um  intervalo aberto ao qual pertence o número real a. Seja f uma função definida para  ∈ . Dizemos que o limite de f(x), quando x tende a a, é L e escrevemos  lim

→, se para todo  0, existir 

0 tal que se 0 | |  então | |  (IEZZI, 2005, p. 23). 

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O conceito de limite sob a perspectiva da transposição didática  Raquel Taís Breunig ‐ Cátia Maria Nehring 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.16 

 

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Fica evidente que a definição de  limite no  saber a ensinar  foi  (re)construída em 

uma  linguagem  distante  do  saber  científico,  mas  não  desconsiderou  as  principais 

características do conceito. Aqui fica claro o que é a Transposição Didática, e como ocorre 

o  processo  de  saber  científico  →  saber  a  ensinar.  Este  processo  se  caracteriza  pela 

transformação e organização de novos  textos que  contextualizam  a  compreensão por 

parte  do  discente  para  a  constituição  do  saber  aprendido,  no  entanto,  é  de  extrema 

importância, que nesse processo de transformação dos saberes, os conceitos não percam 

o  sentido,  pois  desta  forma  o  conceito  pode  perder  seu  significado  no  processo  de 

aprendizagem. Aqui, fica evidente a importância da vigilância epistemológica, do autor do 

livro  didático/docente,  tenha  de  fato,  o  conhecimento  científico,  para  então mediar  o 

saber científico a saber ensinado e aprendido. Conforme Conne (1996), o docente, antes 

de  ensinar  um  conceito,  precisa  realizar  a  transposição  do  saber  científico  ao  saber  a 

ensinar e refletir sobre o saber que o discente vai aprender. 

 

Considerações Parciais 

Esta  produção  teve  por  objetivo,  discutir  acerca  da  transformação  do  saber 

científico ao saber a ensinar, a partir da análise de um  livro de Cálculo, considerando o 

desenvolvimento conceitual de limite. Para esta análise inicialmente foi feito o estudo da 

Teoria  da  Transposição  Didática,  que  define  o  percurso  do  saber  até  se  tornar  saber 

aprendido, partindo do  saber  científico ao  saber aprendido. Para  tanto,  foi proposto o 

estudo  histórico  do  conceito  de  limite,  considerando  sua  constituição  como  saber 

científico, para então, analisar o  livro didático de Anton (2000), constituído pelo saber a 

ensinar, que parte de uma nova escrita do saber científico, para então, se transformar no 

saber ensinado e aprendido. Conforme Conne (1996, p.265) “[...] a transposição didática é 

o processo que  faz com que os objectos do saber matemático erudito se  transformem 

em saberes a ensinar, inscritos no projecto de ensino, e depois em saberes de ensino.” 

A  Transposição  Didática mostra‐se  coerente  a  esta  análise  e  discussão,  pois  é 

importante  no  processo  de  ensino,  que  o  docente  se  aproprie  do  conhecimento 

científico, suas particularidades e características, para que o ensino e aprendizagem dos 

conceitos  matemáticos  sejam  significativos.  Conforme  Chevallard  (LEITE,  2007),  é 

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O conceito de limite sob a perspectiva da transposição didática  Raquel Taís Breunig ‐ Cátia Maria Nehring 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.17 

 

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necessário estabelecer relações entre os diferentes saberes para que o discente aprenda 

e dê  significado ao  conceito matemático. Portanto, o docente é parte deste processo, 

pois é ele que, produz o saber a ensinar, uma nova escrita, a partir do saber científico, 

possibilitando a compreensão por quem ainda não sabe. Ou seja, o docente é o mediador 

entre  o  saber  científico  e  o  discente.  Sabendo  da  importância  do  saber  científico  na 

constituição do saber aprendido, e que suas características precisam permanecer apesar 

das transformações que sofre ao longo do processo de Transposição Didática, foi feita a 

análise do Livro Didático de Cálculo, buscando  identificar  se as características do  saber 

científico estão presentes no saber a ensinar, considerando o conceito de limite. 

A  partir  da  análise  do  Livro  Didático  de  Anton  (2000),  são  perceptíveis  as 

características  científicas  considerando  uma  linguagem  mais  simples  e  de  fácil 

compreensão.  Além  disto,  Anton  (2000)  enfatiza  a  importância  do  estudo  de  limite, 

contextualizando o conceito a partir de situações iniciais que evidenciaram a necessidade 

de  um  novo  conceito,  que  são  o  estudo  da  reta  tangente,  a  área  de  uma  curva  e  a 

velocidade  instantânea. Esta percepção nos remete à Conne (1996, p.231), o qual afirma 

que  “Por  um  lado,  a  situação  é  indutora  de  conhecimento;  por  outro  lado,  o 

conhecimento permite agir sobre a situação.” 

