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Page 1: O CONCEITO DE DEMOCRACIA EM ANÍSIO TEIXEIRA: … · Anísio Teixeira foi professor, administrador, filósofo da educação, fundador de escolas e universidades, reformador educacional,

Universidade Estadual de Maringá, 11 a 14 de junho de 2018.

Anais ISSN online:2326-9435

XXIII SEMANA DE PEDAGOGIA-UEM XI Encontro de Pesquisa em Educação

II Seminário de Integração Graduação e Pós-Graduação

O CONCEITO DE DEMOCRACIA EM ANÍSIO TEIXEIRA: PRIMEIRAS

APROXIMAÇÕES TEÓRICAS

BUENO, Vanessa Ferreira

[email protected] (UEM)

CARBELLO, Sandra Regina Cassol (orientadora)

[email protected]

Universidade Estadual de Maringá

Eixo Temático Políticas Educacionais e Gestão Escolar

INTRODUÇÃO

Este trabalho é oriundo dos estudos ainda em desenvolvimento no Projeto de Iniciação

Científica (PIC) intitulado: “Educação para a democracia: um estudo sobre os princípios

filosóficos de Anísio Teixeira”, que visa conhecer o conceito de democracia e a proposta

escolar defendida pelo autor. Os questionamentos que direcionam a investigação deste PIC

surgiram pela participação no Projeto de Ensino: “Gestão escolar: leituras sobre Anísio

Teixeira” nesta Universidade.

Neste caminho, aprendemos que ao longo de cinquenta anos dedicados à vida pública,

Anísio Teixeira foi professor, administrador, filósofo da educação, fundador de escolas e

universidades, reformador educacional, participou ativamente da política educacional do país

sendo um de seus formuladores. Suas principais ideias para a educação eram promover a

escola pública, gratuita, laica e universal. Foi um grande defensor das ideias pragmatistas de

John Dewey (1859-1952) e de William Kilpatrick (1871-1965) e buscou estudar a realidade

brasileira e pensar uma educação escolar que atendesse nossas demandas dentro do regime

político da democracia.

Para participar deste momento importante no curso de Pedagogia, optamos por

apresentar, neste evento, as primeiras aproximações teóricas estudadas no PIC, em especial o

conceito de democracia para Anísio Teixeira. Trata-se de um estudo bibliográfico/documental

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de natureza qualitativa (GIL, 2002), que obedeceu aos seguintes procedimentos: levantamento

de material que discute a temática em estudo, a leitura e fichamento do material levantado e a

análise, que ainda está em andamento, dando início à estruturação do texto que relata os

resultados da pesquisa.

Para esta comunicação, o texto encontra-se dividido em duas partes: a primeira centra-

se na vida e atuação pública de Anísio Teixeira e a segunda parte discute o que é democracia

e busca entender como esse conceito se relaciona com a educação defendida pelo autor. Dessa

forma, almejamos contribuir com a formação do pedagogo instigando-o ao debate das ideias

de um importante educador que pensou propostas inovadoras para a política e gestão da

educação brasileira.

QUEM FOI ANÍSIO TEIXEIRA?

Anísio Teixeira é um dos principais intelectuais brasileiros que se dedicou à educação.

Lutou bravamente para edificar uma escola pública, laica, gratuita, com ensino de qualidade,

instituída sob os princípios filosóficos que promovessem o desenvolvimento da ciência e da

cultura em suas diferentes faces.

Nascido em Caetité, no sertão baiano, no dia 12 de julho de 1900, de família abastada,

era filho de Anna Spínola Teixeira e Deocleciano Pires Teixeira. Estudou no colégio jesuíta

São Luís Gonzaga em sua cidade natal. Em 1914 ingressou no colégio Antônio Vieira, em

Salvador e cursou Direito na Universidade do Rio de Janeiro formando-se em 1922 (LIMA,

1978).

De volta à Bahia, em 1924 foi nomeado Inspetor Geral de Ensino e no ano seguinte

viajou pela Europa observando diferentes sistemas de ensino. Esteve na Espanha, Bélgica,

França e Itália. Regressou à Bahia e passou a desenvolver uma série de mudanças na

educação do Estado. Para Lima (1978, p. 38), “[...] iniciaria na gestão da Inspetoria do Ensino

a atividade crítica, reformadora e criadora que o atrelaria definitivamente à obra da

educação”.