No  entanto,  apesar  de  haver  grande  concordância  entre  o  saber  a  ensinar  e  o 

saber científico, aqui discutidos, é necessário concordar com Cabral e Baldino (2006), ao 

afirmarem que na matemática, voltada a um modelo expositivo, perdeu‐se a legitimidade 

dos infinitésimos no ensino de matemática, principalmente, em cursos de Engenharia. De 

fato, Anton (2000), também não significa o conceito de  limite a partir dos  infinitésimos, 

que foram os norteadores para a constituição do saber científico. Além disto, conforme 

Cabral  e  Baldino  (2006,  p.  8)  “[...]  as  concepções  espontâneas  dos  alunos,  [...]  já  são 

naturalmente  infinitesimais  [...].”, o que garantiria uma aprendizagem mais significativa 

do conceito de limite. 

Outro aspecto significativo de Anton (2000) em sua obra é a proposta de situações 

e  problematizações  possibilitando  a  “utilização”  do  conceito  de  limite. A  partir  destas 

situações  é  possível  identificar  se  de  fato  o  processo  de  Transposição  Didática  teve 

continuidade, considerando o saber ensinado e aprendido. 

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O conceito de limite sob a perspectiva da transposição didática  Raquel Taís Breunig ‐ Cátia Maria Nehring 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.18 

 

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Quando o sujeito reconhece o papel activo de um conhecimento sobre a situação, para ele, o  laço  indutor da  situação  sobre esse conhecimento torna‐se  invertível, ele sabe. Um conhecimento assim  identificado é um saber, é um conhecimento útil, utilizável, porque permite ao sujeito agir sobre a representação (CONNE, 1996, p. 231).  

Portanto,  a  análise  do  Livro  Didático  de  Cálculo  (Anton,  2000),  possibilitou 

perceber  a  importância  do  conhecimento  científico  por  parte  do  docente.  São  as 

características do saber científico nos demais saberes, que dão sentindo e significado à 

aprendizagem  conceitual  do  discente,  não  somente  do  conceito  de  limite,  mas  dos 

demais  conceitos  matemáticos.  Entende‐se  a  importância  de  refletir  acerca  dos 

diferentes saberes produzidos, das suas transformações, e principalmente, como ocorre 

a  transposição  do  saber  científico  até  o  saber  aprendido  pelo  discente.  Cada  um  dos 

saberes é  importante no processo de ensino e aprendizagem dos conceitos de Cálculo, 

por  este  fato,  é  interessante  que  o  docente  seja  parte  do  processo  de  Transposição 

Didática.  Além  disto,  é  necessário  pensar  práticas  de  ensino  coerentes  com  o  saber 

científico,  e  que  possibilitem  a  significação  e  o  saber  do  conceito  de  limite,  pois  é 

perceptível a dificuldade por parte dos discentes em compreender este conceito. Diante 

disto,  é  possível  questionar,  como  de  fato,  ocorre  a  prática  do  docente  diante  destas 

situações, e quais suas intervenções para que ocorra a significação conceitual. 

 

 

Referências 

ALMOULOUD, Saddo Ag. Fundamentos da Didática da Matemática. Curitiba: UFPR, 2007. 

 

ANTON, Howard. Cálculo: um novo horizonte. Tradução: Cyro de Carvalho Patarra; Márcia Tamanaha. 6 edição. Porto Alegre: Bookman, 2000. 

 

CABRAL, T. C. B.; BALDINO, R. R. Cálculo Infinitesimal para um Curso de Engenharia. Revista de Ensino de Engenharia, Passo Fundo, v. 25, n. 1, jan./jun. 2006. Disponível em: < http://www.upf.br/seer/index.php/ree/article/view/216>. Acesso em: 12 ago.2012. 

 

CARAÇA, Bento de Jesus. Conceitos Fundamentais da Matemática. Lisboa: Gradiva, 1998. 

 

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O conceito de limite sob a perspectiva da transposição didática  Raquel Taís Breunig ‐ Cátia Maria Nehring 

X ANPED SUL, Florianópolis, outubro de 2014.                                                                                p.19 

 

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CONNE, F. Saber e Conhecimento na Perspectiva da Transposição Didática. In: BRUN, Jean (Org). Didáctica das Matemáticas. Lisboa: Instituto Piaget, p. 219‐267, 1996. 

 

COSTA, Manuel Amoroso. As Idéias Fundamentais da Matemática e outros Ensaios. 3 edição. São Paulo: Convívio, 1981. 

 

DIEUDONNÉ, Jean. A Formação da Matemática Contemporânea. Tradução: J.H. von Hafe Perez. Lisboa: Publicações Dom Quixote, 1990. 

 

D’AMORE, Bruno. Elementos da Didática da Matemática. Tradução: Maria Cristina Bonomi Barufi. São Paulo: Livraria da Física, 2007. 

 

GAUTHIER, Clermont; MARTINEAU, Stéphane. Triângulo Didático‐Pedagógico: o triângulo que pode ser visto como um quadrado. Educação nas Ciências, Ijuí: UNIJUÍ, 2001, v. 1, n.1, p. 45‐77, jan/jun. 2001. 

 

IEZZI, Gelson et al. Fundamentos de Matemática Elementar: limites, derivadas, noções de integral, 6 edição. São Paulo: Atual, 2005, volume 8. 

 

LEITE, Miriam Soares. Recontextualização e Transposição Didática: introdução à leitura de Brasil Bernstein e Yves Chevallard. Araraquara, SP: Junqueira & Marin, p. 43‐67, 2007.