Em 1928 voltou aos Estados Unidos e em 1929 obteve o título de mestre em educação

no Teacher’s College da Universidade de Colúmbia, em Nova York. Nessa época conheceu o

educador John Dewey, defensor do pragmatismo. Esse encontro foi fundamental para as

escolhas filosóficas de Anísio, no entanto, o referido autor não se propôs apenas a reproduzir

tal ideário, mas sim a pensar a partir de tais ideias, levando em conta as peculiaridades do

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Brasil. “Nas obras de Anísio, seu objetivo é, de um lado, divulgar de um modo didático o

pensamento de Dewey e usá-lo como base legitimadora para sua ação educacional” (NUNES,

2010, p. 51). Assim, conforme Teixeira (1959), o princípio do pragmatismo é que os alunos

aprendem melhor realizando tarefas associadas aos conteúdos ensinados. Atividades manuais

e criativas ganharam destaque no currículo e as crianças passaram a ser estimuladas a

experimentar e pensar por si mesmas.

Para Clarice Nunes, “Dewey forneceu a Anísio instrumentos para pensar criticamente,

pela ótica liberal, a sociedade capitalista, a Escola Tradicional e a Escola Nova. Dele, Anísio

herdou também o respeito ao pluralismo e ao pragmatismo americano” (NUNES, 2010, p.

54). Nesse contexto, a democracia ganha peso, por ser a ordem política que permite o maior

desenvolvimento dos indivíduos, no papel de decidir em conjunto o destino do grupo a que

pertencem.

Retornou ao Brasil tomado pelo espírito democrático e propôs uma reforma

educacional para reorganizar o sistema de ensino do Estado da Bahia. Contudo, em 1929, com

a falta de apoio do novo governador, demitiu-se do cargo e dedicou-se ao magistério na

capital, Salvador. Em 1931 mudou-se para o Rio de Janeiro sendo então nomeado Diretor de

Instrução Pública do Distrito Federal. Nessa época criou uma rede municipal de ensino que

integrava da escola primária até a universidade. Fez parte de um grupo de educadores

interessados em remodelar o ensino no país, oferecendo um ensino livre e aberto. Esse

movimento foi chamado de "Escola Nova", que ganhou maiores proporções com a divulgação

do documento “Manifesto da Escola Nova”, em 1932. Ainda nesse ano, casou-se com Emília

Telles Ferreira. (VIANA FILHO, 1990).

Em 1935 criou a Universidade do Distrito Federal, no Rio de Janeiro. Em 1936,

perseguido pela ditadura Vargas, demitiu-se do cargo de diretor e regressou a Bahia onde

permaneceu por dez anos dedicando-se às atividades de comércio e mineração. Nesse período

de autoexílio nasceram seus quatro filhos. (GERIBELLO,1977).

Em 1946, Anísio Teixeira voltou à vida pública ao ser nomeado Conselheiro Geral da

UNESCO. Em 1947 assumiu novamente a pasta da Educação do Estado da Bahia. Nesse

período criou o Centro Educacional Carneiro Ribeiro (CECR), em Salvador, que, formado por

escolas classes e pela escola parque, se tornou um novo modelo de educação integral. (LIMA,

1978).

Em 1952 esteve à frente do Instituto Nacional de Estudos Pedagógicos, realizando

trabalhos para a valorização da pesquisa educacional no país. No fim dos anos 50, Anísio

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Teixeira participou de debates para a implantação da Lei de Diretrizes e Bases. Junto com

Darcy Ribeiro fundou a Universidade de Brasília, tornando-se reitor em 1963. No ano

seguinte, com o golpe militar, deixou o Instituto (que hoje leva seu nome) e foi para os

Estados Unidos, onde passou a lecionar na Universidade de Colúmbia e na Universidade da

Califórnia. Em 1966, Anísio Teixeira voltou ao Brasil e tornou-se consultor da Fundação

Getúlio Vargas. (NUNES, 2000)

Faleceu no Rio de Janeiro, em circunstâncias misteriosas, no dia 11 de março de 1971.

O caso está entre os investigados pela Comissão Nacional da Verdade criada para retomar as

investigações e preservar a memória de perseguidos políticos. (CARBELLO, 2016). As

contribuições de Anísio Teixeira são inúmeras e instigam estudantes e educadores a pensar

constantemente sobre nossa prática pedagógica, sobre nossas instituições e a relação com a

sociedade em que estamos inseridos. Um dos princípios que orientaram seu pensamento e sua

produção é a democracia. É sobre este conceito que direcionaremos a segunda parte desta

comunicação.

O CONCEITO DE DEMOCRACIA PARA ANÍSIO TEIXEIRA

Como vimos anteriormente, ao ser nomeado Inspetor Geral de Ensino, Anísio Teixeira

viajou para a Europa e para os Estados Unidos a fim de conhecer diferentes sistemas de

ensino para então repensar a educação da Bahia. Foi nos Estados Unidos que conheceu e

estudou as ideias filosóficas de John Dewey (1859-1962) e as ideias pedagógicas de Willian

Kilpatrick (1871-1965), na Universidade de Columbia, em Nova York. (NUNES, 2010).

Dewey vinculava-se à corrente filosófica do pragmatismo que prima pela democracia.

O pragmatismo surgiu entre o final do século XIX e meados do XX e seus principais

representantes são Charles Peirce (1839-1914) Willian James (1842-1910) e John Dewey

(1859-1952). De acordo com Teixeira (2006), o pragmatismo se constitui por consequências

práticas, ou seja, trata-se de uma forma de pensamento que está apta a produzir, que se

vincula a uma ação sobre a realidade:

[...] a filosofia, para John Dewey, é um esforço de continuada conciliação

(ou reconciliação) e ajustamento (ou reajustamento) entre a tradição e o

conhecimento científico, entre as bases culturais do passado, ameaçadas de

outro modo de dissociação e estancamento, e o presente que flui, cada vez

mais rápido e rico, para um futuro cada vez mais precípite e amplo, ou seja

entre o que já foi e o vir a ser, de modo a permitir e até assegurar integrações

e reintegrações necessárias do velho no novo, já operante quando não ainda

dominante, – e isso, tudo isso, por meio de uma crítica pertinente e

percuciente, que distinga, selecione e ponha em relevo os elementos

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fundamentais da situação ou do momento histórico, no propósito, sempre, de

formular (ou reformular) não tanto verdades como perspectivas, ou sejam

interpretações, valorizações e orientações que nos guiem a aventura da

civilização e da própria vida (TEIXEIRA, 2006, p.88).

Obstinado a solucionar os problemas da educação brasileira, Anísio Teixeira

encontrou na filosofia pragmatista, ancorado a perspectiva de democracia, um viés norteador

para seu pensamento e para suas ações pedagógicas para a construção de uma sociedade mais

justa. Essa ação educacional desenvolvida por Teixeira se pauta essencialmente na defesa do

ideário democrático. Democracia, para Anísio Teixeira, é um modo de vida social dentro e

fora das escolas. “Pelo saber e pela razão o indivíduo se faz humano entre humanos,

conquistando o poder e a eficácia de pensamento e de ação, que são, por excelência, formas

de interação, de socialização, de sua inserção no contexto social, que lhe irá nutrir e dirigir a

existência” (TEIXEIRA, 1956).

A sociedade democrática “é uma sociedade de pares, em que os indivíduos, a despeito

de diferenças individuais de talento, aptidão, ocupação, dinheiro, raça, religião e mesmo

posição social, se encontrem associados, como seres humanos fundamentalmente iguais,

independentes, mas solidários” (TEIXEIRA, 1956). Tendo em vista a complexidade para

viabilizar esse ideário, ele nos alerta que,

A democracia é, pois, todo um programa evolutivo de vida humana, que,

apenas há cerca de uns cento e oitenta anos, começou a ser tentado e, de

algum modo, desenvolvido; mas está longe de ter completa consagração.

Muito pelo contrário, ainda não conseguiu de todo vencer sequer a fase de

controvérsia e negação, por que passa toda grande transformação histórica

(TEIXEIRA, 1956).

O indivíduo educado para viver numa sociedade democrática exerce um papel central

nesse processo de transformação porque, além de participar da vida social, ele é “a força de

revisão e mudança, pelo pensamento livre, da extrema e complicada máquina organizativa da

sociedade moderna” (TEIXEIRA, 1956). No que se refere ao governo, para ser democrático,

este deve se manter em alerta para a correção de possível concentração de poder (material ou

não), realizando assim “a extrema divisão do poder político, por meio de um regime de maior

descentralização possível. Tudo que puder ser confiado à responsabilidade local e à

cooperação voluntária dos indivíduos lhes deve ser confiado” (TEIXEIRA, 2006, p.144).

No entendimento do autor, democracia é um regime de saber e virtude, e “[...] saber e

virtude não chegam conosco no berço, mas são aquisições lentas e penosas, por processos

voluntários e organizados” (TEIXEIRA, 1947). Neste ponto ressalta-se a relação intrínseca

entre democracia e educação: “democracia é, literalmente, educação. Há, entre os dois termos,

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uma relação de causa e efeito [...] nenhuma obra supera a de educação” uma vez que “[...]

todas as demais funções do estado democrático pressupõem a educação. Somente esta não é a

consequência de democracia, mas a sua base, o seu fundamento, a condição mesmo para a sua

existência”. (TEIXEIRA, 1947).

A escola democrática deve fazer com que o ideário se torne “a atitude fundamental do

professor, do aluno e da administração” (TEIXEIRA, 1956). Mas para tanto, complementou,

todos os componentes da escola devem girar em torno do ideal democrático, ou seja, todas as

ações devem ser pensadas vislumbrando a sociedade em que se quer formar. A escola é uma

comunidade com seu próprio governo, com seus próprios gestores. “Se esse governo não for

um modelo de governo democrático, está claro que a escola não formará para a democracia”.

Nesse caso, “diretores, professores e alunos devem organizar-se de forma a que todos

participem da tarefa de governo, com a divisão de trabalho que se revelar mais

recomendável”. Completou assegurando que a “participação de todos, o sentimento de

interesse comum é essencial ao feliz desempenho da missão educativa da escola”

(TEIXEIRA, 1956).

Esse encaminhamento deve ser feito “em uma escola de vida, em que as matérias

sejam as experiências e atividades da própria vida, conduzidas com o propósito de extrair

delas todas as consequências educativas, por meio da reflexão e da formulação do que, assim,

for aprendido” (TEIXEIRA, 1956). Pois, o intuito nesta nova comunidade formada por esse

novo regime, é atender as diferenças individuais para então incorporá-las ao grupo maior.

Com o propósito de formar o indivíduo para uma comunidade integrada e completa a

escola organiza-se para que haja o envolvimento de toda comunidade escolar, pois “é

necessário que professores, diretores e toda a administração escolar aceitem e assumam o

princípio democrático, que consiste no postulado de que cada um dos participantes da

experiência escolar tem mérito pessoal bastante para ter voz”. Assim, desenvolve-se “a

aquisição das disposições fundamentais de cooperação, de responsabilidade, de

reconhecimento dos méritos de cada um, de participação integradora na vida comum e de

sentimento de sua utilidade no conjunto” (TEIXEIRA, 1956). Para o autor, nesta direção,

O processo democrático de educação surgirá, naturalmente, nessa nova

organização escolar, como algo de intrínseco à própria atividade do aluno:

em classe ou fora de classe, sugerindo, analisando, decidindo, estudando ou

buscando informações e conhecimento, planejando, realizando, julgando,

corrigindo, refazendo e tornando a planejar - estará ele crescendo, como

crescia antes da escola, em capacidade física, intelectual e moral e formando

as disposições fundamentais necessárias à vida democrática: iniciativa,

cooperação, espírito de equipe, isto é, de reconhecimento do próprio mérito e

do mérito dos outros (TEIXEIRA, 1956).

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Visando a sistematização de um ensino provido de sentido para os alunos, Anísio nos

coloca que “a experiência educativa é sempre uma experiência pessoal, em que o passado se

liga ao presente e se projeta no futuro, aumentando o poder de compreensão ou de operação

do indivíduo em seu crescimento emocional, intelectual e moral” (TEIXEIRA, 1956). No

entanto, cabe ressaltar que esse movimento existe e só faz sentido em função de todos e de

cada um, frente a um só objetivo: educação de qualidade.

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O desenvolvimento do presente trabalho possibilitou conhecer um pouco da intensa

trajetória de vida pública do educador e filósofo Anísio Teixeira e ainda realizar uma

discussão inicial sobre o conceito de democracia como este conceito articula toda a proposta

educacional do autor.

De um modo geral, pode-se afirmar que o regime social e educacional pautado no

princípio democrático desenvolvido por Anísio Teixeira ainda está longe de sua

implementação. Sua proposta educacional não se restringe aos problemas educacionais de

décadas passadas, assinalava as mazelas sociais e a necessidade de compromisso social e forte

investimento em educação para resolvê-los. Em nossas leituras, percebemos que Anísio

Teixeira trabalhou com questões fundamentais para a formação humana e que organizar uma

escola com princípios anisianos é priorizar o aprendizado e valorizar todos os sujeitos desse

processo: o aluno, o professor, a equipe pedagógica e toda a comunidade escolar.

Dada à importância do assunto, torna-se necessário o desenvolvimento de outras

pesquisas para investigar como o legado desse intelectual, que tanto contribuiu para a

educação brasileira, tem sido estudado pelos pesquisadores e historiadores da educação, bem

como o desenvolvimento de trabalhos que busquem discutir outros conceitos fundamentais de

sua filosofia como, por exemplo, os conceitos de experiência e ciência, o trabalho de

formação de professores desenvolvido por Anísio, as reformas educacionais elaboradas pela

autor, tanto municipais quanto estaduais, e ainda o funcionamento das escolas experimentais

idealizadas por Teixeira, entre tantas outras possibilidades de pesquisa. Sua filosofia é

bastante complexa e merece destaque em trabalhos e em eventos acadêmicos.

Por fim, cabe salientar que educar para a democracia não é um ato fácil. É um

processo de doação, de defesa dos interesses comuns. Apenas pela luta de pessoas

comprometidas pelo bem-estar social, por meio do compartilhamento do conhecimento

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adquirido pela experiência ou pela pesquisa, é que poderemos atingir um modelo cada vez

mais sadio de sociedade, de indivíduo e de educação que nos foi deixado por Anísio Teixeira.

REFERÊNCIAS

CARBELLO, Sandra Regina Cassol. A Organização escolar na perspectiva de Anísio

Teixeira: a centralidade do trabalho docente. Tese (Doutorado em Educação Escolar) —

Universidade Estadual Paulista "Júlio de Mesquita Filho", Faculdade de Ciências e Letras

(Campus Araraquara), 2016. Disponível em:

https://repositorio.unesp.br/bitstream/handle/11449/148622/carbello_src_dr_arafcl.pdf?seque

nce=3. Acesso em: maio de 2018.

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1959. (Atualidades Pedagógicas, volume 21).

GERIBELLO, Wanda Pompeu. Anísio Teixeira: análise e sistematização de sua obra. São

Paulo: Atlas, 1977.

LIMA, Hermes. Anísio Teixeira Estadista da Educação. Rio de Janeiro: Civilização

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1971). Revista Brasileira Estudos Pedagógicos, Brasília, v. 81, n. 197, p. 154-166, jan./abr.

2000.

TEIXEIRA, Anísio. Autonomia para educação na Bahia. Revista Brasileira de Estudos

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TEIXEIRA, Anísio. Filosofia e educação. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos. Rio de

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TEIXEIRA, Anísio. Os processos democráticos da educação nos diversos graus do ensino

e na vida extraescolar. Revista Brasileira de Estudos Pedagógicos. Rio de Janeiro, v.25,

n.62, abr./jun. 1956. p. 3-16.

VIANA FILHO, Luís. Anísio Teixeira e a polêmica da educação. Rio de Janeiro: Nova

Fronteira, 1990.